SILVA Eduardo Machado Da
SILVA Eduardo Machado Da
SILVA Eduardo Machado Da
Londrina
2010
EDUARDO MACHADO DA SILVA
Londrina
2010
EDUARDO MACHADO DA SILVA
BANCA EXAMINADORA
Leonardo Boff
SILVA, Eduardo Machado da. Compreensão de estudantes de um curso de matemática a
respeito do conceito de indução finita. 2010. 157f. Dissertação (Mestrado em ensino de
Ciências e Educação Matemática) – Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2010.
RESUMO
O objetivo desta pesquisa é verificar, por meio de uma sequência didática que trabalha com a
indução finita via axiomas de Peano, se os estudantes compreenderiam a diferença entre o
método de indução empírica e de indução finita, bem como esta última como uma
demonstração formal. Com relação aos aspectos referentes às provas e demonstrações,
fundamentamos este trabalho a partir dos estudos de Balacheff (1987, 1988, 2004) e Hanna
(1990, 1989a, 1989b), já a indução finita está baseada em (PALIS, 2001), Cury et al (2002),
Savioli (2007) e Souza e Miranda (2007). Utilizamos a Engenharia Didática, nos moldes de
Artigue (1996) para o desenvolvimento deste estudo sendo os sujeitos da pesquisa estudantes
do curso de Matemática - Habilitação: Licenciatura. O confronto entre a análise a priori e a
análise a posteriori mostrou que alguns deles ainda associavam a indução finita com a indução
empírica. Entretanto, com o desenvolvimento das atividades da sequência didática, pudemos
verificar que outros estudantes passaram do nível do empirismo ingênuo para o nível do
exemplo genérico, ou seja, entendemos que eles se encontram em um momento de transição
entre as provas pragmáticas e as provas conceituais, consideradas por Balacheff (1988).
ABSTRACT
The objective of this research is to verify, by a didactic sequence that works with the finite
induction through Peano axioms, if the students would understand the difference between the
empirical induction method and finite induction, as well as, this last one as a formal
demonstration. With regard to the referring aspects the tests and demonstrations we base this
work from the studies of Balacheff (1987, 1988 and 2004) and Hanna (1990, 1989a, 1989b),
already the finite induction this one based on (PALIS, 2001), Cury et al (2002), Savioli (2007)
and Souza e Miranda (2007). We used Didactic Engineering, according to Artigue (1996) for
the development of this study being the citizens of the research students of the course of
Mathematics - Qualification: Licentiate. The confrontation between a priori and posteriori
analysis showed that some of them still associated the finite induction with the empirical one.
However, with the development of the activities of the didactic sequence, we could verify that
other students had passed from ingenuous empiric level to the generic example one, thus, we
understand that they have been at a moment of transition between the pragmatic tests and the
conceptual ones considered for Balacheff (1988).
Figura 1 – Exemplo de uma prova que prova segundo Hanna (1990) ............................... 56
Figura 2 – Primeiro exemplo de prova explicativa segundo Hanna (1990) ....................... 58
Figura 3 – Segundo exemplo de prova explicativa segundo Hanna (1990) ....................... 58
Figura 4 – Terceiro exemplo de prova explicativa segundo Hanna (1990) ....................... 59
Figura 5 – Exemplo de uma aplicação da indução finita como um processo mecânico .... 60
Figura 6 – Solução apresentada pelo estudante E9S2Q1 ................................................... 61
Figura 7 – Enunciado do 1° princípio de indução (DOMINGUES;IEZZI, 1982, p. 3) ..... 73
Figura 8 – Enunciado do 2° princípio de indução (DOMINGUES; IEZZI, 1982, p. 3) .... 73
Figura 9 – Enunciado do 1° princípio de indução finita (GERONIMO; FRANCO,
2002, p. 48). ...................................................................................................... 75
Figura 10 – Enunciado do 2° princípio de indução finita (GERONIMO; FRANCO,
2002, 72 p. 49)................................................................................................. 76
Figura 11 – Enunciado da demonstração por indução finita do sistema Etapa (ETAPA,
2009, p. 144) ................................................................................................... 78
Figura 12 – Enunciado da demonstração por indução finita do sistema Anglo
(ANGLO, 2002, p. 41) ................................................................................... 79
Figura 13 – Solução apresentada pelo estudante E1S1Q1.................................................. 99
Figura 14 – Solução apresentada pelo estudante E5S1Q2................................................ 101
Figura 15 – Solução apresentada pelo estudante E12S1Q3.............................................. 104
Figura 16 – Verificações apresentadas pelo estudante E5S1Q4 ....................................... 106
Figura 17 – Solução apresentada pelo estudante E9S1Q4................................................ 106
Figura 18 – Solução apresentada pelo estudante E13S1Q4.............................................. 107
Figura 19 – Solução apresentada pelo estudante E2S1Q5................................................ 110
Figura 20 – Solução apresentada pelo estudante E2S1Q6.................................................. 11
Figura 21 – Solução apresentada pelo estudante E3S2Q1................................................ 114
Figura 22 – Solução apresentada pelo estudante E4S2Q2................................................ 116
Figura 23 – Solução apresentada pelo estudante E12S2Q2.............................................. 117
Figura 24 – Solução apresentada pelo estudante E1S3Q1................................................ 122
Figura 25 – Solução apresentada pelo estudante E8S4Q1................................................ 125
Figura 26 – Solução apresentada pelo estudante E11S4Q2 .............................................. 127
Figura 27 – Solução apresentada pelo estudante E5S4Q3................................................ 129
Figura 28 – Solução apresentada pelo estudante E3S4Q3................................................ 130
Figura 29 – Solução apresentada pelo estudante E6S4Q3................................................ 130
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 12
1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA................................................................................. 16
1.1 PROVA E DEMONSTRAÇÃO: BREVE EXPOSIÇÃO ............................................................. 16
1.2 PROVA E DEMONSTRAÇÃO: ORIGENS HISTÓRICAS ......................................................... 18
1.3 PROVA E DEMONSTRAÇÃO: NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA ...................... 24
4 ANÁLISE PRELIMINAR............................................................................................. 69
4.1 O FENÔMENO ................................................................................................................. 69
4.2 ANÁLISES PRELIMINARES .............................................................................................. 69
4.3 CONSTRUÇÃO DA SEQÜÊNCIA ........................................................................................ 80
ANEXO............................................................................................................................. 151
12
INTRODUÇÃO
1
Há outras denominações para este conceito, como por exemplo, indução matemática e método de indução,
entretanto optamos por utilizar neste trabalho a denominação indução finita.
14
indução finita, isto é, que devem provar que uma determinada afirmação é verdadeira para um
n0 inicial e que se para um k qualquer ela também for verdadeira, então também será para o
seu sucessor, ou seja, para k+1. Dessa forma nossa hipótese de trabalho foi delineada a partir
das leituras anteriores, onde notamos que os estudantes não entendem por quê e nem para quê
se utiliza o princípio de indução finita.
Assim, a partir dessas analises estabelecemos como objetivo deste trabalho
verificar por meio de uma sequência didática, que trabalha com a indução finita via
axiomas de Peano, se os estudantes compreenderiam a diferença entre o método de
indução empírica e de indução finita, bem como, esta última como uma demonstração
formal e não somente como um processo mecânico.
Visando atingir nosso objetivo buscamos como a indução finita aparece na
literatura, nos livros didáticos, na história da matemática e nos registros escritos dos
estudantes.
Esta dissertação é composta por seis capítulos. No primeiro capítulo a
apresentamos uma exposição sobre a definição dos termos prova e demonstração relatando
sobre a origem histórica dos processos de prova e demonstração e finalizamos este capítulo
expondo algumas posições sobre a importância das provas e demonstrações além de suas
funções a partir de perspectivas da Educação Matemática. No segundo capítulo, abordamos o
princípio de indução finita juntamente com o método de indução empírica, no qual
caracterizamos cada um deles. O terceiro capítulo se refere aos procedimentos metodológicos
adotados nesta pesquisa, assim, expomos a teoria das situações didáticas e a engenharia
didática focadas no desenvolvimento do nosso trabalho. O quarto capítulo trata da análise
preliminar onde definimos nosso fenômeno de estudo e descrevemos os procedimentos
utilizados para a construção da sequência didática. No quinto capítulo relatamos como
ocorreram as etapas de experimentação, as análises a priori, as análises a posteriori
juntamente com a validação. Por fim no sexto e último capítulo apresentamos nossas
considerações finais.
16
CAPÍTULO 1
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
verdade, a realidade, a autenticidade de uma coisa com razões, fatos etc. 2 dar testemunho,
prova, demonstração de; patentear, evidenciar, revelar."
Já, no dicionário filosófico Abbagnano (2000, p. 805) o termo prova é
definido como:
temos os conceitos de: ponto, reta e plano. Já os teoremas são afirmações em que é
imprescindível ter uma prova. Na Geometria Euclidiana um dos teoremas mais antigos e
também um dos mais conhecidos que podemos citar como exemplo é o teorema de Pitágoras.
Já na vertente algébrica um exemplo de teorema é o teorema fundamental da Álgebra.
As primeiras evidências sobre o desenvolvimento de alguma atividade
matemática se deram, segundo Boyer (1974) e Eves (2004), por meio de ideias relacionadas
com os problemas de contagem, donde vem os primeiros conceitos relacionados à definição
de número. Além dessa atividade, houve preocupação do Homem antigo em relacionar
grandezas e formas.
Boyer (1974) e Eves (2004) apontam também que os primeiros povos
antigos a desenvolverem aplicações da Matemática para atender suas necessidades diárias
foram os egípcios e os babilônios. Devido ao interesse pela Astronomia os egípcios
elaboraram um calendário com a finalidade de determinar os períodos de enchente do rio
Nilo. Segundo Boyer (1974) este calendário era composto de 12 meses dispostos em 30 dias
cada mês. Os egípcios também dispunham de um sistema decimal usado para realizar
contagens. A partir do desenvolvimento do processo de escrita, os egípcios deixaram os
registros de seus estudos em papiros. Para Boyer (1974) e Eves (2004) os papiros que
apresentam um vasto conjunto de informações sobre o desenvolvimento da matemática
egípcia são os papiros de Rhind e de Moscou. Nestes papiros há descrições de métodos de
multiplicação e divisão desenvolvidos pelos egípcios, além de uma regra conhecida como a
regra da falsa posição, utilizada para resolver equações lineares.
Já os babilônios dispunham de regras gerais para determinar a área de
figuras planas, além de regras para calcular volumes de certos sólidos geométricos. Este povo
também aplicava com êxito o que mais tarde chamou-se de teorema de Pitágoras. Os registros
do desenvolvimento da matemática babilônica estão contidos no Papiro de Plimpton 322.
Olhando o desenvolvimento da matemática promovido pelos egípcios e
babilônios não encontramos registros sobre os processos de provas e demonstrações relativos
à matemática, isto é, a ênfase destes povos era centrada em aplicações práticas do dia-a-dia,
seus interesses estavam voltados para o desenvolvimento de estratégias que pudessem ser
aplicadas para encontrar a solução de problemas particulares. Tanto os egípcios quanto os
babilônios não se preocupavam em generalizar suas regras.
Além disso,
2
Relativo a empirismo
21
responder por que. O caráter de generalização, isto é, de apontar a validade de uma afirmação
para todos os casos possíveis é o que distingue o pensamento grego do pensamento egípcio e
babilónico. É a busca de uma verdade incontestável que impulsiona os gregos a uma nova
perspectiva de raciocínio. Portanto, é essa a característica que diferencia o pensamento dos
gregos e que Bicudo (1999, p. 118) enfatiza: "[...] não bastar mais ver para crer; para CRER
era preciso PROVAR."
É a mudança da matemática empírica dos egípcios e babilônios para a
matemática dedutiva sistemática grega, que dá esse novo método de pensamento, o qual
atualmente é denominado de método dedutivo.
O dicionário Aurélio (1999, p. 613) tem como definição para dedução: "1.
ação de deduzir. 2. o que resulta de um raciocínio; conclusão. 3. enumeração minuciosa de
fatos e argumentos". Em linhas gerais podemos dizer que a dedução é um tipo de raciocínio
que vai do geral ao particular. Adiante discutiremos os aspectos dos métodos dedutivos,
indutivos e abdutivos.
Voltando aos gregos, foi a partir das investigações realizadas por esse povo
que nasce o conceito moderno de matemática:
(2002). Assim como Tales e Pitágoras, pouco se conhece da vida de Euclides. De acordo com
Boyer (1974), sabe-se que Euclides era da cidade de Alexandria, e dedicava sua vida a ensinar
matemática nesta cidade. Além disso, se tem conhecimento, segundo o mesmo autor, que
Euclides conviveu com discípulos de Platão.
Segundo Boyer (1974, p. 77), Os Elementos, de Euclides, "estão divididos
em treze livros ou capítulos, dos quais os seis primeiros são sobre geometria plana elementar,
os três seguintes sobre teoria dos números, o livro X sobre incomensuráveis e os três últimos
versam sobre geometria no espaço."
A obra Os Elementos, de Euclides, se diferencia dos demais trabalhos
desenvolvidos, pois o autor conseguiu organizar logicamente todo o conteúdo matemático até
então conhecido. A organização lógica que nos referimos é expressa por Bicudo (2005, p. 65)
da seguinte maneira: "Euclides abre os seus Elementos, o mais bem acabado exemplar da
matemática grega a chegar até nós, arrolando três tipos de princípios: "as definições, os
postulados, e as noções comuns (ou axiomas)." Ainda com relação à organização lógica do
conteúdo matemático disponível Boyer (1974, p. 76 - 77) diz que: "Os Elementos se limitam
austeramente ao seu campo - a exposição em ordem lógica dos assuntos básicos da
matemática elementar."
Apesar de não ser considerada uma obra totalmente original, como apontam
Boyer (1974) e Cajori (2007), Os Elementos é a primeira obra a apresentar uma organização
conhecida como axiomática, isto é, a partir de um conjunto de noções primitivas que não
admitem demonstração e que constituem a base de um ramo da matemática, é possível
deduzir, pelo raciocínio, todo o conteúdo deste ramo. Assim, as novas afirmações são
chamadas de teoremas e diferentemente das definições anteriores os teoremas devem ser
demonstrados a partir das noções precedentes.
Embora a obra Os Elementos seja considerada como uma das mais notáveis
obras matemáticas, Cajori (2007) aponta uma crítica ao trabalho de Euclides:
4
Charles Sanders Pierce (1839 - 1914).
5
Falácia: engano que se comete com razões falsas ou mal deduzidas
24
Garnica (2002, p. 74) afirma que: "a prova rigorosa é tida como elemento
fundamentalmente importante para a formação de professores." Temos deste modo, que o
trabalho relativo ao ensino de provas e demonstrações matemáticas se faz essencial e
relevante, pois tais objetos matemáticos pertencem à etapa de validação de conhecimentos,
segundo Pais (2006). Porém, a dificuldade associada ao ensino de provas e demonstrações é
uma realidade constatada tanto por estudantes de Ensino Médio quanto do Ensino Superior.
Talvez uma das razões para essa dificuldade se refere à metodologia adotada pelos professores
que ministram aulas de matemática. Tal metodologia é baseada na transmissão dos conceitos
esperando que os estudantes memorizem regras e princípios pré-estabelecidos. Um exemplo
característico deste tipo de aula de matemática em nível superior é:
A validade dos enunciados de uma disciplina escolar não pode ser imposta
por uma atitude dogmática, o que seria incompatível com as finalidades da
educação, pois o estímulo da argumentação contribui tanto na formação de
uma atitude mais crítica quanto no desenvolvimento intelectual do aluno.
Para isso, diferencia-se a argumentação científica da argumentação didática.
(PAIS, 2006, p. 40)
26
Estes autores ainda fazem uma advertência com relação às provas produzidas hoje, as
produzidas por Euclides e ainda as produzidas por Newton e Leibniz:
Carnielli e Epstein (2006, p. 56) dizem que: "uma prova é uma forma de
comunicação. A demonstração consiste na apresentação ou no particular arranjo dos
argumentos que produzem a prova." Deste modo, tem-se, que uma prova tem como objetivo
28
convencer alguém (ou a si mesmo) de que uma afirmação segue a partir de outras. Além
disso, estes autores apontam que:
6
Se refere a coercivo, isto é, que pode exercer coerção, ou seja, impõe seu direito por obediência.
7
Ato de aquiecer (anuência), consentir, aprovar.
29
Parece, somando todos os aspectos que consideramos até aqui, que uma
demonstração matematicamente perfeita deve ser logicamente correta,
compreensível a um agente racional com limitações cognitivas humanas, e,
ainda assim, heuristicamente estimulante. Um delicado equilíbrio de
demandas quase inconciliáveis: correção lógica e riqueza heurística
acessíveis a um agente severamente limitado em termos cognitivos. (SILVA,
2002, p. 59)
Além disso, Silva (2002, p. 62) aponta que uma demonstração matemática é
definida como uma sequência finita de proposições logicamente ordenadas, ou seja, "... para
fins de tratamento matemático, as demonstrações não são nada além de cadeias finitas
logicamente articuladas de formas declarativas no contexto de um sistema formal
determinado"
Silva (2002, p. 63) expõe ainda que, "da perspectiva da teoria das
demonstrações, uma demonstração não é aquilo que os matemáticos entendem como tal, mas
30
uma imagem ideal disso." O autor salienta ainda, que um defeito em relação às demonstrações
matemáticas é uma mistura de elementos objetivos e subjetivos.
Em seus trabalhos Hanna (2000, p. 5) afirma que "a prova se encontra viva e
saudável na prática matemática e continua a merecer um lugar de destaque no currículo de
matemática." Carvalho (2004) concorda com Hanna (2000), que a prova está presente na
prática matemática, porém aponta que isso não garante que os estudantes considerem as
provas e demonstrações como uma oportunidade para aprender.
Hanna (1989a) apresenta uma discussão acerca do papel das provas
rigorosas no ensino secundário canadense. Esta autora diz que as provas podem ter diferentes
níveis de validade já que tais níveis dependem dos processos sociais vivenciados pelos
estudantes. Portanto, para Hanna (1989a), os processos de provas possuem caráter de
flexibilidade já que são passíveis de críticas, contraexemplos e se constitui como um processo
social de negociação de significados, isto é, uma prova para se constituir como prova precisa
ser aprovada pela comunidade matemática dos matemáticos, assim, a prova não possui caráter
definitivo. Com relação ao desenvolvimento do raciocínio, para a realização de provas
matemáticas Hanna (1989a) apresenta 4 fatores. São eles: (1) O formalismo que atua como
instrumento que visa clarear ideias, validar argumentos e o entendimento; (2) As experiências
matemáticas que não são suficientes, sendo assim necessário refletir sobre elas; (3) Que os
estudantes devem ser tolerantes às ambiguidades e (4) Que na ocorrência de
desentendimentos deve-se aplicar o rigor com o intuito de correção.
Hanna (1989b, p. 46) destaca uma distinção com relação às provas que
provam e as provas que explicam. Para a autora ambas as modalidades de provas são
legítimas e "... possuem os requisitos de uma demonstração matemática ..." além disso, ambas
objetivam constituir a verdade de uma afirmação e são aceitas pela comunidade matemática.
A distinção entre as provas que provam e as provas que explicam, segundo Hanna (1989b, p.
47), é quanto à presença de argumentos matemáticos para a compreensão da prova, isto é, as
provas que explicam procuram apresentar as ideias de maneira clara a fim de encadear um
encaminhamento lógico para o desenvolvimento da demonstração. Assim, a autora explicita
essa diferença como: "... há, entretanto uma diferença muito importante entre estes dois tipos
de demonstração. Uma demonstração que prova mostra apenas que um teorema é verdadeiro;
uma demonstração que explica também mostra porquê ele é verdadeiro." Como consequência
pedagógica esta autora diz que as provas que explicam estão ao alcance dos estudantes, pois
estão presentes nesse tipo de prova as ideias do cotidiano deles. Dessa forma, acredita-se que
o estudante é desafiado a encontrar argumentos que justifiquem os resultados. Assim, para
31
Hanna (1989b), a característica fundamental que deve ser desenvolvida nos estudantes a partir
das provas que explicam é o entendimento, pois é a partir daí que eles iniciam a construção de
uma cadeia de argumentos dedutivos.
Ainda segundo Hanna (1990), há três aspectos sob os quais devemos
considerar as provas. O primeiro aspecto é a prova formal, o segundo a prova aceitável e o
terceiro é ensinar por meio da prova. Com relação aos aspectos apresentados por Hanna
(1990), Carvalho (2004) vê a prova formal da seguinte maneira:
E com relação ao ensino por meio da prova Carvalho (2004, p. 61) expõe
que: "O ato de se ensinar através de uma demonstração deve incluir a possibilidade de se fazer
da própria demonstração a resposta de como o resultado foi possível de ser provado e não
apenas de demonstrar o resultado."
Além das perspectivas apresentadas até aqui, temos em Hanna (2000) que as
provas possuem 8 funções que são,
1. Verificar (relacionado com a verdade de uma afirmação);
2. Explicar (fornecendo 'pistas' do por que é verdade);
3. Sistematizar (organizar os vários resultados em um sistema dedutivo de
axiomas, conceitos e teoremas);
4. Descobrir (a descoberta ou a invenção de novos resultados);
5. Comunicar (a transmissão do conhecimento matemático);
6. Construir (uma teoria empírica);
7. Explorar (o significado de uma definição ou as consequências de uma
afirmação);
32
conexões entre as proposições, para descobrir por que algumas proposições são verdadeiras."
Para a terceira função encontramos: "A terceira função da prova consiste na descoberta do
novo."
Para finalizar a exposição de alguns trabalhos referentes às provas e
demonstrações em matemática apresentamos as perspectivas desenvolvidas por Balacheff
(1987, 1988, 2004). Para este pesquisador o elemento que nos permite raciocinar e tomar
decisão com relação a um processo de prova é a racionalidade. Isso se deve ao fato de que a
verdade ou validade de uma afirmação depende das regras e critérios que são utilizados, isto
é, dependem do contexto onde estão envolvidos.
As atividades referentes às provas são consideradas, segundo Balacheff, sob
diferentes perspectivas, nas quais podem explicitar características particulares. Dependendo
da situação a ser considerada há vários tipos e níveis de provas.
deduzido a partir daqueles que o precedem devido a uma regra de dedução. Assim, a
demonstração é um resultado de um processo particular de prova que valida uma afirmação.
Desse modo, temos que a demonstração é um tipo de prova com estas características e que,
além disso, as demonstrações são as únicas provas aceitas pelos matemáticos.
Com relação às perspectivas de prova matemática no processo de ensino e
aprendizagem Balacheff (2004) expõe as seguintes características a respeito das funções da
prova que são baseadas nos trabalhos de Hanna (2000) e Villiers (2001):
1. Verificação, explicação, sistematização, descoberta e comunicação e
2. Construção de uma teoria empírica, com o intuito de explorar o
significado de uma definição ou das consequências de uma hipótese,
absorvendo um fato novo numa nova estrutura e permitindo uma nova
percepção.
Neste trabalho o autor ainda destaca características diferentes na qual a
prova pode ter um papel de comprovação universal e exemplar, a prova é tida como início de
uma natureza idiossincrática8 no núcleo da matemática ou ainda como algo que adquire
significado de aplicações no campo da matemática.
Para Balachef (1988), há basicamente dois tipos de prova, que são
denominadas: prova pragmática e prova conceitual9. As provas pragmáticas consistem em
ações atuais ou "mostrações". Já as provas conceituais se caracterizam por formulações de
propriedades e as possíveis relações entre elas. Assim, as demonstrações seriam um tipo de
prova conceitual. Segundo Balacheff (1988) as provas pragmáticas são produzidas por
pessoas que tomam como base fatos e ações. A comunicação de tais resultados é por meio de
exemplos onde o autor manifesta e apresenta suas ideias. As provas conceituais precisam de
uma mudança de posição da pessoa que a realiza, já que sua atuação nessa perspectiva passa a
ser de um "teórico". Para elaboração de uma demonstração na perspectiva da prova
conceitual, o teórico precisa ter acesso a uma linguagem que se constitui como uma
ferramenta intelectual na qual se denomina como uma linguagem funcional, neste caso a
linguagem não é apenas um meio de descrever as operações e ações do teórico. Portanto,
segundo Balacheff (1987), o que tornam as provas pragmáticas e conceituais diferentes são os
tipos de raciocínios subjacentes e a natureza do conhecimento em questão.
Com relação ao sujeito e o processo de validação de afirmações Balacheff
(1987) considera que os processos que permitem construir uma prova são de natureza
8
Que se refere a idiossincrasia, isto é, maneira própria de ver, sentir, reagir, de cada pessoa
9
Ou prova intelectual
36
Balacheff (1988) acrescenta ainda um nível superior de prova denominado cálculo nas
afirmações. Neste nível as provas conceituais são semelhantes às demonstrações.
Para Balacheff (1988) há ainda uma hierarquia entre esses níveis de prova
de forma que um nível específico depende do grau de generalidade e conceitualização do
conhecimento envolvido. Assim, para este pesquisador, a demonstração é um instrumento que
busca a negociação da verdade nas salas de aula, portanto trata-se de um instrumento de
validação social.
A demonstração é útil como um instrumento de negociação de verdade em
sala de aula além de um instrumento de validação social, pois é a partir de resultados
experimentais que os estudantes apresentam seus resultados, como afirma Balacheff (1988).
Assim, com relação às análises que apresentaremos ao final do capítulo 4
desta pesquisa, destacamos que para a realização da análise a priori optamos pelos trabalhos
de Hanna (2000) e Villiers (2001) com o intuito realizar um levantamento inicial de quais
funções da prova os estudantes apresentam quando estão demonstrando determinadas
proposições. Apesar de esses trabalhos conterem funções de prova com nomes semelhantes é
possível notar que suas definições são diferentes. Entendemos que as funções apresentadas
por Hanna (2000) e Villiers (2001) buscam destacar o significado e o objetivo de uma
demonstração.
A análise a posteriori será avaliada tomando-se como referências o trabalho
de Balacheff (1988) no qual procuraremos caracterizar as provas apresentadas pelos
estudantes segundo a classificação desse autor, isto é, em prova pragmática ou prova
conceitual. Além do mais, buscaremos estabelecer em qual nível de prova se encontra a
solução apresentada, ou seja, se trata-se de um empirismo ingênuo, experimento crucial,
exemplo genérico ou experimento de pensamento. Outro trabalho que utilizaremos na análise
a posteriori será o de Silva (2002), onde este autor apresenta três aspectos sobre a
demonstração. Tais aspectos são: o retórico, lógico-epistemológico e o heurístico. Cada um
destes possui uma particularidade, assim, buscaremos nas demonstrações dos estudantes
características que apontem quais destes aspectos eles apresentam. Além desses trabalhos já
destacados, utilizaremos também o de Hanna (1989b) no qual a autora classifica as provas em
provas que provam ou em provas que explicam. Ao mesmo tempo, neste trabalho a autora
afirma que a prova por indução finita é uma prova que prova, dessa maneira procuraremos
comparar o argumento apresentado pela autora juntamente com os argumentos apresentados
pelos estudantes nas demonstrações por indução finita a fim de confirmar ou não tal tese. Por
38
fim, na análise a posteriori, vamos comparar as funções de prova segundo Hanna (2000) e
Villiers (2001) que levantamos na análise a priori e verificar quais ocorreram ou não.
39
CAPÍTULO 2
A INDUÇÃO FINITA E A INDUÇÃO EMPÍRICA
2.1 INTRODUÇÃO
Em Chauí (2000) temos também que, o homem, quando faz uso da razão,
realiza uma atividade racional e são elementos desta ação a intuição e o raciocínio. Segundo o
dicionário Aurélio (1999, p. 1130) a intuição é: "1. o conhecimento imediato que independe
do raciocínio." E raciocínio quer dizer: "1. encadeamento, aparentemente lógico, de juízos ou
pensamentos." Dessa forma, temos que:
consiste em partir de uma verdade já conhecida (seja por intuição, seja por
uma demonstração anterior) e que funciona como um princípio geral ao qual
se subordinam todos os casos que serão demonstrados a partir dela. Em
outras palavras, na dedução parte-se de uma verdade já conhecida para
demonstrar que ela se aplica a todos os casos particulares iguais. Por isso
também se diz que a dedução vai do geral ao particular ou do universal ao
individual. O ponto de partida de uma dedução é ou uma idéia verdadeira ou
uma teoria verdadeira. (CHAUI, 2000, p. 81)
Se entro num quarto em que há vários sacos que contém diversos tipos de
feijão e, depois de investigar, descubro que um dos sacos contém apenas
grãos de feijão branco, posso inferir como probabilidade, ou conjectura
razoável, que, dado um punhado de feijão branco, este procede do saco que
contém somente feijão branco. Com isso formulo uma hipótese, distinta de
uma indução e de uma dedução, isto é, infiro um caso partindo de uma regra
e de um resultado. (MORA, 1998, p. 12)
10
Verificação de um caso particular
41
Entendemos que a proposta de Bicudo (2005) não é viável para ser aplicada
em demonstrações matemáticas, pois, segundo as regras da lógica, deveríamos a todo o
momento que demonstramos certa proposição, nos remeter a conceitos anteriores
relacionando-os com propriedades já demonstradas a fim de obter novas definições e provas
de teoremas. Dessa forma, apesar das provas e demonstrações matemáticas não possuírem o
rigor da lógica são consideradas como provas formais. Assim, temos que:
Prova Direta: chega-se à conclusão por meio da combinação lógica dos axiomas, definições e
teoremas já existentes.
Exemplo: mostrar que, para a, b, c ∈Z, a\b ∧ a\c ⇒a\b+c
Dem.
44
Como a\b ,b pode ser escrito na forma ak1, onde k1 é um número inteiro. De
modo análogo, c = ak2, com k2 ∈Z. Portanto, b+c = ak1+ak2 = a(k1+k2), onde k1+k2 é inteiro,
ou seja, a\b+c.
Prova por Contrapositiva: é considerada uma tipo de prova indireta, pois determina-se a
conclusão negando-se a tese e assim chega à negação da hipótese.
Exemplo: mostrar que se o quadrado de um número inteiro é par, então esse
número é
par.
Dem.
Para demonstrar a proposição anterior basta notar que se um número é
impar, então seu quadrado é impar. Todo número impar pode ser escrito na forma 2k+1, onde
k é um inteiro. Elevando 2k+1 ao quadrado temos, (2k+1)2 = 4k2+4k+1 = 2(2k2+2k)+1 que é
impar, pois também é da forma 2k+1, k ∈Z.
Prova por Contradição (reductio ad absurdum): nas provas por contradição ao negarmos a
tese (enunciado) chegamos também a negação da hipótese o que equivale dizer que temos
uma contradição;
Exemplo: mostrar que existe infinitos número primos positivos.
Dem.
Vamos supor, por absurdo, que exista um número finito de primos positivos
p1, p2, ..., pk, para algum k ∈ N. Formemos o número a =p1p2p3...pk+1. Temos a >1. Logo
existe um número primo positivo p tal que p\a. Como existe um número finito de primos
positivos, temos que p é um dos pi, 1≤ i ≥k. Temos p\a e p\p1p2...pk. Logo p\1. Isso é um
absurdo, pois p>1.
Suponhamos agora que k>1 e ainda que k ∈ A (hipótese de indução), isto é, que
1+3+5+...+(2k-1) k é verdadeira. Vamos demonstrar que 1+3+5+...+ (2(k+1)-1) = (k + 1)2é
2
verdadeira. De fato, supondo que temos 1+3+5+...+(2k-1) = k2, podemos somar a ambos os
membros 2k+1, obtendo 1+3+5+...+(2k+1) = 1+3+5+...+(2(k+1)2-1) = (k+1)2 Assim temos
que
a)1 ∈ A
b) se k ≥ 1 e k ∈ A, então k+1 ∈ A.
Logo pelo princípio de indução finita, A = N*, em outras palavras,
1+3+5+...+(2n-1) = n2 é válida para todo n ∈ N*.
"simplificação" da linguagem natural. Dessa forma, a partir das definições de indução finita e
de indução empírica acima é possível perceber que ambos não possuem características
comuns. Concluímos então que essa simplificação da linguagem acaba gerando problemas
quando os estudantes estão demonstrando proposições utilizando a indução finita.
Retornando à definição de indução dada pelo dicionário de filosofia de
Abbagnano (2000, p. 557) temos:
estudantes utilizem a indução finita de forma equivocada? Mas então o que significa indução
finita? Como os estudantes empregam a indução finita? A indução finita é confiável?
Com relação à primeira pergunta acima Carvalho (2004, p. 154) indica "A
palavra que define, que dá nome ao objeto matemático, deixa de ser do domínio do corpo
matemático, passa a ser da pessoa." Dessa forma, acreditamos que provavelmente quem
detém controle sobre os termos indução e indução finita são os autores de livros didáticos e os
professores sendo assim, eles são responsáveis sobre a utilização adequada ou não da
terminologia. Portanto
E por fim Fonseca (2005) diz que no âmbito da sala de aula "os teoremas
são verdadeiros, mas os argumentos que estabelecem a verdade são frequentemente informais,
não dedutivos, ou baseiam-se em critérios de autoridade externa."
Ora, está longe de ser óbvio, de um ponto de vista lógico, haver justificativa
no inferir enunciados universais de enunciados singulares,
independentemente de quão numerosos sejam estes; com efeito, qualquer
conclusão colhida desse modo sempre pode revelar-se falsa:
independentemente de quantos casos de cisnes brancos possamos observar,
isso não justifica a conclusão de que todos os cisnes são brancos. (POPPER,
1996, p. 28)
11
Esse autor assume o conjunto dos números naturais a partir de 1, isto é, N = {1, 2, 3, ...}, neste trabalho
abordaremos N como N = {0, 1, 2, 3, ...}.
51
a – P (0) é verdadeira
b – ∀ k ∈ N, P (k) verdadeira⇒ P(k+1) verdadeira.
Então P(n) é verdadeira para todo n ∈ N
Dem.
(1996, p. 44). No decorrer desta pesquisa abordaremos o assunto como princípio de indução
finita.
Apesar do princípio de indução finita ter sido desenvolvido por Peano, Katz
(2004) mostra indícios de que a indução finita já era conhecida desde a Antiguidade,
aparecendo de forma implícita na obra Os Elementos, de Euclides (300 a.C.). Além disso, há
autores como Coelho e Milies (2006) que apontam o matemático francês Blaise Pascal (1623
- 1662) como o primeiro a utilizar o princípio de indução finita para demonstrar as
propriedades do triângulo aritmético, em um folheto que tinha como título Traité du Triangle
Arithmétique.
Porém, contrariando a posição anterior, Vacca (1909) defende que foi
Francesco Maurolico, matemático italiano (1494 - 1575), o primeiro a utilizar a indução finita
em seus trabalhos e que Pascal teria apenas utilizado-a em seu folheto. Hefez (1993), ao
encontro de Vacca (1909), vai além e diz que o primeiro problema de indução finita resolvido
por Maurolico foi provar que, para todo natural n, a soma dos n primeiros números naturais
ímpares é dada por n2.
Há outros autores como Cajori (1918), que apontam que a indução finita
apresenta origens diferentes. Este autor ainda afirma que foi apenas em 1838 que o nome
indução finita foi utilizado aparentemente pela primeira vez. Fato esse, que se deve ao
matemático britânico Augustus De Morgan (1806 - 1871) em um artigo publicado com o
título Induction (Mathematics).
Outra perspectiva em que se pode abordar o princípio de indução finita é
apoiando-se na filosofia da matemática, como fez Russel (1974). Segundo Monk (2000),
Russel buscava definir a matemática como uma ciência livre de contradições, sendo assim
incontestavelmente verdadeira. Russel (1974) a fim de explicar os axiomas de Peano, introduz
a sequência 1, 2, 3, dos números naturais, dizendo que um ponto de partida óbvio em relação
à matemática e que, para reescrever esta sequência como 0, 1, 2, 3, n, n + 1, ... a civilização
passou por vários níveis de desenvolvimentos intelectuais. Para isso, basta notar, que nesta
última série temos 0 como elemento, fato que mostra desenvolvimento intelectual da
humanidade, já que, por exemplo, os gregos e os romanos não dispunham de uma
representação para tal algarismo. Deste modo, Russel (1974) alerta que:
Assim, Russel (1974) aponta que para construir a série dos números naturais
basta saber o que se quer dizer com os termos "0" e "sucessor" e afirma que:
Quais os números que podem ser atingidos sendo dados os termos '0' e
'sucessor'? Haverá algum meio pelo qual possamos definir toda a classe de
tais números? Atingimos 1 como sucessor de 0; 2, como sucessor de 1; 3,
como sucessor de 2, e assim por diante. É esse 'e assim por diante' que
desejamos substituir por algo menos vago e indefinido. Poderemos ser
tentados a dizer que 'e assim por diante' significa que o processo de passar
para o sucessor pode ser repetido qualquer número finito de vezes, mas o
problema em cuja solução estamos empenhados é o de definir 'número
finito', e, portanto, não devemos usar essa noção em nossa definição. Nossa
definição não deverá pressupor que saibamos o que seja um número finito.
(RUSSEL, 1974, p. 27)
A solução que Russel (1974, p. 27) apresenta para este problema está no
princípio de indução finita. Este autor diz que: "Essa proposição declara que qualquer
propriedade que pertença a 0, e também ao sucessor de todo número que tenha essa
propriedade, pertence a todos os números naturais."
Portanto, com relação às ideias primitivas de Peano, Russel (1974)
apresenta uma perspectiva na qual diz que:
[...] demos definições delas que as tornam precisas, não mais capazes de uma
infinidade de significados diferentes, como eram quando ainda determinadas
apenas até ao ponto de obedecer aos cinco axiomas de Peano. Nós retiramos
do aparato fundamental de termos que têm de ser meramente apreendidos, e
aumentamos assim a articulação dedutiva da Matemática. (RUSSEL, 1974,
p. 30)
Assim, a partir dos conceitos apresentados por Russel (1974) temos agora
que o princípio de indução finita é o meio pelo qual definimos os números naturais e somos
capazes de deduzir, demonstrar e generalizar todas as suas propriedades. Tais propriedades
estão baseadas no conceito de posteridade de 0 com relação entre um número natural e seu
sucessor imediato. Russel (1974) diz que:
Para este autor os nomes indução e indução finita, estão relacionados devido
a uma associação que a nossa consciência, ao realizar argumentações, produz ao envolver
esses dois princípios. Além disso, Gástev (apud SOMINSKI, 1996) relata que a indução
empírica necessita de algumas experiências em particular a fim de que tenhamos hipóteses
iniciais sobre um determinado fenômeno enquanto que a indução finita não necessita de tais
hipóteses. Este autor ainda declara que a indução finita é "completa" ou "perfeita", pois é um
método dedutivo que pode ser empregado com 100% de segurança, já a indução empírica é
"imperfeita" porque não se pode assegurar que a experiência produzirá os mesmos resultados
sempre. Deste modo, Gástev (apud SOMINSKI, 1996) conclui que a indução finita é um
método de demonstração de teoremas aritméticos, isto é, que em se tratando do conjunto dos
números naturais a indução finita é um instrumento universal para demonstrar as propriedades
desse conjunto.
Complementando as ideias e Gástev temos que:
semelhantes e busca uma lei geral que explica e subordina tais casos. Assim, temos que neste
último "a definição ou a teoria são obtidas no ponto final do percurso."
Ao encontro da posição de Katz (2004) quanto ao aparecimento da indução
finita, Baron (1985) trás algumas aplicações para este princípio, que segundo a autora se
devem aos pitagóricos.
cuja expressão algébrica que representa cada um desses números, é dada por
14
Ou números poligonais
56
figurados.
Nas considerações anteriores apontamos algumas perspectivas sobre a
abordagem da indução finita. Como será possível notar mais adiante nesta pesquisa a
abordagem do conteúdo indução finita em grande parte dos livros didáticos não é apresentada
via axiomas de Peano, mas como uma consequência do princípio da boa ordenação.
A seguir buscaremos esclarecer o que queremos dizer com a aplicação da
indução finita como uma "receita" ou utilização da indução finita de forma mecânica.
Como já dissemos, Hanna (1990) afirma em seu trabalho que a indução
finita é um tipo de prova considerada como uma prova que prova, pois em geral é vista como
não-explicativa. Sendo assim, a autora apresenta o seguinte exemplo para confirmar sua tese.
15
Carl Friedrich Gauss (1777 - 1855) matemático alemão
59
A última maneira apresentada por Hanna (1990) de provar que a soma dos n
primeiros números naturais positivos é dada por , que é também considerada como
uma prova explicativa é representando a soma da seguinte maneira
parcial, isto é, apenas na metade da área, temos que esta é dada por
Como já dissemos anteriormente, apresentaremos um exemplo no qual
entendemos se tratar de uma demonstração, que utiliza a indução finita, e que foi
desenvolvida de maneira mecânica (ou seguindo uma "receita"). Trata-se de verificar se a
característica fica evidente quando analisamos a demonstração proposta por E9S2Q1, apesar
de não estar correta.
É possível notar a partir dos livros didáticos que analisamos nesta pesquisa,
e em outros, que o princípio de indução finita é composto por duas etapas e os autores desses
livros deixam explícito quais são essas etapas.
Notamos que esse estudante não se preocupou em verificar se estava
partindo de uma afirmação verdadeira ou não, por essa razão também entendemos que
demonstrações que apresentam essa característica indicam que o estudante agiu de maneira
mecânica, isto é, que ele se preocupou em seguir um modelo, porém se esqueceu de um dos
ingredientes.
62
CAPÍTULO 3
ASPECTOS METODOLÓGICOS
16
Tradução de milieu é onde acontecem as interações do estudante.
17
Ocorre sempre que o professor deseja promover aprendizagem ao estudante.
64
compreenderiam a diferença entre a indução empírica e a indução finita, bem como, esta
última como uma demonstração formal e não somente como um processo mecânico. Segundo
Pais (2002, p. 99), "Uma das vantagens dessa forma de conduzir a pesquisa didática decorre
dessa sua dupla ancoragem, interligando o plano teórico da racionalidade ao território
experimental da prática educativa."
Segundo Artigue (1996) os conceitos da engenharia didática emergiram em
meados da década de 1980 e podem ser comparados ao trabalho de um engenheiro, onde:
3.3.3 Experimentação
CAPÍTULO 4
ANÁLISE PRELIMINAR
4.1 O FENÔMENO
um processo mecânico. Para isso tomamos como referência os trabalhos desenvolvidos por
Palis (2001), Cury et al (2002), Savioli (2007) e Souza e Miranda (2007).
Alguns dos métodos de demonstração que encontramos na Matemática são,
como já colocamos anteriormente, segundo Carnielli e Epstein (2006), prova direta, prova por
contrapositiva, prova por contradição e prova por indução matemática. Dessa forma, em
qualquer atividade matemática que envolva o emprego de provas e demonstrações os
estudantes devem indicar o raciocínio empregado explicando e explicitando os procedimentos
adotados, a fim de justificar sua resolução. Assim, afirmam Davis e Hersh (1985, p. 32), a
demonstração é "a metodologia pela qual a hipótese conduz à conclusão."
Palis (2001) observa, em seu trabalho, que tanto na graduação quanto na
pós-graduação os estudantes apresentam dificuldades em redigir uma demonstração usando a
indução finita. Considerando a indução finita uma demonstração formal, é relevante que
busquemos mais do que a mera aplicação de "um método" para demonstrar proposições ou
teoremas. A indução finita, segundo Lima (2006, p. 33), "é uma forma sagaz e operacional de
dizer que qualquer número natural n pode ser alcançado se partirmos de 1 e repetirmos
suficientemente a operação de tomar o sucessor de um número." Nesta mesma perspectiva
Singh (2005, p. 219) diz: "A prova por indução é uma forma poderosa de demonstração
porquê permite ao matemático provar que uma declaração é válida para certo número infinito
de casos, demonstrando apenas um único caso."
Com relação ao ensino habitual da indução finita Palis (2001) apresenta um
levantamento das dificuldades encontradas pelos estudantes. A primeira dessas dificuldades é
com relação à analogia que eles fazem a partir do termo indução, dessa forma a autora aponta
a necessidade de distinguir a palavra indução que está presente tanto na denominação método
de indução empírica quanto no método de demonstração por indução finita. Segundo a autora
e como já comentamos anteriormente é comum os estudantes utilizarem a verificação de
alguns casos para demonstrarem certa proposição P,
Outro problema levantado por Palis (2001, s/p) é com relação à necessidade
de verificar os dois passos na indução finita. A autora relata que: "Uma interpretação incorreta
freqüente do Princípio de Indução Matemática consiste em considerar que uma das suas
71
componentes não é de fato essencial, em particular a que estabelece a base de indução." Isso
quer dizer que os estudantes não conseguem perceber a importância em verificar a validade de
uma proposição para o menor valor possível. Souza e Miranda (2007) apresentam em seu
trabalho uma questão na qual os estudantes deveriam verificar o erro cometido em uma
demonstração por indução finita. O enunciado do problema é: "analise a demonstração por
Indução abaixo. Qual o erro cometido? Registre as suas analises e conclusões. Prove
[...] apresentar a indução finita via axiomas de Peano, pois se acredita que
esta forma facilita a compreensão da mesma e deixa clara para o estudante a
estrutura do método, isto é, mostra a importância das condições a e b para a
conclusão de que P(n) é verdadeira para qualquer n natural. (SAVIOLI,
2007, p. 45)
com o mesmoou com a indução finita. É essa a ideia que entenderemos como processo
mecânico, ou seja, o estudante provar apenas as duas propriedades que compõe o princípio de
indução finita.
Assim, tomando os apontamentos anteriores, temos que é necessário que
ocorra uma reflexão sobre o objeto matemático indução finita, ou seja, uma reflexão que
contemple outras perspectivas sobre o tema, como os números figurados na História da
Matemática. Desse modo, as fórmulas propostas nos exercícios dos livros didáticos poderiam
fazer mais sentido aos estudantes. Assim, concordamos com Savioli (2007, p. 45) que
"Considerando a indução finita como um método, precisa-se estudá-lo e analisá-lo para que
sua aplicação não fique restrita às fórmulas que os alunos não têm idéia de onde vieram."
As metodologias de investigação matemática e resolução de problemas
também oferecem uma nova perspectiva para a discussão e desenvolvimento do objeto
matemático indução finita. Polya (1975) diz que a utilização de tais metodologias requer que
o professor proponha aos estudantes problemas que se oponham aos exercícios repetitivos,
isto é, é preciso que o professor desafie a curiosidade dos estudantes, proponha problemas
compatíveis com seu desenvolvimento intelectual e que crie condições para que eles cheguem
à conclusão. Essa perspectiva dada por Polya (1975) vai de encontro à típica aula de
matemática, onde o professor passa para a lousa aquilo que ele julga importante e o estudante
copia, seguindo uma repetição de exercícios.
Com relação à abordagem da indução finita apresentada pelos livros
didáticos18 seria interessante que seus autores enfatizassem não só a parte teórica deste tema,
mas adotassem, como sugestão, as perspectivas sugeridas por Polya (1975). Tais autores
poderiam destacar pelo menos o conteúdo histórico a fim de contextualizar os problemas
presentes no livro e não apenas deixar um enunciado do tipo, "demonstre por indução",
seguido de vários itens com fórmulas a serem demonstradas sem ao menos apontar outras
discussões. Contudo, acreditamos, que a apresentação de alguns aspectos históricos não é
suficiente para que a abordagem e a aplicação da indução finita deixe de ser empregada como
um processo mecânico.
Complementando a análise relativa aos problemas do ensino da indução
finita, realizamos a partir da bibliografia indicada pelos professores das disciplinas 6MAT007
e 6MAT015 dos anos de 2006, 2007 e 2008 e procuramos aqueles que evidenciavam o
tratamento do assunto indução finita, encontrando
18
Domingues e Iezzi (1982) e Geronimo e Franco (2002)
73
Gerônimo e Franco (2002) concluem o exemplo dizendo que: "este exemplo mostra que o
raciocínio indutivo em matemática nem sempre nos conduz a um argumento válido."
Após a conclusão do exemplo anterior os autores continuam a sessão
Após esta formulação os autores explicam que para utilizar tal teorema é
preciso verificar as condições a) e b). A condição a) verifica a validade da proposição para o
76
menor dos casos possíveis enquanto que a condição b) é um teorema auxiliar que tem como
hipótese P(k) verdadeira e tese P(k+1). Além disso, Geronimo e Franco (2002, p. 48)
apresentam a seguinte observação: "O nome princípio da indução finita não é apropriado,
pois como se pode observar, este método é sem dúvida nenhuma baseado no método dedutivo.
Contudo, a similaridade do método com o raciocínio indutivo serviu como inspiração para
este nome."
Os autores fornecem mais um exemplo e fazem a segunda formulação do
princípio de indução finita,
Figura 11 – Enunciado da demonstração por indução finita do sistema Etapa (ETAPA, 2009,
p. 144)
Figura 12 – Enunciado da demonstração por indução finita do sistema Anglo (ANGLO, 2002,
p. 41)
19
Revista do Professor de Matemática, publicação da Sociedade Brasileira de Matemática - SBM.
81
CAPÍTULO 5
DESENVOLVIMENTO DO ESTUDO
5.1 EXPERIMENTO
1a SESSÃO
QUESTÃO 4. , a soma dos n primeiros números ímpares é dada por n2? Por quê?
Justifique sua resposta.
O objetivo dessa questão foi verificar se os estudantes lembrariam e
utilizariam a indução finita como estratégia para mostrar que se trata de uma proposição
verdadeira, ou se os estudantes se baseando nas questões anteriores fariam algumas
verificações e diriam que a proposição em estudo é verdadeira. Acreditávamos que os
estudantes que utilizassem a indução finita para demonstrar a veracidade dessa proposição a
fariam de forma mecânica, isto é, a indução finita seria usada como método. Uma outra
possibilidade dos estudantes justificarem a solução seria por meio da indução empírica.
A abordagem dessa questão é distinta em relação às questões anteriores, isso
porque se trata de uma proposição verdadeira e, além disso, é apresentada frequentemente em
livros didáticos. É possível notar esta característica, pois grande parte dos livros observados
apresenta essa proposição, tanto como exercício quanto como exemplo.
Por se tratar de uma questão que ocorre com certa frequência acreditávamos
que os estudantes lembrariam rapidamente que se tratava de uma proposição verdadeira e que
utilizariam prontamente a indução finita.
Uma das razões dessa questão pertencer à nossa sequência didática é que
historicamente há evidências de que esse problema foi um dos primeiros a serem resolvidos
por indução finita. Isso se deve ao matemático italiano Francesco Maurolico. Ressaltamos
aqui que o método de indução finita utilizado por Maurolico é diferente do método de indução
finita conhecido e usado atualmente.
Com relação às funções das demonstrações temos que, os estudantes podem
vivenciar as seguintes características apontadas por Villiers (2001): a de verificação, a de
explicação, a comunicação, o desafio intelectual e a de sistematização. Já as funções que os
estudantes podem desenvolver segundo Hanna (2000) são: a de verificar, a de explicar, a de
sistematizar, a de comunicar, a de explorar e a de incorporar.
88
20
Christian Goldbach (1690 - 1764), matemático prussiano que apresentou esse problema.
89
essa questão são encontradas com frequência em livros didáticos, inclusive nos livros
analisados neste trabalho, portanto é por essa razão que essa questão faz parte das atividades
da sequência didática.
Esta proposição é verdadeira, assim acreditávamos que os estudantes
lembrariam e utilizariam a indução finita para demonstrar a veracidade dessa questão. Porém,
a utilização da indução finita por parte dos estudantes ficaria restrita a um processo mecânico.
Há a possibilidade também de alguns estudantes fazerem uso da indução empírica para
justificar a validade dessa proposição.
Acreditamos que esta questão, na qual os estudantes deveriam aplicar a
indução finita, propicia o desenvolvimento das seguintes funções de demonstração, segundo
Villiers (2001): a da verificação, a da explicação, o desafio intelectual, a comunicação e o da
sistematização. Com relação as funções da prova apresentadas por Hanna (2000) temos que os
estudantes podem ser contemplados com o desenvolvimento das seguintes: a de verificar, a de
explicar, a de sistematizar e a de comunicar.
O método de prova eficaz que deveria ser empregado para demonstrar a
veracidade desta questão é o da indução finita, no entanto os estudantes poderiam realizar
alguns testes e comprovar por meio destes que se trata de uma proposição verdadeira. Porém
ao procederem dessa forma estariam se baseando na indução empírica, que neste caso, não é
adequada para demonstrar a validade da proposição.
2a SESSÃO
QUESTÃO 1. Mostre que , a soma dos n primeiros números ímpares é dada por n2.
O objetivo dessa questão nessa atividade era coletar as primeiras
informações relativas à abordagem dos estudantes com relação ao nosso objeto de estudo, a
indução finita. Acreditávamos que os estudantes utilizariam a indução finita com um processo
mecânico, ou seja, seriam guiados por um modelo já conhecido ou que seguiriam uma receita.
Este é um problema semelhante a uma das questões da primeira sessão.
Porém, na primeira abordagem o estudante deveria dizer se a proposição em questão era
verdadeira ou falsa justificando sua resposta. Nesta sessão, os estudantes deveriam provar que
a proposição é verdadeira e apresentar como justificativa na solução a aplicação da indução
finita. Uma característica que destacamos aqui é que tal proposição ocorre com frequência em
livros didáticos que abordam a indução finita. Assim, um problema que levantamos quanto à
abordagem dos livros didáticos é que o enunciado deixa explícito que o estudante deve usar o
princípio de indução finita, ou então fica evidente a aplicação da indução finita porque este
exercício pertence à sessão do livro onde se aborda esse princípio.
O contexto que utilizamos em nossa atividade não deixa claro como o
estudante deve provar a proposição anterior. Dessa forma, no decorrer desta atividade
acreditávamos que alguns estudantes ficariam em dúvida em qual procedimento utilizar para
demonstrar que tal afirmação é verdadeira. Assim, existia a possibilidade dos estudantes
cogitarem, junto aos observadores, uma possível aplicação da indução finita.
Outro fato que podia ocorrer durante a realização dessa atividade
comparando com a questão da atividade anterior é que nesta o enunciado indicava se tratar de
uma proposição verdadeira e que deve ser demonstrada, enquanto que na sessão anterior o
estudante deveria decidir se a proposição era verdadeira ou não.
Consideramos este problema relevante para nossa sequência didática, pois
segundo alguns pesquisadores como Hefez (1993) e Vacca (1909), esse foi o primeiro
problema a ser resolvido usando a indução finita.
91
QUESTÃO 2. Uma Progressão Aritmética com primeiro termo a1 e razão r é uma sequência
de números cujo primeiro elemento é a1 e tal que cada elemento, a partir do segundo, é igual
ao anterior mais a razão. Em símbolos, se então . Prove que o termo geral
Discos
Movimentos
meio pelo qual podemos determinar fórmulas21 enquanto que a indução finita é utilizada para
demonstrar que as fórmulas são ou não verdadeira.
3a SESSÃO
Discos (n) 1 2 3 4 5
Movimentos (m) 1 3 7 15 31
21
As fórmulas que nos referimos envolvem o conjunto dos números naturais.
95
término da segunda sessão deixamos indicada a tabela que já havia sido completada pelos
estudantes na última sessão. Além disso, apresentamos a fórmula que deveria ter sido
deduzida pelos estudantes na segunda sessão.
Além dos estudantes terem de provar a fórmula anterior, eles deveriam
calcular aproximadamente em que ano o mundo irá acabar. Acreditamos que esta atividade
não gere problemas para ser solucionada, pois pode ser realizada com cálculos aritméticos.
Esperávamos que, após os estudantes terem realizado as atividades das
segunda e terceira sessões, estaria evidente para eles a diferença entre a indução empírica e a
indução finita. Contudo, entendemos que as funções de prova que essa questão pode
proporcionar, na ótica de Villiers (2001) são: verificação, explicação, desafio intelectual,
sistematização, descoberta e comunicação. Já na perspectiva de Hanna (2000) entendemos
que as funções são: verificar, explicar, sistematizar, comunicar, explorar e incorporar.
A demonstração da fórmula que determina o número mínimo de
movimentos necessários para movimentar os n discos de um bastão para outro se faz por meio
da indução finita, assim, como os estudantes já haviam realizado a atividade experimental na
sessão anterior acreditamos que eles não fariam uso da indução empírica.
Após a conclusão dessa atividade o estudante pesquisador apresentou os
axiomas de Peano e demonstrou o princípio de indução finita a partir dos axiomas expostos.
4a SESSÃO
.
Trata-se de uma questão que está presente na maior parte dos livros
didáticos que verificamos. O objetivo dessa questão era observar como os estudantes
utilizariam a indução finita para demonstrar a validade dessa proposição. Acreditávamos que
após a exposição realizada sobre os axiomas de Peano e a demonstração do princípio de
indução finita os estudantes não apresentariam dificuldades em realizar a demonstração e não
a utilizariam como um processo mecânico.
Ainda com relação à solução dessa questão é possível que os estudantes
realizem alguns testes, ou seja, façam algumas verificações a fim de se certificarem que se
trata de uma proposição verdadeira. Dessa forma, os estudantes partiriam de algumas
observações particulares com o objetivo de concluir o caso geral e assim, é possível
caracterizar a aplicação da indução empírica como já apresentamos de acordo com Chauí
(2000).
Com relação as funções de demonstração, temos que segundo Villiers
(2001) os estudantes podem desenvolver as seguintes: a de verificação, a de explicação, o
desafio intelectual, a de sistematização e comunicação. Tomando como referências as funções
apontadas por Hanna (2000) entendemos que as funções são: verificar, explicar, sistematizar e
comunicar.
Esperávamos que os estudantes utilizassem prontamente a indução finita
para apresentarem a demonstração dessa proposição.
Esta é outra questão que ocorre com frequência nos livros didáticos que
verificamos. É semelhante à anterior e nosso objetivo foi verificar qual a abordagem e
estratégia que os estudantes utilizariam ao aplicarem indução finita para demonstrarem que tal
proposição é verdadeira.
A solução dessa questão também pode apresentar características da indução
empírica, isso porque antes de iniciarem a demonstração dessa proposição com a indução
finita os estudantes podem realizar algumas verificações para comprovarem que se trata de
uma proposição verdadeira.
97
1a SESSÃO
parti dessa última equação o estudante tentou aplicar a indução finita. Notemos que para esse
estudante em especial a noção de quadrado perfeito é o resultado de desenvolvimento da
QUESTÃO 4. , a soma dos n primeiros números ímpares é dada por n2? Por quê?
Justifique sua resposta.
O objetivo dessa questão era verificar se os estudantes lembrariam e
utilizariam a indução finita para justificarem suas respostas, já que se trata de uma proposição
verdadeira.
Todos os estudantes que foram selecionados apresentaram uma resposta
para essa questão. Quatro desses estudantes, ou seja, os estudantes E1S1Q4, E7S1Q4,
E11S1Q4 e E13S1Q4 utilizaram a indução finita para justificarem a solução apresentada.
Entretanto a utilização da indução finita confirmou nossa hipótese inicial, isto é, que os
estudantes utilizam-na como um processo mecânico, ou seja, se baseiam em exemplos e
modelos já conhecidos.
Os estudantes E4S1Q4, E5S1Q4, E10S1Q4 e E12S1Q4 disseram que a
proposição é verdadeira e deixaram indicado como justificativas algumas verificações, isto é,
inferimos este grupo de estudantes deixou implícito nas respostas que utilizaram a indução
empírica. Um exemplo dessas respostas foi dado por E5S1Q4
106
A partir das análises a priori e a posteriori dessa questão notamos que alguns
estudantes utilizaram a indução finita para demonstrar a veracidade da proposição, porém no
estudo dessas justificativas observamos o emprego da indução finita como método, ou seja, os
estudantes a utilizaram de forma mecânica. A partir desta tentativa concluímos que esses
estudantes ensaiaram a realização de um experimento de pensamento, considerado para
Balacheff (1988), um tipo de prova conceitual.
Os estudantes que justificaram suas respostas a partir de algumas
verificações como as de E5S1Q4 apresentaram indícios da utilização da indução finita
promoveram um empirismo ingênuo denominado por Balacheff (1988) um tipo de prova
pragmática.
Para a resolução desta questão houve tanto o emprego da indução finita
quanto da a indução empírica por parte dos estudantes, essa característica indica que existe
uma confusão com relação ao procedimento que deve ser adotado para encontrar a resposta
para esta questão, isso porque os estudantes empregam ambos os processos.
Analisando as respostas dos estudantes a partir das perspectivas já
apresentadas por Hanna (1989b) e Silva (2002) temos que as soluções indicam com relação a
primeira autora que encontramos como característica as provas que provam, ou seja, o
interesse dos estudantes consiste em encontrar uma solução para o problema, enquanto que na
108
2a SESSÃO
QUESTÃO 1. Mostre que , a soma dos n primeiros números ímpares é dada por n2.
Esta questão tinha como objetivo verificar se os estudantes utilizariam como
estratégia a indução finita para demonstrar a validade da fórmula. Com relação às respostas
113
apresentadas foi possível notar que o estudante E6S2Q1 utilizou como meio para resolver essa
questão a indução empírica. Este estudante apresentou como solução o seguinte raciocínio:
QUESTÃO 2. Uma Progressão Aritmética com primeiro termo a1 e razão r é uma sequência
de números cujo primeiro elemento é a1 e tal que cada elemento, a partir do segundo, é igual
22
Transformação algébrica: segundo Miorim et al (1993), consiste no processo de obtenção de expressões
algébricas equivalentes entre si mediante a utilização de regras e propriedades válidas.
117
Discos
Movimentos
3a SESSÃO
Discos (n) 1 2 3 4 5
Movimentos (m) 1 3 7 15 31
procedimentos que eles utilizaram afim de chegarem até a conclusão. Considerando agora as
ideias de Silva (2002) localizamos o aspecto retórico, já que os estudantes se basearam em
modelos para desenvolverem sua resposta e o aspecto lógico-epistemológico caracterizado
pelo encadeamento lógico de suas respostas.
Em nossa análise entendemos que as funções de demonstração apresentadas
por Hanna (2000) foram caracterizadas da seguinte maneira: a de verificar se associa com as
verificações que foram promovidas pelos estudantes a fim de comprovar a validade da
fórmula do número de movimentos mínimos para movimentar os discos da Torre de Hanói, a
de explicar foi possível de ser constatada, pois as verificações apontadas anteriormente por
eles indicam qual o raciocínio foram utilizados pelos mesmos, a de sistematizar mostra que
eles apresentaram a solução com certa organização, a função de comunicar se destaca a partir
da notificação da solução encontrada, a de explorar pode ser notada pela associação entre a
atividade experimental e a experiência matemática e por último a de incorporar que é
percebida devido a relação entre um problema e a teoria matemática.
Já as funções de prova que são destacadas por Villiers (2001) que
percebemos foram: a de verificação caracterizada devido as substituições que os estudantes
fizeram na fórmula do número de movimentos dos discos com o intuito de comprovar que
esta era verdadeira, a de explicação que está relacionada com a demonstração, via indução
finita, proposta pelos estudantes, a qual pode gerar uma satisfação pessoal por ter consigo
chegar a uma conclusão, o desafio intelectual que se refere ao empenho deles em
solucionarem o problema proposto, a função de sistematização que pode ser constatada, pois
os estudantes apresentaram uma perspectiva global do problema, a de descoberta que é
caracterizada devido a análise do problema e ao processo de explorar e por fim devido as
interações sociais que a questão gerou está também presente a função de comunicar.
4a SESSÃO
CAPÍTULO 6
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo desta pesquisa foi verificar por meio de uma sequência didática,
que trabalha com a indução finita via axiomas de Peano, se os estudantes compreenderiam a
diferença entre o método de indução empírica e de indução finita, bem como, esta última
como uma demonstração formal e não somente como um processo mecânico.
No decorrer do trabalho apresentamos elementos como a análise de livros
didáticos, os aspectos históricos e filosóficos, além de uma sequência didática construída a
partir dos pressupostos da engenharia didática, que apontam para uma discussão acerca do
objeto matemático indução finita. Isto se deve pelo fato de alguns estudantes, mesmo já tendo
estudado anteriormente este assunto em outras oportunidades, confundirem o uso da indução
finita com o da indução empírica.
Com relação a demonstração de sentenças que envolvem o princípio de
indução finita serem utilizadas como um processo mecânico por alguns estudantes,
acreditamos que a característica que identifica tal processo é quando o estudante não cita em
momento algum durante a demonstração de uma dada proposição o princípio de indução
finita, ou seja, prova as duas propriedades do teorema sem relacioná-las com o mesmo,
desenvolvendo-as de modo independente.
Dessa forma, notamos que nas primeiras atividades da sequencia didática os
estudantes utilizaram a indução finita como um processo mecânico, semelhante ao da indução
empírica, ou seja, promoveram a verificação de alguns casos particulares e concluíram que a
afirmação era verdadeira para todos os demais casos. Durante o processo de análise das
justificativas apresentadas pelos estudantes foi possível perceber que o objetivo destes
consistia em verificar os passos do princípio de indução finita e a seguir apresentar uma
conclusão, onde afirmavam que se a propriedade que estavam avaliando vale para P(n+1)
também vale para P(n), isto é, se a propriedade é verificada para o sucessor de n então, esta
propriedade, também pode ser estendida para n. Entretanto, a indução finita mostra que se
uma propriedade é verdadeira para um n então é verdadeira também para o seu sucessor.
Desse modo, essa análise indica que alguns dos estudantes que participaram
das atividades pensam de modo contrário ao apresentado no princípio de indução finita.
Ainda com relação às atividades iniciais da sequência didática, notamos que
alguns estudantes verificaram certos casos particulares da propriedade que estão tentando
demonstrar. Isso mostra indícios de que tais estudantes apresentaram um tipo de prova,
133
considerada por Balacheff (1988), como prova pragmática, pois suas ações ficam
caracterizadas em verificações particulares da afirmação. Com isso, temos que, esses
estudantes apresentam suas conclusões baseadas na indução empírica, entretanto, na
matemática este processo não é útil para demonstrar afirmações.
Outra análise realizada a partir das respostas das atividades propostas é que
alguns estudantes não concluem suas demonstrações, sejam elas pela indução finita ou pelo
método indutivo, ou seja, os estudantes indicam o procedimento que utilizaram para
demonstrar ou verificar a validade de uma proposição, porém não deixam explícita a
conclusão que chegaram. Assim, com relação à indução finita, a impressão que temos é que os
estudantes são instruídos pela intuição a verificar as condições que compõe esse método, isto
é, se interessam pela busca de modelos, dessa forma, caracterizamos tal aplicação como um
processo mecânico a ser desenvolvido, ou como uma "receita" a ser seguida como aponta
Savioli (2007). Além disso, os estudantes, provavelmente, se quer se interessam em apresentar
ou dar algum significado à propriedade que estão provando. Isto aponta indícios de que eles
têm como objetivo concluir rapidamente a demonstração, ou seja, como apontam Cury et al
(2002), procuram seguir um modelo a fim de obter regras para solucionar o problema
proposto. Essa preocupação em obter regras e modelos e seguir instruções apresenta sinais de
que os estudantes pensam de forma empírica. Essa forma de expressar o raciocínio é, segundo
Balacheff (1988), um tipo de prova pragmática, denominada empirismo ingênuo, onde os
estudantes se expressam de maneira prática.
Além disso, nossas análises apontam que os estudantes associam
equivocadamente a indução finita e a indução empírica. Acreditamos que isso se deve ao fato
do termo indução pertencer às duas nomenclaturas. Notamos, que grande parte dos livros
didáticos apresenta o tema indução finita apenas como indução, e essa pode ser uma das
razões que influenciam os estudantes a associar esses dois métodos. Esta abordagem possui
razões históricas. Segundo Cajori (2007), o termo indução foi usado de forma ocasional na
matemática, assim este termo possui dois significados: (1) para indicar induções incompletas
da ciência natural e (2) para prova de n a n +1. Outro motivo que encontramos para que
autores de livros didáticos usem o termo indução ao invés de indução finita é com a intenção
de simplificar a linguagem.
Contudo, notamos a partir da avaliação das respostas dos estudantes que isto
pode gerar uma confusão com relação ao entendimento de cada uma dos conceitos
envolvidos, assim entendemos que a simplificação de linguagem pode atrapalhar os
estudantes. Para isto basta observar que alguns dos estudantes que participaram da pesquisa
134
apenas observaram a validade de uma determinada proposição para casos particulares e após
essa verificação eles generalizam para qualquer valor de n.
Voltando novamente às análises das atividades propostas na sequência
didática temos que mesmo após expor para os estudantes os axiomas de Peano, demonstrar o
princípio de indução finita e enfatizar que este princípio é um método dedutivo, as atividades
realizadas em seguida, ou seja, na 4a sessão, apresentaram características semelhantes às
verificadas nas atividades anteriores. Temos assim, que determinados estudantes continuaram
a interpretar a indução finita como um processo mecânico, buscando modelos para solucionar
todos os problemas propostos. No entanto, mesmo mantendo essas características, pudemos
observar uma mudança em relação à apresentação da demonstração. Isto é, alguns estudantes
expuseram de maneira mais organizada suas demonstrações. Portanto, a partir desse novo
panorama concluímos que parte dos estudantes passou do nível do empirismo ingênuo para o
nível do exemplo genérico, este último considerado por Balacheff (1988), um momento de
transição entre as provas pragmáticas e as provas conceituais.
Como aponta Hanna (1990), a prova é considerada uma atividade da
educação matemática para elucidar ideias e transmitir valores aos estudantes. Portanto, sendo
a indução finita um método de demonstração formal e um conteúdo abordado inicialmente nas
primeiras séries dos cursos de Matemática, existe a oportunidade dos estudantes realizarem
suas primeiras experiências matemáticas, ou seja, refletir sobre alguns casos particulares,
realizar conjecturas e por fim demonstrá-las usando esse método.
Por fim esperamos que essa pesquisa contribua para uma reflexão do objeto
matemático indução finita, a fim de que esse tema, ao ser abordado, em vários níveis não seja
visto apenas como um processo mecânico ou uma "receita" a ser seguida. Que os estudantes
não fiquem somente à procura de modelos, que não façam associação da indução finita com a
indução empírica, mas que possam buscar significado para as fórmulas, além de formalizar
suas demonstrações e desenvolver o raciocínio abstrato, elementos considerados fundamentais
tanto para um pesquisador em matemática quanto para um professor de matemática.
135
REFERÊNCIAS
ARTIGUE, M. Engenharia Didática. In. BRUN, Jean (Org.) Trad. Maria José Figueiredo
Didactica das matemáticas. Lisboa: Instituto Piaget, 1996. p. 193-217.
ÁVILA, G. S. S. Análise matemática para licenciatura. São Paulo: Edgard Blücher, 2005.
DOMINGUES, H. H. A Demonstração ao Longo dos Séculos. Bolema, Rio Claro, ano 15,
n.18 p. 46-55, 2002.
HANNA, G. More than formal proof. For the Learning of Mathematics. v. 9, n. 1, p. 20-23,
1989a
HANNA, G. Proofs that proove and proofs that explain. Proceedings of the 13rd .Conference
of the International Group for the Psychology of Mathematics Education. (PME 13).
Paris, França. n. 2, p. 45-51, 1989b.
LIPSCHUTZ, S. Teoria dos conjuntos. Tradução: Fernando Vilain Heusi da Silva. McGraw-
Hill, 1972. (Coleção Shaum).
LIPSCHUTZ, S.; LIPSON, M. Matemática discreta. 2. ed., Artmed: Porto Alegre, 2004.
(Coleção Shaum).
MILIES, F. C. P.; COELHO, S. P. Números: uma introdução à matemática. 3. ed. São Paulo:
Editora Universidade de São Paulo, 2006. (Acadêmica).
139
SHOKRANIAN, S., SOARES, M.; GODINHO, H. Teoria dos números. 2. ed. Editora
Universidade de Brasília, 1999.
APÊNDICES
142
Sequência Didática
1ª SESSÃO
3. (Adap. RPM 9) Será que n N*, 991n 2 1 não é um quadrado perfeito? Justifique.
143
4. (Adap. RPM 9) n N*, a soma dos n primeiros números ímpares é dada por n2? Por quê?
Justifique sua resposta.
2ª SESSÃO
1. Mostre que n N*, a soma dos n primeiros números ímpares é dada por n2.
n( n 1)
2. Mostre que proposição P ( n) 1 2 3 n é verdadeira para n N*.
2
3. (HEFEZ, 1993) Uma Progressão Aritmética com primeiro termo a1 e razão r é uma
sequência de números cujo primeiro elemento é a1 e tal que cada elemento, a partir do
segundo, é igual ao anterior mais a razão. Em símbolos, se n 2 então a n an 1 r . Prove
que o termo geral de uma Progressão Aritmética é dado por a n a1 (n 1) r .
145
Torre de Hanói
(Adap. RPM9)
Lenda
Após a criação do mundo, em um mosteiro escondido na Índia, o Grande Criador
colocou uma placa de bronze e nela fixou três bastões cobertos de diamantes. Em um dos
bastões, em ordem decrescente de tamanho, colocou 64 discos de ouro. E assim disse aos
monges: “transfiram essa pilha de discos para outro bastão, movendo, ininterruptamente, um
disco de cada vez e nunca permitindo que um disco fique acima de um menor. Quando
terminarem essa tarefa e os 64 discos estiverem em outro bastão, este templo se reduzirá a pó
e com um estrondo de trovões o mundo acabará”.
Dizem os sábios que o mundo foi criado a 4 bilhões de anos aproximadamente e os
monges, desde a criação, estão movendo os discos na razão de um disco por segundo.
Será que o mundo vai acabar?
O problema da Torre de Hanói foi proposto pelo matemático francês Edouard Lucas
(1842 – 1891) em 1883. O nome Torre de Hanói foi inspirado na torre símbolo da cidade de
Hanói, no Vietnã.
3ª SESSÃO
Discos (n) 1 2 3 4 5
Movimentos (m) 1 3 7 15 31
Analisando a tabela anterior, é possível concluir que para um número n qualquer de discos
temos que a quantidade de movimentos mínimos é dada por: m 2 n 1.
- Mostre que a fórmula anterior é verdadeira
- Sabendo que, segundo os sábios, o mundo foi criado a 4 bilhões de anos e que há 64 discos
na Torre original e ainda que os sábios estão movendo os discos na razão de um disco por
segundo responda: SERÁ QUE O MUNDO IRÁ ACABAR???
147
4ª SESSÃO
n(n 1)
1. Mostre que proposição P(n) 1 2 3 n é verdadeira para n N*.
2
n ( n 1)(2n 1)
2. Prove que 12 2 2 ... n 2 , n N*.
6
1. n N, n < 100
contra-exemplo: n = 100
2. n N, n 2+n+41 é um número primo.
contra-exemplo: n = 40
3. n N*, 991n2+1 não é um quadrado perfeito.
contra-exemplo: n = 12.055.735.790.331.359.447.442.538.767
4. n N*, 2n+2 é a soma de dois números primos.
conjectura de Goldbach
5. n N*, a soma dos n primeiros números ímpares é n 2.
Como demonstrar???
Axiomas de Peano
a) Existe uma função s: N N, que associa a cada n N um elemento s(n) N, chamado
sucessor de n;
b) a função s: N N é injetora;
c) existe um único elemento 0 no conjunto N, tal que 0 s(n) para todo n N;
d) se um subconjunto X N é tal que 0 X e s(X) X (isto é, n X s(n) X), então X
= N.
dem.
Consideremos o seguinte subconjunto de N:
A= {n N / P(n) é verdadeira}
0 A, pois P(0) é verdadeira (item a do teorema). n A P(n) é verdadeira P(n+1)
(item b do teorema) é verdadeira n+1 A. Portanto pelo axioma d, A = N.
149
Exemplos:
1. n N*, a soma dos n primeiros números ímpares é n 2.
dem.
Seja S o conjunto dos números naturais n para os quais a soma dos n primeiros números
impares é n 2.
1 S, pois a soma dos 1 primeiros números ímpares é 1 = 12.
Vamos supor que k S, isto é, que a soma dos k+1 primeiros ímpares é (k+1)2.
Estamos supondo que 1+3+5+ ... + 2k-1 = k2
E queremos provar que 1+3+5+ ... + 2k+1 = (k+1)2
Basta observar que 1+3+5+ ... +(2k-1)+(2k+1) = k2+(2k+1) = (k+1)2.
O princípio da indução matemática nos garante, agora, que S = N*, ou seja, a afirmação “a
soma dos n primeiros números ímpares é n2” é verdadeira para todos os números naturais
maiores que zero.
Em especial temos que 264-1 segundos após a criação do mundo, ele terminará. Com alguns
cálculos vemos que isso ocorrerá logo.
150
1
Pois, em um ano há 31.557.600 segundos ( 60.60.24. 365 31.557.600 ) e esse valor é menor
4
que 225
225 = 1024.1024.32 = 33.554.432.
Exagerando, vamos supor que os monges façam 225 movimentos por ano (na verdade fazem
uns 2 milhões a menos). Com isso o mundo acabará em
264
239 anos.
225
239 = 210.210.210.2 9 = 1024.1024.1024.512 > 512.109
Passaram-se até hoje 4 bilhões de anos, ou seja, 4.10 9 anos.
Podemos ficar tranqüilos, faltam mais do que 508 bilhões de anos para os monges terminarem
sua tarefa – supondo que eles não errem o caminho.
151
ANEXOS
152
Durante a análise do plano de ensino da disciplina 6MAT007 notamos que nos anos de
2006, 2007 e 2008 a ementa e conteúdo programático foram iguais.
Ementa
Lógica. Teoria de Conjuntos. Relações e Funções. Funções Elementares. Trigonometria.
Funções Trigonométricas. Logaritmo e Exponencial. Progressões. Análise Combinatória e
os métodos de contagem. Números Complexos.
Conteúdo Programático
3.1. Lógica
A) Raciocínio Lógico
I. Proposições simples e seus valores lógicos.
II. Proposições compostas e os conectivos “e”, “ou”, “não”, “se ... então ...” , “ ... se e
somente se ... “.
III. Tabela-verdade de uma proposição simples e composta.
IV. Valores lógicos das proposições compostas.
V. Exemplos práticos de proposições compostas.
VI. Problemas práticos para o desenvolvimento do raciocínio lógico.
B) Técnicas Dedutivas
I. Demonstração direta.
II. Demonstração pela contrapositiva.
III. Demonstração por absurdo.
IV. Demonstração por indução matemática.
V. Mostrar a equivalência das técnicas de demonstrações (direta, contrapositva e por
absurdo) usando a tabela verdade.
VI. Aplicações das técnicas dedutivas, em resultados simples da aritmética dos números
inteiros, racionais e irracionais e também em conteúdos contidos neste programa.
153
B) Funções
I. Definição de função.
II. Gráfico de uma função.
III. Tipos de funções: constante, lineares, quadráticas, polinomiais e racionais.
IV. Funções injetoras, sobrejetoras e bijetoras.
V. Imagem inversa.
VI. Composições de funções.
A) Progressão Aritmética
I. Definição e propriedades.
II. Fórmula do Termo Geral.
III. Média aritmética e representações especiais.
IV. Soma dos termos.
V. Aplicações à Matemática Financeira: juros simples e compostos.
B) Progressão Geométrica
I. Definição e propriedades.
II. Fórmula do termo geral.
III. Média Geométrica.
IV. Representações Especiais.
V. Soma dos termos e limite da soma.
Análise Combinatória
I. Principio fundamental da contagem.
II. Arranjos simples e com repetição.
III. Permutações simples e com repetição.
IV. Fatorial.
V. Combinações.
Durante a análise do plano de ensino da disciplina 6MAT007 notamos que nos anos de
2006, 2007 e 2008 a ementa e conteúdo programático foram iguais.
Ementa
Teoria dos números. Estruturas algébricas: Grupos. Anéis. Módulos. Aspectos históricos e
epistemológicos dos conteúdos trabalhados.
Conteúdo Programático
1. NÚMEROS INTEIROS
1.1 Indução matemática e suas aplicações.
1.2 Divisibilidade nos inteiros, mdc e mmc.
1.3 Números primos, equações diofantinas e congruências.
1.4 Problema chinês do resto.
1.5 Aspectos históricos e epistemológicos dos conteúdos trabalhados.
3. ANÉIS
3.1 Anéis, definição e exemplos. Tipos de anéis.
3.2 Subanéis, exemplos.
3.3 Ideais. Anel quociente e exemplos.
3.4 Homomorfismos de anéis. Corpo de frações de um anel.
3.5 Característica de um anel. Anel de Polinômios.
3.6 Aspectos históricos e epistemológicos dos conteúdos trabalhados.
156
4. MÓDULOS
4.1 Módulos: definição e exemplos.
4.2 Submodulos, exemplos.
4.3 Módulo quociente e exemplos.
4.4 Aspectos históricos e epistemológicos dos conteúdos trabalhados.
157
relato da pesquisa.
Londrina, / / 2009.
NOME:_________________________________________
RG:____________________________________________
ASS.:___________________________________________