Glauco Mattoso - Apprendiz de Ceremonias
Glauco Mattoso - Apprendiz de Ceremonias
Glauco Mattoso - Apprendiz de Ceremonias
APPRENDIZ DE CEREMONIAS
APPRESENTA��ES DE ALHEIAS OBRAS
NOTA INTRODUCTORIA
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LUAS A MANCHEIAS
Tal � o caso de Luiz Roberto Guedes, tamb�m nascido naquele good year e
produto, como n�s outros, do choque contracultural das d�cadas de 60 e
70. Este paulistano da Zona Leste tem o mixed blood da megal�pole: meio
baiano, meio mineiro, meio gregoriano, meio rockeiro. Sua prosa
ficcional j� tem sido meritoriamente degustada em livro, mas a poesia
urge ser desengavetada, como atesta este celebr�vel CALEND�RIO LUN�TICO.
[Fim de 1999]
Uno dei grandi poeti di lingua inglese riscrive, nel libretto dell'opera
TOMMY adattata per il cinema, che:
� il caso di Luiz Roberto Guedes, pure lui nato in quel good year e
prodotto, come noi, del conflitto contro-culturale degl'anni 60 e 70.
Questo paulistano della Zona Est possiede il mixed blood della
megalopoli: mezzo baiano, mezzo mineiro, mezzo gregoriano, mezzo rock.
La sua prosa ha gi� potuto essere meritoriamente apprezzata nel suo
libro, ma la sua poesia dev'essere urgentemente rilanciata, ne � prova
questo memorabile CALENDARIO LUNATICO.
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A rara produ��o dum Val�rio Oliveira prova que (como ele mesmo diria) o
moderno n�o morde (e o p�s-moderno n�o pasma). Reconhe�o nele aquela
alternativa elaborada (no n�vel dum Rubens Rodrigues Torres Filho) que
ultrapassa a displicente indisciplina da margin�lia setentista e
concilia a atualidade do cotidiano com a perenidade dos recursos
engenhosos do idioma (incluindo no domin� verbal tudo quanto �
trocadilho, traval�ngua, alitera��o e paronom�sia) a servi�o da voca��o
informal do verso livre. Destaco como emblem�tico um poema,
"Degusta��o", que, a exemplo da can��o hom�nima de Rita Lee, N�o se peja
do sujo e promove o chulo a luxo a partir do maior/menor palavr�o: CU.
[Junho/2002]
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[Agosto/2002]
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O �BVIO OBSCENO
N�o quero fazer nenhum exerc�cio psicanal�tico para investigar at� que
ponto as cenas descritas pelo poeta seriam evocativas de sua hist�ria
pessoal, ou por esta explic�veis. Tamb�m n�o direi que Alencar pretenda
fazer qualquer "enterro simb�lico" da sexualidade. Parece inequ�voco,
por�m, que nesta poesia o que se enfatiza como obscenidade �, acima de
tudo, a pr�pria mortalidade humana. O �bvio do obsceno seria, portanto,
obitu�rio e n�o org�stico ou org�aco. O cad�ver incomodaria mais que o
corpo nu. A decrepitude agrediria mais que a concupisc�ncia. A
decomposi��o seria mais devassa que a descomposi��o. T�natos assediaria
mais que Eros.
O tom narrativo dos poemas, conduzidos mais como f�bulas que como
can��es, refor�a a intencionalidade do autor em "testemunhar"
fatalisticamente o triunfo da Morte sobre a Carne, bem como o poder
detonador do Sexo no seio da Fam�lia. Ou da Sagrada Fam�lia, se
considerarmos que, antes de f�bula, � de par�bola o estilo com que
Alencar parafraseia o sermonismo evang�lico, cutucando a todo momento o
puto pundonor dos puritanos, se � que ainda os h�. Nem saliento o teor
blasfemo dos versos, pelo simples fato de que o sacril�gio tem perdido
muito de sua carga iconoclasta, ao passo que a moral familiar ainda
conserva um resqu�cio de dignidade e indigna��o em cada um de n�s.
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O MESTRE MENESTREL
Amador Ribeiro Neto cumpre esse incomum papel com consider�vel �xito.
Ele mesmo se intitula um "samparaibano da gema" (no poema "Arriba��o"),
mas n�o se trata dum n�made desarmado: se a Gil a Bahia dera r�gua e
compasso, a Amador a paulistanidade deu telesc�pio, microsc�pio e
caleidosc�pio. Seu tiroc�nio de professor o instrumentaliza para que
atinja o ambicioso objetivo de sintetizar, posmodernamente, elementos
t�picos da gel�ia geral brasileira.
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UM DESTEMPERO NA L�NGUA
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O CONCRETO DISCRETO
Elson Fr�es enquadra-se neste �ltimo caso. Formado pela PUC paulistana,
tendo convivido com a milit�ncia semi�tica (e embora sempre atuante como
poeta visual, sonoro e virtual), nunca publicou em livro um balan�o de
sua produ��o, avulsamente dispersa em revistas, exposi��es e antologias.
Agora decide-se a faz�-lo (pelo menos no que tange ao plano textual), e
o resultado certamente pegar� de surpresa muitos observadores da poesia
contempor�nea, ainda desatentos ao detalhe qualitativo dessa consistente
obra.
[Novembro/2003]
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[Agosto/2004]
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[Maio/2007]
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[13] Para o livro de poemas ENCARNA, de Berimba de Jesus:
Volta e meia, cruzo com Berimba nalguma balada liter�ria. Numa dessas,
apresentei-o a Braulio Tavares e troquei as bolas: "Este � o Berimba, da
Cooperifa..." Ao que Berimba atalhou: "N�o! Poesia Maloqueirista!" Pois
�. A poesia setentista da minha gera��o foi "marginal" no que tinha de
coletivo: o mano-a-mano e o feito-em-casa. Mas no estilo de cada um foi
original. Agora � a mesma coisa: os grupos coexistem, mas a autoria
individual prevalece. Berimba � assim: muito enturmado e participante,
mas personal�ssimo na "pegada" leve e pesada ao mesmo tempo. Seus
"poemas restritos", breves nas linhas e amplos nas entrelinhas, n�o
fazem dele um desbundado pelo engajamento, nem o engajam no desbunde.
Seria talvez um rom�ntico desgarrado, e a pista estaria em versos como
estes: "Ficar invis�vel seria ideal. Se for o contr�rio, vou tirar a
m�scara, apresentar garras e navalhas." Ou como estes: "Moscas morrem em
contos de fadas, enquanto romances fazem a revolu��o, em sil�ncio, sem
ningu�m perceber." O reconhecimento da "literariedade" berimbiana passa,
como na vida de todos n�s, pela edi��o em livro, que chega em boa hora.
Se os primeiros "marginais" deixaram pegadas, hoje sou eu que fu�o nas
pegadas dos t�nis do Berimba...
[Agosto/2008]
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[Mar�o de 2009]
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FESCENNINIDADE NA CONTEMPORANEIDADE
Observo com enthusiasmo (para n�o dizer com orgasmo) que o genero
fescennino n�o � apenas um "veio subterraneo" (como dizia Z� Paulo
Paes), mas um veio inexgottavel, t�o insaciavel quanto a libido que
semeia as gera��es propriamente dictas, bem como as poeticas. Espero n�o
ser demasiado optimista si antevejo para esses actuaes goliardos um
merescido reconhescimento, em prazo mais breve que as decadas
transcorridas desde as censuradas satyras de Laurindo Rabello at� as
escancaradas performances de Kac e Cairo. Amorim e Moreira agora seguram
o bast�o (Opa!) e a elles cabe passal-o aos proximos representantes do
revezamento pornolympico, lembrando que, em tempos de infoviagra, os
bardos da "edade midia" n�o correm o risco de passar pelo desconsolo do
thio Jorge.
[Novembro de 2015]
/// [5/11/2015]