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Art Fisica Quadrinhos

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HISTÓRIAS EM QUADRINHOS PARA ENTENDER FÍSICA: uma

proposta interativa e de criação.

Deisi Vânia de Lima Horn


Orientadora Prof. Dr. Maysa de Lima Leite

Resumo: Este artigo tem por objetivo investigar a utilização do recurso história em quadrinhos e
tirinhas no ensino de ciências, numa proposta interdisciplinar com língua portuguesa e arte, com
abordagem interpretativa e criativa na busca pelo conhecimento significativo. A metodologia utilizada
é a da pesquisa-ação e envolve um público-alvo de alunos de 9º ano do ensino fundamental II. Os
estudantes participantes da pesquisa desenvolveram atividades experimentais de conteúdos
relacionados à física e frequentaram duas oficinas de criação de histórias em quadrinhos, onde
puderam aplicar os conhecimentos científicos e linguísticos na criação de histórias próprias, através
desta forma de manifestação artística. Observou-se que a utilização dessa metodologia de ensino
pode motivar o estudante na busca pelo conhecimento científico, tornando-o mais próximo de sua
realidade, colaborando na resolução de problemas, no entendimento das situações do cotidiano,
sendo uma forma de expressão criativa, além de poder ser utilizado pelo professor como um
instrumento de avaliação da aprendizagem.

Palavras-chave: Ensino de física; tirinhas; metodologia; interdisciplinaridade.

Introdução

Na atualidade, é possível perceber que a aprendizagem dos conteúdos


científicos, principalmente de física, sofre um constante desinteresse, por serem
considerados difíceis, o que por si só já é razão de desmotivação dos alunos. Para
romper esse obstáculo, o ensino de Ciências precisa ser significativo. Um dos
possíveis encaminhamentos para que isso se efetue é o uso de tirinhas e histórias
em quadrinhos, que permitem despertar a curiosidade e a criatividade dos
estudantes.
Para OLIVEIRA (2005, p. 19), o uso de quadrinhos traz várias vantagens
para o ensino de ciências, pois sua linguagem é de fácil compreensão, seu apelo
visual é grande e o seu tempo de leitura é compatível com o ‘tempo fragmentado
dos clips’, ou seja, sua leitura é muito rápida e dinâmica.
Nesse sentido, pretendeu-se com a linha de estudo “Fundamentos e
encaminhamentos metodológicos para o ensino de ciências”, aprofundar o
conhecimento sobre a utilização das histórias em quadrinhos no ensino de ciências
dos conteúdos relacionados à física e perceber qual a influência dessas no
aprendizado na disciplina de ciências.
A pesquisa teve como objetivo geral possibilitar aos estudantes a reflexão
acerca dos conteúdos de física, a partir de uma proposta interativa através do
estudo e criação de tirinhas e histórias em quadrinhos. Além disso, pretendeu-se
despertar o interesse dos estudantes pelo conhecimento científico, ampliar o
conhecimento dos estudantes a respeito dos fenômenos físicos e sua inter-relação
com os fenômenos químicos e biológicos, relacionar as histórias em quadrinhos com
situações do cotidiano e analisar histórias em quadrinhos e tirinhas, baseando-se no
conhecimento científico implícito bem como motivar os estudantes para produzirem
suas próprias histórias em quadrinhos e tirinhas com temas dos conteúdos de física.

Revisão de literatura

Cabe a nós educadores pesquisadores, perguntar-nos o porquê de ensinar


aquilo que ensinamos. Sob essa perspectiva o ensino de ciências deve levar em
consideração o fato de que, segundo CHASSOT (2003 p. 91):

Ciência pode ser considerada como uma linguagem construída pelos


homens e pelas mulheres para explicar o nosso mundo natural.
Compreendermos essa linguagem da ciência como entendemos algo escrito
numa língua que conhecemos, por exemplo, quando se entende um texto
escrito em português, é podermos compreender a linguagem na qual está
sendo escrita a natureza.

Segundo as Diretrizes Curriculares da Educação Básica (DCE’s) de ciências


do Estado do PARANÁ (2008 p. 22), o currículo da educação básica deve oferecer a
formação necessária para o enfrentamento com vistas à transformação da realidade
social, econômica e política de seu tempo.
Ciência é o conhecimento adquirido através de observações,
experimentações e processado pela reflexão e interpretação de dados, dando-lhe
sentido. Para KNELLER (1980) e ANDERY et al. (1998) apud PARANÁ (2008 p. 41),
a ciência é uma atividade humana complexa, histórica e coletivamente construída,
que influencia e sofre influências de questões sociais, tecnológicas, culturais, éticas
e políticas.
Nesse sentido, entende-se que a visão de mundo, a influência antropófica no
ambiente, as decisões sobre suas ações e a qualidade de vida que se busca são
elementos necessários para uma melhor convivência em sociedade. Isso depende
da visão globalizada do conhecimento.
CHASSOT (2003 p. 91) nos diz ainda que entender a ciência nos facilita,
também, contribuir para controlar e prever as transformações que ocorrem na
natureza. Assim teremos condições de fazer com que essas transformações sejam
propostas, para que conduzam a uma melhor qualidade de vida.
Nesta premissa, como nos aponta MISTURA, TRES e VANIEL (2011 p. 3), o
ensino de ciências precisa ser desmistificado como um saber abstrato e repleto de
fórmulas aparentemente sem objetivos, demonstrando sua presença e como ela
explica os fenômenos presenciados no cotidiano, através do uso de novas
metodologias, tornando o saber significativo.
As DCE’s do PARANÁ (2008 p. 23) apontam que a produção científica, as
manifestações artísticas e o legado filosófico trabalhados em conjunto, possibilitam a
totalidade do conhecimento. Assim, ainda nas DCE’s vemos que a escola é um
espaço de confronto e diálogo entre os vários conhecimentos, sistematizados ou
empíricos.
A interdisciplinaridade deve ser buscada pelos educadores como uma
proposta para que se concretize uma inter-relação entre as diversas disciplinas
escolares, possibilitando que as correlações entre o conhecimento se deem de
forma mais concreta, tornando a aprendizagem significativa. Como afirma MELLO,
DALLAN e GRELLET (2004 p. 60):
O mundo não é disciplinar. Para podermos dar conta de sua complexidade,
dividimos o conhecimento sobre o mundo em disciplinas. Porém, para que o
conhecimento sobre o mundo transforme-se em conhecimento do mundo,
isto é, em competência para compreender, prever, extrapolar, agir, mudar,
manter, é preciso reintegrar as disciplinas em um conhecimento não
fragmentado. É preciso conhecer os fenômenos de modo integrado, inter-
relacionado e dinâmico.

Conforme reitera KINDEL (2012 p. 21) conhecimentos isolados e abstratos


pouco envolvem os estudantes na aprendizagem. A autora nos aponta ainda que
para conhecer o todo, tão ou mais importante do que conhecer as partes é conhecer
a relação entre elas.
Para que a aprendizagem se concretize, ela deve ser significativa, isto é,
estar relacionada com suas experiências prévias e que possam ser acessadas e
interligadas com novos e antigos conhecimentos, e que importância isso terá na vida
do cidadão. Por isso a necessidade de um currículo que se preocupe com o
entendimento desses conhecimentos prévios, da contextualização e integração entre
eles, do protagonismo juvenil e da tríade expressividade, criatividade e ludicidade,
conforme nos aponta KINDEL (2012 p.48-49).
Como observa SANTOS (2012 p. 48) a atividade didática por si só não
garante a aprendizagem, mas é desencadeadora da interação professor-aluno,
possibilitando a motivação para alcançar o conhecimento.
As histórias em quadrinhos e tirinhas são um importante meio de ensino por
serem uma metodologia ativa, que desperta o interesse dos estudantes e os permite
manipular a informação e criar a partir do que aprenderam, tornando esse
aprendizado significativo. Isso se deve ao fato de que, segundo ARAÚJO (2013 p.
300):
Ao trabalhar com quadrinhos na sala de aula os alunos podem ter a
capacidade de conseguir selecionar elementos visuais presentes nessa
linguagem artística, determinando melhores condições para se comunicar
com o mundo a sua volta. Podem ainda aplicar conceitos que contribuem
para o processo de ensino e aprendizagem, utilizando a linguagem
sequencial de uma forma mais dinâmica e criativa. Por isso, entendemos
ser importante conhecer os elementos que compõem a linguagem visual
das histórias em quadrinhos.

Como nos aponta ARAÚJO (2013 p. 293) a linguagem está diretamente


ligada ao ato de comunicar-se com o outro, transmitindo ou assimilando informações
e experiências que podem ser individuais ou coletivas. Para ARAÚJO, COSTA e
COSTA (2008 p. 34) a função grandiosa das histórias em quadrinhos é a de procurar
oferecer imagens que apresentam e representam as coisas e objetos de forma
concreta oferecendo condições para o desenvolvimento cognitivo.
Segundo EISNER (1989 p. 8) a leitura de revista de quadrinhos é um ato de
percepção estética e de esforço intelectual. Para WOLF (1977) apud Eisner (1989
p. 8):
A leitura de palavras é apenas um subconjunto de uma atividade humana
mais geral, que inclui a decodificação de símbolos, a integração e a
organização de informações... Na verdade, pode-se pensar na leitura — no
sentido mais geral — como uma forma de atividade de percepção. A leitura
de palavras é uma manifestação dessa atividade; mas existem muitas
outras leituras — de figuras, mapas, diagramas, circuitos, notas musicais…

EISNER (1989 p. 13) nos aponta ainda que para que sua mensagem seja
compreendida, o artista sequencial deverá ter uma compreensão da experiência de
vida do leitor. É preciso que se desenvolva uma interação, porque o artista está
invocando imagens armazenadas nas mentes de ambas as partes.
Segundo ARAÚJO (2013 p. 314) as histórias em quadrinhos podem ser um
importante recurso metodológico, pois possuem uma linguagem bastante próxima ao
universo do jovem e permite trabalhar conceitos referentes ao conteúdo curricular.
Há que se refletir sobre a maneira de utilizar as histórias em quadrinhos no
ensino de ciências. Sobre isso BANTI (2012 p. 27) afirma que as HQ,
ao provocarem situações problemas seguidas intencionalmente e
implicitamente, da resolução daquelas, ou seja, após o contato com o
conteúdo abordado, os alunos são provocados a solucionarem esses
problemas, de acordo com a mediação do professor.

O cuidado com o planejamento para a utilização das histórias em quadrinhos


na sala de aula é apontada por LUYTEN (2011 p. 26) pois eles têm o objetivo de
ajudar, motivar e estimular o aluno a desenvolver habilidades, além de ensinar de
forma lúdica. Deve-se levar em conta ainda os objetivos da utilização dos
quadrinhos, que devem ser claros. Para a autora, pelo fato de eles serem uma
representação visual do conhecimento, mostram o essencial, são de fácil
memorização e ajudam na organização desse conhecimento além de enriquecerem
a leitura, a escrita e o pensamento.

Metodologia

O método de pesquisa utilizado foi pesquisa-ação, pois envolve participação e


colaboração entre pesquisadores e pesquisados. Para THIOLLENT (2008 p. 16) é:
Um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada
em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema
coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes representativos da
situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou
participativo.

O trabalho teve como público alvo alunos de duas turmas do 9º ano da Escola
Estadual Professora Hália Terezinha Gruba durante os meses de fevereiro, março e
abril do ano de 2017, com carga horária mínima de 64 horas, entre planejamento,
oficinas, confecção das histórias em quadrinhos, utilização de recursos tecnológicos
e aulas que abordaram o conteúdo curricular de física.
O projeto se desenvolveu de forma interdisciplinar com as disciplinas de
língua portuguesa e artes.
Durante a primeira etapa foi feito um levantamento bibliográfico e
aprofundamento de estudos considerando o tema abordado, com leituras seletivas,
analíticas e interpretativas.
A segunda etapa ocorreu com a confecção da produção didático-pedagógica
a partir da exploração das histórias em quadrinhos, das metodologias ativas e da
interdisciplinaridade, utilizando-se as histórias em quadrinhos como motivação, na
resolução de problemas e também como instrumento avaliativo.
Na terceira etapa se deu a implementação da produção didático-pedagógica
na escola e a aplicação do grupo de trabalho em rede (GTR), com coleta de dados.

Resultados e discussão

O ensino de física na disciplina de ciências necessita de novas metodologias,


que interajam com o cotidiano do estudante, tornando-o significativo. Um grande
número de insucessos na aprendizagem, observados através de dados de conselho
de classe, se deve a esses conteúdos, sendo a disciplina de ciências no nono ano
uma das que mais reprova, junto com as disciplinas de matemática e português.
Esse problema necessita de uma busca por soluções. Assim, a metodologia de
histórias em quadrinhos, como motivadora da aprendizagem, na resolução de
problemas e como instrumento de avaliação, pode ser um caminho valioso.
As unidades 1 e 2 do caderno pedagógico foram desenvolvidas com todos os
alunos e percebeu-se que a utilização das atividades de experimentação e
subsequente reflexão sobre os resultados promoveram um aprendizado significativo,
por estar embasado na reformulação de conceitos e interligado com as situações do
cotidiano dos estudantes, como a densidade de líquidos utilizados na alimentação, o
princípio da inércia aplicado às situações comuns no trânsito e a tensão superficial
nos líquidos.
FIGURA 1 - Atividades práticas de propriedades da matéria e inércia. Da autora, 2017.

Notou-se que a interdisciplinaridade e a possibilidade do uso da criatividade


para aprender física de uma maneira diferente, contextualizando-a com a vivência
diária dos estudantes, permitiram que estes ficassem mais motivados e que fossem
muito receptivos com a proposta em todos os estágios da implementação,
especialmente na oficina da unidade 3, que teve a colaboração da professora de
língua portuguesa, auxiliando na elaboração dos roteiros das histórias em
quadrinhos. Os estudantes, durante a realização das oficinas, questionaram várias
vezes acerca dos conceitos estudados, tirando dúvidas para poder utilizar o
conhecimento na construção das HQ’s. Alguns inclusive procuraram um
aprofundamento do conteúdo, fazendo uso de ferramentas de busca na web e até
assistindo vídeo aulas nesse intuito.
Os estudantes participantes das atividades desenvolvidas neste PDE
relataram haver a necessidade de compreensão do conteúdo para que as histórias
fossem construídas e adquirissem um sentido. Além disso, para alguns, o uso do
humor torna mais divertido a interação com aquilo que se aprende. Para eles, várias
disciplinas, como geografia, história, português e matemática podem utilizar as
histórias em quadrinhos como metodologia.
As histórias em quadrinhos, com uma linguagem específica, podem ser
trabalhadas dentro de uma proposta interdisciplinar com as disciplinas de português
e artes, possibilitando uma visão globalizada do conhecimento, o que pode tornar o
aprendizado mais amplo e efetivo, possibilitando despertar o interesse pelo
conhecimento científico e a criatividade, bem como aumentar as correlações com o
conhecimento prévio, tornando o saber significativo.

Figura 2- Estudantes experimentando materiais próprios para gravuras e fazendo diagramação e


esboço de roteiro para HQ’s. Da autora, 2017.

Durante a confecção das histórias em quadrinhos pelos estudantes, pode-se


observar a presença de conceitos aplicados às situações do cotidiano, como nos
exemplos a seguir:

Figura 3 - Aluna A.G. H. fazendo a correlação entre efeito estufa global e uma estufa de plantas.
Figura 4 - Aluno S.G.J. relacionando a utilização de utensílios para cozinha com a termologia.
Figura 5 - Aluna J.R.S. aplicando a inércia à situação de locomoção.

Alguns alunos usaram uma linguagem didática na construção da história em


quadrinhos explicando, através do personagem, termos científicos estudados nas
aulas de ciências, como no exemplo:

Figura 6 - Aluno J.G.C.P. explicando a transferência de calor.


Outros abordaram os conceitos científicos utilizando o humor das situações
cotidianas, bem como o uso incorreto de termos científicos, como no trecho abaixo:

Figura 7 - Aluna D.A.M.R. demonstrando a confusão com os termos calor e temperatura.


Algumas histórias usaram conceitos e lendas da história da ciência discutidas
em sala de aula, como nesta HQ:

Figura 8 - Aluna A.G.J. Após um acidente com uma maçã, um estudante acredita ser o próprio Isaac
Newton.
Na oficina de utilização do software toondoo, os estudantes puderam
experimentar as mais variadas ferramentas disponíveis. Alguns refizeram a história
que já haviam feito à mão usando o site, como no exemplo abaixo:

Figura 9 - Aluna M.L.F. – Abelha Vincent sofrendo os efeitos da força no princípio da inércia.
Para alguns participantes da oficina de utilização de softwares na construção
de história em quadrinhos a experiência foi valiosa, pois as ferramentas são muito
variadas e facilitam o processo para aqueles que dizem não possuir talento para
desenho, além da praticidade proporcionada pelo site. Outros, no entanto, relataram
que a funcionalidade do site não era boa e que tantas opções acabavam
confundindo, sendo difícil o manuseio. Outros ainda preferem desenhar, por ser
mais simples, fácil e divertido, apesar de o software ajudar a visualizar as
proporções e diagramação das histórias em quadrinhos.
Durante a implementação das atividades propostas na produção didático
pedagógica, todas as ações previstas foram realizadas, porém, alguns obstáculos
foram observados: dificuldades financeiras em relação à compra de materiais
específicos para ilustração das histórias em quadrinhos, o uso compartilhado do
laboratório de informática e o número reduzido de computadores, obrigando os
estudantes a utilizarem os mesmos em conjunto durante a oficina da unidade 4 do
caderno pedagógico e a disponibilidade dos alunos para as oficinas em contraturno,
alcançando apenas uma parcela deles.
Para as professoras inscritas no Grupo de Trabalho em Rede (GTR)
vinculado a este PDE, as histórias em quadrinhos são um recurso pedagógico muito
rico, que envolve processos mentais variados, utilizando imaginação e criatividade,
além do conhecimento científico previamente adquirido. Este recurso também
possibilita a valorização das situações do cotidiano, a capacidade de imaginar e
responder a situações-problema, partindo do lúdico, informando, divertindo e
garantindo um conhecimento global do assunto estudado. No entanto, deve ser uma
prática muito bem planejada para que seu desenvolvimento seja, de fato,
significativo. Para que isso ocorra, deve-se possuir uma boa fundamentação teórica
e a capacidade de fazer a transposição didática, aproximando o conteúdo às
situações de vida do estudante.
Durante os fóruns do GTR, vários pontos foram abordados, como as
dificuldades em relação ao material didático e laboratórios de informática, as
estatísticas em relação ao baixo aproveitamento dos alunos em relação à disciplina
de ciências, principalmente dos conteúdos de física e a importância da
interdisciplinaridade para que o conhecimento seja mais amplo e os conteúdos
melhor compreendidos. A linguagem das histórias em quadrinhos, segundo estes
professores, pode servir como ponte entre o conteúdo considerado difícil e o
estudante, gerando situações de debates, pesquisas e trabalho coletivo.
Outra dificuldade apontada pelas professoras é a articulação com
professores de outras áreas, levando em consideração que raramente os horários
de hora-atividade são compatíveis, além das demandas de trabalho e carga horária
muito extensa. Porém todas afirmaram que as histórias em quadrinhos podem ser
um recurso bem aproveitado em sala de aula, desde que haja adaptações, como o
uso de material comum (papel e lápis) e não exigência de uso de softwares por
exemplo.

Considerações finais

Dentro da realidade escolar, é necessário cada vez mais se aproximar do


estudante de modo a desenvolver uma afetividade, tanto entre os agentes do
processo ensino-aprendizagem, como entre os estudantes e o conhecimento
científico. A linguagem científica não pode ser elevada a um patamar elitizado,
distante da vida cotidiana do aluno. Através de elementos lúdicos, como as histórias
em quadrinhos, é possível alcançar uma expressividade que possibilite aos
adolescentes uma interação entre essa linguagem, com a qual estão familiarizados,
e o conhecimento científico ao qual apresentam resistência, além de servir como um
fator de aproximação com o professor e os colegas.
As estratégias utilizadas mostraram-se adequadas, levando os estudantes a
demonstrar interesse em aprofundar o conhecimento científico, principalmente no
embasamento teórico dos conteúdos de física trabalhados, possibilitando que as
histórias em quadrinhos construídas por eles fossem uma maneira de mostrar aquilo
que aprenderam, podendo ser utilizadas também na avaliação da aprendizagem.
Ao relacionar as várias situações do cotidiano com o conhecimento teórico, o
estudante pode perceber mais globalmente o conhecimento e as diversas maneiras
de reagir frente a problemas comuns do dia a dia, possibilitando compreender que
os fenômenos químicos, físicos e biológicos, apesar das divisões para fins de
estudo, fazem parte de um todo.
As histórias em quadrinhos mostraram-se, neste estudo, um recurso que
favorece a apropriação do conhecimento e da linguagem científicos, através da
aproximação com situações do cotidiano, da expressão artística, da interação entre
as disciplinas escolares e do fazer pedagógico. Cada vez que o estudante é
instigado a interpretar ou construir uma história em quadrinhos, o conjunto de
saberes que ele necessita lançar mão permite que seu aprendizado seja significativo
e que se possa responder àquele questionamento que o professor sempre escuta:
“por que aprender isso?”.

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