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VIEIRA Et Al, 2010

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Brazilian Journal of health Review

Descrição epidemiológica da febre amarela no brasil: alerta sobre a expansão


da doença

Epidemiological description of yellow fever in brazil: alert on the spansion of


the disease
DOI:10.34119/bjhrv3n5-163

Recebimento dos originais: 08/08/2020


Aceitação para publicação: 25/09/2020

Yohana Pereira Vieira


Mestranda em Ciências da Saúde pela Universidade Federal do Rio Grande (FURG)
Instituição: Universidade Federal do Rio Grande (FURG)
Endereço: Rua Visconde de Paranaguá, 102, Centro, Rio Grande, RS
E-mail: yohana_vieira@hotmail.com

Letícia Petry
Especialista em Urgência e Emergência/Intensivismo pelo Hospital de Clínicas de Passo Fundo
Instituição: Hospital de Clínicas de Passo Fundo
Endereço: Rua Tiradentes, 174, Centro, Passo Fundo, RS
E-mail: enfleticiapetry@outlook.com

Luana Escobar dos Santos


Especialista em Saúde da Família e Comunidade pela Universidade Federal da Fronteira Sul
(UFFS)
Instituição: Prefeitura Municipal de Dois Irmãos das Missões
Endereço: Avenida Floraci Lima do Amaral, 97, Dois Irmãos das Missões, RS
E-mail: luana_escobar93@hotmail.com

Rafael Marcelo Soder


Doutor em Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
Instituição: Universidade Federal de Santa Maria, campus Palmeira das Missões, RS
Endereço: Av. Independência, nº 3751, Bairro Vista Alegre, Palmeira das Missões, RS
E-mail: rafaelsoder@hotmail.com

Vera Regina de Marco


Especialista em Cardiologia pela Universidade de Passo Fundo
Instituição: Hospital de Clínicas de Passo Fundo
Endereço: Rua Tiradentes, 174, Centro, Passo Fundo, RS
E-mail: vera_demarco@hotmail.com

Pedro de Souza Quevedo


Doutor em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Pelotas
Instituição: Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará campus Xinguara
Endereço: Rua Maranhão, s/n - Centro, Xinguara, PA
E-mail: pedrosquevedo@hotmail.com

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Darielli Gindri Resta Fontana
Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
Instituição: Universidade Federal de Santa Maria, campus Palmeira das Missões
Endereço: Av. Independência, nº 3751, Bairro Vista Alegre, Palmeira das Missões, RS
E-mail: darielliresta@gmail.com

Luiz Anildo Anacleto da Silva


Doutor em Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
Instituição: Universidade Federal de Santa Maria, campus Palmeira das Missões
Endereço: Av. Independência, nº 3751, Bairro Vista Alegre, Palmeira das Missões, RS
E-mail: luiz.anildo@yahoo.com.br

RESUMO
A febre amarela é enfermidade viral pertencente a um grupo ecológico transmitido por artrópodes,
denominado de arboviroses. Sua ocorrência representa um importante problema de saúde pública
em todo mundo, sendo reconhecida por apresentar alta letalidade e morbidade em regiões tropicais
da África e América do Sul. O objetivo deste estudo é descrever a situação epidemiológica atual
da febre amarela no Brasil e alertar sobre a possível disseminação da doença no país. Os dados
epidemiológicos da febre amarela nestes últimos anos, mostram um aumento significativo de
casos, principalmente na região sudeste do Brasil. Em relação a letalidade, observou-se uma taxa
elevada. Conclui-se a importância na vigilância epidemiológica na prevenção e controle dessa
enfermidade, capacitando equipes, para assim consecutivamente disseminar informações para a
comunidade.

Palavras-chave: Enfermagem, Febre amarela, Vigilância epidemiológica.

ABSTRACT
Yellow fever is a viral disease belonging to an ecological group transmitted by arthropods, called
arboviruses. Its occurrence represents an important public health problem worldwide, being
recognized for presenting high lethality and morbidity in tropical regions of Africa and South
America. The objective of this study is to describe the current epidemiological situation of yellow
fever in Brazil and to alert about the Possible spread of the disease in the country. Epidemiological
data on yellow fever in the last years show a significant increase in cases, mainly in the
southeastern region of Brazil. Regarding lethality, a high rate was observed. The importance of
epidemiological surveillance in the prevention and control of this disease is complemented,
enabling teams to disseminate information to the community.

Keywords: Nursing, Yellow fever, Epidemiological surveillance.

1 INTRODUÇÃO
A febre amarela é enfermidade viral pertencente a um grupo ecológico transmitido por
artrópodes, denominado de arbovíroses. O vírus da febre amarela pertence ao gênero Flavivírus,
da família Flaviviridae (Degállier et al., 1986). Sua ocorrência representa um importante problema
de saúde pública em todo mundo, sendo reconhecida por apresentar alta letalidade e morbidade
em regiões tropicais da África e América do Sul (WHO, 2008).

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A gravidade dos sinais clínicos da febre amarela é extremamente variável. O quadro clínico
característico abrange febre, náusea, êmese, fraqueza, mialgia generalizada, cefaleia e vertigens,
com duração média de três dias. Na forma silvestre, os principais hospedeiros vertebrados do vírus
amarílicos são os macacos dos gêneros Cebus, Alouatta, Ateles e Callithrix. Os hospedeiros
invertebrados são do gênero Haemagogus e Sabethes. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004).
A febre amarela silvestre não pode ser erradicada. As coberturas vacinais são intervenções
que visam o controle desta doença (Ribeiro e Antunes, 2009). Na forma urbana, o hospedeiro
vertebrado é o homem, e o vetor principal é o Aedes aegypti e o ciclo é resumido por meio da
transmissão homem-mosquito-homem (TAUIL et al, 2005; MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004). De
modo nas condições atuais, o Brasil tem na vacinação o único método de prevenção eficaz,
erradicando a febre amarela urbana e controlando a febre amarela silvestre.
A vacina passou a ser produzida no Rio de Janeiro em 1937, sendo utilizada em um surto
que ocorria em Minas Gerais. Após esse episódio, a vacinação foi utilizada em outros estados do
país, obtendo êxito. Apenas em 1994, a vacina da febre amarela foi introduzida no calendário
básico de vacinação brasileiro (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004). Porém, atualmente ainda se
observa uma heterogeneidade na cobertura vacinal da febre amarela, com índices abaixo do
esperado (NÓVOA et al., 2020). Ainda assim, é passado momento que medidas de preservação
ambiental respaldadas por uma legislação rigorosa aliadas a conscientização da população, sobre
o impacto de suas ações ao meio ambiente, passem a ser uma busca constante.
Não há notificação da febre amarela urbana no Brasil desde o ano de 1942, transmitidos
pelo A.aegypti (BRASIL, 2016). Em 2003, a maior parte do território nacional era considerado
área endêmica, mais precisamente os estados de Rondônia, Acre, Mato Grosso, Goiás, Distrito
Federal, Tocantins, Pará, Amazonas, Amapá e Roraima e regiões do Maranhão e Mato Grosso do
Sul. As áreas de transição abrangiam a região sul do Maranhão, região leste de Tocantins, região
leste de Mato Grosso do Sul, oeste do Paraná e Santa Catarina e noroeste do Rio Grande do Sul.
As áreas consideradas indenes compreendiam o estado do Rio Grande do Sul, Santa Catarina,
Paraná, São Paulo, Leste do Rio de Janeiro, Sul do Espírito Santo, Bahia, Sergipe, Alagoas,
Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará e norte do Piauí. Consideravam-se áreas de
risco potencial o Norte do Rio de Janeiro e do Espírito Santo (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004).
Entre as doenças de notificação compulsória, a febre amarela é classificada como uma
doença de notificação imediata, devendo ser notificada em até 24 horas, publicada na portaria nº
204 de 17 de janeiro de 2016. A idade média de ocorrência de casos de febre amarela se observa
em adultos de 15 a 40 anos de idade. Os homens são acometidos frequentemente em relação as

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mulheres. Essa distribuição justifica-se pela exposição ocupacional, na qual geralmente homens
estão mais expostos (MANUAL DE VIGILÂNCIA, 1999).
Na face desse quadro, o presente estudo buscou responder a seguinte questão de pesquisa:
Qual a situação epidemiológica atual do percurso da febre amarela no Brasil? Para responder a
esse questionamento traçou-se como objetivo central descrever a situação epidemiológica atual da
febre amarela no Brasil e alertar sobre a possível disseminação da doença no país.

2 METODOLOGIA
A escolha do desenho metodológico pertinente à proposta de estudo se faz indispensável
em qualquer modelo de investigação, pois, através de métodos, pode-se chegar à resposta do
problema de pesquisa, proporcionando maior desenvolvimento teórico-científico. Buscando
conhecer as relações da epidemiologia da febre amarela no Brasil, bem como alcançar os objetivos
propostos, determinou-se pela escolha do método epidemiológico descritivo.
A coleta de dados aconteceu por meio do Portal de saúde (DATASUS) no Sistema de
informação de agravos de notificação e Instituto Nacional de Meteorologia, com base em dados
secundários de domínio público do ano de 2016 e 2017, sendo assim, eximindo o estudo de ser
apreciado pelo Comitê de Ética em Pesquisa.
A análise dos dados foi realizada com o auxílio do Software Microsoft Excel na
estruturação das tabelas para posterior análise descritiva de cada um dos indicadores em estudo,
avaliando suas principais características, favorecendo a avaliação da concisão e da consistência
dos dados coletados.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Dentre as doenças de notificação compulsória, a febre amarela foi a primeira doença a ser
de notificação obrigatória no Brasil (FRANCO, 1969). Até hoje, essa doença é caracterizada como
uma doença de notificação compulsória imediata, onde deve ser notificado imediatamente a
autoridade sanitária local, estadual ou nacional, após a confirmação da doença, as autoridades
nacionais notificam posteriormente as autoridades internacionais. (VASCONCELOS, 2000).
No Brasil, nos últimos 26 anos, a doença tem sido confirmada. Observa-se uma variação
do surto, em relação aos locais e também a época de alternância de ocorrência da doença. Todos
os casos decorreram da transmissão silvestre, pelo Haemagogous janthinomys (VASCONCELOS,
2000).

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Figura 1: Casos humanos, taxa de letalidade e taxa de letalidade média de febre amarela no Brasil.

O histórico epidemiológico e a taxa de letalidade da febre amarela no Brasil nos últimos


26 anos apontam uma mortalidade média de 51,8%. A taxa de letalidade é historicamente elevada
em períodos de menor número de casos, mostrando uma relação inversamente proporcional entre
as duas variáveis (Figura 1). Essa constatação pode ser explicada pelas ações de vigilância em
saúde, em especial da vigilância epidemiológica, eficazes e efetivas, em períodos que exigiram
maior atenção das mesmas. É importante ressaltar a agilidade nas investigações e detecções dos
casos suspeitos, e/ou possíveis casos, bem como no tratamento, controle e acompanhamento dos
eventos epidemiológicos (ROMANO et al., 2011).
A descontinuidade das atividades da vigilância epidemiológica explica os picos de
mortalidade, quando a enfermidade ocorre em número reduzidos de casos. Tal descontinuidade é
consequência da redução na destinação de recursos públicos frente ao aparente controle da situação
epidemiológica, ausência de atualização profissional dos agentes de saúde envolvidos e carência
de medidas de educação em saúde voltadas à população. A febre amarela tem uma letalidade em
torno de 5 a 10% (RIBEIRO & ANTUNES, 2009).

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Tabela 1: Casos notificados e confirmados e óbitos confirmados de febre amarela até 06 de abril de 2017 nos estados
do Brasil.
Estados Casos notificados Casos confirmados Óbitos confirmados
Pará 14 (1,17%) 4 (0,66%) -
Goiás 31 (2,59%) 0 -
Distrito Federal 15 (1,25%) 0 -
Espírito Santo 219 (18,35%) 146 (24,17%) 43 (21,71%)
Minas Gerais 828 (69,40%) 438 (72,53%) 148 (74,74%)
Rio de Janeiro 20 (1,67%) 11 (1,82%) 3 (1,51%)
São Paulo 44 (3,68%) 5 (0,82%) 4 (2,02%)
Rio Grande do Sul 22 (1,84%) - -
Total 1193 604 198
Fonte: Portal da Saúde, 2017.

No que diz respeito a situação da febre amarela no Brasil (Tabela 1), no período
compreendido entre dezembro de 2016 a abril de 2017, 828 (78,55%) casos foram notificados em
Minas Gerais, destes, 438 (52,89%) foram confirmados (Tabela 2). Os demais casos notificados
no mesmo período ocorreram principalmente no estado do Espírito Santo com 219 casos (18,35%)
notificados sendo 146 (66,66%) confirmados; seguido do Rio de Janeiro, de 20 (1,67%) casos
notificados e, 11 (55%) confirmados. Ainda merece destaque o estado de São Paulo com 44
(3,68%) casos notificados, sendo 5 (11,36%) confirmados. No Rio Grande do Sul foram
notificados 22 casos, porém nenhum foi confirmado. Em relação a taxa de letalidade, entre os 146
casos confirmados no Espirito Santo, 43 (29,45%) foram a óbito. Em Minas Gerais o número de
óbitos foi de 148 (33,78%). No Rio de Janeiro apesar de poucos casos confirmados em relação aos
outros estados da região Sudeste, o número de óbitos foi 3 (27,27%). Em São Paulo, o número foi
de 4 óbitos (80%), sendo a letalidade considerada alta. De acordo com a literatura, a taxa de
letalidade pode chegar até 50% em casos graves (Cavalcante & Tauil, 2016) ⁠.

Tabela 2: Casos notificados e confirmados e óbitos confirmados de febre amarela em julho de 2014 a dezembro de
2016 nos estados do Brasil.
Estados Casos notificados Casos confirmados Óbitos confirmados
Pará 93 (17,61%) 2 (14,28%) -
Goiás 132 (25%) 9 (64,28%) -
Mato Grosso do Sul 8 (1,51%) 1 (7,14%) -
Distrito Federal 49 (9,28%) 0 -
Espírito Santo 4 (0,75%) 0 0
Minas Gerais 38 (7,19%) 0 0
Rio de Janeiro 14 (2.65%) 0 0
São Paulo 164 (31,06%) 2 (14,28%) 0
Rio Grande do Sul 26 (4,92%) 0 0
Total 528 14
Fonte: Portal da Saúde, 2016.

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Estes dados da febre amarela de 2017 em relação aos anos precedentes (2014-2016),
mostram um aumento significativo de casos da enfermidade na região sudeste do Brasil, nos
estados de São Paulo, Rio de Janeiro e principalmente Minas Gerais e Espírito Santo. Esse aumento
significativo serve de alerta para a vigilância epidemiológica de outros estados, principalmente o
Rio Grande do Sul, por possuir um clima propício para o desenvolvimento e disseminação do
mosquito. As alterações climáticas observadas e relatadas pela população no estado do Rio Grande
do Sul, nos últimos anos, evidenciam que há maior disponibilidade térmica e que a estação fria
tem apresentado menor duração. Esses fatores aliados possibilitam a ocorrência de Heamagogus e
Sabethes pois, o fator limitante frio não mais inviabiliza o ciclo biológico do mosquito. Assim os
principais fatores que influenciam no sucesso reprodutivo da espécie, umidade de temperatura, são
garantidos ao desenvolvimento do mosquito (Bastos & Krasilchik, 2004) ⁠.
Destacando o estado de Minas Gerais, e realizando uma comparação dos números de casos
em 2016 e 2017, a partir dessa comparação, pode existir uma possível correlação do surto de febre
amarela nessa região, com a tragédia de Mariana, ocorrida em dezembro de 2015. A tragédia de
Mariana é denominada como um dos maiores desastres ambientais do Brasil. Esta tragédia
implicou em muitos desafios para a saúde coletiva a longo prazo (PORTO, 2016).

Figura 2: Mapa do Rio Grande do Sul com casos notificados de febre amarela em 2017

Fonte: Ministério dos Transportes, adaptado pelos autores.

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A diminuição de casos de febre amarela nos últimos anos no Rio Grande do Sul indica uma
boa atuação dos serviços de saúde. Isso mostra principalmente na questão de prevenção da febre
amarela silvestre e na reurbanização da febre amarela urbana, através de salas de vacinas e
educação em saúde. As notificações da febre amarela no Rio Grande do Sul no ano de 2017,
apontam um possível estabelecimento da doença. Indicativo de que casos autóctones estão
acontecendo, e as condições climáticas podem desencadear o definitivo estabelecimento desta
doença nesse estado.

Figura 3: Média de temperatura anual observada no ano de 2016.

Fonte: Instituto Nacional de Meteorologia (2016).

As temperaturas médias no Brasil em 2016, na região norte do país evidenciou


temperaturas elevadas. Em relação ao fator climático, essa região apresentava temperaturas
favoráveis ao desenvolvimento do mosquito. O que justifica não ter ocorrido surtos nessas regiões
é a menor densidade demográfica. Na região sudeste, a média de temperatura variou entre 20º e
26º graus. Na região norte dos estados de Minas Gerais e Espírito Santo, a temperatura manteve-
se elevada, entre 24º e 26º. No Rio Grande do Sul, a temperatura média na região noroeste foi de
20º e 22º graus. Na região fronteira oeste, norte, centro-oeste, centro-norte, centro-leste e leste
variou entre 18º e 20º.

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Figura 4: Média de temperatura trimestral observada em 2017.

Fonte: Instituto Nacional de Meteorologia

A previsão de temperatura média no norte do país para o trimestre de março-abril-maio,


variou entre 24º a 30º. Na região sudeste, a temperatura prevista encontrava-se entre 18º e 28º. No
estado de Minas Gerais, na região noroeste o clima oscilou entre 22º e 26º graus, já na região do
Jequitinhonha, nas demais regiões do estado a temperatura ficou entre 18º e 22º graus. No Espírito
Santo a temperatura variou entre 24 e 26º. No Rio Grande do Sul, 16º e 22º. Essa média de
temperatura prevista para todo esse trimestre em 2017.
As condições que permitem o desenvolvimento adequado do mosquito é a temperatura e a
umidade, especificamente entre 25º e 29º geralmente em um período de 5 a 10 dias (PORTO,
2016). A partir disso, identifica-se nas figuras 3 e 4, algumas regiões do Brasil que propiciam
melhores condições climáticas para o desenvolvimento do mosquito. Dentre essas regiões, destaca-
se em 2016, toda região norte do Brasil, região sudeste, especificamente norte de Minas Gerais e
Espírito Santo.
No ano de 2017, a região norte do país e a região noroeste de Minas Gerais continuaram
com previsões de temperaturas elevadas. Ressalta-se um alerta para a vigilância em saúde com
relação ao extremo sul da Bahia, pois estavam previstas temperaturas elevadas, o que poderiam
contribuir para um melhor desenvolvimento do mosquito, com outros fatores.
Em relação a febre amarela urbana, por mais que existam vacinas contra a forma urbana, é
importante que a vigilância epidemiológica esteja atenta no controle dos riscos e determinantes,
visto a necessidade de manutenção da erradicação da febre amarela. Uma vez que existem muito

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mais mosquitos da espécie Aedes aegypti disseminados pelo Rio Grande do Sul, e estes possuem
as mesmas características de adaptação do Haemagogus e Sabethes, o que torna a disseminação
da doença mais fácil e rápida.
A partir de toda essa problemática, o papel fundamental da vigilância epidemiológica para
controle de surtos em outras regiões é baseado em educação em saúde, dando ênfase ao controle e
a prevenção da doença. Para isso, os manuais de vigilância da febre amarela orientam a capacitar
equipes multi-institucionais, multiprofissionais, empresas de transporte aéreo e terrestre, agências
de turismo para um trabalho articulado. Nestas capacitações, é de grande importância ressaltar
sobre a ocorrência da doença, modo de transmissão e prevenção da mesma.
Em relação a população, é fundamental serem repassadas orientações primeiramente a
população endêmica e de transição. Os indivíduos viajantes também devem receber orientações,
principalmente aqueles que irão deslocar-se para áreas endêmicas. Ressalta a importância da
organização das Unidades de saúde em relação as orientações a populações específicas, assim
como para população geral. Em busca de concretizar o objetivo das ações da vigilância
epidemiológica, é necessário procurar/criar técnicas pedagógicas adequadas para sensibilizar a
população quanto a importância da prevenção e controle dessa doença, principalmente a vacinação
disponível na Unidade de Saúde. Nessa perspectiva, a ampla cobertura vacinal torna-se um
elemento indispensável para as equipes de vacinação, tendo como objetivo final atingir 100% de
cobertura da população.
Alguns cuidados específicos devem ser considerados em relação a vacina, visto que a
mesma é produzida com vírus atenuado, sendo assim não é indicada para indivíduos
imunossuprimidos, com HIV, câncer ou gestantes, com risco de transmissão para o feto. Alérgicos
a proteína do ovo não devem ser vacinados, pois possuem um risco elevado de reação alérgica
(KELSO et al., 1999). Em relação aos vetores da febre amarela, a vigilância possui um papel de
intensificar as ações controle de vetores preconizadas pelo Programa Nacional de Controle da
Dengue. Torna-se importante também que ações individuais de utilizar roupas de manga longa e
repelentes, virem rotinas em áreas endêmicas, contribuindo no contexto de proteção à saúde
humana.
A partir de todos esses dados, o fundamental papel da vigilância epidemiológico diante dos
surtos. Divulgar e disponibilizar informações analisadas sobre os aspectos clínicos,
epidemiológicos e laboratoriais da febre amarela no Brasil, para a população em geral e
profissionais de saúde por meio de mídia impressa e/ou eletrônica (MINISTÉRIO DA SAÚDE,
2004).

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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A febre amarela no Brasil no ano de 2017 teve rápida disseminação, principalmente na
região sudeste. Esses dados servem de alerta para todo Brasil, principalmente em regiões em que
os climas se mantém elevado. Unindo outras condições favoráveis ao desenvolvimento do
mosquito, conclui-se que essas regiões estão mais propícias a surtos de febre amarela.
Em relação aos atuais dados elevados de mortalidade, chama atenção sobre a importância
do papel imediato da vigilância epidemiológica. Com esses serviços atuando de forma precisa e
imediata, os índices de mortalidade poderão diminuir. O papel da enfermagem diante de surtos
como esse, possui como ênfase o setor de vigilância epidemiológica. Observa-se a relevância do
enfermeiro possuir conhecimento expandido sobre epidemiologia, transmissão, ciclo biológico e
medidas profiláticas de uma determinada doença, a fim de identificar antecipadamente possíveis
surtos, buscando preveni-los. Também se destaca a importância de equipes multidisciplinares, com
abordagens diferenciadas em busca da promoção e prevenção da saúde, buscando a manutenção
da saúde da população.

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