Location via proxy:   [ UP ]  
[Report a bug]   [Manage cookies]                
0% acharam este documento útil (0 voto)
3 visualizações11 páginas

Resumo

Fazer download em docx, pdf ou txt
Fazer download em docx, pdf ou txt
Fazer download em docx, pdf ou txt
Você está na página 1/ 11

Revista Ibero- Americana de Humanidades, Ciências e Educação- REASE

doi.org/10.51891/rease.v9i9.11363

A LUDICIDADE NA ALFABETIZAÇÃO

Ana do Bondespacho da Silva1


Consuelo Conceição Ferreira Gomes2
Fabiana Cristina dos Santos3
Jaqueline Ferreira de Brito4
Luiza Helena Nadaleti Dutra5
Silvana Carvalho Cardoso6

RESUMO: Este artigo discute a importância do lúdico na alfabetização. Refere-se a um estudo


bibliográfico que teve como objetivo compreender como a ludicidade pode auxiliar na
aprendizagem de uma criança. Para tanto, incluímos a contribuição de alguns autores –
Kishimoto (2003), Almeida (1998), Rosa (2003) e outros. Apresenta a importância do brincar no
desenvolvimento infantil e sua importância como recurso metodológico. Para melhor
compreender a importância do lúdico na prática pedagógica como iniciador da aprendizagem do
aluno no processo de alfabetização. Portanto, promover e incentivar os professores a utilizarem
ferramentas metodológicas que facilitem o processo de alfabetização por meio de atividades
lúdicas que proporcionem aos alunos uma experiência de aprendizagem mais prazerosa,
dinâmica e significativa.

Palavras-chave: Alfabetização. Lúdico. Aprendizagem. Brincadeiras. Jogos.


1697
ABSTRACT: This article discusses the importance of play in literacy. It refers to a bibliographic
study that aimed to understand how playfulness can help a child's learning. To this end, we
included the contribution of some authors – Kishimoto (2003), Almeida (1998), Rosa (2003) and
others. It presents the importance of playing in child development and its importance as a
methodological resource. To better understand the importance of play in pedagogical practice as
an initiator of student learning in the literacy process. Therefore, promote and encourage
teachers to use methodological tools that facilitate the literacy process through playful activities
that provide students with a more pleasurable, dynamic and meaningful learning experience.

Keywords: Literacy. Ludic. Learning. Jokes. Games.

1 Graduada em Pedagogia pela Faculdade Afirmativo, Especialista em Educação Infantil com Ênfase em Artes pela
FACIPAN - Faculdade do Instituto Panamericano.
2 Graduada em Letras Português – Literatura pela Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT, Graduada

em Pedagogia pela INVEST, Especialista em Alfabetização e Letramento pela INVEST.


3 Graduada em Pedagogia pelas Faculdades Evangélicas Integradas Cantares de Salomão – FEICS – Especialista em

Neuroeducação - pelas Faculdades Evangélicas Integradas Cantares de Salomão – FEICS.


4 Graduada em Pedagogia pela Universidade Federal de Mato Grosso, Especialista em AEE e Educação Inclusiva

pela Faculdade Futura na área da Educação.


5 Graduada em Pedagogia pela Universidade Federal de Outro Preto – UFOP, Especialista em Letramento e

Alfabetização pela Faculdade de Educação São Luís.


6 Graduada em Pedagogia pela UNIC – Universidade de Cuiabá, Especialista em Educação Infantil com Ênfase em

Especial.

Revista Ibero-Americana de Humanidades, Ciências e Educação. São Paulo, v.9.n.09. set.


2023. ISSN - 2675 – 3375
Revista Ibero- Americana de Humanidades, Ciências e Educação- REASE

1. INTRODUÇÃO

O lúdico é um meio metódico pelo qual o educador pode conhecer a realidade do seu aluno
e grupo, suas necessidades, conflitos, dificuldades, estado de espírito e comportamento de forma
mais geral.
Segundo Rosa (2003, p. 40), “o lúdico deve ser visto e praticado de forma consciente, pois
não é mera diversão ou preenchimento de tempo, e sim, um fator essencial para uma educação
de qualidade ao indivíduo”.
Brougère (2002) também descreve que através das brincadeiras as crianças absorvem a
cultura em que vivem, ou através das relações humanas que cultivam ou do mundo que criam.
O lúdico acompanha todo o processo de desenvolvimento cognitivo.
Um professor que sabe obter conhecimento de seus alunos por meio de jogos e brincadeiras
possui um recurso metodológico de alta qualidade.
Atividades lúdicas podem ajudar a tornar a alfabetização mais dinâmica e significativa,
permitindo que as crianças assumam o desafio de ler e escrever sem medo de errar, permitindo-
lhes adquirir conhecimentos de forma lúdica e prazerosa. Os educadores podem usar atividades
1698
lúdicas como uma ferramenta metodológica tanto na sala de aula como em outros lugares.
A utilização do lúdico no processo de alfabetização auxilia a prática docente, atuando como
elemento dinamizador da proposta pedagógica, e ao mesmo tempo oferece aos alunos uma
experiência de aprendizagem mais prazerosa, dinâmica e significativa.

2. DESENVOLVIMENTO
2.1. O lúdico no desenvolvimento infantil
É fundamental tomar consciência de que a realização da atividade lúdica infantil fornece
informações elementares a respeito da criança como suas emoções, a forma como interage com
seus colegas, seu desempenho físico-motor, seu processo de desenvolvimento, seu nível
linguístico, sua formação moral, dentre outros.
No jogo, a criança toma consciência de si mesma, aprende a desejar e a subordinar a seu
desejo seus impulsos afetivos passageiros, aprende a atuar subordinando suas ações a um
determinado modelo, a uma norma de comportamento. Assim no jogo a submissão à
necessidade não é imposto de fora, pois responde à própria iniciativa da criança como
algo desejado. O jogo dessa maneira, por sua estrutura psicológica, é o protótipo da
futura atividade séria. Da necessidade que o jogo faz desejada à necessidade que se torna
plena consciência: este é o caminho que vai do jogo às formas superiores da atividade
humana (ELKONIN, 1987 apud VOLPATO, 2002, p. 49-50).

Revista Ibero-Americana de Humanidades, Ciências e Educação. São Paulo, v.9.n.09. set.


2023. ISSN - 2675 – 3375
Revista Ibero- Americana de Humanidades, Ciências e Educação- REASE

Através do jogo, a criança aprende, verbaliza, comunicasse com mais facilidade e realiza
argumentações, internaliza novos comportamentos e, consequentemente, se desenvolve em
todos os aspectos.
Acreditamos que o adulto é um dos principais responsáveis pelo aproveitamento que a
criança faz do seu tempo, ou seja, é ele quem propõe alternativas de atividades para que a criança
não permaneça interessada somente em um determinado brinquedo ou a frente de tecnologias,
podendo aproveitar e enfatizar o resgate do tempo de brincar.
Muito se ouve falar que alguns educadores apontam que na escola, “não há tempo para
atividades lúdicas” porque muitas vezes a instituição está mais preocupada com o programa a
ser cumprido do que aprendizagens que tenham significado para a criança que aprende. Com
isso, o jogo fica relegado ao pátio ou destinado a preencher intervalos de tempo entre as aulas.
Fora dela, a influência dos meios de comunicação e da indústria de brinquedos estão tornando os
alunos cada vez mais acomodados, com pouca iniciativa e criatividade.

As crianças passam a maior parte de seu tempo livre diante da televisão e não sobra
tempo para criar, inventar e usar a imaginação, elas consomem os atraentes jogos e
brinquedos eletrônicos e assim acabam por não ter oportunidade de conhecer alguns de
seus potenciais criativos (LOPES, 2000, p. 37).
1699
Uma das ocupações mais comuns das crianças hoje em dia é a televisão, que ocupa um
tempo significativo na vida delas, tempo esse que deixa de ser dedicado às atividades lúdicas,
com prejuízo da criatividade e da socialização, como afirma Lopes (2000).
Na sala de aula, o espaço de trabalho pode ser transformado em lúdico: podem ser
desenvolvidas atividades que aproveitem mesas, cadeiras e outros recursos para estimular a
criatividade das crianças. Fora de sala o educador pode utilizar objetos, animais, a vegetação local
para diversificar o programa de atividades desenvolvidas em aula.
Porém, as atividades lúdicas não se referem somente à modalidade da Educação Infantil,
elas permeiam todas as fases da infância e estão presentes em todos os segmentos da vida.

A educação lúdica está distante da concepção ingênua de passatempo, brincadeira vulgar,


diversão superficial. Ela é uma ação inerente na criança, no adolescente, no jovem e no
adulto e aparece sempre como uma forma transacional em direção a algum
conhecimento, que se redefine na elaboração constante do pensamento individual em
permutações com o pensamento coletivo (ALMEIDA, 1998, p. 13)

Tendo por base a psicologia genética de Jean Piaget apud Almeida (1998) caracterizou a
natureza do jogo em cada fase de desenvolvimento do ser humano, dividindo-as em cinco fases.

Revista Ibero-Americana de Humanidades, Ciências e Educação. São Paulo, v.9.n.09. set.


2023. ISSN - 2675 – 3375
Revista Ibero- Americana de Humanidades, Ciências e Educação- REASE

2.1.2 A Ludicidade e as Fases do Desenvolvimento


O início do desenvolvimento da criança denomina-se, de acordo com Piaget, fase sensório-
motora (de 1 a 2 anos, aproximadamente). Nesta fase o jogo é para a criança uma assimilação do
real com si própria e caracteriza as manifestações de seu desenvolvimento.
Através da visão, da audição e do tato a criança mexe em tudo que encontra ao seu redor,
desenvolvendo seus sentidos, movimentos, músculos, percepção e cérebro, ao mesmo tempo em
que se diverte e conquista novas realidades (ALMEIDA, 1998).
Para a estimulação do pensamento pode-se oferecer à criança brinquedos ou potes, com ou
sem tampa, com conteúdos atrativos dentro. Uma outra opção seria oferecer revistas para que a
criança folheie livremente, ajudando-a a identificar gravuras, deixando por fim que amasse as
folhas para estimular sua coordenação manual (fina).
Para a estimulação da percepção espacial podem ser realizadas brincadeiras de empilhar
objetos; brincadeiras de estender os braços, as pernas para que elas possam ver até onde alcançam
ou brincadeiras de roda, para que a criança descubra o movimento circular. Já para auxiliar na
estimulação da linguagem compreensiva pode-se dar ordens simples, tais como alcançar algum
objeto, brinquedo, etc.; pedir para que a criança localize partes de seu corpo e de seu vestuário;
1700
sempre elogiar os acertos das crianças e também pode-se realizar brincadeiras com elas fazendo
de conta que está triste, bravo, alegre, verificando se ela discrimina estes diferentes sentimentos.
Em relação à estimulação da linguagem expressiva, deve-se aceitar que a criança fale
“errado”, repetindo em seguida de forma correta o que ela falou; outra maneira seria mostrar a
ela objetos e figuras de animais conhecidos, falando e pedindo que repita o som próprio destes
animais.
E por fim para a estimulação à coordenação ampla deve-se incentivar a criança a subir e
descer escadas; oferecer massa de modelar para que ela inicie a pegá-la com as pontas dos dedos
e também pode-se oferecer lápis diversos, estimulando que faça rabiscos espontaneamente com
os mesmos.
É de fundamental importância também nessa fase que haja um contato afetuoso e
estimulante do adulto com a criança, e é este contato que caracteriza o primeiro sinal da educação
lúdica (ALMEIDA, 1998).
A fase simbólica (de 2 a 4 anos, aproximadamente) é uma das mais importantes
para a vida da criança em todos os aspectos, é quando a criança passa a se definir e a se estruturar
(ALMEIDA, 1998).

Revista Ibero-Americana de Humanidades, Ciências e Educação. São Paulo, v.9.n.09. set.


2023. ISSN - 2675 – 3375
Revista Ibero- Americana de Humanidades, Ciências e Educação- REASE

A criança passa a exercitar intencionalmente movimentos motores mais específicos,


utilizando para isso as mãos, além dos movimentos físicos. Ela passa a expressar, através de suas
brincadeiras, o mundo que viu e interiorizou, essas manifestações são expressões de puro
simbolismo representado na mente.
Kishimoto (2003) destaca a situação imaginária e as regras, como elementos importantes
na brincadeira infantil, em que, nas situações imaginárias claras ou não, há regras implícitas e
explícitas. A criança ao imitar um motorista, por exemplo, segue suas regras implícitas, diferente
do futebol, onde as regras são explícitas, variando conforme estratégias adotadas pelos jogadores
Através da brincadeira, a criança desenvolve a atenção, a memória, a autonomia, a
capacidade de resolver problemas, se socializa, desperta a curiosidade e a imaginação, de maneira
prazerosa e como participante ativo do seu processo de aprendizagem.
Para Kishimoto (2003, p. 43): “ao prover uma situação imaginativa por meio da atividade
livre, a criança desenvolve a iniciativa, expressa seus desejos e internaliza as regras sociais”.
As brincadeiras mais simples de que participa são verdadeiros estímulos ao
desenvolvimento intelectual. Quanto mais informações receber, mais registro ocorrerá em seu
cérebro. Ao experimentar, ver e manipular as coisas, a criança descobre que pode dar forma ao
1701
mundo de acordo com suas impressões, passando não só a evocar e registrar fatos na memória,
mas a recriá-los. Nessa fase gostam de estar junto ao adulto e a outras crianças.

É a fase do ‘egocentrismo’, na qual elas são o centro de tudo e tudo se volta para o seu
‘eu’. Por isso apegam-se a suas coisas e não abrem mão delas. Nos jogos e nas
brincadeiras não conseguem coordenar seus esforços para o outro, e os jogos com regras
não funcionam, mas estar junto com outras crianças, participar de atividades
apresentadas pelos pais, executar pequenas ordens, como arrumar as coisas, ajudar os
pais, são coisas importantíssimas para o crescimento intelectual e social. Da mesma
forma, o relacionamento sadio, alegre, carinhoso, afetivo que recebem é indispensável
para o equilíbrio emocional (ALMEIDA, 1998, p. 13).

Nesta fase a criança considera que tudo que existe é por ela e para ela, procurando sempre
chamar a atenção dos outros para si própria. Não aceita críticas e regras, o que muitas vezes
resulta em choros e birras.
Muitos pais não sabem como reagir a estas situações e acabam atuando de forma que irão
consolidar os comportamentos inadequados ao invés de controlá-los. É importante que os pais
saibam transmitir às crianças o porquê das coisas e não apenas dar uma ordem ou dizer um “não”,
explicações simples ajudam a compreender o que é certo e o que é errado.
Nesta idade a criança imita muito o adulto do mesmo sexo, aprende observando e gosta de
participar nas conversas e nas atividades dos adultos. Daí a importância de se permitir que ela

Revista Ibero-Americana de Humanidades, Ciências e Educação. São Paulo, v.9.n.09. set.


2023. ISSN - 2675 – 3375
Revista Ibero- Americana de Humanidades, Ciências e Educação- REASE

ajude nas atividades apresentadas pelos pais e na execução de pequenas ordens dadas pelos
mesmos, propiciando assim seu crescimento intelectual e social, facilitando a imposição de
regras e limites por parte dos pais.
Posteriormente a criança passa pela fase intuitiva (de 4 a 6/7 anos, aproximadamente).
Nesta fase a criança transforma o real em função das múltiplas necessidades do “eu” sob a forma
de exercícios psicomotores e simbolismo. Os jogos passam a ter uma seriedade absoluta na vida
das crianças e um sentido funcional e utilitário. É necessário que haja uma estimulação dos
movimentos finos da criança (através de atitudes como pegar, rasgar, rabiscar, desenhar, pintar,
bordar, costurar, amassar e modelar), necessários e obrigatórios para o processo de incorporação
ao processo de alfabetização que ocorrerá. É também a fase em que a criança imita tudo e tudo
quer saber, é a “famosa” fase dos porquês.
É importante ressaltar que todos os jogos de que as crianças participam, que inventam ou
pelos quais se interessam nessa fase constituem verdadeiros estímulos que enriquecem os
esquemas perceptivos, operativos, funções essas que, combinadas com as estimulações
psicomotoras, definem alguns aspectos básicos que dá condições para o domínio da “leitura e
escrita”. A Fase da operação concreta (de 6/8 a 11/12 anos, aproximadamente) é a fase escolar em
1702
que a criança vai incorporar os conhecimentos sistematizados, tomar consciência de seus atos e
despertar para um mundo em cooperação com seus semelhantes. É importante considerar os
pontos mais significativos de seu desenvolvimento.

Nessa idade a criança começa a pensar inteligentemente, com certa lógica. Começa a
entender o mundo mais objetivamente e a ter consciência de suas ações, discernindo o
certo do errado. Nessa fase os jogos transformam-se em construções adaptadas, exigindo
sempre mais o trabalho efetivo e participativo no processo de aprendizagem, que começa
a sistematizar o conhecimento existente (ALMEIDA, 1998, p. 51).

O jogo não é uma atividade isolada de um grupo de pessoas formadas ao acaso, ele reflete
experiências, valores da própria comunidade em que estão inseridas, mantém relações profundas
entre as crianças e as faz aprender a viver e a crescer conjuntamente nas relações sociais.

A educação lúdica, além de contribuir e influenciar na formação da criança e do


adolescente, possibilitando um crescimento sadio, um enriquecimento permanente,
integra-se ao mais alto espírito de uma prática democrática enquanto investe em uma
produção séria do conhecimento. Sua prática exige a participação franca, criativa, livre,
crítica, promovendo a interação social e tendo em vista o forte compromisso de
transformação e modificação do meio (ALMEIDA, 1998, p. 57).

Já na fase da operação abstrata (11, 12 anos em diante) os jogos passam a caracterizar-se


como atividades adaptativas ao equilíbrio físico, pois realizam o aperfeiçoamento dos músculos

Revista Ibero-Americana de Humanidades, Ciências e Educação. São Paulo, v.9.n.09. set.


2023. ISSN - 2675 – 3375
Revista Ibero- Americana de Humanidades, Ciências e Educação- REASE

e geram princípios de descoberta, de julgamento, de criatividade, de criticidade, caracterizando


o pensamento formal e possibilitando o surgimento de relações sociais amadurecidas, bem como
o surgimento de lideranças participativas.

2.2 O Lúdico: Recurso Metodológico

A ludicidade precisa ser vista como algo imprescindível à necessidade do ser


humano que facilita os processos de socialização, comunicação, expressão e construção do
conhecimento.

A educação lúdica integra uma teoria profunda e uma prática atuante. Seus objetivos,
além de explicar as relações múltiplas do ser humano em seu contexto histórico, social,
cultural, psicológico, enfatizam a libertação das relações pessoais passivas, técnicas para
as relações reflexivas, criadoras, inteligentes, socializadoras, fazendo do ato de educar
um compromisso consciente intencional, de esforço, sem perder o caráter de prazer, de
satisfação individual e modificador da sociedade (ALMEIDA, 1998, p. 31-32).

Assim sendo, a formação lúdica deverá proporcionar aos futuros professores vivências
lúdicas despertando a valorização da criatividade, sensibilidade, afetividade tornando a prática
pedagógica prazerosa e dinamizadora. Se o professor na sua formação não foi sensibilizado a
aprender com prazer, sua curiosidade não foi despertada pelo conhecimento, não lhe foram
1703
apresentadas atividades dinâmicas e desafiadoras, ele certamente terá dificuldade em fazer na
sua prática pedagógica aquilo que não experimentou.
Porém, com uma formação lúdica o professor terá oportunidade de se conhecer, de saber
quais são suas potencialidades, limitações, desenvolverá seu senso crítico, terá atitude de
pesquisador. Por isso a necessidade de formar professores capazes de compreender os benefícios
da ludicidade na sua formação pessoal e profissional considerando que não é uma atividade
complementar as outras, mas sim uma atividade que auxilia na construção da identidade e da
personalidade. Com a ludicidade se aprende a lidar e equilibrar as emoções, a criar um ambiente
prazeroso estimulando a aprendizagem (FEIJÓ, 1992).
Segundo Santo Agostinho apud Santos (1997, p. 45): “o lúdico é eminentemente educativo
no sentido em que constitui a força impulsora de nossa curiosidade a respeito do mundo e da
vida, o princípio de toda descoberta e toda criação”.
O professor precisa se permitir vivenciar o lúdico e buscar conhecimento teórico para,
através dessas experiências, obter informações sobre o brincar espontâneo e orientado.
Acreditamos que não há mais como ausentar o lúdico do processo pedagógico, pois ele é o
agente de um ambiente motivador e de real significado para a aprendizagem. Ao se separar as

Revista Ibero-Americana de Humanidades, Ciências e Educação. São Paulo, v.9.n.09. set.


2023. ISSN - 2675 – 3375
Revista Ibero- Americana de Humanidades, Ciências e Educação- REASE

crianças do ambiente lúdico estamos automaticamente ignorando seus próprios conhecimentos,


pois quando a criança entra na escola ela já possui muitas experiências que lhes foram
proporcionadas através das brincadeiras e do jogo.
As crianças envolvidas pela atividade lúdica sentem-se mais livres para criticar,
argumentar e criar. Mas quando estão expostas aos métodos tradicionais de educação, em que o
aluno nada mais é do que um consumidor de informações prontas, ou como cita Freire (apud
SOUZA 1996, p. 390): “o que se adapta, ou seja, mero objeto do processo” ela se torna apática ao
conhecimento, como se o que estivesse aprendendo não tem relevância para o seu mundo.
Para que possa compreender a importância do lúdico, é necessário então que o educador
entenda os anseios das crianças. Quando tiver feito isso terá 30 uma tarefa muito mais difícil que
é a de associar o lúdico ao conteúdo a ser ministrado, sem que os dois percam suas essências. Mas
somente é possível conseguir o jogo educativo quando há o equilíbrio entre as duas funções
(SCHWARTZ, 1998).
A criança vive em um mundo diferente do adulto e para que tenhamos acesso a esse mundo
o lúdico é fundamental, pois, através de vivências lúdicas até nós mesmos podemos voltar a
imaginar como realmente é brincar quando criança e o que esperam as mesmas das atividades
1704
que as ocupam.
Quando utilizamos o lúdico na escola estamos buscando também um resgate cultural da
criança em que ela traz à escola vivências apreendidas em casa, com os amigos, na sua
comunidade, ou seja, resgatando movimentos muitas vezes passados e modificados no decorrer
de gerações. É necessário darmos valor a estas vivências, pois se não dermos estamos
desvalorizando a história e a cultura do indivíduo no contexto escolar.
Fica claro para nós a importância do lúdico na escola durante a infância, pois, percebemos
que quando o interesse da criança é levado a sério podemos dar estímulos importantes no
desenvolvimento dela. Afinal, trabalhamos mais e melhor se fazemos isso nos divertindo.
2.3 Alfabetização e Ludicidade
A utilização de recursos lúdicos é um assunto que tem conquistado espaço na educação
escolar e torna-se muito importante a valorização do momento da brincadeira do educando.
Observa-se que ao longo da história da educação, muitos pesquisadores e estudiosos
passaram a se importar com o ato da brincadeira e então começaram a estudar sobre a sua
evolução. Pode-se notar que a brincadeira ganhou mais saliência nos aspectos cognitivos, pois de

Revista Ibero-Americana de Humanidades, Ciências e Educação. São Paulo, v.9.n.09. set.


2023. ISSN - 2675 – 3375
Revista Ibero- Americana de Humanidades, Ciências e Educação- REASE

uma atividade lúdica passou a dar contribuições importantes na área de aquisição do


conhecimento.
A ludicidade auxilia no processo de aprendizagem e deixa de ser uma prática somente da
realidade da Educação Infantil, podendo ser utilizada também durante todos os níveis de ensino.
Nesse caso, pode-se afirmar que a utilização do lúdico na escola como recurso pedagógico é de
extrema importância, pois de acordo com Rosa (2003, p. 40): “o brinquedo é a essência da infância
e seu uso permite um trabalho pedagógico que possibilita a produção do conhecimento”.
No mundo do brinquedo e dos jogos, que proporcionam situações em que a criança crie
regras, a brincadeira não é uma atividade inata, mas sim uma atividade social e humana que
supõe contextos sociais, a partir dos quais o aprendiz comanda uma nova realidade e estabelece
suas normas (KISHIMOTO, 2003).
Na maioria das vezes é através do incentivo de um adulto que o ser humano conhece o
brincar. O mesmo lhe ensina e passa sua experiência e, de forma despercebida, ele vai recebendo
toda a sua formação social. Por isso é importante que o adulto esteja sempre atento com relação
à sua atuação no desenvolvimento da criança.

1705
O adulto só poderá ser um incentivo se for portador de conhecimentos teóricos que
subsidiem corretamente as atividades práticas. Um adulto esclarecido saberá dosar os
conteúdos, partindo sempre das necessidades e capacidades das crianças, ensinando sem
coagir, sem impor padrões. Um adulto consciente da preciosidade que é uma criança,
saberá dar amor, carinho; saberá ensinar pelo exemplo, influenciando beneficamente na
formação da personalidade da mesma (ROSA, 2003, p. 79).

A escola é primordial quando envolve atividades lúdicas no processo de ensino, pois


atribui outros valores às brincadeiras, mostra outros caminhos e outras possibilidades de se
“pensar” sobre algo. É importante ressaltar que a brincadeira realizada na escola é diferente
daquela que acontece em outros locais. Normalmente as brincadeiras e os jogos têm uma função,
uma intencionalidade, que são determinadas dependendo de onde acontecem.
As brincadeiras ocorridas na escola têm que estar de acordo com o objetivo da instituição,
seja para a alfabetização, seja para o repasse de boas maneiras, ou com quaisquer fins educativos.
Segundo Rosa (2003, p. 40): “o lúdico deve ser visto e praticado de forma consciente, pois não é
mera diversão ou preenchimento de tempo, e sim, um fator essencial para uma educação de
qualidade ao indivíduo”.
A brincadeira, em sua totalidade, é um período de aprendizagem significativa para a
criança, independente de onde ocorra. Na escola, mais precisamente nos anos iniciais, a

Revista Ibero-Americana de Humanidades, Ciências e Educação. São Paulo, v.9.n.09. set.


2023. ISSN - 2675 – 3375
Revista Ibero- Americana de Humanidades, Ciências e Educação- REASE

ludicidade pode ser utilizada de forma a reconhecer as questões da infância, despertando


interesses, e como tentativa de estudar os assuntos de maneira mais agradável. Tais atividades
tornam-se importantes porque são novas possibilidades para aqueles alunos com maiores
dificuldades de aprendizagem, de apreensão de conteúdo.
A utilização do lúdico na escola caracteriza-se como um recurso pedagógico de muito valor,
através da brincadeira o professor pode explorar a criatividade, a valorização do movimento, a
solidariedade, o desenvolvimento cultural, a assimilação de novos conhecimentos e as relações
da sociedade, incorporando novos valores. Para Rosa (2003, p. 45): “através das brincadeiras
educativas, as crianças aprendem a respeitar o próximo e as idéias divergentes das suas,
aprendendo assim, como conviver harmoniosamente em sociedade”.
O lúdico na vida escolar deve ser preservado. A realização da brincadeira na escola é uma
garantia de que tantas transformações possam acontecer na vida da criança, visto que a
brincadeira estimula a aprendizagem. Uma vez que os jogos e brincadeiras são excelentes
instrumentos de mediação entre o prazer e a aprendizagem, nota-se que a utilização do lúdico é
realmente importante durante o processo de alfabetização (aprendizagem).

CONCLUSÃO 1706

A ludicidade pode ser considerada como algo que promove o desenvolvimento individual
estimulando-os de forma prazerosa e significativa durante o processo de aprendizagem.
Portanto, não deve ser visto apenas como um hobby, mas como uma ferramenta para facilitar
esse processo, pois é uma necessidade das pessoas em todas as fases da vida.
Portanto, se utilizarmos ferramentas lúdicas durante a alfabetização, pode-se transmitir
aos alunos a ideia de que é possível aprender brincando. A ludicidade auxilia no processo de
ensino e aprendizagem proporcionando o desenvolvimento mental, social e moral do indivíduo.
Pensando desta forma, este artigo procurou discutir como o lúdico na prática pedagógica
pode atuar como iniciador da aprendizagem do aluno no processo de alfabetização. E seu
significado era avançar tanto para o professor quanto para o aluno no sentido de que os materiais
do jogo auxiliam os professores em seus exercícios e proporcionam aos alunos uma experiência
de aprendizagem mais dinâmica, significativa e agradável.
A alfabetização é um processo que dá às pessoas acesso ao mundo da leitura e da escrita,
tornando real a sua adequação a todas as posições da sociedade e também uma ferramenta na luta
pela cidadania.

Revista Ibero-Americana de Humanidades, Ciências e Educação. São Paulo, v.9.n.09. set.


2023. ISSN - 2675 – 3375
Revista Ibero- Americana de Humanidades, Ciências e Educação- REASE

É preciso levar em conta que ao entrar em sala de aula o aluno já possui determinadas
formações e traz consigo determinadas experiências lúdicas, de linguagem oral e escrita.
Concluímos, que este artigo pode auxiliar os professores em seu trabalho com atividades
lúdicas que proporcionam aos alunos uma aprendizagem menos penosa, mais prazerosa, mais
dinâmica e significativa e uma educação de qualidade.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Paulo Nunes de. Educação Lúdica: Prazer de estudar técnicas e jogos pedagógicos.
São Paulo: Edições Loyola, 1998.

BROUGÈRE, Gilles. A criança e a cultura lúdica. In: KISHIMOTO, Tizuko Morchida (Org.).
O Brincar e suas teorias. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002.

FEIJÓ, O. G. Corpo e Movimento: Uma Psicologia para o Esporte. Rio de Janeiro: Shape, 1992.

KISHIMOTO, Tizuko Morchida. O jogo e a educação infantil. São Paulo: Pioneira, 2003.

1707
LOPES, Maria da Glória. O jogo e suas aplicações. In: ______. Jogos na educação: criar, fazer,
jogar. 3.ed. São Paulo: Cortez, 2000.

ROSA, Adriana (Organizadora). Lúdico & Alfabetização. Curitiba: Juruá, 2003.

SANTOS, S. M. P. dos. (org.). O lúdico na formação do educador. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.

SCHWARTZ, Gisele Maria. O Processo Educacional em Jogo: Algumas Reflexões Sobre a


Sublimação do Lúdico. Revista Licere/ Centro de Estudos de Lazer e
Recreação/EEF/UFMG.v.1, n.1. Belo Horizonte, 1998.

SOUZA, Edison Roberto. O lúdico como possibilidade de inclusão no ensino fundamental.


Revista Motrivivência. V. 8 , n. 9, 1996.

VOLPATO, G. Jogo, brincadeira e brinquedo: usos e significados no contexto escolar e familiar.


Florianópolis: Cidade Futura, 2002.

Revista Ibero-Americana de Humanidades, Ciências e Educação. São Paulo, v.9.n.09. set.


2023. ISSN - 2675 – 3375

Você também pode gostar