O Novo Jornalismo Popular: Serviço Ou Sensacionalismo?: Uma Análise Comparada Entre Os Jornais
O Novo Jornalismo Popular: Serviço Ou Sensacionalismo?: Uma Análise Comparada Entre Os Jornais
O Novo Jornalismo Popular: Serviço Ou Sensacionalismo?: Uma Análise Comparada Entre Os Jornais
Brasília
2009
DANIELA PIRES CARDOSO
Brasília
2009
DANIELA PIRES CARDOSO
Banca Examinadora
_____________________________________
Prof. Fernando Braga
Orientador
__________________________________
Prof.ª Mônica Prado
Examinadora
__________________________________
Prof. Severino Francisco
Examinador
Este trabalho é dedicado a todos(as) que,
direta ou indiretamente, contribuíram para
que eu chegasse até aqui.
“Matou a sua rival com água fervendo”
Manchete do jornal Notícias Populares, de
São Paulo, em 11/04/1970
1 INTRODUÇÃO .................................................................................. 11
1.1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 13
1.1.1 Objetivo geral ................................................................................................... 13
1.1.2 Objetivos específicos........................................................................................ 13
1.2 CORPUS ............................................................................................................. 14
1.3 ABORDAGEM TEÓRICO-METODOLÓGICA ..................................................... 14
REFERÊNCIAS .................................................................................... 60
1 INTRODUÇÃO
Tendo em vista que o principal objetivo das grandes empresas jornalísticas foi
meramente criar um novo mercado, fundado nas classes C e D, que são as menos
escolarizadas, e que entretenimento é mais fácil de ser vendido e consumido,
especialmente por essa parte da população, acreditamos que o jornalismo popular
contemporâneo continue pautado pelo sensacionalismo, sem se preocupar com a
formação crítica dos leitores das classes C e D.
1.1 OBJETIVOS
1.2 CORPUS
Nos Estados Unidos, em 1833, surgia o The Sun, um jornal que “brilha para
todos”. O periódico que, segundo Marcondes Filho (2002), foi o primeiro jornal de
massa do país, abriu mão da política e dos artigos opinativos e deu espaço aos
chamados temas de interesse humano (acontecimentos excepcionais, crimes,
dramas familiares, execuções, suicídios). Segundo Amaral (2006), a cobertura
desses episódios cotidianos assegurou a fidelidade do público e o sucesso do jornal.
O marco do jornalismo popular nos EUA, porém, foram os periódicos New York
World, de Joseph Pulitzer; e Morning Journal, de William Hearst:
diversos jornais, como por exemplo: Folha da Noite, O Dia, Luta Democrática, Última
Hora, Notícias Populares. Os periódicos passam, então, a destacar ilustrações,
fotografias, manchetes e pequenos textos cuja temática girava em torno de
escândalos e tragédias cotidianas:
3 ESPETACULARIZAÇÃO DA NOTÍCIA
O fait divers, ainda segundo Barthes (1999), pode ser classificado em dois
grandes grupos. O primeiro, diz respeito às perturbações da causalidade. Seriam os
acontecimentos inexplicáveis, tais como prodígios, crimes, dramas pessoais
incríveis. São exemplos: “uma mulher esfaqueia seu amante porque eles não se
entendiam bem em matéria de política”; “uma empregada rapta o bebê de seus
patrões porque ela adorava a criança”. O segundo, trata das coincidências. O
destino, a repetição de um acontecimento e o insólito fazem parte deste grupo. “Uma
mesma joalheria foi assaltada três vezes”; “uma hoteleira ganha todas as vezes na
loteria”; “pescadores islandeses pescam uma vaca”, servem como exemplos.
Diante disso, o fait divers pode ser considerado, de acordo com Bernardes
(2004), um meio útil de atrair a atenção da população das classes C e D. Afinal, é o
relato jornalístico que mais se aproxima da ficção e da linguagem oral; que não
exige conhecimentos prévios ou exteriores ao tema; que é facilmente recolhido na
realidade social dessas pessoas; e que, por isso, é facilmente vendável a essa
camada social.
Para Angrimani (1995), todos esses elementos citados têm papel fundamental
na venda de um jornal sensacionalista. O estímulo que leva uma pessoa a sair de
sua casa para comprar tal periódico vem da relação de catarse que se dá entre o
jornal e o leitor. O filósofo Edgar Morin explica:
Conclui Wolf (1995) que essas são as temáticas que possuem maior
capacidade de entretenimento. Este se torna, portanto, o critério mais relevante, em
detrimento de acontecimentos intrinsecamente mais importantes:
São utilizados sinais para indicar aos leitores uma leitura irônica. Repassam
nas ilustrações jocosas que quase sempre acompanham essas notícias,
nas aspas, no uso diferenciado de certas palavras utilizadas nas retrancas,
no título e no texto, ou nos fios negros que envolvem a notícia, sinais que
revelam ao leitor tratar-se de uma pausa no contexto geral da “seriedade
com que as demais notícias devem ser lidas. (MOTTA, 2005)
26
O Notícias Populares era, portanto, um jornal político que evitava falar sobre
política. Tal dicotomia pode ser ilustrada pelo editorial da primeira edição do
periódico, o qual dizia:
São Paulo tem, a partir de hoje, mais um jornal. Precisamente este, que V.
agora manuseia com o mesmo sentido crítico com que o povo forma e
derruba governos. [...] Não procure, nestas páginas, intenções políticas. Isto
o cansaria sem resultado. Outro intuito não há, senão o de dar a V. a visão
cotidiana de São Paulo, do Brasil, do mundo em que vivemos. Um mundo
nem sempre bom, mas cheio de mensagens otimistas: de pujança científica,
de solidariedade entre os povos, de trabalho – por entre todas as
dificuldades inerentes à própria essência da coisa viva. (CAMPOS JÚNIOR
et al, 2002, p.48,49).
O Aqui foi mais ou menos uma evolução, uma imposição do mercado, uma
evolução dos jornais ditos populares. Nós sempre tivemos o nosso jornal
popular, que é o Diário da Tarde, aqui em Minas Gerais. Mas o mercado
começou a exigir um produto menor e mais barato. Como temos intenção
de levar a experiência para todas as praças onde o grupo está presente,
optamos por um nome generalista, nacional, que é o Aqui. (COSTA, 2006)
6.1 O JORNAL
32
6.2 O LEITOR
Plano Piloto – onde os principais compradores são, exatamente, das regiões citadas.
Entre os leitores do Aqui DF, apenas 9,5% deles lêem também o Correio Braziliense.
6.3 INTERATIVIDADE
O Aqui DF é como se fosse uma internet. [...] Você passa o olho [...] e fica
sabendo de tudo que aconteceu na cidade, no Brasil e no mundo. Mas, com
certeza, você não vai conseguir se aprofundar. E essa visão geral é,
inclusive, um dos elogios que nós recebemos. No começo e até hoje. Essas
matérias curtas chamam a atenção da população. (MEIRELES, 2006,
depoimento à autora)
Até hoje ainda há uma certa briga com essa história da mulher na capa.
Mas, nunca ninguém falou que não compraria o jornal por causa disso. Só
falam para colocar um homem de vez em quando. Mas é muito mais fácil
você vender um jornal com uma mulher na capa. (MEIRELES, 2006,
depoimento à autora)
de uma linha, também em caixa alta e em itálico, acima do título principal, “Injetavam
tóxicos na moça. A segunda, “Quadrilha-mirim só roubava aos domingos”, pertence
à categoria dos crimes. Ocupa duas linhas e é grafada em caixa alta. A fotografia
mostra os chamados “pivetes” aglomerados, com tarjas pretas sobre seus olhos. Em
ambas, há um pequeno sutiã, de quatro e de cinco linhas, respectivamente,
detalhando brevemente a notícia e indicando a página da reportagem completa.
Abaixo da manchete principal, há duas notícias. Mais ao centro, em uma
diagramação retangular, encontra-se a foto de Brigitte Bardot, em posição
provocante, com os seios à mostra e a mão sobre a genitália. É a representação do
voyeurismo. Abaixo da fotografia, há o título “BB só se casa com brasileiro”, de duas
linhas e em caixa alta; e um pequeno sutiã, de sete linhas, detalhando uma
curiosidade sobre ela. Não há, porém, indicação de página da reportagem – a
matéria se encerra aí. Ao lado direito, está uma notícia ligada ao homossexualismo,
sob o título, de duas linhas, em caixa alta e em itálico, “Quis provar que era homem:
atacou garota”. Logo abaixo há uma fotografia do rapaz, que pretendeu insinuar sua
sexualidade, e um sutiã de quatro linhas, além da indicação da página da
reportagem.
duas linhas e em caixa alta; e um pequeno sutiã, de oito linhas, detalhando uma
curiosidade sobre ela. Não há, porém, indicação de página da reportagem – a
matéria se encerra aí. Ao lado direito, está uma notícia de crime, sob o título, de
duas linhas, em caixa alta e em itálico, “Fugiram da cadeia e assaltaram o posto!”.
Logo abaixo há uma fotografia do posto assaltado e um sutiã de quatro linhas, além
da indicação da página da reportagem.
detalhamento do que foi noticiado é escasso – não se sabe sequer o nome dos
envolvidos; há apenas a indicação da página da reportagem completa e um
subtítulo, de uma linha, em caixa alta, acima da manchete principal, que diz
“Hospitalizado por comer serpente viva”, pouco acrescentando ao entendimento do
caso.
Abaixo dessa manchete, há duas notícias. Mais ao centro, em uma
diagramação retangular, encontra-se a foto da modelo Trudi Carlson, olhando para o
leitor e insinuando um strip-tease. É a representação do voyeurismo. Abaixo da
fotografia, há o título “Trudi lançou moda do mini”, de duas linhas e em caixa alta; e
um pequeno sutiã, de cinco linhas, detalhando uma curiosidade sobre ela. Não há,
porém, indicação de página da reportagem – a matéria se encerra aí. Ao lado
esquerdo, está uma notícia de crime, sob o título, de duas linhas, em caixa alta e em
itálico, “Autuado em flagrante o porteiro do hotel!”. Logo abaixo há uma fotografia do
suposto criminoso e um sutiã de cinco linhas, além da indicação da página da
reportagem.
Do lado direito da página, aparecem duas manchetes com diagramação
semelhante. A primeira, “Matou seu tio por causa da mexerica”, trata de um
homicídio. Ocupa duas linhas e é grafada em caixa alta e em itálico. Há fotografia do
assassino sendo conduzido por policiais e um pequeno sutiã de cinco linhas,
detalhando brevemente a notícia e indicando a página da reportagem completa. A
segunda, “Jairzinho e Roberto suspensos não jogam hoje contra paraguaios”,
pertence à categoria dos esportes. Ocupa seis linhas e é grafada em caixa alta. Não
há fotografia, subtítulo, nem sutiã; o único indício de detalhamento é a indicação da
página da notícia completa.
No topo da página, há a indicação “Edição de domingo”, além da ilustração
que indica o valor do periódico, ainda à esquerda. Logo abaixo desta, há a logo do
jornal. O rodapé da página traz a manchete “Apolo-13 subiu para a Lua”. Trata de
uma notícia internacional, noticiada pela segunda vez. Vale lembrar que é um
acontecimento ligado ao fantástico, à ida do homem à Lua. Não apresenta foto
ilustrativa e o único indício de detalhamento é feito pela indicação da página da
reportagem. Ocupa uma linha e é grafada em caixa alta.
Fica nítido, ao analisar os dados, que a temática mais valorizada pelo Notícias
Populares está relacionada aos assuntos violentos (homicídio, crime, morte), com 27
chamadas no total, sendo 5 manchetes principais. A categoria é a mais noticiada,
ocupando mais de 50% do jornal, seja com foto (17) ou sem foto (10).
Merece destaque, também, a temática do voyeurismo. É a segunda mais
noticiada na primeira página (7), assim como a segunda em número de fotografias
(7). O tema esteve presente em todas as edições da semana pesquisada, trazendo
sempre fotografia de uma mulher em pose provocante, acompanhado de título e
pequeno sutiã com alguma curiosidade picante sobre ela.
Notícias ligadas a política (4) ou a questões internacionais (2), foram
noticiadas, respectivamente, por viés sensacional e fantástico. No primeiro caso,
mostra a política como uma disputa entre o bem (poder, ditadura) e o mal (povo
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A primeira página destacou sete notícias, cada uma delas em um box de cor
diferente. A manchete principal, “ Onze crimes em 18 horas”, pertence ao subtema
crime. Grafada em caixa alta e em duas linhas, o tamanho da fonte é bem maior do
que o das outras notícias em destaque. Localizada no centro da primeira página,
não apresenta foto para ilustrá-la. O box que contém a chamada é na cor vermelha,
enquanto as letras são todas grafadas em branco. Há um breve detalhamento da
matéria em sutiã, de seis linhas, também localizado abaixo da chamada. A retranca
da matéria diz “violência” e a indicação da página vem logo abaixo do sutiã.
Acima da manchete principal, há um pequeno box retangular amarelo, que diz
“Em seu sétimo paredão, Ana Carolina foi eliminada do BBB9 com 58% dos votos”.
Grafado em caixa alta, na cor preta, em duas linhas, pertence ao subtema fofoca de
celebridade. Não há indicação de página da reportagem completa – a notícia se
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encerra aí. Abaixo da manchete principal, há outro box triangular, na cor azul escura.
Não há título, apenas um texto de nove linhas, em caixa alta, na cor branca, que diz
“Duas pessoas morreram ontem, na DF-001, depois que o Gol em que estavam se
chocou com um Stilo, que pegou fogo. O motorista do carro carbonizado conseguiu
escapar”. A notícia pode ser classificada na categoria morte. Há uma foto do carro
que pegou fogo, com integrantes do corpo de bombeiros ao fundo; além da
indicação da página da reportagem completa.
No rodapé, há um box retangular que anuncia uma promoção do jornal, a qual
premiará os leitores com 10 motos. No topo da página, há a logo do Aqui DF,
predominantemente em vermelho e em amarelo, com a indicação do preço em um
balão azul e amarelo. Ao lado esquerdo da logo, há um box marrom, com o título, de
duas linhas, em caixa alta, nas cores verde e branca, “Páscoa em conta”; seguido
por um sutiã de cinco linhas, na cor branca, e pela página da reportagem. A matéria,
que ensina a fazer casquinhas de chocolate recheadas, classifica-se no subtema
culinária.
Do lado direito da página, há uma grande coluna, dividida em três boxes. Os
dois primeiros, estão relacionados ao subtema esporte. Ambos os boxes são da cor
verde, grafados em caixa alta, e têm a indicação da página da reportagem completa.
No primeiro, há um título ambíguo de duas linhas, em caixa alta, na cor branca, “Só
para “maiores””, o qual só é entendido como relacionado aos semifinalistas da Taça
Rio (“maiores”) após a leitura do sutiã, de oito linhas, na cor preta, em caixa alta. No
segundo, há apenas um texto, de nove linhas, em caixa alta, na cor preta, sobre o
campeonato paulista. Por fim, há um box retangular, na cor rosa, com o título
“Também na ficção”, em caixa alta, nas cores preto e vermelho; seguido por um
sutiã de seis linhas, em caixa alta, na cor preta; e pela indicação da página da
matéria completa. Há, ainda, uma fotografia da atriz Flávia Alessandra, a quem se
refere a reportagem. Ela veste uma espécie de maiô, que deixa à mostra parte do
corpo, especialmente os seios e as pernas. É a representação do voyeurismo.
A primeira página destacou seis notícias, cada uma delas em um box de cor
diferente. A manchete principal, “ 200 presos de uma só vez”, pertence ao subtema
crime. Grafada em caixa alta e em quatro linhas, o tamanho da fonte é bem maior do
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que o das outras notícias em destaque. O numeral “200”, inclusive, tem uma fonte
ainda maior que o restante do título. Localizada no centro da primeira página, é
ilustrada por foto de parte dos supostos criminosos sentados, com a cabeça baixa
ou coberta pelas mãos. O box que contém a chamada é na cor azul escuro,
enquanto as letras são grafadas em verde (“200 presos”) e em branco (“de uma só
vez”). Há um breve detalhamento da matéria em sutiã, de seis linhas, localizado
abaixo da foto. A retranca da matéria diz “segurança” e a indicação da página vem
na parte inferior do box.
Acima da manchete principal, há um pequeno box retangular azul claro, que
diz “De guarda chuva em punho: nos primeiros dias de abril choveu mais do que em
todo mês de março”. Grafado em caixa alta, em duas linhas, nas cores preta e
branca, pertence ao subtema clima. Há indicação de página da reportagem
completa.
No topo da página, há a logo do Aqui DF, predominantemente em vermelho e
em amarelo, com a indicação do preço em um balão azul e amarelo. Ao lado
esquerdo da logo, há um pequeno box lilás, que diz “Imposto é reduzido e material
de construção começa a ser vendido com preço mais baixo”. Grafado em caixa alta,
com oito linhas, na cor amarela, traz a página da reportagem completa na parte
inferior do box. A matéria faz parte do subtema economia. Do lado direito da logo, há
um box quadrado, na cor verde, com o título, de quatro linhas, “Ela quer ser
popular”, em caixa alta, na cor vermelha; seguido por um sutiã de oito linhas, na cor
preta, e a indicação da página da matéria completa. Há, ainda, uma fotografia da ex-
dançarina Scheila Carvalho nua, a quem se refere a reportagem. É a representação
do voyeurismo.
No rodapé, há um box retangular que anuncia uma promoção do jornal, a qual
premiará os leitores com 10 motos. Acima da propaganda, há outro box retangular
amarelo, que diz “Brasucas na Europa: Adriano teria passado três dias em favela no
Rio. Jornal banca Kaká no Real Madrid. E Robinho é absolvido”. Grafado em caixa
alta, em três linhas, nas cores vermelha e preta, pertence ao subtema esporte –
embora também haja um viés de fofoca de celebridade. Há indicação de página da
reportagem completa. Ao lado direito dos dois boxes, há um outro, na cor vermelha,
cujo título, de três linhas, em caixa alta, na cor amarela, diz “Grêmio tenta se
levantar”. A matéria faz parte do subtema esporte. Em seguida, há um sutiã, de 11
linhas, em caixa alta, na cor branca. Na parte inferior, a indicação da página.
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A primeira página destacou seis notícias, cada uma delas em um box de cor
diferente. A manchete principal, “ Chuva e mortes no trânsito”, pertence ao subtema
morte. Grafada em caixa alta e em duas linhas, o tamanho da fonte é bem maior do
que o das outras notícias em destaque. A palavra “trânsito”, inclusive, tem uma fonte
ainda maior que o restante do título. Localizada no centro da página, é ilustrada por
foto de uma grave colisão entre um carro e um ônibus, mostrando os destroços dos
veículos e as equipes de resgate ao fundo. O box que contém a chamada é na cor
vermelha, enquanto as letras são grafadas em amarelo (título) e branco (sutiã). Há
um breve detalhamento da matéria em sutiã, de quatro linhas, também localizado
abaixo da chamada. A retranca da matéria diz “acidentes” e a indicação da página
vem logo abaixo do sutiã.
No rodapé, há um box retangular que anuncia uma promoção do jornal, a qual
premiará os leitores com 10 motos. Ao lado esquerdo da propaganda, há um box
quadrado, na cor bege, que diz “Preocupação com crise pode fazer imposto baixar e
diminuir o preço de geladeiras e fogões”. A matéria faz parte do subtema economia.
Grafada em caixa alta e na cor preta, tem oito linhas. Na parte inferior, a indicação
da página.
No topo da página, há a logo do Aqui DF, predominantemente em vermelho e
em amarelo, com a indicação do preço em um balão azul e amarelo. Ao lado
esquerdo da logo, há um box azul escuro, que diz “Ambulatório do hospital de Santa
Maria começa a funcionar a partir do dia 23 com oito especialidades”. A matéria faz
parte do subtema saúde. Grafada em caixa alta e na cor branca, tem nove linhas. Na
parte inferior, a indicação da página.
Do lado direito da página, há uma grande coluna, dividida em três boxes. O
primeiro deles, na cor rosa, anuncia, em caixa alta, na cor preta, “Na final da nona
edição do Big Brother Brasil, Max fica com o prêmio de R$1 milhão”. A matéria faz
parte da categoria fofoca de celebridade. Há, ainda, uma fotografia em formato
circular do milionário Max, além da indicação da página da matéria completa. Os
dois últimos boxes estão relacionados ao subtema esporte. Ambos os boxes são da
cor cinza, grafados em caixa alta, e têm a indicação da página da reportagem
completa. No primeiro, há o título, de três linhas, na cor laranja, “Para FLU, FLA é
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freguês”; sutiã, de oito linhas, na cor preta; e uma fotografia do jogador rubro-negro
Ibsen em campo. No segundo, há apenas um texto, de seis linhas, em caixa alta, na
cor verde, sobre o campeonato de futebol Libertadores da América.
A primeira página destacou seis notícias, cada uma delas em um box de cor
diferente. A manchete principal, “ Fingia ser padre e enganava”, pertence ao subtema
crime. Grafada em caixa alta e em duas linhas, o tamanho da fonte é bem maior do
que o das outras notícias em destaque. A palavra “enganava”, inclusive, tem uma
fonte ainda maior que o restante do título. Localizada no centro da página, é
ilustrada por foto do suposto criminoso, no distrito policial, mas não é possível uma
boa visualização de seu rosto. O box que contém a chamada é na cor vermelha,
enquanto as letras são grafadas em amarelo (“enganava”) e branco (“fingia ser
padre e”). Há um breve detalhamento da matéria em sutiã, de cinco linhas, também
localizado abaixo da chamada. A retranca da matéria diz “Recanto das Emas”,
satélite em que aconteceu o crime, e a indicação da página vem logo abaixo do
sutiã.
Logo abaixo da manchete principal, um box laranja, de tamanho equivalente
ao daquela. A foto, de jogadores do Flamengo, porém, ocupa mais de 50% do box.
O título, “Tropeça de um alegria de outro”, é grafado em caixa alta, em quatro linhas,
na cor branca. Abaixo, um sutiã de nove linhas, na cor branca, também em caixa
alta. Há, ainda, a indicação das páginas da reportagem.
No rodapé, há um box retangular que anuncia uma promoção do jornal, a qual
premiará os leitores com 10 motos. No topo da página, há a logo do Aqui DF,
predominantemente em vermelho e em amarelo, com a indicação do preço em um
balão azul e amarelo. Ao lado direito da logo, há um box azul escuro, com o título,
de duas linhas, em caixa alta, na cor azul clara “Prepare-se para amanhã”. Logo
abaixo, há um sutiã, em caixa alta e também na cor azul clara, com sete linhas. A
matéria, segundo consta no sutiã, fala sobre o que abre e fecha no feriado. Na parte
inferior, a indicação da página. A matéria faz parte do subtema serviço.
Do lado esquerdo da página, há uma grande coluna, dividida em três boxes.
O primeiro deles, é um box quadrado azul claro, que diz “Servidores do Executivo do
GDF podem ter ajuda para conseguir plano de saúde”. Grafado em caixa alta, com
52
seis linhas, na cor branca, traz a página da reportagem completa na parte inferior do
box. A matéria faz parte do subtema política – com um viés assistencialista, porém,
já que trata de subsídios dados pelo governo do Distrito Federal a servidores
públicos. Em seguida, há um box retangular, na cor bege, com o título “Uma ex-BBB
com seus princípios”, em caixa alta, na cor verde; seguido por um sutiã de seis
linhas, em caixa alta, na cor preta; e pela indicação da página da matéria completa.
Há, ainda, uma fotografia da ex-BBB Priscila Pires, a quem se refere a reportagem.
Ela veste apenas um biquíni. É a representação do voyeurismo. Por fim, um box
relacionado ao subtema esporte, na cor verde. O título, de três linhas, na cor
amarela, em caixa alta, “Verdão segura a onda”; sutiã, de oito linhas, na cor branca,
em caixa alta; seguidos pela indicação da reportagem completa.
A primeira página destacou seis notícias, cada uma delas em um box de cor
diferente. A manchete principal, “ Atenção, motorista”, pertence ao subtema morte.
Grafada em caixa alta e em duas linhas, o tamanho da fonte é bem maior do que o
das outras notícias em destaque. A palavra “atenção”, inclusive, tem uma fonte
ainda maior que o restante do título. Localizada no centro da página, é ilustrada por
foto de a cena de um atropelamento; podem ser vistos carros da polícia ao fundo,
além de um chinelo da vítima, uma menor de idade, em primeiro plano. O box que
contém a chamada é na cor verde claro, enquanto as letras são grafadas em
vermelho (“atenção”) e em preto (“motorista”). Há um breve detalhamento da matéria
em sutiã, de sete linhas, localizado abaixo do título. A retranca da matéria diz
“trânsito” e a indicação da página vem abaixo do sutiã.
No topo da página, há a logo do Aqui DF, predominantemente em vermelho e
em amarelo, com a indicação do preço em um balão azul e amarelo. Ao lado
esquerdo da logo, há um pequeno box verde escuro, que diz “Programe sua sexta-
feira da Paixão e não perca as vias-sacras por todo o DF”. Grafado em caixa alta,
com oito linhas, na cor amarela, traz a página da reportagem completa na parte
inferior do box. A matéria faz parte do subtema cultura. Do lado direito da logo, há
dois boxes do subtema emprego e educação. O primeiro, na cor cinza, que diz
“Agora, concurso da Polícia Militar volta a exigir curso superior dos candidatos”.
Grafado em caixa alta, com cinco linhas, na cor preta, traz a página da reportagem
53
completa na parte inferior do box. O segundo, na cor marrom, diz “Em outubro,
Enem começa a valer como vestibular único no país. Falta o sim das universidades”.
Escrito em caixa alta, com cinco linhas, na cor branca, traz a página da reportagem
na parte inferior.
No rodapé, há um box retangular que anuncia uma promoção do jornal, a qual
premiará os leitores com 10 motos. Acima da propaganda, há outro box retangular
azul escuro, que diz “Adriano dá o ar da graça, concede coletiva e diz que ficará um
tempo longe do futebol”. Grafado em caixa alta, em sete linhas, na cor verde,
pertence ao subtema esporte – embora também haja um viés de fofoca de
celebridade. Há indicação de página da reportagem completa. Ao lado esquerdo
dos dois boxes, há um outro, também na cor azul, cujo título, de quatro linhas, em
caixa alta, na cor amarela, diz “Tricolor está na próxima fase”. A matéria também faz
parte do subtema esporte. Em seguida, há um sutiã, de 11 linhas, em caixa alta, na
cor branca. Na parte inferior, a indicação da página. Uma fotografia de um jogo do
São Paulo também faz parte do box, a qual serve como elemento de fusão entre os
dois boxes esportivos.
A primeira página destacou seis notícias, cada uma delas em um box de cor
diferente. A manchete principal, “ Um lugar pra chamar de seu”, pertence ao subtema
política. Vale destacar que o viés é assistencialista, já que trata de doações de
casas populares do governo para a população. Grafada em caixa alta e em duas
linhas, o tamanho da fonte é bem maior do que o das outras notícias em destaque.
Localizada no centro da página, não há foto para ilustrá-la. O box que contém a
chamada é na cor amarela, enquanto as letras são grafadas em preto. Há um breve
detalhamento da matéria em sutiã, de três linhas, localizado abaixo da chamada. A
retranca da matéria diz “habitação”, e a indicação da página vem logo abaixo do
sutiã.
Logo abaixo da manchete principal, um box cinza, de tamanho equivalente ao
daquela. Há fotos de dois jogadores, dos times que se enfrentam no jogo noticiado,
um em cada lado do box. O título, “Confrontos decisivos”, é grafado em caixa alta e
baixa, em duas linhas, na cor amarela. Abaixo, um sutiã de três linhas, na cor
branca. Há, ainda, a indicação da página da reportagem. Um pequeno box
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retangular se funde com o anterior, na parte de baixo. A cor é preta e as letras estão
grafadas em duas linhas, em caixa alta, na cor vermelha. O tema é a disputa entre
Santos e Palmeiras. Na parte inferior, há indicação da página da reportagem. Os
dois fazem parte do subtema esporte.
No rodapé, há um box retangular que anuncia uma promoção do jornal, a qual
premiará os leitores com 10 motos. Ao lado esquerdo da propaganda, há um box
quadrado, na cor azul, que diz “Senhor de 56 anos é encontrado morto dentro do
próprio apartamento, no Paranoá”. A matéria faz parte do subtema morte. Grafada
em caixa alta e nas cores branca e preta, tem sete linhas. Na parte inferior, a
indicação da página.
No topo da página, há a logo do Aqui DF, predominantemente em vermelho e
em amarelo, com a indicação do preço em um balão azul e amarelo. Ao lado
esquerdo da logo, há um box marrom, que diz “Toda a emoção da Via-Sacra em
Planaltina e em outras cidades da capital federal”. Grafado em caixa alta, com oito
linhas, nas cores amarela e branca, traz a página da reportagem completa na parte
inferior do box. A matéria faz parte do subtema cultura. Vale ressaltar o viés
sensacional da matéria, ao destacar a “emoção”, tanto no conteúdo, quanto na cor
utilizada, diferente das outras palavras. Do lado direito da logo, há um box quadrado,
na cor laranja, com o título, de duas linhas, “Beleza aos 30”, em caixa alta, na cor
vermelha; seguido por um sutiã de quatro linhas, na cor preta, e a indicação da
página da matéria completa. Há, ainda, uma fotografia da atriz Bárbara Borges
deitada, em pose insinuante. É a representação do voyeurismo.
letras são grafadas em vermelho (“500”) e preto (“famílias recebem lote no DF”). Há
um breve detalhamento da matéria em sutiã, de oito linhas, localizado abaixo da
chamada. A retranca da matéria diz “habitação”, e a indicação das páginas vem logo
abaixo do sutiã.
Ao lado direito da manchete principal, um box preto, de tamanho equivalente
ao daquela. Há uma foto de partida de futebol do Botafago; em primeiro plano, um
jogador comemorando o gol. O título, “Fogão na decisão”, é grafado em caixa alta e
baixa, em duas linhas, na cor branca. Abaixo, um sutiã de três linhas, na cor branca.
Há, ainda, a indicação da página da reportagem. Neste mesmo box, estão mais
duas manchetes, também do subtema futebol. Uma, com o título de uma linha, em
caixa alta e na cor laranja, “Peixe sai na frente”, tem um sutiã de quatro linhas,
também em caixa alta e na cor laranja. Por último, uma chamada sobre o
Candangão, de três linhas, em caixa alta, na cor verde. Em todas, há a indicação da
página da reportagem completa ao final do texto.
No rodapé, há um box retangular que anuncia uma promoção do jornal, a qual
premiará os leitores com 10 motos. Ao lado esquerdo da propaganda, há um box
quadrado, na cor bege, que diz “Alta de 42% nas consultas leva saúde do DF à UTI.
Casos de urgência ultrapassam duas vezes o limite indicado pela OMS”. A matéria
faz parte do subtema denúncia. Grafada em caixa alta e nas cores vermelha e preta,
tem nove linhas. Na parte inferior, a indicação da página.
No topo da página, há a logo do Aqui DF, predominantemente em vermelho e
em amarelo, com a indicação do preço em um balão azul e amarelo. Ao lado
esquerdo da logo, há um box roxo, que diz “Batida de frente entre carros mata dois
brasilienses na divisa de Goiás com Tocantins”. Grafado em caixa alta, com oito
linhas, na cor amarela, traz a página da reportagem completa na parte inferior do
box. A matéria faz parte do subtema morte. Do lado direito da logo, há um box
quadrado, na cor azul claro, que diz, em caixa alta, na cor preta, “Homem
alcoolizado e sem habilitação atropela quatro crianças e uma mulher em Ceilândia.
Bebê escapa por pouco”. Acima, uma fotografia do local do acidente, com muito
sangue no chão e um carrinho de bebê destruído. A matéria faz parte do subtema
homicídio. Há indicação da página da matéria completa.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
BARTHES, Roland. A estrutura da notícia. In: ______. Crítica e verdade. São Paulo:
Perspectiva, 1999. p.57-66.
CAMPOS JÚNIOR, Celso et al. Nada mais que a verdade: a extraordinária história
do jornal Notícias Populares. São Paulo: Carrenho Editorial, 2002.
FONSECA JÚNIOR, Wilson Corrêa da. Análise de conteúdo. In: DUARTE, Jorge;
BARROS, Antonio Teixeira de (Org.). Métodos e técnicas de pesquisa em
comunicação. São Paulo: Atlas, 2005. p.280-315
MARCONDES FILHO, Ciro. A saga dos cães perdidos. São Paulo: Hacker, 2002.
ANEXO H – AQUI DF
ANEXO I – AQUI DF
ANEXO J – AQUI DF
ANEXO K – AQUI DF
ANEXO L – AQUI DF
ANEXO M – AQUI DF
ANEXO N – AQUI DF
Mas por que você acha que só agora esse público passou a ser explorado?
Exatamente. No Aqui DF só sai um pouquinho, não sai muito não. Tem que sair
sempre um pouquinho porque o público pede mesmo. É inacreditável. A gente
tentou fazer um negócio diferente, mas o público pede.
O Diário Gaúcho, por exemplo, tem seis anos. Tirando o Notícias Populares ele é
um dos mais antigos, nesse novo perfil criado. Ele é um jornal que quando se
espreme não sai sangue. Sai um pouquinho, mas não sai tanto. É mais voltado à
camada mais popular, classes C e D, com um preço mais barato, com promoção. Na
verdade tem seis anos que o Diário Gaúcho está nas bancas e em nenhum
momento ele ficou sem promoção. Então, todos esses jornais ficam em um tripé:
qualidade, preço baixo e promoção. Existem muitos jornais que não têm qualidade e
eles não vão pra frente. O público pede. E qualidade não é só questão gráfica. Você
pode olhar e falar que isso é muito bagunçado; mas chama a atenção em uma
banca. E só vende em banca.
Exatamente por causa do público. Você fazer uma promoção de assinatura com um
preço desses é um absurdo, não existe isso. Além disso, isso é uma teoria minha, se
você coloca uma assinatura de R$15 por mês, o cara sente no bolso. E R$0,50 ele
não sente tanto.
Não. Isso é estratégico. Pode ser que venha ter, mas por enquanto não. Nenhum
desses jornais tem assinatura. São todos vendidos em banca.
O site está sendo produzido. A gente está vendo o que pode fazer. Nos outros
lugares do Brasil é bem diferente. O acesso à internet dessa população é mais
difícil. Aqui em Brasília, não. 35 % dessa população tem acesso à internet. Só o
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Diário Gaúcho tem site. Isso é uma questão interna. Na verdade, o projeto já está
pronto. Mas deve ficar para o ano que vem porque vai chegando o final do ano e
eles primeiro queriam ver se daria certo. E deu muito certo. Agora, nós vamos tentar
fazer as outras coisas. Então, isso deve ir para a diretoria para ser pensado. Eu falo
que nos outros lugares do país é diferente porque você pode colocar um jornal
popular na internet que ele não vai ser tão acessado. Você não perde tanto público.
E aqui você vai perder público se colocar na internet. Então, você precisa ganhar o
leitor de outra forma. Um banner de propaganda, ou ter que pagar, ou ter que ser
assinante do Correio Braziliense para acessar. Quanto a isso não há nada definido.
Só está definido que vai ter um site.
Na data que foi lançado não pode ser considerado porque a promoção é tanta, que
vende muito mais. Então, no primeiro dia, vendeu aproximadamente 21 mil
exemplares. Depois baixou muito. Aí depois começa a subir, subir até o momento
que atinge um patamar de crescimento mensal. Por exemplo, no mês de agosto pra
setembro, a gente teve um crescimento de 11%. As explicações pra isso, por
exemplo, são o RBD aqui em Brasília, as eleições. Uma coisa que, por exemplo,
acabou com a nossa vendagem foi a Copa do Mundo. Acaba com a vendagem de
qualquer jornal. Porque todo mundo vai atrás da televisão e não do jornal. O cara
assiste um jogo e não vai querer saber de comentários no dia seguinte. A gente
colocava muito mais páginas, umas 11 páginas por dia sobre Copa do Mundo. Mas
mesmo assim... Época de eleição também é complicado porque tem pouco anúncio.
Mas isso é coisa do mercado.
Na rodoviária do Plano Piloto. Mas se você for perguntar para as pessoas que estão
lá comprando, a maior parte é de Taguatinga e de Ceilândia. O pessoal que vem de
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lá, compra aqui. 36% dos nossos leitores são de Taguatinga e de Ceilândia, ou seja,
1/3 dos nossos leitores. É muita coisa.
Totalmente. Tudo que a gente puder aproveitar. E a gente aproveita. Por exemplo,
no começo, quando a gente ia se apresentar, mesmo para a população, a gente se
apresentava como um jornal do mesmo grupo do Correio Braziliense. Isso ajudou
financeiramente, porque, apesar de vender muito, ainda não dá muito lucro. Apenas
vende muito. Esse é um projeto pra anos pra poder se firmar. Ajudou também na
credibilidade. Por exemplo, quando a gente ligava pra algum delegado e falava que
era do Correio, era outra coisa.
A gente está deixando de falar. O jornal só tem seis meses, é muito novo. Então,
ainda tem aquela coisa “e aí?”. Com calma a gente vai deixando de falar, vai
pegando uma identidade própria. Mas a gente não pode, e nem quer, se desvincular
porque a gente quer formar uma coisa muito forte dentro do Diários Associados.
Vamos partir de uma coisa banal, do dia a dia. Afetou muito o trabalho dos
repórteres do Correio Braziliense, da parte de cidades e do Correio Web ter mais um
veículo porque o Aqui DF faz uma ronda nas delegacias de uma forma muito mais
organizada e sistemática. Cobre-se tudo mesmo. Não tem jeito de nada escapar da
gente.
O projeto inicial de todos os jornais populares é esse. O Diário Gaúcho que está
começando a sair disso, está com uma redação grande agora. Mas era totalmente
Zero Hora. Mas aqui, chega no final do dia, que todas as matérias, a gente pega,
edita. Não porque tem que ficar diferente, mais por causa de linguagem e de
tamanho. Porque aqui, as matérias são muito menores. Aí você pode falar que as
matérias menores são menos aprofundadas. Mas o público do jornal não tem muito
tempo pra isso. O Aqui DF é como se fosse uma internet. Se você quer uma coisa
mais aprofundada, você procura. Mas, no geral, você passa o olho, aconteceu isso,
dá uma clicada e fica sabendo de tudo que aconteceu na cidade, no Brasil e no
mundo. Mas, com certeza, você não vai conseguir se aprofundar. E essa visão geral
é, inclusive, um dos elogios que nós recebemos. No começo e até hoje. Essas
matérias curtas chamam a atenção da população.
Então, o que o público mais gosta e o que público menos gosta no Aqui DF?
Até hoje ainda há uma certa briga com essa história da mulher na capa. Mas, nunca
ninguém falou que não compraria o jornal por causa disso, só falam pra colocar um
homem de vez em quando. Mas é muito mais fácil você vender um jornal com uma
mulher na capa do que com um homem. Porque a mulher compra com a mulher. Ela
vai olhar assim e falar “nossa, que corpo bonito, deixa eu ver o que ela faz; ela
malha e tal”. Se você coloca um homem na capa, o cara olha e fala “não vou ler isso
daqui”. Gostam muito da interatividade. Por ser um jornal pequeno, a gente
consegue responder rápido. Publicação de cartas, de reclamações. Eles nos
chamam pra fazer matérias. Eles vêem a gente como parceiros mesmo. Pediram
mais polícia. E a gente teve que responder na hora. Os elogios vêm por meio das
promoções, do preço baixo, da qualidade, da interatividade. A coluna do Zé é, sem
sombra de dúvidas, a coluna mais lida. Todo mundo adora. Também por ser
bastante interativa. Ele coloca fotos do povão aqui. Eles adoram essa parte do “povo
fala”, a opinião do povo com a cara do povo. A parte de esportes também é
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elogiadíssima. Porque fala de todos os esportes, Fórmula 1, tênis, vela, hóquei. Mas
o carro forte sempre vai ser o futebol. Uma das coisas boas é que a gente pode
fechar mais tarde. Então, a gente pode dar o resultado de todos os jogos que
acontecem até 1h da manhã. E o cara quer ver exatamente o resultado, porque não
é todo jornal que dá.
Sim, com certeza. Sempre vai ser desse jeito. O jornal nasceu pra isso, pra ser
pautado pelo público. Se o cara ligar pra cá, eu atendo o telefone. Não tem essa de
ser editor não. O cara conta que tem um personagem super legal, um buraco na rua.
A gente vai lá e faz a matéria.
Eu, particularmente, não entendo muito dessa coisa de cor. Essa é a parte dos
diagramadores. Mas, por exemplo, quando a manchete é alguma tragédia, alguma
morte, coloca um preto. Mas não pode exagerar. Se a história é muito forte, muito
brusca, usa-se um vermelho ou um laranja. Esporte, sempre azul ou verde. O
restante, dá pra você usar tons mais pastéis. A fonte, Benton Sans, é diferente da
fonte do Correio Braziliense e ela foi criada exclusivamente para o Aqui DF. Mas não
sei te falar se ela chama ou não mais atenção. Mas é a mesma fonte do Aqui BH.
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Essas cores são bem fortes também por serem vendidos em bancas?
A gente tem que chamar atenção de alguma forma. O Correio Braziliense, por
exemplo, independente do que ele colocar na capa, ele vai ser vendido. Ele tem 50
mil assinantes. Existe uma percepção de leitura. O que está do lado esquerdo e no
alto chama mais atenção. Nesse local fica a matéria para a qual queremos dar maior
destaque. Às quintas e às segundas, elas são sempre sobre esportes.
Quinta e segunda.
Sim.
Não. É diferente porque são públicos bem diferentes. A gente preza pelo pequeno
comerciante. Nós estamos começando um trabalho para que essa venda do
pequeno comerciante seja mais forte. Primeiro a gente queria bater na marca.
Não, qualquer um pode anunciar. A Claro, por exemplo, foi a maior anunciante no
mês de setembro.
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Não tem muita comparação, é totalmente diferente. Às vezes uma nota deles é a
nossa manchete. A gente dá muito mais espaço para cidades, polícia e esportes.
Por exemplo, no começo, a gente deu muita coisa sobre o vôo 1907. Só que
começou a desgastar. O cara, agora, só quer saber quem foi o culpado. Enquanto
isso não aparece, o público não quer mais saber.
Exatamente. Mas os caras gostam de política. Eles pediram mais porque a gente
dava pouco e, então, começamos a dar mais política. Agora já damos uma página.
Sim. A gente escolhe uma matéria bem específica, por exemplo, Câmara Legislativa.
Essa coisa de bastidores da política não interessa muito. É tanta picuinha que os
caras ficam perguntando “resolveu alguma coisa”? “Se resolveu alguma coisa, aí eu
quero”.
9,5 % dos leitores do Correio Braziliense lêem o Aqui DF. É pouco. Mas a gente
tinha essa preocupação, de não roubar os leitores do Correio Braziliense. Isso
corrobora a nossa hipótese de que as classes C e D precisavam de um jornal.
Porque eles não compram o Correio por causa de preço, de peso – é muita matéria.
Nos primeiros dias, teve um cara que ligou pra gente agradecendo. Porque ele
comprava o Correio de domingo e só acabava de ler no outro domingo. Eu,
particularmente, leio o Aqui DF em 20 minutos. Acredito que, por uma média, uma
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pessoa que tenha o primeiro grau consiga ler em uma hora, no máximo. Tenta ler o
Correio Braziliense todo em uma hora...
Sim. A gente dá muito mais espaço para cidades, polícia e esportes. Só vai sair uma
notícia de política no dia seguinte às eleições. Ou, então, por exemplo, “Lula morre”.
Mas aí já deixa de ser política. Com certeza, entre 50% e 60% das manchetes vão
ser de polícia.
Até hoje eu não acredito que a mídia tenha esse papel educativo. Acho que isso é
um sonho muito distante para a mídia, para os jornais gerais. A não ser que você
pegue uma revista sobre escolas, um jornal sobre um sindicato, aí tudo bem. Há um
certo sentido educativo, mas não é o principal. O principal é noticiar, é fazer chegar
as informações que estão acontecendo no mundo para a população.
Esses jornais gerais poderiam cumprir esse papel educativo sem se tornarem
chatos?
Eu acho que dá pra fazer isso. Por exemplo, se você coloca uma manchete bastante
chamativa e o cara lê aquela matéria e pára para refletir. A gente dá muita matéria
desse tipo: “como votar”, “voto nulo existe?”. A gente tem algumas sessões: “Água
na Boca”, que é sobre gastronomia, onde a gente ensina as pessoas a fazer algum
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tipo de comida; “Cuide-se”, uma página inteira sobre saúde; “Vista-se aqui”, sobre
moda.
Eu acho que sim. Não que não exista nos grandes jornais. Você tem, por exemplo,
no Correio Braziliense, a “Coluna da Dad”, que é de português. Você tem a Revista
do Correio, que, apesar de voltada para o público A e B, principalmente para o
público A, traz duas páginas sobre saúde. Toda segunda-feira tem o Gabarito. Todo
sábado o Correio tem o Super!, que é totalmente voltado para crianças e ensina a
fazer coisas, indica desenhos e livros legais. Não é que inexista; mas, geralmente,
na universidade eles dizem que essa deveria ser a preocupação principal. Mas isso
aqui é comércio também, não tem como fugir disso. Eu poderia fazer um discurso
diferente, mas o dono do jornal quer saber que o jornal venda. Infelizmente, o
sangue vende mais que a poesia.
Na universidade eles falam que deveria ser de um jeito. Eu realmente queria que
fosse desse jeito, mas quando você chega no mercado de trabalho você vê que
exatamente diferente. Você chega lá e diz que, a partir de agora, o Correio só vai
dar manchetes de educação, saúde. Mas como você vai fazer isso? Como você vai
começar a fazer esse tipo de coisa? A culpa é da população ou da gente? Se a
gente começar a fazer isso a população vai mudar? Ou vai começar a comprar
outro jornal?
Não tem culpados. É uma coisa estrutural, de muito tempo. É uma coisa, de repente,
da própria natureza humana. Essa coisa de gostar do feio. Por exemplo, se eu te
mandar um e-mail com as fotos das vítimas do vôo 1907 ou então uma matéria
sobre como aprender a cozinhar e vender bombons e como ganhar dinheiro com
isso, o que você acha que a população vai ler primeiro? Há uma coisa de olhar
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primeiro para o bizarro, para o diferente. De repente, o que a gente pode fazer é
isso. Colocar o bizarro na frente e, lá dentro, outros tipos de matérias.
Eu peguei uma que tinha no começo, mas agora não mais. Mas, como todo
brasileiro, transforma-se o preconceito em piada. Que “se espremer sai sangue”,
“qual o morto do dia?”, “tem um morto artístico aqui”. O pessoal do Correio
Braziliense gosta de aparecer no Aqui DF. Mas não são matérias assinadas porque
a gente faz um trabalho de edição e as matérias deles ficam totalmente
desfiguradas. Não é que esteja errada a informação, mas é que a gente muda tanto,
por causa do espaço, que acaba não podendo assinar. Mas eles gostam. O pessoal
de cidades diz “hoje eu fui manchete do Aqui DF!”.
Não. O único cuidado que a gente tem que ter é não colar em um político só, não
elogiar ninguém. Aqui realmente tem que ser imparcial.
Então você acha que o Aqui DF é mais imparcial que o Correio Braziliense?
Tem que ser. Porque senão os políticos usam isso aqui com uma facilidade incrível.
Não pode ter opinião nenhuma, a não ser a do povo. Se o povo for a favor do Collor,
coloca aqui que o povo é a favor do Collor. Dá um certo trabalho pegar matéria de
política do Correio Braziliense porque tem que editar. Apesar de eu achar que o
Correio Braziliense hoje vive um dos períodos mais imparciais da sua história. Por
exemplo, a gente colocou o Arruda como manchete aqui, mas como não colocar?
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Ele foi eleito governador. Não tem essa de parcialidade nesse caso. Ele foi eleito em
primeiro turno, essa foi a manchete.
Eu acho que sim. A gente, jornal, já tem uma dificuldade imensa para pegar
informações nas administrações. Imagine a população. A gente tem que arrancar a
força. Vai ter um evento naquela cidade promovido pela administração. Mas como a
população vai ficar sabendo disso, então? Pela gente. Outra coisa, por exemplo,
durante as eleições, toda segunda-feira a gente dava duas páginas com todos os
candidatos. Toda segunda-feira tinha um tema e todos os candidatos ao governo do
DF tinham o mesmo espaço para responder. Eu acho que isso foi um ótimo serviço
para a população ler e poder escolher porque gostou mais das idéias desse ou
daquele candidato.
Você acha, então, que isso explica a crise dos grandes jornais e a ascensão
dos jornais populares?
Não posso falar do Correio Braziliense porque ele não vê uma crise há muito tempo.
Mas, no geral, não sei se é por causa disso ou por causa da internet. Mas acho que
não há um único fator. O Correio Braziliense tem muita parte de serviço. Não é por
causa disso. Assim como a Folha de S.Paulo, o Estadão, todos eles têm a parte de
serviço. Só que aí cada vez o papel fica mais caro, cada vez mais pessoas têm
acesso à internet, cada vez mais as pessoas querem coisas especializadas. Existem
vários motivos para as vendas estarem caindo. Mas eu acho que o diferencial do
jornal popular no Brasil, por enquanto, é essa coisa da qualidade, do preço baixo e
das promoções. Acho que isso é essencial para alavancar essa venda. Mas
acredito, também, que daqui a um tempo você vai começar a ver essa população de
classes C e D tendo mais acesso à internet. Tendo mais acesso à internet, vai cair a
venda. Talvez demore, mas, hoje em dia, as coisas acontecem cada vez mais
rápido. As inovações tecnológicas chegam para a população cada vez em um tempo
menor. Então, de repente eu posso te falar daqui a dez anos, talvez menos que isso.
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Então, as empresas jornalísticas têm que perceber que elas não trabalham mais
com o meio jornal. Têm que parar com isso e trabalhar com o meio informação. E a
informação você pode colocar em qualquer lugar, não precisa ser no papel. E por
isso o jornalista, a empresa jornalística tem que começar a aprender a mexer com
isso, a perceber que daqui a pouco um aparelhinho como um mp3 player vai ser o
principal meio de captação de informação de uma pessoa. De repente você vai
chegar em um computador, em uma base e lá você vai ler as notícias do dia. Você
pega seu aparelhinho, preenche com aquilo tudo, chega na sua televisão e as
notícias começam a passar na hora. Tem que ficar ligado nisso. Na minha época
não tinha internet. Quando eu entrei no Correio Braziliense, tinha duas máquinas de
internet para a redação inteira. Hoje em dia todas as máquinas têm internet. Quando
eu entrei aqui no Correio Braziliense, em 1996, eu não mexia com internet. Pegava
resultado de Olimpíadas por agências de notícia. Só recebia da Associated Press e
da Agence France-Presse, duas agências de notícia. Se acontecesse alguma coisa
que as duas não percebessem, passava reto.
Deus queira! Pelo menos o acesso eu acho que sim. Tanto à internet, quanto o
preço, que está mais barato. Mas aí, apesar da palavra “democrática” ser tão legal,
tão positiva, você tem que tomar muito cuidado com esse tipo de coisa. Porque
quando você fala de informação, você fala de coisas que podem servir tanto para o
crescimento da pessoa quanto para o contrário. O caso da Escola Base é clássico.
Não existia a notícia, foi criada a notícia e todo mundo falou da notícia. É
democrática, mas e se chegar no seu computador fotos do acidente do vôo 1907?
Pra que eu quero isso? Pra que as pessoas mandam isso? Mas aí vão começar a te
tachar, dizendo que você quer barrar coisas, que tem que ser livre mesmo. Mas
você tem que tomar muito cuidado, com certeza.
Acho que, no geral, o jornalista tem que ter um perfil só. Que é de curiosidade
enorme, o tempo todo ser curioso. Ler muito. Ser interessadíssimo em leitura não só
de outros jornais, mas de bons livros. Pessoas com muito boa vontade, que aceitem
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trabalhar seja nove da manhã ou duas da manhã. E ser, acima de tudo, uma pessoa
que pergunta muito, que não deixa passar absolutamente nada. Mas isso é em
geral, não é só do jornalista popular. Você só adéqua seu texto. Ao invés de você
usar a palavra “esdrúxula”, você usa a palavra “horrível”. Não que você não possa
usar a palavra “esdrúxula”, mas aí, no jornalismo popular, você vai ter que colocar
entre parênteses o que essa palavra significa. Talvez aí entre um pouco mais no
papel educativo da mídia.
Algo que mostre a informação de um jeito bem cru sem ser forçado. Você tem que ir
direto ao ponto, sem muito “frufru” porque o cara não quer saber disso. Por exemplo,
na parte de esportes, o cara quer saber quem vai jogar, o que aconteceu com esse
cara. Polícia, a mesma coisa. Eu não acho que para o cara saber que a região dele
falta polícia ou é muito violenta ele precisa ver um rosto todo desfigurado. Não
precisa desse tipo de coisa. Mas você tem que falar. Então, é uma espécie de
informação sem muita preocupação de estar ofendendo alguém. Você não pode se
preocupar muito com isso. Tem que informar de uma maneira rápida. Jornalismo
popular é exatamente isso: você informar de maneira rápida a pessoa.
Acho que é acabar com esse preconceito de que o jornalismo popular é só sangue.
Não é. É mostrar que o jornalismo popular pode ser um jornalismo de qualidade,
sem necessariamente mostrar sangue ou coisas muito violentas. O mais importante
é mostrar que existe qualidade. Uma coisa barata, de qualidade, sem ser apelativa.