Dor e Musica em Clepsidra
Dor e Musica em Clepsidra
Dor e Musica em Clepsidra
PESSANHA
RESUMO
PALAVRAS-CHAVE
ABSTRACT
The current article intends to demonstrate the enduring marks of Camilo Pessanhas’s
poems, the greatest Portuguese symbolist: pain, translated through sentiments of defeat,
downfall, renouncement and evasion, enhanced by means of the vibrating language and
musicality of his texts.
KEY WORDS
Camilo Pessanha (1867-1926) é o grande poeta simbolista português. Diz-se, sobre ele,
que ainda que não houvesse Simbolismo, ele o seria, pois, na sua poética, estão presentes todas
as marcas que caracterizam essa estética do final do século XIX: revelação de um mundo etéreo,
de contornos fugidios, voláteis, evanescentes, a musicalidade encontrada na exploração de
harmonias imitativas (onomatopeias, aliterações, assonâncias), portanto destacada a melopeia,
fuga do mundo conhecido e o encaminhamento para o misticismo, sondagem das realidades do
espírito numa angústia metafísica, preocupação formal, enfim a busca de uma poesia pura,
isenta do contágio do material.
Segundo Massaud Moisés,
1
Sonia Mara Ruiz Brown: PhD em Literatura Portuguesa pela Universidade de São Paulo – USP / SP e
professora de Literatura Portuguesa nas Faculdades Atibaia – FAAT / SP; ewbrown@uol.com.br
[...] essa identificação resulta, antes do mais, duma vida exterior praticamente vazia de
acontecimentos, e de uma vida interior em permanente ebulição, de maneira a dar a impressão
de que, nele, a Poesia e a Vida são figuras congruentes, peça única. É que a obra poética de
Camilo Pessanha se autentifica, em princípio, pelo sentido abstrato, vago, difuso, próprio de
quem, simbolista nato e um temperamento ultra-sensível, se sente inadaptado à existência que
somente lhe causa desengano e dor. (MOISÉS, 1967, p. 222)
Sua poesia ditada a João de Castro Osório e publicada na revista Centauro (1916),
dirigida por Luís de Montalvor, só pôde ser reunida pelo esforço de João de Castro Osório, uma
vez que sua atitude de desistência diante a vida, causada por uma doença diagnosticada como
astenia geral e seu vício do ópio, o impedia de tomar a iniciativa de organizar sua obra.
Clepsidra é um livro controvertido, pois a primeira edição, de 1920, contendo trinta poemas,
deveu-se a D. Ana de Castro Osório, que o publicou pela Editora Lusitânia, com o assentimento
do poeta quando ele se encontrava em Lisboa em fins de 1915, mas há uma segunda edição, de
1945, publicada pela Ática e organizada por João de Castro Osório, que apresenta sensíveis
alterações como inclusão de poemas e mudanças na distribuição sequencial e nos títulos, além
de variantes nos versos. Fica, portanto, evidente o caráter de incompletude e de dispersão na
obra de Pessanha.
A personalidade flagrantemente abúlica, segundo os que o conheciam, o vício em ópio,
concorreram para a construção dessa poética marcada pela irrealização, pela incerteza e abulia.
É sabido que até mesmo os “chinas” o chamavam de “pune-tio- iane- mean”, isto é, morto-vivo
(Apud SIMÕES, s/d, p. 108).
O estudo de Esther de Lemos (LEMOS, 1967) procura relacionar exatamente a
influência entre poesia e homem/poeta e demonstra que a atitude estética ilustra a atitude moral
entre o que se é e o que se sonhou ser, entre a impassibilidade e a ação, o que nos leva a melhor
entender a atitude de Pessanha, ou melhor, sua não atitude diante da publicação de seus poemas.
O termo clepsidra, que dá título à única obra poética do autor, provém do grego kleps
(verbo kleptô = roubar, enganar) + udra (nome udor = água) e designa um relógio antigo, de
origem egípcia (fins do século XIV, princípios do XV), movido a água, azeite, que media o
tempo conforme o líquido ia se escoando regularmente num recipiente graduado.
Assemelhando-se a uma ampulheta, era usado na Antiguidade para marcar o tempo dos
discursos dos oradores atenienses. Nesse título, estão presentes os dois grandes símbolos da
poesia de Pessanha: o tempo e a água que, num movimento constante, de permanente
metamorfose, também se associam à ideia de brevidade da existência.
O poema conhecido “Imagens que passais pela retina”, um bom exemplo da presença
desses dois símbolos, configura a impotência do homem face à fugacidade do tempo, através do
elemento água como condutor de um sentimento de vacuidade temporal e espacial:
Imagens que passais pela retina
Dos meus olhos, porque não vos fixais?
Que passais como a água cristalina
Por uma fonte para nunca mais! ...
A dor em Clepsidra se justifica porque só ela permite a lucidez suficiente para se ter a revelação,
a clarividência dessa contingência humana inexoravelmente submetida à própria dor [...] o
porquê da ânsia de morte: é a única forma vislumbrada de vencer a dor, consumando (levando a
sumo, conduzindo ao extremo) sua própria experiência. (SANTOS; LEAL. 2006, p. 45)
Todas essas ideias e sentimentos são expressos numa linguagem evanescente, sutil e
impregnada de musicalidade. São esses aspectos que procuraremos destacar na análise dos
poemas abaixo.
Clepsidra se abre com “Inscrição”, que pode ser considerado como uma prévia do
trajeto poético do poeta:
O primeiro verso já delimita a condição errante do eu lírico. Ver a luz, além da evidente
percepção de luminosidade, também pode ser compreendido como conhecer a Verdade, o Bem.
Já “país perdido” pode nos remeter a paraíso perdido. João de Castro Osório (OSÓRIO, 1973, p.
29-30) interpreta como país perdido para a glória e o bem. Dentro de uma perspectiva
autobiográfica, o poema revelaria a saudade do poeta estabelecido em Macau sentida por
Portugal, perdido na distância e na História. A situação de exílio é fundamental na obra de
Pessanha. Urbano Tavares Rodrigues a considera nos seguintes termos: “Toda a poesia de
Camilo Pessanha é poesia do exílio. Em Macau ou em Lisboa, mesmos nas terras da sua
infância, o tecido de existência que o envolvia era exílio” (RODRIGUES, 1970, p. 90).
Nesse primeiro verso temos o primeiro momento, o do pretérito (vi).
No verso 2, o reconhecimento da frouxidão (lânguida) e da falta de defesa (inerme) de
sua alma é estabelecido no presente (é). Nesses dois primeiros versos, o sujeito está marcado
através do pronome “eu” e “minha”, no entanto, nos dois últimos, uma espécie de anulação ou
indeterminação desse “eu” ocorre, pois o pronome “quem” (“Quem pudesse”) e o “se” (“sumir-
se”) expressam o apagamento do sujeito.
Para Franchetti:
[...] a perda do país em que se deu o nascimento real ou espiritual conduz à languidez. Vemos
apenas os dois momentos extremos: a percepção da perda e a sensação anímica da falta de
energias, e de vulnerabilidade, por falta de defesas. Os dois adjetivos que definem a alma exilada
são os pontos focais do poema. É para o primeiro – lânguida – que converge toda a primeira
parte da quadra. \e é do segundo – inerme – que decorre toda a segunda parte com o desejo de
subtração à superfície, de absorção pelo seio da terra, onde os seres desarmados e destituídos de
energia podem encontrar abrigo e proteção (FRANCHETTI, 1993, p. 36)
No terceiro verso, a sonoridade das fricativas através das aliterações /s/ e /z/ sugere um
deslizamento (“pudesse”, “deslizar”, “sem”) que se encerra abruptamente pela força do /r/ e
pelo emprego de vogais fechadas no fim do verso (/u/, /i/, /o/), sugerindo um pequeno som que
o sujeito produzisse ao deslizar até a clausura total.
Nos terceiro e quarto versos, está presente o ideal do sujeito (subjuntivo mais
infinitivo), “deslizar sem ruído”, que denota ausência de vida, sentimento já prenunciado em
“lânguida e inerme” e, finalmente, ocorre a configuração da morte através do potencial
“vérmico” do homem, do seu desaparecer sem deixar traço, isto é, o desejo de evasão, mas o
mais absoluto desejo de evasão como o mergulhar na procura das origens. Em apenas uma
quadra, no que se propôs ser a epígrafe do livro, inscrevem-se, entre o primeiro e o último
versos, o nascimento e a morte, a condição inelutável do exílio.
Dotado de acutíssima sensibilidade, o eu poético que se conhece e se analisa vai se
desmanchando e deseja apenas “No chão sumir-se, como faz um verme”.
Postas as linhas principais da poética de Camilo Pessanha, o sentido da epígrafe que
orienta o entendimento de sua obra, nos deteremos no poema “Chorai arcadas” por ser
expressão de uma grande musicalidade uma vez que, através de palavras, o poeta constrói a
melodia extraída de um instrumento musical, o violoncelo.
Chorai arcadas
Do violoncelo!
Convulsionadas,
Pontes aladas
De pesadelo...
De que esvoaçam,
Brancos, os arcos...
Por baixo passam...
Se despedaçam...
No rio, os barcos.
Fundas, soluçam
Caudais de choro...
Que ruínas (ouçam)!
Se se debruçam,
Que sorvedouro!...
Trêmulos astros...
Soidões lacustre...
-Lemos e mastros...
E os alabastros
Dos balaústres!
Urnas quebradas!
Blocos de gelo...
-Chorai arcadas,
Despedaçadas,
Do violoncelo.
São cinco quintilhas constituídas de versos de quatro sílabas poéticas, todos elas
rimadas (a b a a b). A fluidez dos versos é sensível (acento sempre na quarta sílaba), assim
como a musicalidade dos versos espelha a do tocar o instrumento.
Por todo o poema ocorre a aliteração nas fricativas (/s/, /v/, /z/, /ch/), que sugere a
vibração das cordas do violoncelo. Também as vogais de timbre aberto e fechado se alternam de
um verso a outro, insinuando o movimento de ir e vir do arco ao tocar as cordas do instrumento.
(“ChorAI, ArcAdAs DO VIOLOncelO”). Presente ainda estão ditongos crescentes e
decrescentes (“ChorAI”/ “Do vIOloncelo”), mimetizando as mudanças de tom da música, ou,
ainda, o movimento de barcos sobre a onda. A rica sonoridade dos versos do poema sugere, por
conseguinte, a oscilação, a incerteza, como se os caminhos pelos quais a música chega aos
ouvidos do eu lírico, ou como se a rota tomada pelos barcos (citados na segunda estrofe)
estivessem sem direção.
É na primeira estrofe que se inicia a transposição para o mundo onírico. A rima élo
(violoncelo) e êlo (pesadelo) marcam essa transposição, além da presença das reticências (“De
pesadelo...”). Reforça essa ideia a imagem de “pontes aladas”. Envolvido pelos sons do
violoncelo, o eu poético é transportado para outro estado de consciência. A imagem da ponte
importa porque ponte é aquilo que permite ou possibilita a travessia do sujeito para outro lado,
porém uma “ponte alada” não leva a lugar nenhum, pois é constituída, a nosso ver, de
pesadelos: o “eu”, ao atravessar a ponte sem fundação, suspensa no ar, está impossibilitado de
concluir seu trajeto e se mantém no (não) espaço.
Na segunda estrofe, são os sons oclusivos que predominam (“De que esvoaçam, /
Brancos, os arcos.../ Por baixo passam.../ Se despedaçam.../ No rio, os barcos. ”). Os arcos, que
são brancos, se despedaçam (aqui a importância do som forte e pontual das oclusivas). Aos
arcos do instrumento são encadeadas associações (“No rio, os barcos.”) regidas por tempo e
espaços próprios. O emprego das reticências duas vezes permite que o poema deixe de ser
apenas a criação de um autor, tornando-se, através desses silêncios geradores, a criação do
próprio leitor.
Na estrofe seguinte, novamente a sonoridade constritiva fricativa retornando,
apressando a leitura (“Fundas, soluçam/ Caudais de choro.../ Que ruínas (ouçam)! / Se se
debruçam, / Que sorvedouro!...), no entanto “(ouçam)!”, entre parênteses e seguida de
exclamação, exige uma pequena pausa. É como se o eu lírico solicitasse a constatação do seu
pesadelo. No quarto verso, cria-se uma possibilidade (“Se se debruçam”) com a conjunção
condicional, e imagina-se o desastre, o ingresso num sorvedouro, isto é, num abismo, num
precipício. A sensação de queda acentuada pelo adjetivo fundas e o verbo debruçam.
Na penúltima estrofe, penetrando na possiblidade apontada da estrofe anterior, novas
associações ocorrem. Nessa passagem nenhum verbo está presente, apenas substantivo, adjetivo
e locução adjetiva, pospostos uns aos outros. A única conexão entre ideias é o e (“E os
alabastros”). A sonoridade do encontro consonantal TR presente em todos os versos e duas
vezes no primeiro é marcante e forte, imprimindo um ritmo nervoso, trêmulo. A cor branca, por
outro lado, presente nos “alabastros dos balaústres” sugere o vazio na plenitude, esgotamento
dos sentidos. É por esse motivo que o eu lírico enxerga o “branco”, depois de presenciar todo o
turbilhão dos pesadelos se desfazendo dos objetos que o circundam.
O número de reticências cresce (3). A presença do travessão no terceiro verso (“-Lemes
e mastros...”) poderia ser interpretada como uma marca para uma leitura mais acentuada para,
em seguida, a atenuação da tonalidade.
Eugênio de Castro, sobre a presença constante das reticências em Pessanha, afirma “a
indecisão tomada matéria de poesia, criando-se com essa reticência, um enleio, uma subtil
cumplicidade com o silêncio, uma hesitação entre pensar e sentir”. (CASTRO, 1984, p. 10)
Última estrofe e ainda novas associações (“Urnas quebradas! / Blocos de gelo.../”) e o
retorno ao violoncelo, mas as arcadas do violoncelo agora estão “Despedaçadas”.
Sons oclusivos (12) e de constritivas fricativas (10) se misturam (“Urnas quebradas! /
Blocos de gelo.../ - Chorai arcadas, / Despedaçadas, / Do violoncelo.). As palavras vão se
imbricando umas às outras, formando novas imagens, num aparente amontoado delas, como se
tomassem a forma e consistência de água nas ondas sonoras. Uma simbiose entre elas é
estabelecida, tanto do ponto de vista do significante quanto do significado. As “arcadas”, na
primeira estrofe, remetem a “arcos, na segunda; por sua vez, “arcos” e “brancos” formam
sonoramente os “barcos” que evocam as imagens aquáticas da terceira estrofe.
A musicalidade dos versos espelha o tocar do instrumento ao mesmo tempo que
expressa a emersão do inconsciente, uma psique conturbada, liberta das normas lógicas da
consciência, denunciando debates do sujeito poético. Embora, no poema, não esteja presente
qualquer elemento identificador de uma pessoa pronominal, evidencia-se uma voz manifestada
no imperativo (“-Chorai arcadas!”) que, a partir de uma ideia de altura (“pontes aladas”,
“esvoaçam”), sucedem-lhe um turbilhão endocêntrico de imagens : “despedaçam”, “caudais de
choro”, “ruínas”, “sorvedouro”, “urnas quebradas”, revelando uma alma perturbada, uma
sensação de queda.
O eu lírico, nesse poema, expressa imagens captadas pela visão e pela audição, fundindo
as duas sensações numa grande sinestesia. Flagrando o movimento do arco nas cordas do
instrumento, mistura a visão com imagens despertadas pelo movimento em si e pela música que
se depreende das cordas do instrumento e traduz, nesse movimento, seu inconsciente.
“Viola Chinesa” é outro poema em que se busca captar onomatopaicamente o som de
um instrumento.
Através da monótona insistência de sons nasais (36), recria-se a sonoridade das três
quadras constituídas de versos octossílabos e no último verso isolado. Inicialmente, o sujeito
lírico amardonado revela-se insensível à música (duas primeiras quadras) para que, em seguida,
já envolvido por ela, sinta ofendida sua “cicatriz melindrosa”, causando-lhe “agitação dolorosa”,
ainda que sejam apenas “asitas” a distendê-la. No mundo simbolista, seria impossível a
indiferença à música.
A insistência na nasalidade, que produz uma musicalidade arrastada e chorosa, é
quebrada nas duas primeiras estrofes, em que o eu poético confessa ainda não ter sido envolvido
pela música, com a anáfora (“Sem que”). Na última, entretanto, quando ocorre a confissão do
envolvimento, o mesmo não acontece.
Considerações finais
Certamente há muito mais a ser dito sobre esse poeta magistral que é Camilo Pessanha,
mas parece ter ficado claro, através dos poemas analisados e dos comentários sobre a vida do
autor, que o escritor escreve porque sua convivência no mundo é problemática, porque lhe falta
um lugar para viver e para respirar, e ele busca esse lugar no mundo fictício, estranho,
misterioso, impreciso da literatura, onde procura uma forma de permanência. Nesse mundo sua
palavra se torna transparente, reduzida aos sons e às sensações, plena de sinestesias sutis, o que
impede, por vezes, o julgamento preciso e direto do seu conteúdo.
Em todos os poemas, neste trabalho analisados, evidenciou-se, além da musicalidade, da
sonoridade, o sentimento de perda, de desistência, o receio ou náusea pela consumação dos
desejos, a apatia contemplativa, a abulia.
Em “Inscrição”, o eu poético expressa seu desejo de desaparecer sem deixar traço,
atitude que sugere renúncia, passividade; em “Chorai arcadas”, a sensação de queda, de ingresso
no abismo de uma psique conturbada; em “Viola chinesa”, a confissão de haver uma cicatriz e
da impossível recusa da influência da música; em “Vida”, a inutilidade do agir justificando a
abulia; em “Caminho”, a exposição da Dor, Dor viril, adulta, da qual não se pode apartar-se; no
poema de influência de Verlaine, o fluir da água conduzindo à morte e, finalmente, no “Poema
Final”, a compreensão da inutilidade da passagem à existência, já que o fato será sempre
frustrante. Em todos eles a concepção de uma vida inútil, num desalento diante de qualquer
gesto concreto na inquietante certeza da dor, não a amorosa, mas a existencial.
O apagamento de energia vital, uma marca desse poeta que, desintegrado interiormente,
“entrevê o Universo estilhaçado em espasmos de som, de luz, de cor,- de sensação-, ou como se
o espaço fosse o reino do caos, onde boiam farrapos de seres, coisas e sensações, tudo de
mistura” (MOISÉS, 1997) nos é revelado em imagens poéticas, com contornos de pureza, de
delicadeza, em versos sonoros e ritmados, características comuns a todos os poemas de
Clepsidra e que tentamos demonstrar nos poemas analisados.
A ideia de morte e dor está presente em outros poetas portugueses. Antero de Quental
busca a morte na sua mundivivência desesperada (“Morte, irmã do Amor e da Verdade!”/
“Morte, irmã coeterna da minha alma!”/ “Morte, libertadora e inviolável”. Sá Carneiro, na sua
tendência ao autodesprezo, na fragmentação do seu eu e resvalando nos seus abismos tem nela
uma saída: “Quando eu morrer batam latas, / Rompam aos saltos e aos pinotes”. Camilo, que
foi influenciado por Antero e influenciou Sá Carneiro, desintegra-se na dor e na morte sem
resistência, fragmentado em espasmos de som, de cor, de luz e em musicalidade.
... passais como a água cristalina
Por uma fonte para nunca mais! ...
Bibliografia