Poemas de Guilherme de Almeida
Poemas de Guilherme de Almeida
Poemas de Guilherme de Almeida
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Versos Escolhidos
Guilherme de Almeida
Arco-Íris: 2- Azul
Primavera.
Um pedaço de céu caiu na terra:
em tufos fofos de flocos frouxos frívolas hortênsias
volantes como crinolinas fúteis
desmancham-se em reverências
ou passeiam como sombrinhas lindamente inúteis
ou pousam empoadas de ar como pompons. O céu
é um grande linho muito passado no anil
que o vento enfuna num varal de vidro. Ele é o
toldo azul de um bazar
onde brinca vestido de ar
um clown elástico, ágil e sutil.
Lembrança
Natureza-Morta
Na sala fechada ao sol seco do meio-dia
sobre a ingenuidade da faiança portuguesa
os frutos cheiram violentamente e a toalha é fria
e alva na mesa.
Cubismo
Um Arlequim feito de cubos
equilibrados:
trinta losangos arranjados
sobre dois tubos.
— Ele talvez
jogue xadrez...
Branca de neve
Eu te guardo no fundo da memória,
como guardo, num livro, aquela flor
que marca a tua delicada história,
Branca de Neve, meu primeiro amor.
Amor, felicidade
Berceuse
Durma! A noite suave e grande
Roçar as asas um ar de
A Adormecida no Bosque
Nunca escutou no seu sono...
Cinema
Na grande sala escura,
só teus olhos existem para os meus:
olhos cor de romance e de aventura,
longos como um adeus.
Um cordão de silhuetas
escapa desses olhos que, afinal,
são dois carvões pondo figuras pretas
sobre um muro de cal.
E uma gente esquisita,
em torno deles, como de dois sóis,
é um sistema de estrelas que gravita:
— são bandidos e heróis;
***
Alguém passou
Faz frio.
Corre pelo meu corpo um áspero arrepio...
E um desejo me vem, tímido e louco,
de agasalhar-me um pouco
nesse manto de sombra morna...
Mas alguém
volta na noite pálida:
volta para buscar sua sombra esquecida.
É dia. E, pela estrada melancólica e árida,
vai tremendo de frio a minha vida...
Nós
O Idílio suave
Metempsicose
Morrer… Pelos caminhos
ir branco, ir muito frio, ir de roupinha nova,
as mãos em cruz, o olhar de vidro os pés juntinhos:
ir assim para a cova!
Depois, a sepultura:
sair de um leito pobre e de colchões macios,
para um de pedra, rico… Ah! mas que cama dura
e que lençóis tão frios!
Minha mãe
Indiferença
Flor do Asfalto
Mormaço