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Terceira Idade e As Questões de Gênero: Estratégias Inclusivas

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Sociedade democrática: pluralidade, inclusão e Direitos Humanos | TEMA 3 115

3.4 Terceira Idade e as questões de gênero:


estratégias inclusivas
Quem assistiu a trilogia “O senhor dos anéis”, deve se lembrar da introdução: “O
mundo mudou. Posso senti-lo na água, posso senti-lo na terra, posso senti-lo
no ar. Muito do que havia está perdido, pois nenhum dos que se lembra está
vivo”. É uma introdução que também serve muito apropriadamente aos nossos
dias: “O mundo mudou”!

Aqui, neste Tópico, discutiremos duas questões que não podem ser negligencia-
das neste mundo que mudou: 1) a população mundial está envelhecendo; 2) é
preciso reconhecer, aceitar e incluir a pluralidade de gênero.

Figura 1 – O mundo mudou

©Marek Rybar

Fonte: 123RF.

3.4.1 O mundo está envelhecendo


Uma série de fatores está intervindo em um aumento progressivo das taxas de
expectativa de vida em todo o mundo. Em decorrência disso, estão ocorrendo
alterações substanciais em questões de saúde pública, de acessibilidade e de
inclusão neste novo cenário. E as estatísticas sinalizam que essas mudanças se
acelerarão nos próximos anos.

De acordo com o relatório “The World Population Prospects 2019”, da Orga-


nização das Nações Unidas (ONU), estamos envelhecendo devido ao aumento
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da expectativa de vida e à queda dos níveis de fertilidade. Segundo esse docu-


mento, uma em cada seis pessoas no mundo terá mais de 65 anos até 2050. Em
2018, pela primeira vez na história, pessoas com 65 anos ou mais superaram
em número as crianças menores de cinco anos no mundo. Prevê-se que o nú-
mero de pessoas com 80 anos ou mais triplicará, de 143 milhões em 2019 para
426 milhões em 2050.

Ainda de acordo com as agências da ONU, a expectativa de vida chegou aos 75


anos nas Américas, onde a população ganhou 16 anos de vida a mais, em média,
nos últimos 45 anos. Agora, uma pessoa nascida no continente pode viver até
75 anos, quase cinco a mais do que a expectativa global. Segundo esse relatório
divulgado pela OPAS (Organização Pan-Americana da Saúde), 81% das pessoas
que nascem hoje na região viverão até os 60 anos, enquanto 42% delas ultrapas-
sarão os 80 anos. No entanto, o aumento da expectativa de vida não significa
mais anos de vida sem problemas de saúde. Em 2015, a expectativa média de
vida saudável nas Américas foi calculada em 65 anos.

Figura 2 – A população mundial está envelhecendo

©Jozef Polc

Fonte: 123RF.

Podemos extrair, no mínimo, três consequências a partir do relatório: Em pri-


meiro lugar, destaca-se que a expectativa de vida está aumentando nas Améri-
cas, obviamente incluindo o Brasil, o que indica um prolongamento no planeja-
mento de vida. Um segundo aspecto indica que esse aumento é desigual, não
atingindo todas as regiões das Américas e muito menos todas as classes sociais.
A última consequência inevitável é uma nova postura de saúde pública e de in-
clusão do que se convencionou chamar de Terceira Idade.
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“O surgimento da categoria ‘terceira idade’ é considerado, pela


literatura especializada, uma das maiores transformações porque
passou a história da velhice. De fato, a modificação da sensibilidade
investida sobre a velhice acabou gerando uma profunda inversão
dos valores a ela atribuídos: antes entendida como decadência física
e invalidez, momento de descanso e quietude, no qual imperavam a
solidão e o isolamento afetivo, passa a significar o momento do lazer,
propício à realização pessoal que ficou incompleta na juventude, à
criação de novos hábitos, hobbies e habilidades e ao cultivo de laços
afetivos e amorosos alternativos à família” (SILVA, 2008, p. 141)

Como exemplo, pode-se mencionar outro relatório da OPAS (Organização Pan-


-Americana de Saúde), no qual afirma que o número de pessoas com 60 anos ou
mais que necessitam de cuidados prolongados mais que triplicará nas Américas
nas próximas três décadas, passando dos 8 milhões atuais para 27 a 30 milhões
até 2050.

Como você se imagina quando tiver mais de 65 anos? Ou, como você é se já ti-
ver esta idade? Parece evidente que as políticas públicas que envolvem a saúde
não devem ser apenas voltadas para o tratamento de doenças decorrentes da
idade, mas sim precisam estar voltadas para a manutenção de um estilo de vida
saudável que garantam não apenas um prolongamento de vida, mas uma vida
com qualidade.

De acordo com Small (2008), uma pessoa idosa toma, em média, meia
dúzia de medicamentos receitados, e quanto mais medicamentos uma
pessoa toma, maior a probabilidade de surgirem efeitos colaterais. Se
esses dados são de 2008, como estariam agora? Quantos remédios
você toma ou tomará? Em que grau de saúde física e mental uma
pessoa pode estar após os 65 anos?

Com o advento de uma grande população com mais de 65 anos, e diante do fato
de que estamos em um país democrático que se pretende inclusivo, a elaboração
de estratégias para a inserção dessas pessoas nas mais distintas esferas da vida
é inevitável, boa e necessária. Para Small (2008), além dos cuidados da medici-
na, ainda podem ser destacados:

a. estratégias para aguçar a mente;


b. manutenção de uma atitude positiva diante da vida;
c. cultivo de relacionamentos profundos e saudáveis;
d. promoção de uma vida sem estresse;
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e. cuidados com o meio ambiente;


f. exercícios físicos regulares e adequados à idade;
g. uma dieta saudável.
Figura 3 – Podemos viver mais e melhor

©Cathy Yeulet
Fonte: 123RF.

A partir de um número crescente de pessoas que se situam na faixa da Terceira


Idade e tendo em vista a garantia de acesso aos Direitos Humanos, a inclusão
educacional também deve ser considerada. O artigo 20 do Estatuto do Idoso
procurou garantir o direito à educação e a partir de 1990 começaram a surgir,
no Brasil, as chamadas Universidades Abertas para a Terceira Idade (UATIs-U-
NATIS-UNTI e outras nomenclaturas).

Almeida e Oliveira (2013) lembram que a educação voltada para a Terceira Ida-
de contribui para a valorização da identidade do sujeito enquanto cidadão e aju-
da a fornecer um significado à sua vida. “A educação ao longo da vida contribui
com o pensar sobre vários fatores como; idade, igualdade de gênero, cultura,
política, economia entre outros” (ALMEIDA; OLIVEIRA, 2013, p. 18589).
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Figura 4 – Universidade para a terceira idade

©Tyler Olson
Fonte: 123RF.

O Ministério da Educação, por meio de suas ações e recomendações, e a Unes-


co enfatizam que é papel da educação contribuir para um país e um mundo
de tolerância, respeito e justiça social. Dessa forma, as instituições de Ensino
Superior que desenvolvem projetos de extensão direcionados para inclusão dos
idosos nas mais distintas atividades estão contribuindo para uma qualidade de
vida e dignidade desse segmento (ALMEIDA; OLIVEIRA, 2013).

Em conclusão, em um país inclusivo e que pretende resguardar os Direitos Hu-


manos, é fundamental estratégias de melhoria da qualidade de vida e meios de
acessibilidade para as pessoas da terceira idade. O mundo já está vivendo mais!
O desafio é viver mais e melhor! Para tanto, são necessárias as saúdes física,
mental e emocional.

3.4.2 Estratégias inclusivas para as questões de gênero


Você já deve ter ouvido, lido ou assistido manchetes como estas: “Jovem é agre-
dido por ser gay”; “Casal gay é agredido na cidade...”; “Mulher trans é agredida e
depois humilhada...” Não colocaremos aqui uma reportagem em específico por-
que, infelizmente, essas não estão arroladas dentro de notícias extraordinárias
e sim das corriqueiras e comuns.

Historicamente, gênero designou uma categoria vinculada ao sexo de nasci-


mento da pessoa. Em síntese, o mundo era composto por “homens”, “mulheres”
e os “anormais”, que, geralmente, eram enquadrados em algum tipo de patolo-
gia e, muitas vezes, criminalizados por serem assim.
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Deve-se ressaltar que os gêneros “homem” e “mulher”, muito embora fossem


inicialmente atrelados ao sexo de nascimento, a partir de um determinismo
biológico, demonstraram ser construções sociais que determinavam as relações
entre os sexos, mais apropriadamente, um despotismo do homem que retirou
da mulher uma série de direitos e “naturalizou” sua sujeição.

O conceito de gênero foi criado para opor-se a um determinismo


biológico nas relações entre os sexos, dando-lhes um caráter
fundamentalmente social. Atualmente, a identidade de gênero vai além
das categorias “homem” e “mulher” e não está identificada com a
orientação sexual.

As mulheres estiveram sujeitas a uma série de determinações que lhe impu-


nham obrigações e retiravam direitos fundamentais. Tudo aquilo que era – in-
cluso sua profissão, suas atividades domésticas, seu modo de agir e ser, a dis-
posição dos cômodos e móveis da casa, as roupas etc.– estava vinculado à uma
relação de poder.

Figura 5 – As categorias “homem” e “mulher” determinam as relações sociais entre ambos


©kakigori

Fonte: 123RF.

Para Bourdieu (2018), a violência contra as mulheres aconteceu, especialmente,


de forma simbólica, visto que a sociedade se estruturou de uma maneira an-
drocêntrica (homem no centro), incluindo todos os aspectos da vida pública e
privada. Bourdieu afirma que essa violência se exerceu com tal intensidade que
até mesmo os homens precisaram e precisam se sujeitar a ela: como é o caso do
ideal de masculinidade, de virilidade etc.
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Para testificar o que fala Bourdieu (2018), você já deve ter ouvido frases como:
“Isso não é coisa de homem!”; “Homem não chora!”. Logo, a estrutura simbólica
do mundo se dispôs de tal forma que violentou a mulher e até mesmo o homem.
Cabe mencionar, no entanto, que as mulheres sofreram infinitamente mais nes-
se processo de violência.

O conceito de gênero nasceu, portanto, no contexto de uma busca por igualda-


de de direitos e na luta contra a discriminação. Atualmente, este designa uma
amplitude muito maior do que a relação “homem” e “mulher”.

É importante destacar que todas as palavras têm uma história de formação e


estão inseridas em um jogo de poder e legitimação. Como lembram Vianna e
Unbehaum (2004), os conceitos e suas relações são construídos histórica e so-
cialmente e, ao se trabalhar com a questão de gênero, busca-se sair de explica-
ções das desigualdades fundamentadas sobre as diferenças físicas e biológicas.

Esse conceito remete então à dinâmica da construção e da


transformação social, aos significados que vão além dos cor-
pos e dos sexos e subsidiam noções, ideias e valores nas
distintas áreas da organização social: nos símbolos cultural-
mente disponíveis sobre masculinidade, feminilidade, hetero
e homossexualidade; nos conceitos normativos referentes às
regras nos campos científico, político, jurídico; nas concep-
ções políticas que são implantadas em instituições sociais
como a escola; nas identidades subjetivas e coletivas que
resistem à pretensão universal e generalizada dos modelos
dominantes de masculinidade e feminilidade (VIANNA; UN-
BEHAUM, 2004, p. 80).

Para Foucault, toda noção de valores é consagrada historicamente tendo em


vista os interesses de poder dentro da sociedade. Em outras palavras, a defini-
ção do que é bom, do que é verdade, do que é sadio depende das instâncias nas
quais o poder se concentra. De igual forma, é necessário que se compreenda
que as distinções entre feminino e masculino, em suas múltiplas nuances e con-
textos, são dadas em um jogo de poder. Logo, a educação é um espaço adequado
para a discussão dessas questões e para fomentar o respeito à diversidade.

A ONU lançou em 2012 – com versão em português, no Brasil, em 2013 – a


cartilha “Nascidos Livres e Iguais”, na qual busca conscientizar o que significa
“identidade de gênero” e “orientação” sexual, apresentando um mapa da vio-
lência contra a população LGBT e como os Estados podem atuar em políticas
públicas de prevenção e combate às agressões.
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A Cartilha mostra que a identidade de gênero se refere à experiência de uma


pessoa com o seu próprio gênero. Indivíduos trans possuem uma identidade de
gênero que é diferente do sexo que lhes foi designado no momento de seu nas-
cimento. Essa identidade de gênero é diferente de orientação sexual – pessoas
trans podem ter qualquer orientação sexual, incluindo heterossexual, homosse-
xual, bissexual e assexual. Assim, a Cartilha afirma em seu preâmbulo:

A extensão dos mesmos direitos usufruídos por todos para


pessoas lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros (LGBT) não
é radical e nem complicado. Ela apoia-se em dois princípios
fundamentais que sustentam o regime internacional de direi-
tos humanos: igualdade e não discriminação. As palavras de
abertura da Declaração Universal dos Direitos dos Humanos
são inequívocas: “todos os seres humanos nascem livres e
iguais em dignidade e direitos” (ONU, 2012).

Busque conhecer mais sobre os estudos realizados no âmbito da


sexualidade e que mostram que ainda na infância, a tendência sexual
começa a se desenhar. Esse é o motivo porque o termo “opção sexual”
é inadequado, uma vez que a tendência sexual começa a se manifestar
na infância, sendo preferível o termo “orientação sexual”. Além disso,
procure descobrir porque a orientação sexual está mais vinculada ao
sexo psicológico do que ao biológico.

Defender a identidade de gênero é lutar pela universalidade dos Direitos Hu-


manos de igualdade e liberdade, fundamentados na dignidade, é também lutar
contra toda espécie de violência, seja ela simbólica, emocional ou física. E um
dos modos mais eficientes de promover esta discussão é inseri-la no contexto
educacional.

No Brasil, a partir da Constituição de 1988, a questão de gênero foi inserida nas


políticas públicas da educação. Diante do fato de que a escola é um importante
espaço de socialização e ampliação da consciência de respeito e cidadania, a
educação com temáticas relativas ao “gênero” se ampliou e busca se consolidar.
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LEITURA COMPLEMENTAR
A fim de compreender a importância dos estudos de gênero para a Histó-
ria, mediante a recuperação de algumas de suas principais discussões que
revê o seu aparecimento na historiografia da segunda metade do século
XX, leia o artigo “Uma questão de gênero: onde o masculino e o feminino
se cruzam” de Amílcar Torrão Filho. Este artigo também discute a mascu-
linidade como processo correlato da determinação da identidade feminina
e a questão da homossexualidade como parte integrante da construção da
misoginia. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/cpa/n24/n24a07.pdf.

REFERÊNCIAS
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de construindo na diversidade: uma inclusão necessária. Educere. PUC,
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