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Trabalho de Campo Da Disciplina de Introdução A Filosofia

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Filosofia Política Moçambicana: Seus Desafios na Democracia.

Oriete Ester José Caetano , Código: 708233083

Curso: Licenciatura em
Administração Pública,
Disciplina: Introdução a Filosofia
Ano de frequência: 2o Ano
Docente: Mst. Armindo Armando

Quelimane, Abril de 2024


Classificação
Categorias Indicadores Padrões Nota
Pontuação
do Subtotal
máxima tutor
 Capa 0.5
 Índice 0.5
Aspectos  Introdução 0.5
Estrutura
organizacionais  Discussão 0.5
 Conclusão 0.5
 Bibliografia 0.5
 Contextualização
(Indicação clara do 1.0
problema)
Introdução
 Descrição dos objectivos 1.0

 Metodologia adequada ao
2.0
objecto do trabalho
 Articulação e domínio do
Conteúdo discurso académico
2.0
(expressão escrita cuidada,
coerência / coesão textual)
Análise e
 Revisão bibliográfica
discussão
nacional e internacionais 2.
relevantes na área de
estudo
 Exploração dos dados 2.0
 Contributos teóricos
Conclusão 2.0
práticos
 Paginação, tipo e tamanho
Aspectos
Formatação de letra, paragrafo, 1.0
gerais
espaçamento entre linhas
Normas APA 6ª
 Rigor e coerência das
Referências edição em
citações/referências 4.0
Bibliográficas citações e
bibliográficas
bibliografia
Folha de Recomendação para a Melhoria do Trabalho
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Índic
e
1. Introdução.....................................................................................................................................5

1.1. Objectivos..................................................................................................................................6

1.1.1 Geral........................................................................................................................................6

1.1.2 Específicos.........................................................................................................................6

1.2. Metodologia...............................................................................................................................6

2. Filosofia Política Moçambicana: Seus Desafios na Democracia.................................................7

2.1. A Filosofia Africana na Construção de um projecto democrático em África...........................9

2.2. Soluções políticas para o desenvolvimento do sistema político em Moçambique..................14

3. Conclusão...................................................................................................................................16

4. Referências bibliográficas..........................................................................................................17
1. Introdução

O presente trabalho da Disciplina de Introdução a Filosofia, tem em vista descrever aspectos


relacionados com as Filosofia Política Moçambicana: Seus Desafios na Democracia, onde numa
primeira fase serão apresentados diversos conceitos e numa segunda fase serão apresentados os
aspectos relacionados como a Filosofia Africana na Construção de um projecto democrático em
África. As soluções políticas para o desenvolvimento do sistema político em Moçambique.

A filosofia política moçambicana enfrenta vários desafios no contexto da democracia. Enfrentar


esses desafios exigirá um compromisso contínuo com a construção de uma democracia inclusiva,
responsável e resiliente em Moçambique. Isso envolverá não apenas acções do governo, mas
também o envolvimento activo da sociedade civil, do sector privado e da comunidade
internacional.

Para tal quanto a organização do trabalho podemos dizer que o trabalho encontra-se dividido em
três partes nomeadamente: a introdução, desenvolvimento, conclusão e referências bibliográficas.
A introdução constituíra a parte inicial do trabalho onde serão apresentadas as notas inicias ao
que tange ao tema, aos objectivos do trabalho e a metodologia a ser empregue para o alcance dos
tais objectivos. No desenvolvimento serão apresentados as discussões em torno do tema em
estudo e as abordagens de diferentes autores em torno do tema e sua ênfase, finalmente na
conclusão será dada aquilo que é o fecho do trabalho apresentado as conclusões e os
conhecimentos tidos depois de elaborado o trabalho.

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1.1. Objectivos

1.1.1 Geral

 Conhecer a Filosofia Política Moçambicana e Seus Desafios na Democracia.

1.1.2 Específicos

 Identificar as soluções políticas para o desenvolvimento do sistema político em


Moçambique.
 Compreender a Filosofia Africana na Construção de um projecto democrático em África

 Caracterizar a filosofia politica de Moçambique e seu desafios democráticos .

1.2. Metodologia

Segundo Lakatos - Marconi (2003, p.83), diz que, " método é o conjunto das actividades
sistemáticas e racionais que, com maior segurança e economia, permite alcançar os objectivos".

De salientar que, para elaboração do trabalho, recorreu-se a metodologia de consulta de algumas


obras bibliográficas, tais como: monografias científicas, teses de doutoramento, artigos
científicos, dissertação de mestrados livros que versam sobre o tema nelas inclinadas e que tais
obras estão referenciadas na lista bibliográfica e ainda em pesquisas na internet. Como se não
bastasse, tratando-se dum trabalho científico, importa salientar que, o trabalho está organizado
textualmente da seguinte maneira: Dentro do trabalho abordou-se casos concretos sobre o tema
em estudo e sua estrutura, com as devidas citações de autores consultados no levantamento
bibliográficos e algumas opiniões do autor do trabalho.

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2. Filosofia Política Moçambicana: Seus Desafios na Democracia.
Pensar filosoficamente o processo democrático de Moçambique é o objectivo do filósofo
Severino Ngoenha em sua obra Os Tempos da Filosofia: filosofia e democracia moçambicana.
Contudo, é preciso ressaltar que o filósofo discorre sobre a situação política de Moçambique em
outros trabalhos que produziu, como seu célebre livro Filosofia Africana: das independências às
liberdades publicado em 1993.

Nesta obra, Ngoenha além de tecer suas críticas à etnofilosofia, defende que o
compromisso da filosofia africana é com o futuro. Por este fato, também discorre sobre a situação
política de Moçambique, tendo como base as experiências e erros da I República Moçambicana,
para demonstrar aos intelectuais a necessidade destes se preocuparem com o futuro político do
país, para que a sociedade não corra o risco de reviver os erros do passado.

Como é notório a preocupação do filósofo com o futuro, este, diante do cenário político
de Moçambique na II República, com a consciência do seu papel enquanto um intelectual, na
obra “Os Tempos da Filosofia”, analisa como ocorreu o processo de implementação da
democracia em seu país, sem deixar de tecer suas considerações sobre esta forma de governo,
haja vista que, para este filósofo “Cada época, cada geração define um objectivo que aos seus
olhos constitui a sua própria contribuição para a história dos homens”.

Portanto, a postura e a análise do filósofo, em suas obras, podem ser compreendidas,


como a sua contribuição para implementação de uma democracia que seja condizente com a
realidade e a história dos africanos/moçambicanos.

Dito isto, a democracia na filosofia ngoenhiana é uma questão filosófica imprescindível!


Através do voto, cada indivíduo escolhe o modo de sociedade que anseia. Logo, há um problema
de carácter existencial no processo eleitoral, pois os indivíduos não escolhem simplesmente um
modelo político, mas “o tipo de futuro que queremos que seja o nosso e por consequência, dos
nossos filhos, sem condicionamentos ideológicos”. Portanto, o autor assegura que:

O problema da democracia não é redutível a uma simples questão de eleições de partidos


ou de presidentes, mas implica antes de mais, e sobretudo, o lugar que o povo tem que ocupar nas
decisões dos problemas fundamentais que lhe dizem respeito, e nos mecanismos jurídicos, para
que tenha um controlo real sobre a realidade política, económica, social e educativa.
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Nesta perspectiva, a democracia está para além de um processo eleitoral. Ela está
totalmente relacionada à efectivação das liberdades individuais e dos grupos, de participarem das
decisões públicas, por ser uma forma de governo que tem como fundamento o governo de acordo
com as decisões do povo, da maioria. Ela “consiste na inserção de cada indivíduo no seio da
comunidade, e na participação integral de sua vida. Cada indivíduo deve poder cooperar, ouvir e
fazer sentir a sua opinião, ajudar e fazer-se ajudar, amar e ser amado”.

Significa que nós, indivíduos, somos os comandantes de nossa sociedade. Por este fato,
não precisamos exactamente utilizarmos conceitos abstractos para compreendermos nem para a
explicarmos, pois, a democracia refere-se à constituição de um espaço político, que na
óptica ngoenhiana, só pode ser cunhado através das diferentes concepções culturais, políticas e
sociais dos povos de uma dada sociedade.

Tal concepção não quer dizer que o filósofo tenha excluído a dimensão axiológica que a
democracia assenta. Os valores da democracia: o respeito pelos direitos do homem, a igualdade
entre os cidadãos e o respeito pela dignidade das pessoas, possuem, para o autor, carácter
universal e não negociáveis.

A questão de fundo da sua concepção está relacionada à dimensão institucional da


democracia. Esta, não possui carácter unívoco. A história das instituições nos mostra, que as
mesmas emergiram de contextos históricos, sociais e culturais específicos, o que justifica as
diferenças entre os modelos institucionais da democracia nos diversos países do mundo.

Por este ângulo, o filósofo acredita que a constituição de modelos institucionais de


democracia, devem ser aculturados à realidade histórica e cultural de cada sociedade, pois tão
somente a instituição poderá se legitimar. É do substrato cultural, dos aspectos característicos de
uma realidade específica, ao qual o sistema irá operar, que se deve formular o modelo
institucional que conseguirá corresponder politicamente às concepções de mundo dos diferentes
povos constituintes de uma nação.

Consequentemente, modelos institucionais específicos de outros países não podem serem


transpostos a outras sociedades, pois o contrário acarretaria, no que o filósofo conceitua
como genocídio cultural da dimensão política. Sendo assim, Ngoenha tece uma crítica às
sociedades que possuem experiência democráticas a mais tempo que os países africanos e tentam
8
impor modelos institucionais. Para ele, estas sociedades “[...] podem partilhar conosco as suas
experiências, mas não podem servir de modelo porque as modalidades da racionalidade ocidental
são historicamente situadas e não susceptíveis de ser levianamente transferidas para outras
latitudes”.

Além da crítica, o filósofo pondera que “A filosofia política tem a função de explicar as
regras da democracia e a definição da organização do político, quando o regime é ameaçado do
interior ou do exterior, e de salvá-la contra quem a coloca em perigo.”. Cabe a ela, opor-se às
ameaças internas que queiram reduzir a política ao campo dos interesses individuais e/ou
partidários. Ela “deve reafirmar o primado do político sobre o econômico, da deliberação popular
sobre os índices das bolsas de valor”.

Logo, Ngoenha é um filósofo político democrata, que preserva todos os princípios da


democracia e está engajado em convocar a Filosofia Política Moçambicana a contribuir para o
pensar filosófico sobre a democracia, tendo em vista a maximização das liberdades democráticas
dos indivíduos e povos moçambicanos.

Consequentemente, as reflexões que adentraremos visam ponderar, de acordo


com Ngoenha, se a política e seus modelos institucionais de democracia, impostos pelo ocidente,
ampliam ou não os campos da liberdade dos africanos.

2.1. A Filosofia Africana na Construção de um projecto democrático em África


Em 1994, com a proclamação de uma Nação Democrática em Moçambique, após o fim da guerra
civil, a nação passou a reconhecer os sujeitos como partícipes da vida da sociedade e do Estado,
proclamando em sua constituição que “Todos se reconhecem actores e sujeitos da história, ou
seja, um partido único não pode ser o dirigente da sociedade e do Estado”. Fato que altera a
forma como os cidadãos, anteriormente, compreendiam e se relacionavam com o governo.

Assim, a legislatura da II República instaurou o sistema democrático em Moçambique


construindo no país um parlamento representativo, partidos políticos, meios de comunicação de
massas privados como: televisão, jornais, rádios, instituições de ensino secundário e superior.
Ocorreram novas formações políticas, organizações civis e sociais, crescimento econômico e
sobretudo, liberdade de opinião.
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No entanto, na II República, dois elementos, na perspectiva ngoenhiana, constrangem o
nascimento de uma real democracia moçambicana. O primeiro elemento diz respeito ao modelo
de democracia que foi condicionada a Moçambique e o segundo elemento, refere-se ao direito de
representatividade dos povos.

O governo da II República foi um governo caracterizado pela imposição política da


comunidade internacional que mantém sob tutela a economia e a política moçambicana. Logo, a
democracia instaurada em Moçambique é uma democracia liberal que possui valores, leis e
lógica produtivista dos países ocidentais.

Este fato, leva Ngoenha a conceituar o Estado da II República como dólar-crático, uma vez
que, para o filósofo, neste governo tudo se fez em função do dólar. As elites políticas, os
funcionários públicos utilizam o serviço público a favor dos seus próprios interesses econômicos.
A corrupção invadiu a mentalidade dos servidores do Estado, e estes utilizam os valores
ocidentais de democracia como um instrumento para realização de interesses econômicos
próprios, em detrimento dos interesses da população.

A dólar-cracia tornou o Estado ausente da vida pública, colocou a economia onde a paz tinha
lugar e tal ausência resultou em uma extrema desigualdade entre ricos e pobres, aumentando
progressivamente a violência social. Neste contexto, Ngoenha afirma que a lógica produtivista,
que fundamenta o Estado dólar-crático, precedeu os valores propriamente políticos da
democracia.

O princípio da justiça, que regulamenta a vida social, no campo econômico e do direito foi
negligenciado em função da dólar-cracia, que se tornou o fim que justifica todos os meios. Estes
fatos, leva-nos a perceber que, apesar da II República buscar instaurar um sistema democrático
em Moçambique, com a criação de um parlamento, partidos, dentre outros elementos
constituintes de uma sociedade democrática, a

[...] segunda República muito depressa oscilou da democracia a “dólar-


cracia”. Com a passagem da primeira República à segunda república,
deitou-se fora a água suja e o bebé. Valores verdadeiros para qualquer
cidadão foram negligenciados, deliberadamente omitidos ou mesmos
invertidos.
10
Se partirmos da concepção ngoenhiana de democracia, compreenderemos que ocorre no
cenário político de Moçambique, como de alguns países africanos, a instauração de modelos
institucionais da democracia que não corresponde às características sociais, culturais, muito
menos política da nação o qual opera. A nação democrática moçambicana, possui na sua gênese,
os valores dos vencedores da guerra, que em troca de auxílio financeiro determinam a forma
como Moçambique deve gerir sua economia e consequentemente sua política.

Deste modo, Ngoenha conclui que há em Moçambique um “democratismo (que é diferente da


democracia), super liberalismo que se traduz em privatizações sumárias, tutela governativa [...]”,
pois a dimensão econômica e social da vida colectiva impõe-se em detrimento do projecto
político, enfraquecendo o Estado Moçambicano e o impossibilitando de cumprir o seu papel
enquanto um Estado democrático, por necessitar cumprir as imposições antidemocráticas do FMI
e do Banco Mundial.

Junta-se a isto que, em 1994, a II República ao implementar os sistemas de partido, que por
sua vez é tipicamente ocidental, não avaliou se este sistema é capaz de representar os diferentes
povos desta sociedade. No entanto, percebe-se que muitos países africanos demonstraram não
conseguirem, através desta modalidade, mobilizar o imaginário colectivo das populações. Sendo
assim, o filósofo põe-se a analisar que:

Das duas uma: ou o africano (e, portanto, também o moçambicano) é geneticamente anti-
democrático como sustentam alguns eugenistas (Medeved Arison), ou então o sistema de
partidos, é talvez neste momento, um mal necessário, mas não corresponde ao substrato cultural
dos nossos povos.

Do ponto de vista ngoenhiano, os africanos não são de forma alguma antidemocráticos, e nos
reportando à sua concepção de democracia, podemos afirmar que os sistemas de partidos
ocidentais também são inadequados e não coaduna com as culturas africanas. Não representa a
heterogeneidade cultural dos povos.

Isto, leva-nos a questionarmos, portanto, como a heterogeneidade dos povos que constituem
Moçambique, podem serem representados em um sistema que possui valores discrepantes,
estabelece uma única língua como oficial do país e obedece a leis externas, que são do ponto de
vista interior, antidemocráticas? Haveria outros veículos de opinião, outras formas destes
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cidadãos sentirem-se representados e reivindicarem contra este sistema político discrepante com a
sua sociedade?

Apesar do Estado Moçambicano de 1994 instaurar um sistema democrático no país, este não
criou mecanismos jurídicos legais que possibilitem os cidadãos fazerem-se ouvidos e
participarem efectivamente da vida pública de Moçambique. A criação de parlamentos, portanto,
estaria a representar somente os interesses dos partidos e não os das populações.

Por fim, é evidente que Moçambique não possui uma real democracia, visto que os povos não
possuem nem instrumentos que efectivem sua participação na sociedade, sendo a participação na
vida pública a maior característica desta modalidade de governo, segundo os seus fundamentos.
Como também, o modelo institucional dólar-crático é discrepante com a realidade social e
cultural destes povos, indo de encontro ao que Ngoenha compreende por democracia.

Por respeito à democracia, o filósofo considera que os africanos devem “tomar a sério a
especificidade cultural que nós somos e representamos e inventar um modelo institucional que se
inspire nos substratos culturais das populações”, pois na sua óptica, o que há em Moçambique é
um jogo de interesses políticos que prejudica a constituição de uma democracia que proclame a
justiça social e que seja realmente benéfica para os povos.

O filósofo, vislumbra a urgência da construção de modelos institucionais que sejam


genuinamente africanos e que possua legitimidade política nos povos autóctones, como também
os permitam participar com efeito nas decisões públicas. A vista disso, acreditamos que um dos
problemas centrais da obra Os Tempos da Filosofia: filosofia e democracia Moçambicana reside
em investigar,

[...] como fazer com que a democracia não se transforme num jogo de elites, que a maioria da
população possa, de facto, participar com conhecimento de causa, não só através de um boletim
de voto de cinco em cinco anos, como uma assinatura de cheque em branco para as elites
políticas que se sentem legitimadas a fazer privatizações que vão em detrimento do povo que
nelas depositou confiança? .

Esta questão orienta as reflexões de Ngoenha, contudo, ressalto que além dos motivos outrora
citados que constrangem o nascimento de uma democracia moçambicana, o filósofo salienta que

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os moçambicanos ainda são incapazes de assumir a responsabilidade que a liberdade comporta,
ou seja, os moçambicanos ainda não possuem instrumentos que orientem e possibilitem a
formação de espaços de liberdade, instituições de formação e reivindicações políticas, devido ao
histórico político que não os permitiram desenvolverem uma cultura de participação efetiva na
vida pública.

A I República deu aos moçambicanos a concepção sobre o que é um Estado que promove a
justiça social, mas não os permitiam participar das decisões nem expressarem livremente suas
opiniões sobre os rumos da vida social e política. Enquanto a II República, deu aos
moçambicanos a noção de liberdade para a participação na vida pública, porém os condenaram a
um sistema econômico que os mesmos não tinham formação e informação para adentrarem,
como também os negaram juridicamente, mecanismos para uma real participação na vida integral
da sociedade.

Neste ínterim, Ngoenha sustenta que Moçambique necessita de instrumentos que oriente sua
política a promover concomitantemente a justiça social e a liberdade de expressão como também
os permitam conseguir assumir a responsabilidade que a liberdade/soberania requer para
desempenhar as prerrogativas de um Estado Soberano e democrático.

Enquanto um intelectual que busca exercer sua função social, ao analisar filosoficamente a
realidade política de Moçambique, os erros e acertos que ocorreram durante as duas repúblicas,
apresenta-nos sua contribuição para o desenvolvimento económico e social de seu país e,
consequentemente, para a construção de um novo projecto de democracia.

Acredita, ser necessário o estabelecimento de um projecto de sociedade que estabeleça um


triplo contrato moçambicano, que deve ser composto por um contrato cultural, um contrato
social e um contrato político, para que uma democracia moçambicana possa emergir sem
condicionamentos políticos, ideológicos e económicos advindos do exterior.

Com o triplo contratualismo, o filósofo aspira moçambicanizar as


instituições democráticas do país, por acreditar que com a instauração destes contractos, o
modelo institucional de democracia será moçambicano, vez que irá emergir da história, da cultura
e do substrato político nacional construído a partir dos princípios que as forças sociais e políticas
de Moçambique cunharam.
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Assim, apresento a seguir, os contractos que podemos considerar ser, na filosofia
de Ngoenha, os fundamentos para que Moçambique consiga conquistar a liberdade almejada, a
saber: o desenvolvimento económico e social e construir uma democracia moçambicana.
Todavia, dados os limites deste trabalho, apresentarei apenas as principais características e
propostas de cada contrato.

2.2. Soluções políticas para o desenvolvimento do sistema político em Moçambique


Desenvolver o sistema político em Moçambique requer uma abordagem abrangente que
aborde uma série de desafios e promova a inclusão, a transparência e a estabilidade política.
Essas soluções políticas não são exaustivas, mas representam áreas-chave que podem contribuir
para o desenvolvimento do sistema político em Moçambique. É importante que essas soluções
sejam implementadas de forma integrada e sustentável, com o envolvimento activo de todos os
sectores da sociedade moçambicana

Investir na capacitação e independência das instituições democráticas, como o sistema


judicial, os órgãos eleitorais, o parlamento e as agências de controle e fiscalização, é
fundamental. Isso ajudará a garantir a separação efectiva de poderes, a prestação de contas e a
transparência no governo.

Incentivar e facilitar a participação activa dos cidadãos na vida política e pública é


essencial para uma democracia vibrante. Isso pode ser feito através da educação cívica, do
fortalecimento da sociedade civil, da promoção da liberdade de expressão e do acesso à
informação. Implementar medidas eficazes de combate à corrupção e à má gestão dos recursos
públicos é crucial para fortalecer a integridade e a confiança nas instituições governamentais. Isso
inclui a implementação de leis anticorrupção, o fortalecimento dos sistemas de controle interno e
externo e a promoção da transparência nos processos de tomada de decisão.

Garantir que todas as vozes sejam ouvidas e representadas no processo político é


fundamental para promover a estabilidade e a coesão social. Isso envolve a promoção da
participação de grupos minoritários, mulheres, jovens e outras comunidades marginalizadas na
política e na tomada de decisões. Fomentar o diálogo e a conciliação entre diferentes atores
políticos e grupos é essencial para mitigar conflitos e promover a coesão nacional. Isso pode ser

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feito através da facilitação de processos de negociação e mediação, da promoção do respeito
pelos direitos humanos e da construção de uma cultura de tolerância e respeito mútuo.

Promover a descentralização do poder e a autonomia local pode ajudar a fortalecer a


governança e a prestação de serviços públicos, bem como a promover o desenvolvimento local.
Isso envolve a transferência de recursos e autoridade para as autoridades locais, capacitando as
comunidades a tomar decisões que afectam suas próprias vidas.

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3. Conclusão

Contudo, feito o trabalho, concluiu-se que. A partir da concepção ngoenhiana de filosofia


africana como projecto do futuro, percebe-se a importância dessa filosofia na luta pela liberdade
compreendida como desenvolvimento social e económico, soberania e democracia, não só em
Moçambique, mas em todos os países africanos.

Por assim ser, a filosofia de Ngoenha, aqui apresentada, vem ofertar, através do triplo
contratualismo, os fundamentos para que Moçambique conquiste uma democracia moçambicana.
O filósofo, através do seu aporte, demonstra às filosofias que a “filosofia não se pode contentar
em justificar o statu quo, mas ao contrário, deve dessacralizar os equilíbrios políticos que
parecem únicos”.

Nesta esteira, a filosofia africana tem o desafio de se debruçar sobre sua temporalidade e contexto
histórico e buscar relevar, construir e fundamentar um projecto de futuro que estabeleça os
princípios de um governo que realmente respeite a heterogeneidade dos povos africanos. Mas,
verifica-se na análise que, o maior desafio das filosofias africanas, em especial em sua dimensão
política, para que os países africanos conquistem a liberdade/soberania, não está em somente
conseguir fundamentar ou inventar um modelo institucional próprio.

Percebe-se que, seu maior desafio, está em concentrar suas investigações nos conflitos entre as
soberanias (Europa e Moçambique), refletindo e identificando quais são as dificuldades dos
africanos em assumir plenamente sua soberania e quais mecanismos elaborar para que o Ocidente
os liberte dos seus élans coloniais.

Por fim, através da análise das obras Os Tempos da Filosofia: filosofia e democracia
Moçambicana e Filosofia Africana: das Independências às liberdades, considero que a Filosofia
Política Africana é tida como um instrumento que instruirá o processo de construção de um
futuro melhor no continente africano, como em Moçambique, pois a ela cabe criar os
mecanismos de fomento da soberania, na luta contra a intervenção da comunidade internacional e
estimular a criatividade dos moçambicanos, libertando suas habilidades, a fim destes trabalharem
em prol de assumirem as responsabilidades que a liberdade comporta, construindo, assim, outras
formas de interpretar e agir sobre sua própria história.

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4. Referências bibliográficas

CASTIANO, J.P. Referenciais da filosofia africana: em busca da intersubjetivação.


Maputo: Ndijra, 2010.

NGOENHA, S.E. Os tempos da filosofia: filosofia e democracia moçambicana. Maputo:


Imprensa Universitária, 2004, 221p.

NGOENHA, S.E. Filosofia africana: das independências às liberdades. Maputo: Edições


Paulistas, 1993, 183p.

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