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Anexos Cultura e Artes

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ANEXOS DAS OFICINAS | PROGRAMA AABB COMUNIDADE

68 CULTURA E ARTES o som do lugar

Mudança – Por isso, esses pequenos exercícios são importantes, destacou


Anexo 1 Schafer. “Nada vai acontecer a não ser que as pessoas comecem a pensar
que os ambientes seriam melhores se tivessem menos ruídos”, incitou
ele. A partir daí, elas poderão exigir das autoridades governamentais
Resumo informativo - De ouvidos bem abertos mudanças para melhorar a acústica das cidades. “Precisamos reduzir
os sons desnecessários e permitir a volta de algumas sonoridades da
Eliza Muto natureza.” O compositor destaca que diversos estudos comprovam o
O canadense R. Murray Schafer, “pai da ecologia sonora”, propõe um efeito destrutivo da poluição sonora sobre a audição. A maioria das
exercício simples para que as pessoas reaprendam a escutar. pessoas não ficará surda, mas terá a capacidade auditiva prejudicada, de
acordo com Schafer. “Isso se chama presbiacusia”, afirmou ele, referindo-
Abra seus ouvidos – escute e sinta o mundo ao seu redor. É o que
se à perda gradual auditiva devido à degeneração progressiva do ouvido
propõe o canadense R. Murray Schafer, considerado o pai da “ecologia
interno. Além disso, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS),
sonora”, teoria que analisa como interpretamos e como somos afetados
a exposição a elevados níveis de ruído pode desencadear problemas
pelos sons naturais e artificiais ao nosso redor. O compositor, escritor,
cardiovasculares, alterações de sono, estresse, ansiedade e irritabilidade,
educador e ambientalista participou de três eventos promovidos pelo
além, é claro, de problemas de audição. Para a entidade, todo e
Instituto de Artes, Campus de São Paulo, em setembro, e compartilhou
qualquer som que ultrapasse os 40 decibéis no período noturno já pode
suas ideias para estimular a percepção do som em educadores e
ser considerado nocivo à saúde. Uma boa notícia é que alguns países
estudantes. Em meio ao caos sonoro de cidades como a capital paulista
europeus já estão fazendo a lição de casa para melhorar o ambiente
– em que motores de ônibus e carros roncam, buzinas disparam,
sônico, destacou Schafer. “Existem experiências para reduzir o barulho
alto-falantes gritam, pessoas berram –, Schafer disse que estamos
emitido por carros, caminhões e ônibus”, exemplificou. O compositor
destruindo nossa audição. E propôs um primeiro passo para recuperar
lembrou ainda iniciativas bem-sucedidas em terminais de ônibus que
nossa capacidade de escutar as nuances dos sons: fazer uma caminhada
poderiam ser implantadas no Brasil. “A partida de uma determinada
sonora. É um exercício simples, que não custa nada e pode ser feito
linha de ônibus, por exemplo, pode ser anunciada com um som
em apenas alguns minutos. Você planeja seu roteiro – que pode ser
particular, em vez de ser divulgado pela voz”, disse ele, acrescentando
a sua rua, o caminho para seu trabalho, uma trilha no campo, entre
que nações como Suécia, Noruega, Finlândia e Alemanha já implantaram
outros – e caminha, sozinho ou em grupo (mas sem conversar), com os
soluções antirruído como essa.
ouvidos abertos para todos os sons do ambiente. Se quiser, pode levar
um gravador ou um bloco e uma caneta para fazer anotações. A ideia
da experiência, segundo Schafer, é melhorar a sensibilidade auditiva
das pessoas, na busca por sonoridades agradáveis e saudáveis. Em uma
caminhada sonora de um minuto pelo Campus de São Paulo, Schafer
observou que a grande maioria dos sons era alta e mecânica. “Pude
perceber a sonoridade do vento por um segundo somente”, contou ele,
concluindo que aquele era um ambiente sonoro horrível.
o som do lugar CULTURA E ARTES 69

Composição musical – Pensando nas gerações que estão por vir, o


compositor sugeriu que ambientes externos como playgrounds infantis
poderiam preservar a sensibilidade auditiva dos futuros cidadãos.
“Esse espaço não deve estar localizado em uma rua movimentada, com
muito trânsito”, afirmou ele. “E as crianças podem ter à disposição
instrumentos musicais para brincar e produzir sonoridades.” Schafer
lembrou que o mundo é uma composição musical, “feita de sons altos,
baixos, agudos, graves, agradáveis ou desagradáveis”. “Da mesma
forma que é possível melhorar os sons de uma peça musical, também é
possível aprimorar os sons de um ambiente, e é com isso que estamos
envolvidos”, explicou.
Para saber mais:
A Afinação do Mundo, Editora Unesp / 384 páginas e O Ouvido
Pensante, Editora Unesp / 400 páginas.
referências

De ouvidos bem abertos. Disponível em: http://www.unesp.br/aci_ses/


jornalunesp/acervo/272/de-ouvidos-bem-abertos. Acesso em 11.02.12.
70 CULTURA E ARTES nós, poetas

Poesia: é, na realidade, a qualidade presente em certos artefatos


Anexo 2 culturais, capaz de despertar o sentimento do belo e provocar o
encantamento estético. Dessa forma, a poesia pode estar em um conto,
na cena de um filme, ou de uma telenovela; nas artes plásticas, como
Resumo informativo - Versificações - a pintura, a escultura; ou, como reconhecia Bandeira, nas ruas. Dizia
definições: poesia ou poema? o poeta: “Dois automóveis colidem, ou uma senhora desmaia, ou um
homem é assassinado... Paira no ar certo tumulto emocional, criando
Jorge Viana de Moraes*
uma atmosfera de poesia. Pois bem, o poeta suscita a mesma coisa, só
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação que mediante apenas uma colisão de palavras”.
Poema: é o texto composto em versos (linhas breves) e estrofes, numa
Versificação ou metrificação é o estudo dos metros, pés, acento e ritmo oposição ao texto composto em prosa (linhas longas), isto é, composto
do verso. A versificação ou metrificação estabelece normas para a em orações, períodos e parágrafos. Sendo assim, é evidente que nem
contagem das sílabas de um verso. todo poema obrigatoriamente é ou contém poesia. Assim como a boa
prosa de ficção só é boa porque está carregada de poesia.
Definição de poesia e poema
Outras definições
O poeta modernista brasileiro Manuel Bandeira confessou certa vez
que, um dia, ao começar a escrever um livro didático sobre literatura, Verso: é o nome que se dá a cada uma das linhas que constituem um
teve que dar uma definição da poesia e... embatucou, isto é, ficou sem poema. O verso apresenta quatro elementos principais: metro, ritmo,
ação, sem resposta. Pelo menos por um instante. melodia e rima.
Dizia ainda o poeta: “eu, que desde os dez anos de idade faço versos; Metro: é o nome que se dá à extensão da linha poética. Pela contagem
eu, que tantas vezes sentira a poesia passar em mim como uma corrente de sílabas de um verso, podemos estabelecer seu padrão métrico e suas
elétrica e afluir aos meus olhos sob a forma de misteriosas lágrimas unidades rítmicas.
de alegria: não soube no momento forjar já não digo uma definição
racional dessas que, segundo regra a lógica, devem convir a todo o
definido e só ao definido, mas uma definição puramente empírica,
artística, literária”.
Como se vê, nem para um poeta genial como Bandeira foi tarefa fácil
definir, com exatidão, o que vem a ser poesia. Todavia, procuraremos,
de forma didática e sucinta, esclarecer o que é poesia, bem como alguns
conceitos elementares ligados a ela.
nós, poetas CULTURA E ARTES 71

* Jorge Viana de Moraes, Especial para a Página 3 Pedagogia &


Comunicação é mestre em Letras pela Faculdade de Filosofia, Letras
Ritmo: é a sucessão de tempos fortes e fracos que se alternam com e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. É professor
intervalos regulares. No verso, o ritmo é formado pela sucessão de universitário em cursos de graduação e pós-graduação.
unidades rítmicas resultantes da alternância entre sílabas acentuadas
(fortes) e não acentuadas (fracas); ou entre sílabas construídas por Bibliografia
vogais longas e breves. •• A versificação em Língua Portuguesa, de Manuel Bandeira. Em:
Melodia: é a sequência de notas (no caso da poesia, de sons) que, Enciclopédia Delta Larousse Rio: Ed. Delta, 1964, Vol. 6. Página 3239 em
apresentando organização rítmica com sentido musical, se relacionam diante.
reciprocamente, de modo a formar um todo harmônico, uma linha
•• Seleta em prosa e verso, de Manuel Bandeira. Organizado por Emanuel
melódica.
de Moraes. Rio de Janeiro: José Olympio Ed., 1975.
Rima: é a igualdade ou semelhança de sons na terminação das palavras:
asa, casa; asa, cada. Na rima asa, casa há paridade completa de sons a •• Versos, sons, ritmos, de Norma Goldstein. São Paulo: Ática, 2007.
partir da vogal tônica; na rima asa, cada a paridade é só das vogais. As
rimas do primeiro tipo se chamam consoantes; as do segundo, toantes.
Estrofe: A estrofe é composta por versos.
Carlos Drummond de Andrade, poeta não menos genial do que
Bandeira, falando de sua ligação na mocidade com o Movimento
Modernista, fez importantes considerações sobre a liberdade na criação referências
poética e sua relação com o ritmo e a melodia na poesia.
UOL Educação – Pesquisa escolar. Versificação – definições: Poesia
Dizia Drummond: “Liguei-me na mocidade ao movimento modernista ou poema? Disponível em: http://educacao.uol.com.br/disciplinas/
brasileiro, que se afirmou em São Paulo, 1922, e que deu maior liberdade portugues/versificacao---definicoes-poesia-ou-poema.htm. Acesso em:
à criação poética”. Mas ressaltava: “liberdade que não é absoluta, pois a 14/02/2013.
poesia pode prescindir da métrica regular e do apoio da rima, porém não
pode fugir ao ritmo, essencial à sua natureza”. Para o poeta itabirano,
poderia haver muitas experiências de vanguarda, que procuravam abolir
tudo que caracterizava a arte da poesia, mas ninguém tinha conseguido,
segundo ele, “acabar com a melodia e a emoção do verso autêntico”.
72 CULTURA E ARTES brasil poeta

Anexo 3

Canto de regresso à pátria


Oswald de Andrade (SP) Bilhete
Mario Quintana (RS)
Minha terra tem palmares
Onde gorjeia o mar
Se tu me amas, ama-me baixinho Maré de ponta
Os passarinhos daqui
Não o grites de cima dos telhados
Não cantam como os de lá Antonio Juraci Siqueira (PA)
Deixa em paz os passarinhos
Minha terra tem mais rosas
Deixa em paz a mim!
E quase que mais amores Se o meu poema não ranger os dentes
Se me queres,
Minha terra tem mais ouro nem te mostrar as garras, de que vale?
enfim,
Minha terra tem mais terra
tem de ser bem devagarinho, Amada,
Ouro terra amor e rosas De que vale um poema ensaboado
que a vida é breve, e o amor mais
Eu quero tudo de lá cheirando a talco e água de colônia?
breve ainda…
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá Para que um poema não-me-toques
Não permita Deus que eu morra metido a besta, e nariz empinado?
Sem que volte pra São Paulo
Sem que veja a Rua 15 Poema tem que ser faca de ponta
E o progresso de São Paulo. zagaia, porantim, ferrão de arraia!

(in Poesias Reunidas. Rio de Janeiro, Poema pitiú com escama e lodo
Civilização Brasileira, 1971.) armado de esporões e girassóis.
brasil poeta CULTURA E ARTES 73

A maior riqueza do homem


é a sua incompletude.
Manoel de Barros (MT)
Traduzir-se
Ferreira Gullar (MA) A maior riqueza do homem
é a sua incompletude.

Uma parte de mim Uma parte de mim Nesse ponto sou abastado.

é todo mundo: é permanente: Palavras que me aceitam como

outra parte é ninguém: outra parte sou - eu não aceito.

fundo sem fundo. se sabe de repente. Não aguento ser apenas um


sujeito que abre

Uma parte de mim Uma parte de mim portas, que puxa válvulas,

é multidão: é só vertigem: que olha o relógio, que

outra parte estranheza outra parte, compra pão às 6 horas da tarde,

e solidão. linguagem. que vai lá fora,


que aponta lápis,

Uma parte de mim Traduzir-se uma parte que vê a uva etc. etc.

pesa, pondera: na outra parte Perdoai

outra parte - que é uma questão Mas eu preciso ser Outros.


delira. de vida ou morte - Eu penso renovar o homem

será arte? usando borboletas.


Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.
74 CULTURA E ARTES quem é você?

Anexo 4

Imagem das etapas da oficina de máscaras


desconstruindo poemas CULTURA E ARTES 75

Anexo 5

Pássaro livre.
Sidônio Muralha (Lisboa, PT)

Gaiola aberta.
Nem tudo
Aberta a janela.
O pássaro desperta. Maria Dinorah (RS)
A vida é bela.
A vida é boa. Nem tudo o que busco é flor.
Voa, pássaro, voa. Nem tudo que encontro, luz.
Nem tudo o que amo é céu.
Nem tudo o que crio, cor.
Mas tudo o que encontro é busca
E tudo que busco, amor.
76 CULTURA E ARTES contando fábulas

A cigarra e as formigas
Anexo 6
Esopo, escritor grego
A lebre e a tartaruga
Num belo dia de inverno as formigas estavam tendo o maior trabalho para
La Fontaine, fabulista francês secar suas reservas de trigo. Depois de uma chuvarada, os grãos tinham ficado
completamente molhados. De repente aparece uma cigarra:
A lebre vivia a se gabar de que era o mais veloz de todos os animais. Até - Por favor, formiguinhas, me dêem um pouco de trigo! Estou com uma fome
o dia em que encontrou a tartaruga. danada, acho que vou morrer.
– Eu tenho certeza de que, se apostarmos uma corrida, serei a As formigas pararam de trabalhar, coisa que era contra os princípios delas, e
vencedora – desafiou a tartaruga. perguntaram:
A lebre caiu na gargalhada. - Mas por quê? O que você fez durante o verão? Por acaso não se lembrou de
guardar comida para o inverno?
– Uma corrida? Eu e você? Essa é boa!
- Para falar a verdade, não tive tempo – respondeu a cigarra. – Passei o verão
– Por acaso você está com medo de perder? – perguntou a tartaruga.
cantando!
– É mais fácil um leão cacarejar do que eu perder uma corrida para você
- Bom... Se você passou o verão cantando, que tal passar o inverno dançando?
– respondeu a lebre. No dia seguinte a raposa foi escolhida para ser a
– disseram as formigas, e voltaram para o trabalho dando risada.
juíza da prova. Bastou dar o sinal da largada
Moral: Os preguiçosos colhem o que merecem.
para a lebre disparar na frente a toda velocidade. A tartaruga não se
abalou e continuou na disputa. A lebre estava tão certa da vitória que
resolveu tirar uma soneca.
O leão e o ratinho
“Se aquela molenga passar na minha frente, é só correr um pouco que
eu a ultrapasso” – pensou. Esopo, escritor grego
A lebre dormiu tanto que não percebeu quando a tartaruga, em sua
marcha vagarosa e constante, passou. Quando acordou, continuou a Um leão, cansado de tanto caçar, dormia espichado debaixo da sombra
correr com ares de vencedora. Mas, para sua surpresa, a tartaruga, que não boa de uma árvore. Vieram uns ratinhos passear em cima dele e ele acordou.
descansara um só minuto, cruzou a linha de chegada em primeiro lugar. Todos conseguiram fugir, menos um, que o leão prendeu debaixo da pata.
Desse dia em diante, a lebre tornou-se o alvo das chacotas da floresta. Tanto o ratinho pediu e implorou que o leão desistiu de esmagá-lo e deixou
Quando dizia que era o animal mais veloz, todos lembravam-na de uma que fosse embora. Algum tempo depois o leão ficou preso na rede de uns
certa tartaruga... caçadores. Não conseguindo se soltar, fazia a floresta inteira tremer com seus
Moral: Quem segue devagar e com constância sempre chega na frente. urros de raiva. Nisso apareceu o ratinho, e com seus dentes afiados roeu as
cordas e soltou o leão.
Moral: Uma boa ação ganha outra.
contando fábulas CULTURA E ARTES 77

Imagens para impressão


78 CULTURA E ARTES literatura de cordel

Anexo 7

A tecnologia e o surgimento do gravador permitiram a criação de um


Resumo informativo - Rap: o cordel de hoje
banco de dados da linguagem e o avanço da linguística, tentativa
Rui Alves Grilo de dar um caráter racional e científico à linguagem, partindo do
levantamento de como ela se apresenta e quais são suas regularidades
Uma das formas de caracterizar um texto como poético é o alto grau e as suas variações. Pena que grande parte dos jornalistas e sabichões
de recursos de linguagem – metáforas, rimas, antíteses, aliterações, que se metem a discutir o ensino de língua pararam no tempo e não se
assonâncias, metrificação... - que reforçam as ideias e permitem uma atualizaram.
variedade muito grande de interpretações; também dão ao texto uma
musicalidade e ritmo, que, ao lê-lo, todo o corpo participa, associando-o A escrita, ao mesmo tempo em que permitiu a rápida acumulação e
a sons, ritmos, cores, sabores e cheiros. Também atende à necessidade de avanço do conhecimento pela possibilidade do registro e da troca de
movimento da criança, que usa a poesia para brincar e dançar. informações entre povos e pessoas distantes, serviu como uma arma para
criar um abismo entre o povo e a aristocracia, entre o povo e o poder.
Grande parte da literatura tradicional usa a forma poética. Como não Um dos maiores fatos da história, a Revolução Francesa, tinha como um
havia a escrita era necessário guardar de memória textos muito longos, dos objetivos a garantia do acesso à escrita ao povo.
daí o emprego de recursos que estimulam os cinco órgãos dos sentidos.
Conheci uma senhora que beirando os cem anos ainda recitava com Uma das maneiras do povo registrar a história do seu ponto de vista e
muita fluência as poesias aprendidas na infância. transmitir o seu conhecimento foi a literatura de cordel, o repente e a
embolada. Toda grande literatura escrita surge a partir da retomada da
Quem lê um texto de Patativa do Assaré, não pode deixar de se produção popular.
surpreender com o grau de erudição desse caboclo, que perante a
gramática tradicional seria considerado analfabeto. Criado em 1995 por Gaspar e Fernandinho Beatbox, o Z’África Brasil é um
dos representantes do rap nacional com um dos discursos mais coerentes
da praça. Mergulhadas no universo afro-brasileiro, as letras versam sobre
preconceito racial, opressão e desigualdades sociais. “O que importa é a
cor / E quem tem cor age / Tem coragem de mudar o rumo da história /
Coragem para transformar cada dia em vitória / É o canto da sabedoria /
É o ataque / Reage agora, reage / Tem cor age, capoeira de maloca / Do
fundo do coração proliferam ideias/ Centuplicando o pão a cada passo
de uma centopeia”, expõe em “Tem Cor Age”.
literatura de cordel CULTURA E ARTES 79

Rap, na música, é extremamente fidedigno à improvisação poética sobre


uma batida no tempo rápido e frequentemente só é acompanhada pelo
Esse texto vai contra a história veiculada em livros e na escola, de que som do baixo, ou sem acompanhamento. Rap é um dos dois únicos estilos
não houve uma resistência negra; diferente da atitude dos índios que musicais da história da música ocidental em que o texto é mais importante
não se submeteram. O dia 20 de novembro é o Dia da Consciência que a música, justamente porque, geralmente tem o caráter de contestação
Negra justamente para marcar a luta e a resistência de Zumbi. Também ao sistema dominante. O outro é o canto gregoriano, em que a música
se contrapõe ao 13 de Maio, como uma liberdade concedida. A é um canto a uma só voz. A repetição de sons, marcada pelo ritmo, e a
consequência imediata do 13 de Maio foi o abandono do negro à sua melodia religiosa não podem desviar a atenção do texto litúrgico.
própria sorte, com poucas chances de sobrevivência. O rap do grupo paulistano não se resume à herança norte-americana e
Assim como a capoeira foi um dos instrumentos de luta e se transformou jamaicana. Sintetiza batuques, música eletrônica e nordestina com o canto
numa atividade esportiva e cultural, a poesia produzida na periferia – O falado brasileiro, como a embolada. “Tudo tem a mesma origem. E posso
RAP - se encontra, atualmente, “online” como sendo um neologismo usar as 80 modalidades (do canto falado) em meu trabalho em vez de ficar
popular do acrônimo para rhythmandpoetry (ritmo e poesia); porém, parado no quatro por quatro mal rimado”, provoca Gaspar que, em 2003,
apesar da associação com poesia e ritmo, o significado da palavra rap participou de um projeto com repentistas radicados em São Paulo.
não é um acrônimo em si, mas descreve uma fala rápida que precede
a forma musical (de ritmo e poesia), e significa “bater”. A palavra
(rap) é usada no Inglês britânico desde o século XVI, e especificamente
significando “say” (“dizer”, ou “falar”, “contar o conto”) desde o século
XVIII. Fazia parte do Inglês vernáculo afro-americano nos anos de 1960,
significando “conversar”, e logo depois disto, no seu uso atual, denota o referências
estilo musical Rap na Música.
http://www.ubaweb.com/revista/g_imprimir.php?grc=23131&c_
bio=ZWRpdG9y.
80 CULTURA E ARTES teatro de sombras

Anexo 8

Orientações para a confecção de


bonecos, cenários e adereços
•• Oriente cada grupo a confeccionar bonecos, cenários e adereços,
considerando os roteiros criados coletivamente.

•• Tenha alguns bonecos, objetos e adereços já recortados para mostrar


como pode ser realizado esse processo de confecção.

•• Distribua os materiais (papel cartão, papelão, garrafas Pet, cola, papel


celofane colorido etc.) para cada grupo.

•• Informe aos educandos que no teatro de sombra é importante que as


silhuetas dos bonecos e dos objetos sejam bem definidas, pois é pela
silhueta que se caracteriza cada objeto, cenário ou personagem.

•• Monte uma estrutura (madeira, varal, tubos de PVC etc.) para fixar o
tecido branco que será usado para projetar as sombras.

•• Fixe os tecidos pretos nas janelas para reduzir a luz do espaço de ensaio,
para criar uma atmosfera lúdica, teatral, que evidencie a produção
artesanal feita pelas crianças.

•• Ligue o retroprojetor para que os educandos possam testar suas


produções de bonecos e de objetos.

•• Peça para verificarem qual é a melhor posição para fixar as varetas para
manipular os bonecos ou objetos.

•• Coloque músicas e sons para que desenvolvam movimentos de acordo


com cada ritmo, e proponha exercícios de manipulação.
CADERNO DE OFICINAS | PROGRAMA AABB COMUNIDADE

Cultura – substantivo feminino que indica um conjunto de


padrões de comportamento, crenças, conhecimentos,
costumes, que distinguem um grupo social.*
Artes – produção consciente de obras, formas ou objetos
voltada para a concretização de um ideal de beleza e harmo-
nia ou para a expressão da subjetividade humana.*
Este Caderno – Cultura e Artes – traz oficinas que
possibilitam estudos, práticas e reflexões sobre o fazer
cultural e artístico, contemplando comportamentos,
crenças, conhecimentos, costumes, especialmente os
relacionados à música, à dança, ao cinema, ao teatro,
à pintura, à escultura, ao artesanato, dentre outras
atividades que privilegiam a fruição da beleza, da
harmonia, da estética.
Por meio de atividades dinâmicas e interativas os
educadores poderão favorecer a ampliação do
repertório cultural e artístico dos educandos, bem
como o desenvolvimento da coordenação motora, da
criatividade, da percepção, do senso estético, da
consciência corporal e da expressão por meio de
linguagens plásticas.
*Grande Dicionário Houaiss
da Língua Portuguesa

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