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Alexandre Vastella
Geopolítica 1
Geografia p/ CACD (Primeira e Segunda Fases) - Pós-Edital
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Formação da geopolítica
Apesar do termo geopolítica ter sido cunhado pelo cientista político Rudolf Kjellen apenas em 1924,
a geografia política foi desenvolvida no final do século XIX, junto ao surgimento da própria ciência
geográfica à autores consagrados como Friedrich Ratzel. Para o geógrafo Wanderley Messias da Costa, o
surgimento da geografia política foi um produto do imperialismo e da expansão das potências mundiais.
Vale ressaltar que entre o final do século XIX e início do século XX – conforme vimos em nossa primeira aula
– as potências da Europa Ocidental encontravam-se em disputa acirrada por colônias e territórios
ultramarinos. A geografia política era, portanto, um conhecimento estratégico para a melhor obtenção de
poder bélico e recursos naturais.
O que é Política?1
Expressão e meio de controle dos conflitos sociais; arte ou ciência de governar, arte ou ciência da
organização; direção e administração de Estados; aplicação desta arte aos negócios internos da nação
(política interna); ou aos negócios externos (política externa); série de medidas para a obtenção de um fim;
arte de guiar ou influenciar o modo de governo pela organização de um partido, pela influência da opinião
pública; pela aliciação de eleitores, etc.
O que é Geopolítica?
Termo criado pelo sueco Rudolf Kjellen em 1899 para designar as relações entre a política do Estado e a
geografia, entendida como superfície, forma, fronteiras e recursos do território nacional. Disciplina que
pretende estabelecer princípios gerais sobre os fundamentos geográficos do poder militar.
Segundo os primeiros autores de Geopolítica – os quais estudaremos nos próximos itens – o Estado
seria autárquico, isto é, teria poder absoluto sobre a nação e exerceria poder sobre si mesmo. Neste
1 Os quadros com definições foram extraídos do Glossário do livro Geografia e Política da geógrafa Iná Elias de Castro.
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contexto, para a geógrafa Bertha Becker, a herança ideológica da geopolítica clássica residiria em dois
pressupostos básicos: a) o excepcionalismo nacional, centrada no Estado-nação como única unidade política
da ordem mundial; b) o determinismo geográfico, pelo qual o poder do estado é atribuído ao contexto do
território. A centralização da geopolítica no Estado-nação significa trata-lo como unidade exclusiva de poder,
e portanto, assumir que conflitos se dão apenas entre Estados. O mundo, desta forma, é visto sob a
perspectiva do Estado, sendo assim, ponto de referência para o ordenamento do território. Estes preceitos
guiaram quase toda a geografia política clássica dos séculos XIX e início do século XX.
No entanto, no mundo contemporâneo, marcado pelas múltiplas escalas do território e pelas várias
formas de exercício de poder – como corporações transnacionais, movimentos da sociedade civil, entre
outros –, paulatinamente, o Estado deixa de ser o único poder vigente para ser apenas mais um elemento
no jogo geopolítico. A geografia política contemporânea s como a questão ambiental, a questão do capital
financeiro, ou a Nova Ordem Mundial. Para a geógrafa Iná Elias de Castro, quanto mais variada e complexa
for a sociedade, maior será a diferença entre as necessidades dos grupos e das classes sociais envolvidas.
Para a autoria, a geopolítica teria como foco a relação entre a política e o território, base material dos
conflitos entre os diferentes grupos sociais. Rompe-se, desta forma, a concepção de Estado como única
forma de exercício de poder.
Geopolítica Clássica No século XIX, o Estado era a única forma de poder, e o principal vetor de
expansão e domínio territorial.
Geopolítica Atualmente, no entanto, o território existe em múltiplas escalas: o poder é
Contemporânea exercido por diversos atores, não só pelo Estado.
Realismo Político
O principal paradigma da geopolítica clássica é o realismo político, que pressupõe o Estado como
unidade política central. Na busca pelo prestígio, pela glória, e pelo controle territorial, o Estado estaria além
da ética ou da moral. Nicolau Maquiavel, um dos nomes pioneiros desta corrente, em seu livro “O Príncipe”,
proferiu sua famosa frase: “os fins justificam os meios”. Isto é, desde que o resultado seja satisfatório, pouco
importariam os aspectos morais. Além de Maquiavel, Thomas Hobbes desenvolveu ideia parecida em seu
livro “Leviatã”, onde afirma que somente um Estado forte poderia evitar o caos social. Grosso modo, o
Realismo Político é o conjunto de teorias que admitem o poder incondicional do Estado. Tal concepção vai
ao encontro de pensadores expansionistas do século XIX, como o próprio Ratzel, cujas ideias veremos no
próximo item.
Geopolítica 3
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Além de ter sido fundamental para o próprio surgimento da geografia (conforme vimos no início do
curso), o alemão Friedrich Ratzel (1844-1904) foi o precursor da geografia política. Apesar de ter sido
estudada desde a Antiguidade, foi somente no século XIX, por meio de Ratzel, que houve uma sistematização
do conhecimento geopolítico, transformando-a em uma disciplina científica. Ratzel foi, portanto, o pioneiro
na conceituação de Estado, termo central da geografia política clássica.
O contexto histórico de Ratzel favorecia a criação da disciplina. Conforme vimos no início do curso,
no século XIX ocorreu a unificação da Alemanha, que até então consistira em um agrupamento de feudos e
povoados autônomos. Vivenciando este cenário, Ratzel propôs-se teorizar sobre as características e
necessidades do Estado – que naturalmente, pudesse sustentar o projeto de poder e consolidação da recém-
criada Alemanha. Nesta época, o país almejava ser uma grande potência como Inglaterra e França,
detentoras de importantes colônias além-mar. De acordo com este objetivo, a unificação alemã, iniciada por
Otto von Bismarck, ainda estaria “mal concluída”, sendo necessária então, a consolidação de um Estado
forte que revertesse o atraso político e econômico da Alemanha face às grandes potências. Vale ressaltar
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que Ratzel condenava a Revolução Francesa: deste modo, seu projeto de Estado consistia no comando
centralizado porém não-revolucionário, cujas medidas seriam estabelecidas de forma gradual e segura.
Ratzel não foi o pioneiro no estudo da geopolítica, mas foi o primeiro a consolidá-la como ciência,
utilizando métodos e metodologias próprias. Em sua obra “Política” (1897), Ratzel afirma que enquanto a
“política” de forma geral seria pertencente aos campos de estudos da história, a “política geográfica”, ou
seja, a política dependente do solo, seria pertencente à geografia. Deste modo, a geopolítica seria o estudo
das relações entre o estado e o solo.
Seguindo este raciocínio, para ser forte, o Estado deveria controlar uma área suficientemente grande
e diversa, que provesse recursos naturais e econômicos para a sustentação de seu povo, ou seja, controlar
um espaço vital (em alemão, lebensraum). O espaço vital seria, portanto, o equilíbrio entre uma
determinada população e os recursos disponíveis para suprir suas necessidades. Analisando as
potencialidades de expansão deste espaço vital, Ratzel propôs as leis de crescimento espacial do Estado, ou,
a natureza das relações do Estado com o território; propondo, deste modo, um estudo nomotético a seguir:
[fonte]
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É possível perceber que as leis de Ratzel eram fortemente imperialistas e colonialistas. Legitimavam
assim, a anexação de territórios e a consequente expansão do espaço vital alemão. As teorias ratzelianas
convergem com o realismo político, isto é, com a ideia de centralidade estatal para além da moralidade.
CAI NA PROVA
CACD/2014 – Questão 27
Se necessário for definir um paradigma para a geopolítica desde que se constituiu como disciplina, certamente este seria
o do realismo, no campo das relações internacionais. A obra de Friedrich Ratzel, teorizando geograficamente o Estado
(1897), constitui uma fonte crucial para a análise das relações entre o Estado e o poder.
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B. Becker. A geopolítica na virada do milênio. In: Geografia: conceitos e temas, Castro et al. (Orgs.). Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 1995, p. 273 e 277 (com adaptações).
Acerca do paradigma mencionado no fragmento de texto acima e de suas relações com a obra político-geográfica de
Friedrich Ratzel, julgue (C ou E) os itens a seguir.
1. As leis do crescimento espacial dos Estados enunciadas por Ratzel retificam os princípios básicos do realismo
político.
COMENTÁRIO
O realismo político baseia-se na concepção do poder “a qualquer custo” do Estado (se necessário, passando
por cima de preceitos morais). Como as leis de crescimento espacial dos Estados de Ratzel era fortemente
imperialista e colonialista (pouco éticas ou morais), então, NÃO RETIFICAM os princípios básicos do realismo
político; muito pelo contrário, concordam com estes princípios.
Atenção para o português: não confundir as palavras “retificar” (discordância), com ratificar (concordância).
Isto pode mudar totalmente o sentido da questão! Gabarito: Errado
2. Por reconhecer a exclusividade dos Estados como atores internacionais, o realismo político coaduna-se com os
parâmetros da geopolítica clássica.
COMENTÁRIO
Sim, ao contrário da geopolítica contemporânea, a geopolítica clássica era baseada no protagonismo central
do Estado como unidade de poder. Gabarito: Certo
3. Por considerar o Estado como organismo vivo, a geografia política ratzeliana contradiz o paradigma do realismo
político
COMENTÁRIO
A geografia política ratzeliana NÃO CONTRADIZ o paradigma do realismo político. Muito pelo contrário, a
expansão do Estado ratzeliano convergia muito bem ao realismo político.
Gabarito: Errado
Considerado um dos principais nomes da geopolítica, o inglês Sir Halford John Mackinder (1861-
1947) protagonizou uma verdadeira revolução na concepção de poder mundial. Por meio do paper “The
Geographical Pivot of History” (1904), Mackinder expõs a rivalidade secular entre dois poderes antagônicos:
o poder terrestre e o poder marítimo. O primeiro situava-se na porção central da Eurásia, em grande parte
no atual território da Rússia. Já o segundo, encontrava-se de forma dispersa nas regiões marginais da Eurásia
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ou nas ilhas adjacentes. Supervalorizando o poder terrestre em detrimento do aquático, Mackinder foi
responsável pela elaboração dos conceitos de “heartland”, de “sistema fechado”, e de “causalidade
geográfica”, que permanecem, em grande parte, atuais. Veremos adiante cada um destes conceitos.
Heartland ou Área-Pivô
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Em torno do heartland, para o autor, estaria situado o inner crescent, ou o inner marginal, que na
tradução, significam “crescente interior”, ou “interior marginal”. Trata-se de área periférica do heartland, de
menor importância para Mackinder, posteriormente chamada por Spykman de rimland. As demais áreas do
planeta, de menor relevância geopolítica, seriam chamadas de outer crescent (crescente exterior), ou insular
crescent (crescente insular).
A concepção do heartland ajudou a derrubar o eurocentrismo vigente até o século XX. Até então,
por meio do colonialismo, do imperialismo, e das Grandes Navegações, a Europa Ocidental controlara o
planeta de forma razoavelmente homogênea. No entanto, ao posicionar o coração geopolítico para leste,
Mackinder deslocava para leste o eixo de poder global. Pela primeira vez após a Idade Moderna, admitia-
se a possibilidade da Europa não ser mais o “centro do mundo”.
No início do século XX, na época de Mackinder, a expansão das potências europeias estava
praticamente concluída. Do mesmo modo, a Rússia já estava terminando a ocupação da Sibéria, o que
garantiu maior reconhecimento do território mundial. Com isso, fechava-se a era da expansão marítima, e
acirravam-se as disputas pelos territórios já descobertos. Por isso, Mackinder afirmava que a partir do
século XIX a Terra seria um sistema político fechado; pois, ao contrário do que ocorrera nos séculos XVI e
XVII – auge das expansões portuguesa-espanhola – não haviam mais grandes oceanos a serem percorridos,
e a economia já estava razoavelmente integrada em escala global. Deste modo, o mercado mundial já estava
muito bem repartido em impérios coloniais e esferas de influência das grandes potências, destacando-se
principalmente a Inglaterra e a França.
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interdependente que começava a se descortinar. De certo modo, trata-se de uma concepção materialista e
determinista do conhecimento geográfico.
Visto que a Terra estava quase toda conhecida, então, constituía um "sistema
Sistema fechado
fechado", sem grandes áreas a serem exploradas.
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investir, por exemplo, no Canal do Panamá para viabilizar maior circulação entre as frotas marítimas e maior
articulação territorial.
Mahan recorre aos exemplos da Inglaterra e da França para chamar a atenção dos norte-americanos
quanto à necessidade de um povo valorizar os seus recursos marítimos, como costas extensas ou portos.
Combate assim, o mito de que a riqueza norte-americana estaria baseada em atividades ligadas à terra e à
conquista do interior. Para o autor, a concentração de riqueza estaria nas faixas litorâneas onde o comércio
marítimo é mais intenso. Assim, para além do total de quilômetros quadrados de um território, o que
realmente contaria é a extensão de seu litoral e as características de seus portos projetados ao exterior. No
entanto, para que o poder marítimo fosse consolidado, seria necessário que a população de um país fosse
culturalmente ligada ao mar.
Neste sentido cultural, os norte-americanos estariam defasados em relação aos ingleses. No entanto,
Mahan previu que, devido a suas características naturais, os Estados Unidos substituiriam a Inglaterra
como potência global, o que de fato, ocorreu. Além de ter previsto a consolidação dos Estados Unidos no
cenário mundial, Mahan também advertiu para a ascensão da Alemanha: ainda no começo do século XX,
o oficial avisava que se o país investisse em sua marinha, poderia pôr em xeque a supremacia naval britânica.
Conforme previsto, os alemães investiram pesado em sua frota de navios, gerando preocupação regional, e
criando assim, algumas das instabilidades que culminariam na Primeira Guerra Mundial.
CAI NA PROVA
CACD/2016 – Questão 30
País de território misto, marcado a um só tempo pela continentalidade e maritimidade, o Brasil tem, na análise dos
clássicos da teoria geopolítica relacionados ao poder naval (Mahan) e na da teoria do poder terrestre (Mackinder),
importantes questões para a discussão de uma visão estratégica contemporânea, em um contexto em que há um
importante aumento da estrutura política e econômica do país no cenário mundial.
Ronaldo Gomes Carmona. Geopolítica clássica e geopolítica brasileira contemporânea: Mahan e Mackinder e a “grande
estratégia” do Brasil para o Século XXI. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2012 (com adaptações).
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Tendo como referência inicial o trecho do texto de Ronaldo G. Carmona, julgue (C ou E) os itens seguintes, acerca de
continentalidade, maritimidade e geopolítica brasileira no século XXI.
1. A vasta extensão territorial do Brasil, que corresponde a 47% do território sul-americano, indica a necessidade de
segurança das fronteiras com seus países vizinhos, de responsabilidade dos órgãos de segurança pública, da
Secretaria da Receita Federal e das forças armadas.
COMENTÁRIO
O Brasil é o quinto país com maior território do mundo, fazendo fronteira com Uruguai, Argentina, Paraguai,
Bolívia, Peru, Colômbia, Venezuela, Guiana, Suriname e até com a França! É difícil patrulhar todas estas
fronteiras, mas este cuidado é essencial para a soberania nacional. Gabarito: Certo
2. Em relação à segurança nacional, as bacias hidrográficas amazônica e do Paraguai são consideradas não
prioritárias, em razão de seu isolamento e distanciamento em relação aos grandes centros urbanos do centro-sul
do país e também da ocupação rarefeita da população nas regiões onde se situam.
COMENTÁRIO
Errado. A questão estaria totalmente correta se a palavra “não” fosse retirada. Exatamente o contrário, estas
fronteiras são estratégicas por diversos motivos, entre eles a biopirataria, o contrabando, o tráfico de drogas,
e a imigração ilegal. Gabarito: Errado
3. A Política de Defesa Nacional destaca a importância do controle e defesa dos chamados ativos estratégicos do
Brasil: fontes de água doce e de energia, biodiversidade, imensas reservas de recursos naturais e extensas áreas
a serem incorporadas ao sistema produtivo nacional.
COMENTÁRIO
O Brasil possui a maior floresta tropical do mundo (Amazônia), a maior reserva de água doce do mundo, e
também uma das maiores biodiversidades do planeta. Somos riquíssimos em recursos naturais e minerais.
Gabarito: Certo
4. O fato de o Brasil possuir um vasto litoral com importantes reservas de recursos naturais é, por si só, indicativo
de que o país deve investir na força naval de defesa de seu território oceânico.
COMENTÁRIO
Se Mahan fosse brasileiro, certamente se preocuparia com a marinha do país. Além de ser militarmente
estratégico, o bioma da Zona Costeira, possui ecossistemas riquíssimos em biodiversidade. Gabarito: Certo
Geopolítica 12
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Geopolítica 13
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Alemanha”. Apesar das diferenças ideológicas, Haushofer via a Rússia comunista como aliada vital para
combate ao domínio britânico. Dado o grande território (incluindo o heartland) e a imensa quantidade de
recursos naturais do país vizinho, uma invasão à URSS seria uma ideia impensável para o estrategista
alemão.
Neste sentido, no início da Segunda Guerra Mundial, influenciado por Haushofer, Alemanha e Rússia
assinaram o Pacto de Não-Agressão Molotov-Ribbentrop (1939), que previa 10 anos de paz entre os
ditadores Hitler e Stalin. Hitler, no entanto, contrariando Haushofer, rompeu o combinado e invadiu a União
Soviética, fazendo com que soviéticos e germânicos lutassem de lados opostos no front. A invasão ficou
conhecida como Operação Barbarossa (1941), e conforme previsto por Haushofer, foi um fracasso,
ocasionando grandes baixas para o exército alemão.
Soldados alemães tentando invadir o “heartland” russo. Contrariando Haushofer, Hitler invadiu a URSS, o que causou várias baixas no exército
alemão.
Além da Rússia, Haushofer visionava uma aliança entre Alemanha e Japão. O motivo era simples:
enquanto os germânicos dominariam a Europa, os japoneses estabeleceriam um império nos mares; e ambos
os poderes, terrestre e naval, se ajudariam mutuamente. Com uma eventual aliança germânica-japonesa, o
Império Alemão poderia projetar sua área de influência para leste, abrangendo a Oceania e o sudeste
asiático.
Para Haushofer, a aliança tripla entre Rússia, Japão e Alemanha seria fundamental para dominar o
mundo. Cada país possuiria sua esfera de influência, e juntos, combinariam uma constelação única de poder,
que com exceção da América, abrangeria todo o planeta. Na visão de Haushofer, esta partilha levaria a
constituição de três áreas de influência supercontinentais: A Euráfrica (abrangendo África, Europa, e Oriente
Médio) – submetida ao domínio alemão; a Pan-Ásia (Zona de Co-Prosperidade Asiática) (abarcando China,
Coréia, Sudeste Asiático e Oceania) – de domínio japonês; e, entre ambas, a Pan-Rússia (zona tampão
formada por Rússia, Índia e Irã), comandada pela União Soviética.
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As únicas pan-regiões
fora do alcance alemão seriam
a Pan-América, região
americana comandada pelos
Estados Unidos; e a Pan-
Região Fragmentada, liderada
pelo Império Britânico. Como
os territórios britânicos
estavam “fragmentados” pelo
globo, estes controlariam
vários territórios pelo mundo,
e não uma área específica.
Novas dissidências
entre Hitler e Haushofer
marcaram a geopolítica alemã.
Com o estabelecimento das
pan-regiões, Haushofer imaginava diminuir a influência do Império Britânico. No entanto, para Hitler, que
visava o domínio continental da Europa, o maior inimigo era a França, e não a Inglaterra. De fato, ao menos
que a Alemanha tivesse o domínio das terras emersas europeias, Hitler não se importaria se a Grã-Bretanha
dominasse os mares. Enquanto Haushofer planejava diminuir o poder do Império Britânico, Hitler
planejava diminuir o poder do Império Francês. Deste modo, o exército nazista até chegou a atacar a
Inglaterra, mas era na França que se concentravam suas metas.
Estratégias militares
Haushofer era conselheiro de Hitler nos assuntos de guerra e influnciou diretamente a
Apoio a Hitler
geopolítica nazista.
Conquista do Fã de Mackinder, Haushofer almejava conquistar o Heartland por meio de uma
Heartland aliança URSS-Alemanha
Questão da Ao contrário do sugerido, Hitler rompeu o Pacto de Não Agressão e invadiu a URSS.
URSS Conforme esperado por Haushofer, a Alemanha sofreu uma amarga derrota.
Questão da Para Haushofer, o maior inimigo era a Grã-Bretanha. No entanto, para Hitler, era a
Grã-Bretanha França.
Política de Alianças com a Rússia e o Japão garantiriam a supremacia da Alemanha no sistema de
alianças Pan-regiões
Idealização de Pan-Regiões
Área Abrangência Domínio
Euráfrica Europa + Ásia Alemanha
América do Norte + América Central +
Pan-América Estados Unidos
América do Sul
Pan-Rússia União Soviética + países vizinhos Rússia
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CACD/2014 – Questão 28
Karl Haushofer era militar de carreira, mas sua saúde frágil tornou-lhe difícil o exercício de comando na guerra. Ele se
orientou, então, para as funções do Estado-Maior. E serve, por isso, de 1908 a 1910, como adido militar em Tóquio. Ele é,
assim, iniciado à geopolítica dos militares e à dos diplomatas.
Em relação à hipótese geoestratégica do poder mundial elaborada por Karl Haushofer, julgue (C ou E) os itens
subsequentes.
1. A panregião da Euráfrica, sob liderança alemã, englobava a Rússia, subordinada aos imperativos geopolíticos das
potências europeias.
COMENTÁRIO
2. A idealização de panregiões comandadas por potências específicas da Europa, Ásia e América estava associada
à neutralização do Império britânico, concebido como panregião fragmentada.
COMENTÁRIO
Haushofer via o Império Britânico como a maior ameaça à expansão alemã. E de fato, a panregião fragmentada
era composta pela Inglaterra e suas colônias. Gabarito: Certo
3. A formação das panregiões impedia a consolidação de espaços autárquicos, devido às diversas faixas latitudinais
dessas áreas de influência estratégicas.
COMENTÁRIO
4. Segundo essa hipótese, o objetivo estratégico baseava-se na consolidação do poder marítimo e naval mundial
sob o comando da Alemanha.
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COMENTÁRIO
Não, cada panregião teria seu comando central (Alemanha, Rússia, Estados Unidos e Japão). Gabarito: Errado
Skyman e o Rimland
No período entreguerras, os Estados Unidos passaram por um grande debate a respeito da atuação
do país nas relações internacionais. Neste contexto, destacavam-se duas posições antagônicas: realismo
político versus idealismo político. Os idealistas defendiam um sistema de segurança coletiva, no qual
houvesse uma comunidade de poder internacional a fim de resguardar a paz mundial, como por exemplo, a
recém-fundada Liga das Nações após a Primeira Guerra Mundial. Os realistas, mais céticos, e de certo modo
maquiavélicos, afirmavam que a paz só poderia ser mantida por meio da força e do expansionismo.
A paz só será atingida se os EUA forem enérgicos e proativos nas relações internacionais,
Realismo
garantindo assim, seus interesses.
Idealismo A paz só será atingida por meio de diálogo (por exemplo, Liga das Nações).
Além disso, haviam debates entre o isolacionismo político versus o intervencionismo político. Os
primeiros, achavam que os Estados Unidos, inseridos em um contexto geográfico favorável entre dois
oceanos, deveriam se isolar do mundo, não se envolvendo, por exemplo, em problemas europeus. Já os
intervencionistas, acreditavam na interferência direta norte-americana em assuntos extracontinentais para
a obtenção de um poder mundial equilibrado.
Os EUA estão seguros entre dois oceanos, então devem se isolar do mundo para
Isolacionismo
evitar problemas.
Intervencionismo Os EUA devem interferir em assuntos externos para garantir sua segurança.
Foi neste contexto que as ideias do professor intervencionista e realista Nicholas Spykman (1893-
1943) ganharam eco. Professor da Universidade de Yale, Spykman via o sistema internacional como
essencialmente anárquico e belicoso, cujo comando não dependeria de um governo centralizado, mas sim,
de um sistema de livre concorrência entre os Estados nacionais. Neste modelo, embora os Estados tivessem
soberania em seus territórios, no cenário internacional, o uso da força seria desmonopolizado. Embora o
sistema-mundo fosse “anárquico”, e visto que o equilíbrio da força seria desproporcional, Spykman
acreditava que algumas potências controlavam o destino do planeta.
Para Spykman, os Estados Unidos estariam em uma posição privilegiada, entre dois oceanos, o que
garantiria certo isolacionismo geográfico; entretanto, o país estaria vulnerável a ataques marítimos.
Criticando esta visão isolacionista, Spykman afirmava que a primeira linha de defesa norte-americana
deveria estar fora dos Estados Unidos, do outro lado dos oceanos Atlântico e do Pacífico. Isto significava
avançar as forças norte-americanas nas extremidades do continente Eurasiático. Conforme a imagem a
seguir:
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Para Spykman, o controle das porções litorâneas da Europa e da Ásia seria fundamental para o
domínio geopolítico global. Assim como a Inglaterra ocuparia uma posição insular em relação ao restante da
Europa, os Estados Unidos seriam uma “ilha” entre a Ásia e a Europa, o que lhe garantiria posição dominante.
Estas bordas oceânicas estratégicas situadas na Eurásia seriam chamadas de Rimland – literalmente “terras
das bordas”.
Além disso, é importante ressaltar que o mundo havia mudado bastante desde a época de Mackinder
– criador da teoria do heartland entre os séculos XIX e XX. A partir da Primeira Guerra Mundial, além do
poder naval e terrestre, a descoberta e a implantação de aviões de guerra alterou profundamente o jogo
geopolítico global; o que relativizou a inacessibilidade do heartland, abrindo assim, possibilidades para
novas teorias, como a do rimland.
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Nas últimas décadas, o mundo passou por intensas transformações, tais como: a compressão
espaço-tempo, a globalização, o aumento da preocupação ambiental, o fim do comunismo político e a
consagração dos Estados Unidos como potência hegemônica global. A integração global – nos âmbitos
tecnológico, comercial, cultural e financeiro – juntamente à ascensão de países emergentes como a China e
a Índia, alteraram significativamente o foco geopolítica no final do século XX, trazendo novos desafios à
disciplina.
Para a geógrafa Iná Elias de Castro, as questões colocadas para a geografia política no início deste
terceiro milênio são bem mais amplas do que aquelas que inspiraram seus fundadores no final do século
XIX. De uma perspectiva que tinha o Estado nacional como eixo central, a geopolítica atual parte para uma
concepção de território que envolve elementos como o ciberespaço, a cultura global, e a interdependência
mundial. O avanço do capitalismo faz com que o Estado deixe de ser o agente central no poder territorial,
tornando-se apenas um dos atores no processo geopolítico. O Estado, neste novo contexto, torna-se
necessário para a reprodução e a normatização do capital transnacional, que desconhece fronteiras e
barreiras geográficas. Do mesmo modo, os avanços tecnológicos e a introdução do meio técnico-científico-
informacional flexibilizam os tradicionais conceitos de geopolítica clássica como o heartland, o rimland, o
Estado ratzeliano, entre outros.
Densidade do comércio global (2015). Em um mundo cada vez mais globalizado, o “Estado nacional” perde força geopolítica e outros elementos ganham.
Além do mais, com o fortalecimento dos blocos econômicos internacionais (em especial à União
Europeia, que é uma sólida união monetária), bem como órgãos diplomáticos como a Organização das
Nações Unidas (ONU), e acordos bilaterais de comércio, o mundo torna-se menos competitivo no sentido
militar e mais competitivo no âmbito econômico. Outro elemento não menos importante nesta nova
configuração da geopolítica contemporânea é a questão ambiental, principalmente no que se refere aos
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acordos e protocolos internacionais para a mitigação das mudanças climáticas. Não se preocupem,
estudaremos a questão ambiental com mais profundidade nas próximas aulas.
A seguir, seguem dois quadros-síntese. O primeiro elenca as principais mudanças na geopolítica entre
os séculos XIX e XXI. Já o segundo, sintetiza os principais autores da disciplina (logicamente, os nomes com
maior probabilidade de cair no CACD), juntamente aos seus respectivos contextos históricos e políticos.
Geopolítica 21
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O que é território?
Base material e simbólica da sociedade. Termo jurídico: extensão ou base geográfica do Estado, sobre a
qual ele exerce a sua soberania e que compreende todo o solo ocupado pela nação, inclusive ilhas que lhe
pertencem, rios, lagos, mares interiores, águas adjacentes, golfos, baías, portos, e também, a faixa do
mar exterior que lhe banha a costa e que constitui suas águas territoriais, além do espaço aéreo
correspondendo ao próprio território. Ecologia: área que um animal ou grupo de animais ocupa, e que é
defendida contra a invasão de outros indivíduos da mesma espécie.
Para Hanna Arendt, o poder corresponde à habilidade humana de não apenas agir, mas agir em
uníssono, em comum acordo. O poder jamais é propriedade de um indivíduo, mas pertence ele a um grupo
e existe apenas enquanto o grupo se mantiver unido. Para Arendt, portanto, quando dizemos que alguém
"está no poder", na verdade, estamos nos referindo ao fato desta pessoa encontrar-se revestida por um
certo número de pessoas, para atuar em seu nome. Se o grupo onde origina-se o poder desaparece, o poder
individual também desaparece. Esta definição serve perfeitamente ao intuito da geografia, pois na
sociedade, o poder é exercido de forma territorial.
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espaço delimitado pelo poder estatal, mas sim, delimitado por diversas formas de poder. Conforme Rogério
Haesbert, o território existe em múltiplas escalas.
Estes conflitos, de certo modo, materializam-se no espaço geográfico, dando origens aos territórios
controlados por diferentes e conflitantes formas de poder, que não necessariamente correspondem ao
Estado nacional. Conforme vimos na primeira aula, o meu bairro, por exemplo, está inserido no território
municipal, no território estadual, e no território federal. Também pode estar inserido em territórios
paralelos, como por exemplo, no território do tráfico de drogas, no território da prostituição, ou no território
dos vendedores ambulantes. E além disso, pode estar inserido no território de blocos econômicos como o
Mercosul, ou em territórios dominados por empresas transnacionais.
Invasão/ocupação do MST (Centro-Oeste), região da Cracolândia (São Paulo), e tribo indígena (Amazonas). Nestes casos, de quem é o território?
Do Estado ou dos agentes que o ocupam?
Assim como ocorre com o espaço geográfico, o território também é construído dialeticamente, isto
é, apresentando profundas desigualdades. Portanto, existem várias formas de território. Para o geógrafo
Rogério Haesbert, o território oficial do Estado seria o território-zona, uma área contínua, onde é exercido
o poder normativo burocrático estatal. Por outro lado, o território-rede seria pulverizado (não-contínuo)
correspondendo ao raio de ação do capital hegemônico, como as cidades globais e os espaços tomados pelo
meio técnico-científico-informacional. De forma excludente, para além do Estado (território-zona) e do
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grande capital (território-rede), haveriam territórios marginalizados, chamados pelo autor de aglomerados
humanos de exclusão.
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Desde Ratzel até os dias atuais, a questão das fronteiras sempre foi um tema bastante recorrente na
geografia política. Tratam-se, basicamente, de áreas-limite entre dois ou mais países, podendo ser naturais
(entre rios, linhas de cumeada de morros e montanhas), ou simplesmente geométricas, inferidas sobre
coordenadas geográficas. No Brasil, a “faixa de fronteira” possui 150km de largura, abrangendo os
municípios internos. Há uma diferença, no entanto, entre fronteira (federal), divisa (estadual) e limite
(municipal). Fronteira é só a delimitação entre dois ou mais países.
Fronteira: Limite linear entre dois ou mais países. Com exceção de Chile e
Equador, todos os países da América do Sul fazem fronteira com o Brasil.
Divisa (de estado): Limite linear entre dois ou mais estados da federação. O
Brasil possui 26 estados mais o Distrito Federal, totalizando 27 unidades.
Limite (municipal): Limite linear entre dois ou mais municípios. O Brasil tem
5.570 municípios.
Para a compreensão do contexto fronteiriço, é necessário que se tenha um olhar regional, de acordo
com os processos históricos de formação territorial. Grande parte das fronteiras entre países do mundo
subdesenvolvido foram traçadas ou fortemente influenciadas por grandes potências, especialmente na
África, mas também na América Latina e na Ásia. O geógrafo Wanderley Messias da Costa aponta que 21%
das fronteiras do mundo foram traçadas por ingleses, e 17% por franceses. Por meio da Conferência de
Berlim (1884-1885), os europeus literalmente fatiaram a África de forma arbitrária de acordo com seus
interesses comerciais, ignorando tribos, comunidades tradicionais, e grupos rivais que guerreavam entre si.
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Na Ásia, a situação é mais complexa do que parece ser: a tradição milenar de países como China,
Mongólia, e Japão ajudaram a moldar as fronteiras atuais; no entanto, a colonização do rimland asiático
teve grande papel nesse contexto. Os territórios de Índia, Paquistão e Birmânia, por exemplo, foram
colonizados pela Inglaterra, que também mantinha influência na Pérsia e no Afeganistão; a Indochina (atual
Vietnã, Laos e Camboja) foi conquistado pela França; as Índias Holandesas, atual território da Indonésia,
foram colonizadas pela Holanda; e as Filipinas, pela Espanha. No Oriente Médio, as fronteiras foram
moldadas principalmente por disputas milenares impulsionadas por motivos religiosos. Berço das três
principais religiões do mundo – judaísmo, cristianismo, e islamismo – o Oriente Médio foi dominado pelo
Império Persa e pelo Império Romano do Oriente. Após a Segunda Guerra Mundial, a criação do Estado de
Israel (1947) alterou profundamente as fronteiras na região, sendo até hoje, palco de conflitos entre
israelenses e palestinos, questão de alta complexidade que não cabe aqui.
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Do mesmo modo, o protecionismo econômico – tão combatido nos anos 1990, no auge da euforia
da globalização – ainda não entrou em extinção. Muito pelo contrário, em alguns locais do mundo, tende a
ser acentuado, restringindo a intensidade de alguns fluxos de comércio internacional. A transição do modelo
fordista para o modelo de acumulação flexível possibilitou maior fluidez do território, bem como a
diminuição – porém, não extinção – do poder dos Estados nacionais. O sistema geopolítico pós-moderno,
portanto, é bastante diferente do encontrado no início do século XX, quando a maioria das teorias
geopolíticas foram concebidas.
Isto não quer dizer que os conflitos deixaram de existir, mas sim, que mudaram sua natureza. Desde
a Guerra Fria, e principalmente no decorrer do século XXI, as principais guerras não ocorrem mais entre as
potências, mas sim, entre potências contra países subdesenvolvidos, ou entre os próprios países
subdesenvolvidos. Então, embora seja discutível, por exemplo, um conflito envolvendo Estados Unidos
(potência) e Coréia do Norte (país subdesenvolvido), atualmente seria muito improvável a ocorrência de
conflitos armados diretos entre, por exemplo, Estados Unidos (potência) e China (potência).
Exemplos destes conflitos podem ser citados: as guerras do Golfo (1991), do Afeganistão (2001), do
Iraque (2003), da Síria (2011), ou do Estado Islâmico (2013) Além disso, apesar das potências terem parado
de guerrearem diretamente entre si, os conflitos sul-sul continuam bastante sangrentos, ou até se
intensificaram. Destacam-se, por exemplo: os massacres de Ruanda (1994), ou os conflitos separatistas na
Iugoslávia (1991). Países subdesenvolvidos como Somália, Iêmen, Nigéria, Líbia, Síria, Egito, e Venezuela,
atualmente passam por dolorosos processos de guerra civil interna, o que resulta em milhares de mortos
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anualmente. Importante frisar, portanto, que no século XXI, os conflitos não deixaram de existir, apenas
mudaram sua natureza, saindo do centro para a periferia global.
Mapa dos conflitos globais evidencia que os maiores focos de tensão estão no mundo subdesenvolvido.
Com a diminuição de poder dos Estados nacionais protagonizada pela globalização, o território deixa
de ser tão importante quanto era na época de Ratzel, e posteriormente, na época de Mackinder, Mahan, e
Spykman. Na atualidade, ao contrário do que ocorria no século XIX, possuir recursos naturais no “espaço
vital”, não é tão “vital” assim: por muitas vezes, com a aceleração dos fluxos, sai mais barato comprar
recursos naturais do que invadir territórios para possuí-los. Países como Nova Zelândia, Japão, Hong Kong
e Singapura, são pobres em recursos naturais, porém, como constituem “nós” do capitalismo financeiro, são
plenamente desenvolvidos. Por outro lado, países da África subsaariana – região rica em minerais –
compõem os piores indicadores socioeconômicos do planeta. Evidentemente, países como Rússia, China,
Índia, Indonésia e Brasil, possuem o crescimento facilitado pela questão dos recursos naturais, mas hoje, não
é mais um fator primordial.
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A Venezuela (ainda) não está oficialmente em Guerra Civil, mas está quase. As
Guerra Civil na Não tensões ocorrem devido à má administração econômica e ao totalitarismo do
Venezuela iniciou ditador Nicolás Maduro, o que provoca protestos e crise generalizada em todo o
país; provocando inclusive, a migração em massa para o norte do Brasil.
A Coréia do Norte não está em guerra, no entanto, as tensões com os EUA estavam
aumentando cada vez mais em 2017. Famoso pela violação aos direitos humanos,
o agressivo ditador Kim Jong-um estaria desenvolvendo o programa nuclear,
Guerra na Coréia Não
gerando preocupação nos EUA e dos vizinhos Japão, e Coréia do Sul. Atualmente,
do Norte iniciou
no entanto, há uma tendência das tensões se acalmarem. Após fortes sanções
econômicas aplicadas no início de 2018, a Coreia do Norte está finalmente
mostrando interesse em mais aproximação com o ocidente.
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Inspirado nos Estados Unidos da América, a república dos “Estados Unidos do Brasil” também foi,
pelo menos teoricamente, concebida com base no modelo das treze colônias do norte. Entretanto, enquanto
nos Estados Unidos o federalismo surgiu da necessidade de reunir as unidades administrativas; no Brasil,
veio devido à necessidade de descentralizar o poder imperial. Ao contrário dos Estados Unidos, onde o
poder emana “de baixo para cima”; no Brasil, emana, na prática, de “cima para baixo” numa estrutura
verticalizada e de pouca autonomia.
Conforme vimos nas aulas anteriores, no Brasil, o Estado nacional foi artificialmente concebido. Até
o século XIX, vigoravam resquícios do modelo de “arquipélago econômico”, altamente fragmentado e
voltado para o exterior. Durante o Período Regencial, por exemplo, ocorreram várias revoltas separatistas
de grupos que não se viam representados pela unidade central de poder. Foi somente no século XX que,
impulsionado pela maciça propaganda do Governo Federal, o regionalismo foi progressivamente cedendo
espaço ao sentimento de identidade nacional.
É um acordo de base territorial no qual grupos localizados em diferentes partes de um território organizam-
se em busca da harmonização entre suas demandas particulares e os interesses gerais da sociedade que
eles têm por objetivo construir. Por se tratar de acomodação de diferenças há, portanto, uma constante
tensão nesse pacto, cabendo aos arranjos institucionais organizar os interesses e controlar os conflitos.
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Atualmente, no entanto, embora seja mascarado pelo bem construído imaginário de unidade
nacional, o regionalismo ainda é bastante expressivo, exercendo influência na política e na economia do
país. Conforme analisa Castro, como no Brasil existem poucas diferenças étnicas, linguísticas e religiosas
regionalizadas – que na maioria dos países constituem os signos a identidade territorial –, as estratégias
políticas regionais raramente mereceram lugar de destaque na literatura acadêmica ou em documentos
técnicos.
O Brasil é abrangido uma grande disparidade territorial regional, tanto nos aspectos de produção,
povoamento, distribuição de renda, ou no que diz respeito ao acesso aos equipamentos sociais. Conforme
vimos na aula sobre Geografia Agrária, o Índice de Gini brasileiro – que mede a desigualdade social – possui
média superior aos demais países da América Latina. Este imenso contraste entre os estados e municípios
provoca um abismo na arrecadação de impostos no Brasil. Confrontando os dados do Portal da
Transparência (2015) sobre o montante pago pelos estados da federação [fonte] com os dados de população
do Censo Demográfico (2010) do IBGE, é possível saber a situação fiscal de cada unidade da federação; ou
seja, quem “sustenta” e quem é “sustentado” no Brasil. A diferença entre o que é recebido pelo que é
fornecido, pode ser visualizada no gráfico abaixo:
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Diferença do valor per capita (R$ por habitante) pago (azul) ou recebido (vermelho) para/do Governo
Federal em impostos (2015)
Nota-se, que enquanto paulistanos e fluminenses desembolsam mais de dez mil reais para manter
a “máquina” funcionando, acreanos e roraimenses recebem mais de três mil. Os sete estados mais
superavitários são das regiões sudeste e sul. Da região nordeste, o único estado que “dá lucro” é
Pernambuco, que depende menos dos repasses federais. Grosso modo, o Governo Federal arrecada
impostos das regiões mais ricas e investe em estados mais pobres, onde a vulnerabilidade social é maior.
Os impostos arrecados no sul e no sudeste servem para minimizar as disparidades territoriais. Na foto, transposição do Rio São Francisco e
Sistemas de Cisternas, na região nordeste.
Este assunto deve ser tratado com bastante cuidado. Por um lado, moradores da região concentrada
certamente devem se indignar com esta situação, fomentando inclusive, anseios separatistas. Por outro, sem
estes impostos, as áreas mais pobres do país – que já se encontram em situações delicadas de
desenvolvimento humano – ficariam ainda mais vulneráveis. Além disso, para alguns economistas, as
diferenças do território teriam seu lado positivo, como por exemplo, a exportação de produtos da região
Sudeste para as demais áreas do Brasil, ou a histórica incorporação de mão de obra do Nordeste que
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impulsionou a construção econômica do Centro-Sul. Para o entendimento destes números, portanto, devem
ser consideradas as diferentes formas de ocupação histórica do território, que no Brasil, ocorreram de forma
bastante desigual. Não cabe aqui, portanto, encerrar o assunto.
Simulado
CACD/2014 – Questão 27
Se necessário for definir um paradigma para a geopolítica desde que se constituiu como disciplina,
certamente este seria o do realismo, no campo das relações internacionais. A obra de Friedrich Ratzel,
teorizando geograficamente o Estado (1897), constitui uma fonte crucial para a análise das relações entre o
Estado e o poder.
B. Becker. A geopolítica na virada do milênio. In: Geografia: conceitos e temas, Castro et al. (Orgs.). Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 1995, p. 273 e 277 (com adaptações).
Acerca do paradigma mencionado no fragmento de texto acima e de suas relações com a obra político-
geográfica de Friedrich Ratzel, julgue (C ou E) os itens a seguir.
1) As leis do crescimento espacial dos Estados enunciadas por Ratzel retificam os princípios básicos do
realismo político.
2) Por reconhecer a exclusividade dos Estados como atores internacionais, o realismo político coaduna-se
com os parâmetros da geopolítica clássica.
3) Por considerar o Estado como organismo vivo, a geografia política ratzeliana contradiz o paradigma do
realismo político
CACD/2014 – Questão 28
Karl Haushofer era militar de carreira, mas sua saúde frágil tornou-lhe difícil o exercício de comando na
guerra. Ele se orientou, então, para as funções do Estado-Maior. E serve, por isso, de 1908 a 1910, como
adido militar em Tóquio. Ele é, assim, iniciado à geopolítica dos militares e à dos diplomatas.
Em relação à hipótese geoestratégica do poder mundial elaborada por Karl Haushofer, julgue (C ou E) os
itens subsequentes.
4) A panregião da Euráfrica, sob liderança alemã, englobava a Rússia, subordinada aos imperativos
geopolíticos das potências europeias.
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5) A idealização de panregiões comandadas por potências específicas da Europa, Ásia e América estava
associada à neutralização do Império britânico, concebido como panregião fragmentada.
6) A formação das panregiões impedia a consolidação de espaços autárquicos, devido às diversas faixas
latitudinais dessas áreas de influência estratégicas.
7) Segundo essa hipótese, o objetivo estratégico baseava-se na consolidação do poder marítimo e naval
mundial sob o comando da Alemanha.
CACD/2016 – Questão 30
País de território misto, marcado a um só tempo pela continentalidade e maritimidade, o Brasil tem, na
análise dos clássicos da teoria geopolítica relacionados ao poder naval (Mahan) e na da teoria do poder
terrestre (Mackinder), importantes questões para a discussão de uma visão estratégica contemporânea, em
um contexto em que há um importante aumento da estrutura política e econômica do país no cenário
mundial.
Ronaldo Gomes Carmona. Geopolítica clássica e geopolítica brasileira contemporânea: Mahan e Mackinder
e a “grande estratégia” do Brasil para o Século XXI. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2012 (com
adaptações).
Tendo como referência inicial o trecho do texto de Ronaldo G. Carmona, julgue (C ou E) os itens seguintes,
acerca de continentalidade, maritimidade e geopolítica brasileira no século XXI.
8) A vasta extensão territorial do Brasil, que corresponde a 47% do território sul-americano, indica a
necessidade de segurança das fronteiras com seus países vizinhos, de responsabilidade dos órgãos de
segurança pública, da Secretaria da Receita Federal e das forças armadas.
9) Em relação à segurança nacional, as bacias hidrográficas amazônica e do Paraguai são consideradas não
prioritárias, em razão de seu isolamento e distanciamento em relação aos grandes centros urbanos do
centro-sul do país e também da ocupação rarefeita da população nas regiões onde se situam.
10) A Política de Defesa Nacional destaca a importância do controle e defesa dos chamados ativos
estratégicos do Brasil: fontes de água doce e de energia, biodiversidade, imensas reservas de recursos
naturais e extensas áreas a serem incorporadas ao sistema produtivo nacional.
11) O fato de o Brasil possuir um vasto litoral com importantes reservas de recursos naturais é, por si só,
indicativo de que o país deve investir na força naval de defesa de seu território oceânico.
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Antônio Carlos Robert Moraes. Apud: Auro de Jesus Rodrigues. Geografia: introdução à ciência geográfica.
São Paulo: Editora Avercamp, 2008 (com adaptações).
12) Os estudos da geografia na França, com uma formação filosófica e social mais humanista, voltavam-se,
no período citado, para os estudos das diferenças entre as várias regiões do país e do mundo, com
apontamentos das causas do subdesenvolvimento das colônias e da riqueza das metrópoles.
13) O levantamento e a descrição de informações nos trabalhos geográficos do século XIX e do início do
século XX foram influenciados pela ideia de multidisciplinaridade das ciências. Assim, as informações sobre
paisagens e regiões eram apresentadas, de forma detalhada, com sessões conjuntas para fatos humanos
(população, economia, povoamento etc.) e fatos naturais (clima, relevo, vegetação, geologia, hidrografia,
recursos naturais).
14) Os estudos geográficos constituíram, no período citado, uma justificativa ideológica de legitimação da
exploração de outros povos pelos países imperialistas, em substituição à religião, cujas explicações para tal
exploração estavam sendo questionadas, com a difusão do conhecimento científico.
15) O determinismo geográfico serviu para a legitimação das políticas expansionistas dos países imperialistas
europeus, notadamente o alemão. O geógrafo alemão Ratzel, por exemplo, teorizou a relação entre os
Estados nacionais e seu território, apontando que o potencial de desenvolvimento de um Estado-nação se
daria basicamente pela relação entre dois fatores: a população e os recursos naturais do território.
Gabarito
GABARITO
1 E 5 C 9 E 13 E
2 C 6 E 10 C 14 C
3 E 7 E 11 C 15 C
4 E 8 C 12 E 16 E
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O caso da Ucrânia e de sua região da Crimeia é fato que reafirma a teoria de Sir Halford
Mackinder (1904) como modelo para a análise das relações internacionais dos blocos de
poder e entre os países. Em face dessa informação, analise, com base nos conceitos
clássicos da geografia política, a atual geopolítica mundial, considerando as negociações
diplomáticas entre os Estados Unidos da América (apoiados pela União Europeia), de um
lado, e a Rússia, de outro. Extensão máxima: 60 linhas [valor: 20 pontos]
Além dos conteúdos de Geografia, a questão também exige que o aluno esteja antenado
nas atualidades, pois o aluno precisa saber o que está em jogo na Criméria (assunto fartamente
comentado nos jornais na época da questão). Aliás, fica uma dica: questões discursivas de
geopolítica quase sempre caem relacionadas a atualidades. Além dos clássicos Israel-Palestina
e Síria-Iraque, fiquem de olho na Coreia do Norte, pois este ano (2018) poderá cair.
No caso da Criméia, podemos utilizar principalmente a teoria do Heartland (Mackinder),
afinal, trata-se de uma região terrestre de influência disputada pela União Europeia e pela
Rússia (onde Mackinder situou o heartland).
Resolução da questão
Por outro lado, cada vez mais a Ucrânia vem sofrendo o assédio da influência europeia:
em contraposição ao histórico domínio russo no leste europeu, a União Europeia vem se
expandido para os antigos países-satélites da União Soviética. Em 2004, Polônia, República
Tcheca, Eslováquia, Hungria, Eslovênia, Lituânia, Letônia e Estônia entraram no bloco. Em 2007,
foi a vez dos bálticos Romênia e Bulgária. A adesão da Turquia, embora negada, ainda está em
cogitação. A União Europeia, deste modo, está expandindo-se para leste. Foi neste contexto que
as tensões entre Rússia e Ucrânia emergiram em meados de 2014. Neste ano, o presidente
Victor Yanukovick recusou um acordo com o bloco europeu. Se por um lado, a decisão agradou
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- Entender o jogo de poder existente no leste europeu: (disputa de influência entre Rússia e
União Europeia).
- Entender a importância da Criméia na questão energética (gasodutos UE-Rússia).
- Entender a importância da Criméia para viabilizar a saída russa ao Mar Mediterrâneo.
- Aplicar a teoria do Heartland (Mackinder) para explicar o leste europeu (disputa terrestre de
influência entre Rússia e UE).
- Entender a expansão da União Europeia para o leste (evidenciada pela recente
incorporação dos países balcânicos ao bloco).
- Entender as tensões ocorridas na Ucrânia (2013) (cujo estopim foi a rivalidade União
Europeia-Rússia), e a intervenção militar russa daí decorrente.
- Entender a anexação da Crimeia à Rússia (ocasinada por um referendo, cuja maioria da
população de origem russa aprovou a anexação).
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- Entender as críticas à anexação da Criméia (que teria sido feita de forma unilateral).
- Aplicar a teoria do cordão sanitário de Spykman (contensão da URSS pelos EUA) à
atualidade (contensão da Rússia pela União Europeia).
- Entender a importância da Rússia com base nas Pan-Regiões de Haushoffer.
Novamente, outra questão pedindo para o aluno relacionar geopolítica com atualidades.
É preciso, portanto, estar por dentro dos conflitos do Oriente Médio e das intencionalidades
norte-americanas na região. Aliás, é uma questão que cobra mais atualidades do que geografia
propriamente dita: dá para responder 90% dela somente lendo jornais. Daí a importância de se
manter atualizado.
Resolução da questão
Neste contexto, o Oriente Médio possui vasto leque de recursos naturais estratégicos,
dos quais o principal é o petróleo; detendo também, grande potencial de investimentos
estrangeiros, principalmente no que diz respeito aos setores de construção civil e mineração.
No entanto, as características políticas e culturais impedem, ou dificultam bastante o projeto
de dominação norte-americana nesta área: com exceção de Israel – única nação democrática do
Oriente Médio – os países da região constituem ditaduras militares, ditaduras religiosas, califados,
sultanatos, e demais formas de poder centralizado. Desde o norte da África até o Paquistão, toda
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a região islâmica é palco de conflitos armados. Além disso, a maioria destes países possui
aversão ao ocidentalismo, especialmente aos norte-americanos. Por esses e outros motivos, os
Estados Unidos vêm tentando vencer resistências, implantar governos favoráveis ao Ocidente,
tanto pela guerra quanto por meio de acordos diplomáticos. Os exemplos mais dramáticos de
intervenção militar americana na contemporaneidade são a Guerra do Afeganistão (2001-2011) e
a Guerra do Iraque (2003), que deixaram – e ainda deixam – trágicas consequências sociais.
Nestas áreas, apesar da facilidade das forças americanas em vencerem os exércitos iraquiano e
afegão, há uma notória dificuldade em superar a resistência de milícias armadas. Por serem
descentralizadas, o combate torna-se difícil, custoso, e ineficiente. Soma-se à isso, o fato da já
existência de conflitos entre as diferentes correntes do islã, como xiitas, sunitas, e curdos, o que
acirra ainda mais as tensões regionais.
Ainda no aspecto militar, nos últimos anos, os Estados Unidos têm procurando assegurar
sua influência na Síria, combatendo as tropas pró-Bashar Al Assad – ao contragosto da
Rússia, que apoia o ditador – e alvejando pontualmente instalações do grupo extremista Estado
Islâmico, que já domina grande parte da Síria e do Iraque. Por outro lado, do ponto de vista
diplomático, os Estados Unidos têm realizado acordos de cooperação militar com Paquistão e
Israel (este último, seu aliado histórico), bem como à Arábia Saudita, onde recentemente, o
presidente Donald Trump assinou um acordo bilionário de comercialização de armas.
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A história do Império Otomano é longa, confusa e cheia de conflitos. Ao meu ver, trata-se
de uma das questões mais difíceis do curso, pois além do entendimento do Império Otomano, o
aluno precisa contextualizar o cenário europeu em 1916 e obviamente, saber do acordo de
Sykes-Pikot e suas implicações. Apesar de ser classificada como questão de geografia, na
prática, possui maior peso em história internacional.
Resolução da questão
Agregando vários países islâmicos porém admitindo certa liberdade religiosa, o Império
Otomano foi uma das maiores potências do mundo: até o século XVIII, sobretudo por meio da
sua próspera capital Constantinopla, consistia um dos principais elos de comunicação entre o
Oriente e o Ocidente. No entanto, a partir do século XIX – muito antes do acordo de Sykes-Pikot, o
Império Otomano começou lentamente a ruir. A grande variedade cultural e econômica – aliada
à crescente falta de reconhecimento ao poder central – favoreceu rebeliões e ondas separatistas,
culminando em significantes perdas territoriais no século XIX. Quando a Primeira Guerra Mundial
(1914-1918) emergiu no cenário internacional, o já fragilizado Império Otomano se aliou à Tríplice
Aliança formada por Alemanha, Itália e Áustria-Hungria. No entanto, como este grupo perdeu o
conflito, o Império Otomano faliu oficialmente em 1923, fragmentando-se em vários países como
Turquia, Síria, Iraque e Jordânia.
O princípio geopolítico majoritário para este domínio franco-britânico foi o princípio das
áreas de influência. Isto é, para que uma potência seja caracterizada como tal, deve ter o maior
raio de ação territorial possível, também estendendo seus poderes para o maior número possível
de países. Vale ressaltar que a Ásia Menor corresponde a uma região estratégica, cuja influência
historicamente foi rivalizada entre Rússia e outras grandes potências (especialmente Inglaterra),
correspondendo ao que se chama de “Grande Jogo”. Até hoje, a Turquia (principal país
remanescente do Império) constitui área de vital importância para a comunicação marítima
ocidente-oriente. Deste modo, seria natural que despertasse a cobiça dos países vencedores da
Primeira Guerra Mundial.
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Bibliografia sugerida
Para esta aula, recomendo duas obras. O livro Geografia Política e Geopolítica faz um apanhado geral
sobre o tema, discorrendo desde a geopolítica clássica do século XIX até os discursos e conceitos geopolíticos
como imperialismo, poder marítimo, heartland, até a geografia política entre e durante as guerras mundiais
e seus desdobramentos no continente sul-americano.
COSTA, Wanderley. Geografia Política e Geopolítica. São Paulo: EDUSP; Hucitec, 1992.
CASTRO, Iná Elias de, et alli. Geografia: Conceitos e Temas. Rio de Janeiro: Bertrand, 10 edição.
BECKER, Bertha. "A Geopolítica na virada do milênio: Logística e Desenvolvimento Sustentável". P.
271-307.MELLO, Leonel Itaussu. Quem tem medo de geopolítica? São Paulo: Editora Hucitec, 1999.
Cap. 1, 2, 3 e 4- Pág. 11-133.
Além do livro do Wanderley Messias da Costa, recomendo os textos da Bertha Becker sobre
geopolítica presentes na obra Geografia Conceitos e Temas, que fornecem uma visão complementar para a
contemplação do edital. Inclusive, este livro Conceitos e Temas é tão fundamental para tantos aspectos da
geografia, que o recomendo também para a compreensão das próprias categorias de análise desta ciência,
tais como: espaço geográfico (texto de Roberto Lobato Correa), de região (texto de Paulo Cesar Gomes),
de território (texto de Marcelo Souza), e de redes (texto de Leila Dias).
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