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A. G. Wilde - RIV'S SANCTUARY Book 03

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O REFUGIO DE

KA’CIT
RIV’S SANTUARY BOOK 03

A. G. WILDE
O REFUGIO DE KA’CIT
― Não é a melhor maneira de me apresentar a você... Um
cavalheiro teria pelo menos cumprimentado você
primeiro...
...mas não sou um cavalheiro.

Ele é o Esmagador de Ossos. Um macho de máscara.

Seu rosto está escondido ao lado de suas intenções.

Ele não faz as coisas de graça... ou para ser legal.

Então, como Nia acabou presa em uma nave com ele ao


seu lado?

Ela queria aventura, mas Ka'Cit Urgmental foi tão.


MUITO DE. MAIS.

É óbvio que ele só veio para ajudá-la a voltar para o


Santuário.

Nada mais.
MAS... quando ele começa a olhar para ela como se ela
devesse estar em seus braços, em sua cama... sua, logo fica
claro que as coisas não são tão simples.

Essa máscara que ele usa? Seu rosto não é a única coisa
que esconde.

É um escudo de metal que cobre muito mais…

Se o que está por baixo vai separá-los ou juntá-los, isso é outra


questão.
AVISO

Esta tradução foi feita por fãs e para fãs. SALT realiza esta
atividade sem fins lucrativos e tem como objetivo incentivar a
leitura de autores cujas obras não são traduzidas para o
PORTUGUÊS.

O material a seguir não pertence a nenhuma editora NO


BRASIL e por ser feito por diversão e amor à literatura, pode
conter erros.

NÃO COMPARTILHEM, NUNCA FALEM QUE LERAM EM


NOSSA LINGUA. SE FOREM ELOGIAR PARA A AUTORA,
PASSEM O QUE QUIZEREM PELO TRADUTOR ANTES DE
MANDAR.

Se você tiver a possibilidade, compre seus livros,


QUANDO CHEGAREM EM NOSSO PAÍS.

Esperamos QUE ESTE TRABALHO AGRADE A TODAS.


SE NÃO GOSTAREM VENHAM AJUDAR EM VEZ DE SAIR
RECLAMANDO.
ESTÁ TRADUÇÃO FOI FEITA
POR FAS E PARA FAS.
Nós realizamos está atividade sem fins lucrativos e
temos como objetivo incentivar a leitura de autores cujas
obras não são traduzidas para o PORTUGUÊS.
O material a seguir não pertence a nenhuma
editora NO BRASIL, e por ser feito por diversão e amor à
literatura, pode conter erros.

ESTE LIVRO É FEITO PARA LEITURA


INDIVIDUAL, NÃO COMPARTILHEM

Por favor, não publique nossos arquivos em blogs,


Istagram, Twitter e no DOCERO.
DEDICATÓRIA

Para aqueles que ainda esperam pelo seu felizes para


sempre <3
CAPÍTULO 1

Os olhos de Nia se abriram e ela piscou para o teto. O


quarto ainda estava bem escuro. Ainda não havia luz e ela não
tinha certeza do que exatamente a tinha acordado, mas algo
tinha.

Por alguns momentos, ela ficou deitada no escuro, seus


olhos se ajustando à falta de luz ao seu redor.

Então ela ouviu.

Um baque surdo e depois outro contra a parede atrás de


sua cabeça.

Uhhhh.

Ela sabia o que era isso.

Em qualquer outra circunstância, ela teria ficado


alarmada, pensando que alguém havia invadido seu
apartamento.

Mas ela não estava mais em seu apartamento, ela nem


estava na Terra, e ninguém estava invadindo seu quarto aqui.

Outro baque surdo atingiu a parede e o inegável som


abafado de uma fêmea gemendo atingiu seus ouvidos.

Nia fechou os olhos e gemeu enquanto enterrava o rosto


na cama.
Oh Deus.

Um macho grunhiu, e quando a fêmea gemeu novamente,


Nia se encolheu e enterrou o rosto ainda mais na cama.

Eram Riv e Lauren. A outra fêmea humana e seu


companheiro Merssi dormiam no quarto diretamente ao lado
do dela e, infelizmente, isso significava que Nia ouvia
claramente quando eles estavam transando.

E eles 'transam' MUITO.

Talvez fossem os hormônios de Lauren ou algo mais, mas


ela não conseguia se cansar do cara.

― Por favor... ― Ela ouviu Lauren implorar.

Riv grunhiu algo feroz.

Foda-se. Porra. Nia se encolheu novamente.

Para Nia, aquele rosnado soou mais assustador do que


sexy, mas pelo gemido que saiu da boca de Lauren, ela
adivinhou que era o último.

Eles eram tão barulhentos.

As paredes também não eram finas.

Ou Riv era bom pra caralho no que estava fazendo ou


Lauren estava fingindo.

Algo lhe dizia que era o primeiro. Por que mais eles
estariam a fazer tanto?
Algo bateu com força na parede e fez Nia pular.

Ela meio que esperava que alguém uivasse de dor, mas


isso não aconteceu.

Provavelmente foi o corpo de Riv que colidiu com a


parede.

Apesar de que o macho era a pessoa mais mal-humorada


que ela já conheceu, ele era incrivelmente suave e carinhoso
com sua companheira. O sexo parecia áspero, mas Lauren
nunca teve hematomas... e nunca reclamou.

Nia deu de ombros. Na verdade, não é da minha conta.


Pelo menos um deles estava se divertindo por aqui.

Esse pensamento fez um peso desconfortável se instalar


sobre ela, e ela balançou a cabeça para afastar o sentimento.

Ela precisava levantar da cama e sair para alimentar os


animais.

Quando outro gemido alcançou seus ouvidos, foi o


suficiente para fazê-la pular da cama.

Seus pés bateram no chão em um movimento suave


enquanto ela se levantava.

A cama era como uma almofada enorme em uma laje


dura, mas funcionava bem. Ela sempre teve uma boa noite de
sono... bem... exceto quando ela era acordada por pessoas
fazendo sujeira.
Vestindo a calça marrom e a blusa combinando que
Lauren havia comprado para ela, Nia foi na ponta dos pés até
a porta e a abriu lentamente.

O banheiro ficava bem em frente ao seu quarto e ela


entrou silenciosamente, mas não antes que outro dos gemidos
de Lauren chegasse a seus ouvidos.

Sim, ela definitivamente precisava sair.

Era muito cedo para alguém sair para começar o dia, mas
se tornou uma espécie de ritual para ela.

Era isso ou ficar desconfortavelmente ouvindo a coisa


mais próxima de pornografia que ela teria neste novo mundo.

E ela não era nem um pouco esquisita, mas quanto mais


ela as ouvia, mais isso mexia com coisas dentro dela que
preferia não enfrentar todas as manhãs.

Ouvi-los a lembrou de que ela não tinha ninguém.

A outra humana que vivia no Santuário, Cleo, foi


acasalada com o irmão de Riv, Sohut. Aquele casal também
não era diferente. Ela tinha certeza de que provavelmente os
ouviria também quando tivesse que ir ao lado deles da casa no
caminho para fora.

Havia muito... sexo acontecendo nesta casa.

Enquanto lavava o rosto, Nia afastou os últimos vestígios


de sono.
A água estava fria enquanto corria sobre sua pele, e ela
esfregou os olhos para acordar mais rápido.

Ela não tinha do que reclamar. A vida poderia ter sido


pior.

De acordo com algumas das histórias que Cleo e Lauren


contaram, ela poderia ter acabado em um zoológico, ou pior,
vendida como escrava sexual.

Foi uma decisão fácil. Ouvir sexo era muito diferente de


ser forçado a realizá-lo.

Esta era sua vida agora.

Enquanto ela alisava os últimos salpicos de água sobre


sua pele, ela passou pelas tarefas que tinha que fazer.

Ela teria que lidar com os umus primeiro – pequenos


animais redondos com lã como ovelhas. Eles eram tão
redondos e fofos que não pareciam reais. Mas eles eram
incrivelmente teimosos e estavam sempre tentando mordê-la
ou escapar.

Mais de uma vez, eles quase saíram de seus cercados


quando ela não estava prestando atenção.

Alimentar o umus enquanto meia adormecida era uma


má ideia.

Só por isso, ela lavou o rosto novamente.


Havia enxaguante bucal, e ela tomou um gole. Ele
borbulhou quando ela o sacudiu na boca, limpando os dentes.

Cuspindo o fluido, Nia respirou fundo e abriu a porta.

O corredor estava quieto.

Talvez eles tivessem terminado?

Bem, mesmo que não tivessem, ela não esperaria.

Ela saiu do banheiro e correu silenciosamente pelo


corredor.

A casa ainda estava quase toda escura, mas ela sabia que
assim que chegasse lá fora, ela veria o brilho fraco do sol
iluminando o céu rosa.

Ela estava entrando na sala principal quando quase caiu


quando tropeçou em algo enorme, escuro e peludo que estava
caído no chão.

A coisa rosnou e levantou a cabeça. Quatro olhos


piscaram para ela com leve aborrecimento.

― Ufa! ― Nia sussurrou. ― Desculpe, Grot.

O enorme tevsi canino de Riv abaixou a cabeça e a


ignorou enquanto ela continuava seu caminho.

Grot era aterrorizante. Ele parecia algo que daria a


Cerberus uma corrida para a criatura de quatro patas mais
aterrorizante.
A primeira vez que viu o animal, quase se mijou, mas logo
percebeu que era inofensivo, pelo menos, desde que não
estivesse sendo hostil a Riv ou Lauren.

O tevsi amava Lauren tanto quanto amava seu mestre.

Ela estava quase saindo pela porta do outro lado da casa


quando ouviu mais sons abafados e ofegantes.

Outro estremecimento a fez parar por um momento.

Ela estava certa. Sohut e Cleo estavam nisso.

― Foda-se macho, ― ela sussurrou. Ela nunca tinha


ouvido as pessoas fazendo tanto sexo em sua vida.

Foi chocante?

Um pouco.

Ela odiou?

Na verdade, não…

Ela estava com ciúmes?

Nia limpou a garganta e saiu pela porta.

Essa pergunta não era uma que ela estava disposta a


responder.
Foda-se aquela voz irritante em sua cabeça por acordar
tão cedo e perguntar em primeiro lugar.
CAPÍTULO 2

Lá fora, o ar fresco da manhã a saudou. O céu roxo escuro


já estava começando a ficar rosa quando a manhã chegou e
Nia sorriu.

Ela estava feliz que este era o planeta em que ela pousou
e não um deserto estéril. Hudo III era lindo.

O céu era rosa durante o dia e quase nunca havia nuvens,


mas quando havia, era como olhar para algodão doce
flutuando acima. A grama era laranja e as folhas das árvores
também.

E os animais... eles eram incríveis.

Assim que ela pensou neles, um tilgran de pescoço


comprido colocou a cabeça sobre o cercado para olhar para ela.

― Olá, Morfeu, ― disse ela. Morfeu piscou para ela.

Ela lhe deu o nome porque ele parecia onisciente,


onisciente.

Na verdade, ela nomeou quase todos os animais do


Santuário. Ela certamente teve tempo para fazê-lo.

Os outros não entendiam ou nem conseguiam


acompanhar os nomes, então ela era a única que os usava.
Riv, por exemplo, franzia a testa para ela sempre que ela
chamava os animais pelos nomes; ele olhou para ela como se
ela estivesse louca e ocupando seu espaço... mas, novamente,
ele olhava para todos assim. Ele não entendia por que ela
nomeou a maioria deles... provavelmente Lauren e Cleo
também não entendiam.

Não a entenda mal, ela estava realmente grata pelo fato


de Riv tê-la recebido. Ela estremeceu ao pensar no que teria
acontecido com ela de outra forma. Mas a vida não era fácil...
e não era fácil de uma das maneiras mais superficiais – tão
superficial, ela odiava admitir.

Ela estava solitária.

Lá. Ela disse isso.

Deus, era horrível só de pensar nisso.

Ela se sentiu estúpida e ingrata. Mas a verdade era que o


sentimento começou pequeno até se desenvolver em algo que
ela estava tendo dificuldade em controlar.

Era o tipo de solidão que vinha mesmo quando você


estava no meio da multidão, cercado de pessoas.

E o que foi surpreendente foi que veio de uma parte de


sua vida que ela menos esperava.

Ela sempre se sentiu confortável estando sozinha.

Ela nunca dependeu de ninguém. Nunca esperei nada de


ninguém.
Então, esse vazio dentro dela que estava tão
profundamente enraizado era um que ela não sabia muito bem
como abordar.

Morfeu piscou para ela.

― Não, Morfeu. Não estou falando de sexo. Não é sexo que


eu quero.

Ela desviou o olhar.

Não era sobre sexo. Se fosse esse o caso, ela tinha os


dedos e uma banheira de hidromassagem no banheiro com
super jatos que ela poderia usar.

Foi mais do que isso.

Fazia bem mais de um ano e meio desde que ela deixou a


Terra, e em todo esse tempo, ela esteve praticamente sozinha.
De volta à Califórnia, ela não teve tempo para pensar em
relacionamentos.

Ela sempre se manteve ocupada. Entre trabalhar meio


período na clínica e ajudar seu pai a administrar seu programa
para crianças carentes, ela não teve muito tempo para pensar
em seu futuro romântico.

Em seus dias de folga, ela ficava no campo de tiro


acertando alvos a maior parte do tempo ou jogando Call of
Duty.

As relações sociais nunca tinham sido sua praia.


Não que isso importasse agora. Nenhum dos amigos que
ela teria feito na Terra seria capaz de fazer companhia a ela
agora, mas ela achava que ver Lauren e Cleo tão felizes com
seus companheiros também não ajudava.

O relacionamento deles era tão próximo que ela não


conseguia deixar de se sentir excluída às vezes, mesmo quando
eles faziam o possível para incluí-la.

A terceira roda era sua vida agora.

Droga.

Ela não podia descer nesta toca de coelho. Não esta


manhã.

Cleo suspirou e entrou no recinto de Morfeu. Os outros


tilgrans a ignoraram, mas Morfeu baixou a cabeça e a mastigou
um pouco.

― Morfeu! Pare! Para baixo garoto. Eu disse-te que o meu


cabelo não é comida. Você sabe disso.

Morfeu piscou para ela, e ela teve quase certeza de que


ele revirou os olhos.

Os tilgrans eram todos roxos e pareciam um pouco com


girafas, mas eram incrivelmente inteligentes.

Sempre que falava com Morfeu, sentia que ele entendia


cada palavra.
― Mastigue meu cabelo de novo e eu não limparei sua
gaiola.

Morfeu estendeu o pescoço até a altura máxima e se


afastou.

― Uh huh, pensei assim. Você não quer fazer isso, quer?

Nos minutos seguintes, ela passou a cavar os dejetos dos


tilgrans.

Não era muito, não com cinco pessoas trabalhando na


fazenda todos os dias – ela nem precisava fazer isso se não
quisesse – mas ela tinha que se manter ocupada.

Se ela estava ociosa, ela começou a pensar. E quando ela


começou a pensar, ela começou a refletir. E quando isso
aconteceu, ela acabou se sentindo deprimida.

Ela prefere não cair nessa armadilha.

Então ela se manteve ocupada.

Quando o sol nasceu, ela fertilizou as árvores frutíferas


com os resíduos e verificou todas as árvores em busca de
recém-maduras. Então ela voltou com um caixote cheio de
frutas e o balde de cocô na outra mão.

Ela deu um presente a Morfeu, e foi aí que ela se lembrou


de que planejara lidar primeiro com os umus parecidos com
ovelhas.
Ela foi naquela direção em seguida e se certificou de que
todos os cercados estavam cheios de feno fresco.

Ela estava exausta quando saiu da estrutura parecida


com um celeiro. O sol estava alto e banhava a fazenda com um
brilho quente.

Nia sentou-se em um dos enormes montes de feno.

Havia algumas pedrinhas por perto e ela as pegou na


mão, passando os dedos sobre elas enquanto procurava um
alvo.

Eles eram mais pesados do que seixos na Terra, embora


aproximadamente do mesmo tamanho. Ela ficou surpresa na
primeira vez que pegou um na mão. Tinha um bom peso e, se
ela quisesse, tinha certeza de que poderia machucar alguém se
decidisse jogar um contra eles.

Ela examinou a fazenda à sua frente e logo avistou algo –


um balde contra uma das cercas a cerca de dez metros de
distância.

Nia estreitou os olhos, se concentrou e jogou a primeira


pedrinha.

Quando o objeto voou pelo ar para pousar bem no centro


do balde, ela não pôde evitar o sorriso que iluminou seu rosto.

― Ainda consigo, Nia. Ainda o tenho.

Ela perdeu a prática de tiro ao alvo. Atirar fora apenas


uma das coisas que seu pai a ensinara a fazer. Depois que ele
se aposentou das forças armadas, isso e seu programa tinham
sido sua maneira de se manter ativo e ela sempre o
acompanhava.

A tristeza nadou brevemente dentro dela quando ela


jogou outra pedrinha e ela caiu no balde.

Ela sentia falta do pai.

― Me pergunto se ele está bem…

― Quem?

Nia pulou com a voz e se virou para ver Riv não muito
atrás dela.

Ele tinha um jeito de se esgueirar sem que ela ouvisse.


Seu irmão também.

Ou eles andavam bem quietos, ou ela tinha uma audição


ruim.

― Ah, Ri! Bom dia.

Riv grunhiu, seus olhos perfurando os dela.

O macho alto de pele azul não estava usando seus óculos


escuros ou cobrindo o rosto esta manhã, e ela teve uma boa
visão de sua carranca.

― Acordou cedo de novo.


Nia assentiu. ― Como sempre. ― Ela reprimiu uma
pequena risada enquanto pensava em dizer a ele exatamente
por que ela tinha acordado tão cedo nos últimos meses.

Ela duvidava que os casais soubessem o quão barulhento


eles eram.

Eles não estavam fazendo isso de propósito e, bem, ela


não queria estragar a diversão deles.

Riv grunhiu e caminhou em direção aos cercados dos


umus.

― Oh, eu já alimentei os umus.

Riv fez uma pausa, virou a cabeça e deu a ela um olhar


que perguntava ― por quê? ― antes que a carranca em seu
rosto parecesse se transformar em pedra.

Ele cruzou os braços e olhou para ela. ― O que há de


errado com você, humana?

Nia piscou para ele. Apesar da raiva óbvia em seu rosto,


ela não tinha medo dele.

Se viver perto dele nos últimos meses lhe dizia alguma


coisa, ele só estava chateado porque se importava.

Todos se importavam com ela – Sohut, Cleo, Lauren, Riv


– à sua maneira.

Ela tinha sido arrancada de sua família na Terra, e agora


ela tinha uma nova.
― Riv? ― Lauren chamou da porta. Os cabelos loiros da
fêmea balançavam com o vento fraco, assim como a camisola
branca que ela estava vestindo.

Seu rosto estava corado, provavelmente pelos cuidados


de seu companheiro não muito tempo antes, e seu olhar saltou
entre eles. ― Ela fez todo o trabalho de novo?

― Sim, ― Riv rosnou, mas seu rosnado não era


ameaçador. Na verdade, seu rosto se suavizou quando caiu
sobre Lauren e sua barriga arredondada.

Ela já estava começando a aparecer.

Nos próximos meses, haveria mais um ser vivendo no


Santuário. Meio merssi, meio humano.

Nia sorriu.

Ela era egoísta em querer que o bebê viesse rapidamente


só para poder aconchegá-lo?

― Niaaa, ― Lauren disse. ― Você realmente não precisa


trabalhar tanto. Juro que você é como um daqueles robôs nos
campos.

― Pior, ― Riv murmurou.

― Eu disse a vocês, eu não me importo. ― Nia deixou cair


as pedrinhas e espanou as mãos nas calças.

Quando ela olhou para cima, ambos estavam olhando


para ela como se pensassem que ela estava mentindo.
Foi a vez de Nia rir. ― Realmente, não.

Lauren acariciou sua barriga. ― Bem, você deveria entrar


de qualquer maneira. Estamos indo para a Bolsa para pegar
algumas coisas. Achei que você gostaria de ir junto…

Algo zumbiu dentro de Nia e ela quase pulou de alegria.

A Bolsa era como um grande mercado ― não, era o


mercado dos mercados.

Era movimentado; divertido; emocionante…

Eles não iam ao Mercado regularmente porque Riv odiava


o lugar e ela nunca ia com Sohut e Cleo porque a ideia de
viagem deles geralmente incluía ir para algum deserto rastrear
animais selvagens.

Mas esses não eram os únicos motivos pelos quais eles


raramente visitavam a Bolsa.

O mercado poderia ser perigoso se você fosse novo na


sociedade Hudo. Sempre havia alguém observando das
sombras, pronto para roubá-lo... ou pior.

― Você está indo para a Bolsa?

― Sim. ― Lauren sorriu. ― Quero dizer... nós estivemos


pensando sobre isso. Precisamos de alguns suprimentos para
o bebê. ― Ela esfregou o estômago.

― Oh, bem, estou dentro! ― Nia saltou do monte de feno


e foi em direção à casa.
O olhar preocupado de Lauren segurou o dela enquanto
ela se aproximava.

― Tem certeza? É meio perigoso e…

E ela era uma estrangeira ilegal.

Sim, ela sabia.

― Eu sei, mas terei você e Riv lá comigo. ― Nia sorriu. ―


Além disso, você vai precisar de ajuda para carregar as sacolas.

Lauren fez uma pausa, estudando-a por alguns


momentos antes de sorrir.

― Ok. Se você tem certeza…

― Tenho certeza.

Tão certa quanto ela jamais estaria. Se não fosse por


oportunidades como esta, ela ficaria presa no Santuário para
sempre.

Eles só teriam que ser cuidadosos enquanto estivessem


na Bolsa. Não era a primeira vez que eles fariam uma viagem
até lá, e não seria a última.

E como da última vez, tudo correria bem.

Certo?

Nia afastou o pequeno fio de dúvida em sua mente.

Tudo ficaria bem.


CAPÍTULO 3

Enquanto o carro flutuante acelerava pela planície, a


grama alt amarelo alaranjada balançava ao vento.

Ao longe, ela podia ver oogas selvagens pastando, seus


grandes corpos se destacando contra a grama.

Nia ajustou o capuz do enorme manto marrom sobre a


cabeça.

Era grande o suficiente para esconder seu rosto quase


completamente.

Ela estava até usando uma das coberturas de rosto de Riv


sobre o nariz e a boca.

A capa se fechava na frente e pendia até os dedos dos pés.


Também cobriu suas mãos, atingindo as pontas de seus dedos.

Ela tinha certeza de que não chamaria a atenção com


essa roupa. Ninguém saberia que ela era humana por baixo
dessa coisa.

Mas essa não era toda a razão pela qual ela estava
coberta.

Seu olhar caiu sobre Lauren, que estava sentada na


frente do veículo ao lado de Riv.

Lauren não precisava usar uma capa.


Ela tinha uma mão apoiada na coxa de Riv e sua pulseira
de identificação estava claramente visível.

Chegou apenas alguns dias depois que Nia apareceu no


Santuário e eles fizeram uma viagem de volta à Bolsa para que
ela pudesse obter sua marca de registro oficial – uma tatuagem
no centro de seu pulso.

Nia olhou para o próprio pulso.

Sua pulseira e tatuagem eram falsas.

De alguma forma, Riv os adquiriu para ela apenas para


viagens como esta.

Ao contrário de Lauren, o dela não lhe concedia nenhum


direito especial ou nenhuma liberdade.

Ela não estava no sistema – ela era uma estrangeira ilegal


– e iria ficar assim por um tempo ou, pelo menos, até que ela
encontrasse uma maneira de se registrar.

Enquanto o carro flutuante continuava acelerando, Nia


suspirou, desviando seu olhar.

Ela não sabia como faria isso, mas, eventualmente, ela


teria que encontrar uma maneira.

Os refugiados precisavam de um patrocinador antes de


receberem residência no Hudo III e o patrocinador teria que
abrir mão de metade de tudo o que possuíam para fazê-lo.

Riv patrocinou Lauren e Sohut patrocinou Cleo.


Eles estavam seguros. Era só ela que não estava
registrada e, por esse motivo, Riv havia adquirido as
identidades falsas.

Se alguém perguntasse, ela poderia rapidamente mostrá-


los e seguir seu caminho, mas ela esperava que a capa a
mantivesse escondida.

Ela não sabia por quanto tempo ficou desligada, mas a


planície logo se transformou em pedaços de civilização.

Pequenas habitações em forma de garrafa apareciam de


vez em quando antes de se aproximarem do que poderia ser
uma pequena cidade.

Os prédios foram aumentando gradativamente, as


estradas também, até chegarem à cidade. O tráfego se movia
de uma maneira que ela nunca entenderia.

Não havia sinais de parada, mas cada motorista parecia


saber exatamente o que estava fazendo. Não demorou muito
para que eles de repente estivessem entrando em uma enorme
área de estacionamento cheia de outros veículos flutuantes.

Ela já podia ouvir o zumbido do Mercado além dos


enormes portões.

Era o tipo de zumbido que surgia quando muitas pessoas


estavam no mesmo local, um milhão de conversas acontecendo
ao mesmo tempo.
Riv parou em uma baía, saltou e dirigiu-se para o outro
lado para permitir que Lauren descesse.

Ele se moveu para ajudá-la também, mas ela já havia se


lançado pela lateral do veículo e estava esperando por eles.

― Pronta? ― Lauren perguntou.

Nia assentiu.

Enquanto se dirigiam para dentro, Lauren e Riv na frente


e Nia atrás, Nia manteve a cabeça baixa.

A capa a cobria completamente, mas isso não significava


que ela iria encarar os alienígenas em seus rostos.

Embora a maioria dos alienígenas ao redor deles


parecessem compradores regulares, ela não podia ser muito
cautelosa.

Não foi até que eles estavam em uma das ruas que ela
olhou para cima. Ela quase engasgou com admiração.

Havia criaturas holográficas flutuantes no ar e ela


rapidamente percebeu que eram como animais em balões
infláveis que as crianças podiam comprar. Algumas crianças
alienígenas estavam pulando ao lado de seus pais na barraca
de onde os animais de balão flutuavam, e se ela tivesse o
dinheiro e não estivesse com Riv e Lauren, ela provavelmente
teria escapado para pegar um para si mesma.

Ao redor deles, a multidão era densa e se movia como


uma onda.
De vez em quando, ela era esbarrada pelos alienígenas
que passavam por ela, e se ela nunca tivesse ido a Bolsa antes,
ela teria parado com admiração para olhar para eles.

Havia alienígenas vermelhos e alienígenas brancos,


alienígenas negros e verdes. Havia alienígenas altos com
antenas e outros curtos e atarracados. Alguns tinham a pele
lisa, alguns tinham a pele áspera ou peluda. Alguns eram
carecas, alguns tinham cabelos que se moviam sozinhos.

Era um caldeirão único de culturas e era... incrível.

Cada vez que eles visitavam a Bolsa, ela sentia uma


espécie de tristeza quando pensava sobre de onde tinha vindo:
a Terra.

Pensar que a maioria dos humanos pensava que estava


sozinho no universo... Se eles vissem o que ela estava vendo...
viveram o que ela viveu...

Enquanto eles continuavam, seu olhar mudou para outra


coisa.

Havia tantas coisas para ver, incontáveis espécies de


alienígenas, e tantos tipos de mercadorias, ela não tinha
certeza para onde olhar às vezes.

Mais de uma vez eles pararam em uma barraca porque


Lauren estava tão impressionada quanto ela.

― Veja isso! ― Lauren estendeu a mão para tocar um fio


de fumaça que flutuou no ar. O comerciante na barraca estava
fumando algo que parecia uma enorme agulha com um anel
em uma ponta e soprando a fumaça pelo que ela supôs ser o
nariz dele?

De alguma forma, ele estava fazendo formas com as


fumaças e ela ficou parcialmente fascinada e desligada ao
mesmo tempo.

― O que é aquilo? Como ele faz isso... ― Seu murmúrio


pegou a orelha de Riv e ele resmungou.

― Fumaça Woogli. ― Com isso, ele guiou Lauren para


frente, e eles continuaram seu caminho.

Ele parecia saber exatamente para onde os estava


levando, a julgar pela maneira como andava com confiança,
tecendo-os de uma rua a outra, e Nia ficou feliz em seguir
atrás.

Quando finalmente pararam de andar, estava em frente a


uma barraca com alguns cilindros pairando.

Ela não percebeu o que eram até que uma das coisas se
abriu.

― Ah, um berço!

Lauren sorriu e estendeu a mão para tocar o mais


próximo.

As coisas pareciam caras, mas ela sabia que Riv não se


importaria. Ele ficaria feliz em dar um braço e uma perna para
fazer Lauren feliz.
Enquanto olhava ao redor para a multidão de alienígenas
subindo e descendo a rua, Nia ouviu vagamente os oohs e ahhs
de Lauren enquanto olhava para alguns dos outros berços.

Ela podia sentir a excitação de Lauren, mas outra coisa


chamou sua atenção.

Do outro lado da rua, havia um grupo de alienígenas em


vestes parecidas com a que ela estava vestindo.

Nia franziu a testa um pouco enquanto os observava.

― Ei, pessoal, parece que minha escolha de moda não é


tão anormal... ― ela disse, mas com o barulho ao redor deles,
não parecia que Riv ou Lauren ouviram.

Eles estavam muito ocupados discutindo qual dos berços


seria o melhor e o mercador estava discutindo e tentando, ao
que parecia, vender-lhes o mais caro.

Riv estava traduzindo o que Lauren disse ao comerciante


– porque apenas as poucas pessoas que eles conheciam
pessoalmente tinham o inglês carregado em seus dispositivos
tradutores – e ele fez uma careta para o comerciante enquanto
fazia isso.

Nia bufou uma risada pelo nariz. Pobre comerciante não


sabia contra quem estava lutando.

Ela estava prestes a olhar para trás em direção ao grupo


de alienígenas vestindo capas quando um deles de repente
esbarrou nela.
― O que você está fazendo, idiota? Você quer ser
ultrapassado? Mova isso! ― Ela mal podia ver o rosto do
alienígena que falava, mas algo alarmou dentro dela quando
ele a empurrou e ela tropeçou no meio do grupo.

Eles estavam andando juntos descendo a rua e Nia


percebeu rapidamente que ela estava sendo empurrada, pega
dentro de sua formação.

― O que? Não. Não estou... não estou com você.

Ela tentou sair do caminho deles e se esconder na beira


da rua, mas eram muitos, cerca de vinte pelo menos, e libertar-
se do meio deles estava sendo difícil.

A frustração de ter um metro e meio de altura e ser magra


a atingiu com força.

Era como ser pega em uma multidão de pessoas em


movimento que estavam indo em uma direção singular
enquanto ela lutava para ir para o outro lado.

― Hum, desculpe-me. ― Ela lutou para encontrar o


equilíbrio e sair do meio do grupo, mas isso não estava
funcionando. ― DESCULPE-ME!

― Phek. Parece que este bebeu demais. Que idiota. ― A


voz veio de sua direita. Era tão andrógino que ela não
conseguia determinar se o falante era macho ou fêmea, mas
adivinhou macho. ― Ele está tão chapado que está falando
bobagem.
Houve alguns grunhidos que ela assumiu que eram risos
antes de sentir um golpe forte na parte de trás de sua cabeça.
Isso quase a fez perder a consciência e sua visão nadou na
frente dela.

Você pensaria que eles a deixariam cair e a deixariam na


estrada para que ela pudesse se recuperar e rastejar de volta
para Riv e Lauren, mas não.

Ela tropeçou um pouco com o golpe e seus pés se


arrastaram, mas eles a puxaram coletivamente.

― Pare! ― Sua cabeça doía e seu grito não era nem alto.
― Pare! ― Ela cravou os pés no chão, mas isso não os impediu.
Tudo o que fez foi fazer com que ela quase perdesse os sapatos
algumas vezes.

― Continue se você sabe o que é bom para você, idiota.

Os braços se agarraram aos dela, forçando-a a avançar


enquanto o pânico surgia dentro dela como um pingente de
gelo em sua espinha.

― Você pegou a pessoa errada. Eu não estou com o seu


grupo!

Ela tentou se livrar deles enquanto falava, sem sucesso.


Esses filhos da puta eram fortes.

Eles andaram o suficiente agora para que ela não pudesse


ver Riv ou Lauren, mas ela não tinha certeza se isso era por
causa da distância que eles haviam se movido ou se era porque
ela estava tão presa entre os alienígenas que ela mal podia ver.
sobre seus ombros.

Sua respiração começou a ficar forte e rápida, e Nia fez a


única coisa que sabia que podia.

Ela colocou todo o seu peso nos braços que a seguravam


e chutou os da frente, tentando se libertar. Isso fez o grupo
perder a formação um pouco, e alguns dos alienígenas
tropeçaram.

― Phek!

― Segure-o!

Nia viu rostos escuros antes de gritar. ― Pare! Eu não


estou com você! Me deixar ir!

Certamente, os alienígenas ao seu redor perceberiam que


algo estava errado. Certamente, alguém iria ajudá-la.

Mas ela soube assim que o pensamento deixou sua mente


que isso não era verdade.

A Bolsa era implacável e uma coisa que os alienígenas


faziam aqui era cuidar da própria vida.

― Bata nele de novo. Ele precisa se calar. Se o chefe o


ouvir tagarelando quando chegarmos lá, ele saberá que todos
nós estávamos bebendo.

Quando seus pés tocaram o chão mais uma vez, ela quase
tropeçou, mas eles estavam andando em uma unidade tão
unida que ela foi mantida em pé. Um de seus tênis quase
escorregou de seu pé, e houve um momento em que ela estava
mancando, tentando não perder o sapato enquanto a
arrastavam. Ela comprou o par de um de seus vizinhos na
Terra.

A fêmea tinha sido enganada em um esquema Ponzi, e era


a única maneira que Nia sabia como ajudar – mesmo que os
sapatos fossem um tamanho muito grande.

Foi apenas azar que fossem os sapatos que ela estava


usando quando foi levada. Forçando, ela teve que apertar os
dedos dos pés para evitar que o sapato caísse. Quando ela se
acomodou em seu pé, seu calcanhar pousou em algo duro
como uma pedrinha, e Nia reprimiu um silvo de desconforto.

Então ela não só estava mancando agora, mas estava


lutando contra o que parecia ser a corrente de um rio em
movimento. Lutar contra o grupo de alienígenas que a
empurravam era como tentar nadar pelas corredeiras.

― Ouça! Eu não sou um de vocês. Olhe para mim! Por


favor, deixe-me passar!

Os alienígenas continuaram, sem ouvi-la, e Nia percebeu


que foi pega em uma das situações mais inesperadas. Ela
precisava fazer alguma coisa.

― Phek, ele está realmente fora de si, ― disse um.


― Phekking falando bobagem, ― disse outro. ― Eu lhe
disse para não dar aos novos qualquer bebida woogli. É muito
forte para eles.

Merda, isso mesmo. Eles não conseguiam entendê-la.


Ninguém falava inglês neste planeta.

Muuuuuito.

O pânico em sua espinha aumentou e quebrou por todo


o seu corpo, enviando pingentes de gelo em suas veias.

Com um esforço final, Nia tentou sair do grupo. Ela agitou


os braços enquanto tentava se libertar entre os alienígenas.
Com força que ela nunca soube que tinha, ela resistiu aos
braços que seguravam os seus para agarrar dois de seus
ombros para que ela pudesse avançar em direção à beira da
rua. A esperança brilhou quando ela viu o lado da rua por
apenas um momento.

Eles estavam subindo uma ladeira agora e, por apenas


um momento, ela conseguiu ver o cabelo loiro de Lauren
quando a multidão se separou um pouco. Ela e Riv ainda
discutiam com o comerciante que vendia os berços.

Ela viu Lauren se virar para dizer algo para ela, ela
assumiu, e o momento exato em que a fêmea percebeu que não
estava mais ali ficou claro.

O pânico inundou o rosto de Lauren e Nia gritou, mas


com o barulho do mercado e a distância agora entre elas, nem
Riv nem Lauren a ouviram.
Foi quando ela sentiu outro golpe na nuca e desta vez,
não fez sua visão nadar. Isso fez sua visão escurecer.

Porra.

― Não!

Ela esteve tão perto.

Ela lutou para manter a consciência, mas um grito


morreu em seus lábios quando ela sentiu seu corpo cair contra
os alienígenas ao seu redor.
CAPÍTULO 4

Ka'Cit odiava a Bolsa.

Não por causa do quão cheia estava.

Não.

Ele não odiava as multidões. Ele simplesmente odiava os


indivíduos que compunham as multidões.

Ele podia ver os demônios na maioria de seus rostos, as


mentiras atrás das quais se escondiam.

Ele só precisou de alguns segundos olhando para eles


para saber se eles estavam pensando em algo nefasto.

Talvez fosse por causa de seu trabalho, a vida que ele


escolheu para si mesmo, mas era uma habilidade estranha que
o fazia questionar os motivos de cada ser ao seu redor.

Ele havia aprendido há muito tempo que a maioria dos


seres era egoísta. Sempre.

Ele se sentou em uma das barracas de comida em um dos


níveis superiores da bolsa, uma bebida woogli escorrendo na
frente dele no balcão.

Lá embaixo, o mar de compradores na rua principal fluía


e refluía.
Ele estava sozinho. Apesar das barracas de comida
estarem sempre lotadas na bolsa, esta estava vazia, exceto pela
presença dele.

À sua frente, o mercador de comida tremia enquanto


fingia secar alguns utensílios de bebida limpos.

Qual era o problema dele?

Ka'Cit olhou para o mercador pela fenda em sua máscara.

― Há... algo de errado com a bebida? ― O mercador


perguntou, seus olhos redondos passando da bebida e depois
de volta para Ka'Cit. Seus braços finos e cinzentos tremiam,
assim como as antenas no topo de sua cabeça. ― Eu posso
fazer um novo, sem problemas. Não tem problema nenhum.

Ka'Cit rosnou e o comerciante quase deixou cair o


utensílio que fingia secar. ― O que faz você pensar que eu
quero uma nova bebida?

O mercador estremeceu ainda mais. ― P... porque... bem,


você não tocou nesse e está sentado aqui há bastante...
algum... tempo? ― As últimas palavras saíram com uma voz
trêmula, e os olhos do mercador dispararam do outro lado da
rua para outro mercador. Quando Ka'Cit olhou para trás, viu
o outro comerciante atrás de sua barraca antes que as
venezianas se fechassem lentamente.

Ka'Cit olhou para o comerciante à sua frente. ― Você tem


algum problema com isso?
O mercador começou a balançar a cabeça com tanta força
que suas antenas oscilaram.

― Bom. Então não temos problema.

Ka'Cit olhou para a bebida.

Ele não ia beber.

Mesmo que estivesse com sede, não teria tirado a


máscara para saciar a sede.

Ele nunca tirou a máscara perto de pessoas em quem não


confiava e principalmente em público.

Ele simplesmente comprou a bebida para ter algo a fazer


além de olhar para o balcão enquanto esperava o tempo
passar.

Ele tinha um trabalho para fazer mais tarde. Informação


a recolher. Talvez alguns braços para quebrar. Você nunca
soube com essas coisas.

Com esse pensamento, seu olhar disparou para o grupo


de Niftrills na barraca de comida na rua mais abaixo.

Eles estavam se movendo agora, tendo terminado sua


bebida.

Era hora de ir.

Eles não tinham ideia de que ele estava no encalço deles.


Mais cedo, quando ele esbarrou em um deles, ele colocou um
rastreador e um dispositivo de escuta no casaco do Niftrill.
Era simplesmente para poder ouvir tudo o que eles
estavam dizendo – não que ele esperasse conseguir o que
queria dessa maneira.

Nunca foi tão fácil.

― Se tudo estiver bem, Bone Crusher1, ― o comerciante


interrompeu seus pensamentos mais uma vez, ― eu gostaria
de fechar a barraca. Eu, hum, tenho, hum, negócios a tratar?

Isso foi uma pergunta?

Os olhos de Ka'Cit se estreitaram.

Bone Crusher.

Ele odiava esse nome.

Ele não triturou ossos... ele apenas os quebrou.

Havia uma diferença... realmente, havia.

Mas não era hora de conversar com algum comerciante


aleatório. Ele estava em um trabalho.

Seu olhar deslizou de volta para os Niftrills em movimento


e sua cabeça inclinou um pouco para o lado enquanto os
observava se mover.

No mar que eram os muitos seres da Bolsa, os Niftrills


caminhavam como uma unidade singular. No aparelho de

1 Triturador de Ossos
escuta em seu ouvido, ele podia ouvir que eles estavam
conversando sobre nada em particular.

Havia cerca de vinte deles, e apenas um tinha a


informação de que precisava.

Conseguir essa informação, no entanto... isso ia ser


difícil. Ele duvidava que o que ele precisava fosse deixar
escapar aleatoriamente o que ele estava procurando ouvir.

Niftrills eram uma espécie de matilha. Eles viviam em


grandes grupos, trabalhavam em grandes grupos e eram cruéis
quando um deles era ameaçado.

Ele teria que ser cuidadoso. Nada poderia realmente


separá-los, e isso era um problema porque ele só precisava
falar com um deles – um específico.

Conseguir aquele Niftrill sozinho testaria suas


habilidades.

Um sorriso brincou nos cantos de seus lábios.

Ele gostava de um desafio.

Ele tinha que ser discreto, no entanto. Ele não podia


deixá-los saber que ele os estava observando. Isso os deixaria
alertas.

Eles não eram as espécies mais inteligentes, por isso


dependiam de seu coletivo, mas sua reputação pode tê-lo
precedido. Ele nunca poderia ter certeza sobre isso, então era
melhor jogar pelo seguro.
Por essa razão, ele se virou para encarar o mercador à
sua frente.

O mercador ainda estava de pé diante dele, suas antenas


tremendo a cada segundo que passava.

Pelo amor de Deus, ele não era tão terrível. Não era como
se ele fosse atravessar a barraca e agarrar o mercador pelo
pescoço. Não, a menos que o mercador lhe desse motivo para...

― Naum esssstou com voceis! ― O som cortou o feedback


de áudio que ele estava recebendo dos Niftrills.

Ka'Cit congelou.

― Naum esssstou com voceis! Deixiii mi ir!

Ele não era especialista em linguagem, mas... ele


conhecia aqueles sons. Ele tinha ouvido uma linguagem assim
antes... mas onde?

Ele se virou na direção em que os Niftrills foram, seu olhar


os encontrando sem muita dificuldade.

Em seus enormes mantos marrons, eles andavam como


um bloco rígido. Nenhum comprador aleatório poderia ficar
entre eles ou dividir seu grupo.

Os olhos de Ka'Cit se estreitaram enquanto os observava


se mover. Ele não tinha certeza exatamente o que ele esperava
ver.

Talvez o som tivesse vindo de um transeunte.


― Pur favooor!

Ka'Cit se levantou, ignorando o mercador que pulou de


surpresa.

Aquela voz; aquelas palavras.

Chegou a ele então.

Ele conhecia aquela língua. Bem, ele não entendia, mas


já tinha ouvido antes muitas vezes.

Seus amigos Riv e Sohut tinham fêmeas humanas em seu


Santuário e falavam exatamente assim.

Seu olhar procurou a multidão em movimento.

Ele não viu as fêmeas de Riv ou Sohut.

Ele ainda podia ouvir a voz vindo do aparelho em seu


ouvido, mas ela estava falando tão rápido agora, seus sons não
soavam mais como palavras.

Ka'Cit se virou para olhar para a rua atrás dele, e foi


quando ele pegou o cabelo loiro do companheiro de Riv. Ela
estava no final da rua em uma barraca com unidades de
dormir para crianças. Riv estava atrás dela.

A companheira de Riv virou-se então, para falar com


alguém que não estava lá, e ele viu o momento em que seus
olhos se arregalaram em pânico quando seu olhar disparou ao
redor.

Algo estava errado.


O olhar de Ka'Cit voou de volta para os Niftrills em
movimento.

Os phekkers se moviam rapidamente por causa de como


andavam juntos.

Outros compradores simplesmente saíram do caminho


quando um bloco impenetrável estava viajando na outra
direção.

Ele estava ficando louco?

Ele tinha certeza que tinha ouvido...

Mas quanto mais ele olhava para os Niftrills, notava que


o Niftrill no centro não parecia estar andando com os outros.
Na verdade, ele parecia estar tentando quebrar a formação e
seguir na direção oposta, sem sucesso porque os outros
formaram um muro ao seu redor.

― Naum esstoou com voceiss!

Phek.

O do centro se contorceu e lutou. Na briga, e por apenas


um segundo, ele avistou algo.

Uma cobertura de rosto. Um como Riv usava.

Seu corpo inteiro congelou e apenas seu órgão vital deu


um baque enorme.

Era uma das humanas; ele simplesmente sabia disso.


Não era a companheira de Riv, e certamente não era de
Sohut – Sohut's Clee-yo era mais alta que isso.

Tinha que ser aquela outra fêmea humana.

O que ele tinha visto apenas uma vez.

Ela era uma coisinha, ele lembrou, quase do tamanho de


um Niftrill.

Um olhar para trás na rua para onde Riv e sua


companheira estavam parados, e ele viu que a companheira de
Riv estava frenética. Ela estava gritando, seu olhar
procurando, e seus olhos estavam vazando fluido por seu
rosto.

Ele não precisava ser o Merssi mais esperto para entender


o que devia ter acontecido, mas não teve tempo de ir até Riv
para lhe dizer que tinha visto onde a humana estava – em vez
disso, parecia, a direção em que ele estava. ela tinha sido
levada.

Sem pensar duas vezes, Ka'Cit agarrou o corrimão que


cercava a baia e se lançou sobre ele, estendendo as garras para
desacelerar enquanto se agarrava à lateral do prédio.

Niftrill trabalhava em naves de carga e se eles pensassem


que ela era um deles, eles iriam forçar a humana a entrar na
nave para cumprir sua obrigação de trabalho. Eles podem nem
perceber que ela não era um deles até que fosse tarde demais.

Eles não eram tão bons no departamento de visão.


Ele mesmo teria que ir atrás dela.
CAPÍTULO 5

Ka'Cit praguejou baixinho.

Os Niftrills se moviam rapidamente.

Ele não pretendia se aproximar deles, não até que tivesse


visto uma abertura, mas também não tinha planejado que uma
humana fosse pego entre eles.

Ele esperava que uma vez que eles quebrassem a


formação na plataforma, ele pudesse pegar a humana, devolvê-
la a Riv e de alguma forma voltar para a nave antes que ela
decolasse.

Ele ainda precisava encontrar e falar com aquele Niftrill.

Mas não havia como alcançá-los agora.

Não houve atraso antes de entrarem na nave.

Sem parar para carregar engradados ou caixas, e ele


percebeu por que isso acontecia. Esse foi apenas o segundo
grupo de Niftrills trabalhando para essa nave. Já havia outro
grupo lá que tinha feito todo o carregamento e
descarregamento antes que este segundo grupo chegasse.

Qual capitão de carga precisaria da ajuda de tantos


Niftrills?

Ele obteve sua resposta quase imediatamente.


O movimento chamou sua atenção e, instintivamente, ele
deslizou para trás de um enorme barril que estava no pátio de
carga.

Ka'Cit congelou quando o mercador de carga que possuía


a nave apareceu.

Uma sensação de inquietação de repente caiu sobre ele.

Ele conhecia aquele comerciante... pelo menos tinha


ouvido falar dela.

O nome dela era Herza – e ela era Merssi... como ele.

Se uma comerciante de carga fêmea já era estranha o


suficiente, uma que fosse Merssi era ainda mais estranha.

Merssi não trabalhavam.

Elas eram providas. Protegida.

Ver uma esculpindo uma vida para si mesma era...


inspirador.

O único problema era... não havia nada nem um pouco


redentor sobre a comerciante na frente dele.

Phekking Herza.

A maioria dos seres não sabia o que ela era, mas ele sabia.

Eles só viam o fato de que ela era Merssi e esperavam que


ela fosse dócil – uma tarefa fácil.
Ela atraía os seres dessa maneira, os fazia acreditar que
poderiam chegar à frente dela e depois os cortava – na maioria
das vezes, literalmente.

Ela era degoladora e, no submundo, era conhecida por


contrabandear escravos para obter créditos.

Um rosnado começou em sua garganta.

As roupas escuras justas de Herza pendiam de suas


curvas. Seu longo cabelo escuro estava quase na cintura, e ela
o trançou e adornou com bugigangas como as que Riv usava.

Ela estava de costas para ele e sua cauda balançava


preguiçosamente no ar enquanto ela assinava o formulário de
liberação de carga e o entregava a um dos Niftrills.

Com um leve impulso, ela pulou para a rampa da nave,


que já estava se fechando.

Phek.

Isso pode não ser o que parecia à primeira vista.

Ele duvidava que a humana estivesse registrada. Hudo III


tinha leis rígidas sobre o registro de refugiados e elas
precisavam ser patrocinadas. Se Herza de alguma forma
descobrisse isso, provavelmente tentaria contrabandear a
fêmea humana e vendê-la em algum lugar no mercado negro.

Seria fácil.

Não haveria nada para rastrear a humana.


Isso é ruim, e um momento ruim também. Ele estava em
um trabalho – um que envolvia vida e morte, com base no que
lhe disseram – e a estrela já estava no meio do céu.

Ele verificou seu relógio.

Ele tinha que ajudar a humana.

Herza não ia apenas deixá-la ir.

Ele tinha tanta certeza disso quanto de sua própria cauda


batendo em agitação contra o barril ao lado dele.

A humana estava em perigo.

Ele não podia deixá-la se virar sozinha.

Ela provavelmente estava assustada.

A medida que a rampa começou a selar a nave, um plano


surgiu à frente.

Era uma loucura, mas ninguém jamais o acusou de ser


são.

Escorregando por trás do barril, ele se esgueirou por trás


dos vários caixotes e pilhas de carga em seu caminho enquanto
se dirigia para a nave.
CAPÍTULO 6

Nia abriu os olhos.

Sua cabeça parecia estranha.

Normalmente, quando ela acordava de manhã, parecia


que ela tinha descansado bem, mas esta manhã, parecia que
ela estava rolando em uma pedra.

Houve movimento também. Sua cama sacudiu e ela


gemeu, pensando que Riv e Lauren estavam se esforçando
tanto, que na verdade estavam fazendo sua cama tremer.

― Coloque-o no chão antes que o chefe chegue.

Espere, ela não reconheceu aquela voz.

Em um instante, sua memória inundou de volta.

Os idiotas nas capas marrons. Eles a estavam


carregando, segurando seus braços e pernas, e Nia começou a
lutar imediatamente.

― Me coloquem no chão seus idiotas de merda!

Eles a soltaram tão de repente que ela caiu de costas.

Ignorando a dor, ela ficou de pé. Ainda havia aquela pedra


em seu sapato, e era grande também, mas ela mal conseguia
prestar atenção nela agora enquanto tentava entender onde
estava.
Não havia mais multidão enorme ou lojas incríveis.

Os alienígenas que a trouxeram aqui não estavam


prestando atenção a ela agora, indo mais para dentro da
nave... MAIS PARA DENTRO DA NAVE?

Pois era uma nave. Ela sabia com certeza que era, já que
a rampa que levava para fora estava se fechando lentamente.

O pânico a atravessou enquanto tentava correr para


frente, mas ela estava muito fraca ou sua mente ainda estava
lenta com o golpe na cabeça porque não parecia que ela estava
se movendo rápido o suficiente.

Assim que a rampa estava prestes a fechar totalmente,


seu caminho foi bloqueado por couro escuro.

O olhar de Nia se moveu para cima.

Uma fêmea alienígena alta estava olhando para ela.

Por um momento, Nia foi pega de surpresa.

A fêmea alienígena era Merssi. Cabelos escuros, pele


azulada e aquelas saliências reveladoras na testa, nariz e
queixo ― embora fossem quase tão pronunciadas quanto as de
Riv e Sohut.

O olhar da alienígena era duro e frio.

― Volte ao trabalho, Niftrill. Não te pago para perder


tempo. Há caixotes para empilhar antes de sermos liberados
para a órbita. ― O olhar da fêmea era desdenhoso, mas Nia
estava farta.

Talvez seu disfarce tivesse sido bom demais.

Ela arrancou o capuz de sua cabeça, permitindo que seu


afro se espalhasse livremente, e rasgou a cobertura do rosto
sobre o nariz e a boca.

Ela sabia que o que estava fazendo era um risco, mas ela
realmente não tinha escolha, tinha?

― Eu não sou um Nih – trill. Ver? ― Ela gesticulou para


seu rosto. ― Eu nem deveria estar aqui. Isso foi um erro.
Desculpe incomodá-la e tudo mais, mas se você gentilmente
me deixar sair da sua nave, eu ficaria agradecida. Tudo isso foi
apenas uma confusão.

A fêmea alienígena fez uma pausa, seus olhos travando


em Nia.

Porra, ela era uma fêmea alta. Nia teve que esticar o
pescoço para trás para encontrar o olhar da alienígena.

O que é pior, ela não conseguia ler o que estava


acontecendo por trás daqueles olhos frios e verdes, mas ela não
quebrou o contato visual enquanto continuava falando.

― Sua tripulação pensou que eu era um deles e me forçou


a embarcar. Eu não deveria estar aqui. Sinto muito pela
intrusão, mas não pude evitar.

A fêmea alienígena nem piscou.


Ela empurrou o que estava segurando nas mãos de um
de seus tripulantes, e um rosnado que fez a pele de Nia arrepiar
apareceu em seu rosto.

Merda.

As presas do alienígena brilharam e seus olhos se


iluminaram.

― Agora, o que temos aqui?

Ela se agachou um pouco para ficar no nível dos olhos de


Nia e Nia franziu a testa.

― Sinto muito, ― ela olhou para trás da fêmea e tentou ir


em direção à porta que se fechava sem sucesso, ― mas eu acho
que você não me entende e a porta está se fechando.

A alienígena se moveu para bloquear seu caminho. ―


Você não deveria estar aqui, ― disse a alienígena.

Nia deu a alienígena um sorriso tenso. ― Não brinca. Isso


é o que eu tenho tentado dizer, mas acho que você não pode
me entender. Ela olhou para os tripulantes. A maioria estava
trabalhando, alguns estavam olhando em sua direção. ― Acho
que eles também não conseguiam me entender. Vou encarar
isso como um grande erro e podemos simplesmente seguir
nossos caminhos separados.

Ela se moveu em direção à porta novamente e desta vez,


a fêmea alienígena colocou uma mão pesada em seu ombro.
― Você! ― A alienígena gritou para um de seus
tripulantes. ― O que é isto?

O tripulante com quem ela falou olhou para o outro.

Nia ainda não conseguia ver seus rostos corretamente.

― Estou falando com você, idiota. O que é isso?

― Ele estava conosco nas ruas, minha rainha.

Rainha?

Nia olhou para a fêmea. Rainha dessa nave, talvez?

Riv e Sohut nunca mencionaram que sua espécie tinha


uma rainha, e ela não tinha certeza se uma rainha usaria
couro justo e trabalharia no que parecia ser uma nave de
carga.

― Ele? ― Ela olhou para Nia novamente. ― Não se parece


com um de vocês, agora?

O membro da tripulação deu de ombros e a fêmea


alienígena murmurou baixinho. ― Idiotas de Qeffing.

Os olhos de Nia estavam na porta. Quanto mais se


aproximava do fechamento, mais seu pânico crescia, e ela se
dirigia para ela novamente.

A mão da fêmea alienígena pressionou seu ombro,


interrompendo seu movimento.

― Segure-a! ― Ela tirou algo da cintura.


Parecia um telefone celular, mas Nia tinha certeza de que
não era o que era.

Quando a fêmea apertou um botão, uma luz verde foi


emitida do dispositivo e se moveu sobre o rosto de Nia.

― Espécie desconhecida, ― dizia o dispositivo.

Os olhos do alienígena focaram nela novamente, e Nia


tentou empurrar seu ombro para longe do alcance do
alienígena.

― Eu tenho que ir.

― Fique parado... coisa, ― disse a fêmea, executando o


scanner novamente. ― Você não está deixando esta nave. Essa
coisa pega todas as formas de vida neste planeta. Conhece todo
mundo, mas não conhece você... Por quê?

Nia soltou um suspiro.

Ela podia sentir o perigo pairando bem na frente dela.

A porta estava quase fechada agora e mesmo que ela


chegasse lá a tempo, ela não seria capaz de passar pela
abertura.

Apenas mantenha a calma, Nia. Fique calma.

Levantando o pulso, ela mostrou a pulseira falsa que Riv


lhe dera.

― Sou legalizada. Ver. Agora me solte.


Por um momento, o domínio da alienígena sobre ela
afrouxou, mas então ela agarrou o pulso com a pulseira.

― Uma residente aqui, você é? ― Ela colocou seu scanner


sobre a pulseira e o coração de Nia pulou uma batida.

Merda.

Não iria escanear.

Não ia escanear!

Levou apenas um segundo antes que o alienígena olhasse


de volta para ela, um tipo de olhar satisfeito vindo de suas
feições estranhas.

Seu nariz estava adornado com anéis e o centro do lábio


inferior também. Até as pontas de suas orelhas de duende
também tinham piercings.

Os piercings se moveram quando o alienígena sorriu


novamente, as presas brilhando.

Ela não a estava desafiando de forma alguma. Não havia


necessidade de mostrar as presas. Mas Nia percebeu
rapidamente que, neste caso, pode ser apenas uma
demonstração de domínio.

Era a primeira vez que via outro do tipo de Riv e Sohut.


Bem, fora aquela vez que seu amigo, Ka'Cit, tinha visitado, mas
ela sabia que eles tinham um problema com as pessoas
mostrando os dentes.
Eles tomaram isso como um desafio.

Por essa razão, ela tentou fazer seu rosto impassível e


desviou o olhar.

Ela precisava sair disso rapidamente e irritar a fêmea não


era algo que ela queria fazer.

― Identificação falsa... que curioso. ― O aperto do


alienígena sobre ela aumentou e Nia soube naquele momento
que toda a esperança de que tudo corresse bem estava fora da
janela.

Algo lhe dizia que o alienígena não a deixaria ir.

Sem muito aviso, Nia virou em direção ao alienígena e


desceu o outro cotovelo com força no pulso do alienígena.

Foi um movimento que seu pai lhe ensinou, e ela nunca


teve que usá-lo antes.

A fêmea alienígena assobiou de dor e a soltou apenas o


suficiente para que ela corresse em direção às portas.

Havia uma alavanca lá que ela tinha certeza que abriria e


uma vez lá fora ela iria correr como se tivesse um milhão de
cães demoníacos de Riv atrás dela.

Mas ela nunca chegou tão longe.

― O que você está olhando? Pegue a criatura!

Em um segundo ela estava correndo em direção à porta e


em outro ela estava sendo derrubada no chão.
Os malditos tripulantes eram rápidos. Eles seguraram
seus braços e ela tinha certeza de que um deles estava
ajoelhado em seus joelhos.

Ela não conseguia se mexer.

― Por favor, isso é apenas um erro. Apenas me deixe ir.

Ela podia ouvir a chefe se aproximando e logo, as botas


de couro escuras estavam na frente de seu rosto.

― Uma linguagem que não está nos servidores e uma


identidade falsa. ― Parecia que a fêmea deu uma risadinha. ―
Este tem que ser meu dia de sorte. Tranque-a em uma das
celas. Acho que contratar mais de vocês não foi um desperdício
de créditos, afinal. Vou enviar uma mensagem para meus
contatos e podemos vender essa criatura por alguns bons
créditos.

― Não!

Mas a fêmea não estava ouvindo.

O medo fez encher os olhos de Nia com água.

Isso não estava acontecendo com ela.

Tinha que ser um sonho ruim.

Enquanto ela olhava para a porta fechada da nave, ela


desejou que ela se abrisse e ela pudesse ver Lauren ou mesmo
o rosto carrancudo de Riv, mas ela sabia que as possibilidades
eram baixas.
Eles não tinham ideia de onde ela estava.

Ela estava sozinha.

Ela teria que descobrir uma maneira de sair disso


sozinha.
CAPÍTULO 7

― Traga-a para a cela, ― disse o chefe antes de se virar e


seguir para dentro da nave.

Dois dos alienígenas vestindo capas agarraram seus


braços e a puxaram para cima e seguiram atrás.

Nia se sacudiu, agitando-se como uma criança faria em


um acesso de raiva, mas foi inútil. Seus apertos eram como
vícios e com ela lutando, eles a seguraram ainda mais apertado
– forte o suficiente para doer.

― O que você está planejando fazer comigo?!

Mas a chefe a ignorou enquanto ela continuava andando.


Ela sabia que a alienígena não podia entendê-la, mas ela falou
assim mesmo.

― Por que você está fazendo isso? Você pode


simplesmente me deixar ir.

A chefe continuou andando e sua equipe puxou Nia junto.


Mesmo se ela arrastasse os pés, sua força combinada não era
algo que ela pudesse resistir.

Quanto mais eles entravam na nave, mais o pânico


aumentava.

― Por favor... ― Ela recorreu a implorar. Se a nave


deixasse Hudo III, ela não tinha certeza de como voltaria ao
planeta. Ela preferia não ter que enfrentar essa circunstância.
― Por favor... apenas me deixe ir. É dinheiro que você quer?

Nia destruiu seu cérebro.

Ela não tinha dinheiro – ela não possuía nada – mas se


isso significasse que ela tinha que trabalhar para pagar essa
fêmea por sua liberdade, ela não pensaria duas vezes sobre
isso. Desde que ela pudesse retornar ao Santuário.

Um buraco se abriu em seu estômago enquanto ela


pensava no Santuário.

Naquela manhã, ela estava pensando sobre o estado de


sua vida, desejando que houvesse mais em sua existência. O
universo deve tê-la interpretado errado, pois ela não estava
pedindo isso.

― Ouça, ― ela implorou para as costas da fêmea


alienígena enquanto eles continuavam indo mais para dentro
da nave, – apenas pare!

Ela foi ignorada.

Na frente deles, uma porta interna dava para um corredor


mal iluminado cheio de alavancas e outras coisas das quais ela
não tinha certeza, mas os alienígenas que a seguravam
continuaram andando.

Nia lutou contra as mãos que a seguravam, resistindo um


pouco mais. Foi difícil, e ela grunhiu com esforço enquanto
tentava mais uma vez se libertar.
― Acho que está implorando por sua liberdade, ― a voz
da chefe chegou ao ouvido dela, pouco antes de pararem na
frente de uma porta de metal. A chefe virou-se para ela então.
― Você está na minha nave. ― Lá estava aquele sorriso
novamente. Aquele que parecia completamente insincero.

A chefe se inclinou para perto. Perto o suficiente para Nia


sentir um cheiro do que ela assumiu ser perfume que cheirava
a páprica.

― Minha nave. Minhas regras. E, ― ela se inclinou mais


perto, seu sorriso se transformando em um olhar malicioso, ―
tudo nesta nave é meu... incluindo você.

Os olhos de Nia se arregalaram um pouco com isso, e isso


apenas renovou seus esforços para se libertar dos braços dos
capangas.

A chefe riu. ― Você pode me entender, eu vejo.


Coitadinha. Eu não sei o que você é, mas tenho a sensação de
que você me trará muitos créditos.

Algo afundou dentro de Nia. Ela não ia sair dessa, ia?

A chefe esticou um dedo com garras azuis em direção a


Nia e passou o dedo por sua bochecha.

― Não me toque. Por que você está fazendo isso?! Por que
vocês alienígenas são tão pervertidos?!
A chefe se inclinou para trás e olhou para seus
tripulantes. ― Coloque-a aqui e observe-a. Eu não quero
nenhum... problema.

Com isso, a chefe se afastou, latindo ordens para alguns


de seus outros capangas.

Os dois que a seguravam se aproximaram da porta,


segurando-a com força enquanto ela tentava se livrar deles
mais uma vez.

Havia três botões na lateral da porta: um botão vermelho,


laranja e amarelo.

Um dos capangas que a seguravam estendeu a mão e


quase apertou o botão vermelho.

― Não, tolo, é o último no fundo que abre.

O que estava prestes a apertar o botão rosnou. ― Como


você tem tanta certeza, gênio?

― Aquele de cima vai fechar a sala e todo o setor, idiota!

Nia olhou para o botão que ele falou. Era o vermelho.

O alienígena com a mão sobre ele parou. ― Você tem


certeza? ― Ele se virou para olhar seu companheiro de
tripulação, e Nia percebeu com horror crescente que ela
realmente não conseguia ver nada por baixo do manto.

Ela nem queria considerar o que isso significava.

― Você não está apenas tentando me colocar em apuros?


O outro amaldiçoou. ― Vá em frente então, tolo.
Pressione-o.

O outro hesitou antes de apertar o terceiro botão, o


amarelo, e parecia que ele estava prendendo a respiração.

Um segundo depois, a porta na frente deles se abriu com


um silvo.

― Phek. Herza teria arrancado minha cabeça se eu tivesse


pressionado aquele de cima.

Juntos, eles a empurraram para dentro da sala.

Havia uma gaiola de metal singular no centro da sala, e


era só isso.

― Coloque-o dentro.

Outro empurrão em suas costas a fez tropeçar para


frente, e Nia se virou para tentar dar a volta nos alienígenas. A
porta ainda estava aberta. Talvez ela pudesse

Mas o golpe seguinte foi um chute na barriga que a fez


tropeçar para trás e para dentro da jaula.

Doeu o suficiente para que ela se dobrasse sobre si


mesma, o ódio fervendo em suas veias junto com a dor.

Ela estava apenas vagamente ciente de um dos


alienígenas batendo a mão contra o botão laranja no interior
da sala. Os botões deste lado da parede eram apenas dois. Uma
laranja e uma amarela.
A gaiola se fechou e a porta também, trancando-os.

Nia lutou para ficar de pé, e ela se segurou nas barras,


com os olhos na porta.

Tinha que haver uma saída para isso.

Só tinha que haver.

Ka'Cit agarrou-se ao casco do cargueiro e soltou um som


de aborrecimento.

A nave estava zumbindo.

Isso significava que os motores estavam ligados.

Phek.

Herza estava saindo do cais tão cedo?

Ele agarrou a nave, rastejando de barriga enquanto


avançava em direção à escotilha no topo.

A nave era uma coisa oval e ficar em cima dela havia


testado sua força, mas ele conseguiu.

Ele estava indo para um local singular, aquela escotilha,


mesmo quando o plano que ele pensou se desenvolveu em sua
mente.
Felizmente, ele conhecia naves como esta por dentro e por
fora. A escotilha para a qual ele se dirigia se abriria e o deixaria
cair direto no setor inferior da nave.

Rastejando tão alto, o vento o chicoteou e ele se agarrou


a nave enquanto se empurrava para frente.

Ele alcançou a escotilha logo e olhou para baixo.

O interior da nave estava escuro, mas não o suficiente


para ele não ver que havia Niftrills em capas marrons por toda
parte.

Phek.

Ele esperava que eles ficassem apenas no porão de carga,


mas ele estava errado.

Herza provavelmente os mandou fazer todo tipo de


trabalho que exigiam que eles tripulassem a nave inteira.

Ka'Cit soltou um suspiro.

Isso não seria fácil.

Assim que ele descesse lá, eles iriam atacá-lo, ele tinha
certeza.

Ele era um intruso, e eles deveriam proteger a nave e


Herza.

Ele tinha dois blasters em seu quadril com poder de fogo


suficiente para levá-lo a humana e sair da nave. Ele esperava
que isso fosse suficiente.
Ele suspeitava que Herza a teria colocado em uma das
celas do setor superior.

Enquanto olhava para os Niftrills abaixo, ele tentou


encontrar aquele que tinha a informação de que precisava.

Sem essa sorte.

Todos eles pareciam iguais de cima.

Uma vez que ele entrou, ele só tinha que esperar que ele
visse o Niftrill que ele precisava no processo.

Se não…

Bem, ele nunca falhou em entregar um trabalho antes.


Ele daria um jeito.

Além disso, ele não pensaria nisso agora.

Uma coisa de cada vez.

A nave deu um solavanco e ele quase perdeu o equilíbrio


e deslizou para o lado.

Enquanto ele se agarrava à nave e recuperava o


equilíbrio, uma risada se desenvolveu dentro de sua barriga.

Ele deve ter um desejo de morte.

A última vez que ele se pendurou ao lado de uma nave,


ele disse a si mesmo que seria a última.

Tanto para manter promessas.


Ele podia sentir a vibração abaixo dele, um zumbido
abafado.

Ele não tinha muito tempo.

A nave já estava começando a pairar no chão.

Ka'Cit tirou uma lata de fumaça do bolso e a segurou em


uma das mãos.

Com a visão fraca dos Niftrills, ele provavelmente poderia


se safar usando a escuridão da nave a seu favor, mas ele usaria
a lata de fumaça de qualquer maneira.

Isso tornaria seu plano infalível.

Ele abriria a escotilha.

Soltaria a lata.

A fumaça encheria o setor inferior. Ele então teria que


acionar um bloqueio do setor inferior e fechar os Niftrills. Naves
dessa marca foram originalmente construídas para
transportar prisioneiros. Cada setor tinha um mecanismo de
bloqueio que os guardas podiam acionar facilmente. Quando
as naves foram convertidas para transportar carga, quase
todos mantiveram os gatilhos de bloqueio por um motivo
simples: era mais barato fazê-lo.

O bloqueio duraria alguns minutos, dando-lhe tempo


para ir para o setor superior, onde ele sabia que Herza devia
ter colocado a humana.
Tudo o que ele tinha que fazer quando a encontrar era
escapar pela queda de carga no setor superior. Havia um
paraquedas ali.

E o Niftrill com quem ele precisava falar...

Phek.

Ele descobriria mais tarde.

No momento, a parte mais importante de seu plano era


fechar esse setor inferior.

Ele faria isso primeiro e pensaria no resto depois.


CAPÍTULO 8

Nia estava sentada na cela fervendo.

Deve ter passado pelo menos meia hora desde que ela foi
colocada na cela – ou mais. Ela realmente não sabia.

O tempo mudou de forma diferente em circunstâncias


terríveis.

Seu olhar ainda estava na porta, mas não abriu desde


que a colocaram e, além dos dois alienígenas que montavam
guarda lá dentro, ninguém mais havia entrado na sala.

Ela ainda estava agarrada às barras da cela. Ela não se


moveu, e nem eles.

― Como você acha que Herza vai vendê-lo? ― A pergunta


do capanga pareceu ecoar na pequena sala.

― Não sei. Parece macio quando o segurei. Suave e


pequeno.

Nia os observou. Eles estavam falando sobre ela, ela


sabia.

― Talvez um animal de estimação de prazer?

O outro grunhiu.

― Injusto, ― ele finalmente disse.


― Por que?

― Nós nunca conseguimos essas coisas.

― Claro que não, idiota. São caros.

Um momento de silêncio.

― Já esteve perto de um animal de estimação de prazer?

Os capangas se entreolharam antes de virar a cabeça


para ela.

― Não. Você?

― Não.

Como se tivessem algum acordo não dito, ambos deram


um passo à frente.

Encarando-os agora, Nia percebeu que podia ver por


baixo de seus capuzes.

A pele deles era escura e cheia de rachaduras como lava


debaixo de rocha queimada e seus olhos eram escuros
também.

Ela estremeceu um pouco e se moveu mais para dentro


da cela.

Seu pé doía – ainda havia aquela pedrinha dentro do


sapato – mas ela não teve tempo de tirá-la. Em vez disso, ela
se arrastou mais para trás e para longe dos alienígenas que
avançavam.
― Parece macio…, ― disse um.

― Sim. Eu apenas disse que era.

― Você está pensando o que eu estou pensando?

― Sim... espere, o que você está pensando?

O outro olhou para a porta. ― Ninguém saberia... nós


poderíamos fazer isso antes de chegarmos ao Porto Seis.

― E se Herza descobrir?

O outro deu de ombros. ― Ela não vai se importar.


Contanto que não o matemos, eu acho. ― Ele fez uma pausa.
― Apenas um pouco de prazer. ― E então, como se tentasse se
convencer, ele continuou. ― Nós merecemos isso. Quando foi
a última vez que você se divertiu?

O outro resmungou. ― Muito tempo. ― Sua cabeça


inclinou um pouco para o lado. ― Ele irá servir.

O outro fez um som em sua garganta. ― Já estou inchado.

O estômago de Nia virou imediatamente com as palavras


que saíram da boca do alienígena.

― Oh, não, você não está, ― ela murmurou, recuando


mais alguns passos até que suas costas bateram no metal. E
eles achavam que ela era do sexo masculino também. Eles nem
se importavam.

― Ele vai lutar.


― Então?

― Acho que não é a primeira vez que tivemos que usar a


força…

O outro riu. ― Não será o último também. Nós merecemos


isso.

― Nós merecemos, ― concordou o outro.

Porra.

Nia olhou ao redor.

O quarto estava vazio.

A cela estava vazia.

Não havia nada que ela pudesse usar para se defender se


eles entrassem na cela.

Seu pé doía quando ela se recostou contra a parede da


cela e uma ideia surgiu em sua cabeça.

O seixo.

Ela poderia usá-lo de alguma forma.

Jogar neles?

Ela sabia que poderia acertar o alienígena bem nos olhos,


ela tinha certeza de seu objetivo, mas isso apenas desativaria
brevemente um deles e ela teria que lidar com o outro. Além
disso, ele só seria cego de um olho. Ele ficaria bem de outra
forma.
Ainda assim, enquanto eles avançavam, ela se curvou e
enfiou a mão sob o roupão e no sapato.

Seus dedos se fecharam ao redor do seixo. A pedra estava


quente por estar debaixo de seu pé por tanto tempo.

Ela agarrou-o e olhou para eles.

Ela não sabia como ela iria sair disso, mas ela tinha que
encontrar uma maneira.

Os alienígenas se entreolharam antes de olhar para trás


e ela percebeu, com uma reviravolta no estômago, que um
deles estava farfalhando no centro de sua capa.

Sua capa se abriu e ela viu um flash de branco nas


rachaduras em seu braço, quase como se metal estivesse sob
aquela parte de sua pele.

Ele deu mais alguns passos à frente.

― Atreva-se. Porra, eu te desafio. ― Ela olhou nos olhos


escuros e o alienígena hesitou por apenas um momento antes
de continuar a abrir a parte inferior de sua capa.

― Eu juro pelo meu pai, o nome de Mark Wilson, que se


você colocar suas mãos em mim, eu vou te matar. Eu juro
porra. ― Nia agarrou a pedrinha, feliz que sua voz não tremeu
com o medo subindo por sua espinha.

Um dos alienígenas se moveu para um lado da jaula e o


outro foi para o lado seguinte.
Ela olhou entre os dois, o terror inundando suas veias.

O que eles fariam?

Ela podia ouvir sua respiração em seus próprios ouvidos


e para piorar as coisas, o quarto de repente ficou escuro.

― Herza está iniciando a sequência de lançamento, ―


disse um deles.

― Parece que sim, ― o outro respondeu quase


distraidamente.

Porra.

PORRA!

Nia correu para a frente da jaula.

Sem a pedra em seu sapato, ela podia se mover muito


mais rapidamente, e ela agarrou as barras.

A única coisa que ela podia ver eram as luzes dos botões
perto da porta, mas o zumbido natural da nave parecia ficar
ainda mais alto.

O motor da nave.

Merda.

Ela olhou para os botões iluminados, esquecendo os


alienígenas ao seu redor por um momento enquanto esfregava
a pedra entre os dedos.
Era liso, do tamanho de uma bola de gude, mas pesado o
suficiente para que ela pudesse sentir o peso em sua mão.

Ela teve uma ideia.

Uma ideia estúpida e altamente arriscada, mas ainda


assim uma ideia.

Ela só tinha que esperar que funcionasse.

Ka'Cit desceu da escotilha, seus pés pousando no chão


do convés superior quase silenciosamente.

Sua cauda disparou atrás dele, ajudando seu equilíbrio


enquanto ele se levantava em toda a sua altura.

Ele cronometrara sua entrada, não deveria haver


ninguém no corredor agora que as verificações de lançamento
estavam sendo feitas, mas assim que ele deu um passo à
frente, um Niftrill virou a esquina.

Phek.

Ka'Cit soltou um suspiro quando viu quando o Niftrill o


avistou.

Ele ainda não tinha colocado a lata de fumaça.


O Niftrill hesitou por um segundo, e Ka'Cit pôde ver o
momento em que o Niftrill decidiu que precisava dar um
alarme.

― Ah, não, você não.

Quando o Niftrill se virou para correr para o outro lado, a


mão de Ka'Cit já estava tirando uma faca de arremesso de um
de seus bolsos.

A faca atravessou o ar, cortando o silêncio para se alojar


na perna do Niftrill, mas não era afiada o suficiente para
penetrar na pele do Niftrill ; simplesmente derrubou o Niftrill.

― Intru...! ― O Niftrill começou a gritar, mas Ka'Cit estava


em cima dele em um segundo, arrastando o Niftrill para seus
pés e colocando uma mão sobre a boca do Niftrill.

Ele o puxou para trás, chutando um armário de


suprimentos e puxando o Niftrill junto com ele para a
escuridão do pequeno quarto.

― Onde está a humana?

O Niftrill não respondeu, ele apenas começou a lutar para


se libertar.

― Olha, amigo, podemos fazer isso da maneira mais


difícil, ou podemos fazer isso da maneira mais fácil. Eu, por
exemplo, prefiro o caminho mais difícil, mas não tenho certeza
se você gostaria disso.

O Niftrill lutou novamente.


― Do jeito difícil que vai ser....

O Niftrill enrijeceu e parou de se mover.

― Pensei isso. Agora, onde está a humana? ― Ka'Cit


soltou a boca do Niftrill apenas o suficiente para ouvi-lo falar.

― No setor superior.

Hmm, foi onde ele pensou que Herza a colocaria.

― Ouça, Niftrill. Você não é meu inimigo. Estou aqui


apenas para a humana. Eu deixarei você ir nos próximos
segundos... mas se você der um alarme...

Ele deixou o resto sem dizer, e o Niftrill sacudiu a cabeça


em conformidade.

Mas assim que ele soltou o Niftrill, o capanga pegou um


objeto dentro do armário de suprimentos e o apontou para ele.

Ka'Cit pegou o objeto com uma mão, seu olhar mal se


dirigiu a ele.

― Sério? ― ele perguntou, e os olhos vermelhos do Niftrill


se arregalaram um pouco. ― Eu tento ser legal e...

Um suspiro fez seus ombros caírem quando Ka'Cit deu


um soco para a frente, acertando a dura pele externa do Niftrill.

Ele não sabia por que se incomodara em ser legal.

A rapidez do golpe foi suficiente para fazer o Niftrill ceder


e, no segundo seguinte, seu corpo caiu no chão.
– Phek ― Ka'Cit amaldiçoou e ergueu a mão no ar.

Regra número um, nunca lute contra um Niftrill com os


punhos nus. Foi como bater na pedra.

Seu olhar caiu para o Niftrill. O capanga ficaria fora por


alguns minutos, pelo menos. Tempo suficiente para ele
encontrar a humana.

Mas, para garantir, Ka'Cit prendeu as mãos do Niftrill em


um cano dentro do armário.

Tirando a lata de fumaça do bolso, ele espiou pela porta.

Havia um pouco de emoção que ele podia sentir na base


de sua espinha – um pouco de excitação.

Ele não tinha certeza de onde vinha, mas estava lá, e


quando a lata de fumaça escorregou de seus dedos e rolou pelo
corredor, a nuvem cinzenta começando a encher o ar, Ka'Cit
permitiu que a sensação fervesse.

Hora de ir buscar aquela humana.


CAPÍTULO 9

A nave estava zumbindo muito mais alto agora, e Nia


sabia que não tinha muito tempo para dar o fora de lá.

De jeito nenhum ela poderia permitir que eles decolassem


antes que ela encontrasse uma saída da nave.

Seus olhos estavam na porta em frente.

Se ela pudesse abrir a porta, a jaula também se abriria.


Bem, pelo menos era o que ela esperava.

Quando os alienígenas apertaram o botão laranja, a porta


e a jaula fecharam em sincronia.

Ela assumiu que eles trabalhavam juntos, e isso tornou


as coisas muito mais fáceis.

Se ela conseguisse abrir a jaula, isso lhe daria apenas


alguns segundos para sair correndo da sala e entrar no
corredor principal. De lá, ela poderia fazer o que o alienígena
tinha tanto medo. Ela trancaria a sala e os dois alienígenas
ainda nela.

Ela teria que ser perfeita. Não havia espaço para erros.

O movimento à sua direita chamou sua atenção e ela


pôde ver o alienígena avançando em sua direção novamente.
Houve movimento sob sua capa como se ele estivesse
esfregando alguma coisa e o pensamento a fez querer vomitar.
Certo. Ela preferia ter uma chance do que ficar aqui e
deixá-los fazer o que quer que estivesse em suas mentes
distorcidas.

Agarrando a pedrinha, ela se concentrou no botão


amarelo.

A pedrinha parecia pesada entre seus dedos, e ela só


esperava que fosse pesada o suficiente para apertar o botão
quando ela a jogasse.

Era sua única esperança.

F = m. A primeira lei do movimento de Newton.

Porra, ela deveria ter prestado mais atenção na aula de


física.

― Você primeiro ou eu? ― um dos alienígenas perguntou.

Sim, ele não estava falando com ela, mas ela não estava
esperando para ouvir a resposta do outro alienígena.

Esticando o braço pelas barras da jaula, Nia mirou. Seus


olhos se estreitaram enquanto ela olhava para seu alvo e, por
um segundo, o pensamento de que ela poderia errar foi
proeminente em sua mente.

Ela não iria errar.

Com um movimento singular, os músculos de seus


braços se prepararam e ela jogou a pedrinha, e no momento
em que ela deixou seus dedos, seu coração bateu no peito.
Estava escuro no quarto. Ela não podia realmente ver a
pequena pedra navegar no ar, mas ela sabia que não poderia
ter perdido.

Ela não poderia.

A pedra atingiu alguma coisa, o som quase abafado pelo


zumbido do motor da nave, antes que ela o ouvisse pousar no
chão e rolar.

O coração de Nia afundou.

Bem, pelo menos ela tentou.

― O que é que foi isso? ― O alienígena à sua direita falou.

Houve um silvo então, e a gaiola estremeceu um pouco


antes de abrir. Ao mesmo tempo, a porta também se abriu.

Espere. Nia parou por apenas um segundo. Ela tinha feito


isso.

Era isso. Esta era sua chance.

Sem olhar para trás. Nia agarrou a bainha de sua capa,


levantando-a para liberar as pernas, e correu para frente. Ela
mal ouviu os gritos de surpresa dos alienígenas atrás dela
quando chegou ao corredor.

Ela se virou e captou o movimento na sala.

Eles estavam vindo atrás dela, mas não seriam rápidos o


suficiente.
― Tchau, filhos da puta.

Um sentimento de triunfo a atravessou quando ela bateu


a mão no botão vermelho do lado de fora da porta.

Um alarme soou imediatamente quando a porta se


fechou.

― Bloqueio do setor superior em andamento. ― Parecia


que vinha do interfone da nave.

― Bloqueio do setor superior em andamento.

Merda. Ela tinha feito isso? Ela não esperava um alarme.

Nia se virou bem a tempo de ver as portas no final do


corredor se fechando.

Merda.

Havia um corredor à sua direita, mas ela não tinha ideia


de onde isso levava.

Melhor ir do jeito que ela veio.

Ela não pensou duas vezes. Ela fez uma corrida louca em
direção à porta que se fechava, esperando ser rápida o
suficiente.

Ela fez isso bem a tempo, ou, pelo menos, a maioria dela
fez. Sua capa ficou presa na porta assim que ela se fechou
atrás dela, e ela teve que puxá-la com força suficiente para
rasgar.
Ela estava ofegante agora, tentando recuperar o fôlego do
esforço súbito, e ela fez uma pausa, as mãos nos joelhos
enquanto sua respiração vinha forte e rápida.

Ela tinha feito isso.

Ela conseguiu.

Ela estremeceu ao pensar no que teria acontecido se ela


nem tivesse tentado.

Ela parou para respirar por apenas alguns segundos,


mas logo percebeu que algo estava errado.

Ela mal conseguia ver nada.

Havia fumaça por toda parte.

Ela estava naquele longo corredor com todas as alavancas


e outras coisas. Pelo menos, é onde ela deveria estar, de sua
memória.

Só para ter certeza, ela estendeu uma mão para a frente,


para escová-la contra a parede.

Seus dedos se moveram sobre botões, fios e o que ela


assumiu ser uma alavanca.

Ela estava certa.

Este corredor deve levar de volta àquela seção inferior


com a sala enorme e a rampa que levava para fora da nave.

Mas de onde vinha a fumaça?


Seu coração batia rápido em seu peito enquanto ela
lutava para ver até mesmo sua mão na frente dela.

Não poderia ter sido o bloqueio que causou isso. Certo?

Definitivamente não.

Merda.

Então lhe ocorreu.

A nave estava em chamas.

E ela ainda estava presa nele.


CAPÍTULO 10

Seus passos eram leves e cautelosos enquanto ela


avançava pelo corredor.

Ela cobriu o nariz com uma manga grossa de sua capa e


estava tateando o caminho com a mão.

A fumaça era tão espessa, não era natural, e não estava


queimando seus olhos, apenas tornando quase impossível ver
à frente.

Merda. Se houve um incêndio, por que estava tão quieto?

O alarme que soou quando ela trancou o setor parou


alguns segundos atrás, e além de tinidos distantes e sons
abafados, ela não conseguia ouvir mais nada.

Caramba.

Mas talvez ela pudesse usar isso a seu favor.

Com o caos do fogo, ela teria uma chance melhor de


escapar sem ser detectada. Ela só tinha que esperar que os
dois capangas que a estavam guardando não saíssem e
soassem o alarme antes que ela conseguisse sair da nave.

Com esse pensamento em mente, ela olhou para trás


enquanto acelerava seus passos – não como se isso ajudasse
porque a fumaça era como uma espessa parede cinza.
Ela não podia ver se estava sendo seguida.

Ela estava apenas se virando quando colidiu com uma


parede.

Sua mão disparou e atingiu algo firme.

Não, não é uma parede.

Frio, duro, músculo.

Suas entranhas murcharam.

Ela foi encontrada.

Ah foda-se.

Ela nem tinha ouvido o capanga se aproximar. Ele estava


tão silencioso e com a fumaça ela também não o tinha visto.

Um gemido escapou dela quando ela girou para correr na


outra direção, sabendo que não havia para onde ir. Seu único
pensamento era correr. Afastar-se.

Ela descobriria depois de colocar distância entre ela e o


inimigo.

Mas ela chegou tarde demais, ou ele foi rápido demais.

Uma mão se fechou ao redor de seu braço, cujo efeito a


fez ser puxada para trás, e ela caiu de costas contra o capanga.

Foooooda-se!
Nia chutou enquanto tentava se agarrar, fazendo-se
tropeçar, e ela perdeu os sapatos no processo. Mas em vez de
soltá-la, o capanga a agarrou com mais força e desceu com ela.
Ele caiu de lado com ela agarrada contra ele.

Ele era muito forte. Ela podia senti-lo em suas mãos.

Não sentiu os capangas tão fortes quando a estavam


carregando mais cedo.

Talvez este fosse o Hulk do clã que ela não tinha sido
apresentada até agora. E que momento para conhecê-lo.

O terror a fez gritar enquanto tentava se livrar dele


enquanto o pensamento de que ela não tinha nada, nenhuma
arma, nada, nadava em sua cabeça.

Enquanto ela se esforçava contra ele, lutando para se


libertar, a única coisa em que sua mão pousou foi em um de
seus sapatos.

Nia agarrou a coisa e girou no aperto do alienígena,


torcendo o suficiente para que ela estivesse de frente para ele.

Eles escolheram a garota errada para mexer.

Eles realmente fizeram isso.

Se eles pensassem que iriam pegá-la, usá-la e depois


vendê-la pelo maior lance, eles teriam uma grande surpresa
vindo.
Admito, eles podem realmente atingir seu objetivo. Mas
ela não iria de boa vontade.

Ela ia lutar.

Mesmo que isso significasse usar seus dedos para


arrancar seus olhos.

Agarrando uma ponta de seu sapato, seu pulso sacudiu


com uma precisão que foi passada de geração em geração.

O som do sapato fazendo contato ecoou na sala.

Nia não parou. Ela não esperou.

Seu pulso sacudiu novamente e seu sapato caiu no que


ela esperava ser o rosto do capanga.

Mas o que quer que ela batesse fez um baque surdo como
se ela batesse em algo sólido... como metal.

O capanga fez um som estranho, mas não a soltou. Mas


isso não a deteve.

Era sua única arma.

Sua única chance.

Ela bateu no rosto dele com o sapato como se estivesse


dando um tapa no diabo, mesmo enquanto lutava para se
libertar.

― Deixe...

Tapa.
― Eu...

Tapa.

― Ir...

Tapa.

― ...seu maldito demônio maldito!

Ela estava chutando, lutando como se sua vida


dependesse disso, mas parecia que ela não estava indo a lugar
nenhum.

Ele era muito forte.

Forte e fodidamente despreocupado.

Ele nem grunhiu e Nia percebeu que de alguma forma, no


processo, ela acabou totalmente deitada de costas.

O capanga agarrou seus braços, segurando-os para


baixo.

― Eu não sou um deles, ta'ii.

Era uma voz rica e profunda.

Um que a fez parar.

Bem, ele definitivamente não soava como um deles, isso


era certo.

Eles não soavam nem masculinos nem femininos, mas


ele... ele era definitivamente masculino.
Sua voz era uma vibração profunda que fez cócegas em
seus ouvidos e a deixou hiperconsciente.

― Estou aqui para te ajudar.

O que?

Parte da luta dentro de seus membros morreu um pouco,


mas ela não estava completamente convencida.

Ela não conhecia ninguém aqui, e nenhum dos


alienígenas da nave estava do lado dela. Então, quem diabos
ele era?

― Temos que ser rápidos. Não há muito tempo para tirá-


la daqui.

Ela não se atreveu a acreditar. Afinal, ela não podia nem


ver seu rosto.

Mas então ela percebeu que ele não estava tentando


contê-la. Ele parecia estar apenas segurando-a para que ela
parasse de chutar.

Ele certamente era forte o suficiente para levantá-la e


forçá-la a andar, mas ele não estava fazendo isso.

― E com que phek você me acertou?

Um braço forte estendeu a mão e tocou seu sapato.

Seus dedos roçaram os dela enquanto ele os movia sobre


o sapato, e Nia empurrou mais uma vez para se libertar de seu
aperto.
― Sua cobertura do pé. ― Um estrondo de uma risada
vibrou contra sua barriga. ― Você me acertou com a cobertura
do pé?

Aparentemente, ela não o atingiu com força suficiente.

Nia empurrou contra ele mais uma vez, tentando torcer


as mãos de seu aperto.

― Não me brigue, ― disse ele. ― Eu não quero te abraçar


com muita força e te machucar acidentalmente. Estou no seu
lado.

Nia endureceu novamente.

― Eu... quem é você? ― Ela empurrou a mão em seu


aperto mais uma vez. ― E por que eu deveria acreditar em
você?

Houve uma pausa, e ele fez um som que ela não


conseguiu entender.

― Eu não consigo entender você, ― ele finalmente disse.


― Seu upload de idioma… não o tenho no meu tradutor. Mas
você pode me entender, não pode? O companheiro de Riv, La-
rehn, poderia me entender.

Os olhos de Nia se arregalaram e ela congelou. Ele


conhecia Lauren.

― Quem é você?

Ele não respondeu.


Claro, ele apenas disse a ela que não conseguia entendê-
la – não que ela esperasse que ele fosse capaz. Ninguém, exceto
cinco outros seres (incluindo aquele que a trouxe para o
Santuário), poderia entendê-la neste planeta.

O alienígena fez outro som, e desta vez ela teve certeza


que era um gemido.

― Não é a melhor maneira de me apresentar a você...


entre suas pernas. Um cavalheiro teria pelo menos
cumprimentado você primeiro.

O que?

O alarme passou por ela quando ela percebeu que sua


capa tinha subido em sua briga.

E sim, de fato, ele estava acomodado entre suas pernas


nuas.

Hudo III estava quente. Ela não usava uma roupa


separada por baixo da capa por esse motivo. Se ela tivesse feito
isso, ela poderia ter sofrido uma insolação.

E agora, ela estava quase nua debaixo deste... macho.

O braço que segurava o sapato dela estava preso por cima


da cabeça e o outro braço estava preso por baixo.

Sua perna livre estava dobrada e pressionada contra o


lado dele, e ela percebeu que a dureza que sentia na parte
interna de sua coxa era o músculo duro dele.
Porra, ele era enorme.

Foi abafado, mas parecia que ele riu e murmurou algo


baixinho.

― Mas... eu não sou um cavalheiro.

As palavras eram um sussurro, e se não fosse o silêncio


repentino entre eles, ela poderia ter perdido.

Nia empurrou contra ele. ― Se você está do meu lado, se


importa de me deixar levantar?

Ele deve ter entendido sua intenção porque seu domínio


sobre ela afrouxou e ele fez uma pausa, ela assumiu, para
julgar sua reação ao ser liberada.

Quando ela não se afastou imediatamente dele, ele a


soltou completamente e a ajudou a ficar de pé.

Droga, ela desejou a Deus que ela pudesse ver.

A fumaça ainda era como uma parede grossa.

Os cabelos de sua nuca ainda estavam em pé. Ela não ia


começar a confiar neste macho da neblina só porque ele disse
isso.

Ela ainda permaneceria alerta.

Ele ficou em silêncio, mas ela sabia que ele estava lá. Ele
ficou perto.
Ela podia sentir o corpo dele roçando o dela com cada
respiração que ele dava, e ela estava tendo uma ideia melhor
de seu tamanho.

Grande.

Alto.

Ele não era nada parecido com os alienígenas vestindo as


capas.

― Eu assegurei o setor inferior. ― Sua voz era baixa, tão


baixa que ela quase não podia ouvi-lo. ― Temos que ir por aqui.
Há uma rampa de carga no setor superior que deságua
embaixo da nave. Devemos ser capazes de sair de lá antes que
Herza coloque essa coisa em órbita.

Porra, ele estava realmente ajudando ela, não estava?

A esperança queimou dentro dela e Nia deslizou o sapato


no pé. Curvando-se, ela apalpou o outro.

Era o único par de sapatos que ela tinha e a última coisa


que ela possuía da Terra.

Ela não podia se dar ao luxo de perdê-los.

Alguns segundos de busca em pânico se passaram antes


que seus dedos roçassem o sapato perdido, mas ela não teve a
chance de colocá-lo de volta porque o alienígena ao seu lado já
estava se movendo.
― Por aqui. ― Ele ainda estava segurando a mão dela e
ela não teve escolha a não ser se mover com ele.

Mas ele estava indo na direção errada.

Nia cravou os calcanhares no chão, fazendo com que o


alienígena parasse.

― Não pode ir assim. Está trancado. Eu desliguei. ― Ela


puxou a mão que segurava a dela. ― O corredor está bloqueado
e não há muito tempo. Não sei como você entrou aqui, mas
temos que voltar por aquele caminho.

Ela puxou na outra direção.

― Ta'ii, eu sei que você acha que esse é o caminho certo,


mas posso garantir que, se formos por esse caminho,
estaremos caminhando direto para um ninho de Niftrills.
Tenho poder de fogo suficiente para atravessá-los, mas...
prefiro não tirar você daqui desse jeito. Temos que seguir este
caminho. ― Ele puxou a mão dela novamente com urgência
suficiente para dizer que queria que ela fosse em sua direção.

― Você não entende. Eu tranquei. Esse caminho está


bloqueado. ― Nia puxou seu braço mais uma vez.

Inferno.

Ele não conseguia entendê-la e era grande demais para


ela se mexer.

Ela podia sentir os segundos passando com cada


respiração que ela dava.
Eles não tinham muito tempo.

A fumaça também já estava se dissipando, e ela tinha


certeza de que o setor superior abriria a qualquer momento.
Então eles estariam na merda.

― Eu desliguei. ― Ela acenou com a mão livre no ar, um


pouco exasperada com o pensamento de que mesmo com a
fumaça se dissipando, ele provavelmente não podia ver o que
ela estava fazendo. Não que eles tivessem tempo para um jogo
de charadas, de qualquer maneira. ― Temos que ir por aqui.

Ele não se mexeu.

Eca!

― Nós não podemos. ― A fumaça estava clareando o


suficiente agora que ela podia ver melhor, e suas palavras
cortaram em sua garganta.

O olhar de Nia subiu cada vez mais alto até que ela estava
olhando para o rosto do estranho... ou, pelo menos, onde seu
rosto deveria estar.

Ele estava usando uma máscara de metal – algo parecido


com o que um soldador usaria.

Seu coração batia forte em seu peito.

Ela o conhecia.

Pelo menos, ela o tinha visto antes. Uma vez.


Cabelos longos e impossivelmente pretos caíam sobre os
ombros do estranho, fluindo livremente e contrastando com a
pele azul do estranho.

Era um amigo de Riv que morava em uma fazenda não


muito longe do Santuário – ou assim lhe disseram.

Ele era um cara legal.

Então o que diabos ele estava fazendo aqui?

Ele não estava olhando para ela.

Em vez disso, seu olhar foi direcionado para o corredor e


todo o seu corpo enrijeceu quando ele murmurou alguma
coisa.

― Que diabos…

Ele podia ver agora, ela supôs.

As portas na direção de onde ela veio estavam fechadas.

― Eles estão trancados. Era isso que eu estava tentando


lhe dizer. ― Ela se virou e puxou a mão dele, mas era como
tentar puxar uma nave pela âncora. ― Nós temos que ir por
aqui

Suas palavras cortaram em sua garganta quando ela


percebeu que à frente havia uma parede sólida. Ou melhor, as
portas também estavam fechadas naquela ponta.

― Que porra…
Por que as portas estavam fechadas?

Houve um som como uma risada ou grunhido, e quando


ela se virou e olhou para o estranho, seu olhar encontrou um
verde surpreendente através da fenda em sua máscara.

Mesmo no agora fino véu de fumaça, seus olhos eram


surpreendente.

― Você fechou o setor? ― A admiração em sua voz não foi


registrada porque tudo o que ela podia fazer era olhar para
aqueles olhos.

Eles eram selvagens... livres... e um pouco loucos.

Era como olhar nos olhos de alguém que vivia uma vida
completamente diferente da forma como ela vivia.

Coisas estavam acontecendo por trás de seus olhos que


ela não entendia... e havia interesse.

Inteligência.

Diversão.

E interesse.

Algo se moveu atrás do macho e seu olhar foi para ele.

Sua cauda.

Ela teria pensado que era uma cobra se não fosse pelo
tufo de cabelo escuro e ondulado na ponta.

Como a cauda de um leão, era.


Estava se curvando em direção a sua perna da mesma
forma que o rabo de um gato se curvaria para o lado de seu
corpo quando se sentia afetuoso.

Observar isso fez Nia engolir em seco, e ela voltou seu


olhar para aqueles olhos verdes.

Seu olhar era tão intenso que quase a fez se contorcer.

Era estranho olhar para alguém diretamente nos olhos,


sem ver nenhuma outra parte de seu rosto.

Seu olhar era poderoso, e ela teve a nítida impressão de


que ele poderia quebrá-la sem sequer encostar um dedo nela.

Quem era este macho?

Amigo de Riv, a voz dentro respondeu, sempre tão


prestativa.

Mas quem era ele realmente?

E como ele a encontrou aqui?

― Você trancou o setor. Eu me pergunto como você


conseguiu fazer isso... ― Ele ainda a estava estudando, e ela
imaginou que ele estava franzindo a testa por trás de sua
máscara para o enigma.

Nia balançou a cabeça e quebrou o feitiço.

― Confie em mim, não era ciência de foguetes, e se fosse,


eu teria conseguido um emprego na NASA em vez de gastar
meu tempo remendando pessoas na clínica gratuita. Eu
apenas fiz o que qualquer um teria feito. ― Ela puxou o braço
dele. ― Mas não podemos ficar aqui conversando. Temos que
ir.

Novamente, ele não se mexeu.

Em vez disso, seu olhar caiu em suas mãos, e ela


percebeu que de alguma forma, eles haviam trocado. Não era
mais ele segurando-a, mas o contrário.

Ela estava segurando ele.

Ela soltou a mão dele rapidamente, muito rápido.

― Vamos. ― Ela acenou para ele e correu pelo corredor.

Com a fumaça sendo sugada lentamente pelas aberturas,


ela podia se mover mais rápido agora, pois a visibilidade era
melhor, mas logo percebeu que estava se movendo sozinha.

Um olhar atrás dela e o alienígena estava parado no


mesmo lugar que ela o deixou, parecendo completamente
despreocupado.

Agora, o que diabos havia de errado com ele?

Por um momento, seu coração pulou uma batida, e não


no bom sentido.

E se ele não estivesse lá para ajudá-la? E se ele estivesse


trabalhando com a capitã da nave que se recusou a deixá-la
sair da nave em primeiro lugar?
Ele era Merssi como o capitã da nave. Talvez eles se
conhecessem?

Eles estavam trabalhando juntos?

Sua indiferença era preocupante.

― Está trancado. ― Sua voz a alcançou. ― Nós não


poderíamos abri-lo mesmo se tentássemos. Eu desencadeei
um bloqueio do setor inferior. ― Ele olhou ao redor das paredes
e deu alguns passos na direção oposta dela. ― Parece que nós
frustramos os planos um do outro. Talvez... ― Ele olhou para
ela novamente. ― ...você não precisava da minha ajuda, afinal.

― Eu preciso de ajuda! ― Ela gesticulou ao redor deles


para as paredes e para o fato óbvio de que eles eram alvos
fáceis. Foi quando ela percebeu que ainda tinha um sapato
balançando na mão.

Amaldiçoando baixinho, ela colocou o sapato de volta em


seu pé.

Ele não viu que eles estavam presos?

Ele riu novamente, possivelmente com o tom dela, antes


de se virar em um círculo lento, seu olhar se movendo sobre
as paredes e o chão.

Em um movimento suave, ele ficou de quatro e começou


a bater no chão com uma mão de quatro dedos enquanto
apalpava a superfície com a outra.

O que…
Nia o observou, seu coração batendo forte no peito.

O barulho de metal que ela tinha ouvido antes soava mais


alto agora, e ela continuou olhando de um lado fechado do
corredor para o outro.

Ela não tinha ideia do que ele estava fazendo, e ela se


sentiu impotente apenas de pé e observando-o.

E se a fumaça tivesse chegado à sua cabeça?

― Aqui, ― ele disse de repente enquanto batia em algum


lugar no chão. Ao mesmo tempo, houve um rangido e um
grande painel se levantou o suficiente para ele deslizar.

― O que é isso?

Claro que ele não respondeu.

Ele não consegue te entender, Nia.

― Bem, ― ele disse, o olhar verde encontrando-a, ― não


podemos avançar e não podemos voltar. Enquanto falamos,
Niftrills estão se acumulando nas duas saídas.

Houve um som baixo e inconsistente, quase baixo demais


para ouvir, e ela percebeu que era a tagarelice confusa de
muitos seres vindo das portas mais próximas a ela.

― Aparentemente, ― o estranho continuou, ― nós


tínhamos o mesmo plano e nos frustramos por acidente. ― Ele
sacudiu a cabeça para as portas. ― Eles estão armados. ― Ele
inclinou a cabeça como se estivesse ouvindo. ― Explosões de
laser carregados. Terceira melhoria. Vinte deles naquela ponta,
mais ou menos dois. Tenho certeza de que Herza disse a eles
para atirar para matar. Ela não é de se arriscar. ― Ele a
estudou. ― Só temos uma opção, ta'ii.

Ela não tinha ideia do que ta'ii queria dizer, mas sabia
que ele estava falando com ela. Com quem mais ele estaria
falando?

― O que?

O estranho deslizou a peça plana de metal para o lado,


revelando um buraco estreito e escuro sob o chão.

― Temos que nos esconder.


CAPÍTULO 11

― Laá deentrro?

O narizinho da humana enrugou na seção entre seus


olhos e ela deu a ele um olhar ligeiramente alarmado.

Ela deu alguns passos à frente e espiou pelo buraco.

Seu corpo tremia como se estivesse com frio, mas a


temperatura estava boa.

― Não. ― Ela deu um passo para trás e começou a olhar


ao redor do corredor como se procurasse outra opção.

Ka'Cit olhou para o buraco.

Era um espaço de armazenamento abaixo do convés,


originalmente usado para armazenar rações de comida para os
ocupantes da nave muitas luas atrás.

A maioria dos novos proprietários de naves não usava


mais o espaço – não era grande o suficiente para acomodar as
modernas caixas de carga – e alguns nem sabiam disso.

Apostava que Herza era um daqueles capitães que não se


importaram em ler o manual em detalhes.

Suas orelhas se animaram, erguendo-se dos lados de sua


cabeça e pressionando o interior de sua máscara. Ele podia
ouvir os Niftrills atrás das portas em ambas as extremidades.
Eles estavam tentando desesperadamente anular o
bloqueio.

Isso significava que ele e a humana precisavam ir.

Ele estendeu a mão para sacudir a escada estreita que


levava para baixo.

Não estava no melhor dos estados, mas teria que servir.

― Temos que descer. ― Ele olhou de volta para a humana.

Ela podia entendê-lo, mas ela ainda estava balançando a


cabeça e sua respiração estava saindo com força pelas narinas.

― Eu naaum…

Seu olhar disparou ao redor do salão mais uma vez, mas


esta era a única maneira que eles iriam sair disso.

Eles teriam que descer.

Ou isso, ou eles teriam que se permitir serem pegos.

Este último não era uma opção. Não com ela sob seus
cuidados.

Seu olhar voltou para o buraco.

A humana parecia aterrorizada com isso.

Ele vasculhou sua mente em busca de informações. Ele


não sabia muito sobre sua espécie, apenas que seus dois
únicos amigos, Sohut e Riv, tinham encontrado sua gnora –
suas almas gêmeas – com duas humanas.
As humanas tinham medo do escuro?

Buracos pequenos?

Escadas?

Ele não tinha certeza.

― Estarei bem aqui com você. não vou…

Ele ia dizer que não permitiria que a escuridão, o buraco


ou a escada a machucassem, mas suas palavras morreram em
seus lábios.

Sua cabeça estava se movendo de um lado para o outro


com tanta força agora que seu cabelo estava balançando como
uma nuvem escura e encaracolada ao redor de sua cabeça.

― Voussê naum ishtáaa mi entendenduuu, eooo sou


claustrofóoobica

Ela ofegava após cada palavra, inalando tão


agressivamente que era audível, e embora ele não tivesse ideia
do que ela acabou de dizer, ela parecia angustiada o suficiente
para que ele se levantasse do chão e desse um passo em
direção a ela.

Seu braço se estendeu antes de parar no ar.

O que ele estava fazendo?

Ele não tinha ideia de como confortar uma fêmea, muito


menos uma angustiada. E ele não tinha ideia do porquê ela
precisava de conforto. A única coisa que ele sabia era que o
buraco escuro a aterrorizava.

Seu relógio-satélite apitou, e Ka'Cit desviou o olhar da


fêmea para olhar para ele.

Phek. Eles não tinham muito tempo.

Eles tinham apenas alguns minutos antes que o bloqueio


terminasse.

Eles tinham que entrar ou correr o risco de serem pegos.

Se ele estivesse sozinho, ele teria feito o último. Seus


blasters não tinham sido usados por um tempo... seus dedos
também... eles teriam gostado de alguma ação, mas ele não
estava disposto a colocar a fêmea em perigo.

Ele se esgueirou aqui para tirá-la com segurança, não


para matá-la.

Ela ainda estava respirando com dificuldade, mas seus


olhos estavam no relógio dele agora.

― É um alarme, ― disse ele como explicação. ― Não resta


muito tempo. Temos de ir.

Sua garganta se moveu e ela tomou um grande gole de ar.


Ela estava sussurrando algo baixinho, um mantra, e ele não
conseguia diferenciar as palavras.

Houve o som de metal batendo atrás das portas fechadas


e isso a fez olhar para elas.
Isso pareceu acordá-la do que quer que ela estivesse
passando, porque ela engoliu em seco e deu um passo em
direção ao buraco.

― Okay. Vousssê conséegui Nee-ya, vousse conséegui.

Com uma respiração profunda, ela se agachou e olhou


para dentro.

Seu corpo começou a arfar ainda mais forte.

― Vousssê conséegui...

Com as mãos trêmulas, ela se agachou sobre o buraco e


sentou-se de modo que suas pernas estivessem firmemente
plantadas em um degrau.

Com outra respiração que fez seu corpo estremecer, ela


se abaixou na escada.

Seu relógio-satélite apitou novamente.

Phek.

Não houve tempo suficiente. Eles tinham que entrar e eles


tinham que entrar agora.

Ele não teve tempo de avisá-la, ele simplesmente


trabalhou por instinto.

Assim que sua cabeça desapareceu no buraco, Ka'Cit


deslizou atrás dela, apenas para perceber que ela não tinha ido
muito longe.
Ela parou.

Congelada.

Ele não teve escolha a não ser agarrar o lado da escada e


abaixar-se, essencialmente abaixando-se sobre sua pequena
estrutura.

Foi um ajuste apertado, mas ele tentou não apoiar


nenhum de seu peso sobre ela. Não era sua intenção esmagá-
la.

Ela fez um som em sua garganta, mas não disse mais


nada, e ele estava agradecido por ela não tentar empurrá-lo
porque ele teve que deslizar a tampa de volta no lugar e fechar
a entrada.

Assim que seus pés encontraram um degrau abaixo dela,


ele usou uma mão para se equilibrar e a outra para selar o
esconderijo.

E foi bem na hora também.

Assim que a tampa se encaixou, ele ouviu as portas do


setor superior e inferior se abrindo.

Os pés batiam no chão acima de suas cabeças, e Ka'Cit


agarrou a escada para se equilibrar. Ele não teve escolha a não
ser se inclinar para a humana.

― Não faça barulho, ― ele sussurrou alto o suficiente para


ela ouvir. ― Eles estão bem acima de nós.
Estava escuro, mas ele podia ver que ela sacudiu a cabeça
para deixá-lo saber que ela entendia.

Ela estava com o rosto pressionado contra o metal frio da


escada e ainda estava tremendo.

O som de pés batendo no chão não parou, e ele inclinou


um pouco a cabeça, suas orelhas se animando.

Ele pôde identificar que havia pelo menos vinte Niftrill no


corredor.

Quantos deles aquela maníaca, Herza, contratou?

Parecia que ela tinha uma horda inteira.

― Encontre! ― Era a voz de Herza.

Ela estava com raiva.

― Não me diga que você a soltou na minha nave! Idiotas


de merda! ― Parecia que ela atingiu um dos Niftrills na cabeça.
― Se você vê-la, mate-a.

Ka'Cit ficou tenso.

― Mas... eu pensei que você queria vendê-lo por créditos,


― um dos Niftrills foi corajoso o suficiente para falar.

Parecia que Herza zombou. ― Fiz uma pesquisa. É uma


espécie chamada huu-mano. Originalmente contrabandeado
pelos Altos Tasqals. Se eles me pegarem com isso, estou
praticamente morta. Essa coisa é problema, e eu não quero ter
nada a ver com isso. Matem-na assim que a virem. Vamos
despejar o corpo em algum lugar no vazio.

Um rosnado começou na garganta de Ka'Cit e ele


prontamente o empurrou para baixo.

Ele não podia dar ao luxo de revelar o esconderijo deles.

Passos duros vieram pelo corredor. Esses eram diferentes


dos outros, mais pesados, mais confiantes, e ele não precisava
se perguntar a quem eles pertenciam.

Herza parou logo acima de suas cabeças, e o órgão vital


de Ka'Cit bateu em seu peito.

Ele estava errado? Ele a havia subestimado?

Se ela soubesse sobre o espaço de armazenamento...

A humana deve ter sentido o perigo, porque, e ele


percebeu isso tardiamente, embora todo o seu corpo estivesse
arfando a cada respiração, ela estava lutando para permanecer
quieta.

A voz de Herza era alta e autoritária. ― Procure no setor


inferior! Não há como aquela coisinha ser inteligente o
suficiente para escapar por conta própria.

Ka'Cit olhou para a humana.

Ela ainda estava com o rosto colado na escada, mas se


ouviu o que Herza disse, não deu nenhuma indicação.

Eles precisavam ir mais longe.


Seu único medo era que a escada rangesse e revelasse
sua localização.

Se Herza não sabia sobre o esconderijo, era provável que


não fosse mantido.

Ainda assim, a humana respirava com tanta dificuldade


agora que, se eles não se mexessem, Herza poderia ouvi-los de
qualquer maneira.

― Nós temos que ir mais para baixo, ― ele sussurrou perto


do ouvido da humana. ― Eu vou primeiro. Não se preocupe.
Eu te pegarei se você cair.

Entre como seu corpo estava arfando e tremendo, ele


quase não a viu sacudir o queixo para dizer que o ouviu e o
entendeu.

A descida abaixo não estava longe, apenas alguns metros,


mas Ka'Cit desceu lentamente, dando-lhe tempo para descer
também.

Ela estava hesitante.

Cada passo parecia fazê-la respirar com mais dificuldade


e quando seus pés tocaram o chão sólido e ele olhou para cima,
ela estava tremendo tanto que foi uma maravilha que ela não
caiu da escada.

Ela também não estava descendo. Ela só desceu dois


degraus antes de parar completamente.

Foi a coisa mais estranha que ele já viu em sua vida.


Ela parecia desesperada para se mover, mas de alguma
forma não conseguia, como se seu corpo estivesse lhe dizendo
para gritar e correr de volta pela escada.

Ka'Cit a encarou.

Ele podia vê-la bem o suficiente no escuro. Ele tinha


certeza que ela não podia vê-lo. Não porque sua visão estivesse
menos adaptada à escuridão, mas porque ela ainda estava
apertando os olhos.

― Ta'ii... ― Seu sussurro não pareceu surtir muito efeito,


e se não fosse o barulho de pés batendo no chão acima deles,
ele tinha certeza de que Herza já os teria ouvido lá embaixo.

Ele precisava tirá-la da escada.

Ka'Cit estendeu a mão, uma carranca marcando sua


testa quando ele tocou a humana levemente.

Ele não sabia por que ele esperava que ela recuasse de
seu toque – talvez porque isso é o que geralmente acontecia
quando ele tentava tocar outras pessoas – mas, novamente, ele
não estava tentando ser gentil naquelas vezes.

Ainda assim... quando a mão dele pousou em sua perna,


ela não se afastou.

Muito presa no que quer que a estivesse mantendo refém,


ela parecia completamente focada em puxar o ar para seus
pulmões e exalar.
― Ta'ii... ― ele disse novamente, e desta vez ele subiu a
escada mais uma vez para agarrá-la em seus braços.

Seu corpo estava rígido e ela se agarrou à escada com


tanta força que ele teve que tirar os dedos dela do degrau.

― Eu sinto muito. ― Ele não tinha ideia de pôr que estava


se desculpando, só que parecia que precisava.

Ela agarrou sua camisa com força enquanto ele descia a


escada e agora que a tinha em seus braços, ele podia sentir
que seu corpo inteiro não estava apenas tremendo, estava em
convulsão.

Ela estava doente?

Ele não tinha considerado isso.

Esta não era uma reação usual à escuridão ou às alturas,


com certeza.

Com os pés agora no chão, ele estava tentado a colocá-la


no chão e investigar, mas ele manteve seu plano original de ir
mais longe na escuridão e longe da escada.

Havia um espaço de rastejamento, e ele teve que se


agachar enquanto se dirigia por ele.

Não era grande o suficiente para segurar os dois, e


carregar a fêmea prosseguiria sendo complicado. Ainda assim,
ele fez o seu caminho com ela em seus braços.
A caminhada foi lenta, mas do jeito que ela se agarrou a
ele, ele não se atreveu a deixá-la ir.

E ele... não queria inteiramente?

Ela... precisava dele.

Era uma sensação estranha, ser necessária sem


nenhuma exigência.

Neste momento, e mesmo que por alguns segundos...


aquela sensação era... boa.

Balançando a cabeça, ele se forçou a se concentrar.

Deveria haver um pequeno recanto de armazenamento à


frente, grande o suficiente para eles se sentarem
confortavelmente, e era para lá que ele estava indo.

Longe da escada. Longe da abertura. E longe de Herza.

Enquanto ele se movia, ele teve que tomar cuidado para


não bater a cabeça da humana na lateral do pequeno túnel
enquanto ele fazia seu caminho.

Mas isso não era muito preocupante.

Sua cabeça estava dobrada em seu peito, suas mãos


ainda fechadas e agarrando sua túnica.

Cada respiração que ela dava era tão forte, ele podia
sentir seu peito se expandir, e cada expiração era um calor que
se infiltrava através de sua túnica para roçar sua pele.
Ela não disse nada e seus olhos ainda estavam fechados,
mas sua respiração estava tão forte e rápida que era mais do
que alarmante.

Algo estava errado e ele não sabia o que fazer.

O túnel finalmente se abriu para o recanto e ele


conseguiu ficar um pouco mais alto, embora não em sua altura
total.

Ali embaixo estava quente e o constante clank-clank da


sala de máquinas podia ser ouvido através das paredes.

Ele olhou ao redor do espaço.

Era menor do que ele imaginara, mas teria que servir até
que Herza cancelasse sua busca. Só então seria seguro ir
acima.

Olhando ao redor do recanto, ele se moveu para um


canto, seus olhos na humana.

Ela não estava melhorando.

O que quer que estivesse acontecendo com ela parecia ser


algo que ela não podia controlar.

Resumidamente, ele se perguntou se isso era algum


mecanismo de defesa humana.

Se assim for, foi altamente ineficaz.

Ela não parecia ter garras ou sua túnica já teria rasgado


com a força que ela estava segurando. Não havia veneno
escorrendo de sua pele, nenhuma arma saindo de seu corpo,
nenhuma camuflagem cobrindo sua pele...

Isso não poderia ser defesa.

Quando ele se sentou, ela ainda se agarrou a ele e ele não


teve escolha a não ser colocá-la para que ela montasse em seu
colo.

Seu corpo inteiro estava arfando, e ele não tinha certeza


se ela sequer percebeu que eles não estavam mais se movendo.

― Ta'ii? ― Sua voz era baixa e medida.

Ele não queria assustá-la, mas ela não respondeu.

Ela ainda o agarrou, seu rosto enterrado em seu peito


enquanto ela hiperventilava.

Suas orelhas se animaram mais uma vez e endureceram.

Ele conhecia animais que faziam isso – enrolados em uma


bola e estremecendo enquanto estavam em perigo.

Se ela continuasse assim, seu órgão vital pararia.

Seu corpo já estava em choque. Era apenas uma questão


de tempo.

Enfiando a mão no bolso, ele tirou um disco de luz,


ativou-o e o colocou no chão ao lado deles.

Ele banhou o pequeno recanto em um brilho quente e


iluminou o rosto da humana.
Suas sobrancelhas ainda estavam franzidas, suas
narinas dilatadas, e sua boca estava ligeiramente aberta
enquanto seu peito arfava a cada respiração.

Phek.

― Ta'ii…

Nenhuma resposta.

Pela primeira vez em sua vida, Ka'Cit se sentiu


completamente desamparado.

Ele não tinha ideia do que fazer...

Não fazia ideia de que aflição havia acontecido com ela...

Não faço ideia de como ajudar.

Ela o agarrou com mais força e seu próprio órgão vital


bateu como se tentasse escapar de sua cavidade e ajudá-la de
alguma forma.

O que ele deveria fazer?!

Deve haver algo que os humanos fizeram em tempos


como este.

Do jeito que ela o segurou, ele não teve escolha a não ser
colocar os braços ao redor dela e puxá-la para mais perto.

Talvez ela precisasse sentir sua força... saber que não


estava sozinha e não estava mais em perigo?

Phek.
Talvez ele devesse ter visitado seus amigos com mais
frequência. Ele teria sido capaz de observar as companheiras
humanas de Riv e Sohut – ver como era sua espécie.

O único problema era que as companheiras de seu amigo


eram a principal razão pela qual ele não visitava muito o
Santuário de Riv nos últimos meses.

Vê-los com suas companheiras o lembrou que…

Ka'Cit afastou os pensamentos.

Este não era o momento.

Enquanto segurava a humana, o cabelo dela roçou sua


máscara e ele se viu inclinando-se mais próximo dela enquanto
o corpo dela se levantava contra ele.

― Acalme-se, ta'ii. Eu estou aqui.

As palavras pareciam estranhas vindo de sua boca.

Quando ele alguma vez... confortou alguém?

Não era algo que ele pensou que seria capaz de fazer.

Enquanto ele segurava a humana, ela pareceu se acalmar


um pouco, e levou alguns momentos antes que um som baixo
chegasse a seus ouvidos.

Não era o barulho do motor da nave, ou qualquer outro


som vindo da nave.

…estava vindo dele.


Houve um zumbido em sua garganta, e assim que ele
percebeu que era a fonte do som, suas cordas vocais pararam
de vibrar enquanto ele olhava para a humana em seus braços.

Apenas... o que... o que ele estava fazendo?

Ele não cantarolou canções de ninar. Sem mencionar que


esta era uma música que ele achava que tinha esquecido há
muito tempo.

Suas mãos em punhos em suas roupas um pouco mais,


apertando seu aperto, e ele percebeu que ela queria que ele...
continuasse?

Como ele poderia negar esse estranho ser feminino?

Ka'Cit engoliu em seco.

A música era um som suave – um que sua mãe


cantarolava para ele quando ele era criança, muitas, muitas
eras atrás.

Provavelmente foi por isso que ela foi atraída por isso.

O pensamento o fez mudar desconfortavelmente.

Ok... ele poderia cantarolar... se ela precisasse.

Se isso ajudar.

Ele soltou uma respiração lenta pelo nariz.

Ele poderia cantarolar a... canção de ninar.

Phek…
Ele realmente ia fazer isso.

O som começou hesitante em sua garganta, mas quanto


mais os segundos passavam, mais ele era capaz de fazê-lo e se
fechasse os olhos, provavelmente poderia fingir que não estava
fazendo tantas coisas tão atípicas dele.

Mas, enquanto a música fluía de sua memória para suas


cordas vocais, ele a observava. Ele não conseguia desviar o
olhar.

Não agora, especialmente nesta situação estranha em


que se encontravam.

Seu corpo estava tenso e suas sobrancelhas


permaneceram unidas, mas sua respiração estava se
estabilizando.

Ele tinha certeza.

Cada respiração que ela dava fazia com que seu pequeno
corpo subisse e descesse contra o dele, e definitivamente
estava ficando mais uniforme.

Alguns momentos antes, parecia que cada respiração


estava passando por sua traqueia.

Agora, cada respiração era uma inspiração profunda


seguida de uma expiração ainda mais profunda e suave.

Isso por si só o encorajou a continuar, embora a cada


nota, as memórias que ele havia trancado voltassem à tona.
Memórias de quando ele era inocente.

Memórias de tempos passados.

O antes.

Antes que ele tivesse que fugir.

Era difícil manter-se acima da superfície dessas


memórias e ele lutou para se concentrar, escolhendo o
presente para não ficar preso ao passado.

A humana.

Foco na humana.

Ela precisa de você.

Lentamente, o corpo da humana parou de arfar tanto e


ele começou a se preparar, erguendo aquelas paredes mentais,
para quando ela despertasse de seu ataque e se jogasse para
longe dele.

Mas... ela não o deixaria ir.

Minutos se passaram e ela ainda segurou.

Não que ele se importasse, mas agora que eles não


estavam em perigo direto e ela parecia estar se acalmando, ele
podia ver que o jeito que ele a segurava era bastante... íntimo.

Suas coxas escarranchadas sobre as dele e ele a estava


segurando contra ele, seus braços em volta dela, a redondeza
de suas nádegas em suas mãos.
Sua cabeça ainda estava contra seu peito, seu rosto
enterrado nele, e suas mãos ainda estavam fechadas na frente
de sua túnica.

Phek.

Esta não era a hora nem o lugar, mas, junto com o


problema geral em que estavam, ele parecia ter um problema
em suas calças também.

Ka'Cit fechou os olhos por um momento.

Foi uma bênção que sua máscara o impedisse de cheirar


seu perfume. A máscara dele já estava roçando no cabelo
estranho dela, que se levantava e se afastava da cabeça dela
em vez de cair pelos ombros, e se não fosse pela máscara, o
nariz dele estaria pressionado nos fios encaracolados.

Ele não tinha a intenção e sabia que era inapropriado,


mas isso era íntimo.

Olhando para ela, percebeu que isso era o que seus


amigos, Riv e Sohut, tinham.

Todo. Santo. Dia.

Suas companheiras eram da mesma espécie que esta


fêmea.

Eles temiam o escuro também?

Alturas?
Ele imaginou La-rehn gritando e correndo em direção a
Riv quando ela se deparou com uma escada aleatória no
terreno do Santuário.

As companheiras de seus amigos buscavam conforto


deles assim quando se sentiam ameaçadas ou assustadas?

A pergunta foi fácil de responder.

Claro, elas buscavam.

Seus amigos conseguiram segurar suas fêmeas e ter


prazer sabendo que extraíram força delas.

E agora – novamente, era inapropriado para ele estar


pensando isso, mas... agora ele era a força desta fêmea.

Era um sentimento novo, que ele nunca tinha


experimentado antes, e uma dor se desenvolveu dentro dele
que ele conhecia muito bem.

Não porque ele tinha inveja do que seus amigos tinham…

Não.

Essa dor era outra coisa.

Essa dor estava lá porque isso era uma parte da vida que
ele, Ka'Cit, nunca teria.

E por um bom motivo.

Ele não tinha nada para oferecer a qualquer fêmea


merecedora.
Ele foi amaldiçoado.

Bone Crusher não era o único apelido indesejado que ele


recebeu.

Em outros lugares, em outra época, ele recebeu outro


nome.

Ele era Ka'Cit Urgmental, o Amaldiçoado, o Indesejado…


o Rosto Liso.
CAPÍTULO 12

Parecia um longo, longo tempo antes que Nia pudesse


abrir os olhos.

À medida que os minutos passavam, o cara grande e azul


a segurou perto, permitindo que ela respirasse através de seu
ataque de pânico.

Ela ainda estava lutando consigo mesma, dizendo a si


mesma que estava tudo bem, que ela não estava prestes a
sufocar.

Ela sabia que era uma resposta ilógica. Ela sabia


perfeitamente que não ia morrer... que havia ar suficiente para
ela respirar.

Ainda assim, ela não conseguia se conter.

Ela sempre sofria de claustrofobia.

Isso a assombrou a maior parte de sua vida e mesmo


agora, ainda a estava assombrando.

Foi por isso que ela decidiu se tornar uma enfermeira em


vez de fazer o que ela queria fazer em primeiro lugar – se juntar
ao exército.

Sua claustrofobia era uma vulnerabilidade, e em tempos


como este, isso era dolorosamente óbvio.
Imagine congelar no campo de batalha quando a vida dos
outros dependia dela.

Ela não podia fazer isso.

Porra.

Ela piscou quando uma respiração enorme estremeceu


dela.

Se esse estranho não estivesse lá para empurrá-la para o


buraco, ela poderia ter feito isso sozinha?

A resposta a essa pergunta a assustou.

Ela teria se decepcionado.

Ela teria se dobrado e voltado para cima.

Sua respiração ainda estava difícil, mas ela conseguiu


levantar um pouco a cabeça.

A vergonha fez suas bochechas ficarem quentes quando


ela percebeu o que estava fazendo.

Ela tinha as pernas abertas sobre ele, as mãos em


punhos em sua camisa...

Nia ergueu o olhar e os olhos verdes encontraram os dela.

Porra.

Seu coração pulou uma batida.

Ela não tinha percebido que seu rosto estaria tão perto.
Se ele não estivesse usando aquela máscara, eles
estariam tão próximos que poderiam se beijar.

Ela deveria desviar o olhar.

Ela deveria…

Ou talvez ele desviasse o olhar primeiro?

Sem essa sorte.

Parecia que o tempo desacelerava enquanto ela olhava


para aqueles olhos verdes, e ela podia esquecer por um
segundo que como ela estava sentada nele era completamente
inapropriada.

O zumbido da nave desapareceu e os eventos anteriores


ocorreram em alguma outra dimensão.

Como ele conseguiu fazer isso com apenas um olhar era


uma questão que ela teria que ponderar mais tarde.

― Você está bem agora, ta'ii. ― Sua voz era como um


manto reconfortante. ― Você está segura.

Seu coração batia forte em seu peito, reagindo a algo


diferente dos resquícios do ataque de pânico que ela acabara
de sofrer, e Nia conseguiu sorrir um pouco para ele.

Ela estava se acalmando e era tudo por causa dele.

Ela não sabia como iria agradecê-lo, mas a primeira


ordem do dia era parar de escarranchá-lo como se estivesse
prestes a levá-lo para um passeio – porque, e ela percebeu isso
tarde demais em sua opinião, ela estava na posição exata para
fazê-lo.

Enquanto ela se soltava de seu peito, ela tentou endireitar


sua camisa, mas ela a esmagou completamente; ela o segurou
com tanta força.

― Desculpe. ― Ela lhe deu um sorriso fraco. ― Eu te darei


um novo assim que saímos disso... ― ela olhou ao redor deles
― ...essa bagunça.

Nia limpou a garganta e desceu do colo dele com tanta


graça e equilíbrio quanto ela conseguiu reunir, o que não era
muito. O espaço era pequeno, e ela teve que colocar seu corpo
desajeitadamente só para se levantar dele.

Ele não se moveu, e ela ficou feliz por ele não ter dito
nada.

Se o fizesse, ela poderia ter evaporado de vergonha.

Ela já sabia como era.

― Desculpe por... ― Ela tentou encontrar as palavras,


mas parou.

O que ela estava fazendo?

Mesmo que ela pedisse desculpas, ele não conseguia


entender uma palavra do que ela dizia.

Ela só teria que deixar Riv transmitir uma mensagem


para ele quando eles finalmente retornassem ao Santuário.
Talvez ela até se oferecesse para trabalhar um pouco na
fazenda dele, para recompensá-lo por todo esse problema.

Era culpa dela que ele agora estivesse preso na parte


inferior de uma nave.

Merda!

O pensamento fez sua ansiedade aumentar.

― Onde estamos? O que é este lugar?

Ela olhou ao redor do pequeno quarto, se é que podia


chamar assim.

As paredes de todos os lados eram de metal, e mal havia


espaço suficiente para ambos se sentarem confortavelmente.

Reconhecendo isso, ela sentiu outra onda de


claustrofobia chegando.

Respirando fundo, ela fechou os olhos.

Um, dois, três... ela contou várias vezes enquanto se


concentrava em sua respiração.

Houve um som ritmado e ritmado em algum lugar mais


abaixo da nave e ela se concentrou nisso também.

O ritmo ajudou.

Mas, apesar de seus melhores esforços, o pânico estava


aumentando mais uma vez.
Esqueça que ela tinha uma audiência. Seu senso de
autopreservação aparentemente não se importava se ela
morresse de vergonha.

Ela estava se concentrando no barulho ao fundo


enquanto tentava medir sua respiração quando ouviu a
música mais uma vez.

O alienígena estava cantarolando novamente.

Os olhos de Nia se abriram e sua cabeça virou em sua


direção.

Olhos verdes a estudaram através da máscara de metal e


ele parou de cantarolar por um momento.

Quando ela não disse nada, ele continuou.

E isso ajudou.

Ela não sabia como, mas sua estranha canção


alienígena... ajudou.

― Obrigada. ― Ela sorriu e o olhar do alienígena foi para


seus lábios.

Talvez ele estivesse tentando descobrir o que ela estava


dizendo.

Outra respiração estremeceu através dela e ela se


concentrou no profundo estrondo de sua voz.

Era um zumbido profundo e baixo vindo das profundezas


de sua garganta, mas era absolutamente encantador.
Tanto que ela só podia olhar para ele, seu ataque de
pânico desaparecendo mais uma vez.

O som a lembrou de música eslava; havia simplesmente


algo de hipnotizante nisso.

Se ela não pensasse onde estava, se ela se concentrasse


em tudo, exceto no pequeno espaço em que estavam presos,
ela poderia sobreviver a essa provação sem entrar em outro
ataque de pânico.

Ela teve que se forçar a fazer isso, porque ela podia sentir
a ansiedade fervendo em seu peito, como se estivesse pronta
para fechar sua garganta e cortar seu suprimento de ar se ela
baixasse a guarda.

Ela desviou o olhar do alienígena.

No pouco tempo desde que ela o conheceu, ele a viu em


seu estado mais vulnerável e ela não gostou disso.

Ela não tinha um ataque de pânico como este há muito


tempo.

A última foi quando ela foi carregada em uma caixa para


Riv no Santuário, mas isso era um lembrete gritante de que ela
ainda tinha um problema.

Pelo menos o cara não parecia estar julgando-a.

Ele parecia confuso e preocupado mais do que qualquer


outra coisa.
Nos minutos seguintes, eles ficaram em silêncio enquanto
Nia se concentrava em sua respiração.

Quanto mais ela trabalhava nisso, mais fácil se tornava.


CAPÍTULO 13

Ela calculou que um quarto de hora se passou antes que


ela pudesse respirar normalmente novamente.

E em todo esse tempo, o alienígena ao lado dela


cantarolou. Ele a estava observando também, observando cada
movimento dela.

Sua presença era... surpreendentemente calmante.

Olhando ao redor deles mais uma vez, Nia repetiu a


pergunta que havia feito antes de seu ataque de pânico
explodir.

Ela apontou para o espaço ao redor deles. ― O que é este


lugar?

Ele parou de cantarolar então, e seu olhar seguiu os


movimentos dela enquanto olhava ao redor.

Ela se perguntou se ele entenderia o que ela estava


tentando perguntar.

Exatamente como eles poderiam se comunicar quando


suas palavras provavelmente soaram sem sentido para ele?

― Isso era armazenamento de alimentos há muito tempo,


― disse ele depois de alguns momentos, e Nia sentiu um
choque de triunfo. Ele a tinha entendido, de alguma forma. ―
Duvido que Herza vá procurar você, por nós, aqui.
Herza. Aquela maldita capitã.

Se ela não fosse tão gananciosa...

O olhar de Nia passou pelas paredes cinzentas.

E se seu salvador não soubesse sobre este lugar...

Ela ouviu quando Herza ordenou que os capangas a


matassem assim que a vissem.

Um pouco drástico, mas há muito tempo ela percebeu


que este novo mundo era um lugar implacável.

Nia respirou forte e firme.

Como ela se encontrou nessa bagunça?

Enquanto o silêncio os cercava, seus sentidos a alertaram


para outra coisa.

O quartinho estava quente, mas esse calor estava


lentamente se tornando quase insuportável.

Ela abanou a mão na frente do rosto para tentar fazer


com que o ar se movesse, mas teve pouco efeito.

― Você está... desconfortável no calor? Os motores


principais estão próximos. É isso que está causando o calor.

Nia olhou para o alienígena ao lado dela. Ele ainda a


observava. Ela não tinha percebido isso.
― Se movermos este painel, ― ele apontou para a parede
à esquerda deles, ― e rastejarmos pelo canal por alguns
minutos, acabaríamos na sala de máquinas.

As sobrancelhas de Nia se ergueram um pouco.

Primeiro o painel no chão e agora isso.

Como ele sabia dessas coisas?

Ela achava que ele era um fazendeiro.

Ele deve ter visto a pergunta em seus olhos porque ela


tinha certeza que ela pegou uma risada suave debaixo de sua
máscara.

Ela olhou ao redor deles um pouco mais.

Estava ficando muito quente, quase como se estivessem


em uma sala fechada.

Mas eles não eram.

Havia um túnel na frente e o aparato de luz que ele


colocou no chão apenas diminuiu a escuridão no túnel por
alguns metros. Mais abaixo, parecia que ela estava olhando
para uma parede de escuridão.

Outro estremecimento passou por ela e ela desviou o


olhar do túnel.

Mais uma vez, ela abanou a mão na frente do rosto para


tentar fazer o ar se mover.
Estava tão quente, gotas de suor estavam se formando
em sua testa e debaixo de sua capa estava começando a ficar
pegajosa.

Não era o melhor dos sentimentos, mas era melhor do que


estar morto.

Ela morreria de suor em qualquer dia.

Era preocupante, porém, como estava ficando quente.

Talvez fosse porque ela estava pensando nisso, mas o


calor aumentava a cada segundo.

E ela parecia ser a única afetada por isso também. Ao lado


dela, o alienígena parecia estar completamente bem, mesmo
com a máscara.

― Por que a máscara? ― ela apontou para o rosto.

Ela não conseguia ler o que ele estava pensando por trás
daqueles olhos verdes, mas toda vez que ela olhava para cima,
eles estavam focados nela. Também não era um olhar hostil,
mas de interesse.

― A máscara, ― ela repetiu, colocando as mãos na lateral


da cabeça como se estivesse emoldurando. ― Para que serve
isto? Você sempre usa? Por que?

Ela quase balançou a cabeça para si mesma.


Isso era um monte de perguntas para atirar em alguém
que não conseguia entender nem mesmo uma das palavras
que ela falava.

― Você quer que eu tire isso? Eu normalmente não... Não


na frente de... ― Ele fez uma pausa.

― Oh, eu não estava pedindo para você removê-lo. ― Ela


balançou a cabeça, mas não podia negar que estava mais do
que curiosa para ver o rosto do macho embaixo.

Ele a estudou por alguns momentos antes de levantar as


mãos para o lado de sua máscara e fazer uma pausa
novamente.

Nia prendeu a respiração.

Houve um clique suave e então ele levantou a máscara de


sua cabeça.

Ela não podia evitar. Suas sobrancelhas se ergueram na


testa e seus olhos se arregalaram.

A primeira vez que ela o viu, sua máscara estava aberta,


mas ela estava de pé em um ângulo onde não conseguia ver
seu rosto.

...e ela esperava muitas coisas, mas não isso.

Seus olhos verdes pareciam ainda mais verdes quando


emoldurados por sua pele azul, e eles piscaram de volta para
ela de um rosto robusto e bonito.
Mandíbula forte, queixo firme, lábios carnudos…

Havia uma única linha franzida entre as sobrancelhas, e


os músculos de sua mandíbula se contraíram quando o olhar
dela se moveu sobre eles.

Ele a observou, sem piscar, e embora não fosse educado


olhar, Nia descobriu que não conseguia desviar o olhar.

Ele era Merssi como Riv e Sohut, isso ela sabia... mas
havia algo diferente em sua aparência – algo que ela tinha
certeza que deveria se destacar, mas por sua vida, ela não
conseguia colocar um dedo sobre o que era.

― Nia. ― Ela estendeu a mão para um aperto de mão, mas


ele apenas olhou para ela.

― Meu nome é Nia, ― ela repetiu. Desta vez, ela levou a


mão ao peito.

― Nia.

Os cantos de seus lábios se moveram um pouco antes, ―


Nee-ya.

Nia piscou.

A maneira como ele disse o nome dela...

Ele o esticou como Riv e Sohut fizeram, mas sempre que


eles diziam o nome dela, ela não sentia uma vibração na boca
do estômago.
Seus tons profundos acariciavam as sílabas como se a
estivesse despindo com os lábios.

Limpando a garganta, Nia assentiu.

― Isso mesmo. E você é? ― Ela gesticulou para ele e seu


olhar seguiu sua mão.

― Ka'Cit.

― Kah... Cit. ― Ela teve o cuidado de dizer direito. ―


Ka'Cit?

Os cantos de seus lábios se moveram novamente, mas ele


não a corrigiu, então ela assumiu que disse isso corretamente.

― Ka'Cit, ― ela disse novamente e desta vez, ela sorriu


para ele. ― Obrigada por vir me ajudar, mesmo que eu não
tenha ideia de como você sabia que eu estava com problemas.
Estou grata mesmo assim.

Seu olhar estava em seus lábios enquanto ela falava, mas


se ele pudesse pegar as palavras, ela duvidava que ele as
entenderia.

Os uploads de idiomas tiveram que ser comprados ou os


tradutores atualizados através do sistema interplanetário.

Caso contrário, ela teria que confiar em pistas não


verbais.

Não que essas dicas a tivessem ajudado até agora.


Algo apitou no braço de Ka'Cit, a mesma coisa que deu
um alarme quando eles estavam no convés. Parecia uma
grande faixa escura que se curvava em torno de seu pulso.

Ele olhou para ele e pressionou algo.

Não houve mudança imediata, e ela estava se


perguntando o que ele tinha acabado de fazer quando uma voz
veio da banda.

― Qual é o seu estado?

A voz era tão nítida e inesperada que a assustou um


pouco, mas ela tentou não demonstrar.

Os olhos de Ka'Cit ainda estavam nela quando ele


respondeu. ― Houve uma... situação.

― Você será capaz de interceptar o pacote?

Ka'Cit soltou um suspiro e franziu as sobrancelhas. Foi


quando ela percebeu o que havia de tão diferente em seu rosto,
o que o diferenciava de todos os outros Merssi que ela
conheceu até agora.

Seu rosto era suave, como o dela.

Todos os outros Merssi que ela tinha visto ― Riv, Sohut e


até mesmo aquela chefe, Herza ― tinham sulcos correndo ao
longo de suas sobrancelhas, narizes e até queixos.

Ka'Cit não tinha nenhum.


Seu rosto era tão humano quanto um rosto alienígena
poderia ser.

Ainda havia diferenças, como se sua estrutura óssea


fosse um pouco diferente, mais dura, mas não desinteressante,
e suas orelhas eram parecidas com as de um elfo. Agora que
ela estava olhando para ele com força, eles se animaram nas
laterais de sua cabeça.

― Isso pode não ser possível, ― ele falou para quem estava
na linha e ela viu pedaços de seus dentes enquanto ele
pronunciava as palavras.

Yeaaa... os humanos não tinham dentes como esses.

Suas presas pareciam cruéis, como se ele pudesse rasgar


carne crua sem se esforçar. Além disso, aquela pele azul e
aqueles olhos... até o cabelo dele era mais grosso, mais rico, do
que o cabelo humano.

Ela só percebeu que estava realmente olhando quando a


cabeça dele inclinou um pouco. Assombroso olhar encontrou
a dela e ela viu algo mudar atrás deles.

Nia se forçou a procurar em outro lugar.

Ela viu em seus olhos.

Ele sabia o que ela tinha acabado de perceber, que ele era
diferente dos outros.

― Não posso deixar a base até a hora marcada para nos


encontrarmos. Quais são as chances de perdermos esse
pacote? ― A voz quase parecia robótica, como uma versão
masculina super avançada da Siri, e Nia se perguntou se Ka'Cit
estava falando com um computador.

― Eu te pegarei aquele pacote, de uma forma ou de outra.


Pode levar algum... tempo.

― Tempo é o que não temos, irmão.

Ka'Cit soltou um suspiro como se soubesse.

― Mantenha-me atualizado. Entrarei em contato com


você novamente. ― Com isso, a chamada foi desligada.

Ela não conseguia evitar a sensação de que ela era a razão


pela qual ele disse que talvez não pudesse coletar este “pacote”.

Ele deveria estar em outro lugar agora?

Quando ela olhou para ele novamente, ele ainda estava


olhando para ela.

Aqui ela estava se sentindo constrangida por olhar


enquanto ele estava fazendo isso como se fosse perfeitamente
normal.

― Trabalho, ― disse ele, apontando para sua pulseira.

Nia lhe concedeu um sorriso suave.

Trabalho, hein.

Ele era algum tipo de soldado então?

Ele com certeza parecia construído para isso.


― Você estava trabalhando? Uma missão quando você
veio atrás de mim?

Confusão nadou em seus olhos, mas antes que ele


pudesse tentar responder a um zumbido tão alto, parecia que
estava prestes a ensurdecê-la, rugiu na pequena sala.

O rugido pareceu crescer em intensidade enquanto todo


o espaço tremia.

Olhos arregalados se voltaram para o alienígena ao lado


dela enquanto ela espalmava as mãos contra as paredes para
se preparar.

Parecia que um motor de foguete tinha acabado de


disparar e esse pensamento fez toda a sua coluna nervosa
murchar.

O som só podia significar uma coisa...

― Herza está indo embora. ― Ele falou alto o suficiente


para ela ouvir, e suas palavras apenas confirmaram seus
medos.

Porra!

Quando ele disse sair, ela tinha certeza que ele queria
dizer como... ir para o maldito espaço sideral, não é?

Ela começou a se levantar, mas uma mão descansou em


seu braço.
― Não adianta! ― ele gritou. ― Teremos que esperar até
que os conveses superiores se acalmem. No momento, eles
estão caçando e estamos em menor número. Eu não quero…

Porra, ele não precisava completar essa frase. Sua pausa


falou muito.

Ele não queria que ela levasse um tiro.

Inferno, ela não queria levar um tiro também.

― Vamos esperar, ― disse ele. ― Vamos esperar e pegar


um ônibus, desça da nave mais tarde.

― Mas isso significa que estaremos no espaço até lá!

A ideia de ir para o espaço sideral teria sido excitante em


outra circunstância, mas a aterrorizava de uma forma que ela
nunca pensou que fosse.

Ela gostava de seus pés no chão. Na Terra – ou em Hudo


III neste caso.

Ele se inclinou mais perto do ouvido dela para não ter que
gritar, possivelmente no caso de sua voz ser carregada porque
o som dos motores estava se estabilizando.

― Mais tarde, Herza diminuirá as luzes acima do convés


quando estiver a caminho. Para economizar energia. Ela é
econômica. Essa será a nossa chance. Niftrills não podem ver
bem; a penumbra nos ajudará. ― Ele fez uma pausa. ― É
melhor.
Relutantemente, Nia voltou a se sentar.

Ele sabia mais do que ela, ela esperava que ele estivesse
certo, e até agora, ele só a ajudou.

Havia muitos brutos acima do convés e eles tinham uma


ordem para matar à vista. Ela não tinha esquecido isso.

Seus olhos caíram mais uma vez para os blasters nos


quadris de Ka'Cit.

Ele tinha dois, possivelmente ela poderia usar um?

Ela estava sem prática, mas estava confiante de que


poderia acertar mais do que alguns deles se tivessem que atirar
para sair. Mas... ela queria se colocar propositalmente naquela
situação?

Não.

Enquanto ela se recostava na parede de metal, Ka'Cit


tirou a mão do braço dela.

― E agora? ― ela sussurrou, mais para si mesma do que


para ele.

Houve outro rugido alto do que ela supôs ser o motor da


nave e a pequena sala em que estavam sacudiu mais uma vez.

Porra de porra.

Eles estavam indo para o espaço, na barriga de uma nave.

Não parecia nem um pouco seguro.


Havia mesmo suporte de vida aqui embaixo?

Esse pensamento fez outro pico de ansiedade disparar


através dela e ela olhou para Ka'Cit novamente, mas ele estava
apenas sentado lá, aparentemente despreocupado, com os
olhos nela.

Como ele podia estar tão calmo?

Seus nervos estavam tremendo tanto quanto a parede de


metal atrás estava vibrando com o estresse dos motores.

Merda.

Seus pensamentos voaram para Lauren e Riv de volta ao


mercado.

Ela não voltaria para eles tão cedo e eles provavelmente


estavam preocupados.

Ela só podia esperar que Ka'Cit soubesse o que estava


fazendo, esperar e rezar, e ela voltaria ao Santuário logo.

Seu coração doeu.

O Santuário estava em casa.

Forçando-se a fechar os olhos, ela se concentrou em sua


respiração.

O estrondo e o tremor aumentaram de intensidade e se o


quartinho não estivesse pressionado entre a parede e Ka'Cit,
ela tinha certeza de que teria sido jogada de um lado para o
outro como uma boneca de pano.
O estrondo horrível continuou por mais alguns momentos
até que de repente se desvaneceu.

Havia uma sensação de leveza e quando ela abriu os


olhos, seu corpo inteiro estava flutuando a alguns centímetros
do chão.

Uau.

Sua mão encontrou Ka'Cit, seus dedos cavando em sua


coxa enquanto ela o agarrava.

Mas o efeito durou apenas alguns segundos antes que os


controles de gravidade acionassem e ela fosse plantada
firmemente de volta no chão.

Ela não precisava perguntar a Ka'Cit o que havia


acontecido. Ela assistiu a filmes de ficção científica suficientes
para saber pelo menos uma coisa.

Eles não estavam mais no chão.

Eles estavam em órbita.


CAPÍTULO 14

Nee-ya pode ter medo das coisas mais estranhas, mas...


ela não tinha medo dele.

Apesar de estar tentando parecer o menos ameaçador


possível, ele ainda estava preocupado com isso.

A primeira vez que ele conheceu a companheira de Riv,


Larehn, ela ficou um pouco apreensiva com ele.

Ele adivinhou que era o efeito de sua máscara. Ele olhou


para ela agora.

Talvez tirá-la deixou a humana mais confortável?

Nee-ya. Ele repetiu o nome dela em sua cabeça.

Ele gostou.

Curto e doce.

Como ela…

Phek.

Ele teve que colocar uma rédea em torno desse


pensamento e puxá-lo de volta. Ele não tinha o direito de
permitir que sua mente seguisse esse caminho.

Mais para dentro da nave, ele podia ouvir o som rítmico


dos motores disparando e tentou se concentrar nisso.
Herza provavelmente estava indo para Port Six e levaria
alguns dias para chegar lá.

Eles tinham que sair dessa nave muito antes disso.

O Porto Seis era onde alguns das piores escórias do


universo se abrigavam.

Lá não existiam leis que o tornavam um lugar onde tudo


era possível.

O olhar de Ka'Cit voltou para a humana.

Estava quente o suficiente no recanto agora que ele


estava feliz por ter removido a máscara, mas ele podia ver o
efeito do calor nela.

Pequenas bolas de suor se acumularam no ponto mais


estranho, no meio de seu nariz, e ele sentiu o desejo de
estender a mão e tocar os minúsculos pontos de umidade.

Ao contrário dele, parecia que ela era sensível às


mudanças de temperatura.

Se ele pudesse entender o que ela disse, ele teria


perguntado a ela mais sobre isso.

Ele não era muito bom com conversas, mas achava que
não era tão ruim nisso. Certamente.

Esse pensamento o fez quase bater a mão na testa.

Ele era um idiota.


Enfiando a mão em um de seus bolsos, ele tirou um
pequeno dispositivo quadrado.

Era um gravador e tradutor de linguagem arcaica. Ele só


o usava quando tinha que ir para os confins, onde seu
implante de tradutor poderia não pegar a linguagem de
qualquer pobre alma que ele tivesse que... questionar.

O dispositivo levou algumas horas para funcionar, porém,


e ele precisaria que ela falasse.

Ele ligou o aparelho, notando com o canto do olho que


Nee-ya o observava, então colocou o aparelho de volta no bolso.

Estava gravando agora.

Há muito tempo, ele “alterou” o dispositivo para servir a


seu próprio propósito.

Cada palavra que ela dizia, o dispositivo compilava em


um arquivo de idioma.

Ele analisaria o interstream para obter informações, tanto


os fluxos públicos quanto os privados, e encontraria qualquer
idioma que ela falasse.

Se Riv e Sohut tinham o arquivo de idioma para ela, sem


dúvida o arquivo principal estava escondido em algum lugar
no interstream. Ele estava certo disso.

Depois que seu dispositivo funcionasse, ele poderia


atualizar seu implante com as informações.
Ela se abanou novamente e isso o lembrou que ela estava
queimando.

Também não era calor seco.

Estava úmido aqui embaixo.

― Você está queimando.

Ela olhou para ele e um sorriso suave abriu seus lábios.


Ela empurrou o queixo em direção ao peito.

― Essttaa muiittoo queennnte aaaaquuii eembaaaixo.

A umidade vinda da casa de máquinas seria um problema


e ele estava começando a se perguntar se descer até lá tinha
sido uma boa ideia, afinal.

― Seeeráá quuee vaai essfriiaarr? ― Sua linguagem era


uma mistura tão estranha de sons... era cativante.

Ka'Cit piscou. Ela estava olhando para ele como se


esperasse alguma coisa. Talvez ela tivesse feito uma pergunta
a ele?

― Eu não entendo o que você acabou de dizer, mas eu


concordo com você.

Isso rendeu uma pequena risada dela e Ka'Cit sentiu algo


quente dentro dele.

Enquanto ele a observava, ela puxou o manto para baixo


para que ficasse parcialmente abaixo dos ombros. Então, ela
levantou a bainha e a enfiou entre as coxas, expondo a pele
escura perfeita de suas pernas.

O movimento foi tão inesperado que ele engasgou com a


própria respiração.

Nee-ya olhou em sua direção, com as mãos prontas para


puxar a capa mais uma vez, e ele lutou para manter o rosto o
mais neutro e inalterado possível.

Isso foi difícil. Mas, se ele não era bom em mais nada, ele
era um mestre em rostos vazios.

Quando ela não puxou a capa de volta para baixo, ele se


permitiu relaxar um pouco.

Ela estava superaquecendo. Ela estava apenas tentando


se acalmar e uma parte dele queria dizer a ela que ela poderia
tirar a coisa toda, embora ele suspeitasse que o convite seria
mal interpretado.

Ele não pretendia assustá-la, embora achasse que faria


isso sem nem tentar.

Ainda assim, ele queria que ela se sentisse confortável.

Eles ficariam presos no recanto por um tempo.

Para os próximos momentos, ela roubou olhares para ele


e quando ela percebeu que ele estava olhando para ela, ela
desviou o olhar.
Talvez ele estivesse sendo indelicado com o olhar, mas ele
preferia olhar para ela do que para as paredes cinzentas
monótonas.

Ela era muito mais interessante.

Ele podia admitir que estava curioso sobre ela. Seus olhos
castanhos eram quase da mesma cor de sua pele. Era um tom
rico, diferente das outras duas humanas que ele tinha visto,
mas igualmente bonita.

Havia aquele cabelo que era como uma nuvem ao redor


de sua cabeça, emoldurando seu rosto, e havia um pequeno
ponto preto no meio de sua bochecha que se movia sempre que
ela falava ou sorria.

Phek. Ela era a coisa mais linda que ele já tinha visto em
todas as suas revoluções.

Ela era ta'ii desde o primeiro momento em que a viu. Uma


– doce, flor – e era exatamente assim que ela se parecia.

Delicada, pequena e doce.

Ela se inclinou para trás, fechou os olhos e inclinou a


cabeça um pouco para trás.

Ela tinha um nariz pequeno, tão pequeno, mas lábios


carnudos, e seu queixo tinha um pequeno recuo no meio que
fazia a boca dele se contorcer nos cantos.

Bonitinha.
Ele quase engasgou com esse pensamento.

O phek?

A última coisa que ele chamou de fofo foi um mestre de


escravos Taraxiano que implorou por sua vida enquanto sua
lâmina flertava com sua garganta.

E tinha sido “fofo” apenas porque seus apelos foram as


últimas palavras que saíram de seus lábios.

Sua testa franziu um pouco enquanto observava Nee-ya.

Mas ela era fofa.

Bonita, mas também tão pequena e indefesa.

Vulnerável.

Como ela se afastou de Herza e acionou o bloqueio? Ela


deve ter sido vigiada. Herza era mesquinha e oportunista, mas
não era boba.

Nee-ya disse algo que ele não entendeu e Ka'Cit piscou.

Ele falou em voz alta?

Um olhar para sua expressão e ela riu – um som que fez


cócegas em seus ouvidos de uma maneira inesperada – e então
ela fez um movimento com a mão como se estivesse jogando
alguma coisa.

― Euu useei umaa pee-draa.


Ka'Cit franziu a testa. Ele não entendia muito bem o que
ela estava tentando lhe dizer.

Ela balançou a cabeça e se acomodou.

― Como? ― ele repetiu. ― Como você escapou?

Ela riu um pouco de novo, então balançou a cabeça mais


uma vez.

Então pareceu que ela decidiu contar a ele e ficou de


joelhos.

Ela olhou para ele incisivamente e ele assumiu que ela


estava lhe dizendo para prestar atenção.

Ele não pôde deixar de se inclinar um pouco para frente.


Isso era... fascinante.

Ela começou a se mover, com os braços estendidos e


agarrando o ar à sua frente.

Ela se moveu no local em um círculo como se estivesse


fechada. Suas sobrancelhas estavam franzidas e ela colocou
um olhar exagerado de trepidação em seu rosto.

― Você estava presa?

Ela olhou em sua direção e assentiu em êxtase.

― Uau, vocêê entendeeu beem trahy. Oh... ceerrto, leegall.

Ela então agarrou o capuz de seu manto e o colocou sobre


a cabeça. Olhando para ele, ela torceu o nariz e balançou a
cabeça de um lado para o outro enquanto murmurava palavras
baixinho.

Ka'Cit riu. Ele não podia evitar.

Os Niftrills.

Isso tinha que ser os Niftrills.

Ela olhou para ele, seus olhos segurando uma pergunta.

― Niftrills?

Ela assentiu novamente e sorriu.

Ele gostou desse jogo.

Parecia que ela gostou também, mas então seu rosto


mudou e ela olhou para ele novamente, desta vez com um olhar
que ele não conseguia ler em seu olhar castanho.

Ela fez um movimento como se algo estivesse crescendo


de sua pélvis, então ela parou e franziu a testa, olhou para ele
novamente, então balançou a cabeça.

― Uhm, elees queeriaamm mee foodeer.

Ka'Cit franziu a testa enquanto a observava.

― O que você acabou de me mostrar?

Ela balançou a cabeça novamente e acenou com a mão


para ele como se ele devesse esquecer isso.

O humor de Ka'Cit morreu em seus lábios.


O canto de seu olho se contraiu um pouco enquanto ele
olhava para ela.

― Eles tentaram...

Antes que ele pudesse terminar sua pergunta, ela


balançou a cabeça, mas ela não encontrou seu olhar.

Um suspiro fez seus ombros subirem e descerem


enquanto ela apontava para si mesma.

― Você?

Ela assentiu e apontou para o sapato.

Ela teve que se agachar um pouco enquanto se levantava


e pulava em um pé.

― Você machucou o pé?

Ela balançou a cabeça, em seguida, torceu o nariz.

Havia uma protuberância em seu bolso e ela apontou


para ela.

Era outra das latas de fumaça e ele a tirou e entregou a


ela.

Ka'Cit piscou ao vê-la colocar a vasilha debaixo do pé. Ela


apontou para ele e disse “ai”.

Ele a estudou por um momento.

― Alguma coisa debaixo do seu pé?


Seus olhos se iluminaram e ela empurrou o queixo.

Então ela pegou a lata e fingiu jogá-la.

Ele estava um pouco perdido agora, mas tudo em que


conseguia pensar era no que ela lhe mostrara antes.

Ele sabia o que ela estava tentando dizer a ele antes que
ela mudasse de ideia...

O que ela quase disse...

― Eles... ― Sua garganta se fechou. Ele tinha chegado


muito tarde?

Ele não tinha considerado...

Phek.

― Eles forçaram você? ― O grunhido que saiu de sua


garganta a assustou, ele podia ver. Ela estremeceu um pouco
e seu olhar se concentrou em suas presas, mas era tarde
demais para conter sua reação.

Ka'Cit fechou os olhos um pouco, forçando-se a desviar o


olhar dela.

― Eles forçaram você?

Houve silêncio no canto.

― Responda-me.

― Nããoo.
Isso soou como uma resposta negativa. Seu olhar
encontrou o dela novamente e ele a estudou.

Sua linguagem corporal dizia que ela não estava


mentindo.

Ka'Cit esticou um pouco o pescoço e revirou os ombros.

Havia tensão ali.

Se aqueles Niftrills tivessem…

Phek.

Ele não estava planejando deixar nenhum corpo para


trás, mas se eles a tivessem forçado...

Bem, digamos que Herza teria mais do que carga para se


desfazer.

Passando a mão pelo rosto, ele sacudiu os pensamentos


de sua mente.

Nee-ya estava bem.

Ela não tinha se machucado.

Ela estava bem.

― Suaa mãão. ― Ela se arrastou de quatro e se aproximou


dele, uma carranca em sua testa.

Sem hesitar, ela pegou a mão dele e a virou na palma da


mão.
― O quee aconteceeu? Suaa mãão?

O olhar dela estava estudando o dele, e estava cheio de


tanta preocupação que ele ficou momentaneamente surpreso.

Mas ele não conseguia entender o que ela estava


perguntando.

― Suaa mãão! ― Ela pressionou, puxando a mão dele na


dela.

Ele olhou para baixo e viu os hematomas em seus dedos.

Oh.

Isso.

Ele não se lembrava de como recebeu.

― Não é nada.

Ela fez um som como o ar se movendo entre os dentes e


deu a ele um olhar irritado.

― O que? ― O que ele tinha feito?

Ela balançou a cabeça então e se ajoelhou ao lado dele


enquanto pegava o interior de sua capa.

Sem aviso, ela levou a roupa à boca e rasgou um pedaço


dela.

― O que você está fazendo?


Seus olhos estavam arregalados agora enquanto ele a
observava.

Ela colocou a mão dele em sua coxa enquanto rasgou


outro pedaço de pano e começou a pressioná-lo contra o
machucado.

Ela estava... remendando ele? Com suas próprias


roupas?

― Você não precisa fazer isso.

Ela o ignorou.

― Não dói. Eu...

Ela deu a ele um olhar tão afiado que as palavras


morreram em seus lábios.

Enquanto ele a observava rasgar o tecido em uma faixa


fina, ele ficou sem palavras.

Ele tentou afastar a mão, mas podia admitir que foi uma
tentativa fraca porque ela prontamente a agarrou, lançou lhe
um olhar que lhe dizia para ficar parado e a colocou na perna
dela novamente.

Ka'Cit lutou para respirar além do nó que se formava em


sua garganta.

Ela estava cuidando dele. Nesta situação? Mesmo quando


ele tinha certeza de que ela estava aterrorizada, preocupada
demais, ela estava tomando o tempo para cuidar dele?
― Nee-ya... ― ele sussurrou quase inaudível.

Ela estava ajoelhada entre as pernas dele e ele sem a


máscara, podia sentir o cheiro dela agora.

Era um aroma delicioso e doce que lhe deu a imagem de


passar a língua pela pele dela só para testar se era isso que ela
tinha gosto – doce como o cheiro dela.

Ele engoliu em seco enquanto a observava, não querendo


se mover... não desejando que este momento terminasse... mas
ao mesmo tempo... com muito medo de sentir.
CAPÍTULO 15

― Sua mão estava sangrando o tempo todo. Eu não posso


acreditar que você não percebeu. ― Nia franziu a testa para ele,
então fez uma pausa.

Merda.

Seu olhar encontrou o dele.

Ele a carregou pelo túnel escuro, tentou acalmá-la,


enquanto sua mão estava inchada e sangrando.

Piscando, ela desviou o olhar e voltou a se concentrar em


sua mão.

Embora a maior parte do sangue tivesse coagulado, o


inchaço era escuro contra sua pele azul. Ele bateu sua mão
contra algo duro.

Ela sabia que não era uma lesão antiga também. Era
bastante novo.

― Não se preocupe, eu sou enfermeira, ― ela disse no


silêncio. De alguma forma, ela sentiu a necessidade de falar
mesmo sabendo que ele não podia entendê-la. ― Bem, eu era
uma enfermeira, você sabe, de onde eu vim... da Terra... mas
não uma enfermeira propriamente dita, eu suponho. Eu só
trabalhava na clínica gratuita do meu bairro – não em um
hospital nem nada. Eu não estava fazendo isso como um
trabalho em si. Eu não precisava do dinheiro. ― Ela soltou uma
pequena risada. ― Não que eu fosse rica, nem nada, mas papai
era esperto com dinheiro. Ele fez isso para que eu não tivesse
que trabalhar ou depender de nenhum macho, nunca. Eu tive
sorte. Então, depois que saí da escola de enfermagem,
trabalhei na clínica gratuita alguns dias por semana. Eu fiz
isso porque... bem... as pessoas precisavam de ajuda. A saúde
pode ser cara se você não tiver seguro de onde eu venho. ― Ela
bufou outra risada curta pelo nariz. ― Um bom e velho coração
sangrando como meu pai. Ele também é assim.

Ela olhou para Ka'Cit.

Ele estava olhando para ela com aquele olhar intenso dele
novamente e ela teve que desviar o olhar, caso contrário ela
esqueceria que estava olhando.

Ela se concentrou em cuidar de sua mão. Ela só tinha


improvisado um curativo; ela não podia fazer muito, mas
esperava que ajudasse.

― Ele foi para a Síria, você sabe. O meu pai. Alguns anos
atrás. Lutou lá. Ele teve sorte de voltar, mas quando voltou,
ele... mudou, você sabe. ― Ela olhou para o alienígena
novamente. Ele estava ouvindo cada palavra que ela dizia,
como se pudesse entendê-la, e esse pensamento era
reconfortante. Ela não tinha falado com ninguém sobre sua
vida na Terra. Pelo menos, não os detalhes intrincados.

Lauren e Cleo sabiam que ela tinha sido enfermeira e que


tinha feito muito trabalho comunitário. Apenas isso.
Ka'Cit ficou em silêncio, então ela assumiu que ele não se
importava que ela continuasse.

― Lembro quando ele voltou. Era como olhar nos olhos de


um estranho. Demorou um pouco para ele... voltar, se você
entende o que quero dizer. Mas quando ele voltou,
mentalmente quero dizer, ele começou a se voluntariar.
Construir casas no bairro gratuitamente. Ajudar mães
solteiras com seus filhos, como levá-los à escola e tal. Ele deu
carona. E então, eventualmente, ele começou o clube depois
da escola. As crianças o amavam. Eles olharam para ele.
Queria ser um soldado como ele. Então ele ensinou-lhes o que
podia. Como artes marciais, disciplina e o que era necessário
para ser um soldado. Os meninos o admiravam mais. Deu-lhes
algo para fazer depois da escola e suas mães sabiam que
estavam seguros. E deu ao meu pai algum propósito
novamente. Acho... acho que depois da Síria ele percebeu o
quão curta era a vida. Ele viu seus amigos morrerem. Ele
queria que isso importasse mais.

Nia limpou a garganta e balançou a cabeça. Deus, por


que ela estava divagando? Ela nem contou aos animais do
Santuário sobre seu passado e eles poderiam ouvi-la por muito
tempo.

Um rubor aqueceu suas bochechas quando ela olhou


para ele.

Aqueles olhos verdes dele pareciam que poderiam


desnudá-la.
― Estou quase terminando. Não há muito que eu possa
fazer aqui sem suprimentos. Você tem sorte que não parece
estar infectado.

Ele fez um som em sua garganta.

Então ele abriu a boca como se fosse dizer algo, então a


fechou.

― O que? Diga-me, o que você ia dizer? Eu posso te


entender, lembra?

Ele abriu a boca novamente e então parou.

Ele nem estremeceu quando ela começou a enrolar a


ferida. Sua capa tinha uma camada interna e ela estava
usando essa parte. Foi a parte mais limpa que ela conseguiu
encontrar.

― Eu acho que você está se perguntando o que fez isso


com a minha mão... ― Suas palavras trouxeram sua cabeça
para cima.

― Bem... sim... mas você não precisa me dizer se não


quiser.

Ele parecia estar tentando determinar o que ela tinha


acabado de dizer.

― Sim, ― ela assentiu, ― diga-me.


Ele entendeu o aceno, ela percebeu, porque ele começou
a falar. ― Alguns pobres Niftrill entraram no meu caminho
quando eu pulei pela escotilha.

Nia fez uma pausa e olhou para ele, seus olhos se


estreitando ligeiramente. Então, foi assim que ele entrou na
nave? Ele se esgueirou a bordo.

― Phekking Niftrill ia falar. Não tive escolha a não ser


acalmá-lo.

Nia balançou a cabeça, um sorriso encontrando seu


caminho para os lábios.

― Eu realmente não fiz, ― disse ele. Sua voz não continha


um pingo de arrependimento.

Isso a fez rir.

Algo lhe dizia que uma parte dele tinha gostado de


espancar o capanga e depois do que eles estavam planejando
fazer com ela, ela não conseguia encontrar em seu coração
sentir pena do Niftrill.

― Phekker são duros. Foi como bater em rocha.

A maneira como ele disse isso, a total indiferença em sua


voz, a fez abafar outra risada.

― Feliz que minha dor lhe dê tanto prazer.

Seu olhar disparou para o dele. ― Não. Eu...


Mas havia um brilho nos olhos dele e ela se viu
escondendo o sorriso.

Ela tinha acabado agora de qualquer maneira. Segurando


o último pedaço de seu curativo improvisado, ela começou a se
mover de volta ao seu lugar quando a nave de repente deu uma
guinada.

Se ela já não estivesse tão baixa no chão, ela teria


tropeçado e caído, mas o efeito do movimento a fez cair
desajeitadamente contra ele.

Houve outro som alto nos motores e seu corpo enrijeceu.

Era um lembrete gritante de que ela estava longe da


segurança.

Por um momento ali com ele, ela esqueceu onde estava.

A nave balançou novamente e o tinido rítmico ao fundo


morreu lentamente.

― O que... o que está acontecendo?

Ka'Cit praguejou baixinho e verificou a enorme pulseira


em seu pulso.

― Phek, ― foi tudo o que ele disse quando ela saiu de cima
dele e ele se sentou ereto.

― O que? O que é isso?

― Herza acabou de desligar os motores.


Ela olhou para ele, o alarme fazendo seu coração bater
forte em seu peito.

O que diabos isso significava? Eles chegaram aonde quer


que a nave estivesse indo?

― Ela é mais mesquinha do que eu pensava... ― Seu olhar


encontrou o dela.

Ela não tinha ideia do que ele quis dizer com essas
palavras.

Ele deve ter visto a pergunta em seus olhos porque ele


continuou.

― Ela desligou os motores, ― ele repetiu. ― Nós estamos...


à deriva.

A maneira como ele disse isso, fez soar incrivelmente


ruim.

A deriva no espaço por alguns momentos pode funcionar


a seu favor, certo.

Isso significava que eles não estavam mais explodindo


para longe de Hudo III. A viagem de volta deve ser mais curta.

Mas o olhar que ele estava dando a ela não despertou


nenhuma confiança dentro dela.

Em vez disso, havia um medo que crescia constantemente


ao longo de sua espinha e ela tinha certeza de que algo ruim
estava prestes a acontecer.
Uma certeza que só cresceu quando Ka'Cit, pela primeira
vez desde que estivera perto dele naquela noite, perdeu aquele
olhar despreocupado que ele costumava ter.

Ele estava agachado agora, os ombros tensos e todo o seu


corpo alerta.

― Desculpe, ta'ii.
CAPÍTULO 16

― Espere aqui.

Ele estudou Nee-ya enquanto se agachava mais uma vez.

A preocupação brilhou em seus olhos, mas ela assentiu.

Ele estava hesitante em sair, para que ela não começasse


a hiperventilar novamente, mas ele tinha que verificar alguma
coisa.

Quando sua respiração não acelerou, Ka'Cit virou-se e


rastejou de volta pelo túnel. Ele a deixou com a luz porque,
bem, ele realmente não precisava dela para ver para onde
estava indo e sabia que isso lhe daria algum conforto enquanto
ela esperava sozinha.

Ao voltar pela escuridão, não pôde deixar de se sentir


aborrecido – não por Herza desligar o motor no meio do vazio,
mas por ele mesmo não ter previsto.

A maioria dos comerciantes eram baratos, tentando abrir


caminho por meio de empregos e pechinchas enquanto
economizava o máximo possível de créditos em cada
transporte.

Herza não foi diferente.


Os mercadores mais frugais geralmente cortam seus
motores enquanto estão no vazio, geralmente para economizar
créditos comprando combustível de naves de contrabandistas.

Esse combustível geralmente custava metade do preço do


que eles conseguiriam em qualquer superfície e por boas
razões.

A qualidade foi um sucesso ou um fracasso.

Ao chegar à abertura onde o túnel encontrava a escada,


Ka'Cit olhou para trás.

A luz que ele deixou no recanto não se espalhou muito e


o túnel estava mascarado na escuridão.

Com os motores desligados, começaria a ficar frio, muito


frio, e ele não teve coragem de contar a Nee-ya.

Esta subida da escada era apenas para verificar se ele


poderia tirá-los de seu esconderijo com segurança... e ele
esperava... ele realmente esperava que pudesse.

Mas assim que subiu a escada e chegou ao topo, pôde


ouvir os passos firmes acima.

A luz vazou pelas rachaduras acima dele, dizendo-lhe que


a tripulação ainda estava ocupada. Herza os fez trabalhar
duro. Ou isso, ou eles ainda estavam procurando por Nee-ya.

Possivelmente, eles até encontraram o Niftrill que ele


amarrou e trancou no armário de suprimentos.
Eles saberiam que ele estava na nave também...

Phek.

Essa situação só estava piorando.

Enquanto ele voltava para o recanto, ele se perguntou


como iria dar a notícia para a pequena fêmea esperando por
ele.

Como ele poderia dizer que eles estavam à deriva e isso


era motivo de alarme?

Que com os motores desligados, o frio chegaria logo e a


parte inferior da nave era o pior lugar para se estar quando
isso acontecesse…

Que não havia uma maneira para eles irem acima. Que
eles teriam que esperar mais...

Que ela ia ficar tão fria que doeria...

Phek. Ele.

O brilho quente do disco de luz o cumprimentou primeiro,


então Nee-ya levantou a cabeça.

Seus olhos estavam arregalados e expectantes e isso só


piorou a sensação em seu peito.

Ka'Cit passou a mão pelo cabelo enquanto se agachava


diante dela.
Ela o estudou e olhou para trás em direção à escuridão
do túnel.

― Nós não podemos ir... ainda não. É muito perigoso para


você. ― Ele respondeu sua pergunta não feita.

― Entaaum esperaaamos aquuii. ― Ela lhe deu um meio


sorriso encorajador. ― Seem proobleemaa.

Ka'Cit soltou um suspiro pesado.

Ela não fazia ideia.

Ele já estava começando a sentir o frio chegando.

No vazio, sempre o surpreendia com a rapidez com que o


frio comia qualquer calor.

Alcançando sua capa, ele a ajustou em seus ombros e


puxou o capuz sobre sua cabeça. Ela ficou um pouco tensa ao
vê-lo fazer isso.

― Vai esfriar.

Nee-ya assentiu. ― Oh...ok.

― Muito frio.

Ela assentiu novamente. Ela não parecia tão preocupada


quanto deveria.

O que ele estava tentando dizer a ela era que ia ficar


insuportavelmente frio.
Ele observou enquanto ela ajustava ainda mais a capa e
puxava as pernas para cima.

― Achhoo quee é só espeeraa.

Ka'Cit piscou.

Ou ela ignorava o quão terrível era a situação deles... ou


ela estava colocando uma fachada corajosa.

Mas... ele já sabia que ela era corajosa, então tinha que
haver outra explicação.

Ela confiava nele.

Quando o pensamento cruzou sua mente, o olhar dela


encontrou o dele e a prova estava em seus olhos. Ele não viu
medo.

Ele não viu pânico.

Ela confiava nele, e de alguma forma isso o fez...

Aterrorizado.
CAPÍTULO 17

Porra, Ka'Cit não estava brincando quando disse que ia


esfriar.

Nia soprou ar quente em seus dedos e mesmo que eles


estivessem firmemente dentro de sua capa, eles ainda
pareciam pedaços de gelo presos à sua mão.

Talvez se ela ainda tivesse a cobertura de Riv cobrindo


isso teria ajudado a manter pelo menos o rosto quente, mas
ela não conseguia encontrá-lo em lugar nenhum.

Parecia que ela tinha se perdido na confusão para


escapar.

Ela olhou para o alienígena ao seu lado.

Ele a observava atentamente e ela estava feliz por ele não


ter colocado a máscara de volta.

Ele parecia mais “humano” sem isso – mais relacionável.

― F...frio. Muito frio. ― Ela tentou respirar em suas mãos


novamente, mas sua respiração apenas evaporou em uma
nuvem diante dela.

― Porra, até meus mamilos estão doendo. ― Ela olhou


para ele, seus olhos arregalados no deslizamento de seus
lábios, mas sua expressão não mudou. Graças a Deus ele não
conseguia entendê-la.
― Você está congelando. ― Sua voz profunda parecia
cortar o ar gelado.

― Um pouco. ― Ela sorriu.

Só então, o disco de luz que estava banhando o pequeno


recanto em um brilho quente diminuiu e depois cortou
completamente.

― Phekking raio. ― Seu murmúrio a teria feito rir se ela


não estivesse tão fria.

― Não tenho outro.

― É oh...k...kay. ― Ela estava tranquilizando a ele ou a si


mesma? Pois sem a luz, o frio parecia abraçar a escuridão e o
frio no recanto aumentou.

Ela tentou soprar nas mãos de novo e não sabia por que
se incomodava, como se a terceira vez fosse o feitiço ou algo
assim.

― Eu vou mantê-la aquecida, ― ele disse de repente e ela


podia ouvi-lo se movendo.

Houve alguns sons arrastados e ela apertou os olhos, mas


não conseguia ver na escuridão.

― C...como você vai me manter aquecida? Você não está


tão frio quanto eu? ― Na verdade, ela tinha notado que o frio
não parecia afetá-lo tanto quanto a ela.
Quando estava quente, ele também não tinha sido
afetado.

Deve ser todo aquele músculo que ele estava escondendo


debaixo de suas roupas ou algo assim, pois seus ossos
pareciam totalmente desprotegidos contra o frio penetrante.

Ela o sentiu se mover atrás dela e ela teve que se afastar


um pouco enquanto ele se sentava.

― O que...

De repente, ela estava sendo puxada para trás contra seu


peito.

Um calor agradável se espalhou por suas costas


imediatamente.

― Você não precisa. Eu…

Mas ela não podia negar que se sentia bem.

Ele estava quente, como se irradiasse calor, e ela se viu


inclinada para trás.

Seus braços vieram ao redor dela e Nia enrijeceu um


pouco antes de relaxar.

De volta à Terra, ela não teria feito uma merda como essa.
Ela teria empurrado o cara para longe e assumido que ele
estava tirando proveito.

Mas Ka'Cit parecia genuinamente preocupado com ela.


Ele não estava tentando pousar em sua cama ou fazer
cócegas entre suas pernas.

― Obrigada. Isso é muito gentil de sua parte.

Seus braços a apertaram um pouco mais, dobrando a


capa ao redor dela para que ela ficasse em uma pequena bola
fechada enquanto ele a puxava para mais perto.

Ele grunhiu, mas não disse nada e pelos próximos


minutos, cada pequeno movimento que ela fazia parecia fazer
com que sua respiração ficasse um pouco presa.

― Você está bem? ― Ela inclinou a cabeça para olhar para


ele e era evidente o quão brilhante aquele pequeno disco que
ele tinha montado tinha sido. Ela mal conseguia distinguir seu
rosto, embora seus olhos tivessem se ajustado à escuridão.

Ela viu seus olhos embora. Eles estavam


surpreendentemente verdes no escuro, e eles estavam focados
nela.

― Deve ser desconfortável para você. Eu deveria sair de


cima de você, não deveria?

Ela tentou se mover, mas os braços dele apenas


apertaram.

― Fique, ― ele rosnou, então sua voz suavizou um pouco.


― Não se mova.

― Eu não estou deixando você desconfortável? ― Por que


ela estava falando com ele como se ele pudesse entendê-la?
Talvez porque se sentisse assim. Mesmo que ele não
entendesse uma palavra do que ela disse, não parecia que ela
estava falando com uma parede.

― Não é problema. Você me aqueceu um pouco. Eu


poderia deixar você se mover e ficar confortável e eu poderia
me encostar na parede como eu estava fazendo antes. ― Ela
estendeu a mão para ele e se apoiou em seu peito enquanto
tentava se levantar.

Foi quando sua mão atingiu o músculo firme...


diretamente.

Nia fez uma pausa e desta vez, sua respiração ficou presa
na garganta.

Algo gritou em sua cabeça que ela não deveria mover a


mão, mas de repente parecia controlada remotamente porque
se movia por conta própria.

Seus dedos roçaram a pele dele e sua respiração acelerou


um pouco enquanto traçavam os músculos embutidos em seu
peito.

A garganta de Nia ficou seca e não foi porque o frio estava


sugando a umidade do ar.

Ele havia tirado a túnica.

Sua outra mão caiu em sua coxa e ela fez uma pausa.

A carne nua encontrou as pontas dos dedos mais uma


vez.
Ela deveria parar.

Não mova sua mão.

NÃO MOVA SUA MÃO.

Mas a mão dela se moveu um pouco para cima ao longo


da perna dele.

O que é pior, ele não a estava impedindo, e agora que ela


tinha começado, a curiosidade também não permitia que ela
parasse.

Ele não estava nem se movendo e quando os dedos dela


viajaram por sua coxa para alcançar aquele V na junção de
seus quadris, sua mão finalmente voou para longe de seu
corpo.

― Ka'Cit... ― Nia lambeu os lábios. ― Por que você está


nu?

E por que ela não estava pulando dele agora que ela
percebeu esse fato?

Ele fez um som em sua garganta, mas não respondeu.

― Você está nu, ― ela sussurrou novamente.

― Tive que tirar minhas roupas. Era a melhor maneira de


impedir que você congelasse.

Bem, se isso não fosse uma resposta completamente


inocente e boa…
Então, por que havia um leve chiado em sua calcinha?

― Meu calor não será transferido para você com minhas


roupas. Não se preocupe. Você não precisa remover a sua.

Nia limpou a garganta.

Mais uma vez, parecia que ela se encontrou em uma


situação inesperada e estranha. No entanto, ela realmente não
se importava com isso – um fato que ela deveria refletir mais
tarde.

Quando ela não se afastou, os braços dele se fecharam ao


redor dela mais uma vez enquanto ele a puxava de volta para
ele.

― Você está segura comigo, ta'ii.

Nia engoliu em seco enquanto se recostava nele tentando


o seu melhor para não se concentrar nos músculos ondulantes
que ela agora podia sentir em grande detalhe, especialmente
porque ela sabia que eles estavam bem ali.

Se ela pensasse sobre isso, seu pau estava bem contra


sua bunda também...

Respiração profunda. Respiração profunda.

Este não era um macho humano. Os alienígenas tinham


visões diferentes sobre a nudez.

Ainda assim, o pensamento de que seu pênis estava ali.

Nia tentou não se contorcer.


Agora que ela pensou sobre isso, havia algo duro contra
sua bunda.

Seu coração bateu contra sua caixa torácica e seus olhos


se arregalaram na escuridão.

Completamente natural, Nia.

Foi completamente natural.

Os homens ficavam duros mesmo quando não estavam


com tesão. Até mesmo homens alienígenas.

Ela poderia aceitar sua ajuda ou pular de seu colo e


congelar no canto e quando ela colocou assim, a escolha era
óbvia.

Tudo o que ela tinha que fazer era não pensar na coisa
dura e grossa que ela estava sentindo contra ela.

Mas dizer a si mesma para não pensar em algo só


produziu a reação oposta.

Terceira lei de Newton.

A coisa dura e cilíndrica se contorceu e teve seu padrão


de respiração mudando um pouco.

Porra.

Quão grande ele era?

Ele era um cara grande... se ele era proporcional lá


embaixo...
Querido Deus.

Só então, ele se contraiu novamente.

Foda-se ela.

Não literalmente…

Ou talvez literalmente…

Merda.

Isso não seria fácil.

Ka'Cit soltou um suspiro ao olhar para o relógio.

Ele não seria capaz de fazer o trabalho para o qual tinha


sido contratado.

Não havia como ele encontrar aquele Niftrill, conseguir o


que precisava e escapar da nave a tempo sem colocar Nee-ya
em perigo.

Ele teria que cancelar e transmitir as más notícias ao seu


contato.

Seria uma surpresa. Ele sempre completava seus


trabalhos, mas desta vez não era algo sobre o qual ele tinha
algum poder.
Além disso, phek se ele não era um idiota.

Suas orelhas se animaram ao sentir o corpo de Nee-ya


subir e descer com o ritmo do sono.

Ele mordeu com força o lábio inferior, suas presas


afundando em sua pele e ele sentiu gosto de sangue.

Ela quase percebeu sua situação e ele não sabia como ele
teria sobrevivido ao constrangimento.

Seu pênis estava tão duro agora, era doloroso.

Quando ela descobriu que ele estava nu e ela o tocou,


correu os dedos ao longo de sua perna, sua cauda ficou reta e
seu pênis também.

Ele pulsava entre suas pernas agora, tão quente que


poderia derreter o frio ao redor deles.

Caramba, era provavelmente a principal fonte de calor na


sala, e só por essa razão, talvez fosse útil.

Se ele soubesse que seria capaz de sentir seu corpo macio


através da capa que ela usava, ele poderia ter considerado
encontrar outra maneira de mantê-la aquecida.

Seu pênis se contraiu e esticou para cima novamente,


exigindo que ele tomasse algo que não era dele. Algo que nunca
poderia ser dele no estado danificado que ele estava.

Este não era o tipo de tortura em que ele se colocaria de


bom grado.
Esse era o tipo de tortura que o deixaria dolorido por dias.

Enquanto ele a ouvia dormir, sentia seu corpo subir e


descer em seus braços, ele sabia que estava tomando
liberdades aqui que não deveria.

Essas eram coisas que uma companheira fazia e uma


vida de amor e família... uma gnora... nunca esteve nos livros
para ele desde o momento em que nasceu.

Levantando a mão, ele passou a palma sobre o rosto


apenas para se lembrar de como estava quebrado e
inadequado, e isso amenizou um pouco a dor em sua virilha.

Com um suspiro, sua cabeça caiu e seu nariz roçou o


cabelo de Nee-ya.

Ele não resistiu, ele se inclinou um pouco mais perto.

Era suave contra sua pele e fazia cócegas um pouco.

Ela se sentia tão bem contra ele... tão perfeita, como se


ela tivesse sido feita para caber em seus braços.

No que diabos ele tinha se metido?

Algumas horas atrás, ele estava vivendo sua vida normal,


rastreando um Niftrill para um trabalho.

Agora ele estava na parte inferior de uma nave, nu, uma


humana em seus braços, e ele estava questionando seu
propósito na vida.
Estar perto dela em um confinamento tão próximo só
estava destacando uma coisa.

Eles mal podiam se comunicar, mas os poucos pedaços


de entendimento que se passaram entre eles o fizeram se
sentir... feliz. Era o tipo de sentimento que lhe dizia que se ele
permitisse, eles poderiam se tornar amigos... talvez até mais
do que amigos.

Phek.

Quando ele enterrou o nariz um pouco mais no cabelo


dela, Nee-ya gemeu um pouco e se ajustou nele.

Ka'Cit fechou os olhos com força, o latejar em seu pênis


se tornando quase insuportável.

Ele não podia mentir para si mesmo.

Ele não estava fazendo isso porque estava sendo caridoso.

Isso não era porque ele estava sozinho.

Isso era porque ele gostava da pequena humana... e


parecia que ele gostava dela um pouco demais.

Seus amigos tinham companheiras humanas. Ele sabia


que era possível.

Mas quem era ele para desejar uma coisa dessas?

Uma companheira.

Talvez até uma humana?


Mas ele não era um macho humano. Ele mal era Merssi.

Tal era sua maldição.

Assim era sua vida.

Ele estava acostumado com isso.

Sem ressentimentos.

No entanto, havia algo, uma dor que se desenvolveu em


seu peito com o pensamento.

Uma dor que ele não podia ignorar.

Mas ele teve que ignorá-la.

Ele não tinha nada para oferecer a uma fêmea.

Nada.
CAPÍTULO 18

Uma voz profunda fez cócegas em seu ouvido.

― Nee-ya. Está na hora.

― Hum? ― Nia piscou os olhos abertos.

Ela tinha adormecido?

Sério?

Em uma situação como esta?

Olhos arregalados se voltaram para olhar para o


alienígena que ainda a segurava e seu olhar verde encontrou o
dela na escuridão.

― Merda. Adormeci? ― Ela lançou lhe um olhar de


desculpas que ela não tinha certeza se ele podia ver. ―
Desculpe. Eu não posso acreditar…

Enquanto ela tentava se soltar dele, os braços dele se


soltaram ao redor dela, e logo ela estava agachada no pequeno
espaço, esfregando o sono de seus olhos.

Ela podia ouvir farfalhar ao seu redor e então ela se


lembrou que ele estava nu. Ele provavelmente estava
colocando suas roupas de volta.

Oh.
Nia desviou o olhar, embora ela não pudesse ver nada,
mas a memória do que ela sentiu voltou para ela.

Suas bochechas estavam quentes com o pensamento.

Ela tinha realmente dormido com um cara nu? Dormiu


com ele? Toda despreocupada?

Você fez isso, Nia. Você fez isso.

Houve um clique suave e ela sabia que ele tinha acabado


de colocar a máscara de volta.

― Pronto, ta'ii? ― Sua voz a encontrou na escuridão.

― Eu penso que sim.

― Me siga.

Ela o ouviu se mover e estendeu a mão para ajudar a


guiar seu caminho.

Uma mão firme agarrou a dela e ela quase se afastou


antes de perceber que era dele.

― Vamos lá. Temos que ficar quietos. Não sei quantos


deles ainda estão andando por aí, mas devemos conseguir
chegar ao convés superior e ao cais de carga sem ser
detectados.

― Ok, ― ela sussurrou.


O frio já a estava mordendo agora que ela não estava
enrolada em seus braços e ela percebeu o quanto ele a ajudou
a mantê-la aquecida.

Ele apertou a mão dela levemente antes de começar a se


mover pelo túnel escuro.

Nia fechou os olhos e colocou sua total confiança nele


enquanto ele os conduzia.

Ela não estava em um pequeno túnel escuro.

Ela estava simplesmente andando em um grande espaço


aberto.

Ela repetiu isso para si mesma enquanto ele a conduzia


para frente. Repetidas vezes, ela repetiu as palavras, e quando
ela o sentiu apertar sua mão novamente, a segurança
adicionou um pouco de força à sua vontade.

Sua mão parecia forte e segura e em pouco tempo, ele


parou de se mover.

Ka'Cit ergueu a mão e logo depois, o metal frio da escada


estava embaixo de seus dedos.

― Eu vou primeiro, ― ele sussurrou.

Nia assentiu antes de perceber que ele provavelmente não


podia ver que ela havia respondido... ou talvez pudesse. Ela
não tinha certeza.
A escada sacudiu um pouco enquanto ele subia e logo ela
ouviu o leve som do revestimento do piso deslizando para trás.

― Venha para cima. ― Seu sussurro era urgente. ― Está


claro.

Seu coração batia forte em seu peito quando ela agarrou


cada lado da escada e começou a subir, os olhos ainda
fechados.

Quanto mais alto ela subia, mais difícil era para ela
respirar e o alívio a invadiu quando sentiu a mão dele fechar
sobre a dela novamente.

Ka'Cit a agarrou e a ajudou a sair do buraco e foi quando


ela finalmente abriu os olhos.

Estava escuro no corredor. Apenas uma tênue faixa de


luz percorria o chão.

O olhar de Nia disparou ao redor e ela estava levemente


ciente de que Ka'Cit estava substituindo o piso o mais
silenciosamente possível.

Quando ele se levantou, ela também.

― Deste jeito. ― Ele já estava se movendo e Nia o seguiu


tão perto que ela estava quase colada em suas costas.

Ela não podia deixar de olhar para trás de vez em quando.

Estava estranhamente quieto.

Talvez eles saíssem dessa nave sem nenhum problema.


Certo?

― Espere, ― Ka'Cit sussurrou e parou tão de repente que


ela se apertou contra ele.

Parecia que ele estava tateando contra a parede por


alguma coisa e na penumbra ela mal conseguia entender o
quê.

Houve um som quase inaudível antes que parte da parede


se abrisse.

― Bem, bem, bem... ― Havia aquela diversão em sua voz


novamente e isso a fez espiar ao redor dele para ver o que ele
estava olhando.

Os olhos de Nia se arregalaram um pouco.

Armas.

Mesmo na escuridão, o metal lustroso parecia brilhar.

Ka'Cit passou a mão por alguns antes de pegar um e


puxá-lo de seu lugar na parede.

― Como você sabia que isso estava lá... ― Ela olhou para
ele. ― Sabe o que mais? Deixa para lá.

Estendendo a mão, ela puxou uma das armas da


prateleira, notando o som de surpresa que ele fez em sua
garganta.

Bem, ela não ia deixar passar uma arma quando um rack


inteiro estava bem na frente dela.
Enquanto segurava a arma, ela olhou para trás e depois
para a frente deles.

Seu coração parecia estar em sua garganta e tudo o que


ela queria fazer era dar o fora dessa nave.

Ka'Cit fechou o painel e ela percebeu que ele estava


olhando para ela e para a arma que ela segurava. A arma
parecia pesada em suas mãos e ela passou os dedos sobre ela.

Era enorme. Não era como qualquer arma que já segurou


em suas mãos antes e ela segurou muitas. Seu pai a levava
para o campo de tiro quase toda semana. Era sempre uma
competição para ver quem conseguia acertar mais alvos com
cem por cento de precisão.

Era coisa deles. Pelo menos, tinha sido.

Parecia que fazia séculos desde a última vez que segurou


uma arma e ela a agarrou com força quando Ka'Cit começou a
se mover pelo corredor mais uma vez.

Ela estava avançando ao longo da parede seguindo atrás


dele na penumbra e agora que seus olhos se ajustaram
completamente, ela notou algo. Ka'Cit parecia relaxado, quase
como se eles não estivessem no meio do perigo, mas algo na
maneira como ele se movia lhe dizia que ele estava
incrivelmente alerta.

Era quase como um gato andando na frente dela.


Passos calmos e medidos. Ele estava completamente em
silêncio, mas cada músculo de seu corpo estava pronto para
reagir a qualquer momento.

Cada som, cada movimento, ele estava ciente.

Em apenas algumas horas que ela ficou com ele no


recanto, ele não tinha sido assim.

Agora havia uma calma mortal sobre ele, lembrando-lhe


que ele era, verdadeiramente, ainda um macho que ela não
conhecia.

Ele parou de andar de repente e ela quase esbarrou nele.


Eles estavam perto do final do corredor agora e seu olhar
disparou na frente e depois atrás deles. O que foi isso? Ele viu
alguma coisa?

Mas ela não podia ver ninguém.

― O compartimento de carga está à frente. ― Ele falou por


cima do ombro para que ela pudesse ouvi-lo. ― Mas há um
problema…

Nia engoliu em seco.

Tinha que haver um problema. Claro, havia. De jeito


nenhum seria tão fácil escapar.

― Eles sabem que estamos aqui.

Seus olhos dispararam pelo corredor novamente.


― Como você sabe? ― Seu sussurro mal passou por seus
lábios antes que as luzes da nave se acendessem com força
total.

Por um momento, Nia ficou cega e sentiu seu corpo ser


jogado para trás quando Ka'Cit gritou algo que ela não ouviu.

Ele a agarrou contra ele quando eles pousaram no chão,


girando apenas o suficiente para que todo o seu lado esquerdo
recebesse o peso do impacto antes de ajustá-la, agarrou-a pela
cintura e rolou, colocando-a completamente embaixo dele.

Ela mal conseguia entender o que estava acontecendo,


mas a mão da arma dele se ergueu, apontou, e uma rajada de
luz verde saiu do cano.

Houve um grito e algo caiu no chão do outro lado do


corredor.

Ka'Cit era pesada e mal conseguia se mexer, mas


conseguiu erguer a cabeça para ver um Niftrill se contorcendo
e gritando a alguns metros de distância.

Mas o Niftrill não estava sozinho. Outro estava em sua


cauda, uma arma apontada em sua direção.

Nia tentou levantar sua arma para mirar, mas ela ficou
presa embaixo de seu corpo e de jeito nenhum ela seria capaz
de disparar rápido o suficiente.

― Ka'Ci...

Mas ele já estava atirando.


Ele acertou o Niftrill em seu braço segurando a arma e a
arma saiu voando quando o Niftrill agarrou sua mão.

― Herza não poderia ter escolhido uma espécie pior para


guardas. ― A voz de Ka'Cit estava tão calma e firme que a
surpreendeu. Era como se ele não apenas exercesse energia. ―
Se eles estão feridos, eles esquecem suas presas e recorrem à
sua pura necessidade instintiva de se curar. Lamentável.

― O quê... ― Tudo estava acontecendo tão rápido e ela


quase não ouviu o som atrás deles. Mas antes que ela pudesse
avisar Ka'Cit do perigo vindo de trás, ele já estava girando e
levando-a com ele.

Um, dois, três Niftrills vinham por trás.

Eles pareceram parar por um momento, sem dúvida


vendo seus companheiros caídos, e um som que ela nunca
tinha ouvido antes encheu o corredor.

Era como o guincho de um milhão de morcegos.

― Ah, calem-se. Calem-se! ― Ka'Cit rosnou enquanto


atirava.

Ele atirou duas vezes, e parecia que ele apontou para as


armas deles, pois dois dos Niftrills uivaram, suas armas
voando enquanto eles agarravam seus pulsos encapuzados.

A mente de Nia entrou em ação.

Ela e Ka'Cit estavam no chão e vulneráveis.


Embora ele estivesse indo muito bem, sem dúvida ele
poderia fazer melhor se não estivesse tentando evitar que eles
fossem baleados enquanto a protegia ao mesmo tempo.

Ela ergueu a arma e apontou, rezando para que não


houvesse algum tipo de segurança que ela tivesse que
desativar.

Mas Ka'Cit estava um passo à frente dela. Olhos verdes


encontraram os castanhos quando ele olhou para ela. Ele a
soltou o suficiente para ele pressionar algo em sua arma e
enquanto ele estava fazendo isso, seu outro braço levantou e
disparou sem que ele sequer olhasse para o que estava
atirando.

Os olhos de Nia se arregalaram e quando ela olhou para


o corredor, ele atingiu o terceiro Niftrill no braço.

O alienígena uivou e sua arma caiu de suas mãos


enquanto olhava para o buraco em sua capa.

― Aponte e atire, ― disse Ka'Cit.

No momento, o corredor estava livre dos alienígenas se


contorcendo e uivando, e Ka'Cit pulou de pé e a trouxe com
ele.

Quando ele a colocou no chão, o dedo de Nia pousou no


gatilho da arma.

Isso era o que as pessoas queriam dizer quando diziam


que merda atingiu o ventilador.
Seu coração batia forte em seu peito e sua garganta
estava seca.

Era uma situação de vida ou morte agora – não havia


como escapar disso.

Ka'Cit olhou para ela por um momento. ― Não se


preocupe se você não acertar eles. Se alguma coisa você pode
confundi-los.

Suas palavras cortaram sua consciência e a fizeram fazer


a coisa mais estranha.

Ela olhou para ele e sorriu.

Ela não podia evitar.

― Ah, como você me subestima.


CAPÍTULO 19

Nee-ya estava firme em seus pés, mas o blaster que ela


estava segurando era tão grande que ele se perguntou se ela
conseguiria.

No entanto, havia um olhar de determinação em seu


rosto, e isso foi inspirador.

― Vamos lá.

Chega de rastejar nas sombras. Herza sabia que eles


estavam lá e mais Niftrills viriam.

Parecia que Herza havia cancelado a busca e estava


apenas esperando que eles aparecessem.

Ela sabia que eles estavam escondidos em algum lugar


da nave então. Por sorte, ela não os tinha encontrado.

Phek.

A única coisa que ele estava tentando evitar estava


prestes a acontecer.

Ele não estava preocupado em ser atingido por uma bala


perdida, mas o medo que sentia por Nee-ya ser atingida era
muito, muito real.
Niftrills não podia ver bem. Mesmo que eles não
estivessem mirando nela, eles podem atirar nela
acidentalmente de qualquer maneira.

Isso serviria muito bem para Herza, mas ele não estava
disposto a permitir isso.

Ao passarem apressados pelos Niftrills contorcidos no


final do corredor, Ka'Cit virou à esquerda e seguiu direto para
o compartimento de carga.

Ele olhou para trás para ver que Nee-ya estava correndo
para acompanhar seu ritmo. Ele diminuiria a velocidade, mas
eles estavam sem tempo.

Eles estavam sem tempo por um tempo. Ele


simplesmente não tinha percebido.

A melhor aposta era o compartimento de carga. Haveria


uma nave de descarga lá e era isso que ele esperava “pegar
emprestado” para que pudessem sair da nave.

Eles só tinham que chegar lá sem serem abatidos


primeiro.

Na frente, um Niftrill virou a esquina e Ka'Cit disparou,


acertando a arma da mão do capanga e queimando a carne no
processo.

O Niftrill desmoronou e quando passaram por ele o cheiro


de carne queimada era forte.
Ka'Cit olhou para Nee-ya, mas ela não parecia
incomodada.

Na verdade, com a arma agora em suas mãos, ela parecia


ainda mais resoluta do que antes.

Quem era essa fêmea?

Quanto mais tempo ele passava perto dela, mais ela o


fascinava.

Ela estava ao seu lado agora, não mais correndo atrás


dele e ele não podia deixar de olhar para ela.

O corredor se abria para o porão de carga e, quando ele


parou, Nee-ya também parou ao lado dele.

― Phek.

― Porra.

O porão de carga estava cheio de Niftrills. Niftrills


Armados.

Cada um deles, e havia muitos.

O olhar de Nee-ya encontrou o dele e o reconhecimento


passou entre eles.

Naquela fração de segundo, ele não precisou falar.

Uma montanha de palavras não ditas passou entre eles


enquanto ele se movia, escondendo-se atrás de um enorme
caixote enquanto ela fazia o mesmo do outro lado da entrada.
Phek.

De algum lugar acima, ele ouviu Herza gritar. ― Matem


eles!

Quando ele olhou para Nee-ya, havia um olhar em seu


rosto que ele nunca tinha visto antes. Seus olhos castanhos
estavam frios, focados, e ela empurrou o queixo em um aceno.

Ele sabia o que isso significava – não havia outra maneira


de decodificar aquele movimento.

Ela estava... ela realmente achava que ele a deixaria se


colocar em perigo lutando contra a horda diante deles?

― Esconda-se!

Foi tudo o que ele conseguiu dizer quando se inclinou


para fora de seu esconderijo, engatilhou seu blaster e apertou
o tri...

Mas o Niftrill mais próximo a eles, o que ele apontou, já


estava caindo, acertado direto no pulso.

Sua arma caiu assim que recebeu outro tiro na perna.

Quem…

A boca de Ka'Cit caiu aberta quando ele se virou, de olhos


arregalados, para olhar para a humana, assim que ela apontou
novamente, as sobrancelhas franzidas para combinar com a
determinação em seu rosto.
Seus olhos se estreitaram um pouco quando ela apertou
o gatilho mais uma vez e outro Niftrill caiu, atingindo o braço
e a perna novamente.

Não foi coincidência.

Ela não estava pulverizando aleatoriamente rajadas de


laser.

Ela pretendia atingi-los ali.

Ela olhou em sua direção e um leve sorriso apareceu em


seu rosto.

Ka'Cit a encarou mesmo quando um movimento chamou


sua atenção – um Niftrill se aproximando por trás.

Ele engatilhou sua arma e disparou, mas em vez de


receber uma explosão de laser, o Niftrill recebeu duas – uma
de seu blaster e outra dela.

A surpresa o fez olhar na direção dela mais uma vez e o


olhar de Nee-ya encontrou o dele.

― Nãoo see preeocupee comigoo queridoo.

Phek.

O caos irrompeu no porão enquanto o resto dos Niftrills


atacava e o perigo vinha direto para eles. Mas, naquele
momento, tudo o que ele podia fazer era olhar.

Para ela.
Seu órgão de vida bateu em seu peito quando ela agarrou
sua arma e descarregou outra explosão de laser.

Nunca em sua vida ele tinha visto nada mais magnífico


do que a fêmea que ele estava olhando naquele momento.

Ela estava perfeita.

Enquanto ele olhava para ela, o guincho dos Niftrills


atacando eles pareciam estar no fundo de sua mente, e Ka'Cit
percebeu uma coisa maldita...

Quando isso acabasse, quando ele tivesse que dizer


adeus, ele teria muita dificuldade em ir embora.

Eles derrubaram os Niftrills um por um.

Depois que os primeiros dez caíram, os outros pegaram o


memorando e, em vez de correr diretamente para eles como
uma horda enlouquecida, os Niftrills começaram a procurar
cobertura atrás dos vários caixotes que estavam descansando
no porão.

Quando Ka'Cit finalmente saiu de qualquer torpor em que


se meteu, foi quase como estar de volta à Terra atirando em
alvos com seu pai.
A emoção a fez sorrir e esse sorriso se transformou em
um grande sorriso.

Nia espiou por cima do caixote que ela se escondeu atrás


e olhou para seu blaster, feliz que não era algo que precisava
ser recarregado.

No entanto, havia uma barra nela, uma barra verde neon,


que parecia diminuir a cada poucas disparos que ela tirava.

Ela tinha certeza de que essa era a carga e parecia que


ela tinha apenas metade da carga restante.

Porra.

Ela se levantou o suficiente para espiar por cima do


caixote mais uma vez, tomando cuidado para não se expor
demais.

Ela não podia ver nenhum movimento e a sala estava


silenciosa agora, além dos gemidos dos Niftrills no chão.

Ka'Cit estava certo sobre eles.

Eles nem mesmo pegaram suas armas depois que foram


atingidos. Seu único foco tornou-se suas feridas.

Não era algo que ela entendia, mas era algo pelo qual ela
estava grata.

Por alguns momentos, ela prendeu a respiração enquanto


ouvia.
Não havia mais explosões de laser vindo em sua direção
e ela tinha certeza de que tinha ouvido a última cerca de dois
ou três minutos antes.

Ela prontamente pegou o Niftrill que atirou neles


também, e a ansiedade que ela sentia sobre a luta havia
desaparecido completamente agora.

Eles iam sair dessa. Ela podia sentir isso.

Um sorriso iluminou seu rosto e ela se virou para Ka'Cit.

Ele estava olhando para ela, seus olhos arregalados, e


eles se arregalaram ainda mais agora sob a fenda em sua
máscara.

― O que eu fiz? ― Seu olhar se moveu do blaster que ela


segurava e voltou para ela.

Huh?

Ah sim, ela esqueceu.

Ela estava mostrando os dentes.

― Nenhum desafio. ― Ela balançou a cabeça, esperando


que ele entendesse. ― Estou apenas feliz.

Ela transformou seu sorriso em um pequeno sorriso para


que seus dentes não estivessem mais à mostra.

Ka'Cit piscou por baixo da máscara, mas ainda parecia


um pouco confuso.
― Apenas feliz, ― ela repetiu.

Estranho ela ter tanto prazer em atirar balas em seres


vivos.

Mas eles planejaram estuprá-la então... eles mereciam.

Entre as explosões de Ka'Cit e as dela, eles não mataram


nenhum dos capangas de qualquer maneira. Eles
simplesmente os feriram.

Ka'Cit ainda a encarava com um olhar estranho.

Como ela, ele estava com as costas pressionadas contra


o caixote, mas o jeito que ele estava olhando para ela...

Como um predador que acabara de ver sua presa.

Talvez fosse o efeito da máscara... o fato de que ela só


podia ver os olhos dele e nada mais?

Ou talvez não.

Ela não tinha certeza.

E o que havia de louco nisso? Ela não estava com medo.

Em vez do medo instintivo que ela deveria sentir quando


alguém perigoso estava olhando para ela como se ela fosse uma
presa, o olhar dele fez algo emocionante descer por sua
espinha.

Nia soltou um suspiro e se forçou a se concentrar. Essa


pequena “excursão” estava subindo à cabeça dela.
― Acha que é seguro sair por aí? ― ela sussurrou.

Ka'Cit piscou e ela teve que se mover atrás dela,


gesticulando para o resto do porão.

Ele levou um tempo para desviar o olhar dela e ele


finalmente olhou para cima, seus olhos procurando o teto da
nave.

Ela não sabia o que ele estava procurando, mas o fato de


ainda haver aquela tensão sobre ele, ela sabia que eles ainda
não estavam fora de perigo.

Ela perdeu a conta de quantos dos maníacos eles


derrubaram, mas havia muitos.

Poderia haver mais deles escondidos.

― Herza, ― ele finalmente disse.

Nia endureceu. Ela havia se esquecido da chefe.

Agora seu próprio olhar procurou acima. Não vendo nada


digno de nota, ela espiou pela lateral do caixote.

Tudo o que ela viu foram os corpos se contorcendo dos


alienígenas. Alguns estavam rastejando, mas, ainda assim,
nenhum pegou suas armas para continuar a luta.

Ela adivinhou que eles não eram tão leais a Herza quanto
ela pensava.

― Vê aquela porta? ― Ka'Cit apontou com a cabeça para


um grande conjunto de portas no final da sala.
― Sim. ― Ela assentiu.

― Faça uma corrida até ela. Eu te protejo. ― Então ele riu,


ela tinha certeza. Ela não podia ver, mas com certeza ouviu. ―
Não que você não consiga lidar com você mesma.

Seus olhos estavam sobre ela novamente e o orgulho


cresceu dentro dela.

Ela não tinha percebido que seu ego precisava disso.


Significava muito vindo dele.

Ele havia atirado na maioria dos Niftrills enquanto toda a


sua atenção estava voltada para ela. Seu alvo era tão bom.

Para ele dizer isso a ela...

Nia segurou o sorriso.

Com um último olhar para ele, ela atravessou o espaço.

Ela estava leve em seus pés enquanto pulava sobre os


corpos espalhados pelo chão.

Ela escolheu um caminho através dos Niftrills caídos, um


que tinha a menor quantidade de capangas e, portanto, menos
mãos que poderiam agarrar seus tornozelos e tropeçar
enquanto ela fazia seu caminho.

Mas um olhar atrás dela a fez parar.

Ka'Cit não estava correndo.


Em vez disso, ele estava se movendo de Niftrill para
Niftrill, virando-os e tirando o capuz de suas capas de suas
cabeças.

Suas cabeças eram carecas e pareciam com a mão


exposta que ela tinha visto antes.

Como uma rocha escura com lava fluindo por baixo.

Um dos alienígenas que ele segurava estava com o braço


exposto e os olhos de Nia se arregalaram nas órbitas.

Agora ela sabia por que eles não se preocuparam em


continuar lutando quando foram atingidos.

O braço do Niftrill estava inchado com o que parecia ser


um enorme bolsão de lava sob a carne.

O que…

Ka'Cit continuou se movendo de um alienígena para o


outro, virando-os, verificando seus rostos, até que parou
quando chegou a um deles.

Ela não podia ouvir o que ele disse ao alienígena ou o que


o alienígena disse de volta, mas ele parecia satisfeito com o que
tinha ouvido e soltou o alienígena.

Quando a alienígena caiu no chão, Ka'Cit levantou a


cabeça para segui-la e foi quando seus olhares se
encontraram. Algo mudou dentro de seus olhos.
Seu olhar era cauteloso, como se esperasse que ela
dissesse algo negativo, mas ela simplesmente gesticulou para
ele.

― Você vem ou o quê, garotão?

Seu olhar suavizou então e ela percebeu que estava


aprendendo a lê-lo muito bem.

Quando ela começou a correr novamente, ela verificou


atrás dela para ver se ele estava seguindo desta vez. Seus
passos eram tão silenciosos que ela não saberia se não tivesse
olhado.

Eles finalmente chegaram às enormes portas e Nia parou.

― Ela está nos observando, você sabe, ― ele disse quando


a alcançou e as palavras enviaram um calafrio na espinha dela.

O olhar de Nia foi imediatamente para a entrada do


corredor de onde eles vieram, mas ninguém estava lá.

― Lá. ― Ka'Cit sacudiu a cabeça e ela olhou na direção


que ele havia indicado.

Ela não podia ver a princípio, não até que um painel se


ergueu na parede do outro lado da sala como um conjunto de
persianas.

A alta alienígena estava parada ali.

Herza.
Ela estava sozinha, as mãos em punhos ao lado do corpo
e o rabo balançando no ar da mesma forma que um gato faria
ao olhar para um rato.

A repentina de ver a fêmea parada ali enviou um calafrio


por Nia.

― Oh meu Deus.

Ela sabia que Ka'Cit estava digitando uma série de


códigos no painel perto da porta, mas não conseguia tirar os
olhos da fêmea alienígena.

Por que ela estava ali parada observando-os?

Por que ela não estava atacando?

Por que ela não estava tentando detê-los?

― Entre, ta'ii. Rápido.

De alguma forma, Ka'Cit abriu as enormes portas, mas


seus olhos também estavam em Herza enquanto falava.

― O que ela está fazendo?

Sua compreensão do que ela estava tentando fazer até o


momento não foi tão longe, já sabia. Ka'Cit não respondeu e
seu olhar permaneceu fixo na alienígena do outro lado da sala.

Era como se eles estivessem brigando e Nia apertou a


arma contra o peito.

Uma lasca de medo a percorreu.


Ela não estava com tanto medo momentos antes.

Não quando o enxame de alienígenas os atacou. Não com


esses mesmos inimigos agora se contorcendo de dor a seus
pés.

Mas agora, com Herza os observando, seus olhos frios


focados apenas neles, o medo que Nia sentia era muito real.

Enquanto ela deslizava pelas portas com Ka'Cit seguindo


atrás, ele não tirou os olhos do alienígena acima deles até que
as portas se fechassem.

Ele se virou para ela então.

― Vamos lá.

A urgência em sua voz era evidente, mas ela não


precisava de nenhum incentivo.

― Lá, ― ele disse e Nia seguiu seu olhar.

Eles estavam na sala com a grande rampa agora e havia


um ônibus, bem, dois ônibus, estacionados dentro dele.

Os ônibus espaciais eram ovais, com dois motores de


cada lado e não eram maiores que vans comerciais.

Eles se dirigiram para o ônibus espacial mais próximo e


Ka'Cit tirou algo do bolso: um cartão metálico achatado.

Ele a pressionou contra a nave e as portas traseiras


começaram a se abrir.
Ele pegou seu olhar então e deu de ombros.

Parecia que ele até riu um pouco.

― É um... presente... que eu... peguei.

Certo.

Nia não pôde deixar de rir um pouco também, mas seus


olhos voltaram para as enormes portas que os separavam de
Herza.

A fêmea realmente não estava vindo atrás deles.

Por quê?

― Vamos.

Ka'Cit apontou para o interior da nave e Nia entrou


correndo.

Ao mesmo tempo, ele se virou, apontou para o outro lado


da sala e disparou um único tiro.

Um alarme começou a soar imediatamente.

― Câmara de ar. Comprometido. Câmara de ar.


Comprometido.

Os olhos de Nia se arregalaram.

Merda.

Não é o que você queria ouvir quando tudo o que o


protegia do vácuo do espaço era dito “câmara de ar”.
As portas de sua nave se fecharam e eles estavam de
repente em um pequeno espaço juntos novamente.

Havia um conjunto de trajes preso no interior da nave e


outro conjunto de portas atrás dela.

Ka'Cit soltou um suspiro.

― Não temos muito tempo. Herza tentará arruinar a


câmara de ar em breve ou nos deixará ir. Ele largou a arma,
apertou um botão contra a parede e o segundo conjunto de
portas se abriu. ― De qualquer forma, precisamos nos
apressar. Provavelmente estou causando mais problemas do
que ela deseja em sua nave, mas acabamos de ferir toda a sua
tripulação.

Ele avançou para a segunda seção da pequena


embarcação e Nia o seguiu para dentro.

Havia dois assentos um de frente para o outro e uma


enorme tela de visualização na frente.

Ela podia sentir seu coração martelando em seu peito


quando ela se inclinou para que pudesse ver do lado de fora do
ônibus espacial.

― Vamos. ― A voz de Ka'Cit chamou sua atenção. ― Eu


vou prender você.

Com a ajuda dele, ela foi presa em um dos assentos.

Ele entrou no próximo, prendeu-se e começou a apertar


os botões do painel de controle.
Oh Deus. Ela iria para o espaço novamente.

Ela estava no espaço.

A nave foi ligada quase imediatamente e Ka'Cit olhou em


sua direção.

Os olhos verdes brilharam.

― Aqui vem a parte divertida.

O que...

Ele acabou de dizer divertido?

Ela abriu a boca para perguntar o que ele queria dizer


com “divertido” quando a nave de repente se moveu para frente
antes de subir no ar e virar em um amplo arco.

Ka'Cit apertou mais alguns botões.

― Destino: Hudo III. Tempo estimado de chegada: Dois


cliques, ― disse a nave.

Na frente deles, a rampa já estava parcialmente aberta,


mas a abertura não parecia grande o suficiente para eles
passarem.

Nia agarrou o painel de controle assim que a nave


disparou para frente.

Eles mal se encaixam na abertura estreita.


― Vamos tirar você daqui, ta'ii.
CAPÍTULO 20

Foi só quando eles estavam se afastando que os ombros


de Nia finalmente relaxaram.

Não houve explosões atrás deles.

Ninguém estava perseguindo.

Será que realmente acabou?

Ela olhou para Ka'Cit.

Se não fosse por ele, ela teria chegado tão longe?

Ele apareceu na hora certa, a ajudou em uma situação


difícil, e sua presença a manteve calma.

Ela estava olhando em sua direção, imaginando como iria


agradecê-lo, quando ele olhou para ela.

E agora?

― Eu... uh... ― ela começou. Mas ele não conseguia


entendê-la. Ele provavelmente nunca seria capaz.

Ainda assim, ela deveria agradecê-lo de qualquer


maneira.

Era o mínimo que ela podia fazer.


― Obrigada, Ka'Cit. ― A mão dele estava descansando nos
controles e ela se inclinou para frente e colocou a sua sobre a
dele. ― Obrigada. Eu não poderia ter feito isso sem você.

Ele pareceu congelar sob seu toque.

― Eu... eu não sei como deixar você saber que sou grata.
Estou em dívida com você. Por tudo que você fez. Você arriscou
sua vida para vir atrás de mim. Você me manteve aquecida
quando eu estava com frio. Me protegeu quando as pessoas
estavam tentando me matar. ― Ela quase começou a chorar e
sua garganta ficou seca.

A situação tinha sido mais árdua do que ela percebeu.

Soltando a mão dele, ela se recostou na cadeira, olhando


para o nada diante deles.

O espaço era realmente um vazio escuro.

Parecia que não havia nada lá fora.

Nenhum mundo repleto de vidas. Sem pessoas. Sem


Terra.

― Desculpe. ― Ela enxugou os olhos. ― Que hora para se


emocionar, hein.

Alguns momentos de silêncio se passaram entre eles e ela


podia sentir que ele a observava.

― Acho que é bom saber que as pessoas te protegem aqui,


sabe. Eu não tenho nenhuma família além de Riv, Lauren,
Sohut e Cleo... nenhum outro amigo... ― Ela olhou em sua
direção. ― Mas eu gostaria de pensar que posso adicionar você
a essa lista também. Um amigo, você sabe.

Ele piscou para ela e ela desejou que ele não estivesse
usando a máscara para que ela pudesse ver seu rosto.

Finalmente, ela soltou um suspiro e deu de ombros.

― Você não pode me entender, mas talvez seja melhor


assim. Estou apenas divagando.

Ka'Cit a encarou um pouco mais antes que algo mudasse


em seu olhar.

Sem dizer uma palavra, ele enfiou a mão no bolso e tirou


o pequeno dispositivo quadrado com o qual ela o viu enquanto
estava na parte inferior da nave.

Ele mexeu um pouco com isso e ela não conseguia


descobrir o que ele estava fazendo.

― O que é isso?

Mas ele apenas olhou na direção dela ao som de sua voz


e continuou mexendo no aparelho.

Por alguns momentos, ela apenas o observou, tentando


descobrir o que ele estava fazendo antes de levantar a cabeça
e perfurá-la com o olhar.

Algo em seus olhos lhe disse que ele estava... sorrindo?


Mas ela não conseguia descobrir por quê.
― Umm... ― Ela deu a ele um sorriso nervoso. ― O que
está acontecendo?

― Funcionou, ― ele disse antes de estender a mão e


apertar alguns botões no painel de controle da nave.

― Entrada de destino, ― disse a IA da nave. ―


Coordenadas: AX#-4--5II3. Tempo estimado de chegada: Vinte
sleks.

― Huh? O quê... eu pensei que estávamos indo para casa.

Ele piscou para ela, mas não disse nada.

Os cabelos de sua nuca se arrepiaram. ― Ka'Cit, o que


está acontecendo? Por que você não está falando?

Mas ele não respondeu.

Em vez disso, seus ombros se encolheram e ele se


levantou de seu assento.

O que quer que ele estivesse prestes a fazer, apenas pela


maneira como ele caminhou em direção ao conjunto de portas
internas, ela sabia que sua mente estava decidida. Quando os
alcançou, virou-se para olhá-la.

― Você fica aqui. Você estará segura.

Qu...?!?! Seguro de quê?

Ele a estava deixando?


― Ka'Cit! ― Ela se atrapalhou com os apoios do assento
para se soltar, mas as portas já estavam se fechando.

Quando ela olhou por cima do ombro, o olhar dele


encontrou o dela pouco antes de as portas se fecharem e uma
luz vermelha acender no alto.

O que diabos estava acontecendo?

Ele se foi.

Onde?

Ela não fazia ideia.

Ele ainda estava na nave, é claro, mas não importava


quantas vezes ela apertasse o botão para abrir as portas
internas, a luz vermelha permanecia acesa e as portas
permaneciam trancadas.

Ela estava andando de um lado para o outro por talvez


dez ou quinze minutos, perdendo completamente a cabeça,
quando estruturas começaram a aparecer na frente deles
enquanto a nave desacelerou por conta própria.

Enormes estruturas metálicas que pareciam alfinetes e


agulhas grudadas se materializaram, ao que parece, do nada.
― Que diabos... ― Nia congelou, seus olhos se arregalando
quando mais estruturas apareceram.

As estruturas eram gigantescas, superando a nave em


sua magnificência.

Ela não sabia o que pensar, mas seus pés a puxaram em


direção à tela de visualização.

Havia luzes piscando em algumas das estruturas e


algumas das outras pareciam detritos espaciais.

Por que a nave parou aqui?

Aproximando-se, ela pressionou as palmas das mãos


contra a tela de visualização enquanto olhava para fora.

Muito, muito abaixo, havia um planeta.

Um planeta redondo com vastas massas de terra laranja.

Ela sabia o que estava olhando sem que ninguém tivesse


que dizer a ela.

Era Hudo III.

Casa.

Então ele não mudou seu destino. Mas onde diabos ele
tinha ido?

Girando, ela correu de volta para as portas e,


provavelmente pela centésima vez, ela bateu a mão contra o
botão ao lado deles.
A resposta da nave não mudou.

Um bipe alto impediu sua entrada.

Ela estava bem ciente da nave finalmente parando ao lado


de um dos gigantes de metal.

Houve um rangido quando ela parou e então silêncio.

― Ka'Cit? O que está acontecendo?

Ele poderia ouvi-la atrás das portas?

Ela obteve uma resposta, mas não a que ela esperava.

A IA da nave falou, tão alto que ela pulou.

― Abertura da câmara de ar.

Os olhos de Nia voaram para as portas. ― O que? Não!

Mas as portas não se abriram. Permaneceram fechados.

Talvez a nave tenha cometido um erro?

Ela se aproximou da tela de visualização e olhou para


fora.

Por alguns minutos, não havia nada.

Nenhum movimento. Nada.

A única coisa que lhe dizia que ela não estava congelada
no tempo eram as luzes piscando na grande estrutura do lado
de fora da nave.
Foi quando ela viu o movimento.

Seu coração batia forte em seu peito, saltando uma


batida.

Um intruso.

Havia alguém do lado de fora…

Mas quando o alienígena se virou e ela viu seu rosto, seu


terror se transformou em confusão.

― Ka'Cit?

Nia se aproximou da tela de visualização.

Ka'Cit estava em um traje espacial escuro – um daqueles


que ela tinha visto pendurado no interior do ônibus espacial,
sem dúvida – e ele estava olhando para ela.

Ele teve que remover sua máscara antes de colocar o traje


espacial e ele caminhou direto para a tela de visualização,
olhando como se quisesse verificar se ela estava bem.

― O que você está fazendo aí fora?!

Sem resposta, é claro, e ela não teve escolha a não ser vê-
lo flutuar para a enorme estrutura de metal ao lado da qual a
nave havia parado.

O tamanho da coisa era ainda mais pronunciado quando


ele se aproximava.
A estrutura não parecia distante da nave, mas era difícil
avaliar a distância.

Isso fez seu coração se alojar em sua garganta.

Apenas vê-lo flutuando no nada que era o espaço


desbloqueou um medo que ela nunca soube que tinha.

Foi quando ela viu a corda presa na parte de trás de seu


traje.

Ainda…

Ele estava fodidamente louco?

O que diabos ele estava fazendo?

Seus pés pousaram em um dos pinos de metal e ele se


virou para olhar para ela mais uma vez.

A palma da mão de Nia cobriu sua boca enquanto ela o


observava se virar e caminhar ao longo do pino, os braços
estendidos em ambos os lados para se equilibrar.

Quando ele alcançou a parte central da estrutura, ele


enfiou a mão no bolso de seu terno e ela mal podia ver o
pequeno dispositivo quadrado em sua mão.

Então ele começou a trabalhar. Parecia que ele tinha


outras ferramentas nos bolsos também porque de alguma
forma ele abriu um painel na enorme estrutura de metal.
Nia esticou o pescoço para ver o que ele estava fazendo,
mas entre seu traje espacial e o fato de que ela não podia ver
ao redor dele, ela só podia adivinhar sua intenção.

Ele estava trabalhando em algo e seus movimentos


sugeriam que ele estava interagindo com botões dentro da
coisa.

Suas sobrancelhas franziram enquanto ela o observava.

O que ele estava fazendo?

Enquanto seu coração batia forte em seu peito, sua


ansiedade aumentando, seu olhar se moveu através da
estrutura metálica.

Era um satélite, não era?

Como uma enorme torre de celular alienígena flutuando


no espaço.

O que mais poderia ser?

Não era uma nave espacial e parecia estar orbitando o


planeta.

Tinha que ser um satélite.

Mas isso ainda não disse a ela o que ele estava fazendo.

O tempo parecia desacelerar enquanto ela o observava,


cada batida de seu coração enviando mais ansiedade por suas
veias.
Segundos se transformaram em minutos, e esses
minutos se misturaram. Quanto mais tempo ele estava lá fora,
mais superficial sua respiração se tornava até que ela estava
uma pilha de nervos que tinha roído as unhas até agora, ela
estava começando a morder a carne.

Finalmente, Ka'Cit saiu de sua posição.

Ele fechou o painel que abriu e virou, estendendo os


braços novamente enquanto caminhava de volta para ela.

Assim que ele estava na borda do pino mais uma vez, ele
flutuou de volta para a tela de visualização.

Ele chegou perto o suficiente para pressionar a mão


contra o vidro e Nia estendeu a mão, pressionando a palma da
mão contra a superfície para encontrar a dele.

O olhar dela passou pelo rosto dele, os olhos arregalados


tentando reunir respostas que ele não podia lhe dizer.

― O que você está fazendo?

Ele teve a audácia de lhe dar um sorriso diabólico, um


que fez seu coração dar um curioso salto em seu peito.

― Entre aqui!

Ele não podia ouvi-la, mas parecia que ele tinha


terminado de fazer o que estava fazendo de qualquer maneira,
porque ele soltou a tela e flutuou em direção à parte de trás da
nave.
Nia se viu andando novamente pelo que pareceram os
cinco minutos mais longos de sua vida.

― Câmara de ar. Fechada, ― anunciou a nave.

Seu polegar estava em sua boca quando ela mordia seu


dedo e quando a luz acima da porta finalmente ficou verde, ela
marchou em direção a ela.

Ela se abriu e ela esbarrou nele.

De pé tão perto, ela esqueceu o quão alto ele era e ela


esticou o pescoço enquanto franzia a testa para ele.

― Você! ― ela gritou, levemente pega de surpresa pelo fato


de estar olhando diretamente para o rosto dele. Ele não tinha
colocado sua máscara de volta ainda.

― Você me assustou! Achei que você tivesse enlouquecido!


O que diabos você estava fazendo lá fora! Isso era tão perigoso.
Nunca mais faça isso. ― Ela soltou um suspiro para se
acalmar. Suas mãos tremiam e ela teve que cruzar os braços
para esconder esse fato. ― E se aquela corda tivesse quebrado
e você tivesse flutuado para longe? E você nem disse nada
antes de ir lá! Suas mãos se fecharam em seus lados. ― O que
diabos eu deveria fazer se você ficasse preso! Ou pior!

Seu sorriso voltou. ― Então você teria... se importado se


algo acontecesse comigo lá fora?

A boca de Nia se abriu. Ela não esperava essa pergunta.


― O que? Bem... claro que eu teria me importado. Eu não
estou... Ela então percebeu que parecia que ele a tinha
entendido. ― Espere... você acabou de deduzir o que estou
dizendo ou você realmente me entendeu? ― Ela fechou os olhos
por um momento e soltou um suspiro. ― Eu não sei mais.

Quando ela abriu os olhos, ela olhou para ele.

Por alguma razão, ela sentiu raiva dele por se colocar em


perigo. E não era o tipo usual de raiva.

Essa foi alimentada por algo que ela não conseguia


identificar naquele momento. ― Você me assustou.

― Eu realmente não queria.

O que...

A boca de Nia se abriu. ― V... você pode me entender?

Seus lábios se contraíram um pouco e ele assentiu.

Nia recuou um pouco. ― Você pode?

― Eu e todos os seres do Hudo III podemos entender você


agora. Atualizei o banco de dados com o seu… ― ele franziu
um pouco a testa, ― Iin... glês?

― O... o quê?

― Lamentamos que demorou tanto tempo. Já faz um


tempo desde que eu fiz algo assim. Estou sem prática. ― Sua
carranca se aprofundou e tudo que Nia podia fazer era olhar
de boca aberta para ele.
― Quão…

Ka'Cit deu de ombros e Nia recuou um pouco mais até


estar encostada em um dos assentos.

Seu olhar de repente ficou preocupado.

― Você não gosta disso. Seu rosto. Não é... feliz.

Nia piscou.

― Não é isso... é só... eu não entendo.

― Eu carreguei uma… atualização para o sistema. Um


código, ― disse ele.

Nia piscou para ele, seus olhos vacilando. ― Você o que?

― Um código.

A boca de Nia se abriu. ― Você está me dizendo que


acabou de enviar um bug para o sistema? Você hackeou?

Suas sobrancelhas franziram novamente. ― Eu não


coloquei nenhuma criatura no sistema e também não o cortei.

Ela riria se ainda não estivesse tão chocada.

― Eu posso entender você agora… ― ele continuou antes


de gesticular para o planeta muito abaixo deles, ― e todos lá
embaixo poderão entender você também, assim que seus
tradutores atualizarem.

Nia teve que colocar todo o seu peso no banco atrás dela.
Suas pernas estavam muito fracas.
― Você acabou de... enviar inglês para o mundo?

Ele a observava atentamente, ao que parecia, em um


esforço para ler sua reação.

Seus ombros estavam tensos e ele permaneceu imóvel


como se estivesse se preparando para algo.

― Foi isso que você fez? ― ela perguntou novamente.

Ele acenou com a cabeça desta vez.

Nia caiu de joelhos antes de desmaiar e sentou-se sobre


as pernas. Seu olhar se concentrou em nada.

― Nee-ya?

― Você não tem ideia do que acabou de fazer.

Houve movimento e então ele veio se sentar diante dela


na mesma posição.

― Estou confuso se é algo ruim ou bom.

― Bom. ― Ela encontrou seu olhar. ― Bom.

Ela engoliu em seco e respirou fundo.

― Você não tem ideia do que é um presente…

Novamente ela estava se sentindo emocional.

― Além de Riv e Sohut, não tive muita interação com


muitos alienígenas.
― Quando fui levada, a nave negreira alienígena em que
eu estava caiu e eu estava... ― Ela respirou fundo. Reviver
aquilo era horrível, mas ela nunca tinha falado com ninguém
sobre isso antes. Nem mesmo Lauren e Cleo.

Quando ela olhou para Ka'Cit, ele ainda a estava


estudando.

Não houve insistência; nenhuma pressão para ela falar.


Esta foi a escolha dela e, por alguma razão, ele a fez se sentir
confortável o suficiente para falar sobre isso.

Ela limpou a garganta e continuou. ― Fiquei presa em


uma gaiola sob os destroços por mais de dois dias.

Ela quase morreu e foi provavelmente a razão pela qual


sua claustrofobia tinha crescido outra cabeça e era ainda mais
debilitante do que tinha sido na Terra.

Ka'Cit tentou manter o rosto neutro, ela podia ver, mas


percebeu o choque que passou por suas feições.

― Dois dias, ― ela repetiu. ― Pelo menos, foi quanto tempo


eu pensei que fosse. Eu não tinha como dizer as horas.
Naqueles dois dias, meu maior medo era morrer – que ninguém
me encontrasse a tempo. ― Ela suspirou. ― Mas depois que fui
retirado dos destroços, esse medo logo desapareceu apenas
para ser substituído por outro.

Ela encontrou seu olhar novamente. ― Eu estava cara a


cara com um novo conjunto de alienígenas – não aqueles
parecidos com lesmas e seus amigos jacarés que me
capturaram primeiro. Este novo conjunto parecia brutos.
Grande. Verde. De aparência feroz. Eu temia o pior, mas tive
sorte no final.

Ela tomou outro fôlego. ― Não sei por que estou te


contando tudo isso…

― Prossiga. Eu estou ouvindo.

E ele estava.

Nia engoliu em seco e seu olhar caiu para as mãos antes


de assentir.

― Eles me venderam para um alienígena que só parecia


querer me ver como seu inseto de estimação em uma enorme
caixa de vidro. Ele me alimentou. E ele me observou. Era isso.
Foi assim por muito, muito tempo até que um dia, percebi que
ele não estava se movendo do assento redondo em que
costumava sentar.

Ela olhou para Ka'Cit, mas ele ainda a observava, como


se estivesse realmente envolvido em sua história, então ela
continuou.

― Depois de mais um dia sem movimento, percebi que ele


estava morto ou hibernando. No terceiro dia, quando ele
começou a cheirar mal, comecei a entrar em pânico. Eu estava
trancado em uma caixa sem saída. Uma grande caixa de vidro,
do tamanho de um pequeno estúdio, mas ainda assim uma
caixa. Se ele estava morto... então eu também estava,
eventualmente.
― Como você saiu?

― Sorte. Mais uma vez, foi pura sorte. Um de seus amigos,


suponho, o visitou. Aquele amigo me viu e me levou a um
mercado. A partir daí, mudei de mãos e fui entregue a um
alienígena com uma protuberância enorme na parte de trás da
cabeça como um grande balão.

― Geblit.

Nia sorriu. ― Sim, esse é o nome dele. Ele parecia muito


chateado com a minha presença e me apressou para o
Santuário de Riv como se não pudesse esperar para se livrar
de mim.

Ela parou por alguns instantes.

― Acho que o que estou tentando dizer é que, apesar de


tudo isso... eu não me sentia uma... pessoa. Quando eu falava,
ninguém me entendia. Mesmo que eles não tivessem ouvido o
que eu tinha a dizer, eu não tinha a opção de falar por mim
mesmo. Eu era realmente dependente de todos ao meu redor.
Até isso ― ela gesticulou para a embarcação em que estavam
― tudo isso aconteceu parcialmente porque os Niftrills
pensaram que eu estava falando besteira. Eles não se
importavam em tentar entender. Eu não sou ninguém para a
maioria dos alienígenas aqui.

― Ta'ii... você nunca é isso.

― Graças a você. ― Nia sorriu um pouco então. ― Viver


em um mundo onde você é invisível… não ser compreendido e
então ter uma voz… é algo que eu tinha como certo na Terra…
minha liberdade. ― Seus olhos de repente ficaram úmidos e ela
lutou para conter as lágrimas. ― E agora você me devolveu um
pouco disso.

Em um movimento, ela estava em seus braços.

Ela não sabia se era ela quem se movia em direção a ele


ou se era ele quem fechava a distância. Tudo o que ela sabia
era que ela estava envolvendo os braços em volta do pescoço
dele e os braços dele estavam se fechando ao redor dela.

Nia enterrou o rosto na curva do pescoço dele e ele


permitiu.

― Obrigada, Ka'Cit. Como posso retribuir tudo o que você


fez por mim?

Sua voz estava rouca quando ele falou, tão rouca que ela
quase pensou que ele estava limpando a garganta.

― Isso... ― ele disse. ― Ta'ii, este é o pagamento suficiente.

― Você continua me chamando assim... tah-ee. O que isto


significa?

Ele enrijeceu um pouco e ela pensou que ele não ia


responder.

― Isso significa... amigo.

Amigo.

Nia sorriu.
Por um momento, ela se permitiu relaxar contra ele. O
nariz dela estava enterrado contra a pele dele e ela podia sentir
o cheiro de seu almíscar único.

Foi surpreendentemente calmante e... agradável, como


gengibre com uma pitada de canela.

Reconfortante.

Ela não tinha certeza de quanto tempo ele a segurou lá,


mas enquanto ela fungava e enxugava os olhos, Nia se afastou
dele lentamente.

Sua bochecha roçou contra a dele, enquanto ela se movia


para trás, e quando seu rosto estava logo diante dele, ela
parou.

Seu olhar verde encontrou o dela enquanto eles olhavam


um para o outro e Nia não sabia o que a estava segurando; ela
só sabia que não podia se mover.

Ka'Cit ergueu a mão e passou um dedo lentamente pela


bochecha dela.

Ele observou seu dedo se mover, como se estivesse


memorizando cada linha do rosto dela.

Aquele olhar verde corrosivo dele encontrou o dela mais


uma vez e o ar entre eles mudou.

Quando o olhar dele caiu em seus lábios, Nia sentiu sua


respiração acelerar.
Involuntariamente, ela passou a língua pelo lábio inferior
e foi quando ela ouviu o ronco na garganta dele.

Por um momento, ela quase se afastou, mas algo a


manteve imóvel em seus braços.

E depois…

Quando os lábios dela caíram contra os dele, a


eletricidade estalou no ar entre eles.

Um gemido profundo vibrou de sua garganta quando eles


fizeram contato e Nia sentiu seu corpo responder.

Seus mamilos estavam apertados, seu centro de repente


doendo, e parecia que ela acendeu um fogo que estava
queimando brilhante no centro de seu ser.

Ka'Cit a agarrou com força e a puxou contra ele.

Ele gemeu novamente, um som que enviou eletricidade


para seu centro, e aquele pequeno botão apertado entre suas
pernas começou a pulsar.

Seus lábios eram macios, mais suaves do que ela


esperava que fossem, e quando ela sacudiu a língua para roçá-
los, ele gemeu tão alto que seu corpo vibrou contra o dela.

Ka'Cit a combinou, roçando a ponta de sua língua com a


dele pouco antes de suas línguas mergulharem uma contra a
outra, brincando... acariciando... acasalando.
Ela podia sentir as pontas de suas presas e isso só a fez
gemer um pouco mais.

Ele era selvagem, poderoso, forte, mas oh tão gentil


enquanto a segurava contra ele.

Beijá-lo era toda uma experiência para a qual ela não


estava preparada.

As mãos de Ka'Cit desceram para descansar em sua


cintura enquanto as dela subiam atrás de sua cabeça,
agarrando sua nuca enquanto seus dedos enfiavam seus dedos
em seu cabelo.

Um beijo nunca a deixou fraca, mas este estava prestes a


fazê-lo.

Havia um tipo doce de energia crescendo entre eles,


forçando-os juntos, mas ela não podia deixar ir e não queria
que isso parasse.

Os segundos se passaram enquanto o mundo estava


parado e as pernas de Nia ficaram fracas, seu corpo se
transformou em geleia.

Quando ela finalmente afastou os lábios dos dele para


respirar, Nia abriu os olhos e encontrou os dele.

Ele não precisava dizer nada e ela também não.

Ela podia ver isso em seus olhos, assim como ela podia
sentir isso dentro de si mesma.
Algo tinha acabado de mudar entre eles... e ela tinha
certeza de que não havia como voltar atrás.
CAPÍTULO 21

O relógio de Ka'Cit apitou e ele praguejou baixinho.

O momento foi quebrado e Nee-ya piscou.

Suas mãos se soltaram de seu pescoço e ela começou a


se levantar.

Ele a soltou, liberando-a, embora não quisesse.

Aquele momento que eles tinham acabado de


compartilhar... ele queria revivê-lo de novo, e de novo, e de
novo.

Seu relógio-satélite apitou mais uma vez e desta vez, ele


amaldiçoou em voz alta.

Naquele momento, ele desejou tê-lo arrancado de seu


braço e deixado flutuar no vazio.

Nee-ya limpou a garganta e se levantou, deslizando para


longe dele e ele imediatamente sentiu uma perda por ela não
estar mais pressionada contra ele.

― Isso é um alarme, eu acho?

Ka'Cit sacudiu o queixo em um aceno de cabeça.

― Era. ― Era a hora de ir.


Desajeitadamente, ele suspirou e fechou as pernas, não
que isso ajudasse a esconder alguma coisa. Seu pênis estava
duro e latejando em suas calças; ele não tinha certeza de que
poderia ficar de pé sem que ele apontasse diretamente para
ela.

Então, ele permaneceu ajoelhado no chão.

Ele balançou a cabeça para limpar seus pensamentos


enquanto passava a mão pelo cabelo. ― Eu não deveria estar
aqui agora. Eu estava em um... trabalho, antes de vir atrás de
você.

Ela assentiu e seus dedos foram tocar seus lábios antes


que ela se conteve. Ela desviou o olhar dele então. ― Eu lembro.
Eu ouvi isso... a ligação que você fez quando estávamos nos
escondendo. ― Ela fez uma pausa. ― É isso que você estava
fazendo? Quando você estava verificando aqueles Niftrills?

Ah, ele estava se perguntando o que ela estava pensando


quando parou de correr para olhar para ele.

― Sim. ― Ele a estudou um pouco. Ele imaginou que não


havia mal nenhum em contar a ela sobre isso. ― Um deles
tinha a informação que eu precisava.

― Que informação?

Ele hesitou então. Esta era a parte que ele não tinha
certeza se deveria contar a ela.
Isso não a afetou diretamente, mas depois da história que
ela acabou de contar a ele, ele sabia agora que poderia afetá-
la emocionalmente, talvez até mentalmente.

― Você se lembra daqueles guardas que levaram você do


seu planeta?

Ela enrijeceu um pouco, seu estado de alerta


aumentando. ― Aqueles que pareciam jacarés ambulantes?

Diante de seu olhar confuso, ela continuou. ― Caudas


longas, olhos amarelos…

Ah. ― Sim. Os lutadores de Hedgerud. Eles trabalham


para os Altos Tasqals – os seres que ordenaram que você
fosse... levada.

Ele a estudou para uma reação negativa, mas ela só


parecia mais interessada, então ele continuou.

― Os Niftrills às vezes trabalham nas naves que usam


para transportar um minério valioso... metal talix. Um desses
Niftrills é um contrabandista. Eu esperava... interceptá-lo.

― Por que?

Seu relógio de mesa soou e estalou antes que ele pudesse


responder.

Nia o observava.

― Ele está entrando em contato comigo.

― Quem... a pessoa que contratou você?


Ele olhou na direção dela. ― Algo parecido.

O relógio estalou novamente e ele ativou as


comunicações.

― Sim?

― Qual é o seu estado?

Ele olhou para Nee-ya mais uma vez. ― Eu disse a você


que houve uma... situação. Há algo mais, algo importante que
eu tenho que fazer.

Houve uma pausa.

― Estou surpreso. Você nunca… recusa tarefas, ― disse


a pessoa.

Seus olhos ainda estavam em Nee-ya enquanto ele falava.


― Bem... desta vez, eu tenho motivos para isso.

Houve outra pausa na linha.

― Este trabalho... é... você é nossa última esperança,


Urgmental. Inúmeras vidas serão perdidas se você não
recuperar este pacote.

Ka'Cit se levantou e se afastou de Nee-ya então, tentando


mascarar o rosnado que subiu em sua garganta.

― Peça outra pessoa para fazer isso.


Ele teve que levá-la para casa, de volta ao Santuário de
Riv. Ela estaria segura lá. Ele não podia sair em algum
trabalho quando ela precisava de sua ajuda.

― Negativo. Isso não é possível. Você é nossa fonte mais


próxima. ― Uma pausa. ― É nosso último esforço para ajudar
esses humanos.

Ka'Cit congelou. Humanos?

Ele confiava nesse contato, então ele nunca se preocupou


em descobrir por que eles queriam o metal raro. Ele estava
mais do que feliz em ferrar com os Altos Tasqals a qualquer
chance. Caramba, ele estava fazendo isso de graça.

― Humanos? ― Ele e Nee-ya falaram ao mesmo tempo e


Ka'Cit olhou na direção dela novamente.

Ela estava de olhos arregalados agora, olhando para ele.

― Humanos? ― ela repetiu e deu um passo mais perto.

A voz que vinha de seu relógio por satélite continuou. ―


Precisamos desse pacote.

Algo passou pelas feições de Nee-ya e ela se virou, voltou


para seu assento e se afivelou.

― Te atualizo mais tarde. ― Ka'Cit a observou enquanto


seus ombros se endireitavam. Ele tinha visto aquele olhar
antes quando ela pegou o blaster e correu ao lado dele direto
para seus inimigos.
― Eu tenho que ir... ― ele disse e o estalo no relógio parou
quando ele encerrou a ligação.

― Nee-ya?

Ela olhou por cima do ombro, um olhar de determinação


em seus olhos.

― Vamos lá.

― Ok, eu te levarei para casa.

Ela balançou a cabeça. ― Não em casa. Vamos fazer esse


seu trabalho.

Ka'Cit quase gaguejou. ― O que?

― Vamos lá.

Ela estava perdendo a cabeça?

― Eu nunca poderia... É perigoso. Arriscado.

― Não se preocupe comigo. Eu me viro sozinha.

Ele a estudou um pouco.

Isso era verdade. Ele a tinha visto em ação em primeira


mão.

Ainda…

Ka'Cit passou a mão pelo cabelo mais uma vez.

Ele não podia, em sã consciência, levá-la com ele.


― Eu não acho que você tem tempo suficiente para me
levar de volta ao Santuário e fazer este trabalho, não é? Porra.
― Ela soltou uma risada que era sem alegria. ― Há outros
humanos por aí em algum lugar. Deus sabe, eu nem quero
acreditar. Mas eles precisam de sua ajuda. Você precisa ir
buscar o que quer que seja este pacote.

Quando ele não se mexeu, ela continuou. ― Se você me


levar até lá, eu seria a razão pela qual esses humanos morrem.
Eu não deixarei isso acontecer. Estou perfeitamente segura
agora, desde que você veio naquela nave atrás de mim. Eu
confio em você.

Suas palavras fizeram um nó se formar em sua garganta.

― Agora você precisa confiar em mim. ― Ela se virou. Seu


olhar apontou para a tela de visualização. ― Vamos lá.

Seus ombros estavam firmes. Seus braços estavam


cruzados, e enquanto Ka'Cit a observava, sua preocupação
logo se transformou em outra coisa.

Era um sentimento semelhante ao que ele sentiu quando


a viu derrubar os Niftrills.

Ela não tinha medo, era determinada... feroz... o tipo


exato de fêmea que ele adoraria ter ao seu lado se ele não
fosse... bem, se ele pudesse dar a ela o tipo de vida que uma
fêmea como ela merecia.

A memória de apenas alguns momentos antes voltou para


ele.
Ele nunca sentiu nada tão macio. Nada tão bom.

Os lábios dela.

Seu corpo contra o dele.

Abençoe as estrelas... parecia uma experiência fora do


corpo, como se ele não estivesse mais lá e estivesse se
observando de longe.

Com ela contra ele, parecia que ele estava se afogando,


como se não conseguisse respirar, pois havia parado de
respirar. Ele tinha medo até de expirar para não quebrar a
magia do momento.

Ela era bonita.

Perfeita.

E ela se sentiu tão phekking bem.

Seu órgão vital bateu em seu peito e Ka'Cit teve que


engolir em seco. Ele inalou profundamente, seus pulmões se
enchendo de ar como se ele realmente estivesse se afogando e
acabasse de romper a superfície da água.

Raxu …

Ele não sabia o que estava acontecendo, só sabia que


aquilo o assustava.

Era como um ímã superalimentado que o puxava para


ela, mesmo quando ele sabia que deveria virar para o outro
lado.
Ele era fraco.

Porque não importa se ele tentasse ignorá-lo, ele sempre


estaria lá.

Sua maldição.

Provocando-o toda vez que ele se olhava no espelho.

Pelo bem de ambos, ele deveria levá-la para casa. Ele


deveria parar com isso agora antes que fosse mais longe,
porque passar mais tempo ao redor dela só tornaria o inevitável
mais difícil.

Mas ele poderia?

Ele realmente poderia fazer isso?

Não.

Ainda não.

Apenas mais alguns momentos em sua presença antes


que ele tivesse que dizer adeus.

― Vou levá-la comigo, mas com uma condição.


CAPÍTULO 22

― Qual é a sua condição?

Ka'Cit se sentou no outro assento e, quando ela olhou em


sua direção, percebeu que ele havia colocado a máscara
novamente.

Seu rosto estava mais uma vez protegido do mundo.

― Se eu disser para você correr, você tem que correr. Se


eu disser para você se esconder, você deve se esconder. ― Seus
olhos verdes encontraram os dela através da fenda em sua
máscara e perfuraram sua alma. ― Não volte atrás, não se
preocupe comigo, apenas vá.

Houve um nó que se formou em sua garganta.

Ela sabia o que ele estava dizendo, que se algo


acontecesse com ele, ela deveria deixá-lo lá.

Ela não podia fazer isso. Que tipo de pessoa ela seria se
algo acontecesse e ela o deixasse para morrer?

Ainda assim, ela sacudiu a cabeça e deu-lhe um aceno de


cabeça.

Ele a olhou um pouco e ela se perguntou se ele sabia que


ela estava mentindo. Ele iria mudar de ideia? Mas então ele
desviou o olhar.
― Eu tenho algo para pedir a você também.

Ele endureceu e sua voz era quase inaudível quando ele


respondeu. ― O que?

― Podemos enviar uma mensagem para Riv e Lauren


daqui de cima? Só para que eles saibam que estou bem. Lauren
está grávida e eu não quero que ela fique estressada comigo.
Não é bom para o bebê.

Ka'Cit sacudiu a cabeça e pressionou algo na faixa em


seu braço.

Por alguns segundos, não houve nenhum som e então o


inegável rosnado de Riv soou na cabine.

― Ka'Cit. Estou feliz que você tenha entrado em contato


comigo. Eu... precisamos da sua ajuda.

Ka'Cit pigarreou. ― Ajuda? Isso diz respeito à... condição


da sua companheira?

Nia manteve os olhos nele. A maneira como ele disse


essas palavras soou quase... triste.

― Não, ― disse Riv. ― É... é Nee-ya. Ela está…

Um choque de felicidade passou por ela. ― Diga a ele que


estou bem.

― Nee-ya? ― Riv parecia chocado.

― Nia está aí?! Deixe-me falar com ela! ― Houve alguns


embaralhamentos antes de Lauren entrar na linha. ― Nia?
Nia se aproximou de Ka'Cit para que pudessem ouvi-la
melhor. ― Sim, sou eu. Estou bem.

― Oh meu Deus! Realmente é você! ― Ela podia ouvir


Lauren soluçando.

― Ei, ei, não chore. Eu não quero que você chore. Estou
bem. Eu realmente estou.

Lauren estava cheia de soluços agora. ― Eu... nós não


sabemos o que aconteceu. Estávamos olhando os berços e me
virei para perguntar o que você achou e você não estava lá. Oh
Deus, Nia, o que aconteceu? Procuramos em todos os lugares!

A água estava começando a encher seus próprios olhos e


ela os forçou a se afastarem. ― Eu... é uma longa história. Eu
te contarei sobre isso quando eu voltar, mas eu só queria que
você soubesse que eu estou bem. Estou ilesa e estou bem.

― Onde você está? Podemos ir buscá-la.

Nia olhou para Ka'Cit. Seus olhos ficaram sem emoção,


como se uma parede fosse erguida atrás deles.

― Eu estou... de novo, uma longa história. Mas não se


preocupe. Volto em breve.

Houve alguns murmúrios ao fundo e ela mal entendeu


Riv dizendo a Lauren que Ka'Cit era um cara legal, que ela
estaria segura com ele.

― Estou segura, ― ela repetiu. ― Vejo você em breve.


― Ok. Estaremos esperando por você. ― A voz de Lauren
estava um pouco relutante.

― Até breve.

Quando a linha ficou muda, Nia soltou um suspiro e


recostou-se em seu assento.

Ela poderia voltar para o Santuário agora.

A lógica disse que ela deveria.

Por que se colocar em mais perigo?

Mas ela já tinha se decidido e esperava que, se estivesse


com problemas como parecia que os outros humanos estavam,
haveria alguém lá fora para fazer algo para ajudá-la.

Como ela estava em apuros e Ka'Cit estava lá para ela.

― Pronto? ― ela perguntou.

Por alguns momentos, ele não disse nada, então ela o


ouviu soltar um suspiro.

Ao reativar a nave, o zumbido dos motores fez vibrar a


pequena embarcação.

Nia agarrou o assento embaixo dela.

Ela realmente ia fazer isso.

Antecipação e apreensão a encheram enquanto a nave


zumbia e avançava um pouco, mas não foi muito longe antes
de sacudir e parar.
Um som horrível, que lhe deu a imagem de uma chave
inglesa sendo jogada no liquidificador, encheu o recipiente.

― Que raio foi aquilo?

Ka'Cit não respondeu. Em vez disso, ele fechou os olhos


e deu um soco no painel de controle.

― Phek!

Houve outro rangido alto na cabine e, por um segundo,


parecia que a nave estava se partindo em dois.

Não era exatamente o som que você queria ouvir quando


estava no meio do espaço.

― Ka'Cit?

― É Herza, ― disse ele.

― Merda. ― Os olhos de Nia voaram para a tela de


visualização, seu coração na garganta.

Ela sabia que tinha sido estranho como aquela fêmea


tinha acabado de vê-los partir.

― Algo está errado com a nave. É por isso que ela não
tentou nos parar quando chegamos a plataforma de carga.
Meu palpite é que essa nave não é adequada para nos levar
mais longe. Ka'Cit apertou alguns botões. ― Computador.
Diagnóstico do relé.
Por alguns segundos, houve silêncio. Em seguida, ―
Verificação de diagnóstico. Completa. O motor principal está
comprometido.

― Phek. ― Ele disse isso em voz baixa desta vez e quando


ele olhou em sua direção, ela podia ver a raiva em seu olhar.

Merda. Isso era culpa dela?

― Foi porque você parou para me ajudar? Com a coisa da


linguagem? A nave estava indo bem antes disso.

Ka'Cit piscou para ela e então, como se percebesse o que


ela estava perguntando, seu olhar suavizou.

― Não, ta'ii. Na verdade, estou feliz por termos parado. Se


o motor tivesse explodido enquanto descíamos para o planeta,
teria sido…

Ele deixou o resto não dito.

Certo... eles se tornariam poeira nas alturas.

― O que fazemos agora?

Ka'Cit voltou-se para a tela de visualização e seus ombros


caíram um pouco.

― Temos que parar em um dos satélites de serviço.


Mandar alguém consertar. Não há outra opção.

Ele parecia desanimado com isso e ela não podia deixar


de se perguntar por quê.
― Isso ficará bem. Não vai?

Ka'Cit fez um som com a garganta antes de olhar na


direção dela.

Ela não conseguia ler o olhar em seus olhos e com a


máscara de volta, ela não tinha ideia do que ele estava
pensando.

― Vai ficar tudo bem, ta'ii.

Por que parecia que ele tinha acabado de lhe contar uma
mentira?

Ka'Cit tentou conter o gemido em sua garganta.

Enquanto a nave avançava com seu único motor bom, ele


tentou se concentrar no satélite que eles estavam se
aproximando em vez de na fêmea à sua frente.

Phek ele se não fosse uma das coisas mais difíceis que ele
já teve que fazer em toda a sua existência.

Seu pênis estava latejando em suas calças, a ponta de


sua cauda estava dura, e seu órgão vital estava lutando em seu
peito, e tudo porque ele podia sentir seus lábios nos dele como
se ela ainda estivesse pressionada contra ele.
Isso nunca tinha acontecido com ele antes.

Ele nunca teve outra alma o afetando da maneira que esta


pequena humana o estava afetando agora.

Quando a nave se aproximou do satélite de serviço, Nee-


ya olhou em sua direção.

Ele podia vê-la através de sua visão periférica e ela


continuou olhando dele para o satélite que pairava diante
deles.

Ele supôs que ela estava um pouco preocupada.

Talvez eles não tivessem essas coisas de onde ela veio.


Ter...ra, ela chamou seu planeta, se ele se lembrava
corretamente.

O satélite parecia uma enorme rocha espacial com bordas


irregulares.

Havia luzes piscando nas laterais e de vez em quando, a


eclusa de ar se abria e uma nave de carga saía antes de se
afastar no vazio.

Nee-ya olhou para ele mais uma vez antes de se mexer


em seu assento e tudo o que ele conseguia pensar era quando
ela se mexeu nele enquanto dormia.

Ka'Cit pigarreou.

O que diabos havia de errado com ele?


― Aquela parte lá em cima, ― ele apontou para o topo do
asteroide, ― é onde as naves maiores entram.

― É aí que vamos entrar?

Ele balançou sua cabeça. ― Não. Não somos grandes o


suficiente. Nós vamos lá.

Ele apontou para a frente.

Parecia uma rocha sólida e ele podia vê-la olhar em sua


direção mais uma vez.

Mas ela não disse nada.

Ela disse que confiava nele e esse pensamento fez com


que a ponta de sua cauda se levantasse um pouco contra sua
perna.

Phek, se ela estivesse perto, provavelmente teria se


enrolado em torno dela.

Definitivamente havia algo errado com ele.

À medida que se aproximavam, as portas do satélite de


serviço se abriram, dando a impressão de que a rocha se
dividiu em duas para deixá-los entrar.

Nee-ya se inclinou para frente, arregalando os olhos, e


Ka'Cit arriscou virar a cabeça um pouco para poder observá-
la.

A admiração iluminou seu rosto enquanto ela olhava ao


redor e quanto mais eles iam, mais seus olhos se arregalavam.
Quando as portas se fecharam atrás deles e o ar se
estabilizou dentro da câmera de ar dos enormes jatos nas
paredes, Nee-ya se inclinou tanto que se esforçou contra os
cintos de segurança.

Nem um grama de medo.

― ...lugar perigoso?

Ka'Cit piscou apenas para perceber que ela estava


olhando na direção dele.

Grandes olhos castanhos encontraram os seus e seu


órgão vital pulou uma batida.

― Este lugar é perigoso? ― ela repetiu.

Se ela o tinha notado descaradamente devorando seu


corpo com os olhos, não deu nenhuma indicação de que o fez.

― Não. Você está comigo. Você estará segura.

Isso era outra coisa.

Assim que ele saísse da nave, ela iria ver uma parte dele
que nem mesmo Riv e Sohut conheciam.

Pelo menos, não de forma íntima.

Ele trouxe Nee-ya para uma parte de seu mundo que ele
mantinha separado.

Aqui fora, ele era outra pessoa.


Assim que a nave começou a se mover novamente, ela se
virou para olhar pela tela e parecia que a resposta dele foi
suficiente para ela.

As portas internas se abriram, admitindo-os na estação


de serviço, e Ka'Cit dirigiu a nave para uma das baías livres.

Não estava ocupado, surpreendentemente.

Apenas algumas naves estavam sendo trabalhadas e ele


esperava que isso significasse que eles não ficariam presos na
estação por muito tempo.

Quando ele puxou a nave para a baía, a coisa sacudiu


uma última vez, emitindo um gemido alto, antes que as luzes
se apagassem.

― Phek, ― ele respirou.

― Você não desligou o motor, não é?

― Não. O outro motor se foi agora também.

Excelente.

― Droga. Bem, pelo menos nos trouxe até aqui, eu acho.


― Ela começou a remover suas restrições e ele escorregou para
fora de seu assento.

No momento em que ele chegou à porta e olhou para trás,


ela já havia pegado seu blaster e estava enfiando-o debaixo de
sua capa e fora de vista.

Inteligente.
Ela levantou o capuz da capa sobre a cabeça também e
quando ela levantou o olhar para olhar para ele, ela sorriu um
pouco.

― Não pode estar muito preparada.

Palavras verdadeiras e seu lema também.

Só que ele não poderia estar mais despreparado para o


que este dia estava jogando para ele até agora.

Quando se tratava de Nee-ya, ele estava se sentindo


incrivelmente perdido.

Quando eles deixaram a nave, ele pegou seu próprio


blaster e jogou o braço para trás, descansando-o em seu
ombro.

Uma vez que eles estavam do lado de fora, ele não tinha
certeza do que esperar.

Os satélites de serviço podiam ser duvidosos ― todos os


tipos de seres passavam por eles.

― Ta'ii, ― ele disse quando as portas se abriram.

― Uh... uh...?

― Há algo mais... ― Ele parou.

Phek.

Seu órgão vital martelava com tanta força na garganta


que era difícil falar.
Ela olhou para ele, esperando que ele continuasse.

― Esses satélites... eles são... fêmeas geralmente não são


vistas aqui. Não desacompanhadas e geralmente não sem
seus... companheiros.

― Eu não estou desacompanhada... eu tenho você.

― Certo. Mas…

A compreensão surgiu e ele viu quando os olhos dela se


arregalaram. ― Oh. Você quer dizer assim. ― Ela sorriu então.
― Eu posso fingir ser sua companheira se isso tornar as coisas
mais suaves. É isso que você quis dizer?

Isso é exatamente o que ele quis dizer.

O queixo dela empurrou e o sorriso mudou um pouco,


tornando-se mais suave, antes que ela abaixasse a cabeça.

― Vamos fazer isso.

Phek.

A garganta de Ka'Cit se moveu e ele abriu a boca para


responder, mas como se tivesse sido cronometrado para salvá-
lo de dizer algo estúpido, as portas se abriram para um
alienígena esperando por eles.
CAPÍTULO 23

Um alienígena que se parecia com o que a trouxera ao


Santuário estava diante deles.

Um Torian.

Ele piscou para eles antes de largar qualquer ferramenta


que estivesse carregando, seus olhos correndo dela para
Ka'Cit.

Ele era verde com quatro olhos e quatro braços. Na parte


de trás de sua cabeça havia uma protuberância grande e
redonda que pulsava como uma água-viva ou talvez um polvo.

Ela teria pensado que era Geblit, o alienígena que a


trouxe para o Santuário, se não fosse o fato de que esse
alienígena era absolutamente imundo.

A fuligem cobria seus braços e até algumas partes de sua


cabeça.

Geblit nunca toleraria uma coisa dessas.

― Bem... ― Ka'Cit começou. Sua voz soou tão diferente,


ela teve que olhar para ele.

Foi mais difícil. Mais gelado. Mais poderoso.

Mais... mortal.
Como se viesse de um macho que não sentia, não do
macho que a segurou contra ele momentos antes.

― E... eu… uh… ― O mecânico olhou para trás, mas


mesmo que ela tivesse certeza de ter visto alguns alienígenas
no chão quando Ka'Cit estava levando a nave, parecia não
haver ninguém na estação além deles agora.

Ela até pegou alguém se escondendo atrás de uma das


naves nas baías.

Ka'Cit fez um som com a garganta e deu um passo à


frente.

Ele pairava sobre o Torian e o alienígena parecia se


encolher.

― Sua nave precisa de manutenção, Triturador?

Triturador?

Ela poderia jurar que viu Ka'Cit endurecer.

― Os motores estão desligados. Conserte-os, pelo menos


o suficiente para nos levar à superfície.

O Torian olhou para ela antes que seus olhos voltassem


para Ka'Cit. ― I-isso serão m... muitos créditos... m... muito
mais do que este modelo vale...

― Apenas conserte. ― O rosnado de aborrecimento de


Ka'Cit fez o alienígena estremecer e mesmo quando ela deu um
passo à frente para ficar ao lado de Ka'Cit o único foco do
alienígena permaneceu no macho ao seu lado.

― S... sim. Qualquer coisa que você quiser, Crusher, ― ele


disse antes de começar a se afastar.

― Torian....

Ao ouvir a voz de Ka'Cit, o alienígena parou no meio do


movimento. ― S... sim?

― Esta estação tem comida... bebida?

― S... sim. No salão principal. Você e seu…

― Minha companheira, ― Ka'Cit rosnou e os quatro olhos


do alienígena se arregalaram.

― Sua companheira? ― As palavras saíram com alguma


surpresa, mas como se lembrasse de si mesmo, o alienígena se
apressou em continuar. ― Há, certo, você e sua companheira
são bem-vindos.

Ka'Cit colocou a mão em suas costas e começou a guiá-la


da baía em direção a um grande conjunto de portas duplas de
metal.

Ela não pôde deixar de olhar para trás enquanto


caminhavam e mais de uma vez viu a cabeça de um ou dois
alienígenas se esquivando atrás de algumas das naves
estacionadas ali.

Eles estavam se escondendo?


Assim que passaram pelas portas duplas, Ka'Cit apertou
um botão na parede e o piso começou a subir.

Era um elevador.

― Por que o alienígena parecia tão... cauteloso com você?

Mais uma vez, ela tinha certeza de que Ka'Cit endureceu.

― Isso, ta'ii, é uma longa história.

O elevador se abriu para uma conversa que morreu de


repente quando eles entraram na sala.

O que no Velho Oeste...?

Nia manteve a cabeça baixa, mas isso não a impediu de


roubar alguns olhares por baixo de sua capa.

Todos os alienígenas na sala estavam vestidos com


roupas semelhantes, uma espécie de túnica verde desbotada,
e todos eles estavam em silêncio mortal – congelados no tempo.

Alguns estavam com suas bebidas na mão, alguns


estavam mastigando, mas todos compartilhavam uma coisa:
um alfinete poderia cair e seria ouvido no silêncio.

Ka'Cit não pareceu notar ou não se importou. A mão dele


ainda estava nas costas dela e ele a guiou para frente.

Na frente, havia um grande balcão com um alienígena


atarracado que tinha mais braços do que ela podia contar
servindo bebidas.
Quando chegaram ao balcão, a tensão não cessou.

Na verdade, parecia que o barman também estava


congelado, com os olhos em Ka'Cit.

Eles pararam no balcão e Ka'Cit estudou o barman. Nia


se viu olhando de um para o outro, tentando descobrir o que
diabos estava acontecendo, mas ela sabia que não devia abrir
a boca.

Algo estava acontecendo aqui que era maior do que ela.

― Dois quas galáxias. ― Ka'Cit nem falou alto, mas com o


silêncio na sala, sua voz era carregada.

Assim que as palavras saíram de sua boca, porém, foi


como se a sala suspirasse coletivamente e a conversa
aumentasse como se não tivesse parado.

Nia olhou para o macho ao seu lado, uma sobrancelha


levantando um pouco.

Ela queria perguntar a ele o que diabos estava


acontecendo, mas talvez ela fizesse isso mais tarde.

― Dois quas galáxias. ― O barman colocou as bebidas na


frente deles e saiu correndo.

Nia olhou para a garrafa diante dela.

Estava efervescente como uma bebida gaseificada com


esteroides.
Ela estava muito ciente de que Ka'Cit a observava
enquanto ela o agarrava e olhava para ele, girando-o em sua
mão.

― É bom, ― disse ele.

Parecia que estava pronto para corroer seus dentes mais,


mas ela deu a ele um sorriso corajoso e encostou a bebida na
testa.

O sabor a surpreendeu. Era quase doce demais e a parte


carbonatada saltou em sua língua.

Mas ela estava com tanta sede – ela não tinha bebido
nada desde que deixou o Santuário – então ela tomou outro
gole.

A efervescência parecia ter subido pelo nariz e ela teve


que balançar a cabeça um pouco para se livrar da sensação.

Ela tinha certeza de que Ka'Cit riu por baixo da máscara.


― Gosto disso?

Ela não conseguiu responder, estava muito ocupada


tomando outro gole, mas assentiu.

― Aqui, pegue o meu também. ― Ele deslizou sua garrafa


em direção a ela antes de se inclinar contra o balcão.

Nos próximos momentos, ele se apoiou no balcão e a


observou consumir a bebida.
Ele parecia completamente à vontade, mas ela ainda
podia sentir a tensão em suas costas.

Nia tomou mais alguns goles e permitiu que seu olhar se


movesse pela sala sem deixar óbvio que ela estava verificando
o lugar.

Além do silêncio estranho que os recebeu quando eles


entraram pela primeira vez, este bar, se ela pudesse chamar
assim, não era tão ruim.

As paredes eram da cor de mogno e monótonas. Além de


uma pequena janela circular em uma parede, não havia outras
decorações de parede.

Havia várias mesas no pequeno salão feitas do mesmo


material e cor das paredes e os bancos pareciam barris que
combinavam com a mesma cor.

Ka'Cit estava certo. Além dela, não parecia haver outras


fêmeas na sala.

Pelo menos, nenhum alienígena estava presente que ela


pudesse identificar com confiança como sendo do sexo
feminino. Parecia que ela estava em uma parada de caminhões
alienígena cheia de motoristas que transportavam a carga de
Hudo III em toda a galáxia.

Eles estavam conversando, compartilhando piadas, mas


ela percebeu uma coisa: apesar da conversa, todos pareciam
estar olhando na direção dela e de Ka'Cit de vez em quando.
― Eles parecem... desconfortáveis, ― ela sussurrou alto o
suficiente para Ka'Cit ouvir e ele resmungou.

― Eles deveriam estar.

Nia tomou outro gole da bebida e se permitiu desfrutar da


sensação do fluido descendo por sua garganta.

Apesar dos olhares de lado em sua direção, ela teve que


admitir que a conversa ao fundo era quase reconfortante.

Se ela fechasse os olhos, poderia imaginar que estava em


algum lugar da Terra em um bar comum.

Mas eles estavam em um trabalho. Eles ainda tinham que


pegar aquele pacote.

Eles? Engraçado como ela agora se incluiu nisso.

― Hum, Triturador? ― A pequena voz mal chamou sua


atenção e ela teve que desviar o olhar da sala para olhar na
direção do som.

Era o Torian, o mecânico que estava trabalhando em sua


nave roubada.

― Há um problema. ― Ka'Cit se virou para olhar o Torian


também.

― P... problema? ― O alienígena gaguejou.

― Você não voltaria para mim se não houvesse.


O Torian engoliu em seco, seus quatro olhos correndo
para o lado antes de forçá-los a voltar para Ka'Cit.

― Não é um p... problema, mas e...eu temo que não haja


uma solução rápida. Levará mais do que alguns minutos para
concluir os reparos.

Quando Ka'Cit não disse nada, o Torian se apressou. ― A


embarcação está... muito danificada. Parece que nunca foi
reparada, no entanto, ― ele falou ainda mais rápido agora, ―
tenho certeza que você fez muitos serviços nele. Talvez quem
você contratou não tenha feito um bom trabalho e...

― Quanto tempo? ― Ka'Cit o interrompeu.

O Torian engoliu em seco novamente. ― Vai levar pelo


menos três ciclos de luz completos para reparar os motores.

Ka'Cit deixou o blaster cair de seus ombros para ficar


pendurado ao seu lado e toda a sala silenciou mais uma vez.

Por um momento, ninguém parecia respirar e Nia se viu


olhando ao redor da sala.

O medo registrado em cada um dos rostos que ela podia


ler.

― Faça isso. ― As palavras de Ka'Cit mal foram


pronunciadas antes do Torian assentir.

― S... sim, Triturador. ― O Torian se moveu rapidamente,


quase caindo sobre as próprias pernas para fugir.
Quando Ka'Cit voltou para o bar, a sala soltou um suspiro
coletivo.

Nia o encarou.

Não, ela tinha que perguntar.

Abaixando a voz, ela se aproximou dele. ― O que diabos


está acontecendo?

Ka'Cit soltou uma risada quase inaudível.

― Uma maldição, ― ele disse baixinho.

Sua resposta a deixou momentaneamente sem palavras.

Uma maldição?

― E eu não acho que vamos conseguir, ta'ii. ― Ele bateu


o dedo no balcão enquanto olhava para a frente. ―
Definitivamente não podemos interceptar esse pacote a tempo.
A chance está perdida.

Suas palavras fizeram algo cair dentro dela.

― Mas isso significa...

Isso significava que os humanos que precisavam do que


quer que estivesse neste pacote possivelmente morreriam?

Ela não pôde deixar de sentir que era completamente por


causa dela e talvez sua expressão aparecesse em seu rosto
porque Ka'Cit mergulhou a mão sob o capuz da capa para
agarrar seu queixo com os dedos.
Seu toque era leve enquanto ele esfregava o dedo sobre a
pequena reentrância no meio do queixo dela e seu olhar estava
focado no movimento.

Parecia que ele tinha que puxar os olhos para cima para
encontrar os dela. ― Não é sua culpa, ta'ii.

― O que lhe deu a impressão de que eu estava pensando


isso?

Ele deu de ombros um pouco. ― Eu sei muito bem como


se culpar por algo que você não pode controlar.

Enigmático.

Parecia que havia mais naquela frase e ela estava prestes


a pedir que ele explicasse quando o barman se aproximou.

― Eu sei o que vai te animar, ― os olhos de Ka'Cit se


iluminaram e ele chamou a atenção do alienígena com um
aceno de sua mão.

― Duas refeições Zeregga. Faça-os quentes e bem cozidos.

― Duas refeições Zeregga, ― o barman repetiu enquanto


se afastava.

Ka'Cit olhou para ela. ― Estaremos aqui por um tempo.


Podemos muito bem ficar confortáveis. ― Ele verificou a
pulseira em seu pulso.

― E aqueles humanos? Há algo que possamos fazer para


ajudá-los?
Seu olhar viajou sobre seu rosto por alguns momentos. ―
Você realmente se sente responsável…

Nia assentiu. ― Bem, se você não estivesse tentando me


ajudar, eles não estariam em uma situação pior.

Ele a estudou um pouco mais. ― Eu descobrirei isso.

A boca de Nia abriu e fechou.

Ele disse isso com tanta certeza que ela se sentiu


inclinada a acreditar nele.

Ela tinha que acreditar.


CAPÍTULO 24

Soltando um suspiro, Nia voltou sua atenção para a sala


e foi então que ela percebeu que a conversa havia diminuído
um pouco.

Mais olhos se moviam em sua direção com maior


confiança.

Um alienígena sentado perto deles capturou seu olhar e


só porque ele estava sentado em uma posição que ele tinha
visão direta de seu rosto.

Ele tinha antenas e uma boca com fechos como a de uma


formiga, mas não foi por isso que chamou a atenção dela.

Era o jeito que ele estava olhando para ela, e agora que
ela estava olhando de volta, os olhos do alienígena deslizaram
de seu rosto para deslizar por seu corpo.

Uma sensação de mal estar se desenvolveu na barriga de


Nia e sua pele se arrepiou.

Ela estava vestindo uma capa que parecia um dos lençóis


de sua bisavó e ele estava olhando para ela assim?

Se os outros alienígenas na sala fossem como ele, não


admira que as fêmeas dificilmente se aventurassem sozinhas
nos satélites de serviço.
Propositalmente, e de forma exagerada, ela pegou a mão
de Ka'Cit.

Ele estremeceu um pouco com a rapidez de seu toque e


seu olhar estalou para ela.

Nia sorriu para ele enquanto pegava a mesma mão e a


segurava firmemente em volta da cintura, movendo-se o mais
perto que podia.

Ela estava pressionada contra seu lado agora e tinha


certeza de que podia sentir seu coração trovejando em seu
peito.

― Nee-ya? O que você está fazendo? ― Sua voz era apenas


alta o suficiente para ela ouvir.

― Você é meu companheiro, lembra-se. Estou apenas


lembrando aqueles com olhos errantes desse fato.

― Ah, certo. Nós estamos fingindo ser... ― Ele deixou o


resto não dito, mas... isso foi uma nota de decepção que ela
ouviu?

Ka'Cit desviou o olhar do dela e olhou ao redor da sala


antes de se fixar diretamente no alienígena que estava olhando
para ela de forma engraçada.

O alienígena desviou o olhar tão rápido que ela tinha


certeza de que ele havia se tornado vesgo no processo.

Toda a situação quase a fez rir.


Quase.

― Você leva o medo aos ossos de todos, Ka'Cit.

― Todo mundo, menos você. ― Novamente, havia uma


nota de algo em seu tom, mas desta vez ela não conseguia
descobrir o que era.

Ele estava certo, no entanto.

Ela não tinha medo dele.

Mesmo agora, ao lado dela, havia uma frieza calma e


mortal sobre ele que dizia a todos na sala que ele não era
alguém para se mexer.

No entanto, esse sentimento não se estendeu a ela.

Então, ela permaneceu ao lado dele com o braço em volta


da cintura e até se inclinou um pouco para ele enquanto se
concentrava na galáxia qua na frente dela.

Um cheiro pegou seu nariz e ela cheirou.

― A refeição Zeregga, ― disse Ka'Cit. ― Está quase pronto.

― Cheira bem. O que há nela?

Ka'Cit inclinou a cabeça para o lado. ― Muita carne e


molho. A maioria dos seres adora isso.

Eh... carne.

Carne alienígena. Certamente não era frango e ela não ia


perguntar o que era.
A última vez que ela estava curiosa, ela quase vomitou
sua refeição e ela estava com muita fome agora para que isso
acontecesse.

Seu estômago roncou e ela olhou para ele, mas se ele


ouviu, estava ignorando. Ou talvez ele a estivesse ignorando.

Ele parecia estar focado em um ponto específico na


parede na frente deles que não era nem um pouco
interessante, e quando ela se torceu em seus braços, ele
pareceu fechar os olhos e inspirar profundamente em resposta.

― Ka'Cit?

Só então a porta se abriu e a risada alta de quem tinha


acabado de entrar encheu a sala, atraindo a atenção dela e de
todos os outros para ela.

Era um enorme bruto de um alienígena.

Grande, robusto, e ele parecia ter uma comitiva de


alienígenas menores da mesma espécie o seguindo.

Ele parecia um javali, essa é a coisa mais próxima que ela


poderia compará-lo, e sua comitiva era composta de quatro
javalis menores que o cercavam.

Ele tinha presas que saíam de sua boca, seus olhos eram
embutidos e ele tinha ombros pesados.

Assim que eles passaram pela porta, os olhos do grande


alienígena se fixaram nos dela e Nia virou de costas para ele.
Algo sobre o alienígena a deixou desconfortável e ela
decidiu prestar atenção na bebida diante dela na esperança de
que ele a ignorasse.

O alienígena continuou falando com seus companheiros


em um idioma que ela não conseguia entender, e sua voz ficou
cada vez mais alta, dizendo que ele estava se movendo em sua
direção.

O braço de Ka'Cit se moveu contra seu lado e quando ela


olhou para ele, seus olhos estavam tão frios que ela sentiu um
calafrio.

Esses recém-chegados eram más notícias. Ela poderia


dizer.

Ela podia sentir isso no próprio ar.

Eles estavam perto do bar agora, e ela percebeu que o


alienígena trocou de idioma para seu implante tradutor pegou
suas palavras.

― Agora, o que temos aqui?

Oh Deus, ela desejou que ele não estivesse se referindo a


ela.

Ela estava ciente de que ele estava ao lado do balcão e


quando ela arriscou um olhar em sua direção, ela encontrou
seus olhos nela.

Foda-se. Nela.
Ela tinha um ímã de atração alienígena em algum lugar
na parte de trás de sua cabeça?

― De onde você veio? ― Suas palavras pareciam


inocentes, mas seu tom não era.

Nia enrijeceu e ela percebeu que a sala de repente ficou


em silêncio novamente, mas os idiotas ao lado dela não
pareciam perceber isso.

Além disso, ela ainda estava nos braços de Ka'Cit. O


alienígena não viu isso?

― Acho que não ouviu você, chefe? ― disse um de seus


comparsas.

― O que um Niftrill está fazendo aqui sozinho.

― Não é um Niftrill. Você é tão cego quanto aqueles


phekkers.

― Eu disse, ― repetiu o bruto, ― de onde você veio?

Uma grande mão pousou na parte de trás de sua cabeça,


agarrou seu capuz e puxou-o para baixo de sua cabeça. Nia
congelou.

Quando ela olhou para cima, o alienígena estava


congelado com a mão ainda segurando sua capa, mas seu
olhar não estava mais nela.

Foi quando ela percebeu que ele estava congelado porque


sua mão não conseguia se mover.
Do outro lado, Ka'Cit a soltou para agarrar o alienígena
pelo pulso.

Agora havia definitivamente tensão na sala. Se ela tivesse


uma faca, ela poderia cortá-lo como um pedaço de bolo.

― Retire sua mão, ou eu a removerei para você.

As palavras de Ka'Cit foram ditas tão devagar, com tanta


certeza, que causaram um calafrio na sala.

O bruto pareceu momentaneamente surpreso, mas


parecia tirar força da presença de seus comparsas.

Em um momento, ela estava parada e no próximo, o


alienígena estava usando o outro braço para puxá-la para ele.

Aconteceu tão rápido que ela caiu de costas contra ele e


a mão dele em volta de sua garganta.

O alienígena olhou para ela, vendo-a corretamente pela


primeira vez e seus olhos se arregalaram um pouco antes de
ele sorrir ao redor de suas presas.

Nia cerrou os dentes e lutou em seus braços.

Ela não queria revelar sua arma, ela ainda a segurava


com uma mão por baixo da capa, mas se precisasse...

Pelo canto do olho, porém, ela percebeu que Ka'Cit estava


encostado no balcão.

Seus movimentos eram lentos, entediados, mas uma


corrente subjacente de letalidade parecia nadar ao seu redor.
Foi o suficiente para assustá-la um pouco.

Enquanto estava em sua altura máxima, Ka'Cit soltou um


suspiro e quebrou os ossos do pescoço.

― Por que eles nunca ouvem? ― ele falou pra si próprio.

O alienígena segurando sua garganta grunhiu e olhou


para seus companheiros. ― Quem diabos é esse? ― Ele riu e
seus comparsas gargalharam ao lado dele. ― Olha, eu te darei
uma chance de sair daqui e voltar ileso para sua corrida de
suprimentos. Mas você deixa esta pequena joia para mim. ―
Ele apertou o pescoço dela um pouco mais apertado e Nia
bateu o cotovelo no peito dele.

Os olhos do bruto ficaram selvagens e ele a abraçou ainda


mais forte. ― Você é, lutadora, pequena?

― Eu avisei duas vezes. ― As palavras de Ka'Cit cortaram


o ar, parando as gargalhadas dos comparsas e acalmando o ar
ao redor deles.

― Duas vezes? ― O bruto alienígena parecia confuso.

― Não foi? ― Ka'Cit perguntou. ― Que pena. ― Ele ainda


tinha o pulso do alienígena em sua mão e, em um movimento,
ele o torceu.

O alienígena grunhiu de dor, mas não a soltou.

Um de seus comparsas se movia ao lado dela e, sem tirar


os olhos do bruto que a segurava, Ka'Cit voltou a falar.
― Dê mais um passo e eu vou te aleijar.

O alienígena ao lado fez uma pausa.

Um dos outros falou. ― Quem ele pensa que é? Mostre a


ele como os Rachzers fazem as coisas, chefe.

O chefe grunhiu em torno da dor em seu pulso.

― Você não nos diz o que fazer, ― ele zombou.

Ka'Cit soltou outro suspiro. ― Eu realmente não queria


fazer isso. Não na sua frente, ta'ii. Ele falou, mas não estava
olhando para ela. Ele ainda estava focado no bruto.

Pelo canto do olho, o alienígena que ele havia alertado


começou a se mover novamente e em uma fração de segundo,
Ka'Cit ergueu seu blaster e disparou.

Ele não tirou os olhos do bruto e ela não sabia como ele
encontrou seu alvo, mas o alienígena ao lado uivou de dor e
caiu no chão.

Por um momento, ninguém se moveu e então um dos três


companheiros restantes soltou um grito ensurdecedor.

Ela não sabia como ouviu, mas a voz de Ka'Cit era tão
comedida, tão segura, que cortou o barulho.

― Faça o que fizer, ta'ii, não se mova.

E então ele era um borrão.


Em um momento, ele estava de pé na frente deles, no
próximo ele soltou o pulso do bruto e ele se foi.

Os três companheiros restantes avançaram, mas Ka'Cit


não estava onde eles pretendiam.

Essa fração de segundo foi um atraso suficiente da parte


deles e a primeira explosão soou na sala quando o blaster de
Ka'Cit disparou.

Ele estava acima deles.

Os olhos de Nia se arregalaram enquanto ela o observava.

Como diabos ele chegou lá tão rápido?

Suas garras foram cravadas em qualquer material que


estivesse no telhado e ele segurou com uma mão, equilibrando
com as pernas em duas vigas.

Um dos comparsas caiu com o primeiro tiro, mas os


alertou sobre sua localização.

O caos explodiu ao redor deles.

Houve confusão e barulho enquanto os outros


alienígenas na sala tentavam se esconder e quando o segundo
tiro disparou, alguém soltou um grito alto que ricocheteou nas
paredes da sala.

Outro tiro disparou e o terceiro comparsa caiu.


O coração de Nia estava em sua boca. Tudo aconteceu tão
rápido que ela mal teve tempo de piscar, mas permaneceu
imóvel, como ele havia instruído.

Quando Ka'Cit caiu do teto para pousar no balcão, o


braço da arma se estendeu e o cano foi subitamente apontado
para o rosto do alienígena que a segurava.

O braço ao redor de seu pescoço afrouxou imediatamente.

― Agora, ― começou Ka'Cit, ― deixe-a ir.

O alienígena a soltou tão rapidamente que ela quase


tropeçou para frente.

― Venha atrás de mim, ta'ii.

Ele não teve que pedir duas vezes.

Quando ele pulou para o chão, Nia correu para o lado


dele.

Ela ainda segurava a arma sob o manto com uma mão,


mas nem precisava tirá-la.

― Eu teria quebrado seus ossos, cada um deles, por ousar


tocá-la, ― ele disse e o olhar bruto se voltou para ela por
apenas um momento. ― Mas, temo não ter tempo para isso.
Ela está prestes a jantar.

Nesse momento, o barman voltou de onde quer que


tivesse ido com duas bandejas fumegantes. Ele quase os
deixou cair quando testemunhou a carnificina diante dele, mas
de alguma forma conseguiu manter o rosto reto.

― Olha, bem na hora. Você quase estragou a refeição dela.


Ka'Cit deu um passo à frente e o bruto estremeceu. ― Você tem
certeza que precisa estar aqui... nesta estação... agora?

O bruto balançou a cabeça. ― N... não. Eu estava apenas


saindo.

― Hum.

A sílaba singular pareceu confundir o bruto e por alguns


momentos, parecia que o tempo parou.

Nia olhou para o alienígena diante dela.

Ka'Cit era aterrorizante.

Ela não tinha visto esse lado dele até este momento, não
que ela estivesse muito perto dele, mas certamente foi
revelador.

Ela estava com medo?

Não.

Ela estava interessada?

…Pode ser.

Ka'Cit pressionou o cano na cabeça do alienígena. ― Você


ainda está aqui.
O alienígena saiu correndo da sala e só quando ele se foi
Ka'Cit baixou sua arma.

Ele parecia ignorar tudo e todos na sala quando se virou


para ela e a puxou para ele.

― Eu sinto muito. Você está bem?

Nia assentiu. ― Estou.

― Phekking Hordreks, ― ele murmurou antes de olhar


para o barman. ― Peça alguém para limpar isso. ― Ele apontou
para os corpos dos comparsas. ― Eu pagarei.

O barman balançou a cabeça. ― Não há necessidade,


Crusher. Eles têm causado problemas nas estações nos
últimos meses. Vou limpá-los de graça.

Ka'Cit balançou a cabeça em um aceno e Nia estava


levemente ciente de que os alienígenas que tentaram se
esconder e se proteger estavam voltando lentamente para seus
lugares.

Ka'Cit enfiou a mão no bolso e pegou uma moeda. Ele o


deslizou pelo balcão até o barman que deu uma olhada nele e
seus olhos se iluminaram.

― Para as bebidas, comida e, ― Ka'Cit olhou para ela, ―


um quarto.

Um quarto?

Por que isso fez seu coração bater no peito, ela não sabia.
― Com prazer. ― O barman pegou a moeda como se
estivesse com medo de que Ka'Cit mudasse de ideia. ― Vou
enviar a refeição na rampa para o seu quarto. ― Ele deslizou
um cartão quadrado para eles.

Ka'Cit assentiu e colocou a mão gentilmente em suas


costas.

― Vamos lá.

Nia olhou para ele. ― Para o nosso quarto?

― Os Hordreks não são os únicos idiotas que frequentam


satélites de serviço. Você estará mais seguro lá e pelo menos
poderá descansar enquanto nossa nave é consertada.

Nia assentiu, mas não tinha certeza de como iria


descansar depois de tudo o que aconteceu.

― Então vamos encontrar uma maneira de obter esse


pacote?

Ka'Cit enrijeceu um pouco e assentiu. ― Então vamos


encontrar uma maneira de obter esse pacote.
CAPÍTULO 25

Ela estava quieta.

A verdade era que ele não tinha ideia de como iria


recuperar aquele pacote quando a chance já havia acabado.

Mas essa não era a única coisa que incomodava sua


mente agora.

Enquanto ele a conduzia do bar para o elevador, ela não


disse uma palavra.

Ele estava ciente de cada ser na sala observando-os


enquanto eles saíam, ciente de cada fungada, cada movimento,
ainda assim, ele não podia se importar menos com nenhum
deles.

Tudo o que ele conseguia pensar era o que estava


acontecendo em sua mente.

A mão dele ainda descansava nas costas dela quando


entraram no elevador e no momento em que a porta se fechou,
ele esperava que ela se afastasse.

Ele não tinha a intenção de matar na frente dela.

Por alguma razão, ao redor dela, ele sentiu o desejo de


esconder esse lado dele, mas os Hordreks o incomodaram.
Quando ele viu o macho agarrar o pescoço dela, algo velho,
algo selvagem, algo que apelava para seu instinto básico tinha
arranhado seu caminho para a superfície.

Ele a observou em silêncio enquanto o elevador subia


ainda mais, feliz por ela ser tão mais baixa que ele pudesse
observá-la livremente.

Os quartos ficavam no nível acima do salão e o elevador


abriu alguns segundos depois.

Nee-ya saiu e parou, seu olhar se movendo de uma ponta


do corredor na frente deles para a outra.

― Aqui embaixo, ― disse ele.

Ele não podia ver seu rosto, o capuz estava sobre sua
cabeça mais uma vez, e ele desejou que pudesse.

Estava causando estragos em sua mente se perguntando


o que estava acontecendo com a dela.

Ele parou em frente a uma das portas e mostrou o cartão


que havia recebido. A porta se abriu imediatamente e a luz
acendeu.

Ka'Cit entrou, seus olhos examinando o pequeno espaço


antes de gesticular para que ela entrasse.

Nee-ya entrou e a porta se fechou atrás dela. Ela


caminhou até ficar no centro da sala, seus passos tão leves que
não faziam nenhum som.
Ela estava tão silenciosa, e só depois de olhar ao redor da
sala por alguns segundos ela se virou, tirou o capuz de sua
cabeça e olhou para ele.

Ka'Cit percebeu que estava prendendo a respiração.

Nada o aterrorizava mais do que esta fêmea e da maneira


mais estranha. Ele não conseguia descrevê-la.

Ele estava nervoso perto dela.

― Sobre antes... ― ele começou.

― Antes? ― Seu olhar se desviou dele e ela começou a se


mover ao redor da sala.

Era escassamente decorado.

Uma laje de dormir estava no centro e uma mesa de


madeira no canto.

Era isso.

Os satélites de serviço não eram conhecidos por serem o


melhor lugar para se hospedar.

Mas a roupa de cama estava limpa e a comida era boa.

― Sobre aqueles Hordreks... sinto muito que você teve que


ver isso.

Sua cabeça virou para ele então e suas sobrancelhas se


ergueram um pouco.
― Você está... se desculpando? Para que? Não se
desculpe. Aqueles bastardos mereciam e se você não fizesse
isso, eu teria feito.

Ka'Cit piscou. Isso... essa não era a resposta que ele


esperava.

― Você foi uma foda total.

Huh?

Ka'Cit olhou para trás.

O que havia de ruim na bunda dele?

A risadinha de Nee-ya fez suas orelhas se erguerem dos


lados de sua cabeça e ele se virou para vê-la cobrindo a boca
para se impedir de rir.

― Desculpe, quero dizer, você chutou o traseiro.

Ele estava ainda mais confuso agora. Ele não tinha


chutado ninguém.

Nee-ya riu novamente e o som fez algo formigar dentro


dele.

― Você foi ótimo, ― ela terminou e Ka'Cit sentiu seu corpo


relaxar um pouco.

Ele empurrou o queixo em aceitação e colocou o blaster


na mesa antes de passar para uma porta transparente na
parede. Com um leve empurrão, o painel deslizou para dentro
para revelar uma pequena área de lavagem e uma calha de
resíduos.

― Você pode se lavar aqui. Vou manter sua comida quente


para você.

Como se fosse uma deixa, houve um som de sucção e a


comida apareceu na parede do outro lado da sala.

Havia uma enseada ali e Ka'Cit foi até ela, removeu a


tampa transparente e tirou as refeições.

O cheiro de refeições Zeregga perfeitamente cozidas


encheu suas narinas.

― Se lavar? Você quer dizer como minhas mãos?

Ele se virou para vê-la espiando na área de lavagem.

― Não, eu assumi que você queria ficar limpa. Estava


quente na parte inferior da nave. Você vai primeiro. Eu me lavo
depois de você.

Mesmo com sua doce pele colorida, ele podia ver que suas
bochechas ficaram mais escuras.

― Você quer que eu tome banho... lá? ― Ela gesticulou


para a área de lavagem e ele seguiu seu olhar. ― É... a porta é
transparente.

Ah sim, era isso. Ele não tinha considerado isso.

― Você vai me ver.


Ka'Cit piscou para ela. Eles provavelmente tinham leis
sobre ver nudez em seu planeta?

― Eu posso olhar para esse lado. ― Ele apontou para a


parede e ela riu um pouco.

― Estou suada. Seria bom tomar um banho.

Pensamentos de água escorrendo por sua nudez


encheram sua mente imediatamente e seu pênis ficou
ingurgitado. Ele teve que limpar a garganta e se afastar dela,
fingindo se concentrar nas refeições.

― Lavar-se. Eu vou esperar.

Ela não respondeu, mas ele logo ouviu quando ela entrou
na cabine.

Por alguns momentos, ela mexeu nos controles antes que


ele ouvisse a água correndo e Ka'Cit se acomodou no chão do
outro lado da cama, olhando para a parede e tentando
imaginar as cenas mais horríveis para impedir de ficar mais
duro.

― Oh Deus, isso é bom, ― ele a ouviu gemer e seu pênis


subiu em suas calças.

Talvez dizer a ela para se lavar enquanto ele estava no


quarto não tivesse sido a melhor das ideias?

Phek.
― Então o que nós faremos? Se não conseguirmos o
pacote, o que acontecerá com esses humanos?

Ka'Cit pigarreou novamente. ― Eles vão encontrar uma


maneira de ajudá-los. Os irmãos da Restituição não desistem.

― O quê?

Ele podia ouvir a água batendo contra o chão e não estava


ajudando as imagens em sua cabeça. Ele nem precisou se
virar. Ele tinha uma imagem clara dela em sua mente.

― Ka'Cit?

― Hum? ― Ela tinha perguntado a ele alguma coisa?

― O que é a Restituição?

― Algumas pessoas pensam que são um mito, mas são


nossa única esperança contra os seres que tiraram você do seu
planeta.

― Então, eles são como soldados ou algo assim?

― Você poderia chamá-los assim.

Houve alguns momentos de silêncio quando mais água


batia no chão e Nee-ya soltava um suspiro. Só conseguia
imaginar que ela atirava a cabeça para trás e deixava a água
correr-lhe pelo rosto, pelo pescoço... por aqueles montes que
ele sentiu quando ela se pressionou contra ele, e foi
diretamente para seu centro.
― Obrigada, ― ela disse, tirando sua mente de onde quer
que estivesse indo.

Ele virou a cabeça ligeiramente, mas não olhou por cima


do ombro.

― Pelo que?

― Por tudo. Não consigo imaginar como teria saído disso


sem a sua ajuda. Você é incrível.

Impressionante ele não era, mas ele não a corrigiu.

― Vou encontrar uma maneira de retribuir a você, ― ela


sussurrou, mas ele pegou as palavras de qualquer maneira.

Não, ta'ii.

Ele não precisava de reembolso para nada.

Esses poucos momentos estavam se tornando os


melhores de sua vida. Esse foi o pagamento suficiente.
CAPÍTULO 26

A comida era como comer carne mastigável. Demorou um


pouco de ranger os dentes para deixá-la macia o suficiente
para engolir, mas o gosto não era ruim.

Ka'Cit, por outro lado, não teve problemas em rasgar os


pedaços com suas presas e enquanto ela lutava, ele terminou
seu prato.

Ele se sentou de pernas cruzadas olhando para ela.

Ela não tinha certeza se ele estava ciente disso, mas sua
cauda estava dançando preguiçosamente no ar atrás dele.

Ela nunca tinha visto assim antes. Riv não tinha cauda e
Sohut parecia ter mais controle sobre a dele. Ka'Cit, por outro
lado, parecia não saber o que sua cauda estava fazendo
quando estava completamente relaxado.

E ela assumiu que ele estava completamente relaxado.


Ela podia ver na forma como ele se sentava.

Seus músculos não seguravam nenhuma tensão e ele


parecia à vontade.

Seu olhar voltou para o rabo dele e ela tentou não olhar
para ele.

Era longo e grosso e parecia bastante poderoso, como se


ele pudesse dar um tapa em alguém e machucá-lo.
Pela maneira como ele se moveu mais cedo, pulando do
chão para o teto e conseguindo se segurar lá em cima, ela só
podia supor que seu povo evoluiu de algum tipo de híbrido
gato-macaco.

Era uma pergunta que ela não tinha certeza se seria


ofensiva, então ela não perguntou sobre isso. Não se ele
evoluiu de gatos e macacos, mas quais foram suas origens.
Afinal, ele era de uma cultura diferente. A última coisa que ela
queria fazer era irritá-lo perguntando algo estúpido.

Ka'Cit estendeu a mão e sua mão pairou sobre sua


refeição.

― Não se preocupe, eu limpei minhas mãos, ― ele


começou. ― Eu posso cortar isso para você.

O olhar de Nia caiu para a comida.

Já estava em pequenos pedaços. Ela notou que ele estava


cortando a comida enquanto ela tomava banho, mas
aparentemente ele superestimou o poder de sua mordida.

― Obrigada. ― Ela assentiu e Ka'Cit puxou o prato para


ele.

Novamente sua cauda acenou no ar atrás dele como uma


bandeira preguiçosa.

― Ka'Cit?

Ele congelou.
― Você não é um fazendeiro, é?

― Eu sou.

Nia deu-lhe um olhar. ― Certo.

Ka'Cit olhou em sua direção antes de continuar cortando


sua comida.

Ele estava usando suas garras e ela olhou para eles.

Eles eram perversamente pontudos e de aparência afiada.

― Que tipo de colheita você semeia então?

Ele se mexeu no chão.

Ele não estava usando a máscara agora e ela podia ver


um pouco da emoção passar por suas feições.

― Eu não semeio. Eu colho... ― ele fez uma pausa, ―...


informação.

Sua resposta a fez rir e ela podia ver um pouco da tensão


deixar seus ombros com o som.

Ele deslizou sua refeição de volta para ela e quando ela


pegou um pedaço de carne na mão e levou-o aos lábios, ele
observou cada movimento dela.

A maneira como ele a observava fez um pequeno


formigamento descer por sua espinha e Nia teve que se
concentrar em realmente mastigar só para não engasgar e
morrer.
― Você quer dizer, você é um caçador de recompensas.

Ele parecia genuinamente surpreso com isso. ― Não. Não


sou pago pelo que faço. Eu não faço isso por créditos.

― Por que você faz isso então?

Ela observou enquanto seu olhar se movia pela parede


atrás dela, embora ele não estivesse olhando para nada na
frente dele.

― Um propósito, ― ele finalmente disse.

Isso não era o que ela pensou que ele diria e ela fez uma
pausa no meio da mastigação. ― Uma propósito?

― Eu... ― Ele parou.

Por alguns momentos, ele não disse nada e ela não queria
pressioná-lo sobre isso.

O que quer que o empurrou para fazer o que ele fazia para
viver deve ser algo que altera sua vida. Colocar-se tanto em
perigo e fazê-lo de graça…

― Esse trabalho... ― ela finalmente disse. ― Você disse


que encontraria um jeito. Mas... é quase impossível, não é?

O olhar de Ka'Cit encontrou o dela, mas ele não


respondeu.

Embora ela podia ver a resposta em seu olhar.

A resposta foi sim.


Não havia como eles ajudarem aqueles outros humanos.

― Se eu pudesse mudar isso... se eu pudesse voltar e fazer


algo diferente... Você vai perder essa chance porque você veio
atrás de mim. Se...

― E eu faria de novo. ― Ele a cortou. ― Você perguntou


por que eu fiz isso...

Nia assentiu.

― Eu disse que fiz isso com um propósito...

Ela assentiu novamente.

― O que eu quis dizer foi... eu faço isso para encontrar


algum propósito. E... eu posso finalmente ter encontrado. Seu
olhar encontrou o dela e um sentimento que ela nunca sentiu
antes começou a crescer dentro dela.

A intensidade de seu olhar era abrasadora e parecia que


suas entranhas iam derreter sob seu olhar.

Um olhar estranho surgiu em seus olhos, um de dor, um


de necessidade e um de tormento. Ele fez como se quisesse se
aproximar dela e então se conteve.

O coração de Nia deu um pulo.

Ela não podia se mover, sabendo que ela queria que ele
se aproximasse, para diminuir a distância entre eles, e a
percepção de que ela também queria a manteve imóvel por
alguns segundos.
E então ela se moveu.

Os olhos de Ka'Cit se arregalaram apenas uma fração


antes que ela pressionasse os lábios contra os dele.

O contato foi eletrizante.

Seu gemido a fez estremecer quando ele a puxou contra


ele, abrindo seus lábios contra os dela.

― Você não tem que fingir ser minha companheira aqui,


― ele ralhou.

― Quem disse que estou fingindo?

Ele endureceu contra ela quando um gemido o


atravessou.

Este beijo foi diferente do último.

Desta vez, não houve hesitação, nenhuma contenção.

Ka'Cit a agarrou e a ergueu em seus braços, um gemido


retumbou em seu peito enquanto sua língua se movia contra
a dela e ela estava vagamente ciente de que eles estavam se
movendo.

Quando suas costas bateram na cama, ela abriu os olhos


para encontrar os dele.

Ka'Cit afastou os lábios e beijou sua orelha.

― Ta'iiii... ― Ele mal raspou uma presa contra sua orelha


e isso fez algo pulsar forte dentro dela.
Então ele estava se movendo.

Ele pressionou o nariz firmemente contra a pele dela


enquanto inalava, respirando-a.

― Eu quero provar você... ― Suas palavras não foram


registradas por alguns momentos, mas quando o fizeram, ela
assentiu, assumindo que ele estava prestes a beijar sua pele.

Mas ele não o fez.

Assim que ela assentiu, Ka'Cit ergueu a cabeça para olhá-


la. Ele estava de quatro sobre ela e quando ele olhou para ela,
seus olhos começaram a ficar selvagens.

― Você deixa?

Nia piscou para ele. ― Sim…

Sua voz era um suspiro ofegante que deixou seus lábios,


mas com essa única palavra, as pupilas de Ka'Cit começaram
a dilatar e um rosnado saiu de sua boca.

Algo acariciou sua perna e quando ela olhou para baixo,


ela percebeu que era o rabo dele.

A súbita visão e sensação disso a fez apertar entre as


coxas quando um tiro de eletricidade foi direto para seu
núcleo.

― Ka'Cit?
Mas ele estava longe demais ou não a ouviu, pois a
próxima coisa que ela soube foi que sua capa estava sendo
levantada.

Lentamente, ele empurrou a palma da mão contra a pele


de sua perna enquanto levantava o manto para cima, e ela o
ouviu inalar profundamente enquanto sua pele estava exposta.

Isso tudo estava se movendo tão rápido, mas em nenhum


lugar em sua mente havia um sinal de pare.

Em vez disso, seu corpo o chamou.

A maneira como ele estava olhando para ela... nenhum


macho jamais olhou para ela assim antes, como se ela fosse a
coisa mais preciosa, a coisa mais bonita que ele já tinha visto.

Ela não estava usando calcinha. Ela os tirou quando


tomou banho e quando o olhar de Ka'Cit pousou em seu
centro, ela não pôde deixar de se contorcer um pouco.

Ele aliviou ainda mais para que ele pudesse vê-la melhor
e uma de suas mãos pousou em sua trilha de cachos, seu dedo
sacudindo sobre seu clitóris enquanto ele fazia.

Um gemido deixou seus lábios, um que ela não conseguiu


segurar enquanto olhava para ele.

Ela se sentia hipersensível entre as pernas, como se


mesmo uma mudança no ar roçando a pele a fizesse
estremecer em resposta.
Ela não conseguia explicar o que estava acontecendo, só
que não queria que acabasse.

de Ka'Cit encontrou o dela novamente, aquele olhar


selvagem, selvagem, e ele passou a língua pelas presas.

― Eu quero provar você, ― ele disse novamente e


finalmente, seu significado registrado.

Os olhos de Nia se arregalaram um pouco, mas ele não


deu a ela a chance de dizer nada, porque ele abaixou, sua
língua passando por seus cachos, bem no meio de sua fenda.

O inesperado disso a fez arquear as costas mesmo


quando o prazer a atravessou.

― Foda-se, ― ela respirou, mas se ela pensou que era o


fim de tudo, que ele tinha seu “gosto”, ela estava enganada.

Um gemido retumbou em seu peito quando ele se abaixou


completamente e agarrou seus quadris com ambas as mãos.

A língua dele passou por seus cachos mais uma vez,


direto de sua entrada até sua fenda, e Ka'Cit gemeu
novamente.

― Phek, ― ele murmurou contra ela e seu hálito quente


beijou sua pele macia.

Ele fez isso de novo, passou a língua grossa pela


suavidade dela mais uma vez, e as palmas das mãos de Nia
apertaram a cama.
Ele gemeu novamente antes de usar sua língua para
espalhar seus lábios e sua boca se fechou sobre ela.

Os olhos de Ka'Cit se fecharam, um olhar de pura


felicidade passando por seu rosto e Nia descobriu que não
conseguia ficar quieta.

Sua boca era todo tipo de estímulo.

Quente, molhada, e sua língua era grossa e firme. Ela não


pôde deixar de se contorcer contra ele, mas ele a segurou firme,
não permitindo que ela se afastasse do prazer que ele estava
causando através dela.

― Ah porra! ― Uma respiração estremeceu através dela, e


quando sua língua encontrou seu clitóris, ela resistiu contra
ele. ― Ah porra!

Isso fez com que sua cabeça se levantasse, seu olhar


selvagem sobre o dela enquanto ele estudava suas feições por
alguns segundos.

― Eu machuquei você? ― Seu olhar caiu de volta para o


centro dela. ― Você é tão suave, tão incrivelmente suave aqui...

― Não machucou. ― Suas palavras soaram como um


gemido em seus ouvidos e seu olhar selvagem encontrou o dela
mais uma vez.

― Bom, ― ele rosnou contra seu clitóris. ― Porque eu não


quero parar.
Ka'Cit a segurou contra a cama enquanto sua língua
mergulhava nela mais uma vez. Agitando e girando em sua
umidade, as sensações a fizeram estremecer e Nia teve que
agarrar suas mãos enquanto ela parava de lutar para conter
seus gemidos.

Parecia bom demais; seu corpo parecia transportado


deste momento para algum lugar no espaço.

Suas mãos agarraram seus quadris, chegando para trás


para amassar sua bunda e os olhos de Nia rolaram para trás
em sua cabeça.

Enquanto sua língua se movia contra ela, ela não era


mais humana, mas um recipiente cheio de prazer e quando ele
rosnou contra ela novamente, a vibração atingiu o feixe de
nervos enquanto sua língua girava sobre ela.

Era demais.

Ela não podia se conter, ela não seria capaz e Nia jogou a
cabeça para o lado, mordendo a cama quando um grito saiu de
seus lábios.

O orgasmo a pegou despreparada e não parou de gozar.

O mel quente encheu sua espinha, descendo direto para


o centro, onde a ingurgitou e transbordou.

Ka'Cit gemeu novamente e quando ele passou a língua


sobre ela novamente, Nia puxou em seu aperto.
Ele levantou a cabeça então, para olhar para ela, e seus
olhos eram poços completamente escuros de prazer.

Ele estava gostando tanto quanto ela...

Esse pensamento foi surpreendente.

Seu peito arfava com o esforço enquanto ela olhava para


ele e o desejo de fazê-lo sentir o que ele tinha acabado de fazer
sua experiência veio forte.

― Eu quero provar você também, ― disse ela.

Mas em vez de aproveitar a chance, seus ombros


enrijeceram.

Ka'Cit ficou de joelhos para olhar para ela.

― Eu... eu estou bem.

A cauda dele estava acariciando sua perna agora,


esfregando-a suavemente e quando seu olhar caiu, ela foi
saudada com outra coisa.

Ela podia ver sua dureza pressionando através de suas


calças.

― Você não parece bem.

Ele se levantou da cama então e respirou estremecendo.

― Eu deveria ir antes que eu...

O que?
A confusão fez sua testa franzir e a euforia que ela
acabara de experimentar começou a desaparecer.

― Antes do que?

Ele olhou para ela e ela podia ver sua garganta se mover.

― Antes que eu faça algo que você vai se arrepender.

Suas palavras a intrigaram.

― Algo que eu me arrependerei?

Ela lutou para entender e então o significado mais lógico


veio a ela.

Gravidez.

― Oh, não temos que nos preocupar com... como... um


bebê ou qualquer coisa. Não consigo engravidar.

Seus olhos se arregalaram tanto que ela foi


momentaneamente silenciada.

― Você o que?

― Quero dizer, eu tenho a bobina. ― Ele só parecia


confuso agora. ― Um DIU... me impede de engravidar.

Havia tantas emoções em seus olhos agora, era difícil


identificar apenas uma.

― Eu consegui cerca de dois anos antes de ser levado e


eles devem durar um tempo. Não caiu, então estou bem.
Ele ainda estava olhando para ela estranhamente.

― Não é por isso... porque você não quer...

Por alguns momentos, ele não disse nada, e então sua


cabeça baixou. ― Você acha que eu tenho medo de semeá-lo
com meus parentes. ― Ele disse isso como se fosse uma
percepção para ele e sua voz estava tão baixa que ela teve que
se esforçar para ouvir.

― Bem... ― Ela realmente não sabia o que dizer. ― Não é


por isso?

― Não. ― Sua voz estava rouca e quando seu olhar


encontrou o dela mais uma vez, a tristeza em seu olhar era tão
palpável, foi chocante.

― Você pegou essa bobina porque não quer crianças?

Nia balançou a cabeça.

Este não era o tipo de conversa que ela esperava ter no


momento.

― Não. Eu quero filhos, no futuro algum dia. Só não


agora.

Ela viu algo morrer em seus olhos enquanto ele lambia os


lábios. Era como se ele estivesse lutando uma batalha mental
diante dela.

O gosto dela ainda estava em sua boca, ela tinha certeza,


mas ele estava tentando lutar contra sua própria necessidade.
Era evidente quando seu pau estremeceu em suas calças
novamente.

Ele lhe deu um sorriso que continha mais tristeza do que


qualquer outra coisa.

― Eu deveria ir... acalme-se.

Ele grunhiu e se moveu.

Deslizando do outro lado da cama, ele pegou sua máscara


e foi em direção à porta antes que ela pudesse protestar.

Ela o observou ir, incapaz de dizer uma palavra enquanto


a mágoa, a rejeição e a vergonha a enchiam.

Quando a porta se abriu e ele saiu, Nia reajustou sua


capa para se cobrir.

Ela puxou os joelhos contra o peito quando ele se virou e


olhou para ela.

O olhar em seus olhos era um que ela não conseguia ler,


mas ele segurou seu olhar por alguns momentos antes que a
porta se fechasse e ele saísse, deixando-a se perguntando o
que diabos tinha acontecido.
CAPÍTULO 27

Ka'Cit encostou -se na parede do lado de fora da porta.

Ele era um tolo phekking.

Ele quase tinha ido longe demais, mais longe do que teria
sido sábio.

Se ele se permitisse, ele teria se sentado dentro dela e


Raxu sabia, se ele tivesse feito isso ele não seria capaz de
deixá-la ir.

Enquanto voltava para o salão, ele ajustou a máscara e


se preparou.

Ele teve que colocar alguma distância entre eles.

Ele tinha mais dois dias nesta estação com ela e já tinha
ido longe demais. O que diabos ele ia fazer agora?

As portas do salão se abriram e o silêncio encheu a sala


como antes.

Ka'Cit os ignorou enquanto se dirigia ao bar.

O barman parecia menos nervoso desta vez.

― Há algo de errado com o quarto, Crusher?

Phek, ele odiava esse nome.

Realmente odiava.
O barman deve ter visto o olhar em seus olhos porque
empalideceu um pouco.

Ele notou que já tinham descartado os corpos dos


Hordreks.

― Dê-me um desses. ― Ka'Cit apontou o dedo para uma


das bebidas expostas.

Era um amarelo, e ele não tinha ideia do que era.

Não importava.

Ele não ia beber de qualquer maneira.

Não que ele quisesse.

Ele ainda tinha o gosto dela em sua boca... ainda podia


ouvir seus gritos enquanto a dava prazer...

Phek.

Seu pênis latejava em suas calças, esticando-se contra o


material e era quase doloroso suportar.

Ele estava em péssimo estado.

E o olhar que ela deu a ele quando ele foi embora...

Ela estava ferida.

Ele a machucou.

Essa era última coisa que ele pretendia fazer.


Ele soltou um suspiro, ciente de que a conversa estava
começando a voltar no salão mais uma vez.

O que ele tinha feito?

Não é que ele não soubesse o que ela queria, não é que
ele também não quisesse... é só que ele não podia.

Apesar de ter se protegido contra ter filhos, isso não era


da conta dele.

Pois ele sabia... se ele a tivesse tomado, se ele tivesse


cedido à sua doçura, ele sabia que dizer adeus no final
definitivamente o rasgaria de dentro para fora.

Ele não foi feito para ter uma companheira.

Ele foi feito para ser um Solitário.

Estava predestinado.

Raxu ordenou isso desde o momento em que foi semeado


dentro de sua mãe.

Então por que…

Por que os deuses o tentariam agora...?

Por que fazê-lo ansiar por algo que ele nunca poderia ter?

E agora que ele fez o indizível e a provou...

PHEK!
Ele deu um soco no balcão e a conversa atrás dele parou
de repente.

Ka'Cit rosnou baixinho.

Ele não podia voltar para o quarto. Não até que ele
esfriasse.

Não até que ele estivesse no controle.

Tinha sido horas, pelo menos, ela tinha certeza.

Após os primeiros minutos olhando estupefata para a


saída, ela finalmente voltou para o chão para terminar sua
refeição.

Isso levou algum tempo.

Mesmo que Ka'Cit tivesse cortado a carne em pedaços


ainda menores, ela ainda tinha dificuldade em pegá-los.

O gosto era bom, então a façanha não foi difícil de


suportar.

Quando ela terminou, ela pulou de volta na cama e


começou a trançar o cabelo.
Ela o deixou de fora por muito tempo e o chuveiro
encolheu os fios. Alguns deles estavam atados, então ela teve
que tomar seu tempo e penteá-los com os dedos.

Levou uma eternidade, mas a impediu de enlouquecer


apenas esperando.

Agora, seus olhos se abriram, mas ela não se moveu.

Parecia que ela tinha adormecido depois de arrumar o


cabelo.

O movimento pegou seu olhar ainda sonolento e ela se


concentrou nele.

Ela não estava mais sozinha e seu coração batia forte em


seu peito quando ela percebeu que ele havia retornado.

Ali, em frente a ela e atrás da barreira transparente do


banheiro, Ka'Cit estava se lavando.

Ele estava de costas para ela e a água escorria por seu


cabelo e descia por seu corpo em longos riachos.

Seu olhar seguiu o fluxo de fluido antes de pousar em seu


traseiro tenso. A cauda dele pendia baixa, balançando
preguiçosamente e o pensamento de que ela deveria desviar o
olhar veio em sua cabeça.

Mas ela permaneceu congelada, incapaz de parar de olhar


para sua perfeição.

Ele era ainda mais bem construído do que ela imaginava.


Enquanto ele se lavava, os músculos de suas costas
flexionaram, chamando sua atenção.

Era como se ele tivesse sido esculpido por um mestre


escultor e ela não pudesse desviar os olhos.

Seu olhar caiu de volta para seu corpo, pousando em sua


cauda mais uma vez enquanto suas últimas palavras para ela
ressurgiam em sua memória.

― Ele disse que tinha que sair antes de fazer algo que ela
se arrependesse.

Agora, o que ele quis dizer com isso?

Sua cauda estava mole agora e roçava a barreira com


cada movimento que ele fazia.

Ela o viu balançar enquanto repetia as palavras em sua


cabeça.

...algo que ela iria se arrepender.

Pela vida dela, ela não conseguia entender por que esse
seria o caso.

Seu olhar se ergueu assim que ele se virou e sua


respiração engatou em seu nariz.

A água jogou pelos músculos de seu peito enquanto


descia por seu corpo em direção ao seu pau muito grosso,
muito duro.
Era pesado e grosso, pendurado entre suas pernas como
a Torre Inclinada de Pisa.

Os olhos de Nia se arregalaram quando ela o viu e seu


olhar voou para o dele.

Graças a Deus seus olhos estavam fechados ou ele a teria


pego olhando.

Ele obviamente achava que ela ainda estava dormindo.

Ela deveria desviar o olhar.

Ela realmente deveria dar a ele um pouco de privacidade.

Mas seu olhar foi atraído por ele como um ímã.

Oh porra, ele era enorme.

Talvez seja por isso que ele disse que ela poderia se
arrepender?

Possivelmente. Ela realmente não achava que ele poderia


se encaixar, mesmo que eles tentassem.

Ela viu quando ele se inclinou para frente para descansar


a testa contra a barreira transparente e suas sobrancelhas
franzidas.

Uma mão agarrou-se ao redor da base e a outra


pressionou contra a barreira.

Ela deveria desviar o olhar. Ela definitivamente deveria


desviar o olhar agora.
No entanto, ela não podia.

Os olhos dela estavam grudados na mão dele onde ele se


apertou e seus lábios se separaram um pouco enquanto ela o
observava.

Ela nunca tinha visto nada mais erótico em sua vida.

Mas ele não continuou.

Ele apenas se manteve em sua base.

Ele não apertou a mão, ele não terminou, e quando Nia


ergueu o olhar, ela percebeu o porquê.

Aqueles olhos diopside(minério verde) estavam olhando


diretamente para ela.

Porra.

Ela foi pega.

Pela vida dela, em vez de manter alguma dignidade e se


afastar dele naquele momento, ela se viu segurando seu olhar.

Ka'Cit soltou um suspiro trêmulo – o primeiro som que


ela o ouviu fazer desde que acordou para encontrá-lo tomando
banho.

Os músculos de sua mão flexionaram e seu olhar voltou


para seu punho.

Com a atenção dela, seu pênis estremeceu em sua mão e


a boca de Nia ficou seca.
Ela ergueu o olhar lentamente, assustada com o que veria
nos olhos dele e precisando descobrir também.

Seu olhar a tomou, a consumiu e a manteve prisioneira.

― Você não deveria me olhar assim, ta'ii.

Sua voz era profunda, baixa, e enviou um calafrio


delicioso por seus ossos.

― Por que? ― ela sussurrou, surpresa por sua ousadia.

Ele se levantou e a água fechou atrás dele.

Enquanto os últimos riachos escorriam por seu corpo,


eles se entreolharam, sem dizer nada, mas dizendo muito ao
mesmo tempo.

― Porque se eu sair desta sala, dessa cabine de lavar,


temo que vou…

― Fazer eu me arrepender de alguma coisa?

Ele endureceu com as palavras dela e por um momento,


ele ficou parado, sem dizer nada.

Então ele assentiu lentamente. ― Exatamente.

Nia levantou a cabeça da cama. ― Do que exatamente eu


me arrependerei, Ka'Cit?

Ele inalou profundamente e seu olhar disparou para a


mesa colocada contra a parede.
Ela seguiu seu olhar e percebeu que ele estava olhando
para sua máscara.

― Você não vê isso, não é? ― Não era uma pergunta, mas


quando suas sobrancelhas franziram e ela olhou para ele, ela
percebeu que ele ainda não havia terminado. ― E você não vê
isso. ― Ele ainda estava se segurando, sua dureza não
diminuindo, e ele usou a mão livre para apontar para o rosto.

― Não vê o quê?

Ele não respondeu.

― Não entendo. ― Ela olhou para sua máscara, em


seguida, de volta para ele. ― Tudo o que eu vejo é você.

Algo passou por seu olhar que ela não conseguia entender
e outra respiração estremeceu através dele.

Ele deu um passo à frente, depois outro, até que estava


de pé ao lado da cama.

Havia estática no ar, partículas carregadas que ela não


conseguia ver, e parecia que seu coração estava batendo tão
forte no peito que ela corria o risco de ter um mini ataque
cardíaco.

― Você também sente…

Seus olhos se arregalaram com isso, mas ela sabia


exatamente a que ele estava se referindo.
Foi esse sentimento. Esse sentimento indescritível que a
fez fraca e carente. Isso a fez querer estender a mão para ele.

E com esse pensamento, Nia percebeu que sua mão havia


se movido para frente.

Parou no ar, a centímetros de sua pele.

― Nós não deveríamos fazer isso... ― ele disse.

Nia balançou a cabeça. ― Você provavelmente está certo.

Ela não tinha ideia das consequências disso, mas a vida


era curta e ela viveu tudo isso na Terra sem saber que um dia
ela seria arrancada de cada pessoa que ela amava.

O espaço não era melhor.

Ela chegou muito perto de perder a vida em várias


ocasiões.

Se toda essa experiência de abdução disse a ela alguma


coisa, disse a ela que ela deveria fazer o que parecia certo... e
agora, isso parecia certo.

Seus dedos pairaram na frente dele, perto o suficiente


para que ela pudesse tocá-lo sem se inclinar para frente, mas
ainda longe o suficiente para que ele pudesse recuar e quebrar
o potencial contato.

Mas Ka'Cit não se mexeu.

Em vez disso, ele engoliu em seco.


― Nee-ya, ― ele disse.

Foi uma súplica, a maneira como ele disse o nome dela,


uma súplica e um aviso.

Ela encontrou seu olhar.

Havia tanto tormento ali.

― Nós não temos que fazer nada se você não quiser...

Ele gemeu então e agarrou sua mão estendida tão rápido


que ela inalou bruscamente.

― Você não entende, ― disse ele. ― Isso dói.

― O que machuca?

― Eu quero tanto que dói. Eu quero você mais do que eu


quero ar. Mas…

― …mas?

Ele não respondeu. Ele simplesmente olhou para ela com


aqueles olhos torturados dele.

― Chega de mas, ― ela sussurrou e suas orelhas se


contraíram. ― Chega de mas.

Algo mudou no ar entre eles e então ele estava subindo


sobre ela.

Nia se inclinou para trás, sem ousar respirar, e não


precisando enquanto olhava para aqueles olhos.
Quando Ka'Cit abriu sua capa e ela ficou nua diante dele,
ela sabia que estava errada naquela primeira vez quando eles
se beijaram e ela sentiu algo mudar entre eles.

O sentimento então tinha sido apenas a ponta do iceberg


porque, neste momento, ela sabia que sua vida mudaria para
sempre.
CAPÍTULO 28

Ela era perfeita. Pequeno, mas perfeito.

Ka'Cit olhou para ela, seu olhar se movendo sobre os


montículos em seu peito e seus pequenos picos escuros,
descendo por sua barriga e para o vale, seu centro, escondido
por seus cachos escuros.

A memória do gosto dela nadou em sua mente e ele


gemeu.

Ele queria ir devagar, saborear cada momento, mas ainda


estava tendo problemas para se controlar.

Ele passou horas no salão, tentando se acalmar, mas


nada tinha ajudado. Ele finalmente voltou na esperança de que
a água fria funcionasse.

E agora, aqui estava ele. O lugar exato onde ele disse a si


mesmo que não deveria estar.

No entanto, ele realmente achava que seria capaz de


resistir?

Seu pênis balançava, batendo contra sua coxa


insistentemente, mas teria que esperar.

Ele realmente queria ir devagar.


Quando ele abaixou a cabeça em seu pescoço, ele podia
ouvir sua respiração engasgada e isso fez seu pênis subir
novamente.

Ele enterrou seu nariz contra sua pele enquanto seus


dedos enfiavam em seu cabelo, embalando sua cabeça.

Ela cheirava tão bem, um perfume único que o fez querer


apenas enterrar o rosto contra sua pele por horas a fio.

Seu pênis empurrou novamente, esfregando contra sua


perna e ela estremeceu um pouco.

O alarme passou por ele e ele levantou a cabeça para


olhar nos olhos dela.

Mas ela não estava com medo.

Não era medo naqueles olhos.

Era necessidade.

Necessidade pura e não adulterada.

― Nee-ya…

Suas mãos achatadas contra o peito dele, traçando sobre


sua pele enquanto ela olhava para ele.

― Me beija. ― Seu olhar caiu para os lábios dele.

Beijo?

Seu olhar ficou lá e a compreensão surgiu.


O acasalamento da boca. Boca phekking.

Um gemido retumbou através dele quando ele baixou a


cabeça para a dela.

Sua língua era suave, macia, e era muito bom roçar a


dele.

Um de seus braços subiu para envolver o pescoço dele


enquanto o outro desaparecia entre eles.

Ele estava tão consumido com o gosto dela em sua boca


que quando a mão dela agarrou seu pênis, ele estremeceu tão
forte que ela tremeu contra ele.

Sem quebrar o contato de seus lábios, Nee-ya se arrastou


para baixo dele até que suas pélvis se alinhassem. A cabeça
dela estava inclinada para trás e ele teve que se curvar para
que pudessem manter esse beijo, mas ele não queria que fosse
de outra maneira.

E parecia que ela também não.

Resumidamente, ele se perguntou o que ela estava


fazendo, mas quando sentiu o calor entre suas coxas deslizar
contra sua dureza, todos os outros pensamentos deixaram sua
mente.

Ela estava esfregando a parte inferior de seu eixo contra


suas dobras doces e ele teve que fazer uma pausa quando o
prazer absoluto o fez estremecer novamente.
Enquanto suas línguas giravam e acariciavam uma
contra a outra, Nia moveu seus quadris, massageando seu
membro com seu calor suave.

Um gemido o deixou e ele a agarrou pelos quadris.


Surgindo contra ela, ele dirigiu seu eixo através de suas dobras
e ela gemeu alto contra seus lábios.

Afastando-se, ele fez isso de novo, e de novo, até que toda


vez que ele avançava, ela choramingava e tremia.

E ele aproveitou cada segundo disso.

Ouvi-la choramingar, ouvir seu gemido era como um doce


tormento que o estava levando ao limite e quando ela quebrou
o beijo para gritar contra ele foi a única vez que ele levou um
momento para desacelerar.

O cheiro de sua excitação era forte quando ela estremeceu


e Ka'Cit moveu a mão em direção ao seu núcleo.

Ela estava tão macia e molhada lá e quando ele deslizou


um dedo suavemente dentro dela, ela gemeu contra ele mais
uma vez.

― Muito? ― ele sussurrou.

Nee-ya balançou a cabeça. ― Não o suficiente.

Phek.

Ela não deveria dizer essas coisas. Não quando ele estava
lutando tanto para manter o controle.
Ela envolveu suas coxas ao redor dele e ele não resistiu
mais. Levantando-se de joelhos, ele a levou com ele.

Seu peito estava arfando, seu corpo ainda estremecendo


de sua liberação, e ela parecia um pouco surpresa, mas
colocou as mãos em volta dos ombros dele.

Ka'Cit baixou a cabeça até o pescoço dela e passou a


língua pela pele dela.

Com uma mão, ele dirigiu seu pênis para sua entrada e
um gemido o estremeceu quando sentiu sua maciez.

Ela era tão pequena, ele não tinha certeza se poderia fazer
isso sem machucá-la.

― Você não vai me machucar, ― ela sussurrou e ele


percebeu que tinha falado em voz alta.

Ele ainda estava hesitante e colocou um dedo entre eles


e deslizou em seu calor suave.

― Tem certeza?

Outro gemido estremeceu através dele quando sentiu o


canal dela agarrar seu dedo.

Phek.

Ela era muito pequena. Ela não seria capaz de tomá-lo.

― Tenho certeza.
Ela se contorceu contra ele então, fazendo com que sua
ponta roçasse contra seu calor e o contato fez os dois gemerem.

Ka'Cit subiu lentamente, movendo-se para que pudesse


olhar em seu rosto enquanto se movia.

Suas sobrancelhas franziram um pouco e ela mordeu o


lábio inferior enquanto ele avançava um pouco mais.

Phek. Ele não sabia quanto tempo iria durar antes de


derramar. Ele já estava oscilando no limite apenas fazendo
contato com sua entrada.

Quando ele se afastou e empurrou para frente mais uma


vez, Nee-ya inalou profundamente e seus olhos reviraram.

― Mais? ― ele sussurrou.

Com um gemido de prazer, ela assentiu.

De volta para frente, para dentro e depois para fora, ele


levou seu tempo permitindo que a umidade dela cobrisse seu
eixo enquanto seu corpo se acostumou com seu comprimento.

Com cada golpe, seu corpo estremeceu contra o dela.

Era uma doce tortura, abrindo caminho em sua


suavidade.

Cada golpe a fazia gemer. Cada golpe o fazia ver as


estrelas.

O tempo não existia e quando ele finalmente estava


sentado dentro dela, ele a segurou ainda contra ele.
Nee-ya abriu os olhos para olhar para ele. Seus cílios
estavam baixos e seu lábio inferior ainda estava entre os
dentes.

Ka'Cit parou por um momento.

Ele precisava saber que ela estava bem.

― Diga-me se dói, ta'ii. ― Ela não era nem perto do


tamanho de qualquer fêmea Merssi, e ele percebeu que isso
não era algo que ele pensava que estaria se preocupando, mas
ele estava.

― Não o bastante.

― O que?

― Eu não quero que você pare.

Seus olhos se arregalaram uma fração quando suas


presas brilharam.

Suas palavras foram suficientes para enviá-lo ao limite e


ele teve que exercer um controle rígido e saiu dela
completamente antes de avançar.

O corpo de Nee-ya tremeu quando ela o pegou.

Seu corpo ficou mole contra o dele quando sua cabeça


caiu para trás e ela gemeu.

Ka'Cit rosnou, segurando seus quadris rápido enquanto


ele se enterrava em suas dobras uma e outra vez, levando-a ao
máximo antes de se afastar e fazer tudo de novo.
― Neeeeee-yaaaaa, ― ele gemeu e ela agarrou seus braços,
seu olhar bêbado encontrando o dele.

Ela se levantou mais uma vez para envolver os braços em


volta do pescoço dele e com cada impulso, ela moía aquele
pequeno botão entre as pernas contra sua pélvis com cada
golpe que ele dava.

Ele não conseguia tirar os olhos dela e só quando ela


mergulhou a cabeça em seu pescoço, seus olhos deixaram seu
rosto.

Uma dor aguda atravessou seu ombro quando dentes


cegos encontraram sua pele e combinados com a sensação dela
ao redor dele, Ka'Cit soltou um gemido que pareceu sacudir as
paredes ao redor deles.

Sua semente estava quente quando disparou de seu pênis


profundamente dentro dela, o resultado de uma mistura de dor
misturada com prazer. Seu clímax foi perseguido por seu
próprio orgasmo e ela se apertou ao redor dele, enviando mais
ondas através de seu pênis e direto através de seu corpo.

Ka'Cit caiu para frente contra a cama, embalando-a


contra ele para não esmagá-la com seu peso.

Phek.

Ele não conseguia falar.

Ele mal conseguia respirar.


Eles ficaram assim por alguns minutos, seus corpos
arfando no rescaldo, e uma dura realização ocorreu-lhe
quando ele a segurou em seus braços.

Ela era isso.

Ele havia encontrado sua gnora.

Depois de todo esse tempo pensando que ele não tinha


nenhuma, aqui estava ela.

Mas o destino tinha que ser tão cruel...

Nee-ya era perfeita. Quanto mais tempo ele passava perto


dela, mais viciante ela se tornava.

Ela merecia o melhor e merecia sua escolha de qualquer


um.

Mas o melhor não era ele.

No entanto, ele estava phekking egoísta e em seu


egoísmo, ele não queria deixá-la ir.

Só mais alguns momentos, disse a si mesmo. Apenas mais


alguns momentos antes que ele tivesse que dizer adeus.
CAPÍTULO 29

Ka'Cit a abraçou enquanto rolava para o lado.

Ele ainda estava dentro dela, ela podia sentir sua dureza,
e isso, assim como uma miríade de outras emoções, a deixou
atordoada.

Ela esperava que ele se levantasse da cama assim que


terminasse, era o que ela estava acostumada, mas, em vez
disso, ele estava se aconchegando nela como se estivesse se
acomodando para a noite.

Nenhum deles disse uma palavra quando ela se


acomodou contra ele, permitindo que seu corpo relaxasse no
dele, não ousando se mover e não querendo que o momento
terminasse.

Enquanto as luzes do quarto diminuíam lentamente até


que o quarto estava envolto na escuridão, Nia manteve os olhos
abertos e olhou para frente.

Ela não podia acreditar no que tinha acabado de


acontecer entre eles.

Quando ela deixou o Santuário para ir ao Mercado, dividir


a cama com um alienígena quente e azul tinha sido a última
coisa em sua mente.
Agora, aquele alienígena azul estava curvado ao redor
dela e ela não conseguia pensar em um lugar melhor para
estar.

Um sorriso enfeitou seus lábios quando ela finalmente


fechou os olhos e se permitiu relaxar um pouco mais.

Ela estava muito consciente de cada respiração que ele


dava, de cada vez que seu peito subia e descia contra suas
costas, e de sua respiração roçando seu cabelo.

Ele estava dormindo.

Ela tinha que admitir, tinha sido um longo dia. Ela


dormiu duas vezes desde que o conheceu e ele esteve acordado
o tempo todo.

Nia se mexeu um pouco e sentiu quando ele começou a


deslizar de dentro dela. Braços fortes a agarraram enquanto
ele gemia e seu rabo envolvia sua perna, mantendo-a imóvel.

― Nee-ya, ― ele sussurrou.

Ah, então ele não estava dormindo.

Sua cauda subiu pela perna dela para roçar sua barriga.
Fez cócegas de um jeito bom.

― Eu pensei que você estava dormindo. ― Ela roçou os


dedos na ponta de sua cauda e Ka'Cit gemeu um pouco mais
uma vez.
― Não consigo dormir. Não quero. O sono não é o que está
em minha mente.

Ele mergulhou a cabeça em seu pescoço e inalou antes


de lambê-la com a língua.

A sensação enviou formigamentos através de seu corpo.

Quando a mão dela se fechou ao redor do rabo dele e


viajou ao longo dele em direção ao corpo dele, Ka'Cit congelou
como se não ousasse se mover.

Quanto mais a mão dela ia, mais grossa sua cauda ficava,
até que ela estava chegando para trás para fechar a mão ao
redor da base de sua cauda completamente.

Um som retumbou em sua garganta, algo entre um


murmúrio e um gemido, e Nia girou o suficiente para poder
olhar para ele.

As luzes voltaram com seu movimento e ela foi recebida


com seus olhos completamente dilatados.

― Você é sensível aqui, ― ela sussurrou.

Ka'Cit gemeu e sua mão se fechou sobre o centro dela.


Um dedo se moveu para frente para roçar seu clitóris.

― E você é sensível aqui, ― ele rosnou.

Um gemido ficou preso em sua garganta quando ele


mergulhou o dedo em sua boca, molhando-o antes de devolvê-
lo ao pequeno feixe de nervos.
Enquanto ela gemia novamente, ela tinha certeza que ele
ficou mais duro dentro dela.

― Como você pode estar pronto de novo tão cedo?

Ka'Cit soltou um som que ela só poderia descrever como


um estrondo de necessidade enquanto ele a beliscava no
ombro. ― Só pensar em você me deixa duro, ta'ii.

Ele pegou a pele macia do pescoço dela entre os lábios,


passando a língua sobre a pele dela enquanto seu dedo
brincava delicadamente com o broto dela e quando ele
começou a moer os quadris mais uma vez, Nia se viu agarrada
a ele.

Seus golpes a levaram à loucura. Tudo que ela podia


pensar era a espessura deslizando profundamente dentro dela,
escorregadia de seus sucos e ela já podia sentir seu prazer
crescendo.

Suas costas arquearam e Ka'Cit levantou a cabeça para


olhar seus mamilos.

Suas presas brilharam e Deus sabe, algum velho instinto


dentro dela lhe disse que deveria ter medo, mas o prazer era
uma boa distração.

Quando ele correu uma presa sobre seu mamilo, um


gemido retumbou dentro dela assim que ele tomou seu mamilo
em sua boca.
Era demais... muitos pontos de estimulação... e um
orgasmo a atravessou, sacudindo seu corpo enquanto ela se
contorcia contra ele.

― Phek, ― ela o ouviu gemer e então ela estava sendo


girada de barriga para baixo enquanto Ka'Cit se acomodava
atrás dela.

Braços fortes agarraram sua bunda, abrindo sua boceta


para ele enquanto ele rosnava e se sentava mais fundo dentro
dela.

― Você é tão linda, ― ele sussurrou enquanto se inclinava


para pegar o lóbulo de sua orelha em sua boca.

Ele avançou, esmurrando-a com uma intensidade que


aumentou e alongou seu próprio orgasmo e logo ela estava
gritando seu nome.

Com um golpe final que a enterrou na cama, Ka'Cit soltou


um rugido enorme, e Nia sentiu seu pênis empurrar dentro
dela, liberando seu gasto.

Pela segunda vez, ele caiu em cima dela e rolou para o


lado, puxando seu corpo flácido com ele.

Desta vez, no entanto, seu pênis escorregou suavemente


dentro dela e outro gemido deixou seus lábios.

Nia girou para poder descansar a cabeça no peito dele,


um sorriso bobo que ela não conseguia apagar estava
estampado em seu rosto.
― Você é perfeito, ― ela sussurrou.

Ka'Cit enrijeceu um pouco e soltou uma risada pelo nariz.

― Quem me dera, ― foi tudo o que ele disse.

Seus braços se fecharam ao redor dela enquanto a


abraçava.

― Ka'Cit?

― Hum?

Mas ela nem sabia o que ela queria perguntar a ele. Ela
adivinhou que ela só queria ouvir a voz dele, e ao som dela, ela
se aconchegou contra ele um pouco mais.

― Durma, ta'ii.

Nia assentiu enquanto se acomodava contra ele. ― Temos


mais dois dias nesta estação, certo?

― Sim. ― A mão dele estava se movendo preguiçosamente


pelas costas dela.

― O que faremos por dois dias?

Houve uma pausa, em seguida, sua cauda moveu-se


contra sua perna para fazer cócegas em seu traseiro.

― Posso pensar em algumas coisas.

Nia não pôde deixar de morder o lábio inferior para abafar


a risadinha e a onda de antecipação que a atravessou.
Ela podia pensar em algumas coisas também.
CAPÍTULO 30

Ela não tinha certeza de que hora do dia era na superfície,


mas quando ela acordou, ela ainda se sentia um pouco
cansada.

Nia bocejou e se espreguiçou preguiçosamente enquanto


apertava os olhos. O quarto estava iluminada com um brilho
fraco e havia uma parede dura de calor atrás dela.

Ka'Cit.

O pensamento dele a fez sorrir e ela se virou para encará-


lo.

Ele estava acordado, olhando para ela no momento em


que ela ergueu o olhar, e ela se viu apenas olhando para trás,
incapaz de falar, mas sentindo-se mais confortável do que
nunca.

― Você não dormiu por muito tempo. ― Ele correu um


dedo pela bochecha dela em um movimento lento enquanto
falava.

― Você dormiu?

― Não. ― Os cantos de seus lábios se contraíram um


pouco.

Ele alguma vez dormiu? Ela não o tinha visto dormir


desde que o conheceu.
― Você deve estar cansado.

― Estou. Mas…

― Mas o que?

― Não queria perder tempo.

Nia sorriu um pouco. ― Bem, temos mais dois dias aqui


esperando que a nave seja consertada. Temos todo o tempo do
mundo.

Os cantos de seus lábios se moveram levemente e o olhar


que ele estava dando a ela deu a impressão de que ela havia
interpretado mal o que ele quis dizer.

Mas ele não se moveu para explicar e ela deixou por isso
mesmo, optando por apenas olhar para ele enquanto seu dedo
se movia em sua bochecha.

Ele estava pensando em algo, preso em seus


pensamentos bem no fundo de sua mente, e enquanto ela
olhava para ele, era difícil fundir a pessoa que ele era agora
com o mesmo macho que ela viu atirar em três alienígenas no
salão.

Agora, todo enrolado na cama com ela, ele parecia o


fazendeiro que ela pensava que ele era.

Calmo, inocente, descontraído.

Ele era como um quebra-cabeça que ela queria


desesperadamente resolver.
Seu olhar de repente se concentrou como se estivesse
saindo da água e ele piscou.

― Está com fome?

Não de comida.

― Não. Ainda estou cheia da refeição Zeregga. Acho que


não ficarei com fome de novo por um tempo. Foi bastante.

Ka'Cit assentiu, seu olhar se movendo para o cabelo dela.

Uma de suas tranças se moveu quando ele a pegou entre


os dedos.

― Seu cabelo mudou.

― Tive que trançar.

Ele parecia em transe enquanto brincava com a trança


por alguns momentos.

― Eu nunca fiz nada no meu cabelo antes. ― Ele disse


isso quase distraidamente enquanto brincava com a trança e
o sorriso de Nia cresceu.

― Eu poderia trançar o seu, se você quiser...

Os olhos de Ka'Cit se arregalaram um pouco e entre eles,


algo se contraiu contra sua coxa.

Agora era sua vez de mostrar surpresa.

Ele esteve duro o tempo todo?


― Gostaria disso. ― A voz dele estava tão cheia de
necessidade que ela considerou pular o penteado para brincar
com outra coisa que não seu cabelo. Mas também havia
antecipação em seus olhos.

Então foi assim que ela acabou sentada na beirada da laje


de dormir com Ka'Cit sentada entre suas pernas no chão.

Ele não se incomodou em vestir roupas e antes mesmo


que ela começasse a pentear seu cabelo, ela já estava tendo
problemas para se concentrar porque ela tinha visão completa
de seu pênis.

Ele tinha uma perna estendida e a outra dobrada no


joelho, o pé plantado no chão. Ele estava recostado contra ela,
seus braços sobre suas coxas, e seus dedos encontraram
aquela área macia sob seus joelhos e foram massageando
lentamente o local.

Nia passou as mãos pelo cabelo dele.

Era principalmente liso com uma ligeira onda e grosso.


Não havia dobras ou nós e ela podia passar a mão direto por
ele sem que seus dedos se prendessem.

Seria preciso alguma habilidade para fazer qualquer coisa


em seu cabelo sem um pente, mas ele não parecia com pressa
e nem ela.

Então ela tomou seu tempo, pegando alguns fios entre os


dedos enquanto fazia a primeira parte.
Seu pênis se contraiu quando ela passou um dedo em seu
couro cabeludo e Nia teve que forçar seu olhar para longe.

Olhando para ele agora, ela não tinha ideia de como ele
conseguiu encaixá-lo dentro dela. Não que ela estivesse
reclamando.

Ela faria isso de novo.

Ela queria fazer isso de novo.

― Me fale mais…

Nia fez uma pausa, um leve choque descendo por sua


espinha. Ela tinha falado em voz alta?

― Mais? Mais sobre o que exatamente?

― Sua vida, em seu planeta.

Suas bochechas esquentaram um pouco enquanto ela


ria. ― Hum, eu meio que te contei os principais detalhes já.
Minha vida era bastante normal de outra forma. Eu não
gostaria de aborrecê-lo.

― Isso nunca vai acontecer. Diga-me. Eu quero saber


tudo sobre você.

Os dedos dela pararam no cabelo dele e depois de alguns


momentos, Ka'Cit inclinou a cabeça para trás para que ele a
olhasse de cabeça para baixo.

Seu olhar verde se fixou no dela e ela não conseguia tirar


os olhos de seu rosto.
Ele era incrivelmente bonito.

― Nee-ya? Eu disse algo errado?

Nia balançou a cabeça. ― Não.

Até agora, ele estava fazendo tudo certo, e naquele


momento, ela percebeu que ela realmente gostava desse
grande alienígena azul.

Gostava muito.

― Seu rosto mudou. ― Ele estava se afastando dela e ela


teve que segurá-lo ainda. ― Você não tem que me contar sobre
seu passado. Eu, mais do que ninguém que você conhece,
entendo que o passado pode conter dores que você prefere não
reviver.

― Eu... não é isso. Eu posso falar com você sobre isso.

Enquanto ela contava a ele sobre como era a vida na


Terra, Nia se viu pulando as memórias mais dolorosas,
especialmente as que envolviam aqueles que ela amava.

Não era tristeza que ela sentia, mas arrependimento.


Lamento que ela não teve a chance de dizer adeus.

― Minha mãe morreu de câncer quando eu tinha doze


anos. Essa é uma das razões pelas quais me tornei enfermeira.

― Você queria curar os outros como as pessoas que


estavam tentando curar sua mãe?
Nia balançou a cabeça, seus dedos parando na trança em
que estava trabalhando. ― Não.

― Eu não entendi.

Um suspiro fez seu corpo estremecer quando ela se


fortaleceu contra a memória. ― Minha mãe... nós não tínhamos
dinheiro. O seguro não cobria alguns de seus tratamentos e
não havia para onde ir. Tornei-me enfermeira porque queria
ajudar aqueles que nem sempre tinham dinheiro para obter o
tratamento de que precisavam. Eu não sei se eu era boa nisso,
― ela respirou uma risada pelo nariz, ― mas eu tentei.

― Tenho certeza que você foi perfeita.

Um sorriso suave se espalhou pelo rosto dela com as


palavras dele.

― Fale- me sobre você. Sua família ou… a vida em Hudo


III no passado.

Seus ombros enrijeceram e os pequenos círculos que ele


estava desenhando embaixo do joelho dela com os dedos
pararam.

― Eu... ― ele começou. ― Não tenho família.

Nia parou de se mover e uma parte dela desejou não ter


feito a pergunta. ― Eu sinto muito. Eles... eles não estão mais
vivos?

― Eles estão vivos e bem.


Nia piscou para ele. ― Então... você não fala mais com
eles. Você teve um desentendimento?

― Eu não saí. Fui expulso.

Seus olhos se arregalaram com isso e sua boca se abriu


para lhe dar uma resposta, em seguida, fechou.

Ela não sabia o que dizer.

― Eu... eu sinto muito.

Ka'Cit se virou para ela e seu olhar ficou ilegível mais uma
vez, aquela parede que ela estava notando que ele ergueu atrás
de seus olhos estava no lugar.

― Não se preocupe comigo, ta'ii. Eles tinham boas razões


para isso. Minha mãe me poupou.

As sobrancelhas de Nia franziram um pouco enquanto ela


lutava para entender. Como poderia poupá-lo envolver
expulsá-lo?

― Depois que saí, peguei uma carona em um cargueiro


aqui, para Hudo III. Eu tinha ouvido falar de muitos Merssi
morando aqui, então pensei que seria um lugar fácil para
começar de novo.

Ela não sabia o que dizer.

― Quantos anos você tinha?

Ele inclinou a cabeça um pouco e parecia que ele estava


calculando em sua cabeça. ― Cerca de oito revoluções?
A mandíbula de Nia afrouxou.

Eles o expulsaram quando ele tinha oito anos?

Que tipo de família faria isso com uma criança?

Ele se levantou então e se moveu para onde ele havia


descartado suas roupas.

― Eu deveria pegar algo para você comer.

Nia o observou se mover, sua mente girando com


perguntas que ela não se sentia confortável em fazer.

Estava claro que o que quer que acontecesse entre ele e


sua família havia criado uma cicatriz que ainda estava crua.

O passado pode conter dores que você prefere não


reviver...

Ele disse isso apenas alguns momentos antes e era


evidente agora que ele estava falando por experiência própria.

Talvez ele se abrisse com ela sobre isso.

Talvez não.

Ela lhe daria tempo.

Pelo menos eles tinham isso.

Tempo.
CAPÍTULO 31

Ka'Cit sumiu por alguns minutos e Nia se viu sentada de


pernas cruzadas na cama, sem saber o que fazer consigo
mesma.

Não havia muito o que fazer no quarto e ela não estava


disposta a se aventurar fora dele – pelo menos, não por conta
própria. Não depois do que aconteceu no salão.

Então ela se encontrou... ociosa.

Era uma sensação estranha.

Ela nunca teve muito tempo para ficar ociosa, nem


mesmo na Terra. Ela nunca se permitiu.

Sempre havia algo para fazer.

Seu olhar se moveu sobre o quarto.

Além do pequeno quadrado na parede onde a comida


havia aparecido, não havia mais nada que fosse interessante o
suficiente para ela investigar.

Ela estava prestes a dar uma olhada mais de perto na


calha de comida quando um som na porta a assustou.

Foi um baque baixo que a fez endurecer.

Ela não se lembrava de Ka'Cit fazendo nenhum som


quando ele entrou, ou mesmo saiu da sala antes.
Ele geralmente era tão silencioso.

O baque baixo soou novamente, diretamente na porta


desta vez e os pelos da parte de trás de seus braços se
arrepiaram.

Ela estava se movendo no momento em que a porta se


abriu para dentro, rolando para pegar o blaster que ela havia
deixado ao lado da cama e apontando-o diretamente para a
entrada.

Seus ombros caíram imediatamente quando ela viu quem


era.

Ka'Cit piscou para ela sobre uma grande bandeja cheia


de comida, seu olhar pousando na arma antes que os cantos
de sua boca se contraíssem um pouco.

― Você vai atirar em mim?

― Depende se você vem trazendo presentes.

Seus olhos brilharam um pouco. ― Não trago. ― Ele olhou


para a comida em seus braços. ― Isso é tudo para mim. Você
disse que não estava com fome.

Quando a boca de Nia se abriu.

Ela não tinha certeza se ele estava falando sério ou não


até que o ouviu abafar uma risada. Estreitando os olhos para
ele, ela colocou o blaster de volta no chão e se acomodou na
cama mais uma vez.
Ele estava entrando no quarto agora, seu pé chutando a
porta, e foi direto para a cama para colocar a bandeja no chão.

Nia engoliu em seco.

Havia tanta comida.

Não carne desta vez, mas uma vasta seleção de frutas, ao


que parecia, e mesmo que ela não tivesse sentido fome antes,
sua barriga já estava começando a roncar novamente.

Ela ficou olhando para a bandeja por tanto tempo que não
percebeu que ele havia tirado todas as roupas e tirado a
máscara até subir na cama.

Pele azul perfeita a cumprimentou e então ela teve outra


coisa para olhar.

Nia limpou a garganta e tentou não cobiçá-lo, mas era


difícil quando ele estava sentado em frente a ela, de pernas
cruzadas e nu.

― Coma, ― disse ele. ― Eu não estava falando sério sobre


não compartilhar com você. Eu nunca poderia fazer isso.

Nia sorriu para ele. ― Não sei por onde começar.

Ka'Cit estendeu a mão e pegou o que parecia ser uma uva


entre os dedos antes de esticá-la em direção aos lábios dela.

Quando deslizou em sua boca, o mesmo aconteceu com


a ponta de seu dedo e sua língua acariciou sua pele.
Ela assistiu com admiração enquanto sua pupila se
dilatava um pouco e sua cauda se levantava atrás dele.

A fruta estalou em sua boca sozinha, fazendo-a recuar


surpresa, seu olhar caindo para a bandeja de frutas enquanto
mastigava.

― Tem gosto de... como... mamão apimentado.

Ela teve que fechar os olhos um pouco para engolir. Tinha


um gosto amargo, mas ela podia se ver se acostumando, talvez
até gostando. Um pouco como aqueles doces super azedos que
eles costumavam vender na escola dela que tinham um gosto
tão azedo, ela tinha que fechar os olhos enquanto os comia,
mas ela iria em frente e compraria mais no dia seguinte.

― Tente este.

Quando ela abriu os olhos, já havia algo sendo colocado


em sua boca.

Desta vez, era um talo verde que parecia aipo, só que de


cor um pouco mais escura.

― Salsão? ― Ela deu uma mordida e tossiu. ―


Definitivamente não é salsão. Esse tem gosto de manteiga de
amendoim.

― É ruim? ― Ele estava olhando para o talo como se isso


o ofendesse pessoalmente e Nia lutou contra uma risadinha,
embora sem sucesso.
― Não. O sabor era simplesmente surpreendente... eu
gosto de manteiga de amendoim. Tenho saudade.

― Tão bom assim?

Um sorriso alcançou seus lábios quando ela assentiu. ―


Bom.

Sua cauda começou a balançar no ar lentamente.

― Tente isso.

Esta próxima fruta era do tamanho e cor de uma semente


de cranberry e seu dedo deslizou até a boca dela para colocá-
lo em sua língua.

Ela não teve escolha a não ser fechar os lábios em torno


de seu dedo e o que deveria ter sido um movimento inocente
se transformou em uma langorosa chupada em seu dedo.

A pequena sementinha explodiu em sua boca,


espalhando doçura por sua língua, e outra explosão de doçura
se espalhou por seu corpo, culminando em sua virilha.

Ka'Cit sustentou o olhar dela, os olhos dilatando a cada


segundo, enquanto sua cauda começou a se mover um pouco
mais rápido atrás dele.

Seu dedo ainda estava em sua boca e a maneira como ele


a olhava era absolutamente predatória.

― Ka'Cit?
Ele não respondeu, mas quando seu dedo escorregou de
sua boca, seu pênis empurrou contra sua perna.

Seu nariz se contraiu e, além de sua cauda, esse foi o


único movimento. Ele ficou subitamente tão quieto que até o
ar ao seu redor parecia ter medo de se mover.

Ela não sabia por que, mas ela se sentia como um rato
na frente de algo incrivelmente perigoso e ela teve um desejo
repentino: correr.

Ele deve ter visto o olhar em seus olhos porque os


músculos de seus ombros se moveram sob sua pele como se
estivessem fazendo cócegas.

― Não, ― disse ele. Uma palavra.

Atrás dele, sua cauda parou o tipo de abanar que estava


fazendo e agora estava balançando no ar lentamente.

Como um gato olhando para um rato.

Caçando.

E ela era o rato.

― Não. ― Desta vez, soou mais como um aviso e, apesar


de suas palavras serem algo que ela provavelmente deveria
prestar atenção, seus instintos estavam lhe dizendo para fazer
o oposto.

Nia disparou para fora da cama, escorregando da beirada


tão rápido que ela mal viu a cabeça dele virar em sua direção.
Ela estava de pé quando ouviu o grunhido atrás dela e
um guincho saiu de seus lábios quando sentiu as pontas dos
dedos dele roçarem sua capa, errando-a por meros
centímetros.

Ela era muito rápida. Ele não ia pegá-la, e adrenalina


bombeou em suas veias, alimentada por puro deleite,
enquanto ela disparava pela sala.

Quando ela se virou, ele estava de quatro na cama de um


jeito estranho.

Ele estava na ponta dos pés e seus dedos estavam


pressionando a cama – quase como como um velocista se
posiciona na linha de partida.

Porra.

A maneira como ele estava olhando para ela deveria


aterrorizá-la, mas em vez disso, tudo o que ela podia sentir era
excitação inundando suas veias.

Enquanto ela avançava ao longo da parede, mantendo-se


de costas para ela e com os olhos nele, Ka'Cit a seguiu com
olhos escuros sem piscar.

Eles sangraram completamente preto e sua cauda estava


esticada atrás dele.

Ele parecia algum tipo de gato grande, como um leopardo


preto ou algo assim, e o perigo brincalhão que o cercava só fez
uma emoção passar por ela.
Algo estava batendo forte contra seu peito e ela levou
alguns momentos para perceber que era seu coração. Seus
olhos estavam arregalados enquanto ela o observava, pronta
para superar se ela visse o leve movimento de um músculo.

Suas costas ainda estavam grudadas na parede para


algum tipo de aterramento quando ela tirou os olhos dele por
um segundo, apenas para olhar ao redor do quarto.

Não era o melhor lugar para um jogo de esconde-esconde.

Não havia para onde correr, a não ser dentro do chuveiro.

Seu olhar se concentrou ali antes de encontrá-lo


novamente e ela pôde ver que ele sabia exatamente qual era
seu plano.

Se ela pudesse chegar lá antes que ele se mudasse...

Mas se ela corresse...

Ela sabia que ele ia pegá-la.

Ela podia sentir isso em seus ossos.

― Não, ― ela disse enquanto uma risada borbulhava em


sua garganta. Ela estava apavorada e excitada ao mesmo
tempo. ― Ka'Cit... não.

Ka'Cit inclinou a cabeça quase imperceptivelmente. ―


Não o quê?

― Não me persiga.
Sua língua estalou para fora enquanto ele lambia os
lábios e suas presas apareceram momentaneamente.

Por que ela não estava com medo?

Por que ela queria isso?

Por que havia um formigamento entre suas coxas?

Foda-se se ela soubesse.

― Por que?

Certo, Nia. Por quê?

― Porque me faz querer correr. Eu não posso pará-lo. Eu


vou correr.

Os olhos de Ka'Cit se estreitaram por uma fração de


segundo e sua cauda acenou de um lado para o outro. ― Você
está assustada?

Nia bufou uma risada. ― Não…

Ela era um pouco. Com medo da emoção.

― Então corra.

Sua respiração ficou presa na garganta e por uma fração


de segundo, o tempo parou entre eles antes de Nia sair
correndo, empurrando a parede em direção ao banheiro.

Seus pés descalços bateram no chão enquanto ela


tentava se mover rapidamente e seu coração batia em seus
ouvidos quando ela ouviu movimento na cama.
Ela estava apenas na barreira transparente para o quarto
quando outro grito deixou seus lábios assim que ela foi
levantada de seus pés.

O impulso os fez cair no banheiro e Ka'Cit a agarrou


contra ele para que não colidissem com a parede.

O vento foi nocauteado por alguns momentos e suas


risadas vieram com um pouco de falta de ar.

Ka'Cit rosnou enquanto a empurrava contra a parede.


Mesmo com sua capa entre eles, ela podia sentir a pressão de
seu pênis pressionando contra sua bunda.

Ele mergulhou a cabeça em seu pescoço e inalou


profundamente.

― Ta'iiii.

Seu pênis estremeceu novamente quando ele a prendeu


lá e ela percebeu tardiamente que suas mãos estavam presas
acima de sua cabeça.

Ka'Cit rosnou contra seu pescoço. ― Você não deveria ter


corrido.

Nia deu uma risadinha. ― Você é quem está me


perseguindo.

Ele rosnou novamente. ― Eu não pude evitar. E agora…

A respiração de Nia ficou presa em sua garganta quando


ele a girou para encará-lo.
A frente do manto não tinha botões. Simplesmente tinha
dobras de tecido que se juntavam para mantê-la escondida.

Ele encontrou o centro sem problemas e abriu o roupão,


levantando-o sobre sua cabeça para que ela tirasse os braços
dele.

Ka'Cit segurou um seio, massageando-o enquanto seu


dedo acariciava seu mamilo e Nia inalou bruscamente.

Ele mergulhou então, seu nariz se movendo sobre o outro


mamilo antes de levá-lo em sua boca.

― Ka'Cit, ― ela sussurrou e ele gemeu contra seu mamilo


antes de liberá-lo de seus lábios.

Ele desceu, seus lábios formando um rastro de chupadas


e beijos molhados enquanto ele se dirigia para seu umbigo,
mas ele não parou por aí.

Os olhos de Nia se arregalaram, sua boca se abriu em um


gemido alto quando os lábios dele se fecharam sobre seu
centro.

E o gemido dela foi acompanhado pelo dele.

Ka'Cit caiu de joelhos diante dela, ambas as mãos


pousando em sua bunda enquanto sua língua se curvava nela
antes de sorver seu centro.

― Porra. ― Os olhos de Nia rolaram em sua cabeça.


Ela não tinha mais energia para ficar de pé e estava feliz
que havia uma parede atrás dela na qual ela pudesse se apoiar.

A resposta dela pareceu estimulá-lo e enquanto seus


dedos se enfiavam em seu cabelo, acariciando sua cabeça,
Ka'Cit rosnou contra seu clitóris.

Ele agarrou sua bunda mais apertando, puxando-a para


frente em direção a seus lábios enquanto ele abria sua boceta
com a língua, e quando o grosso órgão molhado deslizou dentro
dela, empurrando enquanto ele chupava, ela não podia mais
se conter.

Um grito a atravessou enquanto ela se agarrava a ele, seu


orgasmo puxando toda a energia de sua cabeça direto para os
dedos dos pés.

E continuou, ele continuou, até que ela estava tremendo


contra ele, espasmos de prazer forçando seu caminho através
de seu corpo.

Ka'Cit finalmente a soltou e quando ela olhou para ele sob


suas pálpebras pesadas, ela podia ver sua umidade brilhando
em seus lábios.

Houve um ronco baixo em sua garganta quando ele se


levantou, levantando-a com ele enquanto a colocava sobre seu
ombro.

Inferno, ela não podia protestar. Não havia como ela


andar depois do que ele tinha acabado de fazer e quando ele a
colocou na cama, a antecipação começou a crescer dentro dela
novamente, apesar de sua fraqueza.

Ela estava de bruços, as pernas penduradas ao lado da


cama, e ela agarrou a roupa de cama com as duas mãos
quando o sentiu se acomodar atrás dela.

― Duro, ― ela sussurrou.

Ka'Cit rosnou. ― Ta'ii não diga essas coisas. Eu não quero


me desfazer antes mesmo de me sentar dentro de você. E... eu
não quero te machucar.

― Por favor, ― ela sussurrou. ― Duro. Você não vai me


machucar. Eu aguento.

Ela queria senti-lo. Cada polegada.

Ela queria andar e mancar quando eles terminassem.

Ela queria tudo.

Suas pernas se moveram quando ele as agarrou,


posicionando-se em sua entrada, e um puxão de seu pênis
esfregou sua cabeça contra seu centro.

Nia choramingou com o contato.

Ela nunca quis ninguém mais do que ela o queria.

Neste momento, ele era tudo.

Quando Ka'Cit se acomodou dentro dela, os dois


gemeram.
Havia tensão nos braços que seguravam suas coxas e ela
sabia que ele estava tentando o seu melhor para se conter.
Tudo porque ele não queria machucá-la.

Bem, se ela ia sentir dor por causa de um bom pau, então,


foda-se.

― Ka'Cit, ― ela apertou os músculos vaginais e ele soltou


um rugido de boca aberta antes de avançar.

Seu grito de prazer foi amortecido pela roupa de cama e


Nia enterrou o rosto nela enquanto ele se afastava e avançava
novamente.

Ele estava dando a ela tudo. Ela estava levando tudo. E


quando ele entrou nela, levando-a para a cama embaixo deles,
Nia soltou outro grito quando ela atingiu seu pico mais uma
vez.

Ka'Cit rosnou e avançou dentro dela mais algumas vezes


antes de endurecer, outro rugido saindo de seus lábios quando
seu próprio orgasmo o ultrapassou.

Quando ele caiu em cima dela, ele a puxou com ele para
cima na laje de descanso, embalando-a perto enquanto a
beijava no topo de sua cabeça.

― Nee- ya... ― ele gemeu, ― eu... você está machucada?

Um sentimento quente a encheu e ela se aconchegou nele


um pouco mais.
― Não, Ka'Cit. Você não me machucou. Eu disse que você
não vai me machucar.

Ele enrijeceu um pouco, o suficiente para ela notar, mas


ele não respondeu.

Ela estava de repente cansada o suficiente para


adormecer novamente e enquanto eles estavam lá em silêncio,
simplesmente curtindo as consequências de seu ato de amor,
os olhos de Nia lentamente começaram a se fechar.

Ela estava quase dormindo quando as palavras dele


flutuaram em seu ouvido.

― Isso é o que eu mais temo, ta'ii. Eu não quero te


machucar. Me apavora que eu vá.

Ela o teria tranquilizado novamente, mas o sono já estava


reivindicando sua consciência.

Então, em vez disso, ela pegou a mão dele e puxou seu


braço ao redor dela.

Durma.

Quando eles acordassem, ele perceberia que não estava


preocupado com nada.
CAPÍTULO 32

Os olhos de Nia se abriram para o movimento dentro da


sala.

Ela dormiu muito mais profundamente do que esperava,


já que estava em um lugar estranho e tudo, mas o corpo duro
e quente de Ka'Cit dobrado contra o dela tinha sido
reconfortante.

Ele estava se vestindo agora, sua máscara já estava e


suas calças também. Ele pegou seu olhar quando ela se sentou
e esfregou o sono de seus olhos.

Largando o que estava fazendo, ele se moveu em direção


a ela, sua cauda balançando preguiçosamente atrás dele.

Tudo sobre o dia anterior voltou correndo e Nia sentiu um


profundo calor se espalhar por ela ao vê-lo.

Com uma mão, ele roçou um dedo contra o lado de sua


bochecha e a memória de tudo que eles compartilharam veio à
tona.

― Você está acordada, ― ele sussurrou.

Nia assentiu. ― Que horas são? Você deveria ter me


acordado.
Seus olhos a estudaram através da fenda em sua máscara
e ela teve a impressão de que ele estava sorrindo por baixo
dela.

― Acho que você precisava de descanso.

Nia sorriu, suas bochechas esquentando um pouco. ―


Você está se vestindo.

― Nossa nave está consertada.

Isso a acordou.

― O que? Tão cedo? ― Uma pontada de decepção que ela


não esperava sentir seguiu essas palavras.

― O Torian não dormiu até terminar. Quase parece que


ele queria se livrar de mim.

Nia riu e puxou a roupa de cama ao redor dela. Então um


pensamento a atingiu. ― E o trabalho? O pacote? Aqueles
humanos que precisam da nossa ajuda? Ainda podemos fazer
isso agora que a nave está consertada muito mais cedo do que
pensávamos?

― Você está muito preocupada com o resto de sua espécie,


não é?

― Estou. ― Ela estava pulando da cama agora e indo em


direção ao chuveiro. ― Mesmo que eu não os conheça, eles são
tudo o que tenho nesse novo universo. Estamos juntos nessa.
O olhar de Ka'Cit a seguiu quando ela alcançou o box do
chuveiro e quando ela se virou para olhar para ele, não
conseguiu ler o olhar em seus olhos.

― É bom, ― disse ele.

― É bom? O que é?

― Pertencer.

Suas palavras pareciam mais profundas do que seu valor


superficial e ela fez uma pausa, sem saber o que pensar dessas
palavras.

― Estamos muito atrasados. ― Ele quebrou sua linha de


pensamento. ― Fiquei sabendo que o negócio já está fechado.
O pacote já foi contrabandeado. Seria impossível encontrá-lo
agora.

Algo caiu e morreu dentro dela e ela se encostou na porta


do chuveiro.

Por alguns momentos, ela apenas olhou para a laje


adormecida enquanto uma sensação de mal-estar se
desenvolveu em seu estômago. Ela ainda esperava que
houvesse algo que eles pudessem fazer para ajudar os
humanos.

― Você realmente acredita que esse grupo, a Restituição,


encontrará uma maneira de ajudá-los?

Ka'Cit respirou fundo enquanto deslizava a túnica sobre


os ombros.
― Eles sempre fazem.

Nia assentiu.

Se uma coisa estava clara, ela confiava nele.

Ela teria que aceitar a palavra dele.

― Eu deveria tomar banho, ― ela murmurou.

Enquanto ela passava por trás da barreira transparente


e fazia a água fluir, Ka'Cit se sentou na beirada da laje de
dormir, observando-a.

Parecia íntimo, a forma como seu olhar seguiu os


movimentos de suas mãos em sua pele e ela ficou surpresa por
não haver autoconsciência em seus movimentos.

Sua atenção fez com que as terminações nervosas em sua


pele ficassem alertas e era quase como se suas mãos fossem
as que se moviam em sua pele.

Ele olhou para ela como se estivesse memorizando cada


detalhe de seu corpo.

O único som era a água caindo no chão, até o silêncio


entre eles parecia íntimo.

Enquanto ela limpava as gotas de água de si mesma,


tremendo o máximo que podia para se secar, Ka'Cit ficou com
o manto na mão, seu olhar não deixando o dela enquanto ela
saía da área de banho.
A maneira como ele estava olhando para ela, como se
estivesse faminto, só trouxe de volta a memória do que eles
fizeram juntos e o pensamento fez seu corpo reagir.

Ninguém nunca tinha olhado para ela assim antes.


Sempre.

Quando Ka'Cit olhava para ela, isso a fazia se sentir a


fêmea mais sexy e bonita do mundo.

Ele fez um som em sua garganta enquanto estendia sua


capa para ela, mas ele não a soltou.

Em vez disso, ele se aproximou ainda mais e começou a


ajudá-la a se vestir.

― Venha. Nós comeremos no salão e depois saímos. ― Ele


fez uma pausa e soltou um suspiro. ― Hora de eu te levar para
casa.

Casa.

Parecia que uma eternidade havia se passado desde que


ela deixou o Santuário.

Quando a capa caiu sobre seus ombros e ela colocou a


calcinha de volta, Nia enfiou os sapatos e pegou o que agora
era seu blaster.

Ela escondeu a arma debaixo da capa mais uma vez e


com o capuz sobre a cabeça, ela entrou com Ka'Cit no elevador.
― Então é isso, hein? ― ela disse. ― A vida volta ao normal
depois disso.

Eles passaram um tempo juntos, compartilharam muito,


e até parecia... como se ela não quisesse que isso acabasse.
Mas ela sabia que, independentemente do que eles
compartilharam, isso não significava que a vida mudou para
nenhum deles agora.

Ela não estava disposta a exigir nada dele, assim como


ele não estava exigindo nada dela.

Ela podia admitir, porém... havia uma sensação de perda


quando ela pensava em quase nunca vê-lo novamente e isso
era algo que ela tinha que pensar.

Ele nunca visitava o Santuário.

Quando o elevador abriu para o salão, Nia esperava que


a sala ficasse em silêncio desta vez e ela não ficou
desapontada.

Ela manteve a cabeça baixa sob o capa enquanto


caminhavam em direção ao bar.

O barman os cumprimentou e Ka'Cit pediu um pouco de


comida, mas ela mal ouviu a conversa.

Tudo o que ela conseguia pensar era... nele.

Ela gostava dele.

Muito.
O pouco tempo que ela passou com ele parecia muito
mais longo e, dentro dela, algo havia mudado.

Era difícil imaginar voltar ao Santuário e continuar a vida


como de costume.

Acordar todos os dias, sentindo-se sozinha mesmo com


outras pessoas ao seu redor.

Porra.

Ela se deu conta.

Ela estava se apaixonando por ele... ou ela já havia se


apaixonado.

Quando isso aconteceu? Ela não tinha certeza.

Nia engoliu em seco quando ela arriscou um olhar para


ele.

Seu olhar estava focado nas refeições fumegantes que o


barman havia colocado diante deles e ele parecia estar preso
em seus próprios pensamentos.

― Refeições Zeregga? ― Ela manteve a voz baixa, mas alta


o suficiente para ele ouvir.

Seu olhar se concentrou e ele assentiu. ― Mais bem feito


desta vez. Você deve ser capaz de mastigar.

Nia assentiu e sorriu.

Por que ela se sente tão triste por dentro?


O que havia de errado com ela?

Ela estava prestes a colocar um bocado de comida na


boca quando novos clientes entraram no salão. Ela não os teria
notado se não fossem tão altos e quando a cor se esvaiu do
barman na frente dela, um sentimento ruim surgiu na boca do
estômago.

Mais daqueles terríveis alienígenas que a agarraram no


outro dia?

Ka'Cit olhou para trás e enrijeceu imediatamente antes


de se voltar para o bar.

Se ela não estivesse olhando para ele, ela não teria visto
a reação.

Foi tão rápido.

Uma mão alcançou o blaster que ele colocou no balcão e


a outra descansou contra suas costas.

Ele abaixou a cabeça para que pudesse falar diretamente


no ouvido dela e, além dos barulhentos recém-chegados ao
salão, Nia percebeu que a sala inteira tinha ficado em silêncio
mais uma vez.

– Não se mexa – sussurrou Ka'Cit. ― Não se vire. Não faça


nada para chamar a atenção do seu jeito e talvez possamos
sair disso vivos.
O terror a atravessou com as palavras dele e a comida
que ela agarrou escorregou de seus dedos para cair de volta na
bandeja.

― O que é isso? ― Ela manteve a voz tão baixa que mal


conseguia ouvir suas próprias palavras, mas a audição de
Ka'Cit era perfeita.

― Hedgeruds.

Hedgeruds?

Ela tinha ouvido esse nome antes, mas ela não manteve
os nomes das espécies em sua cabeça. Havia muitos demais
para lembrar pelo nome.

Ainda... onde ela tinha ouvido esse nome antes.

A que se referia?

Todos os seus instintos lhe diziam para dar uma olhada


para que ela pudesse saber com o que estava lidando, mas
mais do que isso, ela confiava no macho ao seu lado.

Ele disse a ela para não se mover ou se virar e até agora,


ela ainda estava viva por causa dele.

A lógica disse que ela deveria seguir seu conselho.

A mão de Ka'Cit ficou mais firme contra suas costas como


se ele a estivesse segurando e assim que aquela sensação
pegou seus sentidos, outra também. O ar atrás dela se moveu
quando uma grande figura passou ao seu lado.
Nia virou a cabeça apenas uma fração e de sua visão
periférica, ela viu uma longa cauda de jacaré.

Sua espinha virou gelo que se quebrou em suas veias.

De repente, o nome fez sentido.

Hedgeruds.

Ela conhecia esta espécie.

Ela os conhecia porque eles eram responsáveis por ela ter


sido tirada da Terra.

Eles eram os guardas que trabalhavam para os Altos


Tasqals. Os mesmos guardas que vieram ao Santuário e
tentaram tirar Lauren de Riv. Os mesmos guardas que
caçaram Sohut e Cleo na selva.

O que diabos eles estavam fazendo aqui?

Por alguns momentos, ela se preocupou que eles


pudessem estar lá para ela e ela puxou seu pulso para cima o
suficiente para olhar para a tatuagem que estava lá.

Outro pico de medo passou por ela.

Ela tinha tomado banho.

A tatuagem falsa não estava mais em sua pele.

Ela não tinha como nem mesmo blefar seu status legal.

Porra.
PORRA!

Mais um olhar para Ka'Cit e ele ficou imóvel como pedra.

Ninguém na sala fez um som, exceto o Hedgerud – não,


Hedgeruds, plural.

A julgar pelas vozes, havia pelo menos quatro deles.

― ...entregue o carregamento. ― Um deles estava falando


e ela só percebeu isso agora que se acalmou o suficiente para
ouvir.

― Não sei por que o qrak temos que ir para o centro de


excrementos que é Porto Seis.

― Você sabe que eles dão ao nosso time as corridas ruins.


Talvez se você tivesse jurado lealdade mais cedo,
conseguiríamos missões melhores.

― Você deveria falar com o chefe sobre isso.

Um deles zombou. ― E ter minha cabeça cortada. Qefing


qrak. Eu tenho uma vida para viver… jekins to phek.

Eles riram disso e isso causou uma memória dolorosa.


Imagens de estar naquela nave negreira alienígena e suas
risadas voltaram para ela como se fosse ontem.

Eles tinham olhos amarelos e focinhos alongados com


dentes malvados. Eles não se importaram com o quão
assustadores eles eram. Eles ririam bem na cara dela, mesmo
que apenas para assustá-la.
E tinha funcionado. Tinha funcionado tão bem que eles
continuaram fazendo isso.

Eles eram escória.

― Mas é talix metal. Por que Porto Seis? Nunca enviamos


talix pelo Porto Seis antes.

Houve um som como se alguém tivesse sido atingido na


cabeça. ― Cala a sua boca. Esses degenerados não precisam
saber o que estamos carregando.

Mas o Hedgerud já havia dito o suficiente.

Talix metálico.

Não era isso que Ka'Cit disse que estava naquele pacote?
O que eles precisavam recuperar do contrabandista?

Ela olhou para ele e percebeu que ele estava imóvel como
pedra porque ele estava ouvindo muito antes do que ela
pensava.

Seu olhar encontrou o dela e eles passaram de gelo frio


para verde quente. Então o alarme passou por seus olhos.

Ele balançou a cabeça um pouco para dizer que não.

― Nós temos que tentar, ― ela murmurou, seu sussurro


quase inaudível.

― Não na minha vida. Já te coloquei em perigo suficiente.


Se eles virem você…
Ela sabia o que ele queria dizer.

Se ela fosse pega, eles iriam trazê-la de volta para os


traficantes de escravos.

Mas havia humanos que precisavam de sua ajuda.

Neste lado do universo, eles estavam em menor número e


as probabilidades estavam sempre contra eles.

Ela não podia simplesmente não fazer nada.

― Nós podemos fazer isso.

Ka'Cit a estudou. ― Não é com isso que estou preocupado.

Nia franziu a testa um pouco. ― Então com o que você


está preocupado?

Ele fez uma pausa. ― Se você se machucar…

Algo aqueceu dentro dela, mas ela balançou a cabeça. ―


Eu não vou. Eu confio em você.

Mais uma vez, algo passou por seu olhar que ela não
conseguiu ler e ele fechou os olhos por um momento.

Ela inclinou a cabeça contra ele e por todos olhando para


eles, ela supôs que eles pareciam um casal sendo íntimo.

― Eu confio em você, Ka'Cit. Agora, você tem que confiar


em mim.

Ka'Cit soltou um suspiro.


― Nós realmente não deveríamos fazer isso... ― ele
murmurou.

― O risco não é maior que a recompensa.

Ele a estudou por um momento e ela sabia que ele estava


pesando as opções em sua cabeça.

― Eles precisam da nossa ajuda. ― E ela estava certa. Até


onde eles sabiam, a Restituição não tinha outro plano. Eles
precisavam daquele pacote.

Eles precisavam desse talix metal.

Palavras não ditas passaram por seus olhares e ela e


Ka'Cit se encararam.

Mas, eles não tiveram a chance de fazer um movimento.

O destino já tinha as coisas planejadas.

― Você! ― A voz de um dos Hedgeruds ecoou no silêncio


do salão e com sua exclamação, seus comparsas pararam de
falar.

O lugar estava tão silencioso agora que ela podia ouvir


sua própria respiração.

Ela não sabia por que, mas ela sabia que eles estavam
chamando por ela.

Era o guarda-jacaré ao seu lado, aquele cuja cauda ela


tinha visto, e ele se levantou de seu assento, uma arma que
parecia um cajado de mago apontado em sua direção.
Ka'Cit endureceu e ela também.

― Você, ― o guarda repetiu. ― Retire esse manto.

Porra.

Se eles a vissem...

― Nee-ya? ― A voz de Ka'Cit chegou ao seu ouvido.

― Sim, querido.

― Atire para matar os phekkers.


CAPÍTULO 33

Eles se mudaram juntos.

Ka'Cit girou, pegando seu blaster na mão assim que Nia


sacou o seu.

Cinco pares de olhos amarelos mostraram choque, mas


era tarde demais.

Até mesmo os outros clientes tinham previsto. Eles já


estavam correndo para se esconder.

Os Hedgeruds não eram tão rápidos, muito complacentes


porque eram as grandes armas na sala.

Engraçado, porque ela também tinha uma arma grande.

Em um movimento que quase parecia ensaiado, ela e


Ka'Cit miraram.

Dois tiros encontraram seu alvo no guarda-jacaré que


apontou a estranha arma em sua direção.

Diretamente na cabeça, ela viu a luz morrer nos olhos do


guarda antes que seu corpo caísse no chão.

Mais dois tiros, um de cada um de seus blasters, e dois


dos outros combatentes Hedgerud se esgueiraram de seus
assentos para cair mortos no chão.
― Muito bom! ― Ka'Cit olhou para ela e ela não pôde
deixar de sorrir.

Havia dois outros lutadores ainda vivos e a surpresa


passou.

Eles se levantaram e o tempo parou por apenas um


momento enquanto ela travava os olhos com Ka'Cit.

― Faça o seu pior, ta'ii.

Houve gritos, guinchos, uivos e clamores dos clientes


escondidos enquanto os dois guardas restantes procuravam
abrigo.

Um deles virou uma mesa e veio direto para ela antes de


se dividir em um milhão de pedaços, abatido por uma explosão
da arma de Ka'Cit.

A força da explosão tirou o capuz da capa de sua cabeça,


mesmo quando ele protegeu seu corpo com o seu. Ainda assim,
foi tempo suficiente para os guardas restantes a verem e ela
ouviu um dos Hedgerud exclamar: ― É um daqueles jekins.
Um huum-mano!

Bem, tanto para manter escondido.

Ka'Cit disparou outra rajada, dividindo outra mesa


quando ela disparou para o lado, liberando uma rajada
própria.

Ela pegou um deles no rabo, desmembrando-o, e seu grito


encheu a sala.
Ela não sentiu nenhum remorso.

Esses seres eram os mesmos que ela sabia que haviam


torturado humanas na nave negreira. Estuprou elas.
Assassinou-as.

Isso era vingança.

Entre o caos, seu olhar se bloqueou com os amarelos e a


compreensão surgiu nos olhos do alienígena.

Ele estava prestes a morrer.

Nia segurou o olhar dele quando a explosão saiu de sua


arma e assim que a bala atingiu seu alvo, ela ouviu o som
inconfundível de Ka'Cit soltando uma maldição antes que uma
explosão saísse de sua própria arma.

Cinco guardas caídos.

Isso era quase fácil demais.

Do outro lado da sala, o olhar de Ka'Cit encontrou o dela


e ela sabia que estava certa.

― Há mais deles, não há.

Ele assentiu levemente. ― Esse, ― ele passou por cima do


corpo de um dos guardas e ignorou o gemido de um alienígena
escondido debaixo da mesa, ― apenas enviou um sinal de
socorro para a nave no porão.
Eles caminharam um em direção ao outro enquanto
falavam e ao redor da sala, as cabeças se levantaram apenas
ligeiramente para vê-los se moverem.

― Quantos você acha?

Ka'Cit deu de ombros. ― Não posso ter certeza. ― Ele a


estudou. ― Mas temos que sair daqui. Este espaço é muito
pequeno. Se eles recarregarem…

Ela entendeu.

Seria pedir que a morte acontecesse.

Ela começou a ir em direção ao elevador quando a mão


de Ka'Cit agarrou seu braço.

Seu olhar preocupado se moveu sobre ela.

― Eu subestimei você. Quando nos conhecemos. Eu sei


que você é boa com isso. ― Ele olhou para o blaster. ― Mas,
você tem certeza que quer fazer isso?

Nia sorriu.

Ela nunca se sentiu mais viva.

― Acho que fui feito para isso, baby.

― Baby? ― Confusão nadou em seus olhos e, apesar da


situação, Nia deu uma risadinha.

Ficando na ponta dos pés, ela deu um beijo em sua


máscara. ― Vamos lá.
O elevador abriu com Ka'Cit de um lado e ela do outro.

Blasters já apontados, não foi difícil acertar o primeiro


alvo, um Hedgerud correndo em direção a eles.

Um para baixo, Nia escorregou do elevador e correu para


se esconder atrás de um das enormes naves.

Ela ouviu uma explosão em algum lugar atrás dela e ela


sabia que Ka'Cit havia derrubado mais um dos guardas-jacaré.

O movimento chamou sua atenção, e ela viu um


rastejando sobre ela da esquerda.

Ele tinha um blaster, mas não atirou, provavelmente


pensando que poderia pegá-la sem a necessidade de usar sua
arma.

Bem, ele cometeu um erro. Um fatal.

Nia ergueu a arma e a compreensão surgiu no rosto do


guarda-jacaré um pouco tarde demais.

Ele caiu no segundo seguinte e ela estava correndo ao


redor da nave antes que ele caísse no chão.

Mais um tiro de sua arma e ela derrubou outro por trás.

Porra.
A baía da nave estava cheia deles. Exatamente em que
tipo de embarcação eles viajaram…

E então ela viu.

Ou, pelo menos, ela vislumbrou.

Uma seção do telhado se abriu e uma enorme nave escura


chamou sua atenção antes que outro conjunto de Hedgeruds
começasse a descer no que parecia ser um disco transparente
que pairava no ar.

― Chegando! ― ela gritou para o benefício de Ka'Cit


enquanto descarregava sua arma na direção dos inimigos.

Ela acertou três deles e eles caíram do disco, deixando


cerca de mais quatro, mas quando ela tentou atirar
novamente, sua arma não funcionou.

Uma olhada na arma e ela percebeu que a barra de


energia estava vazia.

Porra.

Ka'Cit estava do outro lado da sala e ela viu quando sua


própria arma parou de funcionar e ele a jogou para o lado.

Seu olhar procurou e se prendeu nela assim que ele


puxou seus dois blasters de seu quadril.

― A nave! ― ele gritou. ― Dirija-se à nave.

Seu coração batia forte contra o peito.


A nave estava do outro lado da baía e ela estava do lado
oposto.

Ela teria que correr ao ar livre para chegar até ele, mas
ela não estava preocupada com isso.

Ela não iria simplesmente deixá-lo para lutar em uma


guerra que era dela.

Nia teve que pensar rápido.

Ela precisava de uma arma.

Retrocedendo, ela correu em direção ao Hedgerud que ela


havia matado e pegou sua arma e bem a tempo também.

O calor queimava perto de sua orelha e os olhos de Nia se


arregalaram no local na nave ao lado dela que de repente tinha
um buraco do tamanho de uma bola de golfe.

Essa foi por pouco.

Seu olhar se ergueu assim que ela levantou o blaster.

Era diferente do que ela acabara de usar, mas funcionava


da mesma forma.

O Hedgerud atirando nela apontou novamente e ela não


pensou.

Seus músculos trabalhavam por conta própria.

O gatilho foi pressionado e uma explosão laranja


brilhante disparou da arma, queimando o chão abaixo dela.
Porra.

Este era ainda mais poderoso que o último blaster.

Mas ela ficaria maravilhada com isso mais tarde.

O guarda que quase a matou caiu no chão, seu corpo


queimado e Nia quase perdeu o conteúdo de seu estômago.

Desviando o olhar, ela arfou enquanto tentava acalmar


seu estômago.

Foi quando o movimento ao seu lado chamou sua


atenção.

Ela ergueu o blaster, mirou e congelou.

Ka'Cit ergueu as mãos, os olhos arregalados.

― Eu os peguei. Phek, ― ele murmurou antes de seus


ombros tremerem com uma risada. ― Segunda vez você levanta
um blaster contra mim.

Os ombros de Nia caíram e ela abaixou sua arma com


uma pequena risada. ― Desculpe.

― Não temos muito tempo. Temos de ir.

Nia assentiu e seguiu atrás dele enquanto ele girava e


atravessava o porão. Ele se moveu rápido, embora ela fosse
capaz de acompanhá-lo, mas eles estavam indo para a nave,
ela percebeu.

― E o metal?
Nos próximos segundos, enquanto caminhavam em
direção à nave, Nia notou uma coisa.

Não havia outros alienígenas no porão.

Ou eles estavam se escondendo como antes, ou eles


sentiram o perigo e foram para algum lugar seguro para
escapar das consequências.

Eles chegaram a nave nos momentos seguintes e Ka'Cit


abriu as portas, abaixou-se, agarrou-a nos braços e a carregou
para dentro da nave.

Sua respiração estava ficando difícil quando ele tirou a


máscara e ela finalmente foi capaz de olhar em seu rosto.

Ele se inclinou então, e seus lábios se fecharam sobre os


dela em um beijo contundente.

― De jeito nenhum eu deixarei você chegar perto daquela


nave. Você fica aqui. Eu irei.

― Mas...

Ele a pressionou contra a parede e sua testa encontrou a


dela enquanto sua respiração saía dele.

― Eu não cederei nessa, Nee-ya.

Ela podia ouvir a resolução em sua voz, mas ela assentiu.

Seu olhar caiu para os lábios dela mais uma vez antes de
colocar a máscara de volta, e então a porta se fechou e ele se
foi.
Nia andou um pouco antes de bater a mão contra o botão
que fechava a câmara de ar.

A cabine se abriu e ela entrou, o coração batendo forte no


peito enquanto ela começava a andar de um lado para o outro.

O tempo não estava do lado deles.

Ela tinha certeza de que mais desses caras estariam atrás


deles em breve. Os outros certamente teriam enviado outro
sinal de socorro – se não sobre a presença dela, pelo menos
sobre o fato de estarem sendo atacados.

Devia haver algo que ela pudesse fazer enquanto


esperava, ou então ela ficaria louca de ansiedade.

Havia um computador ou algo assim...?

― IA? Nave? ― Seu olhar percorreu o teto da nave, mas


não houve resposta.

― Computador?

Demorou um segundo, mas o painel de controle da nave


se acendeu. Uma onda de excitação passou por ela.

― Computador, você pode me entender?

― Linguagem, Inn-glês, foi atualizado nos servidores.


Todos os controles podem ser acessados usando esta
linguagem.

Nia sorriu e o calor a encheu novamente.


Ele não estava brincando quando disse que enviou uma
atualização mundial. Ela adivinhou que também atingiu as
naves da rede.

― Computador, prepare-se para a decolagem.

Ela não tinha ideia se isso funcionaria, mas quando ela


ouviu o motor da nave começar a zumbir, sua confiança
cresceu.

― Acionando motores principais.

Porra, sim.

Agora é esperar.

Mas ela não podia deixar de ficar nervosa.

Ele tinha ido lá sozinho em uma luta que nem era dele e
seu coração sangrou e apertou com esse pensamento.
CAPÍTULO 34

Ela estava esperando por talvez dez minutos quando o


movimento fora da nave chamou sua atenção.

Com a ajuda do computador, ela conseguiu virar a nave


em direção à câmara de ar da estação de serviço e agora ela
podia ver direto para aquela coisa estranha de elevador em
forma de disco.

Seu coração batia forte em seu peito quando ela viu Ka'Cit
pular nele.

Ele ainda estava atirando para cima e seu olhar se elevou.

Porra.

Havia Hedgeruds no patamar acima do elevador. Seus


blasters estavam apontados diretamente para ele e ele estava
em campo aberto.

Filho da puta imprudente.

Seu filho da puta imprudente.

O pensamento a fez parar por apenas um segundo e uma


sensação estranha se desenvolveu em seu peito enquanto ela
observava Ka'Cit se sacudir, uma bala de laser errando por
meros centímetros.
Ela não estava disposta a apenas assistir enquanto eles o
derrubavam.

Agarrando seu blaster, ela apertou o botão da câmara de


ar da nave e correu para a parte de trás da nave.

Seu coração se alojou na garganta quando viu Ka'Cit


abandonar sua posição. Em um salto suave, ele se lançou do
elevador.

Mas ainda era muito alto. Certamente ele quebraria a


perna.

Uma explosão de laser veio de cima quando os Hedgeruds


atiraram nele e Nia sentiu uma onda de raiva que não existia
antes.

Com seu próprio rugido, ela agarrou seu blaster, apontou


e disparou.

Os Hedgeruds não esperavam isso, talvez não a tivessem


visto ou não se prepararam para sua precisão, pois ela pegou
um deles no momento em que perceberam de onde vinha a
bala.

Uma, duas, três vezes ela disparou antes de seu olhar


pousar em Ka'Cit.

Milagrosamente, ele caiu de pé e estava correndo em


direção a ela com algo agarrado ao peito.
Ela se concentrou nele por apenas um segundo antes de
se abaixar sob um dos motores enormes da nave e descarregar
sua arma no elevador.

Os Hedgeruds também se abaixaram, mas não havia para


onde correr no elevador.

Nia continuou atirando e só parou quando um braço


agarrou o dela e a puxou de volta para a nave.

― Temos de ir!

Ka'Cit a ergueu, prendendo um braço forte ao redor de


sua cintura enquanto a levantava para trás em sua direção,
sem quebrar o passo ao entrar na nave.

As portas se fecharam atrás deles e as portas secundárias


se abriram.

Ele a estava colocando no chão e prendendo-a em


segundos.

A respiração de Nia arfava em seu peito, seus olhos


arregalados enquanto ela observava mais Hedgeruds
aparecerem no topo do elevador.

Quantos deles ainda estavam lá?

Eles estavam golpeando a nave com balas agora e ela


olhou para Ka'Cit.

― Acha que vamos conseguir?


Ele estava acomodado em seu assento agora e apertando
os controles.

― Eles estão muito longe para penetrar no casco, mas nos


próximos segundos…

― Eles vão nos encher de buracos.

Ka'Cit assentiu.

― Vamos lá.

Ele não precisava ouvir duas vezes.

A nave avançou e subiu, deslizando pela câmara de ar


mesmo quando ela sentiu que começava a estremecer.

Ela olhou para Ka'Cit.

Eles conseguiriam?

Mas seus olhos tinham certeza.

― Vou te levar para casa. Segura. Eu não me contentaria


com menos, ta'ii.

Nia saiu do assento e se inclinou para frente, olhando


para fora da tela.
Seu coração ainda estava batendo em sua garganta,
apesar de terem se passado alguns minutos desde que eles
saíram do satélite de serviço.

― Não estamos sendo seguidos. ― Ela não podia acreditar.

Ka'Cit grunhiu. ― Eles podem ter problemas para nos


seguir ou qualquer outra pessoa por pelo menos um ciclo
completo.

O choque a fez se virar para olhar para ele. ― O que você


fez?

Ka'Cit deu de ombros. ― Apenas pensei que o motor deles


precisava de um... rebaixamento.

Ele segurou algo em sua mão e ela percebeu que era a


mesma coisa que ele estava segurando quando estava correndo
em direção a ela.

― O que é aquilo?

― Um conversor de propulsão. ― Ele olhou para ele. ― E


olhe para isso. Está envolto em metal talix. Pode ser útil para
alguns humanos que conhecemos.

Os olhos de Ka'Cit brilharam um pouco e ela sabia que


ele provavelmente sorria por baixo daquela máscara.

Nia sorriu e jogou os braços em volta do pescoço dele.

― Oh meu Deus. Eu não posso acreditar que fizemos


isso... obrigada.
Ele endureceu um pouco antes de relaxar em seu abraço.

― Você tem se colocado muito em perigo por mim.

― Eu não tenho. ― Seu sussurro era baixo e ela se afastou


dele o suficiente para olhar em seus olhos.

Nia soltou uma risada suave. ― Você está me dizendo que


faz esse tipo de coisa regularmente. Você tem um desejo de
morte?

― Pode ser.

Nia ficou um pouco séria.

Ele estava lutando contra demônios e ela podia sentir seu


coração chegando até ele.

Liberando suas restrições, ele levantou a coisa em sua


mão. ― Só essa coisa sozinha tem metal suficiente para
comprar metade da Bolsa. Você sabia disso?

As sobrancelhas de Nia se ergueram com isso e seu olhar


caiu de volta no dispositivo.

Não era maior que uma garrafa de Coca-Cola.

― Sério?

Ka'Cit assentiu.

― Engraçado como o dinheiro é, mesmo deste lado do


universo. Mesmo aqui a riqueza não é distribuída
uniformemente. Se eu tivesse um pouco disso, teria pago pelo
meu próprio status legal há muito tempo e nada disso teria
acontecido.

O olhar de Ka'Cit disparou para o dela de repente e ele


agarrou seu pulso, girou-o e congelou.

― Claro... ― ele disse depois de um tempo. ― Eu sou um


tolo.

Nia se contorceu um pouco em seus pés.

Mais uma vez, ela estava vulnerável diante dele.

Ela não era legal e isso significava que ela não tinha
nenhum direito.

Era difícil determinar o que ele pensava sobre isso, mas


quando seu olhar encontrou o dela novamente, ele não disse
mais nada.

O silêncio os teria envolvido se não fosse pela pulseira em


seu pulso.

Ka'Cit ativou o aparelho e, sem cumprimentar a pessoa


do outro lado da linha, foi direto ao ponto.

― Eu entendi, ― disse ele.

Houve uma pausa. ― Bom. Estou lhe enviando as


coordenadas. Me encontre lá.

O comunicador foi desligado e o olhar de Ka'Cit voltou


para ela.
― Eu deveria te levar para casa...

Nia balançou a cabeça. ― Não, devemos terminar isso.

Ka'Cit a estudou por um momento antes de balançar a


cabeça em um aceno.

Ele apertou algo nos controles e a nave começou a mudar


de direção assim que Nia se sentou mais uma vez.

Quando ela olhou de volta para ele, seus olhos estavam


sobre ela novamente.

Ela estava acostumada com seus olhares agora, mas


desta vez, não era seu olhar usual de interesse.

Havia coisas que passavam por seus olhos enquanto ele


olhava para ela, coisas que foram rapidamente mascaradas.

Felicidade... esperança... determinação... medo.

A última a intrigou.

Do que ele tinha que ter medo?

À medida que a nave desacelerou, Nia voltou seu olhar


para a tela de visualização.

O espaço estava escuro – pelo menos, esta seção estava.

Era como olhar para... nada.

Pensar que a Terra estava lá fora em algum lugar... era


difícil imaginar, embora ela soubesse que era verdade.
Enquanto ela olhava através da tela de visualização, algo
apareceu no vazio escuro.

Em um minuto, ela estava olhando para o nada, e no


próximo, uma nave estava na frente dela.

Nia pulou para trás e esbarrou em Ka'Cit.

Ela não tinha percebido que ele estava atrás dela.

― Não se preocupe. É ele.

Ele.

Ela não tinha ideia de quem “ele” era, mas se ele estava
ajudando outros humanos em algum lugar nesse nada, ela
achava que ele era uma boa pessoa.

A outra nave se moveu ao redor da deles para se


posicionar na parte de trás e logo a IA falou. ― Atracação de
naves. Câmara de ar integrada.

― Ele está embarcando, ― disse Ka'Cit e seguiu em frente.

Nos próximos momentos, Nia prendeu a respiração e


pegou seu blaster.

Ka'Cit olhou para ela, seu olhar se movendo para a arma


em suas mãos. ― Não vai fazer muito dano contra ele com isso.

Huh?

Ela o tinha visto fazer um buraco no metal e queimar um


ser vivo até virar uma batata frita.
― Ele não te machucará também... acredito.

Os olhos de Nia se arregalaram e ela agarrou a arma com


mais força. O que diabos isso significava?

― Não que eu o deixasse. ― Essas últimas palavras saíram


em voz baixa como se ele estivesse falando para si mesmo, mas
agora havia tensão em suas veias enquanto ela segurava o
blaster.

Nos próximos segundos, a luz vermelha acima da porta


mudou para verde e as portas se abriram para um…

Nia piscou, surpresa pegando-a desprevenida.

Um robô?

― V'Alen. ― Ka'Cit deu um passo à frente.

O robô piscou e ele ignorou Ka'Cit, pois seu olhar a


encontrou imediatamente.

Nia não sabia o que fazer. Ela só podia olhar.

Ela viu muita merda desde que deixou a Terra, ela até viu
robôs no Mercado. Merda, até Riv tinha robôs em sua fazenda
cuidando dos campos de feno, mas nenhum dos robôs que ela
tinha visto se parecia com este.

Seu corpo era completamente de metal, exceto por seu


rosto, que parecia... humano.

Era... enervante e interessante ao mesmo tempo.


― Você nunca disse que estava cuidando de uma
humana.

Ka'Cit suspirou. ― Eu mal estou cuidando dela. Eu tento,


mas ela é mais malvada do que eu.

Nia franziu as sobrancelhas antes que seu significado a


alcançasse e ela sufocou uma risada.

― Fodão, Ka'Cit. Fodão.

Ele riu também, então deu de ombros. ― Perto o


suficiente.

Ka'Cit estendeu o dispositivo que havia tirado da nave


inimiga em direção ao robô e o robô deu um passo à frente.

Ela não sabia por que ela esperava que seus passos
fossem pesados, como iRobot ou algo assim, mas eles não
eram.

Seus passos eram ainda mais silenciosos que os de


Ka'Cit.

V'Alen tomou a coisa em suas mãos.

― Isso vai funcionar, ― disse ele. ― Isso vai tirá-los daqui.

Nia deu um passo à frente então. ― Você quer dizer os


outros humanos?

O olhar do robô encontrou o dela mais uma vez e ela podia


jurar que sua pupila se movia em seu olho como uma lente de
câmera.
― Afirmativo, ― disse ele.

― Como... ― Ela estava quase com muito medo de


perguntar. Por um ano inteiro, ela pensou que estava sozinha.
Então ela conheceu Lauren e depois Cleo. Agora lhe diziam que
havia outros. ― Quantos outros humanos existem?

O rosto do robô estava impassível enquanto ele falava. ―


Mais de dois stleks. Minhas varreduras não podem penetrar
completamente no porão.

Nia franziu a testa, confusa, e olhou para Ka'Cit.

― Mais de vinte e quatro, ― disse ele.

O coração de Nia bateu em seu peito e ela teve que se


agarrar a Ka'Cit para se manter firme.

― E, ― ela apontou para o dispositivo que o robô estava


segurando agora, ― isso vai ajudar? Isso vai ajudá-los?

A cabeça de V'Alen se moveu quase imperceptivelmente.


― Isso salvará suas vidas.

Ela não sabia por que, mas lágrimas encheram seus olhos
com esse pensamento.

O perigo em que se colocaram valeu a pena. Se eles


pudessem ajudar até mesmo um outro humano, teria valido a
pena.
― Você está... sufocada. ― Era a voz do robô e ela olhou
para cima para ver os dois machos olhando para ela. ― Minha
presença enerva você. Eu vou agora.

Ele se virou para sair e Nia estendeu a mão para ele, as


pontas dos dedos roçando seu corpo metálico. ― Espere!

Ele fez uma pausa e seu olhar caiu para as pontas dos
dedos dela.

Ela os afastou quando percebeu o que tinha feito, mas


prosseguiu com sua pergunta.

― Eles vão ficar bem... depois de tirá-los desta... espera?

O robô a estudou um pouco, então algo quase como um


sorriso fez seus lábios se contorcerem um pouco, ela não tinha
certeza.

― Eles estarão. Eles estão conosco. Vamos mantê-los


seguros. Assim como ele, ― seu olhar se moveu para Ka'Cit, ―
a manterá segura.

Nia assentiu.

Ela podia sentir a presença de Ka'Cit ao seu lado


enquanto observava o robô partir.

Sua mão subiu e um dedo roçou sua bochecha,


enxugando uma lágrima que ela não sabia que tinha caído.

― Você está vazando.


Nia engasgou com um soluço e uma risada ao mesmo
tempo. ― Eu acho que eu estou. Você não 'vaza'?

― Não. ― Ele fez uma pausa. ― Ajuda? Quando você vaza.


Isso faz você se sentir melhor?

― Às vezes. ― Ela forçou um sorriso.

― Nee-ya? ― Quando ela olhou para cima, a preocupação


era clara em seus olhos. ― Eu não entendi. Nós fizemos o
trabalho. Fomos bem sucedidos. Você foi bem sucedida. Eles
serão salvos por sua causa. Mas você está vazando por causa
disso.

Nia sorriu um pouco e descansou a cabeça no peito dele.

Uma mão surgiu e embalou sua cabeça, então ela ficou lá


por um tempo.

Ela não conseguia explicar a ele como se sentia e ele


parecia contente em deixá-la ficar lá.

Quando a outra nave se desligou e desapareceu mais uma


vez no vazio, Ka'Cit soltou um suspiro.

― Eu deveria... te levar para casa.

A maneira como ele disse isso, a tristeza absoluta em sua


voz, a fez olhar para ele.

Ela não podia ver seu rosto, mas seus olhos pareciam
aflitos.

Nia sorriu. ― Eu sei, tem sido meio divertido, não é?


Ka'Cit desviou o olhar do dela para olhar pela tela de
visualização.

― Acho que não posso ficar com você. Isso seria contra a
sua vontade e errado. Você não pode apenas manter as coisas
que deseja para si mesmo, só porque as quer. ― Parecia que
ele estava tentando se convencer mais do que fazendo uma
piada.

Nia desviou o olhar.

Era errado que ela quisesse que ele a “mantesse”?

O que quer que tenha acontecido entre eles mudou sua


vida para sempre.

Ela não sabia o que era normal depois disso.


CAPÍTULO 35

A viagem de volta à superfície de Hudo III foi em grande


parte repleta de silêncio.

Parecia que ambos estavam em suas cabeças e Nia não


percebeu a maior parte da jornada até que eles pousaram de
volta no Mercado.

Quando seus pés finalmente tocaram o chão de novo,


parecia que séculos haviam se passado desde que ela esteve
no planeta pela última vez.

Era como se ela tivesse passado uma vida inteira no


cosmos e ela olhou para Ka'Cit enquanto ele se aproximava
dela.

Ele ajustou o capuz de sua capa sobre sua cabeça.

― Nós devemos ir. Eles virão e verificarão esta nave em


breve. Não temos exatamente autorização para pousar aqui.

Nia assentiu enquanto ele olhava ao redor e eles seguiram


em uma direção que ela não conhecia.

Ele caminhou com segurança para onde estava indo e


logo a movimentada rua principal do Mercado veio à tona.

Andar com ele não era nada como andar com Riv e
Lauren.
Em vez de seres constantemente esbarrando nela
enquanto ela andava, o caminho estava sendo aberto diante
deles.

As pessoas estavam automaticamente saindo do seu


caminho. Era difícil acreditar que ela estava andando em uma
rua lotada.

Nia olhou para Ka'Cit, mas seus olhos estavam na frente.

Se ele percebeu o efeito que estava causando nos seres ao


seu redor, não deu nenhuma indicação que sim. Ou... talvez
ele não se importasse.

Ka'Cit abriu caminho entre a multidão, sua mão uma


presença constante em suas costas, e ela sentiu algum
conforto nisso.

Sua tatuagem falsa se foi. Ela ainda tinha a pulseira, mas


não a ajudou muito da última vez.

Eles logo estavam passando por aquela barraca que ela


tinha visto com Lauren, aquela com as estranhas criaturas
holográficas flutuantes.

Isso chamou sua atenção novamente quando eles


passaram e ela soltou um som de surpresa.

Havia um com um tilgran que se parecia com Morfeu.

― Morfeu! ― Ela sorriu para a imagem.

― Quem?
Nia balançou a cabeça. ― Apenas... me lembra um dos
tilgrans no Santuário.

Ela ficou séria.

Pensar no Santuário não trouxe os sentimentos que


deveria.

Não havia confusão quente.

Sem expectativa de retorno.

Apenas... tristeza.

Como se ela estivesse perdendo alguma coisa, porém, ela


não podia dizer o que era aquela coisa.

― Você nomeou os animais no Santuário? ― Havia algum


humor em sua voz.

― O que? ― Nia sorriu abertamente. ― Você não nomeia o


seu?

― Os animais com os quais lido não merecem ser


nomeados.

Ah.

Verdade.

Ele não era um fazendeiro.

Eles estavam fora do Mercado nos minutos seguintes e


Ka'Cit os levou para as baias dos carros flutuantes.
Nia olhou ao redor enquanto caminhavam. Ela nem tinha
pensado em como eles iriam voltar para o Santuário.

Todo o seu foco estava voltando para a Terra... ou melhor,


Hudo III.

― Você deixou seu carro aqui todo esse tempo? Você não
estava com medo de alguém... eu não sei... roubando ou algo
assim?

Ka'Cit zombou um pouco. ― Seria engraçado se eles


tentassem.

Ele foi em direção a um carro flutuante específico, um que


se destacou dos outros.

Era feito de metal escuro que era tão fosco que não refletia
nenhum brilho.

Também não tinha a forma dos outros carros flutuantes.


Este tinha o que pareciam ser motores de minifoguete nas
laterais.

Claro que este tinha que ser dele. Quem mais?

Ka'Cit ativou algo em seu bolso e a capota do carro se


abriu. Antes que ela pudesse protestar, ela estava sendo
levantada para dentro e a tampa estava fechando novamente.

― Espere... o que você está fazendo?

Seu olhar verde encontrou o dela e ela não podia ler o


olhar em seus olhos.
Ele estava assim desde que eles estavam voltando e ela
não conseguia afastar a sensação de que algo ruim estava
prestes a acontecer.

― Esqueci uma coisa, ― ele sacudiu a cabeça para trás no


Mercado, ― lá dentro.

Nia olhou ao redor deles.

Havia alienígenas entrando e saindo de carros flutuantes


enquanto os veículos chegavam e partiam.

A julgar por suas experiências passadas e o fato de que


ela era vulnerável sem a identificação adequada, ela não tinha
tanta certeza se queria esperar lá fora sozinha.

Ela não podia permitir que outro acidente acontecesse.

Ka'Cit deve ter visto a preocupação em seu olhar porque


ele pressionou outra coisa e o carro flutuante começou a
zumbir.

― Você estará segura. Se alguém chegar perto de você,


eles morrem.

Os olhos de Nia se arregalaram. ― O que?

― Ok, talvez não morra. Mas vai doer como phek.

Como demonstração, um enorme inseto do tamanho de


uma barata voou e pousou no para-brisa do veículo.

Em menos de um segundo, foi queimado até ficar


crocante.
― O que...

― Onda de energia, ― disse ele. ― Onda de alta energia.


Sobrecarrega os neurônios...

A mão de Nia voou para fora da porta, seus olhos


arregalados.

― Você está segura dentro dele. Só não saia e tente voltar.

Com os olhos arregalados, ela assentiu.

― Eu voltarei. Eu deixei aquela... coisa.

Ele correu de volta para a troca e Nia o observou ir.

Mais uma vez, a sensação de que tudo isso estava


chegando ao fim muito cedo passou por sua mente e ela
imediatamente o afastou.

Ka'Cit agarrou a holo-criatura e voltou para os


compartimentos dos carros flutuantes.

Havia algo pesado em sua alma, segurando-o.

Uma parte dele queria correr de volta para Nee-ya e outra


parte o fez querer ficar o máximo que pudesse longe de seu
veículo.
Se não voltasse rapidamente, poderia adiar o inevitável.

Quanto mais ele ficava longe, mais ela ficava com ele.

Mas ele sabia o que tinha que fazer.

Ele tinha visto o olhar em seus olhos.

Aquelas piscinas marrons dela eram expressivas e


refletiam exatamente o que ele estava sentindo por dentro.

Ela era como um ímã para ele.

Ele não queria se afastar, mas precisava.

Não havia outra escolha.

Enquanto desciam do vazio, voltando para a superfície,


ele pensou sobre isso, e pensou muito.

Ele teve que dizer adeus.

Ele estava certo.

Ele não podia mantê-la. Ele não podia forçá-la a ficar com
ele.

Ele se convenceu de que eles poderiam continuar como


amigos, mas quanto mais perto ficava de deixá-la no
Santuário, mais difícil era a decisão.

Ele sabia agora.

Ele poderia admitir para si mesmo.


Ele não queria ser apenas amigos... não depois do que
eles passaram... não depois do que eles compartilharam, não
depois do que ela o fez sentir.

E ficou claro que ela queria mais.

Essa foi a parte que mais o matou.

Se ele fosse qualquer outro macho... um macho


adequado, talvez pudesse considerar isso.

Phek.

Ao chegar ao compartimento de carros flutuantes, ele mal


percebeu os outros seres entrando e saindo dos carros ao seu
redor. Seu único foco estava na humana em seu veículo.

Como se sentisse sua presença, ela se virou e ele viu o


momento em que ela percebeu o que ele estava trazendo de
volta.

O tilgran holográfico flutuava no ar acima dele e ele sabia


que estava recebendo alguns olhares dos outros compradores.

O Esmagador de Ossos, andando pela Bolsa com um


brinquedo de criança...

Sua reputação provavelmente estava sendo questionada,


mas a pura alegria no rosto de Nee-ya... Phek. Valeu a pena.

Quando ele se aproximou do carro flutuante, porém, seus


passos vacilaram um pouco e seu órgão vital bateu em seu
peito. Pela milionésima vez desde que deram o pacote a V'Alen
e voltaram à superfície, ele se fez uma pergunta.

Ele poderia realmente fazer o que estava prestes a fazer?

As palavras de seu momor voltaram para ele.

Naqueles últimos momentos, antes de levá-lo


clandestinamente para a nave, ela disse algumas palavras que
ficaram com ele desde então.

― Estou deixando você ir porque é melhor para você.

― Mas... Momor. Eu não quero ir.

― Às vezes, meu caro Ka'Cit, você tem que deixar aqueles


que ama porque é melhor para eles.

E era melhor para Nee-ya se ele a deixasse ir.

Independentemente se ele a amava ou não.

Seu coração se partiu com o pensamento e ele parou de


andar.

Ele não a conhecia há muito tempo, mas no tempo que


passou em sua presença, ele se sentiu... feliz.

Como... a verdadeira felicidade. Não do tipo fugaz.


Ela combinava com a energia dele, ela não o julgava, ela
era feroz e linda e INCRÍVEL.

Ele poderia ser ele mesmo perto dela.

Seu órgão vital inchou e bateu enquanto seu corpo, sem


saber que parecia o tumulto em sua mente, ficou muito
excitado com as perspectivas – com a chance.

Ela era tudo o que ele queria em uma fêmea.

Só que ele não era nada que ela merecesse em um macho.

Uma fêmea como Nee-ya merecia um macho tão perfeito


quanto ela. E ele estava... quebrado.

Quebrado de muitas maneiras, mas essa era uma


maneira que ele não conseguia consertar.

Forçando-se para frente, ele continuou andando.

Ele quase não conseguia respirar quando chegou ao


veículo flutuante, engasgando com suas emoções.

Sem dizer nada, ele desativou a proteção de energia e


pulou no veículo.

Os olhos de Nee-ya ainda estavam acesos de excitação,


seu olhar na holo-criatura, completamente inconsciente da
sombra escura sobre seus pensamentos.

― Eu vi você olhar para ele quando passamos. Pensei…


Ela estava contra ele tão rápido, seus braços ao redor de
seu pescoço e seu corpo pressionando contra o dele.

Ele nunca se acostumaria com isso – essa tradição


humana de pressionar o corpo.

E em algum lugar no fundo de sua mente o pensamento


de que ele nunca teria a chance de fazê-lo brilhou como um
farol.

Em algumas horas, ele teria que dizer adeus.

― Você é tão doce!

Ele não era doce. Sua pele tinha um gosto bastante


suave.

― Muito obrigada!

Ela pressionou seu corpo contra o dele mais apertado e


ele colocou um braço ao redor dela, não tendo vontade de
afastá-la. E... não querendo.

Todo esse tempo com ela, ele estava pensando que ela iria
separá-lo de dentro para fora. E ainda assim, ele não
conseguiu encontrar a vontade de salvar nenhum deles disso.

Ele não queria resistir a ela.

Ele não poderia ter.

― Eu escolhi o certo? ― Ka'Cit mergulhou a cabeça no


cabelo dela e respirou fundo, desejando não estar usando a
máscara.
Ele queria aproveitar cada segundo com ela.

Ele queria absorver tudo.

Ela recuou para olhá-lo nos olhos e Ka'Cit engoliu em


seco enquanto ele a observava.

Linda.

Ela era perfeita.

Como diabos ele iria embora?

Até este ponto em sua vida, esta seria a coisa mais difícil
que ele já teve que fazer, e ele regularmente se colocava em
algumas situações de merda.

― Sim. ― Ela sorriu e seu olhar caiu para o movimento de


seus lábios. Ele queria provar aquela boca uma última vez,
mas... sua máscara.

Phek.

― É perfeito.

Você é perfeita.

Nee-ya recostou-se em seu lado do assento e Ka'Cit levou


um momento para observá-la interagindo com a holo-criatura,
acenando com a mão e maravilhando-se com a forma como o
animal reagia como se estivesse sendo escovado.

Houve um som nos céus que a fez olhar para cima e seus
olhos se arregalaram.
― Isso é... isso é um trovão?

Ka'Cit ergueu o olhar e avistou a nuvem escura acima.

― Haverá fluido de vida em breve. Queda.

― Chuva? ― Ela parecia espantada. ― Uau, acho que não


choveu desde que estive no Santuário.

Ela provavelmente estava certa.

A ocorrência era rara, mas sempre que acontecia, a


torrente era pesada.

― Eu tenho que te levar para casa. ― Parecia que ele tinha


dito aquelas palavras naquela sequência muitas vezes agora.
Quase como se ele estivesse tentando se convencer ao invés de
notificá-la sobre algo.

― Não sei. Essa coisa parece muito brava. Acha que


chegaremos lá a tempo?

Ka'Cit ligou o motor. ― Eu apostaria você nisso, mas seria


injusto. Você não sabe o que está máquina pode fazer.

Uma carranca se materializou em sua testa quase


imediatamente. ― O que mais ele pode fazer?

Ka'Cit riu.

― Segure firme, ta'ii.


CAPÍTULO 36

O carro flutuante estava se movendo tão rápido que


parecia que tudo ao redor deles era um borrão.

Ela não tinha ideia de como ele estava vendo para onde
eles estavam indo, mas ele estava focado e confiante.

Eles estavam superando a chuva!

Parecia perigoso, selvagem e livre.

Assim que eles chegaram na planície que levava de volta


ao Santuário, ela soltou um grito de prazer quando o carro
flutuante passou sobre a grama amarelo-a laranjada alta.

Ka'Cit olhou em sua direção, preocupação em seus olhos,


mas seu olhar suavizou imediatamente quando viu que ela não
estava apavorada, mas que estava... feliz.

E ela estava feliz.

Pela primeira vez em muito tempo, ela estava realmente


feliz.

Segurando no painel, Nia se levantou e jogou a cabeça


para trás. O vento brincava em seu cabelo e sua capa, e ela
fechou os olhos por um momento.

Naquele momento, ela se abriu e se permitiu sentir de


verdade. Mas isso só causou uma coisa.
A alegria que ela estava sentindo lentamente morreu
mesmo quando o carro flutuante começou a desacelerar.

Seus olhos se abriram e ela viu as estruturas familiares


do Santuário de Riv se aproximando.

Casa.

Seu olhar se moveu para Ka'Cit e ele a encarou.

― Casa. ― Ele ecoou seus pensamentos.

― Sim, ― ela respondeu.

Porra. Havia aquela sensação novamente.

Havia um olhar em seus olhos, um que estava lá desde


que passaram a noite juntos.

Ele se arrependeu?

...Ela não tinha.

À medida que o carro flutuante desacelerava ainda mais


quanto mais se aproximava da cerca de energia de Riv que
cercava a propriedade, Nia desviou o olhar dele.

Ela podia ver figuras dentro do pátio.

Riv e Lauren de repente olharam para cima, suas cabeças


inclinadas na direção do carro flutuante.

Eles estavam olhando para o veículo que se aproximava e


ela pôde ver quando Lauren percebeu que eram eles.
A fêmea nem hesitou. Ela estava correndo pelo caminho
em direção à barreira.

Um fio de culpa passou por ela.

Ela os fez se preocupar tanto. Enquanto ela estava lá fora


sendo abraçada, protegida e fazendo sexo com o macho ao lado
dela.

Seu olhar caiu sobre ele. Ele não estava olhando para ela
agora. Ele estava focado em Lauren enquanto ela se apressava
pelo caminho, um olhar estranho em seus olhos.

Enquanto Lauren se aproximava, porém, Nia percebeu


que estava enganada.

Ele não estava olhando para Lauren. Bem, não


diretamente. Ele estava focado na barriga arredondada de
Lauren.

O vento estava pressionando o vestido de Lauren contra


seu corpo, destacando a protuberância em grande detalhe.

Ela era ainda maior do que Nia havia percebido.

― Nia! ― Lauren quase tropeçou e Riv a pegou.

De volta à casa, mais duas pessoas apareceram, Sohut e


Cleo, e elas também começaram a se dirigir para a barreira.

Quando o carro flutuante parou, Nia saltou e correu em


direção a eles, assim que a barreira de energia parou de
zumbir.
― Lauren! ― Nia saltou para fora do veículo e agarrou a
outra fêmea, jogando os braços em volta do pescoço enquanto
tentava não esmagar a barriga de Lauren.

― Oh meu Deus, Nia! ― Lauren soluçou. ― Eu sinto


muito. Me desculpe.

― Desculpe pelo quê?

Lauren recuou o suficiente para que eles estivessem


olhando um para o outro. ― Nós não vimos... nós não ouvimos.
― Lágrimas escorriam livremente pelo rosto da fêmea e
provocaram suas próprias lágrimas, que Nia tentou segurar.

― Não foi sua culpa. Apenas um acidente realmente


bizarro. Mas estou segura agora.

Sohut e Cleo chegaram e Cleo imediatamente se juntou


ao abraço, transformando-o em um abraço grupal.

― Não posso acreditar que quase perdemos nossa


irmãzinha, ― ela disse.

Nia sorriu. ― Não pode se livrar de mim tão facilmente.

Riv fez um som atrás de Lauren, um que soou como um


suspiro chocado, e quando o olhar de Nia encontrou o dele, ele
parecia horrorizado.

― Nós não estávamos tentando nos livrar de você.


Naquela manhã, quando reclamei sobre você ser uma dor na
minha... ― Ele limpou a garganta e sua carranca se
aprofundou antes de passar a mão pelo cabelo. ― Esta é a sua
casa. Não estávamos tentando nos livrar de você.

Nia não pôde evitar. Ela sorriu.

A carranca de Riv se aprofundou, mas ficou claro que ele


estava se acostumando com a exibição de dentes de suas
humanas de vez em quando, pois ele não mostrou as presas
de volta.

― Eu estava apenas brincando, Riv.

― Mas você está bem? Eles te machucaram? ― Lauren


estava olhando para ela e Nia sorriu.

Lauren ia ser uma ótima mãe.

― Não, eu estou bem. Eu tive sorte.

― Eu concordo. Por sorte Ka'Cit estava lá. ― Sohut


finalmente falou e foi quando ela percebeu que Ka'Cit não tinha
dito uma palavra ainda.

Quando ela se virou, ela percebeu o porquê.

Ele havia saído de seu carro flutuante e estava encostado


nele, olhando na direção deles e ouvindo a conversa, mas não
havia cruzado a barreira para entrar no complexo.

― Ele foi... estranho com você? ― sussurrou Lauren. ― Eu


sei que ele é amigo de Riv, mas ele é um cara estranho. Se ele
foi ruim com você de alguma forma…
Nia estava balançando a cabeça antes que Lauren
pudesse terminar. ― Não. Não. Ele foi... perfeito.

Ela olhou para ele mais uma vez e saiu do abraço das
outras duas humanas.

Enquanto ela voltava na direção dele, aquela sensação


horrível que a estava pesando desde antes voltou e quando seu
olhar encontrou o dela, a sensação só se intensificou.

― Você vai entrar?

Ele mal balançou a cabeça, como se estivesse se


mantendo rígido, e quando seu olhar caiu para o braço dele
ainda segurando o carro flutuante, ela percebeu que estava
certa nessa suposição.

Seu braço estava flexionado com tanta força que ela podia
ver as veias saltando contra sua pele.

― Ka'Cit?

― Eu tenho que ir. ― Ele desviou o olhar dela. ― Agora.

A dor a encheu e a encheu profundamente, atingindo a


base de seu coração.

― Sim, ― ela tentou sorrir, mas era difícil, resultando em


um sorriso que mal estava lá. ― Eu acho que você tem... outros
trabalhos. Eu não quero fazer com que você se atrase para isso
também.

Ela viu, em vez de ouvir, o suspiro que deixou seu corpo.


Ele ainda não estava olhando para ela quando voltou para
o carro flutuante.

Porra.

O que estava acontecendo agora e por que era tão difícil?

Lágrimas estavam enchendo seus olhos por algum motivo


e ela estava tendo muita dificuldade em contê-las.

― Isso foi divertido.

Ka'Cit grunhiu. ― Foi, mas... você está melhor aqui. Este


é o seu mundo. ― Ele suspirou. ― Você está melhor aqui.

O fato de ele ter dito que ela estava melhor lá, duas vezes,
foi algo que ela notou e ela abriu a boca para dizer algo, mas
nenhuma palavra saiu.

― Isto é…

― Onde termina. Onde tudo volta a ser como era.

Havia tanta dor em sua voz que ela se perguntou se


estava ouvindo suas próprias palavras sendo ditas.

Uma grande e gorda gota de chuva caiu do céu e pousou


bem em seu rosto, mascarando a primeira lágrima que deslizou
por sua bochecha.

Nia a limpou e olhou para cima.

A nuvem escura se espalhou e o vento aumentou,


chicoteando o tecido de seu casaco.
Outra gota gorda a atingiu diretamente na testa.

– Entre, ― disse Ka'Cit.

Seu olhar ainda estava desviado e isso fez algo torcer em


seu coração.

― Ka'Cit? ― ela sussurrou.

― Você vai se molhar, ― ele continuou.

Talvez ela fosse uma idiota.

Ela pensou que havia algo lá, algo mais do que... ela nem
sabia...

Mas... era isso.

Era isso. O fim.

Virando-se, ela engoliu em seco e se preparou quando


começou a caminhar de volta para o grupo de alienígenas e
humanas esperando por ela.

Foi quando ela o ouviu chamar seu nome.

― Nee-ya…

O coração de Nia bateu em seu peito, a esperança


crescendo dentro dela como uma onda do mar. Olhando para
trás, seu olhar caiu sobre ele e a onda do mar quebrou.

Seu coração caiu.


Em sua mão estava o tilgran holográfico que ele havia
comprado para ela.

Engolindo o nó na garganta, Nia avançou para pegá-lo e


seus dedos roçaram os dele.

A eletricidade a atravessou com o toque de sua pele e ela


teve que se forçar a respirar normalmente.

Ela não estava apenas imaginando isso, estava?

Ela não podia ser a única afetada por isso.

Ele deve sentir isso também.

Ele deve!

Mas… ― Tchau, Nee-ya.

Seus olhos cheios de lágrimas encontraram os dele uma


última vez quando ele moveu a mão, quebrando o contato.

― Tchau, Ka'Cit.

Quando o carro flutuante se moveu para trás, virou e


começou a disparar pela planície, Nia o observou partir.

Tchau, Nia.

Suas palavras ecoaram em seu ouvido.

Não parecia uma despedida temporária.

Isso... isso soou como um adeus.

Conciso.
Frígido.

Final.
CAPÍTULO 37

Acontece que Sohut e Cleo não foram para a missão


porque estavam muito preocupados com ela.

Se não fosse pela ligação que ela conseguiu fazer do


relógio de Ka'Cit quando estava em órbita, eles teriam passado
o tempo todo sem noção e preocupados.

― Então nos diga o que aconteceu? Como Ka'Cit


encontrou você? Onde ele te encontrou? Juro, não paramos de
te procurar. Procuramos em todos os lugares. ― Os olhos de
Lauren estavam começando a lacrimejar novamente e Nia
estendeu a mão sobre a mesa para apertar a mão da fêmea.

Eles estavam todos sentados na sala principal, que eles


designaram como sala de estar e jantar, e a atenção de todos
estava sobre ela.

Felizmente, eles não perguntaram por que ela parecia tão


triste. Pelo menos, ainda não. Se qualquer coisa, ela apenas
diria que é porque ela estava um pouco cansada.

Esperançosamente, eles iriam comprá-lo,

Cleo tinha feito uma espécie de chá doce com algumas


ervas que ela e Sohut trouxeram depois de uma de suas
excursões, e havia uma xícara fumegante na frente dela.
Cheirava bem, mas ela não conseguia nem se concentrar
na bebida.

Tudo o que ela conseguia pensar era naqueles últimos


momentos à beira da propriedade.

Tudo o que ela podia ver era o carro flutuante de Ka'Cit


se afastando, de novo, e de novo, e de novo.

― Foram os Hedgeruds? Os Tasqals? Eles de alguma


forma afastaram você de nós? ― Lauren continuou. ― Nós não
vimos nenhum guarda. É como se você tivesse desaparecido.
Juro que quase entrei em trabalho de parto com o choque.

Riv rosnou alguma coisa, claramente descontente com


essa parte.

Nia forçou um sorriso. ― É estúpido como isso aconteceu.


Fui pego no meio da multidão e não consegui empurrar meu
caminho de volta. Os Niftrills fizeram isso. Acharam que eu
fosse um deles.

Riv xingou baixinho.

― Niftrills? ― Lauren perguntou.

― Sim. Meu manto se parecia com o deles. Eu sou um


tamanho semelhante a eles e eles não conseguiam me
entender. Pensei que eu estava com o grupo deles e eles meio
que me puxaram junto. Eu tentei chamar vocês, mas o barulho
do Mercado... ― Nia deu de ombros. ― Você não podia me ouvir.
Tudo bem agora. Estou aqui.
― Niftrills trabalham para comerciantes. Por que o
mercador não o deixou ir quando eles o levaram para a nave?
― Riv rosnou.

Um enorme suspiro deixou seu corpo e Nia fechou os


olhos por um segundo. ― O comerciante era um desonesto. Ela
examinou minha pulseira. Percebeu que era falsa. Ela não me
deixou ir depois disso. Ela me trancou.

― Trancou você? ― Lauren franziu a testa. ― Para levá-la


às autoridades ou algo assim?

Era difícil encontrar o olhar de Lauren e ela realmente


não queria que a fêmea se sentisse pior com toda a situação
do que ela já estava. Não foi culpa de Lauren.

― Ela queria me traficar.

A mão de Lauren voou sobre sua boca. ― Oh meu Deus.

Nia se apressou em acrescentar: ― Não é tão ruim quanto


parece.

Ela sabia que estava simplificando tudo, mas Lauren não


precisava de mais estresse, especialmente em sua condição.

E, bem, falar sobre isso a fez reviver, e tudo o que ela


conseguia pensar era nele.

― Mas Ka'Cit encontrou você. Como? ― Foi Sohut que


falou. Cleo estava estacionada em seu colo e ele teve que se
inclinar ao redor dela para poder fazer contato visual.
Nia deu de ombros, seu olhar caindo para o chá na frente
dela. ― Não sei como ele me encontrou. Mas eu tive sorte que
ele fez.

Os dedos de Lauren roçaram sua mão. ― Nia, você está


agindo... diferente. Há algo que você queira nos dizer?
Aconteceu alguma coisa com você lá fora? ― Ela fez uma
pausa, seu olhar disparando para seu companheiro e depois
para Cleo. ― Você está segura conosco. Você sabe disso certo?
Eu sei que erramos e não sei como vamos compensar isso,
mas... você pode nos dizer qualquer coisa. Vamos tentar
consertar.

Nia balançou a cabeça mais uma vez.

― Você não estragou tudo. ― Ela olhou ao redor do grupo.


Todos estavam olhando para ela com pesar em seus olhos. ―
Você realmente não estragou. Pense nisso como uma... viagem
grátis que fiz ao espaço.

Os olhos de Lauren se arregalaram e ela percebeu que


eles não sabiam que ela realmente deixou o planeta.

― Longa história. ― Nia sorriu e esse sorriso foi


interrompido por um bocejo.

― Você deve estar cansada, ― Cleo murmurou. ― Parece


muito. Você deveria ir descansar. Continuaremos essa
conversa mais tarde.

Nia assentiu.
― Tem certeza que está tudo bem? ― Lauren ainda a
estudava com olhos preocupados.

Nia assentiu novamente. ― Não é nada. Cléo está certo.


Estou realmente cansada. Mas para responder à sua pergunta,
nada aconteceu lá fora. Ka'Cit me ajudou a sair da nave. Eu vi
aqueles alienígenas que nos tiraram da Terra. ― Isso gerou um
suspiro coletivo. ― Ka'Cit lutou contra eles. Ajudei onde pude.
Acontece que há mais humanos por aí em algum lugar.

― O que? ― Isso também foi coletivo.

Nia bufou uma risada pelo nariz. ― Sim. Longa história,


mas eles estão seguros agora, eu acho. Conto sobre isso mais
tarde.

Ela não tinha energia para falar sobre isso agora.

No momento, ela só queria entrar em seu quarto e deitar


em sua cama na escuridão.

― Mas, sim, nada aconteceu além disso.

Nada.

Nada mesmo.
Ela ainda podia ouvir os outros se movendo pela casa,
mas Nia ficou na cama, ouvindo a chuva bater no telhado.

Em outro momento, teria sido um som calmante que a


embalaria para dormir. Mas agora, isso só aumentou sua
tristeza – um pouco como ouvir canções de amor tristes
quando o coração partido e feio chorando no travesseiro.

Só que ela não estava chorando.

Ela apenas se sentiu... entorpecida.

Ela estava apenas sendo estúpida?

Possivelmente.

Isso poderia ser simplesmente um efeito de estar sozinha


por tanto tempo. Isso, além de ver Cleo e Lauren tão felizes com
seus companheiros.

Isso é o que isso era.

Ka'Cit não lhe devia nada.

Coisas assim aconteciam o tempo todo na Terra.

Era estúpido dela esperar mais.

Ele era um macho, um bonito, que poderia estar com


qualquer fêmea que quisesse.

E se ele não a queria, então...

O pensamento a fez estremecer quando um soluço se


alojou em sua garganta.
Amanhã, ela voltaria à sua rotina de acordar cedo e
cuidar dos animais e do resto do Santuário.

A vida voltaria ao normal e ela poderia se livrar dessa


sensação de carência e perda que estava sentindo.

Fácil.

Certo?

Ka'Cit parou seu carro flutuante no meio da planície e


desligou o motor.

Ele estava a meio caminho entre sua casa e o Santuário


de Riv e aqui não havia nada.

Nada, exceto ele e seus pensamentos.

Sua dor.

A água estava caindo do céu com tanta força que ele mal
podia ver diante dele e a escuridão do céu permeava o mundo
ao seu redor.

Ele soltou um rugido enquanto batia o punho contra os


controles do carro flutuante.
Estendendo a mão, ele soltou sua máscara e a jogou fora
enquanto enterrava o rosto em suas mãos.

Tudo dentro dele lhe disse para virar o veículo, voltar para
o Santuário e reivindicar sua humana.

Tudo dentro dele.

Mas ele não podia.

Ele phekking não podia.

Por ela, ele tinha que deixá-la sozinha.

Ele podia ver isso em seus olhos.

Ele a machucou.

Era o oposto do que ele queria fazer, mas ele fez de


qualquer maneira.

Ela estava sofrendo.

Phek.

Ela provavelmente o odiaria depois disso e ele merecia.

Ele poderia tomar seu ódio.

Odiá-lo era bom.

Não para ele, mas para ela.

Mesmo que ela o odiasse, ainda havia uma chance de


encontrar a felicidade.
E com esse pensamento, ele reprimiu sua própria tristeza
e olhou para a torrente de água que caía diante dele.

Ele sabia que isso ia acontecer.

Ele sabia que o fim chegaria.

Então, por que era tão difícil continuar?


CAPÍTULO 38

Nos próximos dias, Nia fez exatamente o que ela queria


fazer.

Ela acordava cedo e quase tropeçava em Grot no corredor,


antes de sair para fazer suas tarefas.

A rotina voltou com facilidade e ela quase podia fingir que


sua pequena aventura não tinha acontecido.

Ka'Cit não havia retornado ao Santuário desde aquele dia


chuvoso, mas isso não era fora do comum.

Ele não tinha visitado regularmente antes; por que ele


faria isso agora?

Enquanto jogava estrume na raiz de uma das árvores


frutíferas fofas, Nia sentiu uma dor no peito.

Desde que ela voltou naquele dia, aquela dor tinha se


desenvolvido e não tinha ido embora. Toda vez que ela pensava
nele, ela sentia isso.

Ela poderia esquecer. Pelo menos, ela estava tentando


esquecer, mas até mesmo o pequeno animal holográfico que
ele deu a ela a lembrava dele.

E ela via a coisa todos os dias.

Ela só podia ignorá-lo.


O que mais ela poderia fazer?

Ela realmente não tinha nada para se sentir triste.

Lauren e os outros estavam tentando o seu melhor para


fazê-la feliz, mesmo que ela lhes dissesse constantemente que
não precisavam.

Ela não os culpou por nada do que aconteceu, mas eles


ainda guardavam alguma culpa.

Cleo não parava de fazer aquele chá doce para ela, Sohut
procurava nozes que tivessem gosto de amêndoas, Lauren
passava o tempo na cozinha tentando criar comidas humanas
como pãezinhos de canela e biscoitos de aveia, e até Riv tentava
não fazer tanta cara feia para ela.

Ela apreciava tudo, mas ao contrário do que eles


acreditavam, ela não estava triste com o que havia acontecido.

Ela estava triste por causa do que parecia que ela tinha
perdido.

Nia largou a pá e se inclinou contra uma das árvores,


seus olhos se movendo para o céu.

A chuva havia caído por três dias inteiros e o solo ainda


estava encharcado. Ao longo desses três dias, ela se
concentrou em esquecer, embora sem sucesso.

― O que eu fiz errado? ― Suas palavras eram um sussurro


levado pelo vento leve.
Mas o que ela tinha feito de errado?

Ele nem ligou...

Era como... se ela não existisse.

Controle-se, Nia. Você é realmente se sente tão solitária?

Você tem uma família. Você tem os animais. Você tem mais
do que a maioria.

E isso era verdade.

Seus ombros enrijeceram quando ela se inclinou para


fora da árvore e pegou o balde e a pá.

Enquanto ela voltava para os prédios principais, ela


repetia isso para si mesma várias vezes.

Ela tinha mais do que a maioria.

Ela deveria estar agradecida.

Houve um estrondo alto quando ela chegou ao prédio


principal e viu Grot correr da casa principal um pequeno
animal que parecia um chihuahua misturado com um macaco
correndo diante dele.

O pequenino era o animal de estimação de Cleo e ele e


Grot tinham uma briga contínua, embora eles nunca tivessem
machucado um ao outro.
O animal de estimação de Cleo parecia fofo, mas era uma
coisinha cruel. Ela o viu atacar um dos robôs nos campos uma
vez.

O robô não sobreviveu.

Ao ouvir Lauren gritar da casa, Nia bufou uma risada pelo


nariz.

― Grot! Deixe Wawa em paz! ― Lauren apareceu na porta,


segurando a barriga enquanto gritava. ― Tão teimoso!

Lauren estava franzindo a testa e quando seus olhos


caíram sobre Nia, ela corou um pouco.

― Desculpe, isso deve ser loucura para você.

Nia balançou a cabeça. ― De jeito nenhum.

Ela observou os animais correrem para os campos antes


de seu olhar voltar para Lauren.

― Vim de uma família grande. ― Pelo menos, ela


considerava todas aquelas crianças que seu pai ajudou como
parte de sua família.

Ela era filha única, mas a vida doméstica como está a


confortava. Especialmente quando ela estava se sentindo uma
merda, como hoje.

Seu olhar caiu para a barriga de Lauren enquanto a


fêmea o esfregava e ela sorriu novamente.
― Não me olhe assim, ― Lauren gemeu. ― Não é tão bom
quanto parece. Esta criança está crescendo mais rápido do que
meu corpo pode acompanhar e eu juro que ele acha que minha
bexiga é um saco de pancadas.

O sorriso de Nia aumentou, ela não pôde evitar, e Lauren


respirou fundo antes de sorrir também.

― Cuidado, você vai ver.

Nia pousou o balde e a pá assim que Morfeu baixou a


cabeça para mastigar o cabelo dela.

― Morfeu. ― O tilgran parou e ela se concentrou


novamente em Lauren. ― O que você quer dizer, eu verei.

Lauren deu de ombros. ― Quando for a sua vez, você vai


ver.

Nia balançou a cabeça. ― Tenho certeza que isso não vai


acontecer.

― O que te dá tanta certeza?

Bem, talvez porque o único macho com quem ela


conseguia pensar em ter um relacionamento havia se
esquecido dela?

Ela não disse isso, embora.

Ela apenas balançou a cabeça. ― Tomaria um milagre.

Lauren sorriu e balançou as sobrancelhas. ― Milagres


acontecem.
Nia assentiu e concordou.

Sim eles acontecem.

Mas se cada humano tivesse recebido um certo número


de milagres. Ela tinha certeza de que já tinha usado todo o
dela.
CAPÍTULO 39

Os dedos de Ka'Cit roçaram as tranças de seu cabelo.

Bem, os restos deles.

Fazia semanas desde que os dedos dela os haviam


cravado em seus cabelos e ele tentou o seu melhor para
preservá-los.

Mas a cada dia que passava, eles se desenrolavam mais e


mais. Um pouco como tudo dentro dele.

Ele mal conseguia mantê-lo junto.

Um olhar para o painel de controle refletivo de seu carro


flutuante e ele soltou um suspiro.

Seus olhos verdes o encontraram e o resto de seu rosto


também.

Ele não estava usando sua máscara hoje... nem estava


usando suas roupas escuras padrão.

Hoje ele não era o caçador de recompensas que fazia


trabalhos de graça.

Hoje ele não era o Esmagador de Ossos.

Hoje ele era ele mesmo.

Ka'Cit Urgmental.
O macho que Nee-ya viu que ele era.

Seu órgão vital se apertou em seu peito com a menção do


nome dela e solidificou por que ele tinha que fazer isso.

Ele teria feito isso mais cedo também se pudesse resolver


as coisas a tempo, mas o que deveria ter levado dias acabou
levando semanas.

Acontece que não manter registros de seus bens todo esse


tempo, não se importar com tudo o que ele construiu desde
que estava sozinho, não tinha sido a mais sábia das ideias.

Mas, ele não podia estar zangado consigo mesmo sobre


isso.

Ele não se importava com suas posses mundanas. E ele


não se importou porque ele sempre viveu o último dia como se
fosse apenas aquele... seu último.

Somente agora…

Phek.

Ele passou a mão pelo rosto enquanto olhava para seu


reflexo.

Agora, ele tinha motivos para pensar sobre esses ativos.

Eles finalmente tinham algum propósito.

Saindo do veículo, ele trancou as portas e ligou o escudo


protetor.
Ninguém olhou para ele enquanto ele passava pela Bolsa
e mais pessoas se atreveram a esbarrar nele.

Ele quase podia fingir que se encaixava.

Ele tinha um destino – um enorme prédio do governo em


uma extremidade da Bolsa.

Ele tinha alguém que precisava ver lá. Alguém em quem


ele confiava para lidar com isso corretamente.

Preso em seus pensamentos, não demorou muito para ele


chegar ao prédio e ele piscou quando entrou pelas portas, seu
órgão vital batendo contra o peito.

A decisão que ele estava prestes a tomar era grande. Mas


era o certo.

Um funcionário atrás da mesa olhou para ele, seu olho


singular piscando com tédio enquanto ela gesticulava para ele.

― Preciso falar com Geblit.

O funcionário piscou para ele mais uma vez.

― Embaixador Geblit Cakhura, ― ele repetiu.

― O embaixador Cakhura não atende chamadas pessoais.


Lidamos com todas as perguntas aqui neste andar.

Ka'Cit conteve um rosnado.

Foi aí que sua máscara ajudou.


Os seres sempre subestimaram aqueles que achavam que
não tinham poder.

Soltando um suspiro, ele alcançou os papéis que estava


segurando e os folheou. O funcionário o observou com
desinteresse até que encontrou o que procurava e o deslizou
na direção dela.

Seu olho entediado foi para o papel e ela piscou


lentamente enquanto lia o que estava lá.

Ele viu o momento em que ela percebeu seu erro, quando


seu olhar de repente ficou alerta e sua cabeça virou em sua
direção.

― Oh.

O olhar de Ka'Cit se estreitou. ― Certo. Agora, onde ele


está?

Nos minutos seguintes, os funcionários saíram da toca ao


redor do prédio, a maioria ignorando seus deveres de agradá-
lo.

A notícia aparentemente se espalhou.


Ofereceram-lhe refrescos. Um convite para a sala de
espera privada. Entretenimento enquanto ele esperava.

Ka'Cit os ignorou.

Ele só queria falar com Geblit.

Ele estava prestes a se levantar e ir procurar o próprio


Torian quando ouviu a voz de Geblit ecoar pelo corredor.

― Tudo bem, tudo bem. Dê-me espaço. Juro, parece que


foi a primeira vez que vocês, seres, estiveram na presença de
uma dignatá...

Os olhos de Geblit se arregalaram quando se fixaram nele


e os lábios do Torian formaram uma linha fina.

Ele balançou a cabeça e começou a se virar para ir na


outra direção. ― Não ― disse ele, e Ka'Cit teve certeza de que
ouviu os funcionários suspirarem.

Ka'Cit se levantou. ― É negócio, Geblit.

Geblit olhou por cima do ombro, estreitando os olhos. ―


Se bem me lembro, seu tipo de negócio...

Ka'Cit sorriu um pouco. ― Negócio limpo.

O olhar de Geblit se estreitou um pouco mais antes de


disparar para os funcionários interessados que os observavam.

― Bem, o que você está olhando? Volta para o trabalho. ―


Ele os enxotou. ― E você, siga-me... embora eu tenha certeza
de que estou pedindo problemas ao convidá-la para o meu
escritório, ― ele murmurou enquanto voltava pelo corredor. ―
Você e seus amigos sempre me trouxeram problemas.

Geblit continuou resmungando consigo mesmo enquanto


a porta de seu escritório particular se fechava atrás deles e ele
se sentava atrás de sua mesa.

― O que você quer Urgmental? E, por favor, não me diga,


― ele fechou os olhos por um segundo, ― não me diga que tem
algo a ver com contrabando de alguma coisa.

Diante de sua expressão vazia, Geblit soltou um suspiro


exasperado.

― Muito bem. Acho que não tenho escolha a não ser ouvir.
Lamento o dia em que me envolvi com vocês três.

Ka'Cit soltou uma risada. Geblit sempre dissera isso


sobre ele, Riv e Sohut. ― Você já está aqui. Está registrado nos
registros. Se alguma coisa eu direi que você veio para discutir
seus ativos.

― É isso que estou aqui para discutir.

― Ah ― Geblit se iluminou. ― Então, por todos os meios,


sente-se.

Ele gesticulou para o assento na frente dele antes de


ativar seu computador.

A tela holográfica se materializou no ar antes que o Torian


e Geblit tocassem algumas entradas na tela antes de olhar
para trás em sua direção.
― Agora, e quanto aos seus ativos.

― Quero que eles sejam transferidos.

Dois dos olhos de Geblit se arregalaram, enquanto os


outros dois permaneceram do mesmo tamanho. ― O que?

― Quero que eles sejam transferidos. ― Ka'Cit deslizou os


papéis em sua mão na direção de Geblit e o Torian os pegou,
folheando rapidamente enquanto seus olhos corriam pelas
páginas.

― Isso... isso é muito para transferir para um ser...

Ka'Cit deu de ombros. ― Eu não vejo o seu ponto.

Geblit piscou para ele como se estivesse olhando para um


idiota. ― Não é comum para um dignitário

― Não sou nenhum dignitário. Não há nada digno em


mim.

Geblit zombou. ― Seus ativos... seu status... eles dizem o


contrário.

― Só porque você e aqueles outros canos de excremento


que dirigem este planeta pensam que eu sou rico não me torna
digno. Eu sou apenas... sortudo.

Geblit zombou de novo. ― Bem, eu vi onde você mora.


Concordo.

Em outra circunstância, ele poderia ter rido.


― Apenas me diga o que você precisa para fazer isso e eu
fornecerei. ― Ele observou enquanto Geblit examinava os
papéis mais uma vez.

― Está tudo aqui. Deve ter sido uma dor no esfíncter


tentar reunir todas essas escrituras... Tem certeza disso?

― Tão certo quanto meu órgão vital batendo no meu peito.

― Você tem o hábito de ser... imprudente. Se isso for um


erro... não pode ser desfeito.

Ka'Cit se inclinou para frente e olhou o Torian nos olhos.


― Eu cometi muitos erros na minha vida. Este não é um.

Geblit o estudou por mais alguns momentos. ― Ok. Vou


processá-lo, mas levará algum tempo. ― Ele olhou de volta para
os papéis. ― Você fez um trabalho horrível em manter esses
registros.

Ka'Cit soltou uma risada suave pelo nariz.

Ele tinha feito um trabalho horrível na vida em geral até


agora.

Esta pode ser a primeira boa decisão que ele já tomou.


CAPÍTULO 40

Ela parou de contar os dias... as semanas... mas a cada


dia que passava, as coisas ficavam mais fáceis.

Ela podia sorrir agora e se esforçar o suficiente para


convencer os outros.

Ela podia até se convencer quando se olhava no espelho,


apesar da dor em sua alma da qual não conseguia se livrar.

Mais de uma vez, ela se pegou apenas olhando para o


nada, a imagem do carro flutuante de Ka'Cit recuando sobre a
grama alta se repetindo em sua cabeça.

Ela estava certa.

Naquele dia, foi um adeus.

Um último.

Ele não voltaria e ela não deveria ter esperado que ele
voltasse.

O que aconteceu entre eles não o afetou do jeito que a


afetou.

Ela realmente era uma tola.

E essa percepção transformou seu desejo, sua esperança,


em raiva.
Ela estava sentada em um dos enormes fardos de feno
agora, olhando para a grama alta.

Desde aqueles três dias chuvosos que se seguiram à sua


partida, as condições eram bastante secas.

O sol brilhava como sempre e o vento era uma carícia


suave.

Nia esfregou as pedrinhas que tinha na mão e


distraidamente jogou uma em um balde distante.

Acertou o balde com tanta força que a coisa tombou.

Pegando outro, ela jogou novamente, acertando o balde


mais uma vez.

Aquele era duro o suficiente para amassar a lateral do


contêiner.

Sua precisão havia melhorado nas últimas semanas; ela


tinha certeza de que poderia acertar as coisas agora com os
olhos fechados.

A raiva era um combustível que ela nunca soube que


acharia útil.

Ela flexionou o pulso para jogar outra pedrinha quando


seu olhar captou algo se aproximando à distância.

Nia congelou e seu coração bateu em seu peito.

Quando ela se levantou em cima do fardo de feno, ela


apertou os olhos e se concentrou.
Um carro flutuante.

Mas mesmo à distância, ela podia dizer que não era dele,
e ela sentiu seu coração afundar – um sentimento que foi
prontamente seguido por raiva de si mesma por ter esperança.

O carro flutuante que se aproximava parecia novo. Tinha


curvas suaves e uma pintura que o fazia brilhar à luz.

Saltando do fardo de feno, Nia se moveu mais para baixo


no caminho e levantou a mão para proteger os olhos do sol.

Assim que reconheceu quem era, virou-se e gritou para a


casa: ― Riv! Geblit está aqui para vê-lo.

Alguns momentos se passaram antes que Riv enfiasse a


cabeça pela porta com Lauren seguindo logo atrás dele.

Os dois eram inseparáveis, especialmente agora que


Lauren parecia perto de estourar.

Riv fez uma careta e Nia se virou para ver o carro


flutuante parando na barreira.

Geblit Os quatro olhos de Cakhura a encontraram antes


de disparar para Riv. ― Bem, você não me deixará entrar?

― Geblit, em nome de Raxu, se você me trouxe outra


humana…

Geblit parecia ofendido e seus quatro braços cruzados,


sua pele verde ficando levemente cinza. ― Não quero mais nada
com essas humanas problemáticas. Posso assegurar-lhe que
estou aqui a negócios oficiais.

Riv rosnou e desapareceu dentro da casa.

Alguns momentos depois, a barreira elétrica parou de


zunir e o carro flutuante de Geblit avançou lentamente para
dentro da propriedade.

― Olá Geblit. ― Lauren sorriu para o alienígena e, ao


descer o caminho para ficar ao lado dela, Nia viu o momento
exato em que o olhar de Geblit caiu sobre a barriga da fêmea.

Seus quatro olhos passaram de estreitos a fendas para se


tornarem grandes poças redondas em sua cabeça.

― Você... você... você está se multiplicando. ― Ele quase


caiu para trás em choque.

Lauren riu e esfregou a barriga.

― Sim, você vai ser um tio.

― Absolutamente não! ― A grande saliência atrás da


cabeça de Geblit pulsava. ― Se humanos adultos trazem tantos
problemas, não consigo imaginar o que as crias imaturas de
sua espécie farão com a minha vida. ― Ele fez uma careta,
então a cor sumiu de sua pele. Seu olhar caiu sobre Riv, que
agora estava descendo o caminho em direção a eles. ―
Phekking qrak, será um híbrido.

Ele começou a balançar a cabeça. ― Estou lhe dizendo a


partir deste momento, não quero nada com isso... essa prole.
Lauren riu novamente. ― Acho que o bebê gosta de você.

Sem aviso, ela agarrou um dos braços de Geblit e colocou


a mão dele em sua barriga.

Geblit ficou tão chocado que não conseguiu se mexer. ―


O que você está...

Então ele congelou, seu olhar caindo para a barriga de


Lauren. ― A pequena ameaça já está tentando me atacar.

Nia teve que abafar uma risada enquanto Lauren ria


abertamente.

Os olhos de Riv se estreitaram e ele rosnou baixinho.

O corpo de Geblit relaxou um pouco. ― Sua geração será


um grande lutador, ― disse ele.

Todos ficaram em silêncio então.

Admitir que ele poderia realmente gostar da criança era


um momento que ninguém queria estragar.

Riv fez um som em sua garganta. ― Que negócio você


tem? Você não faz recados.

Geblit afastou a mão de Lauren, sua pele ficando um


pouco mais escura.

― Certo, ― disse ele. ― Isso é porque isso é fora do comum.


Eu tive que fazer isso sozinho.

Nia olhou entre eles.


Hora de ela sair e dar a eles um pouco de privacidade.

― Eu estarei dentro se você precisar de mim. ― Ela acenou


para Riv e Lauren. ― Prazer em vê-lo novamente, Geblit. ― E
ela quis dizer isso. Ela não o via desde aquele dia em que ele a
comprou e a levou para o Santuário.

Se não fosse por ele, ela não estaria segura agora.

Ela começou a se afastar quando a voz dele pegou seu


ouvido.

― Na verdade, Nee-ya. Este negócio diz respeito a você.

Nia se virou. ― Huh? Eu?

Geblit foi até seu carro flutuante e tirou um pequeno


pacote e um pedaço de papel transparente enrolado como um
pergaminho. Havia uma escrita gravada nele que ela não
conseguia ler.

― Estes são seus.

Ele lhe entregou o pacote, ignorando seu olhar confuso.

― O que é isso?

― Sua pulseira de identificação e as escrituras de


autorização. ― Geblit falou enquanto pegava outra coisa no
carro.

Nia piscou e seu olhar voou para Lauren e Riv. Lauren


deu de ombros.
― O que? ― ela perguntou novamente. ― Eu... eu não
tenho uma pulseira de identificação.

― Agora você tem. ― Geblit finalmente encontrou o que


estava procurando e o tirou. Era um pequeno dispositivo que
parecia um grampeador.

Ele se moveu em direção a ela. ― Seu pulso, por favor.

Nia balançou a cabeça. ― Não entendo. Isso é sobre o


quê?

Geblit suspirou, estreitando os olhos de tédio.

― Sua pulseira de identificação. O que você recebe


quando está legalmente registrada? Não é mais uma
refugiada? Uma residente plena de Hudo III com direitos
iguais. ― Seu olhar entediado não mudou. ― Certamente você
sabe o que é isso. Aquela outra humana problemática tem um.
Ele sacudiu a cabeça para Lauren.

As pálpebras de Nia tremeram quando ela piscou para


ele. ― Eu sei o que é, mas não tenho... ― Seu olhar se moveu
para Riv.

― Você tem algo a ver com isso? Isso não tem nada a ver
com o que aconteceu há algumas semanas, certo? Eu disse a
vocês que estava tudo bem… Vocês não precisavam…

Mas a confusão no rosto de Riv fez com que suas palavras


parassem na garganta.
As sobrancelhas de Riv se moveram um pouco, seus
frisos franzindo enquanto ele franzia a testa. ― Estou tão
confuso quanto você.

― Sohut? ― ela perguntou.

Riv balançou a cabeça. ― Ele teria dito alguma coisa.

― Então quem…

― Não me diga que ele não lhe disse que estava dando
metade de seus bens para você. ― Agora, Geblit parecia
aborrecido.

― Quem? ― Eles ecoaram um ao outro enquanto todos se


concentravam em Geblit.

― Ka'Cit Urgmental.

O coração de Nia batia tão forte em seu peito que ela tinha
certeza de que estava impresso em sua pele.

Ela ouviu direito? ― O que?

Geblit fechou os olhos com força. ― Ele veio há algum


tempo e arquivou a documentação. Estou surpreso que ele não
tenha lhe contado sobre isso, considerando a... extensão do
arquivamento que tinha que ser feito.

Nia piscou. ― Ele pagou por mim? ― Sua voz era apenas
um sussurro e o pacote e o papel que ela segurava em suas
mãos tremeram um pouco enquanto seus dedos tremiam.
― Ele pagou pela sua liberdade, ― corrigiu Geblit. ―
Agora...

O alienígena verde estendeu a mão e agarrou seu pulso


tão rápido que ela não teve tempo de responder.

Em seguida, tudo o que ela sentiu foi uma dor incômoda


em seu pulso.

Nia olhou para seu pulso enquanto ele a soltava, seus


olhos se arregalando a cada segundo.

Diante de seus olhos, a tatuagem estava marcando sua


pele. Uma tatuagem como a que Lauren tinha.

Geblit pegou um disco fino e transparente de algum lugar


e o colocou debaixo da boca dela.

― Por favor, deposite sua amostra de DNA.

― Eu não entendo... ― Nia piscou para a tatuagem.

Lauren e Riv ainda pareciam tão confusos quando se


entreolharam.

Geblit soltou um suspiro.

― Você abre sua boca, deposita seu fluido no disco. ―


Seus olhos se estreitaram para ela como se ela estivesse sendo
uma idiota. ― E não coloque nenhum de seus fluidos em mim,
eu imploro.
― Não, quero dizer, eu não entendo tudo isso. ― Ela
gesticulou para a tatuagem e os papéis em sua mão. ― Por que
Ka'Cit faria isso?

― E por que você teve que vir aqui para completar o


registro? ― Riv rosnou.

Geblit respirou fundo e sua mão caiu com o disco ainda


entre os dedos. ― Por causa da grande quantidade de ativos
que estão sendo transferidos.

― O que? ― todos eles perguntaram.

― A propriedade de Ka'Cit Urgmental é... considerável.


Você recebe metade disso.

― O que você quer dizer com considerável? ― Nia mal


conseguia respirar.

― Considerável o suficiente para que um funcionário


tenha que viajar para o meio do nada para entregar os papéis
a você, ― brincou Geblit.

Nia começou a balançar a cabeça. ― Eu não posso... eu


não posso aceitar isso. ― Seu olhar encontrou o de Geblit e
agora ele parecia confuso. ― Você tem que pegar de volta. Eu
não posso... aceitar isso.

― E por que o phek não? ― Os olhos de Geblit se


estreitaram mais uma vez.

Uma mão suave puxou seu braço e ela percebeu que


Lauren a estava puxando para o lado.
Ela estava tão fraca que foi sem protestar quando Riv e
Geblit começaram a conversar.

― Você sabia que ele ia fazer isso? ― sussurrou Lauren.

Nia balançou a cabeça. ― Nenhuma ideia. Eu... eu não


entendo por quê. Ele entrou em contato com Riv desde que me
trouxe de volta?

Lauren balançou a cabeça. ― Não.

― Eu não posso aceitar isso.

Lauren agarrou seu braço com força. ― Sim, você


absolutamente pode.

Nia piscou. Ela não esperava essa resposta.

― O que você quer dizer?

― Quero dizer, ― o olhar de Lauren tornou-se pontudo, ―


bênçãos às vezes são disfarçadas. E isso é uma bênção. Você
estará livre. Verdadeiramente livre. Você não pode desistir
disso.

Nia balançou a cabeça novamente. ― Você não entende.


Como posso aceitar um presente tão grande de…

― De um estranho?

Não.

Mas ela não conseguia encontrar as palavras certas.


Ou melhor, ela não queria dizer as palavras que lhe
vinham à mente.

Como ela podia aceitar tal presente de um macho que não


falava com ela há semanas? Quem não ligou para dizer oi?

Quem parecia ter esquecido dela, mas provavelmente não


tinha porque ele pagou por seu “visto”, por assim dizer?

Mas acima de tudo, como ela poderia aceitar um presente


tão grande do macho que ela amava, mas que deixou claro que
não queria nada sério.

O macho que ela amava...

Seu coração doeu.

Ela se apaixonou por ele e até aquele momento, ela não


tinha admitido isso para si mesma.

Todas essas poucas semanas de dor, de dor, de desejo, de


desejo... foi tudo porque ela se apaixonou por ele.

Uma miríade de emoções inchou dentro dela.

Geblit levantou a voz. ― Você vai me dar essa amostra ou


não? Eu preciso disso para o registro.

Nia balançou a cabeça. ― Não.

Geblit pareceu surpreso. ― Não?

― Não, ― Nia repetiu e começou a se afastar. Seu peito


estava arfando e sua respiração estava começando a ficar
difícil como se ela estivesse presa em um pequeno espaço
escuro.

― Bem, acho que você pode entrar e depositar a amostra


em outro momento ― ela ouviu Geblit murmurar enquanto se
afastava.

Ela só precisava de um lugar para pensar sozinha e talvez


as coisas fizessem sentido.
CAPÍTULO 41

As coisas não faziam sentido de imediato... ou no dia


seguinte.

Na verdade, em vez de as coisas ficarem claras, elas só


ficaram mais confusas.

Cada hora que passava trazia outra pergunta sem


resposta até que suas noites foram preenchidas com ela
olhando para a escuridão, incapaz de dormir enquanto seus
pensamentos a atormentavam.

Pelo menos, durante o dia, ela poderia deixar seus


pensamentos de lado e se concentrar no trabalho.

Ainda assim, isso não se livrou da fervura debaixo de sua


pele.

Nia agarrou a pá ao entrar no recinto do tilgran. Morfeu


abaixou a cabeça, tentando acariciá-la, mas Nia deu de
ombros.

― Hoje não, Morfeu. Eu não estou no clima.

O tilgran levantou a cabeça e olhou para ela.

Nia ignorou o animal e começou a remover os dejetos,


despejando-os no balde perto de seus pés.
Cada pá cheia recebia um clarão e cada arranhão da pá
era alimentado pela raiva que queimava como um fogo dentro
dela.

Como ele se atreve.

Como ele se atreve!

Ela não era um caso de caridade, se é isso que ele a via.

Ela podia não ter muito, mas estava disposta a encontrar


uma maneira de se pagar neste novo mundo.

Ela não precisava de sua caridade.

Agarrando o balde, Nia saiu do recinto e fechou o portão.

O estrondo ecoou pelo Santuário e quando ela se virou,


quase esbarrou em Riv.

Segurando o balde em sua mão, Nia não parou. Ela


simplesmente contornou o macho e se dirigiu para o campo de
frutas.

Não era culpa dos outros, seu humor atual, mas ela não
podia evitar.

Ela não queria falar com ninguém e não queria que


tentassem convencê-la a aceitar esse presente excessivamente
generoso.

Pois foi muito generoso.


Generoso o suficiente para Riv quase cair da cadeira
quando abriu o jornal e o leu.

Aparentemente, Geblit não estava brincando quando


disse que o Sr. Ka'Cit Urgmental tinha ativos consideráveis.

Ele era rico... e agora metade dessa riqueza era dela.

De repente, ela passou de não ter nada para possuir mais


do que Sohut e Riv juntos.

Não parecia certo.

O que ela tinha feito para merecer isso? Nada.

E aí estava a base da raiva que corria por suas veias.

Ela não merecia nada disso.

Ela o odiava.

Nia parou de andar com esse pensamento. Seus ombros


ficaram tensos e ela agarrou o balde com mais força.

Não.

Ela não o odiava.

Ela se odiava.

Essa raiva era por causa dela.

Ela odiava o fato de ter deixado o pouco tempo que passou


com ele entrar tanto em sua cabeça.
Ela odiava não poder aceitar o fato de que ele já havia
seguido em frente.

Mas seguido como?

Eles não tinham realmente dito que gostavam um do


outro ou qualquer coisa remotamente parecida com isso.

Era tudo emoções, nada concreto, e quando ela deixou as


emoções governarem sua vida?

Seu coração apertou e a raiva cresceu dentro dela.

Ela queria se juntar ao exército. Suas emoções teriam


sido inúteis então, rasgadas em pedaços, rasgadas e
enterradas antes que ela fosse para o campo de batalha.

Mesmo como enfermeira, suas emoções também tinham


que ser trituradas e enterradas antes de tratar um paciente.

As emoções eram inúteis.

Então foda-se ele!

Ela passou os próximos minutos despejando o lixo nas


raízes das árvores e tentando acalmar sua mente antes de
voltar para os prédios principais.

Um suspiro deixou seu corpo quando ela levou um


momento para colocar o balde no chão e se apoiar em um dos
fardos de feno.

O sol estava se pondo e o céu estava lentamente ficando


roxo.
Muito acima, ela podia ver algumas estrelas já brilhando.

Seria uma noite calma.

Se ela pudesse dormir.

― Nia? ― Nia pulou com a voz de Lauren. Ela não tinha


ouvido a aproximação da fêmea.

― Oi, Lauren. ― Nia forçou um sorriso e os olhos de


Lauren se suavizaram.

― Você está bem? Riv disse que você ainda parecia


chateada.

― Estou bem. ― Ela forçou outro sorriso. ― Eu realmente


estou.

Por dentro, algo dentro dela murchou.

Ela sabia que estava fazendo uma birra adulta, mas toda
a situação de Ka'Cit a deixou louca.

Ele a deixou louca.

Lauren veio ficar perto dela e se encostou no feno


enquanto eles se viravam para olhar o sol poente.

― Eu estava com raiva de Riv em um ponto, antes de


nós... ficarmos juntos. Eu queria arrancar o cabelo dele.
Inferno, eu queria chutá-lo nas bolas algumas vezes.

Os olhos de Nia dispararam para sua amiga. ― O que


Isso foi difícil de acreditar. Eles eram tão apaixonados e
bons juntos.

― Eles podem ser teimosos às vezes. Definir em seus


caminhos. Mesmo quando eles sabem no fundo que vocês
serão perfeitos juntos.

Nia começou a balançar a cabeça antes que Lauren


pudesse continuar. ― Isso não é sobre eu e Ka'Cit ficando
juntos.

Lauren sorriu então. ― Quem disse alguma coisa sobre


Ka'Cit?

Percebendo que ela tinha acabado de ser encurralada, Nia


podia sentir suas bochechas quentes.

― Você compartilhou algo, não é? ― O olhar de Lauren


viajou pelo céu e Nia ficou feliz pela falta de contato visual, pois
ela tinha certeza de que cada emoção crua estava passando
por seu rosto. ― Lá fora. Você compartilhou algo.

Por alguns momentos, Nia não respondeu.

― Não foi nada.

Lauren zombou. ― Eu acho que você sabe que isso não é


verdade, ou então a ausência dele não estaria afetando você
assim.

Nia abriu a boca, mas Lauren continuou. ― E não, não


negue. Eu sei como é uma pessoa apaixonada. Eu vejo isso
todos os dias quando olho nos olhos de Riv. Eu vejo isso no
jeito que Cleo e Sohut se olham... e eu vejo isso em você.

― O que... ― A negação já estava em sua língua, mas um


olhar para Lauren, para o sorriso suave e conhecedor em seu
rosto, e tudo o que Nia conseguiu fazer foi suspirar.

― É tão óbvio?

Lauren balançou a cabeça. ― Não. No começo, pensamos


que era a tensão do que aconteceu com você lá fora. Mas
então… quando Geblit veio com o documento de registro, ficou
claro.

― Eu o odeio.

Lauren riu um pouco. ― Quem? Geblit? Ele é uma figura,


tudo bem.

Nia balançou a cabeça. ― Não. Ka'Cit.

― Não, você não odeia.

Não, ela não odeia. Ela já sabia que era ela mesma que a
irritava mais.

Ela tinha acabado de admitir esse fato alguns momentos


antes.

Nia abaixou a cabeça. ― Eu só não entendo por que ele


faria isso por alguém com quem ele não quer ter nada a ver.

A mão de Lauren descansou contra suas costas. ― Ele


disse isso?
― Não, mas ele não precisava. Achei que tinha entendido,
porque ele foi embora como se nada tivesse acontecido entre
nós, mas então ele vai e me dá metade de tudo que ele possui.
Eu não entendo. O que ele quer?

― Talvez ele queira você...

Nia balançou a cabeça. ― Acho que ele não quer um


relacionamento.

― Você está errada. ― A voz profunda de Riv fez Nia pular


e ela percebeu ao mesmo tempo que Lauren não estava
surpresa com isso. Aparentemente, ela se acostumou com a
forma como ele e seu irmão andavam silenciosamente, mesmo
ao ar livre.

― O que você quer dizer com estou errada?

― O que você acabou de dizer. Você está errada. Um


relacionamento é a única coisa que Ka'Cit sempre quis.

Algo se apertou dentro de Nia e ela teve que engolir em


seco quando uma bola de emoções subiu em sua garganta.

― Então... só não comigo... ― Ela lutou para empurrar


suas emoções para baixo.

Foi bom.

Ela era uma menina grande.

Mas Riv apenas balançou a cabeça. ― Eu vi o jeito que ele


olhou para você.
Nia deu de ombros e engasgou com uma risada sem
alegria. ― Isso tudo é apenas confuso. Quero dizer, quando
alguém te ignora, geralmente significa que eles estão tentando
te rejeitar facilmente sem ter que realmente dizer isso. ― Ela
balançou a cabeça novamente e se virou para caminhar em
direção à casa. ― Não se preocupem, pessoal, está tudo bem.
Estou bem. E obrigada... obrigada por tentar me animar.

Ela deu alguns passos em direção à residência principal


antes que a voz de Riv chegasse ao seu ouvido.

― Ele não acha que é digno de uma companheira.

Isso a fez parar.

― O que?

Riv rosnou e soltou um suspiro exasperado. Seu olhar


caiu sobre Lauren e ele a estudou um pouco antes de soltar
outro suspiro. ― Ele é... ainda pior do que eu... minha...
deficiência.

As sobrancelhas de Nia franziram. ― Não entendo. Que


deficiência?

O olhar de Riv se desviou e pela primeira vez desde que


ela esteve no Santuário, Nia viu a vulnerabilidade em seus
olhos.

― O rabo de Riv, ― Lauren sussurrou enquanto colocava


os braços ao redor de seu companheiro.
O olhar de Nia caiu no torso de Riv. Isso mesmo. Ele não
tinha cauda. Ele havia sido removido há muito tempo por
algum malvado dono de escravos.

Lembrou-se de que Lauren havia mencionado a


relutância de Riv em estar com ela por causa de sua falta de
cauda, entre outras coisas.

Na cultura Merssi, eles pareciam dar alto valor aos


machos. As fêmeas eram queridas e os machos tinham que ser
espécimes perfeitos.

Mas isso não explicava nada. As sobrancelhas de Nia só


franziram mais. ― Ka'Cit tem uma deficiência?

Pela vida dela, ela não conseguia pensar no que era isso.

Ela o tinha visto nu e ele era perfeito.

A confusão nadou em seus olhos quando Riv levantou a


mão e apontou para a testa.

Por um momento, ela não entendeu o que ele estava


apontando, mas então a compreensão surgiu.

― Ele tem o rosto liso, ― disse Riv.

Nia piscou.

Sim. Sim, ele tinha. Ela notou isso, mas ela não tinha
pensado que era um grande negócio.

― O que isso significa?


Riv se mexeu desconfortavelmente em seus pés.

― Não é minha função dizer, mas se você perguntar a


qualquer outro Merssi, eles dirão. Os de rosto liso nunca
devem formar um vínculo de parceira.

― Por que?

O olhar de Riv caiu em Lauren e depois em sua barriga.


Ele estendeu a mão, descansando a palma da mão na barriga
crescente de sua companheira.

― Porque eles não podem criar isso. É impossível para ele


ter filhos.

Nia piscou para ele. ― Ka'Cit... ele não pode ter filhos?

O rosto de Riv estava solene quando ele balançou a


cabeça. ― Sua semente carece de uma química que as fêmeas
precisam. Os frisos, ― ele tocou a série de saliências ao longo
de sua testa, ― indicam quão potente é esse produto químico.
Ka'Cit... ele não tem frisos. Ele seria considerado indigno por
qualquer fêmea.

Nia piscou novamente. ― Mas eu não acho que ele era


virgem...

No passado, ela teria corado ao falar tão abertamente


sobre sua vida sexual, mas no momento, ela não se importava.

Sua curiosidade era muito forte.


Riv deu de ombros. ― As fêmeas podem usá-lo para se
divertir, mas nenhuma formaria um vínculo de companheira
com ele. Ele está... quebrado. Inapto. ― Ele fez uma pausa. ―
Inadequado.

― Como diabos ele é. ― Sua resposta pareceu assustar


Riv, mas seu coração batia tão forte no peito agora que a
adrenalina corria por suas veias.

A maneira como ele disse essas palavras deu a impressão


de que não eram seus pensamentos, mas a maneira como seu
povo via seu amigo.

Ka'Cit não podia produzir filhos...

Se esse foi o motivo.

Nia fechou os olhos. ― Por que ele não me contou…

Seus olhos ainda estavam fechados quando ela ouviu Riv


responder. ― Dizer a quem você mais quer que você nunca
pode dar a vida que eles merecem… não é fácil.

Ela abriu os olhos para ver Lauren olhar para ele com a
maior adoração em seu olhar.

Riv olhou para Lauren enquanto continuava. ― Ele não


gostaria que você fosse sobrecarregada por ele. Ele quer que
você seja feliz.

O coração de Nia disparou.

Ela estava feliz com Ka'Cit.


Quando ela estava perto dele, ela se sentia viva.

― É por isso que ele não visitou desde que descobriu sobre
o bebê? ― Lauren sussurrou e Riv assentiu.

― Foda-se, ― Nia sussurrou.

Não parecia grande coisa para ela, mas em sua cultura...

Ele teria se sentido como um macho indigno, um indigno


de uma família se ele não pudesse fornecer a sua companheira
uma família.

Mas ela não era Merssi.

Sim, ela queria filhos no futuro, mas esse desejo não


estava gravado em pedra.

Não era um objetivo de vida, apenas algo para


compartilhar com o macho que ela amava e se aquele macho
não pudesse ter filhos, ela tinha certeza que eles poderiam
encontrar outras coisas para compartilhar.

Uma respiração estremeceu através dela.

Ela tinha que ir vê-lo.

Agora.

Ele pensou que não poderia dar a ela o que ela queria...
mas o que ela queria era ele.

― Riv, ― disse ela. ― Eu preciso de um favor.


CAPÍTULO 42

O carro flutuante de Riv não era nem de longe tão rápido


quanto o de Ka'Cit, mas quando a escuridão caiu sobre a
paisagem ela fez um bom tempo correndo pela savana.

Atrás dela, o Santuário de Riv era apenas um ponto


escuro ao longe e à frente estava o nada da planície.

Ela não tinha ideia de para onde estava indo, mas o carro
flutuante tinha uma função autônoma e Riv havia digitado as
coordenadas da fazenda de Ka'Cit.

Ela só esperava que ele estivesse em casa.

Enquanto ela olhava para frente, seu coração batia tão


forte em seu peito que ela podia ouvir o sangue bombeando em
seus ouvidos.

E se Riv estivesse errado?

E se essa não fosse a razão pela qual ele ficou longe?

E se ela estivesse indo até lá para confrontá-lo apenas


para descobrir que Riv estava errado.

Não importava.

Ela ainda tinha que saber.


Ela precisava do encerramento, pelo menos, para que
pudesse continuar com sua vida em vez de ansiar pelo que
nunca foi ou pelo que poderia ter sido.

Enquanto ela se concentrava à frente, ela tinha certeza


de ter visto algo à distância – algo que não era uma formação
natural na planície.

Nia mordeu o interior do lábio e apertou os olhos.

Lentamente, a estrutura ao longe estava começando a


tomar forma e quanto mais perto o carro flutuante chegava,
mais Nia franzia a testa e apertava os olhos.

Talvez sair ao anoitecer não tivesse sido a melhor coisa a


fazer. Ela mal conseguia enxergar direito.

Ainda assim, seu coração batia forte em seu peito.

Quanto mais se aproximava da estrutura, porém, mais


desconforto crescia em seu estômago.

Talvez este não fosse o lugar para onde ela estava indo e
o carro flutuante passaria por ele, porque a estrutura à frente
não se parecia em nada com o Santuário de Riv.

Niya franziu a testa, sua boca aberta enquanto olhava


para a coisa que vinha à frente.

Havia uma cerca elétrica girando em torno da


propriedade e o prédio principal parecia um pouco com a casa
de Riv... mas essas eram as únicas semelhanças entre os dois.
Ao redor da propriedade havia pilhas e mais pilhas de...
metal.

Metal por toda parte... quase como um ferro-velho.

Niya olhou para ele, confusa, e quando o carro flutuante


continuou e não mudou de direção, sua confusão só
aumentou.

Onde estavam os animais e o robô lavrando o feno? Onde


estavam as árvores frutíferas? Onde estavam os campos de
rai?

― Destino à frente. Controles manuais engatados em 5…


4… 3...

Nia chamou a atenção e agarrou a direção do carro


flutuante.

Ela reduziu a velocidade quando o veículo se aproximou


da barreira de energia, seu olhar procurando por qualquer
movimento no complexo.

Ela não podia simplesmente passar pela barreira, isso a


fritaria viva, mas quando ela se aproximou, a barreira parou
de zunir e se soltou.

Oh, certo.

Ela tinha ouvido Riv e Sohut falando sobre isso.


Ka'Cit aparentemente havia codificado seu e os carros
flutuantes deles para poder passar as barreiras em ambas as
fazendas sem entrada externa.

A memória daquela vez em que ele parou no satélite para


enviar inglês para os servidores voltou para ela.

Ele era assim. Útil dessa maneira.

Enquanto ela pilotava a nave no complexo, um poste de


luz se acendeu, surpreendendo-a, mas parecia que era ativado
por movimento.

― Olá?

Estava quieto... e talvez fosse apenas ela, mas estava


estranhamente quieto.

― Olá?

Nenhuma resposta, e por alguns segundos depois que ela


parou o carro flutuante, ela ergueu os ouvidos para ouvir, seus
olhos ainda abertos para qualquer movimento.

Talvez ele não estivesse em casa.

― Olá? ― ela chamou novamente para uma boa medida.

Nada.

As pilhas de metal no quintal deixaram o lugar um pouco


assustador e com o silêncio, ela teve vontade de sair.
― Controle-se, Nia. Você está apenas se assustando, ― ela
sussurrou enquanto olhava ao redor para as pilhas de metal.

Quando ela parou o carro flutuante e saiu dele, o


desconforto não diminuiu. Cresceu.

Por que estava tão quieto?

O ar estava tão parado que fez os cabelos de sua nuca se


arrepiarem.

Não muito longe de onde ela estacionou havia uma pilha


menor de sucatas de metal, com cerca de 30 centímetros de
altura. Só para se sentir melhor, ela foi até a pilha e pegou um
pedaço que parecia um cano serrado.

Ela agarrou a arma, apenas no caso, enquanto


caminhava em direção à habitação.

Outra luz se acendeu no alto, iluminando a casa.

A porta estava fechada e todas as janelas também, exceto


uma.

Levantando a mão livre, ela bateu na porta e esperou.

― Olá? Alguém em casa?

Nenhuma resposta.

Soltando um suspiro, ela se virou e olhou ao redor das


instalações. Ela estava prestes a voltar para o carro flutuante
quando olhou de lado para a janela aberta.
A curiosidade a venceu e ela ficou na ponta dos pés para
olhar para dentro.

Descarada invasão de privacidade, mas ela queria ser a


garota que não olhou e se arrependeu depois.

Quando ela ficou na ponta dos pés o suficiente para ver


dentro da casa, suas sobrancelhas se ergueram.

Ela esperava que parecesse com o terreno, por algum


motivo, mas dentro da casa estava... impecável e cheio de
decorações modernas.

A mobília estava arrumada, o chão estava limpo, tudo


estava em ordem.

Caindo para trás em seus pés, Nia se afastou da janela.

Ela adivinhou que tinha escolhido um mau momento


para visitar. Ele não estava em casa.

Ela estava prestes a se virar quando algo chamou sua


atenção.

Algo que fez sua respiração ficar presa na garganta e um


calafrio percorrer sua espinha.

Uma cauda.

No chão atrás de uma das enormes pilhas de metal, uma


cauda era visível.

E não qualquer cauda – uma cauda reptiliana.


Uma cauda como…

Oh Deus não.

Com passos trêmulos, Nia se moveu em direção à cauda


e quanto mais se aproximava, mais o corpo era revelado.

Era um daqueles guarda-jacarés e Nia parou de andar


assim que viu o que era.

Foda-se.

Ela olhou para trás, segurando o cano que segurava na


mão.

A cauda do guarda-jacaré se contraiu e sua alma quase


deixou seu corpo.

Não muito longe dele estava um blaster caído e Nia


engoliu, calculando o que deveria fazer em questão de
segundos.

Foi claro.

Correndo para frente, ela pulou sobre a cauda da criatura


e agarrou o blaster.

Ainda estava totalmente carregado e ela apontou para o


guarda.

Por alguns momentos, não houve mais movimento e ela


estava prestes a permitir que seus ombros caíssem quando
olhos amarelos de repente se abriram e olharam diretamente
para ela.
Levou tudo dentro dela para não gritar e pular para trás,
mas Nia se manteve firme.

O guarda abriu a boca e assobiou.

― Jekinnn, ― dizia.

Nia agarrou o blaster e apontou para a cabeça do guarda.

Algo obviamente tinha acontecido aqui.

Agora que ela estava deste lado da pilha, ela podia ver que
havia outro guarda deitado mais adiante no caminho imóvel.

― Onde ele está? ― Ela empurrou o blaster para o guarda


e ele abriu a boca e assobiou mais uma vez.

Ele não parecia ser capaz de se mover, no entanto, e um


fluido escuro estava manchando o chão abaixo dele.

Ele estava ferido, talvez fatalmente, e o outro parecia


morto.

Seu corpo tremia com cada respiração que ela dava e a


arma tremia em suas mãos enquanto ela tentava se acalmar.

Havia apenas uma razão pela qual haveria guardas


feridos na propriedade de Ka'Cit.

Ele tinha sido atacado.

E ele estava longe de ser visto.

A razão para isso a fez tremer um pouco mais.


Mas ele poderia lidar com ele mesmo.

Ela tinha certeza de que ele estava vivo.

Ele tinha que estar vivo.

― Onde. Ele. Está? ― Ela falou com os dentes cerrados e


o guarda olhou para ela, seu olhar se movendo para o blaster
em sua mão.

Talvez ele pensasse que ela estava blefando porque ela


estava tremendo muito – interpretando mal seu pânico por
medo.

Mas ela não tinha medo dele. Uma coisa era certa, os
guardas não a assustavam mais.

O que ela temia era o fato de Ka'Cit ter desaparecido.

Com o passar dos segundos, sua mente passou por vários


cenários horríveis, cada um pior que o anterior.

Quando o guarda ainda não respondeu, algo estalou


dentro dela, rompendo sua paciência já fraca.

Ela não tinha tempo para isso.

Agarrando a arma, ela desengatou a trava e o olhar do


guarda registrou algum choque.

Era o mesmo que o blaster que ela usou na estação de


satélite. Ela sabia o que ela estava fazendo.
― Não brinque comigo. Não estou no clima. Eu juro, vou
plantar uma bala na sua cabeça se você não me disser onde
ele está. Agora, onde... ele... está?

O guarda assobiou novamente, ódio inundando seu


olhar, e por um momento, outra onda de pânico a encheu de
que ele não lhe dissesse a informação que ela precisava.

Ele não precisou dizer uma palavra. Ele não lhe devia
nada e era seu inimigo.

Mas algo mudou no olhar do guarda, algo que ela não


conseguia ler.

― Nós viemos para você, ― disse ele.

― O que?

O guarda tentou rir e acabou tossindo o que parecia ser


sangue.

― Eu sabia que estava certo. ― Ele lutou para falar agora


e respirou fundo pelo focinho. ― Eu vi você no satélite de
serviço. O Esmagador disse que não sabia nada sobre você.
Mas, ― ele tossiu novamente, ― o general deveria saber que eu
estava certo. Eles vão matá-lo, se encontrá-lo.

O coração de Nia bateu contra o peito, as palavras do


guarda lentamente fazendo sentido.

Eles vieram por ela?


Eles rastrearam Ka'Cit por causa dela e na tentativa de
protegê-la...

Nia apontou a arma para o guarda, apontando-a


diretamente para a cabeça do demônio.

― Para onde o levaram?

O guarda puxou outra respiração áspera. ― Você não


pode salvá-lo. Eles provavelmente já o mataram agora. ― Ele
tentou rir e acabou ofegante e tossindo mais fluido escuro, mas
suas palavras enviaram um calafrio na espinha dela.

Não.

Ela se recusou a acreditar.

Não podia ser tarde demais.

― Sua espécie é fraca. Descartável facilmente. Você deve


estar feliz que os mestres querem buscá-la. ― O guarda
assobiou novamente. ― Aquele phekker foi um idiota por não
nos dizer para quem ele vendeu você.

Suas palavras fizeram algum sentido.

Ka'Cit contrabandeava coisas. Sem dúvida eles pensaram


que ele a tinha vendido em algum lugar no mercado negro.

Mas em vez de dizer a verdade, ele a protegeu até o fim.

― Fraco... ― O guarda olha para ela.

Fraco?
Nia espetou o cano contra o focinho do alienígena, um
rosnado em seus lábios.

― As próximas palavras que saírem da sua boca devem


ser as informações que eu quero ouvir ou eu usarei esta arma
e o esculpirei em pedaços até você falar.

O guarda olhou para ela, seu olhar fixo no dela, mas Nia
não vacilou.

― Diga- me para onde eles o levaram. Agora.


CAPÍTULO 43

Ka'Cit não se incomodou em se esforçar contra as


amarras que prendiam seus pulsos acima da cabeça. Eles
achavam que esse polímero era quase impossível de quebrar...
e provavelmente era, para uma pessoa normal.

Mas ele não era normal, e ele não queria que eles
percebessem que ele poderia ter suas mãos livres.

Mesmo que o fizesse, ele não tinha armas e estava em


menor número.

Ser estúpido sempre funcionou para ele. Poderia não ser


desta vez.

Não era sua vida sozinha que estava em jogo.

A dela também estava.

O quarto em que o colocaram era escuro e um pouco


quente demais.

Gotas de suor se formavam no meio de suas costas,


fazendo cócegas cada vez que uma escorria por sua pele.

Ele podia ouvi-los na outra sala, jogando algum tipo de


jogo de baralho, e ele estava feliz que eles estavam ocupados.

Ele precisava de espaço para pensar e nunca precisara de


uma coisa dessas antes.
Mas isso era porque ele não tinha motivos para viver
antes.

A imprudência sempre foi seu combustível.

Esta situação, porém... não era apenas sobre ele.

Era sobre ela.

Sua ta'ii.

Eles a estavam caçando, os Hedgerud's, desde que a


viram naquele satélite de serviço e ele roubando o metal talix
deles também não ajudou.

Eles estavam em busca de vingança.

Ka'Cit rosnou baixinho.

Phek.

Ele só podia esperar que Geblit tivesse arquivado os


documentos.

Se ele não saísse vivo disso, pelo menos ela estaria


protegida.

E pensar que ele estava colocando tanta fé no pequeno e


irritante Torian...

Ka'Cit jogou a cabeça para trás e soltou um gemido.

Acima dele, suas algemas esfregavam contra a viga à qual


o amarraram.
― Tentando escapar? ― A voz sensual o fez endurecer e
ele lentamente baixou o olhar para a fêmea diante dele.

― O que você quer, Herza? ― Sua voz estava cheia de


desprezo e ele tinha certeza de que ela o ouviu pingando de sua
língua. ― Além dos créditos, eles disseram que vão te pagar por
fazer esse negócio, quero dizer.

Ela pressionou algo e a luz do quarto se acendeu.

Sua cauda estava se contorcendo atrás dela quando ela


cruzou os braços e caminhou até ficar diante dele.

Ela o estudou. ― Eu tive que usar muitos recursos para


encontrar informações sobre você. Acho que mereço esses
créditos depois que você feriu toda a minha tripulação e partiu
com aquela coisa. Você não acha?

Ela deu um passo mais perto.

Seus movimentos eram sugestivos.

Feminino.

Mas o que quer que ela estivesse tentando fazer, estava


tendo o efeito oposto sobre ele.

― Por que um macho como você, o Esmagador de todas


as pessoas, arriscaria tanto por um animalzinho frágil?

O maxilar de Ka'Cit apertou e seus olhos se estreitaram,


mas ele não respondeu.

Se ele mostrasse emoção, eles a usariam contra ele.


Eles usariam isso contra ela.

Herza descruzou as mãos lentamente e passou um dedo


pela bochecha dele, pressionando seu corpo contra o dele no
processo.

― Sempre me perguntei como era estar com um rosto liso.


― Ela trouxe os lábios até a orelha dele, roçando a pele macia
ali com uma de suas presas. ― Dizem que pessoas como você
pensam que estão possuídas.

O rabo dela envolveu a perna dele. ― Talvez eu devesse


testá-lo eu mesmo, antes que eles o enviem para os Tasqals e
eles o torturem até a morte.

Ka'Cit grunhiu. Ele sabia o que ela estava fazendo.

― Herza, ― disse ele, encostando a cabeça na dela para


poder sussurrar em seu ouvido. ― Eu morreria com prazer do
que chegar perto de você.

Ela o empurrou então, seus olhos brilhando fogo.

― Como você ousa. Você tem a coragem de me negar! ―


Ela deu um passo para trás, olhando para ele antes de algo
clicar. ― Raxu... ― ela murmurou. ― Eu não posso acreditar.
Não me diga que você... você se apegou ao huu-mana?

Ka'Cit enrijeceu, mas não respondeu.

Ele observou como o olhar de Herza se enfureceu e seu


sorriso se tornou perverso.
― Não é à toa que eles pegaram você tão facilmente. Não
é de admirar que você negue estar na presença da huu -mana.
Ela zombou. ― Você se atreve a escolher essa coisa sobre isso.
Ela fez um gesto para si mesma.

O olhar de Ka'Cit se moveu com desinteresse pelo corpo


dela antes que ele encontrasse seus olhos mais uma vez.

― Sim.

Isso só pareceu enfurecê-la um pouco mais e ela saiu do


quarto, batendo a porta atrás dela.

Com uma respiração profunda, Ka'Cit permitiu que seus


ombros caíssem.

Irritá-la provavelmente não tinha sido a melhor ideia, mas


ele não podia evitar.

Mesmo agora, seu toque estava fazendo sua pele arrepiar.

Não eram suas mãos ou seu corpo que ele queria contra
o dele.

Ele queria Nee-ya.

Mas isso nunca aconteceria, então ele se contentou com


as memórias.

E eram essas memórias que iriam ajudá-lo passar por


isso.

Ele só tinha que encontrar uma maneira de tirá-los do


rabo dela... e dele.
Nia atravessou o Mercado, seu olhar duro, seus passos
seguros.

O blaster que ela carregava estava pendurado à vista em


uma mão e ela não sabia se essa era a razão pela qual ninguém
parecia entrar em seu caminho ou se era o olhar mortal em
seus olhos…

Provavelmente.

Ou talvez fosse uma combinação dessas coisas e a


máscara.

Ela encontrou a máscara em uma das pilhas de metal


enquanto corria de volta para o carro flutuante.

Não era o que Ka'Cit usava quando estiveram juntos, este


estava um pouco enferrujado, mas serviu ao seu propósito de
qualquer maneira.

Vestida com seus tênis, calças e túnica marrom, ela não


achou que parecia particularmente ameaçadora, mas adicione
a máscara e o blaster, e de repente os seres estavam se
desviando e saindo de seu caminho.

Ou talvez fosse o foco em seu olhar enquanto ela se dirigia


para seu destino.
Ela não viu ninguém a não ser o caminho e o propósito
diante dela.

Ela só tinha que esperar que não fosse tarde demais.

O guarda-jacaré disse a ela para onde ir – um lugar


chamado Scintex – e ela estava muito ciente de que poderia ser
uma armadilha.

Ela não tinha como verificar se o que ele disse era


verdade, mas havia uma coisa que ela tinha certeza.

O guarda a queria capturada... e ele pensou que ela era


fraca.

Ele não achava que ela seria capaz de lutar, mesmo que
acabasse alcançando Ka'Cit.

Nia agarrou a arma em sua mão.

Bem, ele estava errado.

Ela nunca se sentiu mais mortal do que como se sentia


agora e se uma coisa estava clara, o tempo não estava do seu
lado.

Ela tinha que arriscar.

Ela só conseguiu enviar uma mensagem para Riv pelo


telefone via satélite no carro flutuante antes de fugir da
propriedade de Ka'Cit.

Ela disse a eles que estava tudo bem. Ela não precisava
que eles se preocupassem com ela.
Ela nem estava preocupada consigo mesma.

Se isso fosse para o sul... Foda-se.

Mas era isso que você fazia pelas pessoas que amava.

De repente, você não importava mais.

Ela estava bem em entrar no ninho do inimigo sozinha.


Assim como ele tinha feito por ela em mais de uma ocasião.

Seu coração doeu.

Ka'Cit.

Tudo o que ela podia sentir por dentro era... angústia e


raiva.

Estava escuro agora e as luzes das barracas de cada lado


da rua brincavam em sua máscara.

Enquanto caminhava, ela podia sentir seu próprio poder.

Um alienígena esbarrou nela, deu uma olhada em seu


rosto – ou melhor, na máscara – e seus seis olhos se
arregalaram.

Ele tentou fugir quando Nia apontou a arma para ele.

Ele quase murchou diante dela.

― Você, ― ela disse. ― Onde está o Scintex?

O alienígena estava tremendo tanto que ela não sabia se


ele entendia o que ela estava dizendo.
Seis olhos piscaram antes de uma mão de dois dedos
apontar para uma rua lateral. ― Direto para aquele lado.

Nia abaixou a arma e desceu na direção que ela apontava.

Era diferente nesta rua.

Ela percebeu imediatamente.

Era mais decadente e o ar parecia mais pesado.

Os alienígenas também eram diferentes.

Eles pareciam mais brutais, mais do lado errado da lei, e


isso por si só a fez segurar o cabo do blaster com mais força.

Eles a observaram, encostada na lateral dos prédios, e


Nia teve a sensação muito real de que ela tinha acabado de
entrar no 'lado errado da cidade'.

Havia uma série do que pareciam ser clubes deste lado


da rua e enquanto ela continuava andando, percebeu que ela
tinha um grande problema.

Ela não tinha ideia de qual deles era o Scintex.

Ela podia entender a linguagem falada, mas a linguagem


escrita era outra coisa.

Por um momento, todo o seu plano desmoronou diante


dela.
Ela estava olhando para as placas brilhantes, tentando
descobrir qual dos prédios era o certo quando ouviu um som,
quase como um sussurro.

A cabeça de Nia virou.

Ao lado, entre dois dos prédios, um pequeno alienígena


careca que parecia Dobby estava apontando em sua direção.

Nia olhou para trás.

Ele estava falando com ela?

Mas não havia mais ninguém perto o suficiente com quem


ele pudesse estar tentando falar.

Nia hesitou.

Ela não tinha tempo a perder.

Por tudo que ela sabia, cada segundo desperdiçado era


um segundo contra ela.

Cada segundo que passava era um em que Ka'Cit poderia


perder a vida.

Ainda assim, o alienígena acenou para ela novamente,


seus olhos redondos correndo pela rua.

Nia agarrou o blaster e caminhou em direção a ele.

― Você está falando comigo? ― ela perguntou.

O alienígena piscou para ela e assentiu.


Ele estava tremendo. Ela não tinha percebido antes até
agora que ela estava mais perto dele.

― Sim, ― ele olhou para a rua novamente. ― Você está


usando a máscara. Você está com o Bone Crusher, não está?

Nia piscou. Ela quase negou antes de lembrar que era


como ela os ouvira chamar de Ka'Cit antes.

― Estou.

O olhar do alienígena disparou pela rua novamente. ― Eu


sei onde ele está. Ele está em apuros. Eu posso te levar até lá,
mas você tem que se apressar.

Os olhos de Nia se estreitaram.

Se ela não tinha aprendido nada até agora, ela aprendeu


que confiar em alienígenas aleatórios era uma má, má ideia.

A decepção era alta nesta terra.

Ela ergueu a arma e apontou para o alienígena. Ele


empalideceu.

― Por que eu deveria confiar em você?

Seu corpo tremeu. ― Eu falo a verdade. ― Alcançando


atrás dele, ele pegou seu rabo na mão. Era fino, como o rabo
de um rato e ela percebeu tardiamente que ele estava
entregando o rabo para ela.

― Você quer que eu segure... seu rabo?


Os acenos do alienígena foram empurrões afiados por
causa do quão forte ele ainda estava tremendo. ― Sim, então
você sabe que estou dizendo a verdade.

Quando ela apenas piscou para ele, ele continuou. ― O


Esmagador de Ossos me salvou uma vez. Não lhe desejo
nenhum mal.

Nia estudou o alienígena por alguns momentos e então


abaixou sua arma.

― Leve-me até ele.

O alienígena piscou para ela e deixou cair o rabo. Com


um braço fino, ele fez sinal para que ela o seguisse e ela teve
que se espremer pelo vão entre os prédios.

Ele tinha apenas cerca de um metro de altura e se movia


rápido, parando para se virar e olhar na direção dela algumas
vezes para garantir que ela estava acompanhando.

Isso foi um desafio. Com a única luz vinda da rua, a


escuridão trabalhava contra ela e era difícil seguir seu
caminho.

Para acrescentar, atrás dos prédios havia muitos


destroços – o que parecia ser mesas velhas e outras coisas – e
ela teve que fazer um pouco de escalada e agachamento
enquanto fazia seu caminho.

O pequeno alienígena continuou.


De vez em quando ele parava em cima de algo alto para
que ela pudesse ver sua localização.

Ele era incrivelmente ágil, mas nunca foi muito longe para
que ela não pudesse vê-lo.

Eles caminharam assim por alguns minutos, ele


liderando o caminho, ela atrás, antes que ela o alcançasse
porque ele havia parado.

Ele estava parado diante de uma porta singular e suas


longas orelhas tremeram nas laterais de sua cabeça.

― Aqui, ― ele sussurrou antes de bater na porta.

Momentos se passaram antes que ela se abrisse e um


alienígena de sua mesma espécie ficou ali tremendo.

― Depressa, ― ele disse, antes de ir atrás dela e empurrar


contra suas pernas para ela entrar no quarto.

Estava escuro lá e ela não sabia o que esperar.

― Você não vai entrar? ― ela perguntou.

Seus olhos se arregalaram um pouco e ele balançou a


cabeça. ― Não tenho permissão.

Nia respirou fundo e hesitou.

Ela poderia confiar nele?

Inferno, ela veio tão atrás dele...


Nesse momento, ela ouviu um som inegável. Risos que ela
tinha ouvido milhares de vezes.

Guarda-jacarés.

O som fez uma mistura única de raiva e ansiedade se


agitar dentro dela.

― Depressa, ― o alienígena a seus pés assobiou e Nia


assentiu, dando um passo à frente e entrando no prédio.

A porta se fechou atrás dela com um clique suave e o


outro alienígena olhou para ela.

― Por aqui, ― ele sussurrou antes de começar a avançar.

Nia seguiu atrás, suas orelhas em pé e seu coração


batendo no peito.

O pequeno alienígena acabou de virar uma esquina e ela


estava prestes a segui-lo quando ele gritou e deu alguns passos
para trás em sua direção.

Nia congelou.

Os olhos do alienígena se arregalaram para o que quer


que estivesse diante dele, o que ela não podia ver, e ele
começou a balançar a cabeça.

― O que o qrak está errado com você, tolo?

Era a voz de um guarda-jacaré e ela não tinha ideia de


quantos mais estavam na esquina.
Porra.

O guarda-jacaré não podia vê-la ainda. Ela provavelmente


poderia voltar atrás...

Mas o guarda deu um passo à frente.

Por um segundo, ele não a viu. Tão focado no pequeno


alienígena a seus pés, aquele momento dividido fez Nia querer
se esgueirar de volta para as sombras.

Mas o guarda sentiu sua presença e seu olhar estalou em


sua direção.

Olhos amarelos encontraram os dela e se arregalaram,


seu braço imediatamente se movendo para a arma ao seu lado.

Nia não hesitou.

Seu corpo já sabia o que fazer antes mesmo que sua


mente pudesse dizer a seus músculos para se moverem.

Seu braço levantado.

A arma engatilhou.

Seu dedo encontrou e puxou o gatilho.

A explosão saiu da arma e atingiu seu alvo tão


rapidamente que o guarda-jacaré não soube como reagir. Ele
agarrou seu peito, sua boca se abrindo para liberar um grito
que não veio.
Seus olhos estavam arregalados, ainda olhando para ela
em choque quando ele caiu com um baque no chão.

O coração de Nia martelava em seu peito.

Não houve nenhum som da explosão.

Esta arma tinha um silenciador.

Sem dúvida, isso seria útil nos próximos minutos.

― O que foi isso? ― A voz de um guarda, mas vinha de


outra sala.

― Parece que o phekker bebeu muito woogli.

Nia congelou, ouvindo enquanto seu coração batia forte


em seu peito, e esperando que nenhum dos guardas entrasse
no corredor.

Se ela pudesse fazer isso sem causar caos, ela optaria por
isso.

Quando ela olhou para baixo, o pequeno alienígena que a


conduzia tremia tanto que a túnica cinza que ele usava tremia
como uma folha.

Quando ele olhou da guarda caída e depois de volta para


ela, ela pôde ver o medo em seus olhos.

― Não se preocupe, garotinho, estou do seu lado.

De olhos arregalados, ele mal acenou com a cabeça, mas


agarrou o pé de sua calça e puxou levemente.
― Venha rápido. Não tem muito tempo. ― Quando ele
puxou sua perna e ela começou a segui-lo mais uma vez, ele
fez uma careta e deu um chute no corpo do guarda quando
eles passaram por cima dele.

Bem, se isso não mostrasse sua lealdade, ela não sabia o


que mostraria.

Ela adivinhou que ela não era a única que tinha algo
contra os guardas covardes.

Ao virar da esquina havia um conjunto de portas duplas


e mesmo que ela não soubesse o que estava por trás disso, ela
tinha uma boa ideia. Ela podia ouvir o riso.

Parecia que vários seres estavam do outro lado.

O pequeno alienígena se arrastou até o conjunto de


portas, sua mão ainda em punho em suas calças, e não foi até
que ele puxou novamente que ela olhou para ele. Seus olhos
ainda estavam arregalados e ele ainda estava tremendo.

― Eles estão lá, ― disse ele, e empurrou a porta tão


levemente que havia uma rachadura no meio que eles podiam
ver sem serem vistos.

Nia engoliu em seco.

Na outra sala, havia pelo menos quatro outros guarda-


jacarés sentados ao redor da mesa. Eles estavam jogando um
jogo, parecia, de cartas holográficas, e eles foram pegos em sua
diversão. Eles não tinham ideia de que, na outra sala, um de
seus companheiros havia caído.

― Rápido, você tem que matá-los antes que eles nos


vejam. ― O alienígena ao seu lado era insistente.

Ele estava certo, no entanto.

Ela tinha o elemento surpresa do seu lado e precisava


usá-lo.

Procurar na sala atrás das portas era difícil quando ela


mal podia ver, mas não havia sinal do único alienígena que ela
estava procurando.

― Onde ele está? ― ela sussurrou. ― O Esmagador de


Ossos. Eu não o vejo.

A alienígena puxou suas calças novamente e apontou.

Mal visível na parte de trás da sala nas sombras, havia o


contorno de outra porta.

― Ele está lá, ― o alienígena sussurrou.

― Quantos mais deles estão lá com ele?

― Apenas mais um.

Nia respirou fundo. Ok, ela poderia fazer isso.

Ela poderia fazer isso.


Ela sabia que não ia errar, mas isso não significava que
ela poderia se esquivar das balas. Então ela tinha que se
apressar. Ela tinha que ter certeza. E ela tinha que ser rápida.

Segurando a arma em suas mãos, ela olhou para o


alienígena.

― Você pode querer se esconder para isso. ― Seu aceno


de cabeça foi uma bagunça trêmula quando ele a soltou e se
apressou.

Hora de deixar seus instintos assumirem o controle.

Era como estar no campo de tiro.

Assim como o campo de tiro.

Ela repetiu isso para si mesma enquanto abria as portas


com um chute.

Eles bateram contra a parede, criando um estrondo alto.


Isso fez os alienígenas na sala olharem para cima.

― Surpresa, filhos da puta.

Ela sempre quis dizer essa linha.

Levou um momento para eles perceberem que ela estava


segurando uma arma, apenas um momento, e então eles
estavam se movendo.

Nia puxou o gatilho, bombeando com os dedos enquanto


descarregava explosão após explosão.
Isso não era Call of Duty.

Não houve qualquer abaixamento ou rolamento. Sem


táticas avançadas.

Isso era simples.

Aponte e atire. E, se ela não batesse neles agora, então


ela sabia que estaria na merda se um deles escapasse.

Ela poderia enfrentá-los com uma arma na mão. Ela não


tinha certeza de como ela se sairia em um combate individual.

Esta era a única chance que ela tinha para isso ou correr
o risco de ser pega. Então ela apertou o gatilho, descarregando
as balas e não parou até que a arma esquentou em suas mãos
e assobiou.

Quando o vapor se esvaiu do cano, Nia encontrou a opção


de respirar e só então ela se abaixou para o lado atrás de uma
das mesas da sala.

Seu peito arfava enquanto seu coração batia forte em sua


garganta enquanto ela verificava se havia movimento no
quarto.

Por alguns dos segundos mais longos de sua vida, ela


escutou e olhou, tentando captar qualquer movimento, e
quando um dos corpos dos guardas escorregou de uma cadeira
e caiu no chão, ela se sacudiu com tanta força que bateu com
a cabeça na mesa.

Não houve outro movimento.


Nenhum outro som.

Rastejando de seu esconderijo, Nia se levantou.

Eles estavam mortos.

Cada um deles. Até a mesa foi baleada.

Parecia que ela tinha colocado a mão em uma


metralhadora e descarregado o pente inteiro em um só lugar.

Uma respiração estremeceu dentro dela. Ela tinha feito


isso.

Ela realmente tinha feito isso.

Mas ainda havia o fato de que eles ainda não estavam


livres.

Com passos que ela esperava que fossem silenciosos, Nia


rastejou em direção à porta que Ka'Cit supostamente estava
atrás, passando por cima dos corpos dos guardas
esparramados no chão enquanto ela fazia seu caminho.

Havia sons vindos de trás da porta, quase baixos demais


para ela ouvir se não tivesse pressionado o ouvido contra ela.

Falando.

Alguém estava falando.

Por um momento, ela forçou os ouvidos para pegar


algumas das palavras, preocupada que o som da madeira se
partindo e os guardas caindo tivessem penetrado pela porta.
Mas ela não ouviu ninguém lutando para sair da sala e
atacar/defender-se.

O garotinho disse que havia apenas uma pessoa na sala


com ele e ela acreditou nele. Ele e seu amigo a ajudaram até
aqui.

Olhando para baixo, ela verificou sua arma.

Ele tinha aquecido tanto, ela esperava que não o tivesse


destruído.

Restava apenas um pouco de carga nele. Ela esperava que


isso fosse suficiente.

Seguindo o que o pequeno alienígena havia feito. Ela fez


o mesmo. Ela abriu a porta um pouco, o suficiente para que
ela pudesse ver dentro do quarto.

O que seus olhos caíram fez seu coração bater e afundar


em seu peito.

Ela reconheceu o alienígena. Mesmo de costas para ela,


ela sabia quem era.

O couro escuro.

A longa cauda azul.

A maneira como o alienígena andava com confiança e


equilíbrio.

Herza.
Ela estava de pé com a perna em volta dele, o rabo
acariciando a perna dele.

Nia quase rosnou com a visão.

Ele estava amarrado com os braços acima dele e Herza


estava acariciando seu corpo contra o dele.

Mas apesar da presença de Herza, Nia descobriu que só


conseguia olhar para ele.

Ka'Cit.

Seu coração saltou e a alegria a encheu pelo fato de que


ele estava lá.

Ela o encontrou e ele estava vivo.

― Você realmente desistiria disso por aquele


animalzinho? ― As palavras de Herza nadaram no ar e a
trouxeram de volta à realidade. ― Aquela coisinha? Você
preferiria isso... a mim?

Ela gesticulou para si mesma antes de passar um dedo


pela bochecha de Ka'Cit.

― Esta é a última vez que estou oferecendo. Você deve


tomá-lo enquanto pode obtê-lo, ― continuou Herza. ― Você não
terá uma segunda chance, Rosto liso. Não para onde você está
indo.

Ka'Cit não respondeu e a raiva de Herza cresceu


visivelmente.
Nia ouviu quando as garras da fêmea se estenderam
enquanto ela acariciava o lado de sua máscara com o dedo.

― E essa máscara... ― Herza rosnou. ― O Esmagador de


Ossos―. Sua cauda sacudiu e Nia sabia o que isso significava.

Herza estava excitada.

A percepção fez Nia ficar vermelha.

― Você realmente acha que alguém está vindo atrás de


você? É por isso que você está resistindo? ― perguntou Herza.
― Acorda rosto liso. Ninguém se importa com o seu tipo. Você
tem sorte de eu estar aqui tocando em você. Ninguém está
vindo para você. Você pode ser o Esmagador de Ossos, mas
pessoas como você não têm amigos. ― Ela mostrou suas
presas. ― Você está sozinho e sempre estará sozinho.

As palavras fizeram Nia cerrar os dentes. Ela tinha ouvido


o suficiente.

Empurrando a porta aberta, Nia apontou a arma na


direção de Herza.

― Saia de cima dele, vadia. Ele é meu.

Choque registrado nos olhos de Herza quando ela se virou


e quase tropeçou em Ka'Cit.

― Quem... ― Herza recuou.

Ah.

A máscara.
Ela esqueceu que estava usando.

― Nee-ya? ― A esperança absoluta na voz de Ka'Cit, a


descrença, o choque – isso tirou Nia de seu elemento por um
segundo. ― Como você está aqui? Você não deveria estar aqui.

Seus olhos dispararam para a porta atrás dela, o medo


crescendo naquela piscina verde dele. ― Você não deveria estar
aqui.

― Eu vim por você.

Suas palavras trouxeram outro nível de choque ao seu


sistema, estava claro.

Ela não tinha visto aqueles olhos diopside(mineral de cor


verde) em semanas, mas ela ainda era tão boa em lê-los. E ele
não estava escondendo suas emoções atrás de uma parede no
momento.

Agora, eles estavam crus e na superfície.

Um movimento ao seu lado chamou sua atenção e ela


percebeu que Herza estava tentando puxar uma lâmina de seu
quadril.

Nia apontou a arma para a fêmea.

― Já lidei com os guardas na sala ao lado. Um movimento


errado e terei que cuidar de você também. Eu não quero fazer
isso.
― Você o quê? ― Ka'Cit perguntou, sua voz ficando
incrédula.

Herza deixou cair as mãos para os lados, mas o olhar em


seus olhos cuspia veneno.

Nia voltou sua atenção para Ka'Cit e começou a se dirigir


para soltá-lo, mas havia movimento em sua visão periférica
mais uma vez.

Herza se moveu rapidamente, mas não rápido o


suficiente.

Foi puro instinto neste momento. Reflexo.

A arma balançou em suas mãos quando ela disparou,


atingindo a fêmea Merssi na lateral.

Herza soltou um grito e agarrou o local onde a bala havia


queimado sua carne.

A lâmina que ela estava carregando caiu de suas mãos


para tilintar no chão quando seu corpo caiu ao lado dela, se
contorcendo.

Nia soltou um suspiro. ― Eu disse para você não se


mexer.

― Phek, ― ela ouviu Ka'Cit dizer. ― Isso não é uma


alucinação. Nee-ya está realmente aqui.

Isso fez Nia se virar em sua direção e ela marchou até ele.
― Você. ― Ela apontou a arma para a cabeça dele, mas o
olhar em seus olhos estava tão cheio de admiração que não
pareceu registrar.

Assombro e saudade.

De repente, todas as emoções reprimidas das últimas


semanas desabaram e ela só conseguiu abafar um soluço
enquanto se grudava nele, envolvendo os braços ao redor de
seu torso.

― Nee-ya, ― ele disse.

― Seu idiota. ― Ela o agarrou com mais força.

― Eu o quê?

Ela simplesmente fungou contra ele e o segurou.

Por alguns momentos, ele endureceu contra ela antes que


ela o sentisse lutando contra suas restrições.

Ela estava prestes a ajudá-lo a sair deles quando os


braços dele se fecharam ao redor dela.

Nia sufocou uma risada desta vez. ― Você poderia ter


saído o tempo todo?

― Daquelas restrições? Sim. Do resto dessa bagunça...


não tenho tanta certeza.

Nia assentiu e ainda o agarrou e ele a puxou para perto.


― Nee-ya, ― ele respirou. ― O que diabos você está
fazendo aqui?

― Eu vim por você…

Ele a segurou longe dele enquanto a estudava, seu olhar


procurando o dela.

― Como você... Por quê?

Nia fungou novamente. Por que ela se sentiu tão emotiva?


― Não é óbvio?

Ele engoliu em seco com tanta força que ela ouviu.

― Você está usando minha máscara...

― Sim.

― Combina com você.

― Bom. Porque estou planejando mantê-lo.

― Mas... você... foi na minha casa... não me diga que você


foi lá.

Cada palavra que ele falava soava como se ele ainda


estivesse em um sonho. Como se ele não pudesse acreditar que
estava realmente falando com ela.

― Eu vi os guardas mortos. Eu sabia que você estava em


apuros.

Ele a segurou longe dele o suficiente para que seu olhar


aguçado penetrasse no dela.
Naquele momento, não parecia que eles passaram
semanas separados.

Seu toque ainda causava arrepios em sua pele, estar tão


perto dele fazia seu coração bater de uma maneira diferente, e
ela podia sentir algo empurrando-a em direção a ele.

― Nunca faça isso de novo, ― ele rosnou.

― Não ir para sua casa?

Seu olhar era incrédulo. ― Não venha atrás de mim! E


se… e se…

Seu olhar ficou angustiado quando ele a puxou contra ele


mais uma vez.

Um gemido encheu a sala e os trouxe de volta à realidade.

Herza ainda se contorcia no chão.

― Temos de ir. ― Nia agarrou a mão de Ka'Cit e começou


a se dirigir para a porta.

― Espere, ― disse ele, puxando-a de volta para ele. ― Não


posso. Eu não posso ir com você.

Nia piscou para ele.

Ela acabou de ouvir corretamente?

― O que você quer dizer com você não pode ir?

Ka'Cit soltou um suspiro, seu olhar se movendo para a


porta. ― Se eu sair, eles vão atrás de alguém com quem me
importo muito. Eu preciso que ela esteja segura. Eu preciso
saber que ela estará segura.

Nia apertou os olhos por um momento. ― Garota de sorte,


não é? Aposto que você se importa muito com ela.

O olhar de Ka'Cit encontrou o dela e por alguns


momentos, ele não disse nada. Depois: ― Mais do que ela
jamais saberá.

Nia deu um passo para trás até ficar bem na frente dele.
Com uma mão, ela acariciou o lado de sua máscara.

― Eu sei, Ka'Cit. Eu sei tudo.

Seu olhar ficou alarmado.

― Recebi seu presente, Ka'Cit. Estou segura. ―


Arregaçando a manga, ela mostrou a tatuagem em seu pulso.
― Geblit fez seu trabalho. Agora é hora de eu fazer o meu.

Por alguns momentos, ele simplesmente a encarou.

― O que é isso? ― Sua voz era quase um sussurro.

― Cuidar de você. Já é hora de você saber como é isso.

Ela não podia ler o olhar que passou por seu olhar, mas
seu corpo se moveu, seguindo-a, quando ela puxou sua mão
mais uma vez.
CAPÍTULO 44

Enquanto ele a seguia, Ka'Cit só conseguia olhar.

Isso parecia surreal.

Talvez fosse a fumaça do woogli flutuando pela sala que


estivesse afetando seu senso de realidade.

Ela estava realmente aqui? Sua ta'ii? Nee-ya?

Mas sua pequena palma apertou contra a dele enquanto


eles faziam seu caminho através da sala em direção aos
fundos, e esse contato parecia muito real.

Um pequeno Poxmo apareceu, seus olhos se arregalando


enquanto observava a carnificina dentro da sala. Carnificina
que sua Nee-ya fez.

Por ele.

Ela veio para ele.

Ele não sabia como ela conseguiu fazer isso, mas para ela
colocar sua vida em perigo só por ele... mesmo depois que ele
cessou o contato...

Ele não podia engravidá-la.

O Poxmo os levou para os fundos e abriu a última porta


para eles e enquanto eles passavam, Nee-ya se virou para o
pequeno ser.
― Obrigada por sua ajuda, ― disse ela. ― Você e seu
amigo.

O Poxmo assentiu energicamente antes de enxotá-los. ―


Depressa, ― disse ele. ― Antes que venham mais. Rápido.
Rápido.

Nia sorriu e agarrou sua palma. Ka'Cit teve que olhar para
o contato.

Ele ainda não conseguia acreditar e enquanto ela o


conduzia pelos escombros atrás das casas de entretenimento,
ele só podia segui-la em silêncio.

Ela veio para ele.

Phek.

― Nee-ya, ― ele finalmente conseguiu dizer quando eles


pararam no cruzamento de dois dos prédios.

― Hum? ― Ela mal olhou em sua direção. ― Você acha


que pode passar por lá?

Ela gesticulou para o espaço entre os prédios e ele


assentiu sem nem olhar.

Ele não conseguia desviar o olhar dela.

E isso não mudou enquanto eles passavam pela brecha e


entravam na rua.

Não mudou quando ela agarrou sua mão e o guiou


através do mercado.
Ele não viu os alienígenas se separando para dar-lhes
espaço enquanto corriam pela rua movimentada.

Não notou seus suspiros.

Não percebeu seu medo e confusão.

Tudo o que ele podia ver era sua Nee-ya.

Ela veio para ele.

Foi só quando ela chegou às baias dos carros flutuantes


e parou de andar para olhar ao redor.

Ela identificou qual veículo era o dela e seguiu naquela


direção.

O carro flutuante de Riv. Ele o reconheceu.

Quando ela entrou, ela fez sinal para ele fazer o mesmo.

Os olhos dela continuaram correndo na direção de onde


eles vieram, mas fora isso, ela estava tão calma e segura como
todas as outras vezes que ele a viu antes.

Enquanto ela falava com o carro, mandando-o levá-la


para casa, ele permaneceu em silêncio, com medo de que, se
abrisse a boca, quebrasse o feitiço e esse sonho acabasse.

Ele sonhou em vê-la de novo muitas vezes, e todos esses


sonhos pareciam tão reais, ele acordou vazando sobre si
mesmo.
Ele não tinha certeza se podia confiar em sua própria
mente.

O veículo zumbiu e subiu no ar e logo eles estavam se


afastando do Mercado.

Ka'Cit olhou para trás.

Isso estava realmente acontecendo?

Ele não estava sonhando?

Não era assim que ele tinha visto esse final.

Ele se virou para encará-la enquanto o veículo começava


a cruzar as ruas a caminho da planície.

― Nee-ya?

Ela se virou para ele então e ele não conseguiu ler o que
estava acontecendo atrás de seus olhos.

Alcançando seus ouvidos, ela soltou a máscara e a tirou


de cima de sua cabeça.

Seu órgão vital inchou e bateu em seu peito.

Ela era ainda mais bonita do que ele se lembrava.

Ela estendeu a mão para ele, em seguida, fez uma pausa.

― Eu posso? ― ela perguntou.

Ka'Cit engoliu em seco e sacudiu a cabeça com um leve


aceno de cabeça.
Quando ela colocou as mãos em cada lado de sua cabeça
para liberar sua máscara, ele fechou os olhos.

Ele não percebeu que estava prendendo a respiração até


sentir o vento roçando sua pele e quando ele abriu os olhos e
seu olhar encontrou o dela, algo estalou e transbordou dentro
dele.

― Nee-ya, ― ele sussurrou.

Ela estava em seu abraço então, seus braços envolvendo


seu pescoço enquanto ela se acomodava contra ele.

― Ela estava errada, ― disse ela.

― Huh?

― Herza... ela estava errada.

Ele não entendeu. Na verdade, toda a situação era


inacreditável para ele. ― Sobre o que ela estava errada?

Ela se afastou um pouco dele, então ela estava olhando


em seus olhos. ― Quero você.

Seu órgão vital parou de bater. ― O que?

― Eu... Riv me disse o que isso significa. ― Ela passou um


dedo sobre o rosto dele e ele lutou para não deixar a súbita
onda de emoções dentro dele tomar conta.

― Ele me disse por que você provavelmente me afastou. ―


Então ela congelou. ― A menos que isso seja um grande mal-
entendido e eu tenha sido uma tola. A menos que você
realmente não me queira e isso não tenha nada a ver com você
pensando que eu não quereria você.

Ela começou a se afastar dele, mas ele a segurou rápido.

Seu órgão vital estava martelando com tanta força que


parecia que ele estava faminto por oxigênio.

― Você arriscou sua vida para vir atrás de mim porque


você... me quer? ― Ele quase engasgou com as palavras.

Não era algo que ele jamais pensou que estaria pedindo a
uma fêmea.

Nia assentiu.

Atrás dela, as luzes da cidade eram um borrão e criavam


uma pintura que estava sendo gravada em sua memória para
sempre.

Este era um momento em sua vida que ele não queria


esquecer.

Mas isso não significava que ia mudar de ideia.

Sua voz estava rouca quando ele finalmente conseguiu


falar. ― Eu não acho que Riv explicou tudo para você... Eu não
sou... Uma fêmea como você merece...

― Você?

Ka'Cit abaixou a cabeça, apoiando a testa na dela.

Ela não entendeu.


Seu coração se partiu, quebrando dentro dele.

Era disso que ele estava fugindo todas aquelas semanas


antes.

Era por isso que ele não tinha contado tudo a ela.

Ele poderia aceitar a rejeição de qualquer outra fêmea...


mas não dela.

Ele não queria ver o desprezo em seus olhos.

Ele não queria ouvi-la dizer isso, dizer que não valia a
pena... ouvir essas palavras iria matá-lo.

― Eu não, ― ele finalmente conseguiu dizer.

Ele nunca poderia dar a ela tudo o que ela merecia.

Ele nunca seria suficiente.

― Você merece o melhor. Eu não sou... eu não sou


humano. Eu mal sou Merssi.

Havia uma razão para ele não falar sobre isso e se seus
olhos pudessem vazar água como os dela faziam quando ela
estava sentindo uma profunda tristeza, ele tinha certeza que
eles estariam vazando agora.

― Ka'Cit... eu não me importo...

Ele a segurou longe dele então, seu olhar forte. ― Você


não entende. estou com defeito. Eu nunca serei capaz de lhe
dar filhos. Riv te contou isso? ― Tudo estava se despedaçando
dentro dele. ― Você nunca pode ter uma família comigo. Minha
semente não produz jovens.

Seu olhar o estudou enquanto ele continuava. ― No nosso


passado, momors e sarans costumavam sacrificar machos
como eu aos deuses... Eles achavam que os deuses estavam
zangados com eles por lhes dar filhos como eu. Aqueles que
não foram expulsos como eu fui atendido nesse fim, mas
minha mãe era muito fraca. Ela me poupou e me mandou
embora. Estou sozinho desde então. Estou destinado a ficar
sozinho. É uma maldição que não desejo que a pessoa que
mais amo suporte. Eu...

Os lábios de Nee-ya contra os dele cortaram o resto de


sua fala e apesar disso ele sabia que deveria afastá-la, seu
corpo derreteu contra os lábios dela.

Foi por isso que ele ficou tão longe. Foi por isso que ele
nem ligou.

Ele não pôde resistir a ela.

Ele nunca seria capaz.

― Nee-ya…

― Shh... não fale.

Quando a língua dela mergulhou em sua boca, roçando


suas presas antes de acariciar contra as dele, Ka'Cit soltou um
gemido.
O carro flutuante estava na beira da planície agora e ele
sabia que em breve teria que dizer adeus mais uma vez.

O pensamento fez seu interior apertar e torcer.

Ele não sabia como ia fazer isso de novo.

Então ele a segurou.

Ele a puxou para ele, sua boca colidindo contra a dela.

Ela de alguma forma encontrou seu caminho em seu colo


e ele agarrou seus quadris. Ele podia sentir seu doce corpo
macio sob suas roupas e tudo em que conseguia pensar era
naquele tempo no satélite de serviço, seu corpo sob o dele, o
gosto dela em sua boca.

Oh, como ele queria tomá-la aqui, agora, para beber em


seu doce néctar até que estivesse saciado.

― Ka'Cit, ― ela sussurrou seu nome em seus lábios.

― Nee-ya, ― ele sussurrou.

― Eu também te amo.

Todo o seu corpo enrijeceu.

A única coisa que ainda inchava e estremecia estava


dentro de suas calças, esforçando-se para alcançá-la.

Ele tinha ouvido corretamente?

― D... diga isso de novo?


― Eu te amo. Eu não me importo com o que sua sociedade
pensa que é certo ou errado. Para ser honesto, parece muito
fodido para mim. ― Ela descansou uma palma contra sua
bochecha. ― Você é perfeito. Tudo sobre você. Eu sei que você
me quer. Eu posso dizer isso agora. Eu fui uma tola em pensar
o contrário, muito presa em meu próprio ego e com muito medo
de ir atrás do que eu queria ao mesmo tempo. E eu quero você
também. Eu não preciso de bebês ou uma família grande.
Preciso de um macho que não tenha medo de desistir de tudo
para vir atrás de mim. Um macho que se permite ser capturado
apenas para me proteger. Um macho que me ama com tudo.
Você, Ka'Cit. Quero você.

Ele só conseguiu engolir novamente.

O que ela estava dizendo...

Phek.

Ele estava sonhando.

― Nee-ya, eu... ― O que ele poderia dizer?

Que ela pudesse pensar que o queria agora, mas ele viu
o que a dor pode fazer com um acasalamento.

Que ele tinha visto nos olhos de sua própria mãe, a morte
lenta como seu saram e momor lutaram constantemente por
causa dele.

Que ele não queria ser a causa da tristeza em seus olhos


quando sua vida se tornasse incompleta?
Que ver uma coisa dessas doeria mais do que sua rejeição
jamais poderia?

― Não é apenas uma família que eu não posso te dar. Eu...


― Uma respiração estremeceu através dele.

Phek.

Agora, isso era mais difícil do que qualquer coisa que ele
teve que enfrentar até agora.

― …A vida que levo… é perigosa. Eu tenho inimigos…

Nia sorriu e isso quebrou sua concentração. ― Eu


também tenho inimigos. Na verdade, parece que temos alguns
dos mesmos inimigos. Parece que estou com medo deles?

Ka'Cit piscou.

Algumas pessoas o chamavam de louco, mas ele estava


começando a se perguntar se ela era tão louca quanto ele.

― Você cuida das minhas costas. Eu vigio as suas.

A boca de Ka'Cit se abriu para responder, mas nenhuma


palavra saiu.

Enquanto o piloto automático ajustava a velocidade do


carro flutuante e o vento ao redor deles aumentava, tudo o que
ele podia fazer era olhar para ela.

Todos os argumentos que ele usou para se convencer de


por que ele deveria ficar longe, muito longe dela desmoronaram
em pó.
De repente, nada fazia sentido e ele se atreveu a ter
esperança.

Mas…

Ainda assim... ele tinha que deixar claro.

Uma parte dele ainda não acreditava que ela entendia.

― La-rehn está tendo filhos. Eu vi sua barriga


arredondada. Estou feliz por Riv, mas... ― seu olhar caiu, ― Eu
nunca poderia te dar isso. Eu nunca conseguirei…

A mão dela encontrou o queixo dele e o ergueu para que


ele a olhasse nos olhos mais uma vez. Então ela sorriu.

― Você é tão foda lá fora, no cosmos, mas, agora mesmo,


você está se abrindo para mim. É a primeira vez que te vejo tão
vulnerável. E eu aprecio isso. ― Ela deu um beijo em seus
lábios mais uma vez. ― É que você quer bebês. É por isso que
você está sendo tão duro consigo mesmo?

Ka'Cit sentiu sua garganta se mexer.

Sim.

A resposta foi sim.

Mais do que tudo no mundo.

Ele queria ver pequenas versões de si mesmo e sua gnora


correndo por aí. Era um dos maiores desejos de sua vida.
Nee-ya esfregou sua bochecha, seu toque suave. ― E a
adoção?

― O... o quê?

― Você sabe, se tornar os pais de uma criança que não


tem nenhuma.

Seu órgão vital bateu forte.

― Você criaria a semente de outra pessoa comigo?

Nee-ya assentiu. ― Eu poderia.

Ka'Cit teve que inalar profundamente.

― Isso não é algo que as fêmeas Merssi fazem... eu... eu


nunca tinha considerado isso antes.

― Eu não sou Merssi. De volta para casa, meu pai


basicamente adotou uma tonelada de crianças que se
tornaram minha família estendida. É normal de onde eu
venho.

A esperança estava começando a arder dentro dele e ele


não tinha certeza se deveria se permitir confiar que tudo ficaria
bem.

― E... você faria isso comigo? Você abriria mão de sua


felicidade para estar comigo.

Nia balançou a cabeça. ― Não.

― Não entendo.
― Estas últimas semanas foram as mais difíceis da minha
vida. ― Ela passou o polegar pela bochecha dele. ― Senti a sua
falta. Muito. Eu não estaria desistindo da minha felicidade.
Você é minha felicidade.

― Nee-ya. ― Foi a única coisa que ele pôde dizer antes de


puxá-la para ele, sua boca colidindo contra a dela.

Ela se derreteu contra ele, seu corpo se moldando ao dele


enquanto ele se virava e a deitava no assento, suas bocas
travadas, suas línguas acariciando uma à outra.

De repente, a pressão das últimas semanas desabou e


tudo o que ele podia fazer era senti-la, sua gnora.

Ela era dele.

E ele era dela.


CAPÍTULO 45

Os lábios de Ka'Cit esmagaram os dela como se ela fosse


o oxigênio que ele precisava para respirar e Nia se abriu para
ele.

Suas mãos estavam ao lado de seu rosto em uma carícia


suave enquanto seus lábios brincavam com os dela, e quando
ela suspirou em seu beijo, ele gemeu e a abraçou mais forte.

De alguma forma, quando ele a colocou no chão, ele se


acomodou entre suas pernas e ela podia senti-lo pulsando lá.

Felizmente, o assento era longo e largo o suficiente para


segurar os dois, porque ela não tinha certeza se poderia
esperar até que eles chegassem antes que as coisas
aumentassem.

Ela estava levemente consciente dele alcançando os


controles do carro e batendo em alguma coisa, mas quando o
carro começou a desacelerar, ela entendeu o que ele tinha feito.

Eles estavam parando no meio da planície, no escuro,


mas ela não sentiu um pingo de medo.

Por causa dele, ela não se sentia mais uma vítima de suas
circunstâncias. Ele deu a ela uma voz e com essa voz, ela se
encontrou novamente.

Este macho.
Bem neste momento, ela nunca se sentiu mais segura do
que aqui em seus braços.

― Nee-ya, ― ele quebrou o beijo, ― esse não é o lugar...


não é como eu imaginei reivindicar você.

Ela sorriu com isso. Ela não podia evitar.

― Como você imaginou me reivindicando?

Ele rosnou com sua pergunta e o som foi um estrondo


sexy que ela sentiu vibrar entre eles e ir direto para seu centro.

― Na minha laje de dormir... na minha casa.

― Podemos ir lá e fazer de novo.

― De novo?

― Sim, porque acho que nenhum de nós pode esperar


para fazer isso agora.

Outro grunhido deixou seus lábios quando ele mergulhou


a cabeça em seu pescoço e inalou profundamente.

― Minha gnora, ― ele rosnou, e foi como uma flor


desabrochando dentro dela.

Ela conhecia essa palavra.

Ela tinha ouvido isso tantas vezes no Santuário.

Significava que ele estava finalmente aceitando isso,


aceitando -a, e até então, ela não tinha percebido que estava
esperando para ouvir.
― Eu não posso resistir a você. Se você não me parar, eu
a levarei aqui agora mesmo.

― Então não resista…

Mesmo na luz fraca que vinha do painel de controle do


carro flutuante, ela podia ver suas presas brilharem enquanto
ele rosnava.

Ka'Cit abaixou a cabeça e seus lábios capturaram os dela


em um beijo contundente. Sua língua acariciou contra a dela
com golpes febris antes de afastar os lábios para plantar beijos
em um caminho pelo pescoço dela.

As mãos dele se atrapalharam com a túnica dela


enquanto ela deslizava as mãos por baixo das dele.

Ka'Cit rosnou com o contato antes de se afastar dela sem


quebrar o contato de seus lábios contra sua pele. O movimento
foi suficiente para permitir que Nia levantasse os braços,
permitindo que ele tirasse a túnica por cima de sua cabeça.

Agora de topless, a brisa fresca beijou sua pele enquanto


Ka'Cit olhava para ela.

― Você é linda, ta'ii.

A maneira como ele disse isso, era como um macho


falando enquanto estava sob um feitiço.

Ele parecia em transe e quando ele baixou a cabeça para


traçar sua língua ao redor de seu seio, os olhos de Nia rolaram
para trás em sua cabeça.
A sensação de sua língua quente e o contraste da brisa
fresca fluindo sobre seus mamilos fez seu corpo formigar e ela
arqueou contra ele, seu centro pressionando contra o dele.

Algo pulsou e pressionou contra ela, fazendo com que ela


levasse o lábio inferior em sua boca.

― Quero tocar em você também ― ela conseguiu


murmurar, mas Ka'Cit balançou a cabeça enquanto suas mãos
se atrapalhavam com o fecho de sua calça.

― Ainda não. ― Em um movimento, ele agarrou suas


mãos e as prendeu acima de sua cabeça. ― Só o pensamento
de tocar você me deixa pronto para derramar. E eu não quero
que esse momento acabe.

Ele apertou seus quadris contra ela como se quisesse


fazer um ponto e sua dureza pressionou em seu centro.

Ele estava certo.

Ela podia senti-lo pulsando e se contorcendo mesmo


debaixo da camada de roupa e a sensação disso só aumentava
sua própria necessidade.

Os lábios de Ka'Cit retornaram à sua pele, descendo do


seio direto para os quadris.

Ele enterrou o rosto ali, o nariz no V entre as coxas dela,


e a inalou através de suas roupas.

― Nee-ya... ― ele gemeu.


Suas mãos agarraram suas coxas, seus dedos deslizando
por baixo da cintura de suas calças antes de puxá-las para
baixo de suas pernas, puxando sua calcinha junto com elas.

Ela finalmente estava nua diante dele e ele rosnou


novamente.

Ele baixou a cabeça mais uma vez, seu nariz


pressionando em seu clitóris e Nia lutou para não tremer
enquanto arrepios de prazer a atravessavam.

― Você é minha, ― ele sussurrou contra seu clitóris antes


que sua língua se lançasse para frente, mergulhando em sua
umidade antes de passar pelo vale entre seus lábios e sobre o
feixe de nervos apertado.

― Minha, ― ele rosnou novamente enquanto sua língua a


acariciava mais uma vez.

Quando Ka'Cit agarrou seus quadris e a puxou mais para


dentro de sua boca, os dedos de Nia se enroscaram em seu
cabelo.

Sua língua estava molhada, grossa e quente, e estava


enviando ondas de choque por seu sistema.

Ele não fez uma pausa, ele não parou. Ele a comeu como
um macho faminto e Nia ofegava e se contorcia contra ele.

― Ka'Cit, ― ela respirou e sua resposta foi um gemido


contra ela, um que vibrou através dela.
Ele acariciou contra ela, sua língua girando e enrolando,
e quando ele soltou seus quadris para alcançar seus seios, ela
sabia que não aguentaria mais.

Os picos gêmeos se encontraram entre seus dedos


enquanto ele brincava com eles, beliscando-os suavemente
enquanto ele a lambia.

― Ka'Cittttt, ― ela gemeu seu nome.

Seu corpo parecia que seus ossos estavam cheios de doce,


doce mel que estava se acumulando dentro de seus ossos a
ponto de ela quebrar.

Ela não sabia quanto tempo ela seria capaz de aguentar


antes

Seu orgasmo a atravessou com tanta força que ela soltou


um grito. Com as mãos ainda em punhos em seu cabelo, Nia
empurrou contra ele enquanto tentava se afastar.

Foi demais. Muito prazer. Ela não aguentava...

Mas Ka'Cit a segurou rápido, sua língua deslizando


contra seu clitóris enquanto lambia seus sucos e somente
quando os tremores começaram a diminuir em seu corpo é que
sua língua deslizou de sua boceta.

Ela estava ofegante e mole quando ele se levantou e tirou


a túnica. Um segundo depois, suas calças caíram no chão do
veículo e então ele estava sobre ela mais uma vez, pele com
pele, Merssi com humano.
Seu peito ainda estava arfando quando ele se acomodou
entre suas coxas e ela o envolveu com os braços.

― Nee-ya, ― ele murmurou novamente e seu peito


retumbou com o nome dela enquanto seu pênis estremecia
entre eles.

― Por favor, ― ela murmurou.

Ela precisava dele. Precisava senti-lo. Precisava dele para


torná-la completa.

Seus lábios encontraram os dela quando ele colocou seu


membro entre seus lábios internos. Uma mão encontrou seu
mamilo enquanto a outra acariciava sua bochecha enquanto
sua língua acariciava a dela.

E com cada golpe de sua língua, a parte de baixo de seu


membro atravessava seus lábios, esfregando contra o feixe de
nervos e fazendo-a gemer em sua boca.

Ka'Cit não parou.

Ele a segurou perto e quando seus lábios finalmente se


separaram dos dela para repousar sobre seu mamilo, ela se viu
gritando seu nome.

― Agora, por favor... ― ela implorou.

― Ainda não, ta'ii, ― ele sussurrou contra seu mamilo


antes de tomá-lo em sua boca mais uma vez.
Desta vez, o clímax a fez arquear-se contra ele, seus olhos
ficando cegos de prazer.

Parecia uma extensão do último e seu corpo estremeceu


em seus braços. Tudo o que ela podia fazer era agarrar-se a
ele, pois seu corpo de repente ficou sem ossos.

― Ka'Cit... ― ela implorou e um grunhido retumbou de


seu peito quando ele se abaixou para segurar a base de seu
pênis.

― Nee-ya, ― ele sussurrou quando seu pênis encontrou


sua entrada.

― Nee-ya. ― Ele embalou sua cabeça com uma mão


enquanto dirigia para frente e Nia choramingou contra ele.

Quando ele se afastou e dirigiu novamente, seu corpo


tremeu, ainda em estado de clímax e ela percebeu, através de
alguma parte de sua mente que ainda estava consciente, que
ele estava olhando para ela enquanto a fodia.

Mas este não era um olhar normal.

Mesmo na escuridão, ela podia ver que ele estava olhando


para ela como nenhum macho jamais olhou para ela antes.

Seus golpes eram longos, profundos e duros e seu olhar


viajou sobre seu rosto com cada impulso para frente.

Ele estava memorizando este momento. Cometendo isso


profundamente em sua mente.
Ele estava... adorando-a.

Quando ele se inclinou para que sua testa descansasse


contra a dela, Ka'Cit avançou uma última vez antes que ele
endurecesse, a base de seu pênis pulsando enquanto sua
semente atirou fundo dentro dela.

― Minha, ― ele sussurrou antes de seus lábios se


fecharem sobre os dela mais uma vez.
CAPÍTULO 46

Eles ficaram abraçados no carro flutuante pelo resto da


noite, e quando amanheceu, quando o céu começou a ficar
rosa novamente e o sol atingiu sua pele, Nia finalmente se
mexeu.

Havia uma sensação de luxo em seu corpo quando ela


abriu os olhos e ela imediatamente soube o porquê.

O corpo de Ka'Cit estava pendurado ao lado do dela.

Sua pele azul parecia brilhar à luz do sol e ela traçou um


dedo para baixo de seu peitoral antes de seu olhar subir para
seu rosto.

Ela deveria saber que não era a única consciente. Ele a


observava atentamente com uma mistura de felicidade e
ansiedade em seus olhos.

― Bom dia, ― ela sussurrou.

Era bom, mas ela não podia acreditar que eles tinham
passado a noite lá fora.

― É um bom dia. ― Sua voz era cautelosa e as


sobrancelhas de Nia franziram um pouco.

― Está tudo bem? ― A palma da mão dela se achatou


contra o peito dele e ela sentiu os músculos dele saltarem
debaixo de sua mão.
― Eu... ― Seu olhar procurou o dela e no momento em
que ele trancou suas emoções foi como uma porta se fechando
em seus olhos. ― Você gostaria que eu te levasse para casa
agora?

O que foi isso? O que aconteceu entre a noite anterior e


agora que ela não se lembrava?

― Casa? ― Então ela aliviou o suficiente para ver por cima


do carro flutuante.

Ela quase pulou de susto.

Vários animais selvagens de hipopótamos, que eles


chamavam de oogas, estavam parados ao lado do carro
flutuante, observando-os.

― Oh meu Deus... há quanto tempo eles estão lá?

― Desde o início do ciclo da luz.

― Eles não são perigosos, são? Quero dizer, os do


Santuário são bem mansos, mas esses são selvagens.

Ka'Cit balançou a cabeça, mas o olhar em seus olhos não


mudou.

― Ka'Cit... algo está errado?

Ele pareceu enrijecer um pouco antes, ― Você gostaria


que eu te levasse para casa?

A mesma pergunta e levou alguns momentos antes que a


compreensão surgisse.
― Você quer me levar para casa? ― ela se inclinou para
ele e quando ele não respondeu, ela descansou a cabeça no
peito dele.

― Eu não mudei de ideia, Ka'Cit. Eu não acordei de


repente para pensar que cometi algum erro.

Uma respiração estremeceu através dele e ele passou os


braços ao redor dela.

― Você pode mudar de ideia. Eu entenderei.

Nia se aconchegou mais perto dele e permitiu que alguns


segundos se passassem onde ela o segurava.

― Vai levar algum tempo, não é?

― Tempo? Para que?

― Para você acreditar que eu quero você.

Ele não respondeu, mas o leve aperto de seus braços ao


redor dela e quando ele enterrou o nariz em seu cabelo lhe
disse que ela estava certa.

― Devemos ir para a sua casa primeiro. Pegue seu carro


flutuante e devolva o de Riv. ― Porra. Ela não tinha entrado em
contato com eles desde a noite passada.

― Minha casa? Você... você virá morar comigo?

Seu olhar encontrou o dele então. ― Você não quer lá?


Seu olhar suavizou e ela o viu baixar um pouco a guarda.
― Mais do que tudo. Mas é... não é tão bom quanto o Santuário.
Não tenho animais nem campos. Passo a maior parte do tempo
fora de casa atirando e quebrando coisas. Se você quiser ficar
no Santu...

Ela colocou um dedo sobre os lábios dele. ― Eu vi o seu


lugar, lembre-se. Não é o que você tem que eu quero. É você.

Sua garganta se moveu e ele sorriu um pouco.

― Nós devemos ir. E, ― ela olhou ao redor deles, ― nós


devemos limpar o carro deles também.

Ka'Cit girou com ela em seus braços, prendendo-a


debaixo dele.

― Você está realmente falando sério sobre isso... sobre


mim.

Nia riu. ― Sim. Eu estou.

Seu olhar aqueceu um pouco e ele olhou ao redor do


veículo.

― Sim, devemos limpá-lo. Mas…

― Mas o que?

― Não antes de eu te mostrar o quanto você significa para


mim mais uma vez.
Nia se inclinou contra ele enquanto o piloto automático
levava o carro flutuante pela planície.

Ele estava distraidamente torcendo um dedo em seus


cabelos enquanto olhava para ela.

Havia um sorriso bobo em seu rosto, que ele tinha certeza


que seu próprio rosto espelhava.

Era assim que se sentia a felicidade.

Era um sentimento que ele não queria acabar.

Mergulhando a cabeça, ele inalou o cheiro dela enquanto


olhava para a planície.

A estrutura principal de sua fazenda estava chegando à


frente e quando eles se aproximaram, ele endureceu embaixo
dela.

Havia uma nave escura pairando sobre sua terra, uma


que era específica para apenas uma certa subseção de seres
usados.

Os Tasqals.

Eles enviaram mais Hedgeruds para sua residência.


Seus braços se fecharam ao redor de Nee-ya enquanto ele
se sentava ereto.

― Eles estão aqui, ― disse ele.

Foi quando ela levantou a cabeça em confusão e então o


alarme encheu seu olhar.

― Talvez eles tenham encontrado os corpos naquele


clube... ― Ela olhou para ele antes de pegar o blaster que ela
carregava.

Até este ponto, ele estava no chão do carro flutuante


intocado.

― Mas eles não podem fazer nada, certo? Já estou


registrada.

― Isso não os impede de tentar. ― Desligando o piloto


automático, ele assumiu o controle do veículo e o parou do lado
de fora da barreira de sua casa.

Nee-ya tentou sair do veículo quando a mão dele pousou


em seu ombro, fazendo-a parar.

― Deixe-me.

Ela abriu a boca como se fosse protestar, mas não o fez.

Talvez fosse o olhar em seus olhos. Ele não sabia, mas


estava cansado de lidar com os Hedgeruds.

Hora de eles irem e deixarem o phek em paz.


O blaster escorregou de seus dedos quando ele o pegou e
saltou do veículo.

A essa altura, os Hedgeruds haviam notado sua chegada


e os que estavam no chão sacaram suas armas.

Três deles. Provavelmente mais na nave.

― Ele tem a huu-mana!

― Pegue-a e mate-o. Não precisamos mais dele.

Ka'Cit suspirou e ergueu as mãos, deixando o blaster


pendurado na ponta dos dedos.

Isso pareceu confundi-los e eles pararam.

Bom, ele chamou a atenção deles.

Quando a barreira de energia em torno de sua


propriedade parou de zumbir e ele atravessou, ele olhou para
Nee-ya.

Ela estava olhando com os olhos arregalados, mas ela não


parecia com medo.

― Eu tenho um acordo para você, ― ele disse quando


estava perto o suficiente dos Hedgeruds para eles ouvirem.

Eles se entreolharam antes que o da frente bufasse e


começasse a rir.

― Um acordo? Você acha que pode fazer um acordo


conosco?
Ka'Cit esperou que eles terminassem e depois de alguns
momentos, o riso morreu quando eles se entreolharam, seus
olhares se fixando nervosamente nele.

― Você viu isso? ― Ka'Cit virou a cabeça na direção dos


corpos de seus companheiros mortos.

Ele derrubou três antes de perceber que se ele matasse


todos eles enviariam uma horda inteira para encontrar Nee-ya.

Então ele deixou que eles o capturassem... mas agora...


agora ela estava aqui... ela era dele... e ela estaria segura.

Os olhos dos Hedgeruds dispararam para os corpos.

― E eles?

Ele sempre ficou surpreso com a falta de remorso que


esses seres tinham.

É por isso que eles eram os soldados perfeitos.

Ka'Cit apontou para os Hedgeruds mortos.

― Eu posso garantir a você, se você olhar na direção da


minha fêmea, você vai acabar assim.

Eles olharam um para o outro, seus olhares amarelos


ficando cheios de alegria, antes de olharem de volta para ele.

― Você acasalou com a huu-mana? Seu idiota. ― O


Hedgerud na frente olhou para o caminho e para Nee-ya no
carro flutuante. ― Ela é propriedade do High Tas...
A explosão foi silenciosa, mas atingiu seu alvo.

Direto na cabeça.

O Hedgerud caiu de joelhos antes de tombar.

Os outros dois se entreolharam enquanto apontavam


suas armas para ele.

― Dois contra um, idiota, ― disse um deles.

Ka'Cit não pôde evitar. Ele riu.

― Veja se eu me importo?

Eles olharam para as armas e depois um para o outro


novamente.

― Eu te desafio a atirar. Você estará morto antes de puxar


o gatilho.

Eles estavam claramente contemplando isso, e era


evidente quando eles tomaram sua decisão.

O dedo de um dos guardas flexionou o gatilho e Ka'Cit


disparou, lançando-se no ar ao fazê-lo.

O choque apareceu no rosto do guarda restante quando


ele ergueu o olhar e sua arma, pronto para atirar também.

Mas Ka'Cit já estava caindo no ar e aterrissou em um


ponto perfeito – bem no peito do guarda.

O guarda não esperava e o tiro de seu blaster foi para o


ar quando ele caiu para trás.
Ka'Cit cravou as garras no pescoço do macho enquanto
posicionava o cano de sua arma no focinho do guarda.

― Não seja estúpido como seus amigos, ― disse ele. ―


Agora, sobre esse negócio.

O guarda assentiu.

― Você vê aquela humana que você quer tanto? Ela está


registrada. Ela tem a tatuagem para provar isso. Você não pode
tocá-la. ― Ele se levantou e puxou o guarda para seus pés. ―
Então você vai pegar seus camaradas e voltará para seu
mestre. Ela está protegida pela Diretiva Exhashimor. Ela está
livre. E ela é minha.

Ele soltou o guarda de suas mãos e o Hedgerud rosnou


um pouco.

― Qual é o negócio que você estava falando então? ― ele


perguntou.

Ka'Cit deu de ombros. ― Você tira seus amigos da minha


propriedade, diz ao seu mestre que você falhou com ele... e você
viverá. Ganhou, ganhou.

O guarda rosnou um pouco mais, mas não disse mais


nada.

Nos minutos seguintes, ele carregou os corpos de seus


companheiros na nave flutuante, e somente quando a nave
subiu mais alto e depois decolou é que Ka'Cit se virou para
olhar para Nee-ya.
Ela estava assistindo a nave partir e quando ela
finalmente olhou para ele, ele viu seus ombros caírem.

Ela estava nervosa.

Quando ele largou o blaster e desengatou a cerca elétrica


que começou a zunir mais uma vez, ela saltou do carro
flutuante e correu para ele.

Ele a pegou em seus braços.

― Como você conseguiu que eles fossem? ― ela


perguntou.

Ka'Cit grunhiu. ― Pedi-lhes gentilmente.

Seus olhos encontraram os dele por um momento antes


de ela rir. ― E... eles não vão voltar?

Ele balançou sua cabeça.

Ele duvidava.

Diretiva Exhashimor era ainda mais poderosa que os


próprios Tasqals.

Um ser registrado de um planeta de Classe Quatro, a


Diretiva a protegia como um metal precioso – pelo bem da paz
em todo o universo.

Sua Nee-ya era como um pedaço de tesouro.

Ela era um tesouro.

Seu tesouro.
― Eu nunca disse obrigada, ― ela sussurrou. ― Por me
registrar. Por me dar tanto. Eu não acho que posso aceitar isso,
na verdade.

Ka'Cit enrijeceu.

― É muito, ― ela sussurrou.

― Eu daria tudo se isso significasse que eu poderia passar


um dia com você.

Ela sorriu e inclinou a cabeça contra ele enquanto olhava


para o edifício principal.

Ka'Cit seguiu seu olhar.

― É aqui que eu moro. Não é muito, mas...

― É perfeito.

O órgão vital de Ka'Cit inchou.

Ela não estava olhando para a casa.

Ela estava olhando para ele.


EPÍLOGO

Seis meses depois

Nia olhou pela janela da casa para o terreno.

Morfeu abaixou a cabeça sobre o recinto e apontou o


olhar diretamente para ela, como se soubesse o momento exato
em que ela estava olhando para ele.

Riv o havia enviado para morar com eles depois que ele
soube que Ka'Cit estava reformando sua “fazenda”.

Agora, em vez de montes de metal, eles tinham alguns


cercados para animais e até um campo para vegetais.

O metal não tinha desaparecido totalmente.

Acontece que Ka'Cit usou os restos para atualizações


personalizadas em quase qualquer dispositivo que você possa
imaginar. Ele realmente era bom com as mãos e isso não se
restringia a simplesmente forjar metal.

Eles passaram um mês construindo um celeiro para


armazenar a maioria dos pedaços de metal e a casa estava
parecendo cada vez mais com uma casa com o passar dos dias.

Enquanto olhava pela janela, ela o viu puxando um fardo


de feno em direção ao cercado de Morfeu e teve que reprimir
uma risadinha quando Morfeu mergulhou a cabeça sobre o
cercado para mastigar o cabelo de Ka'Cit.
Ela podia ouvir seu grunhido de aborrecimento mesmo à
distância.

Ele olhou na direção dela então, e parou o que estava


fazendo.

Nia sentiu a respiração pausar em sua garganta.

Mesmo depois de todo esse tempo, quando ele a olhava,


ela descobriu que não conseguia respirar.

E ele fazia muito isso – como se ainda não conseguisse se


acostumar a vê-la em seu espaço... como se estivesse com
medo de que ela fosse uma miragem que desapareceria se ele
chegasse muito perto.

Descobriu-se que sua propriedade era maior do que a


propriedade de Riv e ela teve a ideia de montar algumas casas
para alguns dos humanos que eles ajudaram o cara robô,
V'Alen, a resgatar – isto é, se algum deles queria se mudar para
uma fazenda no meio do nada.

Disseram que V'Alen e seus amigos tinham tirado os


humanos, tudo por causa da parte de metal que ela e Ka'Cit
haviam roubado, e ela achou que alguns deles virem morar em
Hudo III era uma ótima ideia.

Embora... havia a questão de obter status legal no


planeta. Depois do que ela passou, ela não tinha certeza de
como isso funcionaria ainda.

Mas onde havia uma vontade...


Olhando para seu pulso, seus olhos se moveram sobre
sua tatuagem.

Ela ainda não conseguia acreditar.

Ele tinha dado tanto a ela, e tudo com o pensamento de


que ela nunca iria querê-lo... que eles nunca ficariam juntos.

Ele estava preparado para ser sequestrado apenas por


causa dela.

Desde aquele dia em que os guardas-jacarés partiram, ela


estava observando os céus para o retorno deles. Mas eles não
tinham.

Só por precaução, ela havia finalizado seu registro com


Geblit.

Quando ela olhou para cima novamente, Ka'Cit estava


despejando o feno no recinto de Morfeu enquanto se abaixava
para que o animal não mastigasse seu cabelo novamente.

Então ele olhou para ela mais uma vez.

Nia pousou o prato que estava secando. Ela tinha


esquecido totalmente que estava no meio de lavar a louça de
qualquer maneira, e ela saiu pela porta em direção a ele.

Ka'Cit caminhou em direção a ela antes de correr até ela


e arremessá-la em seus braços.

Uma risadinha explodiu de seus lábios quando ele a


embalou em seus braços.
― Honestamente, você me faz sentir tão pequena!

― Você é pequena, ta'ii. ― Ele pegou seus lábios nos dele


para um beijo doce.

Quando Nia ficou sóbria e ele a colocou de pé, ela olhou


para cima para encontrar seus olhos.

― Ta'ii não significa 'amigo', não é?

Ela jurou que a cor dele mudou para um tom mais


escuro.

Os olhos de Ka'Cit brilharam um pouco antes de ele


balançar a cabeça.

― O que isto significa?

Ele a puxou para ele novamente. ― Isso é para eu saber.

Nia riu e se acomodou em seu abraço.

Ela já sabia.

Ela havia perguntado a Riv há muito tempo.

Ta'ii não significa “amigo”.

Significava “doce, flor” em Old Merssi e o pensamento de


que ele a chamava de sua doce flor desde a primeira vez que
se conheceram foi um pensamento que aqueceu seu coração.
12 meses depois

Nia alisou a túnica nova que Ka'Cit havia comprado para


ela e deu um tapinha no afro para ter certeza de que estava no
lugar.

Ka'Cit agarrou a outra mão dela e apertou-a quase com


força demais.

Ele estava nervoso.

Ela também.

Na frente deles havia uma sala cheia de criancinhas todas


correndo e brincando juntas. Houve gritos de risos e alegria
enchendo o espaço e era difícil não se sentir tonto e feliz.

― Você acha que um deles vai gostar de nós? ― A voz de


Ka'Cit era um sussurro baixo em seu ouvido e quando ela
olhou para ele, não pôde deixar de sorrir.

Ele estava vestido com sua melhor túnica, seus cabelos


escorriam pelos ombros e ele não estava usando a máscara.

Ele se limpou bem e toda vez que ela olhava para ele, ela
não conseguia acreditar que ele era dela.

― E se nenhum deles gostar de nós? ― Ele olhou para ela


agora e ela riu um pouco.
― Tenho certeza de que encontraremos uma criança que
goste de nós tanto quanto nós gostamos deles. Hoje, ― ela
segurou sua mão, ― nós nos tornamos pais.

Eles conversaram sobre isso por um tempo. Fez os


planos.

Já havia um quarto esperando em casa, compraram


brinquedos e arquivaram toda a papelada.

Ela não podia acreditar, mas, depois de meses de


planejamento, hoje era o dia.

Lauren deu à luz um menino borbulhante, agora bebê, e


ela teve que admitir que ver a família deles influenciou ela e
Ka'Cit a dar o pontapé inicial.

― Vai ficar tudo bem, ― ela sussurrou, não tendo certeza


se ela estava tranquilizando-o.

Assim que ela disse essas palavras, porém, uma criança


olhou para cima do que ela estava fazendo.

Ela era de um azul claro com duas pequenas antenas


saindo de sua cabeça e orelhas pontudas como as de Ka'Cit.

Ela olhou para eles por alguns momentos e o coração de


Nia bateu contra o peito.

Quando ela virou o olhar para Ka'Cit, ele também estava


olhando para a garotinha.
A criança levantou-se então e pegou o desenho que estava
desenhando.

Ela deu alguns passos hesitantes antes de fazer uma


pausa e Nia se abaixou para ficar no nível da criança.

Isso pareceu ajudar e a criança caminhou para frente.

― Você fez um desenho?

A criança assentiu e virou a foto para mostrá-los.

Ka'Cit também se abaixou e enquanto ambos olhavam


para o desenho, Nia lutou para esconder a surpresa de seu
rosto.

Ficou claro quem eram as figuras no papel e seu coração


inchou.

― É você. ― A criança apontou para uma das figuras. ― E


esse é você. ― Ela olhou para Ka'Cit e apontou para outra
figura.

― E esse é você? ― Nia perguntou, apontando para a


figura azul no papel.

A criança assentiu.

Mas havia mais números no papel.

― E quem são esses? ― Ka'Cit perguntou.


― Esses são os caras maus. ― A criança apontou para um
conjunto de figuras escuras. ― Estamos lutando contra eles
porque eles não são legais.

Nia olhou para Ka'Cit e seus olhos se encontraram.

Talvez encontrar uma criança que se encaixasse


perfeitamente não fosse ser tão difícil, afinal.

― Venha! ― A criança agarrou a mão de Ka'Cit e ele teve


um momento de surpresa ao olhar para Nia pedindo ajuda.

Nia riu e deu de ombros quando a criança o levou para


longe e de volta para seu assento.

Enquanto Nia os observava, seu sorriso se alargou e uma


sensação de calor a envolveu.

Sua mão se moveu sobre seu estômago.

Ainda estava plano.

Nada revelava o segredo que crescia por baixo.

Ela não estava aparecendo ainda, e ela assumiu que seria


o caso pelas próximas semanas, pelo menos.

Isso era bom porque ela ainda não tinha contado a ele.

Eles ainda iriam adotar uma criança de qualquer maneira


e ela queria que o momento em que ele descobrisse sobre a
gravidez fosse perfeito.
A ficha caiu alguns meses atrás e bem... parecia que
milagres aconteciam... se você tivesse sorte.

E segundo ele, ele era o macho mais sortudo vivo.

Talvez ele estivesse certo.

Mas enquanto o observava brincar com a criança, Nia


chegou a outra conclusão.

Talvez ela fosse a sortuda.

FIM...

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