La 01864
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Revista Universal Lisbonense. Segunda série. Tomo IV. Undecimo anno: 1851 – 1852, p. 298.
Disponível em http://books.google.com.br/books?id=xrEDAAAAYAAJ&. Acesso em 12 jul. 2009.
Dicionário de Símbolos, de Juan-Eduardo Cirlot (1984, p. 256), verifica-se que “a
flor, por sua natureza, é símbolo da fugacidade das coisas, da primavera e da
beleza”; idéias que contrastam com a de dor (sofrimento, nostalgia, desesperança).
A alegria é passageira, cedendo lugar ao desgosto; demonstrando, conforme
denuncia a crítica, a existência desses dois sentimentos contraditórios no âmago
de qualquer ser humano.
Ainda nessa camada, é possível anotar a menção a várias teorias e seres
mitológicos, tais como a referente ao Orpheu (poeta e músico, filho de Apolo e
Calíope) e à “theoria pindarica dos illustres filhos de Apollo” 2. Essa característica
de fazer apontamentos à mitologia é predominante no Arcadismo, período que se
estende de 1756 a 1825 e cujo nome “foi inspirado em Arcádia; região da Grécia
onde, segundo a mitologia, pastores e poetas viveriam uma existência de amor e
poesia. Por isso é também comum no Arcadismo a referência a seres da mitologia
clássica, tais como ninfas, deuses etc.” (TUFANO, 1995, p. 55). Observa-se que
esse fato pode indicar que o autor da crítica, embora não identificado, seja
influenciado pela escola arcadista.
Nessa linha, destaca-se também o chamado estrato fônico, constituído
pelos fonemas, sonoridades verbais, orações, rimas, ritmo, ecos etc. Nota-se que a
crítica tece vários comentários sobre, especialmente, as rimas das poesias de
Zaluar.
Já quando a crítica questiona o significado de determinadas palavras,
está penetrando no estrato das objetividades apresentadas, constituído pelo que é
imageticamente construído na obra, ou seja, o universo imaginário do poema
(seres, espaço, tempo, ambientação etc.). Por exemplo, ao indagar o que é uma
múmia de humano cinzel em “Jerusalem” e ao dizer que desconhece a real
conceituação de vaga amante em “Ao deixar Portugal”.
Outro aspecto relevante é a visão da crítica sobre o Romantismo: “Por
estas phrases [...] vê-se que o Sr. Zaluar é um poeta alistado na escola
sentimentalista”. Esse movimento literário apresenta um conjunto de características
que permeiam suas obras, e uma delas é justamente o exagero sentimental e
melodramático em associação com um ponto de vista pessimista, ao invés da
racionalização e da objetividade. “O egotismo e o sentimentalismo sem peias são
as notas dominantes; o tédio, a melancolia, o sonho, a Idade Média, o soturno e o
funéreo são os temas preferidos” (MOISÉS, 1994, p. 57).
A crítica largamente tece comentários desfavoráveis aos tons de
lamentação e de desilusão dos poemas de Zaluar: “Note-se, porém, que em quanto
o poeta se limitar a tanger essa corda única, por mais suave e melodiosa que ella
seja, embora se chame Chateaubriand ou Lamartine, cahirá irremediavelmente
n’uma enfadonha monotonia, n’uma repetição escusada das mesmas
lamentações”.
Dessa forma, a “corda única”, ou seja, o sentimentalismo é indício de
monotonia e tédio para o crítico, ainda que seja proveniente de escritores
reconhecidos, como Chateaubriand ou Lamartine. Esse pensamento está em
sintonia com o que defende Salete de Almeida Cara (1989, p. 30, grifo da autora):
“Por esse caminho a poesia romântica pode correr o risco de transformar-se num
mero balbucio emotivo, sufocado na esfera pessoal, e o texto seria apenas
expressão dessa emotividade (a função emotiva da linguagem)”.
2
Esclarece-se que todas as citações realizadas ao longo do texto e que não estão referenciadas
pertencem à crítica literária publicada no jornal O Pelotense, 1852.
Em História da literatura brasileira, José Veríssimo (1969, p. 11)
desconsidera Zaluar como um autor de literatura brasileira, afirmando que:
Referências Bibliográficas
BARBOSA, Socorro de Fátima Pacífico. Jornal e literatura: a imprensa brasileira no
século XIX. Porto Alegre: Nova Prova, 2007.
3
ZALUAR, Emílio Augusto. Dores e flores. Rio de Janeiro: Typographia de F. de Paula Brito,
1851, p. 36.
C. Crítica Litteraria: Dores e flores. Revista Universal Lisbonense. Lisboa, 29 jan.
1852, p. 294 – 298. Disponível em
http://books.google.com.br/books?id=xrEDAAAAYAAJ&. Acesso em 12 jul. 2009.
CARA, Salete de Almeida. A poesia lírica. São Paulo: Ática, 3ª edição, 1989.
MOISÉS, Leyla Perrone-. Texto, Crítica, Escritura. São Paulo: Ática, 1978.
SOARES, Angélica M. Santos. A crítica. In: Samuel, Rogel (org.). Manual de teoria
literária. Petrópolis: Vozes, 1984.
TEIXEIRA, Ivan. Anatomia do crítico. Cult. São Paulo, n. 11, jun. 1998, p. 36-41.