Álvaro de Campos, Ode Triunfal (Correção Do Trabalho de Grupo)
Álvaro de Campos, Ode Triunfal (Correção Do Trabalho de Grupo)
Álvaro de Campos, Ode Triunfal (Correção Do Trabalho de Grupo)
• Assim, «ode» porque é uma composição poética destinada a cantar uma matéria
elevada; «triunfal», porque é a celebração da modernidade, do triunfo da
civilização técnica e industrializada.
«Ah, poder exprimir-me todo como um motor se exprime! / Ser completo como uma
máquina!» (vv. 26-27); «Engatam-me em todos os comboios. / Içam-me em todos os
cais. / Giro dentro das hélices de todos os navios.» (vv. 96-98); «Amo-vos
carnivoramente. / Pervertidamente e enroscando a minha vista / Em vós, ó coisas
grandes, banais, úteis, inúteis» (vv. 43-44); … declara-se o desejo de identificação
com as realidades tecnológicas contemporâneas; concretizando a atitude
provocatória dos futuristas, ao procurar associar o ser humano à revolução técnica.
Vontade de fazer parte da máquina, símbolo da era moderna; relação perversa e
erótica com os mecanismos.
«E há Platão e Virgílio dentro das máquinas e das luzes elétricas / Só porque houve
outrora e foram humanos Virgílio e Platão, / E pedaços do Alexandre Magno do
século talvez cinquenta, / Átomos que hão de ir ter febre para o cérebro do Ésquilo
do século cem, / Andam por estas correias de transmissão e por estes êmbolos e por
estes volantes» (vv. 19-23); … − todos os génios e conquistas do passado
contribuíram, de alguma forma, para o avanço civilizacional, daí circularem nos
maquinismos atuais. O tempo é um contínuo: a civilização moderna é o resultado de
uma acumulação de saberes e experiências que o atravessaram como uma herança.
O progresso atual é consequência de sucessivas invenções no passado.
«E outra vez a fúria de estar indo ao mesmo tempo dentro de todos os comboios /
De todas as partes do mundo» (vv. 60-61); … − o eu expande-se numa identificação
com todos os locais urbanos: a era moderna é cosmopolita e sem fronteiras
geográficas, daí a evocação de vários espaços das grandes metrópoles.
«Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto, / Para a beleza disto
totalmente desconhecida dos antigos.» (vv. 3-4); «Em febre e olhando os motores
como a uma Natureza tropical» (v. 15); «Olá tudo com que hoje se constrói, com que
hoje se é diferente de ontem! / Eh, cimento armado, beton de cimento, novos
processos! / Progressos dos armamentos gloriosamente mortíferos! / Couraças,
canhões, metralhadoras, submarinos, aeroplanos!» (vv. 37-40); … − valoriza-se a
«beleza» da civilização moderna, diferente da beleza aristotélica tradicional. O novo
conceito de Belo relaciona-se com as ideias de Força, Dinamismo, Excesso,
Modernidade, …
• visão: «e olhando os motores» (v. 15), «Desta flora estupenda, negra, artificial
e insaciável!» (v. 32);
• paladar: «Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto!» (v. 9), «Tenho os
lábios secos» (v. 10);
• audição: «r-r-r-r-r-r-r eterno» (v. 5), «ruídos modernos» (v. 10), «Rugindo,
rangendo, ciciando» (v. 24);
• olfato: «perfumes de óleos» (v. 31);
• tato: «Fazendo-me um excesso de carícias ao corpo numa só carícia à alma.»
(v. 25), «calores» (v. 31).
«(Na nora do quintal da minha casa / O burro anda à roda, anda à roda, / E o
mistério do mundo é do tamanho disto. / Limpa o suor com o braço, trabalhador
descontente. / A luz do sol abafa o silêncio das esferas / E havemos todos de morrer,
/ Ó pinheirais sombrios ao crepúsculo, / Pinheirais onde a minha infância era outra
coisa / Do que eu sou hoje...)» (vv. 49-57) − momento de quebra disfórica no poema.
«Ah não ser eu toda a gente e toda a parte!» (v. 107) – desejo frustrado de abarcar
por inteiro toda a realidade e toda a humanidade, apesar de todo o esforço literário
empregue no cântico. A apetência para experimentar tudo de todas as maneiras
leva-o a querer ser toda a gente ao mesmo tempo. Esta (com)fusão de identidades é
o resultado da vida moderna que assiste à compressão do tempo e do espaço, com
as consequências que se adivinham ao nível da personalidade.
Ode
Inovação poética
Estruturas rítmicas
• Sinestesia: «dolorosa luz» (v. 75); «fúlgido e rubro ruído contemporâneo» (v.
76); «ruído cruel e delicioso da civilização de hoje» (v. 76).
Construções sintáticas: