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Mudancas Socioespaciais Urbanas em Arapi

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Espaço & Geografia, Vol.

18, No 1 (2015), 25:53


ISSN: 1516-9375

MUDANÇAS SOCIOESPACIAIS URBANAS EM


ARAPIRACA-AL NA AURORA DO SÉCULO XXI

SOCIAL AND SPACE CHANGES IN THE CITY


OF ARAPIRACA-AL AT THE BEGINNING OF THE XXI
CENTURY

Marcos Antônio Silvestre Gomes1, Rosineide Nascimento da Silva2,


Ricardo Vicente Ferreira3

Docente da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM). Instituto de


1

Educação, Letras, Artes, Ciências Humanas e Sociais. Avenida Frei Paulino. Nossa
Senhora da Abadia. CEP: 38025180 - Uberaba, MG – Brasil.
gomesmas@hotmail.com.

2
Mestre em Ecologia e Conservação.
rosineideg7@gmail.com.

3
Docente da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM). Depar-
tamento de Geografia. Avenida Getúlio Guarita. Nossa Senhora da Abadia.
CEP: 38025440 - Uberaba, MG – Brasil.
rcrdvf@gmail.com

RESUMO - As cidades revelam em suas formas e conteúdos o resultado das ações


de agentes sociais interessados na sua reprodução, como o Estado, os empresários de
vários segmentos econômicos e o setor imobiliário que alteram e produzem novas
formas espaciais. A propósito das ações desses agentes, este trabalho teve o intuito de
analisar as mudanças socioespaciais urbanas ocorridas nas últimas décadas no município
de Arapiraca-AL/Brasil, destacando o dinamismo em parcelas do espaço urbano.
Utilizou-se de pesquisa bibliográfica, consultas e levantamentos nos órgãos municipais
e no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, análise de leis e documentos
públicos, pesquisa exploratória e registro fotográfico em campo, elaboração de mapas
em Programa ArcGis etc. Constatou-se que o dinamismo econômico de Arapiraca,
pautado na expansão do setor de serviços, tem se intensificado nos últimos anos com os
26 M. A. Silvestre Gomes et al.

investimentos de diferentes grupos econômicos através da implantação de suas filiais,


além de importantes investimentos públicos, com destaque para a política de criação
e reforma de espaços públicos. No entanto, estes processos em curso aprofundaram as
desigualdades socioespaciais urbanas ao privilegiarem parcelas específicas da cidade,
especialmente o vetor Norte da área urbana e área central.

Palavras chave: produção do espaço urbano, dinâmica econômica, Arapiraca.

ABSTRACT - The cities reveals in its form and meaning the actions of social agents that
are interested in its reproduction, represented by the State, the entrepreneurs of different
economic branches and the housing sector which transform and generate new spatial
forms. Regarding the action of this agents, the purpose of this work is to analyse the last
decade of socio-spatial urban changes in the city of Arapiraca (AL/Brasil), highlighting
the spatial dynamization of some parts of the city. The data and information for the
research came from many sources: bibliographic review, municipal office, Brasilian
Census, the Institute of Geography and statistcs (IBGE). The approach made use of
analysis of public documentation, municipality law, exploratory analisys, photographic
recording and utilization of Geographic Information System (GIS) to maps production.
As a result, the economic dynamism of the services sector has been increased in the
last years, receiving investments from differents corporate affiliates located in the city
and also through significant public investments specially in squares and publics parks.
Nevertheless, the continuation of this process have increased inequalities in urban areas,
because this activities benefit selected parts of the city, specially the northern vector of
urban area and downtown.

Key words: urban space production, economic dynamics, Arapiraca.


Mudanças Socioespaciais Urbanas em Arapiraca-AL 27

INTRODUÇÃO

A cidade capitalista, ela mesma produto e mercadoria, visto que trabalho


socializado e fragmentadamente posta à venda, expressa um conteúdo de
classes. Bairros, ruas e edificações projetam-se desigualmente no espaço urbano
não apenas por meio de suas formas, mas pelos conteúdos que embutem e
representam.

De acordo com Carlos (1994, p. 85),

a cidade aparece como um bem material, consumida de acordo


com as leis da reprodução do capital. Este processo tem como
característica fundamental produzir um produto fruto do processo
de trabalho considerado como processo de valorização, que seja
mercadoria e que se realize através do mercado. No caso do espaço
urbano ele é um produto que possui um valor de uso e de troca1
específicos: como produto do processo, ele é mercadoria, como
condição para reprodução, é capital fixo.

Produto da sociedade, o espaço urbano é reflexo e condicionante social


(Correa, 2004) e assim, diferentes agentes são responsáveis pela sua produção/
reprodução/apropriação, provocando alterações/modificações na paisagem e
no conteúdo local2.

1 Para aprofundamento quanto a estas questões, veja-se Harvey (1980) e Lefebvre


(2001).
2 Na literatura brasileira há um conjunto de discussões já bastante explorado no que
se refere aos agentes da produção do espaço urbano e assim, dados os propósitos deste
trabalho e as limitações quanto à extensão do texto, sugere-se àqueles interessados
no aprofundamento da questão, consultar Carlos, Souza e Spósito (2011), e Carlos,
Volochko & Alvarez (2015). Para um estudo mais específico, consultar Gomes (2009).
28 M. A. Silvestre Gomes et al.

O Estado, os proprietários fundiários, os promotores imobiliários, os


proprietários dos meios de produção, entre outros, desenvolvem estratégias e
práticas sociais distintas e muitas vezes complementares promovendo mudanças
socioespaciais urbanas (Correa, 2011). Estas mudanças podem tanto resultar
predominantemente das ações de um único agente, como o Estado, quanto
decorrer da convergência de ações de múltiplos agentes, como é o caso da
produção de um loteamento ou mesmo da implantação de um shopping center.

Na cidade de Arapiraca-AL, as mudanças socioespaciais decorrem de ações


de agentes com diferentes intencionalidades, se intensificando nas últimas
décadas pela introdução, aprofundamento e superposição de lógicas globais
em detrimento das dinâmicas locais e regionais. Ou seja, as ações de agentes
públicos e privados ocorrem em diferentes escalas e assim redefinem o quadro
econômico e social local. Há, nesse processo, uma sobreposição das estruturas
urbanas previamente organizadas mediante a inserção de “lógicas espaciais
mais complexas e decididas fora da escala de poder econômico e político local,
em função de interesses comerciais e imobiliários que implantam shopping
centers, que expandem redes de comércio de múltiplas filiais ou de franquias
que associam atores econômicos locais a atores econômicos nacionais” e
internacionais (Spósito, 2007, p. 242).

Historicamente, no município de Arapiraca atuam importantes grupos


empresariais de diferentes escalas, sobretudo ligados à cultura do fumo, que
já se constituiu como a principal atividade econômica3. Ao mesmo tempo, esta
3 De acordo com Souza (2009, p. 111), atualmente entre as grandes empresas sediadas
em Arapiraca que têm maior participação na produção e comercialização do fumo
de corda, destacam-se: Incasil Indústria e Comércio, Araújo Silva Ltda, do Grupo
Bananeiras; Incofusbom Indústria e Comércio de Fumo Super Bom Ltda.; Indústrias
Reunidas Coringa Ltda. e Grupo Maratá. “A empresa norte-americana Universal Leaf
Tabaco, segunda maior empresa mundial em volume de fumo comercializado, vem
desenvolvendo uma experiência com produtores do Agreste alagoano. As variedades
testadas são Virgínia e Burley. Além da Universal Leaf, a empresa Souza Cruz também
Mudanças Socioespaciais Urbanas em Arapiraca-AL 29

cultura também possibilitou a formação de um importante grupo de pequenos e


médios produtores rurais que mais tarde contribuiu para o dinamismo econômico,
sobretudo na área urbana. No entanto, com a decadência das atividades
fumageiras após a década de 1990 e, aproveitando-se do importante capital
acumulado durante o período em que a mesma prosperou, desenvolveu-se um
setor de serviços avançado, capaz de imprimir mudanças significativas em termos
qualitativos e quantitativos, reafirmando o papel regional de Arapiraca como
o centro mais dinâmico do interior do Estado de Alagoas. Ou seja, trata-se de
um processo engendrado tanto por agentes locais e regionais quanto nacionais
e internacionais.

Somente na primeira década do século XXI, o município praticamente


quadruplicou sua economia, apresentando reflexos importantes na geração
de emprego e renda e na estruturação do espaço urbano. No que se refere às
ações dos agentes econômicos, destacam-se a implantação ou intensificação da
oferta de diferentes atividades e produtos imobiliários, como os loteamentos
fechados4 de médio e alto padrão, as torres de apartamentos, shopping center,
redes atacadistas internacionais, cadeias de fast-food, bares e restaurantes
especializados etc.

No âmbito das ações públicas, trata-se de um conjunto de intervenções que,


através de projetos de infraestrutura, alteraram drasticamente parcelas do espaço
urbano, tanto em seu conteúdo material quanto social. Constituem exemplos, a
implantação e reforma de praças e parques; o asfaltamento e sinalização de ruas
e avenidas; a implantação de escolas de tempo integral, universidades, centros
de saúde avançada e equipamentos de lazer; reformas e ampliação de prédios

desenvolve experimentos com variedades de fumo na região”.


4 Os loteamentos fechados são ilegais perante a Lei Federal de Parcelamento do Solo
Urbano, no 6.766, de 1979. No entanto, diversos municípios têm os reconhecido em
suas leis municipais.
30 M. A. Silvestre Gomes et al.

públicos; duplicação de rodovias etc.

Considerando estas questões, este trabalho intenta uma análise das mudanças
socioespaciais urbanas ocorridas nas últimas décadas no município de Arapiraca-
AL, destacando aspectos das ações públicas e privadas que engendraram este
processo. Trata-se de compreender em que medida as novas lógicas econômicas
estão fomentando alterações importantes na área urbana e de que modo a
implantação de infraestrutura urbana pelo poder público têm contribuído para
a ampliação deste processo.

Como recurso metodológico utilizou-se de pesquisa bibliográfica, consultas


e levantamentos nos órgãos municipais e no IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística), análise de leis e documentos públicos, pesquisa
exploratória e registro fotográfico em campo, elaboração de mapas no Programa
ArcGis/Esri, entre outros.

Dinâmica econômica e mudanças socioespaciais urbanas em Arapiraca na auro-


ra do século XXI

No ano de 2013, de acordo com o IBGE (2014), Arapiraca apresentou uma


população estimada em 227.640 habitantes, dos quais cerca de 85% eram
considerados urbanos. O município ocupa uma área de 366,5 km2 e encontra-se
à 248m de altitude. Localiza-se na Mesorregião do Agreste Alagoano, Região
Nordeste do Brasil, distante cerca de 130km da capital do Estado, Maceió
(Figura 1). Historicamente reconhecido pela cultura do fumo, que lhe rendeu
prosperidade econômica, destaca-se no estado porque representa a maior
população e o maior PIB (Produto Interno Bruto) entre os municípios do interior5.
5 Segundo o IBGE (2014), em 2011 os municípios de Alagoas que apresentaram os
maiores PIB’s, a preços correntes, eram os seguintes: Maceió (13.743.391 mil reais),
Arapiraca (2.173.811 mil reais), Marechal Deodoro (912.375 mil reais) e São Miguel dos
Campos (863.932 mil reais). Respectivamente, a população estimada desses municípios
em 2013 era de 996.733, 227.640, 49.853 e 59.077.
Mudanças Socioespaciais Urbanas em Arapiraca-AL 31

Figura 1: Localização do município de Arapiraca no Estado de Alagoas e no Brasil.

O fumo representou entre 1960 e 1990 o principal produto da agricultura,


desempenhando importante função na economia do município e do agreste
alagoano6 (Nardi, 2004). Por exemplo, na década de 1980, a mesorregião de
Arapiraca produzia cerca de 30 mil toneladas de fumo por ano, porém no
período de 2000 a 2005, a queda na produção foi de 67% (Monteiro, 2008). No
ano de 2012 toda a produção de fumo em Alagoas somou 14.718 toneladas,
movimentando 22.520 mil reais, o que reafirma a perda de competitividade
deste segmento produtivo (SEPLANDE, 2012a).

Para Nardi (2004), a crise do fumo que se delineou no decorrer da década de


1990 e, sobretudo a partir de 1998, proporcionou uma queda de 70% da produção
e assim agravaram-se o desemprego e a pobreza no município. Destarte, houve
6 No Agreste, “Arapiraca é o principal produtor, seguido dos municípios de Lagoa da
Canoa, Feira Grande, Coité do Nóia, Girau do Ponciano, Limoeiro de Anadia, São
Sebastião, Teotônio Vilela, Taquarana e Campo Grande”. (Souza, 2009, p. 111).
32 M. A. Silvestre Gomes et al.

aumento da riqueza, pois o PIB per capita passou de 1.667 para 2.376 dólares,
entre 1996 e 2000, ou seja, uma taxa de crescimento de 42,5%, sendo superior
àquela apresentada pelo Estado de Alagoas. Ainda, no mesmo período, o
crescimento demográfico foi de 7,6%.

Salienta Souza (2009, p. 112) que

A crise do fumo, de certa forma, serviu para marcar um novo ciclo


econômico que apontava a necessidade de diversificar a matriz
produtiva municipal, pois a fumicultura demonstrava claramente
grande instabilidade em sua produção e comercialização e, a
médio e longo prazo, poderia colocar as finanças municipais em
sérias dificuldades.

Por isto, observou-se que paralelo à crise do setor fumageiro,


que ocasionou a diminuição da área plantada, surgiram outras
atividades também ligadas ao setor agrícola, como o cultivo de
hortaliças, tubérculos, grãos, fruticultura irrigada e, em pequena
escala, rebanhos de bovinos, caprinos e ovinos. O setor comer-
cial da cidade também merece destaque, pois ocupa uma posição
central na composição dos proventos municipais, representando
quase 50% na composição setorial do Produto Interno Bruto (PIB)
do município.

A diversificação econômica demonstrou-se extremamente importante após


o ano 2000, proporcionando um aumento extraordinário do PIB municipal. No
ano de 2002 somou 583.578 mil reais, e em 2011 totalizou 2.173.8117mil reais

7 Embute-se neste total o valor de 265.680 mil reais referentes a impostos sobre produtos
líquidos de subsídios a preços correntes.
Mudanças Socioespaciais Urbanas em Arapiraca-AL 33

(a preços correntes), tendo maior participação o setor de serviços (1.545.228 mil


reais). É notável o elevado crescimento deste setor na economia de Arapiraca,
como se observa no período de 2002 a 2011 (Figura 2).

A análise da evolução do PIB por setor da economia, conforme a Figura


2, demonstra que houve uma redução significativa da participação da
agropecuária na composição do PIB municipal no período 2002-2011. A
produção agropecuária declinou cerca de 50%, ou seja, de 62.434 mil reais
em 2002 para 36.722 mil reais em 2011. Neste mesmo período, a produção
industrial avançou de 81.290 mil reais para 326.180 mil reais, apresentando um
incremento significativo, com destaque para os segmentos alimentício, gráfico,
plástico e químico. Como exemplos de empresas desses segmentos, podem-se
destacar: Camarão – Indústria de Produtos Alimentícios, Indústrias Reunidas

Figura 2:Evolução do PIB de Arapiraca-AL, por setor de atividade econômica, a preços


correntes (R$ 1.000) no período 2002-2011.

Fonte: SEPLAN (2007), SEPLANDE (2012a, 2012b) e IBGE (2014).


34 M. A. Silvestre Gomes et al.

Coringa, Art’s e Brind’s, Centergraf - Gráfica e Editora, Incograf – Indústria e


Comércio de Produtos Gráficos, Injeplast, Merconplas Industrial de Plásticos,
Samplás – Indústria e Comércio de Plástico e Superúttil Indústria e Comércio.
Além disso, há algumas distribuidoras de alimentos e/ou produtos de higiene e
limpeza, como Asa Branca, Andrade, Líder e Tio Vieira. Arapiraca ainda conta
com o Polo Moveleiro Nascimento Leão (às margens da rodovia AL-220).

O expressivo crescimento econômico de Arapiraca, sobretudo, com base


no setor de serviços, é reflexo da sua importância no contexto regional em
que se insere, destacando-se como centro comercial e de prestação de serviços
especializados8. Este dinamismo tem se intensificado nos últimos anos com os
investimentos realizados por importantes grupos econômicos na implantação
das suas filiais, como Walmart Hipermercados, Carrefour Hipermercados, A
e C Centro de Contatos, Ibis Hotéis e Hipermercados GBarbosa. Destaca-
se também a implantação do Arapiraca Garden Shopping9, do grupo Tenco
Shopping Centers10, que tem notoriedade pela sua complexidade, incluindo
franquias e lojas âncoras que até então não atuavam na cidade, como as lojas
Riachuelo e C&A. Isto tem sinalizado alterações importantes na produção e
apropriação do espaço urbano e redefinições no perfil do público e segmentos
comerciais atuantes na área central urbana. No entanto, são necessários estudos
8 Informações no sítio da Prefeitura Municipal apontam reportagens em veículos de
circulação nacional destacando o dinamismo econômico do município ao longo dos
últimos anos. São exemplos as reportagens da Revista Veja, em agosto de 2010, e da
Revista Exame, em julho de 2015.
9 Este empreendimento ocupa uma área construída de 47.500m 2 e dispõe de
um total de 180 lojas e 2.190 vagas de estacionamento. Disponível em: <http://
arapiracagardenshopping.com.br>. Acesso em: Fevereiro de 2014.
10 Este grupo foi fundado em 1988 e atua há mais de uma década no segmento de
Shopping Centers, construindo, gerenciando e comercializando seus empreendimentos.
Segundo informações da empresa, atuam em doze estados brasileiros, em especial em
cidades de médio porte localizadas no interior do estado ou municípios de regiões
metropolitanas. Disponível:<http://www.grupotenco.com.br>. Acesso em: Maio de
2014.
Mudanças Socioespaciais Urbanas em Arapiraca-AL 35

aprofundados sobre esta questão.

Estas mudanças ocorreram com diferentes intensidades em inúmeras cidades


de porte médio no Brasil11, como destaca Ueda (2007), em relação a algumas
cidades no Rio Grande do Sul, e Pontes (2006), que analisou as mudanças
recentes no processo produtivo de cidades da Região Nordeste. Assim, aponta
Spósito (2007, p. 238) que,

supermercados e hipermercados se concentraram, empresas de


comercialização de produtos de diferentes tipos se estabeleceram
por sistemas de franquia e ambas se expandiram territorialmente
reforçando papéis regionais das cidades médias em detrimento
dos papéis terciários das cidades pequenas, ao mesmo tempo que
a competitividade se impôs sobre os capitais locais e regionais de
modo inexorável.

Em Arapiraca, destacam-se outros investimentos públicos e privados, como


a duplicação da Rodovia AL 220 (em uma extensão de 6km), a implantação do
Campus da Universidade Federal de Alagoas, Complexo Hospitalar Manoel
André e Unidade de Emergência Doutor Daniel Houly. Todos estes investimentos
contribuíram na oferta de empregos, na dinamização do comércio local e na
complexificação das relações socioeconômicas locais e regionais.

A figura 3 destaca a localização dos principais empreendimentos públicos


e privados implantados na área urbana de Arapiraca, sobretudo, a partir do ano
2000.

11 Apesar de importantes discussões quanto aos critérios conceituais de cidades


médias ou de porte médio, para o escopo desta pesquisa, considerando-se Branco
(2007), aponta-se Arapiraca como cidade de médio porte devido às suas características
econômicas, sociais e demográficas na rede urbana regional.
36 M. A. Silvestre Gomes et al.

Figura 3: Localização de alguns empreendimentos públicos e privados na cidade de


Arapiraca - AL.

Fonte: IBGE (2010).


Mudanças Socioespaciais Urbanas em Arapiraca-AL 37

Como parte do conjunto de investimentos realizados na área urbana de


Arapiraca, desde o início do presente século, destacam-se os empreendimentos
imobiliários em suas diversas modalidades. O mercado imobiliário caracteriza-
se pelo seu intenso crescimento, apresentando um aumento expressivo na
quantidade de loteamentos aprovados pelos órgãos públicos e na oferta de lotes
para construção.

Entre os anos de 2005 e 2012 foram aprovados 53 loteamentos, totalizando


15.652 lotes (Arapiraca, 2012), sendo o período de maior intensificação da
oferta àquele que compreende os anos de 2006 a 2009. Ou seja, trata-se de
um momento marcado pela implantação do Campus da Universidade Federal
de Alagoas e da Unidade de Emergência Dr. Daniel Houly, por exemplo, que
gerou uma forte expectativa para novos investimentos em função do aumento
de usuários solváveis.

A partir do ano de 2006, com a aprovação do Plano Diretor (Lei Municipal


2.424/2006), um conjunto de legislação específica foi aprovado direcionando a
política urbana, regulamentando o parcelamento do solo, aprovando condomínios
de lotes, estabelecendo o zoneamento e orientando a expansão urbana,
principalmente para as áreas especificadas como de dinamismo econômico
e social, a exemplo da que se identifica nesta pesquisa como vetor Norte.
Ressalte-se que, o perímetro urbano de Arapiraca foi redefinido em 2006, sendo
subdividido em trinta e oito bairros (Arapiraca, 2006b).

O padrão arquitetônico baseado em unidades residenciais familiares de


um e dois pavimentos, predominante na cidade até o final do século XX,
foi rapidamente alterando-se com a implantação de torres de apartamentos
e loteamentos fechados de alto padrão. Sobretudo, após o ano de 2006 essas
novas formas espaciais deram novos contornos à dinâmica imobiliária na cidade,
provocando alterações na infraestrutura dos bairros aonde se implantaram,
38 M. A. Silvestre Gomes et al.

elevação no preço do solo urbano e ampliação da segregação e desigualdades


socioespaciais.

Os prédios de apartamentos são elementos relativamente novos na paisagem


urbana de Arapiraca, em especial no que se refere à presença de torres de mais
de sete pavimentos tanto para fins residenciais quanto empresariais. Até o final
do século XX a verticalização era incipiente, destacando-se o Edifício San
Sebastian, fundado em 1989, e o Edifício do Plaza Hotel, fundado em 197612.
No entanto, inúmeros projetos imobiliários têm sido lançados, principalmente,
voltados para as camadas da população de rendas média e alta. Como exemplos,
destacam-se o Espace Residencial Arapiraca, um complexo de seis torres com
16 pavimentos, localizado no bairro Caititus; o Fontana diTrevi, composto
de duas torres de 11 pavimentos, no bairro Novo Horizonte; e o Empresarial
Metropolitan, de oito pavimentos, na Avenida Deputada Ceci Cunha, no bairro
Itapuã (Figura 3).

O processo de verticalização em curso em Arapiraca demonstra que a


área central urbana não é mais o local privilegiado para a implantação desses
empreendimentos. Os novos edifícios, agora pulverizados em áreas de intenso
dinamismo econômico, como se constitui o vetor Norte (Figura 4), que esta
pesquisa identifica, apresentam-se predominantemente com usos residenciais
e de prestação de serviços especializados.

Outro produto imobiliário recente em Arapiraca são os loteamentos fechados,


ou condomínios, como são popularmente divulgados. Estes tornaram-se símbolos
de status e produtos imobiliários para as elites tradicionais do município e para
parcelas de trabalhadores de média e alta renda que aportaram em Arapiraca
favorecidos pela oferta de empregos em instituições públicas, sobretudo, nos
segmentos de educação e saúde, e em diversas empresas privadas.

12 Ambos os edifícios desempenham a função de hotel na atualidade.


39 M. A. Silvestre Gomes et al.

Figura 4: Perímetro urbano de Arapiraca e localização do vetor Norte.

Fonte: Google Earth v 7.1.2.2041. (Setembro de 2013). Arapiraca - AL, Brasil.


Localização 9°45’20.02S; 36°39’50.29O. Digital Globe 2014. Disponível em: http://
www.earth.google.com. Acesso em: Outubro de 2014.
Mudanças Socioespaciais Urbanas em Arapiraca-AL 40

Desde a aprovação e implantação do primeiro loteamento fechado, o


Condomínio Ouro Verde, a partir de 2004, outros empreendimentos foram
lançados, oferecendo inovações no seu portfólio, como o Residencial Sierra,
que dispõe de heliponto, e o Villa de La Roche, que pretende tornar-se uma
referência em alto padrão, dispondo desde guaritas de segurança blindadas até
cascatas de jato laminar e cabeamentos subterrâneos.

Em uma cidade cujos bairros apresentam deficiência arbórea em mais de 90%


(Arapiraca, 2004), o Residencial Sierra, inaugurado em 2013, diferenciou-se dos
demais pelo apelo à venda da imagem da natureza13. Projetou-se no imaginário
popular como um empreendimento “ecologicamente correto”, agregando o
plantio de diversas espécies arbóreas, mesmo que se divulgue a existência de
“áreas de preservação ambiental” no seu espaço14.

Em consultas à Incorporadora Alameda, responsável pelo Residencial Sierra,


foi informado que não havia no local área de proteção ambiental antes do
empreendimento, mas o Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA) solicitou
a implantação de uma área verde no entorno. Assim, foram implantadas cerca
de 9.000 espécies vegetais, bem como foram introduzidas espécies da fauna,
especialmente insetos.

O apelo explícito dos loteamentos, em geral, ao “verde” justifica-se, sobretudo


pela carência de vegetação na cidade. Vários estudos efetuados em Arapiraca
ratificam essa carência quantitativa e qualitativa tanto em vias públicas quanto
em espaços públicos de lazer (Silva & Gomes, 2010; Gomes et al., 2012; Silva,
2012; Silva & Gomes, 2013).

Os loteamentos fechados e outros empreendimentos públicos e privados,

13 Esta questão tem sido amplamente debatida na literatura. Para aprofundamento,


recomenda-se Henrique (2006), Barroso (2007) e Gomes (2009).
14 Disponível em: <http://www.arapiraca.al.gov.br>. Acesso em: Maio de 2014.
41 M. A. Silvestre Gomes et al.

como se aponta neste trabalho, ao implantarem-se ao longo da Rodovia AL


220 contribuíram para a valorização fundiária em um vetor específico da área
urbana de Arapiraca, aqui denominado vetor Norte (Figura 4), tornando esta a
parcela do espaço cujo dinamismo socioeconômico tem sido mais expressivo. A
conclusão da duplicação desta Rodovia no ano de 2012, ao longo do seu trecho
na área urbana de Arapiraca, tem favorecido a intensificação da ocupação das
suas margens pelas elites locais, que optam em morar em loteamentos fechados,
e por investidores que implantam serviços e comércios diversificados (Figura 3).

Esta área imediatamente ao entorno da Rodovia AL 220, mesmo com a


presença de loteamentos fechados, apresenta um caráter especialmente comercial
e de prestação de serviços. Além dos equipamentos públicos e privados já
citados, destacam-se a implantação de grandes empreendimentos comerciais
como as lojas atacadistas dos grupos Walmart e Carrefour, além de lojas da
rede Casa das Tintas e da concessionária Nissan. Todavia, nesta área já existiam
bairros aonde habitavam parcelas da população de alto poder aquisitivo, como
o Novo Horizonte, além de inúmeros terrenos não edificados e glebas não
parceladas, que encontram-se como reservas de valor. Há ainda importantes vias
de circulação que se ligam à AL 220, favorecendo os fluxos com importantes
cidades do Agreste e Sertão, como Palmeira dos Índios e Delmiro Gouveia.
A partir desta área, têm-se também facilidade no deslocamento para a capital
Maceió, localizada no litoral, porção central do estado.

No vetor Norte de Arapiraca estão localizadas a Av. Deputada Ceci Cunha e a


Rua Benjamim Freire de Amorim, que funcionam como corredores importantes
e vias de acesso à área central urbana. Em geral, são caracterizadas pela presença
de algumas habitações de luxo e, no caso da primeira, pela oferta também
de serviços especializados, processo que ocorreu paulatinamente à maior
popularização do comércio na área central urbana. Estas vias contribuíram para
Mudanças Socioespaciais Urbanas em Arapiraca-AL 42

a formação de um eixo de valorização fundiária que mais tarde se estendeu até


o Centro Administrativo Municipal, com a implantação e ampliação de vários
equipamentos públicos e privados, como o Parque Municipal Ceci Cunha, o
Arapiraca Garden Shopping e a Unidade de Emergência Dr. Daniel Houly
(Figura 3). Contudo, a área que envolve o vetor Norte não é homogênea do
ponto de vista da sua infraestrutura. Há deficiência na oferta de serviços básicos,
como água, luz e vias de acesso em algumas localidades.

Embora não se tenha realizado consultas específicas sobre o comportamento


do preço do solo urbano, de acordo com informações do mercado imobiliário de
Arapiraca15, após a duplicação da Rodovia AL 220 ocorreu uma valorização do
solo de 300% no seu entorno. Por exemplo, o valor do metro quadrado de um
terreno atualmente varia entre R$ 2.000 a 2.500. Esta valorização é comparada
àquela que ocorreu no centro da cidade. A expectativa para os próximos 10
anos é que ocorra um aquecimento exponencial do setor imobiliário e da
economia, especialmente próximo à Rodovia, com a instalação de novos grupos
varejistas/atacadistas e com a chegada de novo contingente de trabalhadores,
principalmente com o início das operações da Mineradora Vale Verde, que prevê
a extração de cobre e ferro em reserva mineral entre os municípios de Arapiraca
e Craíbas, a partir de 201516.

Com a criação da Região Metropolitana do Agreste (RMA)17 em 2009, tendo


15 Entrevista concedida por um corretor aqui denominado pelo sobrenome de Vieira,
em seu escritório, no dia 01/04/2014.
16 Este Projeto, denominado Serrote da Lage, está orçado em R$ 840 milhões e prevê
a geração de 1.250 postos de trabalho diretos e 5.000 indiretos na fase da construção.
Durante as operações, estima-se que 385 pessoas serão empregadas diretamente e
1.540 indiretamente. Disponível em:<http://www.alagoas24horas.com.br>. Acesso
em: Junho de 2014.
17 A RMA foi criada pela Lei Estadual Complementar número 27/2009 e integra os
seguintes municípios: Arapiraca, Belém, Campo Grande, Coité do Nóia, Craíbas,
Estrela de Alagoas, Feira Grande, Girau do Ponciano, Igaci, Jaramataia, Junqueiro,
Lagoa da Canoa, Limoeiro de Anadia, Olho d’água Grande, Palmeira dos Índios, São
43 M. A. Silvestre Gomes et al.

Arapiraca como cidade núcleo, ampliou-se a expectativa de maior dinamização


do comércio e serviços, com destaque para a área/vetor supracitado.

O Artigo 3º da Lei Complementar 27/2009 ressalta que as funções públicas


de interesse comum dos municípios integrantes compreendem: a) Planejamento,
em nível global ou setorial de questões territoriais, ambientais, econômicas,
culturais, sociais e institucionais; b) Execução de obras e implantação, operação
e manutenção de serviços públicos; e, c) Supervisão, controle e avaliação da
eficácia da ação pública metropolitana.

A RMA compõe-se de pequenos municípios com reduzido número de


habitantes, de baixa expressão econômica e que não se apresentam conurbados,
sendo este um dos critérios citados na Lei no que se refere a agregação de novos
municípios. Ressalte-se ainda que a delimitação desta unidade de planejamento
obedece, entre outros, a determinantes políticos/eleitoreiros, como tem sido
comum no Brasil, dado o indiscriminado aumento do número de regiões
metropolitanas em diversos estados da federação18.

Na cidade de Arapiraca, além do vetor Norte, cujo dinamismo econômico tem


sido mais marcante, destacam-se ainda, em outras parcelas do espaço urbano,
a execução de três projetos de infraestrutura pública pela importância que
desempenham nas mudanças socioespaciais em curso, ou seja, a implantação do
Bosque das Arapiracas, nas imediações da área central; a ampliação e reforma do
Parque Municipal Ceci Cunha, na área central e; a implantação do Parque Lago
do Perucaba, no vetor Oeste (Figura 3). Estas obras tornaram-se estruturantes
e provocaram alterações profundas no seu entorno, como aquelas relacionadas
ao padrão de uso e ocupação do solo e mudanças no perfil social.

Brás, São Sebastião, Taquarana, Traipu e Tanque D’arca.


18 Há um intenso debate sobre a questão da metropolização no Brasil e seus critérios
conceituais. Para aprofundamento, recomenda-se consultar Reolon (2008).
Mudanças Socioespaciais Urbanas em Arapiraca-AL 44

No caso do Parque Municipal Ceci Cunha destaca-se a mudança do perfil


residencial para o comercial no seu entorno; a diversificação do perfil comercial
das lojas, anteriormente com predomínio do comércio informal e de baixa renda;
mudança do padrão construtivo, de unidades térreas para imóveis de mais de
um pavimento; entre outros.

O Parque Municipal Ceci Cunha é objeto de transformações desde a década


de 2000 quando a primeira etapa de revitalização foi concluída. Em 2006 foi
inaugurada a segunda parte deste Parque e, em 2007 foi inaugurado neste
local o Mercado de Artesanato Margarida Gonçalves. Todavia, as mudanças
compreendem tanto a sua ampliação territorial, implantação de equipamentos
de lazer e esportivo, quanto o tratamento estético-paisagístico e desapropriação
de famílias de baixa renda do seu entorno (Gomes et al., 2008a).

Além disso, em 2012, uma área complementar ao Parque foi revitalizada,


ampliada e transformada em um ginásio (Ginásio Poliesportivo Municipal
João Paulo II). No entanto, desde 2011, uma nova área de importante dimensão
foi incorporada ao espaço do mesmo. Trata-se da primeira etapa das obras de
implantação do Bosque das Arapiracas19, sendo sua segunda etapa inaugurada
em 2012.

O Bosque das Arapiracas, idealizado em 2007, surgiu como uma proposta


de proteção do Vale do Riacho Piauí onde também está implantado o Parque
Municipal Ceci Cunha20. Aparece como uma continuidade espacial deste último
Parque, constituindo um projeto milionário incluso nas estratégias do Programa
de Aceleração do Crescimento, do Governo Federal, e que também é subsidiado

19 Nome dado em referência à árvore nativa também chamada Arapiraca da espécie


Piteolobim sp., segundo Romão (2008).
20 Contraditoriamente, neste trecho o Riacho encontra-se canalizado.
45 M. A. Silvestre Gomes et al.

pelo Ministério das Cidades21 (Arapiraca, 2010). Denominado de “Projeto de


Urbanização de Assentamento Precário/Boque das Arapiracas”, na sua execução
foram removidas inúmeras famílias de baixa renda para bairros periféricos e
outras foram indenizadas. Ou seja, com o discurso da recuperação e preservação
ambiental da área, legitimaram-se os interesses de alguns agentes, interessados
na valorização da área central da cidade.

Para a implantação do Bosque foram remanejadas mais de 300 famílias de


baixa renda que, através de um processo histórico de ocupação iniciado em
1985 se estabeleceram às margens do riacho Piauí, formando a comunidade
denominada “Favela do Caboje”. Essas famílias foram atendidas pelo Programa
Habitar Brasil, através do Projeto Integrado de Urbanização Jardim das Paineiras,
sendo transferidas para uma nova localidade denominada Residencial Jardim
das Paineiras (Arapiraca, 2007).

O Bosque das Arapiracas tem área de 92.227,58m² e sua infraestrutura inclui


a criação/instalação de alamedas e vias de acesso, ciclovias, vias de pedestre
e áreas de serviços; estacionamento; pontos de ônibus e de telefone público;
monumento aos carvoeiros; torre de observação; pavimentação e drenagem;
rede coletora de esgotamento sanitário; iluminação pública (Arapiraca, 2007).

No Bosque ainda funciona a Escola Municipal de Circo Teófanes Silva, com


572m² de área, que também atua como Centro de Apoio às Escolas de Tempo
Integral (Arapiraca, 2013). Os investimentos nesta área ampliou o dinamismo dos
bairros ao seu entorno, resultando na agregação de novos valores econômicos e
sociais ao longo dos anos, assim como tornaram mais evidentes as necessidades
de conservação e educação ambiental nos espaços públicos urbanos em geral.

Como demonstrado com os parques supracitados, uma das políticas públicas

21 O valor estimado do projeto de intervenção do Bosque das Arapiracas é R$ 10.800.000,00


(Arapiraca, 2007).
46 M. A. Silvestre Gomes et al.

de destaque em Arapiraca a partir da primeira década do século XXI e que é


parte da complexa trama de intervenções públicas na área urbana refere-se
à implantação, reforma e ampliação de espaços públicos, fato que provocou
alterações na paisagem e na dinâmica da produção do espaço urbano. Na área
central da cidade e adjacências ocorreu a maior quantidade destas intervenções,
ampliando o processo de diferenciação entre os bairros centrais e periféricos
em Arapiraca. Como exemplos, destacam-se a Praça Luiz Pereira Lima, a Área
Verde Dom Constantino Luers, a Praça Memorial da Mulher, a Praça Deputado
Marques da Silva e a Praça Santa Cruz. Em todas estas praças desenvolveram-se
um sofisticado projeto de paisagismo com alocação de moderna infraestrutura
e intensificaram-se os cuidados com manutenção.

Como no vetor Norte e área central urbana, o vetor Oeste tem se constituído
em uma área de profundas transformações na cidade de Arapiraca em decorrência
da implantação do Parque Lago do Perucaba pela Prefeitura Municipal (Figura
3). Este espaço integra o projeto de revitalização do Açude Dnocs, componente
da Bacia do Rio Perucaba, que desde a década de 1960 funcionava como
uma estratégia de combate aos efeitos da seca por meio do fortalecimento
da piscicultura na região. O açude, ao longo dos anos, tornou-se o local de
despejo de esgotos e lixos residenciais, culminando em uma área historicamente
marginalizada e desvalorizada, encravada entre os bairros Manoel Teles,
Cacimbas e Zélia Barbosa Rocha, com predominância da população de baixa
renda (Figura 4).

O projeto ambicioso e milionário22 de criação deste Parque, iniciado em


2008 (primeira etapa inaugurada em 2009), priorizou interesses específicos

22 O projeto, denominado de “Urbanização e infraestrutura em área degradada à


margem e no entorno do Açude do Dnocs e melhoria das condições de habitabilidade”,
teve investimento inicial de R$ 7,8 milhões e previa beneficiar 1.500 famílias por meio
de recursos do Ministério das Cidades.
Mudanças Socioespaciais Urbanas em Arapiraca-AL 47

em detrimento das reais necessidades da população local. Ao agregar novos


valores ao solo urbano, por meio da intensificação da especulação imobiliária,
desenvolvimento de novos projetos, produtos e serviços a um público de
elevada renda, expulsam-se, de maneira não explicitada, do entorno do Parque,
a população local, como demonstrado por Gomes et al. (2008a).

Observa-se que no entorno deste Parque há muitas expectativas quanto


à dinamização do segmento imobiliário. Como exemplo, está em fase de
implantação o que divulgam ser um bairro planejado, que deverá ser composto
por oito condomínios de casas e de dez edifícios de apartamentos com capacidade
estimada em abrigar cerca de 30 mil residentes23. Há ainda, a comercialização
de lotes para a implantação de lojas. Em geral, são empreendimentos criados
para atender a um público específico de rendas média e alta.

Ressaltando o dinamismo do setor imobiliário em Arapiraca, nota-se ainda no


entorno do Parque Lago do Perucaba outra proposta de investimento de cerca de
R$ 80 milhões (primeira etapa do projeto), que consiste na implantação de dois
loteamentos, de 550 unidades cada, em lotes com cerca de 300m², abrangendo
além de residências, lotes para os segmentos comerciais e de serviços. Há
também uma área destinada a empreendimentos verticalizados24.

Os interesses imobiliários nesta área justificam-se tanto pelas intervenções


públicas constantemente realizadas quanto pelo surgimento e ampliação de
novas demandas de mercado, originadas, entre outros, com a instalação de
novos grupos empresariais em Arapiraca. Assim, este trabalho aponta para o
surgimento de uma nova área de expansão urbana e de valorização fundiária
no entorno do Parque Lago do Perucaba, promovida pelas ações públicas em
consonância com os interesses de grupos econômicos e camadas específicas

23 Disponível em: <http://www.urbisperucaba.com.br>. Acesso em: Abril de 2014.


24 Disponível em: < http://valormercado.com.br>. Acesso em: Abril de 2014.
48 M. A. Silvestre Gomes et al.

que buscam a reprodução do seu capital em escala ampliada.


Estudo realizado por Gomes et al. (2008b), no início da implantação do
Parque Lago do Perucaba, já assinalava, por exemplo, a valorização da área do
entorno do Parque diante das perspectivas imobiliárias de comercialização dos
lotes e glebas existentes. Os autores também destacaram o processo de remoção
de parte da população residente imediatamente às margens do Açude Dnocs
para conjuntos habitacionais nas zonas periféricas da cidade, como Jardim das
Paineiras, Residencial Arapiraca e Residencial Vale das Águas. Observou-se
que é crescente o interesse de dinamizar e valorizar a área adjacente ao Parque,
emoldurando-a, ao longo dos anos, com novos padrões arquitetônicos, seja de
residências ou de comércios, com agregação de um novo perfil social.
Nas gestões municipais 2005-2008 e 2009-2012 a criação e reforma de
espaços públicos despontaram como uma das principais prioridades da agenda
pública, especialmente quanto à valorização de áreas de interesse econômico,
tanto na centralidade urbana quanto em bairros circunvizinhos e em parcelas
específicas da área urbana. Destaque-se, entretanto, que o conjunto das políticas
públicas em curso, ao privilegiar interesses e parcelas específicas da cidade,
contribuíram para o aprofundamento das desigualdades socioespaciais urbanas,
com concentração dos serviços, empreendimentos privados e equipamentos
públicos na área central e vetor Norte de Arapiraca, especialmente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao traçar o panorama geral das transformações socioespaciais urbanas que


têm ocorrido em Arapiraca nos últimos anos, procurou-se compreender as
estratégias e os objetivos das políticas públicas locais, atrelados às novas
demandas econômicas, especialmente do setor imobiliário. Assim, pode-se
concluir que as principais intervenções públicas e privadas não ocorreram
de forma aleatória, mas de acordo com determinados interesses, visando a
dinamização socioeconômica de áreas específicas no espaço urbano, atraindo
Mudanças Socioespaciais Urbanas em Arapiraca-AL 49

mais investimentos para um novo e crescente ciclo econômico, fortalecendo a


parceria entre o público e o privado.

A crescente importância do setor de serviços e a dinamização do segmento


industrial provocaram um quadro de mudanças socioespaciais urbanas, em geral,
pela ampliação da demanda solvável. Isto teve reflexos no setor imobiliário
que ampliou a oferta de loteamentos fechados e prédios de apartamentos e
também nas políticas públicas que redirecionaram seus investimentos para as
áreas mais dinâmicas.
Para os propósitos deste trabalho, além da problematização dos interesses
privados na produção do espaço urbano, foram considerados três importantes
equipamentos públicos implantados em pontos distintos da cidade de Arapiraca,
ou seja, o Parque Municipal Ceci Cunha, o Bosque das Arapiracas e o Parque
Lago do Perucaba. Estes espaços refletem a produção e apropriação desigual
do espaço, contribuindo para a ampliação das práticas capitalistas na cidade,
incidentes sobre o padrão de uso e ocupação do solo e do perfil social que
habita determinadas parcelas do espaço urbano.
Esta análise, de maneira geral, demonstrou que as ações públicas têm
ocorrido pontualmente no espaço, objetivando interesses econômicos em
detrimento das reais necessidades da população local. Exemplo disso é a
expulsão de moradores tradicionais de determinadas áreas para dar lugar a
projetos imobiliários, a ações de melhorias e de recuperação de espaços
públicos, entre outros. Se por um lado, as diversas transformações que estão
ocorrendo em Arapiraca são importantes para a dinâmica econômica local, por
outro lado, é importante preocupar-se quanto aos aspectos negativos refletidos
na ampliação das desigualdades socioespaciais urbanas.
50 M. A. Silvestre Gomes et al.

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