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Julgado - Furto Famélico

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PENAL E PROCESSO PENAL.

HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO


PRÓPRIO. DESCABIMENTO. TENTATIVA DE FURTO DE 1 (UMA) PEÇA DE
CARNE BOVINA, NO VALOR TOTAL DE R$ 118,06, (CENTO E DEZOITO REAIS
E SEIS CENTAVOS). RESTITUIÇÃO DOS BENS À VÍTIMA. REINCIDÊNCIA X
APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. EXCEPCIONALIDADE DO
CASO CONCRETO. ATIPICIDADE MATERIAL DA CONDUTA. ORDEM
CONCEDIDA DE OFÍCIO.
1. O Superior Tribunal de Justiça, seguindo entendimento firmado pelo Supremo
Tribunal Federal, passou a não admitir o conhecimento de habeas corpus substitutivo de
recurso previsto para a espécie. No entanto, deve-se analisar o pedido formulado na
inicial, tendo em vista a possibilidade de se conceder a ordem de ofício, em razão da
existência de eventual coação ilegal.
2. De acordo com a orientação traçada pelo Supremo Tribunal Federal, a aplicação do
princípio da insignificância demanda a verificação da presença concomitante dos
seguintes vetores (a) a mínima ofensividade da conduta do agente, (b) a nenhuma
periculosidade social da ação, (c) o reduzidíssimo grau de reprovabilidade do
comportamento e (d) a inexpressividade da lesão jurídica provocada.
3. O princípio da insignificância é verdadeiro benefício na esfera penal, razão pela qual
não há como deixar de se analisar o passado criminoso do agente, sob pena de se
instigar a multiplicação de pequenos crimes pelo mesmo autor, os quais se tornariam
inatingíveis pelo ordenamento penal. Imprescindível, no caso concreto, porquanto, de
plano, aquele que é reincidente e possui maus antecedentes não faz jus a benesses
jurídicas.
4. Posta novamente em discussão a questão da possibilidade de aplicação do princípio
da insignificância, mesmo diante da reincidência do réu, a Terceira Seção desta Corte,
no julgamento do EREsp n. 221.999/RS (Rel. Ministro Reynaldo Soares da Fonseca,
julgado em Documento: 1665740 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe:
13/12/2017 Página 1 de 4nSuperior Tribunal de Justiça 11/11/2015, DJe 10/12/2015),
estabeleceu a tese de que a reiteração criminosa inviabiliza a aplicação do princípio da
insignificância, ressalvada a possibilidade de, no caso concreto, a verificação que a
medida é socialmente recomendável.
5. Situação em que a tentativa de furto de 1 (uma) peça de carne bovina, avaliada em R$
118,06 (cento e dezoito reais e seis centavos), bem como o produto foi devolvido à
vítima.
6. Ademais, como o próprio Juízo de primeiro grau havia afirmado, ao conceder a
liberdade provisória, que o paciente encontra-se desempregado, em situação de
hipossuficiência social, uma vez que faz tratamento clínico, recebendo tão somente o
valor do bolsa família, devendo-se, pois, concluir que se trata também de caso de furto
famélico.
7. Assim, na espécie, a situação enquadra-se dentre as hipóteses excepcionais em que é
recomendável a aplicação do princípio da insignificância a despeito da existência de
reincidência, reconhecendo-se a atipicidade material da conduta. Precedentes análogos:
AgRg no REsp 1415978/MG, Rel. Ministro FELIX FISCHER, Quinta Turma, julgado
em 02/02/2016, DJe 15/02/2016 e AgRg no AREsp 633.190/SP, Rel. Ministro
SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, Sexta Turma, julgado em 14/4/2015, DJe 23/4/2015,
entre outros.
8. Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida de ofício para restabelecer a
sentença absolutória

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