4 - Não Quero Te Amar - Maya Banks
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Resumo
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Maya Banks Não Quero te Amar
Capítulo 1
Não deveria deixá-la tão nervosa organizar um bufê para uma turma de ricaços, mas Pippa
Laingley queria que a festa na nova casa de sua amiga Ashley Carter fosse perfeita.
Além disso, por que ia ficar nervosa? Que a soma das contas correntes dos convidados fosse
mais elevada que a dívida nacional não tinha por que fazê-la suar. Claro que estava a ponto de
abrir seu próprio negócio e necessitava que aquela festa fosse perfeita para que corresse de boca
em boca.
Suspirando, olhou a imensa cozinha de Ashley para o caso de faltar algo… claro que faltava.
Onde estavam os malditos garçons? Nesse momento a porta se abriu e apareceu um garoto que
não podia ter mais que vinte anos.
–Onde está seu uniforme?
–Que uniforme?
–Camisa branca, calça negra, sapatos brilhantes… e o cabelo bem cortado, por certo.
–Sinto muito, senhorita. Pediram-me que viesse de última hora e pensei que tudo o que
precisasse estaria aqui.
Pippa suspirou.
–É a primeira vez que trabalha de garçom?
–Sim –respondeu o garoto – Um amigo ia vir, mas teve um problema de última hora e vou
fazer seu turno.
Genial, pensou Pippa. Ela estava esperando dois garçons e quem aparecia era um garoto que
não tinha nem ideia, de modo que teria que dar uma mão.
E ela pensando que tomaria uma taça de vinho com as garotas, falando sobre quão bonita
era a nova casa de Ashley… Agarrando o garoto pelo braço, Pippa o levou para a escada.
–Tem que vestir algo mais adequado.
Ele piscou, surpreso, mas se deixou levar até o quarto de Devon. Pippa abriu o guarda-roupa
e procurou uma camisa branca e uma calça escura.
–Dispa-se – o ordenou.
O jovem ficou avermelhado.
–Mas…
Ao escutar um pigarro, Pippa se deu conta de que não estavam sozinhos.
–Talvez eu devesse voltar mais tarde.
Ela fechou os olhos, mortificada, ao ver Cameron Hollingsworth apoiado no umbral da porta,
olhando-a com expressão zombeteira.
–Não sabia que você gostava dos tão jovens.
Pippa nunca pôde entender por que aquele homem sempre a pegava de surpresa.
Ela era uma mulher inteligente, centrada, uma pessoa séria. Nunca ninguém a fazia sentir-se
inferior, mas quando cruzava com o amigo de Devon sentia-se como uma tola.
Mas não ia deixar que a afetasse, de modo que lhe atirou a camisa e a calça e se dirigiu à
porta.
–Faça com que este garoto se vista. Espero-o lá embaixo em cinco minutos.
Cam piscou, surpreso.
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Talvez não fosse seu tipo, pensou. O problema era que não sabia qual era o tipo de Cameron
Hollingsworth porque nunca o viu com uma mulher. Ou era um ermitão ou nunca saía com suas
namoradas em público.
Pensando que estava perdendo tempo, Pippa tomou outra bandeja, respirou
profundamente e entrou na sala com um sorriso nos lábios, esperando que seus dentes não
estivessem manchados de batom.
Todos os convidados tinham taças de vinho na mão, de modo que Cam fazia seu trabalho à
perfeição.
–Olá, Ashley. Chegaram todos os seus convidados?
–Deixa de se comportar como se fosse uma garçonete –respondeu seu amiga– Por que Cam
e você estão servindo taças e canapés? E quem é esse garoto que usa uma camisa do Dev?
–Não se zangue, Ash. Não é bom para a criança.
Ashley cruzou os braços sobre seu volumoso abdômen.
–Pedi que se encarregasse do bufê porque necessitava sua ajuda e também para que as
pessoas vissem que sua empresa de bufê é maravilhosa, mas não queria que tivesse que carregar
bandejas. Preciso da minha melhor amiga ao meu lado, não me servindo canapés!
Pippa suspirou, oferecendo-lhe uma tortinha.
–Os garçons não apareceram.
–Por que?
–Não faço ideia, mas o único que apareceu é esse garoto que usa a roupa de seu marido.
Assim só conte com o muito bonito dos olhos azuis, com o garoto e comigo.
Ashley fez uma careta.
–Refere-se ao Cam?
–Esse mesmo.
–Cam é muito bonito, mas não sabia que você gostava dele.
Pippa não podia nem olhá-lo sem ficar ruborizada.
–A verdade é que não me importaria nada provar esses lábios – murmurou.
Ashley soltou uma gargalhada.
–Sei, sei...
–Não o olhe! Não quero que saiba que estamos falando dele.
Ashley se voltou para Cam, sem deixar de sorrir.
–Como conseguiu que a ajudasse? O fulminou com seus olhinhos verdes?
–Não tenho nem ideia –respondeu Pippa– Em realidade, ele se ofereceu e eu fui bastante
antipática.
–Você, antipática?
–Sim, eu.
Ashley lhe pôs uma mão no braço.
–Estão me chamando. Pip, não me preocupa tanto a comida para que minha melhor amiga
esteja trabalhando toda a noite. Deixa essa bandeja por aí e se sirva de uma taça.
Pippa trocou a bandeja de mão enquanto olhava ao redor.
Havia muitos clientes importantes para perder essa oportunidade. Ashley a colocara em uma
bandeja, literalmente, e não pensava desperdiçar isto.
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–Está louco?
Devon estava olhando-o como se tivesse perdido a cabeça e Cam deixou a bandeja vazia
sobre uma mesa, sorrindo ao ver a expressão de seu amigo.
–Não é a primeira vez que me perguntam isso.
–Está dando uma de garçom?
–Pippa necessitava ajuda e pensei que isso faria Ashley feliz.
Devon franziu o cenho.
–Não me conte histórias, não acredito em você.
Sem prestar atenção a seu amigo, Cam procurou Pippa com o olhar.
Movia-se com tanta graça entre os convidados que o tinha hipnotizado.
Passara meses observando-a. Em realidade, gostou dela desde o primeiro dia, embora não
houvessem sido apresentados oficialmente até a terceira vez que coincidiu em um evento.
Inclusive então a tinha tratado como tratava à maioria das pessoas, com fria amabilidade, mas
estava interessado nela.
Pippa não sabia, mas desde esse dia a observava como um predador à sua presa, esperando
o momento adequado. E quando chegasse esse momento a levaria à sua cama e enterraria o rosto
em seu sedoso cabelo escuro.
Quase podia sentir o toque das mechas roçando seus dedos. Imaginava-o sobre ele, com a
cabeça para trás, os cabelos caindo por suas costas enquanto empurrava os quadris para frente
uma e outra vez… Cam murmurou um palavrão quando seu corpo reagiu ante tão erótica fantasia.
Estava em uma festa na casa de Ashley e Devon e deveria pensar em bebês, lares felizes,
cachorrinhos e arco-íris, não em quando poderia levar Pippa à cama.
Mas estava seguro de que também ela se sentia atraída porque frequentemente, quando
acreditava que não estava atento, a pegara o olhando. E Cam apreciava desses olhares roubados
porque podia ver em seus olhos o que sentia e estava desejando fazê-la suspirar de prazer.
–Cam! Está me escutando? — Ele piscou, recordando que Devon estava ao seu lado.
–Não tem que atender a sua mulher?
–Sabe que a olha com cara de tolo?
–Não sei do que está falando.
–Por favor… – Devon soltou uma gargalhada– Vá falar com ela e logo ir para sua casa,
homem.
–Não me importaria nada em tê-la trancada em meu quarto toda a noite.
Devon emitiu um suspiro de impaciência antes de virar-se, mas Cam estava muito ocupado
observando Pippa para dar-se conta. Ela estava procurando o garoto com o cenho franzido e não
parecia muito contente… Mas quando a viu dirigir-se à cozinha, Cam tomou a bandeja e foi atrás
dela.
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Capítulo 2
Quando saíram pela porta de trás, Pippa recebeu um golpe de vento gelado no rosto e lhe
soltou a mão para envolver-se no casaco. Cameron voltou a segurá-la pelo pulso para levá-la ao
seu carro.
–Veio de carro?
Não, ela não tinha carro. E tampouco tinha carteira de motorista, o qual era um problema já
que necessitava um veículo para ir aos eventos.
–Não, Ashley enviou um carro para me buscar.
Cam arqueou uma sobrancelha.
–E como trouxe todas essas coisas de Nova York?
–Só pedi que me enviassem o vinho, o resto preparei aqui mesmo. Ashley tem uma cozinha
maravilhosa – respondeu Pippa. E sabia bem porque fora ela quem encheu a despensa.
Cameron abriu a porta do Escalade e virtualmente a empurrou para o interior.
–Meu chofer te levará de volta à cidade pela manhã.
Nossa, parecia disposto a livrar-se dela inclusive antes de terem dormido juntos, pensou
Pippa, aborrecida.
Cam subiu no carro e arrancou à toda velocidade, embora soubesse que vivia perto dali.
Meio quilômetro depois se deteve frente a uma grade de ferro e esperou que ela se abrisse antes
de acelerar de novo para subir pelo caminho.
Pippa não podia ver nada na escuridão. Não havia nenhuma luz acesa na mansão e não tinha
um aspecto muito convidativo. Perguntou-se então se seria uma monstruosidade como um
castelo medieval ou algo parecido. Ouviu Devon pegando no seu pé sobre “sua caverna” e sentia
curiosidade.
Antes que chegassem à casa, as luzes se acenderam de repente por controle remoto.
Desceu do carro e sorriu quando lhe pôs uma mão nas costas enquanto entravam em uma
cozinha que a fez babar de inveja. Tinha um aspecto tão imaculado que parecia jamais ter sido
usada.
Cameron a levou ao vestíbulo de entrada e quando começou a subir a escada, Pippa quase
teve que correr para segui-lo.
Quando chegaram ao espaçoso dormitório principal estava sem ar e, antes que pudesse
respirar, Cam a puxou para apertá-la contra seu corpo e lhe dar um beijo que a deixou quase
atordoada.
–É tão linda… – murmurou – Me deixa louco.
Ela sorriu, satisfeita. Que mulher não se sentiria assim ao escutar isso?
–Mas temos que falar de algumas coisas antes de nos deixar levar.
Embora falasse com calma, seus olhos brilhavam de uma forma que a fez tremer. Desejava-
a, isso estava claro. Nunca se sentiu devorada pelo olhar de um homem, mas assim era como se
sentia nesse momento.
–A que se refere?
–Há coisas que deve saber, coisas que tenho que deixar claro para que logo não haja mal
entendidos.
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A curiosidade fez que Pippa arqueasse uma sobrancelha enquanto se sentava na borda da
cama e cruzava primorosamente as pernas.
–Estou escutando.
Mas o que podia ser tão importante para deter um beijo? Cam limpou a garganta antes de
dizer:
–Não estou interessado em compromissos. Preciso que entenda isso antes de transarmos.
Isto é somente um encontro casual. Não te ligarei depois de amanhã…
–Muito bem.
–E espero que parta pela manhã. Meu chofer a levará para a cidade.
Pippa sorriu, mas estava claro que isso era a última coisa que Cameron esperava. O que
pensava, que iria embora de sua casa indignada? Sem deixar de sorrir, levantou-se para
aproximar-se dele e passou os dedos pelos botões de sua camisa.
–Se acha que eu quero algo mais, vai ter uma desilusão. O que quero é sexo. Pode me dar
isso?
Imediatamente viu um brilho de alívio em seus olhos azuis. Mas quando ia beijá-la, Pippa se
afastou.
–Não tão rápido. Eu também tenho algumas coisas a dizer.
–Ah, sim?
– Imagino que tenha preservativos. Ou melhor, se não tiver preservativos não haverá sexo,
simples assim.
–Tenho preservativos – disse Cam.
Pippa estendeu a mão para puxá-lo pela camisa.
–Então não temos nada mais a dizer – murmurou, procurando seus lábios.
Cam experimentou uma onda de desejo que o deixou atordoado. Pippa era tudo o que
imaginou e muito mais. Era doce, sexy, atrevida e estava seduzindo-o em seu próprio dormitório.
Adorava que fosse tão impaciente, puxando sua camisa para tirá-la da calça. Costumava ser
o mais ativo na cama, mas era muito excitante que fosse o contrário.
Quando começou a descer o zíper de sua calça esteve a ponto de perder a cabeça e teve que
respirar profundamente, tentando controlar a descarga de adrenalina.
Mas quando desceu o zíper e agarrou seu membro… “Caramba!”
Pippa ficou nas pontas dos pés para beijá-lo, acariciando-o com seus sedosos dedos…
–A primeira vez sou muito exigente –murmurou– E espero que cuide de mim.
Se aquilo não era uma provocação, não sabia o que podia ser. Cameron a separou de si o
suficiente para levá-la à cama e arrancar sua roupa com mãos impaciente até que ficou com o
conjunto de roupa íntima mais sexy que jamais viu.
Era uma sereia vestida de negro. O cabelo negro, a perversa calcinha e o sutiã que mal lhe
cobria os mamilos… O cabelo deliciosamente despenteado a fazia parecer recém-saída da cama e
seus olhos, seus profundos e eróticos olhos verdes, o deixaram louco.
Não era somente linda, era incrível.
Deitou-a sobre o colchão para admirá-la e pensou que era uma festa para os sentidos. E ele
queria apreciar todos: o olfato, a visão, o ouvido, o tato… queria ouvi-la sussurrar seu nome, mas,
sobretudo, queria saborear cada centímetro de sua pele.
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–Você gosta? –sussurrou Cameron, acariciando seu seio e vendo como o mamilo se
levantava– Que mais você gosta, Pippa? Diga-me como te dar prazer.
–Está indo muito bem, não tenho nenhuma queixa –conseguiu dizer ela, entre suspiros– Eu
adoro um homem que não se apressa e não pensa somente em seu próprio prazer.
–Mas isto me faz sentir um grande prazer –murmurou ele– Eu adoro te tocar, beijá-la. Eu
adoro ver como responde, como se obscurecem seus olhos quando está acesa. E esse sorriso
perverso me diz que vamos nos divertir muito.
–Agora que estou pensando, continue com os elogios –brincou Pippa – Eu gosto muito.
–Me diga onde quer que te toque.
Os olhos verdes escureceram enquanto tomava sua mão e a deslizava até entre suas pernas
para colocá-la sobre o casulo escondido entre os cachos… Pippa deixou escapar um gemido
quando Cameron começou a mover os dedos… ah, sim, gostava muito disso.
Também ele podia ser perverso quando queria, pensou Cam, acariciando as aveludadas
dobras de sua feminilidade.
Ela deixou escapar um grito, arqueando-se e enredando os dedos em seu cabelo. Não era
tímida absolutamente, sabia o que queria e o exigia. E adorava isso.
Cameron lhe acariciou o clitóris uma vez mais e logo afastou a mão para pegar um
preservativo, inclinando-se para beijá-la enquanto abria suas pernas com o joelho. Não se cansava
dela e pensava aproveitar todo o tempo que estivesse ali.
–Está pronta para mim?
Ela respondeu envolvendo as pernas em sua cintura e arqueando as costas e Cam teve que
sorrir ante sua impaciência.
–Guia-me, Pippa. Diga-me como você gosta.
Ela baixou uma mão para envolver seu membro e colocá-lo entre suas pernas, arqueando-se
um pouco mais ao sentir o primeiro toque na entrada de sua úmida caverna.
Os dois suspiraram e Cameron não pôde esperar mais. Levantando os quadris, penetrou-a
com uma investida… ao princípio pensou que a machucara, mas então Pippa cravou os dedos em
seus ombros e quase gritou que não parasse.
Ele sorriu, beijando-a enquanto se movia a um ritmo frenético. Sem estilo, desgracioso,
aquele encontro não podia ser descrito como elegante, justamente o contrário.
Era algo animal, com Pippa dando tanto quanto tomava. Exigindo dele tudo o que tinha e
mais. Nunca fez amor com uma mulher mais feroz e Cam gostou de cada segundo.
–Está comigo, Pippa? Preciso que esteja comigo, estou a ponto.
–Estou com você – murmurou ela – Continue, Cam, não pare.
Como se pudesse parar.
Deixando escapar um grunhido, Cam empurrou com força. Não pensava em nada mais que
nela, só nela movendo-se, apertando-o.
Escutava seus gemidos, cheirava seu perfume, saboreava-a e a sentia até nos ossos.
– Cam! — Pippa se agarrou a seus ombros e ele tremeu violentamente enquanto a ouvia
gritar.
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Um segundo depois caía sobre ela, embora soubesse que devia a estar esmagando. Mas
Pippa não se queixava, ao contrário. De fato, apertava-o com tal força que não poderia afastar-se
mesmo se quisesse.
Ficaram assim durante uns segundos, tentando recuperar o fôlego. E logo, deixando escapar
um suspiro, Cam se afastou para tirar o preservativo.
Quando virou a cabeça, Pippa estava deitada de barriga para cima, com os olhos fechados.
–Acredito que estou morta –murmurou– Quando vamos fazer outra vez?
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Capítulo 3
Pippa abriu os olhos pouco a pouco, mas só podia ver uma nuvem branca. Sentia como se
um caminhão a tivesse atropelado, mas… ah, que sensação tão maravilhosa.
Demorou um momento em dar-se conta de que tinha o rosto enterrado no travesseiro e se
ergueu com gesto impaciente para olhar ao redor.
Estava sozinha no quarto, sua roupa cuidadosamente dobrada aos pés da cama; um sutil
aviso de que devia partir assim que despertasse.
Pippa enrugou o nariz. Cam não ficou para lhe dizer adeus e nada indicava que passou a
noite com ela, porque seu lado da cama estava frio. Não ficava nenhum sinal de que passaram a
noite revolvendo os luxuosos lençóis.
Suspirando, cobriu-se com a dobra do lençol e teve que sorrir ao pensar que estava sendo
ridiculamente pudica.
Mas Cam deixara bem claro: não queria encontros matutinos.
Pippa deixou escapar um suspiro, sentindo um comichão ao recordar o que aconteceu
durante a noite.
Sentia a tentação de tomar uma ducha porque sua última tentativa foi interrompida por
Cam, mas ele queria que se fosse pela manhã e Pippa não tinha intenção de ficar.
Eram nove horas, comprovou, olhando seu relógio. Deveria ter partido muito antes, mas não
conseguiu dormir até o amanhecer.
Quando se levantou da cama todos os seus músculos protestaram. Em realidade, doíam-lhe
músculos que nunca antes tinha usado.
Depois de vestir-se, entrou no banheiro para tentar fazer algo com seu cabelo. Carregava
maquiagem na bolsa, mas não ia incomodar-se. Não tinha que impressionar ninguém e o carro a
deixaria em seu apartamento.
Depois de desembaraçar um pouco o cabelo, fez um coque que segurou com um grampo e
colocou os óculos de sol.
Respirando profundamente, saiu do dormitório e foi às escadas. Não sabia se Cam estava em
casa, mas o último que desejava era encontrá-lo, de modo que desceu nas pontas dos pés… e
quando chegou ao vestíbulo se encontrou com um homem alto e sério entre quarenta e sessenta
anos.
–Senhorita Laingley, o carro está esperando.
–Ah, sinto muito. Está há muito tempo esperando?
O homem sorriu.
–Não, absolutamente. Venha, eu a acompanho.
Pippa deu um passo adiante… e se deteve bruscamente ao recordar que esqueceu seu
casaco. Mas quando se virou, o homem tinha o casaco na mão.
–Permita-me?
–Obrigada.
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Cam lhe disse que fazia tempo que não tinha relações, mas Pippa tinha a impressão de que
não era a primeira mulher que passava por ali. O mordomo, ou o que fosse, parecia ter os
movimentos bem ensaiados.
Quando abriu a porta ficou surpreendida.
–Nevou!
–Certamente que sim. Ao menos dez centímetros segundo as notícias.
O homem lhe ofereceu seu braço e Pippa o aceitou para descer os degraus. Continuava
usando os sapatos de salto que usou de noite e, embora fossem muito sexies, não eram
apropriados para a neve.
O mordomo abriu a porta do carro negro que a esperava e se despediu com um sorriso.
–Que tenha uma boa viagem, senhorita.
–Obrigada –disse ela.
O condutor deu a partida e Pippa se voltou para olhar a casa à luz do dia.
Era uma construção grande, mas não dava medo como pensou de noite. Parecia-se com as
demais mansões da área. A propriedade estava rodeada de altos muros e devia ser muito grande
porque não via nenhuma outra casa.
Sim, aparentemente Cam vivia uma vida de recluso. E depois de ter provado de sua paixão,
perguntou-se quantas vezes levaria uma mulher a sua guarida.
Esse pensamento a fez rir. Pensava em Cam como se fosse um monstro quando era
justamente o contrário. Cameron Hollingsworth era pecaminosamente bonito e perfeito.
E fazia amor maravilhosamente. Tanto que sofreria os efeitos dessa noite durante uma
semana.
Pippa olhou a imponente casa pela última vez quando o carro tomou a estrada e logo,
suspirando, jogou a cabeça para trás e fechou os olhos.
*****
Cam olhava da janela do seu estúdio o carro afastando-se pelo caminho. E continuou
olhando durante uns segundos quando desapareceu de sua vista.
Estava imóvel, com as mãos nos bolsos da calça. Incomodava-o não saber o que ia fazer.
Sentia o desejo de fazer algo, mas não sabia o quê. Só sabia que estar em sua casa, sozinho, de
repente lhe parecia insuportável.
Era essa maldita mulher, pensou. O pegou despreparado. Talvez esperasse alguém como
Ashley: doce, tímida, inocente e precisando de proteção. Talvez transara com Pippa porque seu
ego masculino o necessitava. Ou talvez pensou que estava lhe fazendo um favor, quando em
realidade fez o que desejava fazer desde o dia que a conheceu.
Mas Pippa tinha posto seu mundo de pernas para o ar. Pippa Laingley era uma mulher
segura de si mesma, que não tinha medo de tomar o que queria e a noite anterior ela o quis. Seu
ego deveria estar tranquilo, mas se sentia estranho porque os papéis se inverteram.
Era quase como se lhe houvesse dito: “Estou disposta a transar com você, mas não quero
saber nada de você.”
Pippa tinha tomado o controle e ele atuou como um adolescente enlouquecido na noite
anterior. Nada a ver com o homem sério e controlado que gostava de mostrar ante o mundo.
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Capítulo 4
Pippa sentiu a tentação de jogar o celular contra a parede, mas se conteve porque então
teria que comprar outro.
O que mais podia sair errado naquele dia? Tinha encontrado o lugar perfeito para seu café e
em uma boa área da cidade. O preço era razoável e tinha todo o necessário. A única coisa que
precisava era uma pequena reforma na entrada para colocar algumas mesas.
Depois de tanto tempo organizando bufês, estava pronta para dar um passo adiante, um que
lhe contribuiria com ganhos fixos. Graças às suas poucas economias pôde continuar vivendo no
apartamento, mas se não começasse a entrar dinheiro todos os meses, cedo ou tarde teria que se
mudar.
Estava segura de que o banco lhe concederia um empréstimo, mas para consegui-lo
precisava ter um contrato assinado de aluguel. E acreditou que o tinha até que o proprietário do
local ligou para dizer que havia um problema.
De repente, seu sonho de lindas madalenas, deliciosos bolos, intricados bombons e pães de
todo tipo se evaporou.
Estava fechando a porta do apartamento quando o celular começou a soar. Era um número
que não reconhecia, mas como o tinha dado a muitos clientes, não podia permitir o luxo de não
atender.
–Alô?
–Pippa, é Cam.
Ela riu enquanto tirava o casaco.
–Ora, que surpresa. Se me lembro bem, disse que não me ligaria no dia seguinte. A que lhe
devo esta honra?
–Um dos preservativos se rompeu.
Pippa passou o telefone à outra mão para tirar o sobretudo, convencida de ter ouvido mal.
–O que disse?
–Que o preservativo que usamos na ducha se rompeu. Não me dei conta, é obvio.
Ela tentou engolir saliva. Nenhum dos dois se deu conta naquele momento, claro.
–Pippa, está aí?
–Sim, estou aqui.
–Temos que conversar.
–Quando descobriu?
–Ontem, quando se foi.
–E por que esperou até hoje para me dizer isso? — gritou ela– Deveria ter me contado
ontem, quando ainda poderia ter feito algo.
Embora não soubesse muito bem o que poderia ter feito. A pílula do dia seguinte? Então
teria sido muito tarde… ou não? Em realidade, não sabia. Mas ao menos poderia ter perguntado.
–Acalme-se, Pippa.
Seu tom condescendente a zangou ainda mais.
–Não me diga que me acalme. Não é você quem terá que viver com as consequências de um
preservativo rompido.
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–Ah, não? Acha que uma gravidez não me afeta tanto quanto a você? Deixe de gritar comigo
e vamos falar disto como adultos.
Pippa teve que morder lábios.
–Muito bem, concordo.
–Suponho que não toma a pílula.
–Não, não tomo.
–E suponho que esta notícia a assustou tanto quanto a mim –continuou Cam – Mas
descontar em mim não servirá de nada.
Pippa olhou o celular. Se o tivesse atirado contra a parede não estaria mantendo essa
conversa, pensou.
–Acredito que deveria se mudar para minha casa, ao menos até sabermos se está grávida.
–O que?
–Talvez devêssemos nos ver, não acredito que isto seja algo do que devamos falar por
telefone. Irei te buscar em uma hora…
–Não – disse Pippa então.
–Então o que fazemos?
–Não penso em ir morar na sua casa. É a coisa mais absurda que ouvi em toda minha vida. E
não temos por que nos ver. Francamente, agora mesmo não sinto o menor desejo de vê-lo.
Preciso de tempo para me acostumar à ideia, mas se ao final estiver grávida te asseguro que
entrarei em contato com você. Até então, agradeceria que me deixasse em paz.
–Não se trata do que eu quero –replicou Cameron– Preciso saber que você está bem e que o
bebê, se existir, também está bem. E a melhor maneira de fazer isso é que esteja perto de mim.
Ele disse isso com tom distante, como se pensasse que estava fazendo o que devia fazer. E
isso a incomodou. Preocupava-o que a gravidez ocorresse bem quando a única coisa que o
preocupava naquele momento era que houvesse tal gravidez.
–Não me importa o que você quer – o espetou antes de cortar a comunicação. Mas, como
intuía que Cameron era um tipo persistente, desligou o telefone e o atirou sobre o sofá.
Pippa correu a seu dormitório para olhar o calendário onde anotava seu ciclo menstrual.
Calculou os dias depois de sua última regra… e deixou escapar um gemido. Poderia ter
ocorrido em pior momento? Não poderia dizer com segurança que esteve ovulando naquela noite,
mas havia muitas possibilidades.
Muito bem, de modo que era possível. O que tinha que fazer era procurar opções, se
existissem.
Religou o celular, ignorando os bips que anunciavam chamadas perdidas e mensagens,
certamente de Cam, e ligou para sua amiga Carly.
–Tudo bem, Pip? Solucionou o problema do aluguel do Café? E como foi a festa na casa de
Ashley? Senti muito não poder ir, espero que não tenha se zangado.
Pippa esperou até que sua loquaz amiga deixasse de falar.
–Tem algo para fazer? Preciso das garotas. É uma emergência.
Do outro lado do telefone houve um silêncio.
–O que aconteceu?
–Contarei quando estivermos juntas. Pode ligar para as demais?
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Capítulo 5
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–Você sabe que faríamos qualquer coisa por você –disse Ashley– Todas me ajudaram
muitíssimo quando rompi com o Devon… nunca poderia pagá-las por isso.
Pippa tentou conter as lágrimas.
–Não tem que agradecer nada, você sabe que a amamos muito.
–Quando dormiu com ele? –perguntou Sylvia, sempre tão prática.
–No sábado de noite… e até a madrugada.
–Deveria ir ao ginecologista para lhe pedir conselho.
–Eu pagarei a consulta – se ofereceu Ashley– E te levarei eu mesma.
Pippa engoliu saliva, incômoda.
–Não sei…
–O que ocorre?
–Sinto-me como uma tola. Não posso tomar a decisão agora mesmo.
–O que diz seu coração? –perguntou Carly– Do que tem medo, da gravidez ou de ser mãe
solteira e não poder manter seu filho?
–Não tem que tomar a decisão agora mesmo –interveio Tabitha– Tomar a pílula do dia
seguinte não é a única opção. Pode esperar um pouco para ver se de verdade está grávida e
decidir então.
Ashley lhe apertou a mão.
–Se quer ter o bebê… se houver um bebê, sabe que todas nós a ajudaremos. Não estará
sozinha – lhe disse – Toma a decisão que quiser, mas seja a que for, todas a apoiaremos.
–Não sei o que faria sem vocês.
–Esqueceu uma parte importante do assunto –disse Sylvia então– O pai do bebê.
Evidentemente, terá a nós, mas ele vai se responsabilizar?
Pippa assentiu com a cabeça.
–Se estiver grávida, fará. Disse que falaria com ele quando soubesse algo e que até então me
deixasse em paz. Mas não me acostumo à ideia.
–Entendo você –assentiu Carly.
–Talvez pareça absurdo, mas desde que soube que havia uma possibilidade de estar grávida
comecei a imaginar o bebê… Sei que posso tomar a pílula do dia seguinte, mas não sei se é o que
quero.
Pippa olhou suas amigas e em seus olhos só viu compreensão, apoio e lealdade.
–Se houver um bebê, acredito que o quero –seguiu– Sei que gostaria de tê-lo.
–Espera um pouco – a aconselhou Sylvia– Não há pressa. Não tem que tomar uma decisão
agora mesmo.
Mas, à medida que passava o choque inicial, Pippa começava a estar convencida de que
queria ter seu filho.
Seu filho.
Pensar isso fez com que experimentasse um estranho desejo protetor e decidiu que não
interromperia a gravidez. O amor que sentia era tão intenso que a surpreendia, especialmente
sem saber se estava grávida.
Se estivesse, acontecesse o que acontecesse, teria a criança. Falaria com Cam e juntos
chegariam a uma solução amistosa.
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Talvez estivesse sendo uma ingênua, mas até que lhe demonstrasse o contrário, ia acreditar
que Cameron Hollingsworth era uma pessoa responsável.
Suas mãos tremiam enquanto levava o copo de água aos lábios e, depois de tomar um longo
gole, olhou para suas amigas.
–Bom, garotas, quanto tempo tenho que esperar antes de fazer um teste de gravidez?
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Capítulo 6
Pippa passeava pela sala de estar, tentando não olhar o teste de gravidez sobre a mesinha
de café.
–Ainda não – disse Ashley.
–Por que demora tanto?
Estava desejando saber. As últimas semanas foram estressantes, com Cam lhe perguntando
cada dia se sabia algo. A última vez que perguntou esteve a ponto de lhe dizer que a deixasse em
paz.
E talvez tenha entendido a pequena sutil indireta porque não tornou a ligar para ela nos
últimos dois dias.
Mas o importante era que se mostrava preocupado. Parecia convencido de que sua missão
era ligar para ela frequentemente para ver se estava bem.
Embora isso a estava deixando louca.
–Só passou dois minutos – disse Ashley– E não adianta nada olhá-lo fixamente, isso não fará
que vá mais depressa.
Pippa se deixou cair sobre o sofá.
–Tem razão, estou ficando louca. Mas é que sinto que estou grávida. E não me diga que
estou imaginando os sintomas, digo que me sinto diferente. Meus seios estão maiores, enjoo
pelas manhãs. Incomodam-me muito alguns aromas… as madalenas, por exemplo. Quem sente
náuseas com o aroma das madalenas?
Ashley sorriu.
–Não acredito que esteja imaginando nada, querida. Vamos esperar os resultados e logo
falaremos, certo?
Pippa fechou os olhos. As últimas semanas foram uma tortura.
Mudou de opinião um dia sim e outro não. Um dia pensava que ter um filho seria genial e no
dia seguinte que era uma loucura.
E, além disso, sentia-se como uma tola. Ela não era uma adolescente atordoada que tinha
relações sem preservativo. Sempre tinha tomado cuidado. Sempre! Nunca considerou a si mesma
antiquada, mas preferia ter um filho dentro do matrimônio ou ao menos em uma relação sólida.
–Bom, já pode olhar.
As duas olhavam a varinha sobre a mesa de café como se fosse um inseto repugnante ao que
não queriam aproximar-se.
–Olhe você, eu não posso –disse Pippa.
Ashley apertou sua mão.
–Lembre-se que seja o que for, está bem. Não vai acontecer nada, prometo-lhe isso.
Ela assentiu, fechando os olhos para não ver sua reação.
–Abre os olhos, Pip.
Quando o fez, viu que sua amiga a olhava com expressão solene.
–Estou grávida?
–Segundo este teste, está.
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Pippa tomou a varinha para comprovar o resultado por si mesma e piscou rapidamente para
centrar o olhar.
E ali estava, um enorme ponto rosa que dizia claramente: sim, está grávida.
–Meu Deus…
–Não vai desmaiar, não é?
Pippa tentou negar com a cabeça, mas não podia mover-se. Era como se estivesse tendo
uma experiência extracorpórea. Tudo parecia ocorrer em câmara lenta.
Grávida.
De Cam.
Que não queria saber nada de relações nem compromissos.
Que não ligava no dia seguinte.
–O que vou fazer? – murmurou – Cam vai ter um troço. Disse-me que ele não queria saber
nada de compromissos, que só era sexo, bla, bla, bla. E um bebê é um compromisso muito grande.
–Espera uns dias antes de falar com ele – aconselhou sua amiga.
–Tenho que falar com ele agora mesmo.
–Pip, está alterada. A última coisa que precisa agora mesmo é discutir com Cam.
–Além de mim, é a ele a quem mais afeta esta situação e tem que saber para… que possa
agir de acordo. Além disso, está há semanas me ligando. Não tem sentido esperar.
Ashley suspirou.
–Não quero que faça nada de maneira impulsiva. Eu sei que Cam pode ser muito persuasivo
quando quer… não, mais que isso. Cam pode ser implacável.
–Não se preocupe, ele não me dá medo. Isto é tanto seu problema como o meu e não quero
passar uma semana angustiada pelo futuro. Se vou sofrer, ele também vai.
Ashley soltou uma risadinha.
–Acredito que acaba de me convencer.
–Se pretende me dizer o que devo fazer não terá que preocupar-se em conceber mais filhos,
asseguro-lhe isso.
Sua amiga riu de novo, abraçando-a.
–Tudo vai sair bem, Pip. Estaremos grávidas ao mesmo tempo, ao menos durante uns meses.
Devon e eu faremos tudo o que estiver ao nosso alcance para te ajudar e, além disso, tem Tabitha,
Carly e Sylvia. E a minha mãe. Quando souber que está grávida, envolverá você entre algodões e
não poderá respirar.
–Adoro a sua mãe.
–E ela a você.
Pippa suspirou enquanto se levantava do sofá.
–Tenho que fazer isto antes de perder a coragem.
–Muito bem, ponha o casaco. Direi ao chofer que a leve ao escritório de Cam e logo irei para
casa.
–Obrigada por tudo, Ash. Por apertar minha mão e por estar comigo neste momento.
Ashley a abraçou de novo.
–Acredito recordar que você fez o mesmo por mim recentemente.
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*****
Cam via cair os primeiros flocos de neve pela janela de seu escritório. Logo o chão ficaria
coberto de um manto branco… e seu estado de ânimo era tão sombrio quanto o tempo.
Não era capaz de concentrar-se no trabalho. Sentava-se nas reuniões com Devon e seus
outros dois sócios e amigos, Rafael de Luca e Ryan Beardsley, mas não prestava atenção. A fusão
entre a Tricorp e Hotéis Copeland estava se resolvendo a toda velocidade e deveria estar
contente, mas as últimas semanas foram um inferno para ele, torturado pela ideia de que Pippa
estivesse grávida. Tinha medo que não estivesse cuidando de si mesma, que lhe acontecesse
algo… A preocupação, o sentimento de culpa e a ansiedade o afligiam durante o dia e também de
noite, fazendo com que não pudesse dormir. E a culpa era dele. Não deveria ter-se deixado levar
pela tentação, deveria ter tido mais cuidado… deveria ter partido da festa sem transar com Pippa.
Então não estaria tão angustiado ou temendo perder algo precioso pela segunda vez em sua
vida.
Claro que Pippa não ligou para ele, de modo que talvez estivesse preocupando-se com nada.
Se estivesse grávida teria ligado.
Tinha prometido fazê-lo e confiava nela.
Mas quanto mais tempo passava, mais angustiado se sentia.
Desde aquela noite, converteu-se em um hábito abrir a gaveta da escrivaninha, a única que
permanecia fechada com chave, para tirar duas fotografias, uma de Elise e outra de Colton.
Olhou-as naquele momento, riscando com os dedos o sorriso de Elise. Colton tinha um dia
de vida nessa foto e era um ser diminuto, enrugado e com o rostinho vermelho, mas Cam nunca
tinha visto nada mais belo em toda sua vida.
Tantos anos depois, olhar o retrato das duas pessoas que mais amou no mundo e às que
perdeu continuava deixando-o sem respiração.
Não podia fazer isso outra vez, não podia passar por isso. Não queria sofrer essa agonia. E
nunca desejou nada tanto quanto Pippa não estar grávida…
Sua secretária o chamou pelo intercomunicador, interrompendo seus pensamentos.
–Senhor Hollingsworth, uma jovem quer vê-lo. Mas não tem hora marcada.
–Quem é? –perguntou ele, impaciente.
–Pippa Laingley. E parece convencida de que você irá vê-la.
–Diga que entre imediatamente.
Cam se levantou, olhando a porta com o estômago encolhido. Um momento depois, Pippa
entrava no escritório e Cam a observou atentamente, procurando algum sinal, algo que lhe
dissesse se estava ou não grávida. O instinto lhe pedia que desse um passo adiante e a abraçasse,
que prometesse que tudo ia sair bem, mas tinha aprendido muito tempo atrás que ninguém devia
fazer essas promessas porque não poderia ser cumpridas.
E tinha que dissimular sua agitação se queria que aquele encontro fosse agradável.
–Olá, Pippa. Sente-se, por favor. Quer tomar algo?
Estava pálida, tinha olheiras e parecia mais magra que a última vez que se viram. As últimas
semanas foram mais estressantes para ela que para ele, pensou, sentindo-se culpado.
–Espero não interromper algo importante, mas tinha que vê-lo imediatamente.
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Capítulo 7
Não deveria ter ficado surpresa ao encontrar Cam esperando na porta. Pippa olhou seu
relógio, se perguntando se perdeu mais tempo que o habitual enquanto voltava para casa
andando. Mas não, ainda não eram seis.
Cam tinha o cabelo molhado pela chuva. Estava muito sério, mas sua expressão se suavizou
ao vê-la. Inclusive poderia jurar que via um brilho de alívio em seus olhos.
–Veio andando? –perguntou-lhe.
Pippa abriu a porta de seu apartamento, que dava diretamente à rua, e tirou o casaco,
fazendo-lhe um gesto para que fizesse o mesmo.
–Veio andando? –repetiu Cam – Faz um frio terrível.
–São apenas dez quadras. Ashley me levou de carro ao seu escritório e logo tomei um táxi
para ir ao restaurante almoçar. Não tinha sentido tomar outro somente para dez quadras.
Cam se deixou cair em uma poltrona. Parecia nervoso.
–Sei que cheguei cedo, mas talvez entenda minha impaciência –disse Cam – Temos que
solucionar este assunto.
–Não sei o que quer dizer com isso. Não é algo que vamos “solucionar”.
Ele se inclinou para frente, tenso e impaciente.
–Eu gostaria de saber quais são seus planos.
–Acabei de saber esta manhã…
–Mas vai ter o bebê?
–Sim – respondeu Pippa – estive lhe dando voltas durante estas semanas e, embora agora
esteja estressada e assustada, vou ter meu filho.
Era um brilho de alívio o que via em seus olhos? Não era fácil saber porque parecia tão
afligido… Incapaz de suportar a tensão um segundo mais, Pippa se levantou.
–Não tenho nenhum plano. Alguém pode ter um plano para algo como isto? Evidentemente,
vou precisar de sua ajuda. Não tenho seguro médico neste momento…
–Terá os melhores cuidados médicos – ele se apressou a dizer.
–Obrigada. Estou tentando levantar meu negócio e o seguro médico é um desses detalhes
que ainda não consegui solucionar.
–Não terá que preocupar-se com isso. Quero que você e nosso filho tenham os melhores
cuidados.
Muito bem, talvez não fosse tão difícil. Cam parecia estar lidando com isso muito bem.
–Não espero que me mantenha, é óbvio. Responsabilizar-se pelos cuidados médicos é mais
que suficiente. Eu tenho algumas economias e posso me sustentar com elas até que meu negócio
comece a funcionar.
A última coisa que desejava era que Cam pensasse que queria dinheiro.
–Podemos chegar a um acordo amistoso – continuou Pippa – Alguns homens não gostam de
ir ao ginecologista com suas parceiras e não me importa, de verdade. Posso fazê-lo sozinha.
O mais curioso era que quanto mais falava, mais zangado ele parecia.
–Eu quero estar envolvido nessa gravidez, tenho direito de estar.
–Bom, muito bem. Não estou dizendo que não o tenha. Mas pensei que talvez não quisesse.
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Sentia-me atraída por você e não procurava nada mais. Uma relação não é o que quero ou o que
necessito neste momento da minha vida, mas estou grávida e não vou manter uma relação de
conveniência só para que você fique tranquilo.
–Por que não?
–Porque espero me casar algum dia com um homem pelo qual esteja apaixonada.
–Eu não posso te dar isso –confessou ele.
–E eu nunca aceitarei nada menos – replicou Pippa.
Cam se levantou da poltrona, com os punhos apertados.
–Não vou deixar que se case com outro homem quando está grávida de meu filho. Tenho
direito de ser o pai desse bebê e você não pode me tirar isso, não permitirei.
–Eu nunca tiraria seu filho de você. Só estou te explicando por que não estou disposta a me
conformar com uma relação como a que você me oferece.
–Eu quero que meu filho tenha os melhores cuidados.
–E eu também. Quero este bebê, Cam. Fiquei acordada muitas horas imaginando seu futuro
e nunca faria nada que pudesse prejudicá-lo.
–Então, deixe que eu cuide dos dois. Não quero que nada te aconteça…
–Não vai me acontecer nada.
–Venha viver em minha casa –insistiu ele– Se não quer se casar comigo, ao menos se mude
para minha casa. Assim estarei seguro de que tem tudo o que necessita.
–Se aceitar, não poderei respeitar a mim mesma.
–Pippa…
–Não, me escute. Não tínhamos planejado isto, mas ocorreu e nenhum dos dois pode pensar
com claridade neste momento.
–Eu sei muito bem o que quero.
–E eu sei que não quer uma relação nem um matrimônio. Além disso, se nos casássemos,
cedo ou tarde o odiaria por não poder me dar algo mais. Que tipo de lar seria esse para uma
criança?
Cam apertou os lábios. Parecia a ponto de discutir, mas permaneceu em silêncio enquanto a
olhava nos olhos.
–Estou disposto a esperar –disse por fim– Mas quero ter a certeza de que se cuida, de que
tudo vai bem.
–Por que tanta obsessão? Estou perfeitamente bem. Eu não tenho intenção de viver em uma
bolha e você não pode ficar atrás de mim durante estes oito meses.
–Claro que posso.
–Do que tem tanto medo, Cam?
Era a segunda vez que fazia essa pergunta e, por um momento, pensou que ia responder.
Mas ficou em silêncio uma vez mais.
–Deixará ao menos que te instale em um apartamento mais seguro?
Pippa o olhou, incrédula.
–Qual o problema com este apartamento?
–Ele dá à rua –respondeu Cam – Não há segurança e os degraus são perigosos,
particularmente no inverno.
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Capítulo 8
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–Mas te desejo sorte – continuou Devon– Pelo menos, vou me divertir vendo como passa
pelo ridículo.
–Subestima-me – disse Cam, recostando-se na poltrona.
–O que quer? Não está disposto a se comprometer e, entretanto, persegue Pippa e se zanga
porque não te dá atenção. Não o entendo.
Era uma boa pergunta e uma para a qual não tinha resposta. E tampouco queria examinar as
razões pelas quais lhe pediu que se casasse com ele.
–Quero fazer todo o possível para que meu filho esteja bem atendido.
Devon suspirou.
–Não pode protegê-lo de tudo. A vida é assim. Não se pode viver esperando o desastre.
Para Cam a conversa tinha terminado, de modo que começou a falar de negócios. Mas
continuava pensando em Pippa e, enquanto discutiam os progressos do último resort em Saint
Angelo, já estava formulando um plano.
Quanto antes estivesse seguro de seu bem-estar, antes sua vida voltaria para a normalidade.
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Capítulo 9
Pippa colocou as mãos nos bolsos do casaco enquanto corria para seu apartamento. Os
flocos de neve caíam sobre sua cabeça e o vento a gelava até os ossos.
Tinha sido um dia espantoso e, para piorar as coisas, estava tendo que suportar as náuseas
matinais e um cansaço entristecedor.
Quando chegou à esquina deixou escapar um suspiro de alívio. Uma quadra mais e estaria
em casa. E assim que estivesse em seu apartamento vestiria o pijama e se meteria na cama para
dormir doze horas.
Ah, que vida tão alegre, pensou, irônica. Antes podia funcionar com três ou quatro horas de
sono, mas a gravidez a converteu em uma dorminhoca.
Estava tão perdida em seus pensamentos que não viu o carro que parava ao seu lado e deu
um sobressalto quando Cam a segurou pelo braço.
–Que susto me deu!
–Sobe – disse ele – Faz um frio horrível na rua.
–Estou a uma quadra de meu apartamento.
Cam a empurrou brandamente para o carro e, suspirando, Pippa decidiu não protestar.
–Não me retornou as chamadas –disse ele, depois de indicar ao chofer que seguisse
adiante– Nunca está em casa quando venho te buscar e suas amigas não sabem onde está.
–Aqui, pare aqui…
–Não vamos para sua casa.
Pippa se deixou cair sobre o respaldo do assento, suspirando.
–Sei que estive te evitando, mas, de verdade, não quero falar disso esta noite. Estou
esgotada e falar disso me deixaria de mau humor.
Para sua surpresa, Cam esboçou um sorriso.
–Ao menos é sincera.
–Aonde vamos?
–A um lugar onde acredito que melhorará seu humor. O que ocorre, Pippa? Por que não
devolve minhas chamadas? Pensei que tínhamos um acordo. Nem sequer sei se foi ao
ginecologista…
–Ainda não fui. Já te disse que quando eu for poderia ir comigo.
–Disse muitas coisas, mas tive que te sequestrar para poder falar com você –recordou ele.
–Estive ocupada –insistiu Pippa– Tenho muitas coisas na cabeça, incluindo como vou manter
meu filho. Estou muito estressada… Talvez sua vida não vá mudar radicalmente, mas a minha sim.
Cam fez uma careta e ela lamentou ter sido tão antipática. Sabia que Cam estava fazendo
um esforço. Mas não era fácil acostumar-se a uma gravidez e tudo o que significava. Como podia
alguém suportar um giro de cento e oitenta graus em sua vida como se não nada tivesse
acontecido? Talvez algumas pessoas podiam fazê-lo, mas Pippa não era uma delas.
–Acha que isto só é difícil para você? –perguntou-lhe Cam – É horrível não saber se está
bem, se o bebê está bem. Você gostaria de viver com essa incerteza?
–Sinto muito, sei que tem razão – ao ver sua expressão angustiada, Pippa o abraçou e,
embora Cam tenha ficado momentaneamente surpreso pelo gesto impulsivo, por fim lhe devolveu
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o abraço – Desculpe – repetiu ela– Isto não está bem para mim também. Você não merece que o
trate assim.
–Que tal se fizermos um pacto? Não me deixe de fora e nos daremos bem.
Pippa assentiu com a cabeça, contrita.
–Tenho uma surpresa para você que aliviará um pouco do estresse que está sofrendo.
–Sério? O que é?
–Já verá.
Depois de tão enigmático comentário, Cam voltou a encostar-se no assento e foi olhando
pela janela até que o chofer se deteve em uma área comercial. Logo abriu a porta do carro e
estendeu uma mão para ajudá-la a descer.
Assim que esteve na calçada, Pippa cravou os olhos na loja da esquina… e ficou gelada ao ver
o pôster.
“Pippa’s, bufê sob medida.”
Era de cor rosa, moderno e feminino. Absolutamente perfeito.
Atônita, deu um passo adiante para olhar pelo vidro da prateleira. O interior tinha uma área
para mesas à esquerda e um balcão à direita, com estantes por detrás. Inclusive havia uma caixa
registradora.
– Cam, o que fez? — Quando se voltou para olhá-lo viu que estava sorrindo, satisfeito.
–Quer entrar para ver se você gosta?
–Sim, sim, claro…
O interior era lindo. As paredes tinham sido decoradas com fotografias de bolos e madalenas
de todo tipo…
–Ashley me ajudou muito.
–Não posso acreditar nisso.
Cam assinalou uma porta ao fundo.
–Será melhor que veja a cozinha. Espero que goste.
Pippa passou a mão pelo balcão, atônita. Podia ver-se naquele lugar. De fato, virtualmente
podia cheirar os bolos que poderia preparar ali.
E quando entrou na cozinha se deteve de repente. Era simplesmente perfeita.
Havia eletrodomésticos de última geração, fornos de aço, duas enormes geladeiras e um
congelador na parte de trás.
Tudo o que poderia precisar estava ali, em sua cozinha, em seu negócio.
Estava tão emocionada que seus joelhos dobraram. Sabia que deveria rechaçá-lo… por
muitas razões. Para começar, o aluguel devia ser muito alto naquela área da cidade.
Mas outra parte dela se negava a rechaçar tão generoso presente.
Cam tinha investido muito tempo e esforço…
–Você gosta? –perguntou ele.
Não ia rechaçar, pensou, com o coração encolhido. Se estava tão decidido a ajudá-la seria
uma ingratidão dizer que não.
–Se eu gostei? –exclamou Pippa– Eu adorei!
Pela segunda vez, jogou os braços ao redor do seu pescoço e ele deu um passo atrás, a
ponto de perder o equilíbrio.
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*****
À manhã seguinte, Pippa viu um carro estacionado em frente à porta de seu apartamento e
um chofer apoiado no capô. Assim que saiu, o homem lhe abriu a porta.
–Senhorita Laingley?
–Sim, sou eu.
–O senhor Hollingsworth me pediu que a leve aonde tiver que ir.
Pippa deixou escapar um suspiro. Aquilo era ir muito longe.
Tinha deixado que lhe desse de presente o estabelecimento porque não queria mostrar-se
ingrata, mas enviar um carro com chofer para ir a umas quadras dali… Ao notar sua vacilação, o
homem tirou um celular do bolso.
–O senhor Hollingsworth me disse que ligasse para ele se houvesse algum problema.
–Não tem que… — O chofer lhe ofereceu o telefone e Pippa escutou a voz de Cam do outro
lado.
–Sobe no carro. Faz frio e as calçadas estão escorregadias.
Ela teve que sorrir. Havia algo em sua preocupação que parecia enternecedor.
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Pippa não podia deixar de olhar a caminhonete, com os olhos cheios de lágrimas. Aquilo era
muito.
Suas amigas a abraçaram de novo, emocionadas.
–Vamos dar um passeio! –sugeriu Tabitha.
–Sim, venha – assentiu Sylvia.
–Não tem que ter uma permissão especial para conduzir uma caminhonete? –perguntou
Pippa.
–Não tenho ideia – respondeu Ashley– Acredito que deveria contratar um condutor, mas no
momento, vamos testá-la.
Pippa sorriu, emocionada.
–Bom, venha. A última que chegar é uma galinha.
Rindo como loucas, as cinco mulheres subiram na caminhonete, encantadas ao ver os
assentos de pele.
–Se alguma me dedurar que estou ao volante, a mato. E me refiro a você, Ashley. Cam daria
qualquer coisa para saber se estive conduzindo pelo centro da cidade sem carteira de motorista.
Sua amiga piscou, pondo cara de inocente.
–Quem é Cam?
–Vamos, Pippa! –exclamou Sylvia.
–E ligue o rádio –disse Carly– Música alegre.
Uns segundos depois abriam caminho entre o tráfego da cidade, com o rádio a todo volume.
Aquela gravidez não era tão ruim, pensou Pippa. Em realidade, nada mudou, exceto o fato de que
ia ser mãe.
Continuava tendo umas amigas maravilhosas, por fim parecia a ponto de levantar seu
negócio e parte de suas preocupações desapareceram.
E tinha que agradecer a Cam.
–Vamos ao Oscar’s – sugeriu Tabitha– Eu pago. Logo podemos voltar para o Café e fazer
madalenas.
Pippa sorriu. Sim, parecia um plano maravilhoso.
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Capítulo 10
Pippa subiu no carro, segurando o vestido de algodão sobre seu já volumoso abdômen.
Tinha chegado a primavera e, embora ainda fosse fresco e chovesse de vez em quando,
aquele era um dia lindo, com o sol brilhando no céu.
Os últimos meses foram… agradáveis. Aceitar a amizade de Cam não foi fácil e continuava
sem ser porque cada vez que se aproximavam um pouco, Cam se afastava e levantava um muro
entre os dois.
Mas aquele dia era especial e Pippa esperava que a relação desse um passo adiante. Como
não ia ser assim? Naquele dia iriam “conhecer” seu filho. Pela primeira vez, iam ver a vida que
crescia dentro dela.
–Está nervosa? –perguntou-lhe Cam enquanto a levava a clínica.
–Um pouco.
Ele sorriu, estendendo uma mão para apertar a dela.
–Continua querendo saber se é menino ou menina?
–Tenho que saber porque quero estabelecer esse laço o quanto antes possível… e pensar em
um nome. Não posso começar a comprar roupinhas ou decorar o quarto até saber se é um menino
ou uma menina.
–E já decidiu o que prefere?
–Na verdade, depende do dia. Ontem estava segura de que queria um menino, mas hoje
prefiro uma menina. E você?
Cam afastou o olhar e Pippa o viu engolir saliva.
–Eu gostaria que fosse uma menina.
–Sério? Pensei que todos os homens queriam ter um filho.
–Não, eu prefiro uma menina. Uma Pippa em miniatura, com o cabelo escuro e os olhos
verdes como os seus.
Ela sorriu, contente. Um momento depois chegaram ao estacionamento da clínica e se
formou um nó em sua garganta.
Talvez fossem os nervos, mas Cam não parecia cômodo na consulta onde estavam lhe
fazendo a ecografia. Parecia… atormentado e não deixava de olhar para a porta, como se estivesse
a ponto de sair correndo.
Nem sequer prestava atenção a ela. Só olhava a tela do monitor e parecia cada vez mais
nervoso.
Pippa respirou profundamente quando a enfermeira começou a mover um aparelho sobre
seu abdômen, sobre o qual jogou uma espécie de gel.
Piscou os olhos para concentrar-se na forma que se via na tela e lhe escapou uma lágrima
quando a jovem explicou que essa coisinha que pulsava era o coração.
Pippa olhou para Cam e o viu engolir saliva, mas havia tal angústia em seus olhos…
–Preparados para saber se é menino ou menina?
–Sim, claro.
–Vamos ver… com um pouco de sorte, não será um feto tímido. Ah, aí está. Nada de
acanhamentos, é um menino.
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Pippa se inclinou pra frente, olhando com assombro o diminuto sexo do bebê.
–Meu Deus, é um menino. Vamos ter um filho!
Sua emoção desapareceu ao ver a expressão séria de Cam que, de repente, saiu do
consultório, deixando-a na maca com a imagem de seu filho no monitor.
*****
Cam saiu do edifício porque necessitava ar fresco. Precisava afastar-se dali.
A luz do sol fez com que piscasse os olhos e a opressão que sentia no peito era tão grande
que mal podia respirar.
Um filho. Outro filho.
Por que não podia ter sido uma menina? Desse modo não sentiria como se estivesse
substituindo a lembrança de seu primeiro filho com outro. Como ia olhar àquele menino sabendo
que perdeu Colton? Nervoso, teclou o número de seu chofer e lhe pediu que levasse Pippa para
casa.
Estava sendo um imbecil, afastando-se dela quando mais precisava dele, mas não podia
continuar fingindo. Não podia sorrir e mostrar-se emocionado quando sentia que estava
morrendo por dentro.
Cam se dirigiu ao seu carro. Durante os últimos meses ficou mais frequentemente na cidade
para estar perto de Pippa, mas naquele momento precisava trancar-se atrás dos portões de seu
imóvel em Connecticut.
*****
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–Talvez seja melhor ligar antes, não acha? O senhor Hollingsworth não gosta de ser
incomodado quando está no imóvel.
–Não me importa ao que incomoda ao senhor Hollingsworth –replicou ela– Ou me leva você
ou peço um táxi.
Deixando escapar um suspiro de resignação, John voltou a introduzir-se no tráfego. Pippa foi
jogando fumaça durante uma hora e quando chegaram à entrada da casa estava com um humor
de cão.
Cam ia ter que inventar uma boa desculpa para tão repentino desaparecimento.
John desceu do carro e se dispôs a lhe abrir a porta, mas Pippa não lhe deu tempo. Subiu os
degraus da entrada e estava a ponto de tocar a campainha quando decidiu não fazê-lo. Já que
tinha chegado até ali não ia arriscar-se que Cam não atendesse.
De modo que empurrou a porta e o chamou aos gritos:
–Cam! Onde demônios está?
Nada. Não houve resposta.
–Desça agora mesmo!
Um momento depois ouviu passos e Cam apareceu ao final da escada, com o cenho franzido.
–Pode-se saber o que faz aqui? Ocorreu algo?
Se pudesse, subiria os degraus de dois em dois e lhe daria um murro no nariz. Tinha a
coragem de agir como se nada tivesse acontecido?
–Arruinou o dia mais emocionante de minha vida e eu gostaria de saber por que.
Cam desceu a escada a passo lento e quando chegou embaixo a olhou com frieza.
Não havia um brilho de simpatia em seus olhos, nada da amizade que lhe mostrou durante
esses meses.
–Pode-se saber o que há com você?
–Veio até aqui para me perguntar isso?
–Vim aqui porque pensei que éramos amigos e que seu filho te importava um pouco. Mas os
amigos não fazem o que você fez. Deixou-me sozinha na clínica e quero saber que demônios
aconteceu.
–Nem tudo tem a ver com você, Pippa.
–Pensei que fôssemos amigos, mas um amigo nunca faria isso, Cam – espetou ela, antes de
virar-se. Tinha sido uma estupidez ir ali, o único lugar onde não era bem-vinda desde a noite que
passaram juntos.
Devia recordar que Cam nunca tornou a convidá-la a ir ali e que estava inventando a
perigosa fantasia de um futuro com aquele homem.
–Não se incomode em ir à próxima consulta –disse enquanto se dirigia à porta– Prefiro ir
sozinha.
–Pippa… Sinto muito. –se desculpou Cam então– Por favor, não vá assim.
Pippa se virou.
–Por que iria ficar? É evidente que não me quer aqui e, a verdade, não sei nem para que nos
incomodamos em fingir que somos amigos. É melhor que cada um siga seu caminho…
–Eu não gosto que ninguém venha aqui – a interrompeu ele – Não é nada pessoal. Mas
fique, por favor. Sinto muito ter partido dessa forma. Sei que arruinei seu momento…
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–Nosso momento –o corrigiu Pippa– Era um momento importante para mim, mas também
para você e para o bebê. E a única coisa que quero é esquecê-lo. Como vou explicar a meu bebê
que seu pai desapareceu assim que lhe disseram que ia ter um filho?
As lágrimas que tentou conter enquanto ia até ali escorregaram por seu rosto e Cam a
abraçou com força, tanta que mal podia respirar.
–Não chore –sussurrou– Sinto muito, Pippa, você não merece isto. Perdoe-me, por favor.
E então a beijou, um beijo ardente, quase desesperado, como se sua necessidade dela fosse
mais importante que qualquer coisa no mundo.
E Pippa sentiu sua tristeza, sua incerteza, seu desespero. Havia tanta emoção nele que era
quase tangível.
Não podia continuar mostrando-se fria e distante quando Cam estava desmoronando, de
modo que lhe devolveu o beijo, passando uma mão por seu rosto em um gesto de compreensão,
de perdão.
Ele a tomou nos braços como se não pesasse nada e a levou a um dos dormitórios do andar
de baixo. Depositou-a sobre a cama, olhando-a com olhos famintos, e Pippa ficou sem ar quando
se inclinou sobre ela para procurar sua boca uma vez mais.
Impaciente, Cam puxou seu vestido e, com mãos ansiosas, tirou sua roupa até que ficou nua.
E então sua expressão trocou. Parte da tristeza que tinha visto em seus olhos desapareceu
enquanto a olhava, maravilhado. Com muito cuidado, deslizou as mãos por seu volumoso
abdômen e inclinou a cabeça para beijá-la.
–Sinto muito – se desculpou de novo.
A emoção fazia que suas palavras fossem quase incompreensíveis, mas a desculpa chegou ao
coração de Pippa. Era evidente que lamentava de verdade o que tinha feito. Estava despindo-se
ante ela, mostrando-se vulnerável.
–Não tem importância –murmurou, procurando seus lábios. Suas línguas flertaram e
jogaram durante uns segundos, mas Cam se colocou sobre ela com gesto possessivo, embora com
cuidado para não machucá-la.
Beijou-a no pescoço, devagar ao princípio e logo com força até que esteve segura de que
teria marcas ao dia seguinte. Lambeu e mordiscou por toda parte enquanto se deslizava para
baixo e quando chegou a seus seios levantou a cabeça para olhá-la nos olhos.
–Agora estão mais sensíveis? –perguntou-lhe, com voz rouca, passando a ponta do polegar
sobre um mamilo enquanto esperava a resposta.
–Sim, certamente.
–Então terei mais cuidado.
Com infinita ternura, passou a língua por um rígido mamilo antes de colocá-lo em sua boca e
Pippa arqueou as costas, sentindo um calafrio.
Tinha passado muito tempo desde a primeira e última vez que estiveram juntos e o desejava
com todas as suas forças. As últimas semanas foram uma tortura, com Cam mostrando-se tão
atento e carinhoso. E, entretanto, sempre estava essa barreira entre eles.
Pippa sabia que aquilo não resolvia nada, mas desejava o contato físico. Necessitava-o.
Deixando escapar um suspiro, rendeu-se aos experientes lábios de Cam.
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Maya Banks Não Quero te Amar
Mas então ele começou a mover-se para baixo, acariciando seu abdômen com as duas mãos,
beijando cada centímetro de sua pele até que os olhos de Pippa se encheram de lágrimas.
E quando separou suas pernas para acariciá-la com a boca, esteve a ponto de perder a
cabeça.
Pippa enterrou os dedos em seu cabelo, movendo-se ao ritmo das íntimas carícias…
– Cam, por favor –lhe suplicou– Preciso de você.
Ele saltou da cama e puxou suas pernas até que seu traseiro repousava sobre o colchão.
–As envolva em minha cintura –disse com voz rouca.
E assim que o fez, deslizou-se dentro dela.
A surpresa fez que Pippa contivesse um gemido. Estavam pele contra pele, sem barreiras
nesta ocasião.
Cam cravou os dedos em seus quadris, puxando-a para seu corpo.
–Não deixe que te machuque.
–Sei que não vai me machucar –disse ela– Faça amor comigo, Cam.
Esteve a ponto de lhe abrir seu coração, mas se conteve porque sabia que ele não queria
falar de sentimentos.
Cam procurou sua boca em um gesto desesperado. Suas mãos estavam por toda parte,
como se não pudesse cansar-se dela. Como se a quisesse ainda mais perto.
Pippa jogou os braços ao seu pescoço enquanto entrava nela; o clímax não era tão
importante como esse momento de intimidade, a conexão entre eles.
Aquilo não era sexo, era muito mais.
Mas mordeu os lábios para que as palavras não escapassem de sua boca. Em lugar disso,
inalou seu aroma e se apertou contra ele ao chegar ao clímax, que desta vez foi lento, doce, não
uma tumultuosa explosão.
– Cam! — Era um grito de desejo, um grito de ajuda.
Ele sussurrou seu nome, entre dentes, e pouco depois sentiu que se deixava ir. Durante uns
segundos ficou sobre ela, segurando-se com os braços à cama até que por fim caiu sobre seu peito
como uma cálida manta. Suspirando, apoiou a testa na dela, beijando-a de novo.
–Pippa – sussurrou.
E essa palavra continha um mundo de emoções.
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Capítulo 11
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–Deixe comigo –disse Pippa, descendo do tamborete– Eu posso fazer algo com alguns
ingredientes.
–Não quero que pense que não sou um bom anfitrião.
–É um grande anfitrião, mas sente-se enquanto faço um pouco de jantar. E logo, falaremos.
Cam se sentou em um tamborete enquanto ela olhava na despensa.
Encontrou croissant do dia e decidiu fazê-los com presunto e queijo e, além disso, preparou
uma salada de frutas enquanto os croissants se torravam no forno.
–O que quer beber?
–Água – respondeu Pippa.
–Então, eu também.
Quando terminaram de jantar, Cam esboçou um sorriso.
–O croissant estava muito bom. E parece fácil de fazer, mas eu não teria ideia.
–Eu sou a rainha da improvisação. Em minha casa não estávamos acostumados a comer
juntos, assim aprendi logo a me mover pela cozinha.
Cam inclinou a um lado a cabeça.
–Não costuma falar de sua família.
Pippa ia dizer que tampouco ele o fazia, mas não queria fechar essa porta.
–Não há muito que contar.
–Por que? Não tem relação com sua família?
–Recebo a minha mãe quando não avisa com antecipação suficiente para eu partir a algum
lugar.
–Isso não soa muito bem.
–É melhor não nos vermos muito, asseguro-lhe isso.
–E seu pai?
Pippa deixou o croissant sobre o prato.
–Meu pai partiu de casa quando eu era pequena. Embora em parte o compreenda porque
minha mãe pode ser muito difícil. Morreu faz uns anos e me deixou o dinheiro com que estou
vivendo ultimamente, até que meu negócio floresça.
Cam franziu o cenho.
–Evidentemente, não se dá bem com sua família.
–Já te disseram alguma vez que é muito observador? –brincou ela.
–Falo a sério. Conte-me por que.
–Que cara tem! Supõe-se que íamos falar de você. Esse era o trato.
–Não há muito que contar.
–Vou ter um filho com você e preciso saber se devo esperar mais numerozinhos como o de
hoje. Como, por exemplo, você sair correndo no dia de seu aniversário…
–Eu não faria isso.
–Temos que falar disso, Cam. Porque se não o fizermos, irei embora e não voltarei nunca.
–É uma ameaça?
Pippa o olhou nos olhos, sem piscar.
–Não é uma ameaça, é uma promessa.
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Cam se levantou tão bruscamente que esteve a ponto de atirar o tamborete. Mas quando
saiu da cozinha, Pippa o seguiu.
–Vai me contar ou não?
Ele exalou um suspiro.
–Tive outro filho, Colton. E uma esposa, Elise.
Ela o olhou, perplexa. Esteve casado? Ashley não lhe disse nada.
–O que aconteceu? –conseguiu perguntar quando pôde encontrar sua voz.
–Perdi os dois em um acidente. Colton era um bebê, o bebê mais lindo do mundo. E Elise
era… adorável, jovem, cheia de vida. E uma mãe maravilhosa.
Havia tal dor em sua voz que o coração de Pippa encolheu.
–Poderia ter suportado se fosse uma menina –seguiu ele– Inclusive estava desejando isso.
Mas um filho… é como se estivesse substituindo Colton.
Pippa o olhou, boquiaberta. Queria negar que ter outro filho significasse substituir ao que
perdera, mas permaneceu em silêncio. Talvez não tivesse sentido para ela, mas a julgar pelo brilho
atormentado nos olhos de Cam, estava claro que ele acreditava.
E como ia discutir sobre algo tão trágico? Mas quando olhou para baixo sentiu o angustiante
desejo de proteger seu filho. Doía-lhe na alma que Cam estivesse sofrendo, mas não estava
disposta a permitir que seu filho pagasse por algo que não tinha culpa.
–Pensa negar seu carinho a nosso filho porque teve a má sorte de não ser do sexo que
esperava?
–Eu não disse isso.
–Mas nada do que diz me deixa claro que não seja assim.
Cam passou uma mão pelo cabelo.
–Estou tentando, Pippa. Você sabe que eu não queria isto.
–Sim, sei, deixou claro muitas vezes. Não me quer e tampouco quer nosso filho. Mas sabe
uma coisa? Nenhum dos dois pode fazer nada. Não é culpa do bebê que seus pais sejam dois
idiotas que não se deram conta de que o preservativo se rompeu. Mas a verdade é que eu não
lamento. Quero este bebê. Se você estiver disposto a continuar no passado e negar a si mesmo o
milagre deste filho, é problema seu. Mas eu estou farta.
Logo se virou e pegou sua bolsa. Não sabia se John estava esperando e não importava.
Tomaria um táxi se o carro não estivesse na porta.
–Pippa!
Ela fechou a porta com uma pancada.
Que idiota era, pensou. Transou com ele inclusive depois de ele sair correndo do consultório
do ginecologista. Cam tinha deixado claro desde o começo que não queria saber nada de
compromissos e, entretanto, ela aceitou continuar vendo-o, como se estivesse convencida de que
ia curá-lo de sua solidão, de sua tristeza. Como se pudesse fazê-lo mudar.
–Maldição! Aonde vai? –ouviu-o gritar.
Pippa tirou o celular da bolsa com intenção de ligar para Ashley, mas Cam a seguiu de carro.
–Sobe agora mesmo. Isto é absurdo.
–O que seria absurdo é que ficasse aqui um minuto mais. Vou para casa de Ashley, não se
preocupe comigo.
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Capítulo 12
–Olhe, Dev, sei que é seu amigo, mas é impossível – se queixou Pippa.
Devon lhe passou um copo com suco, olhando-a com simpatia.
–É uma cabeça dura, querida, sempre foi.
Ashley a abraçou então… ou, ao menos, tudo o que pôde com seu volumoso abdômen.
Ashley tinha um marido que a amava e Devon estava como louco pela chegada de seu filho.
–Não posso acreditar que ficou assim porque vamos ter um menino.
–É incrível, certamente –assentiu Ashley.
Devon olhou de uma a outra. Uma mulher grávida era mais que suficiente… mas duas?
–Sei que deve sofrer muito e suponho que deveria consolá-lo, mas não posso fazer isso –
continuou – Não posso suportar que não queira esta criança.
–Não é isso –disse Devon– Além disso, compaixão é a última coisa que Cam precisa. É hora
dele refazer sua vida e deixar de pensar no passado.
Ela assentiu com a cabeça.
–Sei que pode parecer uma crueldade e meu coração se quebra ao vê-lo tão triste, mas não
posso continuar com isto. Como se sentirá nosso filho ao saber que seu pai o rechaçou porque
temia estar substituindo ao filho que perdeu?
–Está protegendo seu bebê –disse Ashley– Não tem por que se desculpar.
–É lógico que Cam sofra pela morte de sua família, mas não se dá conta de que esta é uma
segunda oportunidade. Este filho não substituirá Colton, nenhuma criança poderia fazer isso. Mas
não sei como convencê-lo… Estou cansada de fingir que me conformo com esta relação superficial.
Nunca serei feliz com um homem que só me oferece uma parte de si mesmo.
Ashley a abraçou de novo e Pippa apoiou a cabeça no ombro de sua amiga.
–Talvez não saiba, mas eu acredito que você é a melhor coisa que aconteceu a Cam em
muito tempo –disse Devon.
–Estou de acordo – disse ela.
–Eu também – anunciou Ashley.
–Mas voltei a transar com ele. Esta noite, depois que me deixou abandonada na clínica. Fui
boba… depois de tão espetacular demonstração de apoio, eu vou e me deito com ele –Pippa
deixou escapar um suspiro– Alguém tem que me prender em minha casa pelo meu próprio bem.
Devon limpou a garganta.
–Acredito que o melhor é deixá-las a sós um momento. Se precisarem de algo, me chamem.
–Sou tola, Ash – continuou Pippa– E Cam é tolo. Os dois somos tolos e eu continuo
apaixonada por ele.
Ashley sorriu.
–Às vezes a gente não pode evitar amar alguém. Não sabe as vezes que eu desejei não amar
Devon com todo meu coração.
–Ao princípio foi um idiota, é verdade. Imagino que isso é o que me deu esperanças com
Cam. Pensei que mudaria de atitude, mas… nada, sou tola.
–Não é tola! É valente, inteligente e eu a amo muito.
Pippa sorriu.
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*****
No dia seguinte, Devon a levou ao café. Aproximava-se a data da inauguração e, como
resultado, Pippa estava nervosa.
A papelada estava solucionada e tinham chegado os primeiros fornecimentos, de modo que
tinha tudo o que podia necessitar. A única coisa que restava por fazer era abrir e… começar a
trabalhar.
Tinha posto um anúncio para contratar três empregados.
Precisava de uma pessoa para atender no balcão e um ajudante na cozinha, além de um
condutor que se encarregasse do transporte quando começasse com os bufês.
Por fim estava se tornando realidade o sonho de ter seu próprio negócio e nunca teria mais
medo em toda sua vida.
Depois de fazer algumas chamadas para programar entrevistas, tirou os fornecimentos das
caixas e começou a guardar tudo no fundo do estabelecimento. Quanto mais pensava na
inauguração, mais vontade sentia de vomitar.
Aquilo era pelo que tanto tinha trabalhado. Cam tornou tudo muito fácil, certamente, mas o
teria conseguido sozinha cedo ou tarde.
O celular soou nesse momento e quando olhou a tela viu que era sua mãe.
–Nossa, sempre liga no pior momento –murmurou.
Esteve a ponto de não atender, mas isso seria uma covardia e, além disso, logo teria que
escutar Miranda se queixando que a evitava. Não, melhor lutar com ela o quanto antes possível.
Além disso, sua mãe era inofensiva. Um desastre, mas totalmente inofensiva.
Deixando escapar um suspiro de resignação, Pippa respondeu:
–Olá, mamãe.
–Olá, querida! Como está? Faz tempo que não conversamos.
Pippa sorriu, a seu pesar. Sabia que Miranda a amava e não era culpa dela que fosse… enfim,
não sabia muito bem como descrever a sua mãe.
–Estou bem, mamãe. E você? Como está Paris?
–Paris foi maravilhoso, mas agora estamos na Grécia, onde há um sol maravilhoso.
–Como está Doug?
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Pippa conteve o fôlego, esperando não ter cometido uma gafe. Sua mãe continuava com o
Doug ou teria trocado de namorado?
–Estamos nos divertindo maravilhosamente e me disse que te mande um beijo.
Pippa arqueou uma sobrancelha, cética, porque ainda não o conhecia. E duvidava que fosse
conhecê-lo.
–Quando voltará, mamãe?
Miranda não sabia que estava grávida e não lhe parecia boa ideia contar por telefone. Além
disso, certamente considerava a si mesma muito jovem e muito bonita para ser avó, de modo que
ficaria aborrecida.
Embora gostaria de compartilhar a notícia com ela, não queria estragar sua viagem. E
estragaria, estava segura.
–Não sei. Estamos nos divertindo tanto… não há pressa, não? A menos que precise de mim,
claro. Ocorre algo, querida?
–Não, não ocorre nada. Divirta-se, mamãe. Falaremos outro dia.
–Um beijo, céu.
–Outro para você.
Depois de guardar o celular no bolso, Pippa ficou olhando a cozinha durante uns segundos,
sentindo um peso sobre os ombros.
Lamentava não poder ter uma relação normal com sua mãe. Adoraria ter uma como a de
Ashley… Glória Copeland adorava seus filhos e sempre lhes devotou seu apoio e seu amor
incondicional. Pelo contrário, embora Miranda tivesse boas intenções e a amasse de verdade,
simplesmente não era uma pessoa maternal.
Depois de guardar os últimos fornecimentos, saiu do estabelecimento e fechou a porta. Mas
quando se virou viu o chofer de Cam esperando-a.
Já não era tão orgulhosa para rechaçar que a levasse para casa.
Não lhe importava ir dando um passeio, mas seu abdômen era cada dia mais pesado e seus
pés começavam a protestar.
Quando John a deixou na porta de seu apartamento, ficou surpreendida ao ver uma cesta
com um laço azul.
Pippa levou a cesta à sala de estar e leu o cartão que havia dentro de um envelope…
Perdoe-me.
Cam.
Dentro da cesta havia um uniforme dos Yankees do tamanho de um recém-nascido. Sem
poder evitar, esboçou um sorriso e seus olhos se encheram de lágrimas. Era adorável.
Também havia um ursinho de pelúcia, uma bola de beisebol, uma diminuta luva de beisebol
e duas entradas para o próximo jogo dos Yankees.
Se Cam estivesse ali teria jogado os braços ao redor de seu pescoço e o teria perdoado. E,
por isso, alegrava-se de que não estivesse ali.
Não deveria perdoá-lo. Estava sendo um capacho enquanto Cam passava continuamente do
doutor Jekyll ao Mister Hyde.
Teve cinco meses para esquecer que aquele bebê ia substituir ao filho que perdeu. Era
tempo suficiente, não?
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Capítulo 13
Era o grande dia e Pippa ficou acordada toda a noite, cozinhando, limpando, decorando e,
basicamente, estressando-se. Sendo a maravilhosa amiga que era, Carly ficou com ela até o
amanhecer. Pippa enviou Ashley para casa muito antes. A pobre estava a ponto de dar à luz e não
podia passar uma noite em claro.
Mas todo mundo tinha prometido voltar às nove da manhã para a grande inauguração.
–Tudo ficou lindo, Pip –disse Carly– A que hora chegam os empregados?
Pippa olhou seu relógio.
–Deveriam ter chegado já.
–Precisa descansar, querida. Parece esgotada.
–Não há descanso para os novos empresários –brincou Pippa.
Nesse momento soou a campainha da porta. Era uma de suas empregadas e Pippa lhe deu
instruções para que colocasse nas estantes as madalenas que faltavam por colocar enquanto ela
dava um último repasse no local.
Satisfeita quando tudo estava em ordem, foi ao lavabo arrumar-se um pouco. O que
realmente precisava era uma ducha, mas não tinha tempo de ir para casa.
–Está aí, Pippa?
Carly e Tabitha estavam do outro lado da porta, com bolsas de cosméticos na mão.
–Viemos te maquiar e arrumar seu cabelo –anunciou Tabitha.
Pippa se sentou sobre a tampa do vaso, aliviada por ter uns minutos para relaxar. Seu sonho
estava a ponto de se tornar realidade.
Nem tudo aconteceu exatamente como ela planejou, mas não trocaria absolutamente nada.
Amava seu filho com todo seu coração, com uma força que a surpreendia. Não imaginou que
pudesse se conectar dessa forma com um ser humano que ainda não tinha nascido. Inclusive
falava com ele durante o dia e cantava pelas noites ou lia contos enquanto estava deitada no sofá
depois de um longo dia de trabalho.
Seu filho lhe tinha dado um propósito na vida e estava mais decidida que nunca a triunfar e a
ser uma mãe que seu filho tivesse orgulho.
Miranda sempre esteve mais preocupada com sua própria felicidade que a de sua filha, mas
ela jamais seria assim. Seu filho seria a pessoa mais importante de sua vida.
Tabitha e Carly não deixavam de rir e tagarelar enquanto a arrumavam e Pippa sabia que o
faziam para tranquilizá-la.
Quando estavam lhe dando os últimos retoques, Ashley e Sylvia entraram no café.
–Você deve ver isto! –gritou Ash, puxando-a pela mão.
Pippa ficou gelada ao ver um grupo de pessoas na porta do café, esperando que abrisse. E
seus empregados, graças a Deus, tinham tudo preparado.
Quando seus olhos se encheram de lágrimas, Ashley lançou um grito:
–Não chore ou o rímel escorrerá!
Pippa riu, abraçando suas amigas.
Cinco minutos depois, por fim abriu o café e esteve trabalhando sem parar durante horas.
Passava das doze quando levantou o olhar e viu Cam entrando no local.
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–E devo isso a você –disse ela– Se você não tivesse conseguido este local tão maravilhoso
certamente ainda continuaria procurando.
–Você trabalhou muito e merece isso.
Pippa assentiu com a cabeça, mas a entristecia a formalidade com que se tratavam e
desejava a amizade que houve entre eles nos últimos meses. Se não podiam ter uma relação
íntima, ao menos poderiam ser amigos. Qualquer coisa seria melhor que aquela relação tão
distante, tão circunspecta.
De modo que o abraçou na porta e Cam se inclinou para lhe dar um beijo na bochecha.
–Nos vemos em umas horas, mas não trabalhe muito, certo?
Pippa levantou uma mão para tocar seu rosto.
Nunca sabia onde estava com ele e isso a tirava do sério. Mas uma coisa era certa: não
pensava esperar eternamente enquanto ele tomava uma decisão.
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Capítulo 14
Cam chegou ao café de Pippa e a chamou pelo celular, sem sair do carro.
–Estarei pronta em seguida – disse ela.
–Não há pressa, vou dar uma volta pela quadra.
Cam esperou que o semáforo ficasse verde, tamborilando sobre o volante com os dedos… e
se deu conta então de que estava desejando voltar a vê-la.
Era estranho. Pippa e ele tinham uma relação de amor e ódio. Queria-a o mais longe possível
e, entretanto, não podia afastar-se dela. Talvez porque Pippa o olhava como se pudesse ver em
seu interior e isso o deixava nervoso.
Quando ficava dois dias sem vê-la se sentia inquieto.
Precisava saber que estava bem, que tinha tudo o que necessitava… E se fosse sincero
consigo mesmo, a verdade era que queria voltar a vê-la.
Tinha que esquecer o passado, diziam-lhe. Tinha que seguir adiante.
Mas como se fazia isso? Em que momento deixava de doer algo como o que aconteceu com
ele? Em que momento deixaria de estar paralisado pelo medo de perder alguém que lhe
importava? Não tinha respostas para essas perguntas e até que as tivesse, a relação entre Pippa e
ele não poderia funcionar. Ele não queria que funcionasse.
Mas isso não explicava por que estava dando voltas à quadra, desejando voltar a vê-la.
Deveria estar em sua casa, sozinho. E não deveria ter pedido desculpas, embora fosse certo que as
devia.
Mas deveria ter deixado que Pippa continuasse zangada com ele. Ao final, seria o melhor
para os dois. Romperiam de maneira limpa, sem remorsos, sem recriminações.
Mas queria vê-la. Queria… estar com ela. Em seus termos, claro.
Reconhecia que era muito egoísta de sua parte e, entretanto, não podia evitar. Queria estar
ao seu lado porque se sentia mais vivo cada vez que Pippa entrava em um cômodo.
Ela estava na porta do café e quando subiu ao carro com um sorriso nos lábios foi como
receber um murro no estômago.
–Ah, que bom poder me sentar um momento.
Cam demorou vários segundos em perceber que vários carros tocavam a buzina porque
estava interrompendo o tráfego, de modo que deu partida de novo enquanto Pippa lhe contava
como foi a inauguração.
Desejava-a, embora não quisesse. E, de repente, não gostava absolutamente da ideia de ir a
um restaurante. Pippa parecia cansada e ele estava impaciente. Precisava tê-la para ele sozinho.
–Há uma mudança de planos – lhe disse.
–Ah, sim? Vai me dar um chá de cadeira?
–Não, não, ao contrário – Cam sorriu– O que vou fazer é te levar para casa para que possa se
deitar no sofá enquanto peço por telefone o melhor bife da cidade. Logo vou levá-la para cama
para te dar uma massagem e vou fazer amor com você até que desmaie.
Pippa o olhou, boquiaberta durante uns segundos.
–Muito bem – disse por fim.
Cam sorriu, satisfeito. Estava muito mais que bem.
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Ele não discutiu, embora Pippa tivesse a sensação de que o assunto não estava resolvido.
Mas então lhe ocorreu algo…
–Não emoldurei meu primeiro dólar.
Cam piscou, surpreso.
–O que?
–Presume-se que alguém deve emoldurar o primeiro dólar que ganha quando abre um
negócio. Você não fez isso?
–Sempre poderia emoldurar um cartão de crédito.
Pippa fez uma careta.
–É um desmancha-prazeres. Você não guardou seu primeiro dólar?
Cam deu de ombros.
–Continuo tendo meu primeiro milhão.
Ela girou os olhos.
–O dinheiro significa algo para você ou perdeu seu valor?
–Pois claro que significa algo – respondeu ele, pondo uma cara de susto que quase a fez rir–
Significa que posso manter a meu filho e a você. Significa que posso viver comodamente, que não
terá que preocupar-se por não ter seguro médico…
Pippa levantou as mãos em sinal de rendição.
–Muito bem, muito bem, foi um comentário injusto. Sinto muito.
–Não atiro dinheiro pela janela, se era a isso ao que se referia.
–Não, mas o converti no estereótipo de um milionário e isso não é justo –admitiu ela– As
pessoas que têm muito dinheiro não costumam entender as que não o têm.
Cam arqueou uma sobrancelha.
–Espero que não queira dizer que sou um presunçoso.
–Não, não acredito. É insuportável, mas não presunçoso –brincou Pippa.
O som da campainha interrompeu a conversa e Cam se levantou para abrir. Uns segundos
depois voltou com uma bolsa na mão, mas quando Pippa ia pegá-la ele não a deixou.
–Não tão rápido.
–Tenho fome.
–Quer comer na cozinha ou está confortável na mesa de café?
–Aqui mesmo. Inclinarei-me para frente e colocarei a cabeça na bolsa.
Cam soltou uma gargalhada.
–Que imagem tão sexy.
Assim que provou o muito tenro filé, Pippa fechou os olhos, deixando escapar um suspiro.
–Está bom? –perguntou-lhe Cam.
–Não tenho palavras. É o melhor filé que comi.
Ele assentiu, satisfeito.
Comeram em silêncio, quebrado só pelo ruído de garfos e facas.
Quando terminaram, Cam levantou seus pés para colocá-los sobre o banco e lhe dar uma
massagem no peito do pé.
Pippa deixou escapar um suspiro de prazer.
–Ah, que maravilha.
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Capítulo 15
Assim que Cam a levantou do sofá, Pippa sentiu como se acabasse de receber uma descarga
elétrica. Ele a apertou contra seu peito, em silêncio, antes de inclinar a cabeça para beijá-la.
Foi uma carícia breve, mas a sentiu até na planta dos pés.
–Sua cama –disse ele.
Pippa o tomou pela mão para levá-lo ao dormitório. Estava tão excitada que suas pernas
tremiam, mas quando chegou à cama ficou imóvel, sem saber o que fazer.
Felizmente, Cam sim parecia saber o que fazer porque a sentou sobre o colchão e ficou de
joelhos à sua frente, olhando seu abdômen.
Pippa conteve o fôlego, perguntando-se se ia parar, mas de repente Cam pôs o rosto sobre
seu abdômen e beijou a tensa pele.
–Prometi uma massagem –disse com voz rouca– E acredito que vou apreciá-la mais que
você.
Ela fechou os olhos, incrédula, enquanto a deitava de lado para despi-la brandamente. Mas
os abriu para ver Cam despindo-se. Tinha um corpo muito bonito, comprido e musculoso,
completamente masculino.
Ficou de joelhos atrás dela e começou a acariciá-la, passando as mãos sobre seus quadris e
seus ombros até que começou a relaxar. Logo a deitou de costas e seguiu massageando suas coxas
e panturrilhas até chegar aos pés.
Pippa sentia como se estivesse flutuando e quando lhe beijou o pé pensou que ia perder a
cabeça. Era a sensação mais erótica que jamais experimentou e só estava beijando seu pé! Mas
aquele homem fazia que qualquer toque fosse sexy. Com cada carícia parecia lhe tocar a alma…
Os olhos azuis de Cam se conectaram com os seus e sorriu, peralta, antes de inclinar-se
sobre ela.
Pippa tentava mover-se, mas ele segurou com força seus quadris enquanto fazia amor com a
boca. Tinha uma língua tão experiente que a deixava louca… Baixou as mãos para lhe agarrar o
cabelo enquanto ele afundava a língua, deslizando dois dedos em seu interior.
Era mais do que Pippa podia suportar e levantou os quadris quando chegou a um clímax
tumultuoso.
Cam a beijou com ternura, fazendo-a tremer de novo, acariciando-a e tocando-a com
reverência.
Pippa queria acreditar que as coisas estavam mudando, que talvez fosse capaz de esquecer o
passado e dar um passo para o futuro, mas temia levantar o assunto. Temia seu rechaço e não
podia ser paciente ou pormenorizada. Não ia esperar para sempre que ele decidisse que queria
lutar pelo futuro.
–Me diga se a machucar.
Cam se colocou entre suas coxas, segurando seu peso com uma mão enquanto guiava seu
membro com a outra. Logo empurrou para frente tentativamente, sem deixar de olhá-la nos
olhos, e Pippa teve que fechar os seus, apreciando a invasão.
–Muito? –perguntou ele.
–Não, não é suficiente.
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Cam despertou coberto de suor, o horror do pesadelo ainda vívido em sua mente. Na
escuridão, tentou levar ar aos seus pulmões… Tinha revivido em câmara lenta o acidente onde
morreram Elise e Colton, experimentando o horror, a angústia inexprimível de saber que não
podia fazer nada, que não podia salvá-los. Mesmo assim, correu para o carro com o coração na
garganta, rezando para chegar a tempo, para que desta vez os encontrasse vivos… Mas quando
chegou ao carro, o que viu foi o rosto ensanguentado de Pippa.
Desesperado por apagar de seu cérebro essa horrível visão, Cam saltou da cama.
Vestiu-se como pôde, tropeçando em sua pressa por escapar, e saiu à rua para respirar ar
fresco. Ficou imóvel durante uns segundos, tentando recordar as feições de Elise.
Mas não era o rosto de sua querida esposa o que via cada vez que fechava os olhos, mas sim
o rosto de Pippa.
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Capítulo 16
Pippa teve que fazer um esforço sobre-humano para levantar-se da cama à manhã seguinte.
Deveria sentir-se eufórica. A inauguração de seu Café tinha sido um êxito e passou uma noite
maravilhosa com Cam, mas como suspeitava, ele tinha desaparecido.
Entrou em seu estabelecimento sentindo-se mais triste que nunca. As duas pessoas que
contratou para ajudá-la pelas manhãs chegaram pouco depois e trabalharam em silêncio porque
Pippa não tinha vontades de falar com ninguém.
Necessitava tempo para pensar. Ou melhor, tempo para repreender a si mesma por haver-se
deixado levar uma vez mais. Não podia seguir assim… A quem queria enganar? A única coisa que
Cam tinha que fazer para levá-la à cama era sorrir e lhe oferecer uma simples desculpa.
Pippa nunca se viu como uma dessas mulheres ingênuas às quais suas amigas e ela
criticavam. Mas, por desgraça, era inteligente em todos os aspectos, exceto no das relações.
Quando seu celular soou e viu o número de Ashley na tela, deixou escapar um suspiro de
alívio. Falar com Ash sempre a fazia sentir melhor.
–Levantou-se muito cedo…
–Pippa, é Devon.
–O que ocorre? Ashley entrou em trabalho de parto?
–Estamos no hospital e me pediu que ligasse para você porque não encontramos a sua mãe
e a pobre está um pouco assustada. Acredito que quer ter uma mulher a seu lado, eu a estou
deixando louca.
–Vou para lá agora mesmo –disse Pippa.
–Obrigado.
Depois de dar instruções a seus empregados, Pippa saiu à rua e parou um táxi. Não tinha
tempo de chamar John. Além disso, queria chegar ao hospital o quanto antes para estar com
Ashley no grande dia, embora devesse admitir que o parto lhe dava pânico.
*****
No balcão de informação do hospital lhe deram o número do quarto e Pippa bateu na porta,
temendo o que poderia encontrar.
Devon abriu, exalando um suspiro de alívio ao vê-la.
–Como vai tudo?
–Pippa! –gritou Ashley– Quanto me alegro de que tenha vindo!
–Ainda não chegou o bebê?
–Estou desejando, mas ainda não. E podem passar horas –Ashley fez uma careta – Só dilatei
quatro centímetros.
–E isso não é muito?
–Não é nada.
–Ah.
Pippa não queria saber o que significava isso porque lhe dava medo.
Preferia saber tudo sobre os movimentos do bebê, seu desenvolvimento dentro do útero ou
o que devia fazer depois do parto.
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–Necessita algo?
–Não, mas fica comigo. Estou muito resmungona e o pobre Dev começa a ficar desesperado.
–Resmungona, você?
–Sente-se, Pippa –disse Devon, oferecendo-lhe uma cadeira.
–Está emocionada? –perguntou ela, apertando a mão de sua amiga.
–Emocionada e assustada. Só quero saber quando vão me aplicar a epidural –respondeu
Ashley.
–Tudo sairá bem, já verá. Vai ter um bebê lindo.
Ashley olhou a seu marido com um sorriso nos lábios e Pippa teve que girar a cabeça. Ela
queria isso, o amor que havia entre Ashley e Devon, sua cumplicidade.
Angustiada, levantou-se abruptamente, com os olhos cheios de lágrimas.
–Volto em seguida. Tenho que fazer um telefonema… para ver como vai tudo no café.
Durante o dia muita gente foi ao hospital, mas a primeira foi Glória Copeland, a mãe de
Ashley. Tabitha, Carly e Sylvia também passaram por ali, mas não ficaram muito tempo porque
havia muita gente e Pippa decidiu ir à sala de espera para não incomodar.
Ashley tinha uma grande família. E o coração de Pippa encolheu porque sabia que em seu
caso não ocorreria o mesmo. Que maravilhoso seria ter uma família grande e carinhosa rodeando-
a em ocasiões especiais… Ali, em um quarto cheio de gente, nunca se sentiu mais sozinha.
–Comeu algo?
Pippa se sobressaltou ao escutar a voz de Cam.
–Não…
–Vamos à cafeteria.
–Não quero ir agora. Ashley está a ponto de dar à luz e não quero perder isso.
–Bom, então te trarei algo para comer.
Pippa deu de ombros. O gesto pareceu irritá-lo, mas não a preocupava absolutamente.
Lançando outro inquisitivo olhar em sua direção, Cam se virou e, deixando escapar um
suspiro, Pippa voltou a sentar-se. Não se mostrou precisamente simpática, mas não tinha vontade
de ser.
Quinze minutos depois, Cam voltou.
–Não sabia o que queria beber, assim trouxe água mineral.
–Obrigada. Você não vai comer nada?
–Comi antes de vir.
Cam se sentou a seu lado enquanto ela tentava provar o espaguete, mas tinha o estômago
encolhido e que ele não deixasse de olhá-la a deixava nervosa.
Felizmente, foi salva pelo pai de Ashley, William Copeland, que entrou na sala de espera
sorrindo de orelha a orelha.
–É uma menina! Tenho uma neta!
Pippa deixou a um lado o prato para abraçá-lo e pouco depois outros se reuniram com eles,
repartindo felicitações e parabéns.
Uns minutos depois, Devon apareceu com um pequeno volume nos braços e uma expressão
de absoluta felicidade no rosto.
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Pippa ficou boquiaberta quando Cam afastou a mantinha e começou a fazer bajulações à
menina… Aquilo não tinha sentido. Pensava que nada poderia doer mais que o que lhe fez no dia
da ecografia, mas ficou gelada ao ver o mesmo homem que se afastou de seu filho babando por
um bebê que não era dele.
Todo mundo queria ver a menina, mas Pippa só podia olhar para Cam, que estava sorrindo.
Cam, que parecia feliz. Cam, que era capaz de amar uma criança.
Então por que não podia amar a seu próprio filho?
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Capítulo 17
Pippa não podia continuar fingindo que não acontecia nada quando estava morrendo por
dentro.
Havia tanta gente que pôde sair da sala de espera sem que ninguém se desse conta e, com
os olhos cheios de lágrimas, dirigiu-se ao elevador.
Enquanto esperava que se fechassem as porta viu que Cam a seguira, mas não chegou a
tempo.
Pensando que certamente iria atrás dela, cruzou a rua a toda pressa com intenção de tomar
um táxi.
Fazia sol e havia uma leve brisa, um dia perfeito para o nascimento da filha de Ashley,
pensou. Uma nova vida tinha chegado com a primavera, um novo princípio depois de um longo
inverno.
Algo muito simbólico e, entretanto, para ela a primavera não significava nada.
Bom, talvez estivesse sendo um pouco dramática, mas se sentia tão triste que lhe custava
trabalho respirar.
Amava Cam apesar de seus defeitos, de seus problemas, mas queria que sorrisse para ela e
para seu filho como havia sorrido à filha de Ashley e Devon. Queria vê-lo feliz pela gravidez…
Quando o viu sorrir à menina foi como ver outra pessoa, alguém completamente diferente.
Era assim como se mostrava com às pessoas que amava?, perguntou-se.
De modo que a questão não era que fosse incapaz de querer, simplesmente não queria ou
não podia amá-la. Ou a seu filho.
As lágrimas rodavam por seu rosto, mas Pippa não se incomodou em dissimular. Para que?
Seu celular começou a soar quando estava subindo em um táxi, mas tampouco se incomodou em
atender porque sabia que era Cam.
Estava chegando a seu apartamento quando soou de novo, mas desta vez era Ashley e Pippa
atendeu imediatamente.
–Olá, querida. Como está?
–É Devon.
–Ah, vai tudo bem?
–Tudo vai perfeitamente –respondeu ele– O que me preocupa é que você esteja bem.
–Estou, não se preocupe – disse Pippa – Espero que Ashley não se zangue comigo. Pensei
que estaria muito cansada depois do parto e com toda a família ao redor não queria incomodar…
–Você não incomoda nunca –a interrompeu Devon– Só liguei para saber se estava bem. Sei
que não deve ter sido fácil para você ver Cam…
Pippa se deu conta então de que Devon era muito mais perceptivo do que ela poderia
imaginar.
–Agradeço muito que tenha ligado, mas estou bem. E o que tem que fazer é preocupar-se
com Ashley e com sua menina. Diga a ela que a verei amanhã.
–Direi.
–Mas tem razão – disse Pippa então – Não podia ficar.
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–Se quiser que eu cuide disso, farei. De fato, não me importo, porque uma vez fui tão
imbecil quanto ele. Mas ao final vi a luz, de modo que sempre há esperança.
Pippa sorriu enquanto descia do táxi.
–Obrigada, Dev. Diga a Ashley que irei vê-la amanhã.
–Muito bem. Cuide-se.
–Me cuidarei.
Uma vez em seu apartamento, olhou o celular de novo e viu que tinha uma mensagem de
Cam: Droga, atende o telefone. O que aconteceu? Está bem? Pippa guardou o celular na bolsa.
Não, não estava bem. De fato, não se sentiu pior em toda sua vida.
No dia seguinte, estava esgotada. Levantou-se cedo, depois de ter dado voltas e voltas na
cama durante toda a noite, e se dirigiu ao café. Deveria sentir-se no topo do mundo, mas tinha
que fazer um esforço para não chorar.
A única coisa que fez suportável o dia foi que Cam não apareceu pelo Café. Pippa temia que
aparecesse a qualquer momento porque não tinha respondido às suas chamadas.
Depois de fechar foi para casa para tirar um cochilo. Ou ao menos o tentou. Deitou-se na
cama e fechou os olhos, mas não podia deixar de ver o sorriso de Cam ao olhar a filha de Devon e
Ashley.
Estava desiludida, entristecida e sabia que era hora de tomar uma decisão. Não podia
continuar esperando que Cam se desse conta de que sua vida não tinha terminado.
Tinha que falar com ele, mas antes iria ao hospital para visitar Ashley e a sua filha; sua amiga
vinha em primeiro.
Depois de arrumar-se um pouco saiu à rua sem casaco, esperando que o ar fresco a
despertasse, e tomou um táxi para ir ao hospital.
Quando chegou, quase tinham terminado o horário de visita, mas se dirigiu ao elevador de
todas as formas. Que alguém se atrevesse a jogá-la dali.
Bateu na porta do quarto, esperando que sua amiga não estivesse adormecida, e Devon
abriu um segundo depois.
–Olá, Pippa – disse, abraçando-a.
Ela não sabia quanto necessitava um gesto de carinho até que Devon a rodeou com seus
braços e teve que morder os lábios para não chorar.
Foi ali ver Ashley e a menina, não chorar sobre o ombro de seu marido.
–Obrigada –murmurou, afastando-se– Como está Ash?
–Diga você –respondeu ele, assinalando a cama.
Pippa olhou a bela imagem de Ashley com sua filha nos braços…
–Olá, Pip. Olhe que linda é minha menina.
–Já está lhe dando o peito?
–Claro.
–E tudo bem?
Sua amiga sorriu.
–Ao princípio não foi fácil, mas as enfermeiras me ajudaram muito.
Devon pôs uma cadeira ao lado da cama e lhe fez um gesto para que se sentasse.
–Dev me disse que ontem saiu correndo – disse Ashley então.
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Essa noite não poderia pregar olho, de modo que o melhor seria não adiar isso mais. Iria ver
Cam e falaria com ele antes que aquela tristeza a comesse viva.
Seria uma viagem longa e era tarde, mas estava disposta a falar com ele embora tivesse que
tirá-lo da cama.
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Maya Banks Não Quero te Amar
Capítulo 18
Convencer a um taxista para que a levasse a Greenwich àquela hora não foi tarefa fácil e,
além disso, ia custar-lhe uma fortuna. A viagem lhe pareceu interminável e quando chegaram à
porta do imóvel era mais de meia-noite. Talvez Cam nem sequer estivesse em casa, mas
suspeitava que sim. Escondeu-se em Greenwich com mais frequência ultimamente.
O taxista apertou o botão do intercomunicador, mas não foi Cam quem respondeu. Estava
quase segura de que era John. Um momento depois, o táxi a levou até a porta da casa e Pippa
pagou a viagem, mas não lhe disse que esperasse.
John estava na entrada, com cara de preocupação.
–Boa noite, senhorita Laingley.
– Cam está em casa?
–Sim, mas foi para cama faz uma hora – respondeu o chofer.
–Tenho que vê-lo. Diga que o espero em seu estúdio.
Não lhe deu oportunidade de protestar. Simplesmente, entrou na casa e se dirigiu ao
estúdio sem incomodar-se em acender a luz; talvez porque havia algo consolador na escuridão.
De pé em frente à janela, admirou o céu coberto de estrelas. Um milhão de desejos, pensou
bobamente. Mas ela somente necessitava um.
A porta se abriu pouco depois e Pippa fechou os olhos um momento antes de voltar-se.
–O que ocorre? –exclamou Cam, acendendo um abajur– O que faz aqui a estas horas?
–Terminamos? –perguntou-lhe.
Ele piscou surpreso.
–Não te entendo.
–Deixa que lhe explique isso então: amo você, Cam.
Ele ficou pálido e essa reação dizia tudo. Mas um demônio interior a animava a persistir. Foi
até ali e chegaria até o final.
–Preciso saber onde estou. Um dia parece sentir algo por mim e logo se afasta,
comportando-se como se fosse um estranho.
–Fui sincero com você desde o começo.
–Sim, é verdade. Mas seus atos contradizem suas palavras. E preciso saber se há uma
oportunidade para nós.
Cam ia virar-se e isso a deixou furiosa.
–Não me dê as costas. Ao menos, fale olhando a minha cara. Diga-me por que não pode me
amar. Entendo que ame outras pessoas em sua vida, mas é hora de seguir adiante, Cam. Tem um
filho que precisa de você.
Ele se voltou, olhando-a com expressão furiosa.
–Que siga adiante? Acha que só por soltar esse clichê eu devo dizer: ah, muito bem, tem
razão, e logo poderemos viver felizes para sempre?
–O que acredito é que é ridículo pensar que não pode amar a ninguém mais.
Cam fechou os olhos um momento.
–Não é que não possa voltar a amar. Não sou dos que acreditam que só tem uma
oportunidade na vida, que só há uma pessoa a que pode amar com todo seu coração.
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–Então por que? –exclamou Pippa– Por que não pode me amar e a nosso filho?
Ele golpeou a escrivaninha com a mão, olhando-a com expressão torturada.
–Não é que não possa te amar, é que não quero amar. Entende? Não quero te amar.
Pippa deu um passo atrás, tão surpreendida que não podia responder.
–Se não te amar não sofrerei se algo te acontecer – continuou Cam – Se não te amar, não
quebrará meu coração. Não quero voltar a passar pelo que passei quando vi minha mulher e meu
filho morrendo ante meus próprios olhos. Você não pode entender isso e espero que nunca tenha
que entendê-lo.
Pippa abraçou a si mesma, como se isso a consolasse de tão frio rechaço.
–Deixa-nos fora de sua vida porque tem medo de voltar a sofrer? Que tipo de monstro é?
–Não sou nenhum monstro. Mas não quero sentir, não quero voltar a sentir nada.
–É um canalha! –exclamou Pippa então– Que demônios esteve fazendo estes últimos
meses? Se estava tão decidido a não sentir nada por que continuou transando comigo?
Cam baixou o olhar, mas não respondeu.
–Devo sentir pena por você? Devo me compadecer de sua dor? Pois sinto muito, mas não
posso fazer isso. A vida não é perfeita para ninguém, mas as pessoas não se tornam de gelo por
isso. Levantam-se, reúnem força, tentam seguir vivendo…
–Já está bem – a interrompeu Cam, com os dentes apertados.
–Não vou me calar. De fato, acabo de começar – seguiu ela – e você vai me escutar quer
queira ou não. Deve-me isso ao menos –Pippa respirou profundamente, tentando armar-se de
coragem – Um dia lamentará, Cam. Lamentará ter dado as costas a mim e a nosso filho. Algum dia
quererá voltar a se casar e pensará que tem um filho em algum lugar que nunca teve um pai
porque foi um covarde.
–Não acredito que a minha futura esposa se importe que tenha um filho com outra mulher –
replicou ele, desdenhoso.
Pippa deu um passo atrás como se a tivesse esbofeteado.
–Sinto muito, não queria dizer isso…
Ela o interrompeu com um gesto. Mal podia manter a compostura e só o orgulho evitava
que começasse a chorar. Aquela conversa não tinha sentido, não resolvia nada, ao contrário.
–Terminamos –lhe disse– Não quero nada de você, Cam. Não quero seu dinheiro, não quero
seu apoio. E, definitivamente, não quero voltar a vê-lo. Não o quero perto de meu filho. Meu, não
seu. Você não nos quer e, francamente, tampouco eu o quero.
–Pippa…
–Não quero escutar uma palavra mais. Mas te digo uma coisa: um dia se dará conta do
engano que cometeu e nesse dia eu não estarei aqui –Pippa levou as mãos ao abdômen– Não
estaremos aqui. Eu mereço algo mais, mereço um homem que me dê isso tudo e não alguém que
tira um punhado de dinheiro para sossegar sua consciência. Meu filho merece algo mais, merece
um pai que o ame de forma incondicional, não um homem incapaz de amar a alguém mais que a si
mesmo.
Depois de dizer isso se virou, mas se deteve na porta para olhá-lo pela última vez.
–Nunca te pedi nada e é verdade que deixou claro desde o começo que não queria saber
nada de compromissos, de modo que fui eu quem cometeu um engano. Mas não vou me castigar
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toda a vida por ter cometido um engano e não vou deixar que meu filho sofra por minha culpa.
Diria que espero que seja feliz, mas tenho a segurança de que não poderá ser porque o que você
gosta é se sentir desgraçado.
Pippa fechou a porta com uma pancada e só quando chegou à entrada recordou que não
pediu ao taxista que a esperasse. De modo que estava em Greenwich e Ashley estava no hospital…
–Posso levá-la à sua casa, senhorita Laingley? –perguntou-lhe John.
Pippa, com os olhos cheios de lágrimas, deixou que o chofer a ajudasse a subir ao carro.
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Capítulo 19
Cam se deixou cair sobre uma poltrona atrás da escrivaninha e enterrou o rosto entre as
mãos.
Tinha seguido Pippa até a porta e, ao vê-la subir ao carro, ficou imóvel, sem saber o que
fazer. Estava morto por dentro, pensou. Continuava respirando, mas estava morto.
Deveria ser um alívio que Pippa partiu. Por fim, tudo tinha terminado entre eles.
Então por que não se sentia aliviado? Deveria voltar para sua existência vazia, fria, onde não
podia sentir dor.
Mas já não era assim. Agora lhe doía. Doía-lhe tanto que mal podia respirar.
Perdeu Pippa.
Tentando se proteger da dor, do desespero e da frustração de não poder cuidar daqueles
que amava, tinha perdido Pippa e seu filho.
Seu filho.
Uma vida inocente.
Um filho que merecia ter o mundo a seus pés, uma família que o amasse, um pai que o
protegesse de todas as tristezas e as desilusões da vida… Deus santo, Pippa havia dito a verdade:
era um canalha sem coração.
Mas ele sim tinha coração e naquele momento daria qualquer coisa por não sofrer essa
agonia.
Pippa se humilhou essa noite, sem pensar em si mesma, só em seu filho. E reconhecer isso
fez que uma parte dele quisesse morrer. O procurou para dizer que o amava, arriscando-se a uma
rejeição.
E ele a rejeitou por medo.
Era um covarde, pensou. Estava há anos sendo um covarde.
Teve algo que muita gente nunca teve, algo que muitas pessoas matavam por conseguir:
uma segunda oportunidade.
Outra oportunidade para fazer algo especial e maravilhoso.
Pippa era um sopro de ar fresco em uma vida que tinha deixado de ter sentido muito tempo
atrás. Antes de conhecê-la se levantava cada manhã, ia trabalhar, fingia viver, mas em realidade
estava morto.
Ela mudou tudo isso.
Sua risada, sua valentia, sua confiança, sua beleza, exterior e interior… Quando pensava em
tudo o que teve que suportar sozinha durante aqueles meses ficava doente. Era jovem, tinha
planos.
Poderia sair com quem lhe desse a vontade. Ele a deixou grávida por engano e, entretanto,
Pippa tinha seguido adiante com seus planos de abrir um negócio apesar de sua difícil situação.
Tinha lutado ferozmente, seguia fazendo-o por seu filho. E ele se sentia tão orgulhoso dela e
tão envergonhado de si mesmo… Não a merecia. Nisso tinha razão.
Mas a desejava, quanto a desejava.
Era ridículo pensar que ia economizar sofrimentos encerrando-se em si mesmo, fechando a
porta a uma relação com ela.
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Maya Banks Não Quero te Amar
Esteve tão preocupado de perdê-la que isso era o que tinha conseguido.
Cam se levantou da poltrona, agitado e mais decidido que nunca em toda sua vida.
Amava-a, maldição.
Mentiu a si mesmo e tinha mentido para ela. Disse que não queria amá-la e era verdade.
Não quis amá-la, mas a amava e isso não ia mudar, de modo que teria que lhe suplicar de joelhos
que o perdoasse e lhe desse outra oportunidade.
Cam correu à garagem e subiu em seu carro. Ia procurá-la e não importava que hora fosse.
Aquilo não podia esperar, ele não podia esperar.
Algumas coisas tinham que ser feitas imediatamente.
Pippa teve que ser muito valente para ir à sua casa dizer que o amava, abrindo seu coração.
Como não ia fazer o mesmo por ela? Seria o mais difícil e o mais fácil que fez em sua vida. E como
a ideia de viver sem ela e sem seu filho era insuportável, suplicar de joelhos não lhe parecia tão
horrível.
*****
Pippa entrou em seu apartamento com os olhos inchados. Doía-lhe a garganta, o coração.
Sentia-se… perdida, sem saber o que fazer após despedir-se de Cam.
Precisava dormir, pensou, deitando-se sobre o sofá. Ao menos desse modo poderia escapar
um momento da realidade.
Colocou os almofadões sobre o braço do sofá e apoiou a cabeça, suspirando. O esgotamento
a fez recordar que entre a inauguração do Café, o parto de Ashley e sua angústia por Cam não
tinha dormido oito horas seguidas em muitos dias… mas quando olhou o relógio comprovou que
tinha que levantar-se em algumas horas.
Exasperada, tirou o celular da bolsa para programar o despertador e fechou os olhos,
cobrindo-se com uma manta.
O aroma de fumaça a despertou bruscamente de um profundo sonho.
Pippa abriu os olhos, desconcertada pela escuridão, e piscou várias vezes enquanto se
levantava no sofá para olhar ao redor.
E o que viu a deixou horrorizada.
Havia fogo em seu apartamento e a fumaça era tão densa que não sabia onde estava a
porta.
Tentou respirar, mas a densa fumaça lhe entrou nos pulmões fazendo-a tossir… Assustada,
deu-se conta de que estava em perigo mortal e saltou do sofá, tentando ver entre as chamas e a
fumaça para chegar à porta.
Então recordou que em um incêndio o mais seguro era atirar-se ao chão e se deitou como
pôde, cobrindo o nariz com a blusa.
O telefone… onde estava o celular? Estava desorientada e se não fazia algo rápido ia morrer.
Mas tinha que salvar seu filho. Tinha que salvar a si mesma.
Segurando a blusa sobre seu rosto, começou a arrastar-se em direção à porta, sem dar-se
conta de que havia vidros no chão. As chamas chegavam ao teto e cada vez ficava mais difícil
respirar, mas pensar em seu filho lhe deu forças e conseguiu chegar à entrada… um metro mais e
poderia sair à rua.
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Maya Banks Não Quero te Amar
Nesse momento, a porta se abriu de repente e sentiu que alguém a agarrava pela blusa para
tirá-la daquele inferno.
–Há alguém mais no apartamento? –gritou-lhe o bombeiro quando chegaram à rua.
–Não, não – respondeu Pippa, quase sem voz.
Havia ambulâncias e carros de polícia por toda parte…
–O bebê –murmurou– Estou grávida.
–Calma, vai ficar tudo bem.
Um enfermeiro lhe pôs uma máscara de oxigênio e a ajudou a deitar-se em uma maca
enquanto gritava que devia permanecer acordada.
–Estou bem… — Pippa piscou um par de vezes mais e logo tudo se tornou negro ao seu
redor.
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Maya Banks Não Quero te Amar
Capítulo 20
Cam viu que o edifício de Pippa estava em chamas e teve que agarrar-se ao volante com as
duas mãos, sentindo que o coração parava.
Havia carros de polícia, ambulâncias, bombeiros… o aroma de fumaça era insuportável e as
chamas faziam que o céu parecesse de cor laranja.
Apavorado, desceu do carro e saltou a fita policial.
–Ouça, não pode passar! –gritou-lhe um policial.
Mas Cam não deu atenção. Só podia pensar em Pippa… “Não, outra vez não. Qualquer coisa
menos isto”. Não podia perdê-la, pensava, tentando controlar um soluço.
Estava a ponto de chegar à porta quando alguém se lançou sobre ele, atirando-o ao chão.
–Está louco?
–Afaste-se! –gritou Cam – Tenho que salvá-la, tenho que tirá-la daí!
–O edifício está em chamas. Ainda não se deu conta?
–Mas tenho que tirá-la daí…
–Os bombeiros estão tentando tirar todo mundo. Deixe que façam seu trabalho –disse o
policial– A última coisa que precisam é ter que salvar a um idiota que decide meter-se entre as
chamas.
–Me solte –insistiu Cam – Tenho que saber se está bem. Saiu todo mundo?
O policial se afastou, segurando-o pelo braço.
–Não se mova ou terei que algemá-lo. A quem está procurando?
Cam levantou as mãos em sinal de rendição, mas tinha o coração acelerado. O destino
estava lhe dando um novo golpe, um do que talvez não se recuperaria nunca.
Mas não, aquilo não era coisa do destino. Ele poderia ter evitado… se tivesse escutado Pippa
umas horas antes, se tivesse estado disposto a aproveitar a oportunidade que lhe oferecia.
–Pippa… Pippa Laingley –respondeu por fim, assinalando o apartamento com mãos
trementes– Está grávida. Por favor, pode perguntar se a encontraram?
–Fique aqui, volto em seguida – disse o policial.
Cam o viu aproximar-se de um grupo de bombeiros e teve que esperar com o coração
encolhido, sentindo que lhe falhavam as forças.
O auxiliar médico que estava ao seu lado pareceu ter piedade dele.
–Certamente já a terão levado a hospital –lhe disse– Se estava em casa, certamente a
tiraram.
O policial voltou nesse momento.
–A levaram ao hospital faz meia hora. Foi uma das primeiras a sair e dizem que estava
consciente e não sofreu queimaduras. Não sei nada mais.
O alívio foi tal que lhe dobraram os joelhos.
–Calma, amigo. Quer sentar-se?
–Não, não, tenho que ir… para qual hospital a levaram?
O policial disse e Cam voltou para seu carro, respirando profundamente antes de dar partida
com mãos trementes. Tinha que acalmar-se, pensou, enquanto conduzia a toda velocidade. Tinha
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que ver Pippa. Tinha que saber que estava bem. Tinha que abraçá-la uma vez mais e lhe dizer tudo
o que guardava em seu coração. Tudo o que tinha sido tão tolo e tão cabeça dura para não lhe
dizer antes.
Só esperava que ela quisesse escutá-lo.
*****
Pippa estava no hospital, com enfermeiras entrando e saindo continuamente do quarto. O
médico lhe disse que seu bebê estava bem. Tinha respirado um pouco de fumaça, mas não o
suficiente para prejudicar a criança.
Entretanto, não podia deixar de imaginar o que poderia ter acontecido se não tivesse
despertado a tempo… Angustiada, passou uma mão pelo abdômen, para tranquilizar o bebê.
Durante a última hora lhe tinham feito multidão de testes e ecografias e o médico assegurou que
não havia nada do que preocupar-se.
Cheirava a fumaça e devia ter um aspecto horrível, mas não se importava. Quão único
importava era que seu filho e ela estavam bem.
A porta se abriu nesse momento e, para sua surpresa, Devon mostrou a cabeça, com Ashley
atrás dele.
–Pippa, que susto nos deu –exclamou sua amiga, abraçando-a.
–Como souberam? E o que faz aqui, Ashley? Acaba de ter um bebê, deveria estar na cama.
–Estávamos tão preocupados… soubemos do incêndio e tivemos que vir imediatamente.
–Onde está Katelynn?
–A menina esta bem –respondeu Devon– Não se preocupe com ela.
–A questão é como está você. Diga-me o que aconteceu.
–Não sei –Pippa negou com a cabeça– Estava dormindo e, de repente, despertei e tudo
estava cheio de fumaça… menos mal que um bombeiro me tirou a tempo do apartamento. Já
quase não podia respirar.
Ashley a abraçou, tentando conter as lágrimas.
–Graças a Deus.
–Foi uma noite horrível… mas o médico diz que o bebê e eu estamos bem.
–Aposto que se tornou mais forte – tentou animá-la Ashley–Amanhã virá minha mãe, já sabe
que é como uma filha para ela. E está fazendo planos para te alojar em sua casa.
Pippa esboçou um tremente sorriso.
–Não sabe quanto preciso dela neste momento.
–Sei, céu.
Quando o médico entrou para lhes dizer que a paciente devia descansar, Ashley e Devon a
abraçaram, prometendo voltar no dia seguinte.
De novo sozinha, Pippa não pôde conter as lágrimas. Estava física e emocionalmente
desfeita. Não ficava nada mais que um vazio em seu coração.
Cam entrou na emergência e foi diretamente ao balcão de informação para perguntar por
Pippa, dizendo que era seu marido. E, felizmente, uma das enfermeiras o levou por um corredor e
assinalou um quarto ao fundo, de onde saíam nesse momento Devon e Ashley.
– Cam!
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*****
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Pippa despertou com a sensação de que lhe faltava algo. Teve uns sonhos muito estranhos.
Tinha visto o rosto de Cam e o incêndio… Passou uma mão pelo abdômen e sorriu ao sentir que o
bebê dava um chute. Seu filho e ela estavam bem.
A porta se abriu nesse momento e Glória Copeland entrou no quarto, com gesto decidido.
–Pippa! Minha pobrezinha –murmurou, abraçando-a – Está bem? Levei um susto enorme.
Pippa começou a chorar.
–Sim, estou bem.
–Querida, não chore. Tenho um quarto preparado para você, ao lado do antigo quarto de
Ashley. Não se preocupe por nada, eu cuidarei de você.
–Eu te amo muito, Glória.
–E eu a você, céu. Tudo vai sair bem, prometo. Sei que agora não tem bom aspecto, mas
logo estará recuperada de tudo.
–Que afortunada sou de ter vocês. Vocês são minha única família.
–Assim que estiver um pouco recuperada, iremos a um spa. As três, Ashley, você e eu –
anunciou Glória– Se isso não te animar, não sei o que pode te animar.
Pippa sorriu. Passar um dia em um spa com Glória e Ashley soava maravilhoso.
–Vê? Já está sorrindo outra vez.
–Obrigada por tudo.
–Ficará em minha casa até que nasça o bebê. Não tem sentido estressar-se procurando um
apartamento quando deveria estar concentrada no bebê. Além disso, nos divertiremos muito.
Pippa não podia rejeitar sua hospitalidade. Além disso, era impossível discutir com Glória,
que era uma força da natureza.
–E meu negócio? –exclamou então– Não posso fechar o café.
–Tem empregados que podem encarregar-se de tudo durante uns dias, não?
–Sim, mas…
–Nada de mas. Agora mesmo o único que deve fazer é descansar. Dentro de uns dias,
quando voltar a trabalhar, William porá um carro à sua disposição.
Pippa sorriu de novo.
–Não sei o que faria sem vocês.
–Já sabe que meu marido a ama muito –disse Glória, apertando sua mão– Bom, vou
perguntar quando lhe darão alta. Quanto antes for para casa, melhor. Meu médico te fará uma
verificação completa.
Pippa suspirou, mais animada, quando a mãe de Ashley saiu do quarto. Mas quando voltou
uns minutos depois tinha o cenho franzido.
–O que disse o médico?
–Não falei com ele. Falei com a enfermeira e diz que poderá ir para casa em algumas horas.
–Ocorre algo? Está muito séria.
–Enfim… saberá cedo ou tarde e será melhor que o diga: Cam está na porta. E parece que
passou a noite toda aí. Queria entrar, mas lhe disse que não o fizesse. Não quero que se aborreça.
O coração de Pippa deu um tombo.
–Não quero vê-lo –murmurou.
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–Não tem por que vê-lo, querida. Falei porque não queria que ficasse surpresa quando saísse
do quarto.
– Cam e eu… não temos nada a nos dizer.
Glória lhe deu um beijo na testa.
–Ashley sairá hoje do hospital e vai levar Katelynn para casa, assim estaremos juntas esta
tarde.
Pippa assentiu com a cabeça, sem deixar de pensar em Cam. Ela não era uma covarde, mas o
último que necessitava naquele momento era outro confronto. Suas palavras a machucaram
muito e era uma ferida que não curaria facilmente.
Tinha que ir passo a passo, decidiu, e as coisas melhorariam. Tinha que acreditar nisso.
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Capítulo 21
Cam estava no corredor do hospital, perguntando-se por que não entrava no quarto de uma
vez. Mas não era o momento. Devon e Ashley tinham razão: Pippa estava muito frágil.
Devon apareceu então ao final do corredor.
–Entrou para vê-la?
–Não, ainda não. A mãe de Ashley me proibiu que entrasse. E a entendo, francamente.
Como estão Ashley e Katelynn?
–Bem –respondeu Dev– Estão embaixo, esperando no carro com o pai de Ashley. Vão levar
Pippa para sua casa.
Cam fez uma careta. Pippa não tinha casa para onde voltar, mas deveria tê-la. Deveria ir para
sua casa com ele. Em realidade, não deveria ter estado em nenhum outro lugar durante esses
meses.
Não sabia o que fazer e era uma sensação que não estava acostumado… Nesse momento a
porta se abriu e Pippa saiu do quarto, com Glória atrás dela. Estava pálida, o cabelo preso em um
coque e as maçãs do rosto mais pronunciadas que nunca, como se tivesse emagrecido de repente.
A única parte dela que tinha um aspecto normal era seu abdômen.
–Pippa… graças a Deus que está bem.
Estendeu uma mão para tocá-la, para confirmar que estava ali, mas Pippa se afastou e Cam
baixou a mão, tentando dissimular sua angústia.
–Se importariam de esperar lá fora um momento? –perguntou ela, olhando para Glória e
Devon– Sairei em seguida, mas tenho que falar com Cam.
Glória não parecia disposta a obedecer, mas Devon a puxou pelo braço.
–Esperarei na porta para te acompanhar ao carro.
–Muito bem.
Quando ficaram sozinhos, Cam estendeu uma mão para tomar a dela.
–Pippa, não sabe como sinto o que aconteceu. Mas pode vir para minha casa, eu cuidarei de
você. Temos muitas coisas a nos dizer… bom, eu tenho muitas coisas para te dizer e…
–Não.
Cam esperava que discutisse, mas essa firme negativa o assustou. Era muito pior do que
tinha imaginado e toda a emoção que tentou conter desde que soube que estava em perigo saiu à
superfície, ameaçando afogá-lo.
–Pensei que tinha te perdido no incêndio e… achei que ia morrer. Temia que algo assim
pudesse acontecer, temia perder aos dois e o medo tomou conta de mim. Fez-me dizer coisas que
não sinto.
–Já me perdeu. Perdeu aos dois antes do incêndio, Cam. Passou tanto tempo tentando evitar
o sofrimento que não se importou a quem machucou no processo. Pois sinto, mas tenho que ir. –
Pippa se afastou pelo corredor e Cam ficou olhando-a, incapaz de mover-se.
Teve que piscar para conter as lágrimas. Não podia continuar mentindo para si mesmo.
Amava-a, a amou desde o início. Nunca acreditou em amor à primeira vista, mas foi isso que
aconteceu com Pippa. E por isso a tinha visto como uma ameaça.
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Fez o impossível para convencer a si mesmo de que não a amava… Entretanto, assim era. E
desejava estar com ela mais que nenhuma outra coisa no mundo.
Mas já era muito tarde.
Sentiu que alguém colocava uma mão no seu ombro e quando virou a cabeça viu que era
Devon.
–Acredito que é hora de que você e eu tenhamos o mesmo bate-papo que tive com Rafe
depois de estragar tudo com Ashley.
Cam meteu as mãos nos bolsos da calça, desesperado.
–Não sei o que fazer.
–Tem que se arriscar. Está jogando com seu futuro e o futuro de seu filho. É hora de começar
a viver outra vez. Terá que suplicar a Pippa para perdoá-lo… e de joelhos se precisar.
–Disse-lhe coisas imperdoáveis…
–Só é imperdoável se ela não te perdoar. E não sabe se o fará porque ainda não suplicou
para ela.
–Entenderia que não quisesse voltar a me dirigir a palavra.
–Está disposto a jogar a toalha tão cedo? Todos cometemos erros alguma vez. Rafe, Ryan,
eu… e agora você. Parece que todos somos um pouco idiotas quando se trata das mulheres. Mas
sabe uma coisa? Bryony perdoou Rafe, Kelly perdoou Ryan, Ashley me perdoou e acredito que
Pippa pode te perdoar também. Mas tem que lhe dar um motivo para que o faça.
–Estou apaixonado por ela.
–Já sei. Acredito que você é o único que não sabia.
–Tentei negar esse amor, tentei negar meu próprio filho. Como se pode perdoar algo assim?
–Diga a ela que foi um idiota e logo jure que nunca voltará a ser.
Cam suspirou.
–Espero que Pippa queira me escutar.
–Tem que fazer que o escute. Se a amar de verdade, não se renderá tão facilmente.
Amava-a de verdade. A ela e a seu filho. Era sua última oportunidade e poderia terminar
horrivelmente. Poderia perder Pippa e seu filho como tinha perdido Elise e Colton.
Mas também poderia terminar bem e então teria uma vida cheia de amor. O amor de Pippa,
seu sorriso, o sorriso de seu filho.
Não valia a pena arriscar-se?
*****
– Cam veio vê-la. E jurou dormir na porta se não quiser vê-lo.
Pippa olhou para Glória Copeland, atônita.
–Fala sério?
A mulher assentiu com a cabeça.
–Temo que sim. E parece muito decidido, veio com um saco de dormir.
–Não se rende.
Nos últimos dias, Cam ligou para seu telefone, foi à casa dos Copeland, tinha passado pelo
café… apareceu em qualquer lugar onde pudessem encontrar-se.
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Quando nada parecia funcionar, decidiu lhe enviar mensagens e flores, toneladas de flores,
com pilhas de cartões onde dizia “Eu te amo”. As poucas vezes que se encontraram cara a cara
parecia tão cansado, tão triste, que quase sentiu pena dele.
Sentia-se perseguida, mas não ameaçada. Surpreendia-a sua insistência e suas mensagens a
desconcertavam… depois de ter tomado a dolorosa decisão de romper com ele, Cam aparecia de
novo em sua vida, querendo coisas que jurou não querer dela… Não tinha sentido e começava a
ficar farta.
Pippa olhou para a porta. Não tinha a menor dúvida de que não ia se render; os últimos dias
tinham deixado isso bem claro.
–O que devo fazer, Glória?
–Faça o que acha que deve fazer –respondeu ela– Se quer falar com ele, direi que entre e os
deixarei sozinhos. Ou ficarei, fazendo guarda como uma leoa. Se preferir não vê-lo, direi que pode
acampar na porta durante o tempo que quiser…
Pippa exalou um suspiro.
–Como queria que minha mãe fosse como você.
Glória sorriu, abraçando-a.
–Você sabe que é como uma filha para mim.
–Sim, sei.
–Bom, o que fazemos com Cam?
–Falarei com Cam quando eu decidir, e não ele.
–Essa é minha garota – a felicitou Glória – Vou dizer que se não quiser partir, chamarei os
seguranças… não ponha essa cara, o expulsarão daqui de maneira discreta.
Pippa tinha a impressão de que Cam não se afastaria como tinha feito tantas vezes.
*****
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*****
Pippa estava coberta com uma espécie de barro marrom, mas não podia queixar-se. Além
disso, a massagem era agradável, relaxante.
Fechou os olhos e deixou escapar um suspiro de satisfação quando alguém lhe pôs duas
rodelas de pepino sobre as pálpebras.
Mas então notou que um par de mãos maiores e mais firmes que as anteriores começavam a
massagear seus pés… Gostava mais dessas mãos. Não eram tão suaves como as da massagista
anterior, mas estava claro que sabia o que fazia.
As mãos subiram por sua perna, pressionando um pouco, apertando antes de seguir para
cima… Pippa esteve a ponto de abrir os olhos. Aquela massagem lhe parecia um pouquinho
alarmante… enfim, devia ser coisa de sua imaginação.
Mas ao sentir uns lábios roçando seu abdômen tirou as rodelas de pepino das pálpebras e,
atônita, descobriu que a massagista era Cam.
Tentou se levantar, mas ele pôs as mãos sobre seus ombros, empurrando-a para a maca.
–Pode-se saber o que está fazendo? E onde está a massagista?
–Eu sou a massagista –respondeu ele– Sou teu, estou ao seu serviço para realizar todos seus
desejos.
Ela o olhou, boquiaberta. Parecia tão… esperançoso e tão desesperançado ao mesmo
tempo. Mas sobretudo parecia decidido.
Havia um brilho em seus olhos que lhe dizia que desta vez não ia render-se.
–Não penso manter esta conversa com o rosto cheio de barro –protestou– E vestindo um
biquíni.
Cam se inclinou para tomar seu rosto entre as mãos e a beijou até deixá-la sem oxigênio.
Quando por fim a soltou, seu rosto estava manchado de barro. Tinha um aspecto tão ridículo
como ela e Pippa teve que esboçar um sorriso.
–Não me importa o aspecto que tenha – disse Cam, com voz rouca– Continua sendo a
mulher mais bela que jamais vi.
Ela suspirou, tentando conter um estranho bater de asas dentro do peito.
–O que faz aqui, Cam? O que quer? Já dissemos tudo o que tínhamos para dizer.
–Não, isso não é verdade. Eu tenho muito para dizer e quero que me escute.
–Muito bem, certo –assentiu ela– Mas me ajude a me levantar, não vou falar enquanto
estou deitada em uma maca.
Envolta em um penhoar, aproximou-se do lavabo para tirar o barro do rosto e logo se virou
com uma toalha na mão para limpar o rosto de Cam.
Mas quando terminou, como se não pudesse suportar um segundo mais, ele a tomou entre
seus braços e a beijou como um homem faminto, desesperado.
Quando por fim se afastou, Pippa ficou surpreendida pela emoção que viu em seus olhos.
–Não posso viver sem você –disse Cam, em voz baixa– Não me faça viver sem você e sem
nosso filho. Amo aos dois, amo tanto. Desperto recordando seu rosto, vou à cama pensando em
você e no bebê. É tudo para mim, Pippa. Tudo.
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Epílogo
A sala estava cheia de gente, de risadas e de conversações. A casa de Cam já não parecia
uma sombria caverna, ao contrário; era um lugar alegre e cheio de luz. Era uma casa cheia de
felicidade.
Pippa se deixou cair sobre o sofá e pôs os pés sobre um banquinho, observando Cam
enquanto conversava com seus amigos.
Rafael de Luca e sua mulher, Bryony, chegaram dois dias antes com sua filha, Amy. Ryan
Beardsley e sua esposa, Kelly, tinham sido os últimos a chegar de Saint Angelo, onde residiam de
maneira permanente. Sua filha, Emma, tinha quase a mesma idade que Amy, ambas nasceram
com poucos meses de diferença.
Cam tinha decidido convidar a seus amigos precisamente esse fim de semana porque se
aproximava o momento e queria que estivesse rodeada de pessoas depois do parto, como ela
sempre quis.
Além de seu carinho e seus contínuos cuidados, tinha contratado pessoal para que tomasse
conta do Café durante seu último mês de gravidez e estava atento a ela todas as horas.
Por fim estava vivendo um conto de fadas, pensou Pippa. Um com o qual jamais se atreveu a
sonhar…
De repente, sentiu uma dor aguda no abdômen que a fez dobrar-se sobre si mesma. Ashley,
que estava olhando-a nesse momento, aproximou-se.
–O que ocorre? Está bem?
–Não fale, que Cam não saiba ou ficará histérico. Começou a doer faz momento…
–Está tendo contrações?
–Acredito que sim… –Pippa fez um gesto de dor.
–A cada quanto tempo?
–A cada cinco minutos. Mas li em algum lugar que não devo ir ao hospital até que sejam a
cada dois minutos.
Ashley a olhou, exasperada.
–Onde leu isso?
Bryony se aproximou nesse momento e, ao ver sua expressão, nem sequer teve que
perguntar.
–Cam, tem que levar Pippa ao hospital!
Os quatro homens se viraram de uma vez e Cam se aproximou imediatamente, pálido.
–Querida, chegou o momento?
–Acredito que sim –respondeu ela.
Cam a tomou nos braços e se dirigiu à garagem, deixando atrás deles um caos de gente
passando-se bebês e bolsas de fraldas.
–Tudo vai sair bem, já verá –murmurou– Vamos ao hospital para conhecer nosso filho.
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sorriso nos lábios. Um sorriso que era como ver o sol depois de viver uma vida inteira na
escuridão.
–Quero lhes apresentar o meu filho.
Fim
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