Celso Furtado - Análise Do Modelo Brasileiro
Celso Furtado - Análise Do Modelo Brasileiro
Celso Furtado - Análise Do Modelo Brasileiro
3 • Edição
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·dro estrutural. A partir do momento em que o captamos,
o comportamento das variáveis endógenas deve encontrar
explicação no sistema e nas leis que presidem as relações
deste com suas fronteiras Internas e externas . lf: a partir
deste ponto que a anãllse económica adquire maior pre-
cisão, dando-nos os instrumentos com que identificar ten-
dências e descortinar o horizonte de opções com que ·se
confrontam os agentes responsáveis pelas decisões mais.
significatlvEiS. A história é" feita pelos homens, mas estes i
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não escolhem nem o lugar nem o dia em que nasceJ:.ll, e ·
só raramente aquele onde atuam. ·
Agradeço aos meus alunos da Universidade Panthéori~
Sorbonne o estimulo, que lhes devo, de um franco e per-
manente confronto de Idéias sobre os temas de que trata
o presente volume. Análise do "Modelo" Brasileiro
Paris, março de 1972
C.F.
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0 QUADRO EsTRUTtmAL MAIS Ál\iPLO
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f~ntes de emprego para sua numerosa e crescente popula- trial. Percebe-se facilmente essà ligação se se tiver· eni
çao, grande parte da qual vegeta em setores urbanos mar- conta que o que chamamos de revolução indust;ial ·assu, ..
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ginalizadOs ou na agricultura de subsistência. Entretanto, mlu desde ·o inicio duas. formas: a) transformaçao de téc·
como a tecnologia - variável que define a constelação nicas produtivas, Inicialmente nas manufaturas e nos_. ~·
de bens ·a produzir e condiciona a seleção de processos meios de transporte, e b) modificação nos padrões de con- .
produtivos - escapa ao centro interno controlador das sumo. As duas formas eram correlatas, constituindo um
decisões económicas, a intensificação da capitalização não só processo; mas, enquanto os padrõe~. de _consumo;s~ •'·
s!gnifica necessariamente criação de empregos. Significa transformavam em uma área com ramif1caçoes em rapl·
sun, quase necessariamente, maior concentração da .renda da expansão em todos os continentes, as técnicas produti-
ou seja; um aumento mais que proporcional da produçã~ vas somente se transformavam de forma significativa em
de bens supérfluos1 . . uma pequena subárea. Conw~m esta subácea, c:ujo con·
A experiência brasileira põe em evidência a necessi- torno se define no correr do século XIX, os aturus pafses ·
dade de estudos aprofundados do processo de industrial!- · · desenvolvidos. O subdeSenvolvimento apresenta-se, assim,
zação nas ~ondi~ões do subdesenvolvimento. A tese, que •
desde
-
o inicioJ como uma transformação
- • -·. . -.
nos • padrões de
prevaleceu uned1atametne após ·a guerra, de que a Indus- consumo (mesmo que tal transformação afete apenas uma
trialização constitui razão suficiente para a absorção do minoria da população da área em questão) sem que con-
subdesenvolvimento, está certamente desaeredltada. Con- comitantemente se modifiquem as técnicas de produção.
tudo, a discussão em torno desse problema tem assumido Evidentemente não se trata de quaisquer modificações
natureza principalmente Ideológica. A preocupação tem nos padrões de' consumo, e sim, de modificações q\le pres-
sido mais condenar ou justificar o que af está do que com~ , supõem uma elevação de produtividade. ·
preender por que e como se chegou até aí. Ora, esse es-
f?rç? de C_?mpreensão é indispensável, se se pretende dis- · Uma outra forma de de\;crever o pr~ce~so a que ~os
cernir opçoes, tanto as havidas e perdidas no passado como estamos referindo é a seguinte: a revoluçao mdustri~ Sl~·
as. que continuam válidas no presente. • nificou elevação de. produtividade, Isto é, maior !lflcác!a
Nunca é demais lembrar que a história do subdesen- na utilização dos recursos numa ampla área, que te~d~r1a.
. .volvimento está intimamente ligada à da revolução indus- a abranger todo o planeta. Esse aumento de ·produtiv1da-...
de teve duas origens básicas: a aceleração _do ~rog;e~o:·
tecnológico e a ampliação do mercado. ·Nao ha·dUVJda
' A anâllse e.conômica convencional Ignora o ca~celto de
1
. que esta última foi uma conseqüência, mas tev!! conside· .•'·
bens .suip6rfluoa, Qlle pressupõe a · definição de um bem-estar so- rável efeito multiplicador. O que nos interess~~; assinalar
cial distinto da ,soma das satlsfaçOes Individuais. Nilo sendo
posslvel adicionat ·. satlsfaçOes pesroais, porquanto nlio é possl- é que em amplas áreas· o aumento de produtividade teve
vel quantlficâ-la.s, !OS economistas utilizam o mi!todo falacioso como. origem quase única a ampliação ~o m~~cado. Des-
de confundir o nlvel da renda nacional, Isto é, o montante ·do tarte a renda que permitiu elevar e diversificar os pa-
custo dos fatores, expresso na contabilidade das unidades pro-
dutivas, com o nivel do bem-estar social. Desta forma, uma
drõe~ de consumo decorria essencialmepte de vantagens
dada quantidade de recursos tem o mesmo valor social qual· comparativas em tra!!Sações internacionais e apenas secun-
quer que se.la o seu destino: financiar o desperdlclo dos Ôclosos· dariamente de transformação nas formas de produzir'.
ou satisfazer as necessidades bâsicas de alimentação e sa(ide
da ·população. Este critério é tlio arbitrârio como qualquer ou-
tro, pois não existe possibilidade de defhllr com rigor lógico • Como o progresso tecnológico penetrou, .desde o Inicio,
a p.;~rtlr de dados microeconômicos, uma função de bem-estar nos meios de transporte, seria lnexato afirmar que .o aumento
social.. Nest~, como em muitos outros campos da anâllse eco· de produtividade dos paises da perüeria do capitalismo decorreu I
nômica, o l,'lgor da apresentação formal serve para ocultar 0 apenas de vantagens comparativas. ,Ocorre, entretanto, que o
fundo do problema, que é de opção entre valores substantivos. capital Investido nos novos meiós de transporte (ao qual se
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.. 9
, Como a elevação de produtividade económica se ma-
nifestava em um e outro casos e os padrões de consumo mas básicas de progresso tecnológico•. Uma vez estabe-
pel? .menos no que respeita a uma parcela da População: lecida a discrepância, uma série de fatores tornou extre-
se Iam homogeneizando, não parecia sem fundamento a mamente difícil sua.. eliminação subseqüente. .
tese da doutrina liberai segundo a quai os frutos da revo- A hiStória do subdesenvolvimento consiste, fundamen- .
lução industriai se repartiam entre todos. Contudo sob a taimente no desdobramento desse modelo de economia em. ·
superfície pr~v~ecia 9 fato fundamentai de que ~ pro- que o p;ogresso tecnológico serviu muito mais para mo-
gresso tecnologico estava sendo assiir.Uado de forma ex- dernizar os hábitos de consumo do que para transt;ormar·
tremamente desiguai. Quando se tem em conta que é o os processos produtivos. A part~r. do J:nome':lt? ~m. que en-
progresso tecnológicO que comanda a acumulação de ca- trou em declinio o sistema tradiciOnal de divisao· !llterna:
pital. e que é o aumento da dotação de capital por pessoa cionai do "trabalho - ou seja, quàndo a demanda mterna-
ocupada que permite a transformação das formas de pro-· cional de produtos primários passou a crescer com rela-
duçao, logo se compreende que o verdadeiro desenvolvi- tiva lentidão - ou, no caso de certas regiões, os re~ursos.
naturais de fácil utilização foram plenamente utili~dos
mento ocorria apenas nas áreas em processo de industria- - os países subdesenvolvidos tiveram de tomar o cammho
lização. A elevação de produtividade e a modificaÇão nas da industrialização. Ora, esse caminho, como meio _de su-
formas de consumo, sem assimilação concomitante de pro- perar o subdesenvolvimento, vem-se revelando partic~
gresso tecnológico, nos processos produtivos constituia mente difícil. A verdade é que o processo de moderntza-
em .reaiigade o _ponto _ge_Partida da form~ão dàs estrutu- ção, isto é, a assim~~ção do progresso tecnológico nos pa-
ras subdesenvolvidas. Se se admite, nuriia 6tica mais arh- · dr.ões de consumo· Ja alcançou elevado nível - pelo me-
pia, que o progresso tecnológico assume duas formas bá- nos no que respeibt a uma minoria da população - e con-
sicas.- transformação dos processos produtivos (o que
per~mte .e~eva; a dotação de capital por pessoa .ocupada)
e diversificaçao dos bens e serviços finais - cabe afir-
- tinua a avançar rapidamente. Para acompanhar esse
avanço a industrialização deve ap<?i:u--se e!D intensa ca-
pitalização o que não se compatibiliza facilmente com o
m~r _q~~ o subdesenvolvimento decorre da assimilação nível médi~ de renda de um país/sub~esenvolyido. Aso-
PriOritária da segunda dessas formas. Não se trata de lução que se tem encontrado, consiste, na prática, em rea-
uma preferência arbitrária, e sim de .uma conseqüência. lizar a industrialização em benefici? de. uma l';linoria d:'l
da forma de inserção no sistema de divisão internacional população, o que, salvo casos excepciOnais,_ restrmge as d~
~o trabalho que surgiu com a revolução industriai. A mensões do mercado, com reflexos negativos na produti-
característica essencial das estruturas subdesenvolvidas vidade industrial.
estaria, assim,_ nessa desigual assimilaç1!9 das duas fol::. Na fase de industrialização, a característica funda-
mentai das estruturas subdesenvolvidas está em que o ní-
vel tecnológico correspondente aos padrões de consumo,
incorpora a nova tecnologia) continuou por multo tempo in- isto é ao nível de modernização, restringe a difusão do
tegrando as economias em que eram produzidos os novos equi- prog~sso tecnológico, isto é, sua generalização ao con-
pamentos. Tudo se passava como se o novo sistema de trans- junto das atividades produtivas. Desta forma, jâ não se
portes que se Instalava em escala mundial, Inclusive as es- trata- como ocorreu na fase dos aumentos de.pPOdUti·
tradas de ferro, fosse parte Integrante das economias Impor-
tadoras de matérias-primas e nao <los pa!ses que produziam vidade decorrentes de vantagens comparativas - de atra-
!!Stas para ~portaçlio. O mesmo se pode cUzer com respeito à
mdústrla mmelra, localizada em função das jazidas, mas Inte-
grada ':las econo\')ias que controlavam o capital e a técnica e · • Nos pa!ses exportadores de produtos minerais o setor ex·
consum1am os mmerais. portador deve ser considerado como não Integrado pelo lado da
produção, na fase que estamos considerando. Veja-se nota 2.
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s~ técn<?lógico nas formas produtivas, relativamente ao m- slficada ou não, dependendo da orientação do progresso
. vei ·de 'fhódernizaç/fo. Na nova 'fase o progresso tecnoló- tecnológico• . . .
gico penetra simultaneamente nas duas faixas .. Mas quan- Consideremos agora o caso de uma economia dese~
to mais rápida a penetração, no qUe respeita à diversifica- volvida. A hipótese de progresso técnico sem introdpç~o
ção do consumo e introdução de novos produtos, mais len- de novos produtos provocaria, neste caso, uma tende!lCJ.!I
ta ·é a· difusão no que concerne às formas produtivas. Na à uniformização crescente das formas de consumo. Com .
· linguagem dos sociólogos latino-americanos, mais. excZu- efeito, se aumentam proporcionalmente todas as remune·
liente é o desenvolvimento. Para aclarar o problema, su- rações de fatores, a poupança dos grupos de altas rendas .
ponhamos que, por um ato arbitrário, se decida, num pais teria de aumentar (não havendo possibilidade de diver-
subdesenvolvido, interditar a inovação técnica: tratar-se-ia sificar o consumo de bens) o que r~quereri!!. ~a ~c~}er~-
de aumentar a produção de bens e serviços já conhecidos, . ~o, da a~ulaç~o' . ;Ex;çl_uida ~- )?,!P.ótese. d.eJnS!lfJC~en.cm .
por métodos também já conhecidos. Se se simplifica o ·ae demanda efetiva, a taxa media de sãlár10 tenderia a
problema, cabe admitir que a dotação de capiÍ/11 por pes- · aumentar, reduzindo as disparidades das formas de con·
soa ocupada no setor onde já penetrou a técnica moderna sumo. A permanente introdução. d~ no~os produtos ~ n~
permanecerá estãvel'. Sendo ass.im, basta que. o estoque vas formas de consumo é con~1çao -mne qua '1'1.0?" para
de capital ccl!sça mais intensamente que a população ·para a preservação das formas sociais que caracter1~am o
que a tecnologia mais avançada se propague ao conjunto. sistema capitalista. A unifOJ;mi~ade, me~o aproximada,
do sistema éconômir.o . Ao cabo de certo tempo. o coniun- das formas de consumo retiraria toda eficácia ao ~om
to do sistema teria alcançado a nomogeneldade técnica plexo sistema qe incentivos que põe. em ·marcha os div~r
aue caracteriza a_s economias desenvolvidas•. Supo- sos agentes responsáveis pelo dinamismo dessa economia.
nhamos agora que haja progresso tecnoJogico 1 mas que Se nos países desenvolvidos, o fluxo de novos pro·
este se limite aos métodos produtivos (aumento de eficiên- dutos ~ o complexo de inovações tecnológicas que ?S
~ia na utilização dos recursos); é de admitir que o pro- acompanham são essenciais ao funcionamento da economia
cesso de acumulação tenda a acelerar-se. A rapidez com capitalista 'no âmbito mundial tais fatores operam no_se1:1·
que se absorverá o-subdesenvolvimento (isto é, com que tido de pr~servar as relações de dominação .~ depend~ncllil
se avançará na homogeneização técnica) .-será iriten- que caracterizam a atual e_conomia internacional. Tmha·
se como assentado que 'a rigidez estrutural imposta às eco-
• Para facilitar a exposição deixamos de considerar os pro- nomias.eXPortadoras de matérias-primas pelo sist.e~a in·
blemas que poderiam surgir do lado da composição da demanda. ternacional de divisão do trabalho era a causa bas1ca da
Cabe assinalar que, sendo a demanda de manufaturas de elas-
tiç!<:)ade -·renda superfór a 1, e sendo a qiitação de cap1fal por
trabalhador no setor manufatureiro superior à meaia esta ul· - e A menos que se admita a ficção teórica de maleabilidade ·
t!ma não poderia deixar de aumentar. ' do ca !tal Isto é que a dotação de capital. por trabalhador pos-
' O conceito de ·homogeneidade técnica é d!flc!l de pre- sa se~ arb!trar!ámente ~stabelE!cida, a orientação_ do progresso
cisar, mas sua significação niai é facumeute perceptiveJ, par- técnico determinará ·o grau' de absorção de mao-de-o~r!' por,
ticularmente quando se comparam distintos setores de at!vidade unidade de investimento. Pode ocorrer que _uma. intensificação
como as manufaturas, a agricultura, a indíistria de construção, umula ão ao. acarretar renovação maiS rápida de certos
os transportes, etc. As economias desenvolvidas caracterizam- ~~u~"ament;s, ~e traduza em absorçã? mais lenta de mão-de-obra
·se po:r. Um gràu relativamente avançado d!Í homogeneidade no setor em que já penetrou a técmca moderna. .
técnica_, __ mas também porque. ocupam nosição d~ vanguard!LlJQ · ' Também é coriceb!Vel que os grupos de alt~s ren!las au·
progresso tecnoJOg!co com respelfii ·11: ativtaades que desempe- mentem fortemente a demanda de serviços (tunsmo mterno,
nham papel dinâmico, tais como a produção de bens de capital serviços pessoais, etc. ) , que não podem .ser considerados. como
e a produção ~ara a exportação. produtos novos. Neste caso, ·a taxa ~édia, d~ salário tena que
aumentar, o que levaria a conseqüências Similares.
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situação de dependência a u esta
economias. Como coro~0q
lização traria consi 0 · •
a'fum vam condenadas~
. ava-se que a industria.
lação do progresso tecnológica. Contudo, quando procura-
mos identificar as .causas tlesses fenômenos, logo perce-
sões económicas Nga·o stpnea. crestã~ente._ .autonomia de deci- bemos que se trata menos de anomalias que de processos
que um sistema .industrialVIa
é en .o oo · m sUf"lCJente
· clareza . adaptativos a condições estruturais bem definidas da eco-
~u~ção e não um circuito feum processo em perman~te nomia capitalista internacional. Num dos casos essas con-
save1s por essas mutações • cha~o · Se os fa.tores respon- diÇões es4Uturais são .dadas pelos mercados int61"11(1Cidnais;
o controle des~es fatores sao ex genos .ao Sistema;. basta no outro, decorrem do controle do progresso teCllológico
· J;ruturais de dependência ~ara que s~ cnem condições es- e do poder financeiro exercido pelas grandes empresas ln-
q~e prevaleciam no sistema ~:~ !llaal 1s destr~~ _do. que as tem~cionais. &sas condições estruturais operam, por um
cionai do trabalho. Como . Cion . e diVI_sl!o mterna- lado, no sentido de concentrar recursos em áreas prioritá-
s~s subdesenvolvidos nasc~:a:~temas mdus_tl'l!lls. dos· pai- rias, por outro no de homogeneizar os padrões· de c<lnsU·
ço.es e passaram em se id Para 8Ubstttutr lmporta- ~·- mo em escala mundial. Da ação convergente desses dois
miniat~ra, 0 fl~o -de :!o:- p~:~duzir, ainda que em
senvolvidas, a.s novas formas de d s ~ ~conom1as de-
processos resulta que a difusão do progresso tecnológico .
na periferia do mundo capitalista seja extremamente de-
se consolidar ependencia surgiram e sigual e relativamente lenta. Viste;~ .deste ângulo mais fun-
filiais das ~ sem encontz:ar maio.res resistências. AS damental o subdesenvolvimento apresenta-~e como uma si-
ao nascer, de ume~óe:P:sas .ll!ternaCJonais já di5Pililha!U, tuação de dependência estrutural, que se traduz por um
lizar com eficiência : s;~~~~~o._qu~ as. capacitava a rea- horizonte estreito de opÇões na formulação de objetivos
beneficiavam diretame.nte d~s ~ ta e_ Importa~, e se
1 0
próprios .e numa reduzida capao;:idade de articulação das
rendo na casa matriz Na m d"d u çoes que Iam ocor- decisões económicas tomadas em função desses objetivos.
reproduzir, com um interva.r: ~ a ;::n
fluxo de produtos em erman e mpo decrescente, o
que se pretendeu
ra nas economias dese~volvi~te diversif~cação que jor- \.
quase condição necessária da e!· !I:- de~endéncia tornou-se PERsPECTIVA HisTÓRICA
eficiência, significando neste ICiencm · Po;r outro lado,
inovação de produto · caso ~star na vanguarda da A históril;l econ6mica do Brasil neste século, enfeixa
absorção do subdese~v~lvunll!odeltos, Implica em retardar a uma das mais ricas experiências de Industrialização em
. en o.
Se 0 bservamos em conJ·u t
.
senvol:vimento _ 0 ex °. d · .
· n os OIS .tipos de subde-
condiÇões de subdel!envolvimento. Abordaremos essa ex-
periência a partir das hipóteses que vimos de formular so-
iJ?-dustrializado, que mf':n~~~ d~~rodutos primários e 0
bll!ados em distintas pro or -e a se apresentam com- ..'
' I bre o quadro estrutural do sistema capitalista e a forma
por que nele se cria e difunde o progresso teCilológico .
dOis casos se manifestampaM~~..- constatamos que nos Uma visão global do subdesenvolvimento é indispensável,
__ ·~u ....ÜUJ' na forma de assimi-.
se· pretendemos Identificar o que é relevante e especifico
8
A _penetração do progre880 u...:.:. 00 . no caso brasileirO. ·
a destrUição de fonte d• acamta, vla de re
outras de importànci! sTr:u~~te~o aue°
.""""
não SãO SUbStitufdas ~
de um1.1 parcela crescente da ' an origem à marginalizaglfo r Asslnaliunos ~terlormente que a-fase de rápldl!o ex-
pansão das exportações de produtos primários, por Indu-
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pacidade produtiva e a rãpidrgJ:Y!:J~eisubdeutruza:çAo de ca- ção ·da revolução Industrial, se caracterizava por uma mo-
~~e!lta os custos sociais de uma Indústria a __ ,:~ulpamentos ' dernização das formas de consumo (ainda que de uma
nCia de grupos Internacionais. org~,_da à conve-
~ automóveis, que se observa enÍ :ãtfultlpllcfdade de fAbricas . minoria) sem relli correspondência na evolução tecnoló-
..... a, são apenas alguns exemplos de os paises da .América La- . gica. dos processos produtivos. Não significa isso, entre·
S8a8 anomaliaB. tanto, que inexistisse totalmente a industrialização, A ver-
14 f.
.1-•
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dade é que,' quase sem excecão, um fluxo Importante de As duas faixas de industrializaçãO que vi~os. ~e ~
exportações de produtos primários engendrou certas ati- ferir conjugaram-se, no Brasil, em ~a dim;ez;;!lo .lllgnJ!I·
vidàdes complementares de tipo industriai,· que vão desde cativa, produzindo-se certa autononu!l da~ mtCl!ltiYas m~
o trataménto superficial exigido por, produtos como o café · dustriais com rellP.eito ao elemento dmãm1co prmCI!;!~ pa
e O !!lgodão até processamentos multo avançados como· Os economia, que eram as exportações de produtos prlm~r1os.
requeridos pelo açúcar, a carne e as sementes oleagino- Essa autonomia se acentuava nas fases de depres~ao_ do
sa~. Tais Indústrias, assim como um ~lstema moderno de
comércio exterior. Contudo, a expansão da econom1a con-
transportes, Implicam num serviço de manutenção que tinuava a depender fUndamentalmente. do aumento das ex·.
pod~ dar origem a Importantes instalações mecânicas --ou portações e da capacidade de importar'•. . • . ·
simplesmente a oficinas artesanais mecânicas onde se for• o estudo dessa primeira fase de industrlahzaçao te~?
ma uma mão-de-obra especiallzadà. Esse tipo de indus- Importância particular, se se pretende captar a especlf1"
. ·trlallzação pode ser Insignificante em pequenos paisee, mas .cidade da classe Industrial brasileira,. Os grupos _ind~
alcança dimensões consideráveis quando a economia ex- trlals mais importantes, até hoje surgidos no pa1s, sao ori-
. portadora é de grande vulto. Trata-se, aqui, de uma in~ ginários dessa época. Caberia falar, neste caso, de um
dustriallzação diretamente complementar das atividades núcleo de burgue.&ia n.acional9 Grande parte do debate .em.
de exportação, que se expànde ou contrai em função des- torno da natureza do capitalismo ·brasileiro tem com?
tas e -que dificilmente chega a desempenhar um papel au- · a
ponto de partida uma resposta essa g11;estão. !'~il: ev1- ·
tÓ'!I071W. Existe, porém, uma outra faixa de atividades· in· tar certo tipo de COI!fusão, convém_exphC!t~.o s1~if1ca~o
d~triais que surgem nessa mesma fase: são manufaturas do paradigma ,europ~u , ,_A burguesia europeia pre-existia
complementares das ~portações ou induzidas 'pelos. gastos à.revolução lndus~i~e o seu cárã:te.f namonahsta s~ ha:__
dos consumidores: li: o caso das indústrias de embalagem, via formado na época do mercantiliS!llO. Neste caso, as
de montagem, de terminação, que permitem consideráveis indústrias foram iuna :cri~ da bur~esia no seu esforc
economias de transporte e seguro, bem çomo a a'daptação ço para continuar a expansão das antigas manutaturas ·
de certos produtos a condições especificas locais. Também I!: bem sabido que a concorrência nos mercadps dé certos·
é o caso das indústrias de confecção, cinde a àtividade ar- produtos manufaturadoB desde cedo se exacerbou na E;~:
tesanal pode ~r. competitiva;: Jias de materiais de cons- ropa e que certos paises, como a In~!iterra, de~de o se· ·
trução, que regebem um granãe Impulso com a urbaniza- culo XIII vinham ·esboÇimdo uma politica protec1o~lsta~'.
ção; e, enfim, de outras indústrias e!I). que as ecoil.oinias A doutrina liberal, tão bem form?~a~~ pelos 7lá~s~cos }~
de· escala não são significativas, como a têxtil. Esse con7 gleses é únia ideologia com um s1gnifif::ado h1stor1co per-
junto de liidústrias desenvolveu-se de forma significativa feitariknte definido: serviu à Inglaterra para consohdar
no Brasil, já no último quartel do século passado,· graças as vantagens que o salto tecnológico do último quartel do
à dimensão relativamente grande· do mercado interno, à século XVTII lhe proporcionara. Mas, po:_ toda parte ?nde
abundância de matérias-primas locais e a medidas prote- jã existia uma burguesia nacional, a reaça? no plano ~deo
clonistas casuais ou voluntárias• . lógico não se faz tardar. A politic<t industrial de Hamilton,
· • Sobre os ensaios de medidas proteclonistas nesse periodo •• A capacidade de importar reflete con)untamen!e o volu-
veja-se Nicia Vilela Luz, A- Luta pela Indilst'l'ializa:ção no .BraoiÍ · me fisico das exportações e OS te~os do :mtercãmbiO, isto é,
(São Paulo, _1961). As medidas casuais eram reflexo .da lnsta- · a relação entre preços de exportaçao e ~e Importaçã~. n .
billdadl) C!'mbial. A depreciação externa do mil·reis,· ·ocorrida Veja-se a respeito W, J. Ashley, An Introduction tot EIT.
·entre_ a Proclamação da· República e _a -administração Murtlnho, 11
teve o mesmo efeito que· uma elevação- pondetâvel ela tarifa glish EccmOm.ic History and Theory (Londres, 1893), par e •
.aduaneira. · PP• 194 e. 226. .
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tureira8 que surgem no Brasil, na se~da me~de do século
brilhantemente formulada rios prnnelros anos do século XIX são complementares do .comerc1o extenor: d'!s ~x
XIX, e persistentemente seguida nos Estados Unidos cons- portações ou das·importações. Via de re~a essas m~~
titui ex~plo de uma atitude comum a outros pais~s. Se trias são de iniciativa de pessoas que adqu1rem eXPerlen-
alguns pa1ses europeus adotaram a doutrina liberal flZe· . cia no comércio de importações e percebem qu': o vo~ume
ram-~o já muito avançado o século, quando se cons'idera- de negócios poderia ser aumentado se se combm~ mte·
vam mdustrialmente consolidados, );iodendo assim usá-la Iigentemente . atividades industriai~ internas e 1mporta·
con~a conco:ren!es mais frll;cos'•. Desta forma, o processo ções semi-acabadas. Co,!llo na ~a10r pa~ .dos caso~ o
de mdustria!iz.açao tomou pe, de uma maneira geral,. onde mercado se amplia e o valor das ~mportaçoes se mantém,
quer que, na epoca mercantilista, se cristalizara uma bur- as iniciati vas que envolviam aqui~iç_?es de equipamentos
guesia nacional. eram apoiadas de fora, A contribu1çao ?e t;ap1ta1s ~str'!ll·
. As observações feitas n~' parágrafo anterior são um geiros para o financiamento dessas P,r1me1rall industnas
s1mples traço que pretende indicar a direção de um com·
plexo processo. A revolução industrial surge como uma foi sabidamente, considerável".
mu~ção no ~pio processo de ascensão da burguesia eu-
' Assim a classe industrial que se forma no Brasil atua
ropeia. Nas areas em que esta se havia consolidado e de· num quad~o estrutural próprio que deve ser levado em
finido interes&eB nacionais, medrou com êxito maior ou conta se se pretende compreender o seu comp01;tamen~;
~e~~r o p:ocesso de in~ustrjalizaç§,o. Este ponto da de:- ·I l.
AssiJ:l1ilã-la a uma burg'UBSia nacional constitui simplifl·
. f!ll!çao de mteresses naciOnais é importante. Não era su- · cação que contribui mais para ocultar do qu': para revelar
ficiente :'- :presença de ati';idades mercantis, que em toda a realidade. Seus interesses estão, de m~e1ra ~eral, po·
parte ex1sbam em graus diversos. Os interesses nacionais sitivaniente' vinculados ao comércio exteriOr,. Sao as e~
definiam-se quando a atividade mercantil se apoiava em portações qúe criam o mercado interi!o e perm1tem a.aqu1·
manufaturas locais, que podiam ser ameaçadas por con· sição de equipamentos no exte~ior. a ~om.preço; por outro
c~rrentes externos ou que eram utilizadas para a exporta•· lado, só excepcionalmente as. m~ustr1as l~a1s concorrem
çao. l!i e~a combinação de atividades manufatureiras pré- com as importações das qua1s sao em mUitos casos. c?m·
mdustrials (baseadas na organização corporativa ou no plementares. Isso não significa qúe ·inex!stissem co1!tllto_s
trabalh~ li'l!1'e), com atividades mercantis que enfrentam a no plano subjetivo. Inúmeras pessoas infl~~nt~s, parti·
con~o~c1a externa, que define o perfil das burguesias -
cularmente altos func:ionários, tinham c~ns~1enc1a. de que
nacwna~. . · à indústria deveria caber inn papel ma1s . ~mportan~e no: ·
· . Nas áreas em 9-ue, em razão do Eacto C9Ionial, a ati· desenvolvimento· do país e que para esse .f1m o Brasll de·
Vldade manufature1ra permaneceu atrofiada ou· somente veria segUir uma politica protecionista como oa Estruios
surgiu quando .não punha em risco o aprovisionador ex-
t:rno, não teve praticamente início o processo de forma- mação dé uma burguesia urbana do tipo da que 'surgiu em
çao de uma burguesia nacional18 • As atividades· manufa· Buenos Aires à sombra do contrabando e da Jlberallzacão ~·
mitida pelos Bourbons a partir dos anos 70 do ·séCUlo~
Essa· burguesia surgida do comércio exterior e sem vln a,_.
. 12 A~ leis de llberallzaç!io do comérCio Inglês advogadas por com atividades manufaturelras locais (na .Argentina ~esteve
C9bden, mclusive a deiTOgac!io do Ato de Navegaç!io s!io da se- em conflito com as atlvidades manufaturelro-artesanais as PJ?"
gunda metade dos anos 40 do século passado· n,; França a ·vlnclas do Interior) apresentou sempre um perfil cosmopo a
llberallzaçiio, Imposta por Napole!io m em 186Ó será de curta
duração. ' e não nacionaL
13 O. fato de que, no Brasil, as atividades comerciais ligadas
.. v~r a respeito os Interessantes dados apresentados por
warren D.ean, em The Industriali.ntion .. of S4o Paulo: l88tJ..l946
ao exterjor hajam permanecido·· em mll.os ·de portugueses (e de (The Urúverslty of Texas Press,1969.).
casas Inglesas) mesmo. depois da independência, retardou a for-
19
18
·--
, U,nido&._Trata-se, entretanto, de tomada de posição subjeti- . pais nenhuma: outra forca suficientemente articUla~ ·para
· VIsta, nao vinculada diretamente à. ~ltu!lção da maioria da fàiê-lo. Bàsta: ter em conta· as disparidades que exlstenl
·.classe lnCIUstrla!" . CompreenCie-se, ·pOrtanto;. que, ao en" entre o! estados, as desigualdades ~e graus de desenvolvi-
trar em crise a economia de exportação tradicional, a elas-· mento entre regiões e a diversidade dos interesses eco• •
se ~dustrlal não se manifeste como uma força realmente · nômicos dos grupos· regionais dominantes, para perceber
Jllltonoma, capaz de oferecer ao pais uma clara op,;; 0 de que a· estabilidade . do. poder central pre_ssupõe. a hege~o
rumos••. · ,....
nia de uma região ou de um grupo de. mteresses. Assrm,
a crise do café seria também a crise do poder central e a
abertura de um processo· de transformação do.Estado na·
clonal. Como sempre ocorre nessas fases de transição, o
V ARGAS E A CoNSOLIDAÇÃO DO PODER Cli:NTRAL autoritarismo se apresenta e legitima como uma opcão à
anarquià, isto é, à ausência de todci poder esj:ãvel. Coube
• Cabe ~s~belecer uma clara diferença entre a insta- li Vargas estabelecer uma aliança entre a classe politica
~açao de at1v1dades industriais complementares do comér- tradicional (ou pelo· menos uma Parte sig~~ificativa desta)
~~o exterior, que p~r seu carâter ancilar pouca influência e as forcas armadas, o que permitiu que se instaurasse .o
veram na formaçao de uma mentalidade industrial. ·é a Estado· novo com uni minimo.. de modificações na estru-
substitutiva ~e impo~ções, na qual_~senta ·o verdadeiro tura tradicional de poder. Na verdade, a opeão á Vaz:gas ·
P:ocesso !'fa md~~lahzação brasileira, A crise. do comér-
CIO :xter1or trad1c1onal, que se anunciava desde. começos xado PelO eolapso da capacidade de Importar, tanto mais q\'e
~~~ecTJ!o e assume características dramáticas a partir de em certos setores, como o têxtil, ez:.a gran~e a margem de ca·
. , pos em marcha, ~a sét'je· de processos que conver- pacidade ociosa. Em muitos casl)s as própnas empresas ligadas
às ,Importações (lncluslv~ filiais de emptesas est:angelras) pro-
giram .no .sentido de abrrr () caminho à ·industrialização. curaram f01ites alternativas de abastecimento, ligando-se a lnl·
Em prrme1ro lugar cabe referir a crise do Estado nacional clatlvas de produção local. Desta forma, tratou-se menos de
que; se ~poiava tradicionalmente num equil!brio de··força~ proteção contra. o concorrente externo do que de próteção cria·
r~glonrus. -'\ d~slocação da oligarquia cafeeira, que exer- da pela desorganização desse concorrente, à semelhança do ocor·
Cia hegemoma mc?n~este, c_riou condições para (e ao mes- rido durante as duas ·guerras .."Não há dúvida de que o· campo
de Iniciativa dos grupos nacionais ganhou em varle!lade e pro·
mo tempo tornou md1spensavel) o revigoramento do poder fundidade devendo em certos casos enfrentar forte contra-ofen-
central. Deslocada a forca estabilizadora que representa- siva dos interesses Importadores no Imediato pós-guerra. Mas
vam os inte;esses do café - tratluzida no eixo São Pauib- n!lo é menos verdade que Inúmeros grupos estrangeiros com
Minas Gera1s - criou-se um vazio de poder que poderia Interesses no pais lançaram-se com Igual entusiasmo na lndus·
. trlallzação. 'A concorrência entre grupos nacionais e estrangei-
transformar as contendas políticas entre grupos regionais ros se fez para ocupar. posições num· terreno em rápida expan·
eT um processo recorrente de guerras dvis. o café já são que· era o das oportunidades Industriais. Caso ilustrativo
nao ~g1a o presidente da República, mas não surgira no ; é C: da Indústria do cimento, que conheceu extraordinária ex-
.palll!ãO nos anos 30. A iniciativa na~onal, apoiada no Instituto
de Pesquisas Tecnológicas de . São Paulo, avançou rapidamente
•• :S: interessante observar que, na região de São Paulo no setor. Mas os grupos estrangeiros, que hwriam tomado pé
fnd: é ~aaflorlmo dinamismo do grupo Industria!; a ideologia des: no setor antes de 1929, n!lo ficaram atrás, pois chegaram ao
extremo de desmontar e transplantar para o pais uma usina
es 18ma . com a dos grupos ligados à tra<ljção exportadora. completa de recente Instalação. Assim, nessa fase decisiva, a
AB condições c~ladas pela crise· de 192~ ·e a· prolongada industrialização brasileira resulta de uma· amálgama de Inicia·
depregsão que a se~m (os preços do café' •6.· se recuperariam tivas de grupos nacionais e estrangeiros. A divisão de áreas,
no P. •·guerra) penmtir~m acelerar o Pl'9Cesso de Industriali- que· se desenha com nitidez nos anos 50, faz.se principalmente
zação, que ganhou consideravelmente em autonomia A em fwição do ·acesso ·ao fluxo de Inovações tecnológicas e do
dução local expandiu-se para ·preencher o vazio de oferta ~~: poder financeiro .
. 20
!1
não era a riiuzrquia p · ta . .
. do as fo ' ois es . coexistiu com Vargas quan- essê período que o Estac:Io nacional 'emerge como um fatox::
cularam rças que o levaram ao poder em 1930 se desarti
' sem que surgisse ·· - - importante no sistema económico brasileiro. A politica 'di!.;
• ças capaz de servir de uma con~ugaçao de novas for- câmbio, tradicionalmente subordinada aos .interesses do
der centrai A opçã ponto de apoiO ao exercício do po- serviço da divida externa, transforma-se em poderoso ins-
ditadura m"mtar oVque se configurava em 1937 era uma trumento de fomento à formação de capital. Evolução
.evita, conse · J e argas surge como o homem que a nã!l menos significativa ocorre no plano fiscal: sob múl-.
pel que de ;:;t~ ~:~~ervlheartp~ra r:;dclasse politica ·urij pa- tiplas formas a politica fiscal passa a ser a principal ala-
ena SI o. negado" ,
A consolidação do pod .tr · vanca dos investimentos. Através de uma politica de m-
1930 e se confirma em 1937er cen ai, _que se esboça em vestimentos diretos que se vai definindo progressivamen-
decisões com considerável ~~~ta.o ;l>aiS_de_ ~centro de te, o Estado dota o pais de importantes complexos. indus~
IJOS económicos tradicionais C nomia VIs-a-yts· dos gru- triais nos ~etores da mineração, do petróleo, da geração ' ·
ras entre estados e tomam · ae~ as barreiras aduanei- e transmissão de energia elétrica, da siderurgia e da qui-
sando a unificar 0 mercado-s~ n;uitasal out~as .medidas.vi- . mica básica.
distintos - . acion e a mstitucionaliiar Devemos ter em mente esse quadro de fundo no .es-
lizados c~~P~~;f~sn~z:;I~~s,. q~ assim poderiam ser uti- tudo da industrialização brasileira . Seria UJll equivoco
~~fs~~ ~~ frupos ~ternac~~~ai~.:~~J:=!~ ~!a~~ imaginar que esta derivou o seu impulso principal da ação
do Estado. O ímpulso principal originou-se nas próprias
duzída .. bma ~:~~~ad do prus, fOI consi!J:eravelmente re- forças económicas, como decorrência das tensões criadas
claraménte definida e : ~:!J~s Jee':.s?s ~!-aturais foi . . '' pela crise do comqreio exterior, Na verdade, a ação. do
passou a ser preocupação prior'tár' do Edústr:ias de base Estado foi em grande parte uma .resposta a essas tensões,
dde que não traduzia a hegemon~a:
e nenhum grupo de interess
J:
nenh=~o. ~~lo fato
regiao nem
mas o resultado fmal favoreceu o processo de industria-
. lização . ~.. crise do comércio exterioF criou indiretamen-
~~1 =é razã~r do vazio cri~do~elo ~e~i~e d:~~Ie~~~;
- . v argas usufruiU de uma · d
exercer o poder que nenhum
d"
tro m epen encia, para
te, para as atividades ligadas ao mercado interno, uma·
situação privilegiada. A redução da capacidade de impor-
tar obrigou as indústrias comple~entares das importações
conhecera antes 1:: graf'OQ • ou _governante do pais a economizar ou substituir insumos importados. O alto
· ,...., a evo1uçao ocorrida durante custo ou a inexistência de peças importadas acicatou o
11
engenho de ·mecânicos e engenheiros locais19 • Tudo isso
A habilidade de Va · · · é perfeitam~te evidente. Houve, entretanto, mais do que
dirigentes da classe pollt!c~g~s s~~~~~~ em ·afastar os velhos
vistss mais fãceis de manobrar e · os por elementos arri- isso. A crise do comércio exterior afetou gravemente as
com as estruturas politicas tradlc!~~~ ·:eno~ compl;'Ometidos fontes tracllcionais de financiamento do Estado, obrigan-
guma forma fac!1itsda pelo levante · ssa refa foi de al- do este a escapar pelos incertos caillintios da inflação.
1932 e pelo comportamento caudllhes~n:ladFl de São Paulo em 0!-'a, a inflação significava maior .rentabilidade para as
Rio. Grande do Sul. o golpe de mestre e ores da ~ha no
qUBJmar os seus poderosos allados da dl!!,Yargallsticonsistiu em indústrias ligadas ·ao mercado. interno, ou seja, uma pro- ·
Gerais. · -~~ao po ca de Minas teção adicional contra as importações, cujos preços relati-
18
Uma série de InstituiçÕes · t ' vos se ·elevavam em conseqüência da depreciação da moe-
~~utinia~ e «defenden os intere~!!':1~sa~~~o~!am ~miadas para da nacional.· 1:: a este processo, pelo qual um mercado
ona s. café, ·açúcar cacau pinh b econ cos tra·
~· a medlaçllo dos grupos pollt!c~s ~a~h~, ietcia Desta for- .. ·\
ando-se o poder central de· form il!re o a . stada, v!n, •• A este respliito 111erece especial referência e. aolo do IPT
econômicos de dlstintss áreas do pa~. ta com os interesses de Silo Paulo, principalmente no que respeita à indl'iatria me,
talúrg!ca.
2:8
:88
prBeo:iatente e em crise de. abastecimento de suas fontes sua substituição por produtos locais. Os recursós para o:fi-
externas tradicionais, incentiva a expansão da indústria nanciamento das indústrias substituidoras de importações
loc.~, que se chama Usualmente de substituição de impor- eram, assim, retirados ao setor exportadqr, mediante ta"
taçoes. Trata-se menos de concorrer com as importações xas diferenciais de câmbio, e ao conjunto da população,
que de aumentar uma oferta que sofreu contração. Pelo em. corlseqüência da elevação dos preças relativos dos·J;leps
menos assim ocorreu na primeira fase, quando a capaci· cuja:" oferta estava sendo restringida. Assim, dtirailte_essa .
d~de de Importar permanecia deprimida. Na fase subse- . fase, os exportadores nordestinos (para citar o caso da
qUente a dinâmica da substituição de importações é algo região onde na época eram quase nulos os investimentos
distinta: ela permite que a oferta global de produtos ma- industriais) recebe~:am multo menos cruzeiros pe~os. dó-
nUfaturados cresça mais rapidamente que a importaÇão lares gerados pelas suas vendas no exterior, do que eram
des~es produtos. A substituição abre espaço para a impor- pagos pelos importadores de bens destinados · ao mesmo
taçao de produtos novos e para o pagamento dos equipa- Nordeste, a fim de que grandes firzna!l estrangeiras, como
me~tos cada vez mais complexos requeridos para a pro- as qué instalaram a indústria automobillstiCa, recebes-
duçao dos produtos que se substituem. Portanto . é na sem subsidio cambial para formar o seu capital. Essa si-
P_:õpria natureza !ifuitativl!,· do processo de indush-ializa- tuação prolongou-se pela segunda metade dos anos 50,
. çao que. s~ deve buscar a raiz última do mecanismo da quando os termos do intercâmbio se degradavam.
·SUbStltUiçaO . Outro exemplo ilustrativo. O Banco Nacional do De-
senvolvimento .Econômico, cujos recursos eram retirados
compulsoriamente de pessoas físicas con~buintes do Im- .
posto de Renda, emprestou à gran~e ind~a_massa co!l- ·
0 FINANCIAMENTO DA lNDUSTRIAUzAÇÃo sid!!rável de recursos que, em razao da inflaçao, assumiu.
a forma de doações de capital. As empresas, com seus
ativos assim ampliados, podiam voltar-se para· os ban-
. -!'- análls~ da industrialização brasileira põe e~ evi- cos comerciais (principalmente o Banco dd Brasil) e as-
denCia que, nao obstante a orientação desta derivar-se fun· segurar-se linhas· de crédito com juros negativos, alimen-
d~entaimente do processo de substituição de· importa- tadas pelo mecanismo do redesconto, que funcionava corno
çaes, I! captação de recursos dependeu fundamentalmente alavanca primária do. processo inflacionário. Desta for-
da açao d;o Esta?o. Este, além de ampliar as bases da ma, a captação dos recursos reais que está na base da
estrutura mdustr~al, ~olocou à disposição do setor privado rápida acumulação realizada, a partir da última grande
uma massa cons1deravel de recursos financeiros. Veja- guerra, no setor industriai, foi também um processo de
mos alguns detalhes. Na primeira metade dos anos 50 concentração da propriedade em beneficio de reduzido
ocorreu uma melhora substanciai nos termos do intercâm- · . grupo social e 'de empresas estrangeiras••. Contudo, será
bio, graças principalmente à recuperação do preço inter- equivoco imaginar .que essa concentração · tivesse C9!p.O
n_acio~al do c~~ e aos efeitos da guerra da Coréia. Essa contrapartida a pauperização das massas. A pauper!Za~
s1tuaçao . permitiu que a taxa de câmbio se mantivesse ção existiu apenas em certos setores exportadores, que
estâvel enquanto os preços internos subiam firmemente . foram levados ao limite da resistência e se transformaram
. Ao assegurax: câmbio de ~orma pr~vilegiada aos importa-
dores de eqwpamentos e msumos mdustriais em ·geral · o · •• A transferência de reeursos, realizando-se em beno!ticló ·
~ovt;rno restringia a capacidade· de importação de b~ da· eapitallzaçl!.o no setor em que era mais intensa a penetração
fm:us de. co~~. A elevação conseqüente dos preços re- do progresso tecnolõj:!co, tinha outros efeitos secundários sobre
lativos di!stes últimos, no mercado interno, estimulava a o processo de acumulação. No texto referimo-nos apenas ao .
esforço lnlclál, feito por um grupo em beneficio de o~~o. .
finahnenteem gravi:isos. De uma maneira geral a con- -rando. Para ver mais a fundo neste problema,. a;dmita·
mos num esquema simplificado, que o pais adqurr~sse no
centrl_lção assumia a forma de um processo dhtãmico:
mantinha-se a taxa de salário real e os incrementos de exte~ior bens manufaturados de tecn.()logia. c?mplexa (ma·
produtividade engendrados pelas melhoras dos termos de terial de transporte, equipamentos[in?ustrraJS, .~-durá·
inte~cãrnbio e pela penetração do progresso técnico, .eco- veis de consumo) pagando-os com ·cafe; a substltu~ des·
nomias_de escala, etc., alimentavam o processo de con- sas -importações significaria obter. a mesma quantidl_lde
centraçao. · desses bens mediante quantidade muito maior de ~ap1tal
Não se tratou apenas de impedir mediante ·a infla- e muito menor de mão-de-obra e recursos naturros. Se
ção, q~e. os salários se beneficiassem dos .incrementos de os pagamentos ao fator capital são feitos em b~neficio de
produtiVIdade. No gu~ respeita à classe média, convém uma ínfima minoria, a modificaÇão da estrutura produ·
ter em conta, tambem, a redução drástica e permanente tiva terá de ser acompanhada de· concentração da rend~,
do valor real de seus ativos monetários e financeiros e a porquanto a maior pro~u!ividade da r:não-de-~bra nao
ester~~ação de s.ua poupança. _Tudo leva a crer.que a clas- acarreta dadas as condiçoes estruturais refer1das, a';l·
se med1a (aproxrmadamente o decil superior da distribui- mento s~nsívcl na remuneração do trabalho. Se bem seJa
ção_ da r~nda, ex~!uido o 1 por cento mais rico da popu- certo que a taxa de salários será maior no setor manufa-
l~çao) d1spunha Jade uma capacidade de poupança apre- tureiro do que na produção de café, ::'- massa total de sa-
Ciavel, d.a qu~ .al?enas uma fração era encaminhada para lários será neste segundo caso superiOr.
o. setor 1mob~1~no. O grosso dessa poupança pàssava ·ao
s1stema bancar10 sob a forma de. depósitos a taxas de ju-
ros negativas, ou se esterilizava para o proprietário sob · ·
a forma de moeda estrangeira ou de titulas financeiros 0 CAPITALISMO INDUSTRIAL BRASILEIRO
que ne~h~a renda real produziam. Demais, a fuga con-
tra a liqurdez a\llllentava a propensão a consumir, o que No. caso especial de capitalismo que estamos conside·
se traduzia numa curva de demanda de bens de consumo rando não se forma o vinculo causal entre aumento de
. duráveis menos elástica em fuhção do prece', dàndo ori- I produtividade (engendrado pela elevação da dotação de ca-
gem a uma renda de produtor adicional. O sobrepreco co- pital por trabalhador e pelo progresso té~ni~o) e a eleva·
brado pelos produtores de bens duráveis, em razão dessa ção da taxa de salário que parece constiturr a engrena·
fuga diante da liquidez, da mesma forma· que o. sobrepreço gem básica da economia capitalista industrial moderna·
engendrado pela escassez resultante da interdição de im- A razão é simples: a poupança per capita é, no Brasil,
portações quando era insuficiente a oferta interna, são de oito a doze vezes menor que nos países criadores da
da .mesma natureza que o sobrepreço imposto pelo mono- 'i tecnologia que está sendo absorvida; como os mesmos pa·
pohsta em face de uma curva de demanda inelástica. drões técnicos tendem a ser adotados, a dotação _?e capita!
• ,Contudo, seria erróneo fazer da inflação a causa pri- por trabalhaqor no setor ind~strial moderno nao podera
marra do processo de concentração da renda• que vem ser muito distinta; ·sendo ass1m, a parte da forç~ de tra·
acompanhando- a industrialização brasileira. Deve-se sem- ·. balho afetada pelo progresso técnico será necessariamente
pre ter em conta que o comportamento dos salários da pequena. Inexistem, portanto, as condições que em ou·,
grande massa da população incorporada ao setor moder- tras partes levaram à formação das press~es sociais que
no. (onde prevalece a proteção da legislação social) está réspondem pela elevação da taxa de salário. Dai que !1
determ~ado por fatores _estruturais. Esse fato, ligado à economia se haja fragmentado em mercados com redUJl·
aceleraçao da acumulaçao, responde pela mais intensa da comunicação: de um lado está a massa da populaçao,
concentração observada no periodo que estamos consid~- .cujo poder de compra médio permanece praticamente es-
!6 '.
.. ,~·
tringimos ao ãmbito estreito da análise económica, que progresso tecnológico se propaga do centro para a peri-
o modelo de industrialização baseado em substituição de feria do mundo capitalista. .
0
o decllnio considerável da taxa d~r:~c~e;!io~~
produção indJst~ali ~j_e sel~~~e~~n seguramente ligado
9
que se esestruten~ur:is do ti~o das' que vimos de considerar.
" Referimo-nos a alterações a longo prazo. A curto prazo
essas modificações existem e constituem um fator de dinainlza.
ção da economia capitalista. Veja-se. a respeito Celso Furtado, a causas d - de manufaturas popu-
Teoriapp.
1971), 119·123. do Desenvolvimento, 4• edição (São Paulo,
e PoUtioa 0 ~ento cresciment~o~~d~~v~f'~ capacidade ociosa nas
lares e. a ma~ge!l\almente
indústrlas prme1p dependentes do mercado . res-
30
31
L________ .. :_·u F~~~~~~~GFJ8'' ~'
tringldo (em condições de forte pressão Inflacionária) são para zero no periodo 1962·65. Contudo, a lentidão da re- ,
sintomas de desajustamentos mais que conjunturais. Con- cuperação que somente se manifestou com plenitude quan· '
tudo, a magnitude das discrepâncias que se manifestam do foram 'introduzidas modificações de não peque'!-a mop·
nas taxas de crescimento,! quarido comparamos os perio. ta que referiremos mais adiante, comprova a af1rma!;,llo '·
dos 1956-61 e 1961-67, indica que não somente fatores es- anterior de que estava em curso uma mudança de tenden·
truturais estiveram em. jogo. Estes definem tendências a elas de raizes estruturais .
médio e longo prazos, delimitando o campo de ação de ou-
tras variâveis responsâveis por movimentos conjunturais .
. Tudo Indica que o setor público teve nesse período res-
ponsabilidade fundamental, tanto na redução do nível .de A AsCENslO DO GRUPO lNDUSTIÜAL
emprego, quanto no aumento da pressão Inflacionária. O
ponto de partida desse processo parece estar na reforma . '
cambial de 1961, a qual provocou fundo desequilíbrio, que No inicio dos anos 60, o Brasil transformara-se ·em
somente. será eliminado anos depois, mediante progressi- um pais industrializado, ainda que permanecesse notori~
vas reformas fiscais. O salto para alcançar a «Verdade mente subdesenvolvido . A oferta de pro!lutos 11?-dustri~1s
c~bial», da~o pelo Presidente Quadros sem as precau- finais e de seus insumos principais de origem mdustr1al
çoes. nece~sár1as, acarretou um desequilíbrio no esquema originava-se em nove décimas partes na p~oduç~o ~~ern_a, ·
de fmanc1amento do setor público cujas conseqüênCias e o próprio processo de formação de cap1tal fiXO Ja n.ao
·não foram percebidas na época. N~ triênio 1958-1960 o dependia da importação de equipame'!-tos em f~rma mu~to
saldo dqs ágios havia representado para o governo fede~al distinta do que ocorre em outros palSeS cons1derad?s m·
uma fonte de n;cursos tão importante quanto o Imposto dustrializados. Não havia dúvida que, passados tres .de-
de Renda, ou seJa, cerca de um terço da renda tributária . cênios do colapso do café, este encontrara o s':.u ~ubstltu
.da União. Sua. eliminação provocou, .em 1961, uma queda to: estruturara-se um grupo de interesses ~co~om1cos que,
em termos rea1s de 15 por cento na receita da União (tri- em razão de vinculações em todo o terr1tór10 do pais e
butária mais saldo de âgios). Em 1964 a União ainda não articulações no exterior, podia pretender um papel hege·
havia recuperado o nível de· receita (não consideradas as môhico no poder central, Ainda que altamente ~oncen·
autarquias) de 1960. Essa situação forçou o governo' fe· trado na região de São Paulo, o complexo industrlll;l tem.
deral a reduzir os investimentos públicos (entre 1960 e interesses diretos em todo o terr!tór~o nacion~, seJa em
1963 a participação dos investimentos do governo no in- razão de implantação de instalaçoes mdustriats, s~ja por
vestimento t~tal decli?ou de 27,1 para 23,3 por cento) causa de fontes de matérias-primas, ou ainda de vmcul~
e a apelar amda maiS para a inflação. Com efeito o ções a mercados que abastece. Sua aparente ?escentr~l
deficit do setor público (despesa total menos receita dor- zação -. existem mais de cem .mil. estabelecmentos m~
rente), que entre 1956-60 representara em média 0,7" por dustriais no país - encobre um elevado g;au de ~s~tu- ·
cen~o do Produto Interior Bruto, subira a 4 por cento no ração em âmbito local .e. naci!'Iial. Um. numero. 11m1tado
penodo 1961-64. A isso devem-se·adicionar as dificulda- ~' .. de grupos (umas poucas "dezenas) ~:x:ercem .efe~1vo poder
des que o governo enfrentou para obter financiamentos sobre o conjunto, pois asseguram direta ou md~retamente
externos, na fase· final desse periodo. Esses fatores não 0
mercado a milhares de empresas .subcontratistas. e de-
podem ser ignorados na explicação da conjuntura que se têm· a iniciativa dos projetos importantes e do d1ãlogo
forma a partir de 1961, e que é em grande PaXte respon- ' com os poderes públicos, .
sável pelo colapso do crescimento da produção industrial Fato de não pequena significação,. qu~ ma:c~ este de-
cuja taxa média anual declina de 11 por cento, em 1956-61; ( cênio, foi a ascensão do grupo industrial a pos1çao de ele·
ss
.,
35
: ·: tema económico interno e ·na economia capitalista ·Inter- do que foi o caso quando o Interlocutor destes eram _os po-
nacional. Como as empresas .que atuam nos setores mais liticos enfeudados a Interesses locais e/ou .sujeitos à ten-
. dinâmicos são exatamente aquelas que apresentam essa tação pÇlpUlista de dirig!r-se às massas por ·cima das es-
; dupla Inserção, os possíveis conflitos entre Interesses «ln- truturas mediadoras" .
.' '·temos» e «externos» tendem a ser transferidos. para o âm- .'
bito dos oligopólios Internacionais, sendo pouco visíveis
para o observador que se coloca do ângulo da economia
nacional. Assim, o apelo· .ao Estado como Instrumento de A NOVA EsTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO
luta coritra grupos «estrangeiros» só muito raramente se
configura. Em realidade, tende a predominar a ideologia As medidas Introduzidas a partir de 1964 permitiram
·de que estabelecer diferença entré empresas estrangeirl18 restabelecer o eq~:~llibrlo do setor público e criaram condi- ·
.e.ncicionaj8 é um anacronismo, pois O. que realmente ln- ções para submeter a Inflação a controle. Ademais,. ar~ ·
. feressa é a «contribuição» de cada uma para o desenvol- maram.o governo para·exercer maior Iniciativa no .Pro-·
vimento do pais. Como a formação profissional, as fon- cesso de formàção de capital. Em 1968 o deficit do setor
tes de informação, os padrões de .consumo, em muitos ca- público se reduzira a menos de 1 por cento do Pffi, ao
sos a carreira, enfim o quadro cultural dos elementos mesmo tempo qué a participação dos Investimentos do go-
· dirigentes das empresas dos três setores Indicados tendem verno nesse mesmo Pm recuperara o nível de 1956-1960.
a seguir os mesmos paradigmas, trata-se menos de emer- Se se tem em conta que o crédito externo fora amplamen-
gência ou consolidação de uma burguesia naoioliaZ. do que te restabelecido, e a autoridade do poder central ampliada
dé implantação da nova burguesia Internacional ligada ao ·pela presença muito mais direta dos militares nos postos-
capitalismo dos grandes conglo;merados transnacionais. chave da administração civil, infere-se que se haviam reu-
. nido condições para um ensaio de reformas estruturais
O traço mais significativo de aproximação com as visando a eliminar os pontos tis estrangulamento respon-
burguesias nacionais históricas estâ na preocupação de dar sáveis pela perda de dinaniismo do sistema. O problema
legitimidade ao sistema de poder mediante a tradução· fundamental consistia em criar condições para a retomada
em linguagem de objetivos nacionais dos Interesses do do processo· de industrialização, a partir do complexo ln-
grupo. O nacionalismo surge, assim, como inna · técnica
de legitimação e como um meio de consolidação da alian-
ça com as Forças·Armadas. Ocasionalmente esse naciona- " As afinidades dos militares com o grupo IndUstrial ex·
plicam-se facilmente pela natureza hierãrqulca e autoritãrla dos
lismo terá que ser mais que simbólico, como no caso das dois tipos de organização a que pertencem, assim como pela.
200 milhas marítimas e no das grandes obras de presti- tendência a Zegitimar-Be no poder pela eficiência.. De resto, o
gio e integrQ{!ão nacional. slsteUia Industrial pode transformar-se em Importante fonte de
emprego alternativo para os -militares que desejam Interromper
Cabe acrescentar que o grupo industrial tem demons- a carreira e mesmo para os que. a terminam. O contraste salta
à vista quando. se consideram as relações dos militares com a
trado uma considerável coesão. Tanto a criação de opor- oligarquia cafeeira na época da hegemonia desta, A ldelllogla
tunidades para os quadros nacionais como o apoio técni- llberal·cosmopollta desta llltlma foi sempx:e Interpretada pelos
co e financeiro às empresas estatais em expansão se vêm militares como uma renllncla ao exerc!clo efetivo do poder na·
clonai. Resta por solucionar o problema de· acomodar a con· .
fazendo sem criar dificuldades ao controle crescente que cepção de poder nacional dos militares ·com o .crescente controle ·
exercem as firmas Internacionais. Por outro lado, o cam- externo dos centros de decls§.o que comandam ·O sistema ln·
po de entendimento com os militares é muito mais amplo dustriaL
96 97
dustrial de que se dotarlJ, o país e que vinha sendo am.- massa total de salários cresceria,' ainda que inenos qti_e o
piamente sub-utilizado'• . Pm; na terceira fase a ·taxa de salário poderia crescer
A estratégia seguida, relativamente simples, resume- (menos que a produtividade média) e a taxa de aumento
se nas seguintes linhas de ação: · lia massa total de salários tenderia a alcançar a do Pffi;
a) ·reorientação do 'processo de concentr,ação qa ri- o elemento diretor· seria a- política de emprego: regulado
queza e da renda, de forma a que o mecanismo promotor o crescimento da !llass:r total dé salários, caberia decidir
dessa concentração atue, não somente no sentido de favo- entre a criação de emprego e a elevação do salário bási-
recer a formação de capital fixo, mas também - e de co; desta forma ter-se-ia conciliado· a po~tica de concen-
forma significativa -.- no de promover a amplfação do tração da renda com a de expansão da massa s<l.larial, me-
. me:~:cado de consumidores de bens duráveis; diante o controle da. transferência de mão-de-obra dos se-
. b) redução da taxa do salário real básico com res- tores desprivilegiados para aqueles protegidos pela legis-
'.peito ·à produtividade média· do sistema", de forma a re- ' lação social; dadas as características da economia brasi-
duzir a diferença entre essa taxa de salário e o «custo de leira, onde existe um grande excedente estrutural de mão-
oportunidade» do trabalho", e parte dos recursos assim li- de-obra, a evolução da niassa salarial é função da inten-
berados seria investida, sob orientação do governo, com o sidade dessa transferência e do comportamento da taxa
fim específico de ampliar a capacidade criadora de em' de salário no setor protegido pela legislação social;
prego da economia; o aumento do salário familiar deveria c) fomento, em particular mediante subsídios, à ex;
anular progressivamente os efeitos sociais mais negati- portação de produtos. industriais visando a aliviar os se-
vos da baixa do salário individual; uma prb;p.eira fase se- tores produtivos que enfrentam insuficiências de deman-
ria de baixa absoluta do salário básico (salário mínimo da, de natureza conjuntural ou estrutural; as· insuficiên-
garantido pela legislação social), sem qlie necessariamente· cias conjunturais manifestar-se-iam nas indústrias tradi-
diminuísse na mesma proporção a massa total de salários cionais> afetadas pelo lento crescimento da massa sala-
pagos; na segunda, o salário básico se estabilizaria e a rial; as insuficiências estruturais continuariam a manifes-
tar-se onde a tecnologia exige uma escala de produção
" Dados referentes a 1965 revelam que, mesmo se se con· que supera as dimensões do mercado, mesmo tidas em
sidera ·apenas um turno de trabalho, a capacidade utilizada do· conta as modificações referidas no item a>· neste caso tor-
conjunto da indústria de bens de capital excedia de pouco cin- nar-se-ia necessária uma maior integração com o comér-
qüenta por cento. Cf. Werner Baer e· Andrea Maneschl, dm- cio internacional, mediante o subsidiei à exportação e,
port-Substitution Stagnation and Structural Change. An Inter· ocasionalmente, o abandono de certas linhas de produção.
pretation of the Brazilian Case. The Jowrna! of Deve!oping
Areas, janeiro, 1971. .
" As estat!sticas oficiais indicam que o sa!ãrio minimo real A execução dessa política•• se fez mediante a utili-
na Guanabara diminuiu, de 1964 a 1970, em média de 4 por cen- zação de instrumentos já tradicionalmente utilizados no
to ao ano,. e que a produtividade média (renda per capita) cres- . Brasil: cambial, fiscal, crediticio, salarial. A inovação
ceu com uma taxa aproximada de 3 por cento ao· ano. Desta. principal esteve em que o instrumento cambial foi usado
forma, o custo do trabalho, em termos de sua própria produ·
tividade, declinou no perlodo referido em cerca de 60 por cento.
" O custo de oportunidade do trabalho, ou custo social, pode •• Até que ponto essa estratégia foi totalmente definida no
ser m~dido pelo que prodliz um trabalhador no setor agrlcola governo Costa e ·snva ou jã estava, em alguns pontos, esboça·
ou artesanal. Esse custo corresponde a· aproximadamente um da no governo Castelo Branco, é ponto controvertido. Em todo
terço do sãlario minimo mais encargos sociais. Veja-se Edmar caso, parece evidente que o primeiro governo militar foi mais ·
L. Bascha, <El subempleo, e! costa social de la mano de obra conservador, no sentido de que. contou mais com inn dinamismo
y la estrategia brasilefia de crescimiento>, E! Trimestre Econó· <espontâneo> da economia, fundado na iniciativa privada Interna
mico, outubro-dezembro de 1971. e particularmente externa, sempre que se criasse um clima
:}§. .. 39
com parcimónia e ótica distinta. No passado esse instru- ,, para 2,4 por cento•• . Era preciso levar _em conts; que a
mento serviu principalmente para subsidiar. a fonnação compressão dos salá,rios teria repercussoes negativas ~o
de capital fixo na indústria; na nova ótica a politica cam~ mercado das indústrias de bens correntes de consumo .
bial deveria ter como objetivo ·bãsico preservar a coerên- 'Em outras palavras: na medida em que a concentrjição
cia entre os preços das importações, os custos das•expor- da renda se apoiasse na pauperização a~solut.a da popu-
tações e o poder de compra interno da moeda. Tratava- lação, a retomada do processo de ind~trializaç~o enfren-
se, em primeiro lugar, de evitar que a inflação erodisse. taria resistências criadas pela depressao predommante em
a renda real do setor exportador, o qual, quer como fonte importantes segmentqs da atividade económica. A sol_?-
de emprego, quer como elemento criador de capacidade ção 'deveria ser buscada num processo de concentraç.ao
de pagamento no exterior (essencial ao setor industrial ãindmica vale dizer, na captação do fruto de efetivos m·
de crescente dependência financeira vis-à-vis do exterior), crementó's de produtividade. Para isso, entretanto, era
deveria merecer alta prioridade. Ademais, fez-se necessá- necessário que a economia retomasse a expansão graças
rio evitar as bruscas flutuações de câmbio, que introdu- a um impulso autónomo da demanda.
zem um elemento de imprevisibilidade na contabilidade Para que o impulso autónomo inici:ai desse orig~
das empresas internacionais, de importância crescente na a um processo cumulativo, era necess~10 qu~ o. c;rescl-
economia do pais. Cabe assinalar que a inflação continuou · mento privilegiasse não apenas a minona proprietária dos
a desempenhar papel bãsico, como autêntico instrumento bens de capital e sim um grupo social mais amplo, capaz
de politica. confonne veremos mais adiante. de fonnar um mercado de bens duráveis áe consumo de
A primeira linha de ação é, sem qualquer dúvida, a adequadas dimensões. ~ . sintese: ~a. segu_n~ metade
fundamental. Como fazer crescer a demanda de bens du- dos anos 60 o caminho utiliZado consistiU pnnc1palmente
ráveis de consunio? Visto de outro ângulo: como utilizar em dinamiZ:Z.r a demanda da classe média alta, isto é, em
a capacidade de produção já instalada, captando econo- · fazer com que a capacidade de c.ompra desse _gru~o crês-
mias de ·escala, elevando a eficiência marginal das inver- cesse em tennos absolutos e relativos, o que f01 obtido me-
sões, aumentando a taxa de lucro e ampliando os recursos diante fonnas de financiamento, que implicavam em· sub-
dispciniveis para a fonnação de capital? .Q primeiro cami- sídios ao consumo, e transferências, para essa classe, de
nho ensaiado assumiu a fonna de um esforço· direto de titulas de. propriedade e de crédito que lhe ~ssegurav~
concentração da renda mediante arrocho salarial. Coin situação patrimonial mais sólida e a perspectiva de ~a1?r
.efeito : o salário minimo real, que no decênio anterior flu- renda futura. Foi assim possível obter uma ampliaçao
.tuara sem tendência definida à alta·ou à baixa, declinou ponderável de certas faixas do co~sumo, na. direção .re-
persistentemente em todos os anos 60. ·Esse processo te- querida, sem propriamente dar atras na politica salarial.
ria, evidentemente, que esgotar-se, quando mais não fos-
. se, em razão do já muito baixo nível de vida da popula-
ção brasileira. Se no triênio 1964-66 a taxa média de de- ao Para ·dados e fontes veja.se Andrea Maneschi, Aspectos
clinio do salário minimo real na Guanabara foi de 6,5 Quantitativos do Bet>or Público do BrasiZ de 1989 a 1968 (São
por cento, no triênío seguinte essa taxa jâ se reduzira Paulo, 1970), p. 86. São desse .Importante estudo os dados re·
Jativos ao deficit do setor píiblico. . . .
• ·u o fndice de produção da 1ndíistria têXtil, que é represen·
tativa do setor de beris de consumo corrente, declinou de 193
favorãvel e se modernizassem certas lnstituiçlles. Dai a prio- para 151 entre 1964 e 1967 (base: 1949). ~os anos sub~eqüen·
ridade dada ao combate à inflação, a qual deveria ser eliminada. tes houve uma recuperação, mas em 1970 amda não. haVIa sido
A prolongada depressão desacreditou esse tardio laisses-tairiamo alcançado 0 nfvel de 1964. Ver Gonjwntura Econ6mwa, voL 25,
e abriu o caminho para uma doutrioa mais ctecnocrãtica>,:-que
atribui ao Estado um amplo ativ!smo •. ' n' 9, 1971, p. 89. ·
.) 41
t
.-Em outras palavras: criaram-se privilégios para a fração dustrial avançada. Esse alto financiamento, entretanto, . ·
da classe média habilitada a gerar, a curto prazo, o tipo somente seria possível se a indústria operasse a níveis ~
de demanda que se pretendia dinamizar'". tos de utilização da capacidade instaladíJ,. Ora, se· coexis-
' Observemos o processo de um· ângulo mais amplo.· tiam uma margem ampla de capacidade ociosa e .uma fo,:-
Ao iniciar-se o decênio 60, o Brasil se encontrava dotado te pressão inflacionária, cabia deduzir que o si.stema nao
de um sistema industrial amplamente diversificado. Se estava a);l_to a gerar o tipo de demanda requerida para 11.
.·se põem de lado os beris não dl.!ráveis de consumo, cuja utilização adequada de sua capacidade produtiva. Era na-
prodl.!ção ·se desenvolvera em período anterior, constata-se turil.l, portanto, que se procurasse a~ustar o perfil da de-·.
que a participação das importações no abastecimento do manda à. estrutura da oferta potenc1il.l.
mercado nacional declinara, entre 1949 ·e'1964, de 40 para A politica seguida visou a um triplo obje~ivo: · a) .neu-·.
6 por cento. Durante esse período, a produção industrial tralizar os efeitos da inflação no que respeita.à poupan-
(sempre excluídos os bens não duráveis) cresceu 6,6 ·ve- ça da classe médià; b) orientar o crêdito de forma apre-
zes, enquanto o volume das importações se manteve esta- miar os compradores de bens de consumo duráveis e não,
cionário" . A· grande diversificação do sistema industrial, preferentemente os. seus produtores; c) organizar o ~er
assim como' a ampla margem de capacidade ociosa em cado financeiro, inclusive forçando a abertura do cap1t;ll
múltiplos setores, somente se explicam de maneira cabal das empresas, de forma a que a poupan~a da ?lasse média
tendo em conta as elevadas barreiras protecionistas e os pudesse ser transformada em títulos fmance1ros capazes
polpudos subsídios concedidos para a instalação de éapi- de gerar um fluxo de renda real, o quil.l permitiria am-
til.l fixo. Tais subsídios, reduzindo os·· custos reajs do ca- pliar de forma considerável a demanda de bens de con-
pital, haviam induzido os empresários a inverter mesmo sumo duráveis, cuja elasticidade-renda marginal é sabida·
onde a rentabilidade esperada er11- ínfima ou muito grande mente il.lta. .
o risco . Uma das conseqüências dessa politica foi levar A neutralização da inflação se fez mediante a inde-
muitos empresários a adotar métodos que implicavam ele- xação de todos os títulos financeiros, inclusive os depó·
vada dotação de capital por operário, .o que possivelmente · sitos bancários a prazo . l!: a: técnica da correção monetá-
explica o fato de a fudustrialização brasileira caracterizar- ria que evita que o ato de endividar-se venha a transfor-
se por uma baixa capacidade criadora de novos empregos, m~-se em nieio de apropriação de riqueza". Uma série
quando comparada à de outros países". Alcançada essa si- de modificações na estrutura do mercado de títulos fi~
tuação, o sistema industriil.l brasileiro deveria estar em. nanceiros inclusive mediante a emissão pelo próprio go-
situação de continuar sua expansão apoiando-se no pro- verno de 'tít'I.!Ws rea~áveis, viria permitir à classe mé-
cesso de autofinanciamento, como qualquer economia in- dia não somente preservar o vil.lor reil.l de seus ativos, as-
segurando-se ao meSIIlo tempo um elevado grau de liqui-
82 A cclasse média superior> a que nos referimos estã cons-
- titulda no· Brasil pelos 5 por cento da população de n!vel mais · .. A técnica da correção mon~ária ..nb " forma de !Iidexa-
alto de vida; a ·renda mensal familiar média desse grupo· se ção de titulos desenvolveu-se desde começos dos anes 50 em
aproximou de mil dólares em 197!). Os dados preliminares do vários paises tais como a França, a Finlândia, o México, entre
illtimo censo levam a crer que o poder de compra desse gru- outtos. No Brasil, os Interesses criados de grupos, particular-
po cresceu com velocid!lde quase três vezes superior ao da mé- .mente bancários, e .a ortodoxia monetarista que pretendia en•
dia da população. trentar ·a Inflação com um ctratamento de choque~, dificulta·
. 8& Veja-se Joel Bergsman, Brazi!, Inà!Uitria!katlon ana Tr~~<- ram por multo tempo a abordagem realista do problema. A
ae PoUcies, Oxford Unlverslty Presa, 1970, p. 9Z. . descoberta das virtudes da correção monetária surgiu flnalmen·
" O artigo de Edmar L. Bascha citado na nota 28 apre- te como um subproduto do esforço visando a ampliar o merca•
senta uma série de dados sobre este ponto. do de bens duráveis de consumo.
dez, mas também obter acesso a uma fonte adicional de poupança pública••. Como a venda de acões ao público,
renda. Por outro lado, foram tomadas medidas 'tanto adequadamente planejada, em nada compromete o ~n
para induzir as empresas a abrir o capital como para es- trole tradicional da empresa e, por outro lado, as facili-
timular as pessoas fisicas a modificar a estrutura do seu dades fiscais, permitem a esta reavaliar um atlvo (muitas
patrlmônio mediante a aquisição de acões. A correção vezes adquirido com amplos subsidios) em função de al-
anual do atlvo imobilizado das empresas foi tornjida com- tos custos de reposição, criou-se uma situação particular-
pulsória, abolindo-se ao mesmo tempo os impostos sobre mente favorável às operações de bolsa, tanto mais que a .,' .
essa correção. Ademais, permitiu-se às empresas calcular demanda de ações corihecia uma rápida ampliação graças
as cotas de depreciação, seja tomando por base a corre- a uma série de medidas fiscais. A abertura de capital e a
cão monetária do valor original do atlvo, seja baseando-se cotação de ações em bolsa criou para certas empresas
no custo de reposição das Instalações e dos estoques. Em uma situação privilegiada; as reavaliações de atlvo com
condições de inflação, essas correções levam as empresas isenção fiscal abriram perspectivas de ganhos fáceis aos
a emissões periódicl!s de ações. As opções dadas às em- primeiros tomadores de acões, originando-se uma corri-
presas para corrigir o ativo dão-lhes possibilidades de in- da para a subscrição de todas as novas emissões••. O am-
corporar ao capital os frutos do progresso técnico. Com biente especulativo e as altas cotações, sem qualquer re-
efeito: se o progresso técnico é forte no ramo, ao utilizar lação com perspectivas de dividendos a serem efetivamen-
o valor original do ativo como base para o câlculo do fun- te distribuídos, atrlliram uma massa considerável de re-
do de depreciação, a empresa estará acumulando reservas cursos para a bolsa, o que por seu lado induziu novas em-
que a capacitam para ad9uirir equipamentos de muito presas a voltar-se para· esta como instrúmento de capta-
maior capacidade produtiva. Caso a tecnologia vise a ção de recursos .. Criou-se, assim, um portafólio que abre
poupar mão-de-obra, o custo de reposição do equipamen- à alta classe .média a perspectiva de participação no flu-
to como critério de depreciação implica em que· a empresa; xo de renda ·em mais rápida expansão, que são os lucros
· ao renovar os equipamentos, estará utilizando mais capi- industriais".
tal e menos mão-de-obra para prod~ir a mesma quanti-
dade de bens; neste caso haverá um ganho e)'etivo de ca- •• uma série de facllidades foram criadas para induzir as
pital (não tributado), porquanto a participação dos 'lucros empresas a abrir o capital. Ademais, as pessoas flsicas foram
no valor adicionado pela empresa seguramente aumenta-. autorizadas a deduzir 12 por cento do imposto de renda (mes·
rá. Desta forma, a politica fiscal orientou-se no sentido · mo se este é pago na fonte) que são postos à disposição de ln··
termed!ários financeiros para que estes adquiram aç(les; até
de transformar o progresso técnico em fonte permanente maio de 1970, duas terças. partes dessas aç(les deviam provir.
de ganhos de capital para as empresas, o que torná mais de novas emissões; a partir dessa data essa exigência só se
atrativa a participação acionária nas mesmas. Por ou- aplica a uma terça parte.
. tro lado, os juros e· dividendos passaram a gozar. de tra- \
• •• As altas também são provocadas pelos especuladores,
particularmente os bancos de mvestimento, que lideram o lan·
tamento fiscal privilegiado . çamento de ações e dispõem de fundos de Investimento, aos
Estreitado o canal dos subsldios clássicos (de oi:igem quais dão prioridade. Cria·se assim uma escassez artificial,. acar·
cambial ou crediticia) e oferecida à classe média oportu- . retando um auinento do preço das ações e inflando o valor dos
fundos. Ver Conjuntura Ec~mica, vol. 25 n• 9, p. 38.
nidades remunerativas de aplicações de sua poupança em · •• A aquisição de titulas financeiros dlretos, como as ações,
titulos reajustáveis do Tesouro,· do sistema hipotecário transforma-se cada vez mais em uma ativldade especializada,
ou de intermediãrios financiadores do consunio, a abertu- realizada por empresas que se dedicam ao estudo do mercado
ra de capital passou a. ser, para os grupos que controlam financeiro e .emitem tltulos lnd!retos que são adquiridos pelo pú·
as empresas, um requisito para continuar a ter ac~sso à. · blico. O desenvolvimento da intermediação financeira visa a
produzir esse tipo de t!tulo que; em razão de seu baixo coe·
44
A forte demanda de açÕes (emitidas pór empresas di- não desprezível; receberá um premio toda vez que sua
retamente produtivas ou por intermediários financeiros) poupança seja aplicada em titulo da mesma natureza. Em
somente se explica, entretanto, se se tem em conta a po- prazo relativamente curto, essa política colocou à dispo-
litica deliberada do governo visando a dotar uma ·parte sição de um estreito mercado de..ações uma massa ponde-
da classe média de um património de títulos financeiros. rável de recursos, o que explica a· deslocação desse mer-
A técnica dos 'Íineentivos fiscais foi amplamente utilizada cado e· o clima fantasista que nel!! passou a prevalecer.
tanto para induzir as pessoas. com algulJ1a capacidade' de \ Mas não dá lugar a dúvidas de que graças a essa política,
poupança a inverter nesses títulos, como ..Para transferir a desconcentração do património das empresas (resultan-
recursos da massa da população para a .mlnoria em con- te da abertura do capital destas) não se limitou a benefi-
dições de adquirir tais títulos. Todo contribuinte do Im- ciar o número .reduzido de pessoas de altas rendas que
posto de Renda passou a ser, quase automaticamente, um já haviam ~cançado elevada capacidade de pqupança.
proprietário de títulos financeiros, pois a opção que se lhe
oferece, dentro de margem não insignificante, vem a ser
o
Como sistema económico brasileiro possui mecanis-
mos internos que provocam a concentração ·funcional da
a seguinte: liquidar o seu débito para com Q 'Tesouro ou renda· em beneficio do capitill, toda vez que entra em ex-
dotar-se de um património constituído de tíl:ul.os de ren- pansão, a linha divisória passa entre aqueles que· têm tí-
da fixa e/ou variável"; além disso, e dentro de{ margem tulos de crédito sobre esse capital e os demais. Nessas
condições, o ·ato de poupar dá acesso a um privilégio, sem-
ficiente de risco e elevada liquidez, pode ser 4iJ.'igido .a:··uma am· pre que a inflação não transfira o beneficio para aque-
pla clientela sem qualquer conhecimento do me.rCado .de capi- les que controlam· as empresas. Neutralizados os _efeitos
tais. As mesmas razões referidas na nota 35, que ·dWcwtaram· da inflação neste setor, o privilégio réferido tende a au-
uma abordagem realista do problema da Inflação, também atra- mentar com o nível da renda pessoal, porquanto este de-
saram no Brasil o desenvolvimento da !ntern1edlação financeira,
o que explica a rapidez do· seu crescimento na segunda metade termina a capacidade de poupança. O problema funda-
dos 60. Já não sendo possivel estabelecer uma diferença sig- mental estava, portanto, em determinar; ao abrir-se o ca-
nificativa entre dinheiro (papel-maeda em ·poder ,do píiblico e pital das empresas, quanta,s pessoas teriam c:Qreito a pas-
depósitos à vista) e quase'<llnhelro (depósitos a· prazo. e t!tulos sar para o outro lado da linha divisória. Ora, graças· ao
de alta liquidez), cabe admitir que a extraordinária expansão
da intermediação financeira ·constitui a manifestação de um sistema de prêmios, o número foi consideravelmente au-
processo Inflacionário. Essa Intermediação cria liquidez a par-- mentado, o que não setia de importância desprezivel do
.tir de depósitos bancários, da mesma forma que os bancos cO- ponto de vista da' formação do mercado de bens de con-
merciais criam liquidez a partir de dinheiro emitido pelo Banco sumo duráveis. Convém acrescentar que o dispor de um
Central. Em um e outro casos, trata-se· de um multiplicador
de crédito. Ba~ 'assinalar que, entre 1964 e 1970, os ativos fi)
nanceiros não_ monetários, em poder do p(íblico, aumentara1J1.
.. com uma taxa anual de 37,5 por cento, enquanto o papel-moeda esses titulos estão protegidos pela correção monetária. Os fa·
se expandia com a taxà de 2,5 por cento e os depósitos ~ vista vores referidos na npta 3'11 adicionam-se a estes. O n(lmero -de
com a taxa de 6,4 por cento. Em 1970, os ativos financeiros nlio contribuinte~ ao Impbsto de Renda (pessoas . f!sicas) alcançou
monetários já· representavam 38,9 por cento do total de ativos 1172 mil em 1969; se lie adic!Pnam .os dependentes, têm-se os
financeiros, contra 11,6 por cento em 1964. Ver o Relatório do 5 por cento da populaçlio do pais que constitui o mercado
Banco Central, 1970. efetivo de bens duráveis de consumo. l!l Interessante obsérvar
•• Além do valor das aç(les nomlriativas de. sociedades que a partlclpaçlio do Imposto de Renda na receita tributária
an6n!lnas de capital aberto adquiridas, também os !nvestlmen· da Unilio, que foi de 33 por 'cento em 1965 (nivel idêntico ao
tos em letras Imobiliárias e em obrigaçlSes do Tesouro Nacional de 1961), deçllnou para 25 por eento em 1970. Com respeito ao
e tltulos da divida píibllca dos Estados e munlc!pios podem ser Pm, a parijc!paç!lo do Imposto de Renda declinou de 3,1 por
. deduzidos da renda das pessoas f!sicas sujeitas a. Imposto de cento para 2,6 entre os dois anos referidos, não obstante o con·
Renda atê o montante total de 50 por cento dessa renda. Todos siderável aumento relativo. da renda derivada do capital.
patrlmônlo de titulas de alta liquidez significa ter acesso xo- se havia incapacitado para gerar o fluxo de deman-
ao crédito em condições bem mais favoráveis<•. da requerido para seu normal funcionamento. Trata:va-
Levando ao. extremo a esquematização, a situação se, portanto, de um desequillbrio estrutural, cuja solução
poderia ser exposta da forma seguinte. O rápido processo poderia ser buscada em uma das três direções principais
,. de acumulação, que permitiu instalar no pais um sistema seguintes:
industrial altamente diversificado, também operou como a) uma politica global de redistribuição da riqueza
um mecanismo de considerável concentração da riqueza. e da renda, visando a realocar progressivamente os re-
Ao subsidiar de múltiplas formas o investimento indus- cursos produtivos para obter uma constelação de bens fi-
trial, e especialmente o que se fazia em equipamentos, o nais e criar uma massa de emprego em função de cer-
Estado tendeu a agravar as tendências estruturais de toda to projeto social; esta opcão constituiria, evidentemente,
economia subdesenvolvida no sentido de lenta elevação da uma modificação de fundo com respeito à politica que pre-
taxa de salário no setor moderno e insuficiente criação valece tradicionalmente no pais e rião cabe discuti-Ia fora
de emprego nos setores produtivos em que penetra a tec- de um contexto mais amplo de modificações importantes
nologia moderna. Ao estender-se o processo de substitui- no sistema de poder;
ção de importações ao setor dos equipamentos - o que, b) uma politica de renda visando a elevar relativa-
em face da eliminação de várias formas. derliubsídios, im- mente os salários superiores; esta politica encontraria, en-
plicava ha elevação dos preços relativos déStes- os cus- tretanto, limitações, pois nem todas as empresas. estavam
tos reais de operação de multas indústrias teriam que au- em condições de absorver uma carga salarial muito maior,
mentar, reduzindo-se necessariamente os seus respectivos sem· ter de enfrentar os problemas já referidos de ele-
mercados. Se as indústrias contabilizassem os seus cus- vação de custos e preços relativos, · redução de escala de
tos ignorando que a reposição dos ativos reais requeria produção, etc . ; no que respeita ao setor público, tal po-
um esforço financeiro muito maior do. que fora necessário litica poderia acarretar reducão da capacidade de inves-
para a instalação inicial - quando prevaleciam as múlti- timento, com repercussão negativa na criação de novos
plas formas de subsidias - estariam na realidade trans- empregos;
ferindo para os seus consumidores os ganhos de capital c) uma dinamizáção da demanda de bens duráveis
que haviam tornado passivei sua instalação. Ao cabp de
algum tempo o sistema entraria em crise, provocada por
.,
I
de consumo, mediante uma politica de concentração da
uma progressiva descapitalização. A alternativa era: con- riqueza em beneficio da classe média alta, ou seja~ me-
tabilizar custos a partir dos preços de reposição .dos equi- diante a criação de um importante setor de seml-ren-
pamentos e instalações, o que. significava ter que operar tistas.
a. um nível de custos muito mais altos; em muitos casos A solução encontrada consistiu numa combinação das
isto significava reduzir a escala de produção, o que acar- opções b e c, com ênfase especial na segunda"'. Neutra-_.
retava novas elevações de custos. Parecia evidente que o . lizada a inflação, no que respeita à poupança da. classe •.
.sistema de acumulação, ao. engendrar uma extrema con"
centração ·da riqueza e reduzir a criação de emprego - ., Dadas as condições do mercado de trabalho brasUelro, ..
em um pais de nível de salário básico extremamente bai· · nas fases de expansão, os salários dos quadros médios e supe-
riores crescem mais Intensamente que a renda média da po-
pulaç!l.o. Essa tendência se agravou nos anos recentes, em ra·
. •• Os empréstimos das sociedades financeiras aos compra· zão da contenção do salário básico. As informações cllsponiveis
dores de bens de consumo durâveis alcancaram, em 1970, 9,1! Indicam que o grau de concentração da renda do fator traba·
por, cento do total de empréstimos ao setor privado, igualando lho (iricluldos os salários dos grupos dirigentes) é pelo menos
os empréstimos dos órgãos de fomento ao desenvolvimento. tão acentuada quanto a renda do conjunto da população.
48
,.
média, posta à disposição desta crédito· abundante, e mo- çasse alguma importâD.cia relativa·- sem o que o im·
dificada a escalá de salários em. benefic.io dos grupos de pulso inicial dificllmente se prolongaria - que o governo
alta remuneração.., havia sido dado um primeiro impulso pôs em prática a politica de distribuição de títulos de pro~
ao mercado de bens de consumo duráveis. O crescimento priedade mobiliária à massa de contribuintes do Imposto
da demanda, numa fase em que os salários médios da mas- de Renda. ,
sa operária estavam declinando, criou possibilidades ex- O aumento dos gastos de consumo da alta classe mé·
. cepcionais de aumento da rentabilidade para certas em- dia teria, necessariamente, efeitos secundários no con-
presas. Se se tem em conta que muitas indústrias partiam junto da economia. Como o crescimento da demanda de
de uma situação de margem ampla de capacidade ociosa, bens duráveis encontrava uma: oferta .elástica e custos
infere-se que a expansão terá sido acompanhada de baixa unitárioS em declinio, era natural que. o Pm aumentasse
ponderável dos custos médios. Em certos casos essa baixa 1 rapidamente ·sem maiores tensões· estruturais. Caberia,
de custos permitiu reduzir os preços de venda, relativa- portanto, indagar por que se manteve intensa a pressão
m.ente ao crescente poder de compra da classe média alta, inflacionária. A razão parece estar em que a inflação
contribuindo assim para a ampliação do mercado. O im- continuou a oferecer,ao governo )llais vantagens que des•
pulso inicial ter-se-la esgotado, entretanto, se os maiores vantagens, não lhe convindo dispensá-la como instrumen·
recursos da classe média tivessem de ser buscados em no- to de politica econômica. Conforme já assinalamos, uma
vas e progressivas compressões do salário básico. Faz-se . adequl!,da combinação da elevação do nlvel de preços com
necessário canalizar para os consumidores de bens du- a correção monetária dos ativos financeiros permite pri-
ráveis parte dos recursos criados pelo incremento de pro- vilegiar o setor ·da população com capacidade efetiva de
dutividade do conjunto do sistema econômiço, particular- póupança e que pode. ser sujeito de crédito, ou seja o se-
mente daqueles setores em que mais rapidamente pene- tor que coilstitui o mercado dos bens duráveis, cuja de-
tra o progresso técnico. O impórtante setor controlado manda se pretende aumentar. Em contrapartida, a renda
pelo Estado - atividades de rentabilidade garantida por real da massa da. população pode ser comprimida, libe-
praticarem politica. de 'preços adrtl.inistrados. ou· gozarem rando-se recursos cuja aplicação fica, à disci'ição do go-
-de outros privilégios (petróleo, siderurgia, mineração, ge- verno. Em· outras palilvras: mediante uma certa politica
ração de energia, bancos ~fici.ais, · etc.) -.. também foi de preços de .câmbio e de· crédito e o mecanismo da cor-
utilizado como cadeia de transferência. de recursos em be- reção mo~tária pode-se orientar a inflaç~ - processo de
neficio dos consumidores de· bens. duráveis. O problema modificação na distribuição da .renda - de forma a que
fundamental estava, portanto, na criação ·do mecanismo os efeitos redistributivos não se façam de maneira caó- .·
de transferência de renda·em beneficio dos consumidores· tica e sim em função de objetivos predeterminados'".·
de bens duráveís de consumá. Somente assim seria assegu- Outro ponto que merece atenção especial é o· da poli-
rado dinamismo ao setor industrial e aberto o caminho tica salarial. ·Constituiu o arrocho salarial uma condição
à penetração do progFesso tecnológico e às economias de
escala. Foi para garantir que o grupo beneficiário alcan- ·
" Toda--cr!açlio' de meios de· pagaqtento provoca uma trans·
ferência de recursos em béneflcio dos agentes que pela prlmelra
•• O aumento dps saláriO$ no setor pdbllco fez.se principal· vez os utlllzam. Os aceites cambiais que, em 1984, representa·
mente em .beneficio dos militares. Os gastos com salâr!os mill· vam apenas 4 por cento dos atlvos financeiros (Inclusive mone-
tares, que em 1961 representavam um quarto dos gasíQs dlre- tários) em poder do pdblico, em 1970 já contr!bulam com 13,6
tos com pessoal do governo federal, em 1964-65 absorveram ·por Cento do total destes (lltlmos. Cabe, portanto, afh:mar. que
mais de metade desses gastos. Cf. Centro de Estudos ·Fiscais, a reforma das lnstltulçlles financeiras constituiu um melo de
o. Betor Público tia Economia Braolleira, Fundação Getdlio Var·• reorientar a lnflaçlio, colocando-a a serviço da ampllaçlo do
gas, 1967. mercado de bens duráveis de consumo.
50 õ1
..
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i
riecess4f:la para a retomada da expansão? lf:: de admitir • Independentemente da politica de arrocho salarial,
que essa ·opin~ão haja prevalecido em certos circules, se tende naturalmente a ampliar-se, na economia brasileira,
bem que os ré~onsáveis da politica econômica do primei~ o diferencial entre o salário real e a produtividade do tra- ·
ro governo militar pensavam mais em termos de controle balho no setor moderno, toda vez que a economia entre
da inflação quê:;d~ retomada da expansão. O período de em expansão. Esse diferencial dá lugar a um incremento
forte redução ·do_ salário real, que se estende até 1966, é relativo do excedente, que, se permanecesse em mãos da
também o de depressão da a:tividade industrial .. Mas não· reduzida classe de proprietários de bens de produção, cria-
resta dúvida que a baixa dos salários trouxe uma. redu- ria problemas· de insuficiência de demanda efetiva e de
ção de custos de produção para certas empresas. Ao en- tendência à exportação _de capital. Dentro das novas con-
cerrar-se a fase. -dos subsídios diretos para aquisição de dições criadas, parte importante desses recursos es:tá sen-
equipamentos, ftluitas empresas encontraram-se com sé- do encaminhada 'para a alta classe média, dando origem
ao perfil de demanda que convém ao sistema industrial.
rios _desequillbrios financeiros, dando-se conta tardiamen- Contudo, se se leva demasiado longe essa política, a cria-
te dos elevados custos de repósição do capital. lf:: de ad- ção de novos empregos será insuficiente, agravando-se o
mitir que a forte rebaixa da taxa de salário haja facili- dualismo estrutural que existe na economia. Compreen-
tado o saneamento financeiro de multas dessas empresas, de-se, portanto, que parte desse excedente prmaneça em
I
particularmente no setor de consumo popular, facilitando mãos . do Estado, a quem cabe assegurar que a criação
fusões e 11: eliminação dos elementos financeiramente mais de novos empregos não desça abaixo de certa cota crítica.
débeis. Esses reajustes se fariam, entretanto, mesmo ·sem· A criação do sistema financeiro habitacional aparelhou o
a redução da taxa de salário, não havendo base para afir- Este.do para cumprir essa. tarefa48 •
mar que esta haja de alguma forma facilitado a retoma- Os bancos e outros intermediários financeiros cria-
da da expansão. Problema distinto é o da retenção dos dores de titulas de alta liquidez constituem o instrumento
salários· em condições d6 expansdo da economia, o que de transferência de recursos dos agentes que poupam para .
permite canalizar o incremento da renda para os setores os que estão aptos a utilizar a poupança. Em condições
da demanda que se deseja cresçam com mais intensidade: de inflação, surge ao lado desse processo de transferências
o consumo de bens duráveis e o investimento público. A normai8 um outro alimentado pela expropriação de re-
retomada da expansão deveu-se à injeção de gastos au- cursos aos assalariados e titulares de renda fixa. Arman-
.tônomos, realizados pelo governo e péla classe média do-se do sistema financeiro habitacional, o governo pôde
alta... Que os salários hajam continuado a baixar, cons- participar do duplo processo de captação de póupança Ze-
titui simples aspecto da politica social, sem qualquer vin- ~ gftima e de recursos expropríados41 • Cabe, portanto, afir-
culo com o mecanismo da expansão... mar que a inflação desempenhou um papel importante,
I
Santiago, 1971. · · ·
5:8 58
·r
·pois graças a ela foi possível aumentar o excedente que térias-primas e da .mão-de-obra) passaram a ser forte- .
alimentou a expansão dos investimentos públicos. Não mente protegidas a partir da introdução de controles
teria sido fácil levar adiante a política de redução. dos quantitativos das importações e de taxas de câmbio dife-
salários reais sem a elevação do nivel geral de preços : renciais . A essa situação se deve que a SJlbstituição · de
Como, em condições de rápida expansão do setor indus- importações tenha sido levl).da tão longe e que ·o avanço
tri~, a t~dência à elevação dos salários monetários é considerável da industrialização não haja capacitado ne.
. inevitável, sem o que não se obteria a mobilidade reque- nhum setor manufatureiro a penetrar nos mercados ex-·
rida, a inflação passa a ser_uma condição necessária para 1 teriores. Ora, o crescimento do setor industrial traduziu-
que o excedente não se reduza em termos relativos, isto se. em encargos financeiros adicionais para a balança de
é, para que o governo possa prosseguir com sua política pagamentos . A política de incentivos cambiais, ·fiscais e
de criação de emprego. A alternativa à inflação é uma crediticios havia transformado em capital estrangeiro
complexa política de preços e rendas, cilja realização se- uma massa considerável' de recursos formados no pais;
ria administrativamente impraticável. Tratar-se-ia, ein ·e o controle dos setores mais dinâmicos da indústria por
realidade, de ainnentar consideravelmente a pressão fis- grupos· estrangeiros transformara o mecanismo de con.
cal, seni perturbar o equilíbrio financeiro das empresas, centração da renda num processo de desnacionalização da
a fim de financiar o aumento· dos investimentos públicos, riqueza gerada pela industrialização. Se se tem em con-
e de conciliar essa política ·com a expansão relativa da ta que as exportações tradicionais do pais enfrentam di-
demanda de bens duráveis de consumo, A inflação orien" ficuldades de inelasticidade de demanda e outras sobe-.
tada é, serir lugar a dúvidas, um meio muito ·mais fácil jamente conhecidas, depreende-se claramente que também
de alcançar o· mesmo objetivo e de fazê-lo aceitar pelos do lado da balança de pagamentos se impunham «refor-
grupos sociais cujo poder de compra· deverá declinar ou mas estruturais» para que o processo de . Industrialização
estagnar. · retomasse seu curso.
O subsídio às eiqlortações de manufaturas constitui, A solução procurada consistiu num esforço inicial vi-
conforme indicamos, a terceira linha de ação seguida na sando a aproximar os horizontes interno e externo dos
segunda. metade dos anos 60 cóm vistas a fomentar a ex- preços industriais, mediante uma ·redução çonsideréNel
pànsão das a~ividades económicas. l!i sabido que a indus- da tarifa, o que foi feito ein 1967••. A partir dessa nova
trialização baseada na substituição de importações tende situação foi. criado um sistema de incentivos às exporta-
a desqualificar as indústrias para a exportação. A subs- ç'ões de l'il.anufaturas que implicam em subsídio da·ordem
tituição avança ·pela cota de elevação dos preços inter- de .40 por cento••. Em . tais condições, indústrias que
nos com respeito aos .dos produtos importados: No Brasil se confrontaram com mercados internos menos dinâmi-
a diferença entre os dois niyeis de preços foi seinpre con- cos. - como são as produtoras de bens de consumo cor-
siderável- a barreira protecionista decoqente das dife- rente - e que operavam com. capacidade ~ciosa:, encon-
renças de câmbio e das tarifas alcançando,· antes da re-. trariam nas· exportações uma forma de reduzir os custos
forma de '1967, 100, 200, 300 pqr centó ou mais - em médios, o que por seu lado poderia acarretar uma amplia-
razão de que, mesmo as indústrias com efetivas vantagens ção do próprio mercado interno. A politica de obrigar
comparativas (decorrentes dos preços internos das ma-
· •• Para uma estimativa da proteçlio efetiva dos distintos
'
!!árias o são na medida em que constituem crlaçlio de tltulos grupos· da produção manufaturelra ·antes e depois da reforma ·
financeiros novos. Parte dos recursos do sistema vêm sendo de 1967, veja·se Joel BEtrgsmán, obra citada, p. 42.
absorvidos pelo governo mediante a colocaçlio de ObrigaçOes •• Cf. José E. Mlndlln, Orlentaçao diZ IndtlstrlG A .Blwpor-
Reajástávels do 'l'esouro Nacional. taçao: Oontrlblliçao do Setor Prioodo 1110 BraaU, Cepa!, 1971.
54 55
as empresas Industriais controladas do ·estrangeiro a criar dade de pagamento no exterior aumente com uma taxa
divisas, pelo menos na mesma medida em que as absor- provavelmente superior à do Pm. Uma economia em que
vem em custos financeiros, vem sendo praticada em vã- o setor Industrial, cuja taxa de crescimento terá de ser
rios paises do Terceiro Mu.,do . Essa politica comf!l:a a substancialmente superior à do Pm, apresenta custos fi-
ser aceita pelos paises-sede das empresas internacionais. nanceiros em divisas crescentes, düicilmente poderá fur-
Algumas vezes a decisão é tomada ao nível da empresa. tar-se a problemas de balança de pagamentos, que pres-
Já se observa, ·entretanto, a tendência à adoção do regime sionarão numa das três direções seguintes: a) criação de
de tratamento preferencial para as importações de ma- capacidade de pagamento no exterior pelo próprio setor
nufaturas procedentes dos paises subdesenvolvidos, na li- Industrial, seja globalmente, seja ao nivel de empresas
nha de recomendações da UNCTAD. Trata-se, em últi- internacionais operando individualmente ou mediante tran-
ma Instância, de permitir que as filiais das grandes em- sações compensatórias entre duas ou mais delas; b). cres-
presas internacionais criem elas mesmas os meios de pa- centes restrições administrativas a pagamentos no exte-
gamento Internacional de que necessitam para levar rior, o que teria de repercutir negativamente na entrada
adiante os seus planos de expansão. Como essas empre- de recursos e técnicas, acarretando perda de dinamismo
sas são o elemento mais dinâmico do capitalismo contem- ao sistema e abrindo o caminho ao abandono da politica
porâneo, compreende-se que os problemas que elas en- global que vem sendo seguida; c) absorção progressiva
frentam mereçam atenção prioritária das grandes nações pelas empresas internacionais da capacidade de pagamen-
industriais. Assim, certas empresas automobilisticas eu- to no exterior, com asfixia de outros setores e redução da
ropéias estão importanto determinadas peças de suas fi- taxa de crescimento. As situações -b e c não nos interes-
liais em paises do Terceiro Mundo, a fim de assegurar-se sam aqui diretamente. Admitiremos, portanto, que uma
as transferências financeiras procedentes desses países . A solução do tipo a seja encontrada, sem o que a sobrevi-
politica seguida pelo governo brasileiro neste terreno con· vência do sistema não estará assegurada••.
ta com efetivas possibilidades de êxito, se bem que o acir- A segunda condição é que o setor público, lncluidos
ramento da concorrência internacional faça prever um os investimentos na epnstrução habitacional, se mante-
custo real crescente para as divisas obtidas mediante a nham em expansão. Cabe a esses Investimentos a tarefa
exportação de manufaturas. fundamental de criar novos empregos. Os investimentos
público~ continuam desempenhando as funções tradicio-
nais d~ integração da sociedade e da economia do pais,
de criação de economias externas às demais atividades
-REQUISrl'OS PARA QUE SE MANTENHA A ExPANSÃO económicas, de construção da ·Infra-estrutura social, de
aperfeiçoamento do fator humano, etc. Dada a estrutura
atual do sistema, a essas funções veio adicionar-se uma
O quadro que vimos de esboçar permite formular al- outra ainda mais fundamental: a de assegurar a geração
gumas questões de ordem mais geral. Que condições ·são de um fluxo minimq de emprego, sem ·o que importantes
requeridas para que o atual sistema brasileiro gere o seu setores· da atividade produtiva permanecerão deprimidos.
próprio crescimento? Em que difere o referido sistema Coloca-se, portanto, em primeir<;> plano o problema do fi-
das formas correntes de economia capitalista? Que possi-
bilidades de generalização, com vistas à sua adoção por
outros paises, tem esse «modelo»? •• Não se deve excluir completamente a hipótese de uma
retomada das exportações de produtos prlmârlos, como os mi·
A primeira condição .para que o sistema, com sua es- nérlos e a carne, o que viria aliviar durante algum tempo a
trutura atual, se mantenha em expansão, é que a capaci- pressão do lado da balança de pagamentos.
56 57
nanciamento dos investimentos públicos, os· quais pude-
ram ser ampliados nos últimos anos graças a recursos ex-
I, têm wna adequada taxa de expansão, a massa total de
salários poderá crescer ainda que, no valor agregado da
ternõs; o .esgotamento da capacidade de endividamento produção industrial, o componente salários (excluidos os
externo terá que traduzir-se em redução dos investimen- dos quadros superiores) se mantenha em declinio. As-
tos públicos ou em awnento da carga fiscal e/ou maior sim, poderão ser neutralizados os efeitos depressi-vos da
pressão inflacionária". Se os investimentos públicos man- concentração da renda no mercado das indústrias que tra-
balham para a massa da popuiação. Nas economias de
" As altas de crescimento que apres~ntam as estat!sticas excedente estrutural de mão-de•obra, o awnento da massa
oficiais para o per!odo recente sõ podem ter explicação se se salarial tanto pode resultar do crescimento da taxa de
admite um considerável aumento na relação produto-capital, ou salário como da transferência de mão-de-obra do setor de
seja, uma utilização multo mais intensiva da capacidade pro- subsistência e/ou margmalizado para o setor salarial pro-
dutiva existente. Se se tem em conta a capacidade ociosa que
existia, particularmente nas indústrias de bens de capital e de .f.· tegido pela legislação social. Do ponto de vista das indús-
bens de consumo duráveis, não· será para surpreender que tenha trias que produzem para a massa da população é indife-
havido um incremento substancial na referida relação produto· rente se o awnento do poder de compra vai para a mão
capital. Tudo indica, entretanto, que o aumento do produto foi
utilizado para financiar a expansão de consumo de bens durâ· de wn. individuo, mediante elevação do salário deste, ou
veis, razão pela qual a taxa global de poupança não apresentou para o grupo familiar amplo, mediante a redução do sub-
modificação significativa . .No período 1964-1967, a taxa média emprego. Quanto mais intensa for a concentração da ren-
de crescimento anual do PIB foi de 3,9 por cento, enquanto a da requerida para formar o mercado de· bens duráveis,
taxa de investimento bruto (investimento bruto no PIB) alcan- mais lento terá de ser o crescimento do salário ·básico
çou 15 por cento; no perlodo 1968-1969 a taxa de crescimento
anual teria sido de 9 por cento e a de investimento 17 por real, se concomitanl:Elmente se pretende liberar recursos
centq. A baixa relação produto-ca pita! que se infere para o para a criação de novos empregos". ·
primeiro periodo (0,26) confirma a existência de ampla ca· A terceira condição básica para que o sistema se
pacidade ociosa, da mesma forma que a elevada relação do se-
gundo (0,53) indica uma forte pressão sobre a capacidade pro- mantenha em expansão é que o seu setor de ponta -
dutiva. Um aumento na relação produto-capital se traduz nor- o bloco de indústrias cilja demanda é direta ou indireta-
malmente em aumento na taxa de lucros e em maiores recursos mente gerada pelos conswnidores de rendas altas - es-
para a capitalização. Como Isso aparentemente não ocorreu (o teja em crescimento. A cónsideração deste ponto nos per-
incremento de recursos foi utlllzado para expandir o consumo (
de bens durávei,s), é de admitir que a taxa de crescimento ten-·
derá a decrescer, a menos que o Estado realize um conslc;jerá-
vel esforço para elevar a taxa de investimento. A · partir do
I 18 2 entre este último ano e 1971. Contudo, deve-se ter em
cohia que o aumento do endividamento significa que parte cres·
moment<> em que o crescimento dependa de efetlva criação de '
capacidade produtiva e não de utilização de capacidade sub-uti- I cente da poupança realizada no pais deverá ser desviada para
0 exterior sob a forma de remessa de dividendos e j~s. Para
lizada, a relação produção-capital voltará a seu n!vel histórico, os dados 'macroeconôm,icos vejam-se os dados atualiZIIdos das
que se situa em tomo de 0,36. Sendo assim, a taxa de cresci· contas nacionais, publicados pela Conjuntura Eoon6mlca de se-
menta tenderá a situar-se em tomo de 6 por cento, sempre que tembro de 1971. .
não surjam pr_oblen:ta~. 9.11.. inadeql!!!ç_ãQ. dº· perf!Ld!! _demanda. •• o problema consiste em· conciliar três taxas de cresci·
Uma taxa· de crescimento dessa ordem requererá, multo provavel· mento: a) a do consumo de bens duráveis, b) a do salário básico
.m~-nte, um crescl.menJ_q alpc;!a .. mais lntJ!nso_ do yalQ~. reaL ga~ da população Integrada no setor moderno, Isto é, protegida pela
· exportaçlfes·: · No perl<ido riiá!S- receri'fe (1970-1971) é ·possivél legiSláção de salário mlnlino, e c) a de criação de emprego no
que se haja registrado elevação na taxa de investimento, quan- referido setor moderno. A primeira taxa deverá alcançar um nl·
do não seja em razão de uma maior entrada de recursos ex- vel minlmo sem o que o setor <din!imico~ nllo poderá acom·
ternos. O deficit da conta corrente da balança de pagamentos panhar o progresso tecnológico; a terceira taxa também deve
multipllcou11e por dois tant<> em 1970 como em 1971 o Se con· situar-se acima de uma cota mlnlma se se pretende evitar cres-
servamos a relaçllo poupança Interna e externa de 1969, cabe centes tenslles sociais o Desta forma, a segunda taxa tende a ser
admitir que a taxa de Investimento teria passado de 16,7 para utilizada como _elemento de ajustamento.
58 59
~!te abordar· a segunda questão que haviamos formula· são -da renda dispon!vel para consumo ~ expansão ·da. de-
· do: ·em que difere das formas .correntes de economia ca- manda de bens finais ~ expansão da produção), consti-
pitalista o sistema que se está .implantando no Brasil? tui caracterlstica fundamental da economia capitalista in-
Nas economias capitalistas industrializadas a demanda dustrial desenvolvida••. Já observamos que na economia
de bens finais é fundamentalmente alimentada pelo flu- Industrial subdesenvolvida - em que prevalece o exce-
xo de salários gerados no processo de .P~<idu_ção para .o dente estrutural de mão-de-obra que condiciona a taxa de
consumo e para a acumulação. Os salar10s mtegram-se salârio no setor moderno -· o fluxo de salári()s gerado
nos custos de produção. Assim, quando . se expB!lde a pelo sisteina tende a ser insuficiente para que ·se forme
produção, aumenta o seu .custo, crescendo a massa de esse anel.
salários pagos. A penetração do progresso tecnológico O «modelo:. brasileiro consiste essencialmente em
assume a forma de aumento na eficiência dos fatores, uma tentativa para restabelecer o anel mediante ação ·do
ou seja de vaJ,orizal}ão dos fatores relativamente ao pro- Estado, a quem cabe: a) assegurar que a demanda de
duto f1rial; em outras palavras: ~f produto. final cres<:_e bens duráveis de consumo se expanda adequadamente, e
mais rapidamente que os seus· msumos, Isto -é, ·mrus ... i . b) promover a criação de um fluxo minimo de novos em-
que os componentes reais de seus custos. ·A taxa tnédi~· i . pregos. O primeiro ponto significa que a renda deve con-
de salários que acompanha o aumento da produtivida'!e, . · · centrar-se em benefício da classe média alta, que consti-
tende a cr~scer como decorrência da simples. penetraçao tui o mercado direto de bens duráveis de consumo e prin-
do progresso tecnológico. Os lucros, na medida em q!le cipal mercado indireto das Indústrias produtoras de bens
são distribuídos, também alimen~ o fluxo de renda.di~ intermédios. Em uma primeira fase esse objetivo pôde
ponível para consumo. Trata-s~, ~ntretanto, de c!lntrrbui- .ser alcançado mediante a reorientação do crédito para o
ção marginal, pois o destino pnnc1pal dos lucros e alimen- consumo de bens duráveis e o alongamento da escala de
tar o processo acumulativo. J!: de conhecimento corrente salário, ou seja, fazendo crescer os salários altos mais ln·
que se a taxa de expansão não alcança certo nlvel - e tensamente que a média dos salârios ..Contudo, a mais
aqul interferem múltiplas variáveis, po!s o sistema eco- longo pra,zo o êxito do sistema depende da transformação
nómico interatua em uma dupla fronteira, externa (for- dos assalariados de alto nível em titulares de rendas mis-
mada por outras economias) e ~terna (constituída por tas, ou seja, em semi-rentistas. Estan10s, assim, em face
variáveis sociais, politicas e ecológicas) -.a renda que se de uma variante da economia capitalista em que é a pró-
pretende poupar não· chega a transformar-se totalmente pria remuneração do capital (ou a apropriação do exce-
em Inversão, o que tende a acarre!B: baixá do nivel de dente) que alinlenta a demanda de bens finais originários
atividade redução do fluxo de salanos, etc. ljlstes pro- . das indústrias em que mais rápido é o progresso técnico.
blemas ;obejamente conhecidos, põem em evidênc~a que Falta dizer que ainda se está longe de haver alcançado
nenh~ sistema industrial caPitalista pode existir sem · a articulação que, permitirá a formação do novo anel.
mecanismos de coordenação,. centros :.de li!;!Cisão, capazes · ~Mas parece fol'a de dúvida que -o objetivo é criar um cca-
de prever e ter em conta interferêhi:iliã 'originadas na pjtiillsmo popular» em beneficio de uma minoria.
dupla-fronteira· referida. Mas, independentemente ·d~sa
necessidade de coordenação, destinada principalmente a . ••· l!l bem sabido que a economia capitalista industrial so,
corrigir a tendência à instabilidade, esse tipo de sistem9; mente funciona regularmente se, aos gastos induzidos pelo flu-
económico possui automatismos internos que lhe assegu- xo de p!lgamentos efetuados aos fatores de produção, adicionam-
ram o funcionamento e a expansão. Com *ito: o anel ·se outros autó!Kim!Os que são da competência dos -empresãrios e
de feedback (expansão· da produção ~ expansão dos cus- do governo ou. se orig!na'll no exterior. No texto faz-se refe-
rência ao f!qxo bãsico, que é a articulação entre os pagamentos
tos de produção ~ expansão da maSsa salarial ~ expan: ao fato r trabalho e a demanda de· bens finais de consumo.
60 { 61
1
..7
·~-
Esgotado o impulso inicial gerado pela injeção de re- te liberal para influenciar o mercado de capitais· se me-
.cursos derivados da reorientação do crédito, para que o didas adicionais são tomadas pelo governo visando a fa-
sistema funcione regularmente será neéessário que o go~ . zer as empresas cada vez mais dependentes, para expan-
verno exerça vigilância sobre as empresas e as i,nduza . dir-se, de emissões a serem subscritas em dinheiro e da co-
a praticar uma politica de distribuição de dividendos con- tação de suas ações na bolsa, é de esperar que o exemplo
. dizente com os níveis de consumo, que deve alcançar .a das empresas estatais seja seguido. ·
classe dos semi-rentistas. Este objetivo não é. fácil de A ampliação relativa e absoluta do mercado de bens
alcançar, pois as empresas de maior rentabilidade bus- duráveis de consumo, articulada a uma politica de cria-
cam a linha do autofinanciamento e as filiais dos consór-. ção de emprego e de subsídios à exportação, responde
cios internacionais resL~tem a abrir o capital e participam pela elevada taxa de expansão que· se observa no Brasil.
de uma política de expansão e financiamento qu~ tr~s a partir de 1968. A continuidade dessa expansão. requer
cende das circunstâncias locais . Contudo, as medidas f!S· o êxito de uma complexa politica que de longe supera os
cais que induziram muitas empresas a abrir o capital e limi~s da ação tradicional dos poderes públicos nos cam-
.a captar poupança fora do sistema bancário poderão levá- pos fiscal, crediticio e cambial. As dificuldades maiores
las a praticar uma politica mais liberal de divid:ndos"; surgirão seguramente das duas frentes indicadas: a do
Ademais os intermediários financeiros, quando poem em financiamento do setor público, inclusive construção e
circulado títulos de alta ligui~ez e reduzido risco, <;ri~ a da canalização de parte dos lucros das empresas par~ a
condições de maior concorrenc1a no mercad? de cap1.ta1~. I
minoria ampliada de consumidores de bens duráveis. A
É de admitir que o complexo aparelho de mtermed!açao I, capac~dade govez:namental ~e. criação de emprego foi fa-
financeira, c~iado no Brasil nos anos recentes"1 cumyr~ vorecida pela balX!l dos salanos, ocorrida em todo o de-
a tarefa de articular as empresas que se apropriam ·drre- cênio 60, e pelo endividamente externo. Como em uma
tamente do excedente com a minoria ampliada que cons- e outra dir~ções ?S rendimentos são decrescentes, os ·pro-
titui o mercado de bens duráveis de consumo, a fim de blemas de fmanc1amento colocar-se-ão· de forma cada vez
que este mantenha uma dimensão adequadà. No sistema mais aguda. A isto deve-se acrescentar que a formação
capitalista industrial desenvolvido, a eleva~ão de prod~ da classe de semi-rentistas continua a el!:igir um esforço
tividade engendra expansão da massa salar1al; nas condi· fiscal paralelo . A pressão sobre o setor público somente
ções do subdesenvolvimento, o mesmo incremento de pro- se reduzirá quando parte do excedente captado pelas em-
dutividade opera em· benefício dos proprietários· das em- pressas comece efetivamente a ser drenado em benefício
presas· na variante brasileira, pretende-se que, ao lado da minoria ;unpliada.
do reduzido grupo que decide do co?trol~ das empresas, . Q?ando o observam?s em conjunto, comprovamos que
surja uma faixa significativa de sen:1-renbstas, c?optados o funcionamento desse s1stema depende essencialmente de
de preferência na massa· de assalariados de níveis altos, uma complexa ação do Estado. Por meios indiretos, e pro-
É de admitir que ci grupo de. empresas controladas pelo vavelmente sem o pretender, o Brasil afastou-se conside-
Estado pratique lima politica de dividendos suficientemen- ravelmente-da economia de lai8sez-faire criando uma va-
riante de «capitalismo de Estado» que' requer para seu
" Essa liberalização pode ~er estritamente formal. Assim funcionamento normal uma intima articulação entre a
as sociedades ·que abrem o capital .d~lxam de pagar o lm~osto classe empresarial e os poderes públicos. Se se tem em
que Incide sobre a distribuição de d1V1dendos. · conta· que o. setor mais importante da classe empresarial
" Para uma apresentação critica do sistema de lntermedia'
cão. finaneeira do Brasil veja·se Maria da Conceieli(! ~avares, também está ltlserido em consórcios Internacionais, Infere-
N atureR~a e · OontradlQões do Desenvolvimento Finruíces.ro Re- se que o sistema requer dos órgãos centrais de decisão
ceoil.te do Bras\! (mlmeografado), Rio, setembro de 1971. uma grande capacidade administrativa dentro de estrei-
6:8 63
tas opcões politicas. Nenhum automatismo existe 'que as- graças à. dimensão demográfica do pais. Em contrapar-
segure um nivel adequado de demanda de bens dúráveis tida, o f9sso que separa a minoria privilegiada da' peque-
de consumo, pois a expansão mesma das empresàs tende a na classe média é considerável e- tende a aprofundar-se.
· Induzi-las a reter os lucros para autoflnanciameilto. (Ve· Como essas diferenças se recortam sobre outras de caráter
ja-se no anexo uma apresentacão esquemática da dinâmi- regional, ós efeitos se multiplicam.
ca do «modelo») .
As projeções desse tipo de desenvoivlmento no plano
social desbordam dos limites do presente estudo. Assina"
!aremos, apenas, ·que a cria!láo de um fluxo crescente de
emprego pelo Estado constitui seguramente um freio ao Po.sslitiLIDADE DE GENERAuzAÇÃO DO «MODELO»
processo de marginalizaçdo das populaeões urbanas. Se
o problema se limitasse· a uma op!lâo entre criar empre- o. eSforço para dotar paises de baixo nivel de renda
.gos novos ou elevar a taxa .de salário .de pessQ!!S já ple- per ~ta de um setor industrial,.com um grau de diver-
namente incorporadas à economia de mercado, pouc.a dú- sificação similar ao dos paises em que a acumulacão já
vida haveria de que a cria!láo de emprego representa a realizada (dotação média de capital por pessoa ocupada)
política mais progressista. Com efeito: fora da absorcão é .muitas vezes superior; tende a produzir um tipo parti-
· do excedente de mão-de-obra, não tem sentido falar de , culal' de estrutura, que qualificamos de economia subde-
politica de desen:voZvimento. Ocorre, entretanto, que se ~envolvida industrializada. Assinalamos _que nesse tipo de
essa politica for levada adiante simultaneamente com ou- estrutura não se fgrmam os automatismos básicos que nas
tra visando a concentrar a renda em benefício da classe economias capitalistas desenvolvidas articulam os proces-
média alta, o resultado último será uma distância cres- sos de acumulação e produ!láo com a geração de um fluxo
cente entre os niveis de vida da massa e os da minoria de demanda capaz de Impulsionar o sistema. A insuficiên-
de consumidores de bens duráveis. Haverá uma distri- . ela do anel de feedback tundarnetrttal" é respansável pe-
búl!lão mais igualitária dentro dos 5 por cento mais ,
ricos e também uma distribulcão mais Igualitária dentro " Chamam~s de ane! ele feedbac7f. tun'"ãium'snta! a lnteracAo
dos 70 por cento mais pobres. Ademais, os 25 por que existe entre o fluxo de salãrlos e o crescimento da produ·
cento restantes (pequena classe média) vel'ão o seu tivldade do trabalho; trata-se, em última Instância, de mtera-
nivel. de vida declinar com respeito à média nacional, ção entre as forças sociais qlle disputam os Incrementos do
ampliando-se o fosso considerável que já os separ~ da produto e o ·progresso tecnológico que é a causa última desses
incrementos. É uma caracterlstica da economia capitalista que
classe média alta. Os recursos que continuam a ser essa lnteração de forças sociais se realize ao n1vel de classes
captados mediante a inflacão provêm principalmente ou grupos sociais amplos; graças a isso, a penetração do pro-
dessa massa Intermédia que suporta o peso principal do gresso tecnológico em um setor tende a beneficiar o conjunto
esforco de financiamento da cria!llio de novos empregos. da classe· assalariada. Contudo, na prAtica, os setores em ~ue
aumenta· mais a produtividade. tendem a ocupar uma ~sição
O distanciamento entre a pequena classe média e a classe de vanguarda na elevação da taxa de salãrlos; na medida em
média alta tomará cada vez mais difícil a jllobilidade a.S· que a reação nos demais setores se torna mais rãpida, surge
censional entre as duas. Deve-se ter em conta que,· al- uma tendência· para que o salãrlo médio aumente mais que a
cancada certa massa critica de poder de compra pela ·ela$-· produtividade. Tradicionalmente, a existência de um coeficiente
de desemprego rei.<J.tlvamente .altQ serviu de freio· a essa ten·
se média alta, o problema de sua ~plia!lão relativa pas- · dência. A redução desse coeficient~ d""ante um perfodo pro-
sa a ser secundâr~o do· ponto de vista·do funcionamento longado, no pós-guerra, aumentou a rapidez, de lrradlaçAo dos
do sistema. No Brasil, essa massa critica pode ser alcan- aumentos de salãrios, criando nas economias mais desPnvolvl·
çada a um nivel de renda per capita relativamente baixo, das . uma tendência crônica à inflação. J!: provâvel que atual-
mente, ·nos Estados Unidos, para _que a taxa média de sa!Ario
65
. ·los' fenômenos de ·frenação de .cresciillento, tenqência à um sistema .industrial altamente diyersificado". Um paJs
estagnação, etc., que se apresentam em muitos paises sub- de cem milhões de habitantes· e .cerca de ~00 dólares per
desenvolvidos que avançam no processo de substituição oopita, como o Brasil, também o comporta, pois se um/ '
de importações. O chamado «modelo» brasileiro· cons- ' terço da renda total se concentra em mãos de 5 por
titui uma tentativa de correção dessa insuficiência, me- cento da populaçãó, a renda média de,ssa minoria co~-;
diante um esforço de adaptação da demanda à estrutura tuida de Cinco milhões de pessoas será da ordem de 2. 700
da oferta -· crescimento mais rápido do poder de com- dólares. ) .
pra dos consumidores· de bens duráveis - e uma ação - Na América Latina, soJ/.~nte os três maiores paises
mais ampla do Estado na geração de empregos. Concen~ reúnem condições para dotar-se de um~complexo industrial
trando-se no condicionamento da demanda, .esse «modelo» ·similar ao. dos paises capitalistas desenvolvidos, sem que
consente que a assimilação do progresso tecnológico - as indústrias mais dinâmicas dependam desde o início -e
intr.... dução de novos processos produtivos e de novos pro- de· forma princil>al do mercado exterior. A busca Çle ·ca-
dutos - permaneça sob a direção dos consórcios interp.a- minhos distintos da parte de paises c:omo{o Pe~ e o Chile -
cionais, o que permite conciliar as exigêncirui. imediatas é ·menos do que se pensa uma opçao voluntária. Dadas
·do crescimento interno com as das relações externas (!e as dimensões respectivas de renda per capita e população,
dependência. Desta forma se acomodam, num sistema em . para que as minorias pirvilegiàdas desses paises possam
expansão, as formas.de desperdício que a ráp~da,renovação reproduzir os padrões de consumo dos países. industria-
de modelos e produtos engendra nas econo~mas' altamente· lizados, faz-se necessária uma forte inserção no comérci!)
desenvolvidas, cm~ o infraconsumo d~ grandes massas de internacional. Se bem que o coeficiente de .é<fi>Ortações
população, que é a marca essencial do subdesenvolvimento. do Chile e do Peru seja respectivamente mais de duas e ·
Que possibilidades de generalização existe para esse mais de três vezes superior ao do Brasil, o processo de
«modelo»? Em outras palavras: até que ponto constitui · substituição de importações enfrenta Ílificuldades crescen-
ele uma opção válida - um meio de alcançar uma taxa . tes nesses países, em razão das dimensões dos mercados
alta'· de crescimento, ainda que a· elevado custo social- respectivos. Excluída a hipótese de aumento de inserção·
para outros paises? li: esta uma questão pertinente, par- no. comércio internacion~J-1 mediante a exportação de pro-
ticularmente.no âmbito latino-americano, onde os fenôme- dutos primários", cujas limitações a experiência· sobeja-
nos de insuficiência dinâmica, para usar a linguagem de mente demonstrou, a saida parece estar numa industria-
Prebisch, se têm manifestado com freqüência. Impõe-!>e, lização ela mesma integrada nos p1ercados externos, ou .
evidentemente, uma ~onsideração preliminar. A criação seja, mais próxima do modelo de Hong-Kong que do bra-
de um mercado de bens de consumo duráveis capaz de sileiro. ·Fora. dessa" disjuntiva, apresenta-se a possibilida•
justificar a instalação de um parque industrial diversifi- de de apoiar a industrialização em um outro perfil de de-
cado - condição sine qua non para que opere o modelo
- depende primordialmente de duas variáveis: a dimen~
são demográfica do país e sua renda per capita. Um pais ., Mesmo paises de menor populaÇão, CO!p-O a Sulça, podem
de menos de oito milhões de habitantes e uma renda per alcançar o mais alto grau de ~dustrlallzaçao, ocupando posl·
capita de cerca de 2. 500 dólares, como a Suécia, comporta · ç!lo de vanguarda na crlaç!lo tecnológica. Não se deve· perder .
de .vista, entretanto, que as dez maiores empresas sulcas rea·
llzam •em média. 75 por qento de seus negócios no exterior.
n!ío aumente mais rãpldo que a produtividade média, o coeflclen· · " A pollt!Ca do Governo Frei, visando a dobrar as expor-
te de desemprego deva ser de pelo menos 8 por cento da força tações chilenas de cobre, constitui exemplo Interessante de um
de trabalho. Pode-se, portanto, afirmar que também nesse pais esforço para retomar o processo de crescimento dentro do qua-
a inflação passou a ter um Importante aspecto estrutural. . dro tradicional de exportação de produtos prlmãr!os.
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manda de produtos finais, ou seja, em uma outra ·definição do fora de dúvida que novas formas de cooperação com
de prioridades sociais . esses c.onsórcios virão a definir-se .
A lmpratlcabllldade de.adoção 'de um modelo na linha A experiência mexicana constitui, sob certos aspectos,
Hong-Kong, as limitações dos mercados Internacionais de uma antecipação do «modelo» brasileiro. À diferença do
produtos primários e a lentidão ou inviabilidade politica Brasil, pais de fronteira agrícola ;móvel co~ permanente
dos ensaios de' integração regional, explicam as dificul- incorporação· de novas terras, coube ao México,. desde o
dades crescentes com que . se deparou a industrialização inicio de sua industrialização, enfrentar um problema de
chilena, uma vez alcançado certo ponto na substituição escassez de terras aráveis. A necessidade de reconstrução,.
de Importações. A longa série de insucessos das tentatl· do setor-agrário, mediante a eliminação da velha estrutu- ·
vas de arrancar o pais à seml-estagnação econômlca· criou ra latifundiária, e a mobilização de vultosos recursos de
condições para que cristalizasse em amplas camadas so· origem estatal se Impôs de forma inlludivel. Essa mo-
clais o desejo de tentar uma modificação no sentido ou dernização do setor agricola sob a égide do Estado e uma
na qualidade do processo de desenvolvimento. A simili- evolução muito mais favorável da capacidade de paga- · ·
tude dos programas de governo dos principais grupos que mentos no exterior -·- maior flexibilidade das eXPortações
disputam o poder constitui clara indicação da existência tradicionais devido à sua diversificação e um considerável
de um amplo consenso em torno desse problema funda· crescimento do influxo de turistas após a Segunda Guerra
mental . A orientação recente da política chilena traduz Mundial - modificam de forma significativa o quadro
o propósito de colocar a acumulação de capital e a incoP- mexicano com respeito ao brasileiro. O ponderável au-
poração do progresso tecnológico a serviço da satisfação mento da produtividade agricola, em condições de quase
de um conjunto de necessidades de amplas massas da po- I. estagnação da taxa de salário, e a evolução mhis favorável
pulação, estabelecidas de forma explicita, o que significa da capacidade para Importar respondem pela reduzida
afastar-se do atual sistema de industrialização com bege· pressão inflaCionária; assim, a industrialização substitu-
monia dos consórcios internacionais•• . Contudo, a tecno· . tiva de importações pôde ser levada adiante em condições
lógia. continuárá a ser fundamentalmente importada, sen- de relativa estabilidade. O mercado financeiro desenvol·
veu-se precocemente, o· que permitiu que a poupança da
classe média fosse· utilizada de forma reprodutiva e em
•• A partir do momento em que se ordenam previamente benefício desta. l!: necessário ter em conta que a Revolu-
as necessidades sociais a satisfazer, o problema do desenvolvi· ção Mexicana acarretou unia deslocação da velha oligarr
menta deixa de ser o de maximizar uma taxa abstratà de· PIB, quia dirigente, permitindo a modernização do Estado e a
para ser o de minimizar os custos sociais requeridos para
atingir os objetivos definidos. As comparações lntertemporais emergência de novos grupos· politicas já comprometidos
de graus de desenvolvimento passam a ser feitas em termos de com o processo de industrializacão. Os dados de distribui-
Indicadores precisos: expectativa de vida, mortalidade Infantil, ção de,.renda põem em evidência que a classe média foi
alfabetização, tempo médio de vida escolar, Incidência negativa
de doenças mentais, atividade cultural, criatividade nas artes · efetivainente a grande beneficiária do processo de indus-
e nas ciências, tempo de trabalho não pago (transporte, etc.), trialização. Por E>utro lado, a proximidade dos Estados
qualidade e quantidade da habitação, tempo e qualidade do ócio, Unidos e a presença de lll'lla numerosa comunidade· ame-
. participação na vida politica, acesso à Informação, contatos com
populações estrangeiras, etc. As· comparações entre nfvels de ricana de negócios vem contribuindo para a adoção, pelas ·
desenvolvimento de duas economias somente têm sentido na me. empresas, de elevados padrões de remuneração dos qua-
dlda em que as duas sociedades adotam o mesmo sistema geral ' dros superiores. Estes fatos, combinados com a inexistên-
de valores ou na medida em que a comparação se restringe a cia de um sindicalismo independente e a ausência de ir-
Indicadores que traauzem valores aceitos em eomum: expectatl·
va de vida, alfabetização, etc. rupções populistas,· permitiram que se formasse e conso-
68 69
mesmt\tempo que os salários médios, .rdral como urbano,
lidasse uma considerável disparidade entre os salários da · se mantipham estacionários. No «modelo» mexicano, à
classe média alta e os da massa da população. Assim, ine- semelhança do brasileiro, a expansão do Pm im:plica em
nos que um caso de «capitalis!TIO popular» de elite, o Mé- crescimento do diferei)Cial entre as condições de vida \la
xico é um país de. elite burocrática de elevados salários i classe média alta e as da massa da população. Contudo,
· Outro ponto Importante a ter em conta é que a polí- esse resultado é obtido por meios diversos·. No México
tica do governo mexicano vis-à-vis das empresas pro~~t«;> a politica· de preços e salários, na fase decisiva de implan~
ras de bens duráveis de consumo (quase sempre filiais tação das indústrias de bens duráveis, operou em benefí-
de consórcios internacionais) orientou-se no sentido de im- cio dos consumidores desses bens, facilitando a modifica-
pedir a formação de um diferencial significativo de ~re ção no perfil da demanda que a industrialização oi:-ientada · ·
ços com respeito às importações. Os favores concedidos pelos consórcios internacionais exige. Aàemais, q forte .
assumiram a forma de facilidades creditícias e· de gar:an- aumento da produtividade agrícola engendrou massa de·
tia de càmbio para a Importação Cle insumos, evitando-se, recursos que pôde.ser utilizada para a ampliação do em-
. contudo, forçar o processo de substituição de importa- prego urbano. A passividade sindical vem permitindo man-
ções". inexistindo a aguda crise de capacidade para im- ter e mesmo ·ampliar o referido diferencial de salários.
pqrtar que conheceram outros países, os preços dos bens Deixando-se de lado o problema do financiamento dos in·
duráveis de consumo não tiveram as fortes altas caracte- vestimentos públicos, que vêm dependendo de fOrma cres-
rísticas do período anterior à substituição e da primeira cente de r~cursos externos, e admitindo-se, que a capaci-
fase desta. A,ssim, as empresas não puderam drenar da dade de pagamentos no exterior continue a crescer, o que
classe média os recursos adicionais que lhes permitiram depende do êxito que venha· a ter a atúal Politica de fo.
no. Brasil esgotar o processo de substituição de importa- niento às exportações de manufaturas, não há razão para
ções em período re)tJ.tivamente curto: Em contrapartida, o prever mudanças signifi~ti.Yas de tengência na industria~
mercado desses ben~ pôde formar-se com: maior regul,ari- '!ização mexicana. Contudo; a experiência a: partir de 1971
dade. As estatísticas'hlexicanas de .distribuição da. renda põe em evidência que os dois problemas referidos poderão
indicam que, no período de rápida industrialização com- pôr em. xeque o desel!Y9!Yirnento m_exicano .
preendido entre 1950 e a metade d<is .60, a classe mé~ia
alta - ou seja, o decil superior, excluído o 1 por cento A experiência argentina afasta-se consideravelmente
formado pelas pessoas mais ricas do país - teve sua par- tanto da brasileira como da mexical}a. t: sobejamente sa-
ticipação na renda elevada de 26,0 para 29,5 por cento. bido que· o ·desenvolvimento do país platino, a partir do
Cabe referir que a renda média dos 10 por cento supe- último quartel do século passado, se fez em condições de
riores da população mexicana - cinco milhões de pessoas oferta inelãstica de mão-de-obra, com apoio em forte flu-
- j á passa de dois mil dólares. Esses resultados foram xo imigratório de população européia. Não existe, des-
obtidos no México, graças a um forte aumento da produ- tarte, -nesse país, o excedente estrutural de mão-de-obra
tividad~ não somente industrial mas também agrícola, ao que constitui traço fundamental das economias bras~ira
e mexícaná. O subdesenvolvimento é, na Argentina, mui-
. )
... to.•
' mais um fenômenQ.- dE!. dependb!IJ_ig,_
' .. -· ..
-
e.xt~. que de .4.u.!l·
•• A politica seguida no· México, no setor da !ndústria au-
tomobil!stica é caracteristica da dupla preocupacao de evitar
que as empresas aproveitem a proteção para elevar os preços; •• com'o uma primeira aproximação, pode-se deflnir depen·
e de articular as novas indústrias com as exportações. As em· dência externa como a medida da Incapacidade de coordenar,
presas estão autorizadas a aumentar a produção (portanto a em funç!io de objet!vos nacionais próprios, as dec!s~s dos agen•
usar divisas para os .insumos importados) se baixam os preços; tes económicos que comandam a fucorporaçllo do progresso téc-
ademais devem compensar progres.sivamente peças !mportl!daS nico e a acumulaç!io, em raz!io da Inserção destes em grupos
com exportações originárias da indústria . extranacionals.
71
70
i)·
'
Zismo estruturaln. Não é nosso_p~pósito abordar a<J.!l,iJ> volvidos•! .·· Dessa situação resulta que, comparativamente '
problema da relação entre dependência e subdesenvol~ a estes últimos paises, o_ salârio .médio é elevado, relativa-
mento.. J!:: óbvio que todas as econom!as nacionais sao, mente à produtividade no· s_etor industrial. A razão pri-
em graus diversos, dependentes de ·decisoes tomadas no ex- mâria ·dêssa amromalia parece estar em que a alta produ-
terior. Contudo, não se necessita multa ar~cla para dis- tividade da agricultura - derivada do uso extensivo dê
tinguir entre decisões que afetam a. economia Internacio- uma cons~elação de recursos naturais altiunente favorâvel,
no quadro das vantagens comparativas internacionais -
nal _e que refletem a interdependência .existente entre permitiu~,.desde o inicio, a exemplo do que 'ocorreu nos Es-
as vãrlas economias nacionais em graus diversos.- e de- tados Ul),Idos, pagar salários altos, relativamente aos pai·
cisões tomadas do exterior concernentes ao fUncionamen- ses europeus de emigração . Graças a esses salários ele·
to Interno de uma economia. Assim, as relações entre fir- vados, o mercado ·interno se formou com rapidez, facili-."
mas Internacionais em escala m~dlal po~em _Induzir es- tando a Industrialização, pelo menos enquanto esta assu-
tas a tomar decisões na Argentina que Impliquem num_ miu a forma de um complemento da economia de expor-
grande desperdício de recursos para esse pais, como n~~ tação. Tendo-se em conta esses elementos, compreende-se
riamente se reclinhece no caso da in~ústri~ autom?bills- que a Industrialização substitutiva haja assumido na Ar-
tica. o fato, por exemplo, _de que as firmas mtemaciOn~is gentina formas distintas das que apresentou no Brasil e
reduzam suas ativldades em 'uni. pais 11orque lhes convem no México. Dados os altos salârlos, a lndúst.ria, para avan-
aumentar sua l!qtildez ou Intensificar ativldades noll:tra ça!" apoiando-se na substituição de -importações, requeria
parte, ou ainda porque não confiam no «clim~» ~olitico, uma elevada proteção ou precisava alcançar elevada pro-
traduz a existência de uma situação de depend~cia, se o dutividade. Como a substituição de importações se fez,
à semelhança do ocorrido 110 Brasil, com grande diSpersão
governo do referido pais não dispõe de autonomii?- de de- de recursos, os custos industriais tenderam a ser eleva-
cisão para anular os efeitos negativos de_ssas medidas. Se dos, com repercussão nos preços .relativos dos produtos In-
importantes setores estão sujeitos a esse tipo de percalço dustriais. A modificação nos termos do intercâmbio ln-
(o que se traduz em relativa desarticulação do sistema temo a favor do setor industrial permitiu que prosseguis-
de decisões) a economia dependente tende a acumular se a .substituição de importações, mas abriu um fosso con- '
traso ~Iativo que deve ser considerado como uma . --siderãvel entre o horizonte dos preços Industriais Internos
um. a
forma de subdesenvoI_vmien
. to•• · . e os do mercado Internacional. Não é nosso propósito dis-
A não existência de dualismo estrutural pode ser afe-
rida elo fato de que, na Argentina, a difen;nça entre a •• Se se toma como base a média da economia ·nacional, o
pr<id~tivldade da mãó-de-obra nas zonas rurais e urbanas indice da' produtividade da mão-de-obra agrlcola argentina era,
é menor do <í.Ue em muitos __palses industrializados desen- em 1970, de 97,4. É interessante observar que o indice da pro·
dutividade do setor serviços foi de 84,4, donde se depreende que
a lenta crláção de emprego do setor industrial estã criando um
da um poUCO mais a anâllse, constata-se que. ezcedente estrutura! de mão-de-obra, que é absorvido pelo setor
•• Se se aprofun . d firmas constituem serviços e não pela agricultura. Esse excedente estrutural apro-
as decisões to~ad~ ~':n:':~t~o~a~;::;.n p":odutos: cuja adoção. \ xima-se mais, entretanto, do desemprego orllnico que estã sur-
o mecanismo e n concentração da renda. Se o pro- gindo nos Estados Unidos do que do tlpico excedente estrutural
tem como contrapartida a istências sociais, como ocor· das economias brasileira e mexicana. Bastaria ter em conta,
cesso de concentraçã~':n,~~tr:. ~ssibilidades de expansãt;> na por exemplo, que a produtividade média na agricultura brasi·
re na Arg!"ntlna, ~ firmas internacionais. Dai a tendência a leira, em 1970, correspondeu a 42,7 por cento da. média nacional.
(Para os dados veja-se CEPAL, Tendencias !J estructuras d.e la
~~i~~:'~~ pais e cie~tinã-los a economias .mais · «ddnã· economfa "la-tinoamericana, 1971, Quadro 15).
miCas>. ...
73
'
cutir as alternativas que se abriam à Argentina na fase Ora, essa politica de salários estagnados - em declínio
em que a intensificação do: processo de indústrialização se com respeito à renda per capita - só não terá efeitos
tornara condição necessária de seu desenvolvimento. Cabe depressiv9s sobre a economia se se conciliar com um au-
apenas recordar que as condições da oferta interna (a par· mento da massa salarial. Assim, no México, no decênio
tir do momento em que se completa a ocupação 'da pam· 40, a produtividade média da mão-de-obra aumentou com
pa úmida) e as da demanda internacional (a partir da taxa· superior a 3 por cento ao ano, enquanto o salârio .
cdse de 1929) modificam-se nesse pais simultaneamente, · médio· agrícola diminuía nesse decênio de 11 por cento
multiplicando-se os seus efeitos ne~~tivos. ~ perd~ de d!· é o salário médio urbano de 6 por cento. Não obstante
namismo do setor exportador tradiciOnal ex1gm a mtensl· essa baixa nas taxas de salário, a massa total de salá•
ficação do processo de industrialização; ora, dada a ausên" rios pagos cresceu consideravelmente, pois houve uma
cia de excedente estrutural de mão-de-obra, não era fá,cil transferência importante de gente do campo para as ci·
evitar que o maior esforço de industrialização tiyesse ~e· dades' e. o Salário médio urbano era mais de cinco vezes
percussões negativas no setor exportador, reduzmdo am· superior. ao rural. Em realidade, como resultado das mo·
da mais â capacidade competitiva deste. A verdade é que · dificações na estrutura de emprego rural-urbana, o salário
a economia tendeu a enfrentar ·uma insuficiência crôliica médio do país cresceu em 30 por cento. Dessa forma,
de•capacidade de importar, declinando esta tanto em ter· foi possível conciliar uma expansão do mercado de bens
mos relativos como absolutos. Esta situação, por seu lado, de consuino corrente com uma forte concentração da ren·
faria com que a substituição de importações fosse levada da. A situação no Brasil é similar: se o emprego urbano
a extremos, com novas repercussões negativas nos custos aumenta mais q11e a população em idade de trabalhar, faz.
industriais. se possível conciliar a baixa'do salário médio urbano com
. Que exemplaridade te~ para .a Arge_ntina a e::'Periên· uma expansão da massa total de salários, liberando-se o
cia recente do Brasil? O sistema mdustr1al argentmo pos· incremento da prod;utividade no setor industrial para a
sui elevado grau de integração e a substituição de impor· acumulação e a ampliação do mercado de bens duráveis
tações de bens de consumo duráveis foi levada aos mesmos de consumo. Na medida em que este último mercado seja
extremos que no Brasil. •Dado o nível relativamente ele· suficientemente grande para justificar economias de es·
vado da renda per capita (2,5 vezes a do Brasil), os 20 cala, estarão reunidas as condições para que· se forme a
por cento mais ricos da população - cerc:a de cinco economia industrial subdesenvolvida. Que o México e o
milhões de pessoas - auferem uma renda médi.a da or· Brasil hajam utilizado caminhos distintos para chegar ao
dem de 2. 500 dólares. A diferença com respeito ao Brasil mesmo ponto, deve~se estritamente a circunstàncias his·
e ao México não está pr.opriamente na dimensão do nier- tóricas. Não existindo um excedente estrutural de mão·
cado de bens de consumo duráveis e sim na falta de dina· de-obra, mais ainda, sendo o diferencial de salários rural·
mismo do sistema. Ora, o dinamismo brasileiro e mexica· urbano insignificante, as modificações na estrutura do em·
no deriva de que, por meios diversos, os incrementos de prega serãe de pequeno alcance e não poderão constituir
produtividade do conjunto da economia. são ca;ta_lizados fonte importante de recursos para alimentar os investi·
em benefício de uma minoria da populaçao. É fac1l com· mentos públicos ou para concentrar a renda em beneficio
preender que, se a produtividade média da mão-de-obra dos consumidores dos bens de consumo duráveis. O pro·
está crescendo a 2 por cento ao ano e a metada do J?· cesso de concentração da renda que se observa na Argen·
creinento de produtividade é destinado a aumentar o po· tina na segunda metade dos anos 50 - a participação do
der de compra de um décimo da população, o mercado decil superior $Ubiu de 37 por cento em 1953 a 42,3 por
de bens de consumo duráveis, cUja demanda é elástica, es· ;
l
cento em 1959 - está seguramente ligado à evolução do
tará crescendo com ·uma taxa superior a :1;0 por cento. quadro politico. Mas não haverá dúvida de que permitiu
IL
que se acelerasse a substituição de importações no setor consumo Í! excepcionalmente concentrada". A reconstru-
dos bens duráveis de consumo, abrindo maiores possibili- !:ão industrial não é independente, portanto, de uma poli-
dades às economias de escala. Contudo, resistências cres- tica geral de rendas, que exige uma mobiliza!:ão de for-
centes logo se fizeram sentir, assinalando-se -mudança de ças e um mínimo de consenso social que têm faltado à Ar-
tendência já no começo dos anos 60. Não se deve esque- gentina nos últimos decênios.
cer que, à diferença ao Méxic;o e do Brasil, a Argenuna A economia industrial subdesenvolvida não constitui.
possui sólidas e experimentadas organizaçoes sindicais. uma fase que tende a ser necessariamente superada em
.!!.'m sintese: o «moaelo» brasileiro não é p1•opriamente prazo maior ou menor. O funcionamento desse sistema
apticáv.e~, à Argentina, em razao aa grande airerença na . requer a preservação de certas estruturas sociais, sem as
estrutura de emprego e salários, e tampoi.\CO parece má- quais nã.o se daria o processo de reprodução de .padrões
vet, dada a compos1çáo das torças que conaicionam o SIS- de consumo, cujo transplante- é condição mne qua ?ron
tema de poder. para que prossiga !l. industrialização tal qual esta se está
O processo argentino é certamente tãó complexo realizando . Assim, desenvolvimento passa a ser definido
como o que mais o seja, o que torna extremamente amei! em. termos de aproximação de um paradigma que, por
qualquer tentativa mesmo ae simples iaentu'icação de ten- . definição, ·é inalcançável, porquanto em transformação
aenc1as. Parece, entretanto, eviaente, que o s1stemã in- cada vez mais rápida. A experiência já demonstrou que,
dustrial argentino requer um considerável esrorço ae re- se se aumenta o esforço para andar mais rápido e redu-
construção. Não é aemais repetir que a industna auto- zir a distância do alvo perseguido, a deformação estrutu-
mobiliStlCa argentina, cuja proaução corresponae a cerca· ral se· acentua, pois uma acumulação mais intensa em be-
ae lU por cento da italiana, oterece ma1or numero at! neficio de umâ" parte da população amplia o fosso que
·modelos que a de qualquer pais grande produtor. A tru existe entre as condições de vida da minoria beneficiada
aberração não é . totrumente estranha a extraoramána e as da massa, fosso que é a essência mesma do subde-
concentração da renaa que se observa aentro ao escruao senvolvimento. Cabe inferir, portanto, que a melhoria
superior aa população. Não deixa ae ser s1gntticativo, efetiva das condições de vida da massa da população dos
por exemplo, que, náo obstante a renda per ca1nw seJa países do Terceiro Mundo, particularmente dos de grande
quase o auplo aa do México, o 1 por cento mais rico tem , dimensão demográfica, somente será alcançilda Iior ou-
uma participação maior que neste último pais. t,!uanao. tros caminhos. A fndia nunca será uma Suécia de- um bi-
observamos mais de perto os 20 por cento aa populaçào lhão de hab_itantes, nem o Brasil uma reprodução dosEs-
· de nivel de renda mais alto, ou seja, o grupo que consti- tados Unidos.
tui efetivamente o mercado de bens duraveis de consumo, A conclusão do parágrafo anterior Impõe-se ainda
mais cabalmente quando se tem em conta a óbvia tendên-
constatamos que a quarta parte superior desfruta· de. uma cia à\ elevação dos custos sociais do desenvolvimento nos
renda per capita. que é mais de dez vezes mais alta que a países capitalistas avançados, tanto em termos de destrui-
metade inferior. ESte fato não é alheio à extrema diver- ção do meio· físico como no de geração de tensões psicos-
sificação do.mercado de bens duráveis, o que·Jimita o aces-
so às economias de escala e repercute nos custos indus- '" se bem que a renda média corresponda na Argentina a
triais. Uma comparação internacional com países indus- aproximadamente 55 por cento da do Reino Unido, alrenda mé-
trializados põe em evidência que os salários argentinos dia dos 5 por cento mais rtcos -da popula~ão argentina alcança
90 por cento da dos 5 por cento mais ricos da. popula~ão ln·
são elevados relativamente à produtividade, e que a renda glesa. Veja-se CEPAL, Estuàio sobre la .Di8tribuci6n àel ln·
do grupo que constitui o mercado de bens duráveis de greso en América Latina, 1967. ·
76 77
sociais . Assim, os frutos da acumula~:ão serão decres- ação politica grupos e elementos sociais particUlarmente
centes em termos do que convencionalmente se chama. de- dotados para o trabalho inventhro . A contestação do pa-
senvolvimento. Quantidades crescentes .de recursos serão radignla terá necessal'iamente repercussões nos países que
absorvidas simplesmente. para preservar o meio e para se esgotam na corrida imitativa de modelos que ·tendem
compensar o crescente desgaste psicológico que impõem de forma cada vez mais rápida à obSolescência. É de ad-
à popula~:ão as longas deslocações cotidianas, entre os lo- mitir que o desenvolvimentismo mimético das classes di-
cais de trabalho e de residência, e o condicionamento à rigentes dos países subdesenvolvidos entre em crise a par-
práticl!. do consumismo. Nesta fase de custos sociais cres- tir do momento em que o paradigma perca legitimidade e
centes e tensões psicossociais agudas, surge toda uma pro- · engendre elementos de autodescrédito. Não é nossa in-
blemática nova, cuja abordagem parece requerer uma reo- tenção abordar aqui o problema das possíveis ·opções que
rientação a fumlo do• próprio progresso tecnológico. A se apresentarão aos países subdesenvolvidos em face des-
semelhança' das civilizações antigas em que, a partir de sa crise. ·Pode-se dar por certo; entretanto, que o ponto
certo grau de acumulação, todo o excedente de c~pacidade de partida para superar a crise está ría .aplicação do po-
de trabalho era. absorvido na simples manutenção dos tencial produtivo da civilização industrial à satisf~;~ção das
monumentos, da infra-estrutura e da~ instalações de de· autênticas necessidades do homem, ou seja, num esforço
fesa, o mundo capitalista industrial parece tender a uma para elevá-lo da condição infra-humana em que se encon-
situação em .que o atrito em suas fronteiras ecológica e tra grande parte da população desses países ..
psicossocial absorve uma parcela crescente da capacidade
criadora que está na base do atual processo de desenvpl-
vimento".
. O esquema que vimos de esboçar dá ênfase, eviden-
temente, às atuais tendências estruturais, sem ter em de·
vida conta que o homem aprmuie pela experiência e que \
em todo sistema social em crise o horizonte de epções
tende a amPliar-se, emergindo combinações imprevisíveis
de forças sociais que podem dar origem a novos anéis de
feeliback que significam autênticas modificações qualita·
tivas do sistema em seu conjimto. Uma dessas novas· com-
binações de forças parece estar na base do atual debate
em torno do sentido do desenvolvi'l'f!8'/!to e da qualidade da
vida produzida pelo atual sistema industrial. Esse debate,
que se amplia dia a dia nos atuais centros criadores das
modernas formas de consumo, está facilitando a emergên·
cia de novas for~:as politicas e atraindo para o· campo da
78 79
sicas. As ·elevadas taxas observadas nos anos referidos
estão ligadas a uma intensificação da entrada de recursos
e~ernos e a fatores excepcionalmente favoráveis, como
ANEXO SeJam a passagem de um mau ano agricola para um bom
ou a utilização de um bloco de capacidade industrial (in·
dústria automobilística, siderúrgica, etc. ) instalado em
periodo imediatamente anterior, ou ainda utilização de
A Dinftmica do"Modelo" Brasileiro capacidade ociosa;. Como utna melhor utilização da capa-
cidade instalada significa maiores lucros e tende a atrair
um maior fluxo de recursos externos, os dois fatores po-
dem conjugar-se produzindo taxas excepcionalmente altas
de cres'cimento, conforme ocorreu · no periodo recente.
Deve-se ter em conta, entretanto, que as flutuações na
tàxa de crescimento do Pm, observadas nos anos 60, não
foram acompanhadas de alterações similares na taxa de
poupança e investimento, concentrando-se os seus efeitos
na relação produto-capital (P/K)".
Com efeito, o valor desse quociente dobrou entre
1964-67 e 1968-69, aci passo que a taxa de inversão (S/P)
cresceu moderadamente. Esses dados põem em evidência
que o crescimento da capacidade produtiva tem sido mui-
to mais regular que ·o .do Pm, sendo portanto equivoco
imaginar que uma maior estabilidade na taxa de cresci-
SEM ENTRAR em detalhes sobre a estrutilra da eco·
mento deste traga necessariamente uma elevação signi·
ficativa dessa taxa a· prazo longo. Para que isso ocorra
nomia brasileira tal qual esta se definiu na fase avançada é necessârio que a maior regularidade da taxa de cresci~.
da substituição de importações, ou seja, nos anos 50, pode· mento dei Pm seja acompanhada de aumento na taxa de
se admitir como certo que, sendo «normais» · a produção poupança e investimento. ·
agricola, os termos do intercâmbio e o nivel de gastos pú· · O quadrei estrutural que vimos de identificar não as-
blicos, não existem obst;áculos do lado da oferta para que segura, entretanto, que as possibilidades de expansão se·
seja alcançada uma taxa de crescimento relativamente jam efetivlllflente aproveitadas. Pelo contrário: existe al·
alta . A experiência dos últimos dois decênios indica que
essa taxa se situa em torno de. 6 por cento, sendo qi.te o guma evidência de que o sistema tende a sub-utilizar sua
limite inferior de sU.as flutuações se confunde com a taxa capacidade produtiva, sendo incapaz de gerar espontanea-
men~ o perfil· de demanda requerido para autodinamizar·
de crescimento demográfico (cerca de 3 por cento) e o
limite superior é três vezes mais alto (10 por cento em
1960-61 e 9 por cento em 1968-69). Assim, se se tem em •• Lirnltamo·nos a utilizar a relação média produto-capital
conta a aptidão do sistema para gerar poupança e a pro· em razão do sentido equivoco que passa a ter a relação incre-
mental toda vez que se intensifica o grau de utillzaç!lo da ca-
dutividade média dos investimentos nas condições espe· J\acldade produtiva; esta última relação atribui aos novos inves-
cificas do país, chega-se à conclusão de que uma taxa timentos o aumento do produto engendrado pela utillzação mais
em torno de 6 por cento traduz as relações estruturais bâ· intensiva de equipamentos jã existentes. .
80 Pt
se. l!: na solu!;ão buscada a este último problema que taxa de poupança.· A elevação desta é, portanto, mais
está o traço característico do chamado «modelo» brasi- uma conseqüência de aceleração do crescimento do que a
leiro. · sua causa. Alcançado certo teto estabelecido por um con-
Nesse «modelo» a taxa de crescimento do Pm é es- junto de dados estruturais, a taxa de poupança tende a
sencialmente determinada pela ação conjugada: a) das em- nivelar-se. O problema fundamental consiste, portanto,
presas internacionais (EI), .que respondem em medida em identificar aqueles fatores, capazes de influenciar o
considerável pela transmissão do progresso tecnológico perfil da demanda, que possam ser utilizados como va-
(inovações de produtos e processos), e b) do Estado, ao riáveis instrumentais. Dentre esses fatores três vêm sen-
qual incumbe adequar o perfil da demanda às éxigêricias do de particular relevància na experiência recente do
do. progresso tecnológico (PT) tal qual este é transferido Brasil:.
pelas EI. O PT pode ser considerado um produto de ofer-
ta elástica, porquanto o seu custo de oportunidade é baixo
para as empresas, que o utilizam em escala mundial; mas, a) a inten8idade e a orientação do processo de con-
para que penetre esse PT é necessário que se dêem certas centração da renda e da riqueza, as quais co-
condições que cabe ao Estado criar. As empresas estrita- mandam a expansão do mercado de bens du-
mente nacionais continuam a desempenhar um papel im- ráveis de consumo;
portante, mas de caráter essencialmente complementar. b) a criação de emprego no setor moderno, isto é
Cabe à empresa local, em muitos casos, preparar o terreno a transferência de mão-de-obra do setor de sub~
e atrair a atenção da EI para pontos sensíveis em que sistência para as atividades em que existe um
uma injeção de PT pode ser altamente rentável; ademais, s,alário básico garantido pela legislação social; e
graças a ela, o sistema de decisões pode alcançar um ele- c) o diferencial entre o salário básico do setor mo-
vado grau de descentralização, mediante formas diversas derno e o custo de oportunidade da mão-de-obra
de aplicação do regime de subcontratação, ganhando con- ou seja, o salário no setor de subsistência. '
sideravelmente em flexibilidade. Da mesma forma, a ação
empresarial direta do Estado, visando a criar .economias
externas e a ampliar o horizonte temporal das decisões
de investimento, constitui fator importante na evolução A manipulação dessas variáveis vem permitindo que
estrutural do sistema. Contudo, para ·que as possibilida- se .defina um perfil de demanda altamente favorável à
des de crescimento dadas pela estrutura sejam realmente atuação das EI, as quais puderam utilizar de forma mais
aproveitadas, deve ser preenchida o que chamaremos de intensiva a capacidade instalada anteriormente e intensifi-
condição de equilíbrio dinâmico: o perfil· da demanda de car os novos irivestimeli.tos . Se a economia se encontra em
bens finais terá de conformar-se às exigências do PT na condições. de 'sub-utilização da capacidade produtiva, como
forma em que este é transmitido· pelas EI. . era o caso do Brasil em 1965-67, uma modificação no per-
A diferentes perfis de demanda de produtos finais cor- . fi! da demanda mediante expansão de ·crédito adequada-
respondem diferentes composições dos investimentos e di- .ménte orientada pode acarretar considerável elevação em
ferentes fluxos de entrada de recursos externos; fatores P /K. Não se tratà de simples criação de demanda efeti-
ambos que influenciam a penetração do PT. Assim, o ní- va de estilo keynesiano, pois ·a existência de capacidade
vel do Pm pode elevar-se sem que intervenha uma modi- ociosa não é fenômeno gene~zado, concentrando-se no
ficação prévia na taxa de poupança. Neste caso, a melho- setoi' de bens duráveis de consumo e complementares.
ra na relação produto-capital vai acompanhada de au- Faz-se mister modificação na composição da demanda, me-
·mento de rentabilidade das empresas com repercussão na diante aumento mais que proporcional (ou exclusivamen-
82 83
te) de certos setores. l!: mesmo concebível que tal au- cumprimento da ct;mdição de equilíbrio dinamico 0 sis-
·mento seja acompanhado de redução em outros setores te.t1!a J?Oder~ utilizar as possibilidades de crescime~to que
de demanda, como efetivamente ocorreu no Brasil. Con· e~tão .1mp~c1tas em sua estrutura do lado da oferta. Isto
tudo, se se pretende dar permanência ao novo perfil de de- nao Significa que a relação P/K deva permanecer imutá-
manda e assegurar que ele evolua de forma a favorecer vel a .long? P~azo. E;;tatisticas americanas indicam que
os bens duráveis de consumo, será necessário introduzir nos se1s primeiro~ decenios do século atual houve 'uma me-
modificações estruturais, tais como um alongamento da lhora dessa relaçao nos Estados Unidos da ordem de 45
escala de salários em beneficío dos níveis mais altos e/ou por cento, ao mesmo tempo que a produtividade média do
a criação de um fluxo de renda patrimonial em benefício trabalho ~obrava; durante esse período a taxa de remune-
de certos grupos de consumidores. raç~o horaria do trabalho triplicava, enquanto permanecia
Suponhamos que, mediante a manipulação das variá· estável a taxa de remuneração do capital; ademais, 0 . ml-
veis referidas, o governo consiga criar um perfil de de- mero total de horas de trabalho aumentou 50 por cento
manda que incite à utilização da capacidade sub-utilizada e o es~oque de capital triplicou. (Veja-se I.B. Kravis
com repercussão favorável em P/K, a qual em conseqüên- «Relatlv~ Incol?e Shares in Fact and Theory», America~
cia se elevaria de 0,25 até 0,50. Em tais condições é teo- ~c;wmw ,Reviewd., 1959, pp. 923-935.) Dados relativos
ricamente concebível que a taxa de crescimento do Pm a rança. m 1c~ que uma melhora da ordem de 24 por
duplique sem que aumente o esforço de poupança. Mas, cento teria ?COrrido na relação p JK no período do pós-
como a aceleração do crescimento engendra quase neces- ~~erra. (Ve)a-~e J. Marchal e J. Lecaillon, La répartition
sariamente aumento da taxa de poupança, cria-se um feed- Revenu nat~onal, tomo IV, p. 92. ) Observa-se nesses
back positivo e o sistema poderá em período relativamen- países_ de mão-?e-obra relativamente escassa que a remu-
te curto elevar consideravelmente sua taxa de crescimento. neraçao d8;_ unidade. de trabalho aumenta com respeito à
Digamos que a taxa de inversão passe de 14 para 18 por remuneraçap ·da unidade de capital, o que é contrabalan-
cento: a conseqüência será um salto da taxa de cresci- çado por. um ,aumento do estoque de capital muito mais
mento do Pm de 3,5 para 9 por cento. Superado o efeito mtenso que o da força de trabalho; que o efeito desses dois
da passagem da situação de subemprego de capacidade f~tor;s !e!_lda a anular-se, tem-se a prova na constância da
instalada para outra de pleno emprego desta, é de admi- .· distribUiçao funcional da renda. Para explicar esse fenô-
tir que a relação P /K retome o seu valor histórico; supo- meno, pode-se f~er o seguinte raciocínio: nos países alta-
nhamos que este se situe em torno de 0,35 e que a taxa mente desenvolvidos, dentre os bens finais aqueles cuja
de inversão se estabilize em torno de 17 por cento; a taxa demanda tende a crescer mais rapidamente são os servi·
de crescimento tenderá,. em conseqüência, a situar-se ao · ços pessoais;. çomo na produção destes o fator decisivo é
redor de 6 por cento'7 • Assim, se o governo assegura o a J?ao-de-obra e o preço desta está aumentando 'com res-
pe~t~ !lO ~o fator capital, na medida em que aumenta a
·participaçao dos serviços pessoais no produto este tende
01 A relação P/K sendo o quociente de um fluxo (a renda
ou o -produto) por um estoque (o capital), introduz óbvias am·
bigüidades na análise. Él perfeitamente claro que a longo pra· mente muito mais baixa do que a medida no fim do ano Qual
zo o produto (P) não pode crescer com uma taxa muito distin· . das duas ~ representativa, se se pretende fazer uma p,:ojeção
ta da da expansão da capacidade produtiva, isto é, de K. Supo' de tendência? Prov!'velmente nenhuma das duas, convindo ape-
nhamos que se pretende medir P /K com respeito a um ano de- lar P!"ra uma média. O mesmo racloeinio se pode fazer com
terminado e que, neste ano, P se mantém estagnado no pri· . respeito a qualquer periodo de tempo que possa ser dividido em
melro semestre •e cresce fortemente no segundo, ao passo que subperiodos que aprese':'tem disparidades nas taxas de cresci·
o processo de acumulação se realiza regularmente durante todo mentido de P e K. É evidente que, quanto maior for o período
o ano. A relação P/K medida na metade do ano será evidente- c_ons erado, menores serão as disparidades.
84 85
a crescer corn rnais intensidade que o estoque de capital. intensidade do fluxo de entrada de recursos externos.
Trata-se, evidentemente, de fenômeno que somente a lon- . Criam-se, assim, condições para que as EI maximizem
g? prazo pode ser ~ercebido. A situação é seguramente suas possibilidades de ação. Os resultados se farão sentir
diVersa em .economias, como a do Brasil, em que a re- direta e .indiretamente nas duas relações estruturais a e b.
muneração da unidade de trabalho, longe de elevar-se Com efeito: uma melhora do GUCP eleva diretamente o
relativamente à do capital, conheceu uma tendência in~ nível de a e indiretamente o de b; maiores entradas de
versa. Sx elevam o nível de a mediante a intensificação do in-
fluxo de PT e também elevam o nível de b acrescentando
O gráfico abaixo assinala as posições estratégicas recursos à poupança interna; as modificações na CI, fa-
ocupadas pelo. governo e pelas EI na determinação da taxa vorecendo o influxo de PT e abrindo caminho a maiores
de crescimento de P. economias de escala, repercutem favoravelmente em a.
Desta forma, os investimentos inicialmente programados
(Dr<t>) serão modif.icados tanto no seu volume relativo
quanto em sua composição. A taxa de crescimento é sim-
plesmente um reflexo dos valores que, como resultado da
ação de to~os esses fatores, venham a assumir a e b.
Pcr+ll
- K I'"'L =
= a(r); -""' b(t)"I Ptt+IP.{~
l - P (I) b
(1+1) p (1+1) = a c~ . (0·
86 87