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Terra Santa

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Parte 1

Geografia da Terra Santa


1
O mundo bíblico

“C oroa de todas as terras.” Foi com essa expressão que Deus


se referiu duas vezes à terra de Israel em Ezequiel 20.6,15:

Naquele dia, levantei-lhe a mão e jurei tirá-los da terra do Egito


para uma terra que lhes tinha previsto, a qual mana leite e mel, coroa
de todas as terras. [...] Demais, levantei-lhes no deserto a mão e jurei
não deixá-los entrar na terra que lhes tinha dado, a qual mana leite e
mel, coroa de todas as terras.

Ao lançar mão dessa rica expressão, Deus indicou dessa manei-


ra a centralidade, a posição geográfica e a magnífica importância
de Israel entre as nações.
O escritor Werner Keller descreve o mundo bíblico de então e
destaca a Palestina como um centro de luz para a humanidade,
como se estivesse confirmando a expressão bíblica “coroa de to-
das as terras”:

Se traçarmos uma linha curva a partir do Egito, passando pela


Palestina e a Síria mediterrâneas, seguindo depois até o Tigre e o
Eufrates, através da Mesopotâmia, e descendo até o Golfo Pérsico,
teremos uma meia-lua razoavelmente perfeita.
Há quatro mil anos, esse poderoso semicírculo ao redor do deser-
to da Arábia — denominado Crescente Fértil — abrigava grande nú-
mero de culturas e civilizações, ligadas umas às outras como pérola
de rutilante colar. Dela irradiou luz clara para toda a humanidade. Ali
foi o centro da civilização desde a idade da pedra até a idade do ouro
da cultura greco-romana.1

1
KELLER, Werner. E a Bíblia tinha razão. 20.a São Paulo: Melhoramentos, 1992, p. 23.
GEOGRAFIA DA TERRA SANTA E DAS TERRAS BÍBLICAS

Os cartógrafos medievais representavam o mundo por um círculo,


com Jerusalém no centro. Veja:

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O MUNDO BÍBLICO

A distância máxima para os países da periferia é de 2.400 km


(alguns estão mais próximos). À primeira vista, a ideia parece-nos
infantil, pois quando examinamos geograficamente a terra de Canaã,
ela não é nem pode ser o centro do mundo. Contudo, quando o exa-
me se faz pelo curso dos acontecimentos, essa conclusão é inevitá-
vel. Além disso, se um cartógrafo moderno limitasse o mundo ao
Fértil Crescente, veria Canaã como o centro do mundo. Veja o que
diz sobre isso o dr. James McKee Adams, ex-professor de Arqueolo-
gia Bíblica do Southern Baptist Theological Seminary, de Louisville,
Kentucky:

Um círculo que tivesse um raio de 1.500 milhas e cujo centro


fosse Jerusalém não incluiria todos os países principais mencionados
no Antigo e Novo Testamentos, mas, também, o território duma vas-
ta extensão nunca relacionado com o povo de Israel. A parte ociden-
tal desse círculo incluiria Roma, a capital dos Césares; a parte orien-
tal circundaria Caldeia, a Pérsia, a Média e a Cítia; na parte meridio-
nal cairiam toda a Península da Arábia e as regiões inexploradas da
Etiópia. Uma linha similar no norte abrangeria terra de que nada se
sabia, mesmo até à Monarquia Hebraica, porque o horizonte do mun-
do Hebraico apenas atingia as praias do Ponto Euxino e as alusivas
terras dos heteus na Ásia Menor. Num círculo restrito, outras impor-
tantes relações apareceriam. Atenas, por exemplo, não distava de
Jerusalém, mais do que Ur dos Caldeus; Tebas e Babilônia ficavam a
igual distância de Jerusalém; Mênfis, sobre o Nilo, e Hamate, sobre o
Orontes, eram localizadas somente a 300 milhas da Cidade de Davi,
enquanto quase em direção a oeste, praticamente à mesma distância
ficava Alexandria, fundada pelo grande Macedônio, que nela vira a
possibilidade dum império para três continentes. Damasco, a mara-
vilhosa cidade dos oásis, a dádiva do monte Hermom, o deserto da
Síria, achava-se situada a 160 milhas a nordeste de Jerusalém e era,
ao mesmo tempo, ponto de partida e final de toda via oriental. Final-
mente, dentro do percurso dum circuito semelhante ficavam as fron-
teiras da Terra de Gósen, no Egito, o deserto de Parã, na península de
Sinai e Selá (Rocha), fortaleza dos filhos de Esaú, no monte Seir.
Entretanto, em todas essas relações geográficas, a coisa mais impor-
tante não é a questão de Roma estar longe ou Damasco perto, mas o
fato de que em todo esse território havia um elo unificador: as extre-
midades da terra convergiam, apesar de seus contrastes culturais,
para Jerusalém, a glória de Canaã. Por conseguinte, não era gabolice

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GEOGRAFIA DA TERRA SANTA E DAS TERRAS BÍBLICAS

da parte do Salmista conceber Jerusalém como “a alegria de toda a


terra”. Os profetas que descreviam em termos brilhantes a procissão
de reis e nações subindo ao Monte Sião, a fim de participarem da sua
luz e lei, prefiguravam a centralidade desse lugar cuja influência deci-
didamente tem impressionado o mundo.2

Assim, conclui-se que Jerusalém não era o centro geográfico do


mundo, mas a cidade-estratégia e estrategicamente posta por Deus
para onde a atenção do mundo inteiro se voltaria “na plenitude dos
tempos” (Gl 4.4) com o advento de Jesus Cristo, o Filho de Deus.
Canaã era uma meta a ser alcançada. Temos, então, a razão de Deus
fazer convergir o curso da história do mundo antigo para esse peda-
ço de terra disputado pelas potências do passado próximo e remoto
e ainda na atualidade. A importância não está tanto na posição geo-
gráfica de Canaã, como no que nela se desenrolou, principalmente
no que tange ao Messias, o Filho de Deus. Tendo em vista esse gran-
dioso fato, Deus preparou Canaã, chamou Abraão à Terra da Pro-
messa, “a Terra Gloriosa”, deu-lhe bens, extensivos a seus descen-
dentes.
Tomando-se um ponto bem elevado em Ur dos Caldeus, com os
olhos de nosso telescópio, varreremos os espaços e depararemos a
leste — depois das férteis terras do Vale entre o Tigre e o Eufrates —
com as planícies áridas na região persa, até os montes Zagos; a
sudeste, encontraremos o golfo Pérsico, com seus encantos naturais
e fabulosas riquezas; a sudoeste ficam as terras da Península Arábi-
ca, importantes por terem sido o berço de quase todos os povos de
origem semita; a ocidente, desde Ur, avistaremos o gigantesco de-
serto da Arábia, perigoso por suas dunas e pelos nômades que se
deslocam com frequência por toda a região. Na ponta extrema oci-
dental do deserto encontraremos a verde e exuberante vegetação
das terras de Gileade. Prosseguindo, chegaremos às montanhas da
Judeia e, por fim, ao Mediterrâneo. Ao norte de Ur, temos o vale da
Mesopotâmia, mais fértil e mais extenso do que a terra do Egito, e
encantador como Canaã.

2
ADAMS, James McKee. A Bíblia e as civilizações antigas. Rio de Janeiro: Dois
Irmãos, 1962, p. 23-24.

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O MUNDO BÍBLICO

A estreita faixa de terra que vai de Ur, no sul da Caldeia, até as


proximidades do Nilo, foi denominada sugestivamente de Fértil Cres-
cente. Em algum ponto desse imenso Jardim do Senhor, a humani-
dade teve seu berço, antes e depois do dilúvio. Civilizações impor-
tantes, como a suméria, a acádia e a aramita, aí nasceram e daí
saíram levando progresso para outras partes da terra. Tigre-Eufrates,
no Oriente, e Nilo, no Ocidente, ligavam-se por estradas reais, que
saíam de Ur, passavam por Harã, Alepo, Damasco, Jerusalém e al-
cançavam o Egito. Na sua longa peregrinação, o patriarca Abraão
cobriu esse trajeto e chegou ao Nilo.
Caldeia e Assíria se tornariam potências mundiais, bem como o
Egito. Muitas vezes, essas nações pelejaram pelo domínio universal.
Canaã estava no centro entre Mesopotâmia e Nilo. Passagem com-
pulsória tanto para assírios e caldeus quanto para egípcios, Canaã
se tornou o centro do Fértil Crescente, terra disputada pelas potênci-
as do mundo antigo. Por isso, o Antigo Testamento registra muitas
vezes Israel ameaçado pelos assírios e caldeus, recorrendo ao pode-
rio militar do Egito e vice-versa. Quando Nabopalassar, auxiliado
por Ciaxiares, rei dos persas, destruiu Nínive e sepultou o grande
Império Assírio, lançou as bases do Império Caldeu, com capital em
Babilônia. Todas essas potências perseguiram Israel e atacaram o
Egito, que revidou.
Judá tentou, mas não se livrou do poder dos gregos. Os romanos
subjugaram Israel e destruíram Jerusalém em 70 d.C. O Estado ju-
daico só foi restaurado em 1948.
Desde que o judeu se implantou na Palestina, nos meados do
século XX, o mundo todo passou a se interessar pelo Oriente Médio.
Até os árabes, esquecidos por séculos, passaram a ocupar lugar proe-
minente entre as nações. Os árabes se impõem pelo petrodólar; os
judeus, pelo valor espiritual.
Israel retornou à terra que Deus deu a Abraão e à sua descendên-
cia em possessão perpétua, conduzido pelo braço do Senhor, porque
lhe está reservado, por profecias, papel importante nos aconteci-
mentos que precederão o arrebatamento da igreja, a grande tribula-
ção, a volta de Jesus e o milênio. Israel, mais uma vez, ocupando o
centro das atenções da terra e de Jerusalém, é a “coroa de todas as
terras”.

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GEOGRAFIA DA TERRA SANTA E DAS TERRAS BÍBLICAS

Outra vez citamos James Adams:

Em termos longitudinais, os países principais do mundo bíblico


ficaram bem dentro dos arcos que representam 55º leste e 5º a
Oeste, um território que se estende do Planalto Pérsico ao Estreito de
Gibraltar. Correspondentemente, essa área geográfica caía dentro da
Latitude Norte entre 20º e 45º. Em termos continentais, os pontos
distantes do painel bíblico são limitados pelo Norte da África, Ásia
Ocidental e Europa Meridional. O horizonte do mundo Antigo Testa-
mentário está marcado pelo Ponto Euxino, mar Cáspio, golfo Pérsico
e mar Vermelho, tendo como coração do Território, o Litoral do Medi-
terrâneo.3

O mundo do Novo Testamento inclui as regiões do Oriente Médio,


mais Macedônia, Grécia, Itália, Egito, Ásia Proconsular, Palestina e
Síria. Sete rios marcaram o curso de acontecimentos no Antigo Tes-
tamento: Nilo, Jordão, Leontes, Orontes, Abana, Tigre e Eufrates;
enquanto no Novo Testamento apenas três: Jordão, Orontes e Tigre.
De toda essa vastidão geográfica, os grandes movimentos marca-
ram o curso da história. As caravanas de mercadores que passavam
para trocar produtos animais ou agrícolas, e não raro humanos, ine-
vitavelmente tocavam em Canaã. Os exércitos ferozes com bandei-
ras a tremular alcançavam Canaã quando iam e quando voltavam.
Viajantes de todas as direções da terra demandavam Jerusalém sus-
pirada. Tribos nômades se movimentavam no Fértil Crescente e to-
cavam Canaã. Invasores, de perto e de longe, muitas vezes se apo-
deraram da terra “onde dá leite e mel”. O solo de Canaã muitas
vezes foi umedecido com o sangue dos que tombaram no campo de
batalha. A terra abençoada de Israel, com frequência, foi assolada
por seca e outras vezes por chuvas torrenciais. O sol doirou as paisa-
gens de Israel dando encanto e vida aos montes e aos vales, e até
mesmo aos desertos. O céu azul ou nublado, nuvens de frio ou de
chuvas passaram sobre os céus de Israel. Os ventos nortes e frios, e
os do Sul e quentes, a agressividade abrasadora do clima, as colhei-
tas abundantes ou minguadas e todo um complexo de bênçãos do

3
ADAMS, J. McKee. A Bíblia e as civilizações antigas, p. 29.

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O MUNDO BÍBLICO

Altíssimo deram à Canaã um encanto, uma importância e um relevo


especial.
Deus escolheu uma nação tão pequena e desprezível para ser o
palco dos acontecimentos mais assinalados da história. Na pequenina
terra de Israel, o Todo-poderoso escolheu Belém da Judeia, a minús-
cula cidade, a mais apagada, para acender nela, com o nascimento
de Jesus, uma luz para brilhar e atirar seus reios em todas as dire-
ções da Terra.
Estudar a geografia da Bíblia significa...

 Viver as páginas já vivas do Livro Santo.


 Entrar em comunhão com o Éden de Deus, com seus rios Ti-
gre e Eufrates, Giom e Pisom.
 Acompanhar o desenrolar do dilúvio, quando Deus derramou
juízo do céu sobre uma humanidade rebelde e desobediente.
 Imitar Sem, Cam e Jafé no repovoamento da Terra.
 Acompanhar de perto a linha semítica de Terá, Abraão e toda
a família do primeiro filho de Noé.
 Estar com as sete nações cananeias.
 Assistir ao surto de progresso que viveu o Egito.
 Sofrer com os descendentes de Jacó na terra de Cam.
 Levantar-se com Moisés, retirando Israel do cativeiro egípcio e
acompanhá-lo na milagrosa passagem do mar Vermelho, de-
pois da peregrinação do penoso deserto, na entrada e posse
de Canaã.
 Lutar ao lado dos juízes, mensageiros de Deus.
 Estar com Saul e com Davi, com Salomão e Roboão e todos os
reis de Judá e de Israel.
 Arrastar-se com o povo de Deus caminhando para o cativeiro
na Assíria e na Babilônia.
 Voltar com Esdras, Neemias e Zorobabel para a reconstrução
de Jerusalém.
 Viver com João Batista no deserto e com o Senhor Jesus nas
poentas estradas da Palestina, ao longo das praias do mar de
Galileia, nos desertos e nos montes, no Getsêmani e no Calvário,
no sepulcro de Arimateia, na ascensão do Olival.
 Participar do poderoso Pentecostes.

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GEOGRAFIA DA TERRA SANTA E DAS TERRAS BÍBLICAS

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O MUNDO BÍBLICO

 Sofrer com os apóstolos que deram testemunho da ressurrei-


ção do Senhor, nas prisões, nos açoites, no martírio.
 Assistir à dispersão dos servos de Jesus, que começou com a
perseguição de Paulo.
 Ver surgir a poderosa igreja de Antioquia da Síria.
 Entrar na companhia de Paulo para desfraldar o glorioso pavi-
lhão de Cristo em dois continentes e depois permanecer com
ele dois anos no cárcere em Cesareia, acompanhá-lo até Roma
e depois assistir ao seu martírio e ao de centenas de outros
soldados da cruz.
 Por último, assistir ao crepúsculo de tudo com João em Patmos,
aguardando o raiar glorioso do dia em que Jesus será chama-
do Rei dos reis e Senhor dos senhores.

Com olhar voltado para essa linha de gloriosas realidades, levan-


temos os olhos e, por instantes, contemplemos a Mesopotâmia com
seu Tigre e Eufrates, a Síria, a Fenícia, o Egito, o famoso Império
Heteu e toda uma vasta gama de civilizações gloriosas, que dormem
hoje em alguns escombros de escavações arqueológicas, ou nos
museus escuros e frios.

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