Reflexões Do Poeta em Os Lusíadas e Sua Análise 1
Reflexões Do Poeta em Os Lusíadas e Sua Análise 1
Reflexões Do Poeta em Os Lusíadas e Sua Análise 1
O Poeta faz diversas considerações, no início e no fim dos Cantos da sua epopeia,
criticando e aconselhando os Portugueses.
Canto I- Fragilidade da vida humana, face aos perigos enfrentados no mar e em terra
Est. 105
Est. 106
Contra um bicho da terra tão pequeno?(Interrogação retórica para levar à reflexão sobre a
mesquinhez do Ser Humano)
As traições e os perigos a que os navegadores estão sujeitos justificam este desabafo do Poeta.
Não será por acaso que esta reflexão surge no final do Canto I, quando o herói ainda tem um
longo e penoso percurso a percorrer.
Ver-se-á, no Canto X, até onde a ousadia, a coragem e o desejo de ir sempre mais além pode
levar o «bicho da terra tão pequeno», tão dependente da fragilidade da sua condição humana.
Est. 92 a 100
Dos próprios feitos, quando são soados! Trabalhados(frase de tipo exclamativo, linguagem
emotiva)
Qualquer nobre trabalha que em memória(As pessoas ilustres, em particular, tentam superar
os seus antepassados)
Resumo: Todos gostam de ouvir louvar os seus feitos gloriosos. As pessoas ilustres, em
particular, tentam superar os seus antepassados. O elogio e o louvor estimulam a acão
Resumo: Tanto Alexandre, como Temístocles, embora apreciassem os seus heróis, gostavam
ainda mais de ouvir louvar os versos que sobre eles se faziam)
Não merecem tamanha glória e fama(Vasco da Gama ao sobrevalorizar os feitos do seu povo,
ao falar ao Rei de Melinde, tentando mostrar que as suas navegações são mais gloriosas do
que as dos antigos))
Cuja falta os faz duros e robustos.(Porém pela sua rudeza, estes não possuem como os outos,
os dons necessários para apreciarem a poesia ou para fazerem versos)
Mas , numa mão a pena e noutra a lança, (“pena” simboliza a sabedoria, a eloquência
Resumo: César, Cipião e Alexandre eram grandes homens de armas, mas também gostavam de
ler e apreciar grandes autores. Alexandre apreciava tanto os versos de Homero que os tinha
sempre à cabeceira)
Que não fosse também douto e ciente,(o poeta sente vergonha, pelo facto de Portugal ser a
única nação em que a valentia não se liga à cultura))
Resumo: O poeta chega à conclusão que em toda a parte, exceto entre os portugueses, houve
capitães ilustres que nunca deixaram de apreciar a cultura. Os portugueses não o fazem
porque não a conhecem)
Por isso, e não por falta de natura,(“ por isso” conector com valor conclusivo)
Resumo: Da mesma forma que não há capitães célebres, também não há grandes poetas ou
heróis célebres no nosso país. O mais grave é que a muitos isso importa pouco.
O Poeta começa por mostrar como o canto, o louvor, incita à realização dos feitos; dá
exemplos do apreço dos Antigos pelos seus poetas, bem como da importância dada ao
conhecimento e à cultura, que levava a que as armas se encontrassem em paralelo com a
sabedoria.
Não é, infelizmente, o que se passa com os portugueses: não se pode amar o que não se
conhece, e a falta de cultura dos heróis nacionais é responsável pela indiferença que
manifestam pela divulgação dos seus feitos. Camões critica a pouca ou nenhuma importância
que em Portugal se dá às artes e às letras, lamentando que sendo os portugueses tão
corajosos, não sejam também cultos. Apesar disso, o Poeta, movido pelo amor da pátria,
reitera o seu propósito de continuar a engrandecer, com os seus versos, as «grandes obras»
realizadas.
Manifesta, desta forma, a vertente pedagógica da sua epopeia, na defesa da realização plena
do Homem, em todas as suas capacidades
Canto VI – O esforço heróico que permite alcançar a fama e a glória, quando alcançadas pelo
mérito, pela determinação, sacrifício e humildade e não pela herança ou por bens
mundanos. Fala também do modo de atingir a imortalidade, através de valores elevados.
Mais tarde, no Canto IX, também vai reforçar esta sua reflexão
Est. 95 a 99
Destes trabalhos graves e temores,( É através de muito esforço que se consegue atingir a fama
e a imortalidade)
Não encostados sempre nos antigos (e não através dos que nos deixaram os nossos
antepassados)
96
Não cos passeios moles e ouciosos,(Anáfora, com o objetivo de realçar que não é com os
prazeres mundanos)
Mas com buscar, co seu forçoso braço,(“ mas”, articulador discursivo com valor de oposição)
As honras que ele chame próprias suas;(hipérbato, de modo a mostrar que é com as honras,
coragem e valentia dos nossos esforços, ultrapassando todos os perigos)
98
99
Em cinco estofes apenas, Camões fala-nos destas cinco valiosas coisas e de como é
importante que as admiremos. Começando pelos valores que cada um de nós deve ter,
passando pelo sofrimento e companheirismo, que tais valores às vezes implicam, e acabando
no mérito e recompensa, é-nos dada uma crítica há sociedade por esta se concentrar
demasiado nas coisas supérfluas que para nada interessam sem ser para as aparências. Temos
passagens como: "Não encostados sempre nos antigos troncos nobres dos seus antecessores"
- reconhecidos pelos seus feitos e não elogiando-se daquilo que os seus antepassados fizeram,
lutando pelo que queriam; "Desprezando honras e dinheiro" - pessoas com verdadeiros
valores não se interessam pelo dinheiro; "Sofrendo tempestades e ondas cruas (...) temperado
com hum árduo sofrimento" - sofrendo para alcançarem aquilo em que acreditam, cuidam uns
dos outros, ajudando-se. O companheirismo é marcado pelo sofrimento de perder os seus.
"As honras que ele chame “própriassuas”; vigiando e vestindo o forjado aço" - tudo o que
alcançaram pertences-lhes, lutaram para tê-lo, o mérito é todo deles. Devido aos seus valores
e ao sofrimento pelo qual tiveram de passar, serão recompensados. Alcançaram tais feitos, tais
grandiosidades que a sua recompensa terá de ser divina. Qualquer coisa abaixo disso seria
menosprezar os seus feitos gloriosos. "subirá, como seve, a ilustre mando" - aqueles que se
dignificam pela capacidade de luta e sofrimento alcançam a eternidade pelos seus esforços,
pelo mérito e pelos valores que carregam consigo. Tais feitos e tais pessoas nunca serão
esquecidos. Continuando a exercer a sua função pedagógica e moralizadora, o Poeta defende
um novo conceito de nobreza, espelho do modelo renascentista: a fama e a imortalidade, o
prestígio e o poder adquirem-se pelo esforço - na batalha ou enfrentando os elementos,
sacrificando o corpo e sofrendo pela perda dos companheiros; não se é nobre por herança,
permanecendo no luxo e na ociosidade, nem pela concessão de favores se deve alcançar lugar
de relevo.
Por isso, ó vós que as famas estimais,( apóstrofe aqueles que querem ser imortais)
Que o ânimo, de livre, faz escravo. Verbo no Imperativo “despertai” com função apelativa )
E na ambição também, que indignamente (no imperativo, para chamar a atenção dos vícios a
que estamos sujeitos, nomeadamente, a ambição, tirania e cobiça)
Ou dai na paz as leis iguais, constantes,(articulador com valor de alternância, como forma de
superar os vícios)
Canto VII- Tristeza sobre a ingratidão dos seus contemporâneos, que não lhe reconhecem
nenhum valor
Vosso favor invoco, que navego(de novo a invocação às ninfas para que não o desamparem,
pois tem receio que a sua obra não chegue ao fim, enumerando em seguida, os perigos a que
se vê sujeito)
Nũa mão sempre a espada e noutra a pena; ( “espada, símbolo de luta nas guerras e a “pena,
símbolo de ter vindo sempre a cantar os feitos dos portugueses)
Agora, com pobreza avorrecida,
De novo mais que nunca derribado;(anáfora do deítico temporal “agora” para reforçar os
desânimos pelo que está a passar)
Que tamanhas misérias me cercassem, (evidencia as misérias pelas quais tem passado e todos
os perigos que tem corrido)
Vede, Ninfas, que engenhos de senhores (Verbo no Imperativo com função apelativa) e
Apóstrofe às ninfas, musas inspiradores, para observarem o desinteresse dos seus
contemporâneos sobre as Letras)
Pera espertar engenhos curiosos,Crítica do poeta, em relaçãoao não poderem existir novos
poetas que imortalizem o povo português
Pera porem as cousas em memória
Dai-mo vós sós, que eu tenho já jurado (Verbo no Imperativo, com valor de súplica, como fez
no Canto I, na Invocação às Tágides (ninfas do Tejo) e Apóstrofe em “Vós”
Percorrido tão difícil caminho, é momento para que, na chegada a Calecut, o Poeta faça novo
louvor aos Portugueses. Exalta, então, o seu espírito de Cruzada, a incansável divulgação da Fé,
por África, Ásia, América, «E, se mais mundos houvera, lá chegara», assim inserindo a viagem à
Índia na missão transcendente que assumiram e que é marca da sua identidade nacional. Por
oposição, critica duramente as outras nações europeias - os«Alemães, soberbo gado», o «duro
inglês», o «Galo indigno», os italianos que, «em delícias, / Que o vil ócio no mundo traz
consigo, / Gastam as vidas» - por não seguirem o seu exemplo, no combate aos infiéis.
Numa reflexão de tom pessoal, o Poeta exprime um estado de espírito bem diferente daquele
que o caracterizava, no Canto I, na Invocação às Tágides - «cego, […] insano e temerário»,
percorre um caminho «árduo, longo e vário», e precisa de auxílio porque, segundo diz, teme
que o barco da sua vida e da sua obra não chegue ao fim. Uma vida que tem sido cheia de
adversidades, que enumera: a pobreza, a desilusão, perigos do mar e da guerra, «Nũa mão
sempre a espada e noutra a pena;».
Mas a crítica aumenta de tom na parte final, quando são enumerados aqueles que nunca
cantará e que, implicitamente, denuncia abundarem na sociedade do seu tempo: os
ambiciosos, que sobrepõem os seus interesses aos do «bem comum e do seu Rei», os
dissimulados, os exploradores do povo, que não defendem «que se pague o suor da servil
gente».
No final, retoma à definição do seu herói - o que arrisca a vida «por seu Deus, por seu Rei».
A propósito da narração do suborno do Catual e das suas exigências aos navegadores, são
agora enumerados os efeitos negativos do ouro - provoca derrotas, faz dos amigos traidores,
mancha o que há de mais puro, deturpa o conhecimento e a consciência; os textos e as leis são
por ele condicionados; está na origem de difamações, da tirania dos Reis, corrompe até os
sacerdotes, sob aparência de virtude.
Retoma a função pedagógica do seu canto, o Poeta aponta um dos males da sociedade sua
contemporânea, orientada por valores materialistas
Análise da estrofe
«No mais, Musa, no mais […]» o Poeta recusa continuar o seu canto, não por cansaço, mas por
desânimo. O seu desalento advém de constatar que canta para «gente surda e endurecida […]
metida / No gosto da cobiça e na rudeza / Dhũa austera, apagada e vil tristeza.». É a imagem
que nos dá do Portugal do seu tempo. Por contraste, o orgulho naqueles que continuam
dispostos a lutar pela grandeza do passado e a esperança de que o Rei saiba estimular e
aproveitar essas energias latentes para dar continuidade à glorificação do «peito ilustre
lusitano» e dar matéria a novo canto.(estrofes seguintes, onde pede ao rei D. Sebastião para
olhar pelo seu povo, pois tem obrigação disso) O poema encerra, pois, com uma mensagem
que abarca o passado, o presente e o futuro. A glória do passado deverá ser encarada como
um exemplo presente para construir um futuro grandioso