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My Stalker Idol

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My stalker idol

SINOPSE

O que você faria se descobrisse que seu grande


ídolo tem te stalkeado há algum tempo?

Childe Han-Gyeol é um dos idols mais estourados


de toda Coreia. Seu rosto está estampado em
todas as revistas, não existe sequer uma pessoa
no mundo que não conhece seu nome, ou que ao
menos não tenha ouvido o refrão do seu mais
novo sucesso. Mas Childe tem um segredo que
ninguém conhece.

Glenn Moss tem uma obsessão. Desde que ouviu


a música de Childe pela primeira vez, ele não
conseguiu parar. Em pouco tempo ele já tinha
decorado todas as músicas de sua discografia e
conhecia cada mínimo detalhe sobre o coreano.
Glenn até viajou para a Coreia para participar do
seu primeiro meet&greet. Ele não sabia que esse
momento se tornaria tão impactante para o seu
futuro.
EPIGRAFE

A cada suspiro que você der

A cada movimento que você fizer

A cada elo que você quebrar

A cada passo que você der

Eu estarei te observando

(Every breath you take - The Police)


PRÓLOGO

Glenn

Eu ainda não acredito nisso.

Estou parado na rua em frente ao motel,


esperando Childe Han-Gyeol um dos idols mais
famosos do mundo, chegar. Que tipo de sorte um
cara como eu tem que ter para algo assim
acontecer? Devo ter gastado toda a sorte do resto
da minha vida com esse encontro.

O carro preto de vidro fumê para e pela janela


posso ver Childe. Mesmo estando com óculos e
máscara no rosto, eu posso reconhecê-lo. Meu
coração dispara.
— Entre Glenn. — Ele diz com sua voz suave, não
há um único pelo no meu corpo que não tenha se
arrepiado nesse momento.

Percorro o caminho até o outro lado do carro. A


porta se abre e eu adentro o veículo. O cheiro de
couro impera dentro do carro. Sinto a mão de
Childe na minha perna e meu corpo gela, de
nervoso e antecipação. Mal consigo me controlar
e permanecer sentado no banco do carro. Parece
que voltei a ser um adolescente.

Childe dirige com o carro até o motel, pega um


quarto, mas eu sequer presto atenção na
negociação, meu coração bate tão forte que a
qualquer momento devo ter uma síncope ou um
infarto. Quão irônico seria se eu tivesse um infarto
e morresse num momento como esse?

— Você está bem? — Ele pergunta, eu apenas


assinto com a cabeça.

— Estou nervoso. — Revelo depois de alguns


minutos. — Eu nunca fiquei com um idol antes, me
sinto sortudo de ter sido… O premiado da vez. —
Digo com um risinho.

A lógica é simples, não é fácil de adivinhar que


Childe faça isso por onde quer que passe.
Escolher um fã estranho ao acaso para passar a
noite com ele. Sou apenas o filho da mãe sortudo
da vez, ainda assim, sou grato por isso.

— O que está querendo dizer? Eu também nunca


fiz isso antes Glenn. — Ele diz com uma voz
questionadora.

— Nunca fez sexo com um homem antes? —


Pergunto desacreditando totalmente da
informação que acabei de receber.

— Não Glenn, isso eu já fiz muito. — Responde


Childe com uma voz divertida. — Eu nunca fiquei
com um fã antes.

Sua cabeça vira em minha direção e sinto seus


olhos me observando, mesmo por baixo dos
óculos escuros.
— E eu devo acreditar que sou o sortudo que você
escolheu num acaso do destino? — Pergunto, isso
é quase o equivalente a ganhar na loteria. Não é
possível acreditar que seja real, o destino não é
tão bondoso assim.

Childe solta uma sonora gargalhada antes de


responder, sua mão pressiona mais forte minha
perna e envia arrepios por todo meu corpo.

— Ah, Glenn, não tem nada de acaso ou destino


nesse encontro.

De alguma forma meu coração consegue bater


ainda mais forte nessa hora, estou tremendo no
momento que minha boca se abre.

— O que quer dizer?

— Tenho te observado. Nos shows, na plateia…


Tenho te observado há muito tempo. Esperei tanto
tempo para finalmente estar com você, Glenn.
Espero que esteja feliz.
CAPÍTULO 1

2 anos antes

Glenn

— Glenn, não está entrando. Parece que essa


porcaria não quer entrar de jeito nenhum.

— Vai entrar Diana, tem que entrar. — Falo com o


máximo de determinação que possuo.

Minhas mãos estão trêmulas de ansiedade, há


quase 20 minutos pressionando o botão de
recarregar na página, como se minha insistência
pudesse de alguma forma agilizar o processo. A
tela continua a exibir a mesma mensagem de erro,
mas meu olhar permanece fixo, como se fosse
hipnotizado pela promessa que essa página
representa. É o primeiro meet&greet do Childe, o
maior fenômeno da música no mundo atual. Suas
canções ressoam em todos os cantos do planeta,
e após incontáveis apelos fervorosos dos fãs, ele
finalmente cedeu e concordou em realizar um
único evento desse tipo.

Seu primeiro — e possivelmente o último —


meet&greet ira acontecer daqui a exatas 3
semanas, em Busan, na Coreia do Sul e nesse
momento, não há distância, nem custo, que possa
me impedir. Encaro a tela como se a força do meu
olhar pudesse invocar uma oportunidade. Até que,
como uma resposta aos meus desejos ferventes,
as palavras mágicas finalmente aparecem diante
dos meus olhos.

— Di, está aberto aqui. Abriu! — Grito para Diana,


que está ao meu lado, com o próprio computador
aberto, ainda com a mensagem de erro em sua
tela.

Meus dedos tremem enquanto arrasto o mouse


com a maior agilidade possível até o botão de
adquirir. Poucos segundos depois, eu e Diana
somos 2 dos 200 sortudos que conseguiram o
ingresso. O delírio toma conta de mim, e a alegria
borbulha como um champanhe há muito
aguardado. Gritos de celebração escapam da
minha boca, as palavras se misturam a risos e
pulos frenéticos. A ficha está demorando a cair,
mas sinto um fio de triunfo envolver meu peito,
como se eu tivesse ganhado uma corrida, não só
contra outros fãs, mas contra o próprio tempo.

Diana e eu nos abraçamos, compartilhando um


momento que apenas nós dois entendemos.
Conheci Childe graças a ela, minha melhor amiga
e cúmplice nesse universo musical. O sorriso de
Diana é quase tão grande quanto o meu próprio,
meu cabelo preto, volumoso e cacheado balança
conforme ela pula junto comigo. Posso ver as
lágrimas escorrendo na sua pele negra.

— Glenn Moss, você é um sortudo de dar inveja.


Não estou acreditando nisso, cara. Nós realmente
conheceremos o Childe! Meu Deus, eu não tenho
nem roupa para isso.
— Ah, não se preocupe, Diana. Eu também estou
no mesmo barco. Não posso aparecer na frente
de alguém como Childe vestindo qualquer coisa.
Preciso encontrar o traje perfeito para que ele se
apaixone por mim. — Digo com um toque de
humor.

— Desencana Glenn, você sabe que o Childe não


é gay. Hoje mesmo saiu nas páginas que ele está
tendo um affair com aquela cantora coreana, a
Hana Dong-Ra. Sinto muito, mas acho que tenho
mais chances do que você.

— Qualquer um devia ter mais chance que a


Hana. Ela é tão sem graça, tão apagada. Não sei
o que o Childe viu nela.

— Como assim? Você deve estar falando da Hana


errada. Ela é linda e eles parecem tão bem juntos.

Diana mexe em seu celular até estender o


aparelho para mim. Na tela aparece a manchete
“Clima de romance entre os astros da música”
logo abaixo da manchete a imagem enche a tela,
Childe e Hana. Ele tem seus dedos longos no
rosto dela e ambos se olham com expressão
digna de um dorama.

— Ainda acho que ele poderia fazer melhor. Não


entendo como alguém como Childe ficaria com
uma pessoa assim.

— Você está com inveja. Além disso, sua opinião


sobre mulher é totalmente inválida.

— Em primeiro lugar, claro que estou com inveja,


Diana, é a droga do Childe. Em segundo, minha
opinião só é invalida para você porque difere da
sua.

— Não, sua opinião é inválida porque você é gay.

— E o que isso tem a ver?

— Você não vai achar nenhuma mulher bonita


Glenn! É isso o que tem a ver e não adianta me
olhar com esses olhos azuis aí não.

— Claro que acho mulheres bonitas, Diana. Não


tenho interesse romântico, mas sei apreciar a
beleza.
— Me fale uma então! Uma mulher que você
estaria feliz se estivesse no lugar da Hana.

— Você, sua palerma. — Grito e Diana se cala no


mesmo instante.

Sua boca abre e fecha algumas vezes e ela


desvia os olhos, constrangida.

— Não deixe subir à sua cabeça. Se um dia você


e Childe tiverem algo, terá que me contar todos os
detalhes picantes.

— Você é um idiota. — Ela diz fazendo careta.

Algumas horas depois, Diana se despede, suas


mãos digitando mensagens de desculpas para sua
mãe pelo atraso para o jantar. Ela tem 23 anos,
mas parece que não escapará das preocupações
maternas tão cedo. Essa é a parte boa de morar
sozinho, ninguém me apressa para ir jantar. A
parte ruim é que tenho que cozinhar minha própria
comida.
Então assim o faço, logo que Diana se vai eu me
viro para a cozinha e começo a descascar as
batatas, transformando-as em um purê macio e
reconfortante. Enquanto frito um bife suculento e
preparo um punhado de tomates-cereja no meu
prato.

Enquanto a comida desce pelo minha garganta,


não consigo evitar o pensamento em Childe.
Saber que vou poder apertar sua mão e talvez até
abraçá-lo ainda que por um segundo faz meu
coração disparar.

Não me importo se ele é gay ou não, eu nunca


teria chance de qualquer forma. Alguém como ele,
pode ficar com quem quiser. Eu não sou um
homem feio, sei que não. Sou alto e tenho olhos
azuis como o céu, acompanhado por um cabelo
louro dourado que eu sempre faço questão de
arrumar muito bem. Sou magro e passo horas o
suficiente na academia para ter um corpo definido,
sei me arrumar, tenho estilo, são inúmeras
qualidades. Mas existem milhões de homens
como eu pelo mundo. Milhões de homens
melhores, mais bonitos, mais definidos e mais
bem arrumados que eu no mundo.
Pego o celular e procuro a matéria que Diana me
mostrou mais cedo, nenhum dos dois confirmou o
envolvimento, mas com uma foto dessas, nem
precisa.

Suspiro desanimado, talvez um dia as vacas voem


e nesse dia terei alguma chance com Childe
Han-Gyeol. Até lá, eu realmente ficaria feliz se ele
desse uma mínima chance para Diana. Hana não
chega aos pés da minha amiga.

Termino de comer e deixo o prato na pia para ser


lavado depois. Vou até o escritório e confiro minha
agenda. Tenho alguns ensaios para remarcar
devido à viagem para a Coreia, mas tirando isso
nada me impede. Deixo um lembrete anotado,
para não esquecer de mandar mensagem para as
modelos amanhã.

Coloco a última música lançada por Childe na


Alexa e vou para o banho. Tomo um banho
demorado. A água morna do chuveiro cai sobre
mim, relaxando os músculos tensos. Enquanto as
gotas escorrem pela minha pele, sinto-me quase
purificado, como se estivesse me preparando para
um novo começo.

Deito-me embaixo das cobertas pesadas e pego o


celular e mais uma vez abro na mesma matéria,
abro a foto e aumento ela o suficiente para que
somente os olhos apaixonados de Childe cubram
minha tela.

Deixo minha mente vagar, entrar para o mundo da


ilusão ao menos por um momento. Imagino como
seria se fosse eu ali, recebendo aquele olhar
intenso.

Eu o puxaria até mim e cobriria sua boca com a


minha. Minha mão passeia pelo meu corpo
enquanto minha mente viaja cada segundo mais
intensamente.

Me pego perdido entre uma sucessão de suspiros


e murmúrios que escapa dos meus lábios, como
uma melodia de desejo, quando imagino como
seria estar na mesma cama que aquele homem. A
mente se mistura com os sentidos enquanto
imagino nossos corpos próximos, as mãos
explorando cada curva e o calor do desejo
preenchendo o espaço entre nós. A fantasia se
torna realidade enquanto meu próprio toque sutil
em meu corpo evoca arrepios e suspiros,
levando-me a um clímax intenso, onde meu grito
imagina que poderia viajar pelo oceano até a
Coreia, como um chamado ao próprio Childe.

No entanto, a realidade retorna quando me


encontro de volta ao meu quarto, minha
respiração pesada e a mente desanuviada das
fantasias. Me levanto da cama, a vergonha
momentânea me toca. Troco a roupa de cama e
me preparo para mais um banho. Suspiro forte,
preciso arrumar um namorado para ocupar minhas
noites, talvez assim eu deixe de ser tão patético.
CAPÍTULO 2

Glenn

Minha vida se vai se tornando uma confusão


caótica nos dias que se passam. A tarefa de
reorganizar minha agenda e remarcar as sessões
de fotos com as modelos está se provando mais
desafiadora do que eu poderia ter antecipado,
tudo parece ter virado o puro suco do caos. Nem
parece que ficarei apenas uma semana fora de
casa.

Somando a tudo isso, os infortúnios comuns a


uma viagem estão acrescentando uma dose extra
de estresse, como se todo o estresse não fosse o
suficiente. Despesas, reserva de hotel,
planejamento das refeições, voo e, claro, o
obstáculo da língua. Estou trabalhando o dobro
para pelo menos aprender o básico do coreano e
não depender apenas do meu inglês. Embora
muitas pessoas consigam se comunicar nesse
idioma na Coreia, nada pode se comparar a trocar
algumas palavras com Childe em sua língua
materna.

Ligo para a Diana, que está no mesmo turbilhão


que eu, tentando garantir folgas no trabalho
editorial, adiando prazos, reorganizando reuniões
e tudo mais que uma viagem exige.

— Conseguir fazer a reserva do hotel e comprar a


passagem de avião foi mais complicado do que
posso imaginar. — Comento, minha voz carregada
de cansaço.

— Nem consigo imaginar o quão difícil foi, não


tinha nem mesmo pensado que isso seria um
problema. — Responde ela.

— Aparentemente, tudo pode virar um grande


problema. Nunca foi tão difícil só reservar um hotel
amiga. O que deveria ser um simples clique se
transformou em uma série de telefonemas e erros.
Ao menos agora temos um lugar para ficar e a
passagem.

— Ótimo, agora só preciso garantir minhas férias.


— Ela diz em seguida solta um suspiro.

— Sua chefe ainda não deu a resposta ainda?

— Ela me pediu para esperar até a próxima


semana. — Diana diz fazendo um ruído com a
boca.

Conheço-a tão bem que consigo imaginar


perfeitamente ela com seu cenho franzido e a
boca para o lado, formando uma careta de
frustração.

— E quando essa próxima semana chegar,


Diana? E se você não conseguir tirar férias?

— Minhas férias já estão acumuladas, ela não


pode simplesmente negar. — Responde ela,
apesar de sua voz não soar tão confiante quanto
ela sugere.

— E se ela fizer exatamente isso?


— Minha paciência tem limites, Glenn. Ela não
pode me impedir. Se ela me impedir, peço minhas
contas dessa merda de lugar.

— Ok, manda ver gata — Falo brincando, mas


preocupado por dentro — E ainda preciso
reagendar as fotos da senhorita belezinha que não
pode nenhum dia.

— Por que você não a leva para a Coreia e realiza


as fotos lá? — Diana sugere, rindo.

— Não, por favor, ter que suportar aquela criatura


durante a viagem da minha vida? Eu preferiria me
jogar do avião.

— E deixar de conhecer o Childe?

— Você tem razão. Nesse caso, talvez seja


melhor jogar ela do avião. — Respondo,
suspirando antes de continuar. — Mas falando
sério, não sei o que fazer. A mulher não aceita
reagendamentos e só tem me causado problemas.
Já disse que devolveria o adiantamento, mas ela
também não quer isso, Diana. O que diabos eu
faço?

— Deixe-a para trás e viaje. Quando voltar, você


devolve o dinheiro.

— E se ela me processar, Diana? Gastei todas as


minhas economias, não tenho dinheiro para um
advogado.

— Ela não vai te processar. Ela sabe que está


errada, está apenas fazendo drama porque não
consegue tudo do jeito dela.

— Mas e se ela processar mesmo assim? —


Pergunto com um tom de voz agudo de quem está
fazendo drama.

— Ai você vai preso, mas pelo menos já terá


conhecido o Childe a essa altura. Será o preso
mais feliz da penitenciária.

Solto uma risada genuína nesse momento. Diana


tem a capacidade de amenizar as coisas, não
importa o assunto. Não é à toa que a amo tanto.
— Ah, droga… Glenn, aconteceu algo. Preciso
desligar. — Ela diz abruptamente e encerra a
ligação.

Antes que possa começar a me preocupar que


algo sério tenha ocorrido, recebo a mensagem
dela: “Acabei de manchar o novo sofá da minha
mãe com esmalte vermelho. Você sabe como
posso remover?”

Glenn: Talvez saia com suas lágrimas. Do


contrário, acho que sua mãe vai me fazer
companhia na cadeia.

Diana: Você é o pior amigo do mundo!

Glenn: Eu também te amo.

Três semanas passam como vento, quando dou


por mim já estou arrumando minhas malas. As
semanas se desenrolaram a tal velocidade que
sequer consegui frequentar uma balada. Por conta
desse caos generalizado que se tornou minha
vida, acabei baixando o Grindr na esperança de
encontrar ao menos um contatinho, alguém que
ajudasse a distrair minha mente obcecada por
Childe. No entanto, nenhum dos perfis parecia
satisfatório o suficiente, o que me deixou, por três
longas semanas, acompanhado apenas pelo
toque da minha própria mão. Eu devia ser um
pouco menos seletivo, penso enquanto coloco as
últimas peças de roupa dentro da mala.

Graças a uma série de esforços, consegui resolver


todas as minhas pendências antes do prazo. Até
mesmo aquela cliente tão exigente, que
inicialmente resistia a qualquer reagendamento,
finalmente cedeu e concordou em ser atendida por
outra fotógrafa na data original. Assim que
terminei de organizar minha mala, disponho a
roupa que usarei no voo com cuidado sobre a
cadeira da minha escrivaninha, já
antecipadamente preparada para o dia seguinte.
Coloco o despertador para as cinco horas e vou
dormir.

O som agudo do despertador me acorda de


sobressalto. Levo um momento para entender que
nada está errado; apenas preciso me levantar e
pegar o voo. Me apresso para o chuveiro, realizo
minhas necessidades e me visto o mais rápido
que consigo. Em seguida chamo um táxi ao
mesmo tempo que como a primeira coisa que
encontro na geladeira ligo para Diana.

Ela atende após uma série de toques, sua voz


sonolenta mostrando que ela sequer havia se
levantado até esse momento.

— Por favor, me diga que você já está pronta,


Diana. — Digo com a voz aflita.

— Praticamente… — Ela responde, acompanhada


de um bocejo evidente.

— Praticamente dormindo né. Eu não esperarei


por você se você perder o voo vou sozinho e vou
vender seu ingresso para o meet & greet no ebay.

Glenn! É claro que estarei pronta a tempo, houve


apenas um contratempo. — Responde ela,
finalmente parecendo despertar.

— Dormir mais do que deveria agora é


considerado um contratempo? E, por favor, não
saia de casa de estômago vazio; a menos que
queira doar um rim ao aeroporto.

— Pode ficar tranquilo, mãe. Agora, se me


permite, preciso terminar de me arrumar.

— E é melhor você agilizar. — Digo antes de


encerrar a ligação.

Logo que a ligação se encerra, o táxi buzina em


frente a minha casa. Pego a mala correndo e
coloco-a no banco traseiro do veículo, uma vez
que o motorista se recusou a abrir o porta-malas.

Chego ao aeroporto e consigo fazer todo meu


check-in antes de Diana dar as caras. Quando ela
finalmente aparece precisa correr como o vento,
por faltar menos de uma hora até o embarque.

A ansiedade me domina a cada segundo mais


conforme embarco na aeronave. Menos de 48
horas me separam do encontro com Childe.
Minhas mãos estão úmidas, meu coração bate em
um ritmo frenético, e a mera tarefa de respirar
parece se tornar um desafio.
— Acho que vou ter uma síncope. — Digo a Diana
do meu lado.

— Sossega o facho Glenn, se você está assim


agora, o que vai ser de você quando encontrar
Childe?

— Provavelmente vai ser uma cena digna de


filmes clichês, onde a mocinha desmaia nos
braços do mocinho e ele a desperta com um beijo,
finalmente percebendo que não pode mais viver
sem ela.

— Você assiste filmes da disney demais Glenn,


puta merda. Sabe o que aconteceria de verdade?
Você desmaiaria e provavelmente ia bater de cara
no chão, os seguranças vão te levar para longe do
Childe e todo o evento terá sido um fiasco. Além
disso, você não teria uma única foto decente para
postar no Instagram.

— Que droga deixa eu me iludir, Diana. — Digo e


faço um biquinho.

— Sou tua amiga Glenn, amigos servem para


dizer quando a pessoa está sendo louca. E é
exatamente o que você está sendo. Aproveite
seus 5 minutos, olhe para ela com olhos
apaixonados eternamente.

— Diana, vá dormir e me deixe curtir minha


potencial síncope em paz.

— O mundo realmente vai parar no dia em que


você deixar de ser dramático como uma princesa,
Glenn Moss. — Diana declara, fechando os olhos
e se permitindo retomar o sono.

Durante as 14 horas do voo que me leva dos


Estados Unidos à Coreia, não encontro repouso.
Permaneço desperto, olhando para o nada, sem
conseguir relaxar de tão rápido que meu pequeno
coração batia.

Pareço um zumbi quando o piloto avisa que o


avião estava prestes a pousar. Minha cabeça tão
pesada que parece prestes a explodir e meus
olhos com olheiras profundas, como se eu não
dormisse a uma semana, mas finalmente estava
em terras coreanas. Apesar de tudo, eu não
poderia estar mais feliz.
CAPÍTULO 3

Glenn

O hotel corresponde às nossas expectativas


quando finalmente chegamos, com exceção de
um pequeno contratempo: fomos alojados em um
quarto com uma única cama de casal, ao invés
das duas camas separadas que solicitei
anteriormente.

— Não desejo uma cama de casal. Preciso de


duas camas de solteiro. — Explico ao concierge
assim que ele anuncia que o quarto possui apenas
uma cama.

— Lamento, senhor, mas não temos outros


quartos disponíveis. Se desejarem camas
separadas, terão que procurar outro lugar.
Olho para Diana, que me encara, sabendo que a
tarefa de trocar de hotel seria incômoda e
desnecessária.

— Está bem, deixe para lá. Ficaremos assim


mesmo. — Respondo com um suspiro resignado.

— Certo, senhor. Seu quarto é o 164. O


carregador os acompanhará. Desejo-lhes uma
agradável estadia. — Ele diz com um sorriso
amigável e faz um gesto de mão em direção ao
elevador.

Direciono-me ao local indicado, acompanhado


pelo carregador e por Diana.

— Ele deve estar se achando o próprio fanfiqueiro


nesse momento, juntando nós dois na mesma
cama. — Comento com Diana, que solta uma
risada.

— Mal sabe o coitado que da fruta que gosto,


você chupa até o caroço. — Responde Diana, e
eu não posso deixar de rir de sua resposta
espirituosa.
Em pouco tempo, estamos em um quarto com um
ambiente agradável, com paredes de um azul
suave, um piso coberto por um carpete felpudo,
um banheiro com dimensões ligeiramente
claustrofóbicas, porém, com uma vista
deslumbrante da cidade de Busan e uma cama de
casal generosa.

Abandono minha mala, penduro algumas peças


de roupa que desejo evitar que amassem e me
entrego à cama, exausto pela viagem e dominado
pelo sono iminente. Nem mesmo me dou ao
trabalho de trocar de roupa antes de me
acomodar.

— Mal posso acreditar que você veio até a Coreia


para dormir, Glenn. Dormir você poderia fazer em
casa, meu amigo. — Diana protesta ao me ver
quase cochilando.

— Vim para a coreia conhecer o Childe. Me


acorde quando estiver chegando o momento. —
Respondo, virando as costas para ela, mas não
sem antes notar o dedo indicador dela em um
gesto pouco elegante.
— Tudo bem, vou conhecer a cidade sem você
então. — Ela diz e a ouço bater os pés em direção
à porta.

— Faça bom proveito Di. — Respondo antes de


ser levado para o mundo dos sonhos.

Não tenho noção de quanto tempo se passou até


que os chamados insistentes de Diana finalmente
me alcancem. Por mais que eu tente me afastar,
ela persiste.

— Glenn, pelo amor de Deus, acorde! Você


precisa comer. Já dormiu por cerca de 14 horas.

Abri os olhos, ainda sonolento, mas chocado com


essa revelação. Fiquei incrédulo ao perceber que
havia dormido por tanto tempo.

— Que horas são? — Perguntei, ainda me


espreguiçando.

— Faltam seis horas para nosso encontro com


Childe. — Ela respondeu animada.
— Diana, eu sou de humanas e estou com sono.
Ainda não sei que horas são.

— São meio-dia, seu chato. Vamos. Acorde,


precisamos comer. Ou você desmaiará de fome.
— Ela diz enquanto me chacoalha levemente.

— Por que você não me acordou para o café da


manhã? — Lamentei.

— Ah, você acha que eu não tentei? Seria mais


fácil acordar uma pedra do que você, Glenn Moss.

Ri, sabendo que realmente durmo profundamente


quando estou exausto, ainda mais com o fuso
horário bagunçando minha cabeça.

Me levanto da cama e vou até a mala, escolho


uma camiseta preta e uma calça jeans qualquer,
vou até o banheiro, tomo um banho e me visto, em
seguida faço minha higiene pessoal e sigo até
minha amiga.
— Ok, onde vamos almoçar agora que você já
explorou a cidade? — Perguntei enquanto
seguíamos pelas ruas.

— Não vi muitos lugares com placas em inglês


durante minha volta pela cidade… Mas achei um
restaurante de churrasco coreano que parece
interessante.

— Então vamos lá.

Sigo ela pelas ruas, algumas pessoas me olham


conforme eu passo. Tive a impressão de que os
coreanos não eram muito receptivos aos turistas.
Será que Childe também seria assim? Será que
ele será rude comigo só porque sou americano?
Honestamente, duvido disso, o Childe que
conheço não é esse tipo de pessoa, mas mesmo
assim, lá, no fundo, sinto um pouco de apreensão.

Finalmente, chegamos ao restaurante, o ambiente


acolhedor e o cheiro de comida me abrem o
apetite. No restaurante, mesas ocupadas por
casais, grupos de amigos e algumas almas
solitárias que buscavam saciar sua fome me
cercavam, de modo que foi até complicado achar
um lugar vazio. Observamos o ambiente, e meu
olhar varreu a sala, capturando detalhes da
decoração e da atmosfera que nos cercava.

Um garçom se aproximou da nossa mesa e tentou


falar algumas palavras em inglês, com um forte
sotaque. Ainda assim, seu esforço me arrancou
um sorriso, pois nem todos seriam tão gentis ao
tentar se comunicar conosco em uma língua
estrangeira.

Ele explicou o funcionamento do restaurante,


semelhante a um self-service onde poderíamos
comer à vontade, enquanto a água era servida
gratuitamente. Com um sorriso, ele nos desejou
uma refeição agradável e se afastou.

— Qual é a chance de esse garçom ser gay? —


Perguntei a Diana enquanto nos levantávamos
para servir nossas refeições.

— Na minha opinião? — Ela retrucou com um


sorriso malicioso.

— Não, na opinião do Papa. — Retruco, revirando


os olhos.
Diana fez uma careta e me deu um tapa leve no
braço antes de continuar.

— Não conheço muito os coreanos, mas pela


maneira como ele olhou nos seus olhos… Eu diria
que as chances são altas.

Peguei algumas carnes no meu prato, usando os


hashis metálicos, depois algumas folhas de alface,
o que presumi ser kimchi, e um pouco de molho.
Olhei para o garçom, que ainda estava perto de
nós, e ele retribuiu o olhar. Ele pode não ser gay,
pode ser apenas alguém amigável, mas a verdade
é que eu gostaria que fosse. Ele era realmente
atraente, seguindo o típico padrão coreano:
magro, cabelos pretos e olhos puxados.

Voltei à mesa e coloquei as carnes na chapa


quente, enquanto Diana se sentava à minha
frente.

— Acho que vou pedir o telefone dele. Será que é


ok pedir o telefone de um cara aleatório assim na
Coreia?
— Por que não seria?

— Não sei, não quero ser mal-educado. — Falo


enquanto coloco algumas carnes na chapa
quente.

— Você está se preocupando demais Glenn.


Morrerá sozinho desse jeito. — Diana diz, minha
vontade é jogar um punhado de kimchi na sua
cara, mas me contenho.

Continuamos comendo até estarmos satisfeitos.


Durante o almoço, troquei alguns olhares com o
garçom, e a cada olhar, tinha mais certeza de que
ele poderia ser gay.

Mais algumas pessoas olham para mim e para


Diana conforme entram no restaurante,
infelizmente, nem todas parecem contentes de
nos ver. Algumas pessoas nos lançaram olhares
ríspidos, como se nossa simples presença fosse
um incômodo.

Após nos fartarmos, pedi a conta, e outro garçom


se aproximou. Uma pequena decepção se instalou
em meu coração, mas eu sabia que era hora de
tomar uma atitude.

— Eu poderia ser atendido pelo garçom que nos


serviu antes? — Perguntei, arranhando um
coreano com sotaque duvidoso.

— Claro. — O garçom diz, curva levemente seu


corpo e se afasta em direção ao garçom que nos
atendeu antes.

Senti minhas bochechas corarem enquanto os


dois conversavam. Eles pareciam amigos pela
forma como interagiam. O segundo garçom
cutucou levemente o amigo e disse algo baixo que
fez o outro ficar vermelho antes de se aproximar
de nossa mesa.

— Olá, aqui está sua conta. Obrigada pela


preferência. — Ele diz, ainda corado.

Peguei a conta de suas mãos e paguei com o


cartão de crédito. Em seguida, olhei para o
garçom, que, ao contrário das outras vezes,
parecia ter dificuldade em me encarar nos olhos.
— Você poderia me passar seu número de
telefone? — Perguntei quando entreguei a conta
de volta a ele.

Ele olha para mim, seu rosto está tão vermelho


que ele parece prestes a explodir. Ele não diz
nada, apenas assente com a cabeça, então
estendo meu aparelho celular para ele. Que
rapidamente grava seu número e me devolve.
Confiro o número novo marcado como “Kim
Ji-Hoon” e sorrio.

— Obrigado Kim.

— De nada. — Ele diz e se retira.

— Você é um filho da puta sortudo, ele é um gato.


— Diana diz com um tapa em meu ombro.

— Sou um gato Di, é por isso. Agora vamos que


preciso me arrumar para conquistar o Childe. —
Respondo com uma risada.

Saímos então do restaurante e damos uma volta


rápida por Busan. Entramos em algumas lojas,
tiramos fotos em um tipo de loja cheia de cabines
de foto, compramos sorvete e seguimos para o
hotel. O encontro com Childe estava a apenas três
horas de distância, e a antecipação crescia dentro
de mim.
CAPITULO 4

Glenn

Ao retornarmos ao hotel, imediatamente me


apressei em escolher uma das poucas roupas que
havia se dado ao trabalho de pendurar. Uma calça
preta adornada com correntes, um cinto de couro
igualmente preto e, na parte superior, uma
camiseta branca impecável sob um colete preto
fechado, criando uma sobreposição moderna.

Diana, por sua vez, corre até o banheiro com a


desculpa de que ela precisa tomar banho primeiro
porque demora mais para se arrumar. A demora é
tanta que consigo separar tudo o que preciso na
quase meia hora que Diana leva para tomar
banho.
— Meu Deus, Diana, achei que você tinha morrido
lá dentro. — Digo quando ela finalmente sai.

— Que exagero Glenn, eu nem demorei tanto


tempo assim. — Ela retruca com um biquinho.

— Imagina se tivesse demorado. — Resmungo


antes de finalmente entrar no chuveiro para o meu
próprio banho longo.

Tomo um banho realmente demorado para os


meus padrões, levo o tempo de mais ou menos
umas seis músicas para lavar todo meu corpo e
cabelo. Só então saio debaixo da água quente,
enxugo meu corpo, seco o cabelo e passo
pomada para dar um volume mais estiloso, me
visto e finalmente saio.

Diana esta terminando de se maquiar quando a


vejo, vestida com uma saia preta justa e curta e
uma camiseta larga, que chega até a altura do seu
umbigo, e possui o rosto do Childe estampado.
Nos seus pés, botas que subiam até suas coxas, e
pulseiras adornando seus braços.
— Uau, você vai realmente conquistar ele assim.
— Digo para ela, admirado com sua beleza.

— Não acha que eu exagerei? — Ela responde,


insegura.

— De jeito nenhum, garota, você está deliciosa. —


Digo e ela dá risada.

— Você também não está nada mau. — Ela diz


enquanto passa rímel nos olhos. — Quer fazer
maquiagem?

Acabo aceitando um corretivo embaixo dos olhos


apenas, em seguida capricho no perfume coloco
um tênis preto e algumas correntes no pescoço.
Olho no espelho e realmente gosto do que vejo. A
roupa é bem moderna, meu cabelo está
perfeitamente arrumado e meus olhos parecem
brilhar. Tiro uma foto e posto nos stories do
Instagram, marcando o Childe e a Diana — que
aparece no fundo.

Cerca de meia hora se passa até que tenhamos


saído, Diana levando uma sacola cheia de
pôsteres e CDs do Childe, enquanto levo apenas
minha presença e os ingressos. Quando
chegamos de táxi ao local do evento, ainda faltava
mais de uma hora para o início, mas a fila já
estava se estendendo, incrivelmente organizada.

Diversos tipos de pessoa compõem a fila


quilométrica, homens, mulheres e crianças de
todas as idades. Música envolve muito mais que
um perfil ou uma faixa etária. Alguém na fila puxa
um dos últimos sucessos de Childe, e é a coisa
mais linda quando todas as mais de 150 pessoas
cantam em coro.

Desse momento em diante é pura diversão, ainda


que cada pessoa ali seja de um lugar diferente
conseguimos nos comunicar bem. Tiro fotos com
fãs que nunca vi na vida, ganho alguns pôsteres e
até uma pulseira de uma brasileira muito
animada.

Quando ouço alguém gritar “AH MEU DEUS É O


CHILDE” é que meu coração dispara e minhas
mãos começam a suar. Ali, a poucos metros de
distância de mim, o maior astro da música passa,
de óculos escuros, acena com a mão e faz um
coração com os dedos, antes de entrar no lugar.
— Era realmente o Childe. — Diana diz com uma
voz chorosa. Olho para ela e seu rosto está
banhado de lágrimas.

Passo meu braço em volta dela e seco suas


lágrimas com a outra mão com delicadeza. Diana
sorri e olha nos meus olhos, seu olhar dizendo
muito mais do que seus lábios.

— Vocês são namorados? — Ouço alguém


perguntar em inglês.

— Somos amigos. — Respondo me virando em


direção à voz.

— Sério? Poderia jurar que havia uma química


forte entre vocês… — Ela começa, mas logo
interrompo.

— Sou gay.

— Ah, desculpa. Sou Madelyn, Texas. — Ela diz e


estende a mão.
— Glenn, Missouri. E essa chorona aqui é a
Diana. — Respondo, em seguida sinto a mão de
Diana me batendo com um tapa nas costas.

— Você trouxe maquiagem para retocar? —


Madelyn pergunta desviando a atenção de mim
para Diana, que apenas nega com a cabeça. —
Ah, merda. Daremos um jeito nisso.

Madelyn começou a vasculhar sua bolsa. Eu não


tinha ideia de como ela poderia ajudar, já que a
garota era quase tão branca quanto eu, enquanto
Diana era negra. Talvez ela tivesse uma paleta de
corretivos com várias tonalidades, pensei
enquanto observava as garotas, entretanto, logo
minha atenção foi desviada, afinal, a fila começou
a se mover.

Assim que adentramos o evento, as meninas


somem em direção ao banheiro, enquanto sigo até
uma das muitas lojinhas vendendo produtos
oficiais do Childe. Ali, compro os três CDs que ele
já lançou, apesar de já tê-los em casa. Compro
uma camiseta e uma água, então sigo até a
próxima fila. A fila que me dá direito a poucos
minutos na presença do astro.
— Preciso do meu ingresso. — Ouço a voz de
Diana quando já estou perto de entrar.

Olho para ela que está perfeitamente maquiada de


novo e estendo o ingresso em sua direção.

— Você está na fila? Posso ir lá com você.

— Estou com a Madelyn Glenn, não precisa. —


Ela diz, mas sua voz soa estranha.

— Está chateada que eu não te esperei?

— Não estou chateada com você. Eu só estou


com a Madelyn, não preciso de você. — Ela diz e
eu arregalo os olhos, chocado com suas palavras.

— Ok.

— Não leve a mal, Glenn, você também não


precisa de mim.

— Eu só achei que esse era o NOSSO momento,


não o momento seu e da Madelyn.
— Não seja ciumento, você sabe o quanto eu te
amo. — Ela diz e bagunça meu cabelo. — Agora
vai lá, está quase na sua vez.

Diana tem razão, quando olho para minha frente


as pessoas que ainda estavam ali sumiram, tem
apenas uma pessoa que entra na sala com o
Childe no exato momento em que olho para a
frente.

O segurança que está recebendo as pessoas olha


para mim e pede meu ingresso, que entrego
imediatamente. Meu coração está acelerado
enquanto espero minha vez que está tão próxima.
Nem consigo ter tempo para me preocupar com o
jeito estranho de Diana.

— Pode entrar. — O segurança finalmente diz


quando a pessoa que estava lá dentro sai com
lágrimas nos olhos.

Sigo por um pequeno corredor de paredes


brancas que dão em uma saleta onde Childe
espera sentado em frente a uma mesa retangular
de vidro, cercado de uma duzia de seguranças.
Sinto minhas mãos suarem ainda mais conforme
eu me aproximo. Childe está simplesmente
maravilhoso, usando um blazer branco, camiseta
preta e calça jeans escura.

Chego a sua frente e coloco os CDs em cima da


mesa, minhas mãos chacoalham conforme eu
faço o movimento e sei que ele percebe.

— Olá! Estou feliz em te conhecer. Qual o seu


nome? — Ele pergunta, mas parece algo
automático, seus olhos sequer encontram os
meus.

— Glenn. Glenn Moss. — Respondo, ao mesmo


tempo, nervoso e levemente decepcionado.

Childe pega os CDs que estendi em sua direção e


os analisa. Posso ver seu cenho franzindo e ele
finalmente levanta os olhos até os meus. Sua
expressão repleta de curiosidade.

— É um presente? — Ele pergunta.

— Não, são meus. — Respondo usando meu


coreano precário, sem entender onde ele quer
chegar.
— Você nem tirou do plástico. — Ele diz
simplesmente, seu tom parece levemente
frustrado.

— Esses são novos. — Digo e desvio os olhos. —


Não queria estragar. Esses deixarei guardados.

— Você comprou outro, especialmente para isso.


— Ele finalmente entende, seus olhos brilham. —
Legal. A maioria das pessoas nem ouve CD mais,
não se importariam com isso.

— Eu me importo. — Respondo e olho em seus


olhos de novo.

Meu coração bate forte no peito, por um segundo


é como se estivéssemos em outra dimensão. Os
olhos de Childe me encaram profundamente,
quase parece que ele está desvendando cada
segredo da minha alma, eu mal consigo respirar.

— Glenn… — Ele diz com uma voz suave, como


se estivesse sentindo a pronúncia do meu nome
em sua língua. Tento evitar o sorriso, mas é
impossível, ainda mais quando cada pelo do meu
corpo se arrepiou nesse momento. — De onde
você é?

— Missouri, nos Estados Unidos. — Respondo,


mas minha voz sai apenas como um fiapo.

— Legal, vou fazer um show por lá em breve,


quero te ver na plateia. — Ele diz e sorri, ainda
com os olhos nos meus.

— Não perderia isso por nada.

Childe abre um sorriso ainda maior em resposta e


então, finalmente tira seus olhos dos meus para
assinar os discos. Respiro forte quando nossos
olhos se desencontram, quase parece que não
respirei durante todo esse tempo. Childe termina
de autografar o álbum e olha para mim
novamente.

— Vamos tirar uma foto. Venha aqui do meu lado.


— Ele diz e chama um dos seguranças com a
mão, pedindo que ele se aproxime.

Entrego meu celular ao homem que deve ter o


dobro do meu tamanho e me encaminho ao lado
de Childe. Fico lado a lado com ele, meu corpo
superando o seu por alguns centímetros de altura.
Não sei o que fazer com as mãos, então apenas
fico ali, reto e imóvel, feito uma estátua.

— Pode colocar a mão na minha cintura, se


quiser. — Childe diz baixo, ele não usa um tom de
voz sensual ou algo do tipo, mas para mim é como
se o tivesse feito.

Não tem um único pelo do meu corpo que não se


arrepie. Meu interior parece esquentar como se eu
tivesse com febre, meu coração está tão
disparado que dói.

Passo minha mão pelas costas de Childe e sinto o


tecido da sua roupa, enquanto ele passa o próprio
braço em torno de mim. Seu toque é forte, apesar
do seu porte magro. Ele me segura pela cintura e
faz com que eu me aproxime ainda mais dele.
Estamos tão próximos que posso sentir seu
cheiro. Um cheiro ao mesmo tempo, suave,
fresco, limpo e também algo forte e almiscarado.

Apenas poucos segundos se passam enquanto o


segurança tira fotos de nós dois, Childe faz um
coração com os dedos da mão livre, mas estou
nervoso demais para fazer o mesmo. Pouco
tempo depois o segurança anuncia que já havia
tirado as fotos, e me surpreendo com Childe
pedindo que tire fotos com o celular dele também.

— Estou tirando algumas com meu celular para


fazer um conteúdo para as redes sociais. Apenas
com alguns fãs… Que eu me sinto mais a
vontade. — Ele esclarece e eu assinto.

Novamente o momento acaba rápido demais.


Demoro um segundo a mais que o necessário
para tirar minha mão das costas de Childe.
Enquanto ele retira a sua rapidamente. Seus
dedos acabam roçando meu braço devido à
rapidez com que ele se afasta, mas me sinto
sortudo por isso.

— Foi um prazer te conhecer Glenn. Nos vemos


em Missouri. — Ele se despede com um sorriso e
estende a mão para mim.

Aperto sua mão e finalmente posso sentir a


textura suave de sua pele. Olho fixamente para
Childe de novo, sem me importar com o que ele
pensará, apenas sabendo que são os últimos
segundos que estarei frente a frente com ele
dessa forma. Faço um carinho suave por sua mão.
O momento é tão intenso que sinto meu corpo
despertar, o rubor sobe pelo meu rosto conforme
meu pau fica ereto, justamente no momento que
Childe se afasta de mim e desce os olhos.

Estou tão envergonhado quando me afasto, que


nem olho para trás. Apenas recupero meu celular
e os discos e me retiro praticamente correndo.
Conforme saio, a última coisa que ouço de Childe
é um pedido de alguns segundos antes do
próximo fã entrar. Parte de mim quer acreditar que
ele nada notou, mas outra parte se pergunta se
isso teria algo haver comigo. Talvez ele tenha
ficado com nojo.
CAPÍTULO 5

Childe

A luz da manhã irrompe pela fresta das cortinas,


invadindo meu quarto e me arrancando de um
sono agitado. A primeira coisa que sinto é uma dor
pulsante na cabeça, como se alguém estivesse
martelando minha testa. Com esforço, estico a
mão até a mesa de cabeceira e pego meu celular.
Um olhar rápido no visor revela o pior cenário
possível: estou quase duas horas atrasado para
meus compromissos do dia. Merda.

Com dificuldade, saio da minha cama confortável


e arrasto-me até o banheiro. Um banho é a única
coisa que me ocorre para aliviar a dor de cabeça
que me atormenta. Ligo o chuveiro e deixo a água
quente cair por cima de mim, lavando meu corpo e
minha alma. Quando termino, faço minha rotina da
manhã e pego o celular para verificar as notícias.
Muitas páginas falam de mim, mas nenhuma
manchete chama a minha atenção.

Depois de um certo tempo, percebo que não


posso mais ficar procrastinando. Abandono o
celular na bancada do banheiro e me dirijo à
cozinha, onde um aroma tentador de café
recém-preparado paira no ar, misturando-se com o
cheiro reconfortante do meu pão favorito. Não
hesito em encher uma xícara com o café quente e
devorar meu pão com pressa. O prato e a xícara
sujos são deixados negligenciados na pia, não
tenho tempo sequer para fazer o mínimo.

Com passos apressados, chego à garagem e


entro no meu carro. Disco o número de Jung, meu
melhor amigo, e ativo o viva-voz enquanto espero
ele atender. A voz dele surge do alto-falante do
carro no terceiro toque.

— Espero que esteja vindo para a empresa, o


senhor Kim está ficando louco por aqui, e está
deixando todos nós loucos junto com ele. — A voz
de Jung é uma mistura de preocupação e
reprovação.

— Sim, estou indo. Consegue arrumar dois


comprimidos de analgésico para mim? Minha
cabeça parece que vai explodir. — Minha voz soa
cansada até mesmo para mim, e o dia está
apenas começando.

— Eu disse para você não beber tanto ontem,


Childe. Mas você é um grande teimoso. — Jung
faz uma breve pausa antes de ceder. — Vou pegar
os comprimidos para você.

— Obrigado, chego aí em alguns minutos. —


Agradeço e encerro a ligação.

Jung e eu nos conhecemos na empresa onde


trabalhamos, a Vibe Entertainment. Quando
cheguei como novato, ele já estava na carreira há
algum tempo. Em vez de me ver como um rival,
ele me estendeu a mão e se tornou meu amigo.
Sou profundamente grato a ele por isso e por
todas às vezes que me ajudou a enfrentar
desafios.
Quando finalmente chego à empresa, estaciono o
carro e praticamente corro até a sala do senhor
Kim, meu empresário. Jung está encostado ao
lado da porta, segurando uma garrafa de água e
uma cartela com dois comprimidos. Pego-os
rapidamente e os engulo com a água gelada.
Jung, por sua vez, me lança um olhar que indica
que os desafios estão apenas começando.

— Posso saber onde o senhor estava? — Kim diz


com uma voz firme, mas comedida assim que
abro a porta.

— Tive um imprevisto em casa. — Minha voz sai


em um murmúrio, evitando confrontar seus olhos
severos que agora me encaram.

— Não preciso falar com você de novo, certo


Childe? Não posso aceitar esse seu
comportamento irresponsável. Hoje é um dia
importante e você precisa levar tudo isso muito
mais a sério do que leva. Você não é uma criança
mais, então já passou da hora de agir como um
homem. — Seu rosto estava vermelho, e ele
enfatizou cada palavra com uma intensidade
palpável. Eu não ofereci resistência, apenas
permiti que ele expressasse sua desaprovação.

— Desculpe, senhor Kim. — Minhas palavras


eram um reconhecimento do erro, uma aceitação
das consequências.

— Não faça isso de novo. Agora vamos, temos


muito trabalho pela frente.

O dia se desenrola velozmente, e eu sou


arrastado de um lado para o outro, orientado
repetidas vezes sobre como devo interagir com os
fãs. Embora tenha uma equipe de seguranças me
acompanhando o tempo inteiro, compreendo a
necessidade de precaução, pois alguns fãs podem
se tornar histéricos na proximidade de seu ídolo.
Portanto, ouço repetidas vezes a advertência de
não aceitar nenhum alimento ou bebida dos fãs e
de não permitir que eles me toquem. Concordo
com veemência a cada repetição, mas, após a
quinta vez, começo a sentir que estão me tratando
como uma criança.
Após toda essa enxurrada de conselhos, sou
jogado de um lado para o outro, seja por uma
equipe de maquiadores, estilistas ou de
cabeleireiros. Cada gesto é meticulosamente
planejado, cada detalhe considerado para criar a
imagem perfeita que devo apresentar ao mundo.

A medida que o momento de ir para o local do


evento se aproxima, um arrependimento sutil
começa a se insinuar em meu peito. Estou
exausto, uma ressaca leve persiste, e tudo o que
desejo é passar o dia na minha cama
aconchegante. Mas, em vez disso, serei forçado a
sorrir e apertar a mão de duas centenas de
pessoas, droga.

Apesar de tudo isso, quando finalmente chego ao


local do evento e sou recebido por uma multidão
que grita meu nome e expressa seu amor por
mim, meu sorriso é genuíno, não há necessidade
de fingir. É verdadeiramente gratificante perceber
como minha música toca o coração de tantas
pessoas.

Sigo em direção à sala onde o meet&greet


acontecerá, encontrando o senhor Kim já
presente. Ele não perde tempo em reiterar as
instruções de segurança.

— Lembre-se, Childe, nada de aceitar comida ou


bebida, e não permita que as pessoas toquem em
você. Há muitas pessoas lá fora, e nem todas
podem ser confiáveis. É preciso ter cuidado.

— Entendi senhor Kim. Não sou uma criança,


entendi isso da primeira vez. — Resmungo.

— Estou falando sério Han-Gyeol.

— Eu também. Tem uma duzia de seguranças


aqui. E eu tomarei cuidado, nada de ruim
acontecerá. Relaxe.

— Certo… Certo, mas qualquer coisa… — Ele


começa, mas o interrompo.

— Chamarei os seguranças, senhor Kim. Não se


preocupe.

— Ok. Vou relaxar, eu consigo relaxar. — Ele diz e


respira fundo, embora nesse momento ele pareça
tudo, menos relaxado. — Vou liberar a primeira
pessoa para entrar, qualquer coisa, estarei ali nos
fundos.

— Ok. — Digo e respiro fundo, está na hora de


receber meus fãs.

Ao abrir as portas, sou imediatamente inundado


por um mar de amor e carinho vindos de cada
pessoa que enfrenta a fila para me conhecer. É
uma sensação única, completamente diferente de
um show, diferente de qualquer outra coisa. Sentir
tanto amor é simplesmente avassalador. No
entanto, o cansaço começa a pesar sobre meus
ombros. Os comprimidos que tomei para aliviar a
dor de cabeça estão começando a me deixar
sonolento, e percebo que, após receber a décima
pessoa, minha receptividade não está há altura do
que deveria ser.

Isso me deixa triste, estou de mau-humor o dia


inteiro, mas amo meus fãs e realmente queria que
cada um que entra aqui tivesse uma experiência
inesquecível. Se fosse em qualquer outro dia, eu
não estaria agindo como uma velha ranzinza,
Jung tinha razão. Eu não devia ter bebido tanto.
— Olá! Estou feliz em te conhecer. Qual o seu
nome? — Digo de forma automática quando uma
nova pessoa surge em minha frente.

— Glenn, Glenn Moss. — Ele diz, sua voz parece


fraquejar quando as palavras saem de sua boca.

Minhas mãos se estendem na direção dos álbuns


que ele colocou diante de mim, e uma surpresa
misturada com frustração toma conta da minha
mente quando noto que eles ainda estão envoltos
no plástico protetor. Um pensamento perturbador
me ocorre: ele planeja vendê-los no eBay?

— É um presente? — Indago, usando o inglês


para garantir que entenda minha pergunta.

— Não, são meus. — Ele responde em coreano,


seu coreano é carregado de sotaque e acho fofo
que ele tenha se preocupado em tentar falar na
minha língua, ainda que claramente não seja
muito bom nisso.

— Nem mesmo tirou do plástico. — Comento,


curioso sobre sua motivação. Por que manter os
álbuns intactos?
— São novos. Não queria estragar. Esses deixarei
guardados.

No instante em que entendo sua intenção, sinto


uma onda de felicidade me envolver. Um sorriso
genuíno se forma em meus lábios.

— Você comprou outro, especialmente para isso.


Legal. A maioria das pessoas nem ouve mais
CDs, não se importariam com isso. — Compartilho
minha surpresa e alegria.

— Eu me importo. — Ele responde com


sinceridade, seu olhar fixado no meu.

Nossos olhos se encontram, e meu coração bate


descompassadamente no peito. Perco-me na
profundidade de seus olhos azuis por alguns
momentos, então pergunto de onde ele é.

— Missouri, nos Estados Unidos. — Ele responde,


confirmando minhas suspeitas de que ele é
americano.
— Vou fazer um show lá em breve, espero te ver
na plateia.

Apesar de minhas palavras, nenhum show nos


Estados Unidos está planejado em um futuro
próximo. Precisarei tomar medidas para tornar
isso realidade. Farei o que for necessário para
convencer o senhor Kim a marcar um show por lá.

A reação de Glenn é cheia de entusiasmo,


aquecendo ainda mais meu coração. Sinto meu
estômago se contorcer e minha respiração se
torna irregular. Tiro meus olhos dos seus e foco
em assinar os álbuns para distrair minha mente do
foco nesse garoto.

“Para Glenn, com muito carinho. Espero que se


lembre desse dia para sempre.
Childe Han-Gyeol”.

Escrevo essa mensagem nos álbuns e volto meu


olhar para ele. Percebo que ele parece pronto
para se despedir, mas não quero que ele vá
embora ainda. Então o chamo para uma foto ao
meu lado.
Com uma expressão nervosa, Glenn se aproxima
de mim. Contudo, ele mantém uma distância
segura, evitando que nossos corpos se toquem.
Isso me frustra, e eu deliberadamente ignoro
todas as regras de segurança que ouvi tantas
vezes, sugerindo que ele coloque a mão em
minha cintura. Meu coração acelera quando ele,
apesar de nervoso, obedece e posiciona sua mão
com cuidado.

Estendo meu próprio braço até ele e puxo seu


corpo levemente na direção do meu. Tiramos
diversas fotos, mas para prolongar ainda mais o
momento peço fotos com meu celular também,
não quero que esse momento passe batido para
mim. Invento uma desculpa trivial para justificar
essa decisão, e ele não parece se importar.

Tudo acaba antes do que eu gostaria, me afasto


dele, mas não sem antes roçar levemente meus
dedos em seu braço. Sinto sua pele e meu corpo
aquece. Não queria que esse toque se resumisse
a um simples roçar de dedos, mas, tem tantas
pessoas na fila, tem tantas pessoas vigiando
meus passos que não posso fazer mais do que
estender minha mão para ele.
Glenn aperta minha mão com firmeza, e nossos
olhos se encontram mais uma vez. Parece que o
azul de seus olhos fica mais profundo nesse
momento. Respirar se torna um desafio quando
ele me olha intensamente, seus dedos fazem um
carinho leve em minha mão. Preciso que esse
menino se afaste, ou acabarei beijando-o aqui
mesmo. Na frente de todas essas pessoas.

Tiro minha mão da sua, interrompendo o toque


que abala meu coração. Mal consigo respirar
nesse momento, apenas desço os olhos por ele,
tentando fixar em minha memória cada detalhe de
seu corpo. É nesse momento que percebo que…
Puta merda.

Não tenho tempo de pensar em algo para dizer,


antes que ele praticamente corra para fora. De
qualquer forma, o que eu poderia dizer? O que eu
poderia fazer? Quando estou tão abalado quanto
ele.

— Preciso de um minuto. — Digo aos seguranças


antes de pegar meu celular de volta e
praticamente correr para a sala dos fundos, anexa
a essa.

Senhor Kim está sentado em um sofá ali, e passo


por ele tentando ao máximo disfarçar minha
situação.

— Childe? Está tudo bem? — Ele pergunta


apreensivo. Merda agora ele ficará de olho em
mim porque está preocupado.

— Só preciso ir ao banheiro. — Respondo


automaticamente, ele acena com a cabeça e volta
ao celular.

Respiro aliviado quando entro no banheiro e


percebo que ninguém veio atrás de mim. Tiro o
celular do bolso e abro na galeria. A foto ficou
muito bonita, Glenn tem olhos verdadeiramente
lindos e eles estão brilhando ao meu lado.

Ao olhar para a foto, minha mente volta para o


momento em que apertamos as mãos, seu olhar
devorador nos meus olhos, o carinho de sua mão
na minha… E o volume em suas calças.
Não tenho dúvidas sobre o que rolou ali, até
porque se ele tivesse olhado para além dos meus
olhos, teria percebido o mesmo volume nas
minhas próprias calças.

Abro a braguilha da calça e tiro meu membro para


fora, ele chega a estar dolorido de tão duro. Desço
minha mão sobre ele e seguro firme, minha mente
viaja enquanto penso no que poderia ter
acontecido senão tivéssemos cercados por tantos
seguranças.

Eu o teria puxado em minha direção e tomado sua


boca na minha. Minhas mãos correriam por sua
pele, por baixo da roupa. Me ajoelharia em sua
frente e liberaria o seu pau para envolvê-lo com
minha língua até ele se derramar em mim.

— Porra. — Gemo baixo enquanto aumento minha


velocidade com a mão. Em poucos momentos
estou gozando no vaso sanitário.

Respiro fundo antes de me limpar e me vestir


novamente. Pego o celular e abro-o no Instagram
usando uma conta que ninguém sabe que me
pertence. Abro a pesquisa e digito “Glenn Moss”,
logo vejo seu rosto com um lindo sorriso em seus
lábios.

Abro sua página e vejo seus stories, fotos de


lugares pela Coreia bombardeiam meus olhos. Até
que vejo algo que faz meu coração bater
apertado.

Glenn, em uma sequência de fotos com uma


mulher negra. Eles estão abraçados e sorrindo
com ar de felicidade. Em seguida uma foto num
espelho de hotel, meu nome está marcado na foto
e o dela também. Mas, o que verdadeiramente me
choca é o que posso ver na foto, duas malas, uma
rosa e uma preta. Uma cama, com os dois lados
bagunçados e a mesma mulher negra se
arrumando no fundo.

Clico em seu perfil e abaixo pelas fotos, não


demora até que encontre Glenn, em uma foto com
ela. Suas bocas estão coladas e na legenda
embaixo diz “amor da minha vida todinha
@oglennmoss” no meu peito sinto uma mistura de
raiva e tristeza. Pelo visto, eu estava apenas
imaginando coisas. Me senti tão abalado com
aquele homem que me deixei levar pela fantasia.
Não importa, afinal eu provavelmente nunca vou
vê-lo novamente.

Levo alguns segundos para me recuperar e


atender o resto dos meus fãs, até que olho para a
pessoa em minha frente e meu coração dispara,
cheio de sentimentos que não deveria sentir. Não
tenho dúvidas quando olho em seu rosto, é ela. A
namorada de Glenn.
CAPÍTULO 6

Glenn

Após o meu encontro com Childe, levo algum


tempo para me recompor. Meu coração continua a
bater descompassado quando me aproximo de
Diana e Madelyn na fila. Elas estão de costas para
mim, absortas em uma conversa animada e rindo.
Parecem tão entretidas que sequer notam minha
chegada.

Com cuidado, aproximo-me silenciosamente e,


com um tom de voz mais grave do que o meu
normal, encosto meu dedo indicador esticado nas
costas de Diana.
— Passa o ingresso.

O corpo de Diana se contrai instantaneamente,


consigo imaginar seus olhos arregalados antes
mesmo dela se virar para encarar-me. Quando ela
finalmente vira seu rosto na minha direção, vejo
seu alívio misturado com raiva e ela respira
profundamente.

— Que droga, Glenn, você quase me matou do


coração. — Ela diz com uma expressão furiosa.

— Bem, essa é a devolução pelo seu


comportamento babaca mais cedo. — Retruco e
mostro a língua de brincadeira.

— Peço desculpa, Glenn, fui eu que monopolizei a


atenção da sua amiga. — Madelyn intervém com
um sorriso amigável, ao qual eu apenas retribuo
com um sorriso sincero.

— Agora, a pergunta que não quer calar. Como foi


com o Childe? Ele é tão bonito pessoalmente
quanto parece? Ele foi gentil? — Diana inicia um
bombardeio de perguntas, deixando-me sem
tempo para responder antes de fazer outra
pergunta.

— Diana, vou precisar que você pare de falar para


eu conseguir responder. — Brinco, finalmente
conseguindo fazê-la fechar a boca com um gesto.

— Foi incrível. O Childe é extremamente


simpático, e tiramos muitas fotos juntos. Meu
coração disparou quando estive ao lado dele, e
ele é ainda mais lindo pessoalmente do que na
internet. — Respiro profundamente, com um olhar
apaixonado.

Prefiro guardar somente pata mim os detalhes que


fazem meu coração bater mais forte, como a
sensação de minha mão em sua cintura ou nossa
troca de olhares, essas memórias que aquecem
meu coração e farão parte das minhas fantasias e
ilusões durante muito tempo.

Acompanho as duas meninas enquanto saímos da


fila, curioso para ver como Childe tratará Diana e
se nossas experiências vão ser semelhantes. No
fundo, desejo secretamente que o encontro dela
seja diferente do meu, como se a troca de olhares
e aquela sensação mágica fossem exclusivas
entre nós.

A fila avança, e a ansiedade toma conta das


meninas. Não demora muito até que Madelyn e
Diana comecem a transpirar, suas mãos tremendo
de nervosismo.

Madelyn é a primeira a entrar, e depois de alguns


minutos, ela sai com os olhos marejados,
mostrando que sua experiência foi emocionante.
Em seguida, é a vez de Diana.

— Ele é tão incrivelmente lindo, e foi tão


simpático. Ele foi simpático assim com você
também? — Madelyn pergunta quando chega ao
meu lado.

— Sim, ele foi muito simpático. — Eu respondo,


embora me sinta um pouco desapontado ao
perceber que fui apenas mais um fã em meio a
centenas que ele conheceu hoje.

— Quando ele me chamou para tirar uma foto, e


eu quase pude tocá-lo… Fui ao céu e voltei. Você
também tirou uma foto assim com ele? — Madelyn
pergunta e exibe a foto no celular.

Na imagem, Childe está ao lado dela, mas, ao


contrário das fotos que tirei com ele, não há o
gesto de colocar o braço ao redor dela. Eles estão
separados por alguns centímetros, fazendo
corações com as mãos e sorrindo. É uma bela
imagem, mas não se compara à que tirei.

— Eu estava nervoso demais para fazer corações


com os dedos.

— Que pena, Glenn… A foto ficou tão linda. Mas


tenho certeza que a sua também ficou bonita.
Posso ver?

— Claro! — Respondo e pego meu celular no


bolso. Porém, na mesma hora Diana sai da sala.

Seu rosto parece um tanto confuso, e ela não está


tão radiante quanto Madelyn estava ao sair.
Conhecendo Diana, posso dizer que ela parece
quase… decepcionada. O que poderia ter
acontecido?
— Di, está tudo bem? — corro em sua direção
enquanto guardo novamente meu celular no bolso.

— Ele… Não foi muito simpático comigo, não sei,


parecia distante e frio… — Ela começa a dizer,
mas Madelyn a interrompe.

— Ele pareceu distante comigo também amiga,


acho que ele não pode ficar muito próximo dos
fãs. Deve ser alguma regra e... — Madelyn diz,
mas, é a vez de Diana cortá-la.

— Não, ele foi quase grosso. Parecia bravo ou sei


lá o que… Mas, no final, depois que eu já estava
saindo… Aconteceu uma coisa estranha.

— O quê? — Pergunto curioso.

— Ele perguntou se eu tinha namorado. Neguei


com a cabeça e ele só… Sorriu.

— Meu deus, amiga, ele deve ter te tratado


diferente porque gostou de você. Por isso ele ficou
feliz depois que você disse que não tinha
namorado. — Madelyn diz, seus olhos brilham
enquanto ela fala as palavras.
Não quero sentir ciúmes da minha amiga, sei o
quanto ela é linda e o quanto ela é apaixonada por
Childe. No entanto, pensar que ele poderia
realmente ter se interessado por ela machuca meu
coração. Sei que não devia ser uma novidade, eu
já sabia que Chide não era gay, eu só… Queria
poder viver minha ilusão por mais tempo.

— Não acho que foi isso, Mad. Foi tudo muito


estranho. Mas, queria que você estivesse certa. —
Ela diz, rindo fracamente. — Vamos embora,
Glenn? Estou cansada.

— Não, vocês já vão? Achei que ficaria mais


tempo. — Madelyn diz com um bico. — Vocês
ficam na Coreia até quando? Podemos marcar
alguma coisa!

— Vamos ficar aqui por mais cinco dias. Me passa


seu telefone, podemos marcar algo para amanhã
ou depois. — Diana responde com um sorriso
claramente forçado.

As meninas trocam telefones e nós entramos em


um táxi pouco tempo depois. Ao entrar no carro,
Diana coloca a cabeça em meu ombro e me
abraça. Vejo as lágrimas molharem seu rosto
enquanto ela desata a chorar.

— Madelyn deve estar certa amiga, tenho certeza


que ele gostou de você. — Digo, apesar de cada
palavra machucar meu próprio coração.

— Não Glenn, ela não estava certa. Sei disso.


Porque ele não gostou de mim Glenn, por quê? —
Diana diz chorando e tudo o que posso fazer e
passar a mão em seus cabelos enquanto a
consolo.

À medida que as horas passam, Diana parece


gradualmente recobrar a tranquilidade. Faço o
meu melhor para convencê-la de que sua
experiência foi apenas um equívoco, mas não
tenho certeza se minhas palavras tiveram algum
efeito.

— Você parece melhor. — Faço um comentário


quando o brilho da noite começa a iluminar a
cidade lá fora. Diana suspira antes de responder.
— Estou melhor, mas não estou com vontade de
sair.

— Tudo bem, acho que vou explorar a cidade


sozinho, então.

— Sabe o que você deveria fazer? Ligar para o


garçom do almoço. Quem sabe ele também está
disponível hoje. Ele era realmente bonito. — Diana
brinca com uma risada.

Penso por algum tempo, minhas possibilidades


são limitadas numa cidade onde não conheço
ninguém. Poderia sair sozinho e ficar pensando
em Childe durante toda a noite, ou posso tentar
distrair minha cabeça com alguém que realmente
parece muito legal.

— Sabe, você tem razão. Eu deveria ligar para


ele.

— Agora gostei de ver. Isso que é atitude. —


Diana diz enquanto usa as mãos para aplaudir.
Dando uma risadinha, pego meu celular, localizo o
número em meus contatos e encontro o único
nome em coreano na lista. Respiro fundo, disco o
número e levanto o aparelho até minha orelha.

O telefone toca tantas vezes que estou já


desiludido quando ouço a voz do outro lado da
linha.

— Yeoboseyo*. (*esse é o equivalente ao “alô” em


coreano)

Sinto nervosismo enquanto ouço a voz em


coreano, com medo de que ele não entenda
minhas palavras. Leva um momento até que eu
consiga reunir coragem para responder.

— Kim? Meu nome é Glenn. Você me deu seu


número no restaurante hoje cedo. — Digo em
coreano, torcendo para que ele compreenda.

— Ah, é o rapaz que pediu meu número no


restaurante?

— Isso mesmo. — Respondo, me sentindo um


pouco envergonhado.
— Certo, oi. Está tudo bem? — Sua voz parece
estranha, talvez devido ao nervosismo ou à
timidez.

— Sim, gostaria de saber se você tem algum


plano para esta noite…

— Hoje? Eu estava considerando ir a um


restaurante.

— Ah… Entendi. — Digo, tentando conter minha


decepção.

— Quer vir comigo? Podemos nos encontrar em


frente ao restaurante onde nos conhecemos daqui
a uma hora e meia. O que acha?

— Ótimo.

— Nos vemos depois então, tchau Glenn. — Ele


diz e em seguida encerra a ligação.

Um sorriso radiante se espalha por meu rosto, e


até dou alguns pulinhos de alegria enquanto olho
para Diana.
— Vou encontrá-lo daqui a uma hora e meia.

— Puta merda Glenn. Você é um filho da mãe


muito sortudo. — Diana se anima e levanta da
cama. — Ótimo, agora vamos arrumar você.

Passo a próxima hora me arrumando com ajuda


de Diana, que milagrosamente se animou e até
convidou Madelyn para vir passar um tempo com
ela. Ela escolhe uma roupa para mim, ajuda a
arrumar meu cabelo e passa corretivo nas minhas
olheiras.

Quando saio do hotel estou muito bem-arrumado


e perfumado. Vestindo uma camiseta preta e uma
calça jeans com tênis. Nada muito elaborado, mas
o suficiente para parecer arrumadinho.

Caminho até o local onde combinamos de se


encontrar, as ruas estão muito movimentadas e
cheias de pessoas caminhando. Chego com
alguns minutos de antecedência, imagino que terei
que ficar esperando-o por um tempo, mas ele já
está lá nesse momento.
— Oi, estou atrasado? — Pergunto quando chego
em frente a ele.

— Não, eu que estou adiantado. Vamos? — Ele


responde com um sorriso caloroso.

— Vamos.

Caminhamos em silêncio pelas ruas de Busan até


que paramos em frente a um restaurante. Estendo
meu celular para a fachada bonita do lugar e tiro
uma foto para postar nos stories do Instagram.

— É aqui? — Pergunto.

— Sim, estava querendo vir já faz alguns dias,


mas nunca tinha um motivo para isso.

— Fico feliz de ser o seu motivo, Kim. — Digo com


um sorriso e vejo seu rosto enrubescer.

— Pode me chamar de Ji-Hoon, Kim é muito


formal. — Ele diz, desviando os olhos dos meus.

— Certo. Desculpe, isso ainda é muito diferentes


para mim. Ainda mais quando tem idols como o
Childe que usa o primeiro nome. — Respondo
para ele assim que nos acomodamos no
restaurante.

O restaurante tem um ambiente moderno, paredes


escuras com algumas pinturas e piso de madeira.
As mesas são de ferro, escuras como as paredes
e por todo o lugar uma música toca em volume
baixo.

— Alguns idols usam o primeiro nome como um


nome artístico. Alguns, como Min Yoongi,
preferem usar apelidos como Suga em vez de
seus nomes reais. E outros, como Childe, optam
por usar seus primeiros nomes. Alguns dizem até
que o nome real de Han-Gyeol nem é Childe, mas
eu não tenho como afirmar. — Ji-Hoon diz depois
de um tempo.

— Você gosta das músicas dele?

— De Childe? Sim, eu escuto algumas de suas


músicas, mas não sou um grande fã. Você parece
ser realmente fã dele.
— Na verdade, vim até aqui para conhecê-lo. —
Admito, sentindo meu rosto esquentar.

— Que sorte a minha por isso. — Ji-Hoon


responde com um sorriso.

O garçom se aproxima, entregando os cardápios a


nós dois. Dou uma olhada, mas sou incapaz de
compreender a metade do que está escrito.

— Você se importaria de fazer o pedido por mim?


Não estou muito familiarizado com a culinária
coreana.

— Posso fazer algo melhor que isso. — Ji-Hoon


diz com um sorriso gentil.

Nos minutos seguintes, Ji-Hoon explica


detalhadamente todo o cardápio. Ele lê os nomes
dos pratos e, em palavras simples, descreve os
ingredientes de cada um.

— Muito obrigada por isso.

— Foi um prazer. — Ele responde com um sorriso


e seus olhos se fixam nos meus.
Observo novamente o cardápio, agora com uma
compreensão melhor, mas ainda indeciso sobre o
que pedir. Nesse momento, algo no canto do
cardápio chama minha atenção. É um anúncio,
com uma foto de um casal se beijando com
máscaras nos olhos.

— O que é isso? — Aponto para o anúncio,


curioso.

— É um tipo de evento que acontecerá aqui


depois de amanhã. É como um encontro às cegas,
onde todos estarão vendados. Eles conversarão
com as pessoas à sua frente e podem trocar de
lugar se não gostarem da pessoa. No final, todos
tiram as máscaras e veem com quem
conversaram.

— Isso acontece antes ou depois dos beijos? —


Pergunto apontando o casal na foto.

— Se houver beijos, acontecem antes de tirar a


máscara, mas nada impede que aconteça depois
também.
— Interessante.

— Sim, já tiveram alguns assim antes, mas eu


nunca vim.

— Também nunca teve motivo?

— Exatamente. — Ji-Hoon olha nos meus olhos e


sinto meu coração errar uma batida.

Instintivamente, estendo minha mão sobre a mesa


e ele faz o mesmo, entrelaçando nossos dedos.
Durante todo o jantar, encontramos razões para
tocar um ao outro. Cada toque é carregado de
eletricidade, e a noite está sendo incrível. Tão
incrível que, quando terminamos de jantar, não
quero que acabe.

— Quer ir a algum outro lugar? — Pergunto


quando já estamos fora do restaurante.

— Não posso, tenho que trabalhar amanhã cedo.


— Ji-Hoon diz, parecendo frustrado.

— Tudo bem… — Respondo, um pouco


desapontado.
— Mas tenho certeza de que nos veremos
novamente em breve, Glenn. — Ji-Hoon diz e
segura meu queixo com uma das mãos.

Nossos lábios se aproximam suavemente, e ele


me beija docemente. Eu seguro sua cintura,
desejando prolongar o momento, mas Ji-Hoon se
afasta.

— Eu realmente preciso ir, desculpe. Nos vemos


em breve, Glenn. — Ele se despede e, com um
último sorriso, vira as costas e vai embora.

Chego ao hotel com um sorriso estupido na cara,


tão feliz que parecia estar no céu. Nesse momento
nada importava, nem mesmo o fato de que essa é
uma relação fadada ao fracasso.
Diana não está no quarto quando abro a porta, e
isso me deixa ainda mais feliz. Espero que
Madelyn tenha conseguido convencê-la a sair.

Retiro o celular do bolso da calça para enviar uma


mensagem a minha amiga, mas algo cai no chão,
algo que não estava ali antes.
Apanho o papel dobrado em quatro e, ao abri-lo,
percebo que é o folheto do evento que Ji-Hoon
mencionou, o encontro às cegas.

“Por favor, venha para este evento”, está escrito


com uma caligrafia bonita.

Dou um sorriso, tendo a certeza de que estarei lá.


No entanto, minha mente se questiona: quando
Ji-Hoon colocou esse papel no meu bolso?

CAPITULO 7
Childe

Eles não são namorados, não posso deixar de


sentir meu sorriso incontrolável quando a jovem
sai da sala de meet & greet. Uma batalha interna
se desenrolou dentro de mim enquanto essa
mulher estava na minha frente. Tentei ao máximo
conter meu ciúme e manter a simpatia diante dela,
mas não sei se isso adiantou muita coisa e no
final, é uma sensação contraditória, por um lado
me sinto mal, ela é só uma fã que acabou por
estar no lugar errado e na hora errada, mas, ainda
assim, toda essa situação me deixa com os
sentimentos abalados, confuso e receoso com o
que pode ser realmente a relação dos dois.

Deslizo a mão até o bolso e retiro meu celular.


Após a interação com Glenn, decidi tirar fotos com
outros fãs, para o caso de alguém comentar sobre
isso. No entanto, não tenho a menor intenção de
compartilhar essas fotos publicamente, pois isso
seria uma admissão implícita de que não segui as
regras que tanto me foram explicadas.

Abro o aplicativo de mensagens enquanto


aguardo o próximo fã entrar na sala, decidindo
enviar uma mensagem a Jung para compartilhar
meus pensamentos e inquietações.

Childe: Por que uma mulher chamaria alguém que


não é seu namorado de “amor da minha vida”?

Leva algum tempo até que eu tenha a


oportunidade de verificar meu celular novamente.

Jung: Childe, você é chamado assim o tempo


todo, e você não está namorando nenhuma
dessas pessoas.

Childe: Não estou falando de mim. Estou me


referindo a duas pessoas comuns, que não são
famosas. Por que eles se beijariam e se
chamariam de amor se não são um casal?

Jung: Essa é uma pergunta peculiar, mesmo para


seus padrões, Childe. Quer conversar mais sobre
isso?
Childe: Mais tarde. Vamos jantar juntos!

Respondo à mensagem e guardo novamente o


celular no bolso. Infelizmente não tenho
oportunidade de pegá-lo no resto do dia, nem
mesmo depois que o último fã sai da sala, pois
logo que a porta se fecha o senhor Kim aparece.

— No final, você estava certo, Childe. Tudo correu


bem. Talvez devêssemos organizar mais eventos
desse tipo. — Ele diz numa expressão rara de
orgulho.

— Concordo, talvez pudéssemos fazer algo assim


nos Estados Unidos. — Digo já começando a
entrar no assunto.

— Sem chance. Os americanos são todos


malucos.

— Que tal planejar um show lá então, uma turnê


talvez? Começando em Missouri.

— Missouri? Não, Nova York e Califórnia são


lugares melhores para começar uma turnê, Childe.
De onde surgiu essa ideia? Recentemente, sugeri
uma turnê e você recusou categoricamente.

— Refleti melhor sobre isso. Quero fazer uma


turnê, mas algo diferente. Visitar lugares fora do
circuito tradicional. Acho que começar por
Missouri é uma boa ideia. Há muitos fãs lá, e
podemos terminar em Nova York.

— Não sei, Childe, é uma ideia a ser considerada,


mas não sei se faz sentido.

— Estou certo de que faz, senhor Kim. Quero


fazer isso o mais rápido possível, por favor.
Sempre fazemos as coisas do seu jeito. Não
podemos ao menos uma vez fazer isso da forma
que eu quero? Me dê ao menos uma chance.

— Está determinado, Childe. Por que isso é tão


importante para você?

— Quero fazer diferente do resto das pessoas. É


sempre tudo igual, às vezes parece que as
pessoas que moram em lugares diferentes não
importam. São privadas de muitas coisas, ou
precisam viajar durante horas só porque não
moram nos lugares certos, eu só…

— Vou pensar nisso Han-Gyeol. — Senhor Kim


me interrompe. — Vamos, já está tarde vou te
deixar na sua casa.

— Me deixe no Jung. Vamos sair hoje.

— O que vocês dois vão fazer? — Ele pergunta


com o cenho franzido.

— Apenas jantar em algum lugar agradável. Fique


tranquilo, não beberei.

— É melhor mesmo, Han-Gyeol. Se eu souber


que consumiu uma gota de álcool sequer, pode
esquecer a turnê.

— Sim senhor. — Respondo emburrado.

O senhor Kim entrega a chave do meu carro a um


segurança, que se encarregará de levar o veículo
até minha casa. Enquanto isso, seguimos até o
carro dele em silêncio. A condução é rápida, e em
poucos minutos estou em frente à casa de Jung,
tocando sua campainha.

Assim que a porta se abre, entro na casa, ouvindo


ao fundo o senhor Kim pedindo a Jung para ficar
de olho em mim. Jung me observa com uma
expressão interrogativa e impaciente.

— Certo, agora pode me contar o que está


havendo? — Ele pergunta, sem preâmbulos.

— Tem esse fã que estava no meet & greet. Olhei


seu Instagram e tinha muitas fotos com essa
mulher. Quando olhei o perfil dela, eles estavam
se beijando e na legenda dizia que ele era o amor
da sua vida. Mas ela disse que eles não são
namorados.

— Volta tudo Childe, me explica melhor. Não


consigo entender nada dessa sua história maluca.

Respiro fundo, frustrado, e começo a esclarecer a


história para Jung. Falo sobre Glenn, sobre como
me senti em relação a ele, sobre minha decepção
ao descobrir que ele tinha uma namorada, apenas
para descobrir logo depois que eles não eram
realmente namorados.

— Eles podem ser ex-namorados. — Jung sugere.

— A foto não é antiga o suficiente para isso.

— Eles podem ter mentido para você.

— Sei disso, mas não acho que seja o caso.


Alguma outra sugestão?

— Ela pode gostar dele, eles podem estar saindo


ou podem ser apenas amigos. Há muitas
possibilidades, Childe, mas nenhuma delas parece
explicar por que você estava bisbilhotando o
Instagram dele.

— Eu… Gostei dele. — Admito em um sussurro,


sentindo meu rosto corar.

— Há algo mais que eu deveria saber? — Jung


pergunta, eu abro a boca para responder mas ele
logo nega com a cabeça. — Não, não me diga
nada. Acho que prefiro continuar no escuro. Não
quero me envolver nas suas encrencas.
— Não estou metido em nenhuma encrenca. —
Resmungo baixo, mesmo sabendo que isso não é
exatamente verdade.

— Vou fingir que acredito nisso. — Jung diz


rolando os olhos. — Onde vamos jantar?

— Ainda não decidi. Você pode ir se arrumar


enquanto penso nisso. — Digo a Jung, que parece
prestes a dizer algo mais, mas depois desiste e
vira as costas.

Pego meu celular, ansioso por explorar as opções


de jantar, mas acabo desviando minha atenção
para o Instagram. Decido dar uma olhada no perfil
de Glenn novamente. As fotos dele com a garota
são abundantes, mas algo nelas não transmite
claramente um relacionamento romântico.
Enquanto olho seu perfil vejo que ele posta uma
nova foto nos stories.

Ao abrir a foto, percebo que é uma imagem da


fachada de um dos meus restaurantes favoritos.
Um sorriso brota automaticamente em meu rosto,
pois parece que minha escolha de jantar já foi
feita.

— Já decidiu? — Jung pergunta quando volta


depois de algum tempo.

— Sim, vamos ao Maeja Harts.

— De novo? Já fomos lá outro dia.

— Eu simplesmente adoro a comida de lá, e o


chef é um amigo meu. — Jung balança a cabeça,
concordando com relutância, enquanto seguimos
em direção ao carro.

A direção de Jung é cuidadosa, e à medida que


percorremos as ruas de Busan, aproveito para
colocar um par de óculos, adicionar uma camada
de maquiagem, remover o blazer que continuo
vestindo e colocar uma máscara. Jung faz o
mesmo quando estacionamos e, juntos,
adentramos o restaurante.

— Olá, gostaríamos de uma mesa. — Digo à


hostess. Ela me olha e sorri.
— Levo os senhores até o espaço reservado.

— Na verdade, hoje eu gostaria de comer no


salão principal. Seria possível? — Pergunto.

— Claro, podem me seguir.

A mulher nos conduz até uma mesa no salão


principal, ligeiramente afastada das outras.
Observo o local ao meu redor e logo encontro
Glenn, que está sentado em uma mesa distante,
na companhia de um jovem coreano.

— Onde ele está? — Jung pergunta quando a


hostess se afasta.

— Quem? — Pergunto de volta, e Jung responde


com um olhar de incredulidade e um arquear de
sobrancelhas. — Ele está na parede oposta a nós.
É o loiro que está com um rapaz coreano.

Jung olha na direção que indiquei, enquanto eu


me concentro em analisar o cardápio.

— Eles parecem um casal. — Jung comenta


depois de um tempo.
Volto meu olhar para Glenn e percebo que Jung
está certo. Os dois homens na mesa, distante de
nós, não param de trocar olhares e sorrisos. Vejo
seus dedos se tocando, e meu coração parece
prestes a entrar em colapso. Não posso acreditar
que isso esteja acontecendo.

Isso não pode acabar assim, penso, e então tenho


uma ideia. Chamo o garçom e peço um folheto do
evento que acontecerá daqui a dois dias.

— Preciso de uma ajuda. — Digo a Jung,


estendendo o folheto para ele.

— Você quer que eu vá com você? Nem pensar,


Childe. Se o senhor Kim descobrir algo do tipo, ele
nos matará.

— Ninguém ficará sabendo, todos estarão usando


máscaras. Por favor, Jung, eu ficarei em dívida
com você.

— Droga, Childe… — Jung reclama, mas acaba


cedendo. — Está bem, eu irei. Mas, saiba que
cobrarei essa dívida.
— Pode cobrar, Jung. Você é o melhor, mas, esse
ainda não é o favor que quero pedir. — Digo com
um sorriso, estendendo o folheto para ele.

— Você quer que eu entregue isso para ele?

— Não. Apenas escreva no verso, algo como “por


favor, venha a este evento”.

— E por que você mesmo não faz isso?

— Ele pode reconhecer minha letra. — Explico.


Jung solta um suspiro, mas ainda que com
relutância, faz o que eu peço.

Alguns momentos depois, Glenn se levanta para ir


ao banheiro. Nossos pratos já estão quase vazios
nesse momento. Não tenho outra opção, o
momento é agora. Sigo atrás dele até o banheiro e
entro logo atrás. Aguardo o momento perfeito
quando ele abaixa o rosto para lavar as mãos,
então discretamente coloco o papel em seu bolso
traseiro.
Saio rapidamente do banheiro e peço a Jung que
nos leve embora. Algo me diz que não quero estar
aqui quando Glenn decidir partir.

Os dois dias seguintes parecem se arrastar como


se o tempo estivesse congelado. Sinto uma
mistura de ansiedade e medo de que tudo dê
errado.

Conversei com o pessoal do restaurante e eles


deram um jeito da arrumar vendas que
possibilitem ver através delas para mim e para
Jung.

Ainda não descobri quem era o rapaz com Glenn


no outro dia, mas fiquei de olho. Estive atento às
redes sociais e não vi novos seguidores coreanos
em seu perfil, e nenhum sinal de fotos com o tal
rapaz em seus stories. Até agora, tudo indica que
eles não se encontraram novamente. Espero que
minhas suspeitas estejam certas.

Vou até a casa de Jung pouco antes do grande


evento. Não precisaremos disfarçar nossas
aparências uma vez que todos no salão estarão
vendados, mas ainda quero estar perfeitamente
arrumado. Acabo optando por uma calça social
preta bem ajustada e uma camisa social branca
com um casaco de moletom sem touca por cima.
Arrumo o casaco de modo que a gola e a barra da
camisa fiquem aparentes.

Meu amigo, por outro lado, escolhe um visual mais


casual, com jeans e camiseta, mas ainda assim
fica muito bem com essa escolha.

— Quer beber algo antes de irmos? — Ele


pergunta, dando passagem para que eu entre em
sua casa.

— Acho que é melhor não. O senhor Kim me


proibiu de beber álcool.

— E desde quando isso te impediu antes?

— Estou tentando convencê-lo a me deixar sair


em uma turnê.

— E tenta convencê-lo indo nesse tipo de evento


que ele jamais permitiria?
— Vai beber comigo? — Pergunto para fugir de
sua pergunta.

— Claro. Pedi ao motorista para dirigir o carro


hoje.

— Ótimo, então nos sirva um pouco de soju*.


Acho que preciso relaxar um pouco. (*Soju é uma
bebida alcoólica coreana, feita a base de arroz)

Quase 20 minutos depois, deixamos a casa de


Jung e seguimos para o restaurante. Consegui me
limitar a apenas um copo de soju, enquanto meu
amigo, por outro lado, já consumiu três. Parece
que, dessa vez, não serei eu a acordar de
ressaca.

Chegamos ao restaurante e várias pessoas já


estão lá dentro. O ambiente tem uma luz suave e
as mesas foram afastadas. Ainda é possível se
sentar em algumas delas, mas a maioria das
pessoas está em pé, conversando com alguém.

Damos uma volta pelo local antes de colocar


nossas vendas, embora as outras pessoas não
tenham o mesmo privilégio. Até as janelas do
restaurante têm cortinas espessas para garantir
que ninguém de fora veja quem está dentro.

Em uma das mesas, usando vendas pretas de


tecido grosso nos olhos, Glenn está sentado ao
lado da mesma mulher negra que vi em suas
fotos. Eles parecem nervosos enquanto
conversam.

Peço à anfitriã que nos acompanhe para nos


entregar nossas vendas. Ela nos fornece vendas
pretas feitas de um tecido muito fino e suave. Ela
ajusta a venda sobre meus olhos, e quase parece
que estou usando óculos escuros.

— Já sabe com quem vai conversar? — Pergunto


a Jung.

— Sim. — Ele responde, surpreendentemente


apontando para a mulher ao lado de Glenn.

— Lembre-se de que você não é o Jung. —


Sussurro em seu ouvido antes que ele se afaste.
Jung se dirige à mulher e murmura algo em seu
ouvido. Vejo-a rir e responder a Glenn antes de
seguir com meu amigo. Meu coração acelera
enquanto me aproximo e tomo o lugar onde a
amiga de Glenn estava poucos momentos antes.
Estou trêmulo e com dificuldade para respirar
enquanto, em coreano, faço minha pergunta:

— Está esperando alguém? — Glenn não


responde de imediato e só então me lembro que
diferente de mim, ele não está vendo seus
arredores. Com o barulho alto no salão, ele pode
perfeitamente não ter me ouvido sentar ao seu
lado.

Estendo meus dedos e toco sua pele levemente.


Ele puxa sua mão, assustado a princípio, mas
depois parece relaxar.

— Desculpa, não quis assustar você. — Digo,


disfarçando o tom de voz.

— Não percebi que tinha alguém aqui. — Ele diz,


rindo e acrescentando — Deve ser por causa da
venda.
— Está esperando alguém?

— Mais ou menos. — Ele responde e eu suspiro.

— Namorado?

— Não, não exatamente. Saímos apenas uma


vez.

Preciso respirar fundo antes de continuar.

— Acho que vai ser difícil você encontrá-lo por


aqui. Já que não está vendo ninguém, sabe.

— Percebi isso há pouco tempo. — Ele diz e ri.

— Posso tomar o lugar dele? Você parece ser


uma pessoa legal. — Digo, e meu coração acelera
ainda mais enquanto aguardo sua resposta.

— Você é gay? — Glenn pergunta com uma


risada. — Desculpe, acho que esse lance de não
saber com quem estou falando me deixou
corajoso. Isso e o soju que bebi agora pouco.

— Sou bissexual e você?


— Gay. Completamente gay.

— Isso é bom. Você não parece ser coreano… —


Digo para puxar assunto, apesar de já saber a
resposta dele. Seria estranho se não perguntasse
sobre isso.

— Sou americano. Vim para a coreia conhecer o


Childe. Sou muito fã dele.

— Também gosto muito do Childe. — Respondo


com uma risadinha. — Qual seu nome?

— Glenn e o seu?

— Han-Gyeol. — Digo a verdade, afinal existem


muitos outros com esse nome na Coreia.

— Como o Childe. — Ele diz e vejo seus lábios


abrirem em um sorriso.

— Sim, mas o meu nome é Choi Han-Gyeol. —


Falo a informação que nunca foi para a mídia,
meu verdadeiro nome.
— É um nome bonito. Você é de Busan,
Han-Gyeol?

— Não, moro em Seul. Vim para cá a trabalho.

— E no que você trabalha?

— Trabalho em uma empresa, lidando com


atendimento ao público. — Respondo, tentando
ser o mais próximo da verdade possível. — E
você?

— Sou fotógrafo.

— Fotografia de pessoas ou de eventos?

— Principalmente de pessoas.

— Que legal Glenn, seria um prazer fazer uma


sessão de fotos com você.

— Isso seria difícil, não trouxe meu equipamento


para cá e volto para os Estados Unidos em
poucos dias.

— Isso é uma verdadeira tristeza.


Me sinto mal em saber que ele está prestes a ir
embora. Meu peito dói e tenho ainda mais certeza
de que não posso perder a chance de estar com
ele hoje.

— Quer beber algo?

— Eu adoraria. Mas, como vamos até o bar? A


garçonete disse que seria preciso ir até lá.

— Guio você, tenho uma boa memória, uma boa


percepção e já estive aqui antes. Isso facilita as
coisas.

— Tudo bem, vou confiar em você, Han-Gyeol. —


Ele diz e se levanta.

Vou até ele e puxo seu corpo em direção a mim.


Minha mão desliza por suas costas, e o conduzo
para longe das mesas. Glenn também passa a
mão em minhas costas e me segue com passos
hesitantes.

— Você parece nervoso. — Comento.


— Estou. E você não está? Sou um completo
estranho.

— Você não é um completo estranho. Você é


Glenn, um fotógrafo dos Estados Unidos. E eu sou
Han-Gyeol, um trabalhador de Seul. O que mais
você precisa saber?

— Não sei como é sua aparência.

Suspiro, sua apreensão me fazendo ter ideias.

— Vem até aqui. — Digo com voz firme.

Puxo Glenn até uma parede mais afastada. Não


há ninguém além de nós aqui, nem mesmo
funcionários. Estamos quase nos reservados do
restaurante, e sei que, se outro cliente além de
mim e Jung aparecesse aqui, mesmo hoje, ele
seria barrado imediatamente, mas é claro que
Glenn não sabe nada disso. Eu o encosto na
parede e levo suas mãos até o meu rosto.

— Passe seus dedos por mim, assim pode ter


uma noção de como eu sou. Pode fazer o que
quiser. Menos tirar a venda.
Glenn concorda e começa a explorar minha pele.
Inicialmente, seus toques são delicados. Suas
mãos percorrem meu rosto, seguem pelas minhas
orelhas e afagam meu cabelo. Em seguida, ele
desliza a mão por meu nariz, pelo queixo e sobe
os dedos até meus lábios.

— Gosta do que não vê? — Pergunto, brincando.

— Acho que sim. — Ele responde, sua voz


soando abalada. Isso me alegra.

— É minha vez agora. — Digo antes de correr


meus dedos por ele.

Começo pela nuca, puxando seus cabelos loiros


com uma firmeza suave. Sigo até seu rosto e
passo os dedos por seus lábios carnudos,
vendo-os se entreabrirem levemente sob meu
toque. Desço minha mão por seu pescoço e paro
com a palma sobre seu coração.

— Ainda está nervoso, Glenn? Seu coração está


tão acelerado.
— Não estou nervoso. — Ele diz entre suspiros.

— Posso beijar a sua boca? — Eu pergunto,


cansado de esperar.

— Pode. — Ele responde.

Não perco um segundo sequer antes de


pressionar meu corpo no seu, e minha boca na
sua. Minha mão volta até sua nuca e puxo seu
cabelo com cuidado enquanto enfio minha língua
dentro de sua boca, ansiando por sentir o seu
sabor.

Glenn me agarra pelas costas, suas mãos


seguram firme em minha roupa enquanto o sinto
se pressionar ainda mais contra mim. Sua língua
busca pela minha e o beijo se torna voraz.

Meu coração está tão acelerado que é um


incomodo. Eu sabia que seria assim com Glenn,
sabia que ele iria mexer com cada uma das
minhas estruturas, mas de alguma forma, ainda
está melhor do que eu poderia sequer imaginar.
Levo minhas mãos a sua cintura por baixo da
camisa e o puxo ainda mais para mim. Cada parte
do seu corpo está grudada ao meu nesse
momento e não consigo evitar o gemido que
escapa por meus lábios.

Glenn afasta sua boca da minha por um momento


e ataca meu pescoço com força. Sinto que ele
deixará uma marca ali, mas não me importo.
Nenhuma marca pode se comparar à que ele já
deixou em meu peito.

Tiro minhas mãos de suas costas e a levo até seu


pau, que está duro feito rocha. Ouço Glenn gemer
enquanto forço minha mão sobre ele ainda por
cima da calça.

— Não sabia que os coreanos podiam ser safados


assim. — Ele diz com a voz brincalhona num tom
que transmite o prazer que está sentindo.

— Posso ser o que você quiser Glenn. Posso ser


doce com você ou abaixar agora mesmo e chupar
seu pau. Sou muito melhor do que o carinha que
você estava esperando.
— Você definitivamente é muito melhor
Han-Gyeol. — Ele diz com um gemido.

Não consigo evitar o sorriso que escapa dos meus


lábios convencidos. Dou uma olhada em volta
apenas para garantir que não tem ninguém. Então
abro sua calça e puxo seu pau para fora da cueca.
Envolvo minha mão sobre ele e faço movimentos
de vai e vem enquanto puxo sua boca novamente
para a minha.

O beijo é ainda mais quente do que antes. Ouvir


os gemidos que Glenn derrama na minha língua
me leva a loucura enquanto o sinto endurecer
cada vez mais.

Em minhas mãos ele chega ao orgasmo e


praticamente joga seu corpo em cima do meu,
exausto. Eu o beijo uma vez mais enquanto ele se
recupera.

— Isso foi… — Ele começa, mas o interrompo.

— O melhor beijo da sua vida?

— Definitivamente. — Ele diz e sorri.


— Também foi o melhor beijo da minha vida
Glenn, mas preciso ir ao banheiro agora.

— Eu também preciso. Posso ir com você?

— Claro.

Vamos ao banheiro e entramos em cabines


separadas. No exato momento em que soa uma
voz dizendo que podemos tirar as máscaras.

— Vamos ficar de novo Glenn. — Digo assim que


saio da cabine, já sem a máscara.

— Claro que vamos Han-Gyeol. Estou em dívida


com você. — Ele responde e eu apenas sorrio.
CAPITULO 8

Glenn
O melhor beijo da minha vida.

Ainda não consigo acreditar no que aconteceu,


enquanto sinto meu coração bater forte por causa
de um estranho. Uma pessoa que nunca vi na vida
me fez experimentar sensações que ninguém
antes conseguiu despertar. Como é possível que
algo assim seja real?

Estou nervoso ao tocar na maçaneta do banheiro.


Minhas mãos tremem levemente só de pensar que
finalmente poderei ver o rosto de Han-Gyeol. Abro
a porta e sinto meu coração acelerar ainda mais,
com cuidado, ergo o olhar até dar de cara com…

… A parede.

— Han-Gyeol? — Pergunto em voz alta, apesar


de estar nítido que ele não estava ali.

Abro as portas das cabines do banheiro, mas ele


não está em lugar algum. Não tenho seu número
de telefone, não conheço sua aparência. Ele disse
que nos encontraríamos novamente, mas como
isso pode acontecer se ele não sabe quem sou e
eu não sei quem ele é?
Me sinto desolado ao sair do banheiro, totalmente
confuso sobre o motivo pelo qual Han-Gyeol
desapareceu dessa forma. Mil e uma hipóteses
passam pela minha cabeça, mas nenhuma delas
ganha força o suficiente para parecer real.

Ainda estou baqueado quando noto Diana e


Madelyn sentadas em uma mesa, nenhuma delas
acompanhada, o que só me deixa mais intrigado.
O que aconteceu com os casais que deveriam ter
se formado messe encontro?

— Onde estão seus pares? — Pergunto as


garotas que me olham com olhares tão curiosos
quanto o meu.

Madelyn então sorri e mostra um papel com


número de telefone. Como se estivesse se
gabando de uma grande conquista, talvez esteja.

— Infelizmente Soon-Woo precisou ir embora logo


depois que tiramos a máscara, mas conversamos
bastante, e no final ele até me deu um selinho
antes de sair e disse que eu parecia uma
princesa. — Madelyn se gaba. — Os coreanos
são tão tímidos, acho que dei sorte.

— E você? — Pergunto para Diana com o cenho


franzido. Lembro de sua empolgação quando a
chamaram para conversar.

— Conversamos bastante, ele parecia muito


simpático e fez muitas perguntas. Infelizmente,
teve um imprevisto antes de chegarmos à etapa
de tirar as máscaras e precisou ir embora. —
Diana suspira. — Madelyn está dizendo que ele
era feio e ficou com vergonha.

— Se for isso, é até melhor para você. Pelo


menos você não se decepcionou, pode continuar
na expectativa de como ele realmente seria. —
Tento animá-la, sabendo que minha situação é
semelhante à dela.

— Mas e você, bonitão, onde está nosso garçom


preferido? — Diana pergunta com o cenho
franzido.

— Não o vi. Não pensei muito bem nisso. Era


óbvio que não teria como reconhecê-lo no meio de
uma multidão de pessoas vendadas. Eu deveria
pelo menos ter mandado uma mensagem para
ele. Mas, de certa forma, estou feliz por não tê-lo
feito. — Digo e cerro o maxilar, ainda frustrado
com o sumiço de Han-Gyeol.

— Como assim? O que rolou? — Madelyn


pergunta com evidente curiosidade.

— Conheci outro cara. — Respondo


simplesmente.

— E o que aconteceu com esse cara então? —


Diana pergunta.

— Ele simplesmente desapareceu. — Dou de


ombros enquanto falo.

— Como assim ele desapareceu? — Madelyn


pergunta em voz alta.

— Começando do começo, esse homem veio e se


sentou ao meu lado logo depois que Diana saiu.
Ele tocou a mão na minha e começou a conversar.
Trocamos algumas palavras e descobri que ele é
de Seul e trabalha em uma empresa de
atendimento ao público. Depois de um tempo de
conversa, ele me convidou para tomar uma
bebida, e eu aceitei. De alguma forma, acabamos
encostados em uma parede qualquer. O cara
beijava tão bem que, se ele dissesse fazer isso
para sobreviver, eu acreditaria. Foi realmente
incrível como ele colou sua boca na minha e
encostou seu corpo no meu… mal conseguia
respirar.

Paro de falar por alguns instantes antes de


continuar a história, ainda agora, só de lembrar do
nosso beijo, eu continuo com dificuldade de
respirar.

— Após passarmos um bom tempo nos pegando


ele disse precisar ir ao banheiro, como eu também
precisava acabamos indo juntos, porém na hora
que eu sai da cabine, logo após ser anunciado
que poderíamos tirar as máscaras ele não estava
mais lá, não estava em lugar nenhum. Quase
como a Cinderela que virou abóbora quando deu
meia-noite.
— A Cinderela não vira abóbora Glenn, ela perde
o sapatinho. É a carruagem que vira abóbora. —
Diana diz com uma gargalhada.

— Ele provavelmente era feio. Assim como o par


da Diana. — Madelyn levanta as sobrancelhas
enquanto diz.

— Ele não era feio. — Retruco para Madelyn com


um tom quase agressivo, sentindo uma
necessidade irracional de defender o cara que eu
mesmo nunca vi.

— Como você sabe? — Responde ela de pronto.

— Porque vi ele. — Digo, sentindo a raiva subir


por ser questionado por ela.

— Você tirou a máscara? Isso é contra as regras


Glenn. Não é capaz de seguir uma mísera
regrinha básica?

— Eu segui as regras Madelyn, não vi ele com os


olhos, vi ele com as mãos. — Sinto meu rosto
enrubescer conforme digo as palavras. Notando
apenas após dizer o quanto elas podem ter soado
ridículas.

Madelyn nem mesmo responde, ela se curva em


um riso interminável. Como se eu tivesse acabado
de dizer a mais engraçada das piadas. Seu riso
morre só um bom tempo depois, quando ela mota
eu e Diana olhando para ele de cara feia.

— Como assim viu ele com as mãos? — Diana


pergunta quando Madelyn finalmente para de rir.

— Eu estava nervoso em não saber como ele era.


Ai ele deixou que eu o tocasse para ter uma
noção. — Respondo ainda envergonhado com o
assunto.

— E como ele era? — Minha amiga pergunta,


seus olhos brilham de uma forma que parece que
estou contando realmente uma história de contos
de fadas.

— Ele tinha um cabelo incrivelmente sedoso, curto


embaixo, mas levemente volumoso na parte de
cima. Mais ou menos como o do Min-Yoongi ou o
do Childe. Sua pele era lisa e dava para ver que
não tinha marcas de espinhas ou qualquer coisa
do tipo. Ele tinha lábios macios, não muito grossos
nem muito finos, na medida exata. Magro, mas
ainda assim forte e poucos centímetros mais baixo
do que eu.

— Você definitivamente não parece estar


descrevendo um cara feio. — Diana diz.

— Se ele não é feio, o problema deve ser você,


Glenn. Talvez ele tenha dado uma espiada em
você antes de entrar no banheiro e tenha ficado
desapontado. — Madelyn provoca.

— Isso é mais estranho ainda, porque pouco


antes de eu sair do banheiro ele me prometeu que
íamos ficar de novo. Se ele não tivesse gostado
de estar comigo, sabendo ou não minha
aparência, ele não ia dizer isso.

— Tudo isso não faz o menor sentido. — Madelyn


finalmente diz e pela primeira vez na noite, todos
concordamos com ela.


O tempo passa rapidamente, e quando percebo,
estou a menos de dois dias da minha viagem de
volta.

Vou sentir falta da Coreia; Diana e eu


aproveitamos muito bem o nosso tempo aqui, às
vezes na companhia de Madelyn e Soon-Woo,
que saíram várias vezes depois do encontro às
cegas.

Não consegui sequer mandar uma mensagem


para Ji-Hoon depois do beijo com Han-Gyeol. Se
eu o fizesse, sinto que estaria apenas enganando
a nós dois e ele merece mais que isso. Choi
Han-Gyeol, conseguiu arruinar toda minha
experiência amorosa já quase inexistente. E
sequer apareceu novamente. Procurei incansáveis
vezes por seu nome nas redes sociais e nenhum
mísero sinal mostrando que ele realmente existe.
Em alguns momentos, penso que tudo o que
aconteceu não passou de um sonho ou
alucinação. Nesses momentos, foco em Childe
para lembrar que ele, pelo menos, é real e eu
sempre terei sua foto me abraçando.
Acordo cedo na manhã do meu penúltimo dia na
Coreia e juntamente com Diana seguimos até o
restaurante do hotel para tomar nosso café da
manhã.

Ambos nos servimos com pães e bolos de


diferentes tipos, além de café gelado para mim e
chá-verde para minha amiga. Sentamos em uma
mesa e vejo ela olhar as notícias — ou as fofocas
— no celular e repassar para mim as informações
que ela acha relevante.

— As coisas andam animadas para o lado do


Childe, hein. — Ela diz com as sobrancelhas
erguidas enquanto come um pedaço de pão
recheado com creme.

— O que quer dizer?

— Tem várias notícias sobre ele hoje. Para


começar essa daqui. — Ela passa o celular para
mim enquanto fala.

Na manchete uma foto enorme de Childe saindo


de um avião, escrito em letras grandes logo
abaixo “Viagem animada: Childe retorna para Seul
na companhia de um chupão”.

Passo os olhos pela foto novamente e é inegável,


Childe tem uma marca roxa, enorme em seu
pescoço. Curioso volto a ler a matéria “Já é do
conhecimento de todos que o astro mais famoso
da atualidade Childe Han-Gyeol viajou até Busan
— sua terra natal — para encontrar com seus fãs.
O que não sabíamos é que além dos fãs, Childe
parece ter encontrado alguém mais…
interessante. Em seu retorno para Seul, na tarde
de ontem, Childe é flagrado com uma marca
inegável em seu pescoço. O rapaz desconversa
quando questionado sobre o assunto 'me
machuquei na academia' ele diz, mas é claro que
ninguém acredita nisso — que tipo de aparelho é
esse que Childe está usando para deixar uma
marca como essa em seu pescoço? Nenhum,
profissionais da área respondem, 'esse não é o
tipo de marca que você ganha no treino' afirma a
personal trainer Min He-Bum. A pergunta que fica
é: quem será a sortuda que teve oportunidade de
deixar tal marca no pescoço do queridinho da
Coreia? Afinal, a cantora Hana, que até pouco
tempo atrás era vista em trocas de olhares com o
astro, não deixou Seul em momento algum.”

Apenas devolvo o celular para minha amiga, ainda


levemente perturbado com a notícia, uma frase
teimosa e iludida passa pela minha cabeça…
Podia ser eu.

— Ainda não terminou.

Diana corre os dedos no celular e estende para


mim, uma nova manchete preenche a tela “Childe
e Hana assumem namoro”.

Não faço questão de ler a matéria dessa vez,


apenas devolvo o celular para minha amiga com
meu coração doendo no peito.

CAPÍTULO 9
Childe

Preciso sair correndo quando percebo que Glenn


está prestes a sair do banheiro. Meu coração
acelerado me faz questionar qual seria o problema
em deixar que ele me veja. Sei que não serei
rejeitado, mas não quero trazer problemas
desnecessários para sua vida. Neste momento,
um relacionamento comigo seria muito mais
complicado do que Glenn pode sequer imaginar.
No entanto, planejo cumprir minha promessa de
nos encontrarmos novamente. Tenho certeza
disso.

Saio do restaurante pelos fundos e encontro Jung


já dentro do carro, esperando por mim. Sua
expressão está tensa, seus olhos parecem
perdidos, indicando que ele também terminou a
noite com tristeza no coração. Entro no carro, e os
olhos de meu amigo encontram os meus.

— Me diga que valeu a pena. — Ele diz, sua voz


carregada de emoção. Tenho certeza de que ele
não parou nos três copos de soju que tomamos
mais cedo.

— Valeu cada segundo, mesmo que o senhor Kim


possa vir atrás de mim se descobrir o que
aconteceu. E para você, foi tão desconfortável
assim?

— Pelo contrário, foi bom, e isso só torna as


coisas mais complicadas. Ela e o seu cara são
melhores amigos. Não se preocupe com os dois.

— Não estou preocupado. Tenho certeza que vou


ficar na memória de Glenn. Assim como ele ficou
na minha. — Dou um sorriso enquanto falo. —
Vocês dois chegaram a...

— Não quero falar sobre isso, Childe. — Jung me


interrompe abruptamente. — Deixo você na sua
casa ou vai para a minha?

— Vamos para a sua casa. Não quero estar em


casa sozinho hoje.

Seguimos com o carro até a casa de Jung sem


dizer mais nada. Me perco em pensamentos,
perguntando-me o que Glenn estará fazendo ou o
que pensa que aconteceu. Espero que ele não
ache que o recusei.

Assim que entro na casa, dou boa noite a Jung,


que parece não estar no ânimo para uma
conversa e sigo para o quarto de hóspedes.
Também estou sem ânimo para conversar e Jung
parece quase grato por isso. Turo minhas roupas,
dobro-as e coloco em cima da comoda que o
quarto todo em tons de bege possui, em seguida
ajeito-me embaixo das cobertas pesadas, pronto
para dormir, mas não encontro conforto.

Fecho meus olhos, mas o sono não vem. As


lembranças da noite me martirizam. Pego o celular
e abro o Instagram de Glenn, ele não postou
nada. Penso em começar a segui-lo, mandar uma
mensagem para ele e me identificar. Mas isso só
prejudicaria ainda mais as coisas. Ele vai embora
em poucos dias e eu também. Minha cabeça está
tão cheia de pensamentos que posso ver o dia
clareando por trás da cortina antes de finalmente
conseguir dormir.
Durmo por poucas horas, uma noite sem sonhos.
Me levanto sentindo meu corpo pesado, minha
cabeça parece girar, é como se eu estivesse de
ressaca, apesar de não ter bebido nada além de
um único copo de soju com Jung.

Pergunto-me como está meu amigo. Saber que se


necessário ele estaria a poucos metros de mim foi
um dos motivos para vir até a casa dele, o outro
motivo é simples, eu estava preocupado. Não
costumo ver Jung beber tanto, ou ficar tão abalado
por um encontro, também queria estar a poucos
metros caso ele precisasse de mim.

Visto minha roupa e sigo até a mesa grande de


vidro na cozinha e ele já está lá, sentado em uma
das cadeiras, com o olhar perdido enquanto seu
café esfria. Seu rosto está pálido, mas a ausência
de olheiras fundas me indica que ele ao menos
conseguiu dormir.

— Você está bem? Precisa de algum


medicamento? — Pergunto e ele leva os olhos até
mim.
Seus olhos se arregalam, e ele parece
empalidecer ainda mais. Não sei o que há de
errado, mas sei que há algo. Abro a boca para
questioná-lo sobre isso, mas ele é mais rápido.

— Childe Han-Gyeol. O que caralhos você


aprontou ontem? — Sua voz é dura e cheia de
repreensão.

— O que quer dizer? — Pergunto ainda confuso.

Jung pega o celular e o estende para mim com a


câmera ligada. Arregalo meus próprios olhos
quando percebo a marca roxa vivida, estampando
meu pescoço. Lembro-me de Glenn me beijando
ferozmente naquele lugar, mas naquele momento
eu sequer me preocupei com isso, droga.

— Vou pegar um pouco de gelo para você passar.


Acho melhor ir se preparando para os
xingamentos do senhor Kim, nenhuma desculpa
livrará você dessa vez, Childe. Como você pode
ser estupido a ponto de deixar alguém fazer isso
em você? — Jung pergunta com o maxilar
trincado e os olhos semicerrados
— Não estava pensando nisso. — Respondo em
voz baixa, ele tem razão, onde eu estava com a
cabeça?

Eu mal cheguei em Seul e em pouco tempo fui


chamado aos escritórios da Vibe para conversar
com o senhor Kim. Meu sangue ferve ao pensar
em como as coisas podem ficar feias para o meu
lado. Dessa vez, não tenho Jung para me apoiar,
meu amigo precisava ficar em Busan e resolver
seus próprios problemas, o que apenas me
perturba ainda mais.

Entro no escritório e Kim Yu-Soon está furioso,


seu rosto vermelho e suas mãos cerradas
mostram isso, antes mesmo que ele diga alguma
coisa. Seus olhos praticamente ardem quando ele
olha para mim e ordena que eu me sente.

— Tem noção de quantos jornais, revistas e sites


de fofoca estão especulando sobre essa marca
Childe? Você ao menos considerou contar para
mim antes de deixar os problemas explodirem
dessa maneira? Parece que você acha que o que
faz não tem consequências? — Ele grita e eu não
tenho o que responder, apenas abaixo meus
olhos, envergonhado.

— Quem foi a vagabunda que deixou isso no seu


pescoço Childe? Se deu ao trabalho de pedir que
ela assinasse um termo de confidencialidade?
Não, claro que não. Do contrário, eu estaria
sabendo antes dos jornais. — O senhor Kim dá
um soco na mesa, forte o suficiente para fazer
tremer levemente cada item por cima da cara
mesa de madeira.

Fico ali, em silêncio, fitando o chão enquanto ele


grita. Nessa hora, não sou uma estrela do k-pop.
Sou apenas um cara, uma criança que cometeu
um grande erro e precisa receber uma
reprimendados pais.

— Me responda Han-Gyeol. — Kim explode, sia


voz soando como um trovão.

— Não foi ninguém conhecido. — Eu disse


simplesmente.
— Quero a droga do nome Han-Gyeol. Me fala a
porcaria do nome da vadia que você comeu.

— Não é uma mulher e ele estava vendado, não


sabia quem eu era. Não fomos para a cama e não
vamos nos ver novamente. — Digo, cada palavra,
cada confissão, estilhaçando meu coração por
dentro.

— Mas é claro que vocês não vão se ver de novo


seu irresponsável, e pode esquecer a turnê
Han-Gyeol, estou muito decepcionado com você.

— Vou assumir publicamente meu namoro com


Hana. Isso silenciará a mídia. — Falo e meu
coração parece quebrar-se de vez.

Senhor Kim, me observa por um momento,


parecendo pesar as opções. Ele sequer responde
antes de pegar o telefone e começar a conversar
com uma pessoa e outra, equipe, assessoria,
empresária e até mesmo a própria Hana.

Em pouco tempo as notícias sobre o chupão dão


lugar as notícias sobre meu relacionamento. Já
até espalharam que Hana esteve em Busan antes
da minha volta e teria sido ela a responsável pela
marca.

— Agora que está tudo resolvido… — Começo,


mas o senhor Kim me interrompe.

— Não está tudo resolvido Childe.

— O que mais quer de mim? — Pergunto já de pé.

— Que você se sente. Temos muito para resolver.


— Senhor Kim responde.

Ele não está errado, acabo passando o dia inteiro


resolvendo assuntos, quando chego em casa
estou tão cansado que praticamente desmaio em
minha cama.

Acordo pela manhã com o som de passos


pesados em meu quarto. Abro os olhos
lentamente, ainda tomado de sono e dou de cara
com Hana, que anda de um lado para o outro,
exasperada.
— O que está fazendo? — Pergunto e ela olha
para mim comba cara fechada.

— A pergunta correta seria o que você está


fazendo Han-Gyeol.

— Hana, eu já disse que não gosto quando me


chama assim… — Começo, mas logo sou
interrompido.

— Claro que não. Eu não significo nada para você


não é mesmo Childe. Fui ingênua em acreditar
quando disse gostar de mim e agora estou aqui,
salvando você do falatório da mídia. — Hana
funga e seu semblante se enche de tristeza.

— Gosto de você Hana, eu só… — Não sei o que


dizer, me deixei levar pelos sentimentos? Estava
confuso? Tudo isso parece besteira nesse
momento.

— Não importa Childe. Representemos nossos


papéis. Sair e parecer um casal bonito enquanto
você precisar, mas isso é o que somos, uma
imagem de algo que nunca seremos de verdade.
— Seus olhos se enchem de lágrimas enquanto
ela fala.

— Hana… Eu não… — Tento falar, mas ela me


interrompe.

— Não importa Childe, eu nunca poderia dar o


que você precisa. — As lágrimas começam a
escapar pelos seus olhos e me sinto mal por isso,
por ser o causador da sua dor.

— Hana, isso não é verdade… Eu não sou… Eu


realmente gosto de você.

— Não o suficiente Childe. — Ela limpa os olhos


com as mãos e seus olhos tristes encaram os
meus.

Posso sentir seu coração se partindo, me


aproximo dela e a puxo em um abraço. Meus
braços envolvem seu corpo magro e ela se agarra
a mim, suas mãos segurando com força em minha
roupa enquanto ela desaba e chora no meu peito
cada lágrima que eu a fiz derramar.
CAPÍTULO 10
Childe

É tarde da noite e ainda não consegui pregar os


olhos. Não tenho conseguido dormir bem nos
últimos dias devido a incrível quantidade de
pensamentos que permeiam minha cabeça.

Para ajudar amanhã é o último dia de Glenn na


Coreia, segundo os stories que ele postou no
Instagram. E não conseguirei estar com ele antes
que ele se vá. Com turnê cancelada e sem
previsão de viagem para os Estados Unidos, não
tenho ideia de quando poderei vê-lo novamente e
isso só me desanima ainda mais.

Reviro na cama até o sol nascer, quando


finalmente canso de rolar de um lado para o outro
decido ir até a academia, visando ocupar o corpo
e a mente. Não sei quanto tempo passo treinando,
só sei que paro apenas quando meus músculos
começam a reclamar até mesmo para realizar os
movimentos mais básicos.

Subo até o quarto novamente e pego o celular, já


é quase meio-dia. Frustração invade meu ser,
preciso fazer alguma coisa, preciso dar um jeito,
mesmo que isso desagrade algumas pessoas.

Decido o que fazer sem pensar muito sobre isso.


Em poucas horas já organizei tudo, fiz as ligações
necessárias, falei com Jung, com Hana, conversei
com o piloto e arrumei uma mala simples. O último
passo é o mais difícil: ligar para o senhor Kim.

— O que foi dessa vez Childe? — Ele atende, já


com o tom de voz ríspido.

— Estou indo para Busan. Volto amanhã. —


Simplesmente solto as informações.

— Busan? Está ficando louco Childe? Você não


vai para Busan! — Ouço o grito da sua voz.

— Jung precisa de mim. Faremos um pequeno


evento. Prometi a ele que iria. — Respondo com
nervosismo.
— Evento Childe? Do que você está falando?
Você e o Jung devem ter ficado malucos se
acham que vou permitir que vocês façam um
evento em Busan, ainda mais depois do que
aconteceu.

— É justamente pelo que aconteceu, precisamos


passar uma imagem positiva para o público, e
planejo fazer isso com um concerto, para poucas
pessoas. Hana também vai, não se preocupe.

— Não me preocupar? Childe essas coisas não se


organizam assim. Demanda tempo, demanda
muito esforço. — O senhor Kim começa, mas o
interrompo.

— Já está tudo certo senhor. Avião, segurança,


equipe, lugar. Os ingressos já estão a venda. Tudo
já foi resolvido.

— Childe…

— Olha, senhor Kim. Respeito muito você. Mas,


não posso voltar atrás com minha palavra. Me
desculpe, sei que não devia fazer algo assim sem
avisá-lo, mas já está feito. — Digo firme. Espero
por alguns segundos que ele responda e grite
comigo, mas isso não acontece, então apenas
desligo a ligação.

Eu disse que tudo está certo, mas isso não é


exatamente verdade, ainda falta o mais
importante. Garantir que Glenn estará lá.

Embarco no meu jato particular rumo a Busan.


Nesse meio tempo, criei um perfil novo no
Instagram, com meu nome verdadeiro.

Coloquei algumas informações e algumas fotos


em que não é possível me reconhecer. Segui
pessoas conhecidas e desconhecidas, fiz todo o
possível para não parecer bizarro, não sei se
consegui.

O último passo foi seguir Glenn, quando clico no


botão meu coração dispara no peito. Minhas mãos
começam a suar e preciso respirar fundo. O medo
de ser descoberto me invade, a cada momento, a
cada dia, tudo parece piorar. Não tem nenhuma
possibilidade de arrastar Glenn para a bagunça
que se encontra minha vida, ele não merece isso,
mas, ao mesmo tempo, não quero ficar longe dele.

Prendo a respiração quando vejo que ele me


seguiu de volta, nem sei o que fazer quando a
notificação de uma nova mensagem aparece no
canto da minha tela. Fecho meus olhos com força,
angústia toma meu ser. Será que estou tomando a
decisão certa? Devo estar ficando louco, não é
possível.

Com a respiração ofegante, deslizo o dedo até a


notificação e abro a mensagem.

@oglennmoss: Olha só, você existe de verdade.


Cheguei a pensar que estava delirando.

Um sorriso aparece nos meus lábios, claro que ele


não percebeu que era eu. Tomei muito cuidado
usando poses estratégicas e fotos levemente
editadas no photoshop. Respiro aliviado por um
segundo, feliz como uma criança que acaba de
ganhar um brinquedo.
@choihangyeol: me desculpe pelo outro dia, não
queria desaparecer daquela maneira, mas as
coisas fugiram do meu controle.

@oglennmoss: não se preocupe com isso. Esse


perfil é novo? Não achei quando procurei pelo seu
nome.

@choihangyeol: Sim, é um perfil novo. Eu não


tenho costume de usar as redes sociais. Mas
queria falar com você.

@oglennmoss: ficou com saudade?

@choihangyeol: não tem ideia de quanta, mas,


queria te compensar pelo outro dia. Você ainda
está em Busan?

@oglennmoss: estou, mas vou embora amanhã a


noite.

@choihangyeol: lembro que você disse ser fã do


Childe, certo? Está sabendo do concerto que
acontecerá hoje a noite?
@oglennmoss: concerto? Não. Espere, acabei de
ver aqui, mas não tem mais ingressos disponíveis.

@choihangyeol: então, eu tenho alguns contatos.


Parece que só liberaram informação desse show
poucas horas antes do evento, meu chefe
conhece um pessoal e bem… Tenho dois
ingressos sobrando. Meu chefe disse que eu devia
aproveitar que continuo em Busan e ir com alguns
amigos, mas prefiro ir com você, se não tiver outro
compromisso...

@oglennmoss: está falando sério? Não brinca


comigo Han-Gyeol!

@choihangyeol: estou falando super sério. Vou te


enviar os links, você pode levar um
acompanhante. Não poderei ficar por muito tempo,
pois preciso voltar para Seul, mas, não queria
perder a oportunidade de ao menos te ver uma
vez mais. Espero que se divirta Glenn. Estou
ansioso para te ver de novo.


Falta pouco para o concerto, as cadeiras que
ocupam o grande espaço já começaram a ser
preenchidas e eu vejo, logo ali na primeira fila,
Glenn com sua amiga. Ele está bonito como
sempre, sinto meu coração acelerar no peito só de
olhar para ele.

— Não acha que está passando do limite,


inventando um show inteiro só para ver o seu
rapaz de novo, Childe? — Jung resmunga,
aparecendo ao meu lado enquanto espio por trás
da cortina.

— Sua querida acompanhante da outra noite


também está ali, Jung. — Solto a informação e o
vejo perder levemente a linha antes de coçar a
garganta e se recompor.

— Não faz diferença. Ela não sabe quem sou eu,


e continuará assim. Não sou como você Childe,
não arriscarei minha carreira por isso.

— Você não acha que ela valha a sua carreira? —


Questiono e Jung apenas fica em silêncio por
alguns momentos antes de mudar completamente
de assunto.
— Como vai fazer para se encontrar com ele? Não
pode simplesmente aparecer ao seu lado assim.

— Vou dar um jeito. Não se preocupe. —


Respondo, com tudo já planejado.

— Eu já estaria com os cabelos brancos se me


preocupasse cada vez que você faz uma merda.
— Reclama Jung, eu apenas rio do seu
comentário.

— O senhor Kim deveria aprender com você. —


Rebato, em seguida entro para o camarim.

As coisas estão pegando fogo no camarim,


integrantes dos grupos de Hana e Jung se
arrumando por toda parte, num festival de cores e
cheiros. Ignoro a todos e vou até a área da
maquiagem.

— Se eu precisasse de uma maquiagem que me


deixasse diferente do que eu sou. Para ninguém
conseguir me reconhecer, você conseguiria
realizar algo do tipo? — Pergunto a uma das
moças.
Ela me encara com os olhos semicerrados,
analisa meu cabelo e rosto por um tempo antes de
negar com a cabeça.

— Ainda vão saber quem você é. Seu rosto é


muito conhecido. Até dá para disfarçar um pouco,
mas não completamente. — A mulher diz com um
estalar de língua.

— Eu só quero, por alguns minutos, poder sentar


ao lado de uma pessoa legal e fingir que sou tão
normal quanto ele. — Faço beicinho emquanto
digo as palavras.

— Vou ver o que posso fazer. — A mulher


responde em seguida com uma expressão
obstinada no rosto.

Depois de quase uma hora sentado na cadeira,


me olho no espelho e realmente pareço alguém
diferente. Estou usando lentes de contato um
pouco mais escuras que a cor original dos meus
olhos. A maquiagem deixou meu rosto com um
formato levemente distinto e meu cabelo está
arrumado de um jeito que eu nunca usaria e
parece muito mais claro. A mulher conseguiu de
alguma forma arrumá-lo de modo que parece até
mesmo ter uns centímetros a mais.

— Fiz o melhor que pude, mas se a pessoa te


olhar por muito tempo, ainda vai te reconhecer.

— Ficou ainda melhor do que o esperado.


Obrigado. — Agradeço e me retiro.

Hana já está no palco quando saio do camarim


usando um moletom folgado e calça jeans. A luz
está baixa e isso me ajuda muito. Sigo até Glenn
com o coração na mão, medo e ansiedade me
dominando completamente. Minha respiração se
torna superficial e entrecortada quando me sento
ao seu lado e seus olhos azuis me encaram
profundamente.

— Oi, Glenn. — Forço um sorriso ainda


preocupado conforme as palavras deixam minha
boca.

— Han-Gyeol, você veio mesmo. — Ele sorri e


seu rosto parece se iluminar. — Essa é Diana,
minha melhor amiga.
Apenas aceno com um sorriso para sua amiga
que responde igualmente. Sinto que quanto mais
tempo passar por aqui, maior é o risco de ser
descoberto e isso só aumenta minha adrenalina.
O que eu faria se ele descobrisse quem eu sou?

— Você está nervoso. — Glenn diz, suavemente e


segura minha mão junto da sua.

— Desculpe por isso. — Respondo sem jeito.

— Ah, Han-Gyeol. Não precise desculpar. —


Glenn diz e me puxa para ele.

Sua mão livre segura meu rosto com força


enquanto sua boca esmaga a minha num gesto
possessivo. Seu beijo é rápido e urgente, a paixão
avassaladora desse momento tomando conta de
nossos corpos.

Me afasto dele depois de alguns segundos. Minha


boca se aproxima de sua orelha quando o chamo
para ir em outro lugar. Glenn aceita na mesma
hora.
Nos levantamos e saímos do grande teatro, mas
sinto algo de errado. Um par de olhos nas minhas
costas. Levo meus olhos até a amiga de Glenn,
mas ela parece concentrada no show.

É quando olho para o palco que tudo desaba


pelas minhas mãos, os olhos de Hana estão
cravados em mim e não importa quanta
maquiagem estou usando. O reconhecimento
brilha nos olhos dela.

CAPÍTULO 11

Glenn
Han-Gyeol realmente existe. Ainda estava
desacreditando quando recebi a mensagem no
Instagram, ainda estava desacreditando quando
recebi os links para os dois ingressos do concerto,
ainda estava desacreditando quando me sentei
nos lugares indicados e ele não estava ali. Mas
tudo mudou agora, afinal, ele está aqui, me
levando para outro lugar e eu sinto meu coração
bater de um jeito diferente.

— Ainda está nervoso? — Questiono, sentindo


sua pele fria em contato com a minha.

— Um pouco. — Responde ele, e solta um


suspiro.

Han-Gyeol parece conhecer o lugar, suas mãos


me guiam por um caminho escuro. Eu o sigo sem
questionar, talvez isso seja loucura, confiar em
alguém que vi tão poucas vezes, mas, tem algo de
diferente em Han-Gyeol, algo que eu não sei
explicar.

Quando chegamos a um canto escuro, onde mal


consigo ver um palmo em frente ao meu rosto, ele
para. Suas mãos me puxam para ele e eu sinto
seu corpo firme, colado ao meu.

— Tinha esperança de poder olhar melhor para o


seu rosto dessa vez. — Reclamo e ele apenas dá
uma risadinha em resposta.

— Não quero que as pessoas me vejam fazendo o


que quero fazer com você Glenn. — Ele diz com
uma voz levemente rouca que me

Toda a apreensão parece ter deixado o corpo de


Han-Gyeol nesse momento. Ele parece entregue
quando seus olhos escuros encaram os meus
intensamente. Todo o ar parece abandonar meu
corpo nessa hora, perdendo-se na intensidade
desses olhos.

— Vou sentir falta de você. Já senti sua falta


nesses dias. — Ele diz com uma voz doce e passa
a mão pelos meus cabelos.

Não tenho tempo de responder antes que sua


boca encontre a minha. Seu beijo começa doce,
quase como se ele quisesse gravar esse momento
em sua memória.
Seus lábios encontram os meus com calma e
leveza. Suas mãos me seguram pela cintura e
aproximam meu corpo ainda mais do seu, num
gesto possessivo. Meus olhos se fecham
conforme me entrego a seu beijo doce.

Não sei quanto tempo passamos assim. É como


se o relógio estivesse em um ritmo diferente nesse
momento, um momento eternizado do nosso
último encontro.

Meu peito dói com esse pensamento, então


aprofundo o beijo, fazendo minha mente inquieta
calar todas as vozes. Seguro firme em sua nuca e
grudo meu corpo no seu. Minha língua corre por
sua boca, desesperada por mais, ouço-o
suspirando baixo conforme o beijo avança e o
desejo aumenta.

Um arrepio sobe pela minha coluna, inebriado de


desejo, mordo seus lábios e o seguro ainda mais
forte contra mim. Tudo o que preciso nesse
momento é esse homem, seu toque, sua carícia,
seus lábios.
Han-Gyeol afasta sua boca da minha e leva até o
lugar onde meu pescoço encontra minha clavícula.
Sinto seus lábios sugando minha pele, seus
dentes seguindo pelo mesmo caminho. Não me
importo que ficará uma marca, apenas me derreto
em seu toque, ansiando por mais dele.

Movo minha mão por seu corpo, seguindo com ela


até o fecho de sua calça, um suspiro deixa meus
lábios conforme sinto seu membro duro como uma
rocha. Com delicadeza abro o botão de sua
braguilha e espero um momento para ter certeza
que ele não protestará.

— Estou te devendo uma Han-Gyeol. — Sussurro


baixo para ele, que geme apreciativamente em
resposta.

Abro lentamente seu zíper e abaixo a cueca


apenas o suficiente para seu pau pular em minha
direção. Envolvo minha mão em seu cumprimento
e acaricio da base até a cabeça, em um
movimento deliberadamente lento. Sinto a
respiração de Han-Gyeol ofegante em minha pele,
conforme movimento minha mão com suavidade
por ele.
Han-Gyeol abandona meu pescoço e sua boca
segue o caminho até meu ouvido, não há um
único pelo no meu corpo que não se arrepie com a
sensação de sua respiração na minha orelha.

— Mais rápido, Glenn. Por favor. — Sua súplica,


desperta coisas em mim. Me faz ferver, arrepiar,
me leva a lugares que não sei nomear.

Acelero meus movimentos, e o ouço me


chamando, pedindo cada vez mais em meu
ouvido. Atendo a cada um dos seus pedidos. O
desejo tomando conta de nós dois.

— Vou gozar, Glenn. — Ele me avisa e eu tento


me abaixar para tê-lo em minha boca nesse
momento, mas ele não permite. — Não aqui,
Glenn.

— Vamos para outro lugar, então, vamos para sua


casa. — Sinto minha voz soar urgente, quase
desesperada, mas não me importo com isso.
Nunca senti uma conexão tão grande com alguém
antes.
— Eu não posso Glenn, eu disse que tenho que ir
embora logo, meu voo para Seul parte em pouco
tempo. — Ele fala e eu me recordo de suas
palavras, droga.

— Então me deixe chupar você Han-Gyeol. Se


nunca mais vamos nos ver de novo, deixe-me
conhecer o seu sabor, ao menos uma vez.

— Eu deixaria você fazer o que quisesse. Desde


que sempre pudesse te ouvir me chamar assim.
— Sua voz é um misto de satisfação, prazer e
tristeza.

— Ah, Han-Gyeol. — Digo com um sorriso e me


abaixo a sua frente.

Minha boca envolve seu pênis, minha língua


circula sua glande enquanto continuo o movimento
com as mãos, cada vez mais rápido me
movimento. Sunyo seus dedos em meu cabelo,
puxando forte e dominando meus movimentos.
Poucos segundos passam antes que eu sinta seu
sabor doce, enchendo minha boca.
Levanto-me novamente e capturo sua boca na
minha, seu gosto misturando-se entre nós dois.
Ouço a música lenta ao fundo e sei que não é
mais Hana que está no palco, Han-Gyeol parece
notar também. Seus olhos se arregalam e ele se
afasta ligeiramente e fecha a calça jeans.

— Não queria ir assim Glenn, mas perdi a noção


do tempo. Estou atrasado. — Sua voz parece
realmente abalada, tão abalada que quase não
parece a mesma pessoa.

— Tudo bem, eu entendo. — Respondo, mas meu


coração parece partir quando me dou conta de
que isso acabou.

— Não fique assim Glenn. Um dia vamos nos ver


de novo. Esperarei ansiosamente pelo dia que vou
poder realmente estar com você. — Uma lágrima
teimosa escorre pelos meus olhos e ele a enxuga.
— Não chore meu Glenn. Você não ficará feliz
quando pudermos estar juntos novamente?

— Vou. — Respondo e desvio os olhos de seu


rosto.
— Então no dia que eu me encontrar com você,
eu vou te perguntar isso. Não será em um beco,
não será em um lugar qualquer, não será no meio
de uma multidão. Mas, você vai se lembrar desse
momento.

— Vou esperar por esse momento, Han-Gyeol. —


Minha voz está embargada quando digo as
palavras, minha garganta parece ameaçar fechar.

— Sabe. Eu geralmente não gosto que as


pessoas me chamem assim. Mas soa tão bem nos
seus lábios. — Ele diz e se aproxima de mim,
selando minha boca com um beijo rápido. — Até
logo, meu Glenn Moss.

— Até logo, meu Choi Han-Gyeol.

Han-Gyeol me dá um último selinho, em seguida o


vejo sumir na distância. Apesar do que ele disse,
sinto que isso foi sim uma despedida.
CAPÍTULO 12

Childe
Chego ao camarim sem ar, minha respiração
parece presa na garganta e meu coração está
acelerado. Meu peito ainda dói pela despedida do
Glenn, é como se parte de mim realmente
sentisse que nunca mais vou vê-lo novamente.
Entretanto, uma outra preocupação urgente toma
conta de mim, e o medo se espalha orlo meu
corpo quando penso sobre ela, Hana.

Vou até ela no camarim procurando-a e logo que a


encontro posso ver seus olhos me encarando com
uma frieza inegável. Ela me avalia de cima a
baixo, é quase como se ela estivesse realmente
me enxergando pela primeira vez.

— Ele sabe quem é você? — Pergunta ela me


encarando com o que parece ser um misto de
pena e incredulidade.

— Não, e eu preferia que continuasse assim. —


Respondo com o ar preso na garganta.
Meu coração bate forte, com medo de que ela
exponha o que está acontecendo. Não quero que
isso saia do controle.

— Foi ele quem fez isso com você? — Hana leva


sua mão até o próprio pescoço para certificar que
seria entendida.

— Que diferença isso faz? — Questiono


envergonhado e desvio os olhos.

— Estou decidindo se vale a pena guardar seu


segredo, essa é a diferença. — Ela franziu o rosto
em uma careta.

Hana parece inabalável a cada palavra, não


parece a mulher doce e gentil que conheço há
tanto tempo. Droga, talvez isso seja culpa minha.

— Imagino que sua consciência vai decidir isso,


independente do que eu disser. — Respondo sem
paciência, não quero jogar jogos.

— Não está preocupado? — Questiona ela com a


testa franzida.
— Confio em você Hana, como eu disse, nunca foi
minha intenção te machucar. Você é uma pessoa
boa e merece alguém que te ame e respeite como
você merece. Eu não sou essa pessoa.

Eu me sinto triste em dizer as palavras, antes de


Glenn tudo poderia ter sido diferente. Realmente
poderia imaginar uma vida em que eu e Hana
pudéssemos ficar juntos, ela é uma mulher bonita,
gentil, engraçada. Possuidora de todas as
qualidades necessárias, mas, meu coração foi
arrebatado e eu não posso fazer nada sobre isso.

— Você está apaixonado por ele. — Ela afirma.

— Estou. Mas, ele está indo embora. Não vamos


nos ver de novo. — Murmuro sem pensar.

— Esse show, tudo isso se trata de uma


despedida para vocês dois? Sério Childe? Isso é
tão…

— Clichê? Brega? De mal gosto? — Completo sua


frase que ficou no ar.
— Fofo Childe, isso foi muito fofo. — Ela diz em
seguida abre um leve sorriso. — Não vou contar
nada dessa vez, mas não me responsabilizo pelas
outras pessoas. Alguém pode ter notado quem era
você, é preciso tomar cuidado com esse tipo de
coisa.

— Deixe que eu me preocupe com os outros. De


qualquer forma, obrigada por isso Hana. — Dou
um sorriso singelo e vou me preparar para subir
no palco.

Estou vestido com uma calça justa demais, uma


camisa aberta e cintos cruzando meu peito e
minha cintura. É um visual poderoso, com muito
estilo. Retirei as lentes e tenho uma maquiagem
básica, que mostra quem eu realmente sou. Meu
cabelo também está em ordem agora, arrumado e
volumoso do jeito que eu gosto. Olho para o
espelho mais uma vez, antes que me avisem que
falta um minuto para que eu suba no palco e a
ansiedade domina meu peito por alguns
segundos.
Ando cuidadosamente até o palco, sentindo a
energia que emana da plateia. Todos os muitos
olhos fixos em mim, gritando meu nome. Esse é
um sentimento sem igual, meu coração está
acelerado, mas meus olhos, eles não passeiam
pela multidão. Eles estão fixos em uma só pessoa,
a única pessoa que importa.

Os olhos de Glenn estão vermelhos e levemente


inchados, me encarando. Sua cabeça está
encostada junto a de sua amiga, que parece
apoiá-lo nesse momento, fico feliz que ele a tenha,
mesmo que no fundo, eu quisesse que fosse eu ali
com ele.

— Olá, Busan, obrigado por me receber aqui mais


uma vez. — Digo antes da música soar.

O som começa e a plateia vibra. Minha voz soa


perfeitamente enquanto começo a dançar. Toda a
multidão parece ecoar minha voz. Energia parece
fluir pelas minhas veias, como se fosse droga
pura. Rodopio e canto o refrão enquanto a plateia
me acompanha, hora cantando, hora gritando meu
nome.
Após cantar e dançar duas músicas agitadas, eu
paro no meio do palco. Olho para todos que estão
ali, mas volto meus olhos para ele antes de
aproximar o microfone dos lábios.

— Antes de cantar a próxima música, eu queria


conversar com vocês um minuto. — As pessoas
aplaudem e gritam, então espero que a animação
se acalme com um sorriso nos lábios.

— Venho fazendo isso já há algum tempo,


cantando para vocês e levando um pouco de mim
para cada fã, cada pessoa que me ouve. — Dou
uma encarada rápida ao redor e inúmeros
celulares estão apontados para mim.

— Sei que muitas das minhas músicas tocam o


coração de vocês. Corações apaixonados, e eu
queria falar sobre isso. Amo cada um de vocês,
como uma família. Mas, é a primeira vez, em
muito tempo que subo num palco como esse
realmente apaixonado por uma pessoa. — Me
calo por alguns segundos e encaro os olhos azuis
de Glenn.
A plateia grita, ouço o nome de Hana e pedidos de
casamento, mas nada, ninguém além dele importa
nesse momento.

— Era um dia como outro qualquer, eu estava de


ressaca e de mau-humor. E quando olhei em seus
olhos, eu me senti vivo novamente. Esse
sentimento chegou ao meu peito e minha alma.
Essa pessoa marcou meu coração e o meu corpo.
— Ouço algumas risadas e murmúrios da plateia,
sinto os olhares para a marca que eu não deixei
ninguém tampar com maquiagem.

— Eu não tenho vergonha disso. Porque amor,


não é nada para se envergonhar. Espero que essa
música te alcance e que você saiba que eu te
amo, ontem, hoje e ainda vou te amar quando o
dia raiar. — A plateia grita, levada totalmente a
loucura.

A música começa e a sinto fluir por todo o meu


corpo. Seguro firme no microfone e o encaixo na
base, que foi colocada na minha frente. Fecho os
olhos e começo a cantar, cada palavra parece sair
direto da minha alma. Ouço a plateia me
acompanhando e quando chego ao refrão, os
gritos enchem o lugar.

Dou tudo de mim nessa música, esperando que


em algum lugar da mente de Glenn ele perceba
que estou cantando para ele. Quando abro os
olhos novamente, ele está olhando para mim.
Seus olhos azuis brilham com lágrimas, e não
consigo segurar a lágrima solitária que rola pelo
meu rosto, quando a música chega ao fim.

— Geuligo nal-i balg-aomyeon


naneun yeojeonhi dangsin-eul salanghabnida.* —
Canto o final da música olhando nos olhos de
Glenn, que desvia os olhos de mim e se levanta,
saindo rapidamente da plateia. (*Tradução: e
quando chega o dia, ainda te amo).

Canto mais algumas músicas, mas Glenn não


retorna ao seu lugar. Meu coração se aperta no
peito, sinto vontade de sair correndo atrás dele, de
saber o que está acontecendo… Mas isso não é
possível.

Continuo ali, cantando e dançando, mas minha


alma está longe, perdida em olhos azuis e cabelos
louros. Não queria que isso acabasse assim. É
pedir demais poder olhar em seu rosto apenas
mais uma vez?

A última música chega e se vai, Glenn não volta


para o seu lugar. Nem mesmo na hora que eu me
viro e volto para os bastidores. Meus olhos estão
molhados quando ouço a plateia clamando por
mais uma música. Apenas nego com a cabeça
para a equipe que pede o mesmo e sigo até meu
amigo.

As lágrimas descem e escorrem pelo meu rosto.


Quando Jung passa os braços em torno de mim.
Sei que todos estão me olhando, mas não me
importo nem um pouco.

— Vamos, a plateia está pedindo mais uma


música. — Ouço a voz de Hana, falando com seu
grupo.

— Não estão pedindo para nós, estão pedindo


para ele. — Uma das garotas diz.

— Isso não faz a menor diferença. Vamos todos.


— Ela responde com voz firme, em seguida ouço
o som de passos apressados. — Vamos, andem,
vão.

Respiro aliviado quando vejo que estamos


somente eu e Jung ali.

— Eu nunca mais vou ver ele de novo, estraguei


tudo Jung. Devia ter dito desde o primeiro minuto
quem eu era. — Lamento enquanto meu amigo
passa os dedos em meu cabelo.

— Childe, você é o homem mais determinado que


eu conheço. Tenho certeza que você vai ver esse
cara de novo, porque sei que você fará o que for
necessário para isso. Agora pare de chorar.
Precisamos cantar mais uma música.

— Hana já está fazendo osso com o grupo dela.


— Afirmo, apesar de não ouvir música alguma
sendo tocada.

— Você não ouviu? Ela disse para irmos todos. —


Jung exclama antes que o barulho da porta seja
ouvido e Hana apareça em nosso campo de visão.
— Childe, você precisa vir, estamos esperando
por você. — Ela diz com a voz cansada.

— Não posso ir, olha o meu estado. — Aponto


para mim mesmo, não preciso nem olhar no
espelho para saber que estou uma catástrofe.

Hana se aproxima de mim e me segura pelo


braço, começando a me arrastar de leve.

— Childe você é tão lindo que ninguém vai sequer


perceber que esta sem maquiagem, muito menos
que andou chorando e os que perceberem vão
achar que faz parte do seu charme. Agora vamos,
ele está lá.

CAPÍTULO 13

1 ano depois
Glenn

— Você está dizendo que esse cara pagou uma


sessão de fotos com você e não foi, mais uma
vez? Isso é o que a décima vez que isso acontece
esse ano? — Diana pergunta ao meu lado.

É tarde da noite de sábado e estamos deitados no


meu sofá grande após ver um filme de terror que
mais nos fez rir do que deu medo.

— Isso é tão estranho. Não sei o que fazer Di, ele


sempre tem um imprevisto, ou uma doença, ou sei
lá o que… Não estou reclamando do dinheiro, mas
me sinto mal, parece que estou o roubando de
alguma forma. — Reclamo enquanto caço os
últimos grãos de pipoca que restaram no balde.

— Você não está roubando ninguém, Glenn, você


disse que se ofereceu para devolver o dinheiro,
todas às vezes, ele é quem se recusa a aceitar.
Vai ver ele é um tipo de bem feitor, ou não sei…
Algum sugar daddy tímido demais para te pedir
um nude. — Minha amiga dá uma gargalhada e eu
a acompanho.

— Não seria de todo mal se ele fosse um sugar


daddy, na verdade, isso agitaria um pouco as
coisas pelo menos… — Respondo com um
suspiro.

— Você fala isso, mas vive fugindo de todo


carinha que aparece interessado em você. Qual
foi a última vez que trouxe alguém para casa
Glenn? Ou ainda qual foi a última vez que beijou
na boca? — Diana questiona, mas não respondo
sua pergunta, apenas solto outro suspiro.

As lembranças do meu último beijo continuam


vívidas em minha mente. Mesmo que faça mais de
um ano, é quase como se ainda pudesse sentir o
gosto dos lábios de Han-Gyeol nos meus se eu
fechar os olhos. Ainda me lembro dele a noite,
quando durmo sem companhia.

Infelizmente, não sei nada do paradeiro do


coreano. Faz mais de seis meses que ele sequer
me responde no Instagram e não há nada que eu
possa fazer, quando mandei a sétima mensagem
perguntando o que havia acontecido e a resposta
não veio, me vi desistindo de esperar uma
resposta. Um homem bonito como ele, não deve
ter tido problemas em seguir sua vida. Tenho
certeza que ele não deve nem mesmo se lembrar
da promessa que me fez.

Enquanto isso, eu, como o idiota ingênuo e


apaixonado que sou; ainda espero ele aparecer
em minha porta e perguntar se estou feliz
novamente. Ah, Han-Gyeol o que caralhos
aconteceu com você.

— Terra chamando Glenn! Ei, está no mundo da


lua? Estou falando com você! — Diana diz, pisco
os olhos e volto meu olhar para ela, que faz um
barulho irritado com a boca. — Você está
precisando de um ânimo, cara. Acho que já
passou da hora de arrumarmos um namorado
para você Glenn, assim, talvez você tire a cabeça
da Coreia e volte para os Estados Unidos.

— Eu não quero um namorado Diana! Que saco.


— Reclamo, cansado de sua insistência.
Não é a primeira vez que isso acontece, Diana,
casa vez mais, tem sido persistente em suas
tentativas de me convencer a arrumar um
namorado.

— Até quando Glenn? Até quando ficará sofrendo


por aquele cara? Tudo bem, ele era lindo, tinha
uma pegada boa e vocês dois se deram bem,
acontece. Mas, o cara vive do outro lado do
planeta. Ele não aparecerá num cavalo branco
para te resgatar da sua vida e casar com você.
Você precisa seguir em frente.

— Você não entende, eu não quero seguir em


frente. Estou bem aqui, não quero dor de cabeça
por causa de macho, quero viver minha vida em
paz.

— Não Glenn, você já vive numa constante dor de


cabeça por causa de macho. Se é para viver num
conto de fadas, pelo menos pare de se achar a
Cinderela e seja um pouco mais como a Elsa,
sabe, let it go.* (*Referência ao filme Frozen.
Preferi trazer em inglês por eles serem
americanos — Tradução: Deixe para lá).
Não digo mais nada, apenas viro o rosto e respiro
fundo, não me sinto pronto para um
relacionamento, não quero beijar pessoas sem
rosto, isso não é quem eu sou. Seguirei em frente
quando a pessoa certa aparecer.

— Escuta, vamos mudar de assunto, tudo bem?


— Diana começa me puxando para junto dela. —
Já ouviu as novidades? Nosso idol preferido está
solteiríssimo.

Viro para Diana enquanto arregalo os olhos.

— Childe terminou com a Hana? — Pergunto,


ainda chocado.

— Não, Hana terminou com Childe. Escuta isso


aqui. — Minha amiga fala com um sorriso antes de
começar a ler a notícia. — Solteiro novamente:
Hana solta o verbo sobre término com Childe
“Amo ele, mas não somos mais um casal”.

— Não é novidade para ninguém que as coisas


entre Childe e Hana parecem ter esfriado. Os
antigos pombinhos que antes pareciam não se
desgrudar, agora eram vistos raramente juntos e
nas poucas vezes que o casal era visto, Childe
parecia frio e distante. Desde então as
especulações começaram; o que estaria abalando
o relacionamento entre os dois famosos? Após
fotos exclusivas de Hana com o cantor do grupo
coreano Star, Jung Hyeon-Woo, os boatos
começaram a tomar proporções enormes. Estaria
Hana traindo Childe?

Diana faz uma pausa, olha para mim e ergue as


sobrancelhas, cheia de insinuações. Em seguida
continua.

— Foi somente na tarde da última sexta, depois


que um grupo de fãs revoltadas fizeram um
verdadeiro escândalo na frente do apartamento da
cantora, que Hana se pronunciou e tornou tudo
oficial. Por meio das suas redes sociais oficiais, a
cantora postou: “Peço respeito nesse momento.
Sim, eu e Childe não somos mais um casal, mas,
eu amo o Childe profundamente e sempre o
amarei. Somos amigos no fim das contas. Não
teve uma grande coisa, não teve traição ou
discussões. Apenas estamos em momentos
diferentes da vida e por isso decidi que é melhor
seguir em frente, cada um no seu ritmo. Por favor,
parem de vir atrás de mim e fazer um caos sobre
o assunto. Respeitem, esse é um momento
delicado para mim e é incômodo demais ter que
passar por isso e ainda ouvir vocês me chamando
de tanta coisa” a sul-coreana desabafou em meio
a lágrimas. Childe, por sua vez, foi breve em sua
declaração: “Sim, Hana terminou comigo. Agora
podemos parar de falar sobre isso? Continuamos
amigos e não quero ouvir vocês falando mal dela.”
Agora qual será o real motivo do rompimento do
casal sul-coreano? Tenho a sensação de que
ainda tem muita coisa por baixo dos panos. Será
que um dia realmente saberemos a verdade? O
que importa agora é que as fãs americanas já
podem começar a pirar, Childe virá mais solteiro
do que nunca para sua nova turnê.

Ouço tudo com muita atenção, me lembro do


show do Childe na Coreia, nas suas palavras de
amor para Hana. Aparentemente nem mesmo um
amor como aquele dura para sempre, suspiro e só
então presto atenção na última parte da matéria.

— Como assim logo o Childe estará aqui? Que


turnê é essa? — questiono, confuso.
— Eu disse para você faz alguns dias Glenn… Ta
vendo, eu sabia que você não estava prestando
atenção. — Diana faz um bico com os lábios e me
dá um tapa antes de continuar. — Childe está
vindo para cá, realizar uma turnê e os primeiros
três shows serão bem aqui, em Minessota. — Ela
exclama contente.

O dia do meet & greet volta na minha cabeça e me


lembro de Childe dizendo que em breve faria um
show por aqui. Me lembro dos seus olhos quando
disse que esperava me ver na plateia e me lembro
do meu toque ousado em sua mão.

Talvez esse seja o momento perfeito, por mais que


eu não tenha chance com Childe, tenho certeza
que posso esquecer Han-Gyeol quando olhar nos
olhos de Childe mais uma vez, mesmo que de
longe.

A noite passa um pouco mais animada, por alguns


momentos consigo sentir essa chama voltar a se
acender no meu peito. Até a hora de dormir. Me
deito ao lado de Hana e sinto seu olhar sobre
mim.
— Sei que não quer falar sobre isso, então vou
dizer pela última vez, só preciso que pense nisso.
Você é um homem lindo Glenn, não deve se
deixar cair aos pedaços por alguém que não sente
o mesmo e que sequer deve se lembrar que você
existe.

CAPÍTULO 14
Childe

(N/A: O começo desse capítulo se passa antes do


término de Childe e Hana e do anúncio da turnê —
não sabe do que estou falando? Volte uma casa e
leia o capítulo anterior).

São apenas seis da tarde e já estou deitado na


minha cama encarando o teto. Essa tem se
tornado uma rotina frequente nos dias que não
tenho compromissos de trabalho pela noite:
encarar o teto até o alarme despertar e eu
finalmente poder enfiar um comprimido pela minha
garganta, para só então ser arrastado até o
mundo dos sonhos.

Fecho os olhos quando ouço o aparelho celular


tocando, sei que não é o alarme e não tenho
vontade de conversar com quem quer que seja do
outro lado da linha. Espero de olhos fechados até
o barulho estridente parar, mas, ele recomeça logo
em seguida. Me forço então a estender a mão até
pegar o aparelho e colocá-lo no ouvido sem nem
mesmo olhar para ver quem está do outro lado da
linha.
— Childe? Você está aí? — Ouço a voz de Jung
do outro lado da linha, devia ter imaginado que era
ele.

Fecho os olhos, sem paciência nem vontade de


ter uma conversa nesse momento.

— Jung? Podemos conversar outro horário? Estou


ocupado agora. — Respondo após alguns
segundos de silêncio.

— Ocupado com o quê? Você não está na sua


casa? — Meu amigo responde, duvidando da
minha mentira.

— Está quase na hora do meu remédio. —


Simplesmente solto bufando.

— Childe, estou preocupado com você. — Sua


voz soa pesada, cheia de apreensão.

— Não se preocupe, então. Estou bem.

— Você está bem? Só dorme se tomar alguns


comprimidos, seu desempenho caiu, nem nos
shows você é a mesma pessoa. Eu não te vejo rir
ou sair de casa, comer então nem se fala.
Quantos quilos você perdeu no último ano? Você
está diariamente prostrado em sua cama e quer
que eu acredite que está bem? — Jung exclama
com raiva mal contida.

— Não entendo porque qualquer uma dessas


coisas seriam da sua conta. Estou vivendo a
minha vida e isso não diz respeito a ninguém além
de mim. — Respondo e encerro a ligação.

Coloco o telefone no silencioso e jogo ele de lado,


sem querer esperar para vê-lo recomeçar a tocar.
Estendo minha mão para a cartela de
comprimidos brancos circulares e enfio dois em
minha boca. Sinto-os passando pela minha
garganta, e sei que logo eles vão ser absorvidos
para minha corrente sanguínea, uma absorção
ainda mais veloz devido à falta de alimentos em
meu estômago. É tudo o que eu preciso.

Me viro na cama espaçosa e sinto meus olhos se


encherem de lágrimas. Agarro em meu travesseiro
e choro tentando tirar toda a dor que se
estabeleceu em meu peito, simplesmente deixo as
lágrimas escorrerem até o sono me levar para um
mundo sem dor.

Jung

Perco a conta de quantas vezes ligo para Childe,


apenas para ser ignorado em todas. A
preocupação passeia pela minha mente, o medo
de que um dia ele decida fazer algo pior com
aqueles comprimidos. Respiro fundo, tentando me
convencer de que estou sendo irracional, nas a
verdade é que não tenho tanta certeza disso.

As coisas foram progredindo gradualmente, aos


poucos Childe parou de sair, parou de brincar e
fazer piadas. Ele começou a perder peso e
ganhou uma insônia. Comecei a me preocupar
quando isso afetou sua música, Childe começou a
falhar até mesmo em notas baixas, simples.
Porém, quanto mais o questiono, mais ele parece
se afastar. Droga, não sei o que fazer, o que você
faz quando a pessoa parece estar se matando aos
poucos?

Pego novamente o celular e ligo para Dong-Ra*


sinto meu corpo se agitar em preocupação até que
ela atende, já no décimo toque. (*ele se refere a
Hana Dong-Ra, diferente de Childe, Jung não tem
problema em chamar as pessoas pelo primeiro
nome.)

— Precisamos fazer alguma coisa sobre o Childe.


— Digo assim que ela atende, sem dar tempo nem
mesmo dela me cumprimentar.

— E o que podemos fazer Hyeon-Woo? —


Dong-Ra soa desanimada do outro lado da linha.
— Childe não quer ajuda, ele nem mesmo admite
que tem algo de errado com ele. Tem dias, que a
preocupação é tão grande que eu mal consigo
dormir… Tudo isso começou depois que aquele
cara apareceu… Se não fosse ele…

— Poderia ter sido outra coisa, Dong-Ra. O Childe


sempre foi um cara com questões. Todos
sabemos disso. Não é hora de achar um culpado,
é hora de achar uma solução. — Respondo, sem
querer ir por esse caminho.

— Eu poderia ter cuidado de Childe se não fosse


ele. Éramos felizes, eu não ia deixar ele ficar
dessa forma. Mas, ai esse cara vem, bagunça
toda a cabeça dele e depois simplesmente vai
embora…

— Dong-Ra se você continuar falando sobre isso


vou desligar a ligação. Foi o Childe que decidiu se
afastar, tudo foi uma escolha dele. Sinto muito se
isso te machuca, mas não é culpa do garoto, nem
do Childe. Você não escolhe por quem se
apaixonar e ele fez apenas o que achou melhor,
para proteger o menino também. Você sabe como
é quando alguém se envolve com idol.

O outro lado da linha fica em silêncio por algum


tempo, até que quando estou começando a me
perguntar se Dong-Ra teria desligado a ligação,
ela recomeça.

— Eu sei, eu só… Estou frustrada Hyeon-Woo, eu


amo o Childe e me machuca ver ele assim. —
Posso ouvir a dor em suas palavras.

— Sou amigo dele, Dong-Ra, me machuca


também e é justamente por isso que não podemos
ficar tentando descobrir quem é o culpado.
Precisamos fazer algo sobre isso para ajudá-lo,
isso é o que ele precisa.
— Você está certo, é só que… Esqueça. Vamos
nos encontrar amanhã, para vermos o que pode
ser feito. — Dong-Ra finalmente perde o tom
lamurioso em sua voz e fala com convicção.

— Certo. Podemos nos encontrar no Beansbins,


às nove horas?

— Sim. — Ela responde, em seguida desliga sem


se despedir.

Solto um suspiro e tento mais uma vez ligar para


Childe, ainda que eu saiba que ele não vai
atender. Dói tanto meu coração ver sua luz se
dissipando dessa forma, que por um lado entendo
o que Dong-Ra disse. É muito fácil culpar Glenn,
alguém que chegou do nada e mexeu de tal forma
com o coração do meu amigo. Ainda assim, sei
que não é justo. Não é como se ele tivesse
obrigado Childe a se apaixonar, fazer loucuras ou
contratar ensaios fotográficos que ele sabe que
não poderá comparecer.

Childe gostava de Dong-Ra antes de tudo, sei que


ele realmente gostava, e se Glenn não tivesse
aparecido talvez hoje eles fossem um belo casal,
que andaria de mãos dadas pelas ruas e dariam
risadinhas como qualquer casal de dorama.
Entretanto, conheço Childe o suficiente para saber
que seu sentimento por ela nunca foi intenso
assim. Tenho certeza que mesmo no auge do
relacionamento dos dois, se Dong-Ra terminasse
com ele, Childe não iria se deprimir por isso dessa
forma, ele seguiria em frente e talvez seja a
consciência disso que machuca ainda mais
Dong-Ra.

Como eu esperava, Childe não atende. Deixo o


celular de lado e vou até o estúdio que tenho em
minha casa, tocar até acalmar minha alma que
está agitada pensando mil coisas em relação ao
meu amigo. Isso não devia ser problema meu,
mas como evitar? Não consigo fechar os olhos
para tudo o que está havendo.

Toco até cerca de uma da manhã, em seguida vou


para a cama onde rolo até dormir em um sono
agitado.

No outro dia acordo cedo, vou até a academia e


malho até faltar pouco para o encontro com
Dong-Ra. Tomo um banho, coloco uma roupa
simples e sigo de carro até o local combinado
onde posso vê-la me esperando, pergunto-me se
ela sequer chegou a dormir.

— Está esperando há muito tempo? — Pergunto


sentando-me em sua frente.

— Não, acabei de chegar. Pedi um café gelado e


um waffle com morango para você, espero que
não se importe.

— Ah… Não, tudo bem. — Respondo


envergonhado de dizer que não é o que eu
pediria, não sou como Childe.

— O que você sugere que façamos? — Ela


pergunta logo depois que o garçom deixa os
pratos de comida a nossa frente.

— Posso tentar levá-lo para sair, tentar conversar


com ele mais uma vez… ou podemos tomar uma
medida mais drástica. — Suspiro.

— Que tipo de medida? — Pergunta ela com o


cenho franzido.
— Falar com o senhor Kim sobre isso. —
Respondo e Dong-Ra pensa por um tempo. Ela
corta sua comida e começa a comer sem me dar
uma resposta. Então acabo fazendo o mesmo.

Tomo um gole do café e experimento o waffle


cheio de açúcar. Definitivamente não é o que eu
escolheria, mas não é tão ruim. Quando Dong-Ra
finalmente termina de comer, ela abre a boca para
me responder.

— Tente conversar com ele hoje, saia com ele


para tomar soju, se não funcionar… Fale com Kim.
— Ela diz e se levanta. — Preciso ir, me dê
notícias.

Sigo atrás dela e a puxo em um abraço antes que


ela se vá.

— Ele vai ficar bem. — Digo e ela apenas aperta


os lábios em resposta.

Nessa hora percebo o flash, não tenho tempo de


fazer nada antes que o fotógrafo saia correndo.
— Droga, isso vai estar por todo lado amanhã. —
Reclamo, Dong-Ra dá de ombros.

— Não é como se Childe se importasse. —


Responde com uma careta, em seguida se vira e
vai embora sem me deixar dizer coisa alguma.

O dia passa e não encontro Childe em lugar


nenhum. Tenho certeza que ele está fugindo de
mim e não entendo direito o motivo. Apenas
quando o sol começa a sumir no horizonte é que o
encontro. Ele está em um estúdio de gravação,
Kim está junto com o produtor do outro lado, seu
rosto não parece estar feliz. Ele me vê e apenas
me entrega um fone, assim que o ponho na
orelha, eu entendo.

A voz, geralmente harmoniosa, leve e aguda de


Childe está rouca. Ele desafina em quase todas as
notas, sua voz não encontra potência para
alcançar as notas altas. Eu nunca vi Childe
cantando tão mal. Ele não parece nem mesmo um
principiante, sequer parece um cantor.
— Já vi lontras marinhas cantarem melhor. — Kim
diz e arremessa o fone com raiva.

— Ele não anda muito bem. Precisamos fazer algo


sobre isso. — Respondo, ignorando tufo o que
havia combinado com Dong-Ra. Tempos
desesperados requerem medidas desesperadas.

— E o que você sugere? Acha que eu já não


tentei? Ofereci descanso, tentei conversar… Não
sei o que pode ser feito, ele não deixa que
ninguém chegue realmente até ele. Han-Gyeol
sabe ser um merdinha teimoso quando quer.

Vejo a frustração tomar conta do senhor Kim.


Estou tão frustrado quanto ele, algumas vezes
sinto vontade de chacoalhar Childe até que ele
desperte desse transe, mas, perder a calma não
ajudaria ninguém a nada. Só nos afastaria ainda
mais e acabaríamos brigados, o que é a última
coisa que preciso. É então que uma ideia passa
pela minha cabeça, existe algo que talvez o faça
se recuperar.

— Tem algo que ele queria. Antes de ficar assim…


— Começo e sou interrompido.
— A turnê pelos Estados Unidos. — Senhor Kim
bate na própria testa e revisa os olhos. — Como
eu não pensei nisso antes?

— Acho que ninguém pensou… — Começo e sou


novamente interrompido.

— Vou conversar com algumas pessoas e tentar


resolver isso ainda hoje. — Ele diz para mim, em
seguida abre o microfone para falar com Childe.
— Pode descansar por 5 minutos. — Ele diz, vejo
o produtor olhar com cara feia, mas ele não diz
nada.

Aproveito a pequena folga para ir conversar com


Childe, ele está bebendo água e parece realmente
cansado. Seus olhos encontram os meus e
observo a falta de brilho em seu olhar, parece
outra pessoa e não o meu amigo, antes tão
animado e cheio de energia.

— Vamos beber hoje a noite. — Encaro-o e seu


semblante se fecha ainda mais.
— Não posso, não da para ficar misturando álcool
com remédio.

— Não tome os remédios hoje. De uma folga ao


seu corpo.

— Não quero. — Ele parece irredutível.

— Hajima* — O encaro ainda bravo. — Você


parece um fantasma. Deve ter perdido mais de 10
quilos nos últimos tempos, seus olhos estão
cheios de olheiras e você está cantando tão mal
que se um morto ouvir é capaz dele ressuscitar só
para te fazer calar a boca. O que está tentando
fazer com você? (*Hajima significa “Não faça
isso”)

— Me deixe em paz, Jung. Você não é meu pai,


não é da sua conta o que faço ou deixo de fazer.
— Ele grita.

— Ótimo, fique nessa então. Quero ver como fará


a turnê para os Estados Unidos assim, mas quer
saber, estou cansado de tentar ajudar uma pessoa
que não quer ajuda.
Dou as costas e me afasto dele. Até que sinto a
mão agarrando meu braço e me fazendo parar.
Quando me viro novamente, dou de cara com
seus olhos arregalados.

— O que quer dizer com turnê para os Estados


Unidos? — Seus olhos estão marejados e
arregalados conforme ele fala.

— Falei com o senhor Kim, achei que isso talvez


animasse um pouco você. Mas, você não se
importa. Não liga para ninguém além de si mesmo
e não se dá conta de como ver você se matando
lentamente afeta todos ao seu redor.

Puxo meu braço com força e me afasto do seu


toque. Childe me encara imóvel enquanto vou
cada vez para mais longe dele.
CAPÍTULO 15

Childe
As palavras de Jung entram pelo meu ouvido e me
deixam sem reação. Por um lado sinto uma alegria
que há muito não sentia, por outro me dói ver
cono meu amigo está machucado, por culpa
minha.

Não consigo ir atrás dele, nem mesmo consigo


dizer que sinto muito. Mais uma vez decepcionei
as pessoas que me amam e por mais que eu tente
evitar, me pergunto quanto tempo resta até eu
decepcionar Glenn também. É como um ciclo
vicioso, fui criado para fazer mal as pessoas, sei
muito bem disso.

Alguns minutos depois, volto ao estúdio.


Realmente tento me concentrar na música, mas
meus pensamentos começam a nebular minha
mente. Voltando para Jung e como o tenho
decepcionado, voltando ainda mais e trazendo de
volta toda a dor de um passado distante, não
consigo cantar, minha voz sai um lamúrio
tormentoso, baixa, desafinada, dolorosa. Não sei
como alguém simplesmente não me chutou daqui.
O ar parece abandonar meus pulmões e sinto uma
lágrima escorrer pelo meu rosto. Não havia
percebido que estava chorando.

Meus joelhos ardem quando derrubo meu peso


sobre eles, incapaz de sequer me manter em pé.
Minha palma arde conforme afundo minhas unhas
em minha carne, mas a dor é bem-vinda para
aplacar uma dor muito maior enraizada no meu
ser.

“Você não liga para ninguém além de si mesmo


Han-Gyeol. Esse é o seu problema” as palavras
se repetem em meus ouvidos, palavras que a
muito tempo tento deixar para trás. Sinto sua
presença se aproximado e aperto meus olhos com
força, meu coração bate rápido quando o medo
domina meu peito.

— Tire suas malditas mãos de cima de mim. —


Grito quando sinto os dedos em meu ombro,
minha pele se arrepia de um jeito ruim e chego a
tremer levemente.

Não consigo respirar direito, não consigo pensar.


Demora muito tempo até que eu ouça meu nome
sendo chamado, até que eu me lembre que não
sou Choi Han-Gyeol mais. Os olhos do senhor
Kim estão arregalados conforme ele olha para
mim, percebo o papel ridículo que estava fazendo
e sinto-me ruborizar. Isso está indo longe demais.

— Childe, estamos preocupados com você. — Ele


diz, a voz cheia de cautela e apreensão.

Não consigo responder, não consigo me


desculpar, não sei mais quem sou eu ou o que
está acontecendo comigo. Eu fugi de tudo isso,
então, por que ainda me persegue? Por que
simplesmente não consigo deixar isso onde
precisa estar? Enterrado num passado que não é
minha vida mais, é onde todas as lembranças
deveriam estar.

— Consegue se levantar? Preciso falar com você.


Depois Jung vai te levar para casa, tire o dia de
folga. — Diz o senhor Jung ainda apreensivo, eu
apenas assinto em resposta.

Me levanto com cuidado, uma vez que ele não


oferece a mão para mim. Quando já estou de pé,
ele apenas se vira e segue a passos lentos.
Caminho atrás dele até chegar na sala, sinto
alguns olhares em mim que me fazem abaixar os
olhos até meu pé, ainda cheio de vergonha.

— Como está se sentindo? — Ele pergunta assim


que eu me sento diante dele, eu arregalo
levemente os olhos, surpreso, nunca ouvi essa
pergunta dele antes.

— Estou bem. — Minto, com a voz ainda baixa e


rouca.

— Precisa estar bem para viajar em turnê.


Consegue ficar bem? Conheço um bom psicólogo,
ele já trabalhou com outros idols, você tem um
trabalho estressante, é normal… Perder a cabeça
às vezes. — Senhor Kim começa a tagarelar,
arrumando subterfúgios para mim, para o que
aconteceu.

Parte de mim quer gritar que os outros idols não


passaram pelo que passei, eles não têm que
conviver com essa constante presença em seus
ombros, mas, outra parte só quer varrer para
baixo do tapete e fingir que nada disso realmente
existe.
— Não preciso de um psicólogo, sei lidar com
meus problemas. — Fecho a cara ao dizer.

— É minha condição para que faça a viagem


Childe. Você precisa se alimentar e ir ao
psicólogo. — Ele responde, mas seus olhos
mostram o quanto ele sabe que estou enganado.

— E quem disse que quero ir nessa viagem? — É


só uma nova oportunidade para estragar tudo,
penso.

— Você disse.

Fico em silêncio por um momento, não quero ver


Glenn de novo, não quero decepcioná-lo, não
quero que ele precise enfrentar fãs furiosas e
gente doida. Por isso decidi me afastar, ficar perto
dele não faria bem a ninguém e mesmo que eu o
acompanhe de perto, que veja suas fotos e
contrate ensaios que não planejo fazer, não é o
mesmo que estar com ele. Não consigo me
controlar perto desse homem e preciso muito de
todo o controle nesse momento.
Estou prestes a reafirmar que não quero a viagem,
quando as memórias tomam minha cabeça. Seus
olhos azuis fixos nos meus. Seu sorriso, o toque
do seu lábio. As memórias parecem aquecer meu
coração frio.

Quem quero enganar? Não consigo rejeitar a


possibilidade de olhar naqueles olhos novamente,
ainda que eu saiba que isso não será bom para
nenhum de nós dois. Ele não precisa saber quem
sou, Choi Han-Gyeol está morto, afinal, não
precisamos revivê-lo. Posso me contentar em
observar Glenn a distância, eu consigo fazer isso.

— Me passe o número do maldito psicólogo. —


Respondo e o senhor Kim, solta um suspiro.
Claramente aliviado.

Sairei em turnê em menos de três meses. Nesse


meio tempo, preciso recuperar meu peso e fazer
terapia. Queria poder fugir disso, mas não posso.
Se quero ver Glenn uma última vez, eu preciso
seguir as regras.
Jung me leva para sua casa, depois que acerto
com o senhor Kim os detalhes da turnê. Serão um
total de 15 shows espalhados pelos Estados
Unidos. Depois terei um tempo de descanso antes
de me preparar para o próximo trabalho. Jung não
troca muitas palavras comigo enquanto nos
encaminhamos até o carro, ele parece fazer isso
apenas para seguir ordens, aparentemente eles
não confiam que ficarei bem sozinho, talvez eles
estejam certos.

— Me desculpe… Por antes. — Digo assim que


desço do carro.

— Te desculpar não vai fazer diferença Childe, só


vai te fazer sentir menos culpado. Não acho que é
hora de te livrar dessa culpa. — Sua voz é calma
quando ele fala, apesar das palavras ríspidas.

— Ok. — Respondo e fico em silêncio por algum


tempo. — Obrigado por interceder por mim, sobre
a viagem…

— Espero que essa turnê te ajude a colocar a


cabeça no lugar Childe. Pelo menos poderá
avistar o seu rapaz de novo.
— Ele não é meu rapaz. — Digo
melancolicamente. — Além disso, estou
namorando, não posso ferrar ainda mais as
coisas.

— Quero ver se vai continuar se posicionando


assim, depois que olhar nos olhos dele de novo.
Você é mais teimoso que uma mula Childe, te
conheço a tempo o suficiente para saber que dará
um jeito. — Jung ri de leve, tenho medo que ele
esteja certo.

Eu apenas suspiro em resposta e me jogo no sofá


espaçoso de Jung. Eu queria dar um jeito, mas
não trairei Hana, não depois de tudo o que ela fez
por mim. Sei muito bem os sentimentos que ela
tem e seria uma canalhice sem tamanho trair não
só sua confiança mas também sua amizade dessa
forma. Nem mesmo o Glenn me faria perder tanto
assim os meus princípios.

— Você está com seus comprimidos? — Jung


pergunta sentando-se a minha frente.
— Não, ficaram em casa. Aish!* Não sou um
drogado que anda com isso a todo tempo, Jung.
— Reclamo. (*Aish é uma onomatopeia que
representa raiva, decepção ou frustração)

— Não estou te chamando de drogado. Só queria


saber se podíamos beber. — Jung responde e se
levanta antes que eu tenha oportunidade para
negar.

Poucos minutos se passam até que Jung volte


com uma garrafa já aberta de soju e dois copos de
dose. Ele serve a bebida para mim e me entrega a
garrafa para que eu sirva para ele.

— Eu não queria beber. — Reclamo, mas mesmo


assim coloco a bebida no copo dele.

— Você está me devendo isso, de tanto nervoso


que me fez passar. — Seu cenho está franzido
conforme ele fala, mas seus lábios desenham um
suave sorriso.

Viramos a bebida quase ao mesmo tempo. Sinto o


líquido forte queimar minha garganta conforme
desce e logo Jung está servindo novamente meu
copo.

Quando dou por mim, já perdi a conta de quantas


doses tomei, outras duas garrafas vazias fazem
companhia a primeira que tomamos. Minha
cabeça está leve e eu me sinto um pouco tonto.

— Vou acabar passando mal se beber mais. —


Digo e Jung apenas ri.

— Você realmente não cogita encontrar com seu


rapaz? — Jung pergunta.

— Não. Eu não faria isso com a Hana. —


Respondo, me jogando no sofá e encarando o
teto.

— Você pode terminar com ela, sabe…

— Não posso, Hana tem sentimentos por mim e


ela me ajudou quando precisei, não da para
descartar ela assim.

— Acho que você não estaria descartando ela, e


sim dando oportunidade para ela ser feliz com
alguém que realmente goste dela. Ela merece ser
amada.

Penso naquilo por alguns momentos, me lembro


da notícia que li algumas horas antes e as
conexões se formam em minha cabeça no mesmo
instante.

— Você gosta dela! — Eu afirmo.

— Eu não gosto dela Childe. Uma coisa não tem


nada a ver com a outra. — Jung suspira,
claramente já sabendo que eu chegaria a essa
conclusão.

— Você gosta dela, você gosta dela. — Rio e


começo a implicar com ele feito uma criança de
cinco anos.

— Childe! Não gosto dela… Gosto de outra


pessoa. — Jung fala com voz séria e me olha
intensamente.

— Você gosta de mim? — Pergunto franzindo o


cenho. — Porque, você sabe que…
— Aish! Não gosto de você Childe. Que droga,
você é um bêbado insuportável. — Ele me
interrompe. — Gosto da Diana, mas não vai rolar
nada, porque simplesmente não consigo ser
irresponsável como você.

Jung diz e se levanta, sem me dar chance de


responder, ele pega as garrafas de vidro ao nosso
redor e caminha com passos pesados para longe.
Acabo dormindo no sofá, enquanto espero seu
retorno.

Quase três meses depois, tudo está o completo


caos. Hana terminou comigo na mesma semana
que foi anunciado a turnê, os fãs estavam fazendo
sua vida impossível até que ela expôs nosso
rompimento. Ela não falou comigo desde então,
queria poder fazer algo para apoiá-la num
momento tão frágil, mas minha presença deve
apenas representar mais dor para ela.

O rompimento, no entanto, me fez confrontar o


fato de que estarei novamente em frente a Glenn
e estarei solteiro, não sei o que posso esperar por
esse momento. Meu coração chega a dar pulos só
de pensar na hora que eu olhar novamente
naqueles belos olhos.

Tenho feito terapia e isso tem me ajudado a livrar


de todo o sentimento ruim acumulado, mas sequer
abordei o assunto Glenn. É como se ele fosse
algo intocável, que não quero abordar no mesmo
lugar em que falo do meu passado.

É a primeira vez que falo abertamente com


alguém sobre o que aconteceu, e ainda é difícil
para mim, mas, estou tentando ser forte. Não
estou tomando os remédios e estar ficando na
casa de Jung tem sido bom, não se preocupar
com a solidão é algo novo para mim. Sentirei falta
dele quando estiver viajando.

— Você está muito pensativo. Está tudo bem? —


Jung pergunta, quando nota meu silêncio.

— Estava pensando em como vou sentir sua falta.


Falta tão pouco para a viagem…

— Não está ansioso para ver seu rapaz de novo?


— Estou com medo. Apesar de não estar mais
com a Hana, conheço os problemas, sei que são
maiores que isso. Não quero que ele sofra ou que
tenha que enfrentar fãs malucas como ela teve.

— Entendo… Não queria estar no seu lugar.

— Você não estaria no mesmo lugar que eu, é


muito mais forte que eu Jung. Sempre fui muito
fraco…

— Isso não é verdade. — Ele me corta


rapidamente.

— É sim. Fugi dos meus problemas e estou


fugindo de novo, porque tenho medo de encarar
as coisas de frente.

— Todos temos medo Childe. Eu sequer beijei a


mulher que me interessou, porque tive medo. Às
vezes me pego pensando se não devia ter
simplesmente falado a verdade e beijado ela ou se
seria ainda pior saber que estaríamos separados
de qualquer jeito. Nenhum de nós é forte e está
tudo bem.
— Talvez você tenha razão Hyeon-Woo. —
Respondo simplesmente e sinto o olhar de Jung
sobre mim.

Seus olhos estão levemente arregalados e sua


boca aberta. Demoro a perceber o motivo, mas
logo que percebo sinto meu rosto enrubescer. É a
primeira vez que o chamo pelo primeiro nome
desde que nos conhecemos. Vou realmente sentir
falta desse cara.

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