1415 2762 Reme 20170043
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2017;21:e-1033
DOI: 10.5935/1415-2762.20170043
Pesquisa
Rebeca Pinto Costa Gomes 1 1 Enfermeira. Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, Escola de Enfermagem – EE, Departamento
Rozana de Souza e Silva 2 de Enfermagem Materno Infantil e Saúde Pública – EMI. Belo Horizonte, MG – Brasil.
Débora Cecilia Chaves de Oliveira 3 2 Enfermeira. UFMG, EE, EMI. Belo Horizonte, MG – Brasil.
3 Enfermeira. Mestranda. UFMG, EE, EMI. Belo Horizonte, MG – Brasil.
Bruna Figueiredo Manzo 4
4 Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora Adjunta. UFMG, EE, EMI. Belo Horizonte, MG – Brasil.
Gilberto de Lima Guimarães 5 5 Enfermeiro. Doutor em Enfermagem. Professor Adjunto. UFMG, EE, Departamento de Enfermagem
Kleyde Ventura de Souza 6 Básica – ENB. Belo Horizonte, MG – Brasil.
6 Enfermeira. Doutora. Professora Adjunta. UFMG, EE, EMI. Belo Horizonte, MG – Brasil.
RESUMO
Objetivou-se caracterizar os desejos e expectativas de gestantes descritos em um plano de parto. Estudo descritivo exploratório, tendo como
instrumento o plano de parto da caderneta da gestante da Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte. Fizeram parte do estudo 84 gestantes
em acompanhamento pré-natal, no período de março a novembro de 2014. Os resultados evidenciaram que, das 84 mulheres, 71 indicaram
o marido como acompanhante de sua escolha, 68 gostariam de fazer uso do banho de chuveiro/banheira para aliviar as dores, enquanto 23
referiram o uso de anestesia. Assim, foi possível conhecer as principais escolhas relativas ao processo parturitivo. Cabe aos profissionais de saúde
proporcionar informações que contribuam para a tomada de decisão da mulher. Acredita-se que, ao adquirir conhecimento e receber estímulo da
equipe de saúde, a gestante realizará escolhas informadas e se aproximará de um atendimento qualificado e humanizado.
Palavras-chave: Tomada de Decisões; Participação do Paciente; Parto Humanizado; Enfermagem Obstétrica.
ABSTR ACT
The objective was to characterize the desires and expectations of pregnant women described in a delivery plan. This is an exploratory descriptive
study using the delivery plan of the pregnant woman's handbook of the Municipal Health Department of Belo Horizonte as instrument. The study
included 84 pregnant women in prenatal care, from March to November 2014. The results showed that 71 out of 84 women indicated the husband
as chosen companion, 68 would like to use the shower/bath to relieve the pain, and 23 mentioned the use of anesthesia. Thus, it was possible to
learn the main choices regarding the parturitive process. It is up to health professionals to provide information to contribute to women's decision-
making. We believe that, by acquiring knowledge and receiving encouragement from the health team, pregnant women will make informed choices
and the care will be closer to the qualified and humanized model.
Keywords: Decision Making; Patient Participation; Humanizing Delivery; Obstetric Nursing.
RESUMEN
El objetivo del presente estudio fue definir los deseos y expectativas de las embarazadas descritos en un plan de parto. Estudio descriptivo exploratorio
cuyo instrumento era el plan de parto de la libreta de la embarazada de la Secretaría Municipal de Salud de Belo Horizonte. Participaron 84
gestantes en seguimiento prenatal, entre marzo y noviembre de 2014. Los resultados evidenciaron que, de las 84 mujeres, 71 eligieron a su marido
como acompañante, 68 querían usar la ducha o la bañera para aliviar el dolor y 23 se refirieron a la anestesia. De este modo, pudieron conocerse
las principales opciones para el proceso de parto. Les corresponde a los profesionales de la salud brindar información que contribuya a la toma de
decisiones de la mujer. Se entiende que al adquirir conocimiento y recibir estímulo del equipo de salud, la mujer embarazada realizará elecciones
informadas y tendrá más posibilidades de recibir atención calificada y humanizada.
Palabras clave: Toma de Decisiones; Participación Del Paciente; Parto Humanizado; Enfermería Obstétrica.
1
Plano de parto em rodas de conversa: escolhas das mulheres
Participou do estudo a amostra de 114 gestantes. Os cri- riam em seu plano e não constavam no plano de parto propos-
térios de inclusão foram gestantes com qualquer idade ges- to. No plano proposto, a mulher poderia fazer mais de uma es-
tacional e inscritas no pré-natal das UBS. Já os critérios de ex- colha em cada pergunta.
clusão foram gestantes com dificuldade ou impossibilidade de Dessa forma, houve oportunidade de discutir sobre as
comunicação verbal, com dificuldades mentais e o não com- preferências registradas pelas gestantes em seus planos, escla-
parecimento às rodas de conversa. Do total de 114 gestantes, recendo: as bases científicas que embasam essas preferências,
oito não concluíram a participação, muitas vezes por terem bem como seus benefícios e suas implicações para elas, para
consulta médica no mesmo horário da roda de conversa, re- seus recém-nascidos e familiares; a relação entre suas escolhas e
duzindo a amostra para 106 mulheres. No entanto, dessas 106, as práticas institucionais e dos profissionais (limites, possibilida-
22 não atenderam a proposta do preenchimento completo do des); e, finalmente, sobre a troca de experiências relativas à ela-
plano de parto, contabilizando amostra final de 84 gestantes boração do plano. O plano foi preenchido em duas vias e uma
para este estudo. delas foi entregue pelas participantes às pesquisadoras.
Realizaram-se 32 rodas de conversa no período de março Para a análise dos dados, elaborou-se um banco de dados
a novembro de 2014, conduzidas por pesquisadoras treinadas em planilha eletrônica para procedimentos de análise descri-
e integrantes do projeto e com o envolvimento de profissionais tiva. A amostra foi caracterizada com a distribuição de frequ-
do serviço. É válido mencionar que, em algumas unidades, reali- ências absolutas e relativas das variáveis de interesse, segundo
zou-se mais de uma roda de conversa, sempre com participan- as escolhas das mulheres. Os resultados foram organizados se-
tes diferentes para atender a demanda local. guindo a ordem cronológica de um parto.
As rodas de conversa tinham por finalidade informar so- O projeto foi avaliado e aprovado pelo Comitê de Ética em
bre o plano de parto às gestantes, além de motivá-las ao uso Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais COEP/EEU-
dessa ferramenta, elucidando as percepções e as necessidades FMG sob o nº CAAE 12186813.9,1001,5149 e pela SMSA-BH e
delas em relação ao processo de parto e nascimento e explo- financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Ge-
rando suas expectativas em relação ao atendimento, trabalho rais (FAPEMIG) com parecer n° 508.446. A pesquisa obedeceu
de parto, parto e pós-parto. aos aspectos éticos de pesquisa envolvendo seres humanos,
Ao final das rodas de conversa, as gestantes tiveram a conforme Resolução nº 466/12 CNS/MS. Todos os participan-
oportunidade de elaborar seu plano de parto utilizando como tes e seus responsáveis, quando menores de 18 anos, assinaram
modelo o que consta na caderneta da gestante (Tabela 1) da um termo de consentimento e assentimento livre e esclarecido
Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte (SMSA-BH). (TCLE) após explicitação sobre os propósitos do estudo e deta-
Também foram incentivadas a identificar itens de que gosta- lhamento do seu processo.
… continuação
(*) Fonte: Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte. Saúde mãe para filho: cuidados para a mãe e filho desde o pré-natal para uma gravidez, parto e nascimento
saudáveis. Disponível em: http://www.sentidosdonascer.org/wordpress/wp-content/uploads/2015/07/cartilha_gestante_2013_web-copy.pdf. Acesso em 22 agosto 2017.
RESULTADOS
banheira, 58,33% de receber massagens, 45,24% de realizar res-
Do total das participantes das rodas de conversa, 84 aten- piração profunda, e 45,24% de exercícios de relaxamento com
deram à proposta de preenchimento do plano de parto (Ta- a bola do nascimento e com a banqueta, sendo que, nes-
bela 2). Destas, 84,52% desejaram ser acompanhadas durante sas opções, a gestante poderia escolher mais de uma opção.
a internação na maternidade por seu marido/parceiro/pai do Como método farmacológico, a analgesia regional foi eleita por
recém-nascido – (RN). 27,38% das parturientes.
Quanto aos líquidos que desejaram ingerir durante o tra- Para o momento do parto, o uso do supositório de glice-
balho de parto, mais da metade das mulheres, 63,10%, op- rina foi desejado por 48,81% das gestantes. A posição deitada
tou por suco de frutas, enquanto 38,10% escolheram gelatina, com a cabeceira elevada foi escolhida por 51,19% das parturien-
14,29% preferiram chá e 22,62% selecionaram outros tipos de tes, enquanto 44,05% optaram por parir sentada ou de cócoras,
líquidos, incluindo água. já 8,33% outras posições e 4,76% de lado.
Sobre o ambiente do trabalho de parto e parto, 70,24% Quanto ao corte do cordão umbilical, 51,19% escolheram
preferiram pouca luminosidade. Enquanto 29,76% não expres- que fosse realizado pelo marido/parceiro/pai do RN, enquan-
saram essa preferência, 40,48% desejaram ouvir música. to 46,43% pelo profissional e apenas 2,38%, por elas mesmas.
Como método não farmacológico de alívio da dor, 80,95%
das gestantes gostariam de fazer uso do banho de chuveiro/
Tabela 2 - Escolhas das gestantes expressas em um plano de parto em seada em evidências científicas e que deve ser estimulada. Es-
Belo Horizonte, nas Regionais Norte e Venda Nova – 2014 tudos relatam que nesse período vulnerável no qual a mulher
Variáveis N % se encontra, quando acompanhada por um familiar, sente-se
Marido/parceiro/pai do RN 71 84,52% mais segura, satisfeita e feliz. É importante salientar que a equi-
Mãe 22 26,19% pe de saúde, em particular a enfermagem, tem papel relevante
Acompanhante na Filha(o) 3 3,57% na orientação do acompanhante sobre a importância de sua
maternidade Amigos 2 2,38% participação ativa durante o processo de parturição, a fim de
Outros familiares 11 13,10% dar o suporte necessário nesse momento.12,13
Doula 3 3,57%
O jejum durante o trabalho de parto é classificado pelo
MS como uma prática frequentemente usada de modo inade-
Sucos 53 63,10%
quado. Por pertencer a uma tradição obstétrica e anestésica, é
Líquidos que Gelatina 32 38,10%
justificada pelo risco de aspiração do conteúdo gástrico duran-
deseja ingerir Chás 12 14,29%
te um possível procedimento anestésico. Essa prática é, portan-
Outros 19 22,62% to, fundamentada na pretensão de reduzir índices de morbida-
Baixa Luminosidade 59 70,24% de e mortalidade materna.8,14
Ambiente
Com música 34 40,48% Em contrapartida, a oferta de líquidos e alimentos leves du-
Massagens 49 58,33% rante o trabalho de parto é considerada um ato de respeito à
Respiração profunda 38 45,24% autonomia da mulher. Ela é recomendada pela Rede Cegonha,
Métodos para Exercícios de relaxamento com uma vez que a parturiente necessita manter-se hidratada e com
38 45,24%
alívio da dor bola um aporte calórico adequado, a fim de facilitar o processo par-
Banho de banheira ou chuveiro 68 80,95% turitivo. Há evidências de que a restrição hídrica e alimentar não
Anestesia farmacológica 23 27,38% assegure a inexistência de poucos volumes estomacais durante
Sim 41 48,81% a anestesia, não minimizando, assim, os riscos à parturiente. 8,14
Uso de supositório Entre os planos de parto preenchidos, em relação à hidra-
Não 39 46,43%
tação, o suco de frutas se destacou com alto percentual, se-
Deitada com cabeceira elevada 43 51,19%
guido da gelatina e do chá. Mesmo não sendo uma alternativa
Sentada /Cócoras 37 44,05%
do plano proposto, muitas gestantes expressaram o desejo de
Posições de parir Outras 7 8,33%
ingerir água durante o trabalho de parto, o que sugere a inclu-
De lado 4 4,76% são desse item.
Marido/parceiro/pai do RN 43 51,19% Um dos resultados da pesquisa mostrou que grande par-
Pelo profissional 39 46,43% te das mulheres almejou um ambiente com pouca luminosida-
Corte do cordão
Outros 5 5,95% de para o momento do parto. Estudos comprovam que ambien-
umbilical
Por você mesma 2 2,38% tes extremamente iluminados e ruidosos podem exercer influên-
Fonte: elaborado para fins desta pesquisa. cia negativa no processo fisiológico do parto; por gerar estresse e
Nota: As gestantes puderam escolher mais de uma opção nas questões do tensão, a liberação de ocitocina endógena é inibida, retardando as
plano de parto, totalizando n superior a 100%.
contrações uterinas e prolongando, assim, o trabalho de parto.15
Para que o parto tenha o seu curso inalterado, é necessária
DISCUSSÃO uma adaptação do ambiente em que ele se dá, proporcionan-
Ao se tratar da presença do acompanhante, todas as mu- do silêncio, conforto e privacidade à parturiente. No contexto
lheres expressaram o desejo de serem acompanhadas durante hospitalar, essa adequação é responsabilidade da equipe envol-
seu trabalho de parto e parto. A Lei 11.108, regulamentada pela vida nesse processo, para promover o bem-estar.15
Portaria do Ministério da Saúde nº 2418, de 2005, garante a pre- Segundo a Diretriz Nacional de Assistência ao Parto Nor-
sença e o envolvimento de um acompanhante durante todo o mal, lançada em 2016, o ambiente com música compõe uma
período de trabalho de parto, parto e pós-parto imediato, que das estratégias para aliviar a dor durante o trabalho de parto.
consiste em até 10 dias após o parto propriamente dito. Esse Os profissionais da saúde devem apoiar essa estratégia, desde
acompanhante deve ser definido pela parturiente.12 No presen- que sejam músicas escolhidas pela mulher. É válido esclarecer
te estudo, grande parte das participantes teve como preferên- que ainda não há evidências satisfatórias que concluam sobre o
cia a presença de seu marido/parceiro/pai do RN. efeito benéfico da música sobre as queixas álgicas. Mesmo as-
Tal prática, além de ser um direito garantido por lei, é clas- sim, em nosso estudo, grande parte das mulheres planejou ou-
sificada pelo MS como uma prática comprovadamente útil, ba- vir sua seleção musical durante o trabalho de parto.14
O manejo da dor durante o trabalho de parto tem como fi- dade, reduz a força aplicada pela mulher, quando comparada à
nalidade aumentar o limiar da parturiente para tolerância às sen- posição horizontal, e minimiza a compressão dos grandes va-
sações dolorosas próprias desse período clínico, possibilitando sos. Isso contribui para a circulação materna e fetal e amplia a
uma experiência positiva em relação ao parto.14 Assim, estraté- passagem do canal de parto. 8 Artigos também destacam: mu-
gias e métodos não farmacológicos de alívio da dor devem ser lheres que adotaram a posição verticalizada consideraram-na
garantidos e fazem parte de um modelo de assistência compro- benéfica por proporcionar mais conforto, por favorecer sua
metido com a humanização da assistência.16 Neste estudo, entre movimentação e por reduzir o esforço expulsivo.16
esses métodos, o mais citado pelas participantes foi o banho de Apesar de as evidências não demonstrarem benefícios, a
chuveiro ou banheira; a seguir, vem o da massagem. Esta, quando posição supina foi a mais expressa nos planos de parto, por ain-
realizada pelo acompanhante, fornece alívio e promove a cum- da ser considerada culturalmente a mais apropriada pelas mu-
plicidade. O uso da bola e da respiração profunda obteve o mes- lheres e por alguns profissionais da saúde, visto que, no Brasil,
mo percentual: aquela auxilia na descida e no encaixe do feto na mais de 90% das mulheres ainda escolhem parir nessa posição.
pelve, enquanto a respiração profunda desvia a atenção da dor.8 Não obstante, pesquisas indicam que instituições de saúde na-
Outra alternativa para o alívio da dor é o método farmaco- cionais têm oferecido outras possibilidades de posições que
lógico. Esta foi a opção selecionada por menos da metade das não a supina para parir. Isso é fortalecido quando há a presen-
gestantes. Sob a ótica da humanização da assistência, a analge- ça de enfermeiros-obstetras, pois se trata de profissionais com-
sia deve ser administrada caso a mulher solicite, com a inten- prometidos com os princípios da humanização.16
ção de aliviar suas dores. Todavia, existem implicações negati- Do total das mulheres participantes, mais da metade de-
vas que devem ser mencionadas à mulher, como a ocorrência sejou que seu companheiro cortasse o cordão umbilical após
de náuseas, de torpor e de vertigem. Há também efeitos para o o parto. Estudo qualitativo realizado no município de Belo Ho-
RN, como depressão respiratória ao nascer e sonolência persis- rizonte, em 2009, revela que, além de favorecer a participação
tente. Além disso, o uso da analgesia pode prolongar o período ativa no nascimento, há mais ligação emocional entre pai e fi-
expulsivo no parto, devido a diversas alterações provocadas no lho quando o mesmo realiza o corte. Esse momento é mar-
corpo da mulher, como, por exemplo, o relaxamento muscular cante e simboliza a superação das dificuldades do trabalho de
do assoalho pélvico da parede abdominal. 8,14 parto, promovendo para o pai um marco de responsabilidade
A escolha pelo uso do supositório de glicerina prevaleceu compartilhada sobre o filho, uma vez que, durante a gestação,
em quase metade das gestantes investigadas. No entanto, o a mãe possuía grande parte dessa responsabilidade.19 Para que
MS e a OMS consideram o uso rotineiro do enema como uma isso aconteça, é necessário que os profissionais de saúde que
prática claramente prejudicial ou ineficaz e que deve ser eli- auxiliam no parto ofereçam a oportunidade de secção do cor-
minada das práticas realizadas durante o parto, restringindo o dão ao acompanhante, pois este deve ter seu papel como par-
uso somente quando solicitado pela mulher.17 A justificativa do ticipante ativo reconhecido pela equipe. Destarte, percebe-se a
uso do enteroclisma baseia-se na crença de que o mesmo traz importância de ter uma equipe sensível às demandas específi-
benefícios como: acelerar o trabalho de parto e reduzir a con- cas dos diversos momentos que envolvem o parto.20,21
taminação da região perineal, resultando na diminuição dos ín- Para tomar decisões referentes a um momento tão sin-
dices de infecção materna e neonatal. No entanto, a sua utiliza- gular em sua vida, a mulher necessita obter um conhecimen-
ção pode gerar desconforto e constrangimento à parturiente, to prévio sobre o assunto. Dessa forma, cabe aos profissionais
além de não eliminar o risco de contaminação do períneo com da atenção primária à saúde, durante o pré-natal, fornecer in-
fezes líquidas.14 Ademais, revisão sistemática realizada em 2013, formações à mulher não somente a respeito da gestação, mas
que incluiu diversos países e contou com amostra de 1.917 mu- também sobre todo o processo parturitivo.22 Um dos recursos
lheres, ratifica que o enema não possui efeito significativo sobre que podem ser utilizados por esses profissionais é a roda de
taxas de infecção e, portanto, seu uso deve ser desestimulado.18 conversa sobre plano de parto, utilizada nesta pesquisa.
Mais da metade das grávidas escolheu a posição deitada E para que haja continuidade desse cuidado, os profissio-
com a cabeceira elevada para o momento do parto. Com a nais que prestam assistência no ambiente hospitalar devem
hospitalização do parto, a posição supina e a proibição de mo- considerar todo o trabalho desenvolvido pelos colegas da aten-
vimentos durante todo o processo de parturição foram padro- ção primária à gestante no período gravídico. Isso somente será
nizadas com a justificativa de que, se a gestante permaneces- possível quando as equipes dos diferentes níveis de atenção à
se em decúbito lateral esquerdo, haveria aumento da perfusão saúde atuarem em prol da humanização da assistência, desmis-
placentária, implicando mais oxigenação fetal.14 Entretanto, há tificando crenças advindas da cultura intervencionista e, con-
evidências de que a posição horizontal prejudica a respiração sequentemente, concretizando a rede de atenção preconizada
materna, enquanto que a posição verticalizada auxilia a gravi- pelo Sistema Único de Saúde.23
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