2018 Peixoto T +unicamp
2018 Peixoto T +unicamp
2018 Peixoto T +unicamp
CAMPINAS
2018
DENIS EDUARDO PEIXOTO
CAMPINAS
2018
COMISSÃO EXAMINADORA
Douglas Adams
Resumo
Our work proposal was inspired by the possibility of the configuration and
presentation of an integrative discipline with astronomy content for a first year high school of
a school located in the interior of the state of São Paulo, throughout the year 2017. For the
determination of the content to be worked with students we start with the assertion that
astronomy is a motivating science and that arouses enormous interest for its resourcefulness in
the classroom, especially in basic education. Although current literature corroborates such a
scenario, we do not find explicit indications as to which subjects in this vast area of knowledge
really arouse the attention of students and teachers. Thus, we investigate themes were most
interesting for high school students of different institutions, using a closed questionnaire of the
Likert type and their respective statistical analysis of the factorial type. Through the analysis of
the data obtained, we relate the discipline to topics related to current research and space travel,
as well as themes related to life, themes that have aroused much more student attention than the
curricular guidelines, revealing the need for an interdisciplinary work may refer the science
teacher to establish integrative links with current astronomy teaching. We note that students
have demonstrated that they are motivated and interested during the class period, reinforcing
our hypothesis that interdisciplinary practices, coupled with current astronomy issues such as
astrophysics and astrobiology, contribute to current and inspiring science education.
Modelos astronômicos.............................................................................. 27
Astronomia Integradora............................................................................ 33
Astrobiologia ..................................................................................... 34
5. METODOLOGIA ........................................................................................... 52
O Questionário ......................................................................................... 55
Suporte documental para a determinação dos itens ........................... 55
Correlações ........................................................................................ 58
Amostra Analisada............................................................................. 65
8. REFERÊNCIAS............................................................................................ 107
1. INTRODUÇÃO
Da construção das lunetas até a elaboração dos primeiros telescópios refletores (que
utilizam espelhos para a ampliação de imagens), a ótica geométrica instaurou-se como um dos
principais suportes teóricos ao astrônomo (ZILIO, 2009). Por outro lado, e com o passar dos
anos, a luz passou a ser trabalhada também nos moldes de uma teoria ondulatória, apresentando-
se através da ótica física e, mais adiante, através da ótica quântica.
Sobre a luz enquanto objeto de estudo científico, Zilio sugere uma divisão de acordo
com sua evolução:
[...] (a) ótica geométrica – que trata a luz como raios que se propagam em linha reta
nos meios homogêneos e de acordo com as descrições de Newton; (b) ótica física –
que leva em conta o estudo da natureza ondulatória das ondas eletromagnéticas e (c)
ótica quântica – momento em que se quantiza o campo eletromagnético relacionando
fótons e átomos. (ZILIO, 2009)
14
Nesse contexto, a astrofísica caracteriza-se como uma “ciência moderna que surgiu
devido à necessidade do entendimento de fenômenos astronômicos através da utilização de um
espectroscópio durante a segunda metade do século 19” (LONGAIR, 2006); sendo a
astrobiologia, uma “área de pesquisa multi, inter e até transdisciplinar, que procura maneiras
novas para entender o fenômeno da vida no Universo, sua origem, evolução, distribuição e
futuro” (GALANTE et al., 2016) e que, dentre outras coisas, já nos possibilita detectar e até
mesmo supor a possibilidade de vida em outros planetas que orbitam outras estrelas.
Sendo assim, acreditamos que a astronomia passou de uma ciência específica e bem
consolidada a partir do século 17, para uma área ampla e muito mais abrangente,
caracterizando-se pelo surgimento de diversas outras áreas de estudo e pesquisa cujas relações
interdisciplinares tornam-se evidentes à medida que várias de suas ramificações passaram a
tratar de objetivos específicos em comum.
Além de seu destaque enquanto ciência, é fato que conteúdos específicos dessa área
sejam de obrigatoriedade da educação básica (SOBREIRA, 2010). Porém, não há uma
determinação específica para que o ensino de astronomia seja alvo das licenciaturas,
(BRETONES, COMPIANI, 2012). Nos questionamos qual seria o enfoque astronômico
apresentado nas salas de aula. Os temas e conteúdos sugeridos nas diretrizes e componentes
curriculares sobre a astronomia acompanharam essa desenvoltura rica em aspectos
interdisciplinares e tecnológicos?
Se fizermos uma análise mais apurada, veremos que ela tem potencialidades muito
maiores, os quais têm sido desperdiçadas e, ao nosso ver, muitas vezes também
desprezadas. Possui, se bem trabalhados, fortes recursos interdisciplinares, na medida
em que envolve áreas do saber como História, Geografia, Ciências de modo geral,
Matemática e até Ciências da Linguagem. (BRETONES, 1999, p. 1)
Petroselli (2008) aponta uma visão interessante sobre a expectativa de alunos que
buscam conhecimentos específicos sobre o tema, seja na forma de cursos de extensão ou de
formação continuada, o que pode indicar também a expectativa de muitos professores sobre o
assunto. Muitos dos estudantes que chegam a esses cursos, geralmente de astronomia
introdutória, não sabem o que esperar, na verdade muitos nem sequer sabem o que a astronomia
ou mesmo a ciência são:
16
Caracterização da pesquisa
2. DIÁLOGO INTERDISCIPLINAR
Disciplinas e Interdisciplinaridade
Esse cenário pode ser justificado de forma a entender que “os desafios do mundo moderno
exigem resoluções de problemas integradas e, em um nível mais abrangente” (KLEIN, 1996).
Sobre o conceito de disciplina, Klein (1999) afirma que, “como campos de pesquisa
em um aspecto particular do mundo, as disciplinas especificam os objetos estudados, os
métodos e conceitos utilizados, as teorias aceitas e as premissas feitas sobre o que é válido”
(KLEIN, 1999, p.11). Para Berger (1972), disciplina é o conjunto específico de conhecimentos
que têm as suas características próprias no terreno do ensino, da formação, dos mecanismos,
dos métodos e dos materiais. Com outro olhar, Japiassú define disciplina e disciplinaridade
como
[...] essa progressiva exploração científica especializada numa certa área ou domínio
homogêneo de estudo. Uma disciplina deverá, antes de tudo, estabelecer e definir suas
fronteiras constituintes [...] falar de interdisciplinaridade é falar de interação de
disciplinas. E disciplina, como a entendemos, é usada como sinônimo de ciência,
muito embora o termo disciplina seja mais empregado para designar o ensino de uma
ciência, ao passo que o termo ciência designa mais uma atividade de pesquisa”.
(JAPIASSÚ, 1976, p.61)
Para Fazenda (1995), na década de 1970, teria ocorrido a definição dos termos e
dos conceitos associados à interdisciplinaridade. Essa primeira grande classificação
taxionômica dos diversos novos termos foi elaborada durante uma conferência internacional
ocorrida na França e publicada em 1972 pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento
da Economia (OCDE).
[...] a metodologia interdisciplinar irá exigir de nós uma reflexão mais profunda e
inovadora sobre o próprio conceito de ciência e de filosofia, obrigando-nos a
desinstalar-nos de nossas posições acadêmicas tradicionais, das situações adquiridas,
e a abrir-nos para perspectivas e caminhos novos. Ademais, exigirá de nós que
reformulemos nossas estruturas mentais, que desaprendamos muita coisa, que
desconfiemos das cabeças bem arrumadas, pois, em geral, são bastantes
desarrumadas, tendo necessidade de uma nova rearrumação. (JAPIASSÚ, 1976, p. 42)
Para Olga Pombo, o termo multidisciplinaridade pode ser considerado como uma
justaposição de disciplinas que tendem a não cooperar entre si, (POMBO, 2005, online). Sendo
que, para Mozena e Ostermann, a expressão é entendida como “um tema comum a várias
disciplinas, que é trabalhado de maneira isolada e disciplinar na sala de aula, sem nenhuma
relação entre si” (MOZENA, OSTERMANN, 2014).
[...] um adjetivo que descreve a interação entre duas ou mais disciplinas diferentes.
Essa interação pode variar desde a simples comunicação de ideias até a integração
mútua de conceitos organizacionais, metodologia, procedimentos, epistemologia,
terminologia, dados e organização de pesquisa e educação em um campo bastante
amplo. Um grupo interdisciplinar consiste em indivíduos com diferentes conceitos,
métodos e dados, e uma abordagem problemática comum para a intercomunicação
contínua entre os participantes das diferentes disciplinas. (OCDE, 1972, p. 25-26,
tradução nossa)
Para Lattuca (2003), essa definição assume uma base disciplinar para a
interdisciplinaridade, mas não exclui formas de interdisciplinaridades nas quais as disciplinas
não sejam o centro. “Portanto, numa primeira aproximação, a interdisciplinaridade se define e
se elabora por uma crítica das fronteiras das disciplinas, de sua compartimentação”
(JAPIASSÚ, 1976, p.54).
Para Klein (1998) a integração veio a significar não apenas uma estrutura específica
ou um método particular de ensino, mas também um processo que ocorre quando as pessoas
interagem com o meio, sendo que “do ponto de vista integrador, a interdisciplinaridade requer
um equilíbrio entre amplitude, profundidade e síntese” (KLEIN, 1998, p. 121).
24
Para Skora (2012) optar por um ensino integrado é colocar-se em uma posição de
busca de caminhos alternativos da prática que domina a cultura da sociedade atual. E ainda que:
A BNCC, por exemplo, sugere que suas unidades temáticas “sejam consideradas
sob a perspectiva da continuidade das aprendizagens e da integração com seus objetos de
conhecimento ao longo dos anos de escolarização”, indicando que essa integração se torna
evidente quando temas importantes como a sustentabilidade socioambiental, o ambiente, a
saúde e a tecnologia são desenvolvidos concomitantemente (BRASIL, 2017, p. 329).
Especificamente sobre o ensino de ciências, Blum (1973), enfatiza que “uma das
coisas que o ensino integrado da ciência tenta fazer é interconectar as ciências [...] onde útil,
elementos relevantes, conceitos, métodos de pesquisa podem ser emprestados de outra
disciplina sem desfocar as diferentes estruturas, que são típicas para cada disciplina”, uma vez
que:
25
Uma criança, ou um adulto, não aprende na mesma ordem lógica que aquela em que
uma disciplina científica é organizada. Para fins de ensino, temos que levar em conta
a psicologia do aluno e as formas em que ele forma conceitos. As estruturas de
aquisição, assimilação e retenção de conhecimento são as mesmas, quer aprendamos
biologia, química ou física. Muitos conceitos e as atitudes fundamentais em relação à
ciência não são restritas por limites de disciplina. (BLUM, 1973)
De maneira mais específica, Lenoir (1998) aponta que a integração pode ser estudada
através de três distintos pontos de vistas com objetivos em comum:
Lenoir (1998), ainda suscita que há a necessidade de uma preocupação com certos
questionamentos que devem ser respondidos para uma proposição a qualquer tipo de recurso
integrador:
3. EVOLUÇÃO DA ASTRONOMIA
Modelos astronômicos
Astronomia Clássica
A astronomia estava baseava num sistema de mundo estático, modelo esse que já
perdurava por mais de um milênio. Através das obras de Copérnico sobre o heliocentrismo (Sol
ao centro com os planetas e as estrelas fixas orbitando ao seu redor), a comunidade científica
se deparou com uma abordagem matemática em que a Terra passou de grande protagonista para
um mero e elegante coadjuvante, promovendo mudanças radicais não apenas na ciência, mas
em outras áreas, entendendo-se assim que “a tese copernicana do movimento da Terra, ao
descentralizar o observador e colocá-lo em movimento, teve um impacto de fundamental
importância sobre o conjunto especificamente organizado da cultura, opondo-se diretamente ao
conjunto do saber, da ciência, da religião e da opinião comum” (MARICONDA, 2006, p. 280).
Galileu após ter iniciado seus estudos acerca dos movimentos retilíneos, dá sua
contribuição à astronomia sendo certamente, “quem mostrou a indiscutível utilidade científica
do telescópio, realizando suas famosas observações astronômicas” (MARICONDA, 2006) da
Lua, fases de Vênus, Júpiter, Marte, Saturno, das manchas solares, dentre outros, marcando o
surgimento de um método prático e recém-aberto à astronomia.
Durante o mesmo período, Tycho Brahe e Johannes Kepler travaram uma árdua
batalha na determinação da correta órbita dos planetas ao redor do Sol. Tycho Brahe, que por
anos registrou a movimentação aparente de Marte, contribuiu para a astronomia observacional
de maneira única. Mesmo sem o auxílio de instrumentos óticos avançados, Brahe obteve as
melhores medições sobre a trajetória de Marte na esfera celeste proporcionando as evidências
(observacionais) que faltavam para a queda da credibilidade do modelo geocêntrico, com
precisão angular de 4 minutos (SOUZA, 2004).
deparou com uma pressão social para a reformulação do calendário, “pressão que tornou
particularmente premente o problema da precessão dos equinócios” (KUHN, 2005).
Porém, foi apenas por meio da obra de Isaac Newton que a ótica geométrica foi
aprofundada e elevada a outros patamares. Em 1668, Newton propõe um novo tipo de
instrumento astronômico, o telescópio refletor, que se utilizava de espelhos e não de lentes
como os telescópios de Kepler e a luneta de Galileu para a observação dos astros, corrigindo
assim parte dos problemas da aberração cromática1 dos telescópios refratores. Promove, assim,
uma mudança brusca na maneira de realizar observações noturnas, tornando-as muito mais
proveitosas quanto à nitidez e a observação de objetos mais distantes.
1
Fenômeno que ocorre quando o objeto observado apresenta “halos” coloridos em seu entorno,
devido ao fato dos raios de luz de diferentes cores serem desviados em ângulos diferentes, não convergindo para
um mesmo ponto. Fonte: http://www.observatorio.ufmg.br/Pas90.htm
31
Não podemos nos esquecer que a teoria da gravitação universal foi uma das
responsáveis por levar o ser humano à Lua, possibilitando também a instalação de telescópios
na órbita de nosso planeta. E ainda,
Já nesse período (século 17), tanto a teoria ondulatória quanto a teoria corpuscular
da luz eram aceitas pela comunidade científica e é nesse momento que surgem as primeiras
medições sobre a velocidade da luz. Em 1676, através de observações de eclipses da lua Io, do
planeta Júpiter, Dane Ole Christensen Römer demonstrou que, diferentemente do que se
acreditava, a velocidade da luz era finita.
O próximo passo para uma melhor compreensão da luz, foi tratá-la como fenômeno
eletromagnético. Nesse sentido, podemos mencionar que a contribuição do eletromagnetismo à
astronomia se deu, principalmente, através dos trabalhos de Michael Faraday e de James Clerk
Maxwell, durante o século 19. Segundo Martins (2005)
32
Foi Michael Faraday (1791-1867) quem, em meados do século 19, defendeu mais
fortemente a ideia de que as forças eletromagnéticas são transmitidas por linhas de
força que tem realidade física. Segundo ele, duas cargas elétricas que se atraem ou
repelem não interagem diretamente à distância. Elas são puxadas ou empurradas pelas
linhas de força, que seriam coisas reais, que se estendem pelo espaço e que transmitem
as forças entre as cargas. (MARTINS, 2005)
Astronomia Integradora
Por meio da evolução tecnológica que nos foi proporcionada durante o século 20,
outras áreas do saber se aliaram à astronomia na busca a respostas aos mais diversos tipos de
questionamentos que o ser humano ainda hoje é capaz de elaborar. Além de observamos o
universo através de telescópios terrestres, podemos fazê-lo para além da atmosfera, por meio
de diversos telescópios espaciais que se encontram na órbita da Terra desde meados da década
de 1990.
com maior crescimento dentro da astronomia atual, unindo cientistas de diversas áreas
científicas com objetivos em comum.
Astrobiologia
Quando o telescópio espacial Hubble foi lançado em 1990, planetas que orbitavam
outras estrelas ainda não haviam sido detectados. Entretanto, desde 1990, quando o primeiro
exoplaneta foi detectado, a descoberta de objetos pertencentes a essa nova categoria planetária,
assim como planetas que não pertencem a sistema planetário algum, passaram a ser catalogados
constantemente (NASA, 2008). Já no ano de 2009 (ano internacional da astronomia) mais de
340 planetas foram encontrados orbitando outras estrelas. A maior parte, descobertos
indiretamente por telescópios terrestres como resultado de um pequeno, mas mensurável,
distúrbio gravitacional quando em órbita de sua estrela hospedeira.
Damineli (2010), afirma que “ao invés de nos perguntarmos se há vida em outros
planetas, os astrônomos passaram a se questionar se existe vida como a da Terra em outros
planetas. Apesar da ciência ainda não ter um consenso do que vem a ser a vida, propriamente
dita, a questão acima é passível de ser testada experimentalmente”.
Não apenas a busca por exoplanetas, mas a busca por planetas cujas características
se assemelham com o planeta Terra estão em evidência nesse ramo de pesquisa. Porém, como
distinguir se um planeta é um candidato passível de abrigar a vida em sua superfície se torna
algo complexo, condicionado a diversas áreas do saber num trabalho integrado. Além das
diversificadas técnicas de detecção de exoplanetas, ainda há a necessidade de unir
conhecimentos de química, biologia e geologia para um estudo mais aprofundado dos
elementos exoplanetários.
A busca deve ser realizada através da detecção de um planeta que não possa ser
nem muito grande, nem demasiadamente pequeno. Se o planeta tiver mais que catorze vezes a
massa da Terra, torna-se gasoso; se for muito menor que Marte (dez vezes menor que a Terra),
não poderá reter a atmosfera (DAMINELI, 2010). O próximo passo é determinar as
características da atmosfera exoplanetária, que deverá ser rica em algumas moléculas
específicas, tais como o ozônio (O3) e o metano (CH4). “A Terra é o único planeta rochoso que
tem ozônio (O3) e metano na atmosfera. Essas duas substâncias são continuamente destruídas
pela radiação ultravioleta (UV) solar, de modo que, para serem observadas, devem estar sendo
constantemente repostas” (DAMINELI, 2004).
Há ainda a discussão de que a vida poderia ter se originado fora da Terra, tendo sido
trazida para cá por meio de meteoritos. “A descoberta de aminoácidos em meteoritos, incluindo
todos os que são usados pelos seres vivos e dezenas a mais, reforça a importância do contexto
astronômico para o estudo da vida” (DAMINELI, 2004).
Ondas Gravitacionais
Apesar da teoria da relatividade geral, de Albert Einstein, fazer a previsão das ondas
gravitacionais ainda no século 20, foi apenas no ano de 2015 que finamente tal evento pode ser
detectado por sensores terrestres. Sobre o fenômeno propriamente dito, pode afirmar que
Apesar das descobertas sobre as ondas gravitacionais serem muito recente estima-
se que os avanços na área sejam de extrema importância para um novo avanço nos métodos de
detecção de objetos extremamente densos, como os buracos negros. A partir do estudo das
ondas gravitacionais, espera-se a obtenção de novos dados para uma melhor análise sobre a
origem e evolução do próprio universo. Esse “avanço marca o começo de uma nova era em
astronomia abrindo uma nova janela de observação do universo sob a forma de ondas
gravitacionais” (STURANI, 2016).
Mediados por esse conjunto de temas investigativos, acreditamos ser esse o futuro
da astronomia enquanto ciência, fator que desvela um importante segmento de estudos em nível
de interesse e motivação por parte de pesquisadores e mesmo de alunos e professores, uma vez
2
São originados a partir de estrelas de alta massa (maior do que cerca de 10 vezes a massa do Sol),
que, após passarem pelo estágio evolutivo da sequência principal e esgotarem seu combustível para fusão nuclear,
passam pelo estágio de gigantes e supergigantes e depois explodem como supernovas. Fonte: BERGMANN, T. S.
et al. Buracos Negros. Disponível em: < http://www.if.ufrgs.br/~thaisa/buracos-negros/#tbnegros> Acesso em: 16
jan. 2018
39
4. ENSINO DE ASTRONOMIA
Os temas sugeridos pelos PCN para os referidos níveis de conhecimento são: forma
da Terra, campo gravitacional, dia e noite, fases da Lua, órbita terrestre e estações do ano,
astronomia observacional; temas estes considerados por Langhi e Nardi (2012) como essenciais
ao ensino de astronomia e como “os conteúdos básicos para que o professor dos anos iniciais
do EF atue como mediador na preparação de um alicerce sólido de modo a compreender estes
e outros fenômenos astronômicos cotidianos” (LANGHI, NARDI, 2012, p. 147). A história da
astronomia também se faz presente no referido documento, sendo discutidos nas séries finais,
aspectos teóricos da evolução dos modelos de mundo geocêntrico e heliocêntrico,
41
Por outro lado, a BNCC “está estruturada de modo a explicitar as competências que
os alunos devem desenvolver ao longo de toda a Educação Básica e em cada etapa da
escolaridade” (BRASIL, 2017, p. 21). Suas competências estão divididas em Educação infantil,
Ensino Fundamental e Ensino Médio, sendo o conteúdo de Ciências presente nos dois últimos,
de forma que:
Com exceção das Orientações Curriculares para o Estado de São Paulo, que detém
um conteúdo astronômico mais recente, corroboramos com a opinião de Peixoto e Ramos
(2011) que apontam que a astronomia para o EM esteja vinculada principalmente ao ensino das
Leis de Kepler, cuja ênfase é dada apenas aos seus aspectos matemáticos. Segundo Bretones:
[...] não é sobre como ministrar palestras em sala de aula com entusiasmo, nem sobre
fornecer palestras públicas memoráveis sobre as maravilhas da astrofísica, nem
mostrar lindas imagens de objetos astrofísicos, nem encorajar cientistas a visitarem
escolas ou escreverem lindos livros didáticos. Em sua essência, a pesquisa em
educação astronômica trata de investigar e compreender rigorosamente como as
pessoas aprendem conceitos astrofísicos e como desenvolver e fornecer recursos que
ajudem os alunos a aprender e os professores ensinarem. (DEUSTUA et al, 2010)
Já no que diz respeito à astronomia que é levada para cursos de ensino superior,
Bretones (1999) afirma haver uma grande variedade de opiniões sobre quais os objetivos de
uma disciplina de astronomia para esse nível de escolaridade. Porém, seu conteúdo
programático deve servir, antes de tudo, para o curso ao qual se destina: licenciaturas,
engenharias, bacharelados, etc.
apontam ser “mais fácil para os estudantes compreenderem conceitos apresentados em uma
discussão coerente de entendimento atual, ao invés de apresentar concepções errôneas passadas
seguidas por interpretações atuais” (BRETONES, 1999, p. 34), evidenciando a possibilidade
de um trabalho com temas contemporâneos sobre o tema.
Assim como Pasachoff (1990, 2002) e Deustua et al. (2010) acreditamos que a
astronomia tenha evoluído e se configurado numa área de estudos com amplitude bem maior
que a astronomia realizada há séculos. Atualmente, as descobertas astronômicas vão muito além
das observações realizadas durante e anteriormente a revolução científica do século 17 e da sua
extensa utilização nas grandes navegações no século 16, abrangendo novos conhecimentos que
vão de novas concepções sobre a origem e evolução do universo até a detecção de possíveis
ambientes propícios ao surgimento e manutenção da vida fora da Terra.
Bretones e Megid Neto (2003) apontam que, entre os anos de 1973 e 2002, 16
trabalhos foram realizados em nível de mestrado e doutorado sobre o tema, sendo as principais
tendências das pesquisas voltadas para “Conteúdo e Método”; “Concepções de Professor”;
“Currículos e Programas” e “Recursos Didáticos”, e menor porcentagem relacionada às
“Concepções de Aluno”; “Formação de Professores”; “Formação de Conceitos” e “Programas
de Ensino Não Escolar”.
Mediante a análise realizada pelos autores, notamos que até o início da década de
2000, as pesquisas cujos temas mais se aproximam de um real auxílio à prática docente para o
ensino de astronomia apresentaram-se inseridas na menor porcentagem dos trabalhos
defendidos, evidenciando que mesmo que o tema seja fruto de estudos acadêmicos desde a
46
década 1970, uma discussão mais ampla sobre o trabalho do professor no ensino de astronomia
em sala de aula ainda carece de maiores detalhes e apreciações por parte da comunidade
acadêmica.
3
O Diagrama Hertzsprung Russel determina a relação existente entre a luminosidade da estrela e
sua temperatura superficial (OLIVEIRA FILHO, SARAIVA, 2004)
47
Langhi e Nardi (2012) indicam que um dos aparentes motivos da astronomia não
fazer parte do cotidiano escolar dos estudantes da educação básica é o fato de o conteúdo
proposto ser desconhecido pelos professores de ciências. É fato que as licenciaturas não
preparam o professor para o ensino de astronomia, sendo que esse conteúdo geralmente é
apresentado por meio de oficinas, disciplinas optativas ou projetos de extensão. Essas
formações em espaços educacionais não formais geralmente estão dedicadas a temáticas
específicas ou apresentam uma quantidade excessiva de conteúdos num curto intervalo de
tempo; dificultando o domínio e a apreensão de conceitos básicos de astronomia, tais como as
causas do dia e da noite, as estações do ano e as fases da Lua, por parte dos futuros professores.
De acordo com as orientações oficiais, os temas que deveriam estar presentes nas
salas de aula para os alunos do 6º ao 9º ano do EF estão associados à movimentação dos astros
na esfera celeste; coordenadas geográficas; noções de escalas; modelos geocêntrico e
heliocêntrico e fenômenos relacionados ao sistema Sol-Terra-Lua. Já para o EM destacam-se
as noções de movimentos entre a Terra, a Lua e o Sol, bem como a inserção do estudo da
gravitação, origem e influência dos modelos de universo em nosso cotidiano, conteúdos
nitidamente relacionados à disciplina de Física (IACHEL, 2013).
anteriores” e que persistiram intactas mesmo após sua formação inicial. Esse fator corrobora
para que as concepções equivocadas dos professores acabem por influenciar a aprendizagem
dos alunos, fortalecendo uma visão equivocada da astronomia.
Outro fator que pode influenciar o conteúdo de astronomia a ser levado para a sala
de aula se deve a participação de algumas escolas na Olimpíada Brasileira de Astronomia e
Astronáutica (OBA). A aplicação da olimpíada se dá para toda a educação básica, porém em
quatro níveis distintos de provas.
apenas para instituições que trabalhem no sentido de preparar seus alunos nos meses que
antecedem a prova.
[...] o estudo das origens, evolução, distribuição e futuro da vida no universo. Requer
conceitos fundamentais de vida e ambientes habitáveis que nos ajudarão a reconhecer
biosferas que possam ser bastante diferentes das nossas. A astrobiologia engloba a
busca de planetas potencialmente habitados para além do nosso Sistema Solar, a
exploração de Marte e os planetas externos, pesquisas laboratoriais e de campo sobre
as origens e a evolução precoce da vida e estudos do potencial da vida para se
adaptarem a desafios futuros, tanto na Terra como no espaço. É necessária uma
pesquisa interdisciplinar que combina biologia molecular, ecologia, ciência
planetária, astronomia, ciência da informação, tecnologias de exploração espacial e
disciplinas relacionadas. O amplo caráter interdisciplinar da astrobiologia nos obriga
a lutar pela compreensão mais abrangente e inclusiva dos fenômenos biológicos,
planetários e cósmicos. (NATIONAL ACADEMIES PRESS, p.7, 2005)
Pelos motivos mencionados até aqui, acreditamos que seja essa uma das áreas com
maior potencial não apenas para uma proposta interdisciplinar e integradora de astronomia, mas
uma proposta para um ensino de ciências motivador e realmente interessante, ponderando-se
em investigações atuais e integradas a várias áreas científicas.
52
5. METODOLOGIA
Disciplina Integradora
Para buscar apresentar uma síntese do que foi discutido e trabalhado na disciplina
durante o ano os alunos apresentaram, no final da disciplina, um breve seminário à comunidade
escolar e aos seus familiares. Além do seminário, foi organizada uma feira de ciências para
apresentar os resultados dos projetos desenvolvidos no decorrer da disciplina, gerando
subprodutos dedicados ao estabelecimento de uma base de suporte à vida em Marte. Essas
apresentações fizeram parte de uma avaliação coletiva dos alunos.
Unidades de Estudo
Insolação;
Órbitas elípticas e circulares;
Estações do ano com Ciclos anuais (são fundamentais para o desenvolvimento de
diferenças de iluminação diferentes culturas e espécies, se não há modificação não há
evolução)
Relacionar a Fotossíntese com o Sol e demonstrar a sua
Nós no alimentamos de importância para a manutenção da vida na Terra. Zona
luz habitável. Formação de oceanos e atmosfera terrestre.
Biosfera
O Questionário
Para a escolha dos itens que comporiam o questionário, numa primeira etapa,
pesquisamos os conteúdos de astronomia sugeridos nos documentos oficiais da educação
básica, tanto para o EF quanto para o EM. Como documentos oficiais utilizamos os PCN de
Ciências Naturais e a BNCC para o EF e os PCN+ para o EM como a base oficial para nossa
análise.
tema à compreensão dos modelos de evolução tanto do Universo quanto das possibilidades de
vida.
Segundo Castilho (2010), dentro dessas quatro questões ainda há oito subitens, mais
específicos sobre o assunto, que demarcam o que há de recente em pesquisas em astronomia:
Sendo assim, para a composição do questionário, optamos por mesclar itens que se
remetessem tanto às orientações curriculares quanto a temas atuais na pesquisa em astronomia
e que, consequentemente, apresentam exposição na mídia.
Nenhum Interesse
Algum Interesse
Pouco Interesse
Muito Interesse
1 2 3 4
Big Bang
Eclipses
Sol
Vida extraterrestre
Estrelas
Colisão Terra/Asteroides
Viagem para Lua
Calendários
Matéria escura
Fases da Lua
Viagem para Marte
Extinção/fim do universo
Lua
Estações do ano
Estação espacial
Buraco negro
Radiação solar
Constelações
Corrida espacial
Caminhada espacial
Bóson de Higgs
Sondas Espaciais
Formação das galáxias
Supernovas
Extinção do Sol
Formação da Terra
Observação com telescópio
Onde nós estamos?
Fonte: O autor
58
Análises Estatísticas
Correlações
Análise Fatorial
Outro motivo pela escolha da análise fatorial se deve ao fato de que “esse modelo
não assume que apenas uma variável latente seja a fonte de toda covariação entre os itens. Em
vez disso, esse modelo permite que variáveis latentes múltiplas sirvam como causas de variação
em um conjunto de itens” (DEVELLIS, 2012, p.115).
Para avaliar o interesse dos alunos e construir os perfis característicos dos grupos
de respondentes, utilizamos como técnica estatística a análise fatorial (LAROS, 2005), sendo
que “a principal função das diferentes técnicas de análise fatorial é reduzir uma grande
quantidade de variáveis observadas a um número reduzido de fatores” (FIGUEIREDO, SILVA,
2010) e que se dividem em vários métodos para extração de dados, tais como o método da
análise dos componentes principais (ACP) e o método da análise fatorial comum (AFC);
(DING, BEICHNER, 2009), por exemplo.
60
A análise fatorial parte do princípio de que uma grande categoria de itens pode ser
associada através de um único conceito. Para testar esta suposição de forma conceitual, o
programa de análise fatorial deve determinar a correlação de cada item com o fator que
representa a única variável latente e, em seguida, ver se as correlações observadas entre os itens
podem ser recriadas, multiplicando adequadamente os caminhos que ligam cada par de
variáveis via o fator (DEVELLIS, 2012, p.123).
Em seguida, executa uma verificação para ver o quão bem-sucedida essa premissa
foi. Se parecer que um conceito ou categoria não fez um trabalho adequado de contabilização
da covariação entre os itens, a análise fatorial rejeita essa premissa inicial. Em seguida,
identifica um segundo conceito (ou seja, variável ou fator latente) que explica algumas das
covariações restantes entre os itens. Isso continua até que a quantidade de covariação que o
conjunto de fatores não tenha contabilizado seja aceitável. “O processo começa com uma matriz
de correlação para todos os itens individuais. Usando essa matriz como ponto de partida, a
análise fatorial examina os padrões de covariação representados pelas correlações entre os
itens” (DEVELLIS, 2012, p.123).
Nosso objetivo com o uso da análise fatorial foi o de obter grupos de itens com
características em comum no que se refere aos principais interesses de alunos do EM
relacionados com a astronomia, na expectativa de reduzir certa quantidade de variáveis num
pequeno número de fatores para análise, sendo que esses fatores representam as dimensões
latentes (constructos) que resumem ou explicam o conjunto de variáveis observadas (HAIR et
al., 2006).
utilizado, levamos em consideração que “quanto mais fatores forem extraídos, menor é o grau
de parcimônia, no entanto, maior será a quantidade total de variância pelos fatores”
(FIGUEIREDO, SILVA, 2010) e para isso se fez necessária uma tomada de decisões sobre
quais os métodos ideais de extração e rotação fatorial que utilizaríamos, assim como a
determinação do número de fatores para serem analisados estatisticamente.
A escolha do número de fatores a ser utilizado durante a extração dos dados torna-
se uma das decisões mais importantes a ser tomada numa análise fatorial, isto porque uma
extração de fatores inapropriada pode subestimar ou mesmo superestimar os fatores, retendo
um número de fatores maior ou menor que o adequado, respectivamente (DAMÁSIO, 2012).
A lógica por trás do critério de Kaiser-Guttman é simples: cada fator retido apresenta
um autovalor que se refere ao total de variância explicada por este fator. A soma total
dos autovalores é sempre igual ao número de itens utilizados na análise (utilizando
uma escala de 10 itens, a soma dos 10 autovalores retidos é igual a 10). Assim, um
componente com autovalor < 1 apresenta um total de variância explicada menor do
que um único item. (DAMÁSIO, 2012)
Fleck e Bourdel (1998) ainda apresentam a inércia total da nuvem de pontos numa
ACP normalizada como conceito fundamental a esse tipo de análise estatística e sugerem que:
Como método de extração dos nossos dados foi utilizada a ACP, que é um
procedimento de redução de variáveis (DING, BRICHNER, 2009). Numa descrição simples,
Ding e Brichner (2009), sugerem que neste método, normalmente, vários itens testam o mesmo
tópico e, portanto, as pontuações (escores) dos alunos sobre esses itens devem, idealmente,
exibir altas correlações. A ACP agrupa esses itens altamente correlacionados e os colapsa em
um pequeno número de componentes através de combinações lineares ponderadas como
mostrado abaixo:
A opção pela ACP ao invés de trabalharmos com a AFC como técnica de extração
dos dados, se deve ao fato de que apesar das duas técnicas produzirem combinações lineares de
variáveis que capturem o máximo possível a variância compartilhada, a AFC se utiliza apenas
da variância compartilhada, enquanto que para a ACP toda a variância é utilizada
(FIGUEIREDO, SILVA, 2010).
Outro motivo pela opção é que a ACP é considerada como uma técnica consagrada
para se obter o perfil dos respondentes de questionários em escala Likert,
As rotações ortogonais assumem que os fatores extraídos são independentes uns dos
outros (não apresentam correlações entre si). Dentre esse tipo de rotação, vários
métodos são apresentados na literatura, tais como: quartimax; equimax; e varimax [...]
as rotações oblíquas, por sua vez, permitem que os fatores sejam correlacionados entre
si. Diferente dos métodos ortogonais, que exigem que os fatores não sejam
correlacionados, os métodos oblíquos não delimitam a interação entre os fatores a
priori. (DAMÁSIO, 2012)
Lembrando que o método de rotação torna mais fácil determinar quais as variáveis que serão
carregadas em quais componentes (SCHAWB, 2007) e tem o objetivo de facilitar a
interpretação dos fatores, visto que muitas vezes as variáveis analisadas apresentam cargas
fatoriais elevadas em mais de um fator (DAMÁSIO, 2012).
Alfa de Cronbach
onde k é o número de questões (em nosso caso, os temas de interesse) que compõe
o questionário, é a variância das respostas do i-ésimo tema, e é a variância da soma de todas as
respostas (ALMEIDA, SANTOS, COSTA, 2010).
O alfa de Cronbach é uma medida clássica em psicometria que, “de um modo geral
procura explicar o sentido que têm as respostas dadas pelos sujeitos a uma série de tarefas,
tipicamente chamada de itens” (PASQUALI, 2009), avaliando o grau em que os itens de uma
matriz de dados estão correlacionados.
A literatura a respeito do alfa de Cronbach sugere para que valores acima de 0,90
sejam considerados como excelentes; entre 0,89 e 0,71, bons; entre 0,70 e 0,61 aceitáveis; entre
0,60 e 0,51 questionáveis e abaixo de 0,50, inaceitáveis (DAMÁSIO, 2012; GEORGE
MALLERY, 2003).
6. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Análise Fatorial
Amostra Analisada
A opção por utilizar como amostra estudantes de escolas dos estados de São Paulo
e do Paraná foi associada à dois fatores em comum: o fato do pesquisador residir em São Paulo
e a sua participação em um grupo de pesquisas no estado do Paraná, o que possibilitou a
aplicação do questionário também nesse estado.
No caso específico da presente pesquisa, o fato dos alunos já terem tido algum
contato ou interesse por astronomia faz com que exista maior coerência no conjunto de
respostas. Alunos que nunca se interessaram por astronomia não foram ouvidos, pois o objetivo
66
dessa análise seria especificar o que os alunos que já têm alguma vivência com o tema
consideram importante como tópicos importantes e/ou interessantes em astronomia. De
maneira mais expressiva, esses alunos representam um público intermediário entre os
especialistas e os alunos comuns e refletem o que poderia vir a ser mais interessante para a sua
formação, com uma visão interdisciplinar de astronomia.
Tabela 2 - Itens com suas respectivas somas Likert, em ordem decrescente para o total da amostra.
Para que pudéssemos realizar uma discussão mais aprofundada sobre os itens e seus
respectivos valores Likert, optamos por separar a Tabela 3 em três grupos distintos, levando em
consideração apenas as somatórias apresentadas. Nesse sentido a divisão foi baseada em valores
cuja soma se estabeleceu entre 4 e 3,75 – itens com maiores somas -; 3,75 e 3 – itens com
valores intermediários -; abaixo de 3 – itens com menores somas.
O grupo com a maior soma, nos remete a conteúdos cuja temática central está ligada
à cosmologia, porém um olhar mais minucioso pode sugerir que o tema em comum entre os
itens dispostos seja a astrobiologia. Informações sobre formação, evolução e extinção de
planetas e galáxias, permeiam as linhas de pesquisa dessa área de conhecimento, como já vimos
68
anteriormente, sendo essa afirmação fortalecida pela presença do item “Vida extraterrestre”,
que indica uma possível correlação entre a possibilidade de vida com a evolução de objetos
astronômicos específicos.
Por fim, os itens cujos valores apresentaram as menores somas, estão dispostos em
duas classes distintas de temas. Ou são temas cuja complexidade foge ao conteúdo do EM
(“Matéria escura”, “Bóson de Higgs”) ou estão vinculados ao que já tiveram contato enquanto
alunos do EF (estações do ano, fases da Lua, calendários e história da corrida espacial) o que
fortalece a pouca incidência dos itens.
Instituição Itens com maiores valores Likert Itens com menores valores Likert
• Onde nós estamos?; • Bóson de Higgs;
Todas • Extinção/fim do universo; • Calendários;
• Vida extraterrestre e • Caminhada espacial e
• Buraco negro; • Estações do ano.
• Buraco negro; • Bóson de Higgs;
Escola 1 • Observação com telescópio; • Calendários;
• Extinção/fim do universo; e • Sondas Espaciais e
• Extinção do Sol? • Estações do ano.
• Onde nós estamos; • Bóson de Higgs;
Escola 2 • Vida extraterrestre; • Calendários;
• Big Bang e • Caminhada espacial e
• Extinção/fim do universo. • Estações do ano.
• Onde nós estamos?; • Bóson de Higgs;
• Extinção/fim do universo; • Calendários;
Escola 3 • Observação com telescópio e • Caminhada espacial e
• Vida extraterrestre • Estações do ano.
• Observação com telescópio; • Bóson de Higgs;
Escola 4 • Onde nós estamos?; • Calendários;
• Big Bang e • Viagem para Marte e
• Formação de galáxias • Formação da Terra
Fonte: O autor.
A Tabela 3 informa que, apesar de não haver uniformidade dos itens com maior
soma Likert, há semelhanças que devem ser levadas em consideração. Analisando
separadamente cada instituição, notamos que para três das quatro escolas, os itens “extinção/fim
do universo” e “observação com telescópios” obtiveram somatória Likert muito elevada. O item
“Onde nós estamos?”, obteve a maior somatória em duas das quatro instituições (escola 2 e
escola 3) sendo a segunda mais assinalada na escola 4. Os itens “Big Bang” e “Vida
extraterreste” surgem com médias elevadas em duas das instituições, sendo os itens “Formação
de galáxias” e “Buraco negro”, assinalados apenas em uma instituição cada.
No que diz respeito aos itens com menores somas Likert, pudemos evidenciar dois
perfis institucionais semelhantes. A escola 3 e a escola 4, apresentaram os mesmos itens com
menores médias, sendo que a escola 1 só se diferenciou das demais em suas escolhas devido à
um item. Ao invés de “Caminha espacial”, o item que o diferencia das outras duas instituições
foi “Corrida espacial”.
Um próximo passo para a efetivação da análise estatística foi obter valores que
corroborassem para que nosso questionário fosse considerado confiável. Para isso, optamos
pelo cálculo do coeficiente alfa de Cronbach, cujo resultado pode ser visto no tópico 5.1.3.
Alfa de Cronbach
É definido como a proporção da variância total de uma escala que é atribuível a uma
fonte comum, presumivelmente o escore verdadeiro de uma variável latente
subjacente aos itens. Assim, se quisermos calcular o alfa, seria útil ter um valor para
a variância total da escala e um valor para a proporção que é variância comum.
(DeVELLIS, 2012, p.37)
questionário (n=28), obtivemos um valor de 0,92 para o coeficiente, sugerindo uma nova
avaliação dos itens para uma possível redução das variáveis.
Como o valor observado de alfa de Cronbach foi acima de 0,90 pudemos pensar em
diminuir o número de variáveis, para buscar um resultado com melhor interpretação. Para tanto,
optamos por excluir alguns itens que demostraram possuir baixa consistência interna com a
amostra num todo, ou seja, baixa correlação com os demais itens. Para tanto, foram calculadas
todas as correlações (método de Pearson) duas a duas para os 28 itens. Para cada um dos 28
itens, foi calculada a média das correlações do i-ésimo item contra os demais 27 itens (𝑀𝑄𝑖 ),
conforme apresentado na Tabela 5 (Média por item). Calculamos, em seguida, a média sobre
os 28 valores de 𝑀𝑄𝑖 (𝑀𝑄 ), e o desvio padrão desses 28 itens (𝐷𝑃𝑄 ).
Uma das formas de avaliar o quanto diferentes medidas podem estar próximas ou
distantes é utilizando a nota reduzida. A nota reduzida é um artifício matemático que transforma
um conjunto de notas em um novo conjunto com média igual a zero e desvio padrão igual a um.
Aplicando esse conceito para os valores de 𝑀𝑄𝑖 obtemos a nota reduzida para cada item (𝑁𝑅𝑄𝑖 )
expressa por
(𝑀𝑄𝑖 − 𝑀𝑄 )
𝑁𝑅𝑄𝑖 =
𝐷𝑃𝑄
Um valor de 𝑁𝑅𝑄𝑖 igual a zero corresponde a uma correlação média do i-ésimo item
igual à média da correlação entre todos os itens. Dessa forma, itens que apresentaram uma nota
reduzida abaixo de menos um (-1) estão um desvio padrão abaixo da média, indicando uma
correlação muito fraca com os demais itens, podendo ser eliminados da amostra. Essa condição
eliminou os itens “eclipses”, “vida extraterrestre”, “fases da Lua”, “estações do ano” e “bóson
de Higgs”). Os dados podem ser visualizados na Tabela 4.
72
Sobre os itens excluídos, nota-se que, com exceção do “bóson de Higgs”, os demais
itens são apresentados aos alunos nas séries iniciais do EF. “Estações do ano”, “fase da Lua” e
“eclipses”, fazem parte dos temas vinculados a uma astronomia que chamamos de clássica.
Após a exclusão dos itens discutidos acima, efetuamos novamente o cálculo de alfa
de Cronbach com a amostra dos 23 itens restantes. O valor de 0,916, possibilitou-nos repetir a
busca por outros itens passíveis de exclusão e como segundo critério, optamos por realizar a
análise fatorial e retirar da amostra itens com cargas fatoriais menores que 0,40.
Dessa forma, obtivemos uma amostra formada por 21 itens cujo valor calculado
para o alfa de Cronbach foi igual a 0,90, possibilitando-nos uma nova exclusão. Porém,
realizando novamente a análise fatorial para essa nova amostra, não foram observadas cargas
fatoriais de correlação próximas ou inferiores a 0,40 não havendo assim, a necessidade da
exclusão de outros itens para compormos nossa amostra final. Os itens com suas respectivas
cargas fatoriais podem ser vistos na Tabela 6.
Fator Itens
Matéria escura,
Buraco negro,
1 Radiação solar,
Sondas espaciais,
Formação de galáxias e
Supernovas
Big-Bang;
Extinção/fim do universo,
2 Extinção do sol,
Formação da terra e
Onde nós estamos?
Sol,
Estrelas,
3 Calendários,
Lua,
Constelações e
Observação com telescópios
Viagem para Lua,
Viagem para Marte,
4 Corrida espacial e
Caminhada espacial.
Fonte: O autor.
Os itens dispostos na Tabela 7 não estão agrupados de acordo com seu perfil
epistemológico. Os fatores foram gerados estatisticamente a partir de correlações entre os
fatores e o eixo principal da distribuição de pontos da amostra. Por esse motivo, itens com um
mesmo perfil epistemológico se apresentaram em distintos fatores, como por exemplo
“estrelas”, “extinção do Sol” e “buracos negros”, itens que epistemologicamente deveriam
pertencer a um mesmo fator.
Parte do que chamamos de astronomia clássica pode ser vista nos itens que se
agruparam no Fator 3. Os itens; nos sugerem que este fator seja associado à observação direta
dos astros mencionados. Tanto a Lua como o Sol e as constelações podem ser vistas à olho nu
ou através de um telescópio. Por outro lado, podemos facilmente correlacionar os calendários
com a observação dos astros:
Podemos observar cinco planetas com os olhos nus: Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter
e Saturno, mais a Lua e o Sol. Na antiguidade, esses astros eram considerados deuses
e algumas culturas deram para cada um deles um dia da semana como homenagem.
Por esse motivo é que temos sete dias na semana. Já o mês faz referência ao
movimento de revolução que a Lua tem ao redor da Terra. Ela demora em média 29,53
dias para fazer uma volta completa, o que nos dá um mês com aproximadamente
quatro semanas. (PEIXOTO, 2012)
não souberam responder tais questionamento. Em relação aos pais, 24 % possuem ensino
superior, 29% ensino médio completo, 9,5% ensino médio incompleto, 9,5% ensino
fundamental completo e 14% ensino fundamental incompleto, sendo que 14% não souberam
informar o nível de escolaridade do pai.
Para chegarmos a tais processos, fez-se necessário uma explicação de como o Sol,
a Terra e os demais corpos do sistema solar surgiram. Para isso, tomamos a hipótese nebular de
Laplace que se apoia na possibilidade de que, há aproximadamente 4,6 bilhões de anos, um
disco de material interestelar superaquecido se condensou para formar um objeto esférico ao
qual chamamos de estrela (LIOU, 2002). Posteriormente e, segundo Horvath (2011, p.311), “a
partir do desenvolvimento substancial dos telescópios, no século 19, foi possível fundamentar
e precisar o problema da formação estelar, levando-o além de uma mera hipótese”. Mais
especificamente:
O Sol, após passar por esse processo de colapso da nuvem molecular, se tornou uma
esfera gasosa de aproximadamente 2,0x1030 kg de massa e raio de 7,0x105 km, e que possui o
hidrogênio (H) e o hélio (He) como seus principais constituintes, sendo sua temperatura
superficial efetiva próxima dos 6000 °C, aumentando a medida em que nos aproximamos de
seu núcleo (OLIVERIA FILHO, SARAIVA, 2004, p. 122).
Nosso planeta se encontra numa região privilegiada em sua órbita ao redor do Sol,
a zona habitável. A zona habitável de um sistema planetário “é a região ao redor de uma estrela
78
em que sua energia luminosa permite temperaturas suficientes para que a água se mantenha no
estado líquido, ou seja, entre 0 e 100 °C, para condições normais de temperatura” (MELLO,
2016, p.80). Porém, ainda segundo Mello (2016), não apenas a luminosidade da estrela e a sua
distância do planeta são os responsáveis pela zona habitável, mas também “a presença de uma
atmosfera com a capacidade de receber a energia luminosa estelar, transformá-la em calor e
reter esse calor na superfície” (MELLO, 2016). A esse processo damos o nome de efeito estufa.
Toda essa introdução, sobre a formação planetária e estelar, assim como a síntese
dos oceanos e da atmosfera terrestre, associamos parte do conjunto de temas dispostos nas
unidades temáticas Biosfera e Cosmosfera.
Para a análise dos dados obtidos pelos alunos através do experimento, fez-se
necessária a abordagem de alguns conceitos físicos não previstos para a grade curricular do
primeiro ano do EM: quantidade de calor (Q), potência (P) e fluxo de energia (f). Porém para o
79
entendimento dessas três grandezas, foi necessário que os alunos tomassem conhecimento do
que vem a ser a energia propriamente dita.
𝑄 = 𝑚. 𝑐. ∆𝑇 (5.1)
sendo m a massa do corpo ou objeto que se deseja obter os resultados através de medições
pontuais; c é o chamado calor específico da substância
(𝑄)
𝑃𝑜𝑡ê𝑛𝑐𝑖𝑎 (𝑃) = (𝛥𝑡) (5.2)
cuja unidade de medida no Sistema Internacional é o Watt (W), porém para a efetivação dos
nossos cálculos utilizamos caloria/minutos para posteriormente realizar as devidas conversões
entre as unidades de medida.
Para finalizarmos, sugerimos aos alunos que determinassem o fluxo de energia solar
que a Terra recebe, assim como a luminosidade recebida devido à distância que estamos do Sol.
A inserção desses cálculos, que consideramos não triviais ao nível de escolaridade, se deve ao
fato de podermos efetuar comparações da Terra com outros planetas do Sistema Solar,
principalmente no que diz respeito à zona habitável solar.
𝑃
𝑓=𝐴 (5.3)
𝐿 = 4𝜋𝑑 2 𝑓 (5.4)
sendo d a distância média da Terra ao Sol, cujo valor fornecido foi d = 150 milhões de
quilômetros.
A média dos valores obtidos pelos alunos foram f = 607 W/m² e L = 1,7x1026 W,
sendo essa diferença relacionada principalmente devido ao fato da coleta de dados ter se
realizado ao final da tarde, momento em que o Sol está relativamente baixo no céu (próximo ao
horizonte) para uma melhor configuração experimental. Outro complicador para a análise
realizada é que a própria atmosfera espalha e absorve parte da luz do Sol, sendo necessário a
introdução de correções nos cálculos realizados (HORVATH, 2013)
Calculamos, também, a energia necessária para que uma lâmpada de 100W pudesse
ficar acesa durante o período de um dia (24h) de forma a relacionar os valores obtidos com a
potência que um ser humano desprende, no mesmo período, caso sua dieta fosse rigorosamente
baseada em 2500 kcal diários. Como provocação aos alunos, foi apresentado o seguinte
questionamento:
81
Como último aporte teórico solicitamos aos grupos que elaborassem três questões
sobre a relação da energia e os alimentos selecionados durante o ano para a confecção do
cardápio escolar para que pudéssemos, num momento futuro, realizar uma entrevista com a
nutricionista da escola e retomar o conteúdo estudado.
Como sequência didática para a apresentação das aulas, havíamos optado por
trabalhar com o tema “Sol/ser humano/ ambiente”, pertencentes a unidade de estudos Biosfera,
de forma a dar continuidade aos conceitos apresentados na Tabela 2. Porém, devido ao fato da
política escolar sugerir que trabalhássemos através da apresentação de um produto final com os
alunos, optamos pela escolha e delimitação do problema que os estudantes deveriam se
desenvolver até o final da etapa de estudos dos eixos integradores.
No total foram formados quatro grupos de cinco ou seis alunos, sendo: equipe
biológicas, equipe exatas, equipe tecnologia e equipe humanas. A sugestão de uma equipe da
área de ciências sociais foi extinta, devido ao fato de não termos identificado a opção de nenhum
aluno à essa linha de trabalho.
explicativo, sugerindo para os estudantes que não ficassem tão “presos” e não se sentissem
intimidados pelo conteúdo. Após, a apresentação seguiu-se sem maiores intercorrências.
na internet sobre possíveis velocidades de aproximação da nave à Marte, assim como qual
método de pouso seria mais adequado à proposta.
Como finalização de uma das etapas de trabalho, foi solicitado aos alunos que
demonstrassem suas pesquisas através de pequenos cartazes a serem fixados na área externa da
escola, de modo a evidenciar aos demais alunos da escola o possível progresso alcançado até o
momento. Com exceção da equipe de biológicas, que realizou o plantio de batatas, as outras
três equipes realizaram a confecção e expuseram seus resultados.
4
Arduino é uma plataforma de hardware livre. É uma placa de código aberto baseado em num
circuito de entradas/saídas simples, micro controlada e desenvolvida sobre uma biblioteca que simplifica a escrita
da programação em C/C++. Fonte: https://pplware.sapo.pt/gadgets/hardware/mundo-arduino-vamos-comecar-a-
programar/
85
A equipe da tecnologia dispôs, em seu cartaz, a estrutura que acharam devida para
o foguete de viagem. Realizaram a discussão dos tipos de combustíveis viáveis, assim como o
material que deveria ser confeccionado a espaçonave.
87
Tabela 10 - Tipos de energia que os alunos determinaram como sendo viáveis para a utilização na base.
Energia Características
Solar Fácil utilização devido ao fato de Marte não estar tão
distante do Sol e ser uma energia limpa e renovável.
Utilizar os aparelhos de ginástica, tais como bicicletas
Cinética – de movimento e esteiras ergométricas para a conversão de energia
mecânica em energia elétrica.
Utilizar parte do material orgânico, (excrementos
Biomassa humanos e restos de alimentos) e que não será
utilizado como fertilizantes na plantação para a
produção de energia.
Fonte: O autor.
Foram obtidas quinze repostas, sendo que do total, onze alunos se demonstraram
interessados na montagem da bicicleta, um aluno indicou a montagem da estufa, um optou pela
montagem do Rover e os outros dois alunos decidiram pela elaboração de um manual de regras
e normas. Consideramos o fato curioso, pois mesmo os alunos tendo se dividido em grupos de
áreas distintas, a grande maioria optou pelo tema energia, tema este escolhido pelo professor
como foco principal das aulas de eixos integradores.
89
3 – Há alguma maneira, que vocês achem adequada, para reciclar água? Como?
Fonte: O autor.
Sobre os relacionamentos, apenas uma das equipes (biológicas) optou por não
aceitar tal comportamento dos ocupantes da base. As demais equipes não viram a questão como
um sério problema, porém evidenciaram a necessidade da utilização de métodos
anticoncepcionais, tais como preservativos e até mesmo cirurgias para a prevenção de gravidez
e doenças sexualmente transmissíveis. A equipe de tecnológicas ainda possibilitou, além do
relacionamento propriamente dito, a concepção de um filho por casal.
91
Devido ao fato dos alunos já terem tomado conhecimento das leis dos movimentos
planetários de Kepler, durante as aulas de física, o conteúdo foi discutido sem maiores
problemas, de modo a recordarmos os conceitos, tendo a insolação como protagonista da real
ocorrência do fenômeno (PEIXOTO, 2013; SOBREIRA, 2010), uma vez que Marte também
possui um ângulo de rotação com o plano de sua órbita ao redor do Sol (25º).
Retomamos brevemente o estudo do Sol, enquanto objeto astrofísico. Uma vez que
estabelecemos a utilização de energia solar para a manutenção da eletricidade na base, optamos
por realizar um estudo sobre a energia proveniente do Sol. Nossa estrela já havia sido alvo de
estudos, ainda no início da disciplina, restando explorar o seu interior, comparando-o à outras
92
As reações de fusão nas estrelas são divididas em dois ciclos principais, sendo o
ciclo do carbono o ciclo dominante para a geração de energia em estrelas de muita massa e o
ciclo próton-próton dominante para estrelas de baixa massa, sendo a liberação de energia desses
ciclos proporcionais a certas faixas de temperaturas nucleares, como pode ser visto na Tabela
12.
𝑀⁄
𝑀𝑆𝑜𝑙
𝑡𝑠𝑝 = 1010 𝐿⁄ .
𝐿𝑆𝑜𝑙
reciclado de outras estrelas e continuará gerando energia por mais 6,5 bilhões de anos, quando
cessará a queima do hélio em carbono, por uma reação chamada de reação triplo α:
3𝐻𝑒 4 → 𝐶 12
Segundo Souza (2004) “a teoria do Big Bang, como explicação para a origem e
evolução do universo, é o paradigma da cosmologia moderna”, sendo que:
combustível para o foguete; um pequeno Rover, que serviria de apoio à pesquisas científicas
no ambiente externo à base; um dínamo para conversão de energia mecânica (atividades físicas)
em energia elétrica; manual de regras e normas para população; cardápio com informações
nutricionais e uma maquete da estrutura da base.
Aluno 04: “As aulas do eixo são mais práticas e tem uma troca de informações
entre professor e aluno”.
Alunos 01: “Há uma diferença muito grande pois o eixo, além de proporcionar
novas visões da matéria, é um modo de estudo na qual podemos relaxar e é mais aula prática”.
Aluno 06: “A divisão das áreas de conhecimento, porque o ECN é mais vago,
enquanto física, química e biologia estudam temas separados”.
Dessa forma, a questão 01 foi relacionada às categorias “ECN tem mais aulas
práticas”; “ECN é muito superficial e as matérias isoladas são mais específicas”; “ECN engloba
mais assuntos, aprendemos juntos”; “no ECN há mais troca de informações aluno-professor”;
95
“nenhuma diferença, elas se complementam”; “não soube responder” e “em branco”. A Tabela
13 expressa os resultados percentuais relacionados as respostas obtidas através da questão 1.
Categoria Porcentagem de
respostas
ECN tem mais aulas práticas 18%
ECN é muito superficial e as matérias isoladas
são mais específicas 23%
ECN engloba mais assuntos, aprendemos juntos 32%
no ECN há mais troca de informações aluno- 9%
professor
nenhuma diferença, elas se complementam 9%
não soube responder 9%
Fonte: O autor
Analisando as Tabelas 13 e 14, notamos que apesar dos alunos sugerirem aprender
mais através das matérias isoladas, apontaram gostar mais de participar do ECN, e da disciplina
integradora. Muitas das respostas à questão 2, sobre uma maior aprendizagem nas matérias
isoladas, vieram justificadas através de afirmações do tipo: “na matéria isolada, pois é mais
focada na teoria”; “as matérias isoladas são mais teóricas”; “nas matérias isoladas, pois temos
mais conteúdo” e “nas matérias isoladas, porque tem um estudo mais aprofundado”.
Essas respostas podem sugerir uma preocupação com avaliações e testes comuns a
um sistema tradicional de ensino, onde o aluno que “aprende” é aquele que consegue obter
notas altas nas provas específicas de cada matéria e de forma isolada.
Aluno 02: “Física: decidir combustível e local de pousagem; química: saber como
iremos sobreviver lá; artes: montar a maquete”.
A Tabela 15 nos mostra quantas vezes cada disciplina foi citada na avaliação.
Lembramos que, devido ao fato de os alunos poderem citar mais do que uma disciplina por vez,
obtivemos um o total de 50 citações.
Notamos, na Tabela 15, uma maior aproximação das disciplinas de física, química,
biologia, disciplinas voltadas para a área de Ciências da Natureza. Já de uma maneira menos
incisiva, os alunos optaram por se aproximar de outras áreas do saber para uma melhor
identificação do seu produto final.
Categorias Porcentagem
Para propiciar melhores resultados no produto 57%
final
Com fórmulas e conceitos matemáticos 9%
Ajudam na resolução de problemas 15%
Ajudam a simular uma situação real 5%
Não souberam identificar 9%
Em branco 5%
Fonte: O autor
O resultado obtido através da questão 6 nos mostrou que houve, ao menos em boa
parte da amostra, um entendimento de que as diversas disciplinas e conteúdos deveriam ser
utilizados em conjunto para uma motivação em comum, nesse caso a elaboração de um produto
final como resultado de seus estudos. Nossa afirmação pode ser corroborada pelas próprias falas
dos alunos:
Aluno 12: “Com os conhecimentos obtidos nas outras matérias para execução do
produto final”.
Aluno 13: “Às vezes, um assunto que já aprendemos em outras matérias é usado
para o desenvolvimento do produto final, deixando mais fácil”.
Outro ponto de evidência é que 15% da amostra enfatizou que os conceitos, quando
utilizados de maneira integrada, podem ajudar na solução de problemas.
Categoria Porcentagem
Nada 47%
Mais foco no produto final 5%
Maior número de aulas 14%
Mais tarefas 5%
Menos tarefas 5%
Mais envolvimento dos alunos 5%
Em branco 19%
Fonte: O autor
A rede escolar ao qual a instituição faz parte, sugeriu a cada unidade que
selecionasse uma das apresentações para representar a escola perante todas as unidades do
estado. Foram selecionadas dez escolas para a publicação numa revista eletrônica de circulação
interna ao final do mês de fevereiro de 2018. O produto final “Base de suporte à vida em Marte”
foi escolhida mediante votação de professores e equipe gestora como o produto a representar a
unidade escolar perante o estado, assim como foi contemplada com a publicação na revista
digital.
4) Como se faz a integração pelo sujeito, ou quais são os processos aos quais ele
recorre?
5) A qual concepção do saber adere o educador, ou qual relação ele mantém com o
saber?
7. CONCLUSÕES
causa amedrontamento nos profissionais da educação em ciências, o que dizer de temas atuais
e demasiadamente específicos como a astrofísica e a cosmologia no cenário educacional?
Por outro lado, itens cuja temática se remeteu à vida, ao universo e às viagens
espaciais demonstraram-se de extremo interesse para os estudantes do EM. Nesse viés, o
conhecimento que acreditam estar “pronto”, por já terem discutido ao estudado em sala de aula,
pouco pareceu chamar-lhes a atenção. Isso pôde ser diagnosticado quando optamos pela análise
individual dos itens com os maiores e menores valores obtidos para suas respectivas somas e
médias Likert.
de novas pesquisas no campo de astronomia pode servir de apoio para um ensino de astronomia
não clássica e atual.
responder aos questionamentos que podem levar a uma prática integradora no Ensino de
Ciências.
8. REFERÊNCIAS
BLUM, A. Towards a Rationale for Integrated Science Teaching. In: New trends in
integrated science teaching, Paris UNESCO: P. E. Richmond (Ed.), Vol. 2, pp. 29-51, 1973
108
CASTILHO, B. V. Olhos Gigantes para o Céu. In: Alicia Ivanissevich; Carlos Alexandre
Wuensche; Jaime Fernando Villas da Rocha. (Org.). Astronomia Hoje. 1ed. Rio de Janeiro:
Instituto Ciência Hoje, 2010, v. 1, p. 28-39.
109
DAMÁSIO, B. F. Uso da análise fatorial exploratória. In: Avaliação Psicológica, 11(2), pp.
213-228, 2012
DAMINELI, A. Procura de vida fora da Terra. In: Cad. Bras. Ens. Fís., v. 27, n. Especial:
p. 641-646, dez. 2010.
DÉSERT, J.M et al. Search for carbon monoxide in the atmosphere of the transiting
exoplanet HD 189733b. In: The Astrophysical Journal, 699:478–485, 2009.
ENGELBERT, P; DUPUIS, D.I. The handy space answer book. Detroit: Visible Ink Press.,
1998.
FIELD, A. Discovering Statistics Using SPSS. 2ª. ed., London: Sage. 2005
FRAKNOI, A. The State of Astronomy Education in the U.S. In: Astronomical Society of
the Pacific, Provided by the NASA Astrophysics Data System, 1996.
GEORGE, D. & MALLERY, P. SPSS for Windows step by step: A simple guide and
reference. 4th ed. Boston: Allyn & Bacon, 2003
KLEIN, J. A. Interdisciplinary Needs: The Current Context. In: Library Trends, Vol. 45,
No. 2, pp. 134-54, 1996.
KUHN, T. S. A Estrutura das Revoluções Científicas. 9 ed, Editora Perspectiva, São Paulo,
2005.
LOPES, A. C., MACEDO, E. Teorias de Currículo. São Paulo: Editora Cortez. 2011.
MARIA, L. E. A integração das ciências da natureza no ENEM: uma análise das provas de
2009 à 2012. Tese (Doutorado) - Instituto de Física Gleb Watagin – Campinas: Universidade
Estadual de Campinas, 2016.
NASA. Probing the atmospheres of exoplanets. In: Hubble 2008: Science Year in Review,
2008.
PASACHOFF, J. M. What Shuld Students LEarn? Phases and Seasons? Is Less More or
Is Less Less? In: Astronomy Education Review, Vol. 1, n. 1, p. 124 – 130, Abr. 2002.
PEIXOTO, D. E. Como surgiram os calendários? In: Jornal mundo jovem. Ano 50, n. 423, ,
p. 7, 2012.
PETROSELLI, C.L. Science Education Issues and Developments. New York: Nova Science
Publishers, Inc, 2008.
SÃO PAULO. Currículo do Estado de São Paulo: Ciências da Natureza e suas tecnologias.
Secretaria da Educação. São Paulo: SEE, 2010.
SILVA, C. G. De Sol a Sol: energia no século XXI. São Paulo: Oficina dos textos. Série
inventando o futuro, 2010.
SMITH, M. Using space as a context for teaching Science. In: Space for education;
education for space, 93(344), 41-45, 2012.
SOUZA, R.E. Introdução à Cosmologia. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo,
2004.
TIPLER, P. A., MOSCA, G. Física para Cientistas e Engenheiros. Volume 1, 6ª ed. Rio de
Janeiro: LTRC Editora, 2008.
118
WAGA, I. Cem anos de descobertas em cosmologia e novos desafios para o século XXI.
In: Revista Brasileira de Ensino de Física, v 27, n. 1, p. 157 – 173, 2005.
ZILIO, S. C. Ótica Moderna. Instituto de Física de São Carlos. Universidade de São Paulo,
320pp. 2009.
119
9. APÊNDICES
Comitê de Ética
Você está sendo convidado a participar como voluntário de uma pesquisa. Este
documento, chamado Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, visa assegurar seus direitos
como participante e é elaborado em duas vias, uma que deverá ficar com você e outra com o
pesquisador.
Por favor, leia com atenção e calma, aproveitando para esclarecer suas dúvidas.
Se houver perguntas antes ou mesmo depois de assiná-lo, você poderá esclarecê-las com o
pesquisador. Se preferir, pode levar este Termo para casa e consultar seus familiares ou outras
pessoas antes de decidir participar. Não haverá nenhum tipo de penalização ou prejuízo se você
não aceitar participar ou retirar sua autorização em qualquer momento.
Justificativa e objetivos:
Sendo a astronomia uma ciência que pode servir de motivador para um ensino
de ciências mais próximo da ciência moderna, realizada em centros de pesquisa e universidade,
achamos conveniente explorar o tema afim de propor melhorias significativas na maneira em
que o professor instrui seus alunos, seja na compreensão de fenômenos vivenciados em nosso
cotidiano, na confecção de materiais didáticos de melhor qualidade ou mesmo numa proposta
curricular mais abrangente e eficaz. Assim, a justificativa pela escolha do tema de interesse e
da área de trabalho, astronomia e formação de professores, respectivamente se dá através da
proposta de um trabalho inter e multidisciplinar com possíveis repercussões acadêmicas
relevantes no âmbito da educação nacional, tendo como objetivos:
Procedimentos:
Observações:
Desconfortos e riscos:
Benefícios:
Acompanhamento e assistência:
Sigilo e privacidade:
Você tem a garantia de que sua identidade será mantida em sigilo e nenhuma
informação será dada a outras pessoas que não façam parte da equipe de pesquisadores. Na
divulgação dos resultados desse estudo, seu nome não será citado.
121
Ressarcimento e Indenização:
Contato:
Contato telefônico:
_____________________________________________________________
e-mail (opcional):
______________________________________________________________
Data: ____/_____/______.
_________________________________________________________
Responsabilidade do Pesquisador:
Data: ____/_____/______.
____________________________________________________
(Assinatura do pesquisador)
123
Nenhum Interesse
Você está recebendo um
Algum Interesse
Pouco Interesse
Muito Interesse
questionário sobre temas de
Astronomia. Para preenche-lo, basta
responder a seguinte pergunta:
Formulário Professor
Anexo IV – Observação dos grupos
Eixo: Data:
Membros do Grupo:
Considerações
125
O que aprendi:
O que concluí:
5 – Qual o fluxo de energia solar, ou seja, a potência dividida pela área coletora?
𝑃
𝑓=
𝐴
Conversão de unidades: 1cal/min = 1/15 W e cm² = 10-4 m²
6 – Calcule a luminosidade do Sol a partir do valor da constante solar determinada
anteriormente.
L = 4πd²f, sendo que d = 149.597.870 km, a distância média da Terra ao Sol.
127
Cardápio
Caldo de berinjela com grão de bico. Frozen iogurte de manga com morango.