Resumo
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Resumo
doi.org/10.51891/rease.v9i9.11363
A LUDICIDADE NA ALFABETIZAÇÃO
1 Graduada em Pedagogia pela Faculdade Afirmativo, Especialista em Educação Infantil com Ênfase em Artes pela
FACIPAN - Faculdade do Instituto Panamericano.
2 Graduada em Letras Português – Literatura pela Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT, Graduada
Especial.
1. INTRODUÇÃO
O lúdico é um meio metódico pelo qual o educador pode conhecer a realidade do seu aluno
e grupo, suas necessidades, conflitos, dificuldades, estado de espírito e comportamento de forma
mais geral.
Segundo Rosa (2003, p. 40), “o lúdico deve ser visto e praticado de forma consciente, pois
não é mera diversão ou preenchimento de tempo, e sim, um fator essencial para uma educação
de qualidade ao indivíduo”.
Brougère (2002) também descreve que através das brincadeiras as crianças absorvem a
cultura em que vivem, ou através das relações humanas que cultivam ou do mundo que criam.
O lúdico acompanha todo o processo de desenvolvimento cognitivo.
Um professor que sabe obter conhecimento de seus alunos por meio de jogos e brincadeiras
possui um recurso metodológico de alta qualidade.
Atividades lúdicas podem ajudar a tornar a alfabetização mais dinâmica e significativa,
permitindo que as crianças assumam o desafio de ler e escrever sem medo de errar, permitindo-
lhes adquirir conhecimentos de forma lúdica e prazerosa. Os educadores podem usar atividades
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lúdicas como uma ferramenta metodológica tanto na sala de aula como em outros lugares.
A utilização do lúdico no processo de alfabetização auxilia a prática docente, atuando como
elemento dinamizador da proposta pedagógica, e ao mesmo tempo oferece aos alunos uma
experiência de aprendizagem mais prazerosa, dinâmica e significativa.
2. DESENVOLVIMENTO
2.1. O lúdico no desenvolvimento infantil
É fundamental tomar consciência de que a realização da atividade lúdica infantil fornece
informações elementares a respeito da criança como suas emoções, a forma como interage com
seus colegas, seu desempenho físico-motor, seu processo de desenvolvimento, seu nível
linguístico, sua formação moral, dentre outros.
No jogo, a criança toma consciência de si mesma, aprende a desejar e a subordinar a seu
desejo seus impulsos afetivos passageiros, aprende a atuar subordinando suas ações a um
determinado modelo, a uma norma de comportamento. Assim no jogo a submissão à
necessidade não é imposto de fora, pois responde à própria iniciativa da criança como
algo desejado. O jogo dessa maneira, por sua estrutura psicológica, é o protótipo da
futura atividade séria. Da necessidade que o jogo faz desejada à necessidade que se torna
plena consciência: este é o caminho que vai do jogo às formas superiores da atividade
humana (ELKONIN, 1987 apud VOLPATO, 2002, p. 49-50).
Através do jogo, a criança aprende, verbaliza, comunicasse com mais facilidade e realiza
argumentações, internaliza novos comportamentos e, consequentemente, se desenvolve em
todos os aspectos.
Acreditamos que o adulto é um dos principais responsáveis pelo aproveitamento que a
criança faz do seu tempo, ou seja, é ele quem propõe alternativas de atividades para que a criança
não permaneça interessada somente em um determinado brinquedo ou a frente de tecnologias,
podendo aproveitar e enfatizar o resgate do tempo de brincar.
Muito se ouve falar que alguns educadores apontam que na escola, “não há tempo para
atividades lúdicas” porque muitas vezes a instituição está mais preocupada com o programa a
ser cumprido do que aprendizagens que tenham significado para a criança que aprende. Com
isso, o jogo fica relegado ao pátio ou destinado a preencher intervalos de tempo entre as aulas.
Fora dela, a influência dos meios de comunicação e da indústria de brinquedos estão tornando os
alunos cada vez mais acomodados, com pouca iniciativa e criatividade.
As crianças passam a maior parte de seu tempo livre diante da televisão e não sobra
tempo para criar, inventar e usar a imaginação, elas consomem os atraentes jogos e
brinquedos eletrônicos e assim acabam por não ter oportunidade de conhecer alguns de
seus potenciais criativos (LOPES, 2000, p. 37).
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Uma das ocupações mais comuns das crianças hoje em dia é a televisão, que ocupa um
tempo significativo na vida delas, tempo esse que deixa de ser dedicado às atividades lúdicas,
com prejuízo da criatividade e da socialização, como afirma Lopes (2000).
Na sala de aula, o espaço de trabalho pode ser transformado em lúdico: podem ser
desenvolvidas atividades que aproveitem mesas, cadeiras e outros recursos para estimular a
criatividade das crianças. Fora de sala o educador pode utilizar objetos, animais, a vegetação local
para diversificar o programa de atividades desenvolvidas em aula.
Porém, as atividades lúdicas não se referem somente à modalidade da Educação Infantil,
elas permeiam todas as fases da infância e estão presentes em todos os segmentos da vida.
Tendo por base a psicologia genética de Jean Piaget apud Almeida (1998) caracterizou a
natureza do jogo em cada fase de desenvolvimento do ser humano, dividindo-as em cinco fases.
É a fase do ‘egocentrismo’, na qual elas são o centro de tudo e tudo se volta para o seu
‘eu’. Por isso apegam-se a suas coisas e não abrem mão delas. Nos jogos e nas
brincadeiras não conseguem coordenar seus esforços para o outro, e os jogos com regras
não funcionam, mas estar junto com outras crianças, participar de atividades
apresentadas pelos pais, executar pequenas ordens, como arrumar as coisas, ajudar os
pais, são coisas importantíssimas para o crescimento intelectual e social. Da mesma
forma, o relacionamento sadio, alegre, carinhoso, afetivo que recebem é indispensável
para o equilíbrio emocional (ALMEIDA, 1998, p. 13).
Nesta fase a criança considera que tudo que existe é por ela e para ela, procurando sempre
chamar a atenção dos outros para si própria. Não aceita críticas e regras, o que muitas vezes
resulta em choros e birras.
Muitos pais não sabem como reagir a estas situações e acabam atuando de forma que irão
consolidar os comportamentos inadequados ao invés de controlá-los. É importante que os pais
saibam transmitir às crianças o porquê das coisas e não apenas dar uma ordem ou dizer um “não”,
explicações simples ajudam a compreender o que é certo e o que é errado.
Nesta idade a criança imita muito o adulto do mesmo sexo, aprende observando e gosta de
participar nas conversas e nas atividades dos adultos. Daí a importância de se permitir que ela
ajude nas atividades apresentadas pelos pais e na execução de pequenas ordens dadas pelos
mesmos, propiciando assim seu crescimento intelectual e social, facilitando a imposição de
regras e limites por parte dos pais.
Posteriormente a criança passa pela fase intuitiva (de 4 a 6/7 anos, aproximadamente).
Nesta fase a criança transforma o real em função das múltiplas necessidades do “eu” sob a forma
de exercícios psicomotores e simbolismo. Os jogos passam a ter uma seriedade absoluta na vida
das crianças e um sentido funcional e utilitário. É necessário que haja uma estimulação dos
movimentos finos da criança (através de atitudes como pegar, rasgar, rabiscar, desenhar, pintar,
bordar, costurar, amassar e modelar), necessários e obrigatórios para o processo de incorporação
ao processo de alfabetização que ocorrerá. É também a fase em que a criança imita tudo e tudo
quer saber, é a “famosa” fase dos porquês.
É importante ressaltar que todos os jogos de que as crianças participam, que inventam ou
pelos quais se interessam nessa fase constituem verdadeiros estímulos que enriquecem os
esquemas perceptivos, operativos, funções essas que, combinadas com as estimulações
psicomotoras, definem alguns aspectos básicos que dá condições para o domínio da “leitura e
escrita”. A Fase da operação concreta (de 6/8 a 11/12 anos, aproximadamente) é a fase escolar em
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que a criança vai incorporar os conhecimentos sistematizados, tomar consciência de seus atos e
despertar para um mundo em cooperação com seus semelhantes. É importante considerar os
pontos mais significativos de seu desenvolvimento.
Nessa idade a criança começa a pensar inteligentemente, com certa lógica. Começa a
entender o mundo mais objetivamente e a ter consciência de suas ações, discernindo o
certo do errado. Nessa fase os jogos transformam-se em construções adaptadas, exigindo
sempre mais o trabalho efetivo e participativo no processo de aprendizagem, que começa
a sistematizar o conhecimento existente (ALMEIDA, 1998, p. 51).
O jogo não é uma atividade isolada de um grupo de pessoas formadas ao acaso, ele reflete
experiências, valores da própria comunidade em que estão inseridas, mantém relações profundas
entre as crianças e as faz aprender a viver e a crescer conjuntamente nas relações sociais.
A educação lúdica integra uma teoria profunda e uma prática atuante. Seus objetivos,
além de explicar as relações múltiplas do ser humano em seu contexto histórico, social,
cultural, psicológico, enfatizam a libertação das relações pessoais passivas, técnicas para
as relações reflexivas, criadoras, inteligentes, socializadoras, fazendo do ato de educar
um compromisso consciente intencional, de esforço, sem perder o caráter de prazer, de
satisfação individual e modificador da sociedade (ALMEIDA, 1998, p. 31-32).
Assim sendo, a formação lúdica deverá proporcionar aos futuros professores vivências
lúdicas despertando a valorização da criatividade, sensibilidade, afetividade tornando a prática
pedagógica prazerosa e dinamizadora. Se o professor na sua formação não foi sensibilizado a
aprender com prazer, sua curiosidade não foi despertada pelo conhecimento, não lhe foram
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apresentadas atividades dinâmicas e desafiadoras, ele certamente terá dificuldade em fazer na
sua prática pedagógica aquilo que não experimentou.
Porém, com uma formação lúdica o professor terá oportunidade de se conhecer, de saber
quais são suas potencialidades, limitações, desenvolverá seu senso crítico, terá atitude de
pesquisador. Por isso a necessidade de formar professores capazes de compreender os benefícios
da ludicidade na sua formação pessoal e profissional considerando que não é uma atividade
complementar as outras, mas sim uma atividade que auxilia na construção da identidade e da
personalidade. Com a ludicidade se aprende a lidar e equilibrar as emoções, a criar um ambiente
prazeroso estimulando a aprendizagem (FEIJÓ, 1992).
Segundo Santo Agostinho apud Santos (1997, p. 45): “o lúdico é eminentemente educativo
no sentido em que constitui a força impulsora de nossa curiosidade a respeito do mundo e da
vida, o princípio de toda descoberta e toda criação”.
O professor precisa se permitir vivenciar o lúdico e buscar conhecimento teórico para,
através dessas experiências, obter informações sobre o brincar espontâneo e orientado.
Acreditamos que não há mais como ausentar o lúdico do processo pedagógico, pois ele é o
agente de um ambiente motivador e de real significado para a aprendizagem. Ao se separar as
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O adulto só poderá ser um incentivo se for portador de conhecimentos teóricos que
subsidiem corretamente as atividades práticas. Um adulto esclarecido saberá dosar os
conteúdos, partindo sempre das necessidades e capacidades das crianças, ensinando sem
coagir, sem impor padrões. Um adulto consciente da preciosidade que é uma criança,
saberá dar amor, carinho; saberá ensinar pelo exemplo, influenciando beneficamente na
formação da personalidade da mesma (ROSA, 2003, p. 79).
CONCLUSÃO 1706
A ludicidade pode ser considerada como algo que promove o desenvolvimento individual
estimulando-os de forma prazerosa e significativa durante o processo de aprendizagem.
Portanto, não deve ser visto apenas como um hobby, mas como uma ferramenta para facilitar
esse processo, pois é uma necessidade das pessoas em todas as fases da vida.
Portanto, se utilizarmos ferramentas lúdicas durante a alfabetização, pode-se transmitir
aos alunos a ideia de que é possível aprender brincando. A ludicidade auxilia no processo de
ensino e aprendizagem proporcionando o desenvolvimento mental, social e moral do indivíduo.
Pensando desta forma, este artigo procurou discutir como o lúdico na prática pedagógica
pode atuar como iniciador da aprendizagem do aluno no processo de alfabetização. E seu
significado era avançar tanto para o professor quanto para o aluno no sentido de que os materiais
do jogo auxiliam os professores em seus exercícios e proporcionam aos alunos uma experiência
de aprendizagem mais dinâmica, significativa e agradável.
A alfabetização é um processo que dá às pessoas acesso ao mundo da leitura e da escrita,
tornando real a sua adequação a todas as posições da sociedade e também uma ferramenta na luta
pela cidadania.
É preciso levar em conta que ao entrar em sala de aula o aluno já possui determinadas
formações e traz consigo determinadas experiências lúdicas, de linguagem oral e escrita.
Concluímos, que este artigo pode auxiliar os professores em seu trabalho com atividades
lúdicas que proporcionam aos alunos uma aprendizagem menos penosa, mais prazerosa, mais
dinâmica e significativa e uma educação de qualidade.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Paulo Nunes de. Educação Lúdica: Prazer de estudar técnicas e jogos pedagógicos.
São Paulo: Edições Loyola, 1998.
BROUGÈRE, Gilles. A criança e a cultura lúdica. In: KISHIMOTO, Tizuko Morchida (Org.).
O Brincar e suas teorias. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002.
FEIJÓ, O. G. Corpo e Movimento: Uma Psicologia para o Esporte. Rio de Janeiro: Shape, 1992.
KISHIMOTO, Tizuko Morchida. O jogo e a educação infantil. São Paulo: Pioneira, 2003.
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LOPES, Maria da Glória. O jogo e suas aplicações. In: ______. Jogos na educação: criar, fazer,
jogar. 3.ed. São Paulo: Cortez, 2000.
SANTOS, S. M. P. dos. (org.). O lúdico na formação do educador. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.