O documento discute a ansiedade e as diferenças entre emoções humanas e animais. Explica que enquanto animais dependem apenas de estímulos externos para emoções, humanos podem se emocionar com pensamentos internos também. Isso significa que humanos podem se lembrar de perigos passados e se manter longe deles, ao contrário de alguns animais que esquecem o perigo rapidamente. A ansiedade em humanos está ligada a preocupações e pensamentos sobre possíveis ameaças futuras.
O documento discute a ansiedade e as diferenças entre emoções humanas e animais. Explica que enquanto animais dependem apenas de estímulos externos para emoções, humanos podem se emocionar com pensamentos internos também. Isso significa que humanos podem se lembrar de perigos passados e se manter longe deles, ao contrário de alguns animais que esquecem o perigo rapidamente. A ansiedade em humanos está ligada a preocupações e pensamentos sobre possíveis ameaças futuras.
O documento discute a ansiedade e as diferenças entre emoções humanas e animais. Explica que enquanto animais dependem apenas de estímulos externos para emoções, humanos podem se emocionar com pensamentos internos também. Isso significa que humanos podem se lembrar de perigos passados e se manter longe deles, ao contrário de alguns animais que esquecem o perigo rapidamente. A ansiedade em humanos está ligada a preocupações e pensamentos sobre possíveis ameaças futuras.
O documento discute a ansiedade e as diferenças entre emoções humanas e animais. Explica que enquanto animais dependem apenas de estímulos externos para emoções, humanos podem se emocionar com pensamentos internos também. Isso significa que humanos podem se lembrar de perigos passados e se manter longe deles, ao contrário de alguns animais que esquecem o perigo rapidamente. A ansiedade em humanos está ligada a preocupações e pensamentos sobre possíveis ameaças futuras.
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O QUE É ESSA TAL ANSIEDADE?
Gosto de “lavar as palavras”. Sempre que inicio uma aula, palestra ou
Live repito isso, e o farei aqui, logo no início da nossa jornada escrita. É muito positivo que as pessoas se interessem por saúde mental, afinal até bem pouco tempo atrás havia muito preconceito em relação à psiquiatria e a quem necessitava de tratamento psiquiátrico. No entanto, quando qualquer tipo de conhecimento se torna muito popular acabam surgindo equívocos. Atualmente termos como “depressão”, “déficit de atenção” e “transtorno bipolar” tornaram-se comuns e passaram a fazer parte dos assuntos tratados em família durante o almoço de domingo ou mesmo em mesas de bar, entre amigos. Há quem diga que acordou “com depressão”, obviamente querendo dizer que amanheceu “triste” ou “desanimado”, pois tecnicamente, é impossível que alguém vá dormir saudável e acorde portador de um “transtorno depressivo”. Nem todas as crianças que não gostam de estudar são portadoras de “TDAH”, pode ser que sejam só indisciplinadas mesmo (ou “atentadas” como chamamos aqui em Goiás). Uma pessoa que reaja de forma agressiva a um incidente no trânsito, e que depois do bate boca, se acalme e se arrependa, não é, obrigatoriamente, “bipolar”. O uso coloquial e frequente dos termos psiquiátricos gera falhas de comunicação. Isso acontece não apenas entre os leigos. Se você chorar durante uma consulta médica há uma grande probabilidade de receber uma receita de antidepressivos. Nesse caso o entendimento é que choro significa depressão, o que, definitivamente, não é verdade para todos os casos. Termos como tristeza, depressão, ansiedade, luto, insatisfação, intolerância, irritabilidade, impulsividade, frustração, para dizer apenas alguns, são muitas vezes misturados e usados para expressar situações e sentimentos muito parecidos. É importante que as palavras fiquem “limpas”, ou seja, usadas no seu sentido real, para que um mínimo de comunicação aconteça. Meu trabalho agora, portanto, é “lavar” a palavra “ansiedade”, para que você compreenda exatamente o que isso significa. Muitos dizem que não param de comer e estão acima do peso por causa da ansiedade. Pode ser que alguém tente explicar sua irritabilidade dizendo estar muito ansioso. Será que uma pessoa pode desenvolver o hábito de fumar por conta de sua ansiedade? Um adolescente com muitas notas vermelhas, é ansioso ou preguiçoso? É hora de mergulharmos um pouquinho mais na neurobiologia da ansiedade para que possamos compreender plenamente o que esse termo quer dizer. Começarei, como sempre, com uma breve história, a fim de amaciar o caminho e facilitar sua compreensão. Há muitas noites em que tenho dificuldade para dormir, talvez isso aconteça com você também. Se o dia estava muito cheio de atividades, ou quando há muito o que fazer no dia seguinte, o cérebro parece mergulhar numa espécie de looping sem fim de repetições, como se ali, durante a noite, fôssemos capazes de resolver alguma coisa. O resultado é que o sono não vem! Geralmente quando entro nesse estado ligo a TV e sintonizo o canal Animal Planet. Fico assistindo àquelas cenas de florestas, savanas, rios, animais se perseguindo e em poucos minutos adormeço. Acho inclusive, que se essa técnica se popularizasse, as vendas de Rivotril cairiam vertiginosamente. Fica a dica! Nos programas mais frequentes há sempre um bichinho bonzinho, uma zebra por exemplo, chegando para beber água às margens de um lago e de repente, um crocodilo monstruoso salta com sua boca pré-histórica aberta para tentar devorar nossa zebrinha protagonista. O bichinho malhado, no entanto, num golpe de sorte, escapa do ataque e se afasta apavorado. Nós, os telespectadores, ficamos aliviados momentaneamente. Para nosso total espanto, no entanto, a zebra em poucos minutos parece esquecer o perigo. O crocodilo está ali, claro, mergulhado na água, e ela, logo depois de ter escapado por um triz, volta a se aproximar, no mesmo lago, e principalmente, na mesma margem. Acontece o óbvio, o enorme réptil salta novamente, e dessa vez tem mais sorte, para azar da nossa protagonista, que termina sendo devorada. Pense por um minuto nessa situação. Imagine você no lugar da zebra. Qual a chance de, após ter escapado por pouco do ataque de um crocodilo, depois de vê-lo afundar na água, você voltar a chegar perto do lago no mesmo local? Imagino que sua resposta seja a mesma que a minha. Nenhuma chance, não é? Aqui estamos bem perto de compreender um pouco mais sobre a diferença entre o funcionamento do cérebro humano e de um cérebro mais primitivo como o de um outro mamífero qualquer. Todos somos capazes de experimentar emoções, como no exemplo da zebra, o medo. Emoções são fenômenos psíquicos e fisiológicos que nos preparam rapidamente para uma ação. A palavra emoção vem do latim emovere, que significa “antes do movimento”, ou “aquilo que provoca um movimento”. Os seres humanos são capazes de experimentar 5 emoções básicas: medo, raiva, tristeza, alegria e nojo. Assim, quando somos expostos a um estímulo, antes mesmo de pensarmos, somos tomados por uma emoção, que surge numa fração de segundos, provoca uma série de modificações neurofisiológicas, promove uma ação, dura alguns minutos, e simplesmente vai embora. Vejamos um exemplo. Imagine que você está caminhando pela sua casa à noite, no escuro, pisa em algo meio úmido e mole e, antes de ter tempo de pensar, dá um salto, seu coração dispara, a respiração torna-se ofegante, suas mãos ficam suadas, em poucos segundos você está apavorado! Corre até o interruptor, acende a lâmpada e vê que se trata apenas de uma roupa molhada deixada descuidadamente no meio da casa. Mesmo após identificar que não há perigo, a reação não desaparece imediatamente, ela continua por alguns minutos, até que você finalmente se acalma. Isso mostra que o circuito das emoções é mais rápido e é independente do circuito cerebral do raciocínio, que sua estimulação dura alguns minutos, para então desaparecer. Foi nesse ponto que nossa heroína, a zebra, se deu mal. Ela experimentou uma intensa emoção, o medo, fugiu, se safou da primeira investida reptiliana, mas logo que a emoção desapareceu, assim como você, ao reconhecer a roupa molhada no chão de casa, ela se julgou segura, e esse foi o seu fim! Em uma outra situação podemos imaginar que você, no trânsito, seja surpreendido por alguém furando o sinal vermelho e colocando a sua família em extremo risco. Imediatamente ficará irado. A raiva é uma emoção muito útil em situações como essa, de conflito, te ajuda a impor limites nas relações e a se manter íntegro. Claro que nesse exemplo, ao tentar tirar satisfações, poderá se surpreender com o motorista do outro carro desesperado levando a esposa para o hospital em trabalho de parto, e mais uma vez perceberá que as emoções nem sempre são confiáveis, visto que são muito imediatas. Nem sempre somos capazes de julgar corretamente uma situação em tão pouco tempo. Após entender o motivo da pressa sua raiva irá ceder, não instantaneamente, mas em alguns minutos, claro. Existem pessoas que criam o hábito de se entregar à preguiça. Conhece alguém assim? Então, imagine essa criatura, chegando atrasada várias vezes ao trabalho, até que um dia o patrão se irrita e sumariamente a demite. Ela ficará triste, claro. A tristeza é uma emoção que nos tira a energia, nos deixa contritos e nos faz refletir. Pode ser que inicialmente ela até se ache injustiçada, mas logo perceberá que provocou sua própria demissão. Perceba que a tristeza tem uma importância fundamental, ela nos induz à autoavaliação. Não menospreze a sua tristeza, observe o que ela está te mostrando e, se há algo na sua vida a corrigir, simplesmente o faça. Há dias em que tudo parece dar certo. “Acordamos com o pé direito”. Todos parecem sorrir para nós, os problemas se resolvem facilmente, até mesmo a vaga no estacionamento parecia estar ali, esperando a nossa chegada. Sentimos uma emoção gostosa, a alegria, que nos dá uma sensação de energia, de potência, de que a vida vale a pena ser vivida. A alegria é uma emoção essencial, é ela que nos dá motivação para suportar os dias ruins, nos faz ter a sensação de propósito e perseverança. É ótimo estar alegre, só não devemos esperar estar alegres sempre. Buscar isso a todo custo pode ter efeitos colaterais! Para finalizar o nosso tour emocional, faltou o nojo. Essa é uma emoção que aparece quando nos aproximamos de substâncias ou ambientes potencialmente “contaminados”. Aquela vitamina de abacate amanhecida, o leite que dormiu fora da geladeira, ou a inconfundível sensação de deitar sobre o lençol sujo com algum tipo de farelo. A repulsa que essas situações provocam em nós são de grande valia pois evitam infecções e doenças. Vejam bem, todas as emoções são úteis e fazem parte do nosso sistema básico de sobrevivência, a raiva nos ajuda a impor limites, o medo a fugir de perigos, a tristeza a repensar condutas, a alegria a valorizar a vida e o nojo a evitar contaminações. Não há nada errado em sentir emoções, mas claro, tudo em excesso ou fora de lugar pode causar problemas. Voltemos à desventura da nossa amiguinha zebra. Porque nós não cairíamos tão facilmente na mesma armadilha de “esquecer” o medo e se expor ao risco? Porque enquanto a maior parte dos mamíferos depende exclusivamente de fenômenos externos para despertar suas emoções, nós, humanos, temos uma fonte inesgotável de estímulos internos capazes de nos emocionar, nossos pensamentos! Provavelmente um humano, após sobreviver ao ataque de um crocodilo na margem de um lago ou rio, não só nunca mais voltaria ao mesmo lugar, como teria extrema dificuldade de se aproximar de qualquer outra margem. Qual a explicação para isso? É simples! Nós somos capazes de imaginar, ou seja, criar imagens mentais, e nessas imagens, ou seja, nos nossos pensamentos, qualquer porção de água poderá abrigar um monstro predador. Sentir seu coração batendo mais rápido, ter sua pupila dilatada, seus pensamentos acelerados, sua respiração ofegante, suas mãos suando, diante de um perigo real, como um assalto, um acidente ou um animal peçonhento são sinais típicos do medo. Sentir exatamente esses mesmos sinais diante de uma ameaça possível, mas não imediata, algo impreciso, imaginário, que pode ou não acontecer, e que está, pelo menos por enquanto, apenas nos seus pensamentos, não é medo, é ansiedade! Sendo assim podemos dizer que a ansiedade é uma prima-irmã do medo. Seus sintomas são muito semelhantes, porém a causa não é palpável. Os motivos que geram a ansiedade são imprecisos e estão ligados aos pensamentos, expectativas e inseguranças da pessoa ansiosa. Como eu disse anteriormente, as reações emocionais têm início quase instantâneo, mas desaparecem logo, às vezes em poucos minutos. A ansiedade, porém, é causada por pensamentos, e esses pensamentos podem teimar em se repetir à exaustão, de forma que os sintomas da ansiedade tendem a se prolongar por dias, semanas, meses e em casos mais graves, anos. Se novamente voltarmos ao fatídico exemplo da zebra e do crocodilo, perceberemos que a capacidade de um humano prever possíveis ataques caso venha a se aproximar da água é uma imensa vantagem evolutiva. Em outras palavras, a ansiedade foi um excelente negócio para a espécie humana, nos livrou de diversos riscos, não apenas na pré-história. Provavelmente você já ouviu o ditado “um homem prevenido vale por dois”. Agora, com seus novos conhecimentos de neurociências você já pode fazer um upgrade do ditado, dizendo que “um homem ansioso, vale por dois”. Se as zebras fossem capazes de experimentar a ansiedade, os crocodilos teriam que se contentar com outros itens no cardápio. No livro “Porque as zebras não têm úlceras”, o neurocientista e PHD Robert Sapolsky, formado em Harvard e hoje professor em Stanford, comenta o fato desses animais experimentarem o estresse apenas “no momento certo”, ou seja, na presença do fator estressor, e não “perderem tempo antecipando problemas”, como fazemos nós, humanos. Não sei quanto a você, mas entre ter úlceras e me manter vivo, ou manter meu estômago saudável mas acabar dentro do estômago de outro animal, opto pela primeira alternativa! Espero, até aqui, ter sido capaz de fazer você compreender o que é ansiedade e qual a sua função na manutenção da nossa sobrevivência. Com esse termo devidamente “limpo”, somos capazes de separar “ansiedade” de tantas outras palavras que têm sido usadas quase como sinônimos. Ansiedade não é a mesma coisa que depressão, impulsividade, irritabilidade, gula, preguiça, expectativa, frustração, inquietação ou insatisfação. Cada uma dessas palavras têm o seu significado, e devem ser usadas para representar um fenômeno específico. Somos geneticamente idênticos aos nossos antepassados de 200 mil anos atrás, que sobreviveram na savana africana, lutando contra todos os tipos de feras que você possa imaginar. O ambiente era hostil e perigoso, os alimentos escassos e a sobrevivência, incerta. A ansiedade foi um fator evolutivo determinante que nos possibilitou chegar até aqui. Já na época das cavernas, obviamente, os seres humanos não eram idênticos entre si. Havia os mais corajosos, destemidos e aventureiros, e os mais medrosos, ansiosos e pacatos. O primeiro grupo passava seu tempo desbravando, conquistando e testando seus limites, já o segundo optava pelo que hoje poderíamos chamar de “um estilo de vida mais conservador”, ficando quietinhos, alimentados e aquecidos dentro das cavernas. Acho desnecessário dizer que a expectativa de vida dos nossos antepassados aventureiros era bem menor que a dos nossos tataravós ansiosos. E claro, quem vive mais, se reproduz mais! Não é de se surpreender, portanto, que a maior parte de nós, atualmente, tenha intensos traços de ansiedade, pois literalmente somos descendentes dos “ansiosos”, já que os “valentões” pré-históricos, na sua maioria, não viveram tempo suficiente para deixar herdeiros. Está aí explicada uma das razões pelas quais a ansiedade é um fenômeno tão frequente. Vivemos em um cenário radicalmente diferente daquele enfrentado pelos nossos antepassados. Poderíamos dizer que a vida hoje é um “passeio no parque”, comparada à aventura trágica na savana africana há alguns milhares de anos. Nada de monstros predadores, a comida é farta e as noites iluminadas. Temos inúmeras opções de lazer, acesso a todo tipo de conforto, nos deslocamos a velocidades inimagináveis sem o menor esforço e até mesmo as sensações de calor e frio são amenizadas por climatizadores. O DNA, no entanto, é o mesmo. Os mecanismos cerebrais para a manutenção da sobrevivência funcionam a todo vapor. Monstros horrendos, massacres, doenças e fome seguem fazendo parte da nossa imaginação, numa espécie de “memória ancestral”. A vida segue aparentemente tranquila, mas nós não conseguimos acreditar. É como diz o ditado. “Está bom demais para ser verdade”! Basta observar o enredo dos principais filmes e séries e verá que os predadores, a fome e a carnificina seguem fazendo parte do nosso imaginário coletivo. Poderíamos dizer, portanto, que do ponto de vista puro e simples de manter a sobrevivência, talvez nossa ansiedade atualmente pareça “um pouquinho exagerada”, já que sair para jantar na praça de alimentação de um shopping oferece riscos consideravelmente menores do que uma épica caçada na savana pré-histórica. Os efeitos da ansiedade são desconfortáveis e as causas quase sempre obscuras ou aparentemente desproporcionais. Em contrapartida, nós vivemos a era do conforto, controlamos tudo, a temperatura, a umidade do ar, os odores, a luminosidade. Desaprendemos a experimentar o desconforto. Julgamos que isso não é mais necessário e nem “normal”. Vivenciar os sintomas desagradáveis da ansiedade, portanto, passa a ser “anormal”. Se temos algo anormal acontecendo no nosso corpo, só pode ser um “transtorno” ou uma “doença”. Uma ideia muito atraente por sinal, especialmente se tivermos uma população ávida por saídas rápidas para os seus incômodos e uma indústria farmacêutica pronta para lucrar com “soluções” na forma de comprimidos. Então, meu amigo leitor, no próximo capítulo entraremos juntos em uma reflexão profunda e perturbadora. Até que ponto a ansiedade é uma doença? Em uma época em que a manutenção da sobrevivência não é mais um desafio, qual o papel desse complexo mecanismo de defesa ancestral? Haveriam, atualmente, outras formas de ameaça à nossa liberdade de experienciar a vida? Com toda a segurança e prosperidade que a sociedade moderna promete, quais seriam os desafios para vivermos com autenticidade, autonomia, integridade e felicidade? Estariam esses desafios sendo denunciados pela atual “epidemia de ansiedade”? É o que veremos.