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A EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NO BRASIL – algumas perspectivas

Antônio Mauricio Medeiros Alves

A fim de discutir a Educação a Distância (EaD) no contexto brasileiro, inicialmente


faz-se necessário problematizar o conceito de educação a distância que, como todo
conceito, irá depender da corrente teórica considerada.

Para o professor e pesquisador José Manuel Moran 1, EaD é o processo de ensino-


aprendizagem, mediado por diferentes tecnologias, onde professores e alunos estão
separados espacial e/ou temporalmente. Entretanto, apesar de não estarem juntos
fisicamente, podem estar interligados através de diferentes tecnologias como, por exemplo,
a internet. Outras tecnologias/recursos podem ser utilizadas nessa modalidade de educação,
a exemplo dos CDs, DVDs, telefone, vídeo, fax, etc.

Correa (2007) destaca o fato que não se pode limitar o conceito dessa modalidade
de ensino à separação espacial entre alunos e professores, pois seu traço distintivo baseia-se
na mediatização entre alunos e professores, embora essa seja uma tendência
preponderante.

Uma característica fundamental da EaD é o fato de romper com o paradigma


dominante em que o ensino prevalece sobre a aprendizagem, onde o professor é o centro
desse processo. Dessa forma é necessário diferenciar Ensino a Distância de Educação a
Distância, embora haja uma aproximação e, até mesmo, uma complementaridade nesses
termos. Quando se fala em ensino a distância, o foco encontra-se no professor como aquele
que não está presente, porém ao se usar a expressão educação à distância percebe-se um
rompimento com esse paradigma hegemônico (do professor como aquele que ensina,
independente do aluno), visto que o aluno passa a assumir importante papel em sua
aprendizagem, tornando-se sujeito de suas aprendências, assumindo o professor o papel de
problematizador (no lugar de expressões como facilitador, pois esse é entendido como
aquele que torna fácil), fazendo com que esse fenômeno tome um caráter mais abrangente,
abrindo outras possibilidades também temporais além das espaciais para que a educação a
distância aconteça.

1Disponível em http://www.escolanet.com.br/sala_leitura/txt_integral.html, acessado em 20 de junho


de 2010.

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Outros conceitos importantes para que se entenda o sentido da educação a
distância são o de educação presencial (dos cursos regulares, onde alunos e professores
estão juntos fisicamente e se encontram sempre num local físico, normalmente a sala de
aula); de educação semi-presencial (em que parte do curso é presencial e parte à distância,
acontecendo uma parte na sala de aula e outra parte a distância, através de tecnologia) e a
própria educação a distância, que acontece fundamentalmente com professores e alunos
separados fisicamente no espaço e/ou no tempo, mas podendo estar juntos através de
tecnologias de comunicação e pode contar com aulas presenciais ou não.

Quando o “estar junto”, mediado pelas diferentes tecnologias/recursos (chat, vídeo


aula, web conferência, vídeo conferência, msn, etc.), acontece no mesmo tempo para
professores e alunos, a comunicação é definida como “online” ou “síncrona”, quando os
tempos são diferentes, temos a comunicação “offline” ou “assíncrona”. Normalmente os
cursos de EaD utilizam um misto de on e offline.

Segundo Moran, no exterior existem modelos exclusivos de instituições de


educação a distância, que só oferecem programas nessa modalidade, como a Open
University da Inglaterra ou a Universidade Nacional a Distância da Espanha. No Brasil, o
modelo predominante é de instituições que oferecem cursos a distância, mas também o
fazem no ensino presencial.

Renato Sabbatini2 (PHD em Neurofisiologia e professor de tecnologias de


informação e comunicação em saúde da UNICAMP) em palestra recente destacou alguns
dados interessantes sobre o crescimento da EaD no mundo: nos EUA, mais de 65% das
universidades já oferecem EaD, sendo que lá a taxa anual de crescimento de alunos é de
18,2%. Já na área médica, mais de 80% dos profissionais usam regularmente EaD para
atualização. No Brasil, empresas, ONGs e governo estão promovendo cada vez mais
iniciativas no setor, proporcionando um aumento do mercado com cursos cada vez mais
rápidos, baratos e excelentes.

Convém destacar que a educação a distância é uma modalidade que pode ser
dirigida a qualquer nível de ensino, porém mostra-se mais adequada quando dirigida a um
público adulto onde a aprendizagem individual e a prática da pesquisa são normalmente
mais recorrentes.

Essa modalidade vem crescendo nos últimos anos e agregando novas tecnologias,
conforme nos indica José Manuel Moran:

2Disponível em http://groups.google.com.br/group/eadbr/browse_thread/thread/efe58b4c824d49ee,
acessado em 20 de junho de 2010.

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Retomando alguns aspectos históricos da educação a distância no Brasil, veremos que ela
não é nova, mas agora, com a LDB e as tecnologias telemáticas, sua evolução está sendo
mais rápida e facilitando mudanças no modelo educacional, muitas vezes ainda em vigor,
que valoriza a relação hierarquizada entre professor e aluno, entre quem ensina e quem
aprende. (disponível em http://www.escolanet.com.br/sala_leitura/txt_integral.html)

Segundo o autor o crescimento da EaD no Brasil tem modificado as relações dos


sujeitos com a educação, pois a criação de novos ambientes onde também se dá a educação,
desenvolvimento e avanço das tecnologias muda alguns conceitos:

Na medida em que elas avançam [as tecnologias], o conceito de presencialidade também se


altera. Hoje, ainda entendemos por aula um espaço e um tempo determinados. Mas, esse
tempo e esse espaço, cada vez mais, serão flexíveis. (José Manuel Moran, disponível em
http://www.escolanet.com.br/sala_leitura/txt_integral.html)

A educação a distância não é um fenômeno recente no Brasil, tendo sido


inicialmente caracterizada pelos cursos por correspondência em que a principal tecnologia
utilizada era o impresso. Muitos autores caracterizam a EaD em diferentes momentos. A
autora Rosangela Rodrigues3 (1998) denomina cada momento como “geração” e indica a
duração da primeira geração de EaD até os anos de 1970, caracterizando-a pelo estudo por
correspondência, utilizando como principal meio de comunicação os materiais impressos,
geralmente na forma de guia de estudos com “instruções” e exercícios variados, enviados
pelo correio.

A segunda geração teria, segundo a autora, início no período seguinte à década de


1970, quando surgem as primeiras Universidades Abertas e outros elementos foram sendo
incorporados na comunicação à distância, além do material impresso, a exemplo da
televisão (aberta e a cabo), rádio e fitas de áudio e vídeo, com interação por telefone,
satélite, etc. Esse período iria, segundo a autora, até a década de 1990, quando iniciaria
então a terceira geração de EaD, com o fortalecimento das “redes interativas” e o uso mais
abrangente do computador e da internet. A autora ainda indica o início da quarta geração, a
partir do ano 2000, caracterizada pelo aumento da capacidade de processamento dos
computadores e da velocidade das linhas de transmissão o que interfere na apresentação do
conteúdo e interações, bem como o acesso a bancos de dados e bibliotecas eletrônicas.
Temos, então, uma passagem da comunicação offline (com o uso exclusivo do impresso)

3
Disponível em http://www.escolanet.com.br/sala_leitura/hist_ead.html, acessado em 20 de junho de
2010.

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para uma combinação de comunicação off e online (em tempo real), mudando as
características da EAD.

Entretanto é pertinente destacar que uma tecnologia não substitui totalmente a


outra, pois todas podem coexistir. Certamente que os investimentos serão de natureza
diferente de acordo com a demanda de cada período histórico.

Wilson Azevedo (1999) apresenta outra divisão para a EAD, em dois momentos: um
antes e outro depois da internet. No primeiro havia a mediação por meio de tecnologias da
comunicação de um-para-muitos (rádio ou televisão) ou de um-para-um (correspondência).
Com o avanço da internet temos essas duas mediações presentes e uma terceira: a do
muitos-para-muitos. Segundo o autor, essa nova característica atribuída à EaD pelo avanço
da internet, tem permitido a superação daquilo que por muito tempo, citando as palavras de
Pierre Lévy, se considerou a educação a distância: uma “estepe” do ensino utilizada quando
outras estratégias haviam falhado.

Azevedo destaca que a EaD era muitas vezes considerada como uma educação de
“segunda categoria”, utilizada principalmente para suprir lacunas daqueles que não haviam
tido acesso a educação formal no tempo adequado (cursos de suplência).

No caso do Brasil, a LDB 9394/96, em seus artigos 80, reconhece a educação à


distância como uma modalidade de educação dirigida a todos os níveis de ensino. Desde
então se verificou uma intensificação nos cursos em EaD em todos os níveis, diferentemente
do que se assistira anteriormente: cursos esporádicos e em sua maioria com características
supletiva (Telecurso 2000). Esse aumento foi verificado também nos cursos de graduação,
com um crescente envolvimento de instituições de ensino superior com cursos de EAD,
caracterizando grande dinamismo no panorama atual.

De acordo com Rosangela Schwartz Rodrigues (2004):

A partir da segunda metade dos anos 90, as possibilidades que a internet oferece vêm
interferindo profundamente nas atividades de EaD no Brasil. Novas instituições passaram a
oferecer cursos a distância, já se inserindo diretamente no cenário de uso de mídias de
terceira e quarta gerações. Os anos de 1996 e 1997 presenciaram o início de várias atividades
que se tornariam decisivas na evolução do cenário da EaD no Brasil. [...] Com os movimentos
de apropriação tecnológica dos ambientes virtuais de aprendizagem se desenvolvendo
rapidamente e a metodologia de EaD já em fase adiantada de consolidação, o próximo passo
foi o reconhecimento formal do Ministério da Educação aos cursos que já aconteciam por
meio de Educação a Distância. Entre os cursos de graduação a distância aprovados pelo MEC
até 2004 (os cursos só começaram a ter sua aprovação publicada no Diário Oficial em 1999), a
maioria é dedicada à formação de professores em exercício, refletindo o fomento
governamental neste segmento. (Trecho da Tese de Doutorado: Modelo de Planejamento
para Cursos de Pós-graduação a Distância em cooperação Universidade-Empresa, disponível
em http://200.132.103.12/repositorio/admin/downloads/2_tema_2.pdf)

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A educação a distância por muito tempo foi vista como uma superação imediata de
problemas emergenciais (caráter supletivo), como meio de ultrapassar fracassos dos
sistemas educacionais em algum momento da história, como no Brasil, nos anos 70, porém
nos últimos anos tem havido um reconhecimento dessa modalidade de ensino como
elemento regular do sistema educativo (BELLONI, 2006).

Exemplos desse reconhecimento formal da EaD pelo MEC são os decretos 5622 de
19 de dezembro de 2005 e o decreto 5800 de 8 de junho de 2006. O decreto 5622/05
caracteriza e regulamenta a educação à distância no Brasil, definindo sua organização, oferta
e avaliação. Prevê também o credenciamento de instituições de ensino para a oferta de
cursos e programas de especialização, mestrado, doutorado e educação profissional
tecnológica de pós-graduação. Define ainda questões acerca da educação de jovens e
adultos, educação especial e profissional na modalidade de EAD, bem como dos cursos de
graduação.

Já o decreto 5800/06, dispõe sobre o sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB).


Por meio desse decreto se institui a UAB, voltada para o desenvolvimento da modalidade de
educação a distância, com a finalidade de expandir e interiorizar a oferta de cursos e
programas de educação superior no país.

Por meio desse decreto e a institucionalização da UAB, fica definido a colaboração


que deve haver entre a união e os entes federativos (estados e municípios), articulando a
manutenção de polos de apoios presencial com as universidades conveniadas com a UAB.

Em relação aos investimentos o decreto prevê que correrão por conta das dotações
orçamentárias de responsabilidade do MEC e ao FNDE, sendo responsabilidade do executivo
compatibilizar a seleção dos cursos e programas de educação superior com os já existentes.

Convém destacar que a UAB não se caracteriza como mais uma instituição de
Ensino Superior (IES), pois não possui uma sede física, configura-se como um projeto, um
sistema, caracterizado como uma rede nacional voltada para pesquisa e educação superior
formada pelo conjunto de IES que irão se articular com os polos municipais presenciais, onde
estarão em funcionamento os cursos da UAB.

Dessa forma, as IES que irão oferecer cursos superiores na modalidade de EAD,
visando atender aos estudantes dos polos presenciais sediados nos diferentes municípios,
que irão frequentar os diferentes cursos propostos pelas instituições públicas de ensino
superior (IES) e aprovados pelo MEC.

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Cada polo de apoio presencial será de responsabilidade do poder público local,
devendo caracterizar-se como um espaço físico onde os estudantes terão a infraestrutura
necessária a execução de algumas das funções didático-pedagógicas dos cursos à distância.
Deverá ser equipado com laboratórios de ensino e pesquisa, laboratórios de informática,
biblioteca, recursos pedagógicos dentre outros, de acordo com os cursos a serem ofertados,
observando a mediação pelas novas tecnologias de informação e comunicação (TIC)
fundamentais nessa proposta de EAD.

Diversos são os princípios e os fundamentos que sustentam os cursos em EaD, os


quais dependem, em grande parte, da filiação teórica do autor que estamos lendo. Nesse
texto apresentamos 10 princípios básicos que consideramos importantes num curso nessa
modalidade, de acordo com Gonçalves (2020):

1. Perspectiva construtiva do conhecimento, em contraposição à prática


tradicional de transmissão de informação;

2. Aprendizagem dinâmica e ativa, baseada na possibilidade de


processamento da informação obtida por meio da interação com o mundo
virtual e real;

3. Ensinar significa criar ambientes interativos nos quais o aprendiz tenha que
lidar com uma variedade de situações e problemas, auxiliando-o na
interpretação destes para que consiga construir novos conhecimentos;

4. Ênfase no processo de aprendizagem de forma colaborativa e não apenas


no produto obtido com a situação de aprendizagem de maneira individual
e competitiva;

5. Aluno como agente ativo, responsável pela organização de sua maneira de


aprender e consciente de seu estilo de aprendizagem – busca da
metacognição;

6. Aprendizagem sob o controle do aluno, que “puxa” o conhecimento ao


invés deste ser “empurrado” pelo professor;

7. Professor/tutor participa em condições de igualdade com a turma, como


qualquer outro membro do grupo e não em posição diferenciada e
superior a este;

8. Novas configurações espaciais de construção e circulação do saber, por


meio de laços, links que vão sendo acessados de acordo com a direção que
o aluno deseja e não mais pela vontade do professor;

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9. O ambiente de aprendizagem apresenta-se de forma multidimensional,
transformando a dicotomia emissão-recepção e produzindo rizomas nos
diversos pontos de conexão nos quais as pessoas se vinculam num mesmo
processo de construção de conhecimento.

10. Substituição do tempo mecânico, medido pelo relógio e dividido em horas-


aula, pelo tempo lógico criado e apropriado por cada sujeito em particular.

De acordo com a autora, “tais princípios devem nortear a produção de material


didático e a mediação pedagógica na EAD”. Assim, temos atualmente uma nova
configuração para Educação a Distância, aumentando sua abrangência, investindo em
qualidade e oferecendo possibilidades de realização de um curso superior em locais
distantes dos grandes centros.

Bibliografia

AZEVEDO, Wilson. Muito Além do Jardim de Infância. O desafio do preparo de alunos e


professores online. Revista Brasileira de Educação a Distância, ano 6, nº 36, set./out. 1999.

BELLONI, Maria Luiza. Educação a Distância. 4ª Ed. Campinas: Autores Associados, 2006.

CORRÊA, Juliane (org). Educação a Distância – orientações metodológicas. Porto Alegre:


ARTMED, 2007.

GONÇALVES, Julia Eugenia. 10 Princípios da Educação a Distância. Disponível em


http://www.edupp.com.br/2014/09/10-principios-metodologicos-da-educacao-a-distancia/
Acesso em: 21 jan 2020.

MORAN, José Manuel. O que é educação a distância? In: Escola Net – Educação Continuada.
Disponível em: <http://www.escolanet.com.br/sala_leitura/txt_integral.html> Acesso em: 20
jun. 2010.

RODRIGUES, Rosangela Schwartz. Histórico da Educação a Distância. In: Escola Net –


Educação Continuada. Disponível em:
<http://www.escolanet.com.br/sala_leitura/hist_ead.html>. Acesso em: 20 jun. 2010.

RODRIGUES, Rosangela Schwartz. Modelo de Avaliação para Cursos no Ensino a Distância:


Estrutura, Aplicação e Avaliação. Dissertação de Mestrado em Engenharia de Produção:
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC): 1998.

RODRIGUES, Rosangela Schwartz. Modelo de Planejamento para cursos de pós-graduação a


distância em cooperação Universidade-Empresa. Tese de Doutorado: Universidade Federal
de Santa Catarina (UFSC): 2004.

SABBATINI, Renato. Palestra sobre metodologias em EaD. Disponível em:


<http://groups.google.com.br/group/eadbr/browse_thread/thread/efe58b4c824d49ee>.
Acesso em: 20 jun. 2010.

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