Psicologia e Cirurgia
Psicologia e Cirurgia
Psicologia e Cirurgia
De acordo com Gama (1990:38), ‘’cirurgia é o ramo da medicina que estuda a cura de
enfermidades mediante a atuação física no local atingido, seja unindo, cortando ou retirando
tecidos irrecuperáveis’’.
A história de cirurgia e de doença são antigas, pois a cirurgia é praticada desde o início da
civilização, sobretudo no tratamento de ferimentos. Em épocas passadas, era considerada o último
recurso aplicável aos casos onde não se dispunha de remédios que pudessem restabelecer a
normalidade biológica.
Na lei da Babilônia os cirurgiões eram punidos se realizassem cirurgias mal sucedidas ou
se o paciente morresse no ato cirúrgico, tendo a mão direita do cirurgião amputada. Na Pérsia, as
cirurgias só poderiam ser praticadas após três operações bem sucedidas em pagãos e caso
acontecesse um ato mal sucedido o cirurgião era afastado dos procedimentos cirúrgicos.
O tratamento médico no ato cirúrgico, foi sistematizado mais ou menos em 1800 a . C. no
Egito.
Nos séculos XIII e XIX a cirurgia era condenada e evitada pelos médicos, ficando a cargo
dos analfabetos. Com o tempo foi observado um declínio nas cirurgias, devido à negligência da
anatomia e então os médicos se uniram aos barbeiros por 200 anos e em 1745 esta união foi
desfeita e os médicos cirurgiões passaram a ser independentes.
No século XVI, Paracelsus enfatiza esta separação dos médicos com os cirurgiões
analfabetos, convocando uma reunião da medicina e cirurgia, mostrando que os médicos deveriam
ter a percepção de que para executar uma cirurgia era necessário o conhecimento do médico.
Na Renascença a cirurgia tem uma posição elevada. No século XVI na França Ambroise
Paré (1510 à 1590), um dos mais populares cirurgiões, descobriu métodos para o tratamento de
feridas de guerra, desafiando as autoridades e adquirindo sucesso, enfatizando a importância do
conhecimento de anatomia.
O movimento renascentista lançou novas luzes sobre a cirurgia graças aos estudos
anatômicos do corpo humano e a volta da investigação sistematizada em todos os setores da
ciência.
A cirurgia antigamente era praticada na própria residência do paciente no leito ou sobre
uma mesa. Para conter o paciente amarrava-o, pois não existia anestesia, porém na maioria das
vezes o paciente desmaiava.
Segundo Santos Fo (1986:60), ‘’somente no fim do século XIX é que se instalaram as
salas cirúrgicas, nos Hospitais de pesquisas de Louis Pasteur (1822 – 1895), na França – sobre os
micro – organismos do ar atmosférico, depois da adoção da assepsia ou da desinfecção das mãos
do operador e dos instrumentos, preconizados na Inglaterra por Joseph Lister (1827 – 1912),
depois da descoberta dos micróbios contaminadores da ferida operatória. Anteriormente, o
cirurgião intervinha vestido como andava, sem usar sequer um avental e muito menos luvas. Os
instrumentos, apenas lavados em água, tanto serviam para uma operação como para uma
necropsia. Seguia-se, então, a infecção do ferimento operatório e a cicatrização demorada’’.
A cirurgia até o final do século XVIII, nada mais foi que a continuação daquelas práticas
vindas do Renascimento, onde a tônica dominante consistia num maior conhecimento da anatomia
normal e patológica macroscópica. A limitação em que se debatiam os cirurgiões era condicionada
pelo sempre presente risco das infecções e pela falta de recursos capazes de abolir de vez com o
sofrimento inflingido pelas manobras operatórias.
A anestesia e a assepsia permitiram um grande progresso no desenvolvimento de
cirurgias, pois a dor sempre foi um obstáculo para o progresso da cirurgia, tanto para o paciente
como para o médico, que manteve-se inalterada até os fins do século XVIII, sendo considerada
quase que inevitável nas operações e a infecção rondava os pacientes no pós-operatório.
Humphrij Davy foi o primeiro cientista a sugerir por volta de 1798 o emprego do gás
protóxido em cirurgia. Outro cientista chamado Henry Hill Rickman percebeu que o gás carbônico +
oxigênio + protóxido de azoto, quando absorvidos pelo sangue, atingiam o sistema nervoso e
exerciam uma função sedativa.
No início do século XIX, John Snow, foi considerado o primeiro médico que considerou a
anestesia como especialidade e empregou o uso de clorofórmio em um lenço com ele embebido e
aproximado à face do paciente de forma intermitente, nas fases das contrações dolorosas , de
modo a manter a insensibilidade por todo o tempo com a menor dose. Os aperfeiçoamentos da
técnica de indução e o aprimoramento das propriedades dos agentes utilizados tornarem universal
a aceitação da anestesia cirúrgica.
Observando que um dos objetivos da anestesia é a ‘’perda da sensibilidade para facilitar o
trabalho cirúrgico’’ segundo Gama (1990:40), é possível ressaltá-la como uma medida
humanizadora da medicina. O descobrimento do uso da anestesia para a cirurgia foi uma das mais
importantes descobertas para a medicina em 1840, sendo utilizada pela primeira vez por
Cravvford, W. Long, médico da região de Geórgea, que utilizou éter para remover pequenos
tumores cutâneos. Em seguida foi usado clorofórmio, iniciando-se uma nova era de cirurgia.
Freud descobriu através de estudos indígenas (entre 1884 à 1887), que o componente da
folha de coca provoca efeitos anestésicos. Os método anestésicos foram se aprimorando, criando
uma especialidade de anestesiologia, tendo aceitação como parte de um movimento maior de
humanismo.
A anestesia percorreu um longo caminho desde que foi usada pela primeira vez, em uma
grande operação em 1846 no Hospital Geral De Massachusets, em Boston, onde foi usado éter e o
anestesista foi um jovem dentista de nome Willian Morton.
Em 1847, a experiência era repetida no Rio de Janeiro, no Hospital Militar do Rio de
Janeiro com sucesso e neste mesmo ano, na Escócia, James Young Simpson, descobriu as
propriedades anestésicas do clorofórmio e em 1848, empregou a ‘’máscara de Souberain’’, o
professor cirurgião Manuel Feliciano Pereira de Carvalho efetuava, no Rio d Janeiro, a primeira
cloroformização.
O uso de drogas e álcool eram usadas como ‘’alteradores de humor’’, antes da expressão
caracterizar os tranqüilizantes e os antidepressivos que foram incorporados no século XX. Drogas
como o álcool e o ópio eram usadas para esquecer as preocupações do mundo, mesmo que por
pouco tempo e na medicina eram utilizados para amenizar a dor.
Wilson (1964:153) refere que ‘’na primeira metade do século antes de serem usados
clorofôrmio e óxido nitroso, o álcool era geralmente empregado como anestésico nas intervenções
cirúrgicas. Até surgirem narcóticos novos como a metadona, receitava-se o ópio como analgésico,
o álcool atenua a dor, retardando ou ‘’deprimindo’’ o sistema nervoso central, resultando o
embotamento de todas as reações do corpo’’.
Ópio e seus derivados, morfina e a codeína, também agem como sedativos, além de
serem usados no tratamento contra a dor.
Atualmente, quando o paciente adentra à sala de cirurgia, o anestesista faz com que
adormeça suavemente, com uma injeção na veia quando se aplica anestesia geral. O trabalho
anestésico seguinte depende do tipo de cirurgia que irá ser realizada. Neste momento é introduzido
na boca do paciente um tubo (entubação) que passa pela traquéia com o intuito de assegurar a
passagem do ar. Os gases anestésicos juntamente com o oxigênio vital são administrados através
desse tubo, provenientes de cilindros de gás e soluções que ficam na máquina anestésica. Após a
realização deste procedimento o anestesista tem total controle da respiração do paciente.
Junto com o processo de desenvolvimento anestésico, foi desenvolvido no início do século
XIX, o método asséptico com o intuito de combater os germes, com diminuição de infecções.
Atualmente, no final do século XX, o cirurgião é potencialmente capaz de realizar cirurgias
mais ousadas por possuir conhecimento e capacidade técnica, pois consegue na maior parte das
vezes vencer a barreira da dor e da infecção. Se o paciente está em um grau elevado de tensão o
anestesista pode precisar aumentar excessivamente as dosagens anestésicas para conseguir a
sedação. Esta potencialização de tensão é determinada pelo despreparo emocional do paciente
frente a cirurgia, acarretando no pós-operatório os surtos pré ou psicóticos em si, os estados de
agitação ou depressão, além dos quadros de delírio e demência. Esses aspectos poderão ser
trabalhados pelo psicólogo no pré e pós operatório, para que haja um melhor prognóstico do
paciente.
REPERCUSSÕES PSICOLÓGICAS EM CIRURGIA
Episódios de somatização:
Algumas cirurgias acabam sendo suspensas devido ao aparecimento de diarréias, estados
febris, reações alérgicas para que possa ser feita uma investigação desses sintomas.
Curiosamente, tais episódios desaparecem horas após a suspensão da cirurgia.
Esses dois últimos temores permitem compreender porque certos pacientes preferem a
raquianestesia quando podem escolher (Sechelave, 1985:71).
O despreparo emocional do paciente para a cirurgia pode levá-lo a situações muito comuns
nos centros cirúrgicos, onde a resistência orgânica que o paciente impõe aos anestésicos devido
ao elevado estado de tensão em que se encontra pode levar o anestesista a recorrer a um
aumento excessivo das dosagens anestésicas para obter respostas farmacológicas eficientes.
Pode-se citar ainda como conseqüência do desespero emocional do paciente os surtos pré ou
psicóticos em si, os estados de euforia profunda e depressão no pós-operatório. Segundo
pesquisas do Dr. Harry Benett da Universidade de Nova York, o estado de tensão emocional pode
alterar, inclusive, o curso do trans-operatório, gerando intercorrências importantes na cirurgia.
Baudry e colaboradores (Sechelave,1985) distinguem seis grupos referentes a esses
pacientes, denominados pacientes de risco:
1- Preparo Psicológico:
Um preparo psicológico adequado a pacientes cirúrgicos, diminui a ansiedade, reduz
significativamente a incidência e intensidade da dor pós-operatório.
Um bom esclarecimento sobre o período pós-operatório durante a preparação para a
cirurgia auxilia na redução de ansiedade, diminui o estresse e favorece a colaboração do
paciente para a diminuição da dor pós-operatória.
2- Cirurgia:
A redução das manipulações viscerais e os estriamentos da musculatura auxiliam na
diminuição da dor em pós-operatório.
3- Anestesia:
A anestesia condutiva retarda o aparecimento das dores em pós-operatório, principalmente
quando são empregados anestésicos locais de longa duração”.
A maior parte das depressões pós-operatórias é reativa, que varia em grau de leve a
grave, sendo fatores principalmente ativos. O estado anímico do paciente suscetível a todo tipo de
evento, mobiliza-se buscando defender-se ou esquivar-se da situação de ameaça presente. Essa
mobilização é inadequada e os fatores vividos pelo paciente geram ou acentuam o estresse e
ansiedade; o desgaste emocional torna-se cada vez mais progressivo. Todos os seus mecanismos
de defesa estão voltados para o enfrentamento do evento crítico que, no caso, é representado pela
cirurgia. Uma vez superada a crise, há uma quebra abrupta de toda essa energia mobilizada,
levando o paciente a um estado depressivo reativo que terá duração e intensidade determinadas
pelo desgaste físico e emocional experimentado no pré-operatório (Sebastiani,1995).
O que se espera de um pós-operatório é uma recuperação tranqüila, buscando equilíbrio
entre o físico e o psíquico, por isto é muito importante que o paciente possa expressar tudo o que
está sentindo sem medo ou receio.
Uma das causas de depressão em pós-operatório está associada a fantasias frente a um
pós-operatório diferente, sem dores, sem recomendações e principalmente sem limitações, e isto
faz com que o paciente se frustre e se sinta ameaçado. Em decorrência destas circunstâncias é
que se faz fundamental uma boa preparação psicológica em pré-operatório e um acompanhamento
contínuo em pós-operatório.
O papel do psicólogo no pós-operatório é abarcar todos os sentimentos apresentados pelo
paciente, com o intuito de deixar com que estes não interfiram na recuperação do corpo operado, e
não deixem seqüelas emocionais em relação a procedimentos cirúrgicos.
O procedimento cirúrgico é invasivo e muitas vezes ameaçador da integridade física e
psicológica do paciente caso esse não esteja preparado psicologicamente para enfrentar tal
situação.
Chiattone (1996:74) citando Lewis et Lewis, afirma que “a maioria das doenças está na
dependência, tanto de fatores emocionais quanto físicos. Você é uma unidade mente corpo, suas
emoções são fenômenos físicos e cada alteração fisiológica tem seu componente emocional”.
Dentro desta visão tem-se saúde como um estado de equilíbrio do indivíduo, nas suas três
esferas (biológica, psicológica e social) mantendo a homeostase entre elas.
No entanto, o que se observa é a supervalorização dos aspectos orgânicos do paciente em
detrimento dos aspectos psicológicos e sociais do mundo, que podem interagir no processo saúde-
doença. Assim sendo, a relação médico-paciente se faz fundamental, pois é através do vínculo
estabelecido no primeiro encontro que o paciente se torna fortalecido e motivado a enfrentar
situações que muitas vezes são grandes geradoras de estresse, facilitando o processo de cura,
tratamento e reabilitação. É a partir desse o vínculo, que se é construída uma ligação afetiva,
fundamental para o sucesso do tratamento.
Cardella (1994:16) concebe “o amor como um estado e um modo de ser caracterizados
pela integridade e diferenciação de um indivíduo, que lhe permite ver, aceitar e encontrar o outro
como único, singular e semelhante na condição de humano. O estado de amor pressupõe
capacidade de auto-satisfação de necessidades e os desejos em relação aos outros. O amor é a
polaridade oposta do egocentrismo e do sofrimento de natureza emocional (...)”.
Segundo Dias (1998:50), “o estado de amor permite-nos apreciar as qualidades e
potenciais de outra pessoa e aceitar suas limitações como um ser em aprendizado e crescimento
(...). O amor implica a capacidade de estabelecer limites entre si e o outro, um contato de boa
qualidade e retratação, além de espontaneidade e autenticidade”.
Essa relação apresenta-se dentro do contexto cirúrgico, de forma benéfica, pois identifica-
se a integração dos objetivos comuns entre anestesista e paciente: esse vai em busca de uma
“solução” para seu problema, carregando entretanto a expectativa de em nenhum momento sentir
dor ou qualquer outro tipo de incomodo durante a intervenção cirúrgica, cabendo àquele
proporcionar ao paciente o resguardo total de sua vida.
Na dependência de expectativas prévias, o paciente pode apresentar-se inseguro da
competência, dedicação e seriedade do anestesista, o que torna difícil a reversão desta
expectativa frente à conduta a ser tomada. Esta desconfiança pode manifestar-se mais ou menos
de forma ostensiva e agressiva; a firmeza e correção das atitudes iniciais são indispensáveis para
minimização dos problemas futuros (Barroso,1992).
É em virtude da situação acima que se torna de fundamental importância que o anestesista
da maneira mais singela e objetiva transmita ao paciente segurança e confiança, pois, durante um
certo período, aquele se tornará guardião da sua vida, cabendo somente a ele resguardar e
assegurar a sua vitalidade.
Algumas vezes, a anestesia desperta no paciente angústia maior do que a própria
operação. Em proporções variáveis, essa sensação parece estar ligada à idéia de perda de
controle, ausência, desligamento, separação e morte. Neste momento, a visita do anestesista,
dando corpo a uma figura abstrata, explicando, entendendo e acalmando o paciente, tem um
enorme significado na redução da ansiedade e de todas as suas conseqüências. Através deste
clima, o paciente se torna cada vez mais participativo do processo. Esta transferência de
conhecimentos e credibilidade deve sempre ser utilizada a favor da melhor condução do caso
(Barroso,1992). Durante a consulta, além da utilização do conhecimento técnico, é muito
importante que o anestesista saiba ouvir seu paciente com atenção, não se prendendo somente às
questões da anamnese que são direcionadas, mas também avaliando a validade dos
conhecimentos dinâmicos que cercam o paciente.
“Antes de ser médico ou terapeuta se é pessoa, e não é fácil ser pessoa, desvestir por
algum tempo o uniforme do saber, do poder, tudo manifestado pelo modo de ser, pelo olhar, pelo
silêncio – uma presença total em face do outro” (Sarano 1978:41).
A existência e o grau de ansiedade e insegurança causados pela expectativa de
sofrimento, morte, mutilação e castração devem ser atentamente observados e investigados na
relação médico-paciente. Deve-se criar um clima de confiança, que permita que o paciente possa
expor seus sentimentos e principalmente medos, na expectativa de que os mesmos sejam
abarcados pelo profissional, que muitas vezes se torna uma figura onipotente e temerosa perante o
paciente, em virtude de suas fantasias.
Cabe ao anestesista estar atento e esclarecer qualquer dúvida, proporcionando ao
paciente desmistificar qualquer fantasia que possa indiretamente interferir no momento anestésico.
É muito difícil para o paciente entregar seu corpo a um anestesista no qual não confia,
podendo assim surgirem anteriores à intervenção cirúrgica manifestações comportamentais que
reflitam o estado psicológico do paciente gerado pela insegurança de um vínculo pouco
estabelecido. Muitas vezes o profissional não prioriza um bom relacionamento, uma vez que
mantém o contato com o paciente somente no momento cirúrgico, leva-se assim em consideração
apenas o aspecto técnico de manutenção da vida durante a intervenção cirúrgica, não vendo como
relevância a condição de ser humano.
Sarmento (1994:23) refere que “o ser procura ajuda, em seu estado fragilizado, espera
encontrar gestos solidários para o seu penar. O ser que oferece ajuda coloca-se à disposição, em
atos que se baseiam no seu saber, mas que, anteriormente ao conhecimento, trazem em seu
âmago o desejo de curar ou de contribuir para que, antes mesmo que a dor apareça, configure-se
um outro caminho – o caminho do bem-estar”.
Geralmente, quando o paciente busca uma solução para o seu problema, tal ação vem
carregada de uma série de outros problemas e principalmente de sentimentos ligados a eles, como
medo, ansiedade, ignorância, ressentimento e até certa desconfiança, que, na maioria das vezes,
apresentam-se diretamente ligados à percepção da pessoa, seus antecedentes pessoais, história
de vida, idade, sexo, e personalidade, englobando a bagagem genética e a experiência de vida.
Segundo Dias (1998:55), “torna-se importante uma atitude emocionalmente madura e
compreensiva por parte do médico para que ele possa identificar, reconhecer e diferenciar quando
uma atitude do paciente é direcionada ou não à sua pessoa real. Caso o médico não se dê conta
deste movimento do paciente, poderá ter o relacionamento com o mesmo prejudicado através da
atuação de um papel complementar que é esperado pelo paciente. Se, ao contrário, souber
diferenciar e manejar tal situação – e isso não é tarefa fácil – poderá facilitar o estabelecimento de
um vínculo de confiança, onde o paciente sentir-se-á compreendido”.
Sendo assim, o processo de transferência provoca reações no médico, denominadas de
contratransferência, que segundo Laplanche e Pontalis (1995:102), “é um conjunto de reações
inconscientes do Analista à pessoa do analisando e, mais particularmente, à transferência deste”.
Transportando para o setting hospitalar, Canella (1994:06) define contratransferência
como “conjunto de sentimentos e reações mobilizados no médico, não exatamente pela pessoa
“real” do cliente, mas pelas distorções perceptuais do médico, que determinam a maneira pela qual
este “vê”o cliente”.
Desta forma, deve-se levar em consideração que o ser humano é um ser carregado de
experiências passadas, de realidades presentes e principalmente de expectativas futuras, que
muitas vezes podem influenciar na relação com um outrem seja ele médico ou paciente.
Para Barroso (in Mello Filho, 1992:259), “a criação de um ritmo que permita ao
paciente, dentro da sua própria força, ir expondo ou deixando perceber os seus temores, abre
espaço para que sejam esclarecidos problemas e propostas médicas, na justa medida da
capacidade e disposição de conhecê-los”.
Neste sentido, uma boa relação entre médico e paciente é indispensável, pois, em certas
circunstâncias, a confiança e a segurança se fazem tão eficazes quanto qualquer instrumento
médico.
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