Pestilência Os Quatro Cavaleiros de Laura Thalassa
Pestilência Os Quatro Cavaleiros de Laura Thalassa
Pestilência Os Quatro Cavaleiros de Laura Thalassa
ISBN: 978-65-87221-48-9
Esta obra foi revisada segundo o Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.
É proibida a reprodução total e parcial desta obra, de qualquer forma ou por qualquer meio eletrônico,
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expressa da autora (Lei 9.610 de 19/02/1998).
Para Teresa, que se importa avidamente,
doa infinitamente, e ama totalmente.
Você é algo que o mundo precisa mais.
Observei quando o Cordeiro abriu o primeiro dos sete selos. Então ouvi
um dos seres viventes dizer com voz de trovão: “Venha!” Olhei, e diante de
mim estava um cavalo branco. Seu cavaleiro empunhava um arco, e foi-lhe
dada uma coroa; ele cavalgava como vencedor determinado a vencer.
[...]
Sento-me na nossa mesa por um longo tempo depois que meus colegas –
antigos colegas – foram embora, passando os dedos pela madeira polida da
espingarda do meu avô, acostumando-me com a sensação dela nas minhas
mãos.
Além de me familiarizar com a arma pelas duas últimas semanas quando
atirei para caramba em algumas latas de alumínio, faz anos desde que
manuseei uma arma de fogo. No total, matei apenas uma criatura com essa
arma (um faisão cuja morte assombrou meus sonhos aos doze anos).
Vou ter que usar novamente.
Levanto-me, dando mais uma olhada pela janela. Minha moto e o trailer
que amarrei na rabeira estão no final da estrada, minha comida, kit de
primeiros socorros e outros suprimentos presos atrás. Para além da minha
moto, a natureza canadense se empoleira nas colinas que fazem limite com
a nossa cidade de Whistler. Quem pensaria que um cavaleiro viria aqui,
para este canto solitário do mundo?
Num ímpeto, vou até a geladeira e pego uma cerveja – o mundo pode
estar acabando, mas foda-se, eu tenho cerveja.
Abrindo a lata, ando até a sala de estar e ligo a televisão. Nada.
— Ah, puta que o pariu. — Vou sofrer uma morte horrível de merda, e a
televisão decide que hoje é o dia que vai parar de funcionar.
Bato sobre ela com a mão aberta. Nada ainda.
Murmurando xingamentos que deixariam meu avô orgulhoso, chuto a
televisão inútil, mais por irritação do que qualquer outra coisa. A tela oscila
à vida, e uma imagem chuviscada de uma jornalista aparece, seu rosto
deformado pelas faixas de cor e distorções que o aparelho faz.
— …parece estar se movendo pela Colúmbia Britânica… na direção no
Oceano Pacífico… — É difícil entender as palavras da repórter sob o ruído
da estática. — …Relatos da Febre Messiânica no seu encalço… —
Pestilência precisa apenas cavalgar por uma cidade para esta ser infectada.
Pesquisadores – aqueles que continuam dedicados ao seu trabalho
mesmo depois da tecnologia cair – ainda não sabem muito a respeito dessa
praga, só que é chocantemente contagiosa e o vetor primário de transmissão
é o cavaleiro. Mas um nome foi dado a ela mesmo assim: a Febre
Messiânica, ou apenas a Febre. O nome foi inventado por canastrões, mas é
isso que o mundo se tornou – canastrões, santos e pecadores.
Desligando a televisão, pego a mochila, a arma e saio, assobiando a
música tema de Indiana Jones. Talvez fingir que isso é uma aventura e sou
a heroína me leve a pensar menos no que vou ter que fazer para salvar
minha cidade e o resto do mundo.
Passo a maior parte do dia e boa parte da noite montando acampamento
perto da rodovia Sea to Sky, a rota que é mais provável que ele pegue. Por
Deus, como espero que o cavaleiro passe enquanto ainda está claro. Minha
mira é uma merda em plena luz do dia, mas à noite é mais plausível que eu
atire em mim mesma do que nele.
Tendo em vista como está minha sorte hoje, há uma chance, uma boa
chance, de que eu vá foder com tudo. Talvez Pestilência faça um desvio, ou
decida ser esperto e se aproxime por outra direção. Talvez passe sem eu
sequer perceber.
Talvez, talvez, talvez...
Ou talvez até coisas aterrorizantes e selvagens tenham uma pitada de
lógica.
Pego a arma e munição extra, espreito para perto da rodovia, e me
acomodo para esperar.
[...]
[...]
Ele grita até não poder mais. Ninguém merece perecer assim. Nem
mesmo um arauto do apocalipse. Eu me afasto, e então minhas pernas
cedem. Isso não parece um ato nobre. Não me sinto uma heroína, salvando
o mundo. Eu me sinto uma assassina.
Deveria ter trazido uma cerveja – ou cinco. Não é algo para se assistir
sóbria.
Mas o faço. Observo sua pele criar bolhas e escurecer e queimar.
Observo-o morrer lentamente, cada segundo tão obviamente agonizante.
Fico parada ali por horas, sentada na estrada abandonada pela qual ninguém
mais viaja. Todo esse tempo, minhas únicas testemunhas são as árvores que
param como sentinelas ao nosso redor.
Neve acumula no corpo dele, derretendo em seus restos fumegantes.
Em algum ponto, desvio o olhar, só para perceber que seu cavalo sumiu,
um rastro de sangue e neve pisoteada guiando para a floresta.
Racionalmente, sei que deveria pegar a espingarda e seguir a trilha do
cavalo até encontrar a besta, e então deveria matá-la.
Eu sei, racionalmente. Mas não significa que o faço.
Chega de mortes por um dia. Amanhã termino o trabalho.
O céu escurece. E ainda assim eu permaneço, até o frio se infiltrar nos
meus ossos.
Por fim, o clima me força a voltar para a barraca. Desdobro meus
membros rígidos, todo meu corpo dolorido e doente. Não sei se a praga da
criatura já me tomou, ou se é apenas o que se sente quando se negligencia
comer ou beber e encontrar abrigo e calor durante um dia inteiro. De
qualquer forma, eu me sinto doente.
Caio de qualquer jeito no saco de dormir, sem me importar em puxá-lo
sobre mim. Para melhor ou pior, eu o fiz.
Pestilência está morto.
CAPÍTULO 4
**
Abro os olhos e pisco, encarando o teto acima de mim. Por um
momento, minha vida é normal, minha mente limpa de memórias. Alguém
aperta minha mão e eu viro a cabeça, aturdida. E então o vejo. Eu grito.
Não há nada – nada – mais monstruoso do que aquela face sedutora que
Pestilência possui, com a coroa dourada pousando orgulhosamente na
cabeça.
Apenas quando ele solta minha mão como se ela queimasse que percebo
que o maldito estava a segurando. Preciso de mais um segundo para
processar porque exatamente isso me enche de fúria cega.
Fugir do cavaleiro. Flechas nas costas. Amarrada no seu corcel e
forçada a correr. Cair. Arrastar. Dor. Morrer.
Arfo com a memória, e agora a força total da minha agonia surge.
— Estou… viva.
Parece impossível frente a tudo o que passei. Parecia que estava sendo
rasgada ao meio.
— Sofrimento é para os vivos — Pestilência responde de onde está
sentado. Observo o ambiente em que estamos. É outro quarto de hóspedes,
provavelmente em outra casa que Pestilência decidiu invadir.
Minhas mãos afundam nos lençóis gastos sob mim. Ele me trouxe para
esse quarto e me colocou na cama, e presumivelmente estou aqui desde
então. Não posso dizer se esse cenário me aterroriza totalmente, ou se
diminui um pouco meu medo.
Ele não me deixou morrer. Ele pretende me melhorar… apenas para que
possa sofrer mais. Sento-me na cama, contendo um grito com a dor intensa
que explode das minhas costas.
— Por que estou aqui? — questiono.
— Não vou deixar você morrer.
Mais uma vez, não sei se ele me salvar é uma gentileza ou uma
maldição.
É óbvio que é uma maldição, sua biscate estúpida. Ele não está te
salvando para seduzir seu traseiro.
— Você atirou em mim, depois me amarrou e me arrastou pela neve. —
Apenas dizer essas palavras faz um tremor espalhar por mim.
Os olhos azuis estão firmes em mim.
— Sim.
Giro um ombro, a articulação dolorida.
— Meu braço foi deslocado — falo, lembrando-me da sensação
excruciante.
Ele olha para mim por um longo momento, cada pedaço parecendo um
maldito anjo, e então concorda. Olho para baixo e me observo. Minha
camiseta sumiu, foi trocada pela de uma estranha – uma mulher grande com
um guarda-roupa ultrapassado, julgando pela estampa floral espalhafatosa.
Alguém me viu sem blusa. Meus olhos vão para Pestilência, que está me
encarando passivamente. É provável que tenha sido ele, o que significa que
agora ele viu minha vagina e meus peitos. Argh. Por que eu?
Movo a minha mão, a ação parecendo restrita. Puxando uma manga,
percebo que meus pulsos estão atados com uma atadura macia de algodão
branco. Passo o polegar em uma das bandagens.
Pestilência cuidou de mim? Lembro da forma cruel que arrancou as
flechas das minhas costas. De jeito nenhum…
Meus pensamentos são interrompidos pelo pulsar horrível nas minhas
costas. Inclino-me para frente para suavizar um pouco a pressão, e sinto um
tecido afundar na pele da minha barriga.
Erguendo a barra da camisa, encaro meu torso, que, como os pulsos, está
envolvido por camadas de bandagens. Passo o polegar pela atadura.
— Quem fez isso?
Pestilência me dá um olhar indecifrável.
— Você? — por fim pergunto.
Sinto o sangue queimando sob a minha pele com horror e vergonha e…
algo mais com o pensamento dele rasgando minhas roupas e cuidando de
mim. Tento imaginá-lo limpando e cobrindo minhas feridas, e descubro que
não consigo. Não quero.
Ele aperta os lábios em uma linha fina.
— Lembre-se da minha bondade.
— Sua bondade? — pergunto, incrédula. — Foi você que infligiu essas
feridas.
E vai fazer isso várias e várias e várias vezes até me quebrar.
Ah, ele estava certo quando me prometeu sofrimento. O lábio superior
dele se contrai, como se estivesse lutando contra uma careta. Pestilência se
levanta, a forma grande assomando sobre mim.
— Não tente escapar outra vez, mortal — avisa e então deixa o quarto.
Mais dois dias se passam antes que eu esteja forte o bastante para sair da
cama sozinha. Até lá, Pestilência passou a me alimentar (e julgando pelas
suas escolhas de comida, ele não tem ideia do que as pessoas na verdade
comem) e me levar ao banheiro.
Em outras palavras, tem sido mega divertido. Só que não.
Quando o cavaleiro não está cuidando de mim, passo o tempo dormindo.
Dormindo e sonhando sonhos estranhos onde meus pais rondam por perto,
fora de alcance por bem pouco, e murmuram algo para mim, algumas vezes
gritam, e no final apenas dão uma fraca tosse antes de desaparecer de vista.
Agora piso no corredor com pernas trêmulas, vibrando por finalmente
estar andando. Não que esteja de volta ao normal ou algo assim. Tudo ainda
dói, mesmo meus pulmões, e não deveria estar fora da cama, mas preciso
fazer xixi e estou cansada de precisar chamar Pestilência.
Depois de usar o banheiro e beber água da torneira da pia, decido
explorar a casa em que estamos.
Ao sair, paro por um momento para ouvir. Se o cavaleiro está por perto,
não revela sua presença. Mas duvido seriamente que esteja. Agora que nós
dois estabelecemos um tipo de rotina, uma onde grito seu nome e ele só às
vezes aparece, estou começando a pensar que a única vez que vaga pela
casa mesmo é quando me traz comida e água ou me ajuda a ir ao banheiro.
Não vou pensar no fato de que esteve cuidando de mim. Vou lembrar que
atirou nas minhas costas – duas vezes – e então me arrastou pela neve até a
dor ser tão grande que me fez desmaiar. Vou lembrar que ainda está se
movendo de cidade em cidade, trazendo praga com ele e me arrastando
junto pela viagem.
Somos inimigos, pura e simplesmente. Ele não se esqueceu disso desde
que atirei nele. Eu deveria me lembrar disso também, não importa quão
prestativo ele tenha sido desde então.
Um zumbido chama minha atenção para o teto. Acima da minha cabeça,
a luz brilha suavemente. É a primeira vez que percebo que a casa tem
eletricidade, um luxo para a época em que vivemos. Sortudos. O
apartamento em que eu vivia nunca teve. Eram lamparinas a óleo e
lanternas por todo o caminho.
Ando pelo corredor, indo na direção do que parece ser a sala de estar e a
cozinha além dela. Agora que minhas necessidades mais urgentes foram
resolvidas, posso sentir o pulsar contorcido do meu estômago vazio sob as
outras dores mais fortes.
Qualquer coisa nesse ponto será melhor do que os combos estranhos de
comida que Pestilência pensa em me trazer, como mostarda e macarrão cru.
Estou apenas deduzindo aqui, mas se precisasse adivinhar, diria que o
cavaleiro não é muito familiarizado com comida humana.
O ar no lugar tem um cheiro rançoso, como se estivesse fechado por
muito tempo, deixando comida perecível estragar no calor.
As imagens penduradas nas paredes chamam minha atenção. Fotos de
família. Meu estômago se contrai. É fácil se deixar levar pelos horrores
óbvios do apocalipse e esquecer que as pessoas que foram afetadas tinham
famílias assim como eu.
Meus olhos se movem de foto a foto, as imagens organizadas em
sequência. Primeiro são as fotos de bebê constrangedoras – do tipo que seus
pais fotografam você pelado e acham absolutamente adorável, até você
estar mais velho e aguentar a chacota dos amigos quando as encontram por
acidente.
Essas fotos são seguidas por outras de criancinhas doces, então há
sorrisos sem dente na época do ensino fundamental. Inevitavelmente, essas
se transformam em fotos de família que de alguma forma parecem datadas,
entre o grande colarinho rendado que a esposa usa, os óculos bifocais
gigantes que fazem os olhos do marido menores ainda, e os cortes de cabelo
de cuia dos dois garotos.
Toco a moldura, sorrindo um pouco com a imagem. Quantos anos esses
dois garotos têm agora? Uns trinta? Quarenta? Têm suas próprias famílias?
As fotos chegam a um fim abrupto com o final do corredor e entro na
sala de estar. Engulo um grito. Tem um homem deitado no sofá, vestido
apenas em cuecas, e algo está muito errado com ele. Centenas de pequenos
caroços pressionam a pele onde suas roupas não cobrem. Para meu horror,
alguns desses caroços parecem ter estourado, revelando sangue, pus e
outras coisas gosmentas que me fazem sentir o gosto da bile no fundo da
garganta.
Vi várias coisas perturbadoras durante meus poucos anos como
bombeira, mas nada como isso. Há um cheiro enjoativo no ar, um que não
percebi antes. É o odor da infecção – putrefação.
Ele pegou a Febre.
Uma parte vergonhosa de mim quer ir para o mais longe possível que
posso do homem. Com certeza ele é contagioso.
Você é uma socorrista, Burns. É isso o que significa no final. Sacrifício e
morte, se necessário.
Meus olhos voltam para o rosto do homem. Seu cabelo é de um marrom
opaco que está perdendo a batalha para o cinza, e seu rosto tem aquela
aparência esticada e gasta que a pele começa a ter quando a pessoa chega
nos quarenta. Os olhos vermelhos me encaram apáticos enquanto seu peito
sobe e desce o mínimo possível.
Meu Deus, ele ainda está vivo.
CAPÍTULO 10
— EXPERIMENTA.
— Absolutamente não.
— Ah vai, experimenta! — insisto.
— Eu disse não.
No que diz respeito a manhãs pós-Pestilência, essa começou bem. O sol
está pintando o mundo à nossa volta em uma suave luz rosa (tão lindo),
minhas mãos misericordiosamente não estão atadas pela primeira vez e
aconchegado entre elas está um copo térmico contendo minha própria
versão da salvação.
Cutuco Pestilência, que está sentado atrás de mim, com o cotovelo.
— Sabe que está curioso.
— Acho que sei melhor do que você o que eu quero.
Alguém aqui leva tudo literalmente demais. Pressiono o copo térmico
mais perto do cavaleiro, nem um pouco dissuadida por causa dos seus
protestos. Quer dizer, é chocolate quente que estou oferecendo. Também
quero mesmo ver se esse cara é capaz de beber fluidos. Não o vi tocar
comida ou bebida até agora.
A mão de Pestilência afunda no meu quadril, onde me segura contra si
na sela.
— Se eu experimentar, você vai ficar quieta?
— Não, mas você sabe que não me quer quieta.
Minhas palavras são pontuadas pelo constante som do cavalo de
Pestilência, que eu secretamente nomeei Trixie Skillz, que soa como
Tricksy Skills e significa malandro habilidoso. Tenho quase certeza de que
o corcel é macho (não chequei porque, diferente de algumas pessoas que
conheço, respeitar a privacidade de alguém é importante), mas não importa.
Tenho toda a história criada também. Trixie Skillz, o nobre corcel, uma
vez viveu uma vida de pobreza e medo, fazendo truques nas ruas por
cenouras e grãos, quando Pestilência o salvou. Agora os dois são
inseparáveis. Fim.
Pestilência pega o copo térmico da minha mão, erguendo o recipiente
para analisá-lo melhor.
— Se isso for veneno, humana, vou te amarrar atrás do cavalo outra vez
e te fazer correr.
Faço um barulho zombeteiro.
— Pestilência, se fosse veneno, eu teria problemas maiores do que
receber outra massagem do asfalto. — Problemas como tombar e morrer.
Ele franze o cenho para mim, e depois para o copo.
— Não sei por que estou encorajando essa… irritação.
Porque você gosta, quero dizer, mas não o faço. Tenho quase certeza de
que parte de Pestilência – talvez uma pequenina parte dele, mas uma parte
mesmo assim – está começando a gostar da minha companhia, com
irritação e tudo.
Tudo bem, talvez tolerar seja uma palavra melhor. Estamos tolerando
um ao outro apesar de nos odiar abertamente. É um relacionamento
estranho, mas já que ele se recusa a morrer e não vai me matar, estamos
presos nisso juntos.
Depois de encarar o copo por décadas, Pestilência o leva para os lábios.
Puta merda, ele vai fazer isso! Ele finalmente vai beber alguma coisa!
O cavaleiro hesita, então estica a mão e vira o copo para o lado,
derrubando o conteúdo. Por um segundo, olho como uma boba para o
pequeno fio de líquido marrom saindo do bocal, então entro em ação.
— Seu herege! — Pego o copo dele. — Poderia apenas ter dito não.
— Eu o fiz.
— Bom, poderia ter falado sério.
— Eu o fiz.
Confiro o cantil morno. Ainda tem uma quantidade decente de chocolate
quente sobrando. Legal. A mão de Pestilência retorna para meu quadril
enquanto volto a beber o líquido quente.
— Por que você não come ou bebe? — pergunto, por fim.
— Porque não preciso — responde, seco.
— E?
— E? — ecoa, parecendo ofendido. Ele olha para mim, talvez para ter
certeza de que estou falando sério. — Estou confuso. Por que deveria comer
ou beber se não preciso?
— Porque é divertido e tem um gosto bom – quer dizer, tirando o bolo
de frutas da minha tia Milly. Aquela merda tem gosto de cu sujo. Mas sim,
comida tem um bom sabor, assim como o chocolate quente que você
desperdiçou um minuto atrás.
— Me diga — ele fala —, se eu me esbaldar como um humano, como
serei melhor que um?
Ah, céus.
— Podemos não fazer tudo ser uma batalha pomposa entre o bem e o
mal? É apenas comida.
Ele fica tanto tempo em silêncio que acho que não vai responder, mas
finalmente diz:
— Vou pensar no que acabou de me dizer.
Depois disso, nós dois ficamos quietos. Odeio o silêncio.
Não me leve a mal, normalmente fico confortável sozinha na minha
própria mente. Tem sempre coisas como filosofia e literatura, história e
política para pensar. E quando esses assuntos ambiciosos ficam chatos, tem
a enxurrada normal de barulho para preencher minha cabeça, como lembrar
de declarar meus impostos de renda, ou descobrir como, logisticamente,
receber toda minha família no meu apartamento do tamanho de uma
caixinha de fósforo, ou ponderando em quais livros usados vou desperdiçar
meu salário.
Mas nesse momento minha mente não é aquela velha amiga confiável
que já foi uma vez. Toda vez que o silêncio chega, minha mente vaga para
aquela vítima da praga de quem cuidei, ou para o fato de que mais pessoas
estão morrendo a cada quilômetro que viajamos. Pior de tudo é quando
rumino sobre o homem nas minhas costas. Ainda sou sua prisioneira, mas
quanto mais tempo passo perto dele, mais confusos meus sentimentos
ficam.
Pressiono a mão no pescoço do cavalo.
— Com longo olhar escruto a sombra, que me amedronta, que me
assombra, e sonho o que nenhum mortal há já sonhado[1]… — murmuro
para mim mesma.
— Do que você está falando? — Pestilência pergunta.
— Estou citando “O Corvo”. É um poema do Edgar Allan Poe.
Pestilência faz um barulho no fundo da garganta.
— Deveria saber que o breve lampejo de eloquência não era do seu
feitio.
— Você sequer tem a habilidade de falar sem me insultar? — pergunto.
Juro que esse babaca está apenas tentando matar minha alegria matinal.
— Claro. — Posso sentir o sorriso presunçoso em sua voz. — É que há
muitas coisas em você que valem a pena insultar.
Se esse chocolate quente não fosse tão precioso para mim, derrubaria o
resto na cabeça dura de Pestilência, foda-se as consequências. Acho que o
cavaleiro está esperando que eu o aplauda – para ser bem honesta, acho que
ele gosta dos duelos verbais que temos –, mas ele foi e arruinou Poe, então
não vou lhe dar nada mais.
Quando o silêncio se alonga, o cavaleiro fala, suave:
— Eu gostei dessa pequena amostra de poesia.
Dou uma bufada. Não vou morder a isca, bonitinho. Nem quando
realmente quero – porque, é Poe. Começo a acariciar a crina de Trixie, sinto
o pelo branco sedoso do cavalo na ponta dos meus dedos.
— Me conte sobre você — Pestilência exige.
Eu me arrepio com o tom da sua voz. Dito tão altivamente, como se eu
estivesse aqui para servi-lo. Sem mencionar que as últimas vezes que tentei
conversar, ele foi rude.
— Não.
Essa resposta o faz se calar. Quase posso senti-lo estudar a parte de trás
da minha cabeça.
— Você é uma criatura muito estranha — fala. — Em um momento você
diz que não vai parar de falar, no próximo se recusa.
Ele está mesmo tentando me provocar. Se não soubesse melhor, diria que
o cavaleiro estava rapidamente criando um apetite para conversas.
Ele suspira.
— Humana, você atiçou meu interesse – um feito raro. Não desperdice.
— Desperdice? — Esse cara. — Você quer dizer, me recusando a
conversar? — Isso é bem fofo. — Vou te mostrar um feito raro – me irritar.
Ele gargalha.
— Você quer dizer que essa natureza afiada sua é atípica?
Ele traz à tona todas as minhas tendências afiadas.
— Você quer saber sobre mim? — Quase grito. — Tudo bem. Meu nome
todo não é humana, é Sara Burns. Tenho vinte e um anos de idade. E uma
semana atrás fui sequestrada por um cavaleiro insuportável. Gostaria de
discutir sobre isso também?
Estou tão pronta para explodir com Pestilência.
— Hmm. — É tudo o que ele diz.
Nenhum comentário afiado ou observações espertinhas. Apenas hmmm.
Eu poderia matar alguém agora.
— O que você faz para preencher seus dias? — ele pergunta.
Tenho que olhar para trás para garantir que estou conversando com o
mesmo homem que estava me provocando literalmente segundos atrás. Ele
me encara, parecendo sincero. Faço uma careta.
— Fazia — ralho. Não faço nada no momento, tirando (com alegria)
atrasar o cavaleiro. (Todos temos que tirar nossa alegria de algum lugar.)
Virando-me para frente, acrescento:
— Era uma bombeira.
Seus dedos tamborilam na minha cintura.
— Você gostava disso?
Ergo os ombros.
— Era apenas um trabalho. Não me definia. — Não do jeito que fazia
com alguns de meus colegas, que sonharam a vida inteira em serem
bombeiros. Solto uma respiração. — Sempre quis ir para faculdade estudar
inglês — confesso. Não sei por que estou admitindo isso.
— Inglês? — Pestilência questiona, curioso. — Mas você fala bem,
ainda que um pouco estranho.
— Não inglês como a língua — esclareço, tomando o restinho do
chocolate quente. Coloco o cantil em um dos alforjes. — Inglês tipo
literatura escrita em inglês. Queria estudar os trabalhos de Shakespeare e
Lord Byron e – meu favorito – Poe.
— Poe — o cavaleiro repete, sem dúvida lembrando o nome mais cedo.
— Por que você não estudou esses poetas?
O arrependimento traz um gosto amargo no fundo da minha garganta, e
não tem mais chocolate para tirar.
— Quatro cavaleiros vieram para terra e fizeram uma bagunça com o
mundo.
De algumas maneiras, a visita não foi tão ruim como temi que seria. De
outras, foi pior. É cedo demais para as pessoas sucumbirem à Febre, então
as poucas pessoas no hospital são o grupo comum de funcionários e
pacientes. Mas todas aquelas expressões aterrorizadas… Meu estômago se
repuxa com a memória delas, enquanto nos distanciamos do hospital, a
porra da gaze preciosa do cavaleiro guardada nos alforjes que pendem de
cada lado da sela do Trixie.
Pestilência me fez olhar para todos eles. Todas aquelas pessoas com suas
mortes programadas. Seria uma mentira dizer que gostou de me fazer olhar
– ele estava tão taciturno quanto eu –, mas isso importa no final? Ele ainda
me fez olhar para todas aquelas pessoas presas ali dentro, só porque sabia
que me machucaria.
— Espero que esteja satisfeito — falo quando o hospital está bem longe
de nós.
O braço na minha cintura me aperta.
— Humana, você não sabe? Eu nunca estou satisfeito, e assim cavalgo
em frente.
Não falo nada em relação a isso. A tristeza tem um jeito de entrar nos
seus ossos e se acomodar por um bom tempo. E no final, é isso que sinto.
Não raiva de Pestilência – apesar de guardar mais do que um pouco de
ressentimento –, mas tristeza por aqueles rostos que simplesmente deixarão
de existir em alguns dias. O pesar me engole.
Fico quieta por tanto tempo que se torna perceptível.
— Não quero que essa experiência seja agradável, humana. Se fosse
agradável, você estaria morta.
Alguém quase poderia pensar que o cavaleiro está tentando racionalizar
suas ações. Mas isso significaria que sente remorso pelo que fez, e sei que
não é o caso. Olho direto para frente, meu olhar pousando em uma máquina
de lavar enferrujada parada do lado da estrada.
— Nenhuma resposta cortante para mim? — Pestilência pergunta vários
minutos depois, quando ainda não respondi. — Preciso dizer, estou quase
decepcionado.
O que ele quer de mim? Não é o bastante que cada uma dessas paradas
mate um pouquinho de algo que tenho dentro de mim? Não falo mesmo
quando Pestilência se aproxima de uma casa, essa acolhida no meio de uma
dúzia de outras. Não há ninguém ali, mas ainda estou em um humor muito
ruim para me importar de verdade.
Ele desmonta, o movimento parecendo muito agitado. Sigo obediente,
sem esperar que me ajude a descer. Ele avança pela varanda da frente, sua
armadura brilhando na luz do dia. Pestilência ergue o pé com a bota, e
derruba a porta com um único chute forte. Não espera por mim antes de
entrar, mas sei que se eu tentasse fugir, ele estaria sobre mim em um
instante. Provavelmente é o que quer.
Uma vez que o sigo para dentro da casa vazia, ele me encurrala.
— Por que você não fala comigo?
Não faz muito tempo ele não queria nada além do meu silêncio. Mas isso
foi quando o cavaleiro não sabia que tinham coisas melhores do que
cavalgar solitário.
— Não quero falar com você — falo.
Dando alguns passos rápidos, ele diminui a distância entre nós e pega
meu queixo.
— A última vez que conferi — fala, dando tapinhas na minha bochecha
com o dedo —, não estava te mantendo prisioneira porque você queria.
Um sorriso amargo distorce meu rosto, mas não consigo encontrar forças
para discutir. Ele solta meu queixo com uma bufada.
— Tudo bem. Faça beicinho, humana. Não vai te ajudar em nada. Eles
ainda vão morrer.
Por que ele precisa continuar trazendo isso à tona? Esfrego as têmporas.
— Você queria que eu sofresse, e estou sofrendo. Então pegue sua vitória
e me deixe em paz — por fim falo.
Os olhos de Pestilência endurecem.
— Esse não é nem o começo do sofrimento, humana. Posso fazer isso
pior. Muito pior.
Tenho certeza de que pode, mas nesse momento realmente não dou a
mínima.
Começo a me afastar. Tudo o que quero é encontrar um quarto vazio
longe do cavaleiro onde possa me enrolar e fingir que não estou vendo
aqueles rostos toda vez que fecho os olhos. Estou prestes a sair da sala
quando paro.
— Por toda virtude que possui — falo por cima do ombro —, você é
mesmo um babaca sem coração.
CAPÍTULO 16
Vancouver, 18 km.
Não consigo dormir. Não nessa floresta enquanto o granizo assola nossa
barraca. O frio tem garras, e posso senti-las afundar na minha pele através
do cobertor e todas minhas camadas de roupa. Deito-me na minha cama
improvisada, tremendo e me sentindo totalmente miserável. Quero te fazer
sofrer. Posso ouvir suas palavras claras como o dia. Pestilência, que vagou
para longe horas atrás e ainda não retornou. Que não gostou do que eu tinha
para dizer mais cedo, seja porque luxúria não é uma emoção tão altiva
quanto amor, ou porque sentir qualquer coisa é simplesmente problemático
para ele.
Ele está longe há horas, e tem toda possibilidade de que provavelmente
esteja escondido esperando que eu fuja, para que possa me punir de alguma
forma cruel e incomum, e forçar as coisas a serem como antes.
Acho que nos faria bem ter as coisas de volta como eram. Mas isso é
impossível de acontecer. Você não pode desfazer um beijo ou um olhar.
Estamos ferrados.
É tarde quando Pestilência volta, e a chuva praticamente parou. Posso
ouvir suas botas quando ele pisa nas agulhas de pinheiro. Ele não disfarça
sua chegada. Um momento mais tarde, a tenda se abre e o espaço se enche
com sua presença sublime. Por vários longos segundos, ele não se move.
Por fim, o cavaleiro ajoelha ao meu lado. Ele cuidadosamente tira sua
armadura e coroa pela segunda vez nessa noite. E então entra no espaço ao
meu lado.
— Presumi que você não dormisse — falo. Minha voz parece ecoar no
silêncio.
Tem uma pausa. Depois de um momento, ele fala:
— Não preciso, mas posso.
Ele se move mais para perto de mim, e depois de um segundo de
hesitação, o cavaleiro passa um braço sobre meu corpo e me puxa para
perto. Fecho os olhos com a sensação, dividida entre desfrutar do toque dele
e saber que não deveria. Meu corpo treme contra o dele por causa da
temperatura.
— Você está com frio — fala, surpresa colorindo sua voz.
Estou mais do que com frio; sou praticamente um picolé humano a essa
altura.
— Estou bem.
Ele me aconchega ainda mais perto dele, jogando uma das pernas sobre
as minhas, prendendo-me contra seu corpo. De conchinha, porra. Não
tenho nem a dignidade de ficar chateada com isso porque estou grata para
caralho pelo calor de Pestilência.
Você também gosta do jeito que ele se encaixa em você…
— Tente dormir — fala, sua voz grossa. — Amanhã partimos na
primeira luz.
Ótimo. Odeio acordar cedo – junto com o frio. Quando tudo isso acabar,
vou me mudar para o México e dormir o quanto quiser. Pressionada contra
a fornalha humana que também é conhecida como Pestilência, meu corpo
gelado logo se aquece. Não muito tempo depois, minhas pálpebras
começam a fechar.
Bem quando estou prestes a dormir, acho que escuto Pestilência
murmurar contra meu cabelo:
— Não é luxúria que sinto, querida Sara. E espero que você esteja tão
assustada com isso quanto estou.
Mas eu provavelmente estava sonhando.
CAPÍTULO 26
Existe mais de uma maneira de machucar uma pessoa. Dessa vez não
precisei atirar no cavaleiro ou atear fogo nele para lhe causar dor. Tudo o
que precisei fazer foi agir como se noite passada tivesse sido um erro. E
foi?
Eu quero que seja um erro, e Deus sabe que me sinto mal agora, mas não
porque beijei o cavaleiro. Ou porque me aconcheguei a ele. Eu me sinto
péssima porque ele ainda está me tratando com a indiferença que começou
horas atrás, e está funcionando.
Isso está me enlouquecendo.
Já contei para ele histórias aleatórias da minha infância, como a vez que
quebrei o dente porque literalmente tropecei no meu próprio cadarço, ou
como meus amigos e eu tínhamos uma tradição anual de pular no Lago
Cheakamus assim que o gelo derretia. Até admiti para ele como desenvolvi
medo de palco (caí na frente de toda minha sala do ensino fundamental no
caminho para o púlpito – não consegui soltar uma palavra depois disso).
Ele não reagiu a nenhuma, apesar de eu saber que estava ouvindo com
atenção pela forma que sua mão ficava tensa e relaxava ao me segurar.
Então tentei poesia, para variar.
— Era noite alta e sombria, fraco e farto eu refletia… — Comecei a
recitar O Corvo de Edgar Allan Poe. Recito o poema inteiro, e outra vez,
posso dizer só pelo jeito que Pestilência se porta que está me ouvindo.
Mas, assim como minhas histórias, ele não fala nada quando acabo de
recitar. Vou de “O Corvo” para Hamlet.
— Ser ou não ser, eis a questão…
Recito a peça de teatro por mais tempo que consigo, mas eventualmente
as falas se emaranham em minha cabeça e preciso abandonar o monólogo.
Nada de Pestilência ainda. Recito Lord Byron (“Escuridão”) e Emily
Dickinson (“Porque não podia parar pela Morte”) e mais Poe (“Annabel
Lee”) e o tempo todo Pestilência não dá um pio. Nem mesmo para me
mandar calar a boca.
Desisto.
— O que você está pensando? — por fim pergunto.
Ele não responde. Coloco a minha mão sobre a que pressiona contra
minha barriga, prendendo-o a mim.
— Pestilência?
Sua mão flexiona.
— Ontem à noite não podia decidir o que você era, tônico ou toxina —
fala. — Hoje descobri que é ambos.
Faço uma pequena careta com suas palavras.
— Você despertou coisas em mim que não sabia que estavam dormentes
— continua. — Agora que estou ciente delas, não posso ignorar sua
existência. Temo que estou me tornando… como você. Humano e cheio de
desejos. Eu preciso que esse anseio desapareça.
— Anseio? — Quase engasgo com a palavra.
— Não me diga que também estou errado nisso — fala, amargo. —
Amor, luxúria, anseio – você não pode modificar meus sentimentos.
Conheço meu coração, Sara, mesmo que seja estranho para você.
Onde fui me meter?
— O que você quer de mim? — questiono.
— Nada! Tudo! Caralho — xinga, o palavrão surpreendente saindo da
boca dele. — Isso é tão confuso.
Estou prestes a falar quando ele me corta.
— Quero sentir o gosto dos seus lábios mais uma vez. Quero te segurar
como fiz na barraca. Não entendo por que quero essas coisas, só sei que as
quero.
Meu rosto aquece. É errado me sentir lisonjeada quando Pestilência está
claramente tendo uma crise existencial? Não? Tudo bem.
— Amor, afeição, compaixão, essas são algumas qualidades redentoras
que sua espécie tem — fala —, e agora estou sendo tentado por elas e isso
está me partindo ao meio.
Já ficou preso em uma situação da qual queria desesperadamente
escapar, mas não achou uma saída? Essa é igual, montada em Trixie Skillz e
ouvindo Pestilência me contar tudo a respeito dos seus sentimentos.
— Posso sentir você se afastando de mim — diz. — Quanto mais quero
de você, mais relutante você é em dar. Eu não sei o que fazer.
Eu sei.
— Pare de espalhar a praga.
Ele ri sem diversão.
— Não posso evitar o que sou mais do que você pode evitar quem é.
Mas será que isso é realmente verdade? Ele me poupou, o que significa
que tem pelo menos um pouquinho de controle sobre sua habilidade letal.
— Estamos presos nesses papéis, você e eu — diz —, e não sei o que
fazer desse tormento.
Ele soa tão desolado, tão desesperançoso. Aperto sua mão. Meu coração
dói outra vez. Esse homem é muito pior do que todos os outros que já
conheci, e ainda assim me sinto esfolada viva por ele. Estico a mão e
inclino sua cabeça para a minha, e depois dou um beijo em seus lábios.
Posso sentir sua doce agonia no beijo. Ele apoia a testa contra a minha.
— Isso é um tormento, Sara — repete. — Mas é o tormento mais doce
que já senti. Não quero que pare.
Eu me odeio um pouco quando digo:
— Não vai parar.
Não sei por quanto tempo durmo, só que sou acordada pelo som de
passos. Vai te matar. Ele vai te matar. Uma onda de medo alaga meu corpo,
e me mexo para me sentar, forçando os olhos a focar no barulho. Pestilência
vem até mim, uma toalha na sua cintura.
— Fique calma — diz, ajoelhando ao meu lado. Ele coloca uma mecha
do meu cabelo castanho atrás da minha orelha. — Sou eu.
É apenas Pestilência, o único ser que o resto do mundo teme. E a visão
dele me traz uma quantidade vergonhosa de alívio.
— Foi um dia longo. — Respiro trêmula e profundamente.
O cabelo molhado do cavaleiro pinga entre nós e regatos de água cortam
o peito dele. Sinto uma onda de calor com a visão de sua pele nua. A luz do
fogo acaricia cada vale e curva e, não pela primeira vez, percebo o primor
da sua forma. Suas maçãs do rosto altas e lábios carnudos parecem mais
exagerados conforme as sombras dançam por eles. E então há o resto dele,
que é tão distintamente masculino, dos seus ombros poderosos e esculpidos
até seus grossos e delineados braços.
Meus olhos vão para baixo, onde o peitoral definido abre caminho para o
abdômen trincado. Mas é impossível olhar para seu torso sem prestar
atenção nas marcas estranhas e incandescentes que brilham na escuridão,
iluminando a pele em volta.
Estico a mão e passo os dedos sobre as letras que curvam em suas
clavículas como um colar. Elas brilham como fogo dourado, sua forma
estranha e bela. Sob meu toque, a pele de Pestilência se arrepia. Ele fica
imóvel, deixando-me explorar o seu corpo.
— O que é isso? — pergunto. É obvio que é escrita, mas é uma
linguagem diferente de tudo o que já vi.
Ele olha para mim, seus olhos iluminados.
— Meu propósito, escrito na pele.
O cavaleiro coloca uma mão sobre a minha, prendendo-a contra um dos
símbolos. Guiando minha mão com a dele, me faz traçar a marca.
— Essa significa “sob ordem divina” — explica, soltando minha mão.
Ergo a sobrancelha para ele antes da minha atenção voltar para seu peito.
Movo a mão sobre vários caracteres, parando em um que está à esquerda do
seu coração.
— E esse? — pergunto.
— Sopro de Deus.
Traço a palavra. Sob meu toque, a pele de Pestilência se arrepia.
— Que linguagem é essa? — pergunto.
— Uma divina. — Seus olhos estão em mim, seguindo meus
movimentos. Se tivesse um pouco mais de coragem, minha mão desceria
mais, onde outra faixa de desenhos circula seu quadril, o símbolo mais
baixo sumindo por debaixo da toalha. Mas eu não tenho essa coragem.
— Você pode pronunciá-la? — pergunto.
Sua mão pressiona a minha mais uma vez, segurando minha palma
contra seu coração.
— Sara, é minha língua nativa.
Encaro a escrita com fascínio. Sinto uma presença na sala escura. Está
bem próxima. Posso ver no fundo do olhar firme do cavaleiro, e posso
sentir na própria batida do coração dele. Volto a fitá-lo nos olhos.
— Diga algo para mim.
Seus olhos brilham.
— Não posso — fala, gentil. — Falar a língua divina é impor a vontade
divina no mundo.
Puxo a mão, afastando-me dele.
— Não é isso o que você já está fazendo? — De que outra forma deveria
interpretar Pestilência cavalgando pelo mundo e espalhando sua praga?
Ele se inclina para frente, parecendo lupino e feral ao se aproximar.
— O que é dito não pode ser inaudito. Não é para ouvidos mortais.
Mas… não estou acima de compartilhar uma palavra ou duas com você.
Esqueço de respirar conforme sua própria respiração cobre minhas
bochechas, seus lábios – e o resto do seu corpo quase nu – tão, tão
próximos.
Bem quando penso que vai compartilhar uma dessas palavras sagradas
ele diz:
— Volte a dormir. Vou cuidar de você.
Não quero dormir, não quando ainda sinto o toque da pele macia dele
sob meus dedos, marcada com figuras estranhas e divinas. Estou
insuportavelmente solitária, meu corpo dolorido pela ausência de um
parceiro, e maldito seja, mas o parceiro que eu quero é ele. Eu o quero.
Inteiro. Em mim, à minha volta, ao meu lado, enchendo minha cabeça,
corpo, vida – e isso é tantos tipos diferentes de perturbação, e estou tão
cansada disso, tão cansada de me sentir dividida.
Pestilência se levanta, afastando-se para os cantos escuros da casa.
Quase o chamo. Seria tão fácil persuadi-lo até mim, remover a toalha e
puxá-lo para baixo e sentir seu peso se acomodar sobre mim.
Para minha vergonha, não é minha lealdade com a humanidade que me
impede de chamá-lo de volta. É o medo profundo de que possa recusar
minhas investidas. Tem um limite de situações de merda que uma garota
pode aguentar em um único dia.
CAPÍTULO 30
Acabamos deixando a casa dois dias depois. Esse foi o tempo que
consegui aguentar naquele lugar bagunçado. Não sou um exemplar de
limpeza, mas aquela casa… mesmo agora, a quilômetros de distância,
minha pele se arrepia com a lembrança.
Sou tirada dos meus pensamentos quando avisto uma placa na nossa
frente. Depois de fugirmos de Vancouver, viajamos a maioria do tempo por
estradas secundárias e lugares fora do comum, mas inevitavelmente,
Pestilência fez o caminho de volta para as rodovias principais. E agora vejo
algo que não havia percebido.
Respiro fundo.
Seattle, 86 quilômetros.
Não ouso diminuir o passo do cavalo até a cidade ficar para trás. Quando
o faço, é apenas para procurar uma casa nos arredores. Considerando minha
sorte de merda nesse dia, provavelmente vou escolher uma casa com o
babaca mais maldoso morando lá. Sem Pestilência para colocar o medo de
Deus nos homens, quem sabe quão ruim a situação pode ficar?
Respiro fundo. Não tem outro jeito.
Acabo escolhendo uma casa que sai direto na estrada, esperando que
quem more aqui já tenha partido faz tempo. Demora um tempo
agonizantemente longo para entrar, mas pelo lado bom, o local está vazio.
Guio Trixie pela porta atrás de mim, tomando cuidado para não dar
nenhum solavanco no corpo de Pestilência no processo. Só depois que
movo o corcel para o lado do sofá que arrasto o cavaleiro da sela. Ele
escorrega nos meus braços, desequilibrando-me, e nós dois caímos em um
monte no sofá.
Muito suave, Burns.
Eu rastejo para uma posição confortável sob Pestilência, sentindo o
sangue dele começar a encharcar minhas roupas pelos seus múltiplos
ferimentos. Agora que o estou segurando, descubro que não posso soltá-lo.
Seu rosto ainda está destruído, e está ainda mais turvo pela terra grudada
em sua pele. Com uma mão trêmula, passo os nós dos dedos por uma parte
intacta de bochecha.
Trouxa. Você se apaixonou por essa criatura.
Ele se move nos meus braços, e quase grito. Quase esqueci que ainda
está ali dentro. Ainda ciente do que está acontecendo. Sinto bile subir na
minha garganta com o pensamento. E pensar que fiz coisa pior do que
aqueles homens com Pestilência.
— Shh — falo, saindo de baixo dele com gentileza. Eu o arrumo no sofá,
o corpo longo dele mal cabe.
Pego uma das suas mãos na minha, dando um beijo nos seus dedos
cobertos de terra.
— Tente dormir — falo. — Vou estar bem aqui.
Pestilência murmura algo – nem sei como ele está fazendo barulho. Eu o
silencio mais uma vez, e ele se acalma, caindo em algo que, se não é sono,
deve ser parecido. Mantenho minha palavra, fico ao lado dele – saindo
apenas para acender o fogo e arrumar alguns trapos e água, que uso para
nos limpar o melhor que posso. Depois que termino, pego sua mão,
segurando-a perto de mim.
Conforme as horas passam, consigo ver a lenta, mas milagrosa, evolução
do cavaleiro; de algo que deveria estar morto para um lindo homem
adormecido.
Parece algo saído direto de um conto de fadas.
Com um gemido metálico, o peitoral cheio de furos da armadura de
Pestilência se retorce para o lugar, as placas douradas voltando para a
superfície lisa original bem devagar. Tão incrivelmente quanto, vejo seu
rosto se reconstruir, de ossos para músculos, tendões e pele. Por fim,
observo até os cílios longos de Pestilência brotarem da sua pálpebra recém-
formada.
Isso é magia. Isso é fé. Esse é um mero vislumbre do leviatã que é Deus.
Mesmo depois que seu corpo praticamente se curou, Pestilência não acorda.
Sob suas pálpebras fechadas, seus olhos se movem de um lado para outro.
O que os cavaleiros sonham?
Pensar nele sonhando me aflige. Ele é muito mais humano do que jamais
imaginei que fosse. Dei uma mãozinha para isso – mais do que uma mão se
estou sendo honesta. Ele come porque lhe dei um gosto disso, bebe cerveja
porque ofereci a ele. Faz amor comigo porque me ofereci para ele.
Faz amor. Mordo meu lábio inferior com o termo.
A mão que seguro contrai, dispersando meus pensamentos. Quando olho
para cima, os olhos de Pestilência piscam e abrem. Sento-me mais ereta,
levando nossas mãos enlaçadas para meus lábios. Um pequeno sorriso
começa a desabrochar em seu rosto, mas depois some e sua testa enruga no
lugar.
— Você está bem?
São suas primeiras palavras. Bem quando pensei que esse homem não
podia me afetar mais. Aperto os lábios para a verdade não escapar. Porque
não, não estou bem. Não tenho estado bem desde que Pestilência foi
derrubado do seu cavalo. Mesmo antes disso, não tenho certeza de quanto
estava bem.
Estou tendo mais do que um pouquinho de problema para lidar com
amar gostar desse cavaleiro.
Ele começa a se sentar, parecendo cada vez mais alarmado quando vê o
sangue em mim.
— Onde você está…?
— Não é meu sangue, é seu. Eles … atiraram em você — sussurro a
última parte porque a emoção está engasgada nas minhas cordas vocais.
Meus canais lacrimais já estão trabalhando; quando pisco, algumas lágrimas
escorrem. Agora que Pestilência está acordado, estou tendo dificuldade em
permanecer forte.
Ele se senta, uma careta no rosto ao ver meus olhos de avelã.
— Você está chorando… por mim? — pergunta, sua voz envolta em
descrédito.
Quero falar algo sarcástico. Ao invés disso limpo as bochechas.
— Talvez.
Pestilência olha para mim como se não pudesse entender a cena.
— Você sabe que não posso ser morto — fala, baixo.
— Mas você pode ser ferido. — E eles o feriram tanto.
— Isso te incomoda? — Sua voz fica mais gentil.
Aceno para minhas bochechas molhadas e olhos vermelhos.
— Sim.
Seu olhar suaviza.
— Sara. — Ele fala meu nome com amor, e é o que me desfaz.
Eu me inclino para frente, e meus lábios encontram os dele. Seus braços
me envolvem, puxando-me conforme sua boca responde à minha,
devorando-me com tanta vontade quanto eu a ele. É fácil esquecer como ele
é forte quando está ferido, mas agora que se regenerou, sinto sua força ao
me envolver.
Ainda assim, ele está ensanguentado, e odeio isso. E odeio odiar isso,
mas não o bastante, e não estou fazendo sentido, mas honestamente, nada
na minha vida faz sentido agora, então…
— Sinto muito — digo. — Sinto muito pelo que aquelas pessoas fizeram
com você, pelo que eu fiz com você – e pelo que todo mundo fez com você
desde que chegou.
Pestilência veio para cá com uma tarefa terrível, e ele se armou contra a
atrocidade disso se convencendo que humanos são monstros. E provamos
que ele estava certo toda vez que o atacamos. É isso que o ódio faz – traz à
tona o seu pior.
Ele está apenas tendo vislumbres da nossa bondade, e ainda assim é tudo
o que precisou para suas ações pesarem em si. Porque é isso que compaixão
faz – traz a melhor parte da sua natureza para fora.
— Sinto muito por cada coisa estúpida que disse mais cedo — continuo.
— O que fizemos juntos significa algo para mim. Você significa algo para
mim.
Pestilência me abraça.
— Isso quer dizer que você vai se casar comigo?
Dou risada pelas minhas lágrimas.
— Não, não aceito pedidos de casamento por dó. Mas estou aberta a
sexo de conciliação.
Pestilência me beija mais uma vez, uma das suas mãos subindo
reverentemente pela minha bochecha e para meu cabelo.
— Não era pedido por dó, Sara — murmura.
Ele se senta, meu corpo pressionado firmemente o dele, e depois se
levanta, segurando-me em seus braços. Seus lábios encontram os meus mais
uma vez, e retomamos o beijo. Mal estou ciente que estamos nos movendo
pela casa até Pestilência me colocar na cama da suíte principal. Estremeço
com a visão de Pestilência acima de mim enquanto remove a armadura
renovada, o olhar me aquecendo o tempo todo. Ele tira a coroa por último,
colocando-a na mesa de cabeceira.
Despido de seus ornamentos dourados, ele não é mais meu Pestilência
nobre e de outro mundo, mas meu amante de carne e osso. Ele vem até
mim, encaixando seu corpo sobre o meu.
— Sara, Sara, Sara. — Suspira, beijando minhas pálpebras, minhas
bochechas, meus lábios, meu queixo. — Confesso que suas desculpas me
comoveram, mas mesmo assim são desnecessárias. Você não precisa pedir
meu perdão – você já o tem, e mais, se você apenas aceitar o que ofereço.
Acho que ele quer dizer casamento… e pela primeira vez esse
pensamento me intriga para caramba. Eu poderia me casar com ele. Ele
beija o comprimento do meu pescoço, da mandíbula até a fúrcula.
— Você tem minha misericórdia, minha mente, minha adoração, meu
corpo, minha… vida.
Poderia jurar que por um momento, ele estava prestes a dizer outra
palavra de quatro letras, mas talvez tenha sido só minha imaginação. E pela
primeira vez, estou decepcionada que ele não disse. Mas isso não faz
sentido. Vida é uma promessa grande o bastante, vinda de um homem
imortal. Sou apenas uma vaca gananciosa.
Pestilência remove rápido a camisa. Quase suspiro ao ver os músculos
densos dos seus braços e torso sarado. Minha mão vai primeiro para seu
peitoral, depois para seu tanquinho, pela primeira vez ignorando as marcas
que cobrem sua pele. Sob meus dedos, seus músculos ficam tensos, como se
sua pele fosse hipersensitiva ao meu toque.
O cavaleiro me dá um sorriso puramente masculino, curtindo minha
exploração. Ele volta a me cobrir com o corpo, erguendo minha camiseta
para expor a pele da minha barriga. Estremeço quando o ar gélido encontra
a pele exposta, mas as mãos quentes de Pestilência estão passando por ela, e
seus lábios a estão reivindicando, beijo por beijo.
— Mais uma vez tenho você para agradecer por me proteger – me salvar
— ele diz contra minha pele.
Salvar, é uma palavra importante vindo dele, o homem que é impérvio à
morte e que acredita que é poderoso demais para necessitar de resgate – ou
pelo menos costumava acreditar. Não sei quando as coisas mudaram em sua
mente, só que mudaram.
— Me diga, querida Sara — continua —, como posso retribuir?
Balanço a cabeça, olhando para ele.
— Não é algo que você precisa retribuir. Não fiz isso para que você
fique me devendo. Fiz porque me importo com você.
Seus olhos encontram os meus, suaves e brilhantes e queimando com
tanto… amor. Ou também estou imaginando isso? Tudo o que sei é que o
olhar é carinhoso demais para ser luxúria e apaixonado demais para ser
gentileza ou compaixão. Não, meus olhos não estão me enganando. Agora,
e apenas agora, estou vendo os sentimentos dele pelo que realmente são.
Amor.
Eu prendi esse homem a mim. Cultivei um apetite bem humano nele, e
esse é o resultado. Amor. Deveria ficar assustada com o pensamento, mas
um tipo estranho de excitação aparece em mim. Dessa vez, é Pestilência
que toma o controle. Suas mãos passam pelo meu corpo, jogando minhas
roupas encharcadas de sangue para longe uma peça de cada vez, seu toque
firme e forte.
Minha luxúria cresce; junto com essa deliciosa incerteza – como se o
cavaleiro conhecesse coisas proibidas que não conheço, e hoje ele irá me
apresentá-las. Acho que Pestilência tem intenção de ir devagar – eu sei que
eu tenho –, mas no final nossos movimentos são apressados. O resto das
nossas roupas são retiradas, e então são apenas centímetros e mais
centímetros de pele gloriosa.
Seus braços bronzeados tensionam conforme ele desce mais e mais no
meu torso, deixando um rastro de beijos pelo meu corpo. Ele para quando
chega no meu núcleo, e o encara por um longo segundo. E então ele
também beija ali.
Meus quadris se erguem da cama de forma involuntária. Uau.
Pestilência abre bem minhas pernas, dando-se uma vista desobstruída de
mim. Ele sorve a cena antes de subir pelo meu corpo e acomodar os quadris
entre minhas coxas. Eu o sinto grosso contra mim, seu pau pressionado na
minha entrada. Sem aviso, Pestilência me penetra. Quase gemo quando me
preenche, cobrindo-se com meu desejo.
— Senti falta disso — fala ao se afastar. Ele estoca forte mais uma vez,
seus movimentos profundos e exigentes.
Passo as mãos pelas costas dele, arrancando arrepios de sua pele.
— Eu também.
Agora que ele está perto assim de mim, vivo assim, finalmente,
finalmente posso banir os últimos pensamentos dessa manhã para os
recôncavos da minha mente. Pestilência segura meu rosto.
— Isso não é foder.
Ele escolhe agora para defender seu argumento? Ele me encara ao
estimular meu núcleo e percebo que espera uma resposta. Não posso
lembrar do meu maldito nome nesse momento.
— Hmm — falo. Isso é evasivo o bastante.
Ele se move para dentro e para fora, dentro e fora.
— Isso é fazer amor — ele afirma, não ordena.
Ele realmente se apegou ao termo com vontade.
— Me conte seus pensamentos — ele quase comanda. — Preciso ouvi-
los.
Como ele consegue pensar agora? Mas um olhar em seus olhos me faz
ficar sóbria rápido. Isso é importante para ele.
— Isso não é foder — concordo, e falo sério. Tem muito subtexto
emocional aqui entre nós. Cada toque apressado é cheio de anseio, de
amo…
— É fazer amor — Pestilência concorda, como se nós dois estivéssemos
na mesma página.
Balanço a cabeça. Estou em negação? Não? Sim?
— Fazer amor é mais lento, mais reverente… — Isso é tudo o que tenho.
O cavaleiro franze o cenho e seu ritmo – maldição – seu ritmo diminui.
Mas suas estocadas aprofundam, seu pau grosso latejando dentro de mim, e
ele revela seu olhar para que tudo o que sinta esteja bem ali, olhando para
mim. Ele está olhando para mim como se eu fosse amada. Seu polegar
acaricia a maçã do meu rosto.
— Desse jeito? — pergunta ao me penetrar lentamente.
— Sim — respondo, inquieta para caramba porque a força total do seu
olhar adorador é chocante. — Bem assim.
Seus olhos vão para meus lábios enquanto se move fundo dentro de
mim.
— E se eu te beijar, ainda vou estar fazendo amor com você?
Quase esqueço de respirar.
— Está tudo relacionado a sua intenção.
Sua boca segue o olhar até que sinto o doce roçar dos lábios dele nos
meus. O próprio toque deles ao passar pela minha boca parece carinhoso,
amoroso. E quando ele persuade meus lábios a se abrirem e nossas línguas
se tocam, isso também parece ser feito como se venerasse até mesmo o meu
gosto. Ele se afasta.
— Minha intenção foi clara?
— Muito.
Pestilência segue lento e profundo por um tempo, mas então, talvez em
resposta ao meu próprio desejo fervoroso por mais, ele começa a acelerar,
suas estocadas se tornando rápidas e fortes.
— Quero continuar a fazer amor com você, mas não posso resistir a esse
desejo…
— Então não resista.
Minhas palavras são permissão o bastante. Ele toma minha boca de
novo, e dessa vez o beijo é selvagem. Seu ritmo dobra, como se não
pudesse evitar ir mais fundo, mais rápido, até a cabeceira estar batendo na
parede. Eu enrosco minhas pernas nas dele, precisando que ele toque o
máximo possível de mim.
Cada estocada me faz queimar mais quente e mais forte. É como se eu
tivesse criado uma tempestade. Acho que é isso que acontece quando você
coloca uma força da natureza no corpo de um homem. Seus olhos se fixam
nos meus. O momento se alonga. Algo passa entre nós, algo que não vou
dar nome, mas algo que vem de mim na mesma proporção que vem dele.
Algo que me preocupa profundamente.
Eu me contenho até não poder mais, mas aquele olhar. Sou impotente
frente a ele. Com um grito, eu gozo, a sensação correndo por mim ao
clamar seu nome. Ele grita enquanto me contraio ao seu redor, seu próprio
clímax seguindo o meu. Pestilência segura minhas mãos nas dele,
prendendo-as na cama enquanto suas duras estocadas finais me atingem.
E aí o momento acaba.
Pestilência me aninha junto a si, e mesmo depois de não estar mais
dentro de mim, ainda parece ansioso para me manter por perto. Seus lábios
tocam minha testa.
— Gosto de fazer amor com você, Sara Burns.
Meu estômago dá um pulo.
— Acho que pode ser minha nova coisa favorita no mundo, junto com
isso. — Seus braços me apertam um pouco.
Passo a mão pelo seu peito e abdômen, dando um sorriso suave.
— Você prefere isso às minhas loucas habilidades de conversa? —
provoco.
— Pergunte outra vez amanhã, quando estivermos cavalgando — fala,
sorrindo. — Tenho certeza de que minha resposta vai mudar.
Aquele sorriso! Aquilo me faz perder o fôlego.
— Você só está falando isso para me agradar.
— Sara, você é totalmente agradável. Estou dizendo isso porque cada
momento com você é o meu novo favorito.
Você pensaria que começaria a me acostumar com seus galanteios, mas
como sempre, as palavras de Pestilência têm uma forma de me assoberbar.
Nós dois ficamos quietos por um tempo, e eu estou muito feliz de apenas
me deitar aconchegada nele, desfrutando dos toques preguiçosos da sua
mão nas minhas costas.
Mas quanto mais tempo fico ali, mais preocupantes meus pensamentos
se tornam. Os acontecimentos da manhã ressurgem, ainda mais arrepiantes
agora que Pestilência está em meus braços e posso sentir o peso das minhas
emoções me pressionando de todos os lados.
Esses ataques vão continuar a acontecer. Sei disso com a mesma certeza
de que tenho certeza que Pestilência sabe. Não sei por que isso é uma
revelação séria agora. Eu era, afinal, uma das pessoas que tentou acabar
com ele. Claro que vai continuar a acontecer. A humanidade é desesperada
o bastante, estúpida o bastante, corajosa, abnegada o bastante…
Vingativa o bastante.
Porque no final do dia, mesmo que humanos não o parem, eles podem
pelo menos fazê-lo se arrepender de colocar os pés na terra verde de Deus.
Eles. O pronome me gela. Nesse último pensamento, eu disse eles, não nós.
Eu me excluí do grupo.
É mais um daqueles momentos, onde o eixo do meu mundo vira. Esse
tempo todo estava tão focada em como havia mudado o cavaleiro que não
estava prestando atenção em como ele me mudou.
— Não sou sua prisioneira — sussurro.
O toque de Pestilência para. Ele não responde.
— Não sou — insisto. — Não mais. — Estou traçando uma linha na
areia.
O canto da sua boca se curva para cima.
— Aceite meu pedido, então.
Seu humor é leve – sexo costuma fazer isso –, mas estou em um humor
sombrio.
— Estou falando sério, Pestilência. Mais cedo, roubei a arma de um
homem e o ameacei com ela. Teria matado ele por você, se precisasse. —
Essa admissão machuca ao sair. — Então não, não sou sua prisioneira —
reitero —, não mais.
Por um longo momento, ele não diz nada.
— Tudo bem — Pestilência finalmente concorda. — Você não é mais
minha prisioneira.
A verdade é que acho que nenhum de nós sabe o que eu sou. Posso não
ser mais sua prisioneira, mas também duvido que poderia me afastar
livremente dele. Nesse ponto, estou cedendo à compreensão que não quero
me afastar, que me importo com esse terrível e maravilhoso ser.
— O que você fez comigo? — sussurro, procurando seu rosto.
Eu me propus a destruir esse homem, não a protegê-lo.
— A mesma coisa que você fez comigo, imagino — Pestilência diz,
colocando uma mecha do meu cabelo para o lado. — Você quer que seu
povo sobreviva, mas não está disposta que eu seja ferido. Quero que seu
povo padeça, mas não posso te machucar. Cada um de nós está preso entre
nossas mentes e nossos corações.
— Não é o mesmo — falo, rouca. — Você só está me salvando porque
Deus te enviou um sinal.
Pestilência dá um beijo na minha têmpora. Ele é surpreendentemente
bom em ficar aninhado.
— Deus pode ter intercedido por você uma vez — fala —, mas Ele não
precisou fazê-lo desde então. Você é minha, e nada – nada – vai mudar isso.
CAPÍTULO 42
Não dei mais do que cinco passos antes do cavaleiro me alcançar. Ele me
ergue e me carrega para dentro, fechando a porta da frente com um chute ao
passar.
— O que você está fazendo? — protesto, contorcendo-me em seus
braços.
Sem resposta. Agora começo a lutar de verdade.
— Me solte.
Ele me coloca no chão da sala. O lugar roda um pouco quando fico de
pé. Tão fraca. Fraca demais. Mas não posso ficar aqui. Volto para a porta, e
outra vez ele me pega e me afasta com o próprio corpo. Novamente, assim
que me coloca no chão, vou na direção da porta. Ele me impede.
— Sara, não posso deixar você partir.
Ele está me implorando com os olhos, e sei que vê o que eu sinto: não
estou forte o bastante, recuperada o bastante. Todas aquelas semanas de
viagens, todos os ferimentos, mesmo com o descanso, meu corpo não está
pronto para mais. E ainda assim sigo em frente.
— Pestilência, não faça isso ser pior do que já é — quase imploro. —
Estou partindo, com sua benção ou contra sua vontade, mas não vou ficar
mais um minuto aqui.
O olhar no seu rosto pulveriza o que resta de mim. Posso ver seu coração
se partindo na minha frente. O lamento puro permanece apenas um
momento, e então suas feições endurecem. Sem uma palavra, ele me ergue
novamente.
— O que você está fazendo? — Eu luto em seus braços. — Pestilência,
me solte!
Ignorando minhas exigências, ele me leva para o quarto principal e me
coloca na cama. Até eu sair dela – levando alguns segundos a mais para
deixar a vertigem passar – ele já chegou na porta. Com um olhar de
despedida, sai e a fecha atrás dele. Corro atrás dele e pego a maçaneta. Eu a
viro, mas a porta não abre. O cavaleiro deve estar mantendo-a fechada.
— Pestilência, me deixe ir. — O tom da minha voz sobe com o pânico.
Ele não quer seriamente me manter aqui, quer?
— Você vai me perdoar — fala, baixo, do outro lado da porta.
— Me solte! — grito mais alto. Mas ele não o faz.
Pestilência isola as janelas do quarto principal com tábuas, e bloqueia
todas as portas que levam para fora. Não antes de eu sair correndo algumas
vezes e ele ter que me arrastar de volta, mas por fim, consegue bloquear
todas as saídas, deixando-me presa do lado de dentro. E assim volto a ser
sua prisioneira.
Pelo menos o cavaleiro é esperto o bastante para manter distância. Eu o
vejo apenas algumas vezes pelo resto do dia, quando traz comida e água,
seus olhos tristes e assombrados.
Acho que talvez qualquer loucura que tenha acometido Pestilência vai
passar. Que por fim ele vai desbloquear as janelas e abrir a porta e implorar
por perdão. Mas nunca acontece. Um dia emenda no outro e ele permanece
longe, vindo até mim apenas para que possa me alimentar. Nem mesmo
durante a noite ele entra no quarto para explicar seus sentimentos aflitos por
mim, ou para cair no sono pressionado contra minhas costas.
Meu corpo sente saudade dele, meu coração sente saudade dele. O
último está morrendo sob minhas costelas, odiando suas traições e ainda
assim o querendo. Não tento escapar. Qual é o propósito? Não posso me
esgueirar de Pestilência despercebida.
Tento não pensar nas milhões de pessoas mortas que devem estar
apodrecendo no mesmo lugar em que morreram. A televisão permanece
desligada por esse motivo. Não posso suportar assistir ao jornal e ver todos
aqueles corpos. Não quando tive um papel (mesmo que sem saber) nas suas
mortes.
Só me resta folhear os poucos livros no quarto ou recitar poesia da
memória.
Algumas vezes posso fisicamente sentir a presença de Pestilência por
perto – ouvindo o som da minha voz, parado do lado de fora da porta. O ar
parece saturado com todas as coisas que ficaram não ditas e inacabadas
entre nós. Coisas que foram deixadas para apodrecer ao lado de todos
aqueles corpos mortos. A vida segue dessa maneira por dias, e então uma
semana inteira.
Isso vai mesmo se tornar o nosso novo normal? Pestilência me mantendo
como um pássaro enjaulado, fadado a não morrer e nem viver plenamente?
Quando a porta abre no oitavo dia, Pestilência parece derrotado. Seus
olhos azuis estão cabisbaixos, e seu cabelo loiro-dourado não tem o brilho
habitual.
— Não posso fazer mais isso — admite. — Eu me rendo.
Congelo onde estou sentada na cama. Pestilência, o Conquistador, se
rendendo? Ele remove a coroa da cabeça e a joga no chão entre nós.
— É sua — fala, amargo. — Posso ter conquistado o mundo, mas perdi
você, a única coisa que realmente quis.
Meu pulso acelera ao olhar primeiro para a coroa descartada, depois para
o homem que a usou.
— Você está livre para partir — fala. — Não vou te impedir.
Seus olhos estão desolados. As sombras se foram, mas também qualquer
faísca de esperança que um dia tiveram desapareceu. Quando tocam os
meus, ele olha para mim como se estivesse se afogando. Deveria estar
exaltada, justiçada de alguma forma, mas aquilo é apenas mais dor para
acrescentar ao resto.
Por vários segundos, não me movo.
— Maldição, Sara, se você quer sua liberdade, parta antes que eu recobre
meus sentidos!
Saio da cama, pegando minhas coisas uma por uma, mantendo um olho
desconfiado nele. Eu meio que espero que ele bata a porta fechada na minha
cara a qualquer momento. Isso deve ser algum truque. Mas não parece ser.
Passo pela soleira do quarto, parando para encará-lo.
— Vá e se junte a sua raça condenada — fala, seu olhar relutantemente
encontrando o meu. Como queima! Ele tem dor para combinar com a
minha. — Mas não espere que eu te mate.
Tarde demais, ao que parece, ele descobriu o significado da palavra
misericórdia.
Depois de tudo que Pestilência fez, não espero que minha partida me
magoe tanto. Pensei que meu coração tivesse sido abusado o bastante para
esquecer que pertence ao cavaleiro. Estava errada.
Não olho para Pestilência quando o deixo na entrada da casa. Andar para
longe me causa dor o bastante. Ver qualquer emoção que enche seu rosto
pode me fazer vacilar. O cavaleiro não usa mais sua coroa. Ainda está
esquecida no quarto. Vou para a rua, cada passo me cortando mais e mais
fundo. Perdi todo o resto – família, amigos, vizinhos. Deixar Pestilência vai
sangrar as últimas partes de mim.
Para onde deveria ir? Quantos quilômetros terei que andar para encontrar
vida? Vou morrer antes disso? Sei que Pestilência não vai permitir que eu
sucumba à praga, mas existem outras formas de morrer. Poderia morrer de
fome, poderia perecer devido ao clima. E se eu não morrer, então o quê?
Um passo de cada vez, Burns.
É só quando chego na estrada que me viro. A mansão em que estávamos
fica em uma pequena colina. Parado como uma sentinela na porta está o
cavaleiro. Pestilência me observa, seu rosto solene. Por um segundo, acho
que vejo esperança faiscar em seus olhos.
Ele acha que estou mudando de ideia.
Eu me fortaleço, viro-me para a rua mais uma vez e me afasto.
CAPÍTULO 52
Depois, nós dois deitamos emaranhados nos lençóis, e poderia ficar aqui
para sempre, minha orelha pressionada no seu peito, seu coração batendo
embaixo de mim. Ele acaricia minhas costas nuas.
— Tem uma coisa que guardei — diz. — Uma coisa para a qual minha
coroa e armadura ainda serviram. Gostaria de ver?
Concordo contra ele, apesar de não ter nenhuma ideia do que está
falando. Só estou feliz demais para pensar sobre qualquer coisa exceto o
fato que Pestilência estar aqui em meus braços. Gentilmente, Pestilência me
move para o lado para que possa sair da cama e ir para a sala. Não posso
imaginar o que está vindo.
Trago os lençóis para o corpo e me sento no momento que Pestilência
volta para o quarto. Ele ajoelha ao lado da cama e ergue a mão, seu punho
fechado com força. Um por um, seus dedos se abrem, e na palma, está um
pequeno aro de ouro.
Seus olhos brilham.
— Case comigo, Sara. Por favor.
Minha respiração para enquanto encaro o anel, que parece
impossivelmente perfeito.
Feito do resto das suas regalias douradas. Isso foi o que ele quis dizer
quando disse que tinha guardado algo da sua coroa e armadura. Meu olhar
se ergue para ele. E então sorrio.
— Sim.
Vou me casar com um cavaleiro do apocalipse. Estico a mão e o deixo
colocar o anel no meu dedo trêmulo. Vou me casar com Pestilência.
— Espere — falo afiada.
Meu cavaleiro ergue as sobrancelhas.
— Espere? — repete, parecendo incrédulo. — Você está tendo…
dúvidas?
Posso ver que ele tem dificuldade em dizer a última parte dessa frase.
— Não, mas… quero te chamar de algo que não seja Pestilência. Não
apenas um apelido carinhoso, mas um nome de verdade.
Por bem ou por mal, ele é um homem. Precisa de um nome adequado.
— Você quer dizer, como Trixie? — pergunta, completamente sério.
Deus, não. Não assim.
— Hm, um nome humano.
Na hora me arrependo de mencionar a palavra humano – é um de seus
gatilhos. Mas Pestilência não parece enojado pela ideia. Na verdade,
parece… intrigado. Ele pensa por apenas um segundo ou dois antes de
dizer:
— Tudo bem.
— Tudo bem? — ecoo.
Sério, foi fácil assim? Ele ri um pouco com minha expressão de surpresa.
— Confesso, pensei nisso desde o dia que nossos caminhos divergiram.
Da última vez que conversamos, ele não acreditava em nomes pessoais.
Ele era Pestilência, e Pestilência era quem ele era. Ele era seu propósito, e
era tudo o que alguém precisava saber. Em algum ponto de todos os dias e
semanas que passamos separados, ele mudou de ideia.
— Como você gostaria de ser chamado? — pergunto.
Seu polegar gira o anel no meu dedo.
— Victor — fala, a sombra de um sorriso crescendo em seu rosto.
Ergo as sobrancelhas. Não sei o que estava esperando. Não é como se
Victor fosse menos apropriado do que Bill ou Joe. É só que Victor é
muito… normal. Não estava esperando normal.
Só fiquei feliz que ele não decidiu por Elmer ou Wolfgang.
— Victor — repito, começando a sorrir enquanto olho para ele. Eu
gosto. Muito. — É perfeito.
Seu sorriso alcança seus olhos.
— O que fez você escolher? — pergunto.
Ele sobe na cama e me envolve nos braços mais uma vez. Derreto no
calor delicioso dele. Isso ainda parece um sonho. Algum dia não parecerá?
Algum dia vou acordar e não ficar maravilhada com a força da natureza
pela qual me apaixonei?
— Victor não é muito diferente de Conquistador, é? — fala, ponderando.
Fico tensa com isso. Uma risada retumba profunda em seu peito.
— Não se preocupe, querida Sara — diz. — Não estou me prendendo
aos meus antigos jeitos. — Ele pega minha mão e pressiona no seu coração.
O ritmo constante pulsa contra minha palma.
— Ao invés disso, sou seu Victor. Você vê, vim para conquistar essa
terra e seu povo — explica —, mas ao invés disso, uma das pessoas me
conquistou.
Sei que meus olhos ficaram suaves. É uma boa razão – não, uma ótima
razão – uma que faz os dedos dos meus pés contraírem.
Puxando sua cabeça para mim, eu o beijo, meus lábios fazendo da tarefa
algo longo e lânguido.
Uma vez que o beijo termina, pergunto:
— O que acontece agora?
— Nós vamos embora – ou ficamos e esperamos que o mundo aprenda
assim como eu fiz. De qualquer maneira, fazemos isso juntos – por todos os
minutos que nos resta.
EPÍLOGO
Obrigada, Leia Stone, você sabe por quê. Shannon Mayer, muito
obrigada por deixar usar seu cérebro para pesquisas bem entediantes. Você é
a melhor.
Para literalmente todas as autoras que mostraram interesse nesse livro –
Grace Drave, Scarlett Dawn, Amber Lynn Natusch, Kelly St. Clare, Linda
Lee, e mais – sério, todas vocês estão me fazendo suar e agora vou dar uma
volta de vitória pós-edição.
Um grito para todas minhas leitoras beta e resenhistas, meu time de
divulgação e todas aquelas maravilhosas blogueiras de livros e instagrams
literários que deram tanto amor a esse livro. Eu “coração” tanto vocês.
Por último, obrigada a você, leitora, que nesse ponto está ganhando
crédito extra por chegar até aqui, no final dos meus agradecimentos. Espero
que tenha gostado de ler sobre esses personagens tanto quanto gostei de
escrevê-los.
SOBRE A AUTORA
Encontrada na floresta quando era jovem, Laura Thalassa foi criada por
fadas, sequestrada por lobisomens e entregue aos vampiros como
pagamento por uma dívida de cem anos. Ela foi trazida de volta à vida duas
vezes e, com um único beijo, ela despertou seu verdadeiro amor do sono
eterno. Ela agora vive feliz para sempre com seu príncipe morto-vivo em
um castelo na floresta ... ou algo assim. Quando não está escrevendo, Laura
pode ser encontrada engolindo guacamole, acumulando chocolate para o
apocalipse ou enrolada no sofá com um bom livro.
[1]
Tradução de Machado de Assis, 1883.