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Boletim N° 044

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CAO-Crim

Boletim Criminal Comentado – n° 044

Subprocuradoria-Geral de Justiça de Políticas Criminais e Institucionais


Mário Luiz Sarrubbo

Coordenador do CAO Criminal


Arthur Pinto Lemos Junior

Assessores
Fernanda Narezi Pimentel Rosa
Marcelo Sorrentino Neira
Paulo José de Palma
Ricardo José Gasques de Almeida Silvares
Rogério Sanches Cunha
Analista Jurídica
1 Ana Karenina Saura Rodrigues
Boletim Criminal
Comentado – n°044
abril 2019

ESTUDOS DO CAOCRIM ............................................................................................................................3


Tema: Concurso formal de crimes na jurisprudência do STJ ............................................................. 3

STF/STJ: decisões de interesse institucional COMENTADAS PELO CAOCRIM ..........................................9


DIREITO PROCESSUAL PENAL:

1- TEMA: COMPETÊNCIA PARA JULGAR CRIME PRATICADO EM BANCO POSTAL ............................... 9

2- TEMA: DESCLASSIFICAÇÃO DA CONDUTA SEM DECLÍNIO DA COMPETÊNCIA. RECURSO CABÍVEL 10

3 -TEMA: STF - Homicídio cometido por militar da ativa contra outro militar em ritual de magia negra
compete à Justiça Estadual.......................................................................................................... 11

DIREITO PENAL:

1- TEMA: AUMENTO DE PENA NO MÁXIMO PELA CONTINUIDADE DELITIVA EM CRIME SEXUAL ...... 15

2- TEMA: STJ- NOVA EDIÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA EM TESES ABORDA LEI DE DROGAS.................... 16

STF/STJ: Notícias de interesse institucional ........................................................................................ 118

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ESTUDOS DO CAOCRIM

Tema: Concurso formal de crimes na jurisprudência do STJ

1) O roubo praticado contra vítimas diferentes em um único contexto configura o concurso formal e
não crime único, ante a pluralidade de bens jurídicos ofendidos.

Age em concurso formal o sujeito que, mediante uma só ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes,
idênticos ou não (art. 70 do CP). São, portanto, requisitos do concurso formal de delitos a unicidade
da conduta e a pluralidade de crimes.

Embora se exija conduta única para a configuração desta espécie de concurso, nada impede que esta
mesma conduta seja fracionada em diversos atos, no que se denomina ação única desdobrada. Ex.:
João ingressa em ônibus coletivo e subtrai, mediante grave ameaça, os pertences pessoais dos
passageiros. A conduta permanece única, praticada mediante diversos atos, caracterizando o concurso
formal de delitos.

É esta a origem da tese nº 1, pois há quem sustente que a subtração contra várias pessoas cometidas
durante a mesma ação na qual o agente exerce a violência ou a grave ameaça deve ser tratada como
crime único. Tem-se decidido, no entanto, que, havendo lesão a patrimônios distintos, há de incidir a
regra do concurso formal de delitos:

“Caracteriza-se o concurso formal de crimes quando praticado o roubo, mediante uma só ação, contra
vítimas distintas, pois atingidos patrimônios diversos. Precedentes.”(HC 459.546/SP, j. 13/12/2018)

Mas qual espécie de concurso formal se caracteriza nesta situação?

Sabemos que o concurso formal pode ser classificado como próprio (perfeito ou normal) ou impróprio
(imperfeito ou anormal). No primeiro, apesar de provocar dois ou mais resultados, o agente não age
com desígnios autônomos, isto é, não tem intenção independente em relação a cada crime, ao passo
que o segundo se caracteriza pela existência de desígnios autônomos. Se o concurso formal é próprio,
aplica-se a pena de um dos crimes aumentada de um sexto à metade; se é impróprio, aplica-se o
cúmulo material, em que as penas são somadas.

O STJ tem decisões tanto no sentido da modalidade própria (a maioria – cf. HC 364.754/SP – Quinta
Turma – Dje 10/10/2016; HC 311.722/SP – Quinta Turma – Dje 13/6/2016) quanto da imprópria (cf.
HC 179.676/SP – Sexta Turma – Dje 19/10/2015).

2) A distinção entre o concurso formal próprio e o impróprio relaciona-se com o elemento subjetivo
do agente, ou seja, a existência ou não de desígnios autônomos.

Vimos que a classificação do concurso formal em próprio ou impróprio depende da forma como atua
o agente em relação aos resultados decorrentes de sua conduta única. Se há apenas um desígnio, o
concurso formal é próprio; se há desígnios autônomos, é impróprio.

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A tese nº 2 foi firmada porque são inúmeros os recursos e habeas corpus por meio dos quais o tribunal
é provocado a decidir sobre a existência de uma ou outra espécie de concurso formal de acordo com
as circunstâncias do caso concreto levado a julgamento. À primeira vista, pode parecer redundante
simplesmente afirmar que é a existência de desígnios autônomos que marca a incidência de uma ou
outra regra de aplicação da pena decorrente do concurso. Isto, afinal, está expresso no art. 70 do
Código Penal.

Ocorre que a expressão desígnios autônomos normalmente não é interpretada como sinônimo
de crimes dolosos, ou seja, na prática, o cometimento de mais de um crime doloso por meio de ação
única não é encarado como concurso formal impróprio. O fato de ter cometido vários crimes dolosos
não significa que o agente tenha atuado com desígnios autônomos em relação a cada um deles.
Exemplos desta conclusão já foram mencionados nos comentários à tese nº 1.

Isto é contraditório, pois, se há diversos crimes dolosos, não é lógico afirmar que a conduta é movida
por apenas um desígnio. Como ensina Cleber Masson, desígnio autônomo “é o propósito de produzir,
com uma única conduta, mais de um crime. É fácil concluir, portanto, que o concurso formal perfeito
ou próprio ocorre entre crimes culposos, ou então entre um crime doloso e um crime culposo” (Direito
Penal Esquematizado – Parte Geral. 2ª ed. São Paulo: Método, 2014, p. 760)

Mas a matéria é complexa. Segundo Zaffaroni e Pierangeli, o legislador brasileiro construiu “uma
fórmula de difícil compreensão e explicação, como informa a maioria da doutrina (Basileu Garcia, entre
outros). Com efeito, se os desígnios são autônomos, não existe unidade de ação, e,
consequentemente, um concurso formal.

(…)

A definição de dolo impede considerar ‘desígnios autônomos’ a pluralidade de resultados, ou obriga à


consideração de todos os concursos de tipos dolosos da primeira hipótese do art. 70, o que seria
absurdo, porque a regra do concurso formal simples ficaria reduzida às hipóteses de concurso entre
tipos doloso e culposo. Historicamente, não pairam dúvidas de que o alvo do legislador foi alcançar os
casos de pluralidade de resultados morte no homicídio doloso, ou seja, no chamado ‘concurso formal
homogêneo’, que sempre constitui uma hipótese de pluralidade de resultados, mas a disposição legal
é uma das mais obscuras do código” (Manual de direito penal brasileiro – Parte Geral. Vol. 1. 8. ed. São
Paulo: RT, 2009, p. 731).

Em suma, o que se pode dizer a respeito da interpretação da expressão desígnios autônomos na


prática é que se trata de crimes decorrentes de planos delituosos independentes. É com base nisto
que o STJ decide, por exemplo, que há concurso formal próprio entre algumas espécies de crimes
patrimoniais e a corrupção de menores tipificada no art. 244-B da Lei 8.069/90: tanto o crime
patrimonial quanto o ato de corromper o menor decorrem, no geral, de apenas um plano criminoso:

“É de se observar que, na espécie, para a condenação do delito de corrupção de menores, foi


corretamente utilizado o entendimento firmado por esta Corte Superior de Justiça, no sentido de que
o crime tipificado no art. 244-B da Lei n. 8.069/90 é formal, ou seja, para a sua caracterização não é

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necessária a prova da efetiva e posterior corrupção do adolescente, bastando a comprovação da


participação do inimputável em prática delituosa na companhia de maior de 18 anos.

Assim, partindo-se dessa premissa, revela-se imprescindível para a aplicação do concurso formal
impróprio, a indicação fundamentada de elementos de prova que apontam para a preexistência de
intenção do agente em corromper o adolescente na associação para a empreitada criminosa.

Portanto, apenas quando efetivamente demonstrada a existência de desígnios autônomos por parte
do agente que pratica o crime corrupção de menores será a hipótese de incidência do concurso formal
impróprio, devendo as penas dos dois delitos serem aplicadas cumulativamente (segunda parte do art.
70 do Código Penal)” - HC 375.108/RJ, j. 28/03/2017.

Mas ainda assim a contradição não se resolve completamente, pois há casos em que se pode identificar
apenas um plano criminoso e, não obstante, as condutas são imputadas em concurso formal
impróprio, como normalmente ocorre em latrocínios com pluralidade de vítimas e de patrimônios
atingidos.

3) É possível o concurso formal entre o crime do art. 2º da Lei n. 8.176/91 (que tutela o patrimônio da
União, proibindo a usurpação de suas matérias-primas), e o crime do art. 55 da Lei n. 9.605/98 (que
protege o meio ambiente, proibindo a extração de recursos minerais), não havendo conflito aparente
de normas já que protegem bens jurídicos distintos.

A Lei 8.176/91 define os crimes contra a ordem econômica e, no art. 2º, tipifica como crime contra o
patrimônio, na modalidade de usurpação, produzir bens ou explorar matéria-prima pertencentes à
União, sem autorização legal ou em desacordo com as obrigações impostas pelo título autorizativo.

Já a Lei 9.605/98 trata dos crimes contra o meio ambiente e, no art. 55, pune a conduta de executar
pesquisa, lavra ou extração de recursos minerais sem a competente autorização, permissão, concessão
ou licença, ou em desacordo com a obtida.

É possível que, no mesmo contexto, alguém execute pesquisa, lavra ou extração de recursos minerais
ilegalmente e, em razão disso, produza bens ou explore matéria-prima pertencentes à União, o que
obviamente também se dá à margem da lei. Neste caso, há quem sustente a aplicação das regras do
concurso aparente de normas alegando que ambos os tipos penais tutelam o mesmo bem jurídico e
que o crime do art. 55 da Lei 9.605/98 deve absorver a outra infração penal.

Trata-se, no entanto, de crimes cuja objetividade jurídica não se confunde, pois, enquanto o art. 2º da
Lei 8.176/91 tutela expressamente o patrimônio da União (e, por consequência, a ordem econômica),
o art. 55 da Lei 9.605/98 volta sua proteção ao meio ambiente. No primeiro caso, a punição considera
os prejuízos econômicos que a exploração ilegal de bens e matérias-primas pertencentes à União pode
provocar, ao passo que, no segundo, é considerada a potencial deterioração ambiental de pesquisas,
lavras e extrações ilegais de recursos naturais. Por isso, o STJ aplica as regras do concurso formal
quando ambas as infrações são cometidas por meio da mesma conduta:

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“A jurisprudência desta eg. Corte Superior pacificou-se no sentido de que o art. 2º da Lei n. 8.176/91
tutela a ordem econômica, enquanto o art. 55 da Lei n. 9.605/98, tutela o meio ambiente, dessa forma,
não há que se falar em conflito aparente de normas por tutelarem bens jurídicos distintos, existindo
concurso formal” (AgRg no REsp 1.678.419/SE, j. 20/9/2018).

4) O aumento decorrente do concurso formal deve se dar de acordo com o número de infrações.

Na aplicação da pena em decorrência do concurso formal perfeito incide o sistema da exasperação: o


juiz aplica uma só das penas, se idênticas, ou a maior, se diferentes, aumentada de um sexto até a
metade.

O parâmetro para a exasperação é o número de infrações penais: quanto mais crimes o agente houver
cometido, mais o aumento deve se aproximar da metade:

“Em relação à fração adotada para aumentar a pena em razão do reconhecimento do concurso formal,
nos termos da jurisprudência deste Tribunal Superior, esse aumento tem como parâmetro o número
de delitos perpetrados, no intervalo legal entre as frações de 1/6 e 1/2. No presente caso, tratando-se
de sete infrações, a escolha da fração de 1/2 foi correta, não havendo ilegalidade a ser sanada.” (HC
475.974/SP, j. 12/2/2019)

É o mesmo critério utilizado na continuidade delitiva.

5) A apreensão de mais de uma arma de fogo, acessório ou munição, em um mesmo contexto fático,
não caracteriza concurso formal ou material de crimes, mas delito único.

São comuns as situações em que um indivíduo é surpreendido possuindo ou portando


simultaneamente diversas armas de fogo. Tais situações podem se subsumir a diversos tipos penais da
Lei 10.826/03, conforme a qualidade das armas: a) se de uso permitido – arts. 12 (posse) ou 14 (porte);
b) se de uso restrito – art. 16, caput (posse ou porte); c) com numeração, marca ou outro sinal de
identificação raspado, suprimido ou adulterado – art. 16, parágrafo único, inc. IV (posse ou porte).

Nesses casos em que diversas armas são apreendidas em poder de alguém, há quem impute a prática
de crimes em concurso formal, ainda que a conduta se subsuma a apenas um tipo penal. Assim, por
exemplo, se alguém é surpreendido portando três revólveres calibre 38 com numeração intacta, será
incurso por três vezes no art. 14 da Lei 10.826/03, conforme as disposições do art. 70 do Código Penal,
que disciplina o concurso formal de delitos.

O STJ, no entanto, firmou a tese de que a apreensão de diversas armas no mesmo contexto fático
caracteriza crime único, não concurso de crimes:

“A jurisprudência desta Corte consolidou-se no sentido da existência de um delito único quando


apreendidas mais de uma arma, munição, acessório ou explosivo em posse do mesmo agente, dentro
do mesmo contexto fático, não havendo que se falar em concurso material ou formal entre as
condutas, pois se vislumbra uma só lesão de um mesmo bem tutelado (Precedentes).” (HC 362.157/RJ,
j. 18/5/2017)

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Mas esta solução não se aplica nas situações em que a posse ou o porte se subsume a tipos diversos
devido à qualidade das armas. Portanto, alguém que porte uma arma de uso permitido e outra de uso
restrito deve responder por ambos os delitos em concurso:

“’A prática, em um mesmo contexto fático, dos delitos tipificados nos artigos 14 e 16 da Lei n.
10.826/2003, configuram diferentes crimes porque descrevem ações distintas, com lesões à bens
jurídicos diversos, devendo ser somados em concurso formal’ (AgRg no REsp 1.588.298/MG, Rel.
Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 3/5/2016, DJe 12/5/2016)” -
AgRg no AREsp 1.258.199/MS, j. 14/8/2018.

6) O benefício da suspensão do processo não é aplicável em relação às infrações penais cometidas em


concurso material, concurso formal ou continuidade delitiva, quando a pena mínima cominada, seja
pelo somatório, seja pela incidência da majorante, ultrapassar o limite de um (01) ano.

A suspensão condicional do processo é cabível nas situações em que a pena cominada ao crime não é
superior a um ano.

Nos casos em que infrações penais são cometidas em concurso, o cabimento da suspensão condicional
do processo deve ter em conta o número de infrações cometidas. Se, por exemplo, o agente comete
dois furtos simples em concurso formal, não faz jus à suspensão, pois a incidência da fração de
aumento, mínima que seja, eleva a pena do furto para mais de um ano. Há quem sustente que o
cabimento do benefício deve ser analisado sobre cada infração penal, não sobre o conjunto, mas essa
tese não foi acolhida pelo STJ, que editou a respeito a súmula 243 e a vem reiterando:

“3. Considerando a pena mínima prevista para o tipo penal do art. 306 do Código de Trânsito Brasileiro,
que corresponde a 6 meses de detenção, a qual deve ser somada àquela prevista no preceito
secundário do tipo penal do art. 331 do CP, que também foi estabelecida em 6 meses de detenção,
chega-se a reprimenda superior a 1 ano, por se tratem de 4 crimes de desacato em concurso material,
o que afasta a possibilidade de oferta da vindicada proposta de suspensão condicional do processo. 4.
Mesmo que o Magistrado processante venha a reconhecer a continuidade delitiva entre os delitos de
desacato, a somatória das penas ultrapassaria o patamar máximo previsto no art. 89 da Lei n.
9.099/1995. Nos termos do entendimento consolidado na Súmula 243/STJ, ‘o benefício da suspensão
condicional do processo não é aplicável em relação às infrações penais cometidas em concurso
material, concurso formal ou continuidade delitiva, quando a pena mínima cominada, seja no
somatório, seja pela incidência da majorante ultrapassar o limite de 1 (um) ano’” (RHC 89.197/SC, DJe
25/10/2017).

7) No concurso de crimes, o cálculo da prescrição da pretensão punitiva é feito considerando cada


crime isoladamente, não se computando o acréscimo decorrente do concurso formal, material ou da
continuidade delitiva.

De acordo com o que dispõe o art. 119 do Código Penal, no caso de concurso de crimes a prescrição
incide sobre cada um, isoladamente. Isto quer dizer que, num concurso material entre dois furtos com
pena de quatro anos cada um, a prescrição não será calculada sobre oito anos, mas sobre quatro,

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considerando separadamente cada um dos delitos. Dá-se o mesmo no concurso formal impróprio,
assim como no concurso formal próprio e na continuidade delitiva, nos quais incide o sistema da
exasperação: o prazo prescricional não é calculado com base na pena aumentada, mas em cada crime
isolado.

A respeito especificamente do crime continuado, o STF editou a súmula nº 497: “Quando se tratar de
crime continuado, a prescrição regula-se pela pena imposta na sentença, não se computando o
acréscimo decorrente da continuação”. À época da edição da súmula (1969), muito anterior à redação
atual do art. 119 do Código Penal, o STF decidia reiteradamente (não sem acalorados debates, como
se extrai do julgamento proferido no RHC 43.740, DJ 15/06/1967) que, ao inserir na lei a possibilidade
de continuidade delitiva, o legislador pretendera beneficiar o autor de condutas que, por suas
características, haviam de ser consideradas como se fossem apenas uma ação delituosa. Se o intuito
do legislador fora beneficiar o agente no momento da aplicação da pena, seria ilógico, para calcular a
prescrição, fazer incidir a fração de aumento em prejuízo de quem se pretendia beneficiar.

8) No caso de concurso de crimes, a pena considerada para fins de competência e transação penal será
o resultado da soma ou da exasperação das penas máximas cominadas ao delito.

Consiste a transação penal na composição entre o Ministério Público e o autor do fato delituoso, ao
qual são propostas medidas que equivalem a penas restritivas de direitos ou à multa. É cabível se à
infração penal for cominada pena não superior a dois anos.

Semelhantemente ao que ocorre na suspensão condicional do processo, o concurso de crimes pode


impedir a transação penal se, somadas as penas máximas ou incidentes as frações decorrentes da
exasperação sobre a pena máxima, o resultado ultrapassar dois anos. Desta forma, se o agente comete
resistência e desacato, não poderá se beneficiar da transação penal tanto no concurso material quanto
no formal, pois, no primeiro, a soma das penas eleva o máximo a quatro anos e, no segundo, a
exasperação pode fazer a pena chegar a três anos.

Além do óbice à transação, uma vez ultrapassado o limite de dois anos que caracteriza a menor
potencialidade ofensiva que atrai o julgamento pelo Juizado Especial Criminal, a competência deve
recair no juízo comum:

“I – Na linha da jurisprudência desta Corte de Justiça, tratando-se de concurso de crimes, a pena


considerada para fins de fixação da competência do Juizado Especial Criminal será o resultado da soma,
em concurso material, ou a exasperação, na hipótese de concurso formal ou crime continuado, das
penas máximas cominadas ao delitos, caso em que, ultrapassado o patamar de 2 (dois) anos, afasta-
se a competência do Juizado Especial. Precedentes.

II – Na espécie, verifica-se que a recorrente foi acusada de praticar os crimes descritos no art. 138,
caput (duas vezes) c/c o art. 141, III, no art. 139 (vinte e cinco vezes) c/c art 141, III, na forma do art.
62 e no art. 140 (seis vezes), c/c o art 141, III, na forma do art. 69 c/c art. 29, caput, todos do Código
Penal. As penas de tais delitos, somadas, ultrapassam o limite de 2 (dois) anos, o que afasta a
competência dos Juizados Especiais.” (RHC 102.381/BA, j. 9/10/2018)

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STF/STJ: decisões de interesse institucional COMENTADAS PELO CAOCRIM

DIREITO PROCESSUAL PENAL:

1- TEMA: COMPETÊNCIA PARA JULGAR CRIME PRATICADO EM BANCO POSTAL

STJ- AgRg no CC 156.205/MG, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em
24/10/2018, DJe 30/10/2018:

AGRAVO REGIMENTAL NO CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. ROUBO MAJORADO PRATICADO


EM AGÊNCIAS DOS CORREIOS. BANCO POSTAL. INEXISTÊNCIA DE PREJUÍZO À EMPRESA BRASILEIRA DE
CORREIOS E TELÉGRAFOS. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL. COMPETENTE O JUÍZO SUSCITADO.
AGRAVO NÃO PROVIDO.

1. "Aos juízes federais compete processar e julgar: IV - os crimes políticos e as infrações penais
praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas
ou empresas públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da
Justiça Eleitoral" (art. 109, IV, da CF).

2. No caso, a agência de correio funciona como Banco Postal, de modo que a situação em comento se
assemelha às hipóteses de contrato de franquia, considerando que a instituição financeira contratante
dos serviços de correspondente bancário seria a responsável por eventuais perdas, danos e roubos ou
destruição de bens da contratada, nos termos da citada avença, não se observando, por conseguinte,
nenhum prejuízo a EBCT.

3. Conflito de competência conhecido para declarar a competência do Juízo de Direito de Coração de


Jesus - MG, o suscitado.

4. Agravo regimental não provido.

COMENTÁRIOS DO CAO-CRIM

Perpetrado um crime contra os Correios, a competência para seu julgamento será da Justiça Federal,
a quem cabe conhecer das infrações penais praticadas em detrimento de bens da União ou de suas
empresas públicas, ex vi do disposto no art. 109, inc. IV, da Constituição. De se salientar, contudo, que
além das agências normais, que compõem o patrimônio da União, os Correios contam, também, com
agências franqueadas, entregues à exploração de particular. Nesse caso, a jurisprudência do Superior
Tribunal de Justiça se posiciona no sentido de que a competência será da Justiça Estadual, como se
verifica da ementa abaixo transcrita: “Conforme entendimento pacificado desta Corte, compete à
Justiça Estadual o julgamento de delitos praticados em desfavor de agência franqueada dos Correios,
que é a responsável por eventuais perdas, danos, roubos, furtos ou destruição de bens cedidos pela
franqueadora, não configurado prejuízo à EBCT” (CC n. 108946-PR – Rel. Og Fernandes, j. 20.4.2010).

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No caso em comento, o STJ equiparou às franquias agência que funciona como Banco Postal.

2- TEMA: DESCLASSIFICAÇÃO DA CONDUTA SEM DECLÍNIO DA COMPETÊNCIA. RECURSO CABÍVEL

STJ- AgRg nos EDcl no REsp 1711903/SP, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em
21/03/2019, DJe 03/04/2019

AGRAVO REGIMENTAL NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO ESPECIAL. DESCLASSIFICADA A


CONDUTA SEM DECLÍNIO DA COMPETÊNCIA. RECURSO CABÍVEL. APELAÇÃO. AGRAVO PROVIDO.

1. O Juízo de origem, após desclassificar a conduta para o tipo penal previsto no art. 28 da Lei
11.343/06, determinou a abertura de vista ao Ministério Público para os fins previstos na Lei 9.099/95,
sem, contudo, declinar da competência.

2. Mostra-se admissível a interposição de recurso de apelação, tal como ocorreu no presente caso,
consoante art. 593, II, do CPP, por se tratar de pronunciamento final decorrente da análise do mérito
da pretensão punitiva, possuindo, por consequência, natureza de definitividade, ainda que
desclassificada para dar definição jurídica diversa da ação penal.

3. Agravo regimental provido para determinar ao Tribunal de Justiça que analise o mérito da apelação
como entender de direito.

Esta jurisprudência foi incluída a pedido do Setor de Recursos Criminais Extraordinários e Especiais.

Clique aqui para ter acesso ao inteiro teor da decisão

COMENTÁRIOS DO CAO-CRIM

É importante salientar que o tema desperta indisfarçável controvérsia entre as duas Turmas do STJ.

A 5ª. T já se posicionou no sentido de que a decisão que desclassifica a conduta, declinando da


competência para o julgamento do feito, deve ser atacada por recurso em sentido estrito, sendo a
utilização de recurso de apelação descabida e não passível de aplicação do princípio da fungibilidade
recursal, por se tratar de erro grosseiro (STJ- AgRg no REsp 1622276/RS, Rel. Ministro REYNALDO
SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 22/11/2016, DJe 05/12/2016). Já a 6ª. T discorda,
julgando admissível a interposição de recurso de apelação, consoante art. 593, II, do CPP, por se tratar
de pronunciamento final decorrente da análise do mérito da pretensão punitiva, possuindo, por
consequência, natureza de definitividade, ainda que desclassificada para dar definição jurídica diversa
da ação penal.

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3 -TEMA: STF - Homicídio cometido por militar da ativa contra outro militar em ritual de magia negra
compete à Justiça Estadual

O Supremo Tribunal Federal concedeu habeas corpus para anular procedimento penal instaurado
contra militar da ativa, perante a Justiça Castrense, pela prática de homicídio doloso contra outro
militar com o intuito de obter vantagem junto a uma seita de magia negra, mediante o sacrifício de
vida humana, entendendo competir o processo e julgamento à Justiça Comum estadual (HC
155.245/RS, j. 09/04/2019).

COMENTÁRIOS DO CAO-CRIM

Em sua redação original, o artigo 9°, inciso II, do Código Penal Militar mencionava que eram
considerados crimes militares, em tempo de paz, os previstos no Código Penal Militar, embora também
o fossem com igual definição na lei penal comum, quando praticados na forma das alíneas “a” a “e”
do mencionado inciso:

“a) por militar em situação de atividade ou assemelhado, contra militar na mesma situação ou
assemelhado;

b) por militar em situação de atividade ou assemelhado, em lugar sujeito à administração militar,


contra militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil;

c) por militar em serviço ou atuando em razão da função, em comissão de natureza militar, ou em


formatura, ainda que fora do lugar sujeito à administração militar contra militar da reserva, ou
reformado, ou civil;

d) por militar durante o período de manobras ou exercício, contra militar da reserva, ou reformado,
ou assemelhado, ou civil;

e) por militar em situação de atividade, ou assemelhado, contra o patrimônio sob a administração


militar, ou a ordem administrativa militar.”

Atualmente, em que vigora a alteração promovida pela Lei 13.491/17, são considerados crimes
militares, em tempo de paz, “os crimes previstos” no CPM “e os previstos na legislação penal, quando
praticados” na forma das alíneas referidas, as quais não foram objeto de modificação.

No sistema anterior, o crime militar se dividia em próprio, quando definido apenas no Código Penal
Militar, ou impróprio, se definido também no restante da legislação penal. O delito de deserção era
próprio, pois previsto somente no CPM. Já o homicídio, impróprio, pois previsto no CPM e no CP.
Atualmente, no entanto, a definição deve ser diversa, especialmente no que concerne ao crime militar
impróprio. Crime militar passa a ser o delito praticado por militar. Pode ser próprio, porque definido
apenas no Código Penal Militar (como a deserção), ou impróprio, porque definido também no restante
da legislação penal (como o homicídio) ou somente nela, legislação não militar (como a tortura, a
lavagem de capitais, a organização criminosa etc.).

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Houve, portanto, ampliação no conceito de crime militar, que passou a abranger situações antes
inexistentes. A respeito, ensina Rodrigo Foureaux:

“Nota-se, portanto, que houve uma ampliação dos crimes de natureza militar, uma vez que qualquer
crime existente no ordenamento jurídico brasileiro poderá se tornar crime militar, a depender do
preenchimento de uma das condições previstas no inciso II do art. 9º do Código Penal Militar.

Antes, o inciso II era claro ao dizer que somente os crimes previstos “neste Código, embora também o
sejam com igual definição na lei penal comum” eram crimes militares.

Isto é, somente os crimes previstos no Código Penal Militar eram crimes militares.

Com a alteração legislativa, a previsão é de que “os crimes previstos neste Código” (Código Penal
Militar) e os “previstos na legislação penal” (todas as leis penais do país) também são crimes militares,
quando preenchida uma das hipóteses do inciso II do Código Penal Militar.

As hipóteses previstas no inciso II do art. 9º do Código Penal Militar são, em síntese, os crimes
cometidos entre militares; envolvendo militar em lugar sujeito à administração militar contra civil;
militar em serviço ou atuando em razão da função, hipótese de maior incidência dos crimes militares;
militar em comissão de natureza militar, ou em formatura, ainda que fora do lugar sujeito à
administração militar contra civil; militar durante o período de manobras ou exercício contra civil;
militar em situação de atividade, ou assemelhado, contra o patrimônio sob a administração militar, ou
a ordem administrativa militar.

Como exemplo, podemos citar: a) crime de disparo de arma de fogo praticado por militar em serviço;
b) crime de tortura praticado por policial militar em serviço ou em razão da função: c) crime de abuso
de autoridade praticado por militar em serviço; d) assédio sexual; e) crime de possuir imagens de
crianças e adolescentes em situações pornográficas, quando os militares a obtiverem em razão do
serviço e tenham essas imagens não com a finalidade de comunicarem a autoridade competente. Os
crimes dolosos contra a vida de civil continuam sendo de competência do tribunal do júri, consoante
art. 125, § 4º, da Constituição Federal. Isto é, os crimes de homicídio doloso, induzimento, instigação
ou auxílio a suicídio, infanticídio e de aborto são de competência do tribunal do júri, quando a vítima
for civil. Todos os outros crimes existentes no ordenamento jurídico brasileiro, quando cometidos em
uma das hipóteses do inciso II do art. 9º do Código Penal Militar, são de competência da Justiça
Militar.”

Não obstante tenha havido a ampliação, o crime só pode ser considerado militar se houver alguma
conexão entre a circunstância pessoal do agente e sua atividade, como, aliás, se extrai das alíneas
acima transcritas. Todas as situações dizem respeito à atividade militar desempenhada pelo autor do
crime.

Em razão disso, o Supremo Tribunal Federal concedeu habeas corpus para anular procedimento penal
instaurado contra militar da ativa, perante a Justiça Castrense, pela prática de homicídio doloso contra

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outro militar com o intuito de obter vantagem junto a uma seita de magia negra, mediante o sacrifício
de vida humana (HC 155.245/RS, j. 09/04/2019).

No caso, quando se deram os fatos o agente e a vítima eram ambos soldados do Exército Brasileiro.
Em local alheio à administração militar, um dos soldados ceifou a vida de outro com o propósito de
adquirir poderes em ritual de magia negra.

Houve inicialmente suscitação de conflito de competência perante o Superior Tribunal de Justiça, que
estabeleceu a competência da Justiça Militar:

“Vale salientar, por oportuno, que ‘situação de atividade ou assemelhado’ não se confunde com o fato
de se estar no desempenho da função no momento do crime, porquanto a melhor interpretação se
sustenta sob a ideia de não se encontrar o militar na reserva, ou reformado, sendo reconhecido, nesse
cenário, como ‘militar da ativa’.

In casu, trata-se de suposto crime de homicídio praticado por soldado do exército em face de outro
soldado do exército, ambos fora de serviço e sem atuação funcional no momento da prática delitiva,
situação essa que, por si só, não afasta a incidência da Justiça Castrense.

Autor e vítima eram militares em situação de atividade, fato que atrai a competência para a Justiça
Especializada, muito embora, como dito, não estivessem em serviço quando da realização do ato.”

Mas o Supremo Tribunal Federal conferiu menor alcance ao dispositivo do Código Penal Militar.
Segundo o ministro Celso de Mello:

“Com efeito, os fundamentos constantes deste “writ” encontram apoio no ordenamento positivo,
que, ao dispor sobre os elementos que compõem a estrutura típica do crime militar (“essentialia
delicti”), considera como ilícito castrense aquele que, previsto no Código Penal Militar –
embora igualmente tipificado, com idêntica definição, na lei penal comum –, vem a ser praticado,
entre outras hipóteses, “por militar em situação de atividade (…) contra militar na mesma situação
(…)” (CPM, art. 9º, II, “a”).

O Supremo Tribunal Federal, ao julgar causas em que se discutia a aplicabilidade do art. 9º, II, “a”, do
Código Penal Militar – norma legal invocada, no caso, para justificar a competência penal da Justiça
Castrense –, tem proferido decisões que, por identidade de situação, aplicam-se, por inteiro, ao caso
sob análise:

(…)

O foro especial da Justiça Militar da União não existe para os crimes dos militares, mas, sim, para os
delitos militares, “tout court” (RAMAGEM BADARÓ, “Comentários ao Código Penal Militar de 1969”,
vol. I/54, 1972, Juriscrédi). E o crime militar, comissível por agente militar ou, até mesmo, por civil, só
existe quando o autor procede e atua nas circunstâncias taxativamente referidas pelo art. 9º do
Código Penal Militar.

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A espécie dos autos, entretanto, não se enquadra na hipótese prevista no art. 9º do Código Penal
Militar, que, ao definir os crimes militares, supõe, para efeito de sua caracterização típica, que essas
infrações delituosas afetem a organização das Forças Armadas e comprometam os valores da
disciplina e da hierarquia militares, bem assim transgridam as instituições militares, a administração
militar e o patrimônio castrense, como assinalado pelo magistério da doutrina (JORGE CESAR DE ASSIS,
“Comentários ao Código Penal Militar”, p. 43/44, 2009, Juruá, v.g.).

(…)

O exame do magistério doutrinário e a análise da jurisprudência prevalecente no Supremo Tribunal


Federal permitem concluir, em face dos elementos produzidos nestes autos, que o fato
delituoso atribuído ao ora paciente não guarda qualquer elemento de conexão que possa
autorizar – considerados os valores jurídicos da hierarquia, da disciplina, da dignidade, do
funcionamento e da respeitabilidade das instituições castrenses – o reconhecimento, no caso, no
plano da tipicidade penal, de crime militar, a significar, portanto, ante a inexistência das
circunstâncias a que alude o art. 9º do Código Penal Militar, a descaracterização da competência da
Justiça Militar da União para o processo e julgamento do delito de homicídio qualificado a que se
refere a presente impetração.” (destaques no original)

Em virtude disso, a ordem foi concedida para anular o processo e estabelecer a competência da Justiça
Estadual para o julgamento do homicídio cometido.

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DIREITO PENAL:

1- TEMA: AUMENTO DE PENA NO MÁXIMO PELA CONTINUIDADE DELITIVA EM CRIME SEXUAL

STJ- AgRg no REsp 1717358/PR, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA,
julgado em 19/06/2018, DJe 29/06/2018

PENAL E PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL. ESTUPRO DE VULNERÁVEL.


CONTINUIDADE DELITIVA. PATAMAR MÁXIMO LEGAL. DECISÃO ULTRA PETITA. INOCORRÊNCIA.
TANTUM DEVOLUTUM QUANTUM APPELLATUM. PRÁTICA DO DELITO POR INCONTÁVEIS VEZES
DURANTE OS ANOS DE 2007/2008. IMPRECISÃO DO NÚMERO DE CRIMES. IRRELEVÂNCIA.
PRECEDENTES.

1. Não há falar em julgamento ultra petita quando o recurso especial é decidido dentro dos limites
recursais. No caso, o Parquet estadual pleiteou a majoração da fração referente à continuidade delitiva
de metade até seu grau máximo.

2. A jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça é firme no sentido de que nos crimes sexuais
envolvendo vulneráveis é cabível a elevação da pena pela continuidade delitiva no patamar máximo
quando restar demonstrado que o acusado praticou o delito por diversas vezes durante determinado
período de tempo, não se exigindo a exata quantificação do número de eventos criminosos, sobretudo
porque em casos tais, os abusos são praticados incontáveis e reiteradas vezes, contra vítimas de tenra
ou pouca idade. Precedentes desta Corte.

3. Na espécie dos autos, embora tenha sido afastado o reconhecimento do crime no ano de 2003, ficou
comprovado que este consumou-se por inúmeras vezes durante o período de 2007 e 2008, sendo de
rigor o aumento da pena em seu grau máximo.

4. Agravo regimental improvido.

Clique aqui para ter acesso ao inteiro teor do acórdão

COMENTÁRIOS DO CAO-CRIM

No crime continuado específico (parágrafo único do art. 71, as regras para a fixação da pena levam em
conta o sistema da exasperação (a exemplo do caput), devendo o juiz, na terceira fase de aplicação,
aumentar a pena até o triplo (partindo de 1/6). Considera-se, para tanto, o número de infrações. Mas,
tendo em vista que o parágrafo único do art. 71 faz referência expressa à culpabilidade, aos
antecedentes, à conduta social e à personalidade do agente, aos motivos e às circunstâncias do crime,
impõe-se um critério adicional, que é a apreciação das circunstâncias judiciais. A respeito da
necessidade de análise mais acurada, destaca-se o seguinte trecho de julgado do STJ:

“Mutatis mutandis, a solução a ser dada para o caso de continuidade delitiva específica deve ser outra,
não dispensando a utilização das circunstâncias judiciais, conforme expressamente consignado no
dispositivo legal. Em assim sendo, reconhecida a modalidade de concurso de crimes prevista no

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parágrafo único do art. 71 do CP, a exacerbação da pena deverá se nortear por critérios objetivos –
número de infrações praticadas – e subjetivos – antecedentes, conduta social, personalidade do
agente, assim como os motivos e circunstâncias do crime (HC n. 128.297/SP, Ministro Felix Fischer,
Quinta Turma, DJe 13/10/2009).

No aspecto subjetivo, a mensuração do acréscimo insere-se na órbita de convencimento do


magistrado, ou seja, integra o seu poder discricionário de julgar o aumento conveniente ao caso
concreto. Porém, como o poder discricionário é limitado, faz-se necessário distinguir o ato judicial
deixado à discrição do ato arbitrário, caprichoso ou da mera retórica. Nesse compasso, com o fito de
impor parâmetro capaz de assegurar escorreita valoração da culpabilidade, aqui entendida como
medida da pena imposta pelo delito, ao tempo em que permite o controle pelas partes da
fundamentação adotada e dos elementos concretos utilizados pelo juiz, o legislador infraconstitucional
encartou no Código a consideração das circunstâncias judiciais como uma faculdade e um norte
dispensado ao Juízo para a fixação de uma pena justa e adequada ao caso concreto.

(…)

Destaco, ainda, os ensinamentos de abalizada doutrina sobre o tema:

Presentes todos os requisitos exigíveis, passa o juiz a ter a faculdade de aplicar, em relação ao réu, não
um acréscimo punitivo variável entre um sexto e dois terços, mas, sim, o tresdobro da pena
correspondente a um só dos crimes, se idênticas; ou ao mais grave, se diversas. A exarcebação da pena
não é contudo, nem automática, nem ilimitada.

Não é automática, porque não basta o preenchimento dos pressupostos legais para que o acréscimo
seja de cogente aplicação. O juiz deverá sempre levar em consideração, para efeito de imposição do
especial aumento de pena, não apenas o número de infrações praticadas, mas também “a
culpabilidade, os antecedentes, a conduta social, a personalidade do agente, bem como os motivos e
as circunstâncias” que cercaram a realização dos delitos em série continuada. (FRANCO, Alberto Silva;
STOCO, Rui. Código Penal e sua interpretação: doutrina e jurisprudência. 8ª ed. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2007, p. 400).” (HC 439471/MG, j. 2/8/2018).

2- TEMA: STJ- NOVA EDIÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA EM TESES ABORDA LEI DE DROGAS

O Superior Tribunal de Justiça (STJ) divulgou a edição número 123 de Jurisprudência em Teses com o
tema Lei de Drogas (Lei 11.343/2006).

Uma das teses em destaque estabelece que, para caracterizar-se a causa de aumento de pena do artigo
40, inciso III, da Lei 11.343/2006, é necessária a efetiva oferta ou a comercialização da droga no interior
do veículo, não bastando o fato de ter se utilizado dele como meio de locomoção e de transporte da
substância ilícita.

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Outra tese ressaltada na edição 123 define que a incidência da majorante da segunda parte do inciso
III do artigo 18 da Lei 6.368/1976 – “visar [o crime] a menores de 21 anos” – segue contemplada no
artigo 40, inciso VI, da nova Lei de Drogas – "sua prática envolver ou visar a atingir criança ou
adolescente", não estando configurada a abolitio criminis.

Clique aqui para ter acesso as Jurisprudências

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STF/STJ: Notícias de interesse institucional

Notícias STF

15 de abril de 2019

1- Mantido afastamento de vereadora de Serra (ES) após ser denunciada pelo MP

Clique aqui para ler a íntegra da notícia

Notícias STJ

16 de abril de 2019

2- Excesso de prazo determina trancamento de inquérito contra empresário na Operação Custo Brasil

Clique aqui para ler a íntegra da notícia

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