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Artigo de Econometria Espacial

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Produção Agropecuária em Municípios


de Minas Gerais (1996-2006): padrões de
distribuição, especialização e associação espacial
Guilherme Jonas Costa da Silva1, Esdras Cardoso Souza2 e
Humberto Eduardo de Paula Martins3

Resumo: O presente trabalho tem por objetivo analisar a dinâmica espacial


recente da produção agropecuária em Minas Gerais, mais especificamente, do
Produto Interno Bruto Agropecuário em 1996 e 2006. Primeiramente, é feita
uma caracterização geral da produção agropecuária de Minas Gerais, incluindo
a distribuição do PIB agropecuário de Minas Gerais em nível municipal. Em
seguida, aborda-se a relação entre a participação relativa dos municípios e seu
nível de especialização na produção agropecuária. Ademais, buscam-se identificar
padrões de associação espacial e a formação de clusters com municípios de maior
participação no PIB agropecuário de Minas Gerais no período. Por fim, são
apontadas algumas diretrizes de políticas públicas voltadas para o aumento da
produção agropecuária e consolidação dos clusters de municípios identificados.

Palavras-chaves: produção agropecuária, especialização econômica, econometria


espacial, Minas Gerais.

Abstract: The present paper aims to analyze the recent spatial dynamics of the
agricultural farming and cattle raising sector in the State of Minas Gerais. The focus
is on the sector GDP in 1996 and 2006. First, we develop a general characterization of
the agricultural farming and cattle raising production in Minas Gerais, including the
sector GDP distribution among municipalities. Next, we analyze the relation between the
relative municipality’s participation and the specialization level in the sector production.
Furthermore, we try to identify patterns of spatial association and cluster formation for
the largest municipalities in terms of participation in the sector GDP. Finally, we suggest
some public policy recommendation to achieve higher agricultural farming and cattle
raising output and to consolidate the identified municipality’s clusters.

1
Professor Adjunto do Instituto de Economia da Universidade Federal de Uberlândia.
E-mail: guilhermejonas@ie.ufu.br.
2
Graduado em Economia pela Universidade Federal de Uberlândia. E-mail: esdrascs@gmail.com.
3
Professor Associado do Instituto de Economia da Universidade Federal de Uberlândia.
E-mail: hmartins@ufu.br.
Key-words: agricultural farming and cattle raising production, economic specialization, spatial econometrics,
Minas Gerais.

Classificação JEL: R12, C21.

1. Introdução teórica e empírica, os ganhos de produtividade


no setor agropecuário do País e, em particular, do
A agricultura e a pecuária sempre foram estado de Minas Gerais, decorreram basicamente
importantes para a economia brasileira. Com o do uso mais intenso de novas tecnologias no
tempo houve grandes mudanças que culminaram meio rural, do aumento da profissionalização
em melhorias no padrão de produção do e dos incentivos às pesquisas direcionadas para
setor agropecuário do País. Esta melhoria está o setor. Essa nova configuração da economia
disseminada no campo desde a década de 1970, agropecuária mineira consolidou o estado como
podendo ser observada pelo uso mais intensivo um dos maiores produtores agropecuários do
de tecnologias no processo produtivo, mais País (SOUZA, 2010).
especificamente, pelo uso de máquinas agrícolas Trabalhos recentes, como FJP/BDMG (2003),
modernas, adequação de novas culturas ao clima identificam uma tendência de concentração
e ao solo, entre outros fatores, que acarretaram da produção agropecuária na porção oeste de
em um aumento significativo da produtividade. Minas Gerais, em que municípios das regiões do
Ademais, os incentivos governamentais com plane­ Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, Sul/Sudoeste,
jamento econômico específico também contri­ e Noroeste do estado têm apresentado as maiores
buíram para a melhoria da competitividade do participações relativas: trabalhando com dados
setor agropecuário brasileiro (SOUZA, 2010). de 1999, o trabalho de FJP/BDMG (2003) mostra
Gasques et al. (2004) mostram que, na que o maior percentual correspondia à região
década de 1990, as taxas de crescimento do PIB Sul/Sudoeste de Minas, com 23,8%, seguida
agropecuário, calculadas pelo IBGE, foram supe­ das regiões do Triângulo Mineiro (14,5%) e Alto
riores às taxas de crescimento do PIB total: no Paranaíba (12,2%), consideradas separadamente.
período de 1990 a 20024. Nesse período, a venda A hipótese deste trabalho é a de que há
de insumos (defensivos agrícolas, fertilizantes, dependência espacial entre municípios no esta­
tratores de rodas e máquinas agrícolas) apresentou do de Minas Gerais, sinalizando a existência de
um significativo crescimento, melhorando a externalidades espaciais positivas intermunicipais.
posição do Brasil no mercado mundial de açúcar, Mais especificamente, há formação de clusters
carne e soja entre 1996 e 2002. significativos associados ao maior dinamismo do
A mudança no padrão de produção do setor setor agropecuário nas regiões mais produtivas.
agropecuário brasileiro melhorou a competitivi­ Diante dessa constatação, o presente trabalho
dade de alguns estados, notadamente, Minas Gerais tem por objetivo analisar a dinâmica espacial da
e Paraná. Conforme destacado pela literatura produção agropecuária em municípios de Minas
Gerais no período recente, mais especificamente,
do Produto Interno Bruto Agropecuário entre
4
A taxa de crescimento do PIB agropecuário foi de 3,18% a.a.,
contra 2,71% a.a. do PIB total. 1996 e 2006. Essa análise engloba todos os

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853 municípios mineiros e consiste em três em desenvolvimento, com um mercado interno


aspectos fundamentais, que se configuram claramente estabelecido e industrializado, mas
como três “objetivos específicos” do trabalho, mantendo forte ligação com a agropecuária, que
a saber: a) caracterizar a distribuição espacial ainda é considerada importante para a economia
do PIB agropecuário em nível municipal no brasileira.
período 1996/2006; b) examinar os níveis de Barros et al. (2006) destacam o papel da agro­
especialização dos municípios na atividade pecuária na geração de emprego e renda, no
agropecuária em conjunto com sua participação crescimento das exportações e na estabilização
no PIB agropecuário de Minas Gerais no período; dos preços da economia.
e c) identificar padrões de associação espacial Para que a estrutura produtiva do setor
entre os municípios, buscando a configuração de primário brasileiro se tornasse um modo de
clusters de municípios de maior participação no produção mais dinâmico, foi necessária uma
PIB agropecuário de Minas Gerais no período. mudança estrutural no setor, o que rompeu com o
Cada um desses aspectos constitui uma seção padrão colonial de monocultura. Após tal ruptura,
do presente trabalho, apresentados na seguinte práticas modernas começaram a ser implan­
estrutura: na seção 2, uma caracterização geral da tadas simultaneamente a um aumento contínuo
produção agropecuária de Minas Gerais é feita, de máquinas agrícolas e insumos nos campos,
observando sua posição no contexto do Brasil e possibilitando um considerável aumento na
destacando seus principais produtos. Na seção produtividade do setor agropecuário brasileiro.
3 examina-se a distribuição do PIB agropecuário Esse aumento na produção e na produti­
de Minas Gerais em nível municipal nos anos vidade pode ser observado mais fortemente
de 1996 e 2006. Na seção 4 aborda-se a relação nas regiões Sul, Sudeste e, mais recentemente,
entre a participação relativa dos municípios e Centro­‑Oeste do Brasil. Minas Gerais reflete
seu nível de especialização na produção agrope­ as mu­danças estruturais do setor agropecuário
cuária no período destacado, medida pelo brasileiro, tendo sua produção aumentada e
quociente locacional da produção agropecuária tornando-se um dos estados com maior represen­
dos municípios. Na seção 5 buscam-se identificar tatividade no cenário nacional (SOUZA, 2010).
padrões de associação espacial e a formação de Essas mudanças possibilitaram que o
clusters com municípios de maior participação no estado de Minas Gerais apresentasse aumentos
PIB agropecuário de Minas Gerais no período, significativos, em termos absolutos e relativos, na
utilizando-se a Estatística I de Moran, em suas sua produção estadual e na participação no total
dimensões local e global. Nas considerações do Brasil. Segundo dados do Cepea-USP/Faemg/
finais, a partir da síntese dos principais resultados Seapa (2011), a participação do PIB agropecuário
do trabalho, são apontadas algumas diretrizes de Minas Gerais no PIB agropecuário brasileiro
de políticas públicas voltadas para o aumento passou de 9,5% em 2001, para 12,8% em 2010.
da produção agropecuária e consolidação dos Observando-se os principais produtores
clusters de municípios identificados. agropecuários estaduais, verifica-se que Minas
Gerais ocupa posição relevante, disputando o
posto de segundo maior produtor com o Paraná,
2. A produção agropecuária de
conforme apresentado na Tabela 15:
Minas Gerais no contexto do Brasil
As mudanças que ocorreram na agricultura
e pecuária brasileira moldaram a estrutura
produtiva do setor nos padrões que podem ser
5
Para maiores detalhes sobre a composição por produto
observados atualmente. O Brasil saiu da condição do PIB agropecuário dos estados brasileiros, consultar
de economia primário-exportadora para um País Guilhoto et al. (2007).

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Tabela 1. PIB Agropecuário dos maiores estados produtores em 1996 e 2006 (em bilhões - R$ de 2000)*.
Estados 1996 % 2006 %
São Paulo 15,57 20,13 24,52 21,14
Minas Gerais 8,56 11,07 14,33 12,35
Paraná 10,95 14,16 13,89 11,95
Mato Grosso 3,75 4,85 8,88 7,65
Brasil 77,33 100,00 115,95 100,0
*Deflacionado pelo deflator implícito do PIB nacional.
Fonte: Dados IBGE - Elaboração própria a partir dos censos agropecuários extraídos do Ipeadata.

Percebe-se que o Estado de São Paulo é outro lado, elevação da participação de Minas
o de maior participação no PIB agropecuário Gerais, fazendo a produção mineira responsável
brasileiro, mesmo não tendo participação por mais de 12% da produção agropecuária
elevada da agropecuária em seu PIB total (essa brasileira em 2006 e ocupando o segundo lugar
participação é ligeiramente inferior ao que ocorre na participação no PIB agropecuário do Brasil.
no Brasil). Com base em Guilhoto et al. (2007, p. Assim como São Paulo, Minas Gerais apresenta
47-48) pode-se explicar esta característica pela uma participação do PIB agropecuário no PIB
natureza econômica do estado, que apresenta o total em patamares pouco inferiores à média do
maior parque industrial do Brasil, e neste parque Brasil, mas responde por significativo percentual
está inserida uma grande gama de indústrias da produção agropecuária brasileira. Conforme
alimentícias, as quais necessitam de matéria­ Guilhoto et al. (2007, p. 48):
‑prima advinda das demais regiões brasileiras:
Dado o tamanho das economias mineira e
São Paulo possui uma agricultura paulista, e as fortes inter-relações de seus
vigorosa, destacando-se principalmente a setores primários com os setores industrial
cana, o café e a fruticultura (é o maior pro­ – a montante e a jusante – e de serviços,
dutor nacional de laranja). Na indústria Minas Gerais e São Paulo contribuem com
processadora da agricultura, o destaque pouco mais que 1/3 do PIB do agronegócio
fica por conta da produção de açúcar nacional. Juntos possuíam, em 2004,
e álcool, na qual o estado é responsável um PIB do agronegócio da ordem de
por mais de 60% do total produzido no R$ 190 bilhões, sendo que a evolução
Brasil (na safra 2005/2006, as proporções entre 2002 e 2004 não implicou alteração
de álcool e açúcar de São Paulo foram, na participação dos mesmos no PIB do
respectivamente, de 62% e 65% do total). agronegócio do País.
Destaque-se também a produção de papel
e celulose, cuja participação paulista foi No tocante aos principais produtos agrícolas,
de 41% em 2004. Na pecuária, os maiores verifica-se que a pauta de produtos agrope­
destaques estão no setor avícola e de cuários mineira é ampla e diversificada. Entre os
bovinos (GUILHOTO et al., 2007, p. 48). principais produtos, destacam-se: batata inglesa,
café, feijão, laranja, mandioca e tomate, com área
A Tabela 1 mostra, ainda, que houve queda total de plantio de 4,1 milhões de hectares e mais
nas participações do Paraná e Mato Grosso e, por de 500 mil produtores rurais em 2005. De acordo

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Tabela 2. Principais estados produtores de leite em 1996 e 2006 (em bilhões de litros).
Estados 1996 % 2006 %
Minas Gerais 5,60 30,26 7,09 28,12
Goiás 1,99 10,75 2,59 10,28
São Paulo 1,99 10,73 1,74 6,91
Paraná 1,51 8,18 2,70 10,72
Rio Grande do Sul 1,86 10,05 2,52 9,99
Brasil 18,51 100,00 25,23 100,00
Fonte: Dados IBGE - Elaboração própria a partir dos censos agropecuários extraídos do Ipeadata.

Tabela 3. Principais estados produtores de café em 1996 e 2006 (em bilhões - R$ de 2000)*.
Estados 1996 % 2006 %
Minas Gerais 3,70 52,51 6,43 58,59
São Paulo 1,00 14,22 0,96 8,72
Paraná 0,38 5,40 0,54 4,88
Bahia 0,22 3,11 0,52 4,77
Mato Grosso 0,03 0,37 0,02 0,15
Brasil 7,04 100,00 10,98 100,00
*Deflacionado pelo Deflator Implícito do PIB Nacional.
Fonte: Dados IBGE - Elaboração própria a partir dos censos agropecuários extraídos do Ipeadata.

com dados do IBGE, vale ressaltar também a Minas Gerais que, em 1996, já se responsa­
grande importância do estado na produção de bilizava por 30,2% da produção nacional. Em
leite e café, sendo o maior produtor nacional 2006, a produção do estado, embora crescente em
destes dois últimos produtos (CRUZ, 2008), termos absolutos, diminuiu sua participação para
conforme demonstrado nas Tabelas 2 e 3. 28,1%, já que o conjunto do País teve uma taxa de
O estado de Minas Gerais, em 1996 e 2006, crescimento maior.
apresentou-se como líder nacional na cultura do No tocante ao café, em 1996 e em 2006, a
café e da pecuária leiteira. A produção de leite produção de Minas Gerais respondeu por mais
pode ser considerada uma tradição no estado e, em da metade da produção nacional.
função disto, detecta-se um acúmulo expressivo A Tabela 3 demonstra que, entre 1996 e 2006,
de laticínios, empresas responsáveis por coletar a produção mineira de café aumentou de R$ 3,7
e industrializar o leite, nas regiões onde se bilhões para R$ 6,43 bilhões, ampliando sua par­
concentra o manejo da pecuária leiteira. Este fato ticipação na produção brasileira e consolidando­‑se
é central para a compreensão dos elevados níveis como o principal produtor do País.
dessa produção no estado, já que os laticínios
têm elevada demanda por leite. Com efeito, as
3. Distribuição espacial recente
fazendas produtoras de leite têm estreita relação
da produção agropecuária
com os laticínios, pautadas por contratos de de Minas Gerais
compra e venda do leite in natura, impulsionando
de maneira positiva toda a cadeia produtiva, Minas Gerais é um estado marcado por forte
que se estende desde a manipulação da genética desigualdade regional, com clara concentração
bovina até às gôndolas dos supermercados. espacial de atividades produtivas. Embora bem
A Tabela 2 revela o volume, em bilhões de menos concentrado que a indústria, o setor
litros de leite, dos principais estados produtores agropecuário também apresenta concentração.
no Brasil. Fica evidente a importância de Segundo Silva et al. (2005):

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[...] através dos dados do Censo Sudoeste/Oeste do estado na geração de


Agropecuário (1995-96), pode-se verificar seu PIB, fenômeno que vem se acentuan­
uma forte concentração espacial da do ao longo do tempo, e particularmente
produção agropecuária. Duas das doze nos últimos anos, em decorrência das
mesorregiões mineiras, o Triângulo características do processo de desenvol­
Mineiro/Alto Paranaíba e Sul/Sudeste, vimento por que têm passado as diversas
concentravam naquele ano 46,63% do culturas e segmentos da agropecuária...
valor da produção agropecuária do (FJP/BDMG, 2003, p. 140).
estado. No caso da produção vegetal
essa concentração era ainda maior, Padrões tecnológicos e de especialização são
50,07%, enquanto que no caso da indicados como a base explicativa dessa tendência
pecuária a participação das duas foi de de concentração na porção oeste de Minas Gerais:
39,6% do valor da produção animal total
Há um nítido movimento de concen­
(SILVA et al., 2005).
tração de atividade em produtos de maior
O processo de modernização pelo qual a valor de mercado, integrado a cadeias
agropecuária brasileira passou também ocorreu produtivas complexas espacialmente
no interior de Minas Gerais, fato observado pelo na área de domínio do Cerrado, onde
aumento do uso de tecnologias no campo, com as regiões do Triângulo Mineiro, Alto
uma necessidade cada vez menor de mão de Paranaíba e Noroeste do estado irão
obra nas atividades agrícolas, implicando em apresentar os melhores indicadores de
liberação de mão de obra para outros setores da produção e produtividade – em especial
região, modificando a demanda por trabalho no para os produtos de maior valor agregado
meio rural, alterando a composição de ocupação – como resultado da maior incorporação
no estado e deflagrando a desigualdade regional de tecnologias de produção (FJP, 2003,
(SILVA et al., 2005). p. 141).
A histórica integração do estado de Minas
Bastos e Gomes (2011) analisam as transfor­
Gerais com São Paulo e com a região Centro-Oeste
dá indícios de que a formação socioeconômica mações ocorridas na composição da produção
estadual transcendeu as delimitações geográficas agrícola de Minas Gerais no período de 1994 e
oficiais. As regiões do Sul de Minas e do Triângulo 2008, com atenção para os produtos definidos
Mineiro e Alto Paranaíba, em particular, eviden­ como dinâmicos, ou seja, que cresceram acima
ciam que a dinâmica setorial não ocorreu apenas da média da produção agrícola do estado no
pelas próprias forças do estado, mas por um caráter período: banana, café, cana-de-açúcar, feijão e
regionalista apregoado na iniciativa de expansão milho. As autoras examinam a taxa média anual
para regiões centrais do País (GUIMARÃES, 2004). de crescimento desses produtos, decompondo-a
A distribuição espacial vem configurando nos efeitos área, rendimento e localização
um movimento de concentração na porção oeste geográfica.
do estado, como identificado em estudo anterior As autoras verificaram que a taxa anual
(FJP/BDMG, 2003) que utilizou, basicamente, de crescimento desses produtos foi de 8,08%,
dados do final da década de 1990: com aumento na área cultivada (efeito área) de
2,52% e na produtividade (efeito rendimento),
Assim, como se pode observar, apesar do de 1,96%, indicando que a “variação positiva
setor agropecuário apresentar um padrão da produção pode ser resultado de mudanças
espacial relativamente diversificado, é tecnológicas devido à adoção de novos insumos,
nítida a maior importância das áreas novas técnicas de produção e melhoria do capital

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humano” (BASTOS e GOMES, 2011, p. 19). O Já a Zona da Mata, situada a leste do estado,
efeito localização geográfica também foi positivo apresentou taxa negativa (-19,36%).
(3,61% a.a.), “indicando a presença de vantagens Nessa perspectiva, cabe analisar como tem
locacionais e mostrando ser benéfico investir no evoluído a distribuição espacial da produção agro­
estado”. pecuária no período mais recente. As Tabelas 4 e 5
A análise de Bastos e Gomes (2011) corrobora apresentam os principais municípios de Minas
o movimento recente, identificado pelos Gerais com maior PIB agropecuário 1996 e 2006,
trabalhos citados, de concentração da produção respectivamente.
agropecuária na porção oeste do estado, pois As Figuras 1 e 2 mostram essa distribuição da
as taxas médias de crescimento dos produtos produção agropecuária em Minas Gerais em 1996
considerados dinâmicos nas mesorregiões anali­ e 2006 para todos os 853 municípios. Os mapas
sadas no trabalho foram: noroeste de Minas foram elaborados com base na distribuição do PIB
(20,96%), norte de Minas (14,28%); Triângulo agropecuário, com a constituição de cinco classes
Mineiro e Alto Paranaíba (19,29%); sul/sudoeste de municípios, estabelecidas automaticamente
de Minas (13,08%); Campos das Vertentes (31,83%). pelo software ArcViewGIS:

Figura 1. Distribuição espacial do PIB Agropecuário de Minas Gerais em 1996 (R$ de 2000).

O L

Paines.shp
0 - 8340.856
8340.859 - 22107.707
22107.611 - 45630.611
45630.611 - 90687.596
90687.596 - 301028.43
200 0 200 400 Milhas

Fonte: Dados IBGE - Elaboração própria a partir dos censos agropecuários extraídos do Ipeadata.

Figura 2. Distribuição espacial do PIB Agropecuário de Minas Gerais em 2006 (R$ de 2000).

O L

Paines.shp
10.265 - 8943.111
8943.111 - 23057.664
23057.664 - 49558.339
49558.339 - 88206.901
88206.901 - 211113.728
200 0 200 400 Milhas

Fonte: Dados IBGE - Elaboração própria a partir dos censos agropecuários extraídos do Ipeadata.

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Tabela 4. Distribuição espacial do PIB agropecuário municipal em Minas Gerais (1996).


PIB Quociente
Participação Participação
Município Mesorregião Microrregião Códigos Agropecuário Locacional
(% PIB MG) (Acumulativa)
(Milhões R$) 1996
1. Patrocino TM/AP Patrocínio 314810 301028,43 2,53 2,53 5,79
2. Uberlândia TM/AP Patrocínio 317020 168177,20 1,42 3,95 0,38
3. Coromandel TM/AP Patrocínio 311930 147041,41 1,24 5,19 6,20
4. Três Pontes S/SO de Minas Varginha 316940 124192,51 1,05 6,23 4,51
5. Monte Carmelo TM/AP Patrocínio 314310 124088,08 1,04 7,27 5,11
6. Araguari TM/AP Uberlândia 3110350 123253,79 1,04 8,31 2,35
7. Boa Esperança S/SO de Minas Varginha 310710 121897,34 1,03 9,34 5,69
8. Rio Parnaíba TM/AP Patos de Minas 315550 118766,98 1,00 10,34 7,74
9. Machado S/SO Minas Alfenas 313900 118240,29 0,99 11,33 4,79
10. Campos Gerais S/SO de Minas Varginha 311160 117676,85 0,99 12,32 6,94
11. Patos de Minas TM/AP Patos de Minas 314800 114401,47 0,96 13,28 1,46
12. Alfenas S/SO de Minas Alfenas 310160 113162,62 0,95 14,24 2,68
13. Carmo da
TM/AP Patos de Minas 311430 107046,02 0,90 15,14 6,03
Parnaíba
14. Uberaba TM/AP Uberaba 317010 104721,91 0,88 16,02 0,52
15. Unaí NO de Minas Unaí 317040 101688,72 0,86 16,87 3,74
16. Manhauçu Zona da Mata Manhuaçu 313940 90687,60 0,79 17,64 2,91
17. João Pinheiro NO de Minas Paracatu 313630 85839,54 0,72 18,36 4,40
Campos das
18. Nepomuceno Larvas 314480 80107,10 0,67 19,03 6,31
Vertentes
São Sebastião
19. Cabo Verde S/SO de Minas 310950 78711,06 0,66 19,69 7,21
do Paraíso
20. Serra do Salitre TM/AP Patrocínio 316680 78653,17 0,66 20,36 7,66
21. Carmo do
S/SO de Minas Alfenas 311440 72966,75 0,61 20,97 6,13
Rio Claro
22. Paracatu NO de Minas Paracatu 314700 70833,17 0,60 21,57 2,20
23. Perdizes TM/AP Araxá 314980 68448,20 0,58 22,14 6,76
24. São Sebastião São Sebastião
S/SO de Minas 316470 66574,05 0,58 22,70 2,48
do Paraíso do Paraíso
25. Frutal TM/AP Frutal 312710 64739,07 0,54 23,25 3,48
26. Três Corações S/SO de Minas Varginha 316930 64191,87 0,54 23,79 1,29
27. Elói Mendes S/SO de Minas Varginha 312360 62697,29 0,53 24,32 5,50
28. Passos S/SO de Minas Passos 314790 61775,38 0,52 24,84 1,43
Poços de
29. Campestre S/SO de Minas 311100 61411,85 0,52 25,35 6,35
Caldas
30. Paraguaçu S/SO de Minas Alfenas 314720 60356,99 0,51 25,86 5,39
31. Sacramento TM/AP Araxá 315890 60196,23 0,51 26,37 4,50
32. Mantena Vale do Rio Doce Mantena 313960 59351,60 0,50 26,87 5,04
Poços de
33. Botelhos S/SO de Minas 310840 59135,52 0,50 27,38 6,54
Caldas
34. Espera Feliz Zona da Mata Muriaé 312420 58706,35 0,49 27,86 6,42
35. Grão Mogol N de Minas Grão Mogol 312780 57257,63 0,48 28,34 6,57
36. Presidente
NO de Minas Paracatu 315340 55780,81 0,47 28,81 6,23
Olegário
37. Manhumirim Zona da Mata Manhuaçu 313950 55336,15 0,47 29,27 5,18
38. Caratinga Vale do Rio Doce Caratinga 311340 54148,51 0,48 29,73 2,08
39. Romaria TM/AP Patrocínio 315640 53778,76 0,45 30,18 8,02
40. Iturama TM/AP Frutal 313440 53544,10 0,45 30,63 3,49
41. Santa Vitória TM/AP Ituiutaba 315980 52985,87 0,45 31,08 5,61
42. Divino Zona da Mata Muriaé 312200 50521,07 0,43 31,50 6,50

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43. Guapé S/SO da Mata Varginha 312810 49524,41 0,42 31,92 6,86
44. Carmo da S/SO da Mata Varginha 311390 48988,92 0,41 32,33 6,90
Cachoeira
45. Itapagipe TM/AP Frutal 313340 48193,12 0,41 32,74 6,07
46. Montes Claros N de Minas Montes Claros 314330 47647,95 0,40 33,14 0,33
47. Capelinha Jequitinhonha Capelinha 311230 47363,37 0,40 33,54 4,28
48. Alpinópolis S/SO de Minas Passos 310190 47152,23 0,40 33,93 5,41
49. Prata TM/AP Uberlândia 315280 46737,64 0,39 34,33 4,43
50. Mutum Vale do Rio Doce Aimorés 314400 46588,44 0,39 34,72 5,84
50 municípios com
- - - 4126115,47 34,72 34,72 -
maior produção
Demais municípios - - - 7757856,17 65,28 65,28 -
Minas Gerais - - - 11883971,64 100,00 100,00 -
TM/AP = Triângulo Mineiro/Alto do Paranaíba; S/SO de Minas = Sul/Sudoeste de Minas; N de Minas = Norte de Minas; NO de Minas = Noroeste de Minas.
Fonte: Dados IBGE - Elaboração própria a partir dos censos agropecuários extraídos do Ipeadata.

Tabela 5. Distribuição espacial do PIB agropecuário municipal em Minas Gerais (2006).


PIB Quociente
Prticipação Participação
Município Mesorregião Microrregião Códigos Agopecuário Locacional
(% PIB MG) (% Acumulada)
(Milhões R$) 2006
1. Uberaba TM/AP Uberaba 317010 211113,70 2,25 2,26 1,08
2. Unaí NO de Minas Unaí 317040 130274,20 1,39 3,65 3,86
3. Uberlândia TM/AP Uberlândia 317020 126520,90 1,35 5,00 0,28
4. Patrocínio TM/AP Patrocínio 314840 124126,00 1,33 6,35 3,09
5. Rio Parnaíba TM/AP Patos de Minas 315550 109999,40 1,18 7,51 9,21
6. Frutal TM/AP Frutal 312710 88206,90 0,94 8,45 3,70
7. Araguari TM/AP Uberlândia 310350 85599,65 0,91 9,36 1,18
8. Três Pontos S/SO de Minas Varginha 316940 80164,37 0,88 10,22 3,29
9. Conceição das
TM/AP Uberaba 3117030 79846,13 0,85 11,07 4,74
Alagoas
10. Paracatu NO de Minas Paracatu 314700 78650,95 0,84 11,91 2,41
11. Patos de Minas TM/AP Patos de Minas 314800 77712,73 0,83 12,74 1,38
12. Sacramento TM/AP Araxá 3155690 76594,66 0,82 13,56 5,08
13. Coromandel TM/AP Patrocínio 311930 75776,15 0,81 14,37 5,87
14. João Pinheiro NO de Minas Paracatu 313630 73813,02 0,79 15,16 4,68
15. Perdizes TM/AP Araxá 314980 71746,18 0,76 15,92 7,79
16. Ibia TM/AP Araxá 312950 7116,04 0,76 16,68 4,06
17. Alfenas S/SO de Minas Alfenas 310160 69169,25 0,74 17,42 2,04
18. Monte Alegre
TM/AP Uberlândia 314280 67730,76 0,72 18,14 7,42
de Minas
Campos das
19. Nepomuceno Lavras 314460 67455,28 0,72 18,86 6,67
Vertentes
20. Canápolis TM/AP Uberlândia 311180 66726,73 0,71 19,57 6,19
21. Monte Carmelo TM/AP Patrocínio 314310 64216,38 0,68 20,25 3,12
22. São Sebastião São Sebastião
S/SO de Minas 316470 63946,39 0,68 20,93 2,14
do Paraíso do Paraíso
23. Boa Esperança S/SO de Minas Varginha 310710 62901,68 0,67 21,60 4,22
24. Passos S/SO de Minas Passos 314790 62873,76 0,67 22,27 1,57
25. Campos
TM/AP Uberaba 311140 59437,03 0,63 22,90 6,80
Florido
26. Campos do
S/SO de Minas Alfenas 311440 58540,96 0,62 23,52 6,62
Rio Claro
27. Ituiutaba TM/AP Ituiuba 313420 54708,22 0,58 24,10 1,16
28. Machado S/SO de Minas Alfenas 313900 54467,82 0,58 24,68 2,66
29. Três Corações S/SO de Minas Varginha 316930 54396,40 0,58 25,26 1,16
30. Itanhandu S/SO de Minas São Lourenço 313310 53720,26 0,57 25,83 6,18

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342  Produção Agropecuária em Municípios de Minas Gerais (1996-2006): padrões de distribuição, especialização e associação espacial

31. Monte Santo São Sebastião


S/SO de Minas 314320 5328,66 0,57 26,40 5,84
de Minas do Paraíso
32. Campos Gerais S/SO de Minas Varginha 311160 51644,51 0,55 26,95 5,67
33. Buritizeiro N de Minas Pirapora 310940 49558,34 0,53 27,48 6,39
34. Iturama TM/AP Frutal 313440 47923,81 0,51 27,99 2,30
35. Buritis NO de Minas Unaí 310930 47653,19 0,51 28,50 5,49
São Sebastião
36. Cabo Verde S/SO de Minas 310950 47429,70 0,50 29,00 7,61
do Paraíso
37. Serra do Salitre TM/AP Patrocínio 316680 47131,63 0,50 29,50 7,81
38. Pompeu Central Mineira Três Marias 315200 44653,81 0,47 29,97 3,97
39. Plumri Ceste de Minas Plum-í 315150 44200,34 0,47 30,44 2,84
40. Prata TM/AP Uberlândia 315280 43263,51 0,46 30,90 3,86
41. Carmo do
TM/AP Patos de Minas 311430 42988,16 0,46 31,36 3,70
Parnaíba
42. Presidente
NO de Minas Paracatu 315340 42953,97 0,45 31,82 6,26
Olegário
43. Campos TM/AP Araxá 31150 42941,54 0,45 32,28 6,80
Poços de
44. Campestre S/SO de Minas 311100 42904,49 0,46 32,74 5,30
Caldos
45. Montes Claros N de Minas Montes Claros 314330 42189,15 0,45 33,20 0,39
46. Nova Rezende S/SO de Minas São Sebastião 314510 42100,84 0,45 33,65 7,23
47. Tupaciguara TM/AP Uberlândia 31690 39392,28 0,42 34,07 4,20
48. Guarda-Mor NO de Minas Paracatu 316960 38386,37 0,41 34,48 8,54
49. Nova Ponte TM/AP Araxá 314500 37418,24 0,40 34,88 2,25
Poços de
50. Andradas S/SO de Minas 310260 36897,51 0,39 35,27 2,57
Caldas
50 municípios com
- - - 3306519,64 35,27 35,27 -
maior produção
Demais municípios - - - 6013676,36 64,73 64,73 -
Minas Gerais - - - 9320196,00 100,00 100,00 -
TM/AP = Triângulo Mineiro/Alto do Paranaíba; S/SO de Minas = Sul/Sudoeste de Minas; N de Minas = Norte de Minas; NO de Minas = Noroeste de Minas.
Fonte: Dados IBGE - Elaboração própria a partir dos censos agropecuários extraídos do Ipeadata.

Observa-se que houve uma concentração composta por municípios vizinhos na porção
crescente de 1996 a 2006 na parte oeste do oeste de Minas Gerais, nas três regiões referidas.
estado, envolvendo fundamentalmente três Dentro da própria porção oeste, observa-se
mesorregiões, denominadas Triângulo Mineiro redistribuição: ampliação da participação de
e Alto Paranaíba, Sul de Minas e Noroeste de municípios da região do Triângulo Mineiro e Alto
Minas. No período inicial (1996), a distribuição Paranaíba, que tinha seis municípios entre os dez
da produção agropecuária mineira já se concen­ maiores produtores de 1996 e passou para sete
trava principalmente na porção oeste do estado, em 2006, e da região do Noroeste de Minas, que
entretanto, esse processo se intensificou em passou a contar com dois municípios entre os dez
2006. Verifica-se que alguns municípios situados maiores de 2006, enquanto a região Sul/Sudoeste
na porção leste do estado (sobretudo nas de Minas, com quatro municípios entre os dez
mesorregiões Zona da Mata e Vale do Rio Doce), maiores de 1996, apresentou apenas um em 2006.
que apareciam entre os 50 maiores produtores Assim, percebe-se que as regiões do Noroeste
em 1996, deixaram de figurar nessa lista em 2006 de Minas, Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba e
(Tabelas 4 e 5). Sul de Minas apresentam maior participação
Dessa maneira, houve tendência de relativa na produção agropecuária, confirmando
elevação da concentração e de adensamento da a tendência identificada pela bibliografia a
produção agropecuária em uma faixa contínua respeito da década de 1990.

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4. Especialização econômica às incertezas, econômicas ou não, com relação ao


dos municípios na atividade futuro.
agropecuária de Minas Gerais Para se analisar o nível de especialização de
cada município na atividade agropecuária,
Em função dessa tendência de concentra- utilizou­‑se o Quociente Locacional, calculado com
ção na porção oeste do estado de Minas Gerais, base nos dados do PIB agropecuário obtidos
torna­‑se fundamental avaliar se esta ocorreu no Ipeadata (www.ipeadata.gov.br). Esse
com uma elevação da especialização na produ- índice mede a especialização do município em
ção agro­pecuária, haja vista que uma constata- comparação com a distribuição se­torial do PIB em
ção dessa natureza poderia indicar uma maior nível estadual (ver HADDAD, 1989), focalizando os
vulnera­bilidade do estado de Minas Gerais frente anos de 1996 e 2006, de acordo com a fórmula:

PIB agropecuário município/PIB total município


(1) QL agropecuário municipal =
PIB agropecuário Minas Gerais/PIB Minas Gerais

Figura 3. Distribuição espacial do QL do PIB Agropecuário de Minas Gerais em 1996 (R$ de 2000).

O L

Cepes1.shp
0-1
1-4
4-9
200 0 200 400 Milhas

Fonte: Dados IBGE - Elaboração própria a partir dos censos agropecuários extraídos do Ipeadata.

Figura 4. Distribuição espacial do QL do PIB Agropecuário de Minas Gerais em 2006 (R$ de 2000).

O L

Cepes1.shp
0-1
1-4
4 - 10

200 0 200 400 Milhas

Fonte: Dados IBGE - Elaboração própria a partir dos censos agropecuários extraídos do Ipeadata.

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344  Produção Agropecuária em Municípios de Minas Gerais (1996-2006): padrões de distribuição, especialização e associação espacial

Lima e Simões (2010) trabalham com os A Análise Exploratória dos Dados Espaciais
seguintes parâmetros: se QL > 4, há especiali­ (Aede) permite descrever a distribuição espacial,
zação produtiva; se o valor QL está entre 1 e 4, compreender os padrões de associação espacial
há indícios de especialização; se QL < 1, não há (clusters espaciais) e verificar a existência e as formas
especialização. O presente trabalho utiliza estes de instabilidade espacial. Segundo Almeida (2004),
parâmetros como referência. uma análise exploratória dos dados espaciais
Os resultados também podem ser observados parece apropriada para estudos setoriais, já que
nas Tabelas 4 e 5. Nota-se que a maioria dos as variáveis que determinam o Produto Interno
municípios apresenta QL maior do que a Bruto (PIB) do setor podem apresentar interações
unidade, revelando indícios de especialização no espaciais multidirecionais que beneficiam a
setor agropecuário, já que os setores de indústria própria dinâmica setorial. A análise espacial trata
e serviços, em especial aqueles com maior valor diretamente de efeitos decorrentes da depen­
de produção, estão presentes em maior pro­ dência espacial e heterogeneidade espacial.
porção nos principais centros urbanos de Minas A dependência espacial significa que o valor
Gerais, como mostram Martins, Bertolucci e de uma variável de interesse numa certa região
Oliveira (2009). depende do valor dessa variável nas regiões
Quando se observa a intensidade dessa espe- vizinhas j. O objetivo da construção dos pesos é
cialização, verifica-se que, entre os maiores níveis encontrar novas variáveis, as defasagens espaciais
de especialização (QL acima de 4,0), nova­mente (spatial lags), tanto para a variável dependente
há maior presença na porção oeste de Minas Ge- quanto para as variáveis explicativas e para os
rais, característica reforçada ao longo do período.6 termos de erro do modelo. As novas variáveis
Por outro lado, percebe-se uma queda, incorporam a dependência espacial através da
em geral, da intensidade da especialização na média dos valores dos vizinhos. Por isso, cria-se
atividade agropecuária dos municípios com uma nova variável que é a média ponderada dos
maior produção: em 1996, oito dos dez municípios vizinhos, ou seja, dos elementos da matriz de
com maior produção apresentavam QL maior pesos que não são zero (ALMEIDA, 2004).
do que 4,0; já em 2006, apenas dois municípios
Anselin (1988) argumenta que a heteroge­
enquadram-se nessa situação.
neidade espacial se manifesta quando ocorre
instabilidade estrutural no espaço, fazendo com
5. Associação espacial e que haja diferentes respostas, dependendo da
clusters de municípios na localidade espacial. A consequência é a possibi­
agropecuária em Minas Gerais lidade de provocar a instabilidade estrutural sobre
os resultados da regressão, causando a perda da
5.1. Metodologia e base de dados eficiência e, em alguns casos, estimativas viesadas
para análise de associação espacial e inconsistentes.
A hipótese do trabalho é que essa concen­ A econometria espacial é a subárea da econome-
tração espacial na porção oeste do estado de tria que trata da dependência espacial e da hete-
Minas Gerais decorre da elevada dependência rogeneidade espacial nos modelos econométricos.
espacial intermunicipal no setor agropecuário, A metodologia empregada neste trabalho
que produz externalidades positivas em algumas per­mite analisar o comportamento das variáveis
regiões, notadamente, aquelas mais produtivas no espaço, sendo capaz de identificar e tratar
no setor agropecuário. a heterogeneidade espacial e diagnosticar,
controlar e analisar a dependência espacial em
6
Por conveniência metodológica, os mapas apresentam determinadas regiões. Os dados utilizados na
os valores inteiros, tal como descritos por Lima e Simões
(2010). Entretanto, os intervalos efetivamente considerados
análise são do IBGE (censos agropecuários),
nas análises espaciais foram: QL < 1; 1 < QL < 4; e QL > 4. mas foram extraídos do Instituto de Pesquisas

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Guilherme Jonas Costa da Silva, Esdras Cardoso Souza e Humberto Eduardo de Paula Martins  345

Econômicas e Aplicadas (Ipeadata). Ademais, 2. Low – Low (Baixo-Baixo): Significa que


referem-se ao PIB agropecuário municipal dos os municípios que compõem este cluster
anos de 1996 e 2006. Para análise dos dados, (agrupamento), e também seus vizinhos,
utiliza-se a Estatística I de Moran, em duas apresentam valores baixos no tocante à
dimensões: global e local. variável em questão;
3. High – Low (Alto-Baixo): Situação em que
5.1.1. Estatística I de Moran Global a unidade ou um determinado agrupa­
mento espacial apresenta(m) valor(es)
A Estatística Global do Indicador de Moran
alto(s), mas os valores da variável em
é utilizada para mensurar a autocorrelação espa-
estudo nos municípios circunvizinhos
cial, pois através desta estatística pode-se obter o
são baixos;
padrão exato de associação presente nos dados
4. Low – High (Baixo-Alto): Situação em que
de um determinado local (i) com respeito à média
a unidade ou um determinado agrupa­
ponderada dos valores da vizinhança (j), estabele-
mento espacial apresenta(m) baixo(s)
cendo-se as defasagens espaciais ou lags espaciais.
O cálculo do indicador é dado pela seguinte valor(es) em relação à variável de interes-
fórmula: se, mas os valores da variável em estudo
nos municípios circunvizinhos são altos.
n // w ^ y - y h^ y - y h
I=
ij i j

// w /^ y - y h
ij i
2
Essa estatística discutida refere-se à análise
com – 1<I<1 e média E(I) = [1/n-1]. A letra n global; entretanto, o resultado global muitas
refere-se ao número de observações; no caso deste vezes é consequência de um resultado local.
trabalho são 853 municípios; A letra y é a variável Com efeito, deve-se analisar adicionalmente a
objeto de análise, ou seja, o PIB agropecuário; já estatística local de associação espacial.
as letras i e j são os (municípios) distintos onde
há observação desta mesma variável y, em que os 5.1.2. Estatística I de Moran Local
valores atribuídos a um determinado município
A Estatística Local do Indicador de Moran
(i) dependem dos valores dos vizinhos imediatos
será intensamente utilizada no trabalho para
(j), de modo que yi=f(yj), estabelecendo-se, assim,
um grau de interação dos distintos municípios diagnosticar os graus de associações presentes
i e j. Finalmente, a variável w é o critério de no setor agropecuário do estado de Minas Gerais.
vizinhança estabelecido para dois municípios Este é calculado da seguinte forma:
distintos, mais especificamente, é a matriz de ^ yi - y h/ wij ^ y j - y h
peso (peso é formado em relação à produção) dos Ii =
/^ y j - y h2 /n = zi / wij z j
municípios i e j (ALMEIDA, 2004).
Se a estatística apresentar um valor negativo, Os termos zi e zj são variáveis padronizadas e
indica que os fatores observados não são homogê- o somatório sobre a variável j indica que somente
neos; caso contrário, se apresentar um valor posi- os vizinhos diretos de um determinado município
tivo, sinaliza que há homogeneidade entre os va- são de fato considerados na análise, atendendo,
lores e, assim, uma associação espacial. Com base assim, o sentido de ser local. Essa estatística
na teoria econométrica espacial, são estabelecidos demonstra a significância do agrupamento exis­
quatro tipos de associação linear, quais sejam: tente em determinado local. Essa estatística I de
1. High – High (Alto-Alto): Significa que os Moran Local está indicando o grau de asso­ciação
municípios que compõem este cluster existente entre o valor de uma variável i em um
(agrupamento), e também seus vizinhos, determinado local e a média da outra variável nos
apresentam valores altos no tocante à municípios circunvizinhos (ANSELIN et al., 2003,
variável em questão; p. 7 apud ALMEIDA, 2004, p. 11).

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346  Produção Agropecuária em Municípios de Minas Gerais (1996-2006): padrões de distribuição, especialização e associação espacial

5.2. Resultados e análise exploratória de autocorrelação espacial global (classificação


high-high ou alto-alto) estão concentrados na
Os resultados da análise espacial no setor
porção oeste do estado, característica reforçada
agropecuário mineiro mostram que os padrões
ao longo do período, com a conformação nítida
mais elevados de autocorrelação espacial de uma “faixa oeste”, reunindo municípios do
concentram-se principalmente nas regiões do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, Sul/Sudoeste
Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba; Sul de Minas de Minas e Noroeste de Minas. Ao lado dessa faixa,
e Noroeste do estado. esboça-se outra, com classificação predominante
As Figuras 5 e 6 demonstram a consolidação da high-low ou alto-baixo, que são aqueles municípios
importância da produção agropecuária no oeste vizinhos que estão, de alguma forma, começando
do estado de Minas Gerais. As áreas em vermelho a se beneficiar dessa proximidade com os maiores
possuem valores elevados no tocante à produção produtores do setor agropecuário do estado.
agropecuária, indicando que municípios situados No Noroeste de Minas, mais especificamente
na parte oeste de Minas Gerais consolidaram-se os municípios de Unaí, Paracatu, Buritis e João
como os maiores produtores no estado. Observa­ Pinheiro apresentam o mesmo padrão. No Sul
‑se que os municípios com nível elevado e positivo de Minas, destacam-se os municípios de Poços de

Figura 5. Indicador de Moran Global do PIB Agropecuário de Minas Gerais em 1996.

O L

Q_AGRO96
Alto-Alto
Baixo-Baixo
Alto-Baixo
Baixo-Alto

200 0 200 400 Milhas

Fonte: Dados IBGE - elaboração própria a partir dos censos agropecuários extraídos no Ipeadata. Os exercícios apresentados nas Figuras 3 e 4 foram
realizados no Space Stat e visualizados no Arcview GIS 3.2.

Figura 6. Indicador de Moran Global do PIB Agropecuário de Minas Gerais em 2006.

O L

Q_AGRO06
Alto-Alto
Baixo-Baixo
Alto-Baixo
Baixo-Alto

200 0 200 400 Milhas

Fonte: Dados IBGE - elaboração própria a partir dos censos agropecuários extraídos no Ipeadata. Os exercícios apresentados nas Figuras 3 e 4 foram
realizados no Space Stat e visualizados no Arcview GIS 3.2.

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Caldas, Cássia, Itapecerica, Formiga e Alfenas. No indicador no período em consideração implica


Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, os municípios em dizer que existem externalidades positivas
de Araguari, Uberlândia e Uberaba formam um multidirecionais da produção agropecuária nos
cluster significativo, fato ratificado pelo Indicador municípios de algumas mesorregiões do estado
de Associação Espacial Local. de Minas Gerais.
A Estatística I de Moran Local, indicada nas A comparação entre as Figuras 7 e 8 mostra,
Figuras 7 e 8, também tem grande importância ainda, a ampliação desses clusters de maior signi-
para a análise, por evidenciar o grau de ficância: de uma faixa mais estreita em 1996, con-
significância de determinados clusters. Pelo solida-se uma faixa mais ampla em 2006, envol­
Indicador Local de Associação Espacial (Lisa), os vendo mais municípios do Triângulo Mineiro,
principais municípios produtores foram Araguari Alto do Paranaíba e Noroeste de Minas em um
e Uberlândia, localizados em um cluster de grande cluster que se aproxima do Sul de Minas.
destaque na produção agropecuária. Este fato pode ser observado na Figura 8,
A análise identificou os clusters setoriais em que alguns municípios aparecem em 2006
signifi­
cativos a partir do Indicador Local de consolidados como os maiores produtores e
Associação Espacial (Lisa). A significância deste outros beneficiados pela proximidade com estes.

Figura 7. Indicador de Moran Local - PIB Agropecuário de Minas Gerais em 1996.

O L

S_AGRO96
não significante
p = 0.05
p = 0.01
p = 0.001

200 0 200 400 Milhas

Fonte: Dados IBGE - Elaboração própria a partir dos censos agropecuários extraídos no Ipeadata. Os exercícios apresentados nas Figuras 3 e 4 foram
realizados no Space Stat e visualizados no Arcview GIS 3.2.

Figura 8. Indicador de Moran Local do PIB Agropecuário de Minas Gerais em 2006.

O L

S_AGRO90
não significativo
p = 0.05
p = 0.01
p = 0.001

200 0 200 400 Milhas

Fonte: Dados IBGE - Elaboração própria a partir dos censos agropecuários extraídos no Ipeadata. Os exercícios apresentados nas Figuras 3 e 4 foram
realizados no Space Stat e visualizados no Arcview GIS 3.2.

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348  Produção Agropecuária em Municípios de Minas Gerais (1996-2006): padrões de distribuição, especialização e associação espacial

Esses resultados também ressaltam elevada ao longo do período, indicando a


desigualdade regional do setor agropecuário importância da articulação da produção
no estado. Ademais, nota-se uma ampliação agropecuária com outros setores da
da formação de clusters significativos em Minas economia;
Gerais, com destaque para as regiões de maior c) Os municípios que apresentaram nível
produção. Isso implica dizer que o estado pode elevado de autocorrelação espacial global
estimular eficientemente a dinâmica do setor, positiva, com a formação de clusters, estão
com políticas de incentivo apropriadas. concentrados na porção oeste do estado,
Assim, as evidências mostram a maior pro­ sendo que estes clusters estão agregando
dução das regiões do Triângulo Mineiro/Alto do novos municípios e cada vez mais se
Paranaíba, Sul de Minas e Noroeste de Minas. integrando entre si.
Ademais, os municípios responsáveis pela maior
produção agropecuária no estado apresentam A hipótese do trabalho, de que esta tendência
proximidade e associação espacial, indicando siner­ à concentração da produção agropecuária seja
gia e presença de externalidades positivas e signi­ resultado da dependência espacial, foi confir­
ficativas nessas regiões do estado. mada, indicando a existência de externalidades
espaciais positivas intermunicipais. Em outras
palavras, essa análise mostra que há formação de
6. Considerações finais clusters significativos associados ao maior dina­
mismo do setor agropecuário nas regiões mais
O presente trabalho teve por objetivo ana­ produtivas, sinalizando que os fatores espaciais
lisar a dinâmica espacial recente da produção (dependência espacial ou estratégias produtivas
agropecuária em Minas Gerais, com o intuito de interdependentes) afetaram positiva e significa­
contribuir para o debate e a compreensão desta, tivamente a dinâmica do setor agropecuário.
haja visto que trabalhos recentes têm destacado O Indicador Local de Associação Espacial
a crescente concentração da produção na porção mostrou que existem dois clusters consolidados
oeste do estado. no setor agropecuário: um que reúne municípios
Os resultados das análises realizadas sobre a do Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba e Noroeste
dinâmica espacial da produção agropecuária de de Minas e outro presente no Sul de Minas. Entre
Minas Gerais nos anos de 1996 e 2006 podem ser esses clusters consolidados tem se constituído
sintetizados assim: uma faixa de municípios com alto nível de
a) A distribuição espacial da produção agro­ autocorrelação, que pode integrar as regiões
pecuária caracteriza-se, de fato, pela con- mais dinâmicas do estado nesse setor e, inclusive,
centração dos municípios com maior pro- configurar um novo cluster. Esse processo de
dução na porção oeste de Minas Gerais, integração das maiores regiões produtoras do
característica que se reforçou ao longo do estado de Minas Gerais pode ser resultado da
período; infraestrutura de transporte rodoviário e dos
b) Embora haja indícios de especialização recentes investimentos realizados nessa área.
agropecuária na maior parte dos municí­ Os resultados sugerem, ainda, que os clusters
pios de Minas Gerais, os municípios com de municípios identificados devem receber mais
níveis mais elevados dessa especialização atenção por parte do setor público, para que
concentram-se na parte oeste do estado, desenvolva e estimule novos ingressos naquele(s)
característica também reforçada ao longo polo(s) agropecuário(s) de crescimento. Assim,
do período. Entretanto, a intensidade como proposição de política, acredita-se que
de especialização em agropecuária dos novos investimentos em infraestrutura, em espe­
municípios com maior produção reduziu‑se cial infraestrutura de transporte que reforce a

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ligação entre esses dois clusters, podem contribuir FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO. O Padrão Espacial
para a consolidação desse novo cluster setorial em do Setor Produtivo. In: Banco de Desenvolvimento de
formação no estado, uma vez que são centrais Minas Gerais (BDMG). Minas Gerais do Século XXI,
Belo Horizonte, 2003. Vol. II, Cap. 4.
para a maior integração e crescimento estadual.
Dessa maneira, entende-se que esses resul­ GASQUES, J. G., REZENDE, G. C., VERDE; C. M.
tados são úteis tanto para o setor público quanto V., SALERNO, M. S., CONCEIÇÃO, J. C. P. R. e
CARVALHO, J. C. S. Desempenho e crescimento do
para o setor privado, uma vez que ambos podem
agronegócio do Brasil. Brasília: IPEA, fev. 2004. p. 39
se beneficiar dessas informações: o setor privado, (Texto para discussão, n. 1009).
por saber os locais em que a atividade agropecuária
GUILHOTO, J. et al. PIB da Agricultura familiar: Brasil-
está mais aquecida, e o setor público, por iden­
Estados Brasília: MDA, 2007, p. 172. – (NEAD Estudos; 19).
tificar as regiões mais e menos dinâmicas no
estado, o que permite elaborar políticas especí­ GUIMARÃES, E. N. A Influência Paulista na Formação
Econômica e Social do Triângulo Mineiro. In: Anais do XI
ficas para intensificar as externalidades locais nas
Seminário Sobre a Economia Mineira. Disponível em
regiões dinâmicas ou para atenuar os problemas
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