Resumo Pensadores
Resumo Pensadores
Resumo Pensadores
Émile Durkheim nasceu em 1858, na França. Viveu parte de sua vida na Alemanha e retornou a França, onde morreu
em 1917. O sociólogo viveu em uma sociedade marcada pelas transformações estabelecidas pela Revolução
Francesa e Revolução Industrial.
A sociedade francesa vivia um momento de grande expansão econsolidação das indústrias, organização e
fortalecimento das associações de trabalhadores, intensas greves, lutas sociais e início da propagação
das ideias socialistas.
Influenciado pela ideia positivista de Auguste Comte, de ordem social e racionalidade científica para estudar a
sociedade, Durkheim passa a desenvolver sua própria teoria que insere a prática - e não somente a discussão - de
teorias puras.
Emile Durkheim é conhecido por sua teoria funcionalista, que argumenta que a sociedade é um sistema complexo
composto por diferentes partes que trabalham juntas para garantir a ordem social e a continuidade ao longo do
tempo.
De acordo com Durkheim, as instituições sociais, como a religião, a educação e a família, são essenciais para
garantir a coesão social e a solidariedade entre os indivíduos. Ele também acreditava que a sociedade é maior do
que a soma de suas partes individuais e que o comportamento humano é moldado pelas normas e valores culturais
compartilhados pela sociedade.
Durkheim também enfatizou a importância da pesquisa empírica na sociologia e argumentou que o objetivo da
disciplina era entender os fatos sociais, ou seja, padrões de comportamento, crenças e estruturas sociais que
existem independentemente das vontades individuais.
1. "Da Divisão do Trabalho Social" (1893): Nesta obra, Durkheim argumenta que a divisão do trabalho é essencial
para o desenvolvimento da sociedade e da solidariedade social. Ele argumenta que a especialização do trabalho e
a interdependência entre as pessoas são cruciais para garantir a coesão social.
2. "As Regras do Método Sociológico" (1895): Neste livro, Durkheim defende a importância da pesquisa empírica na
sociologia e estabelece as bases para a abordagem científica da disciplina. Ele argumenta que a sociologia deve
estudar os fatos sociais como entidades independentes e analisar as relações entre esses fatos.
3. "O Suicídio" (1897): Nesta obra, Durkheim examina as causas do suicídio e argumenta que ele não é simplesmente
um ato individual, mas é influenciado por fatores sociais e culturais. Ele identifica quatro tipos de suicídio - egoísta,
altruísta, anômico e fatalista - e argumenta que cada um é influenciado por diferentes níveis de integração e
regulamentação social.
4. "Formas Elementares da Vida Religiosa" (1912): Neste livro, Durkheim examina a natureza da religião e argumenta
que ela é uma instituição social que desempenha um papel fundamental na manutenção da coesão social. Ele
estuda as religiões primitivas e argumenta que elas são baseadas em crenças coletivas e representam a
consciência coletiva da sociedade.
5. Durkheim define um modelo para as pesquisas sociais baseado no rigor metodológico,
na investigação e racionalidade. O sociólogo introduz ainda o conceito de fato social.
6. Fato social pode ser definido como um conjunto geral de regras que se repetem na maioria das sociedades. Para
Durkheim os fatos sociais devem ser estudados como coisas e não devem depender das consciências individuais
ou coletivas.
7. Ao tratar os fatos sociais como coisas, o pesquisador mantém distância sentimental e de afinidade com o tema a
ser pesquisado. Durkheim acredita que esse distanciamento colabora para que a pesquisa seja imparcial e
descreva somente os fatos estudados, sem juízo de valor por parte do pesquisador.
8. Os fatos sociais são diferentes dos objetos de estudo de outras ciências, pois são originados na sociedade e não
nos ímpetos e vontades de cada indivíduo.
9. O fato social é externo ao indivíduo. Ele é definido de acordo com as regras de cada sociedade, por exemplo a
maneira como os indivíduos devem se vestir e se comportar em determinados eventos.
10. Algumas regras são mais gerais, como não matar, não roubar ou respeitar os mais velhos. E, independente das
nossas vontades, a sociedade nos impõe uma série de regras gerais ou específicas.
13. É a força que os fatos sociais exercem sobre os indivíduos para que eles respeitem as regras, leis e normas
sociais, independente da vontade individual .
14. Generalidade
15. Os fatos sociais são gerais, atingem todos os membros da sociedade e não levam em consideração as vontades
e desejos de cada indivíduo. São atos que se repetem, como a linguagem, as tradições culinárias e tradições locais.
16. Exteriorização
17. Os fatos sociais são exteriores, isso porque desde o momento do nascimento, o indivíduo já absorve as regras,
valores e costumes sociais, independente de sua vontade. O conjunto de regras atua da sociedade para o
indivíduo, por isso é exterior a ele.
18. Seguindo as ideias positivistas, Durkheim enxerga a sociedade como uma estrutura que deve funcionar de forma organizada.
A Sociologia Moderna serve para estudar os fatos que são normais e aqueles que são patológicos, a fim de propor soluções que
garantam a normalidade e ordem no funcionamento social.
19. O fato social é considerado patológico (doente) quando foge dos padrões e regras impostos pela sociedade, quando altera a
ordem social que deve sempre ser mantida.
20. O fato social patológico deve ser rapidamente identificado e controlado, para que a sociedade volte à ordem e normalidade,
servindo como exemplo que não deve ser repetido.
21. Consciência Individual e Consciência Coletiva
22. A consciência coletiva é definida como sendo o conjunto de regras e crenças que deve ser seguido por toda a sociedade.
Formam maneiras de agir comum a todos, por exemplo usar roupas.
23. A consciência individual são as vontades e gostos que pertencem a cada indivíduo e que transformam cada ser em único e
com sentimentos pessoais próprios. Já que a consciência coletiva nos impõe o uso de roupas, a consciência individual nos
permite escolher o que usar e de que maneira combinar os trajes.
24. As solidariedades orgânica e mecânica
25. Na obra Da divisão social do trabalho, de 1893, Durkheim afirma que a existência da coesão social, assim como a da própria
sociedade, está baseada no consenso existente entre os indivíduos.
26. Na sociedades pré capitalistas (arcaicas), prevalece a solidariedade mecânica, na qual os indivíduos compartilham das mesmas
crenças e valores e, a partir disso, garantem a coesão. Nesse modelo social, não existe ainda acentuada divisão do trabalho.
Todos trabalham na agricultura ou pecuária, por exemplo. Há apenas a divisão de tarefas.
27. Nas sociedades modernas, predomina a solidariedade orgânica. Os indivíduos não compartilham dos mesmos valores
individuais, e as relações de trabalho e socialização são mais complexas. Há variedade de profissões, mas os indivíduos
dependem bastante um do outro.
28. O quadro abaixo mostra as principais diferenças entre as solidariedades mecânica e orgânica.
Karl Marx
22 de fevereiro de 2023Anna Julia Steckelberg Atualizado em 22 de fevereiro de 2023
Karl Marx foi um filósofo e sociólogo alemão, fundador do socialismo científico e desenvolvedor de uma teoria
comunista que modificou os estudos sociológicos.
"Karl Marx foi um filósofo, sociólogo, economista, jornalista e teórico político alemão. Junto a Friedrich Engels, elaborou uma
teoria política que embasou o chamado socialismo científico. Suas contribuições para a Filosofia Contemporânea incluem, além
da análise social e econômica, um novo conceito de dialética, baseado na produção material da humanidade. Seu conceito
dialético, chamado de materialismo histórico dialético, proporciona uma nova visão para a análise social e científica sobre a
história da sociedade. Ao analisar a produção material da Europa, no século XIX, Marx identificou a marcante desigualdade e a
exploração de uma classe detentora dos meios de produção (burguesia) sobre a classe explorada (proletariado), o que marcou
profundamente a sua carreira."
"Karl Marx nasceu em 1818, na cidade de Tréveris, então território da Prússia. Apesar de ser um dos maiores críticos do
capitalismo e da divisão de classes sociais, ele nasceu no seio de uma família de classe alta alemã. Seu pai foi um bem-sucedido
advogado e conselheiro de governo. Marx estudou no Liceu Friedrich Wilhelm, tendo uma formação, desde cedo, condizente
com a sua classe social.
Aos dezessete anos de idade, Marx ingressou no curso de Direito da Universidade de Bonn, seguindo os passos do pai. Porém, o
jovem universitário encontrou as festas e a vida boêmia. A fim de cortar o estilo de vida que o filho levava, Heinrich Marx, seu
pai, transferiu-o para a Universidade de Berlim. Lá, o contestador e desafiador Marx conheceu o curso de Filosofia, área de
estudo em que se formaria.
Na Faculdade de Filosofia da Universidade de Berlim, Marx foi aluno e discípulo do grande filósofo alemão Georg Wilhelm
Friedrich Hegel, pessoa que influenciou a sua produção teórica, principalmente com o conceito de dialética. Nos seus anos em
Berlim, Marx mostrou-se um grande crítico de governos e governantes, com inclinações para a crítica social."
"Aos 23 anos de idade, Marx defendeu sua tese em Filosofia, obtendo o título de doutor, o que lhe proporcionou o ingresso na
carreira acadêmica. No entanto, por conta de sua ávida crítica ao governo prussiano, o filósofo foi vetado nas universidades, o
que o obrigou a trabalhar como jornalista. Pouco mais de um ano que Marx entrou para a redação de um jornal prussiano, de
cunho socialista, a censura fechou a publicação.
No mesmo ano em que Marx perdeu o emprego no jornal, 1843, casou-se em segredo com Jenny von Westphalen. No mesmo
ano, mudou-se para Paris, tendo contato com os ideais socialistas que influenciaram fortemente a sua produção intelectual.
O casal Karl Marx e Jenny von Westphalen teve sete filhos e quatro deles morreram ainda na infância, por conta da situação
precária em que viveram durante muito tempo, causada pela falta de dinheiro. Com a recusa de empregos para Marx e sua
carreira instável no jornalismo, o casal viveu por muito tempo apenas de partes que receberam das heranças de seus pais.
As posições radicais de Marx legaram-lhe diversas expulsões de territórios prussianos, alemães e franceses, sendo expulso de
vez de Colônia, na Alemanha, em 1848. Também em 1848, publicou o Manifesto Comunista, junto a Engels, o que deu início à
obra marxista, que compôs o que chamamos hoje de socialismo científico. Marx estabeleceu-se na Inglaterra, em 1849. Desde
1843 até o fim de sua vida, Marx sobreviveu dos restos de heranças, da ajuda de Friedrich Engels e de artigos que escrevia vez
ou outra para jornais.
A partir de sua estada em Londres, o filósofo passou a desenvolver a sua obra mais importante, O Capital, além de livros que se
tornaram referências para os estudos de Sociologia, de Economia e sobre o socialismo. O filósofo faleceu no ano de 1883, dois
anos após o falecimento de sua esposa, em virtude de complicações respiratórias causadas pelo uso excessivo de tabaco."
"Teoria de Karl Marx
Marx desenvolveu uma densa e extensa obra que abarca importantes conceitos filosóficos, econômicos e históricos, além de
abrir caminho para uma ampliação do método sociológico. Porém, o filósofo ficou mais conhecido por sua teoria de análise e
crítica social, que reconhecia uma divisão de classes sociais e a exploração de uma classe privilegiada e detentora dos meios de
produção sobre uma classe dominada.
O conjunto de seus conceitos importantes compõe o que Marx denominou de materialismo histórico dialético, um método de
análise social e histórica baseado na luta de classes.
Logo no início do Manifesto Comunista, Marx e Engels afirmam que "a história de todas as sociedades até hoje existentes é a
história das lutas de classes|1|". Essa frase icônica representa o cerne do que é o marxismo: o reconhecimento de que
diferentes classes sociais são transpassadas por relações de dominação."
"Dentro da teoria geral marxista, alguns conceitos sobressaem-se por sua ampla importância dentro do próprio sistema
marxista. São eles:
Infraestrutura: pautada na economia e por sua centralidade na esfera produtiva, que é o principal eixo compositor do
materialismo histórico. A infraestrutura envolve a divisão do trabalho, a produção e suas relações, a compra, o comércio etc.
Superestrutura: é um conjunto de instituições e normas que mantém a ideologia social e a lógica de exploração funcionando.
São elementos da superestrutura o Estado, as leis, a religião e a cultura.
Mais-valia: é a diferença entre o preço de matéria-prima e produção de uma mercadoria e o preço do trabalho e o custo dos
meios de produção da mesma mercadoria.
Alienação: há uma separação evidente entre o trabalhador e o fruto de seu trabalho. A mais-valia, que nos processos de
produção manufaturados beneficiava os artesãos, no processo de produção capitalista, beneficia o dono dos meios de produção
e tira dos trabalhadores a capacidade de se reconhecer no seu próprio trabalho.
Burguesia: é a classe detentora dos meios de produção.
Proletariado: é a classe operária.
Após a constatação do processo de dominação, Marx apresentou como possível solução a Revolução do Proletariado, que seria
uma revolta da classe operária que tomaria consciência de sua classe, de sua força e das injustiças vividas. Essa revolução
derrubaria o Estado e implantaria uma ditadura do proletariado, que teria como missão acabar com a propriedade privada e
minar, aos poucos, a diferença de classes sociais. O fim disso seria, supostamente, o comunismo, ou seja, a forma perfeita do
socialismo, de acordo com o teórico."
"Karl Marx e a Sociologia
As contribuições de Marx para a História, para a Filosofia e a formulação de um novo modo de análise social, voltada para a
crítica do capitalismo, foram fundamentais para a disseminação da Sociologia e para sustentar um método sociológico mais
sólido. A teoria crítica do capitalismo fundada por Marx e Engels esclareceu alguns fatores que a análise de Durkheim (Junto a
Karl Marx e Max Weber, Durkheim compõe a tríade dos pensadores clássicos da Sociologia) sobre as sociedades capitalistas
industriais não aborda.
Na juventude de Marx, a Sociologia ainda não tinha surgido como uma ciência metódica e acadêmica, pois o responsável pela
formulação do método sociológico foi o francês Émile Durkheim. Porém, os conceitos presentes na obra de Marx, não somente
os que dizem respeito à teoria marxista ou ao socialismo, deixaram para os sociólogos posteriores respostas sobre uma lógica
capitalista de um sistema de privilégios, em que uma classe sobrepõe-se à outra e sobre o funcionamento interno do mercado e
da produção."
"Obras de Karl Marx
As principais obras de Karl Marx, produzidas para a publicação, são:
Manifesto do Partido Comunista: escrita a quatro mãos, com Friedrich Engels, o manifesto fundou um novo pensamento
socialista-comunista.
A Ideologia Alemã: um dos mais importantes trabalhos de Marx. Esse livro, escrito e publicado entre 1845 e 1846, traz à tona
uma primeira formulação precisa do conceito de materialismo histórico dialético, demonstrando que a tese dialética de Marx
tomou um rumo totalmente diferente da dialética de seu professor, Hegel. Aliás, o livro de Marx é escrito quase que todo para
criticar Hegel e os idealistas alemães, que se distanciavam da prática e da vida material, que é a única possibilidade concreta de
uma revolução.
Contribuição para uma Crítica da Economia Política: nesse escrito, Marx faz uma espécie de "preparação do terreno" para a obra
magna que viria alguns anos depois. Nessa obra, Marx fala de algumas noções relacionadas ao valor, à moeda e à mercadoria.
O Capital
Tida como a mais densa e completa produção marxista, O Capital é o ápice da produção do filósofo e consagrou de vez a sua
teoria social sobre a divisão de classes sociais, a burguesia e a exploração do trabalho. Nessa obra, Marx faz uma espécie de
genealogia do capitalismo e estuda as contradições geradas por esse sistema. Segundo o filósofo, o capitalismo seria derrubado
por suas contradições, tomado pela classe operária e substituído pelo comunismo.
Frases
"Até agora os filósofos ficam preocupados na interpretação do mundo de várias maneiras. O que importa é transformá-lo."
"As oposições teóricas só podem ser resolvidas de uma maneira prática, pela energia prática do homem. Sua solução não é de
nenhum modo tarefa exclusiva do conhecimento, mas uma tarefa real da vida que a filosofia não poderia resolver porque ela só
a reconhece como uma tarefa puramente teórica."
"A religião é o ópio do povo."
"A história de todas as sociedades até hoje existentes é a história das lutas de classes.""
Max Weber
O sociólogo alemão Max Weber é considerado um dos pensadores clássicos da sociologia e desenvolveu um método
de análise social baseado no que ele chamou de ação social.
"O sociólogo alemão Max Weber é um dos principais teóricos da sociologia e ocupa, junto a Émile Durkheim e Karl Marx, uma
das bases da chamada tríade da sociologia clássica. Weber fundou um método de estudo sociológico baseado no que ele
chamou de ação social e produziu estudos profícuos para a compreensão da formação do capitalismo. O livro mais difundido de
Weber é A ética protestante e o espírito do capitalismo, em que ele analisa a proximidade da formação do capitalismo com a
disseminação do protestantismo."
"Resumo sobre Max Weber
Sociólogo e economista alemão;
Analisou a formação do capitalismo;
Ao contrário de Marx, era a favor do capitalismo;
Desenvolveu uma teoria que aproximava a origem do capitalismo à religião protestante;
Desenvolveu a teoria da ação social como método de análise sociológica.
Biografia de Max Weber
Karl Emil Maximilian Weber (1864 – 1920) foi um sociólogo, jurista e economista alemão. Nascido em uma família de posses
liderada por um advogado, Weber foi educado com a rigidez da religião protestante e com o despertar do gosto pelo estudo e
pelo trabalho. Quando ainda jovem, ele presenciou a unificação da Alemanha promovida pelo estadista Otto von Bismarck. (O
Estado alemão ainda não existia. Existiam vários reinos de origem germânica independentes, e Bismarck promoveu uma política
de integração desses reinos, formando a Alemanha tal como a conhecemos hoje.)
Em 1882, Weber ingressa no curso de Direito da Universidade de Heidelberg, onde, para além das ciências jurídicas, aprofundou
seus estudos em economia e teologia. Em 1889 concluiu o seu doutorado em Direito, na Universidade de Berlim, e, em 1893, foi
nomeado professor na Universidade de Freiburg.
Entre os anos de 1882 e 1897, além da carreira acadêmica, Weber atuou no cenário político alemão, não obtendo muito
sucesso. O sociólogo era um homem muito rígido consigo, e a sua idealização do trabalho e do sucesso financeiro como
realização de um homem digno (ideia que aparece na obra citada) parecia acompanhar a sua vida.
O sociólogo e historiador austríaco Michael Polak, que desenvolveu um trabalho biográfico sobre Weber, afirma que o sociólogo
alemão odiava a ideia de depender financeiramente de seu pai, primeiro por ter algumas diferenças familiares com o progenitor
e também por cobrar de si um sucesso profissional e financeiro, sucesso esse que geralmente é demorado para quem está
iniciando uma carreira de pesquisador acadêmico."
"Sabe-se que, para tornar-se um professor universitário e pesquisador, é necessário estudar muito antes de conseguir êxito. Um
reflexo disso foi o casamento de Weber com a escritora feminista Marianne Schnitger, o qual foi adiado por anos, tendo sido
realizado apenas em 1894, quando o sociólogo conseguiu um emprego. Nesse período de espera, antes do noivado definitivo,
um amigo de Weber havia pedido Marianne em casamento (quando Weber e ela já trocavam intensões de um relacionamento),
o que causou ainda mais desgosto em Weber com a sua própria vida, afirma Polak.
Em 1887, a mãe de Weber decide viajar para visitá-lo. O seu pai não permite que a esposa vá sozinha e Weber não gosta da ideia
de recebê-lo em casa, expulsando-o na sua chegada. Algum tempo depois, o pai morre e Weber tem um colapso mental,
entrando em profunda depressão, a qual o impediu de trabalhar.
O sociólogo conseguiu uma licença da universidade e decidiu viajar, percorrendo vários lugares da Europa (a Itália era o seu
destino preferido) e conhecendo os Estados Unidos. Nesse período ele tenta voltar a lecionar, não obtendo êxito, no entanto,
por conta de sua doença. A sua situação mental atormentava-o, principalmente pela vergonha que ele sentia da depressão e de
não conseguir trabalhar. Ser sustentado por uma licença era ainda mais vergonhoso para o pensador.
Em 1903, Weber pede demissão da universidade, o que lhe foi negado por sua competência. A administração pública entra em
acordo com ele concedendo-o uma aposentadoria, e, em troca, torna-o professor honorário da Universidade de Heidelberg,
direcionando a ele uma carga horária mínima de trabalho, o que deu certo para que o sociólogo voltasse a trabalhar e
recuperasse a sua saúde mental.
Nesse período de retorno, Weber volta a escrever com intensidade, redigindo inclusive a sua obra magna — A ética protestante
e o espírito do capitalismo. Ele havia deixado a atuação no campo político há algum tempo, o que também o ajudou a recuperar-
se mentalmente.
Max Weber vivenciou a Primeira Guerra Mundial e, em 1919, foi conselheiro da delegação alemã nas conferências que
antecederam o Tratado de Versalhes. A Alemanha perdeu muito com o acordo, pois teve seu exército reduzido, perdeu
território e teve que pagar uma indenização pelos estragos causados pela guerra.
Entre 1919 e 1920, Weber também atuou como membro da comissão que formulou a Constituição de Weimar — documento
que oficializou a chamada República de Weimar, período republicano da Alemanha que iniciou com o fim do Segundo Reich
(segundo império que começou em 1871 com a unificação de Bismarck) e terminou com o início do Terceiro Reich (terceiro
império que se iniciou com a chegada de Hitler ao poder em 1933)."
"Em 1920 uma pneumonia severa acamou Weber e levou-o à morte aos 56 anos de idade. Até então, o sociólogo havia
publicado apenas os livros A ética protestante e o espírito do capitalismo (1905), Economia e sociedade (1910) e A ciência como
vocação (1917). Após a sua morte, Marianne Schnitger Weber, sua esposa, realizou uma curadoria de sua obra e foi responsável
pela publicação póstuma de um segundo volume de Economia e sociedade (1921), A metodologia das ciências sociais (1922) e
História econômica geral (1923).
Teoria, pensamentos e principais ideias de Max Weber
Os principais objetos de estudo de Weber na sociologia foram o capitalismo e o protestantismo, levando o sociólogo a
desenvolver uma sociologia da teologia. A visão weberiana do capitalismo era diferente da visão marxista. Enquanto Marx via no
capitalismo a exploração do proletariado pela burguesia, Weber encara-o como o fruto de um ideal, o ideal do capitalismo.
Como um ideal, o capitalismo promovia uma espécie de racionalização do trabalho e do dinheiro, sendo sustentado pela
prosperidade e pela capacidade cada vez maior de gerar dinheiro.
Max Weber foi profundamente influenciado pela filosofia de Immanuel Kant sustentada pelo idealismo. Para Kant, o plano das
ideias e conceitos deveria pautar todo o trabalho filosófico, que partiria da prática para chegar aos conceitos mais puros e a
priori (anteriores a qualquer vivência material). Weber acreditava que o capitalismo originava-se com um ideal, com um espírito,
e a partir disso, esse sistema ia sendo construído na prática. Com base nesse ideal, surgiu a noção de administração como
ciência capaz de promover o crescimento do capital.
Para escrever A ética protestante e o espírito do capitalismo, Weber leu o texto Conselho a um jovem comerciante, de Benjamin
Franklin. Com base nesse texto, que expressa a noção que ficou conhecida como um bordão de Franklin, time is money (tempo é
dinheiro), e da observação de nações europeias e dos Estados Unidos, Weber elaborou a teoria que dizia que o capitalismo teria
sido aprimorado com o protestantismo, em especial o calvinista (em nações como a Inglaterra e os Estados Unidos). Para
Franklin, o dinheiro deveria ser movimentado e ampliado, e essa ampliação dava-se como ensinava a tradição calvinista, por
meio do trabalho.
Para os calvinistas, havia uma noção de predestinação (trabalhada por Weber como hipótese a ser considerada) que dizia que o
homem já nascia predestinado ao paraíso ou ao inferno. A maneira de saber se determinada pessoa iria para o céu era medir o
seu sucesso no trabalho e a sua resistência ao pecado. Como pecado, os calvinistas incluíam as diversões fúteis, como festas e
luxo, além do ócio e da preguiça.
O homem de valor para os calvinistas era aquele que trabalhava muito, o máximo que o seu corpo aguentasse, e não se
entregava aos prazeres da vida, acumulando assim cada vez mais dinheiro. Para as outras vertentes protestantes, há uma ideia
geral bem semelhante a essa de valorização do trabalho e de fuga dos prazeres.
Isso fez com que Weber enxergasse a diferença de desenvolvimento econômico entre nações predominantemente protestantes
que se tornaram as maiores potências econômicas (Alemanha, Inglaterra e Estados Unidos) e nações predominantemente
católicas que não tiveram tanto crescimento econômico, como Espanha, Portugal e Itália.
A ideia do teórico político e estadista estadunidense Benjamin Franklin estava sustentada no ideal calvinista, e o aumento do
dinheiro por meio do trabalho e da fuga do ócio e dos prazeres parecia ser uma hipótese bem plausível para Weber, no sentido
de medir o sucesso de uma pessoa. Era esperado de alguém que conseguisse ganhar dinheiro multiplicá-lo para mostrar o seu
valor pessoal e moral.
A ética, nesse sentido, era uma prática voltada para um modo de agir que fugisse de qualquer distração e de qualquer pecado e
que procurasse no trabalho o maior meio de chegar-se a Deus. Por isso Weber ficou tão frustrado durante um tempo de sua vida
em que não conseguia obter sua sustentação financeira e sentiu vergonha do tempo em que foi acometido pela depressão e não
conseguiu trabalhar."
"Ação social de Max Weber
Para a metodologia sociológica, Weber contribuiu formulando a sua teoria da ação social. Segundo o sociólogo, era necessário
que o pesquisador fosse dotado de uma neutralidade axiológica, ou seja, de uma neutralidade em relação ao seu objeto de
estudo. Com base em uma análise neutra e imparcial, o sociólogo deveria identificar as ações sociais dos sujeitos e classificá-las.
Nisso, Weber discorda do método de Durkheim, que visa buscar fatos sociais que se repetem em todas as sociedades e são
invariáveis.
Para Weber, as ações individuais é que forneciam o material necessário para chegar-se a um estudo válido. No entanto, por
serem as ações sociais tão vastas e diversas, o sociólogo deveria buscar um padrão de correção para que o seu trabalho tivesse
uma validade científica e um respaldo metodológico.
Esse padrão de correção estava localizado no que Weber chamou de tipos ideais, que eram balizas para estabelecer-se qualquer
comportamento padrão. Como ideais, esses tipos são perfeitos e imutáveis, não existindo na prática. Nessa se encontram as
ações que poderiam afastar-se ou aproximar-se dos tipos ideais.
Weber separa e classifica as ações sociais em quatro tipos. São eles:
Ação social racional com relação a fins: é um tipo de ação pensada e calculada para atingir alguma finalidade. Por exemplo,
casar-se para constituir uma família. A ação social é o matrimônio e a finalidade dessa ação é a constituição da família.
Ação social racional com relação a valores: é um tipo de ação social pensada e calculada para atingir algum tipo de valor moral,
ou visando como fundo a moralidade. Por exemplo, fazer o que a moral considera certo, como não roubar.
Ação social tradicional: não é racional e nem calculada. Consiste numa forma de agir de acordo com a tradição, respeitando o
que a sociedade considera como o que deve ser feito. Retomando o exemplo do matrimônio, seria casar-se porque a sociedade
impõe o casamento como uma tradição que deve ser seguida.
Ação social afetiva: não é racional. Ela segue os afetos e as paixões, os sentimentos e as afecções. É o tipo de ação motivada por
sentimentos, como amor, paixão, medo.
No campo da teoria da sociologia política, Weber contribuiu com uma teoria da dominação, que fala dos modos de poder
existentes. Para o pensador, existem três tipos de poder ou dominação exercidos que lhes conferem alguma legitimidade:
A dominação legal: ocorre por meio das leis. É o poder exercido por aqueles que a lei permitiu exercê-lo, como os
representantes dos poderes Legislativo, Judiciário e Executivo, no caso de nossa República.
A dominação tradicional: justifica-se pela tradição. Por exemplo, em uma sociedade patriarcal, o pai exerce o poder autoritário
dentro da família e respalda-se na tradição para exercitá-lo.
A dominação carismática: é exercida por lideranças carismáticas, que têm o dom de atrair o apoio das massas com seus
discursos, como de maneira mágica. Temos vários exemplos desse tipo de liderança na história mundial, como Hitler, Mussolini,
Getúlio Vargas e Fidel Castro.
Karl Mannheim
Iniciou seus estudos de filosofia e sociologia em Budapeste participando de um grupo de estudos coordenado
por Georg Lukács. Estudou também em Berlim — onde ouviu as preleções de Georg Simmel — e Paris.
Em Heidelberg, onde Mannheim foi aluno do sociólogo Alfred Weber, irmão de Max Weber, tornou-se privatdozent a
partir de 1920. Foi professor extraordinário de sociologia em Frankfurt a partir de 1934. Em 1935, com a ascensão
do nazismo Mannheim deixou a Alemanha para tornar-se professor da London School of Economics.
O marxismo exerceu inicialmente uma forte influência sobre o pensamento de Mannheim, mas acabou abandonando-
o, em parte por não acreditar que fossem necessários meios revolucionários para atingir uma sociedade melhor. Seu
pensamento assemelha-se em certos aspectos aos de Hegel e Comte: acreditava que, no futuro, o homem iria
superar o domínio que os processos históricos exercem sobre ele. Foi também muito influenciado
pelo historicismo alemão e pelo pragmatismo inglês. Max Weber e Karl Marx são os principais sociólogos com quem
Mannheim dialoga para a construção da sua teoria sociológica a partir de Ideologia e Utopia (1929).
Seu primeiro livro de grande envergadura (pois já publicara outros textos desde 1918), Ideologie und
Utopia (Ideologia e utopia), de 1929, é também considerado seu mais importante escrito. Nesta obra, Mannheim
afirma que todo ato de conhecimento não resulta apenas da consciência puramente teórica (lógica formal ou
epistemologia positivista) mas também de inúmeros elementos de natureza não teórica, provenientes da vida social e
das influências e vontades a que o indivíduo está sujeito. Algumas influências de pensadores anteriores são
importantes para os conceitos que Mannheim desenvolverá a partir desta obra. De Nietzsche utilizará o
perspectivismo, de Marx o conflito e a dominação e a sua teoria da ideologia, de Max Weber a sua tipologia para
análise e o método compreensivo. Como resultado, Ideologia e Utopia é um livro que abarca desde epistemologia e
metodologia, até teoria social (sociologia e política), e lança os alicerces da Wissensoziologie (Sociologia das Ideias
ou Sociologia do Conhecimento), que já havia sido introduzida, de forma não tão consistente como o fez Mannheim,
por Scheler e Veblen. Expande a questão dos intelectuais relativamente desvinculados de classes sociais, utilizando
o termo intelligentsia cunhado por Alfred Weber, introduz uma análise do irracionalismo na política (que aprofundará
em obras posteriores).
Segundo Mannheim, a influência desses fatores é da maior importância e sua investigação deveria ser o objeto de
uma nova disciplina: a sociologia do conhecimento. Cada fase da humanidade seria dominada por certo tipo de
pensamento e a comparação entre vários estilos diferentes seria impossível. Em cada fase aparecem tendências
conflitantes, apontando seja para a conservação, seja para a mudança. A adesão à primeira tende a
produzir ideologias e a adesão à segunda tende a produzir utopias. Mannheim entende que ao adotar o ponto de
vista de uma classe ou grupo (seja ideológico ou utópico) o indivíduo não estará apto a uma compreensão total da
realidade, pois tais pontos de vista sempre limitam a sua compreensão em relação aos pontos de vista "adversários".
O pensamento de Mannheim foi criticado sob alegação de, através do historicismo, conduzir ao relativismo.
Mannheim negou essa crítica, afirmando que o relativismo só existe dentro de uma concepção absolutista das
ideologias ou de qualquer forma de pensamento. Aliás, foi o próprio Mannheim que, em Ideologia e Utopia disse
textualmente que o relativismo seria uma forma errônea de compreender a realidade social (se deseja-se uma
compreensão científica), sugerindo o relacionismo como uma forma ampliada de compreender as realidades parciais
(ideologias e utopias) em inter-relação constante.
Outras investigações importantes de Mannheim compreendem estudos sobre as relações entre pensamento e ação.
Sua contribuição para a teoria do planejamento e para a caracterização das sociedades de massa tem especial
destaque.
O sociólogo Kurt Heinrich Wolff,[1] que foi aluno de Mannhein em Frankfurt e que em seguida foi Presidente do Comitê
de Investigação da Sociologia do Conhecimento do International Sociological Association e Presidente da Sociedade
Internacional para a Sociologia do Conhecimento, teve uma grande influência na propagação da Sociologia do
conhecimento por ter traduzido Karl Mannheim no Estados Unidos.
Talcott Parsons
Talcott Parsons é considerado um dos maiores sociólogos dos Estados Unidos. Pai do funcionalismo estruturalista, o
pensador entendia a sociedade como um sistema complexo.
"Talcott Parsons foi um dos principais sociólogos estadunidenses do século XX. Parsons atuou por 46 anos como docente e
pesquisador na Universidade de Harvard, e, entre os feitos de sua carreira, encontram-se a introdução do pensamento do
sociólogo alemão Max Weber nos círculos intelectuais dos Estados Unidos e a criação de uma teoria funcionalista na sociologia
que tenta compreender a função individual de grupos e pessoas no meio social.
Parsons também foi responsável por um trabalho interdisciplinar na Universidade de Harvard que uniu sociologia, antropologia
e psicologia, e resultou na criação do Departamento de Relações Sociais na universidade."
"Talcott Edgar Frederick Parsons nasceu no dia 13 de dezembro de 1902, na cidade de Colorado Springs, Colorado. Estudou
biologia e filosofia na Armhest College, lecionando como assistente na mesma universidade por um ano. Em 1925, o sociólogo
estudou por um ano na London School of Economics, onde entrou em contato com a obra de grandes sociólogos, antropólogos e
cientistas políticos, como o antropólogo polonês Bronislaw Malinowski e o historiador, economista e sociólogo Richard Henry
Tawney.
Foi durante o seu doutorado em sociologia, na Universidade de Heidelberg (Alemanha), que Parsons conheceu a obra do
sociólogo clássico alemão Max Weber. De volta aos Estados Unidos em 1928, o sociólogo passou a trabalhar como professor
assistente na Universidade de Harvard, lecionando no departamento de economia, e como professor convidado em outras
instituições de ensino.
Em 1937, o sociólogo publicou a sua primeira obra que o conferiu destaque na pesquisa acadêmica de sociologia nos Estados
Unidos, o livro A estrutura da ação social. Também em 1937, tornou-se professor catedrático de sociologia na Universidade de
Harvard, lecionando na instituição até 1973."
"Em Harvard, o professor Talcott Parsons fundou um laboratório interdisciplinar, o qual combinava os estudos de sociologia,
antropologia e psicologia, que se tornaria o Departamento de Relações Sociais da Universidade de Harvard. Parsons também
presidiu a Sociedade Americana de Sociologia, sendo eleito em 1949. Após se aposentar em Harvard, o sociólogo continuou
lecionando em outras instituições (como a Universidade de Heidelberg), escrevendo e conferindo palestras. Ele faleceu em 8 de
maio de 1979, na cidade de Munique, durante uma viagem à Alemanha."
"Funcionalismo de Talcott Parsons
Em geral, a teoria funcionalista da antropologia e da sociologia admite que a sociedade é um todo organizado por meio de
funções que os indivíduos, instituições e grupos sociais desempenham. Nesse sentido, a sociedade é um todo complexo dividido
em partes, sendo que cada parte desempenha um papel individual. A junção dessas partes fragmentadas explica o todo. A
sociedade é, então, uma totalidade complexa e sistemática.
Parsons aprofundou a teoria funcionalista, retirando elementos da obra de Max Weber e do sociólogo francês clássico Émile
Durkheim. Para Parsons, o funcionalismo é estrutural e é uma etapa para constituir-se um método de análise seguro das ciências
sociais.
O funcionalismo, segundo Parsons, deve atentar-se à estrutura social, buscando entender a sociedade como um sistema que
busca o equilíbrio. Nesse sentido, os elementos de uma sociedade estão estruturados de forma a manter uma autorregulação
do todo que esteja, de algum modo, mantendo um certo equilíbrio nas relações sociais, criando, assim, um sistema social."
"Sistema social para Talcott Parsons
Parsons pretendia formular uma teoria social geral que fundisse elementos de todas as áreas de estudos das ciências sociais em
uma só base. O primeiro passo para a formulação dessa teoria era a adoção do funcionalismo. O segundo passo era o
entendimento das ações sociais e da coesão social."
"Sistema social para Talcott Parsons
Parsons pretendia formular uma teoria social geral que fundisse elementos de todas as áreas de estudos das ciências sociais em
uma só base. O primeiro passo para a formulação dessa teoria era a adoção do funcionalismo. O segundo passo era o
entendimento das ações sociais e da coesão social."
"A coesão social ocorre quando o indivíduo é absorvido pelo coletivo, não destoando dele. Nesse sentido, é necessário que os
indivíduos e grupos sociais estejam alinhados com o pensamento geral do grupo maior para que a coesão seja eficaz. A ação
social pode ser decomposta em mais elementos, pois ela não é uma ação isolada, e o próprio sistema social pode ser
decomposto.
Parsons afirmou que um sistema social é um conjunto sistemático de unidades de atos de um ou mais atores, ou seja, é um
conjunto de ações de indivíduos ou de grupos. Assim, os sistemas sociais podem ser decompostos, e essa decomposição facilita
o entendimento dos sistemas sociais. Existem também regras que os sistemas sociais devem cumprir para que sejam
considerados, de fato, sistemas. É necessário que haja neles uma estrutura bem definida, que eles sejam divididos em funções, e
que os indivíduos e suas ações sejam entendidos como processos do sistema e no sistema.
Os sistemas de ação são compostos por subsistemas menores. Estes são:
Organismo comportamental: responsável pela adaptação do indivíduo ao meio social;
Personalidade do indivíduo: orienta a busca por objetivos e determina a realização de tarefas pessoais;
Sistema social: integra as partes de ação dos diversos membros do sistema, formando um todo coeso;
Sistema cultural: tem função de identificação de grupos para a manutenção da ordem e da coesão.
Todos esses elementos buscam a estabilização para que haja um efetivo funcionamento do sistema e garantia da ordem. Tudo
aquilo que desestabiliza esse sistema, é, na visão de Parsons, um entrave para o bom funcionamento da sociedade. O equilíbrio
total do sistema também se dá no equilíbrio de forças diferentes: atividade e aprendizagem. A atividade é aquilo que se faz por
meio das ações, enquanto a aprendizagem é um processo pelo qual o indivíduo aprende a agir de acordo com as normas sociais.
Movimentos sociais para Talcott Parsons
Talcott Parsons assume uma postura conservadora quanto aos movimentos sociais. Como o sociólogo ressalta a importância do
equilíbrio e da estabilidade dos sistemas sociais, ele defende que qualquer reivindicação dos movimentos sociais feita por meio
de greves, piquetes e manifestações abala o sistema, colocando em risco a sua estabilidade."
TEÓRICOS DA EDUCAÇÃO
John nasceu em Burlington, Vermont, Estados Unidos, no dia 20 de outubro de 1859. Estudou
na Universidade de Vermont e a Johns Hopkins, de Baltimore, onde se doutorou em filosofia
em 1884.
Em 1894 foi nomeado diretor dos departamentos de filosofia, psicologia e pedagogia, que por
sugestão sua, essas três disciplinas se agruparam em um só departamento.
Na Universidade de Chicago, Dewey fundou uma escola laboratório para experimentar suas
mais importantes ideias:
Buscou, então, uma lógica e um instrumento de pesquisa que pudessem ser aplicados
igualmente a ambos os domínios. Desenvolveu a doutrina a que deu o nome de
instrumentalismo.
Essa filosofia foi também a base de suas concepções sobre educação, que deveria concentrar-
se nos interesses da criança e no desenvolvimento de todos os aspectos de sua
personalidade. Reuniu sua doutrina no livro “A Escola e a Sociedade’ (1899).
Educação progressiva
Para John Dewey, o sentido da vida é a própria continuidade e essa continuidade só pode ser
conseguida pela renovação constante.
A sociedade se perpetua por um processo de transmissão, onde os mais jovens recebem dos
mais velhos “hábitos de agir, pensar e sentir” e, também pela renovação da experiência, que
tem por fim, recriar toda a experiência recebida.
No mais amplo sentido, educação é o meio de continuidade e renovação da vida social e o
próprio processo da vida em comum, porque amplia e enriquece a experiência.
Para Dewey, compete a um “ambiente especial” – a escola – suprimir tanto quanto possível as
características negativas do meio. Assim a escola torna-se o principal agente de uma melhor
sociedade futura.
Ao mesmo tempo, a escola deve criar condições para que cada indivíduo não seja cercado
pelas limitações de seu grupo social. Para John Dewey, a educação é uma permanente
organização ou reconstrução da experiência.
A expressão “escola ativa” reflete, em síntese, essa concepção. Dewey contrapõe aos
“estudos puramente intelectuais” a experiência que produz conhecimentos, o qual é produto
da ação, ao contrário das concepções tradicionais que o separavam da atividade.
Reflexão e ação devem estar ligadas, são parte de um todo indivisível. Segundo ele, só a
inteligência dá ao homem a capacidade de modificar o ambiente ao seu redor. Educar,
portanto, é mais do que reproduzir conhecimentos é incentivar o desejo de desenvolvimento
contínuo.As ideias de John Dewey tiveram grande influência no movimento de renovação da
educação no Brasil, na década de 1930. Essa influência se fez sentir sobretudo por intermédio
de Anísio Teixeira, que foi seu discípulo na Universidade de Colúmbia em 1929.
“Educação não é uma questão de falar e ouvir, mas um processo ativo e construtivo”.
“Afinal, as crianças não estão, num dado momento, sendo preparadas para a vida e, em outro momento, vivendo”.
“Uma constante reconstrução da experiência é a forma de dar-lhe cada vez mais sentido e a habilitar as novas
gerações a responder aos desafios da sociedade”.
Psicologia (1887)
Meu Credo Pedagógico (1897)
Psicologia e Métado Pedagógico (1899)
A Escola e a Sociedade (1899)
Democracia e Educação (1916)
Natureza Humana e Conduta (1922)
Experiência e Natureza (1925)
Filosofia e Civilização (1931)
Experiência e Educação (1938)
Lógica, a Teoria da Inquietação (1938)
Liberdade e Cultura (1939)
Prolemas dos Homens (1946)
Theodor Adorno
Frases
Confira abaixo algumas frases de Theodor Adorno:
Anísio Teixeira
Anísio Teixeira foi um educador que teve grande destaque na gestão pública e foi um defensor da escola
pública, laica e gratuita como meio de gerar oportunidades.
Anísio Teixeira foi um educador que trabalhou durante décadas na gestão pública da educação. Era defensor
da escola pública, gratuita e laica como forma de dar oportunidade às pessoas, de combater as desigualdades e
de promover a democracia no país. Sua morte aconteceu em março de 1971, em situações misteriosas, e existe
a possibilidade de ele que possa ter sido vítima da ditadura. Anísio Teixeira nasceu em julho de 1900 e cresceu
em uma família de influência no interior da Bahia.
Estudou em colégios educacionais, formou-se em Direito, e realizou mestrado nos Estados Unidos.
Assumiu cargos na gestão pública em 1924.
Atuou em importantes órgãos nacionais de educação e foi um dos idealizadores da UnB.
Morreu em março de 1971, e existe a possibilidade de que tenha sido torturado por agentes da ditadura.
Era Vargas
Anísio Teixeira retornou ao Brasil depois de concluir seus estudos nos Estados Unidos, e, em 1931, assumiu a
diretoria da Instrução Pública do Distrito Federal, o órgão responsável por cuidar da educação do Rio de Janeiro,
então capital do Brasil. Nesse órgão, Anísio começou a projetar-se nacionalmente como um dos grandes educadores
do país.
No Rio de Janeiro, Anísio Teixeira promoveu reformas que abrangeram todo o ensino da cidade, passando pela
educação primária, secundária e também pelo Ensino Superior. Também idealizou a fundação da Universidade do
Distrito Federal, uma instituição municipal que entrou em funcionamento em 1935 e deixou de funcionar em 1939.
Enquanto esteve nessa função, Anísio Teixeira foi um dos educadores que assinaram um dos documentos mais
importantes no desenvolvimento da educação brasileira: o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova. Esse
documento foi emitido em 1932 e propôs a criação de um ensino público, gratuito e laico.
Anísio Teixeira tomou parte desse manifesto porque ele acreditava em uma educação que fomentasse a
democracia e o desenvolvimento do aluno com pensamento crítico. Ele entendia que a educação não poderia ser
um privilégio dos ricos, mas que deveria ser um direito de todos, independentemente de raça, classe social, credo,
ideologia política etc.
Nessa mesma década, Anísio Teixeira envolveu-se com a Aliança Nacional Libertadora, um partido de esquerda que
se colocou como referência nacional na luta contra o fascismo. Ele chegou a colaborar com publicações no jornal da
ANL, e essa proximidade fez com que ele fosse politicamente perseguido.
Em 1935, ele foi demitido de seu cargo público no Rio de Janeiro acusado de participar da Intentona Comunista.
Com o início do Estado Novo, a ditadura de Getúlio Vargas, Anísio Teixeira afastou-se, provisoriamente, da gestão
pública e da educação. Nesse intervalo, ele se dedicou a trabalhos privados.
Acesse também: Tortura durante o Estado Novo
Quarta República
A partir de 1946, foi estabelecido em nosso país um período democrático que se estendeu até 1964, o ano do golpe
militar. Nesse momento, Anísio Teixeira retornou à gestão pública, voltando a atuar com a educação brasileira. Entre
1946 e 1947, foi convidado por Julian Huxley para trabalhar como conselheiro da Unesco.
Ele foi convidado a atuar permanentemente na Unesco, mas preferiu retornar ao Brasil para trabalhar na Secretária
de Educação da Bahia. Anísio Teixeira assumiu o cargo a convite do governador do estado Otávio Mangabeira. À
frente dessa função, ele implantou programas que ganharam repercussão nacional.
A partir da década de 1950, Anísio Teixeira passou a trabalhar em órgãos que tinham relevância nacional. Ele
assumiu posições importantes no interior da Capes, instituição responsável por pesquisas acadêmicas no país, e
atuou também no Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos, o Inep. Ainda, ajudou a formular a primeira Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a LDB.
Em 1961, ele participou da fundação da Universidade de Brasília (UnB) e foi reitor dessa universidade entre 1963
e 1964. Foi afastado da função com o golpe militar de 1964 e a chegada do autoritarismo no Brasil.
Acesse também: Governo Castello Branco e o estabelecimento do autoritarismo no Brasil
CRÍTICOS PROGRESSISTAS
Pierre Bourdieu
Pierre Bourdieu foi um dos intelectuais mais influentes do século XX, filósofo, etnólogo e sociólogo. Sua obra
repercutiu mundialmente e foi um marco para as ciências humanas.
"Pierre Bourdieu foi um dos maiores pensadores das ciências humanas do século XX. Filósofo por formação,
desenvolveu importantes trabalhos de etnologia, no campo da antropologia, e conceitos de profunda relevância no
campo da sociologia, como habitus, campo e capital social. Sua obra é extensa e abrangente, com contribuição para
diversas áreas do conhecimento, especialmente na educação e cultura."
"Pierre Félix Bourdieu nasceu em 1º de agosto de 1930, em Béarn, no sudoeste da França. Bourdieu era de família
humilde. Filho de um funcionário dos correios, cursou o ensino básico em sua cidade, com filhos de pequenos
comerciantes, camponeses e operários. Já no ensino médio, estudou em Pau, cidade vizinha, onde se destacou nos
estudos e no esporte, jogava rúgbi e pelota basca. Na juventude mudou-se para Paris para cursar Filosofia na École
Normale Supérieure. Concluiu sua graduação em 1954.
Em 1955 foi lecionar filosofia numa cidade francesa da região central, porém foi convocado pelo exército para servir
em Versalhes. Teve um comportamento rebelde e foi punido com a convocação para ir à Argélia, até então colônia
francesa, participar do serviço militar de pacificação num contexto de lutas por libertação nacional.
Nesse período foi professor-assistente na Universidade de Argel, entre 1958 e 1960, e aproximou-se da antropologia
ao interessar-se em estudar a sociedade argelina, mais especificamente o choque entre o capitalismo colonial e o
desejo de independência. Em 1960 teve de ir embora às pressas porque o grupo argelino havia tomado o poder e os
franceses considerados liberais estavam sob ameaça de morte.
Quando retornou a Paris, Bourdieu trabalhou na Universidade de Lille. Em Sorbonne, passou a ler sistematicamente e
preparar seminários sobre os autores da sociologia clássica, Durkheim, Marx e Weber. Em 1962, fundou o Centro
Europeu de Sociologia e tornou-se diretor de estudos da Escola de Estudos Superiores em Ciências Sociais. Sua
intensa produção intelectual e suas pesquisas de etnologia desenvolvidas nas décadas de 1960 e 1970 tiveram
profundo impacto na sociologia.
Sua observação e análise dos hábitos culturais, especialmente dos franceses, conduziram-no à conclusão de que os
gostos e estilos de vida eram condicionados pela experiência social de cada grupo: classe operária, classe média e
burguesia. Sua obra mais importante é A distinção: crítica social do julgamento, lançada em 1979.
"Em 1981, quando já caminhava para o reconhecimento internacional, assumiu a cátedra de Sociologia no Collège de
France. Lecionou, também, em renomadas universidades ao redor do mundo, como Instituto Max Planck, na
Alemanha, e universidades de Harvard e Chicago, nos EUA. Recebeu o título de Doutor Honoris Causa da Universidade
Livre de Berlim (1989), da Universidade Johann Wolfgang-Goethe de Frankfurt (1996) e da Universidade de Atenas
(1996).
Foi um dos mais importantes intelectuais do século XX, sua obra tornou-se referência na antropologia e na sociologia
e abarcou uma ampla gama de temas, tais como educação, comunicação, política, cultura, linguística, artes, literatura,
entre outros."
"Bourdieu teve como marca intelectual a defesa da interdisciplinaridade nas ciências humanas e sociais e a constante
busca por independência intelectual. Lia autores de diferentes correntes teóricas para formar seu pensamento.
Destacou-se por fortalecer editorialmente escritores jovens e por apoiar greves de trabalhadores, chegando a ser
apelidado de “sociólogo do povo”. Faleceu em Paris, em 23 de janeiro de 2002, vítima de câncer."
"Teoria de Pierre Bourdieu
Para Bourdieu, a estrutura social é um sistema hierárquico em que os diversos arranjos interdependentes de poder
material e simbólico determinam a posição social ocupada por cada grupo. O poder tem múltiplas fontes, por isso, a
influência que um determinado grupo exerce sobre os demais é fruto da articulação entre elas:
poder financeiro
poder cultural
poder social
poder simbólico
A cada um desses, Bourdieu chama de capital, pois representam a capitalização de um ativo importante para ter-se
uma posição de destaque em determinada sociedade e contexto histórico. A distribuição desigual desses poderes, que
também podemos chamar de recursos, consolida e reproduz a hierarquia social ao longo do tempo.
Bourdieu questionou a ideia de que o gosto cultural e os hábitos de vida são inclinações pessoais e íntimas. Esse
brilhante sociólogo mostrou que, pelo contrário, o repertório de gostos e competências culturais é resultado de
relações de força entre os capitais mencionados operadas nas instituições responsáveis pela transmissão cultural na
sociedade capitalista moderna, a saber, a família e a escola.
Habitus
O habitus é um sistema de repertórios de modos de pensar, gostos, comportamentos, estilos de vida, herdado da
família e reforçado na escola. É a articulação dos capitais econômico, cultural, social e simbólico que confere a
determinados grupos alta posição na hierarquia social.
O habitus é simultaneamente individual e social. Bourdieu considerou-o como um mecanismo de mediação entre
sociedade e indivíduo. O habitus pertence ao domínio coletivo de um grupo ou classe, mas também é internalizado
subjetivamente pelos indivíduos que compõem essa classe e dá a eles uma gama de ações entre as quais eles
escolherão e exercerão as que considerarem mais adequadas em suas relações sociais.
O habitus é um capital incorporado, um conhecimento adquirido que se alia à capacidade criativa e volitiva do agente
social. Aí vemos que Bourdieu não mais se inclinava à rigidez do estruturalismo preponderante sobre a ação
individual, tampouco se inclinava a uma filosofia individualista que delegasse exclusivamente ao indivíduo o
monopólio da ação.
Há uma dinâmica entre a estrutura social objetiva e o agente social, cujo percurso de ações individuais baseia-se
nessas condições estruturadas, mas é capaz de modificá-las. Bourdieu definiu o habitus como um “sistema de
disposições duráveis, estruturas estruturadas predispostas a funcionarem como estruturas estruturantes”|1|.
Campo
O campo, por sua vez, é o espaço comum de concorrência entre os agentes sociais que possuem interesses diferentes.
Eles estão situados em lugares pré-fixados em função da hierárquica e desigual distribuição dos recursos, que gera
diferentes posições na estrutura social. O conceito de campo refere-se a todos os espaços onde se desenvolvem
relações de poder. É aplicável a todos os domínios da vida social:
político
econômico
literário
jurídico
científico etc.
Cada campo configura-se por meio da distribuição desigual do poder naquele nicho de interesse, portanto, é
constituído pelas hierarquias resultantes dessa disputa em que os que possuem maior soma de capital social naquele
nicho alcançam as melhores posições. O campo estrutura-se, reproduz-se ou modifica-se conforme modela-se o
confronto entre dominantes e dominados.
O polo dominante pretende manter a configuração do campo como está, portanto, tem ação conservadora e
ortodoxa, já o polo dominado, que pretende mudar de posição na correlação de forças, tem comportamento
reformista ou revolucionário e heterodoxo, tendendo a desacreditar a legitimidade dos atuais detentores do capital
social daquele campo.
A hierarquização da sociedade e a desigualdade na distribuição de recursos materiais e simbólicos fazem com que
algumas famílias possuam bagagem cultural para identificar e assimilar os códigos de ensinamento escolares, e que
outras não. Assim sendo, estudantes oriundos de famílias abastadas já iniciam sua trajetória escolar em condição de
vantagem com relação aos estudantes oriundos de famílias pobres, posto que já receberam em casa elementos que os
auxiliarão a decodificar os conteúdos apresentados na escola.
A cultura escolar, para Bourdieu, é similar à cultura dos grupos sociais detentores dos quatro tipos de capitais, que são
hegemônicos e dominantes sobre os demais. Esses grupos do topo da hierarquia social acumulam, por gerações, o
conhecimento ensinado nas escolas, e estas, por sua vez, legitimam a predominância cultural deles.
Num contexto de rígida hierarquia e desigualdade entre grupos, o tratamento igualitário no ambiente escolar acaba
por incorrer em distorções e injustiças, na visão de Bourdieu. Quando a escola cobra de todos a familiaridade com a
alta cultura que só uns poucos possuem, sem levar em conta as diferenças de origem social e suas implicações na
socialização do conhecimento, ela reforça desigualdades preexistentes.
Bourdieu detectou um descompasso entre as competências culturais exigidas pela escola e as competências culturais
desenvolvidas nas famílias da base da pirâmide social. Para ele, o sistema escolar furta-se ao seu papel de oferecer o
acesso democrático do conhecimento a todos quando elege como superior uma competência cultural identificada
com o pequeno grupo detentor do capital cultural necessário para praticá-la, o que reforça as distinções entre os
grupos, relegando os segmentos populares à inadequação ou ao estigma da incompetência.
Essa restrição do acesso ao conhecimento não é prejudicial somente aos estudantes, representa também o
desperdício de talentos. A esse processo da exigência escolar de um conhecimento cultural anterior para receber a
transmissão do ensino, que implica a negação de outras formas de cultura que não fosse a erudita, Bourdieu
denominou violência simbólica."
"Obras de Pierre Bourdieu
Pierre Bourdieu tem uma vasta obra. Entre seus livros mais importantes, estão:
A distinção
O poder simbólico
A dominação masculina
Razões práticas sobre a teoria da ação
A profissão de sociólogo
Destacaremos aqui suas obras que foram publicadas no Brasil:
Campo econômico
Contrafogos: táticas para enfrentar a invasão neoliberal
Contrafogos 2: por um movimento social europeu
Convite à sociologia reflexiva
O desencantamento do mundo
A dominação masculina
Economia das trocas linguísticas
A economia das trocas simbólicas
Escritos de educação
Coisas ditas
Liber 1
Lições da aula
Livre-troca: diálogos entre ciência e arte
Meditações pascalianas
A miséria do mundo
Ontologia política de Martin Heidegger
Pierre Bourdieu
O poder simbólico
A profissão de sociólogo
Questões de sociologia
Razões práticas sobre a teoria da ação
As regras da arte
A reprodução: elementos para uma teoria do sistema de ensino
Sobre a televisão
O amor pela arte: os museus de arte na Europa e seu público
As estruturas sociais da economia
Senso prático
Os herdeiros: os estudantes e a cultura
Leia também: Jürgen Habermas – sociólogo que desenvolveu a teoria da ação comunicativa
“Além de permitir à elite se justificar de ser o que é, a ideologia do dom, chave do sistema escolar e do sistema social,
contribui para encerrar os membros das classes desfavorecidas no destino que a sociedade lhes assinala, levando-os a
perceberem como inaptidões naturais o que não é senão efeito de uma condição inferior, e persuadindo-os de que
eles devem o seu destino social (cada vez mais ligado ao seu destino escolar) à sua natureza individual e à sua falta de
dom.”
“Com efeito, para que sejam favorecidos os mais favorecidos e desfavorecidos os mais desfavorecidos, é necessário e
suficiente que a escola ignore, no âmbito dos conteúdos do ensino que transmite, dos métodos e técnicas de
transmissão e dos critérios de avaliação, as desigualdades culturais entre as crianças das diferentes classes sociais. Em
outras palavras, tratando todos os educandos, por mais desiguais que sejam eles de fato, como iguais em direitos e
deveres, o sistema escolar é levado a dar a sua sanção às desigualdades iniciais diante da cultura.”
“O ressentimento ligado ao fracasso só torna quem o experimenta mais lúcido em relação ao mundo social, cegando-
o ao mesmo tempo em relação ao próprio princípio dessa lucidez.”
“O campo artístico é lugar de revoluções parciais que alteram a estrutura do campo sem porem em questão o campo
enquanto tal e o jogo que nele se joga.”
“As pessoas que se querem à margem, fora do espaço social, se situam no mundo social, como toda a gente.”
“Ethos de classe (para não dizer ‘ética de classe’), quer dizer um sistema de valores implícitos que as pessoas
interiorizaram desde a infância e a partir do qual engendram respostas a problemas extremamente diferentes.”
“Toda ordem estabelecida tende a produzir (em graus muito diferentes, com diferentes meios) a naturalização de sua
própria arbitrariedade.”
“Nada é mais adequado que o exame para inspirar o reconhecimento dos veredictos escolares e das hierarquias
sociais que eles legitimam.”"
Aqui há um fator de diferenciação explícito: aqueles que possuem meios (econômicos), disposição, tempo e maior afinidade
com aquilo que é mais valorizado conseguem ascender dentro da hierarquia estabelecida, enquanto os demais passam a ter de
sacrificar o próprio bem-estar em nome da promessa de uma melhor posição econômica e social. Nesse contexto o ensino
institucional acaba sendo uma das ferramentas mais eficazes de manutenção dessa realidade.
Autores como Pierre Bourdieu e Jean-Claude Passeron*, em sua obra “A reprodução: Elementos para uma teoria do sistema de
ensino”, buscaram evidências para mostrar que a escola e todo o sistema de ensino moderno existem como ferramenta de
manutenção dos paradigmas sociais estabelecidos, passando por cima ou excluindo os diferentes e neutralizando as diferenças.
Os autores baseiam-se no conceito de “violência simbólica”, isto é, o ato de imposição arbitrária do sistema simbólico da cultura
dominante sobre os demais sujeitos.
Para Bourdieu e Passeron, o processo educativo baseia-se na ação pedagógica, que seria a manifestação integral da violência
simbólica. Isso quer dizer que a ação pedagógica seria o meio pelo qual as instituições de ensino subjugam o sujeito e sua
individualidade, obrigando-o a se posicionar no mundo social em conformidade com as noções preestabelecidas pelo
pensamento ou cultura dominante."
"Esse processo, no entanto, só é possível mediante a ação de uma autoridade pedagógica, que, no caso da educação
institucional, está representada no professor e no ambiente escolar. É a figura da autoridade pedagógica que passa legitimidade
para o processo de ensino e naturaliza a violência simbólica da ação pedagógica. Essa figura também pode estar representada
em outros campos do meio social. A Igreja, por exemplo, em razão da autoridade que a religião lhe concede, é também uma
autoridade pedagógica que incute valores nos indivíduos que fazem parte do convívio comum. Portanto, a figura da autoridade
pedagógica conta sempre com a legitimação do meio social, tendo sempre como objetivo manter o valor social da ação.
Nesse sentido, segundo os autores, toda ação pedagógica é ato de violência simbólica ao tentar caminhar para a hegemonização
cultural tendo como base o sistema simbólico do grupo dominante da sociedade. Diante disso, Bourdie e Passeron também se
preocuparam em demonstrar que, dentro do processo de educação, aqueles que estão mais ajustados ao modelo cultural
imposto são os que conseguem manter maiores chances de inclusão social naquele meio específico. Já os que apresentam
comportamento desviante acabam sofrendo sanções de cunho social, sendo excluídos do convívio ou marginalizados.
A partir dessas observações, os autores concluem que a reprodução social é uma condição fundamental para a existência de um
sistema com base na dominação, de modo que, para que os moldes existentes de uma organização social permaneçam, é
necessário que as instituições educadoras tornem-se cada vez mais eficazes agentes de reprodução social."
Louis Althusser
(Bir Mourad Raïs, Argélia, 16 de outubro de 1918 — Paris, 22 de outubro de 1990) foi um filósofo do Marxismo
Estrutural de origem Francesa nascido na Argélia.
Seu nome foi uma homenagem ao seu tio paterno, que havia morrido na Primeira Guerra Mundial. Segundo o
filósofo, sua mãe pretendia casar-se com esse tio, mas, após a morte deste e apenas em função disso, casou-se com
o pai de Althusser. Ele também acreditava ser tratado como um substituto do tio falecido pela mãe, ao que ele atribui
um grande dano psicológico.
Após a morte de seu pai, Althusser, sua irmã e sua mãe se mudaram para Marseille, onde ele cresceu. Em 1937 ele
se uniu ao movimento da juventude católica. Althusser era um aluno brilhante, sendo aceito no prestigiado École
Normale Supérieure (ENS) em Paris. Entretanto, ele não pôde freqüentar a escola, pois estava convocado para
a Segunda Guerra Mundial e ficou aprisionado na Alemanha. Althusser era um prisioneiro relativamente feliz,
permanecendo no campo até o final da guerra, ao contrário dos demais soldados, que fugiram para lutar - motivo
pelo qual Althusser se puniu mais tarde.
Após a guerra, finalmente Althusser pôde frequentar a ENS. Entretanto, sua saúde mental e psicológica estava
severamente abalada, tendo, inclusive, recebido a terapia de eletrochoques em 1947. A partir de então, Althusser
sofreu de enfermidades periódicas durante o resto de sua vida. A ENS foi simpática a sua condição, permitindo que
ele residisse em seu próprio quarto na enfermaria, onde ele viveu por décadas, a não ser em períodos de internação
hospitalar.
Marxista, filiou-se ao Partido Comunista Francês em 1948. No mesmo ano, tornou-se professor da ENS. Em 1946
Althusser conheceu Hélène Rytmann, uma revolucionária de origem judaico-lituana, oito anos mais velha. Ela foi sua
companheira até 16 de novembro de 1980, quando foi estrangulada pelo próprio Althusser, num surto psicótico. As
exatas circunstâncias do ocorrido não são conhecidas - uns afirmam ter se tratado de um acidente; outros dizem que
foi um ato deliberado. Althusser afirma não se lembrar claramente do fato, alegando que, enquanto massageava o
pescoço da mulher, descobriu que a tinha matado. A justiça considerou-o inimputável no momento dos
acontecimentos e, em conformidade com a legislação francesa, foi declarado incapaz e inocentado em 1981.
Cinco anos mais tarde, em seu livro L'avenir dure longtemps, Althusser refletiu sobre o fato, pretendendo reivindicar
uma espécie de responsabilidade por seus atos quando do assassinato, o que gerou uma polêmica entre seus
correligionários e detratores, sobre tal responsabilidade ser filosófica ou real. Althusser não foi preso mas foi
internado no Hospital Psiquiátrico Sainte-Anne, onde permaneceu até 1983. Após esta data, ele se mudou para o
norte de Paris, onde viveu de forma reclusa, vendo poucas pessoas e não mais trabalhando, a não ser em sua
autobiografia. Louis Althusser morreu de ataque cardíaco em 22 de outubro de 1990, aos 72 anos.
Pensamento
Diversas posições teóricas de Althusser permaneceram muito influentes na filosofia marxista . O ensaio Sur le jeune
Marx, constante de Pour Marx, faz uso de um termo do filósofo da ciência Gaston Bachelard ao propor um "corte
epistemológico" (coupure épistémologique) entre os escritos do jovem Marx, inspirados em Hegel e Feuerbach, e
seus textos posteriores, propriamente marxistas. Seu ensaio Marxisme et Humanisme, também de Pour Marx, é uma
forte afirmação de anti-humanismo na teoria marxista, condenando ideias como o "potencial humano" e o "ser-da-
espécie" (Gattungswesen), que são frequentemente apresentadas por marxistas como uma superação da ideologia
burguesa de humanidade. No ensaio Contradiction et surdétermination, Althusser usa o conceito de
sobredeterminação, oriundo da psicanálise (uberdeterminierung), a fim de substituir a ideia de "contradição" por um
modelo mais complexo de casualidade múltipla, em situações políticas (uma ideia muito próxima do conceito de
hegemonia de Antonio Gramsci).
A rejeição dos hegelianos parte da própria negação de estruturas hegelianas em Marx, onde a totalidade expressiva
de Hegel cede lugar, na proposta althusseriana, ao "todo-estruturado". É um todo sobredeterminado com níveis e
instâncias relativamente autônomas: na configuração social há, diferente da lógica dialética, "todos parciais", sem
prioridade de um centro. Em nível do econômico opera-se a rejeição da unicausalidade econômica da história e das
lutas sociais atribuindo-se a instâncias, até então determinadas do discurso marxista (como o político e ideológico), o
peso de instâncias decisivas, dominantes em ser determinantes. Essa renovação na explicação marxista dos
processos sociais superou efetivamente os extremismos de se imputar invariavelmente a causa econômica a todos
os acontecimentos sociais e políticos, negando-se a realidade dos fatos ou invertendo-se a sua lógica. A rejeição da
totalidade expressiva hegeliana, que nos marxistas anteriores significava determinação e dominância só do
econômico, ganha assim estatuto de verdade e respeitabilidade na análise social. Althusser satisfaz, nesse caso, o
problema do político dominando historicamente sobre (às vezes até contra) o econômico na sociedade[1].
Althusser é amplamente conhecido como um teórico das ideologias, e seu ensaio mais conhecido é Idéologie et
appareils idéologiques d'état (Ideologia e Aparelhos Ideológicos do Estado). O ensaio estabelece seu conceito de
ideologia, que relaciona o marxismo com a psicanálise. A ideologia, para ele, deriva dos conceitos do inconsciente e
da fase do espelho (de Freud e Lacan, respectivamente), e descreve as estruturas e sistemas que permitem um
conceito significativo do eu. Estas estruturas, para Althusser, são tanto agentes de repressão quanto são inevitáveis -
é impossível escapar das ideologias ou não lhes ser subjugado.
A ideologia, para Althusser, é a relação imaginária, transformada em práticas, reproduzindo as relações de produção
vigentes. Na realização ideológica, a interpelação, o reconhecimento, a sujeição e os Aparelhos Ideológicos de
Estado (AIE), são quatro categorias básicas.
Em seu discurso sobre a Ideologia é patente sua preocupação em encontrar o lugar da submissão espontânea, o seu
funcionamento e suas consequências para o movimento social.
Para ele, a dominação burguesa só se estabiliza pela autonomia dos aparelhos (de produção e reprodução) isolados.
O mito do Estado, como entidade incorporada pelos cidadãos e como instituição acima da sociedade, aparece,
também no estruturalismo marxista de Althusser sob a forma de "a instituição além das classes e soberana". Assim
os Aparelhos Ideológicos do Estado são a espinha dorsal de sua teoria.
A teoria dos Aparelhos Ideológicos de Estado constrói uma visão monolítica e acabada de organização social, onde
tudo é rigidamente organizado, planejado e definido pelo Estado, de tal sorte que não sobra mais nada para os
cidadãos. Não há mais nenhuma alternativa a não ser a resignação ante o Estado onipresente e absolutamente
dominante.
A visão extremamente simplista dos aparelhos ideológicos como meros agentes para garantir o desempenho do
Estado e da ideologia atraiu para Althusser as frequentes críticas de funcionalismo. Isto se deve ao fato de que ele
não inclui nas suas preocupações questionamentos sobre o surgimento desses aparelhos ideológicos e sobre sua
lógica, conforme a época. Não há a noção de continuidade histórica e cada fase é uma fase em si, dentro da qual as
diferentes instituições se articulam, sempre de forma relativa. Assim a igreja - ou a religião -, por exemplo, não é o
resultado de uma sedimentação histórico-cultural de ideias e visões do mundo, trabalho de séculos dos
organizadores da cultura; não, a igreja é a instituição e seu funcionamento só é captado dentro da lógica respectiva
do momento analisado. A dimensão da "tradição de todas as gerações mortas que oprime como um pesadelo o
cérebro dos vivos" (Marx) desaparece.
A obra
Althusser é considerado um dos principais nomes do estruturalismo francês dos anos 1960, juntamente com Claude
Lévi-Strauss, Jacques Lacan, Michel Foucault ou Jacques Derrida. Marxista, filiou-se ao Partido Comunista
Francês em 1948. No mesmo ano, tornou-se professor da École Normale Supérieure.
Autor de obras lidas e traduzidas no mundo inteiro como Lire Le Capital (1965), Pour Marx (1965)
ou Positions (1976).
Muitos manuscritos foram publicados após a sua morte dando uma imagem completa dessa obra rica, radical e
contraditória
Sua principal tese é o anti-humanismo teórico que consiste em afirmar a primazia da luta de classes e criticar a
individualidade como produto da ideologia burguesa. Sua fama se deve também ao fato de ter cunhado o termo
"aparelhos ideológicos de Estado" e analisado a ideologia como espécie de prática em toda e qualquer sociedade e
não somente como erro ou engano que o suposto iluminismo eliminaria. Uma excelente mas incompleta biografia foi
publicada em francês por Yan Moulier-Boutang. A melhor apresentação de sua obra em inglês foi feita por Gregory
Elliot.
Os primeiros trabalhos de Althusser incluem o volume Lire le Capital, que coleta a análise de Althusser e seus
estudantes durante uma releitura filosófica d'O capital de Karl Marx. O livro reflete sobre o status filosófico da teoria
marxista como "crítica da Economia política" e sobre sua finalidade.
Diversas posições teóricas de Althusser permaneceram muito influentes na filosofia marxista. O ensaio Sur le jeune
Marx, constante de Pour Marx, faz uso dum termo do filósofo da ciência Gaston Bachelard ao propor uma
"ruptura epistemológica" entre os escritos do jovem Marx, inspirados em Hegel e Feuerbach, e seus textos
posteriores, propriamente marxistas. Seu ensaio Marxisme et Humanisme, também de Pour Marx, é uma forte
afirmação de antihumanismo na teoria marxista, condenando ideias como o "potencial humano" e o "ser-da-espécie"
(Gattungswesen), que são frequentemente apresentadas por marxistas como uma superação da
ideologia burguesa de humanidade. No ensaio Contradiction et surdétermination, Althusser usa o conceito
de superdeterminação, oriundo da psicanálise, a fim de substituir a ideia de "contradição" por um modelo mais
complexo de casualidade múltipla, em situações políticas (uma ideia muito próxima do conceito
de hegemonia de Antonio Gramsci).
Althusser também é amplamente conhecido como um teórico das ideologias, e seu ensaio mais conhecido
é Idéologie et appareils idéologiques d'état (Notes pour une recherche). O ensaio estabelece seu conceito de
ideologia, também originário do conceito gramsciano de hegemonia. Ao passo que a hegemonia é determinada, em
última análise, por forças políticas, a ideologia se deriva dos conceitos do inconsciente e da fase do
espelho (de Freud e Lacan, respectivamente), e descreve as estruturas e sistemas que permitem um conceito
significativo do eu. Estas estruturas, para Althusser, são tanto agentes de repressão quanto são inevitáveis - é
impossível escapar das ideologias ou não ser-lhes subjugado. A distinção entre ideologia e ciência, ou filosofia, não é
assegurada em definitivo pela "ruptura epistemológica": esta ruptura não é um evento determinado cronologicamente,
mas sim um processo. Ao invés de uma vitória assegurada, tem-se uma luta contínua contra a ideologia: "A ideologia
não tem história".
Os Aparelhos Ideológicos de Estado
O Estado
A tradição marxista concebe o estado como um aparelho repressivo, uma máquina de repressão que permite às
classes dominantes assegurar a sua dominação sobre a classe operária, extorquindo desta última a mais-valia. O
Estado é, antes de qualquer coisa, o Aparelho de Estado, termo que compreende não somente o aparelho
especializado, mas também o exército (que intervém como força repressiva de apoio em última instância), o Chefe de
Estado, o Governo e a Administração, definindo o Estado como força de execução e de intervenção repressiva a
serviço da "classe dominante".
O essencial da teoria marxista do Estado
O Estado (e sua existência em seu aparelho) só tem sentido em função do poder de Estado (manutenção ou tomada
do poder de Estado), muito embora eles sejam duas coisas distintas entre si. O Aparelho de Estado pode
permanecer de pé sob acontecimentos políticos que afetem a posse do poder de Estado.
Para os clássicos do marxismo:
O Estado é o Aparelho repressivo;
Deve-se distinguir o poder de "Estado" do "Aparelho de Estado";
O objetivo da luta de classes diz respeito ao poder de Estado e, consequentemente, à utilização do Aparelho de
Estado pelas classes;
O proletariado deve tomar o poder do Estado para destruir o aparelho burguês existente, substituí-lo em uma
primeira etapa por um aparelho de Estado completamente diferente (proletário) e elaborar nas etapas posteriores
um processo radical, o da destruição do Estado (fim do poder de Estado e de todo Aparelho de Estado).
Os Aparelhos Ideológicos de Estado (AIE)
Os clássicos do marxismo, em sua prática política, trataram do Estado como uma realidade mais complexa do que a
definição da teoria marxista do Estado; porém, não a exprimiram numa teoria correspondente.
Gramsci também o fez: para ele, o Estado não se resumia ao Aparelho (repressivo) de Estado, compreendendo
também um certo número de instituições da sociedade civil. Entretanto, Gramsci não sistematizou suas intuições, que
permaneceram no estado de anotações.
Na teoria marxista, o Aparelho (repressivo) de Estado compreende o governo, a administração, o exército, a polícia,
os tribunais, a prisões, etc. Repressivo porque o Aparelho de Estado em questão funciona através da violência (física
ou não, como a violência administrativa), pelo menos em situações limite.
Os Aparelhos Ideológicos de Estado designam realidades que se apresentam na forma de instituições distintas e
especializadas. São eles:
AIE religiosos (o sistema das diferentes Igrejas);
AIE escolar (o sistema das diferentes escolas públicas e privadas);
AIE familiar;
AIE jurídico;
AIE político (o sistema político, os diferentes Partidos);
AIE sindical;
AIE cultural (Letras, Belas Artes, esportes, cinema, teatro, etc.);
AIE de informação (a imprensa, o rádio, a televisão, etc.).
Os Aparelhos Ideológicos de Estado não se confundem com o Aparelho (repressivo) de Estado, consistindo nos
seguintes pontos essa diferença:
Existe um único Aparelho (repressivo) de Estado, enquanto que existe uma pluralidade de Aparelhos Ideológicos
de Estado;
Enquanto que o Aparelho (repressivo) de Estado pertence inteiramente ao domínio público, a maior parte dos
Aparelhos Ideológicos de Estado remete ao domínio privado. Tais instituições privadas podem ser consideradas
Aparelhos Ideológicos de Estado, pois a distinção entre o público e o privado é intrínseca ao Direito burguês e o
domínio do Estado lhe escapa, estando além do Direito. O Estado (da classe dominante) não é nem público e
nem privado, sendo a condição de distinção entre estes dois últimos. Não importa se as instituições que
compõem os Aparelhos Ideológicos de Estado são públicas ou privadas, o que importa é o seu funcionamento e
instituições privadas podem funcionar perfeitamente como Aparelhos Ideológicos de Estado. Gramsci também
chegou a essa conclusão;
O Aparelho Repressivo de Estado funciona predominantemente através da violência e secundariamente através
da ideologia, enquanto que os Aparelhos Ideológicos de Estado funcionam predominantemente através da
ideologia e secundariamente através da violência, seja ela atenuada, dissimulada ou simbólica. Os Aparelhos
Ideológicos de Estado moldam por métodos próprios de sanções, exclusões e seleções não apenas seus
funcionários, como também as suas ovelhas.
Embora diferente, constantemente combinam suas forças. Apesar de sua aparência dispersa, os Aparelhos
Ideológicos de Estado funcionam todos predominantemente através da ideologia, que é unificada sob a ideologia da
classe dominante. Então, além de deter o poder do Estado e, consequentemente, dispor do Aparelho (repressivo) de
Estado, a classe dominante também é ativa nos Aparelhos Ideológicos de Estado.
De fato, nenhuma classe pode, de forma duradoura, deter o poder do Estado sem exercer sua hegemonia sobre e
nos Aparelhos Ideológicos de Estado simultaneamente. Comprovando sua afirmação, Althusser alerta para a
preocupação de Lênin em revolucionar, entre outros, o Aparelho Ideológico de Estado escolar, de modo a permitir ao
proletariado soviético que se apropriara do poder garantir o próprio futuro da ditadura do proletariado e a passagem
para o socialismo.
A partir dessa afirmação, pode-se concluir que os Aparelhos Ideológicos de Estado são meios e também lugar da luta
de classes, pois neles a classe no poder não dita tão facilmente a lei quanto no Aparelho (repressivo) de Estado e
também porque a resistência das classes exploradas pode neles encontrar formas de se expressar.
Assim, de forma bastante resumida, distingue-se o poder de Estado do Aparelho de Estado, o qual compreende dois
corpos: o corpo das instituições que constituem o Aparelho Repressivo do Estado e o corpo das instituições que
representam a unidade dos Aparelhos Ideológicos de Estado. Atualmente, todo Aparelho Ideológico de Estado
concorre – cada um da maneira que lhe é própria – para um mesmo fim, que é a reprodução das relações de
produção, isto é, das relações de exploração capitalista.
Althusser e a Educação - O Aparelho Ideológico de Estado escolar
No passado, o número dos Aparelhos Ideológicos de Estado era maior, sendo a Igreja o dominante, reunindo funções
religiosas, escolares, de informação e de cultura. A Revolução Francesa resultou não apenas na transferência do
poder do Estado para a burguesia capitalista comercial, resultando também no ataque ao Aparelho Ideológico de
Estado número um - a Igreja -, substituída em seu papel dominante pelo Aparelho Ideológico de Estado escolar. Na
verdade, enquanto o Aparelho Ideológico de Estado político ocupava o primeiro plano no palco, na coxia o Aparelho
Ideológico de Estado escolar foi estabelecido como dominante pela burguesia.
A escola se encarrega das crianças de todas as classes sociais desde a mais tenra idade, inculcando nelas os
saberes contidos da ideologia dominante (a língua materna, a literatura, a matemática, a ciência, a história) ou
simplesmente a ideologia dominante em estágio puro (moral, educação cívica, filosofia). E nenhum outro Aparelho
Ideológico de Estado dispõe de uma audiência obrigatória por tanto tempo (6h/5dias por semana) e durante tantos
anos - precisamente no período em que o indivíduo é mais vulnerável, estando espremido entre o Aparelho
Ideológico de Estado familiar e o Aparelho Ideológico de Estado escolar.
Segundo Althusser, raros são os professores que se posicionam contra a ideologia, contra o sistema e contra as
práticas que os aprisionam. A maioria nem sequer suspeita do trabalho que o sistema os obriga a fazer ou, o que é
ainda pior, põem todo o seu empenho e engenhosidade em fazê-lo de acordo com a última orientação (os métodos
novos). Eles questionam tão pouco que pelo próprio devotamento contribuem para manter e alimentar essa
representação ideológica da escola, que hoje faz da Escola algo tão natural e indispensável quanto era a Igreja no
passado.
Althusser tradicionalmente se afirmava como marxista, mas seu modo de pensar a educação também pode ser
enquadrado na perspectiva funcionalista-durkheimiana, já que em Althusser a educação tem uma papel tão
fundamental quanto em Durkheim. Mas enquanto este último analisa a conservação do "equilíbrio social", Althusser
busca a ruptura, a revolução. Para Althusser, o papel da educação e suas operações são determinados fora dela, na
base econômica da sociedade – perspectiva um tanto próxima a da de Bourdieu embora este último tenha incluído a
especificidade da reprodução do capital simbólico.
Teoria
Althusser foi o primeiro crítico-reprodutivista no qual a teoria crítico-reprodutivista foi proposta (em suas várias
vertentes) por teóricos franceses de esquerda, identificados com o marxismo, críticos da sociedade capitalista,
defensores do ideário de Maio de 1968.
Os crítico-reproduvistas denunciam o caráter perverso da escola capitalista, onde a escola da maioria reduz-se
totalmente à inculcação da ideologia dominante, enquanto as elites se apropriam do saber universal nas escolas
particulares de boa qualidade, reproduzindo, assim, as contradições inerentes e necessárias ao capitalismo.
O enfoque crítico-reprodutivista enfatiza o aspecto político em detrimento da técnica, denunciando o caráter
reprodutor da escola. A escola é vista como reprodutora porque fornece às diferentes classes e grupos sociais,
formas de conhecimento, habilidades e cultura que não somente legitima a cultura dominante, mas também
direcionam os alunos para postos diferenciados na força do trabalho (Giroux, 1988).
A perspectiva crítico-reprodutivista se revela capaz de fazer a crítica do existente, de explicitar os mecanismos desse
existente, mas não tem proposta de intervenção na realidade. Limita-se apenas a constatar que é assim e não pode
ser de outra forma.
Saviani rotula as teorias de Althusser, Bourdieu/Passeron e Baudelot/Establet de crítico-reprodutivista. Segundo ele,
a teoria pedagógica crítico-reprodutivista erra porque acredita que a educação não tem poder de determinar as
relações sociais, ao mesmo tempo em que é por elas determinada. Ela pressupõe, erroneamente que, dada uma
sociedade capitalista, a educação apenas e tão somente reproduz os interesses do capital. Por isso, ela "não
apresenta proposta pedagógica, além de combater qualquer uma que se apresente", deixando os educadores de
esquerda que atuem em sociedades capitalistas sem perspectivas: sua única alternativa honesta seria abandonar a
ação educacional, que seria sempre "necessariamente reprodutora das condições vigentes e das relações de
dominação (características próprias da sociedade capitalista)".
Gramsci-Antonio Gramsci
Antonio Gramsci se distinguia de seus pares por desacreditar de uma tomada do poder que não fosse precedida por
mudanças de mentalidade. Para ele, os agentes principais dessas mudanças seriam os intelectuais e um dos seus
instrumentos mais importantes, a escola.
Alguns conceitos criados ou valorizados por Gramsci hoje são de uso corrente em várias partes do mundo. Um deles
é o de cidadania. Foi ele quem trouxe à discussão pedagógica a conquista da cidadania como um objetivo da escola.
Ela deveria ser orientada para o que o pensador chamou de elevação cultural das massas, ou seja, livrá-las de uma
visão de mundo que, por se assentar em preconceitos e tabus, predispõe à interiorização acrítica da ideologia das
classes dominantes.
Gramsci deteve-se particularmente no papel da cultura e dos intelectuais nos processos de transformação histórica.
Suas ideias sobre educação surgem desse contexto. Muitos pensadores clássicos da educação, entre
eles Comenius (1592-1670) e Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), subordinavam o processo pedagógico à
natureza. A própria evolução das crianças daria conta de grande parte do aprendizado. Gramsci tinha outra ideia: "A
educação é uma luta contra os instintos ligados às funções biológicas elementares, uma luta contra a natureza, para
dominá-la e criar o homem ‘atual’ à sua época", escreveu.