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ANAIS-II-PQSFCAO-2021 - Silagem de Grão Reidratado

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FÁBIO JACOBS DIAS GRAZIELA APARECIDA SANTELLO THIAGO CARVALHO DA SILVA

ROGÉRIO PERIN LUCIANA SOUZA DE AGUIAR E SOUZA CLÓVES CABREIRA JOBIM

II AN AIS DO SIMPÓSIO PR
ANAIS ODUÇÃO
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ADAS NAA AMAZÔNIA OCIDENT AL
OCIDENTAL

MANAUS - AMAZONAS
2021
Copyright © 2021 para os autores

Organizador Fábio Jacobs Dias


Revisão textual e gramatical Resposanbilidade dos respectivos
autores
Capa Carlos Adriel Oliveira de Castro
Projeto Gráfico/Diagramação Marcela Costa de Souza

Todos os direitos reservados 2021


A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte,
constitui violação de direitos autorais (Lei 9.610/98).

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Simpósio Produção, Qualidade e Sustentabilidade de Forragens


Conservadas na Amazônia Ocidental (2.: 2021: Manuas, AM) II Anais
do Simpósio Produção, Qualidade e Sustentabilidade de Forragens
Conservadas na Amazônia Ocidental [livro eletrônico] / [organização]
Fábio Jacobs Dias...[et al.]. — Manaus, AM: Ed. dos Autores, 2021.

Outros organizadores: Rogério Perin, Graziela Aparecida Santello,


Luciana Souza de Aguiar e Souza, Thiago Carvalho da Silva, Clóves Cabreira
Jobim. Vários autores.

ISBN 978-65-00-35369-3

1. Alimentos - Conservação 2. Amazônia - Aspectos ambientais 3.


Engenharia de produção 4. Grãos - Armazenamento 5. Forragem 6.
Processamento de alimentos 7. Sustentabilidade ambiental I. Dias, Fábio
Jacobs. II. Perin, Rogério. III. Santello, Graziela Aparecida. IV. Souza, Luciana
Souza de Aguiar e. V. Silva, Thiago Carvalho da. VI. Jobim, Clóves Cabreira.
VII. Titulo.

21-91823 CDD-630

Índices para catálogo sistemático:


1. Alimentos : Agricultura 630
Aline Graziele Benitez - Bibliotecária - CRB-1/3129
APOIO
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM)
PREFÁCIO
O II Simpósio - PRODUÇÃO, QUALIDADE E SUSTENTABILIDADE
DE FORRAGENS CONSERVADAS NA AMAZÔNIA OCIDENTAL -
IIPQSFCAO2021 traz a continuidade do anseio em melhorar a produção
animal no Estado. Nestes dois anos que decorreram após a primeira
edição PQSFCAO2019, vem ocorrendo volumes significativos de
precipitação e as cheias dos rios tem sido maiores e permanecido por
mais tempo, o que têm obrigado os pecuaristas manter seus animais
mais tempo em áreas de terra firme e pouco nas áreas de várzea. Neste
cenário, os desafios para nutrir melhor os ruminantes estão ainda mais
dependentes de um planejamento forrageiro mais consistente, onde a
conservação de alimentos, forragens ou grãos, pode exercer um papel
importante. A ensilagem é um método de conservação que visa preservar
os nutrientes existentes na matéria original para guardar volumosos e
utilizá-los estrategicamente visando obter produtividade animal e
qualidade de seus produtos e derivados.
Neste Anais do II PQSFCAO2021 contêm textos, apresentados
na forma de palestras, das mais diversas experiências de ensilagem e
utilização de silagens no Brasil, da região sul ao norte do país. Renoma-
dos pesquisadores da área tiveram profundo cuidado e respeito a que
se propõem a produzir e alimentar ruminantes no que se traduz como
fonte proteica na maioria das vezes de qualidade, leite e carne e por
vezes com sustentabilidade no aproveitamento de coprodutos agroin-
dustriais.
É uma oportunidade do leitor pecuarista, técnico, profissional,
acadêmico e docente do Brasil e da região, de obter conhecimentos e
vivências com alguns dos melhores especialistas sobre conservação
de volumosos do país, além de um incentivo aos acadêmicos das ciên-
cias agrárias à leitura e à investigação científica.
O ANAIS do II PQSFCAO2021 visa expandir o acesso às tec-
nologias, aos conhecimentos e às inovações na conservação de
forragens/grãos, contribuindo não só com o setor primário, mas com o
ensino, a pesquisa e a extensão na Amazônia Ocidental.

Prof. Fábio Jacobs Dias


SUMÁRIO

8 DESAFIOS E PERSPECTIVAS PARA A PRODUÇÃO


DE SILAGENS NA AMAZÔNIA

33 SILAGEM DE GRÃOS REIDRATADOS: DA


ENSILAGEM AO COCHO

INDICADORES DE EFICIÊNCIA NA PRODUÇÃO


62 DE SILAGENS

86 CONSERVAÇÃO DE FORRAGENS EM PEQUENAS


PROPRIEDADES LEITEIRAS

102 BOAS PRÁTICAS NA ENSILAGEM DE MILHO -


DA COLHEITA AO DESCARREGAMENTO

114 REALOCAÇÃO DE SILAGENS DE MILHO

VIABILIDADE DE PRODUÇÃO E USO DE


125 SILAGENS DA BRS CAPIAÇUÇÃO DE
ENSILAGEM DE MILHO

167 SILAGEM DE GRÃO DE MILHO REIDRATADO


COM SORO DE LEITE

204 RESUMOS
DESAFIOS E
PERSPECTIVAS PARA A
PRODUÇÃO DE SILAGENS
NA AMAZÔNIA

Aníbal Coutinho do Rêgo1* | Lorena Maués Moraes2 |


Deyvid de Menezes Melo3 | Juliana Schuch Pitirini2 |
Cristian Faturi1 | Thiago Carvalho da Silva1

¹ Docente do Instituto da Saúde e Produção Animal da Universidade Federal Rural da Amazônia, Campus de
Belém, Pará, Brasil.
² Discente do Programa de Pós-graduação em Saúde e Produção Animal na Amazônia da Universidade Federal
Rural da Amazônia, Campus de Belém, Pará, Brasil.
³ Discente do Programa de Pós-graduação em Ciência Animal na Amazônia da Universidade Federal do Pará,
Campus de Castanhal, Pará, Brasil.
* Autor correspondente: anibal.cr@ufra.edu.br

8 8 Fábio Jacobs Dias et al.


Introdução
O sistema de produção de bovinos está inserido de forma
significativa na Amazônia Legal. Essa região representa quase 60% do
território nacional e detém aproximadamente um quarto do efetivo de
bovinos do Brasil (IBGE, 2021). Dividida em Amazônia Oriental e
Ocidental, a região apresenta variação nas condições edafoclimáticas
que determinam diretamente a produção de forragens. A porção Oriental
é formada pelos estados do Amapá, Maranhão, Mato Grosso, Pará, e
Tocantins, e a porção Ocidental é composta pelos estados do Acre,
Amazonas, Rondônia e Roraima.
Segundo a classificação de Köppen a região amazônica possui
os tipos climáticos conhecidos como tropical equatorial (Af), tropical
de monção (Am) e tropical de savana (Aw), distribuídos por toda a
extensão do território (ALVARES et al., 2013). Esses climas compõem o
grupo tropical, com precipitação anual média de pelo menos 1.500 mm
e temperatura média superior a 18 °C em todos os meses do ano. Apesar
da grande diversidade de classes de solos na região, as mais predo-
minantes são os Argissolos Vermelho-Amarelos distróficos, Latossolos
Amarelos distróficos e os Argissolos Vermelhos Alíticos (SANTOS et al.,
2011).
Assim, as variadas características edafoclimáticas denotam a
necessidade de compreender as particularidades de cada ambiente para
o cultivo forrageiro, quer seja para pastejo ou ensilagem. Mesmo
marcada pelos maiores volumes de precipitação do país, a região
apresenta estacionalidade na produção de forragem que podem oscilar
em decorrência de fenômenos climáticos (MUÑOZ et al., 2016) e do
tipo de clima (Af, Am ou Aw). Considerando as características edafocli-
máticas da região, observamos que, apesar da elevada precipitação e
elevadas temperaturas, algumas peculiaridades como o excesso de
umidade no solo podem influenciar diretamente a produção de
forragens.
Por outro lado, algumas mesorregiões apresentam déficit hídrico
bastante acentuado A desconsideração dessas peculiaridades e a adoção
direta de protocolos desenvolvidos em outras regiões tem resultado na

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 9
baixa produtividade animal em alguns casos. Com isso, constatamos
que um grande desafio da produção animal na Amazônia é o suprimento
de alimentos em quantidade e qualidade aos rebanhos. Portanto, o uso
de práticas como ensilagem surge como estratégia para suprir o déficit
na oferta de forragem aos rebanhos, principalmente ao longo do período
seco. A ensilagem também pode auxiliar no manejo de pastagens, quer
seja pela colheita do excedente produzido ou pela redução da carga
animal em época de baixa oferta de forragem. Ademais, a ensilagem
pode ser uma estratégia alimentar para intensificar sistemas de produção
principalmente em regiões em que o custo de oportunidade da terra é
alto; pode fornecer alimento aos rebanhos em regiões sujeitas a enchen-
tes no período chuvoso; dentre outros.
No contexto atual, a produção de silagem assume fundamental
importância com objetivo de garantir a segurança alimentar do rebanho.
Independentemente da razão, busca-se manter o suprimento de
alimento em quantidade e qualidade ao longo do ano, em função das
inúmeras intempéries que possam ocorrer. Dessa forma, a utilização
de silagem tem possibilitado a melhoria geral dos sistemas de produção
animal na região amazônica através da intensificação da produção e
do uso eficiente da terra.
Diante do exposto, temos como objetivo no presente texto discutir
os desafios e as perspectivas da produção de silagens na Amazônia.
Mesmo com parte do Maranhão e do Mato Grosso inseridos na
Amazônia Legal, nossos exemplos e os aspectos gerais aqui abordados
serão direcionados principalmente para os estados da região Norte.
Serão discutidos o histórico do uso de silagens na Amazônia brasileira,
os desafios inseridos nas particularidades para produção de silagens
das principais culturas anuais de ciclo curto e capins tropicais usados
na região, assim como nas silagens produzidas a partir de alimentos
alternativos. Além disso, fatores ligados ao manejo no silo e perspectivas
também serão levantados.

Histórico do uso de silagens na Amazônia


Para falar de desafios e perspectivas é importante, sobretudo,

101 0 Fábio Jacobs Dias et al.


entender o histórico desse processo. O uso de silagens na região
amazônica basicamente acompanhou o crescimento da demanda das
cadeias pecuárias e a aptidão da região em produzir forragens ou outros
alimentos. Entretanto esse fenômeno é recente, uma vez que o pasto
sempre prevaleceu como alimento nos sistemas produtivos. A utilização
de silagens se acentuou sobretudo nos últimos anos em sistemas que
usaram principalmente o confinamento para bovinos de corte como
estratégia para intensificação da produção. Nesse caso, pelo menos
uma fase da produção passa pelo confinamento, sendo que a terminação
ainda predomina nas fazendas que usam tal método. Mas não se fun-
damenta apenas nisso.
É importante considerar que a demanda também é influenciada
pelas características e peculiaridades de cada cadeia pecuária. O uso
de silagens está diretamente relacionado ao sistema de produção
adotado, mas também ao perfil das cadeias, como bovinocultura de
leite, bubalinocultura ou bovinocultura de corte, sendo a última de maior
representatividade na região. Sendo assim, é importante conhecer onde
as atividades estão inseridas na região para verificar as potencialidades
do uso de silagens nas dietas de cada rebanho. Por exemplo, a bovino-
cultura de corte é uma atividade que se destaca nos estados do Pará,
Tocantins e Rondônia. A bovinocultura de leite tem mais evidência no
estado de Rondônia, maior produtor da região Norte. A bubalinocultura
tem maior rebanho no Pará, especificamente no arquipélago do Marajó
e nos estados do Amapá e Amazonas (IBGE, 2021).
Considerando o rebanho de bovinos de corte, Vale et al. (2019)
conduziram uma pesquisa sobre a expansão dos sistemas intensivos
de produção de bovinos de corte na Amazônia brasileira, e observaram
que o número de confinamentos cresceu substancialmente entre 2008
e 2017, destacando-se o Pará na região Norte (Figura 1). Com o fortale-
cimento do mercado da carne nos últimos três anos (CEPEA, 2021) a
tendência é que o processo de intensificação avance cada vez mais na
região e consequentemente o uso de silagens nas dietas aumente. Na
pesquisa citada os autores já reportaram o uso de silagens nas dietas
em sistema que trabalhavam com animais confinados. Portanto, é

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 11
possível considerar que existe um espaço para o crescimento do uso
de silagens na cadeia produtiva, principalmente na bovinocultura de
corte, levando em consideração que essa expansão perdurará por alguns
anos. Isso é reflexo da própria exigência do mercado, principalmente o
mercado externo, que requer animais mais jovens e com uma qualidade
melhor de acabamento. A demanda do mercado força o setor produtivo
a aumentar a eficiência do sistema que busca maior desfrute dos
rebanhos com a intensificação da terminação de animais em
confinamentos.
Figura 1. Distribuição de confinamentos de bovinos de corte no espaço e
no tempo.

Fonte: Vale et al. (2019)

Ainda na bovinocultura de corte, o uso de estratégias como


‘sequestro’ de bezerros ou outras categorias no período seco, tem
aumentado o uso de silagens nas propriedades rurais (Silvestre; Millen,
2021). Nessas situações a utilização de silagens de capins tropicais

121 2 Fábio Jacobs Dias et al.


tem sido impulsionada, principalmente aquelas produzidas a partir do
excedente de pasto do período chuvoso. Portanto, nessa atividade, temos
observado que pelo menos uma fase do processo produtivo tem uso
silagens. Em outros casos, a adoção de semiconfinamento ou a suple-
mentação volumosa tem promovido o uso desse alimento.
Na bovinocultura leiteira a intensificação dos sistemas produ-
tivos também foi um dos responsáveis pela crescença no uso de silagens.
Contudo, é a necessidade em manter a produtividade das vacas em
lactação que faz com que os produtores busquem volumosos de boa
qualidade e em quantidade suficiente para os períodos de déficit de
forragem. Assim sendo, em dietas de vacas em lactação, mais do que
um aporte de fibra, as silagens são produzidas para contribuir também
com carboidratos de alta degradabilidade como o amido (FERRARETTO
et al., 2018) e reduzir custos com concentrado. Por essa razão, nesses
sistemas é mais comum observar o uso de silagens de milho ou sorgo
em detrimento a silagens de capins tropicais em dietas para vacas de
alta produção. Entretanto, é possível afirmar que os capins tropicais
podem ser incluídos parcialmente em dietas para vacas de alta produção
visando o estímulo da ruminação e a redução do custo da dieta sem
comprometer a produção de leite. Além das razões supracitadas,
silagens de capins tropicais apresentam potencial de utilização em dietas
para vacas de média e baixa produção, bem como para outras categorias
do rebanho leiteiro, como bezerros e vacas secas.
Na Amazônia o uso de silagens na bovinocultura de leite ainda é
tímido, mas é concentrada nos estados onde a cadeia tem mais
destaque. Em estudo conduzido por Bernardes & Rêgo (2014) que avalia-
ram as práticas da produção e uso de silagens em fazendas leiteiras no
Brasil, os autores relataram que somente produtores dos estados do
Amazonas, Amapá e Roraima não responderam à pesquisa. Aqui desta-
camos dois fatores, a cadeia produtiva do leite nesses estados ainda é
muito restrita e a representatividade de produtores que usam a silagem
como alimento na dieta desse tipo de rebanho não era significativa.
Mesmo com a vasta extensão de áreas de pastagens, princi-
palmente nos estados do Pará, Tocantins e Rondônia, a elevação do

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 13
custo de oportunidade da terra em algumas mesorregiões desses
estados tem forçado a intensificação dos sistemas produtivos e
consequentemente o uso de silagens (GARCIA et al., 2017). Isso
normalmente é observado nas proximidades dos centros urbanos
maiores ou em áreas que passam por pressões de outras atividades
como agricultura ou mineração (VALE et al. 2019). Nessas áreas o uso
de silagens tem crescido consideravelmente e tende a continuar em
ascensão.
Quando consideramos o uso da ensilagem em pequenas
propriedades, percebemos que a frequência dessa prática ainda é muito
reduzida. Existe uma heterogeneidade no perfil dos pequenos produtores
da Amazônia. De acordo com o ambiente em que estão inseridos as
condições e condições para produção de silagem irão variar.
Comunidades ribeirinhas, por exemplo, são susceptíveis em parte do
ano a períodos de enchentes que obrigam o produtor em muitas
situações a manter os rebanhos em marombas (currais suspensos sobre
o rio, apoiados em estacas e toras de madeira) (CASTRO et al., 2009).
Nesse caso a alimentação dos animais passa a ser um desafio e o uso
de silagens poderia ser uma opção. Ensilar alimentos mais secos e
densos em tambores poderia suprir as necessidades dos rebanhos
nesses períodos difíceis.
O uso de silagens na Amazônia está também associado à aptidão
agrícola das mesorregiões de cada estado em produzir forragens ou
outros alimentos. É comum observar a predominância do uso de silagens
de culturas anuais em fazendas que estejam inseridas nos polos
agrícolas dessas regiões. Na região Norte, o estado do Pará e Tocantins
foram os que apresentaram as maiores safras de milho em 2020 (IBGE,
2021). Próximo aos celeiros agrícolas desses estados é comum o uso
de silagens de planta inteira dessas culturas nos confinamentos de
bovinos de corte e em algumas fazendas de bovinos de leite.
Assim, é com base nessas aptidões e potenciais para produzir
silagens que iremos abordar nos próximos tópicos as principais culturas
e alimentos que podem ser ensilados e usados nos sistemas produtivos
na região.

141 4 Fábio Jacobs Dias et al.


Silagens de culturas anuais de ciclo curto
O cultivo de culturas anuais como o milho, sorgo e milheto para
produção de silagem na região Amazônica basicamente segue os mesmos
padrões dos cultivos direcionados a produção de grãos. Obviamente que
normalmente a escolha de materiais genéticos de cada cultura é feita e
direcionada no momento do plantio para a correta aptidão da produção
de silagens de planta inteira dessas culturas, considerando a adaptação
às condições edafoclimáticas da região. Como dito anteriormente, a
produção de silagem a partir das culturas supracitadas ainda estão mais
concentradas principalmente nas proximidades de áreas de produção de
grãos. Isso acontece devido à facilidade de parcerias agrícolas na
condução das safras e pela maior disponibilidade de insumos e ma-
quinários nessas regiões, sendo estes fatores determinantes para o
cultivo. As culturas mais dominantes ainda são o milho e sorgo, com
ocorrência muito restrita do milheto (IBGE, 2021).
Nos estados da região norte o cultivo de grãos avançou bastante,
mas assim como a pecuária esse avanço foi recente e aconteceu de
forma mais intensa nos últimos 20 anos (IBGE, 2021). De maneira geral,
na maioria das regiões onde é possível a produção de grãos, o período
chuvoso mais longo permite a obtenção de duas safras. Nesse caso,
milho, sorgo ou milheto podem ser opção na safra e safrinha. Um dos
maiores desafios, principalmente nas condições climáticas Af e Am, é
que períodos chuvosos mais longos dificultam o ajuste do plantio para
que a colheita não seja prejudicada pela ocorrência de chuva, com
possíveis prejuízos na ensilagem.
É importante destacar que, a ocorrência de chuvas na colheita
tanto causa problema de compactação do solo, em especial aqueles
mais argilosos, como causar perdas durante a fermentação no silo
(BATEY et al., 2009; BORREANI et al., 2018). Trabalhar com materiais
genéticos de ciclo fenológico mais longo e o plantio escalonado em
talhões pode atenuar os problemas de janelas de colheita mais curta.
Dessa forma, o produtor deve ponderar os contextos: plantar no início
do período chuvoso e colher no meio do período chuvoso, ou realizar o
plantio de segunda safra para colheita no final do período chuvoso.

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 15
Isso dependerá principalmente do regime pluviométrico da região. Além
das dificuldades ligadas ao clima, problemas ligados aos solos também
podem exigir atenção n condução de cultivos de ciclo curto na Amazônia.
Mesmo nessas condições adversas, com solos arenosos, como em
algumas porções do estado do Tocantins, pesquisas direcionam que é
possível produzir silagens com valor nutritivo aceitável (AVELINO et
al., 2011).
O uso de sistemas de integração lavoura de ciclos curto com
pecuária tem ocorrido, em especial nos grandes centros agrícolas da
região. Nessas situações, o plantio consorciado de culturas agrícolas
com capins tropicais possibilita, por exemplo, a produção de silagem
de planta inteira de milho com pastejo subsequente à colheita. Diante
disso, colher o milho com um resíduo mais alto pode facilitar a operação
de colheita e aumentar a disponibilidade de biomassa para animais em
pastejo, bem como aumentar a ciclagem de nutrientes. Além do mais,
altura de colheita maior (40 cm) pode aumentar o valor nutritivo da
silagem (MENDONÇA et al., 2020) e reduzir problemas de acúmulo de
amido no milho em regiões mais quentes, pois aumenta a proporção de
grão na massa ensilada (DANIEL et al., 2019). Outra opção para o pasto
formado em sistemas de ILP é ser utilizado para a produção de silagem,
principalmente quando a altura do capim não é mais adequada ao
pastejo eficiente.
Condições climáticas com alta temperatura em baixa altitude
nas áreas de cultivo podem limitar o acúmulo de amido nos grãos de
milho (THITISAKSAKUL et al., 2012). Por outro lado, tanto a precipitação
como luminosidade da região Amazônica podem favorecer a produti-
vidades na cultura do milho. Por mais que limitações no acúmulo de
amido possam acontecer em comparação a outras regiões, a produti-
vidade alcançada em lavouras de milho na região norte ainda tem sido
bastante competitiva e tem atendido as necessidades do mercado local.
Tal fato evidencia a necessidade do desenvolvimento e validação de
tecnologias adaptadas à região de forma que conhecendo-se os desafios
e limitações de uma determinada tecnologia é possível adaptá-la para
uma produção eficiente.

161 6 Fábio Jacobs Dias et al.


Quanto aos fatores ligados ao manejo na ensilagem de
forrageiras na região amazônica, alguns pontos, como o monitoramento
do ponto de colheita de culturas de ciclo curto devem ser observados.
O simples acompanhamento do teor de matéria seca (MS) da cultura
em alguns casos ainda é negligenciado, muitas vezes por falta de acesso
a informação. A observação da linha do leite, no caso do milho, associado
a determinação do teor de MS com uso de micro-ondas ou fritadeiras
do tipo “airfryer”, podem auxiliar na tomada de decisão para iniciar a
colheita da lavoura. O conhecimento dos teores de MS também irá
auxiliar na estimativa mais acurada da produtividade da lavoura e da
capacidade de armazenamento dos silos em toneladas de MS. A
disponibilidade de tais informações possibilitará o correto ajuste de
alimento disponível aos rebanhos durante o período de oferta.
Ainda sobre a colheita de culturas de ciclo curto, existe um
avanço no uso de prestadores de serviço, que na maioria das vezes são
de outros regiões do Brasil. Normalmente tais prestadores iniciam seus
serviços no Sul do país no final do ano e vão se deslocando em direção
ao norte acompanhando a maturação das lavouras. Quanto ao proces-
samento de grãos no momento da ensilagem, grande parte dessas em-
presas utiliza colhedoras automotrizes que tem maior rendimento na
colheita e capacidade de processar grãos, principalmente de milho.
Todavia, assim como no acompanhamento do teor de MS da cultura,
ainda é reduzida a preocupação por parte dos produtores em acompanhar
a qualidade do processamento de grãos. Como maior parte dos serviços
prestados na colheita são acertados com base na área colhida, muitos
prestadores buscam aumentar o rendimento da colheita e dão pouca
importância ao processamento do material. Além das culturas anuais,
os capins tropicais compõem o leque de opções de culturas para produ-
ção de silagem e apresentam grande potencial para serem utilizados
na região amazônica.

Silagens de capins tropicais


A produção de silagens de capins tropicais é uma opção intere-
ssante para compor dietas das mais diversas espécies e categorias de

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 17
ruminantes. Altamente responsivos à disponibilidade de luz e tem-
peratura, a capacidade de acúmulo de biomassa é evidente quando
nutrientes e água não são limitantes. Assim, os tipos climáticos da
região Amazônica proporcionam condições de cultivo que favorecem o
cultivo de capins tropicais, além de uma maior distribuição sazonal da
produção em algumas regiões de período chuvoso prolongado. Portanto,
no período chuvoso, se práticas como adubação forem adotadas, o
acúmulo de forragem acentuado permite a produção de biomassa que
pode ser colhida e conservada para suprir a demanda dos rebanhos.
Resposta da adubação foram observadas em pesquisa realizada
por Oliveira et al. (2020), onde os autores avaliaram capim Mombaça
cultivado em clima Af, adubado com doses de nitrogênio (0; 10; 20; 30;
40 e 50 kg N ha”1), ao longo do ano. Os autores observaram que o
aumento na dose de N proporcionou efeitos quadráticos no acúmulo
diário de forragem, com valores entre 52,4 kg MS ha-1 dia-1 e 98,3 kg MS
ha-1. Os autores verificaram ainda que nas condições de clima tropical
úmido ou equatorial, a utilização da adubação nitrogenada não modifica
a estrutura do capim Mombaça. Contudo, a adubação influencia positi-
vamente as características morfogênicas e químicas, ocasionando
assim, um maior acúmulo de forragem em menor tempo por conta da
maior regularidade das chuvas. Nessa situação, a ensilagem pode
auxiliar no manejo da pastagem pela colheita do excedente produzido.
Aqui, nos deparamos com um desafio que é a colheita desse excedente.
Como em algumas mesorregiões o período chuvoso é intenso e longo,
entraves na ensilagem, como solos mais úmidos e o abastecimento
dos silos podem limitar o processo.
Na pesquisa realizada por Macedo et al. (2020) avaliando
frequências de desfolhação de 14, 21, 28, 35, 42 e 49 dias, do capim
Tanzânia, cultivado em clima Am em três estações (chuvosa de 2015,
seca 2015 e chuvosa de 2016) no bioma Amazônia, os autores destacam
as respostas produtivas. Foi observado nessa pesquisa que as variações
na frequência de desfolha e a disponibilidade de água entre as estações
promovem mudanças estruturais e na produção de biomassa do capim
Tanzânia. Dessa forma, foi constatado que o maior acúmulo de forragem

181 8 Fábio Jacobs Dias et al.


foi observado na frequência de desfolha aos 49 dias, com menores
valores de acúmulo de forragem na estação seca e posterior aumento
com a início da estação chuvosa novamente (Figura 2). Portanto, com
base nos dois trabalhos considerados, dependendo de onde a região
esteja inserida na Amazônia legal, a estacionalidade da produção de
forragem pode ser mais ou menos acentuada e a ensilagem passa a
ser promissora, principalmente na intensificação de sistemas.
Conhecer a distribuição sazonal da produção de forragem para
as diferentes cultivares de capins tropicais pode ser considerada uma
das limitações à produção de silagem na região Amazônica devido à
carência de dados gerados na própria região. Dadas as características
edafoclimáticas previamente descritas, a simples extrapolação de dados
gerados em outros biomas pode não se aplicar de forma acurada à
região, sendo necessária a realização de pesquisas in loco para a
avaliação das cultivares de capins tropicais. Nesse contexto, trabalhos
vêm sendo realizados com a avaliação de cultivares para produção de
silagem pelo grupo de pesquisa autor desse texto.

Figura 2. Efeito da frequência de desfolhação no acúmulo de forragem de


capim Tanzânia cultivado em clima Am na Amazônia Oriental

Fonte: Macedo et al. (2021)

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 19
Como já definido na literatura, capins tropicais apresentam
características que limitam a aptidão da cultura para ser ensilada (SILVA
et al., 2019). Dentre tais características, o baixo teor de MS quando a
planta associa produtividade e valor nutritivo, é um dos principais
limitantes para se obter silagens de qualidade. Além de entraves
observados no processo fermentativo em decorrência dos teores de
MS, perdas por efluente são comuns quando os teores de umidade são
elevados. Nesse caso, preocupação ambientais veem à tona, pois
efluentes de silagens tem um alto poder poluente em decorrência da
concentração de nutrientes (GEBREHANNA et al., 2014). Em especial
na região Amazônica que possui o maior volume de água doce do mundo,
a poluição de cursos de água deve ser fortemente evitada e, portanto,
o uso de técnicas que possam reduzir o teor de umidade dos alimentos
deva ser adotado.
A redução no teor de MS em capins tropicais pode ser feita
basicamente de três formas, emurchecimento, uso de aditivos ou
colheita da forragem em estádio mais avançado de desenvolvimento.
O emurchecimento é uma prática extremamente dependente das
condições climáticas. Como em grande parte da região Amazônica
ocorrem chuvas significativas quando as plantas estão aptas ao corte,
as demais estratégias citadas são preferíveis. Portanto, pelo
emurchecimento apresentar tais limitações operacionais, o uso de
aditivos absorventes de umidade, como a adição de subprodutos
desidratados da agroindústria podem contribuir na redução dessa
umidade, melhorar o perfil fermentativo e consequentemente reduzir
perdas por efluente.
O uso de subprodutos da agroindústria como aditivos absorvente
de umidade já foi bastante estudado, e existe um vaso conjunto de
dados disponíveis na literatura ao redor do Mundo. Contudo, é
importante destacar, que tais aditivos são intrínsecos e disponíveis de
acordo com cada região. Na Amazônia, estudos foram conduzidos com
o uso de subprodutos da extração do óleo de oleaginosas, assim como,
subprodutos do processamento de frutas.

202 0 Fábio Jacobs Dias et al.


Em pesquisa conduzida por Queiroz et al. (2021), os autores
observaram que a inclusão do farelo de patauá na ensilagem de capim
elefante aumentou os teores de MS, matéria mineral (MM), proteína
bruta (PB), nitrogênio insolúvel em detergente neutro (NIDN), extrato
etéreo (EE) e carboidratos não fibrosos (CNF) das silagens. O aditivo
também foi efetivo em reduzir as perdas por efluentes. Dessa forma,
os autores constataram que o farelo de patauá na silagem de capim
elefante contribui para minimizar os impactos negativos no meio
ambiente causado pela produção de efluentes durante a ensilagem de
gramíneas tropicais, viabilizando o aproveitamento do resíduo da
produção do óleo que seria descartado no meio ambiente.
No trabalho conduzido por Ferreira et al. (2020), os autores
também constaram a redução na produção de efluente à medida que
foi incluído torta de murumuru na ensilagem de capim elefante. Os
autores observaram que a adição de farelo de murumuru proporcionou
efeitos positivos na composição química das silagens, observando
aumento do teor de MS e no teor de CNF e redução no teor de fibra em
detergente neutro (FDN). Sendo assim, foi possível observar com os
resultados que o farelo de murumuru melhora a composição química e
não afeta as características fermentativas da silagem de capim elefante,
ao mesmo tempo que reduz as perdas por efluentes.
Em pesquisa avaliando a inclusão de farelo de dendê na
ensilagem de capim elefante, Santos et al. (2014) verificaram efeitos
sobre as características fermentativas da silagem. A inclusão de farelo
de dendê possibilitou a redução na concentração de nitrogênio
amoniacal da silagem, inibiu o crescimento leveduras e fungos
filamentosos, aumentando a estabilidade aeróbia da silagem. Os
autores concluíram que a inclusão de 10 a 15% de farelo de dendê na
silagem de capim elefante possibilitou menores perdas de MS, inibiu
fermentação indesejável e tornou-as mais estáveis. Entretanto, foi
salientado que teores acima destes valores podem prejudicar o valor
nutritivo da silagem pelo alto teor de lignina do aditivo.
Quando consideramos a colheita em estágios mais avançados
para aumentar o teor de MS alguns aspectos devem ser considerados.

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 21
A colheita de capins tropicais em estádio mais avançado deve ser vista
com cautela, principalmente quando o objetivo é usar como alimento
em dietas para animais com alta exigência nutricional, como vacas
leiteiras em lactação. Entretanto, se o uso for na bovinocultura de corte,
quer seja para categorias menos exigentes ou para servir como fonte
de fibra em dietas de animais em terminação, por exemplo, esse
alimento passa a ser bastante interessante e competitivo com outros
volumosos. Em estágios de desenvolvimento mais avançado os ganhos
em biomassa colhida normalmente reduzem os custos de produção da
tonelada de silagem produzida. Além disso, possíveis aumento nos
teores de carboidratos solúveis em água (CSA), em algumas espécies,
pode melhorar a fermentação no silo. Na região tem aumentado a
prestação de serviço na colheita de capins tropicais com máquinas
automotrizes, no entanto o espaço ainda é amplo para a expansão desse
tipo de serviço.
A ensilagem de outras espécies de capins tropicais com
ocorrência na região, principalmente em áreas alagadas, como as do
gênero Echinochloa ou Urochloa, também apresentam os mesmos
entraves dos capins supracitados. Em algumas situações os entraves
são até agravados, pois tais capins estão em áreas onde a mecanização
é limitada pelo alagamento ou encharcamento dos solos, o que torna a
colheita no processo de ensilagem totalmente dependente de mão de
obra. Nessas regiões, o uso de alimentos alternativos ensilados pode
ser uma opção para suprir as necessidades dos rebanhos.

Silagens de alimentos alternativos


A Amazônia é conhecida pela biodiversidade tanto em fauna
como flora. Essa última proporciona a disponibilidade de produtos para
o extrativismo responsável realizado por comunidades locais, como a
produção de óleo a partir de oleaginosas de plantas silvestres. Essa
produção gera resíduos que podem ser usados como aditivos na
ensilagem de capins tropicais, como abordado no tópico anterior.
Entretanto culturas já consolidadas, como a mandioca, onde o cultivo
já movimenta a economia da região, apresentam um grande potencial

222 2 Fábio Jacobs Dias et al.


para serem aproveitadas na alimentação animal. Tanto o produto
principal, no caso as raízes, como os subprodutos gerados a partir do
beneficiamento dessa cultura podem ser inseridos em dietas para
animais. Aqui a ensilagem entra como tecnologia capaz de agregar valor
aos produtos e garantir a oferta de alimento ao longo do ano. Senão
vejamos a importância dessa cultura.
A mandioca (Manihot esculenta Crantz) possui mais de dois
terços da produção total concentrada em regiões tropicais e
subtropicais. Segundo o IBGE (2021), a produção brasileira dessa
cultura foi de aproximadamente 17,5 milhões de toneladas, tendo
como protagonista a região Norte, com cerca de 6,2 milhões de
toneladas. Na região, o Pará (3,70), Amazonas (0,88) e Acre produzem
respectivamente 3,7; 0,88; e 0,63 milhões de toneladas ano -1.
Atualmente o preço dos insumos mais tradicionais usados na
alimentação animal, como a soja e o milho, tem superado os R$100,00
a saca de 60 kg (CEPEA, 2021). Assim, a busca por fontes alternativas
de alimentos proteicos e energéticos certamente tenderá a crescer.
Dessa forma a mandioca se torna uma cultura promissora, pois chega
a produzir por exemplo 70 toneladas de matéria natural considerando
a planta inteira (MELO, 2021). Com base em dados da literatura, é
possível observa que a parte aérea dessa cultura apresenta teores de
proteína bruta variando de 20 a 34% na MS (LI et al., 2018; MORAES,
2021). Já as raízes de mandioca, concentram elevados teores de
amido, cerca de 80% na MS, e de CNF que variam de 87% a 89% da MS
(PITIRINI et al., 2021).
A ensilagem da mandioca pode auxiliar a conservação desse
alimento que quando úmido torna-se susceptível a deterioração. Além
disso o método de conservação é uma forma de mitigar, através da
fermentação, o ácido cianídrico (HCN) presente na mandioca (LOC et al.,
1997; SUDARMAN et al. 2016). Entretanto atenção deve ser dada as
características de ensilabilidade da cultura para que o processo
fermentativo não seja prejudicado. Dessa forma, quando observamos o
teor de MS, trabalhos na literatura indicam que a mandioca apresenta na
parte aérea teores de MS entre 24 e 30% (MORAES, 2021) e de 37 a 42%

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 23
nas raízes (Pitirini et al., 2021). Embora as raízes apresentem um teor de
matéria seca elevado ao preconizado para culturas forrageiras, a silagem
da raiz de mandioca possui alta produção de efluentes (Figura 3), devido
principalmente a característica higroscópica e a baixa porcentagem de
FDN, que varia de 3,7 a 5,0% na MS (Pitirini et al., 2021). Portanto, é um
produto que tem baixa capacidade de reter água em sua estrutura. Ainda
segundo esses últimos autores a raiz de mandioca possui baixos teores
de extrato etéreo (3%) e de proteína (2%).
Quando observamos dados na literatura sobre características
fermentativa de silagens de mandioca temos que o pH apresenta valores
dentro da faixa recomendada (3,9 e 3,7) para silagens, tanto da parte
(Moraes, 2021) como das raízes (Pitirini et al. 2021). A silagem da planta
de mandioca possui ainda outras características que possibilitam a
produção de silagem a partir dessa. Os substratos, principalmente CSA,
presentes na planta possibilitando o crescimento das BALs, bactérias
ácido láticas responsáveis pela produção de ácido lático que conserva
a massa ensilada (Kung et al., 2018; Mota et al., 2011). Dados na
literatura indicam que silagens produzidas a partir dessa cultura
apresentam estabilidade aeróbia de 6,3 dias para silagens de parte
aérea (Moraes, 2021) e 5,45 dias para silagem de raízes (Pitirini et al.,
2021).

Figura 3. Teores de matéria seca (%) e perdas por efluente (kg t-1 MS) de
silagem de parte aérea (A) e raízes de mandioca (B).

A B

Fonte: (PITIRINI et al., 2021; MORAES, 2021)

242 4 Fábio Jacobs Dias et al.


Além dos produtos primários provenientes da produção de
mandioca, como o uso da parte aérea e da raiz de mandioca, há também
a possibilidade de uso de subprodutos que possuem elevado potencial
na alimentação de ruminantes. Dentre os subprodutos da mandioca
comumente utilizadas na alimentação animal, destacam-se o bagaço,
a raspa integral ou farinha integral (pedaços de raiz secos ao sol), raspa
residual (subproduto da raiz triturada, retirado o amido) e a casca como
a principal fonte alternativa na região (ALMEIDA e FERREIRA FILHO,
2005). Portanto, o uso de produtos e subprodutos da cadeia produtiva
da mandioca é extremamente promissora para ser explorado em dietas
para ruminantes.
Ainda considerando os alimentos alternativos, na região existem
polos de agroindústrias que processam frutas. Essas por sua vez geram
subprodutos que podem ser aproveitados na alimentação animal. Como
boa parte desses são gerados na forma úmida, a ensilagem é um
método que ganha destaque para conservação. Um exemplo desse
subproduto é o resíduo do úmido do abacaxi. Cutrim et al. (2013)
avaliando a silagem desse subproduto na dieta de ovinos verificaram
como composição química valores de 165,9 g kg”1 de MS, 73,2 g kg”1
de MM, 78,2 g kg”1 de PB, 13,2 g kg”1 de EE, 496,2 g kg”1 de FDN, 525,0
g kg”1 de FDA e 99,4 g kg”1 de lignina. O estudo demonstrou que a
fonte de fibra como o capim elefante pode ser totalmente substituída
pela silagem do subproduto de abacaxi, uma vez que a substituição
aumentou a digestibilidade da MS das dietas, não alterou o consumo
e o desempenho dos ovinos.

Fatores ligados ao manejo no silo


Alguns fatores ligados ao manejo de silos precisam ser conside-
rados. Mas antes disso, a simples orçamentação forrageira nas fazendas
da região continua sendo um desafio e deve ser considerada. Ainda
existe por parte de uma parcela dos produtores rurais a resistente em
adotar práticas como o controle do que é demandado e produzido na
fazenda. Essas determinações são fundamentais no caso da produção
de silagem, pois influencia diretamente no dimensionamento de silos,

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 25
independente do tipo utilizado, e evita práticas corriqueiras como o
superabastecimento desses.
Nas regiões da Amazônia com maior dificuldade de acesso a
assistência técnica e a informação, tem-se observado dificuldades na
adoção de técnicas de manejo que reduzam perdas no processo de
produção de silagens. Uso de filmes plásticos de qualidade, regulagem
de máquinas, afiamento de facas, dimensionamento correto de silos,
descarte de porções deterioradas, avanço no painel são aspectos muitas
vezes negligenciados nas fazendas. Se pegarmos esse último fator como
exemplo podemos perceber isso. Já é do conhecimento da maioria dos
técnicos da área, que a literatura clássica que aborda a ciência da pro-
dução de silagem no Mundo faz referência ao avanço no desabastecimento
do silo, com recomendações de avanço de pelo menos 30 cm por dia nas
épocas mais quentes do ano. Se observamos o livro clássico The Silage
Fermentation de Woolford (1984) e o livro The Biochemistry of Silage de
McDonald et al. (1991), em ambas, referências já eram feitas sobre a
necessidade em se desabastecer um silo em épocas de temperaturas
mais elevadas, como no verão, numa taxa de avanço de pelo menos 30
cm por dia. Nos anos 2000 alguns trabalhos foram conduzidos no Mundo
que confirmaram a necessidade das preocupações com avanços, prin-
cipalmente considerando a temperatura ambiental como fator deter-
minante no avanço e consequentemente no dimensionamento dos silos
(BORREANI e TABACO et al. 2012). Portanto estamos diante de uma
informação com aproximadamente 37 anos, onde produtores em grande
parte das regiões ainda enfrentam dificuldade em acesso à informação
ou atentar e adotar esse critério na fazenda.
Fatores ligados ao manejo de silos são intrínsecos no sucesso
dessa prática. Por fim, não menos importante é a preocupação ambiental
com uso de plásticos. Assim como nas demais regiões do Mundo, o uso
da ensilagem como tecnologia para conservar alimentos aumenta o
uso de plásticos na pecuária. No sentido de reduzir impactos ambientais,
atenção deve ser dada ao descarte correto desses materiais para que
problemas ambientais não sejam causados. Na região o que se observa
ainda no mercado é o domínio de filmes plásticos (lonas) convencionais.

262 6 Fábio Jacobs Dias et al.


Considerações finais
A produção de silagens de alimentos na Amazônia é uma
tecnologia promissora que pode reduzir impactos ambientais em
decorrência das possibilidades de se intensificar sistemas produtivos
e diminuir as pressões sobre a abertura de novas áreas de floresta.
Entretanto, como já mencionado anteriormente, preocupações ligadas
a produção de efluentes e descarte de plástico sempre devem ser
consideradas para evitar outros problemas ambientais.
O mercado de insumos na região ainda carece de produtos de
qualidade, como filmes plásticos e aditivos adequados para as especi-
ficidades dos diferentes alimentos ensilados. A perspectiva é que em-
presas inseridas nos grandes centros do país olhem mais para o po-
tencial dessa região e passem a oferecer de forma mais fácil esses
produtos. A disponibilidade de acesso a insumos de qualidade aquecerá
o mercado de venda de silagens, principalmente nas regiões mais
próximas ao Nordeste.
Atualmente a extensão territorial da região dificulta em algumas
mesorregiões o acesso a assistência técnica, em especial aos pequenos
e médios produtores rurais. A expansão das instituições de pesquisa e
universidades locais nos últimos 10 anos tem alavancado as perspec-
tivas de uso de silagens, como pode ser visto por várias pesquisas
apresentadas no presente texto. Entretanto, com as atuais ferramentas
de difusão de tecnologias, e a perspectiva de expansão da internet 5G
no país, o acesso à informação certamente acelerará o processo.

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ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 33
Os grãos de milho e de sorgo estão entre os ingredientes mais
utilizados em dietas de ruminantes, sendo uma das principais fontes
de energia. Nos últimos anos, temos observado tendência de aumento
do processamento desses grãos. Alguns fatores contribuem para esse
movimento, como: maior preço dos grãos, busca por tecnificação,
menores lucros líquidos das atividades pecuárias e maior difusão do
conhecimento sobre técnicas de processamento de grãos.
O tipo de milho predominante no Brasil é o flint que apresenta
alta vitreosidade do endosperma, refletindo em uma menor
degradabilidade do amido (PHILIPPEAU et al., 2000; CORREA et al.,
2002). No endosperma vítreo a matriz proteica hidrofóbica que recobre
os grânulos de amido é mais espessa e desenvolvida, agindo como
uma barreira física que dificulta a digestão do amido no rúmen pelos
microrganismos (OWENS et al., 1986).
A ensilagem de grãos de milho úmido e reidratado e de grãos de
sorgo reidratado apresentado bons resultados no aumento da
digestibilidade do amido (Da SILVA et al., 2018; Da SILVA et al., 2019;
FERRARETTO et al., 2013; GERVÁSIO, 2021; MORAIS et al., 2017).
Durante o processo de ensilagem a matriz sofre proteólise por enzimas
proteolíticas dos microrganismos e da própria planta (JUNGES et al.,
2017). Em consequência disso, pode ser observado aumento da
digestibilidade ruminal do amido, melhoria da eficiência alimentar de
bovinos de corte em terminação consumindo silagem de grãos de milho
úmido ou reidratados (CORRIGAN et al., 2009; Da SILVA, 2016; MORAIS
et al., 2017) e aumento da produção de leite por ingestão de matéria
seca de vacas leiteiras consumindo silagem de sorgo reidratado
(MORAIS et al., 2017).
Contudo, é necessário ficar atento a uma série de particula-
ridades que envolvem a técnica de ensilagem de grãos, a fim de ampliar
a digestibilidade do amido e minimizar as perdas durante o processo
de ensilagem e de fornecimento aos animais. Alguns desses pontos
serão discutidos mais profundamente nos tópicos abaixo.

343 4 Fábio Jacobs Dias et al.


Processo de ensilagem de milho grão úmido
Na ensilagem de milho grão úmido os grãos devem ser colhidos
ao atingir o estágio de maturação fisiológica, quando é formada a linha
negra do grão, nesse ponto os grãos estão com aproximadamente de
35% de umidade. Portanto, a colheita para ensilagem será antecipada
em relação à colheita para grãos secos (umidade por volta dos 19%),
reduzindo perdas no campo e permitindo liberação da área mais cedo
para semeadura de outras culturas. Para determinar o momento correto
da colheita, o agricultor deve selecionar algumas espigas de diferentes
pontos da lavoura, quebrá-las ao meio e observar nos grãos centrais da
espiga a formação da camada preta na base do grão. Isso indica que a
umidade está entre 32 e 35%. O grão é colhido inteiro, sendo necessário
passar por um processo de quebra antes da ensilagem.
Devido à falta de homogeneidade da secagem da panícula que
contêm os grãos de sorgo a técnica de ensilagem de sorgo úmido se
torna mais inviável. Uma vez que os grãos não entram em maturação
fisiológica ao mesmo tempo não é possível colher todos com umidade
entre 32 e 35%. Nessas condições há também dificuldade de quebra
dos grãos de sorgo pelos moinhos.

Processo de ensilagem de grão de milho ou sorgo reidratado


A ensilagem de grão reidratado consiste basicamente na
reidratação do grão maduro moído até chegar próximo dos 35% de
umidade. A reidratação e ensilagem dos grãos de milho é uma alternativa
à ensilagem de milho grão úmido, pois permite a compra estratégica
em momentos de baixa nos preços do milho, além de contornar o
problema da estreita janela de colheita dos grãos e falta de áreas nas
propriedades para plantios desses grãos. Um dos grandes problemas
com a ensilagem de milho grão úmido é a pequena janela para colheita
deste material. É possível usar a técnica de reidratação de forma
estratégica para fazer ajustes na matéria seca da silagem de milho
grão úmido, quando este apresenta teor de umidade abaixo do desejável.

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 35
A homogeneização da água ao grão moído pode ser realizada
através de uma adaptação de canos ao moinho para reidratação
simultânea à moagem próxima ao silo, por mistura da água ao grão já
triturado em um vagão misturador ou por adição de água a uma rosca
sem-fim após moagem (PEREIRA e PEREIRA, 2013). Um ponto de
destaque nesse processo antes da ensilagem é o tamanho de partícula
do grão na moagem, mas isso será discutido posteriormente. O cálculo
da quantidade de água para reidratação deve levar em consideração a
produtividade do moinho (t/h), que vai variar de acordo com o tipo de
moinho e crivo das peneiras, e o ajuste da quantidade de água necessária
ou vazão, dependendo do método de hidratação.
A reidratação de grãos de sorgo segue os mesmos princípios da
técnica de reidratação de grãos de milho. Porém um cuidado maior tem
que ser dado ao tamanho do crivo da peneira. Devido ao pequeno
tamanho do grão de sorgo sua moagem em peneiras com crivo grande
ou em moinhos de rolo desregulados pode não atingir a quebra adequada
dos grãos.

População microbiana e perfil de fermentação


As mudanças ocorridas ao longo do processo de ensilagem modi-
ficam a composição microbiana da massa ensilada. Diversos micror-
ganismos são encontrados nas plantas antes da ensilagem como
bactérias ácido láticas, enterobactérias, leveduras e fundos filamen-
tosos, clostrídios, bacilos, bactérias ácido acéticas e ácido propiônicas
(McDONALD; HENDERSON; HERON, 1991; PAHLOW et al., 2003). Muitos
microrganismos como as bactérias aeróbias facultativas desaparecem
após o estabelecimento de um ambiente anaeróbio no silo. Outros
grupos como as bactérias ácido láticas apresentam ótimo poder de
colonização e se adaptam bem a esse ambiente (PAHLOW et al., 2003).
A produção de ácido lático pelo processo fermentativo das bactérias
ácido láticas auxilia na queda rápida do pH da silagem. Essa queda do
pH é responsável pela conservação da massa ensilada e pela redução
de perdas do material armazenado (McDONALD; HENDERSON; HERON,
1991). Diversos fatores influenciam a sucessão de populações de

363 6 Fábio Jacobs Dias et al.


microrganismos durante a ensilagem, como teores de carboidratos
solúveis, matéria seca da cultura no momento do corte e população
epífita de microrganismos. Essas características juntamente com outros
fatores, como capacidade tampão da cultura, podem culminar em uma
maior ou menor capacidade fermentativa da silagem (McDONALD;
HENDERSON; HERON, 1991).
A capacidade de fermentação já foi um fator de preocupação
em relação à ensilagem de grãos de milho reidratado. Devido prin-
cipalmente a baixa concentração de carboidratos solúveis (CARVALHO
et al., 2016; Da SILVA et al., 2018; Da SILVA et al., 2019). Porém, Carvalho-
Estrada et al. (2020) observaram dominância das bactérias ácido láticas
após a ensilagem de grãos de milho úmido e grãos de milho reidratados.
Comportamento similar ao encontrado por Carvalho et al. (2016) na
ensilagem de grãos de milho reidratados. O que pode beneficiar a rápida
redução do pH das silagens e uma boa capacidade de fermentação.
Há poucos trabalhos como os de Carvalho et al. (2016) e
Carvalho-Estrada et al. (2020) comparado diretamente as populações
de microrganismos ao longo do processo de ensilagem de milho grão
úmido e milho reidratado. Esses trabalhos indicam que os produtos de
fermentação presentes nas silagens podem ser usados como indicadores
da presença de grupos de microrganismos e da qualidade do processo
de ensilagem. Satisfatória redução do pH das silagens observadas nos
trabalhos de Morais et al. (2017), Da Silva et al. (2018), Da Silva et al.
(2019) e Gervásio (2021) são relacionadas diretamente a produção de
ácido lático pelas bactérias ácido láticas, sendo adequada para inibir o
desenvolvimento de microrganismos indesejados na silagem. Carvalho-
Estrada et al. (2020) observaram maior população do gênero Clostridium
nas silagens de grãos de milho reidratado em comparação à silagem
de grãos de milho úmido. Contudo, em diversos trabalhos foram ob-
servadas concentrações pequenas de ácido butírico, o que é um indício
de baixo desenvolvimento de clostrídios em silagens de grãos de milho
reidratado (Da SILVA et al., 2018; Da SILVA et al., 2019; GERVÁSIO, 2021).
O total de produtos de fermentação foi similar entre silagens de grão
úmido e reidratado sem inoculantes no trabalho de Da Silva et al. (2019).

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 37
Os pontos apresentados permitem concluir que ambas as
silagens apresentam bom perfil de fermentação e que a ensilagem de
grãos de milho reidratados podem ser uma boa alternativa a ensilagem
de grãos úmidos de milho.

Umidade
A capacidade fermentativa da cultura é fundamental para uma
adequada conservação da massa ensilada. Isso significa que a planta
deve possuir fatores intrínsecos que auxiliem nesse processo, e são
eles a matéria seca e concentração de açúcares solúveis em água
adequados ao crescimento de bactérias ácido láticas e baixo poder
tampão. Essas características definem a velocidade em que o pH
começa a cair assim que o silo é fechado e o oxigênio do meio é
consumido. Quanto mais rápida essa queda, menores serão as perdas
no processo fermentativo (Mc DONALDS et al., 1991). As culturas do
milho e do sorgo planta inteira possuem alta capacidade de
fermentação em virtude das características da própria planta (JOBIM;
NUSSIO, 2013). Embora grãos de milho úmidos ou reidratados e grãos
de sorgo reidratados não apresentem as mesmas características
intrínsecas as culturas ensiladas na forma de planta inteira elas tem
apresentado boa capacidade de fermentação, adequada queda de pH
e baixas perdas de matéria seca (Da SILVA et al., 2019; FERRARETTO
et al., 2013; GERVÁSIO, 2021; MORAIS et al., 2017; SANTOS et al.,
2019). Toadavia, um ponto que merece muito atenção tanto ao colher
o grão úmido de milho quanto ao reidratar grãos de milho e sorgo é o
teor de matéria seca.
O teor de matéria seca da silagem de grãos é importante para
iniciar o processo fermentativo, sendo necessária atenção nesse ponto
para proporcionar um teor adequado tanto na reidratação quanto no
ponto de colheita do grão úmido como já visto no processo de produção
dessas silagens, pois uma baixa umidade do material ensilado pode
modificar o processo de fermentação e afetar a digestibilidade do
grão. Gomes et al. (2020) avaliaram três teores de umidade em silagem
de grão de milho reidratado e observaram uma maior concentração

383 8 Fábio Jacobs Dias et al.


de ácido lático nas silagens com 35 e 40% de umidade quando
comparado às silagens com 30% de umidade. Além disso, houve
aumento de nitrogênio amoniacal nas silagens com 35 e 40% de
umidade, significando maior quebra da matriz proteica do grão nessas
silagens, o que resultou no aumento da degradabilidade da matéria
seca dos grãos nas silagens acima de 35% de umidade principalmente
a partir dos 60 dias de ensilagem. Degradabilidade do amido é
correlacionado positivamente com a degradabilidade da matéria seca
nas silagens de grãos.
Benton et al. (2005) avaliando silagens de grão de milho
reidratado com 24 e 30% de umidade e silagens de grão úmido de milho
com 28 e 35% de umidade observaram que nos primeiros 28 dias de
estocagem os grãos ensilados com maior umidade tiveram um aumento
significativo na degradabilidade da matéria seca. Ferraretto et al. (2014)
constataram diminuição de 1,6 unidades percentuais na degradabilidade
in vitro das silagens por unidade percentual de aumento no teor de
matéria seca em silagens de grãos úmidos de milho. Além disso,
observaram que houve uma relação quadrática do pH com o teor de
matéria seca, sendo que, quando a silagem chegou a 80% de matéria
seca o pH estava alto, provavelmente por falta de umidade para o
crescimento de microrganismos produtores de ácido lático e ácido
acético na massa ensilada.

Influência do armazenamento na ensilagem de grãos


Um dos objetivos ao ensilar grãos é obter a máxima disponi-
bilidade do amido para o animal. Para se obter este aproveitamento é
necessário a quebra de uma matriz proteica que envolve os grânulos
de amido, que impede o acesso dos microrganismos ruminais ao amido.
Um conjunto de fatores é responsável por esse processo de proteólise
da matriz proteica que ocorre durante o armazenamento da silagem,
sendo que a maior parte é realizada pelas bactérias proteolíticas
presentes (JUNGES et al., 2017). O tempo de armazenamento da silagem
possui também um papel fundamental nesse processo, como veremos
a seguir.

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 39
Grande parte dos híbridos de milho cultivados no Brasil possui
endosperma vítreo (duro ou flint) (CORREIA et al., 2002) que possuem
maior quantidade de prolamina, e este tipo de milho é utilizado por
97% dos nutricionistas brasileiros para bovinos de corte confinados
(PINTO e MILLEN, 2016). Outro agravante é que a prolamina está
presente em maior quantidade quando os grãos estão com alta matu-
ridade. Muitos são os questionamentos sobre por quanto tempo se deve
deixar as silagens de grãos estocadas e muitos trabalhos brasileiros
estudam o tempo de armazenamento como forma de deixar o milho
duro equiparado aos híbridos de milhos de textura macia em questão
de degradabilidade.
Fernandes et al. (2021) confeccionaram silagens de milho grão
úmido colhido com 50 ou 70% de MS e silagens de grãos de milho
reidratados para atingir 70% de MS a fim de avaliar como o aumento no
tempo de estocagem influenciou na degradabilidade do amido nessas
silagens. As silagens de milho grão úmido com 50% de MS possuía a
maior degradabilidade do amido dentre os tratamentos no momento
da ensilagem, porém a partir dos 60 dias de estocagem as diferenças
de degradabilidade do amido diminuíram entre os tratamentos. O
mesmo ocorreu quando os autores compararam dois tipos de híbridos
o IAC 8390 que possui endosperma duro e o AG1051 com endosperma
farináceo, o aumento no tempo de estocagem eliminou o efeito negativo
das características físico-químicas do híbrido duro, e os dois se igua-
laram em degradabilidade do amido aos 120 dias de estocagem.
No trabalho de Da Silva et al. (2019) silagens de grão úmido e
reidratado de milho foram estocadas por 15, 30, 60, 90, 120, 180, 240 e
300 dias, sendo observada a diminuição gradual da quantidade de
prolamina e o consequente aumento de nitrogênio amoniacal ao longo
do tempo de armazenamento, justificado pela ação proteolítica de
bactérias presentes na silagem (Figura 1). Estas variáveis foram
associadas com a melhoria na degradabilidade ruminal in situ da matéria
seca das silagens. As maiores taxas de ganho de aumento da degrada-
bilidade nas silagens de grãos de milho reidratados foram observadas
até 52 dias de ensilagem (aumento de 0,23% unidades percentuais ao
dia), e nas silagens de grãos úmidos de milho até 71 dias (aumento de

404 0 Fábio Jacobs Dias et al.


0,30% unidades percentuais ao dia) após esses tempos os ganhos
caíram para 0,03% unidades percentuais ao dia ambas as silagens, e
continuaram constantes ao longo do tempo de estocagem (Figura 2).
Essa diferença no tempo mínimo de estocagem entre os tipos de silagem
se deu pela diferença no tamanho de partícula dos grãos ensilados.
Um trabalho recente de Gervásio (2021), visou responder qual
o tempo mínimo de estocagem para se aproveitar o ganho em degra-
dabilidade de silagem de grão de milho reidratado com diferentes
granulometrias, e chegaram à conclusão de que silagens de grão de
milho reidratado com maiores tamanhos de partícula precisam de mais
tempo de estocagem para se ter o mesmo incremento de degradabilidade
do amido que silagens de grão de milho reidratado com menores
tamanhos de partícula (Figura 3). A recomendação do tempo mínimo
de estocagem foi de: 36, 38, 39, 50, 54 e 46 dias para silagem de grão
de milho reidratado com tamanhos médios de partícula de 0,97 mm;
1,11 mm; 1,35 mm; 1,51 mm; 1,69 mm e 1,75 mm respectivamente. O
ganho médio em degradabilidade por dia foi de 0,7% unidades
percentuais ao dia até a recomendação mínima para cada tamanho de
partícula, e após esse período os ganhos foram de 0,08% unidades
percentuais ao dia.
O tempo de estocagem também influencia no aumento da
estabilidade aeróbia em silagens de grãos após a abertura das silagens
(SILVA et al., 2019), devido ao gradual acúmulo de produtos da fer-
mentação com propriedades antifúngicas, como o ácido acético e o
ácido propiônico. As silagens mais estáveis não sofreram aumento de
temperatura causada principalmente pelo crescimento de leveduras e
fungos filamentosos levando ao processo de deterioração. Portanto, o
tempo de armazenamento em silagem de grãos é um ponto chave para
o aumento da disponibilidade do amido para os animais, bem como
para a conservação do material.

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 41
Figura 1. Nitrogênio amoniacal (N-NH3) (a) e prolamina (b) da silagem de
milho grão úmido (MU) e silagem de milho reidratado (MR) ensiladas sem
(Controle) e com L. buchneri (LB; 1×105 ufc/g) em diferentes tempos de
estocagem. Adaptado de Da Silva et al. (2019).

Figura 2. Degradabilidade in situ da MS da silagem de milho grão úmido


(MU) e silagem de milho grão reidratado (MR) com dois tamanhos partícula
em diferentes tempos de estocagem. Linhas demostram os valores
previstos pelo modelo broken-line (linear, linear) para incubação por 12
horas. Adaptado de Da Silva et al. (2019).

424 2 Fábio Jacobs Dias et al.


Figura 3. Degradabilidade in situ da MS da silagem de grão de milho
reidratada com seis tamanhos de partícula em diferentes tempos de
estocagem. Linhas demostram os valores previstos pelo modelo broken-
line (linear, linear) para incubação por 12 horas. Gervásio (2021).

Efeitos da moagem na ensilagem de grãos e na digestibilidade do


amido
Visto que no Brasil o processamento do milho se faz indispen-
sável, é preciso saber qual a melhor forma de se processar o milho
para se ter melhor aproveitamento do amido pelos animais. Atualmente
o principal método de processamento do milho ainda é a moagem do
grão, o que permite gerar uma variedade de granulometrias.
Ao avaliar o desempenho de animais consumindo dieta com grão
de milho inteiro sem volumoso ou dieta com inclusão de milho moído
juntamente com silagem de milho planta inteira, Carvalho (2015) obser-
vou que animais Nelore tiveram menor eficiência alimentar que animais
da raça Angus independente da dieta, o que foi justificado pela menor
capacidade dos animais Nelore em aproveitar o amido comparado a
animais Angus. Fato que corrobora ainda mais com a ideia de neces-
sidade de buscar extrair a máxima disponibilidade do amido quando se
trabalha com animais Nelore. Outro ponto observado foi o alto teor de
amido fecal independente de dieta e de raça, mesmo com a baixa

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 43
excreção de fezes quando os animais consumiram a dieta com grão
inteiro, e isso representa uma dificuldade em se aproveitar o amido
que escapa da digestão no rúmen e vai para o intestino.
Por isso a moagem prévia ao processo de ensilagem dos grãos
úmidos ou reidratados, são usadas para aumentar a digestibilidade do
amido no trato digestivo total dos animais, disponibilizando mais energia
metabolizável. No caso de silagem de milho grão úmido o proces-
samento empregado é mais grosseiro devido ao conteúdo de umidade
interna dos grãos ser alto. Isso impede que os grãos sejam moídos em
moinhos com peneiras de crivo pequeno, devido à dificuldade de passa-
gem pelo crivo, sendo mais comum o uso de moinhos do tipo rolo, que
faz o esmagamento dos grãos. Já em silagem de grão de milho reidra-
tado, a moagem se faz antes da reidratação dos grãos secos, permitindo
uma gama maior de graus de moagem. É importante ressaltar que a
moagem antes da ensilagem é fundamental também para o processo
fermentativo adequado dos grãos. Ferraretto, Crump e Shaver (2013)
realizaram meta análise com a finalidade de estimar os efeitos de
diferentes métodos de processamento de grãos, observou que a redução
no tamanho de partícula (> 2 mm para < 2 mm) na silagem de milho
grão úmido aumentou a digestibilidade no trato digestivo total de 89,5%
para 95,2%. Esse fato pode ser explicado pelo aumento da superfície
de contato para a digestão bacteriana e enzimática (HUNTINGTON,
1997) de partículas mais finas e pelo aumento na taxa de passagem de
partículas mais grosseiras e mais densas pelo trato gastrointestinal
(NOCEK; TAMMINGA, 1991).
Os moinhos de martelos permitem a produção de moagens mais
finas, ele realiza a redução de tamanho por impacto dos martelos com
os produtos que entram no moinho. A distribuição do tamanho de
partícula tem grande variação podendo haver na mesma moagem par-
tículas grandes e pequenas, e geralmente são de forma esférica (KOCH,
2002). No moinho de rolo, a redução de tamanho é conseguida pela
combinação de forças, principalmente compressão e cisalhamento. Se
os rolos giram na mesma velocidade, a compressão é a principal força
usada. Se os rolos giram em velocidades diferentes, o cisalhamento e

444 4 Fábio Jacobs Dias et al.


compressão são as principais forças usadas (KOCH, 2002), e as par-
tículas produzidas tendem a ter tamanho uniforme, e são irregulares
quanto à forma.
No trabalho de Gervásio (2021) as taxas de moagem do milho
encontradas quando utilizadas peneiras de 3 mm, 5 mm, 8 mm, 10 mm,
12 mm e 15 mm do moinho de martelo para confecção de silagem de
grão de milho reidratado foram 6,6; 8,4; 9,6; 11,4; 12,6 e 15 toneladas
por hora respectivamente. Demonstrando uma relação positiva do crivo
da peneira e do trabalho do moinho, o que resulta em menor despren-
dimento de energia na fazenda quando se trabalha com tamanhos de
partícula maiores. Porém o que pode ocorrer no caso de silagem de
milho reidratado é que, quando o milho é moído em peneiras com crivos
maiores há um efeito de percolação da água quando adicionada, ou
seja, pode escorrer pelo painel do silo ocasionando uma heteroge-
neidade de matéria seca da silagem, sendo que o topo do silo fica com
uma matéria seca maior e a parte inferior fica mais úmida o que pode
favorecer a deterioração da silagem mais rapidamente. Nos estudos
de Gomes et al.,(2020) e Gervásio (2021) silagens de grão de milho
reidratado com tamanho de partícula menor tiveram maior concentração
de ácido acético do que silagens com maior tamanho de partícula, o
que é desejável nas silagens devido à capacidade desse ácido de inibir
o crescimento de leveduras e fungos filamentosos e melhorar a
estabilidade aeróbia, além disso no trabalho de Gervásio (2021) hou-
veram maiores perdas de matéria seca nas silagens com maior tamanho
de partícula durante maior parte do tempo de armazenamento.
Outro ponto já visto anteriormente é que silagem de milho reidra-
tado com tamanho de partícula maior necessita de um tempo de esto-
cagem maior para se ter maior aproveitamento em degradabilidade do
amido. Gomes et al. (2020) observaram que mesmo após 180 dias de
estocagem a silagem de milho reidratado com diâmetro geométrico
médio de 2,30mm processado em moinho de rolo não alcançou a mesma
degradabilidade do amido da silagem de milho reidratado com 1,30mm,
confeccionada em moinho de martelo. No trabalho de Gervásio (2021)
é observado que em silagem de milho reidratado estocadas por pouco

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 45
tempo é preferível trabalhar com crivos menores de peneiras no moinho
de martelo para atingir maiores digestibilidades.

Uso de aditivos na ensilagem de grãos de milho e sorgo


Ao explorar a ensilagem de grãos úmidos de milho e grãos reidra-
tados de milho e sorgo é fundamental cuidar do manejo do processo de
ensilagem para minimizar perdas fermentativas e prevenir a deterio-
ração aeróbia. Um dos principais problemas observados na ensilagem
de grãos de milho e sorgo é sua propensão a deterioração aeróbia nas
áreas periféricas do silo e após a abertura durante a fase utilização da
silagem (Da SILVA et al., 2018; Da SILVA et al., 2019; GERVÁSIO, 2021;
MORAIS et al., 2017; Santos et al., 2019; SEBASTIAN et al., 1996). Existe
uma grande diversidade de aditivos microbianos, também chamados
de inoculantes, e químicos utilizados na melhoria do processo fermen-
tativo e na redução de perdas por fermentações inadequadas e deterio-
ração aeróbia. Alguns desses aditivos apresentam maior efetividade
na ensilagem de grãos de milho e sorgo.
Os inoculantes bacterianos, classificados como estimuladores
da fermentação, como as bactérias ácido láticas heterofermentativas
facultativas (chamadas também de homofermentativas), como
Lactobacillus plantarum, Pediococcus e Enterococcus faecium, tem a
capacidade de melhorar o processo fermentativo e acelerar a acidi-
ficação da silagem, o que reduz as fermentações secundárias e propor-
ciona maior recuperação de energia. Entretanto, o uso desses aditivos
em silagens de milho pode agravar ainda mais o problema da deterio-
ração aeróbia após a abertura e nas áreas periféricas de silos horizontais.
Em muitos trabalhos é possível observar decréscimo na estabilidade
aeróbia, devido à menor produção de substâncias inibidoras de fungos,
como o ácido acético, e maior contagem de leveduras (Da SILVA et al.,
2018; KLEINSCHMIT, SCHMIDT e KUNG, 2005). Já Kung et al. (2004) não
observaram diferença entre o controle e as silagens de milho grão úmido
com inoculantes bacterianos (entre eles o Lactobacillus plantarum) na
estabilidade aeróbia das silagens, embora as silagens inoculadas

464 6 Fábio Jacobs Dias et al.


apresentassem numericamente menor estabilidade aeróbica. A
ensilagem de grãos de milho e sorgo tem demonstrado adequado perfil
de fermentação, boa queda do pH (min. 3,7 e máx. 4,5), e baixas perdas
de matéria seca (min. 18,3 g/kg e máx. 34,4 g/kg) (Da SILVA et al.,
2018; Da SILVA et al., 2019; GERVÁSIO; 2021; MORAIS et al., 2017;
SANTOS et al., 2019). Em um trabalho de meta análise com dados de
ensilagem de grãos de milho úmidos, Morais et al. (2017) observaram
que as perdas de MS foram similares entre silagens inoculadas com
bactérias homofermentativas quando comparados às silagens controle,
e ambas apresentaram baixas perdas fermentativas. Portanto, o uso
de bactérias heterofermentativas facultativas como inoculante não gera
benefícios ao processo fermentativo que justifiquem seu uso, quando
o processo de ensilagem é bem executado.
A deterioração aeróbica, comum em silagens de grãos, pode
ocorrer quando há entrada de oxigênio na massa ensilada. Essa entrada
pode ocorrer por falhas na vedação, uso de lonas mais permeáveis ao
oxigênio e durante a etapa de utilização da silagem. Com a entrada de
oxigênio as leveduras iniciam a oxidação de ácido lático gerando
aumento de pH da massa ensilada. O que torna o ambiente mais propício
para o aparecimento de microrganismos deterioradores (PAHLOW et
al., 2003). O processo de deterioração pode ser agravado em regiões
de clima tropical, uma vez que as altas temperaturas podem aumentar
a taxa de crescimento dos microrganismos deterioradores (ASHBELL et
al., 2002). O processo de deterioração aeróbia está associado com
altas perdas de nutrientes e matéria seca, diminuição da ingestão
(McDONALD; HENDERSON; HERON, 1991; BOLSEN; WHITLOCK;
URIARTE-ARCHUNDIA, 2002) e relação com problemas de saúde animal,
uma vez que há riscos de contaminações por microrganismos
patogênicos e produção de micotoxinas (QUEIROZ; RABAGLINO;
ADESOGAN, 2011).
O uso de aditivos classificados com inibidores de deterioração
aeróbia tem demonstrado resultados positivos no controle de
deterioração em silagens de milho planta inteira. Dentre eles, o
Lactobacillus buchneri vem sendo um dos mais estudados nos últimos

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 47
anos (KUNG; STOKES; LIN, 2003). O Lactobacillus buchneri é uma bactéria
ácido lática heterofermentativa obrigatória, capaz de produzir, pela
fermentação de glicose e frutose, ácido lático, ácido acético, manitol e
etanol. A falta da enzima acetaldeído desidrogenase impede a redução
do acetaldeído em etanol, aumentando a produção de ácido acético
(McDONALD; HENDERSON; HERON, 1991). Cepas heterofermentativas
obrigatória também aumentam o ácido propiônico, que pode ser
produzido pela adição de Propionibacterium spp ou pela degradação
de 1,2-propanodiol (KROONEMAN et al., 2002) resultante do
metabolismo de L. buchneri. Justamente esses componentes, o ácido
acético e ácido propiônico, proporcionam melhorias na estabilidade
aeróbia das silagens, por suas características antifúngicas. Isso porque
o pH da massa ensilada é inferior ao seu pKa desses ácidos, o que faz
com que ele esteja na forma não dissociada. Nessa forma, ele entra na
célula microbiana através da sua membrana via transporte passivo.
Uma vez dentro da célula, o ácido é dissociado, em razão do pH interno
ser próximo a 7,0 e ocorrer a liberação dos íons H+, acidificando o meio
intracelular (LAMBERT; STRATFORD, 1999). Para manter a neutralidade
da célula, os microrganismos eliminam os íons por transporte ativo,
levando a um gasto de energia que prejudica seu crescimento e
multiplicação, podendo levá-los à morte.
Em 26 resultados de experimentos com silagem de milho planta
inteira sumarizando por Kleinschmit e Kung (2006) foi observado
aumento na concentração de ácido acético, decréscimo no número de
leveduras e aumento da estabilidade aeróbia das silagens tratadas com
L. buchneri. Resultados semelhantes também foram encontrados por
Morais et al. (2017), Da Silva et al. (2018) e Da Silva et al. (2018) em
silagens de grãos inoculadas com bactérias heterofermentativas. O
efeito positivo de aumento da estabilidade aeróbia, nas silagens de
grão úmido de milho inoculadas com L. buchneri foi relatado no trabalho
de Taylor e Kung (2002) com aumento de estabilidade de 84 para 208
horas nas silagens controle em relação às silagens inoculadas com a
dose mais baixa de L. buchneri e enzimas aos 166 dias de estocagem.
O mesmo ocorreu no trabalho de Kung Jr. et al. (2007) com aumento da

484 8 Fábio Jacobs Dias et al.


estabilidade aeróbia de 50 horas no controle para mais de 200 horas
nas silagens inoculadas com L. buchneri e L. buchneri mais enzima.
Com base nos trabalhos de Taylor e Kung (2002), Kung Jr. et al. (2007) e
Basso et al. (2012), em média, o incremento na estabilidade aeróbia
com a inoculação de L. buchneri nas silagens de milho grão úmido é de
250% em relação ao controle.
Taxas de inoculação dos aditivos microbianos e tempo de
armazenamento são determinantes para repostas mais efetivas sobre
a estabilidade aeróbia. Doses de 1 × 10 5 ufc/g aumentaram a
estabilidade aeróbia em silagens de grãos de milho reidratado aos 124
dias de estocagem (Da SILVA et al., 2018) e em silagens de grãos de
milho reidratado e úmido a partir de 30 e 60 dias de estocagem,
respectivamente (Da SILVA et al., 2019). Sendo que as diferenças se
tornaram maiores ao longo do tempo de estocagem (Da SILVA et al.,
2019). Já na meta análise de Morais et al. (2017) com vários tipos de
bactérias heterofermentativas, observaram maior eficiência com doses
de 4,67 × 105 ufc/g.
O uso de aditivos químicos tem se mostrado eficazes na
prevenção de perdas de MS e no aumento de estabilidade aeróbia de
silagens de grãos de milho e sorgo. O aumento da estabilidade aeróbia
é a resposta alcançada com maior frequência em função da redução de
microrganismos deteriorantes, como leveduras (MORAIS et al., 2017;
SANTOS et al., 2019). No conjunto de dados utilizado por Morais et al.
(2017) a maioria das respostas positivas foi alcançada pelos aditivos
com taxas de aplicação superiores a 3,0 g/kg. Já Santos et al. (2019)
observaram aumento da estabilidade aeróbia e redução nas perdas de
matéria seca com taxa de aplicação de 2 g/kg de silagens de grãos de
sorgo reidratados.
Outro ponto a ser levantado é a influência do uso de inoculantes
no aumento da degradação do amido. Segundo Junges et al. (2017), a
atividade proteolítica das bactérias é responsável por 60,4% da
degradação de proteína em silagens de grãos de milho reidratado.
Portanto, o efeito dos inoculantes sobre o perfil microbiano das silagens
possivelmente poderá influenciar a degradação de amido nas silagens

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 49
de milho reidratado e silagem de milho grão úmido. Da Silva et al. (2018)
observou redução na concentração de prolaminas e aumento na
digestibilidade in situ por 12 e 24 horas de silagens de milho reidratado
inoculados com Lactobacillus buchneri.

Aspectos relacionados ao desempenho de animais consumindo


silagens de grãos
Desde a década de 70 quando se iniciaram as pesquisas com
silagem de grão, a resposta animal sempre era o foco de estudo, os
pesquisadores buscavam responder quais os efeitos do processamento
no desempenho e metabolismo dos bovinos de corte. Comparado ao
milho seco moído ou não, a maioria dos resultados de pesquisa com
animais consumindo silagens de grãos úmidos ou reidratados de milho
já demonstravam na época uma queda de consumo de matéria seca
sem afetar o ganho médio diário com consequente aumento da eficiência
alimentar, porém os mecanismos por trás desses resultados não eram
muito explorados ainda.
Em um estudo realizado em Nebraska (OWENS e BASALAN,
2013), dez híbridos de milho foram processados nas formas de laminado
a seco, floculação, ou ensilagem de grãos úmidos, sendo comparados
quanto à digestibilidade do amido no trato total e no rúmen de novilhas
Holandesas. A digestibilidade do trato total nos híbridos na forma de
laminação a seco variou de 89% a 95% devido principalmente à diferença
de vitreosidade entre os híbridos, já nos outros tipos de processamentos
úmidos a variação foi muito menor e os resultados foram de 99% a
100% de digestibilidade. Assim, mesmo nos híbridos mais digestíveis,
somente o processamento a seco não alcançou os valores de
digestibilidade total dos híbridos quando floculados ou ensilados
úmidos. Outro ponto observado foi que quando o milho estava na forma
de silagem de grão úmido e floculado o principal sítio de digestão do
amido foi o rúmen, com um menor escape de amido para o intestino
delgado, isto significa que o aumento de digestão do amido do rúmen
está altamente relacionado com o aumento de digestão no trato total
dos animais, portanto é importante não permitir o escape de amido

505 0 Fábio Jacobs Dias et al.


para o intestino. Ferraretto, Crump e Shaver (2013) demonstraram que
fluxo duodenal de amido é inversamente correlacionado com a digestão
no trato digestivo total, portanto o aumento do fluxo de amido para o
duodeno reduz a digestão pós-ruminal do amido e, consequentemente,
reduz a digestão total do amido. A redução na digestão pós-ruminal do
amido em função do aumento do fluxo de amido no duodeno está
relacionada à alta taxa de passagem através dos intestinos, que leva a
um tempo insuficiente para completar a hidrólise do amido (OWENS,
ZINN, e KIM, 1986) ou a insuficiente atividade da amilase pancreática
(HUNTINGTON, 1997).
Diversos experimentos têm demostrado o potencial da silagem
de milho com alta umidade em aumentar a eficiência alimentar de
bovinos confinados. Ladely et al. (1995), avaliando o efeito dos métodos
de processamento sobre três híbridos de milho (lenta, média e rápida
taxa de desaparecimento do amido in vitro), observaram aumento da
eficiência alimentar de 11,3% nos bovinos em terminação alimentados
com silagem de milho com alta umidade (inclusão de 83% da MS) em
comparação com o grão seco moído. Aumento na eficiência alimentar
de 15,4% foi observado por Costa et al. (2002), avaliando o desempenho
de bovinos superprecoces alimentados com diferentes fontes de
volumoso (silagem de milho e feno de aveia; relação volumoso/
concentrado de 40:60 e 30:70, respectivamente) e grãos de milho
ensilados ou secos. Henrique et al. (2007) compararam o efeito de dietas
contendo milho úmido ou seco, e Huck et al. (1998), avaliando o efeito
dos métodos de processamento do grão de milho observaram um
aumento de eficiência alimentar de 9,7% e 3,4%, respectivamente.
Resultados semelhantes também foram encontrados por Scott et al.
(2003) e Corrigan et al. (2009) em bovinos alimentados com silagem de
milho com alta umidade e subprodutos (glúten de milho úmido e grãos
destilados), com o aumento na eficiência alimentar de 5,0% e 12,3%,
quando comparados com as dietas que continham milho seco e os
mesmos subprodutos.
Da Silva (2016) ao avaliar dietas contendo milho seco moído ou
dietas onde foi totalmente substituído o milho seco por silagens de

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 51
grãos úmidos ou reidratados de milho, observou uma redução no
consumo de matéria seca próximo a 22,4% para os bovinos Nelore
consumindo dietas com silagens de grãos (Figura 4), sem afetar o ganho
de peso dos animais. Nas dietas com silagens de grãos úmidos ou
reidratados a digestibilidade do amido no trato total dos animais foi
acima de 99% (Figura 5), e a produção dos ácidos orgânicos no rúmen
foi maior em comparação com os animais que consumiram o milho seco,
o que resultou em uma queda mais acentuada do pH no rúmen chegando
a próximo de 5,8 com seis horas após a alimentação. Também com o
consumo das silagens de grão a quantidade de propionato no rúmen
foi aumentada e o nitrogênio amoniacal disponível foi rapidamente
consumido, o que significa um melhor sincronismo de fontes de carbono
e proteína para serem utilizadas pelas bactérias ruminais. Rápida
absorção e elevadas taxas de metabolização do propionato podem
estimular sua oxidação no fígado, aumentando o status energético dos
hepatócitos, gerando um sinal de saciedade para o término da refeição.
O aumento do fluxo de propionato para o fígado, principalmente em
períodos curtos, pode levar à redução na ingestão de matéria seca
(ALLEN et al., 2009).
Em uma metanálise realizada por Jovaci et al. (2020) reunindo
21 trabalhos comparando animais Nelore em confinamento consumindo
dietas contendo milho seco moído ou inclusão de silagens de grão, foi
observado que o consumo dos animais foi 14% menor quando
alimentados com as silagens como fonte de milho sem afetar o ganho
médio diário, e ainda houve um aumento de 18,3% em eficiência
alimentar desses animais, o que significa menos gasto com dieta por
arroba produzida. Um ponto abordado pelos autores é o nível de inclusão
dessas silagens ao substituir o milho seco das dietas. Foi observado
que animais que tinham baixa ingestão calórica diária, considerado
por eles menor que 111 MJ/dia, melhoram o consumo de energia
metabolizável (EM) quando há a substituição de milho seco por silagem
de grão de milho úmido ou reidratado, mas quando já consomem dietas
altamente energéticas, por exemplo dietas com alta inclusão de grãos,
a adição dessas silagens faz com que haja um menor consumo de EM,

525 2 Fábio Jacobs Dias et al.


devido a uma queda brusca no consumo de MS. Nesse caso, a inclusão
de FDN na dieta pode ser benéfica (OWENS e BASALAN, 2013) por haver
um efeito de diluição.
Dietas com alta inclusão de grãos e maior processamento do
milho geram um aumento na produção de ácidos graxos de cadeia curta
no rúmen, ocorrendo alterações sobre o padrão de fermentação ruminal
(ALLEN et al., 2009). Como consequência pode haver a elevação da
produção de lactato, causando uma queda mais brusca do pH ruminal
aumentando a incidência de doenças metabólicas, particularmente
acidose ruminal (OWENS e ZINN, 2005). Evitar distúrbios metabólicos
inclui estratégias que modifiquem o padrão de fermentação. O uso do
milho seco junto a silagens de grão de milho úmido ou reidratados em
dietas pode ser utilizado a fim de balancear a taxa de degradação do
amido, evitando a queda do consumo de matéria seca. Outro ponto a
ser considerado é a adequação do tipo e dose de aditivos usados nas
dietas, a fim de promover a redução das chances de distúrbios
metabólicos.
Além disso, como falado anteriormente, a escolha do tamanho
da partícula dessas silagens é importante para o planejamento de
abertura do silo, porém é preciso entender se a variação na moagem,
como por exemplo, aumentar o tamanho de partícula pode atuar também
como uma estratégia de amenizar a alta taxa de fermentação segurando
o consumo dos animais. No estudo de Gervásio (2021), objetivou avaliar
dois tamanhos de partícula de silagem de grão de milho reidratado
(0,95 mm vs 1,72 mm) e inclusões na dieta, sendo dieta com 100% de
SMR vs dieta com 50% de SMR + 50% de milho seco moído como fonte
de milho para bovinos Nelore em terminação. Ao contrário da hipótese
do trabalho de que maior tamanho de partícula de silagem de grão de
milho reidratado poderia segurar mais o consumo e melhorar o
desempenho, não houve efeito do tamanho de partícula da silagem no
consumo e desempenho dos animais. Os tratamentos com 100% de
inclusão de silagem de grão de milho reidratado independente do
tamanho de partícula proporcionaram maior energia líquida da dieta,
aumentando a eficiência alimentar de carcaça dos animais, podendo

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 53
então ser recomendado a inclusão total dessas silagens como fonte de
milho sem afetar o desempenho. Contudo é importante se atentar ao
período de adaptação dos animais à essas dietas com alta inclusão de
silagens de grãos, e também a fonte e o teor de fibra na dieta.

Figura 4. Consumo de MS (kg/dia) de bovinos Nelore terminados em


confinamento alimentados com milho grão seco moído (MSC), silagem
de milho grão úmido (MU), silagem de milho grão úmido inoculado com
L. buchneri (MUB; NCIMB 40788 na de 1 × 105 ufc/g), silagem de milho
reidratado (MR), silagem de milho reidratado inoculado com L. buchneri
(MRB; NCIMB 40788 na de 1 × 105 ufc/g). Adaptado de Da Silva (2016).

545 4 Fábio Jacobs Dias et al.


Figura 5. Digestibilidade do amido nas dietas de bovinos Nelore
terminados em confinamento alimentados com milho grão seco moído
(MSC), silagem de milho grão úmido (MU), silagem de milho grão úmido
inoculado com L. buchneri (MUB; NCIMB 40788 na de 1 × 105 ufc/g),
silagem de milho reidratado (MR), silagem de milho reidratado inoculado
com L. buchneri (MRB; NCIMB 40788 na de 1 × 105 ufc/g). DGA,% do
ingerido = digestibilidade do amido em função da % do ingerido, calculado
pela equação DGA, % do
ingerido=100×{1?[(0,938?0,497×NF+0,0853×NF2)×AF/AD], onde NF é a
% de N fecal, AF é % de amido nas fezes e AD é a % do amido na dieta (P <
0,01, Zinn et al., 2007); DGA,% = digestibilidade do amido, calculado pela
equação DGA, %=99,9?0,413×AF?0,0131×AF2 onde AF é % de amido nas
fezes (P < 0,01, Zinn et al., 2007). Adaptado de Da Silva (2016).

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ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 61
INDICADORES DE
EFICIÊNCIA NA
PRODUÇÃO DE SILAGENS

Rafael Camargo do Amaral

¹ Zootecnista pela UNESP/Jaboticabal, mestre e doutor em Ciência Animal pela ESALQ/USP.


Departamento Técnico da Lallemand Animal Nutrition - América do Sul.

626 2 Fábio Jacobs Dias et al.


1 INTRODUÇÃO
A pecuária de corte e de leite está embasada em diversos indi-
cadores para tomadas de decisões dentro da propriedade. Ganho de
peso, consumo de matéria seca, produção de leite, taxa de morta-lidade,
produtividade agronômica da cultura forrageira, dentre outros, são
exemplos comuns e de certa forma, os produtores têm essas variáveis
na “ponta da língua”.
O processo de produção de silagens também possui uma série
de indicadores de gestão que auxiliam o produtor na confecção da
melhor silagem, entretanto, algumas etapas no processo entram no
“modo automático”, ou seja, sem critérios técnicos pré-estabelecidos
e ausência de medições, como consequência, torna o gerenciamento
falho em determinados momentos.
Uma forma para que o produtor possa visualizar possibilidades
de melhoria na confecção da silagem, de forma mais ampla, é subdividir
o processo em três momentos distintos, conhecido como os 3 S’s da
produção de silagens. Esses S’s contemplam os diferentes momentos
do alimento como a cultura no S do solo, a confecção, o armazenamento
e o descarregamento quando está relacionado ao S do silo e, finalmente,
o fornecimento para o consumo do animal no S referente à silagem
propriamente dita.

2 OS 3’S DA PRODUÇÃO DE SILAGENS – UM “S” AINDA ESQUECIDO


Nos dias atuais, facilmente se observa que as propriedades estão
bem gerenciadas nos S’s do solo e da silagem.
Os produtores e técnicos têm as perguntas relativas aos S’s do
solo e silagem muito facilmente respondidas ao serem indagados. No
que se refere ao S do solo: Qual o espaçamento entre linhas foi utilizado
no plantio? Qual a produção por hectare da cultura? Qual híbrido utili-
zado? E aquilo que está relacionado ao S da silagem: Quantos quilos de
silagem são oferecidos por cabeça por dia? Qual a inclusão de silagem
na dieta? Qual o teor de amido da silagem?

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 63
Entretanto, ao questioná-los com relação ao S do silo, muitas
dúvidas e respostas arbitrárias são observadas. Questionamentos como:
Qual a taxa de enchimento do silo? Qual proporção de peso de trator
em relação a forragem que chega por hora no silo? Qual o número do
silo e sua capacidade de armazenamento? Qual a temperatura da
silagem? Qual a taxa de avanço do painel do silo? Qual a perda de MS
encontrada por silo? Qual o custo real da silagem utilizada? Essas
perguntas, na maioria das vezes, não são respondidas ou se há resposta,
ela é dada com superficialidade.
A criação do conceito dos 3 S’s tem o objetivo de levar a
propriedade para um próximo nível de gerenciamento no processo de
confecção e utilização de silagens. É importante o entendimento de
que o S do silo é o grande elo de conexão dos outros 2 S’s. Geralmente,
o S do solo e o S da silagem não tem oportunidades de se conectarem,
visto que a produção do volumoso no solo não ocorre no mesmo período
do oferecimento dessa silagem e, por essa razão, os responsáveis
envolvidos dificilmente se interagem.
A partir do momento em que se inicia o foco no S do silo, o
relacionamento entre o S do solo e o S da silagem começam a existir. As
interpretações do S do silo se iniciam no momento da definição da
colheita do alimento e termina quando a silagem é fornecida para os
animais. Aqui um exemplo das possíveis conexões entre os S’s: S do
solo – capim colhido com excelente valor nutritivo, S da Silagem –
animais com baixa aceitação da silagem oferecida. Apenas com essa
informação, o sentido parece não existir – Como um capim de excelente
valor nutritivo, gera uma aceitação baixa pelos animais? O porquê dessa
pergunta, não é respondido no S do solo, nem no S da silagem, mas sim
no S do silo! Capim com excelente valor nutritivo, apresenta elevada
umidade e, essa por sua vez, permite que bactérias indesejáveis, como
as do gênero Clostridium e Enterobactérias, cresçam e produzam o ácido
butírico e outros compostos que causam inibição no consumo da
silagem, além de perdas elevadas de matéria seca. É necessário elevar
o teor de matéria seca na ensilagem, seja por uma pré-secagem ou
adição de ingredientes sequestrantes de umidade para que a fermen-
tação seja dominada por microrganismos desejáveis e, dessa forma, a

646 4 Fábio Jacobs Dias et al.


silagem gerada apresente valor nutritivo adequado e boa aceitabilidade
por parte dos animais.
É comum nas propriedades encontrar anotações para
gerenciamento dos diversos setores, como por exemplo nas
propriedades leiteiras, a sala de ordenha tem dados de produção de
leite das vacas, vacas com mastite; no bezerreiro, encontram-se dados
individuais das bezerras, a quantidade de sucedâneo lácteo fornecido
por dia, bezerras em tratamentos para diarreia. Já nas propriedades de
gado de corte, indicadores como: peso de entrada e de saída dos
animais, consumo médio da baia no confinamento, escore de cocho,
entre outros. Depois de todos esses exemplos, existe uma pergunta
que praticamente não é respondida em nenhum estabelecimento
produtor de leite ou de carne: Qual propriedade tem suas anotações de
cada silo? Infelizmente, a grande maioria não se atenta para tais
informações.
O silo deve ser considerado como um indivíduo dentro da
propriedade, da mesma forma que um animal ou um implemento
agrícola é gerenciado. Imagine que em um silo de 10 metros de largura,
por 50 metros de comprimento e 2,5 metros de altura, facilmente são
armazenadas 900 toneladas de silagem de milho. É importante para
propriedade mudar sua medida de grandeza, ou adicionar uma nova,
deixando de apenas considerar que a silagem custa R$ 0,16/kg, mas
avaliando também que dentro deste silo existe o valor investido de R$
150.000,00. Caso esse mesmo valor investido dentro de um silo estivesse
aplicado em algum fundo de investimentos bancário, certamente o
possuidor desse crédito checaria semanalmente seu saldo. Algumas
reflexões são oportunas: Quantos silos e quantas toneladas de silagem
a sua propriedade possui? Qual o valor em Reais está armazenado
dentro do silo? Faz sentido iniciar ou melhorar o gerenciamento do silo?

2.1 A conservação da forragem


Silagem é o termo utilizado para definir o produto que sofreu
fermentação dentro de um silo. O desenvolvimento de ambiente ausente

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 65
de oxigênio no silo é essencial para a interrupção da respiração da
planta, a prevenção de desenvolvimento microbiano aeróbio e a
estimulação para crescimento de bactérias ácido láticas, onde os
açúcares são fermentados por estes microrganismos com produção de,
principalmente, ácido lático e acético. Estes ácidos conduzem o alimento
a queda em seu pH, sendo esta queda essencial para inibição da
atividade enzimática da planta e prevenção do crescimento de
microrganismos indesejáveis.
Segundo McDonald et al. (1991), o primeiro objetivo do processo
de ensilagem é preservar a cultura pela fermentação natural em
condições anaeróbias. O segundo é inibir a atividade de microrganismos
indesejáveis como os clostrídios e as enterobactérias, devido a sua
capacidade de deteriorar a matéria orgânica e gerar perdas energéticas.
Em princípio, qualquer espécie forrageira, anual ou perene, pode ser
ensilada. A ensilagem, porém, é basicamente um método de preservação
do valor nutritivo (VN) da planta forrageira e não um método para
melhorá-lo, podendo às vezes ocorrer decréscimo do valor nutritivo.
Os caminhos bioquímicos pelos quais as bactérias ácido láticas
(BAL) metabolizam os açúcares da planta foram descritos por Woolford
(1984) e McDonald et al. (1991). Inicialmente ocorre uma pequena
produção de compostos voláteis, principalmente ácido acético, seguido
por grande produção de ácido lático, que preserva a forragem (Smith et
al., 1986). Utilização de açúcares pelas BAL produz poucas alterações
na qualidade da silagem em relação aos outros processos que ocorrem.
A Tabela 1 mostra vários caminhos de fermentação e subsequente perda
de MS e energia.
Fermentações indesejáveis são geralmente associadas com o
desenvolvimento de bactérias do gênero Clostridium, podendo ser
divididas em três grupos: as que produzem ácido butírico pela
fermentação de açúcares; as de caráter proteolítico, degradando
aminoácidos; e as que degradam tanto açúcares quanto aminoácidos.
Essas bactérias têm preferência por ambientes de temperatura mais
elevada (37°C), sendo que o principal meio para inibição deste tipo de
microrganismo é a rápida queda de pH, dependente também da atividade

666 6 Fábio Jacobs Dias et al.


de água, que está relacionada à espécie da forrageira e ao seu conteúdo
de umidade.

Tabela 1. Rotas fermentativas em silagens e suas perdas de MS e energia.

Fonte: McDonald et al. (1991)

2.2 Definição da logística de operação


O planejamento para o processo de ensilagem é necessário e
fundamental para garantir que a conservação da forragem atinja
patamares máximos de qualidade. Preparar a propriedade para os dias
de ensilagem não é apenas definir se a colheita será realizada por
máquina de arrasto ou autopropelida, mas sim entender toda a logística
do sistema, dando atenção para interrelações do processo de colheita,
transporte e compactação.
O estudo antecipado do comportamento dessas variáveis auxilia
os responsáveis nas definições de tamanhos e quantidades de
equipamentos a serem utilizados para a colheita. Além disso, deve ser
considerado o tamanho da lavoura a ser colhida, entender como se
dará a evolução do teor de matéria seca nos diferentes talhões,

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 67
distâncias da lavoura ao silo, condições da estrada para cálculos de
deslocamento, tamanhos dos silos para considerar a quantidade
ensilada por hora, cálculos de demandas de quantidade de peso de
tratores para a compactação, entre outros.
Considerar os fatores abordados acima é fundamental para que
sejam evitados problemas como:
1) a velocidade de colheita é muito lenta e a lavoura é grande.
Nessa situação poderá haver elevação demasiada do teor de matéria
seca na planta, causando problemas na compactação e, consequente,
na fermentação da forragem.
2) a velocidade de colheita é muita rápida e a distância até o
silo da lavoura é pequena. O enchimento rápido do silo é importante,
porém se o tempo de compactação, bem como a quantidade de peso
necessária para compactar a massa de forragem não forem respeitados,
a conservação da forragem poderá ser prejudicada.
3) a velocidade da colheita é muita rápida e o transporte da
forragem é muito lento. Nesse exemplo poderá ocorrer elevação nos
custos de produção, pois a máquina que colhe ficará parada por muito
tempo, além da possibilidade de o silo ficar exposto ao ar por tempo
muito longo e gerar perdas excessivas por respiração da planta.
4) o enchimento do silo ocorre de forma rápida, porém a quanti-
dade de tratores para a compactação não é suficiente. Essa variável
acarretará má compactação do silo, podendo gerar excessivas perdas
por respiração da planta devido, principalmente, a intensa porosidade
da massa, além disso, a silagem no momento após a abertura do silo
também poderá apresentar instabilidade pelo fato desta maior porosi-
dade possibilitar maiores influxos de ar para dentro do silo.
Muitas outras possibilidades podem ocorrer no dia a dia da
propriedade que está ensilando, dessa forma, é importante ressaltar
que cada propriedade terá suas características e problemas a serem
resolvidos quanto a logística de ensilagem.

686 8 Fábio Jacobs Dias et al.


2.3 Ponto de colheita
Silagens podem ser divididas em três grandes grupos com base
em seus teores de umidade: 1) silagem de alta umidade – 70 a 85%; 2)
silagem de média umidade – 60 a 75% de umidade; 3) silagem de baixa
umidade – 40 a 60% de umidade. Forragens com alto nível de umidade
podem causar o desenvolvimento de bactérias indesejáveis, sendo que
silagens produzidas sob tais condições são, geralmente, estáveis
aerobiamente, apresentam cheiro desagradável, elevado pH e baixa
ingestão de MS por ruminantes (NOLLER e THOMAS, 1985).
O conteúdo de MS determina as alterações que podem ocorrer
durante o processo de fermentação da forragem. Silagens com teor de
matéria seca inferior a 30% (Figura 1), podem apresentar elevadas
quantidades de efluentes e fermentação por bactérias do gênero
Clostridium, que resulta em perdas consideráveis. Por sua vez, em
forragens mais secas (particularmente acima de 50% de MS), as perdas
podem ser altas durante o pré-emurchecimento devido à precipitação
e danos mecânicos.
De acordo com Woolford (1984) e McDonald et al. (1991) os
teores mínimos de carboidratos solúveis que garantem o processo
adequado de fermentação estão na faixa de 8 a 10% da MS. É importante
salientar que existe uma importante interação entre os conteúdos de
carboidratos, poder tampão e conteúdo de MS, que influenciam o padrão
de fermentação das silagens. Observa-se na Figura 1, que se a
concentração de carboidratos solúveis é alta e o poder tampão é baixo,
podem-se obter silagens de boa qualidade mesmo com plantas com
baixo conteúdo de MS. Por outro lado, quando se observa situação
inversa, somente se produz silagens de boa qualidade quando o
conteúdo de MS é alto.

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 69
Figura 1. Relação entre conteúdo de matéria seca e proporção açúcar:
capacidade tampão e seus efeitos na qualidade final das silagens.

Fonte: Adaptado de Woolford (1984).

A equação proposta por Weissbach e Honig (1996) traz um


entendimento importante à conservação de alimentos. A equação é
dada da seguinte maneira:
CF = MS + 8 (CSA/CT)
Onde:
CF: coeficiente fermentativo
MS: matéria seca (%)
CSA: carboidrato solúvel em água (% MS)
CT: capacidade tampão (mg HCl/100 g MS)

Os autores recomendam que o coeficiente de fermentativo


apresente valores superiores a 35 para boa qualidade fermentativa,
porém um fato importante de ressaltar na equação é que o valor de

707 0 Fábio Jacobs Dias et al.


matéria seca tem um poder 8 vezes maior do que a relação carboidrato
solúvel em água e poder tampão. Esse fato torna-se de grande rele-
vância, principalmente aos extensionistas que estão no campo, onde,
muitas vezes, não se dispõem de laboratórios ou até mesmo de tempo
hábil para realizarem análises mais complexas. Assim, seguir valores
de matéria seca superiores a 30% pode auxiliar na obtenção de ambiente
adequado para a fermentação de bactérias benéficas ao processo de
conservação do alimento.

2.4 Avaliação da eficiência de colheita


Dentre os indicadores avaliados durante a colheita da forragem,
o tamanho de partículas e o processamento dos grãos têm auxiliado
para obtenção da melhoria de conservação e aproveitamento da silagem
pelo animal.
A adequação do tamanho de partículas é favorável ao processo
de fermentação devida a melhor compactação e a maior área de contato
entre o substrato e os microrganismos, com resultante aumento do
acesso ao conteúdo celular. McDonald et al. (1991) apontaram que
quando o tamanho de partícula é menor do que 20 mm pode haver
efeitos positivos sobre a disponibilidade de carboidratos solúveis e,
consequentemente, ao estímulo benéfico sobre bactérias láticas e
diminuição do pH. De acordo com Mayne (1999), os efeitos positivos
da redução no tamanho de partícula sobre o processo de fermentação
foram geralmente observados em forragens de maior teor de MS.
O tamanho médio de partícula encontrado nas diversas
propriedades rurais é bastante variável, cujos valores podem variar de
10 mm até patamares superiores a 26 mm. O valor ideal pode ser
diferente para cada situação e pode ajustar essa variável sob o ponto
de vista nutricional, relacionando quanto ao requerimento de fibra
fisicamente efetiva por parte do animal ou sendo dependente das
condições da colhedora que realiza a operação de colheita na
propriedade. Apesar de ocorrer divergências entre pesquisadores e
técnicos com relação ao tamanho médio de partículas ideal, a obtenção

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 71
de partículas homogêneas é inquestionável. Partículas heterogêneas
apresentam distorções em seus tamanhos quando observados a olho
nu, sendo isso um indicativo de que a máquina colhedora realmente
não está regulada para ter o melhor desempenho possível.
No caso de plantas que possuem grãos, como é o caso do milho
e sorgo, também há necessidade do processamento dos grãos. A
presença de grãos intactos se relaciona a impossibilidade da ação
microbiana tanto para os microrganismos presentes no silo como os
que degradarão o amido no rúmen. Dessa forma, avaliar a quebra de
grãos é fundamental para garantir a correta fermentação e que o valor
alimentício da silagem seja explorado ao máximo.
Existem avaliações subjetivas no campo que podem ser úteis
para a propriedade. Uma delas é a avaliação da planta de milho em um
volume de 1 L. Para esse volume de forragem é considerada forragem
com processamento de grãos excelente quando grãos inteiros não são
encontrados, a presença de 1 a 2 grãos é considerada como aceitável,
de 3 a 4 grãos inteiros é tido como processamento mediano e acima de
5 grãos inteiro a forragem é dada como processo falho dos grãos.
Em laboratório pode ser realizado o KPS (kernell processing score),
em português, escore de processamento do grão. Esse indicador é obtido
com amostra seca da forragem peneirada em uma malha com abertura
de 4,75 mm. O KPS é obtido por meio da divisão dos teores de amido do
material que passou pela peneira de 4,75 mm e da amostra original do
alimento (Mertens, 2005). Valores acima de 70% são considerados
ótimos, de 50 a 69% são classificados como aceitáveis e abaixo de
50%, inadequados.
Um método adaptado que vem sendo utilizado no Brasil é a
secagem de uma amostra de forragem de milho picada com posterior
decantação dos grãos em balde de água. Após nova secagem esses
grãos são passados pela peneira de 4,75 mm para determinação da
proporção destes grãos que passou pela peneira. A mesma classificação
utilizada por Mertens (2005) é utilizada neste método, porém aplicados
não para o teor de amido, mas sim para a proporção de grãos. É impor-
tante ressaltar que até o momento não se encontra validação científica,

727 2 Fábio Jacobs Dias et al.


todavia, a avaliação a campo tem se tornado importante ferramenta
para melhorias no processamento dos grãos.

2.5 Enchimento e compactação


Durante a fase inicial da ensilagem, a respiração da planta
continua dentro do silo como também a atividade enzimática
(hidrolisando componentes da parede celular) e proteolítica. O efeito
da demora no fechamento do silo é uma redução no fornecimento de
carboidratos solúveis tanto para fermentação anaeróbia como para os
animais que serão alimentados (MUCK, 1988). Com redução na produção
de ácido lático, o pH da silagem poderá manter-se elevado, permitindo
o crescimento de microrganismos indesejáveis, tais como: Clostridium,
enterobactérias e Listeria (MCDONALD et al., 1991).
O ideal seria que a cultura a ser ensilada fosse colhida e imedia-
tamente inserida em um ambiente anaeróbio ou ausência deste. Porém,
isto não é possível na prática, devido ao tamanho dos silos, que em
alguns casos não podem ser enchidos apenas em um dia, levando alguns
dias ou, até mesmo, semanas para serem efetivamente vedados.
Uma das formas encontradas para evitar perdas excessivas por
respiração da planta é realizar o enchimento do silo em rampas
inclinadas, com inclinação tal que não possibilite que os tratores de
compactação patinem sobre a massa. O grau de inclinação deve ser
respeitado de acordo com tamanho e peso dos tratores de compactação.
A recomendação de manter a rampa sempre inclinada ao máximo visa
reduzir a superfície de contato entre a forragem e o ar atmosférico,
evitando a excessiva respiração celular da planta. Além disso, reduzindo
a superfície de contato é possível alcançar grau de anaerobiose em
menor tempo, acelerando o processo de fermentação anaeróbia.
Como a maioria dos silos não são fechados no mesmo dia,
recomenda-se cobri-los no período noturno, quando não está ocorrendo
o processo de enchimento e compactação. Essa estratégia é importante
pois evita influxo de ar para dentro do silo. A produção de gás carbônico
no interior do silo caminha para os locais mais baixo do silo (por ser

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 73
considerado um gás “pesado”), caso não haja proteção na porção
superior, o deslocamento do gás carbônico para as partes inferiores irá
permitir influxo de ar atmosférico para dentro do silo e, dessa forma, o
oxigênio entrante nas regiões superiores será o gatilho para que a
respiração celular aumente, bem como a proliferação de microrganismos
aeróbios deterioradores.
Diversos fatores afetam a densidade da massa ensilada, dentre
eles, pode-se destacar o peso e pressão de compactação, o tempo de
compactação, a espessura da camada de forragem colocada no silo, a
taxa de enchimento do silo, o teor de MS da forragem e o tamanho médio
das partículas (RUPPEL et al., 1995; MAYNE, 1999; MUCK e HOLMES, 2000).
A densidade da massa vegetal no silo é determinante da
qualidade final da silagem. Em situações em que a redução do tamanho
de partícula ainda é limitada pelas colhedoras de forragem, se constitui
no principal fator de restrição no aumento da densidade da silagem.
Quanto maior a densidade, menores serão as perdas de MS da massa
ensilada. Ruppel (1995) mostrou que para densidade de 160 e 360 kg
MS/m³ as perdas de MS em 180 dias de armazenamento foram de 20,2%
e 10,0%, respectivamente, demonstrando os benefícios em termos de
redução de perdas com o aumento da massa ensilada.
Uriarte-Archundia et al. (2002) ao avaliarem silagens de milho
(32% MS) produzidas sob três densidades (371, 531 e 692 kg/m3)
observaram que após 150 dias de armazenamento o aumento na
compactação provocou retração do pH, populações mais elevadas de
bactérias ácido láticas e menores ocorrências de fungos. Segundo os
autores, a eliminação do ar por meio do aumento na compactação é
uma importante ferramenta no controle de microrganismos indesejáveis
durante a fermentação e após a exposição da silagem em ambiente
aeróbio.
Segundo Ruppel et al. (1995), para explorar o máximo de
qualidade em termos de compactação, tem-se utilizado no campo a
recomendação de que o peso do trator deve ser igual a 40% da
quantidade de peso de forragem que chega por hora no silo, assim, se
a quantidade que chega no silo é de 10 toneladas de forragem por

747 4 Fábio Jacobs Dias et al.


hora, o peso do trator ou tratores que compactam a forragem deverá
ser de 4 toneladas para garantia de máxima compactação. Além disso,
o tempo de compactação deve ser equivalente ao mesmo tempo
destinado a colheita, podendo ter aumento de até 20% de acordo com
o grau de dificuldade do processo de ensilagem (quantidade de forragem,
tamanho de partículas, teor de matéria seca, entre outros), ou seja, se
a colhedora de forragem trabalha por 10 horas no dia, os tratores de
compactação deverão trabalhar essa mesma quantidade de horas,
podendo ter seu tempo aumentado em 2 horas. Geralmente, quando o
tempo de compactação é superior ao tempo de colheita recomenda-se
dar preferência para que o processo de compactação comece em
momento anterior ao da colhedora e que seja finalizado após a parada
da colheita.

2.6 Perdas no processo de ensilagem


O processo de produção de silagens, inevitavelmente será um
processo com perdas de matéria seca, elas são inerentes a essa prática.
Essas perdas são encontradas desde o campo, com partículas deixadas
no chão, passando pela respiração da planta, perdas oriundas da
fermentação bacteriana e perdas aeróbias, observadas durante a
período de abertura do silo. O entendimento do processo com base no
gerenciando dos dados tem sido um grande aliado para que os
produtores tomem decisões que visam a redução dessas perdas e,
consequentemente, a melhoria na eficiência do uso da silagem.
A partir do momento em que o produtor se atentar para a
importância do S do silo, o interesse para o cálculo de perdas de matéria
seca irá aumentar. Uma pergunta importante que o produtor necessita
realizar é: Quantas toneladas por ano de silagem são produzidas e
quantas toneladas de silagem por ano são utilizadas? Na maioria das
vezes a diferença entre esses valores não fecha, demonstrando que
parte do alimento de alguma forma desapareceu.
Dados de campo mostram que perdas de matéria seca podem
apresentar alta variação, sendo encontrados valores entre 5 e 40%, o
que sugere uma variabilidade muito grande, dependente de diversos

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 75
fatores. Dessa forma, a mensuração das perdas na propriedade se torna
uma prática necessária, porém, na maioria das vezes, essa mensuração
é difícil, visto que as propriedades não dispõem de recursos para tal
medida. A recomendação é que a propriedade seja preparada e se
invista em ferramentas, como por exemplo a obtenção de uma balança
para pesagem de toda forragem ensilada, bem como realize
determinações de matéria seca ao menos 2 vezes ao dia, no período da
manhã e no período da tarde durante a ensilagem.
É comum o pensamento de que aplicar alguma tecnologia na
produção de silagens, terá principalmente incrementos em ganho
individual dos animais, ou seja, melhor qualidade de silagem, maior
desempenho animal. Esse fato não deixa de ser verdade, porém o grande
benefício está na eficiência do uso desse alimento. Como exemplo,
imagine uma propriedade que confina 1.000 cabeças por ano e, dentro
da formulação utiliza-se 1 tonelada de silagem/animal confinado durante
100 dias de confinamento, ou seja, a propriedade necessita de 1.000
toneladas de silagem. Considerando que o volumoso seja silagem de
milho e a produtividade na região seja de 40 toneladas por hectare
(para facilitar o entendimento, considere o mesmo teor de matéria seca
da forragem e da silagem originada), muitos diriam que a área
necessária de plantio seria 1000 toneladas dividido por 40 toneladas,
25 hectares. Porém, a afirmação está errada. No processo da
transformação da forragem fresca em silagem, existem as perdas de
matéria seca. Os valores médios encontrados podem chegar próximo
aos 25%. Um segundo erro ainda pode ocorrer, muitos somariam esses
25% de perdas na quantidade que necessitam de silagem, como no
exemplo de 1.000 toneladas, acrescentariam 25%, o que totalizaria
1.250 toneladas ou 31,25 hectares. Note nesse exemplo que se ensilar
1.250 toneladas e houver perda de 25%, ou seja, 75% estará disponível
para oferecimento aos animais, o valor final de silagem disponível será
937,50 toneladas e não as 1.000 toneladas necessárias. A forma correta
de se realizar esse cálculo é assumir o valor de 1.000 toneladas e dividir
por 75%, que é a subtração de 100% menos a perda de 25%, nesse caso
(1.000/75%), o valor necessário para ensilagem seria de 1.333 toneladas
ou 34 hectares.

767 6 Fábio Jacobs Dias et al.


Após o entendimento da importância da mensuração de perdas
no processo, a propriedade pode trabalhar com suas metas de reduções
de perdas e, dessa forma, o investimento em tecnologias pode ser
adequado para as melhorias objetivadas. Dentro de um processo de
produção de silagens, perdas de apenas 10% são possíveis de serem
alcançadas e somente com o gerenciamento adequado ocorrerá tal
alcance. Note, que no exemplo anterior, sair de 25% de perdas para
valores de 10%, representaria redução satisfatória no desperdício de
silagem. Com 25% de perdas seriam necessários 34 hectares de silagem
de milho, com 10% de perdas seriam necessários 28 hectares, ou seja,
redução de 6 hectares para produção de volumoso para alimentar a
mesma quantidade de animais. Com perdas de 25%, 240 toneladas de
alimento simplesmente desapareciam, alimento que poderia ser
oferecido para mais 216 cabeças. Em resumo, se a propriedade planta
34 hectares e tem gerenciamento para reduzir perdas ao redor de 10%,
haverá silagem suficiente para alimentar 1.216 cabeças, aumento
potencial de 21,6% de animais confinados. É nesse aumento de 21,6%
que fica claro a melhoria da eficiência do uso da silagem. A partir do
momento em que gerenciamento for colocado em prática, indicadores
de desempenho são estabelecidos e as tomadas de decisões são
direcionadas para a excelência da produção.
O conceito e a conscientização de redução de perdas são
fundamentais, pois dentro das propriedades a silagem é um elemento
restritivo, visto que sua produção é sazonal. Ingredientes concentrados,
como milho, farelo de soja, como também, aditivos e minerais são
facilmente encontrados no mercado, porém, a silagem, na maioria das
vezes, é produzida dentro da propriedade, se faltar, não será do dia
para a noite que a propriedade terá seu abastecimento resolvido.

2.6.1 Uso de inoculantes bacterianos


Durante o processo fermentativo da forragem, a adição de
inoculantes microbianos láticos tem por função o domínio das bactérias
ácido láticas no ambiente estabelecido, visando a redução no tempo
de acidificação da massa e produção de ácidos específicos. Objetiva-

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 77
se com essa estratégia a preservação dos nutrientes da forragem,
aumento na durabilidade e estabilidade da silagem e, consequente,
redução nas perdas de matéria seca. Bactérias láticas geralmente são
comercializadas vivas, na forma liofilizada, que após contato com água
ou forragem reiniciam suas atividades metabólicas.
McDonald et al. (1991) definiram critérios para indicação de
inoculantes potenciais: 1) devem apresentar bom crescimento,
dominando a população de microrganismos indesejáveis; 2) devem
maximizar a produção de ácido lático a partir de hexoses; 3) devem
conduzir a forragem a pH inferior a 4,0; 4) devem ser capazes de
fermentar glicose, frutose, sacarose e, preferivelmente, pentoses; 5)
não devem produzir dextrana a partir de sacarose, nem manitol a partir
de frutose; 6) não devem ter ação em ácidos orgânicos; 7) devem ter
crescimento em temperaturas até 50°C; 8) devem ser capazes de crescer
em alimentos de baixo conteúdo de umidade (p.ex. forragens submetidas
ao emurchecimento).
Fatores que afetam o sucesso dos inoculantes incluem: tipo e
características das plantas a serem ensiladas, condições climáticas,
habilidade da bactéria inoculada em crescer rapidamente e tolerância
ao baixo pH (MUCK, 1988). A ineficiência de alguns inoculantes
comerciais pode estar relacionada ao tipo de cepas de bactérias láticas
utilizadas, principalmente aquelas que não são capazes de competir
eficientemente com a microbiota epifítica. A espécie Lactiplantibacillus
plantarum são os microrganismos que dominam a microbiota
homofermentativa. Entretanto, a associação de bactérias específicas
tem se mostrado eficaz para atingir queda nos valores de pH com maior
velocidade. Um exemplo é o trabalho de Stevenson et al. (2006) em que
a associação de Lactiplantibacillus plantarum, Pediococcus acidilactici,
Enterococcus faecium e Ligilactobacillus salivares apresentou queda
do pH da silagem de forma mais acentuada quando comparada a
silagem sem inoculante.
A utilização de inoculantes contendo em sua formulação a
bactéria Lentilactobacillus buchneri tem mostrado eficiência na inibição
de fermentações indesejáveis, principalmente em silagens de cana-

787 8 Fábio Jacobs Dias et al.


de-açúcar, inibindo desenvolvimento das leveduras e sua consequente
produção de etanol, além de garantir nas diferentes silagens a melhoria
da estabilidade aeróbia durante a fase de abertura do silo. Peiretti e
Navarro (2018), avaliaram silagens de cana-de-açúcar inoculadas com
100.000 UFC/g de forragem de Lentilactobacillus buchneri NCIMB 40788
e observaram após 60 dias de fermentação redução nas perdas de
matéria seca. As silagens sem inoculante apresentaram 22,32% de
perdas de matéria seca, enquanto as silagens inoculadas com L.
buchneri apresentaram valor de 15,76%.
Recentemente, uma nova cepa selecionada pela Universidade
Federal de Lavras juntamente com a Lallemand Animal Nutrition,
chamada de Lentilactobacillus hilgardii CNCM I-4785 mostrou efeito
benéfico com a associação à já conhecida Lentilactobacillus buchneri
NCIMB 40788. Ferrero et al. (2018) demonstraram que a associação
dessas duas bactérias garantiu estabilidade aeróbia de silagens de milho
com apenas 15 dias após o fechamento dos silos. A inoculação aumentou
a estabilidade aeróbia em 18 horas, quando comparada as silagens
sem inoculante. Além disso, a sinergia das bactérias se mostrou efetiva
no aumento da estabilidade aeróbia para silagens armazenadas por
longos períodos (250 dias), quando obtiveram superioridade em 263
horas em estabilidade aeróbia. Apesar da abertura antecipada do silo
não ser prática de manejo recomendada, a associação dessas bactérias
permite flexibilidade para propriedades que estejam com seus estoques
inadequados por adversidades acometidas ao longo do ano.

2.7 Vedação do silo


A etapa de vedação deve ser considerada como uma das mais
importantes para que ocorra a fermentação da silagem, pois é por meio
da ausência de oxigênio que as bactérias láticas iniciam seu
desenvolvimento. Deve ser lembrado que o fechamento do silo ocorre
quando o silo tem todo seu volume preenchido por forragem, entretanto
é importante ressaltar que a etapa de vedação se estende por todo
período em que a silagem está armazenada no silo. Dessa forma,
observações constantes no silo devem ser realizadas para verificar

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 79
presença de furos na lona ou de qualquer outra ocorrência no local.
Caso algum dano seja observado na lona, o reparo deve ser realizado
imediatamente.
O uso de terra, areia ou cascalho sobre a superfície da lona
aumenta a adesão com a massa e diminui a incidência de raios solares
e as trocas gasosas com o ambiente. Porém, pode representar grande
demanda de mão-de-obra, seja durante a vedação ou na retirada da
silagem, principalmente quando o silo é de grande porte.
Por outro lado, quando materiais extras não são adicionados na
cobertura, a lona passa a assumir uma contribuição mais expressiva na
etapa de vedação do silo, objetivando a redução da penetração de ar
do ambiente externo para o interior da massa ensilada.
Os filmes de polietileno utilizados na cobertura de silos apresen-
tam permeabilidade ao oxigênio, que aumenta notavelmente com a
elevação da temperatura ambiental (0, 1999). Isto significa que as
silagens podem se tornar mais propensas à deterioração aeróbia, devido
ao aumento da permeabilidade das lonas, com o consequente
movimento gasoso devido à diferença de temperatura e pressão.
Segundo as normas da American Society for Testing and Materials
Standards (AMST D3985-81), com a elevação da temperatura de 23 para
50°C, a permeabilidade ao ar dos filmes plásticos aumenta de 3 a 5
vezes. Na escolha da lona é preferível optar pela cor branca, pois filmes
de outras cores, especialmente os escuros, aumentam a permeabilidade
ao O2 pela característica de absorver calor.
Mais recentemente, filmes confeccionados de poliamida ou
etileno vinil álcool (EVOH) foram desenvolvidos para aplicação no topo
de silagens. Estes filmes foram denominados filme de barreira ao
oxigênio. Amaral et al. (2011) ao estudarem diferentes tipos de lona de
polietileno no Brasil encontraram que a permeabilidade da lona de
polietileno ao oxigênio pode chegar a mais de 1.000 cm3 por metro
quadrado de lona por dia. Porém, ao usar um filme de barreira ao
oxigênio, houve significativa redução da permeabilidade ao oxigênio
para cerca de 208 cm3/m2/dia. Bernardes et al. (2009) mostraram taxas

808 0 Fábio Jacobs Dias et al.


de permeabilidade ao oxigênio diferentes entres filmes plásticos
produzidos com diferentes polímeros. Os autores verificaram que o filme
coextruzado de polietileno com poliamida apresentou valor de 75 cm3
de O2/m2/dia contra 722 cm3 de O2/m2/dia para o filme de polietileno.
Para os filmes confeccionados com etileno vinil álcool (EVOH), os
valores de permeabilidade reportados variam de 3 a 5 cm3 de O2/m2/
dia, que desempenham importante redução nas perdas de matéria seca
na porção superior do silo.
O uso da barreira ao oxigênio, por impedir desenvolvimento de
microrganismos aeróbio deterioradores, permite que o topo do silo não
apresente camada negra ou quando pressente é muito reduzida. Evitar
a formação dessa camada é importante pois haverá redução das perdas
de matéria seca, do aumento no trabalho para retirá-las e, além disso,
nessa massa não há presença de nutrientes, nem a probabilidade de
estarem contaminadas com micotoxinas. Geralmente, a regra
estabelecida é de que para a formação de 1 cm de camada preta, foram
necessários 3 cm de uma camada de forragem inicial.
É recomendado o uso de lonas na parede do silo dispostas de
forma que na porção mais alta do silo (silos trincheiras) haja ainda um
sobressalente de lona para cada lado (1 a 2 m). Após o término da
ensilagem, o envelopamento deve ser realizado trazendo para dentro
do silo estas bordas de lonas das laterais. A ordem de envelopamento
variará conforme o tipo de material a ser usado na cobertura. Se a
barreira ao oxigênio for usada, ela deve ser a primeira usada em contato
íntimo com a massa ensilada, seguida do envelopamento lateral e,
posteriormente, a cobertura com lona dupla-face. Essa estratégia visa
impedir que a água das chuvas ingresse o silo pelas paredes, além da
água que percorre o silo por cima.
Além disso, durante o armazenamento, com a ocorrência das
perdas fermentativas, o volume de silagem armazenado tende a reduzir,
devido as perdas gasosas. Caso o silo tenha sido envelopado, a lona que
envolve a massa se deslocará juntamente toda a quantidade de lona se
desloca juntamente com a massa de silagem, evitando que as lonas
rasguem ou que espaços porosos sejam criados entre a lona e a silagem.

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 81
Para silos compridos, como seu fechamento leva vários dias,
recomenda-se a vedação em faixas transversais, dessa forma, o
estabelecimento da anaerobiose se inicia mais rapidamente.
A vedação das bordas do silo pode ser realizada utilizando-se
terra ou sacos de nylon (gravelbags) com proteção ultravioleta. O uso
desta opção tem como vantagens a possibilidade de reutilização destes
sacos de nylon, a facilidade de manejar os plásticos de cobertura, sem
necessidade de rasgá-los.

2.8 Manejo pós-abertura do silo e o uso da silagem


Após abertura, a face frontal do silo está exposta ao O2. A partir
deste evento, o principal fator que determina a estabilidade da silagem
(anaerobiose) é perdido e a massa se torna potencialmente instável. O
influxo do O2 na face do silo é influenciado pela densidade alcançada
durante a fase de enchimento. Assim, nas regiões mais porosas ou
menos compactadas da massa (áreas periféricas) os riscos de deterio-
ração aeróbia aumentam consideravelmente.
O processo de deterioração aeróbia é originado pela atividade
de microrganismos aeróbios. Desse modo, as perdas durante o
desabastecimento do silo e fornecimento da silagem também serão
influenciadas pela disponibilidade de nutrientes, pela temperatura
ambiental e pelo tempo de exposição da silagem ao O2.
Teoricamente, a rota fermentativa mais desejável durante a
conservação da forragem na forma de silagem é a do tipo homolática
(conversão de uma molécula de glicose em duas moléculas de ácido
lático), pois não propicia perdas de MS ou de energia, o que pode resultar
em maior consumo de silagem pelos animais. Entretanto, o perfil de
fermentação desejável nem sempre evita as perdas após a abertura
dos silos, ou em alguns casos pode aumentá-las. A alta concentração e
predominância de ácido lático em silagens, necessariamente, não
representam efeito positivo na estabilidade aeróbia. Silagens
adequadamente fermentadas, com altas concentrações de ácido lático
e açúcares remanescentes, são mais afetadas pela deterioração aeróbia.

828 2 Fábio Jacobs Dias et al.


Isto ocorre porque os fungos, algumas espécies de leveduras e de
bactérias que são responsáveis pela deterioração aeróbia se aproveitam
exatamente do lactato da silagem (PAHLOW et al., 2003) para seus
metabolismos. Além disso, ao promoverem fermentação lática, as
bactérias homoláticas diminuem a concentração de ácido acético, um
inibidor natural de fungos e leveduras. Por isso que os novos inoculantes
procuram combinar bactérias capazes de inibir fungos e leveduras, como
por exemplo, a combinação do Lentilactobacillus buchneri e
Lentilactobacillus hilgardii.
Assim, a estratégia de restringir a formação de ácido acético
aumenta os riscos de silagens serem instáveis durante a aerobiose. A
habilidade em se estimar os riscos de deterioração aeróbia, de acordo
com o perfil de fermentação, ainda é incerta. Porém, além de todos os
cuidados relacionados com o manejo, a maior chance em obter sucesso
na ensilagem está na premissa de que as silagens devem conter ácido
acético em associação ao ácido lático.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A gestão do processo de ensilagem com base em diferentes
indicadores de eficiência pode auxiliar n a melhoria da qualidade da
silagem e a redução das perdas encontrados ao longo de todo processo.
Investir no conhecimento do S do silo pode trazer saídas para maximi-
zação do uso da silagem, bem como na propriedade se estabelecer
novos indicadores locais para a orientação da obtenção da excelência
em produção de silagens.

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ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 85
CONSERVAÇÃO DE
FORRAGENS EM
PEQUENAS
PROPRIEDADES LEITEIRAS
Patrick Schmidt1
Daniel Junges2

¹ Zootecnista, Dr. - Professor - Universidade Federal do Paraná (patricks@ufpr.br)


2
Zootecnista, Dr. - Consultor Técnico em Ruminantes (daniel.junges@agroceres.com)

868 6 Fábio Jacobs Dias et al.


1 INTRODUÇÃO
A conservação de forragens é uma prática usual na quase
totalidade das propriedades pecuárias, em diferentes formas (silagem,
capineira, feno, feno em pé), estratégias (suplementação parcial ou
total dos volumosos) e quantidades (pouco ou muito tempo de cocho).
Embora as motivações para realização da conservação das forragens
sejam amplas e variáveis, as recomendações técnicas para garantir
qualidade e viabilidade ao processo são semelhantes.
O Brasil é referência mundial em pesquisa e desenvolvimento
de tecnologias sobre conservação de forragens, principalmente os
temas associados à ensilagem. Contudo, a maior parte do conhecimento
visa aplicação em propriedades bem estruturadas e capitalizadas, sendo
menores os esforços da pesquisa para adaptação de tecnologias que
atendam as pequenas propriedades.
Essa revisão está escrita em linguagem técnica simples, e é
direcionada a produtores rurais, estudantes e extensionistas, com foco
maior na produção de silagens. Nós estimulamos um maior aprofun-
damento científico no assunto, e recomendamos que façam a leitura
de materiais complementares, artigos científicos e livros com maior
detalhamento dos pontos que discutiremos aqui.

2 CARACTERIZAÇÃO DOS PROBLEMAS


Podemos começar falando de uma coisa que muita gente
conhece e aprecia: Cerveja! A fabricação industrial exige um rigoroso
controle de todos processos, para assegurar o padrão de qualidade da
cerveja destinada ao consumo humano. Instalações complexas e
caríssimas são necessárias e, nem sempre, o produto final é satisfatório
como gostaríamos. Por outro lado, a produção caseira de cerveja arte-
sanal tem crescido muito no Brasil, permitindo a degustação de novos
sabores e aromas usando equipamentos simples e adaptados, e com
resultados muitas vezes surpreendentemente bons!
Mas o que tem a ver cerveja e silagem? Ambos são alimentos
fermentados, que exigem cuidados higiênicos rigorosos, e que

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 87
facilmente se estragam em presença do ar. Você beberia um copo de
cerveja que ficou esquecido em cima de uma mesa, exposto ao
ambiente, por uma semana? Pois é, o mesmo vale para a silagem que
suas vacas comem!

O ar é o maior inimigo...
A silagem é o resultado de diversas transformações bioquímicas
que ocorrem na forragem, com envolvimento de centenas, ou talvez
milhares, de espécies de microrganismos, num processo chamado
fermentação. Para que isso ocorra de forma desejável, várias condições
devem ser atendidas, sendo as três principais:
i) Presença de umidade (não excessiva) na forragem – as
bactérias precisam de alguma umidade para crescerem e fermentarem
a silagem. Fermentações adequadas podem ocorrer numa faixa ampla,
que vai de 35 a 73% de umidade na forragem.
ii) Presença de carboidratos fermentescíveis (CHO) – os CHO
servem de alimento para os microrganismos, que excretam ácidos que
se acumulam na forragem. São esses ácidos que deixam a silagem
“azeda” e que permitem a conservação.
iii) Ausência de oxigênio (O2) – o O2 presente no ar é, certamente,
o maior “inimigo” da silagem, tanto durante a fermentação, quanto no
uso da silagem após a abertura do silo. Em presença de ar, os
microrganismos fazem a respiração, que leva a perda de nutrientes e
qualidade da silagem. Usar estratégias que reduzam os danos aeróbios
é o maior desafio nas pequenas e nas grandes propriedades.

Silagens podem ser feitas com diferentes materiais, desde que


os três pontos acima sejam atendidos. Milho, sorgo, capins, cana-de-
açúcar, soja, resíduos de abacaxi, banana, palmito, entre muitos outros,
são exemplos de vegetais que podem ser ensilados. Cada planta tem
características específicas que devem ser consideradas (muita ou pouca
umidade, CHO alto ou baixo, etc), e que em alguns casos devem ser

888 8 Fábio Jacobs Dias et al.


corrigidas. Mas, no geral, os cuidados para se conseguir uma boa silagem
são os mesmos.
Vamos descrever aqui os principais desafios enfrentados nas
pequenas propriedades, e que exigem acompanhamento mais próximo
dos técnicos e produtores, para serem superados.

2.1 Dificuldades com maquinários


Diversos maquinários são usados no processo de ensilagem:
tratores para colheita, carregamento e compactação; picadoras; carretas;
conchas para a retirada da silagem; etc. Em geral, as pequenas proprie-
dades não dispõem desses equipamentos em quantidade suficiente.
Muitas vezes dependem de empréstimo ou aluguel, o que pode atrasar
a ensilagem e comprometer a qualidade. Algumas das etapas mecani-
zadas podem ser realizadas manualmente ou por animais (transporte,
compactação) e com bons resultados, se realizadas da forma correta.
RECOMENDAÇÃO: planejamento é fundamental. Saber quais
recursos estarão disponíveis, por quanto tempo, e o que fazer se algum
deles falhar, ajudará na tomada mais rápida de decisão. O mesmo vale
para a organização e treinamento da mão-de-obra envolvida em todo o
processo.

2.2 Picagem e compactação ruim


A picagem possui grande influência na compactação da forragem
a ser ensilada. Partículas de menor tamanho (abaixo de 10 milímetros)
facilitam a compactação e permitem maior expulsão de ar, resultando
em melhor qualidade na fermentação. A eficiência da compactação
depende da picagem bem feita e uniforme, por isso esse ponto merece
destaque. Compactação bem feita permite atingir 600 a 700 kg de
forragem por metro cúbico. A compactação pode ser realizada com trator,
ou por pessoas (ou animais) pisando a forragem, em camadas finas. A
compactação com os pés, embora demande muitas pessoas, pode
apresentar resultados até melhores que os conseguidos com tratores!

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 89
Além da compactação, a uniformidade de picagem também
influencia o consumo e a saúde do rúmen, o que reflete na composição
de sólidos do leite (principalmente gordura). Picagens muito grosseiras
ou longas, além de dificultar a compactação, promovem seleção pelos
animais no cocho, ou seja, eles rejeitam frações muito longas da
forragem e consomem mais as partículas menores. Isso leva ao
desbalanço nutricional, acarretando desordens metabólicas e perdas
de produção. Esse problema é agravado em vacas de alta produção e
confinadas.
Para se obter picagem homogênea é fundamental usar uma
picadora bem regulada e com facas afiadas. A manutenção periódica,
com ajustes da contrafaca e afiação diária das facas da colhedora é
fundamental. Também é importante saber o ponto ideal de corte da
planta que será colhida, pois cada forrageira possui o seu momento
adequado para corte, em função do objetivo desejado para uso do
volumoso. Se estiver colhendo plantas graníferas (milho, sorgo, etc) é
importante verificar se os grãos também estão sendo picados, o que
ajuda muito a melhorar o aproveitamento do amido (fonte de energia).
RECOMENDAÇÃO: entenda que a picagem uniforme é
fundamental para se obter silagem de qualidade, e que a picagem mal
feita vai refletir em prejuízos durante toda a utilização da silagem. Em
geral podemos afirmar que quanto mais picado, melhor! E o mesmo
vale para a compactação. Mesmo se estiver usando maquinário de
terceiros, não deixe de monitorar a todo tempo como está a picagem.
Se as partículas estiverem longas (3 cm ou mais), desiguais, esgarçadas,
e com grãos inteiros, vale a pena parar a colheita e proceder os ajustes
necessários no maquinário. Mais uma vez, o planejamento para saber
como proceder se algo estiver dando errado, é fundamental.

2.3 Vedação deficiente


A vedação é a etapa final do processo de ensilagem, e visa inibir
ao máximo a entrada de oxigênio para dentro do silo (lembre-se de
quem é o maior inimigo). Portanto, a lona deve ter boa qualidade, não

909 0 Fábio Jacobs Dias et al.


apresentar furos, e resistir aos efeitos do sol e do ambiente.
O uso de uma boa lona plástica é fundamental para o sucesso
da confecção da silagem. Lonas de dupla-face, específicas para a
silagem, e com espessura de 150 a 250 “micras” são as mais
recomendadas. Lonas pretas comuns, desde que de boa qualidade, têm
menor custo e podem ser usadas. Contudo, nesse caso é obrigatório
que se faça a cobertura de todo o silo com uma generosa camada de
terra ou palhada (20 cm ou mais), sempre tomando muito cuidado para
evitar furar na lona. Isso é necessário porque as lonas comuns absorvem
muito calor, são mais permeáveis a entrada do oxigênio, e se degradam
após alguns tempo quando expostas ao sol. A cautela é necessária
pois, muitas vezes, o barato sai caro.
Além da lona plástica, o enterro das bordas da lona é parte
importante da correta vedação. Todas as bordas do silo devem ser
enterradas com uma camada espessa de solo. Muito cuidado para evitar
furos nessa etapa! Um silo bem vedado irá inflar nos primeiros dias
após o fechamento, indicando que o gás produzido não está encontrando
espaço para sair. E, portanto, o ar também não entrará no silo. E não se
preocupe, esse gás não fará mal à silagem e será absorvido em algumas
semanas (Figura 1).

Figura 1. Camada e 80 cm de terra sobre a borda da lona; e lona "estufada"


indicando vedação excelente.

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 91
Depois do silo pronto, bem compactado e bem vedado, é neces-
sário proteger todo seu entorno, cercando para impedir a entrada de
animais (cachorro, galinha, bovinos, tatu, etc.). Esses animais frequen-
temente causam danos na lona e muitos prejuízos aos produtores.
RECOMENDAÇÃO: procure sempre usar uma lona nova, e de boa
qualidade. Sempre que possível faça a cobertura do silo com terra. Dá
mais trabalho, mas vale muito a pena! Usar lona ruim ou lona furada é
a certeza de que o resultado será ruim. Compras em grupo podem ajudar
a reduzir o preço das lonas. Por fim, estabelecer uma rotina de verifi-
cação dos silos. Assim que for detectado qualquer tipo de furo ou rasgo
na lona, deve ser tampado imediatamente com fita adesiva forte, ou
colado um remendo, com cola de contato (cola de sapateiro).

2.4 Pequeno consumo diário


Esse é, certamente, o problema mais comum verificado em
pequenas propriedades, e que leva a perdas enormes de silagem!
Quando o silo é aberto, a silagem volta a ter contato com o ar (sim, ele
mesmo!), iniciando uma nova fase de respiração que leva a perda dos
nutrientes conservados. Em geral, leva-se de dois a três dias para a
silagem exposta ao ar começar a se deteriorar. É aí que vem o problema:
muitas vezes, a taxa de retirada diária da silagem (consumo) é menor
do que a velocidade de entrada de ar no silo. Assim, o ar vai ocupando
os poros do silo, e populações de microrganismos aeróbios oportunistas
vão se estabelecendo na silagem. E quanto menor for a compactação,
maior é a velocidade de entrada do ar!
O sintoma inicial de degradação da silagem é o aquecimento,
facilmente perceptível ao tocar a silagem. Na sequência, o cheiro da
silagem muda, desaparecendo os ácidos perceptíveis, e aumentando a
presença de odores desagradáveis. Nesse momento, muitos dos
nutrientes já foram perdidos. Os mofos (fungos filamentosos) são os
últimos microrganismos a aparecer, após pelo menos uma semana de
contato com o ar. Quando os mofos aparecem, o estrago já está feito, e
não há muito o que fazer além de descartar a silagem estragada. A
compostagem e a horta agradecem...

929 2 Fábio Jacobs Dias et al.


A grande ironia é que, quanto melhor e mais bem feita for a
silagem, mais propensa ela estará a estragar, se a taxa de retirada for
pequena. Como evitar esse problema, então? Dimensionando
corretamente o silo! Aqui, mais do que nunca, o planejamento é
fundamental para se evitar erros grosseiros no manejo do silo.
Diversos tipos de silo podem ser usados: tipo torre, superfície,
trincheira, fardo, bolsa, “rapadura”, tambores, dentre outros. Cada um
tem características que devem ser consideradas na hora de fazer a
escolha: custos, facilidade de enchimento e retirada, resistência,
facilidade de compactação, etc. Para se proceder o dimensionamento,
é fundamental saber que, quanto pior for a compactação, maior precisa
ser a fatia retirada diariamente (Figura 2), sendo o mínimo recomendado
entre 20 e 30 cm por dia. E aqui é que surge um dilema comum nas
pequenas propriedades: Um silo dimensionado corretamente pode não
ser grande o suficiente para ser compactado com trator! Nesse material
não discutiremos sobre como dimensionar os silos; a internet dispõe
de vasto material para consulta. Mas reforçamos: planejar para manter
uma camada mínima diária espessa é fundamental para reduzir perdas
no painel.

Figura 2. Perdas de matéria seca (MS) esperadas em função da taxa de


retirada da silagem, para diferentes densidades.

Fonte: Adaptado de Holmes (2009).

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 93
Em nossa experiência como consultores, inúmeras vezes nos
deparamos com silos mal dimensionados em pequenas propriedades.
Na tentativa de melhorar e mecanizar o processo, o produtor investe na
compactação com o trator, mas o menor silo que ele consegue fazer é
maior que sua necessidade diária de silagem. Os resultados são perdas
altíssimas da silagem produzida. Mas como fazer, então?
RECOMENDAÇÃO: 1. Dimensione seu silo (área de painel) para
o período de menor consumo no ano. 2. Silos com paredes (trincheira,
por exemplo) são sempre melhores. 3. Se for preciso faça dois ou mais
silos pequenos (ao invés de um grande). 4. Evite fazer silos baixos e
largos, onde a área de contato com a lona e com o chão representa
grande parte do material (por exemplo um silo de 4x0,5m de área de
painel). 5. Se o tamanho de área não permitir compactação com o trator
(por exemplo um silo de 2x1m de painel), pense em organizar uma equipe
para compactar com os pés. É trabalhoso, mas não é tão difícil como
alguns podem pensar. 6. Sacos plásticos resistentes e tambores plásticos
podem ser uma ótima alternativa quando o consumo da forragem se dá
em períodos e quantidades variáveis. Se bem vedados, preservarão a
silagem por muito tempo.

3 SEGREDOS DO SUCESSO
Compreender como o processo de ensilagem ocorre é funda-
mental para adaptar as tecnologias, e cuidar de todas as etapas.
Sabendo quais são os problemas mais comuns em pequenas proprie-
dades, é possível se precaver e trabalhar para evitá-los.
A seguir, abordaremos brevemente o que chamamos de “Os 10
segredos do sucesso” para a produção de silagem de qualidade. Cada
um desses pontos deve ser observado e pensado com cuidado,
considerando a realidade da propriedade, e aplicados à produção. Não
falaremos aqui sobre “tipos de silos” nem “dimensionamento de silos”,
pois ambos dependem do planejamento prévio de cada propriedade.
Os conceitos abaixo se aplicam à execução do processo, em todos os
tipos de silos e escalas de produção.

949 4 Fábio Jacobs Dias et al.


3.1 Produzir uma boa cultura, saudável e produtiva
Para obter a eficiência desejada nos processos de produção da
silagem (alto valor nutritivo e retorno econômico) é fundamental
conduzir a cultura forrageira com o máximo cuidado, atendendo os tratos
culturais agronômicos específicos. A silagem nunca será melhor que a
forragem colocada no silo. E a maior parte dos custos (combustível,
mão-de-obra, lona, salários, etc.) será a mesma, se a forragem for muito
boa, ou muito ruim. Pense nisso!

3.2 Colher no ponto certo e corrigir umidade (se for preciso)


Cada cultura possui seu momento ideal e ponto ótimo de colheita.
Conhecer isso é fundamental. Se por algum motivo isso não for atingido,
o uso de recursos externos é possível, como introduzir umidade (adicionar
água ao sistema), ou desidratar parcialmente forragens muito úmidas
(pré-secagem). Entenda suas forragens, estude sobre elas, e tome as
decisões certas no momento certo!

3.3 Picar fino, homogêneo, e quebrar os grãos


Picagem grosseira atrapalha a compactação, o processo fermen-
tativo e, o que é pior, reduz o consumo dos animais, que precisarão
ruminar mais para reduzir o tamanho das fibras. Além disso, os rumi-
nantes procuram comer as partículas menores, desbalanceando a dieta
formulada e gerando desordens metabólicas. Picagem bem feita é
obrigatória! E o mais importante: quando os grãos de cereis estão
valendo ouro, perder amido não digerido nas fezes dos animais significa
jogar dinheiro fora. Quebrar os grãos (de milho, sorgo, etc) é funda-
mental para aproveitar a energia ali contida. Para tudo isso, planeja-
mento, maquinário correto e boa manutenção são o caminho.

3.4 Compactar “com força”


Quanto tempo devo compactar? O máximo possível!! A
compactação bem feita ajuda a expulsar o ar na fase inicial, e reduz a

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 95
penetração do ar após abertura do silo. Portanto, quanto mais
compactado, melhor. Invista tempo, peso e força nessa fase.

3.5 Usar uma boa lona


Já falamos sobre a lona, mas vale reforçar. A lona representa
uma fração pequena do custo total da silagem. Não economize recursos
aqui. Uma lona boa ajuda a garantir que a sua poupança (silagem
preservada com qualidade) esteja disponível para quando precisar. E
proteja a lona do sol (terra, palhada, ou até uma outra lona velha) sempre
que possível. Se o silo apresenta aquela camada preta na parte superior,
de material apodrecido, isso indica falha de vedação que poderia ter
sido evitada... e perda de $$.

3.6 Fechar rápido o silo


Quanto antes o silo ficar pronto, melhor! O ideal é começar e
finalizar o trabalho no mesmo dia. Isso porquê enquanto o silo não for
vedado, o ar (sempre ele!) continua permitindo a perda de nutrientes
pela respiração (de microrganismos e das células da planta que foi
picada. Por isso, quando se pensa em qualidade da forragem, vale mais
a pena fazer vários silos menores, do que um único silo grande.

3.7 Enterrar as bordas


Essa é a última etapa do processo. E já deu para perceber que
fazer silagem dá muito trabalho. Mas não se pode descuidar do finalzinho
do processo, e colocar em risco todo o trabalho feito até aqui. Uma
generosa camada de terra cobrindo toda a borda da lona garante que
nem o ar e nem a água da chuva entrem para dentro do silo.

3.8 Proteger o silo


Depois de tantos esforços e investimentos, é preciso cuidar bem
da silagem produzida. Proteger o silo do acesso dos animais de

969 6 Fábio Jacobs Dias et al.


produção e silvestres pode evitar grandes problemas. Muitas vezes esses
danos só são percebidos na abertura do silo, porém já é tarde para
minimizar o estrago. Vigie sua silagem como um grande tesouro, afinal,
ela é isso.

3.9 Retirada uniforme


Após a silagem pronta, chega a hora de abrir o silo e começar a
utilizá-lo. Não existe consenso sobre o tempo mínimo para abrir um
silo, mas nossa experiência mostra que é recomendável aguardar um
mês, no mínimo. E como já foi dito, o bom manejo do painel do silo
depende do correto planejamento e dimensionamento, para retirar
camadas de 20 cm ou mais. Retirar camadas diárias uniformes de todo
o painel do silo, como fatias de um pão de forma, assegura menor tempo
e superfície de exposição ao ar, evitando-se aquecimento da silagem e
perda de nutrientes.

3.10 Balancear corretamente as rações


Para que o animal possa aproveitar ao máximo os nutrientes de
uma silagem bem feita, e da forma mais econômica possível, faz
necessário o balanceamento das rações. Isso permite ajustar o consumo
do volumoso e dos concentrados (“rações”), evitar o excesso ou falta
de nutrientes, e maximizar a produção dos animais. O correto
balanceamento depende de inúmeras variáveis, e de um cenário
financeiro dinâmico, onde os custos dos alimentos e o valor do produto
animal (leite ou carne) oscilam muito. Por isso, a consulta a um
nutricionista animal contribui demais para usar corretamente e extrair
ao máximo o que sua silagem pode oferecer.
Crie o hábito de fazer bem-feito desde o início, isso vai significar
constância no seu negócio, otimização de recursos e satisfação para
você e, sem dúvida, para os seus animais. Capricho é a palavra que
define a eficiência na produção de silagens.

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 97
4 OUTRAS ALTERNATIVAS
Outras formas de conservação de forragens também são possíveis.
Aqui falaremos brevemente sobre duas. Recomendamos que aqueles que
tiverem afinidade ou quiserem saber mais sobre essas técnicas, busquem
conhecimento específico para utilizá-las da melhor forma.

4.1 Fenação
A produção de feno é uma técnica muito antiga de preservação
de forragens por desidratação. A retirada da água de uma planta impede
o crescimento de microrganismos deterioradores, mantendo-a
conservada por longo período. A fenação é uma estratégia que pode
ser usada com qualquer forragem, embora as plantas de hastes finas e
muitas folhas (capins) sejam as mais indicadas. As gramíneas do gênero
Cynodon (Tifton 85; Coast-cross; Estrela africana, Jiggs, etc.) estão entre
as mais recomendadas para produção de feno, por apresentarem “talos
finos”, conferindo rápida perda de água pela planta, boa relação folha-
caule (garante bom valor nutricional), boa produção de massa seca por
hectare (rende bom volume) e boa persistência e tolerância a cortes
frequentes.
Estamos acostumados a ver grandes implementos na atividade
de produção de feno, porém, a prática pode ser realizada de forma
manual (alfange, foice, roçadeira costal) ou mecânica (segadeiras disco
ou barras). Em escala menor, é possível produzir feno de forma
totalmente manual, dependendo da mão de obra.
O corte da forragem é realizado em seu estágio de elevada
concentração de nutrientes, com muitas folhas verdes que facilitam a
secagem. Basicamente as etapas de fenação são: corte; desidratação
da forragem no campo, reviragens e enleiramento até atingir o ponto
de feno (14% de umidade), e enfardamento ou transporte do material
solto para armazenamento em local adequado.
O corte de gramíneas preferencialmente deve ocorrer antes da
floração, pois após esse momento, a qualidade diminui bastante. De

989 8 Fábio Jacobs Dias et al.


modo geral folhas perdem água mais rápido que caules/talos. Quando
a umidade chega a valore próximos a 15% de umidade, atinge-se o
ponto de recolhimento do feno. De uma forma prática, o ponto pode ser
verificado no campo torcendo um maço do feno. Se não sair líquido e
nem quebrar, é o ponto ideal para armazenar. O feno pode ser
armazenado em galpões, sacos ou mesmo no campo, porém coberto
com lona plástica.
Observar as condições meteorológicas é fundamental para o
sucesso do processo. O ideal são os dias ensolarados, sem nuvens,
com vento e baixa umidade relativa do ar, garantindo a confecção do
feno em 1 a 3 dias.
RECOMENDAÇÃO: 1. Produzir feno em solos de boa fertilidade.
2. Adubar a área (fertilizantes químicos e/ou orgânicos) para buscar
volume de produção aliado com qualidade nutricional. 3. Realizar
manutenção da área e remoção de plantas indesejadas/daninhas, pois
essas apresentam tempos de secagem diferentes da planta forrageira
pretendida para fazer feno, além de competir por área e nutrientes.
Também pode haver plantas tóxicas. 4. Fazer a colheita no ponto de
maior valor nutricional da planta. 5. Observar as condições climáticas
e planejar o uso dos equipamentos e mão de obra disponível 6. Revirar
de duas a três vezes todo o capim cortado, no primeiro dia. 7. Recolher
com umidade ideal e armazenar em local seco e arejado.

4.2 Capineiras
O uso das chamadas “capineiras” é a técnica mais simples para
preservar forragem para uso posterior. Capineiras são áreas de produção
de forragem onde os animais não tem acesso, e a planta forrageira é
colhida de forma manual ou mecânica, para fornecimento aos animais
no cocho, após a picagem. Nesse caso, a planta é conservada viva,
para uso na época de seca ou sempre que houver necessidade de
alimento volumoso.
Tradicionalmente, as espécies mais utilizadas nesse sistema são
os capins do grupo “elefante” e a cana-de-açúcar, pois apresentam

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 99
alta produtividade de matéria seca (MS) e bom valor nutritivo (VN) no
momento do corte. A cana-de-açúcar apresenta comportamento
diferenciado das demais gramíneas de clima tropical, devido ao acúmulo
de sacarose no período seco, o que acarreta elevação no valor nutritivo
dessa planta, associada à elevação na produtividade de MS, com o
avanço da idade ao corte.
O manejo das áreas de capineiras tem por objetivo proporcionar
alta produtividade e oferecer longevidade ao talhão, o que dilui os custos
iniciais de formação. Para isso, você deve cuidar da adubação, controle
de invasoras e pragas. Os cuidados com bom preparo do solo e plantio
devem ser idênticos aos adotados na agricultura, garantindo assim bom
desenvolvimento da forrageira.
Quando fornecidas para suplementação em pastagens, sem
adição de concentrados, proporcionam apenas manutenção no peso
dos animais ou produção mínima de leite, porém reduzem o prejuízo
causado pela escassez de pastagem. Quando a cana ou o capim elefante
são corrigidos com ingredientes concentrados promovem bons índices
de desempenho. Quanto melhor for o balanceamento de nutrientes e a
relação volumoso:concentrado adotada, melhor será o desempenho.
Em termos gerais, esses volumosos usados no período de seca
apresentam reduzido teor de proteína, sendo esse o nutriente mais
limitante. A correção pode ser realizada usando-se ureia juntamente
com fontes vegetais de proteína, como farelos, tortas ou resíduos
agrícolas. O correto balanceamento de rações contendo essas forragens
é determinante do sucesso no uso de capineiras.

5 IMPLICAÇÕES
Planejamento é fundamental para o sucesso da atividade de
conservação de forragens. E um bom planejamento depende do
conhecimento de todo o processo. A aplicação prática do planejamento,

100
100 Fábio Jacobs Dias et al.
por sua vez, exige cuidados, atenção, dedicação e tomadas rápidas de
decisão. Seguindo esses passos, pequenas propriedades podem fazer
silagens tão boas ou até melhores que grandes propriedades altamente
mecanizadas.

6 MATERIAL COMPLEMENTAR
Para saber mais, sugerimos a série “SilagemBR” - Podcast e Canal no
YouTube - https://www.youtube.com/channel/UC-
aqc6K0K1tHTMbaoqJ4EFA

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 101
BOAS PRÁTICAS NA
ENSILAGEM DE MILHO -
DA COLHEITA AO
DESCARREGAMENTO

XXXXXXXXXXXXX
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

¹ Zootecnista, Dr. - Professor - Universidade Federal do Paraná (patricks@ufpr.br)


2
Zootecnista, Dr. - Consultor Técnico em Ruminantes (daniel.junges@agroceres.com)

102
102 Fábio Jacobs Dias et al.
INTRODUÇÃO

Todo pecuarista sabe que uma forragem de qualidade é impor-


tante para uma boa alimentação dos seus animais, tendo como
consequência uma boa produção de leite e carne. A qualidade da for-
rageira, e consequentemente da silagem, pode ser influenciada por
diversos fatores, entre eles híbrido/variedade, densidade de plantio,
fertilidade do solo e adubação, tratos culturais (controle de ervas
daninhas e doenças), clima etc.
Neste texto daremos ênfase em boas práticas a serem realizadas
pelo produtor e sua equipe para conservar a forragem da melhor forma
possível, com o mínimo de perdas de volume e qualidade. Descrevemos
vários manejos a serem adotados antes, durante e depois da confecção
da silagem. A maioria destas boas práticas podem ser usadas também
para a conservação de outras culturas na forma de silagem.

Antes de iniciar a silagem


Antes de realizar o corte da silagem propriamente dito é neces-
sário observar diversos itens para que a operação ocorra de forma mais
rápida e com o menor número de imprevistos possíveis, quanto mais
rápida e bem-feita a operação de ensilagem, melhor ficará sua
qualidade. Observe os seguintes pontos:
• Faça a limpeza dos silos, retire toda a sujeira do piso e das
paredes (terra, silagens deterioradas, capim etc.);
• Arrume buracos e fissuras no piso;
• Se não tiver piso procure deixar o “chão” o mais plano possível;
• A preferência para localização dos silos é perto do local de
consumo da silagem. Normalmente é mais fácil concentrar o transporte
em alguns dias durante a ensilagem do que diariamente durante o
restante do ano. O controle da integridade da cobertura e de roubos
também é mais fácil com a silagem localizada perto da sede;

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 103
• Verifique os acessos da lavoura, o trajeto entre a lavoura e o
silo. Não é raro acontecer de equipamentos terem problemas de acesso,
isso acaba atrasando e encarecendo toda a operação. Verifique
estradas, portões etc.
• Verifique se o seu silo/s tem capacidade para absorver toda a
produção, tenha uma segunda opção de armazenamento se a sua lavoura
produzir mais que o esperado;
• Compre as lonas, películas, aditivos e materiais para cobertura;
• Se depender de terceiros, agende com os prestadores de serviço
com boa antecedência, verifique se eles têm boas referências no seu
trabalho. Não é fácil prever a data correta da ensilagem, mas é possível
se aproximar tendo a data de plantio e o ciclo da cultura para sua região;
• Se a propriedade realiza a ensilagem, revise sua ensiladeira.
Trocando, se necessário, as peças desgastadas. Verifique seus tratores,
carretas e caminhões;
• No caso de uso de aditivos na silagem, verifique com o pres-
tador de serviço a sua disponibilidade. Se a ensilagem for internalizada
na propriedade, verifique a melhor forma de realizar esse trabalho.
• Reúna sua equipe e mostre a importância de um trabalho bem
realizado, dias de ensilagem muitas vezes são bastante estressantes e
com risco de acidentes.

Definição do dia de iniciar a ensilagem


A definição de quando a planta está com o dia correto para iniciar
o corte é talvez o item mais importante para que o produtor consiga
uma excelente silagem, ela muitas vezes é negligenciada pelos produ-
tores, seja por desconhecimento, ansiedade por achar que vai passar
do ponto de ensilagem ou pela pressa de querer plantar uma outra
cultura logo após a colheita.
O “ponto de corte” ou de maturação ideal para início da colheita
do milho para ensilagem é normalmente definida pela matéria seca
(MS) da planta. Em alguns casos isso não é seguido, por exemplo quando

104
104 Fábio Jacobs Dias et al.
há grandes infestações de doenças ou mais comumente quando há
falta de silagem, nestes casos a colheita é antecipada. A colheita mais
tardia não é comum, acontece quando há problemas de alta incidência
de chuvas ou falta/problemas de equipamento.
Para uma boa fermentação e conservação da silagem de milho a
MS deve estar acima de 30% e abaixo de 39%, a recomendação há alguns
anos era manter entre 30 – 35%. Nos dias atuais, com a chegada de
equipamentos de melhor capacidade de picagem e quebra de grãos, o
alto custo do milho e tratores/carregadeiras mais pesados na compac-
tação, existe uma tendência que os técnicos e produtores migrem para
uma matéria seca das silagens mais alta (37 a 39% de MS). Esse
aumento na matéria seca está relacionado diretamente como o aumento
de amido na silagem (mais energia), podendo ter uma boa economia
de milho seco no desenvolvimento das dietas.
O acompanhamento e determinação da MS da planta começa a
ser realizada após 10 a 14 dias do fim da presença de milho verde na
lavoura.
O procedimento para determinar a matéria seca da planta:
1. Coleta-se algumas plantas (5 a 8) que representem bem a
lavoura (evite bordaduras e manchas de solo);
2. As plantas precisam ser picadas em pequenos pedaços (2-3
cm) em um moinho ou numa ensiladeira;
3. O material picado precisa ser secado, isso pode ser realizado
em estufa de laboratório, esse método é mais demorado. Existe um
equipamento chamado “Koster”, que é específico para determinar MS
de diversas forrageiras, é o mais indicado para esse fim e leva uma
hora para entregar o resultado. Existem alternativas como micro-ondas
e Air Fry que também entregam um bom resultado.
4. Normalmente se trabalha com 100 gramas de material “verde
picado”. A MS é a divisão do peso do material seco pelo peso do material
úmido X 100.

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 105
Quando não é possível realizar o acompanhamento da lavoura
através de equipamentos, podemos utilizar o método de observar a
“linha do leite” no grão de milho, essa linha é a divisão entre a parte
seca na extremidade do grão e a parte leitosa do grão perto da espiga.
Esse método se baseia no enchimento do grão de milho, o responsável
deve percorrer a lavoura e retirar várias espigas, tirar a palha e quebrá-
las ao meio, verificando onde está a linha do leite. A parte “dura” que
se forma de fora para dentro deve estar, portanto entre 2/3 e 3/4. Quando
se trabalha com equipamentos de baixo rendimento e a colheita dura
muitos dias, deve-se iniciar antes a colheita.

Tamanho das partículas na silagem de milho


O tamanho bom de partículas é entre 1 e 3 cm, mas o ideal é
seguir a metodologia das peneiras “Penn State”. Que definem o tamanho
e porcentagem ideal de cada fração da silagem.

Fonte: https://extension.psu.edu/penn-state-particle-separator

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106 Fábio Jacobs Dias et al.
Quando temos problemas na picagem, e temos partículas
grandes, temos os seguintes problemas:
• Reduz a capacidade de transporte;
• Deixa maior quantidade de oxigênio dentro da massa, dificul-
dade de compactação;
• Pode ocorrer menor quebra dos grãos, reduzindo a diges-
tibilidade;
• Maior seleção no cocho;
Em contrapartida, quando as partículas são muito finas, temos
os seguintes problemas:
• Reduz a efetividade física no rúmen;
• Queda de digestibilidade, devido à alta taxa de passagem pelo
rúmen;

Moagem dos grãos


A moagem dos grãos do milho é muito importante, quanto mais
moídos os grãos dentro da silagem, melhor, aumentando a digesti-
bilidade e consequentemente as produções. A avaliação mais usual de
eficiência de moagem é o Kernel Processing Score (KPS), realizado em
laboratório após a silagem pronta. Em alguns lugares os prestadores
de serviço possuem uma cobrança diferenciada pela qualidade desse
serviço prestado.

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 107
Como essa metodologia só pode ser empregada após a silagem
pronta, os ajustes só podem ser realizados na próxima safra. Pensando
em atender uma demanda imediata, foi criada uma metodologia
(Pioneer sementes) de avaliação durante a ensilagem.
Consiste em pegar uma amostra de 1 litro do material que está
sendo ensilado, despejá-la em uma superfície e procurar os grãos inteiros
e os quebrados no meio. O ideal é encontrar até 2 grãos ou meio grãos,
o aceitável é entre 2 e 4 e acima de 4 o equipamento deve ser revisado.
Esses valores podem ser encontrados com equipamentos auto-
propelidos, em equipamentos menores tracionados no trator é mais
difícil.

Altura de corte
A altura de corte está relacionada diretamente com a produção
total por área e a qualidade da silagem. Quanto mais alto o corte da
planta, mais colmo se deixa na lavoura (baixa qualidade), diminui a
quantidade produzida, mas aumenta a qualidade da silagem. Quando o
produtor tem bastante área de produção de milho, o aumento na altura
de corte deve ser avaliado junto com a sua assistência técnica, pois
pode melhorar a sua produção ou ainda economizar na compra de
concentrados.
Na ocasião do corte avalie a “sujeira” nos pés de milho, corte as
plantas acima da área contaminada, evitando a entrada de terra/areia
e de outros contaminantes dentro da silagem. Normalmente se usa
uma altura entre 20 e 30 cm.

Compactação da silagem
Assim como as outras etapas da ensilagem, esta precisa ser
realizada com bastante capricho, é nesta etapa que com movimentos
de tratores e/ou carregadeiras a massa da silagem é compactada da
melhor forma possível, retirando o máximo de ar de dentro do silo e
aumentando ao máximo a densidade do silo (meta é acima de 240 kg
de MS por M3).

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108 Fábio Jacobs Dias et al.
Quanto mais rápida a retirado do ar de dentro do silo, mais rápido
cessa a respiração da planta dentro do silo e menos nutrientes são
perdidos. O material que chega ao silo precisa ser espalhado por sobre
o silo em finas camadas de 15 a 20 cm antes de ser compactado.
Com o aumento da utilização de equipamentos com alto
rendimento no corte da silagem e consequentemente muita silagem
chegando aos silos, é preciso ajustar a compactação para esse volume.
Na prática, silos mais largos ou o enchimento de dois silos ao mesmo
tempo tem sido adotado, agilizando a compactação e o tempo de
descarregamento do material.
Use sempre tratores pesados para essa operação, uma sugestão
é que a soma do peso dos tratores seja de 30 a 40% do peso de toda a
silagem que entra no silo a cada hora. Por exemplo, se a cada hora
chegam 100 toneladas de silagem, preciso de 30 a 40 toneladas de
tratores/carregadeiras sobre o silo, compactando sem parar.
Quando se trabalha em silos tipo trincheira é importante
compactar a silagem em “U”, primeiro perto das paredes do silo e
depois mais para o meio. Evite encher o silo muito acima das paredes,
fica mais difícil a compactação e o risco de acidentes aumenta. Nos
silos tipo “pão ou aéreo” a compactação pode seguir no sentido do
comprimento maior do silo. É importante fazer a compactação das
laterais do silo quando houver intervalos e no final da ensilagem, se
for seguro, faça a compactação também no sentido mais curto do
silo.
Sempre que possível evite subir na silagem com as carretas e
caminhões de transporte, descarregue o material na frente do silo e
empurre o material para dentro do silo com uma pá carregadeira ou
com lâminas nos tratores, evitando contaminação de terra/barro etc.
Para uma boa compactação o silo precisa ser pelo menos 1,5 vezes
mais largo do que a bitola do equipamento de compactação, senão o
meio do silo não fica compactado.
Chegando ao final do corte da silagem ou com o enchimento do
silo, é a hora de fazer o acabamento. Deixe todo o silo abaulado, de

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 109
forma que após a vedação não se tenha acúmulo de água por sobre o
silo e que a lona fique o mais uniforme possível, faça uma última
compactação e o material está pronto para ser vedado.

Vedação da Silagem
A vedação da silagem é feita com lona plástica e películas de
quali-dade.
Há poucos anos utilizava-se apenas lonas na cobertura, hoje em
dia a utilização de películas ou barreiras de oxigênio também está cada
vez mais difundida. Estas películas quando bem utilizadas e de boa
qualidade previnem a perda de MS de silagem principalmente no primeiro
metro logo abaixo da lona, por isso são economicamente viáveis. Portan-
do, logo após o término da compactação, pode se optar ou não pela
película de oxigênio e depois uma lona plástica de qualidade com pelo
menos 200 micras. Quando a película não está disponível pode se utilizar
duas lonas, é menos eficiente, mas confere uma maior segurança para
o silo em relação a furos.
Após a colocação da lona de forma bem esticada, ela deve ser
fixada com uma boa quantidade de terra ou areia em todo seu
perímetro, para que em hipótese nenhuma tenha uma entrada de ar
dentro da silagem. O material que vai sobre a lona é um item bastante
discutido, o uso de terra é bastante difundido e parece ser o melhor,
tem uma distribuição bastante uniforme e é barato; suas desvantagens
são a utilização de bastante mão de obra e o cuidado para não
contaminar a silagem no descarregamento da silagem. Outros
materiais usados são pneus, serragem, bagaço de cana e sacos
específicos para esse fim.
Quando se faz uso de silo trincheira, pode-se usar lona nas
paredes, evitando ter infiltração de água ou ar na silagem. Alguns produ-
tores usam para isso lonas usadas que ainda estão em bom estado.
Após o enchimento do silo, as sobras que eventualmente ficaram são
“puxadas” para sobre o silo antes de colocar a lona que cobre a silagem
por completo.

110
110 Fábio Jacobs Dias et al.
É interessante fazer cercas em torno dos seus silos, evitando a
entrada de animais. Crie ainda uma rotina de observar o silo, verificando
se não tem buracos na lona, arrumando os o mais rápido possível.

Descarregamento da silagem (retirada)


As silagens em geral se estabilizam dentro do silo após 3 a 4
semanas, podendo começar a sua retirada e uso para os animais. Em
silagens com bastante amido, como é o caso da silagem de milho, a
digestibilidade do amido vai aumentando conforme o tempo de
armazenagem. O tempo ideal para a abertura é acima de 90 dias, che-
gando aos níveis ideais e estabilizando aos seis meses. A retirada de
silagem logo após a confecção não é indicada, faça-o apenas quando
não houver outras alternativas.
Quando se começa a retirar a silagem, tem se novamente o
contato da silagem com o oxigênio, ativando as leveduras e fungos que
ali estão. Quando não se tem os cuidados devidos, a silagem começa a
sofrer aquecimento, havendo perda de matéria seca e diminuindo a
palatabilidade. Para minimizar esses efeitos pode-se seguir as dicas
seguintes:
1. Retire primeiro as partes que estão menos compactadas, parte
superior e os lados normalmente (quando possível deixe essa silagem
para os animais menos produtivos, bezerras e novilhas, ela tem um va-
lor nutritivo mais baixo);
2. Retire apenas a quantidade de lona de cima do silo que for
necessária para o dia;
3. Evite deixar a lona sobre a parede do silo após o término da
retirada, alta umidade e temperatura são o clima ideal para fungos;
4. Mantenha a parede do silo sempre lisa, de preferência pela
retirada com fresas ou cortadores de bloco. Evite as conchas, a sua
movimentação no silo proporciona a entrada de muito ar na parede do
silo;

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 111
5. Procure retirar diariamente uma camada de silagem (30 – 40
cm por dia), é preferível retirar uma camada fina por dia do que uma
camada larga a cada 2-3 dias;
6. Mantenha as paredes e piso sempre limpos, sujas elas são
fonte de contaminação por leveduras pelo vento na parede de silagem;
7. Escolha abrir a silagem pelo lado que tenha o melhor caimento
da água e que haja a menor incidência de insolação;

Segurança
Todos os anos pessoas se machucam gravemente ou até perdem
a vida durante a ensilagem ou durante a sua retirada. Todos os envol-
vidos nas operações devem estar conscientizados dos perigos que
envolvem o processo de ensilagem e o seu consumo durante o ano.
Durante o preparo da colhedora (manutenção e afiação) e
durante o trabalho a campo mantenha as pessoas não envolvidas longe
da operação, são equipamentos muito perigosos e o operador não con-
segue muitas vezes perceber a presença de pessoas estranhas.
Na estocagem, muitas vezes grandes silos são confeccionados
com paredes bastante altas, deve se ter o máximo de cuidado na retirada
da cobertura e do plástico (bastante liso quando molhado). As paredes
do silo nunca devem ultrapassar a altura do equipamento que carrega
o material, as pessoas também devem permanecer distante das paredes
(risco de desmoronamento). Para coleta de amostra de silagem em
paredes muito altas prefira fazê-las diretamente do equipamento que
retira a silagem.
Capotamentos de tratores durante a ensilagem também podem
acontecer, procure não ultrapassar muito a altura das paredes dos silos
trincheiras, em silos acima do solo procure respeitar a proporção de
3:1, a cada 3 metros de largura, subir 1 metro na altura. Procure ainda
usar tratores com proteção para capotamento e sempre obrigar o uso
de cinto de segurança. Verifique ainda as condições de manutenção,
como freios e iluminação.

112
112 Fábio Jacobs Dias et al.
Durante a ensilagem há uma grande movimentação de tratores
e caminhões. Todas as pessoas que não fazem parte da operação devem
se manter afastadas, para coletas de amostras durante a ensilagem
sempre preste atenção em todos os equipamentos, tenha certeza de
que os outros operadores estão te vendo. Dias de ensilagem podem
ser muitas vezes bastante longos e cansativos, importante é prestar
atenção nas pessoas se elas estão devidamente alimentadas, hidra-
tadas e descansadas.

Conclusão
O processo de ensilagem é bastante complexo, que envolve mui-
tos detalhes e muitas pessoas antes, durante e depois da sua realização.
É ainda altamente dependente de clima e muitas vezes de terceiros,
devido a tudo isso precisa de uma boa organização e atenção durante
os processos.
Conseguindo uma boa lavoura de milho, seguindo a maioria das
recomendações aqui dadas, com suas devidas adaptações que even-
tualmente precisam ser realizadas para cada região do Brasil teremos
uma silagem de qualidade para proporcionar aos animais.

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 113
REALOCAÇÃO DE
SILAGENS DE MILHO

Rafael Henrique P. dos Reis1 | Dayenne Mariane Herrera2


Kléber José Brayer Bazzi3 | Eny Karoliny Tavares Neckel4
Edmilson Fabiciack dos Passos5 | Ricardo Pereira Costa6
Letícia Vieira Rossi7 | Anderson Amaral de Aguiar8

¹ Engenheiro Agrônomo, D.Sc. Professor do Instituto Federal de Rondônia Campus Colorado do Oeste.
2
Engenheira Agrônoma, M.Sc. Doutoranda em Agricultura Tropical - Universidade Federal de Mato Grosso.
3
Engenheiro Agrônomo - Instituto Federal de Rondônia Campus Colorado do Oeste.
4
Graduanda em Engenharia Agronômica - Instituto Federal de Rondônia Campus Colorado do Oeste.
5
Graduando em Engenharia Agronômica - Instituto Federal de Rondônia Campus Colorado do Oeste.
6
Graduando em Zootecnia - Instituto Federal de Rondônia Campus Colorado do Oeste.
7
Graduanda em Engenharia Agronômica - Instituto Federal de Rondônia Campus Colorado do Oeste.
8
Graduando em Engenharia Agronômica - Instituto Federal de Rondônia Campus Colorado do Oeste.

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114 Fábio Jacobs Dias et al.
1 Por que realocar silagens de milho?
A realocação de silagens é o processo de movimentação da
silagem que já está estável dentro do silo (silagem pronta) para acondi-
cionamento em outro local/compartimento. Esta prática tem sido rea-
lizada na rotina de sistemas de produção de bovinos de corte e leite e
é alvo de estudos e avaliações no Brasil (MICHEL et al., 2017; LIMA et
al., 2016; QUEIROZ et al., 2021) e em outros locais no mundo (CHEN &
WEINBERG, 2014), demonstrando a sua viabilidade e aplicabilidade.
O que mais tem contribuído para o interesse sobre a técnica e
tem justificado a realocação é a comercialização de silagens prontas,
prática que tem se mostrado vantajosa para agropecuaristas que não
possuem áreas disponíveis para plantio da forrageira, que não dispõem
de maquinário e/ou mão de obra qualificada para condução das
lavouras, que demandam de alimento conservado de forma emergencial
em decorrência do inadequado planejamento alimentar do rebanho
(COELHO et al., 2018).
Ainda há cenários que não envolvem comercialização, mas, que
podem demandar a movimentação de silagens dentro da propriedade,
como por exemplo o seu acondicionamento próximo ao local de for-
necimento em sistemas de confinamento ou o armazenamento de sila-
gens em sacos a fim de facilitar o oferecimento diário para pequenos
rebanhos. Enfim, o processo de realocação pode ser demandado nas mais
diversas circunstâncias e especificidades locais de cada sistema produtivo.

2 Quais as principais formas de realocação de silagens de milho?


A realocação pode ser feita movimentando a silagem de um
silo para outro silo ou de um silo para sacos. Na primeira modalidade
geralmente o transporte é realizado a granel, enquanto na segunda
modalidade o acondicionamento nos sacos pode ser feito manualmente
ou com auxílio de ensacadoras específicas.
Independente da forma que será realizada a movimentação e a
realocação, haverá a desensilagem da silagem pronta, seu transporte
e acondicionamento no novo local/silo/compartimento, a compactação

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 115
e vedação da silagem no novo local. Então, sempre haverá exposição
da silagem pronta ao ar, possibilitando a deterioração aeróbia da
silagem.

3 Como a realocação pode impactar nas silagens de milho?


Para entender os impactos da realocação nas silagens de milho
é importante relembrar que a ensilagem consiste na conservação do
alimento em meio anaeróbio por meio da produção de ácidos orgânicos,
principalmente o lático, que promove a acidificação do meio e invia-
bilização de microrganismos que poderiam deteriorar o material en-
silado (WEINBERG & MUCK, 1996).
A silagem a ser realocada deve ser desensilada (após abertura
do silo) e transportada para outro local/compartimento para ser nova-
mente compactada e vedada em seu destino final. Então é inevitável a
exposição ao ar e possível deterioração aeróbia da silagem já que a
presença de oxigênio possibilita a atividade e proliferação de micror-
ganismos aeróbios ou anaeróbios facultativos (MICHEL et al., 2017).
Um exemplo disto é a degradação de ácidos orgânicos, como o lático,
pela ação de leveduras e por vezes das bactérias produtoras de ácido
acético que podem resultar em aumento do pH nas silagens realocadas
(TANGNI et al., 2013).
Todas estas possibilidades levantadas podem promover al-
terações nas silagens realocadas, principalmente sobre o processo de
conservação, sobre a estabilidade aeróbia e sobre o valor nutricional.

3.1 Realocação e a Conservação das silagens realocadas


A conservação por meio da ensilagem é condicionada a um
ambiente livre de oxigênio (anaeróbio) e da acidificação do meio, que
acontece em decorrência do acúmulo de ácidos orgânicos (principal-
mente o lático) produzidos por bactérias ácido lácticas naturalmente
presentes na superfície do material ensilado que metabolizam
carboidratos solúveis (MCDONALD et al., 1991). Com a redução do pH

116
116 Fábio Jacobs Dias et al.
do meio há o controle do desenvolvimento de colônias de microrga-
nismos que podem deteriorar o material ensilado.
Na realocação pode haver o aumento do pH das silagens por
conta do desenvolvimento de microrganismos degradadores do material
ensilado, como as leveduras e microrganismos que utilizam os ácidos
orgânicos da silagem como substrato. Isso ocasiona aumento no pH do
meio (TANGNI et al., 2013) e possibilita o crescimento de fungos
filamentosos e outros microrganismos aeróbios (ROOKE & HATFIELD,
2003), resultando em quebra da estabilidade aeróbia das silagens,
perdas elevadas de matéria seca e alterações no valor nutritivo (como
no teor de fibra em detergente neutro e lignina das silagens expostas)
(Velho et al., 2006).
Entretanto pode não acontecer elevação nos valores de pH e
modificações prejudiciais no conteúdo de ácidos orgânicos mesmo com
exposição aeróbia de 48 h em temperatura ambiente de 25 ºC (Chen &
Weinberg, 2014). Isso evidencia que estudos relacionados à exposição
prolongada da silagem ao oxigênio ainda são necessários, visto que o
período de realocação pode durar várias horas ou dias, de acordo com
a condição do processo de realocação.

3.2 Realocação e a Estabilidade aeróbia das silagens realocadas


A estabilidade aeróbia das silagens é a resistência da massa de
forragem à deterioração após a abertura do silo, ou seja, a velocidade
com que a massa se deteriora após exposição ao ar (JOBIM et al., 2007).
Quando a temperatura da silagem que foi exposta ao ar ultrapassa 2
ºC a temperatura ambiente pode se considerar o rompimento da
estabilidade da silagem em condições de aerobiose (O´KIELY et al.,
2001). A partir daí, a deterioração acontece por conta da atividade de
microrganismos aeróbios que consomem ácidos orgânicos disponíveis
na silagem após abertura do silo (WEINBERG et al., 2009; TABACCO et
al., 2011) e, neste processo, é inevitável a exposição da silagem ao ar,
pois a transferência da silagem e a realocação em seu destino final
pode levar horas ou até dias (MICHEL et al., 2017).

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 117
Sendo assim é imprescindível que as silagens a serem realocadas
possuam estabilidade aeróbia de um período maior que o período
demandado para movimentação e realocação no destino final. Isso é
alcançado executando boas práticas na produção de silagens que
envolvem todas as etapas do processo produtivo. Mas, é interessante
destacar o uso de inoculantes contendo bactérias heteroláticas, como
Lactobacillus buchneri e Propionibacterium aciditatici, que promovem
o acúmulo de ácidos (ex.: acético e propiônico) com efeito deletério
sobre microrganismos aeróbios (como as leveduras) e aumentam a
estabilidade aeróbia das silagens com efeitos positivos sobre a
estabilidade aeróbia da silagem de milho relatados na literatura
científica internacional (WEINBERG et al., 2002; HUISDEN et al., 2009;
REICH & KUNG, 2010).
A realocação com exposição das silagens por até 36h não deve
afetar negativamente a estabilidade aeróbia de silagens de milho
(COELHO et al., 2018), o que pode ser atribuído a elevada concentração
de ácidos orgânicos, como acético e propiônico, que possuem capaci-
dade de inviabilização da atividade de fungos e leveduras.

3.3 Realocação e o Valor nutricional das silagens realocadas


Após a realocação a massa de silagem é submetida novamente
a um ambiente anaeróbio, mas, não acontecerá completamente as fases
de fermentações semelhantes às que aconteceram na ensilagem. Isto
porque os substratos para desenvolvimento de microrganismos são
diferentes neste momento, compostos em sua grande maioria por ácidos
orgânicos após metabolização dos carboidratos solúveis na ensilagem.
Considerando isto e a exposição ao oxigênio durante a movimentação
da silagem realocada, seu valor nutricional pode ser modificado em
função da composição química da forragem, bem como pela eficiência
do processo de ensilagem e da realocação.

118
118 Fábio Jacobs Dias et al.
Alterações nos teores de matéria seca e perdas de matéria seca
A perda de açúcares residuais, o aumento de nitrogênio amo-
niacal e de CO2 e perdas nos teores de matéria seca (MS) são alterações
comuns quando há deterioração da massa (WOOLFORD, 1990). A
oxidação de carboidratos solúveis e ácido lático em CO2 e água explica
as alterações nos teores de MS e as perdas de MS durante a
movimentação das silagens realocadas (ROOKE & HATFIELD, 2003).
A exposição das silagens por 12 a 24h durante a realocação
podem não afetar negativamente os teores de MS e as perdas de MS
(MICHEL et al., 2017). Entretanto, a exposição por 36h deve resultar
em incremento de até 20% nas perdas de MS (COELHO et al., 2018), o
que por consequência, promove alterações negativas no valor nutricional
das silagens (COELHO et al., 2018). Também pode haver alterações
similares mesmo com exposição da silagem por períodos de 12h durante
a realocação, promovendo redução na umidade e acarretando em
maiores teores de MS na silagem realocada quando comparada com a
silagem no momento da abertura do silo (QUEIROZ et al., 2021).
Logo, fica evidente que quanto maior o período de exposição da
silagem durante a realocação maior será a penetração de oxigênio na
massa e, consequentemente, possibilitará elevação nos teores de MS
e possibilidades de perdas matéria seca. Mas, é importante reforçar
que estas alterações também dependem da condição inicial do material
ensilado e de aspectos relacionados ao ambiente em que será realizada
a realocação (condições climáticas, por exemplo) que podem favorecer
as alterações na umidade do material.
Outro fator que pode interferir sobre os teores de MS e as perdas
de MS é a inoculação no momento da ensilagem. Podem acontecer
perdas de até 13% de MS após a realocação de silagens que não utilizem
inoculação com bactérias heteroláticas em relação às silagens que
forem inoculadas (MICHEL et al., 2017), e, além da inoculação, as perdas
de MS podem estar associadas à condição inicial do material ensilado
e do tempo de exposição ao ar.

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 119
As perdas por efluentes também devem ser consideradas visto
que na realocação de silagens a compactação acontece duas vezes e,
se a silagem estiver com umidade elevada estas perdas podem ser
potencializadas (MICHEL et al., 2017). Vale ressaltar que perdas por
efluentes podem ocasionar redução na digestibilidade das silagens
realocadas por conta do carreamento de carboidratos solúveis (ANJOS
et al., 2018; COELHO et al., 2018).

Alterações na fração fibrosa, digestibilidade e teores de proteína bruta


A realocação de silagens após 36h de exposição aeróbia pode
incrementar o teor de fibra insolúvel em detergente neutro (FDN) em
decorrência da redução nos teores de carboidratos não-fibrosos (CNF)
da silagem de milho, resultando em redução de até 5,3% da
digestibilidade in vitro da matéria seca (DIVMS) (COELHO et al., 2018).
Quando há períodos prolongados de exposição aeróbia das silagens
após a abertura dos silos ocorre elevação não só nos teores de FDN,
bem como no teor de lignina das silagens realocadas (VELHO et al.,
2006; LIMA et al. 2017).
Há indicações que não deve acontecer modificações significantes
na fração fibrosa e digestibilidade das silagens na realocação se o
período de exposição aeróbia for curto, mas, a DIVMS das silagens de
milho realocadas com tempo de exposição prolongado (48 horas) podem
ser reduzidas (CHEN & WEINBERG, 2014).
Alterações na DIVMS, que resultam em maior custo da MS
digestível. Com isso, é fundamental que os técnicos e produtores rurais
saibam quais são e quantifiquem as possíveis perdas na reensilagem
(COELHO et al. 2018).
No estudo De Lima et al. (2016) observaram que a realocação de
até 48 horas, não afeta a composição química e produtos da fermentação
da silagem de milho. Alguns efeitos pontuais foram observados como
diminuição na digestibilidade in vitro da matéria seca, para silagens de
milho realocadas em até 48h (CHEN & WEINBERG, 2014).

120
120 Fábio Jacobs Dias et al.
Na reensilagem os teores de carboidratos não fibrosos podem
ser reduzidos por dois fatores, o desenvolvimento de microrganismos
aeróbios e anaeróbios facultativos que consomem os carboidratos
solúveis no processo fermentativo (COELHO et al. 2018) e a compac-
tação da silagem realocada que favorecem a perda de nutrientes
altamente digestíveis por efluente, ocasionando a lixiviação dos
carboidratos solúveis da massa reensilada. (MICHEL et al., 2017;
COELHO et al. 2018).
Pode ocorrer incrementos nos teores de proteína bruta (PB) nas
silagens realocadas na ordem de 7,5% em comparação com a silagem
original (COELHO et al. 2018), explicados pela redução dos açúcares
solúveis após a realocação.

4 Como realocar silagens de milho com mínimas perdas?


O primeiro ponto de destaque é compreender que a exposição
da silagem ao oxigênio na abertura do silo é um momento desafiador
para o alimento conservado. Esta exposição possibilita o crescimento
e ação de microrganismos deterioradores em condição de aerobiose.
Quanto melhor e mais eficiente for o processo de conservação que
produziu a silagem, mas, ela estará protegida e sofrerá menos impactos
negativos deste período de exposição ao ar na realocação.
Então deve-se dar atenção no momento da ensilagem a: porcen-
tagem de matéria seca adequada do material a ser ensilado, tamanho
de partículas e processamento adequado, compactação e vedação do
silo que proporcionem a máxima expulsão de ar e evitem a entrada de
ar no silo.
Outro ponto relevante quando se planeja realizar a realocação de
silagens é o uso de aditivos inoculantes a base de bactérias heterofer-
mentativas no momento da ensilagem. Isto porque eles devem promover
maior estabilidade aeróbia das silagens após a abertura do silo por meio
da produção dos ácidos acético e propiônico, eficientes no controle de
microrganismos que causam deterioração aeróbia, como as leveduras.

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 121
Caso as silagens não tenham sido inoculadas é interessante fazer uso de
aditivo com potencial antifúngico (a base dos ácidos supracitados) na
realocação. Inoculantes microbiológicos não devem ser efetivos se
aplicados na realocação já que os açúcares solúveis já devem ter sido
utilizados durante as fermentações iniciais no silo.
Como últimos cuidados, e não menos importantes, precisam de
destaque a rápida movimentação da silagem na realocação (mínimo
período possível de exposição da silagem ao ar), a compactação e a
vedação adequadas no novo destino e a previsão e planejamento de
uso da silagem realocada. Dê preferência para o enchimento do silo e
compactação da silagem em rampas a fim de minimizar a exposição da
silagem. Quanto menor for o tempo de exposição da silagem durante a
sua realocação e quanto menor for o período entre a realocação e a uti-
lização da silagem realocada, menores serão as chances de perdas e
maior capacidade de conservação das silagens.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A realocação de silagens é uma técnica que apresenta viabilidade
de uso em propriedades pecuárias flexibilizando a movimentação de
silagens e a comercialização. Demanda de cuidados desde o processo
de ensilagem do material até a realocação no novo destino.

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development and use of inoculants for silage. FEMS Microbiology
Reviews, v.19, p. 53-68, 1996.
WOOLFORD, M. K. The detrimental effects of air on silage. Journal of
Applied Bacteriology, v.68, n.2, p.101-116, 1990.

124
124 Fábio Jacobs Dias et al.
VIABILIDADE DE
PRODUÇÃO E USO DE
SILAGENS DA BRS
CAPIAÇUÇÃO DE
ENSILAGEM DE MILHO
Mábio Silvan José Da Silva1*| Marco Antônio Previdelli Orrico
Junior1 | Jefferson Rodrigues Gandra2 | Joyce Pereira Alves1 |
Marciana Retore3

¹ Universidade Federal da Grande Dourados - Faculdade de Ciências Agrárias, Dourados - MS


2
Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará, Xinguara - PA
3
Embrapa Agropecuária Oeste, Dourados - MS. *mabiosilva@ufgd.edu.br

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 125
1 INTRODUÇÃO
A falta de planejamento forrageiro, para alcançar autonomia
alimentar do rebanho, ainda é o principal problema na produção animal
a pasto. Apesar de produtores e profissionais das ciência agrárias
conhecerem bem os impactos da sazonalidade na produtividade e
qualidade das forragens, as estratégias adotadas para contornar tal
problemática, apesar de amplas, devem ser analisadas individualmente,
em função das características específicas de cada propriedade.
A produção e uso de silagens, fenos e silagens pré-secadas são
as estratégias mais utilizadas nos sistemas de criação de bovinos, de
médio a alto grau de tecnificação, aqui no Brasil. Estas formas de con-
servação das forragens permitem a otimização da colheita, associada
ao momento ideal de equilibrío entre produtividade e qualidade da
cultura forrageira. No entanto, devido a maior dependência de fatores
climáticos (temperatura, umidade e precipitação pluviométrica) e a
necessidade de equipamentos específicos para produção de fenos e
silagens pré-secadas, a ensilagem se destaca como principal prática
adotada para conservação de forragens, independente do tamanho da
propriedade e seu grau de tecnificação.
Num contexto geral, toda e qualquer espécie forrageira pode
ser ensilada, no entanto, a qualidade final da silagem está diretamente
associada a capacidade fermentativa (CF) do material de origem,
resguardada a técnica correta de ensilagem. Neste aspecto, fatores
inerentes as plantas, como: teor de matéria seca (MS), poder tampão
(PT) e teores de carboidratos solúveis (CS) são os principais responsáveis
por uma melhor ou pior CF, que, de acordo com Weissbach e Honig
(1996) e Kaiser et al. (2002), pode ser calculada através da equação:
CF = MS + 8 × (CS/CT). Assumindo-se valores de CF superiores a 35
como adequados para promover uma boa fermentação no silo.
Nos últimos anos, com o lançamento de novos materiais
genéticos (cultivares forrageiras) e a possibilidade de obtenção de
resultados promissores, tem ocorrido crescente interesse, por parte de
produtores e pesquisadores, nas silagens de capins tropicais, principal-

126
126 Fábio Jacobs Dias et al.
mente naquelas produzidas a partir dos gêneros Urochloa, Megathyrsus
e, mais recentemente, nas das espécies de Pennisetum purpureum
Schum. Tal fato se justifica em função dos bons índices produtivos e
qualidade dessas forragens, associado ao fato de serem perenes, não
havendo, portanto, necessidade da reserva de uma área exclusivamente
para o estabelecimento de culturas forrageiras destinadas à ensilagem,
o que impacta diretamente nos custos de produção.
Dentre os capins tropicais para ensilagem, a cultivar BRS Capiaçu
(Pennisetum purpureum Schum) tem se destacado desde seu
lançamento, pela Embrapa Gado de Leite, em 2016, para a produção de
silagem ou uso como capineira, por apresentar porte elevado, com boa
resistência ao tombamento, florescimento tardio, moderada tolerância
ao estresse hídrico, permitir colheita mecanizada e, acima de tudo, baixo
custo de produção, em função de sua alta produtividade de matéria
seca, associada a elevados teores de carboidratos solúveis e proteína
(PEREIRA et al., 2016; PEREIRA et al., 2021). Entretanto, a BRS Capiaçu
produz grandes proporções de colmos suculentos, os quais resultam
em forragens com baixos teores de MS, geralmente abaixo de 200 g.kg-
1
de MS (RETORE et al., 2021), que pode comprometer a CF desta cultivar.
Além de comprometer a CF, baixos teores de MS ocasionam produção
excessiva de efluentes, durante a fase de fermentação das silagens,
bem como, favorece a ocorrência das fermentações secundárias
(indesejáveis), que impactam negativamente na qualidade nutricional
destas (BORREANI et al., 2018).
O uso de aditivos absorventes (sequestrantes de umidade) é a
forma mais indicada para aumentar os níveis de MS da massa de
forragem ensilada. Dentre os aditivos absorventes, possíveis de utili-
zação em silagens de capins, pode-se citar: fubá de milho, milho triturado,
farelos de cereais, milho desintegrado com palha e sabugo, torta de
cupuaçu, resíduo de fecularia, casquinha de soja, raspa de mandioca,
dentre outros. Ressalta-se ainda que, associada à capacidade de
redução de umidade, estes aditivos citados contribuem com a melhoria
no valor nutricional da massa de forragem, podendo prover melhorias
extras nos processos fermentativos. Duas outras alternativas, para

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 127
assegurar maiores terores de MS nas silages de capins são: realizar o
processo de pré-secagem/emurchecimento do capim e a formulação
rações mistas totais (do inglês, TMR), a base do capim, para ensilagem
(WEINBERG et al., 2011; BUENO et al., 2020).
Neste sentido, considerando a rápida expansão do cultivo do
capim-elefante BRS Capiaçu no Brasil, atrelado ao crescente interesse
sobre as possibilidades e viabilidade de uso das silagens de capins
tropicais, propôs-se com esse texto, realizar uma abordagem direcionada
a viabilidade de uso destas silagens no Brasil e apresentar alguns
resultados experimentais de diferentes localidades, a fim de prover
informações recententes, que possam orientar produtores e
profissionais das ciências agrárias interessados no tema.

2 CULTIVAR BRS CAPIAÇU


A cultivar BRS Capiaçu é um clone de capim-elefante (clone
CNPGL 92-79-2), obtido a partir do cruzamento entre os acessos Roxo
(BAGCE 57) e Guaco IZ2 (BAGCE 60), que se destaca pelo elevado
potencial de produção de massa de forragem seca (50t/ha/ano, em
três colheitas) em relação a outras gramíneas forrageiras, sendo cerca
de 30% mais produtiva, inclusive, em relação a outras cultivares de
capim-elefante (PEREIRA et al., 2016; PEREIRA et al., 2017; PEREIRA et
al., 2021).
Morfologicamente, a BRS Capiaçu é uma gramínea com hábito
de crescimento cespitoso ereto, de porte alto, podendo atingir até 4,2
m de altura, em crescimento livre (Figura 1), com colmos grossos,
internódios compridos e de coloração amarelada. Apresenta folhas
compridas e largas, de coloração verde e nervura central branca.
Também apresenta elevada densidade de perfilhos basais, sem
presença de pelos, com gemas de alto poder de brotação, florescimento
tardio e boa resistência ao tombamento (PEREIRA et al., 2016 e PEREIRA
et al., 2017).

128
128 Fábio Jacobs Dias et al.
Figura 1. Capim-elefante, BRS Capiaçu em crescimento livre, no Campo
Agrostológico da UFGD.

Apesar de ser uma cultura que requer maior mão de obra para
implantação/plantio, por sua propagação ser vegetativa, os demais
cuidados de manejo da cultura não difere de outras forragens comu-
mentes utilizadas para a ensilagem (milho e sorgo), até mesmo na hora
da colheita, que pode ser realizada com uso de ensiladeiras, nos pri-
meiros anos de cultivo, e colheitadeiras de área total, quando as
touceiras ficarem maiores e com maior densidade de perfilhos (PEREIRA
et al., 2021; RETORE et al., 2021). Estes mesmos autores ressaltam
que, apesar de completamente possível, a colheita manual aumenta os
custos de produção da cultura, sendo assim, mais indicado apenas na
impossibilidade da colheita mecânica. Dentro dos manejos, ressalta-
se o cuidado com ataques das cigarrinhas das pastagens (Mahanarva
spectabilis), por ser uma cultivar susceptível. Porém, quando a BRS
Capiaçu está bem manejada, ela apresenta boa tolerância as cigar-
rinhas.

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 129
Devido a alta produtividade e menor custo de produção, em rela-
ção ao milho, sorgo e a cana-de-açúcar, a BRS Capiaçu também tem
sido utiliza para a produção de biomassa energética. No entanto, o
maior apelo desta cultivar é para a alimentação animal, podendo ser
utilizada para suplementação volumosa na forma de silagem ou picado
verde (MONÇÃO et al., 2019). Ambas as formas tem boa aceitabilidade
pelos animais (RETORE et al., 2020).

3 SILAGEM DA BRS CAPIAÇU


Conforme já relatado, o principal cuidado, quando se pretende
ensilar a BRS Capiaçu, é com o teor de MS, que costuma ser baixo
mesmo em estádios fenológicos mais avançados, conforme reportado
por Monção et al. (2019), que verificaram teores máximos de MS de
243,3 g.kg-1, aos 150 dias de rebrote da Capiaçu. Considerando o périodo
máximo recomendado na literatura, para realização da colheita (120
dias), esses mesmos autores reportaram teores de MS de 212,5 g.kg-1,
enquanto Retore et al. (2020) relataram teores de MS de 200 g.kg-1 na
mesma idade de colheita. Essas informações de MS, associado a
sugestão de Pereira et al. (2021), que reportaram que a Capiaçu pode
atingir teores de MS entre 180 e 200 g.kg-1 já a partir dos 90 dias,
podendo ser ensilada neste momento (planta pura), demonstram que
as condições edafoclimáticas locais (temperatura, radiação solar,
umidade, precipitação pluviométrica, fertilidade do solo, etc.) são mais
importante do que a idade, ou mesmo a altura da planta, na hora de
definir o momento ideal para a realização da colheita e ensilagem. Deste
modo, a recomendação do momento ideal de colheita deve ser
embasado na análise do teor de MS da cultura, que pode ser avaliado
na própria fazenda/propriedade, com uso de forno micro-ondas.
Apesar das recomendações de Pereira et al. (2021), para ensilar
a BRS Capiaçu com teores de MS entre 180 e 200 g.kg-1, é fato
consolidado que baixos teores de MS na massa de forragem ensilada
levará a ocorrência de fermentações secundárias, além de ocasionar
maiores produções e perdas por efluentes, o que impacta negativamente
na recuperação de MS e na qualidade nutricional das silagens

130
130 Fábio Jacobs Dias et al.
(BORREANI et al., 2018; RETORE et al., 2020). De acordo com Retore et
al. (2020), teores de MS abaixo de 200 g.kg-1, na massa de forragem da
Capiaçu a ensilar, está longe do ideal, sendo recomendado ensilar a
Capiaçu com teores de MS entre 280 a 340 g.kg-1.
O baixo teor de MS é o principal atributo da Capiaçu, que reduz
sua capacidade fermentativa, sendo o maior desafio para esta
ensilagem, principalmente em propriedades que primam pelo melhor
valor nutricional da forragem ensilada, em detrimento a maior produção
de MS, por colherem as plantas mais jovens. Independente da situação,
os valores de MS na massa de forragem ensilada devem estar próximo
das 300 g.kg-1. Este valor pode ser conseguido através do: corte do
capim em estádio fenológicos mais avançados ou corte antecipado,
seguido de emurchecimento do capim (acompanhar a curva de
secagem), corte em período propícios (final da tarde e épocas sem
grande ocorrência de chuvas) e, uso de aditivos absorventes (analisar
disponibilidade e custo do aditivos existente em sua região).
Dentre essas estratégias, o acompanhamento do teor de MS até
o momento do corte/colheita e o uso de aditivos absorventes são os
mais comuns nas propriedades. Para a primeira estratégia, será
necessário o uso de forno micro-ondas, conforme mencionado
anteriormente, com amostragem do capim em intervalos de tempo
definido (de acordo com a observação da curva de secagem prévia).
Esta é a forma que menos exige investimento financeiro. Quanto ao
uso de aditivos absorventes, esta é a estratégia mais indicada para
aumentar os valores de MS de massa ensilada, quando se pretende
aliar produtividade com qualidade nutricional da BRS Capiaçu. Porém,
o uso desta estratégia exige investimentos na aquisição do(s) aditivo(s).
Neste ponto, considerando a extensa possibilidade de aditivos
absorventes, nas diferentes regiões do Brasil (fubá de milho, milho
triturado, farelos de cereais, milho desintegrado com palha e sabugo,
resíduo de fecularia, casquinha de soja, raspa de mandioca, torta de
cupuaçu, dentre outros), recomenda-se que seja pesquisado e utilizado
o que apresenta maior disponibilidade em sua região, bem como, tenha
melhor viabilidada econômica.

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 131
Retore et al. (2020) destacam que, em função da disponibilidade
e custo do aditivo, a participação deste na silagem pode variar, de modo
que alguns estudos demonstraram que a adição de 5% a 15% de aditivos
sólidos é suficiente aumentar o teor de MS na massa de capim-elefante
para valores adequados a ensilagem. No entanto, a percentagem
necessária de inclusão do aditivo está diretamente relacionada com a
composição do capim, no momento da colheita, e do próprio aditivo.
Outro ponto importante, quando se vai ensilar, é conhecer qual
o objetivo de uso da silagem (espécie ou categoria animal) na
propriedade. Desta forma, pode-se, inclusive, realizar a ensilagem de
rações já formuladas (TMR), aumentando o teor de MS do material
ensilado pela inclusão de concentrados energéticos, proteicos ou outros
aditivos. Segundo Gusmão et al. (2018) a ensilagem de TMR de capim-
elefante cv. Cameroon, cortado com 1,8 m de altura (corte precoce),
apresentaram melhorias na qualidade fermentativa e nutricional das
silagens. A prática de realizar ensilagem de TMR tem ganhado destaque
entre produtores e pesquisadores brasileiros nos últimos anos, sendo
ponto para diversas pesquisas, dentre as quais, uma delas será
abordada em um tópico a parte, neste material.

3.1 Custos na Silagens da BRS Capiaçu


Que o capim-elefante BRS Capiaçu é produtivo, isso já
conseguimos entender. Mas, será que compensa fazer a silagem desta
cultivar, em detrimento às silagens já amplamente conhecidas (milho,
sorgo e cana-de-açúcar)? Para isso, vamos tomar como referência os
dados mais recentes, apresentados por Pereira et al. (2021), onde
devemos analisar todos os custos envolvidos na produção, principal-
mente o custo específico por tonelas de MS produzida e por nutrientes
(nutrientes digestíveis totais e proteína bruta).
Para avaliação da viabilidade, num primeiro momento, realizou-
se a estimativa do custo total de produção das silagens de cada cultura
por hectare. Neste ponto, foram utilizadas as informações dispo-
nibilizadas pela Embrapa Gado de Leite, em abril de 2020, corrigindo-

132
132 Fábio Jacobs Dias et al.
se os valores pelo índice geral de preços do mercado (IGP-M) para a
data de 31/10/2021. Após isso, obtivemos custo total por hectare, da
BRS Capiaçu, de R$ 11.843,75; o custo do milho/ha foi estimado em R$
15.353,76 e o custo do sorgo/ha foi de R$ 6.514,80. Para a cultura da
cana-de-açúcar, os dados foram atualizados a partir dos valores referente
ao mês de junho de 2016 para 31/10/2021, sendo obtido custo total de
R$ 12.370,95/ha.
Dentro do custo total de produção da silagem da BRS Capiaçu,
visto que é uma cultura perene e, quando bem manejada, pode ser
produtiva por até 15 anos (PEREIRA et al., 2021), deve-se considerar a
diluição dos valores de implantação e manutenção ao longo desses
anos, o que impacta diretamente na redução dos custos totais (anuais).
Desta forma, os custos com implantação da BRS Capiaçu ficou na faixa
de R$ 10.580,00 por hectare, sendo esse valor composto por: R$ 1.058,00
para preparo e correção do solo; R$ 1.163,80 para aquisição de mudas,
corte e transporte; R$ 2.962,81 para o plantio; R$ 4.973,30 para os
tratos culturais, sendo este processo o de maior impacto na implantação
(47%), juntamente com a estapa de plantio (28%) e; o valor restante
para outros custos (diversos).
Quanto ao custo de manutenção, reajustado para o mesmo
período de 2021, este foi de R$ 5.094,53 por hectare. Dentre as práticas
de manutenção, a adubação e o controle de plantas invasoras foram as
mais onerosas, respondendo por 83% dos custos, porém, com
predominância dos custos com a adubação (R$ 3.413,34), devido a BRS
Capiaçu ser extremamente exigente em fertilidade, precisando de
adubação de reposição após cada corte, a fim de evitar queda na
produtividade e exaustão dos nutrientes do solo.
De acordo com Pereira et al. (2021) o custo total da silagem,
considerado todo cultivo e ensilagem, é variável em função do tipo de
colheita realizada, de forma que a colheita manual é mais cara,
representando valores superiores a 49%, em relação aos custos totais,
quando se opta pela colheita mecanizada. Nesta estimativa de valores
atuais, realizar a colheita mecânica impacta na redução de custos na
ordem de R$ 11.397,71/ha. Esta diferença se explica em função da

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 133
maior necessidade de mão de obra para a colheita e ensilagem, quando
realizadas manualmente. Assim sendo, o custo total para a colheita
mecânica ficou em R$ 11.843,75, enquanto que para a colheita manual
esse custo foi de R$ 23.240,76. Isto demonstra claramente a vantagem
na mecanização da colheita, porém, isso não é fator impeditivo para
produtores familiares estarem produzindo e utilizando em sua
propriedade a silagem da BRS Capiaçu, pois, se comparado com os
custos de outras capineiras, ou mesmo a silagem de outras culturas, o
padrão de custo se manteria similar, com vantagens para a BRS Capiaçu,
devido a maior produtividade.
Feita a atualização dos custos totais de produção e explicados
os componente dos custos da BRS Capiaçu, por esta permitir vários
cortes ao longo do ano, durante cerca de 15 anos, agora podemos
associar esses custos (totais) com a produtividade de MS e dos principais
nutrientes (NDT e PB).
Para fins de produtividade e qualidade da BRS Capiaçu, foram
utilizados os dados publicados por Monção et al. (2019), com colheitas
a 90, 120 e 150 dias. Para a cultura de sorgo, foram utilizados os dados
relatados por Orrico Jr. et al. (2015), na cultivar BRS 509 (de maior
produtividade), enquanto para as culturas de milho e cana-de-açúcar
foram utilizados os dados publicados por Pereira et al. (2021) e Pereira
et al. (2016), respectivamente. Embasado nas informações desses
autores, juntamente com os custos totais, elaborou-se a Tabela 1.
Observados os dados da Tabela 1, pode-se verificar a superio-
ridade da BRS Capiaçu, quando comparada com as demais culturas
apresentadas, em função da sua elevada produtividade. Tal fato reflete
na maior produtividade de MS, PB e NDT, que associado aos menores
custos de produção da forragem e ensilagem, resulta, igualmente,
em menores custos de produção por toneladas dos nutrientes
analisados.

134
134 Fábio Jacobs Dias et al.
Tabela 1. Produção de massa de forragem seca (PMFS), proteína bruta
(PB) e nutrientes digestíveis totais (NDT), por hectare da BRS Capiaçu,
em diferentes intervalos de corte e das culturas de milho, sorgo e cana-
de-açucar, associado aos custos totais e da tonelada de MS, PB e NDT.

1
Considerado colheita/ano.

Dentre as diferentes idades de corte apresentadas, pode-se


observar que a realização das colheitas da BRS Capiaçu em estádio
fenológicos mais avançados (120 e 150 dias) permitiram colher mais
massa de forragem seca, ambas forragens com teor de MS superior a
200 g.kg-1, o que refletiu em menores custos de produção de MS/ha. De
forma similar, a colheita mais tardia promoveu a diluição nos custos de
PB e NDT/ha, de modo que as silagens produzidas a partir da BRS
Capiaçu colhida aos 150 dias demonstraram ser as mais viáveis, em
termos econômicos. Se comparadas, em termos de teores de PB e NDT,
não houveram grandes diferenças em relação as colheitas das forragem
aos 120 ou 150 dias. No entanto, deve-se considerar a possibilidade de
uso de um aditivo absorvente nessas silagens, o que pode mais que
duplicar o custo de produção da silagem, se, para fins de exemplificação,
utilizarmos a adição de 150 kg de casquinha de soja por tonelada (R$
1.142,50 por tonelada, em 05/11/2021). Neste caso, em termos de custo
geral por tonelada de MS, a silagem da BRS Capiaçu se torna menos
atrativa, porém, deve-se considerar que a silagem aditivada terá, além
de melhor capacidade fermentativa, aumento nos teores de nutrientes
e produzindo uma silagem de melhor valor nutricional.
Retore et al. (2020), relataram que é possível realizar o corte e
ensilagem da BRS Capiaçu já com 60 dias de idade, quando o objetivo

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 135
é ter um melhor aproveitamento da composição química da cultura,
desde que sejam incluídos, pelo menos 15% de milho grão triturado na
massa de forragem a ensilar, assegurando o idael teor de MS. Porém,
esta prática, além de aumentar os custos em função da aquisição do
aditivo, aumentará os custos com máquinas e mão de obra, pois, ao
invés de fazer três silos grandes ao longo do ano (forragem colhida aos
120 dias), terá que fazer seis silos pequenos/ano.
Realizando-se um comparativo entre a silagem da BRS Capiaçu,
colhida aos 120 dias, com a silagem de milho, o produtor que opta pela
silagem da BRS Capiaçu economiza, em valores atuais, R$ 429,76 por
tonelada de MS produzida, R$ 6.244,03 por tonelada de PB e R$ 569,83
por tonelada de NDT. Desta forma, é inegável a viabilidade econômica
de produção e uso de silagens produzidas a partir da cultivar BRS
Capiaçu, com ou sem o uso de aditivos.

4 SILAGEM DA BRS CAPIAÇU EM PEQUENAS PROPRIEDADES DO PARÁ


A silagem da BRS Capiaçu, apesar de ter os custos de produção
reduzidos com o processo mecanizado de ensilagem, também pode ser
produzida de forma adequada e viável em pequenas propriedades rurais.
Conhecendo essa possibilidade e o expressivo papel da atividade leiteira
na Região Sudeste do Pará, algumas atividades de extensão vem sendo
desenvolvidas por pesquisadores da Universidade Federal do Sul e
Sudeste do Pará (UNIFESSPA) e, dentro desta temática, tem conduzido
o projeto de extensão “ENSILA CARAJÁS”, com objetivo de desenvolver
a pecuária de leite em pequenas propriedades do sudeste paraense,
utilizando como fator principal o uso da cultivar BRS Capiaçu para
produção de silagem, de pequena escala, nestas propriedades.
A região de Carajás tem um papel expressivo na atividade leiteira
do Sudeste do Pará. Apesar dos índices numéricos indicarem elevada
produção de leite, a produtividade do estado (produção em litros/vaca/
ano) é baixa, em relação a outros estados brasileiros. As razões para
esta baixa produtividade são diversas e passam pela esfera produtiva,
em à relação a produção de alimentos para o rebanho e deficiências no
manejo nutricional, sanitário e reprodutivo. Outro fator de suma impor-

136
136 Fábio Jacobs Dias et al.
tância, que justifica essa baixa produtividade, está relacionado com as
condições climáticas que o trópico úmido impõe à atividade leiteira.
Por fim, entender a situação socioeconômica cultural do pequeno produ-
tor de leite está relacionado com a interligação dos fatores técnicos
supracitados.
Apesar das informações previamente apresentadas, o Pará,
segundo maior estado brasileiro em extensão territorial, ocupa a décima
colocação em produção de leite no país e a segunda maior produção da
região Norte, com 33,9% do total produzido na região (SOARES et al.,
2019). Embora praticada em todo o estado, a bovinocultura de leite se
mostra mais expressiva na região do Sudeste paraense. O estado possui
seis mesorregiões, sendo a sudeste composta por 39 municípios, dentre
os quais estão os dez com maior produção de leite do estado (IBGE,
2017; SANTOS, 2015).
Neste contexto, cinco pequenas propriedades leiteiras, no
município de Canaã dos Carajás-PA, foram selecionadas para implan-
tação de unidades demonstrativas (UD) de aproximadamente 1 ha, para
o cultivo da cultivar BRS Capiaçu voltada à produção de silagem. Para a
implantação destas UDs, mudas da cultivar foram selecionadas junto
aos próprios produtores rurais da região. Após, as áreas foram prepa-
radas e realizadas as correções do solo. O plantio das estacas da BRS
Capiaçu foi realizado em covas, espaçadas em 1 m x 1 m, com 30 cm de
profundidade (Figura 2).

Figura 2. Implantação da cultivar BRS Capiaçu.

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 137
No momento do plantio foi realizada adubação fosfatada, com
100 kg.ha-1 de P 2O5, distribuídos igualmente nas covas. Após, as
capineiras foram divididas em 2 talhões, onde um deles recebeu
adubação de cobertura com a formulação NPK (20-05-20) na proporção
de 500 kg.ha-1, enquanto o outro talhão recebeu adubação orgânica
líquida, advinda do BioFertGás Amazônico (modelo de biodigestor
desenvolvido pela Faculdade de Agronomia da UNIFESSPA). A aplicação
do composto orgânico foi realizada com bomba costal, semanalmente,
na proporção de 400 litros por hectare (Tabela 2).

Tabela 2. Composição do composto orgânico, utilizado para adubações


orgânicas

A cultivar BRS Capiaçú foi colhida após 120 dias de plantio. Essa
estratégia foi adotada devido as condições edafoclimáticas do sudeste
paraense e das estratégias de manejo da forragem disponibilizadas
pelos gestores do projeto.
Para a ensilagem, foram adotadas 2 (duas) estratégias de
obtenção de resultados e aplicação da tecnologia aos pequenos
produtores leiteiros do sudeste paraense, sendo: 1. realização de
avaliação das silagem de BRS Capiaçu por meio de silos laboratoriais;
2. Confecção de silo artesanal do tipo Cincho (rapadura), com objetivo
de apresentar uma maneira economicamente viável e aplicável as
condições de produção leiteira do sudeste paraense.

138
138 Fábio Jacobs Dias et al.
4.1. Silos laboratoriais

No caso dos silos laboratoriais, foram utilizados 40 minisilos,


distribuídos em 4 tratamentos e 10 repetições, onde: 1. CONc (silagem
da BRS Capiaçu sem aditivos, adubação convencional); 2. INOc (silagem
da BRS Capiaçu com aditivo microbiano, adubação convencional); 3.
CONo (silagem da BRS Capiaçu sem aditivos, adubação orgânica) e; 4.
INOo (silagem da BRS Capiaçu com aditivo microbiano, adubação
orgânica) (Figura 3).

Figura 3. Mini silos laboratoriais da silagem BRS Capiaçú.

Após a confecção dos minisilos, estes foram armazenadas por


60 dias, quando ocorreu a abertura e avaliação de perdas fermentativas,
estabilidade aeróbia e composição bromatológica.

4.2. Silo artesanal tipo Cincho


Para essa estratégia, foi confeccionado um silo tipo Cincho, em
forma de “rapadura” com dimensões de 2 m x 2 m x 2 m (comprimento,
largura e altura). A cultivar BRS Capiaçu foi colhida por ensiladeira
mecânica acoplada a trator. A massa de forragem colhida e triturada
foi levada até o silo e compactada mecanicamente, até atingir densidade
média de 600 kg.m-3 (Figura 4).

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 139
Figura 4. Silo artesanal tipo Cincho da BRS Capiaçu, produzido numa pequena
propriedade rural do município de Canaã dos Carajás-PA.

Após a confecção dos silos, como forma de difundir os conhe-


cimentos entre produtores rurais da região, estudantes dos cursos de
ciências agrárias da UNIFESSPA e autoridades da administração pública
do município de Canaã dos Carajás - PA, realizou-se um dia de campo
(Figura 5).

Figura 5. Dia de campo sobre silagem da BRS Capiaçu.

140
140 Fábio Jacobs Dias et al.
4.3. Produtividade da cultivar BRS Capiaçu

A implantação da BRS Capiaçu na UD foi realizada em meados


de março de 2021, já iniciando o final da estação das chuvas no sudeste
paraense, desta forma, sendo possível avaliar apenas o 1º corte da
forrageira, antes da publicação deste material.
Na 1ª avaliação de produção, foi realizada a comparação entre
os tatamento com adubação convencional e orgânica (Tabela 3).
Diante das avaliações, verificou-se que a produtividade média, aos
120 dias de plantio, foi superior às relatadas na literatura, quando
considerada a possibilidade de 3 cortes por ano, a cada 120 dias.
Nesta lógica, observou-se produtividade anual de matéria natural de
255,3 e 265,8 t.ha-1, nas áreas com adubação convencional e orgânica,
respecti-vamente. Considerada a possibilidade de manutenção da
produtividade, nos cortes sucessores, observou-se valores de
produtividade anual de matéria seca superiores ao encontrados na
literatura, sendo 63,9 e 71,76 t.ha-1, nas áreas com adubação conven-
cional e orgânica, respecti-vamente.
Plantas colhidas com alturas de corte acima de 4 metros e
produtividades de 100 t.ha-1 de materia natural são facilmente relatadas
na literatura, com plantios realizados em outubro e com primeiro corte
em fevereiro (PEREIRA et al., 2017; PEREIRA et al., 2021). Segundo Retore
et al. (2020) a prática de adubação pode interferir na produtividade e
valor nutritivo da forragem de BRS Capiaçu e, consequentemente, na
qualidade de sua silagem, desta forma, pode-se atribuir os valores
maiores de produtividades às práticas de adubação adotadas.
Como mencionado anteriormente, nas condições deste trabalho,
o plantio foi realizado em março e colheita em junho de 2021. Tendo
em vista essa particularidade, foi obtida altura média de 3,10 m e
produtividade média de matéria natural superior a 80 t.ha-1/corte. Dados
estes, bastante satisfatórios, para esse primeiro momento de implan-
tação e difusão de tecnologia.

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 141
Tabela 3. Avaliação de produtividade da cultivar BRS Capiaçu ao 1º corte,
nas condições do sudeste paraense

Quando comparado os dois talhões, em função das diferentes


adubações, observou-se ligeira superioridade para o talhão que recebeu
adubação orgânica líquida advinda de biodigestor. Fato este, que pode
ser claramente explicado pela maior frequência de adubações de
cobertura (a cada 7 dias) e pela quantidade de água que o talhão rece-
beu em detrimento ao outro.
Essa comparação entre os talhões teve pouco controle científicos
e, neste primeiro momento, somente teve por objetivo incentivar os
produtores ao uso do biofertilizante proveniente dos biodigestores
instalados. Tendo isso em vista, os dados da Tabela 3 são apenas uma
constatação de campo, sem valor científico concreto. Este, por sua vez,
pode ser avaliado com a confecção dos minisilos, em uma segunda
parte da avaliação, que foi realizado com rigor científico adequado.
Ressalta-se que este projeto de extensão em si, visa o desenvol-
vimento da pecuária de leite da região de Carajás, no sudeste paraense e,
também tem como objetivo a difusão de tecnologias sustentáveis e
agroecologicamente corretas para o Bioma Amazônico. Desta forma, toda
pequena propriedade ou UD também tem a presença do BioFertGás
Amazônico, para que o resíduo da fermentação possa ser utilizado na
adubação das capineiras da BRS Capiaçú, destinadas à produção de silagem.

4.4. Resultados parciais dos silos experimentais


Em relação ao teor de MS das silagens da BRS Capiaçu, não
foram observadas diferença entre os diferentes tratamentos avaliados.

142
142 Fábio Jacobs Dias et al.
No momento do colheita foi observado uma diferença de apenas 2%
entre os talhões com adubação convencional e orgânica, diferença essa
que não resultou em maiores discrepâncias após o processo de
ensilagem.
O teores de MS observados neste estudo (Figura 6) estão acima
dos reportados por Pereira et al. (2016), que observaram teores de MS
de 21,0%, para a mesma cultivar com idade de colheita semelhante à
deste estudo. Entretanto os valores de MS estão de acordo com os
observados por Ribas et al. (2021), que reportaram teores de MS em
torno de 26,32%.
As silagens tratadas com inoculante microbiano apresentaram
menor valor de pH no momento da abertura dos silos, em relação aos
materiais não inoculados, independente da adubação recebida. Este
resultado era esperado, visto que a inoculação com bactérias produtoras
de ácido lático acelera a queda do pH e reduz o pH final, com isso,
aumentando a concentração deste ácido, reduzindo a produção de
efluentes e perdas de MS no silo, além de minimizar as perdas de
proteínas e energia, e prolongar o tempo de conservação da silagem
(EVANGELISTA e LIMA, 2002).

Figura 6. Matéria seca (%) e pH de silagem de BRS Capiaçu, aos 120 dias de
plantio, sob diferentes adubações e uso de aditivo microbiano.

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 143
Em relação as perdas fermentativas, não foram observadas
diferenças entre os tratamentos avaliados, quanto as perdas por gases,
efluentes e perdas de matéria seca total (Figura 7). O resultado obtido
para as perdas totais, de modo geral, foi bastante satisfatório, visto
que, em média, ficou abaixo de 10% de matéria seca, provando a
eficiência do processo de ensilagem nos silos experimentais (labora-
toriais) e também a viabilidade, em termos de qualidade da BRS Capiaçu,
para confecção de silagem. Os resultados obtidos neste estudo são
inferiores aos obtidos por Ribas et al. (2021), que reportaram perdas
de matéria seca total de aproximadamente 12%, independente da adição
ou não de inoculante microbiano.
Assim como a maioria das gramíneas tropicais, a BRS Capiaçu
apresenta alta umidade (matéria seca inferior a 30%) no estádio
fenológico mais adequado para uso no processo de ensilagem. Isso
acarreta maiores perdas durante o processo de fermentação, além de
produzir grande quantidade de efluentes (FERREIRA et al., 2010).

Figura 7. Perdas fermentativas de silagem da BRS Capiaçu (em % da MS),


aos 120 dias de plantio, sob diferentes adubações e inoculação de aditivo
microbiano.

144
144 Fábio Jacobs Dias et al.
As silagens tratadas com inoculante microbiano apresentaram
melhor estabilidade aeróbia, em relação aos materiais controle,
independente da adubação utilizada. As silagens controle perderam a
estabilidade aeróbia com aproximadamente 36 horas de exposição ao
oxigênio, enquanto as silagens inoculadas perderam a estabilidade com
aproximadamente 84 horas, após a exposição ao oxigênio (Figura 8).

Figura 8. Estabilidade aeróbia de silagem de BRS Capiaçu, aos 120 dias de


plantio, sob diferentes adubações e inoculação de aditivo microbiano.

Fermentações indesejáveis e baixa estabilidade aeróbia resultam


em perda de energia, perdas de MS e do valor nutritivo geral, comprome-
tendo a qualidade da silagem. Estabilidade aeróbia é um termo usado
para definir o período que a silagem permanece estável e não se estraga
após ser exposta ao ar Kung e Muck (2017), sendo definido como o
período de tempo que a temperatura da silagem atinge 2 ºC, a menos,
que a temperatura do ambiente (Kung et al., 2018).

4.5. O silo tipo Cincho em pequenas propriedades de produção de


leite
Para complementar o experimento com minisilos, foram
confeccionados silos do tipo Cincho nas UD, com objetivo de produzir

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 145
silagens para serem oferetadas as vacas leiteiras. O modelo de silo
utilizado foi pensado em função do baixo custo de implantação e baixa
utilização de maquinário para a confecção e, claro, pela sugestão e
aceitação dos próprios produtores atendidos (Figura 9).

Figura 9. Silo Cincho da BRS Capiaçu antes do fechamento (A) e após


fechamento (B).

A silagem proveniente dos silos Cinchos foi ofertada aos


animais de cada UD (Figura 10), de acordo com necessidade de cada
propriedade e de disponibilidade de forragem. De modo bem simples
(sem rigor científico), por meio de acompanhamento e avaliação
dos próprios produtores, foi relatado aumento médio de 1,5 kg de
leite/vaca/dia, quando utilizada a suplementação dos animais com
a silagem do BRS Capiaçu, em relação aos animais que não
receberam a silagems da BRS Capiaçu. Tal resultado, despertou
interesse por parte de outros produtores, que começaram a buscar
mais informações sobre essa silagem, para também começarem a
produzir em suas propriedades.

146
146 Fábio Jacobs Dias et al.
Figura 10. Vacas leiteiras recebendo suplementação de silagem da BRS
Capiaçu.

A primeira experiência de produção e uso da cultivar BRS Capiaçu,


em pequenas propriedades rurais do sudeste paraense, foi válida e
significativa, porém, existe uma prioridade em difundir as culturas para
ensilagem na região de Carajás, por, na grande maioria das proprie-
dades, haver uma escassez pronunciada de forragem para as vacas
leiteirasm no período das secas. Neste ponto, a cultivar BRS Capiaçu
demonstrou, na prática, ser uma alternativa economicamente viável,
requerendo tratos culturais simples e apresentando produtividade
agronômica elevada, nas condições edafoclimáticas do sudeste
paraense. Associado a isso, o cultivo da BRS Capiaçu permitiu um ma-
nejo agroecológico e sustentável da pecuária de leite, respeitando a
produção animal no Bioma Amazônico.

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 147
5 SILAGEM DE RAÇÃO MISTA TOTAL A BASE DA BRS CAPIAÇU
Direcionada muito mais às médias e grandes propriedades
rurais, a princípio, as silagens de TMR tem despertado cada vez mais o
interesse dos pecuaristas, fato esse que é visto com bons olhos, quando
observado da ótica que a inclusão de outros aditivos secos podem reduzir
os problemas relacionados a ensilagem de capins tropicais, em especial
da BRS Capiaçu.
Por definição, a silagem de TMR consiste na formulação de uma
ração completa (forragem fresca mais concentrado proteico, concentrado
energético, vitaminas, minerais e aditivos) com a finalidade de atender
às exigências nutricionais de uma determinada categoria animal, esta
colocada em silos para ser oferecida aos animais durante períodos de
escassez (Bueno et al., 2020). O uso da TMR facilita o manejo alimentar
nas propriedades, pois, elimina a necessidade do preparo diário das
dietas, além de permitir uso mais racional da mão de obra.
Por apresentar grandes quantidades de ingredientes energéticos
e proteicos na mistura, é de suma importância que o processo de
fermentação da TMR ocorra de maneira eficiente, a fim de reduzir as
perdas fermentativas e a qualidade (degradação da proteína) destes
ingredientes. Uma das formas de minimizar perdas é garantir que a
fermentação lática prevaleça no interior do silo (SANTOS et al., 2010),
o que pode ser viabilizado com uso dos inoculantes microbianos.
Em função da necessidade de informações, a respeito da quali-
dade fermentativa e nutricional da BRS Capuaçu, quando ensilada na
forma de TMR, foi realizado o presente estudo, com objetivo avaliar
estes parâmetros em silagens de TMR, a base de BRS Capiaçu, com
diferentes idades de corte em associação com diferentes tipos de
aditivos enzimo-microbianos.

5.1. Experimento “TMR-Capiaçu”


O trabalho foi desenvolvido pela Embrapa Agropecuária Oeste,
em parceria com a Universidade Federal da Grande Dourados, em
Dourados, MS. O ensaio foi conduzido em um delineamento inteiramente

148
148 Fábio Jacobs Dias et al.
casualizado, em esquema fatorial 3x3, sendo: três idades de corte da
BRS Capiaçu (60, 90 e 120 dias de rebrota), associadas a três tipos de
aditivos (CON - controle/água destilada; HOM - inoculante
homofermentativo + enzima fibrolítica e; COMBO - inoculante
homofermentativo + inoculante heterofermentativo + enzima fibrolítica),
com cinco repetições por tratamento.
O inoculante HOM utilizado era constituído por: Pediococcus
pentosaceus NCIMB 12455 (1,8 x 105 UFC/g de forragem), Lactobacillus
plantarum CNCM I- 3736 (2,0 x 104 UFC/g de forragem), â-glucanase
(8.000 UI/g de produto) e xilanase (9.000 UI/g de produto). Por sua vez,
o inoculante COMBO utilizado era constituído por: Pediococcus
pentosaceus NCIMB 12455 (1 x 105 UFC/g de forragem), Lactobacillus
buchneri NCIMB 40788 (7,5 x 104 UFC/g de forragem), Lactobacillus
hilgardii CNCM I-4785 (7,5 x 104 UFC/g de forragem), â-glucanase (5.750
UI/g de produto) e xilanase (30.000 UI/g de produto). Ambos os produtos,
encontram-se em fase de registro pela empresa TMLallemand.
Na área experimental, antes de iniciar os corte avaliativos, foi
realizado um corte de uniformização (15 cm da superfície do solo). A
adubação de cobertura foi realizada com 200 kg de N/ha e 50 kg de
K2O/ha, na forma de ureia e o cloreto de potássio, para fornecer
nitrogênio e potássio, respectivamente. A adubação de cobertura era
sempre realizada após cada corte de uniformização.
Para a produção da TMR, foi utilizado uma mistura padrão, com
as seguintes proporções dos ingredientes (em % da MS): 51,6% de BRS
Capiaçu, 38,8% de milho moído, 9,1% de farelo de soja e 0,5% de calcário
calcítico. A TMR foi formulada para atender as exigências nutricionais
de vacas lactantes, com produção estimada de 15 kg de leite/dia, peso
médio de 500 kg e consumo médio de 14 kg MS/dia, seguindo as
recomendações do NRC (2001).
Os inoculantes enzimo-microbianos foram diluídos em água
destilada e aplicados, seguindo as recomendações do fabricante (10 g
do aditivo diluída em 90 mL de água, por tonelada de massa fresca).
Após isso, o material de cada tratamento foi ensilado em silos de
laboratoriais, feitos em tubos de PVC com 50 cm de altura e 10 cm de

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 149
diâmetro, vedados na extremidade inferior com um cap soldável. No
fundo dos silos, colocou-se areia seca (0,3 kg) separada da forragem
por um tecido de algodão, para quantificação do efluente produzido. O
capim foi triturado em um picador estacionário de forragem, para atingir
tamanho médio de partícula entre 10 e 15 mm. Após a mistura do capim
com os demais ingredientes, o material foi compactado e, em seguida,
os silos foram vedados com lona plástica dupla face e fita adesiva,
pesados e armazenados em laboratório.
Os valores de pH, capacidade tampão, composição química e os
coeficientes de digestibilidade in vitro da matéria seca (DIVMS) da
massa de forragem da BRS Capiaçu e das TMR antes da ensilagem
estão apresentados na Tabela 4.
Após 90 dias de fermentação, os silos foram novamente pesados
para o cálculo das perdas de gases e, então, abertos. Depois da retirada
da silagem, o conjunto (silo + areia + tecido de algodão) foi pesado
para quantificação do efluente produzido e para determinação da
recuperação de MS (RMS), calculadas de acordo com as equações de Li
et al. (2017). Duas amostras da silagem, em cada tratamento, foram
coletadas, sendo uma para avaliar a composição química e os
coeficientes DIVMS e outra para avaliação do nitrogênio amoniacal (N-
NH3) e do perfil de ácidos orgânicos das silagens.
A capacidade tampão, determinada em HCl, foi quantificada de
acordo com o método descrito por Playne e McDonald (1966). A
determinação dos teores de N-NH3 foi realizado conforme a metodologia
descrita por Fenner e Ratcliffe (1965), adaptada por Vieira (1980). Os
ácidos orgânicos foram determinados por cromatografia líquida de alta
eficiência (HPLC) da Shimadzu, modelo Prominence, equipado com
detector ultra violeta modelo SPD-20.

150
150 Fábio Jacobs Dias et al.
Tabela 4. pH, capacidade tampão, composição química e digestibilidade in
vitro da matéria seca da BRS Capiaçu, nas idades de 60, 90 e 120 dias de
rebrota, e das rações mistas totais (TMR) utilizadas no experimento

pH = potencial hidrogeniônico; CT = capacidade tampão; MN = matéria natural; MS = matéria seca,


MO= matéria orgânica; PB = proteína bruta; FDN = fibra em detergente neutro; FDA = fibra em
detergente ácido; DIVMS = digestibilidade in vitro da matéria seca.

Para avaliação da estabilidade aeróbia foi utilizado aproxi-


madamente 2 kg de silagem de cada tratamento. A temperatura do ar e
das silagens foram monitoradas durante sete dias consecutivos, a cada
6 horas, com o uso de termômetros digitais, sendo considerada a quebra
da estabilidade aeróbia o momento em que a temperatura da silagem
ultrapassou em 2°C a temperatura do ar (KUNG et al., 2018). A cada
avaliação de temperatura, foram determinados também os valores de
pH, usando um potenciômetro digital (mPA210 MS Tecnopon), segundo
metodologia descrita por Cherney e Cherney (2003).
As amostras de TMR, antes e depois da ensilagem, foram pré-
secadas e moídas para determinação da composição química e dos
coeficientes de DIVMS. Os teores de MS, matéria orgânica (MO; método
942.05) e proteína bruta (PB; método 976.06) foram determinados de
acordo com AOAC (2005). Os teores de fibra em detergente neutro (FDN),
fibra em detergente ácido (FDA), hemicelulose, celulose e lignina foram
analisados conforme os protocolos sugeridos por Mertens (2002), com
o uso de amilase termoestável para FDN. A DIVMS foi determinada de
acordo com a metodologia descrita por Tilley e Terry (1963) e adaptada
por Holden (1999).

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 151
5.2 Resultados da “TMR-Capiaçu”
Observou-se que a idade de corte do capim não influenciou os
valores de recuperação de MS da silagem (Tabela 5). No entanto, sila-
gens aditivadas com COMBO e o CON apresentaram os maiores valores
para RMS. Porém, não houve diferença quanto as perdas de gases, entre
os tratamentos testados.
O uso de cepas homofermentativas (HOM) não foi eficiente em
promover maior RMS e maior produção de ácido lático, mesmo
comparado ao tratamento controle. A RMS e a produção de gases em
silagens possuem forte correlação com o tipo de fermentação que ocorre
no interior dos silos. Segundo Borreani et al. (2018), a fermentação
lática resulta em mínima perda de MS e energia, ao passo que as fermen-
tações acéticas, alcoólicas e butíricas resultam em perdas maiores de
MS e de produção de gases (principalmente CO2).
É provavel que a competição entre as cepas bacterianas homofer-
mentativas, contidas no aditivo e a microbiota epífita presente nas
plantas, tenha levado às menores produções de ácido lático (MICHEL
et al., 2016). Outro fator que pode justificar tal comportamento é o uso
de calcário calcítico usado na formulação da TMR. Sua utilização eleva
a pressão osmótica do meio, com ação tamponante, o que pode
desencadear alterações nas populações de microrganismos, em razão
da inibição de alguns ácidos orgânicos produzidos durante a fermen-
tação da massa (STAPLE e LOUGH, 1989). Ressalta-se ainda que muitas
bactérias ácido láticas apresentam capacidade de crescer em condições
aeróbias e, comumente, produzem peróxido de hidrogênio como
resultado de sua atividade, composto este, capaz de inibir o crescimento
de outros microrganismos, inclusive outros grupos de bactérias ácido
láticas.
Na literatura existem relatos da falta de eficiência dos inocu-
lantes microbianos homofermentativos em reduzir as perdas fermen-
tativas nas silagens de gramíneas tropicais. Cunha et al. (2020) também
não observaram diferenças na RMS de silagens inoculadas com aditivos
microbianos comerciais, que possuíam em sua composição Pediococcus
pentosaceus e Lactobacillus plantarum. Já Vendramini et al. (2016) e

152
152 Fábio Jacobs Dias et al.
Orrico Júnior et al. (2020) não observaram melhorias nos valores de
RMS, quando as silagens foram inoculadas com Pediococcus pentosaceus
e Lactobacillus buchneri.
As produções de efluentes foram afetadas pela idade dos capins,
de modo que silagens de TMR produzidas com o capim cortado aos 60
dias apresentaram maior produção de efluente e, consequentemente,
maiores perdas. O aumento na idade de corte reduziu estas perdas,
observando-se menores valores nas TMS com capim colhido aos 120
dias. O tratamento CON também apresentou maiores produções de
efluentes, quando comparado às silagens com uso de aditivos HOM e
COMBO (Tabela 5).

Tabela 5. Parâmetros fermentativos de silagens de TMR, a base da BRS


Capiaçu, com diferentes idades de cortes (60, 90 e 120 dias) e aditivos
microbianos + enzimas fibrolíticas

PE = produção de efluente; MS = matéria seca; N-NH3 = nitrogênio amoniacal; NT = nitrogênio total;


CON =controle; HOM = aditivos homoláticos + enzimas fibroliticas; COMBO = aditivo homolático +
heterolático + enzimas fibroliticas; EPM = Erro padrão da média; Médias seguidas por diferentes
letras diferem entre si pelo teste de Scott Knott a 5% probabilidade. Letras maiúsculas representam
diferenças entre aditivos (Ad) e letras minúsculas representam diferenças entre idades da planta
(Id). ns = não-significativo; * = significativo a 5% de probabilidade; ** = significativo a 1% de
probabilidade.

O pH das silagens não foi influenciado pela idade de corte do


capim ou pelos aditivos utilizados. As maiores concentrações de ácido
lático foram verificadas nas silagens de TMR produzidas com capins

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 153
nas idades de 60 e 90 dias de rebrota. O uso dos aditivos HOM e COMBO
reduziram os teores de ácido lático, em relação ao CON. Silagens de
TMR produzidas com o capim aos 90 dias de idade apresentaram os
menores valores de N-NH3, porém, sem influência do tipo de inoculante
sobre este parâmetro.
Para os teores de ácido acético e ácido butírico foi observada
interação entre idade do capim e tipo de aditivo (Figura 11). Silagens
inoculadas com o COMBO apresentaram maiores concentrações de
ácido acético, em comparação com os demais tratamentos, indepen-
dentemente da idade do capim. Para os capins cortados com 90 dias, o
tratamento CON apresentou menor concentração de ácido acético. Já
para os capins cortados com 120 dias, o tratamento HOM apresentou
menor concentração de ácido acético. Os maiores teores de ácido
butírico (média de 0,29% da MS) foram observados para a silagem de
TMR feita com os capins cortados aos 60 e 90 dias de idade e sem
inclusão de aditivo (CON), o que já era esperado, em função do reduzido
teor de MS. Para os capins com idade de 60 e 90 dias, o uso dos aditivos
resultou em menores teores de ácido butírico nas silagens, o que
demonstra a importância do uso de aditivos em silagens de forrageiras
com baixo teor de MS. A silagem de TMR produzida com a BRS Capiaçu,
cortada aos 120 dias de rebrota e inoculada com o COMBO foi a que
apresentou o menor valor de ácido butírico entre os tratamentos.
O uso de aditivos microbianos não interferiu na estabilidade
aeróbia das silagens de TMR (60 dias de idade), com a quebra da
estabilidade ocorrendo próximo a 38 horas de exposição ao ar (Figura
11). Porém, nas silagens produzidas com capins em estádio fenológico
mais avançado (90 e 120 dias) a adição do inoculante COMBO promoveu
maior estabilidade aeróbia, alcançando 128 e 132 horas,
respectivamente.
As silagens produzidas com o aditivo COMBO foram mais
eficientes em produzir ácido acético, quando comparado aos demais
tratamentos. Isso ocorreu, provavelmente, pela ação do L. buchneri, o
qual sintetiza ácido acético via metabolização de ácido lático (MUCK,
2010). Como o ácido acético apresenta uma maior constante de

154
154 Fábio Jacobs Dias et al.
dissociação em relação ao ácido lático, normalmente, esse é o maior
responsável por inibir o crescimento de leveduras e bolores
(McDONALD, 1991; WILKINSON e DAVIES, 2013). Isso explica o motivo
pelo qual os tratamentos que apresentaram maiores teores de ácido
acético tiveram melhor estabilidade aeróbia.

Figura 11. Teores de ácido acético (A), ácido butírico (B), estabilidade aeróbia
(C) e coeficientes de digestibilidade in vitro de MS (D) de silagens de TMR
contendo o capim BRS Capiaçu com diferentes idades de corte e aditivos
microbianos. Médias seguidas por diferentes letras diferem entre si pelo
teste de Scott Knott a 5% de probabilidade. Letras maiúsculas representam
diferenças entre controle (CON) e aditivos homolático + enzimas fibroliticas
e heterolático + enzimas fibroliticas (HOM e COMBO, respectivamente) e
letras minúsculas representam diferenças entre idades de corte do capim
(60, 90 e 120 dias).

Os menores valores de estabilidade aeróbia foram observados


em silagens produzidas com o capim de 60 dias de rebrota, o que pode

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 155
estar ligado aos altos teores de ácido lático produzidos por esses
tratamento, pois, o ácido lático é um ácido fraco e, portanto, menos
eficaz para inibir o crescimento de leveduras e bolores. Além disso, o
ácido lático pode ser utilizado como fonte de energia para o crescimento
das leveduras (WILKINSON e DAVIES, 2013). De modo geral, silagens
bem fermentadas, com maior conservação dos nutrientes e altas
proporções de ácido lático, em relação ao total dos ácidos orgânicos
produzidos, são propensas a apresentarem menor estabilidade aeróbia,
fato este também relatado por Maxin et al. (2017).
Os valores da capacidade tampão da TMR também podem ter
contribuído para que as silagens de TMR, confeccionadas os capins
cortados com 90 e 120 dias, tenham apresentado maiores valores de
estabilidade aeróbia. Pois, da mesma forma que essa variável atua
dificultando a queda do pH da silagem, ela também dificulta a elevação
do pH da mesma após a abertura do silo, reduzindo assim a velocidade
do crescimento dos microrganismos aeróbios. Ao modelar a curva de
crescimento de leveduras e fungos na deterioração aeróbia de silagens,
Pitt et al. (1991) concluíram que a estabilidade aeróbia é maior quando
a forragem apresenta maior capacidade tampão.
A aplicação dos aditivos COMBO e CON, nas TMR com capins
aos 60 dias de idade, proporcionou maiores coeficientes de DIVMS
(Figura 11D). Independente do tipo de inoculante, as TMRs produzidas
com capins aos 90 e 120 dias de idade apresentaram as menores DIVMS.
A maior digestibilidade em silagens de plantas mais jovens já era um
resultado esperado, o que apenas reforça que o tecido vegetal jovem
apresenta melhor valor nutricional e digestibilidade.
Conforme previsto, as silagens produzidas com capins “mais
velhos” (120 dias) apresentaram maiores teores de MS, bem como de
MO (Tabela 6). Em contrapartida, as silagens produzidas com capins
jovens (60 dias) apresentaram os maiores teores de PB e menores teores
de FDA e celulose. Adicionalmente, verificou-se que a adição do COMBO
na silagem melhorou os teores de PB desta.
Não foram observadas diferenças dos teores de FDN nos
tratamentos avaliados, porém, as menores concentrações de hemice-

156
156 Fábio Jacobs Dias et al.
lulose foram verificadas nas silagens de TMR produzidas com capins
de 90 e 120 dias, refletindo a dinâmica de crescimento secundário das
plantas com o avançar da idade. Ainda nesta lógica, verificou-se que o
conteúdo de lignina foi menor nas pantas mais jovens (60 e 90 dias),
sem influência dos tipos de inoculantes aplicados. As silagens que
receberam os inoculantes COMBO e HOM apresentaram menores
teores de hemicelulose.
As silagens de TMR, a base da cultivar BRS Capiaçu, tiveram
percentuais de MS variando de 29 a 33%, em função da idade do capim.
Porém, independentemente da idade de rebrota, a cultivar BRS Capiaçu
apresentou baixos valores de MS no momento do corte (13,42 a 20,89%
de MS), conforme apresentardo na Tabela 4. Os menores valores de
MS, observados para as silagens de TMR confeccionadas com o capim
aos 60 dias de rebrota, explicam as maiores produções de efluentes
observadas para este tratamento. Segundo Borreani et al. (2018)
silagens com teores de MS menores que 35%, apresentam maiores
produções de efluentes.

Tabela 6. Composição química e digestibilidade in vitro da matéria seca de


silagens de TMR, contendo o capim BRS Capiaçu, com diferentes idades de
cortes (60, 90 e 120 dias) e aditivos microbianos + enzimas fibrolíticas.

MN = matéria natural; FDN = fibra em detergente neutro; FDA = fibra em detergente ácido; CON
=controle; HOM = aditivos homoláticos + enzimas fibroliticas; COMBO = aditivo homolático +
heterolático + enzimas fibroliticas; EPM = Erro padrão da média; Médias seguidas por diferentes
letras diferem entre si pelo teste de Scott Knott a 5% probabilidade. Letras maiúsculas representam
diferenças entre aditivos (Ad) e letras minúsculas representam diferenças entre idades da planta
(Id). ns = não-significativo; * = significativo a 5% de probabilidade; ** = significativo a 1% de
probabilidade.

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 157
O baixo teor de MS pode levar a menor RMS, além da perda na
qualidade nutricional da silagem pela lixiviação dos nutrientes (ORRICO
JUNIOR et al., 2015; ORRICO JUNIOR et al., 2020). O uso dos aditivos
HOM e COMBO podem ter acelerado o início do processo fermentativo
da mistura ensilada, reduzindo assim, o período de ação dos
microorganismos aeróbios, os quais utilizam os carboidratos presentes
na massa ensilada para produção de energia, CO2 e água metabólica
(Borreani et al. 2018). Essa provável redução na produção de água
metabólica pode explicar o fato das silagens inoculadas com os aditivos
HOM e COMBO terem apresentado menores produções de efluente,
quando comparadas às sem inoculação.
Os pHs das silagens se mantiveram ligeiramente elevado neste
experimento, mesmo com a presença de altos teores de ácido lático.
Tal fato pode ser explicado em função da adição de calcário calcítico
na formulação da TMR. A presença de misturas minerais e dos
concentrados proteicos podem alterar a capacidade tampão do material
ensilado (Tabela 4), dificultando a queda nos valores de pH. Bueno et
al. (2020), afirma que o aumento da capacidade tampão das silagens
pode resultar em elevada produção de ácidos (principalmente lático),
pois, são necessárias maiores quantidades deste ácido para que a
silagem atinja o pH de estabilidade. São comuns relatos de autores
que observaram elevadas produções de ácido lático (acima de 5% da
MS) em silagens de TMR (CHEN et al., 2017; GUSMÃO et al., 2018) com
valores de pH variando entre 3,9 e 4,8. Esse comportamento também
foi observado neste experimento onde níveis elevados de ácido lático
não implicaram em baixos valores de pH.
Maiores teores de umidade, associado ao pH de 4,39, nas
silagens produzidas com o capim mais jovem (60 dias), podem ter
colaborado para maiores teores de ácido butírico e N NH3. Segundo
Muck (2010), as maiores produções de ácido butírico e N-NH3 ocorrem
por ação das bactérias do gênero Clostridium sp. em condições de alta
umidade e pH mais elevado. A ação destes microrganismos compromete
a eficiência da conservação da forragem, pois podem utilizar os açúcares

158
158 Fábio Jacobs Dias et al.
solúveis, as proteínas, ou até mesmo o ácido láctico presente nas
silagens, como substrato para o seu crescimento (KUNG JR. et al., 2003).
No entanto, é importante mencionar que os valores de ácido butírico e
N NH3 observados neste trabalho estão dentro do recomendado para
silagens de boa qualidade (ácido butírico abaixo de 1,0% e N NH3 abaixo
de 10% do N total) (KUNG JR. et al., 2018).
Os menores valores de PB e DIVMS e as maiores proporções de
fibra observadas nas silagens de TMR, produzidas com os capins
cortados aos 90 e 120 dias de rebrota, são resultantes do efeito da
idade do capim sobre sua qualidade nutricional. A BRS Capiaçu é uma
planta que atinge grandes alturas com o avanço da idade, sendo
necessária a presença de grandes proporções de fibra nos tecidos de
sustentação para manter a estrutura da planta. Desta forma, com o
avanço da idade e altura da BRS Capiaçu, ocorre naturalmente uma
queda acentuada da qualidade nutricional da forragem.
O uso dos aditivos microbianos, com as enzimas â-glucanase e
Xilanase, podem ter contribuído para a ocorrência da degradação parcial
da parede celular vegetal, explicando assim a redução dos teores de
hemicelulose nestas silagens, a exemplo do estudo conduzido por Li et
al. (2018). Apesar da redução no teor de hemicelulose, a adição dos
inoculantes, contendo enzimas fibrolíticas, não foi eficiente em melhorar
a digestibilidade da silagem de TMR.

5.3. Conclusões do experimento “TMR-Capiaçu”


O uso dos inoculantes enzimo-microbianos são eficientes apenas
na redução de perdas por efluentes e nas concentrações de ácido
butírico e hemicelulose, assim, sua utilização deve ser avaliada com
cautela levando em consideração os custos de sua aplicação.
Para as silagens da TMR-Capiaçu, produzidas com capim colhido
aos 60 dias de rebrota, o uso de inoculantes enzimo-microbianos não é
recomendado. Neste caso, a indicação é que seja usado o inoculante
COMBO, pois este melhora a estabilidade aeróbia, reduz a produção

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 159
de efluentes, e os teores de hemicelulose das silagens, produzidas com
a BRS Capiaçu nas idades de 90 ou 120 dias.
A formulação da TMR com o capim-elefante cv. BRS Capiaçu,
cortado aos 60 dias de rebrota apresentar melhor valor nutricional,
porém, produz e perde muito efluente, ultrapassando os níveis
aceitáveis, além de proporcionar silagens com maiores teores de ácido
butírico e menor estabilidade aeróbia. Assim, um ajuste na relação
volumoso/concentrado pode ser feito, a fim de ajustar os níveis de fibra
das TMR provenientes de capins com idade mais avançada.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O cultivo e uso do capim-elefante, BRS Capiaçu, tem se destacado
nos últimos anos e continua demonstrando todo o seu potencial para
produção animal. O grande atrativo da cultura é a sua elevada produ-
tividade de massa de forragem, que resulta em maior produção de
nutrientes por área de cultivo e, por ser uma cultura perene, permite a
diluição dos custos de produção ao longo de até 15 anos. Deste modo,
a BRS Capiaçu é uma cultura economicamente viável para a produção e
uso na forma de silagem, independente do grau de tecnificação do
sistema de produção.
Apesar do corte/colheita poder acontecer a partir dos 60 dias,
esta não é uma prática de manejo recomendada, quando se pretende
fazer uma “silagem pura”. Neste caso, recomenda-se o corte da BRS
Capiaçu apenas quando a cultivar tiver com teor de MS próximo a 30%.
As pesquisas apontam que valores próximos podem ser alcançados aos
120 dias (não dispensa a avaliação do teor de MS).
Para aproveitar todo potencial da BRS Capiaçu e ter uma silagem
boa qualidade, a recomendação é sempre utilizar um aditivo nutritivo
absorvente no momento da ensilagem, além de tomar todos os demais
cuidados básicos, desde a implantação da cultura até a descarga do
silo. Ressalta-se que a escolha do aditivo pode ser condicionada a
disponibilidade e viabilidade econômica de uso de cada região.

160
160 Fábio Jacobs Dias et al.
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166
166 Fábio Jacobs Dias et al.
SILAGEM DE GRÃO DE
MILHO REIDRATADO COM
SORO DE LEITE

Ediane Zanin1
Valter Harry Bumbieris Junior2

¹ Ediane Zanin, Zootecnista Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal, Universidade


Estadual de Londrina - Londrina, Paraná, Brasil
2
Valter Harry Bumbieris Junior, Zootecnista, Professor Dr., Departamento de Zootecnia, Universidade Estadual de
Londrina - Londrina, Paraná, Brasil

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 167
Produção de silagem de grão de milho reidratado
A cultura do milho (Zea mays.) é oriunda da América Central
com cultivo amplo no território brasileiro, dada a importância econômica
e versatilidade de utilização tanto na alimentação humana como animal
(PRESTES et al., 2019). No Brasil a produção de grãos de milho é
caracterizada por dois tipos de grãos, o tipo dentado (soft) que apresenta
48,2% de endosperma vítreo, possui maior proporção de endosperma
farináceo e digestibilidade do amido; o tipo duro (flint) que apresenta
78,1% de endosperma vítreo e menor digestibilidade do amido. Com
relação a vitriosidade do grão, é reconhecido que está negativamente
correlacionada à digestibilidade do amido (PHILIPPEAU; MICHALET-
DOREAU, 1997).
O milho grão seco é o ingrediente energético mais utilizado nas
rações para alimentação animal, no entanto, também pode ser sub-
metido à reidratação para ser armazenado como silagem. A silagem de
grão de milho reidratado é uma estratégia utilizada para garantir a
disponibilidade de alimentos durante todo o ano, reduzir o uso de
máquinas (OLIVEIRA et al., 2019), diminuir os custos com logística
(FERRARETTO; FREDIN; SHAVER, 2015), minimizar os efeitos das
oscilações de preço desta commodity (ARCARI et al., 2016), e facilitar
a estocagem em grandes volumes e preservação dos grãos contra
ataques de insetos, roedores e fungos, visto que fazendas não possuem
estruturas adequadas para armazenar milho e outros cereais para uso
na alimentação animal ao longo do ano (MOMBACH et al., 2019).
A técnica de reidratação e ensilagem do grão de milho está
crescente na área de pesquisa de conservação de alimentos pelos
brasileiros, devido a maioria dos híbridos de milho cultivados no país
apresentarem alta vitreosidade e baixa digestibilidade (CORREA et al.,
2002; CARVALHO et al., 2017; JACOVACI et al., 2021). Além disso, nas
fazendas do Brasil que possuem sistemas de criação de animais
confinados, o uso de silagens de grãos de milho reidratados e úmidos
está aumentando, principalmente pelo objetivo de melhorar a digestão
do grão (BERNARDES; CASTRO, 2019; DANIEL et al., 2019). Jacovaci et
al. (2021) observaram que a eficiência alimentar de bovinos em

168
168 Fábio Jacobs Dias et al.
confinamento é em média 25,7% maior para o grão de milho ensilado
(reidratado ou úmido) do que o grão de milho seco.
O grão de milho é constituído por quatro estruturas físicas que
consistem em pericarpo, endosperma, embrião ou germe, e pedicelo
ou ponta, cada qual com sua composição química. O grão inteiro possui
aproximadamente 72% de amido, 4 a 5% de óleo, e 7 a 15% de proteína,
das quais 70-90% são prolaminas consideradas proteínas de reserva,
que se localizam principalmente no endosperma, e possuem grande
quantidade de prolinas e aminas. A prolina é responsável pela carac-
terística hidrofóbica das prolaminas, ou seja, insolúvel em água com
formação de uma barreira hidrofóbica nos grânulos de amido, que
impede a ação das enzimas e reduz a degradação do amido (CARVALHO;
NAKAGAWA, 2000). De acordo com Hoffman et al. (2011) durante o
processo fermentativo da silagem ocorre a proteólise da matriz proteica
hidrofóbica, que envolve os grânulos de amido, por meio da ação de
bactérias proteolíticas e das enzimas vegetais, proporcionando maior
digestibilidade dessa fração. A proteólise ocorre em diferentes inten-
sidades por diversas vias, sendo que as bactérias são as principais
responsáveis por essa degradação de proteínas durante a fermentação
da silagem de grãos de milho reidratados (JUNGES et al., 2017).
O processo de moagem do grão de milho seco e sua posterior
reidratação visa aumentar sua digestibilidade, que reflete positivamente
no desempenho animal, uma vez que o milho utilizado na maioria dos
países é caracterizado como do tipo flint ou duro, que detém menor
digestibilidade (FERRARETTO; CRUMP; SHAVER, 2013). Revisões atuais
mostram maior digestibilidade do amido de grãos de milho úmidos e
reidratados comparados aos grãos secos (FERRARETTO; CRUMP;
SHAVER, 2013; FERRARETTO; FREDIN; SHAVER, 2015; FERNANDES et
al., 2021). De acordo com Ferraretto; Fredin e Shaver (2015), isto está
relacionado com a redução da proteína que recobre os grânulos de
amido durante o processo de ensilagem, pois essa matriz proteica
impede a digestão enzimática e hidrolítica no estômago e intestino
delgado dos animais (GIUBERTI et al., 2014).

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 169
A reidratação do grão é comumente feita com água para atingir
níveis finais entre 35 a 37% de umidade (SILVA et al., 2016; DA SILVA et
al., 2018). No entanto, produtos líquidos alternativos, de baixo valor
agregado ou que detêm características poluentes, mas não tóxicas,
também podem ser usados para a reidratação dos grãos de milho seco.
Coproduto como o soro de leite, que possui em sua composição consi-
deráveis concentrações de bactérias ácido lácticas e lactose (REKTOR;
VATAI, 2004), constitui um bom exemplo para este fim, com vantagens
dada ao aporte de mais nutrientes à silagem e a adequada destinação
final desse coproduto (REZENDE et al., 2014). O soro de leite contribui
na fermentação da massa ensilada, além de proporcionar melhora na
estabilidade aeróbica da silagem de grãos reidratados (ZANIN et al.,
2021a).
A silagem de grão de milho reidratado consiste na reidratação
do grão maduro moído para posterior fermentação em silos. O grão é
colhido em estágio de maturação com 10 a 12% de umidade, moído e
hidratado para obter teor de umidade de 35 a 40% antes de ser ensilado.
O processo ocorre primeiramente pela moagem do grão com tamanho
de partícula ajustada para cada espécie e categoria animal. O
processamento do grão de milho para ovinos, na categoria de cordeiros,
é realizado com uso de peneira de tamanho de 5 mm (BOLSON et al.,
2020), gado leiteiro recomenda-se peneira de 5 a 7 mm (ARCARI et al.,
2016; CASTRO et al., 2019), gado de corte de 10 a 12 mm (JACOVACI et
al., 2021) e leitões desmamados, peneiras de 1,5 mm (ZANIN et al.,
2021a). O grão de milho quando moído em peneira grossa (15 mm)
pode favorecer perdas da silagem, devido a percolação da água para a
parte inferior do silo, após a compactação. Além de contribuir para um
ambiente propício ao desenvolvimento de fungos e leveduras (GOMES
et al., 2020).
O moinho utilizado para processamento do grão que facilita a
reidratação, é do tipo martelo. No entanto, o moinho do tipo rolo também
pode ser usado para moer o grão, desde que haja uniformidade no
processamento. Em ambos os tipos de moinhos, é importante manter
um fluxo adequado na potência do motor para padronizar a quebra dos
grãos (ZANIN et al., 2021a).

170
170 Fábio Jacobs Dias et al.
O princípio de ensilagem seguinte ao processamento dos grãos
de milho é a reidratação (DA SILVA et al., 2018) realizada com uso de
duas fontes liquidas, a água ou soro de leite integral (PEREIRA et al.,
2013; REZENDE et al., 2014; SILVA et al., 2016; ZANIN et al., 2021a). A
proporção utilizada da fonte liquida para cada quilograma de milho
moído, deve ser calculada para obter o teor de MS esperado na silagem
de 65 a 67% (DA SILVA et al., 2018; DA SILVA et al., 2019; ZANIN et al.,
2021a). Os grãos de milho quando moídos apresentam teor de MS em
torno de 87% e umidade de 12 a 13% (ZANIN et al., 2021a), e nesses
teores a fermentação é restrita. Com a reidratação (teor de 35 a 37%
de umidade esperado) condições de fermentação são oferecidas durante
a ensilagem, bem como crescimento microbiano e consequente
digestibilidade do amido (SILVA et al., 2016; DA SILVA et al., 2018).
Nessa fase de reidratação é importante considerar a fonte liquida
a ser utilizada, pois a água por ser um recurso natural essencial para
existência de vida na terra, e com risco de escassez no planeta, deve
ser reduzido o uso e/ou substituído na produção de alimentos. É sabido
que a água potável é obtida de fontes superficiais como rios, represas,
lagos e canais, e o descarte inadequado de efluentes domésticos e
industriais nesses cursos de água, resultam em poluição com
consequente desiquilíbrio do ecossistema e riscos ambientais
(EDOKPAYI et al., 2017; GORVARDIA et al., 2020).
Estima-se que a produção de produtos agropecuários é
responsável pelo maior consumo de água do mundo, com cerca de 70%
da retirada de água doce do planeta (HOEKSTRA et al., 2014). Nesse
sentido, alternativas para produção de alimentos com fontes liquidas
reaproveitáveis é um caminho a ser adotado, afim de alcançar uma
produção animal sustentável. O uso de soro de leite integral para
reidratação de grãos de milho se mostra como uma alternativa atraente,
devido à variedade e concentração de bactérias ácido láticas (REKTOR;
VATAI, 2004), e pelo alto teor de água em sua composição.
O soro de leite é um coproduto obtido durante o processo de
fabricação do queijo, por meio da separação da caseína e da gordura
do leite. Possui em sua composição 93 a 94% de água, 4,4 a 5% de

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 171
lactose, 0,7 a 0,9% de proteínas solúveis e 0,6 a 1,0% de sais minerais
(PAULA et al., 2011; ALVES et al., 2014), que podem servir de substrato
para bactérias ácido láticas epifíticas do milho (FITZSIMONS et al., 2007).
Apresenta também uma concentração simbólica de ácido lático, porém,
com importância na aceleração do rebaixamento do pH da massa
ensilada. Pode ser utilizado em diferentes finalidades na alimentação
humana e animal, e mais recente para uso agrícola (MANTOVANI et al.,
2015), mas sem regras definidas quanto as dosagens e formas de
aplicação (MORRILL et al., 2014). O descarte inapropriado do soro ácido
de leite é um fato preocupante, pois pode conduzir a poluição das águas,
gerar odor desagradável, alteração da estrutura físico-química do solo
e, sobretudo descumprimento da lei (OLIVEIRA; BRAVO; TONIAL, 2012).
Portanto, alternativas de uso desse coproduto são importantes meios
para evitar descarte inapropriado.
Para aprimorar o processo de fermentação da silagem de grãos
de milho reidratados pode ser utilizado ainda o soro de leite em pó,
diluído em água. Esse produto é rico em lactose e proteínas solúveis,
das quais, cabe destacar a lactoferina e a lactoperoxidase que são
consideradas proteínas antimicrobianas (YADA, 2004), com potencial
ação após abertura do silo e combate a microrganismos deteriorantes,
auxiliando na estabilidade aeróbia da silagem. No entanto, esse
processo ainda carece do uso de água potável, o que não é esperado
da produção animal nos dias atuais, visto a participação da produção
pecuária à pegada hídrica (footprint) da humanidade (HOEKSTRA et al.,
2014).
Ainda durante o processo de reidratação dos grãos secos, o uso
de aditivos deve ser considerado (CARVALHO et al., 2017), pois atuam
em melhorias da fermentação, redução de perdas de nutrientes e
inibição do crescimento de microrganismos indesejáveis (KUNG JUNIOR
et al., 2007; REZENDE et al., 2014). Os aditivos microbianos ou
bacterianos, por exemplo, são compostos por bactérias
homofermentativas e heterofermentativas que atuam no prolongamento
da estabilidade aeróbica das silagens de grãos de milho úmido e
reidratados (DA SILVA et al., 2018; DA SILVA et al., 2019).

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172 Fábio Jacobs Dias et al.
Após a reidratação deve ser realizado o enchimento do silo de
forma rápida, com objetivo de evitar a evaporação da fonte liquida e
diferenças nos teores de MS da silagem. A massa hidratada pode ser
armazenada em diferentes tipos de silos, desde trincheiras, bags até
tambores plásticos, com excelentes resultados de conservação (ZANIN
et al., 2021a). O tamanho do silo deve ser planejado de acordo com a
retirada diária de silagem, sendo recomendado de 25 a 30 cm/dia. A
compactação da silagem de grãos de milho reidratado deve atingir uma
densidade média esperada de 1050 kg/m3 (LUGÃO et al., 2011) para
garantir preservação e fermentação do material ensilado, bem como o
princípio de vedação que evita a entrada de oxigênio na silagem e deve
ser feito com uso de lona especifica e de alta qualidade para cobertura
de silos (JOBIM et al., 2007).
O tempo de armazenamento da silagem irá refletir diretamente
na digestibilidade do amido, devido ao aumento na preteólise, ou seja,
a quebra da matriz proteica presente no endosperma que reveste os
grânulos de amido (KUNG JUNIOR et al., 2018). O período de silo
fechado é de no mínimo de 45 a 60 dias, sendo ideal mais que 90 dias
para promover maior digestibilidade do amido e da MS, e maior
estabilidade aeróbia das silagens (ARCARI et al., 2016; SANTOS et
al., 2019; DE ALMEIDA CARVALHO-ESTRADA et al., 2020). Com 60 dias
de armazenamento, Fernandes et al. (2021) obtiveram resultados em
que a proteólise da matriz proteica dos grãos no silo promoveu
melhorias na digestibilidade da MS e do amido das silagens de grãos
de milho de híbrido tipo flint. Dessa forma, a qualidade e o
processamento dos grãos, a reidratação e demais princípios da
ensilagem realizados de forma adequada são meios importantes para
obter uma silagem de boa qualidade.

Qualidade químico-fermentativa e de estabilidade aeróbia de


silagens de grãos de milho reidratados
A qualidade da SGMR está diretamente ligada com a qualidade
do grão e da fonte liquida de reidratação. Os estudos científicos

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 173
conduzidos com esse tipo de silagem foram realizados nos últimos 10
anos, e tratam em sua grande maioria a qualidade químico-fermentativa
(REZENDE et al., 2014; JUNGES et al., 2017; GOMES et al., 2020;
FERNANDES et al., 2021), microbiológica (DA SILVA et al., 2019; DE
ALMEIDA CARVALHO-ESTRADA et al., 2020) estabilidade aeróbica
(REZENDE et al., 2014; SILVA et al., 2016), e sobretudo, dos efeitos do
uso de aditivos químicos e bacterianos na silagem (DA SILVA et al.,
2018; DA SILVA et al., 2019). Recentemente, estudos foram conduzidos
sobre a utilização da SGMR com animais de produção, dentre eles, os
efeitos sobre desempenho produtivo de vacas leiteiras (FERARRETTO
et al., 2013; ARCARI et al., 2016; CASTRO et al., 2019), de gado de corte
em confinamento (JACOVACI et al., 2021) de ovinos de corte e leite
(FIGUEIRA et al., 2020; BOLSON et al., 2020), e leitões desmamados
(ZANIN et al., 2021b).
Para a fonte liquida comumente utilizada na reidratação de grãos
de milho, alguns valores referenciais de composição química de silagens
são apresentados na Tabela 1. Os resultados obtidos nesses estudos
são valores considerados adequados de nutrientes para esse tipo de
silagem e próximos entre os estudos desenvolvidos para MS e PB. Já
para FDN e FDA é possível observar uma variação entre os valores
encontrados, o que pode estar relacionado, segundo os autores
referenciados na tabela, que além da variação desses teores nos grãos
de milho, a atividade enzimática sobre as fibras também variam com o
tempo de armazenamento das silagens.

174
174 Fábio Jacobs Dias et al.
Tabela 1. Composição químico-fermentativa de SGMR com água (30 a 35%
de umidade).

MS= matéria seca; PB- proteína bruta; FDN= fibra em detergente neutro; FDA= fibra em detergente
ácido; N-NH3= nitrogênio amoniacal em g/kg MS do N total.

Sobre o uso de diferentes fontes liquidas para reidratação dos


grãos de milho e os efeitos nas características químico-fermentativas
da silagem (Tabela 2), o coproduto soro de leite foi investigado por
Rezende et al. (2014) em três níveis de umidade de reidratação do grão
de milho com água ou soro de leite e inoculação bacteriana. Sobre a
composição química, os teores médios de MS das silagens foram
maiores para a reidratação com soro de leite (64,92% de MS) do que
com água (62,85% de MS). Já para as silagens inoculadas (63,6% de
MS) não foi observado alteração no conteúdo de MS, e as silagens não
inoculadas apresentaram valor médio de 64,16% de MS.
Para o teor de proteína bruta (PB) Rezende et al. (2014)
encontraram para as SGMR com água os maiores valores do que com
soro de leite (10,27% e 9,61%, respectivamente). Já para os teores de
FDN e FDA os efeitos foram observados pela fonte liquida utilizada e o
nível de umidade na reidratação. As SGMR com soro de leite não
inoculadas, apresentaram os menores valores para FDN de 13,95% e
14,71% para os níveis de umidade de 300 e 400 ml/kg, respectivamente.
Os menores teores de FDA foram observados para as SGMR soro de
leite e inoculante com 6,5% e 5,4%, nos níveis de 300 e 350 ml/kg de
umidade na reidratação. Esses resultados, segundo os autores, podem
estar relacionados, com a variação desses teores de nutrientes nos

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 175
grãos de milho e a atividade enzimática sobre as fibras, que também
variam com o tempo de armazenamento das silagens.

Tabela 2. Composição químico-fermentativa (% da MS) de silagem de grão


de milho reidratado (SGMR) com soro de leite com e sem inoculante.

MS=Matéria seca na base da matéria natural; PB= Proteína bruta; EE=Extrato etéreo; FDN=fibra
detergente neutro; FDA=fibra detergente ácido; CT = Capacidade tampão (e.mg/100g MS); N-NH3
= Nitrogênio Amoniacal (% do nitrogênio total); Ác. org= ácidos orgânicos (% da MS)
*Autores: 1=Da Cruz et al. (2021); 2=Rezende et al. (2014); 3=Zanin et al. (2019)

As silagens de grãos de milho reidratados com soro de leite,


segundo Zanin et al. (2019c) apresentaram baixos teores de N-NH3 e
adequado valor de pH na abertura dos silos e na exposição ao ar (Tabela
2). Esses resultados, segundo os autores, podem ser devido à
composição do soro de leite, que possui carboidratos utilizados como
substratos pelas BAL no processo de fermentação favorecendo a
redução rápida do pH e menor atividade proteolítica. Para as silagens
com soro de leite fluido inoculadas, os valores pH também foram baixos,

176
176 Fábio Jacobs Dias et al.
devido à ação dos inoculantes bacterianos que permitem um pH mais
estável das silagens. Para os demais nutrientes avaliados, como os
teores de MS, PB, EE e fibras (Tabela 2), os efeitos do soro de leite
fluido também foram positivos e caracterizaram a silagem de grão
reidratado de boa qualidade (ZANIN et al., 2019a; 2021d).
Para DA CRUZ et al. (2021) foi encontrado maiores teores de MS e
cinzas para as silagens de grãos de milho reidratados com soro de leite
fluído comparado a reidratação dos grãos com água (Tabela 2), sem
apresentar diferença para perdas de MS. Estes resultados, segundo os
autores, são justificados pelo conteúdo de MS e minerais presentes no
soro de leite. As silagens que receberam inoculante bacteriano-enzimático
e como fonte de reidratação o soro de leite, foram obtidos os menores
valores de pH. A digestibilidade FDA foi maior para as silagens que
combinaram o inoculante e o soro de leite na reidratação. Esse resultado
parece estar relacionado com o complexo enzimático do aditivo, o qual
contém celulase e hemicelulose que podem causar afrouxamento do
arranjo estrutural das fibras presentes no pericarpo do milho. Para este
estudo, os autores concluíram que o soro de leite ácido e o uso do
enzimático-bacteriano inoculante melhorou as características químico-
fermentativas, e de digestibilidade in vitro das silagens.
Sob diferentes perspectivas de avaliar e aprimorar a qualidade
químico-fermentativa das SGMR, Farraretto et al. (2015) adicionaram
enzima exógena protease a fim de aumentar a proteólise e
digestibilidade do amido, bem como inclusão de inoculantes bacterianos
para acelerar a fermentação e aumentar a produção de ácidos. Não foi
observado diferença para o conteúdo de MS, PB e N-NH3 nas silagens
tratadas com e sem inoculante e enzima protease. A inoculação
microbiana reduziu o pH (3,99 vs. 4,40 em média) em comparação com
SGMR sem adição de inoculante, devido a maiores concentrações de
ácido lático (1,69 vs. 0,95% do MS em média). Além de baixa
concentração de ácido acético, propiônico e etanol com a inoculação
bacteriana.
Já Oliveira et al. (2019) avaliaram os efeitos da incorporação de
enzimas amilolíticas no milho moído reidratado sobre o perfil

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 177
fermentativo e a composição química da silagem. A adição da enzima
amilase aumentou o teor de MS nas silagens e a â-glucanase aumentou
a atividade da enzima amilase. Foi observado maior contagem de BALs
e N-NH3, sem alterar a composição química da silagem, quando
comparado com os valores das silagens controle. Para estes autores,
as enzimas amilolíticas melhoraram a fermentação do milho reidratado
e a enzima â-glucanase aumentou as perdas fermentativas.
Com intuito de utilizar diferentes fontes liquidas na reidratação
dos grãos de milho e efeitos na composição de SGMR, Tres et al. (2020)
avaliaram os efeitos de níveis de okara (subproduto do processo de
fabricação do leite de soja e tofu) sobre a qualidade químico-
fermentativa e estabilidade aeróbia de SGMR. Os autores observaram
que a inclusão de okara aumentou linearmente a PB, EE, FDN, FDA,
cinzas e concentração de ácido lático. A estabilidade aeróbia das silagens
aumentou com a inclusão de okara, devido à maior quantidade de ácidos
graxos de cadeia curta, como os ácidos butírico e acético, que se
acumularam durante a fermentação. No entanto, segundo estes autores,
o nível de inclusão de okara na SGMR não deve exceder 200 g kg”1 com
base na MS.
Quanto aos efeitos de aditivos sobre a qualidade químico-
fermentativa, Da Silva et al. (2019) compararam a conservação da
silagem de grãos de milho reidratado (SGMR) e grão úmido tratado ou
não com Lactobacillus buchneri em diferentes tempos de abertura. No
geral, o teor de MS aumentou para ambos os tratamentos até os 240
dias de estocagem e reduziu até os 300 dias. Foi observado maior teor
de MS para SGMR até os 60 dias de abertura, e maior teor de PB do que
grão úmido em todos os 300 dias de estocagem. Quanto a inoculação
de L. buchneri os valores de pH aumentaram para grão úmido ao longo
período avaliado, e houve redução na contagem de leveduras nas
silagens inoculadas. Os autores concluíram que a SGMR é uma
alternativa ao grão úmido e que a inoculação de L. buchneri melhorou a
estabilidade aeróbia de ambos os tipos de silagens.
Da Silva et al. (2018) investigaram o efeito de diferentes tipos e
doses de inoculantes na SGMR. As silagens tratadas com diferentes

178
178 Fábio Jacobs Dias et al.
doses de L. plantarum e Pediococcus acidilactici não diferiram nos teores
de PB, MS e N-NH3 das silagens sem inoculantes. A medida que as
doses da inoculação com L. buchneri eram aumentados os teores de
PB, MS e N-NH3 elevavam. Para estes autores o aumento da
concentração de N-NH3 nas silagens tratadas com L. buchneri foi
associado à diminuição da concentração de prolaminas, as quais são
decompostas por enzimas e microrganismos, através da proteólise e
solubilização de ácidos durante a fermentação.
O parâmetro de estabilidade aeróbia das silagens é utilizado
para medir a velocidade de deterioração da massa ensilada sob
exposição ao ar após abertura do silo (JOBIM et al., 2007), e seu
rompimento ocorre quando a silagem eleva a temperatura a 2°C acima
da temperatura ambiente (MORAN et al. 1996; TAYLOR; KUNG JUNIOR,
2002). Para mensurar a estabilidade aeróbia das silagens, os valores
de pH e temperatura tem sido observado para ao valor máximo atingido
após abertura dos silos, tempo para atingir o valor máximo, tempo para
que a silagem apresente tendência de elevação, e tempo para a
temperatura romper a estabilidade (JOBIM et al., 2007).
A deterioração da silagem está relacionada aos parâmetros de
qualitativos desse alimento. Quanto melhor for a qualidade da silagem,
maior será a atividade de microrganismos que a decompõem, devido a
presença de maiores concentrações de carboidratos solúveis, ácidos e
etanol, que são utilizados como substratos por fungos e leveduras.
Fatores como concentração de oxigênio e a profundidade que o ar
penetra no silo, ou seja, a porosidade da silagem determinada pela
massa especifica (kg de silagem/m3), podem influenciar a estabilidade
aeróbia da silagem (JOBIM et al., 2007).
A estabilidade aeróbica e deterioração das silagens estão
intimamente ligadas com a presença de fungos e leveduras presentes
na massa ensilada. Os fungos possuem ação de metabolizar os açucares
e ácidos orgânicos, que resultará na formação de gás carbônico e água,
e aumento na temperatura do silo. Outra ação é a degradação de
proteínas com consequente produção de amônia, a qual dificulta o
abaixamento do pH (McDONALD; HENDERSON; HERON, 1991). A

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 179
presença de leveduras somado aos fungos e bacilos também agem na
degradação do ácido lático, logo que ocorre a abertura dos silos com
agravamento na estabilidade das silagens, pois essa degradação gera
dióxido de carbono, ácido acético e etanol (LINDGREN et al., 1985).
A sofisticação da técnica de ensilagem envolve a inclusão de
aditivos químicos e bacterianos, que são utilizados para preservar a
qualidade e evitar a deterioração das silagens. As bactérias
heterofermentativas desempenham papel fundamental na prevenção
de deterioração aeróbica (KUNG et al., 2003). O uso de inoculantes
bacterianos que possuem o L. buchneri têm mostrado aumento na
estabilidade das silagens de grão de milho reidratado e grão úmido
(BASSO et al., 2012; REZENDE et al., 2014; DA SILVA et al., 2018).
Rezende et al. (2014) ao avaliar a estabilidade aeróbia da SGMR
com soro de leite durante 80 horas de exposição ao ar, verificaram que
a inclusão de inoculante com Enterococcus faecium, L. plantarum e
Pediococcus acidilactici proporcionou maior estabilidade das silagens,
independente do liquido utilizado para reidratação. No geral,
apresentaram baixas temperaturas dentro dos silos e menor pH durante
a exposição, e valores médios mais baixos para temperatura máxima
de 27,02°C e pH máximo de 4,45. Para Rabelo et al. (2014) a aplicação
de BAL homofermentativas reduziu a estabilidade aeróbica, devido as
silagens apresentarem alto valor nutritivo, e os nutrientes assim
preservados são utilizados por microrganismos deteriorantes. Segundo
Rezende et al. (2014), esse comportamento é típico de silagens com
alta umidade, e a associação entre alta umidade e inoculante
(homofermentativo) faz com que ocorra redução da estabilidade
aeróbica das silagens de grãos de milho.
Da Silva et al. (2018) investigaram diferentes tipos e doses de
inoculantes em SGMR. As silagens foram tratadas com diferentes doses
de L. plantarum, Pediococcus acidilactici e L. buchneri não foram
influenciadas pelos efeitos das diferentes doses. A estabilidade aeróbica
das silagens tratadas com L. buchneri aumentou em 406% em
comparação com a silagem sem aditivo. Já a estabilidade aeróbia das
silagens tratadas com L. plantarum, Pediococcus acidilactici reduziu

180
180 Fábio Jacobs Dias et al.
em 26% em relação a silagem sem aditivo. No entanto, o processo de
fermentação não foi alterado pela inoculação das bactérias
homofermentativas, mas a concentração de ácido acético foi reduzida
significativamente, caracterizando menor estabilidade e maiores picos
de temperatura. O pH das silagens tratadas com L. buchneri
permaneceu estável durante os 12 dias de exposição aeróbia, já o pH
das silagens sem aditivo e tratadas com L. plantarum e Pediococcus
acidilactici aumentou acentuadamente após os 4 dias de exposição
permanecendo superior a L. buchneri ao longo dos 12 dias.
Da Silva et al. (2019) compararam a conservação das SGMR e
grão úmido tratadas ou não com inoculante de L. buchneri em diferentes
tempos de estocagem. Foi constatado que a estabilidade aumentou
com o tempo de armazenamento e foi maior em ambas silagens
inoculadas com L. buchneri, quando comparadas ao tratamento controle.
Segundo os autores, esse aumento na estabilidade foi relacionado ao
gradual acumulo de produtos da fermentação, como ácido acético e
propiônico.
De forma geral, as silagens de grãos de milho reidratados com
água e ou soro de leite apresentam boas características químico-fermen-
tativas e quando inoculadas garantem maior estabilidade aeróbia
quando expostas ao ar.

Microbiologia e uso de inoculantes bacterianos em silagens de grãos


de milho reidratados
A população microbiana das silagens varia entre os microrga-
nismos desejáveis e indesejáveis, que determinam a qualidade geral
da silagem. As espécies de bactérias aeróbias facultativas de maior
número da população, que não contribuem para preservação das
silagens, são inibidas logo que o silo é fechado. Para a fermentação da
massa ensilada as bactérias láticas desempenham papel fundamental
de conservação. Estas incluem principalmente gêneros Lactobacillus,
Streptococcus, Pediococcus e Leuconostoc, as quais são responsáveis
pela produção do ácido lático e pela fermentação de açucares (MUCK
et al., 2013).

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 181
As bactérias ácido láticas (BAL) possuem um papel fundamental
no processo de ensilagem, pois inibem o crescimento de microrganismos
indesejáveis que deterioram a silagem e facilitam a recuperação da
energia dos carboidratos fermentados, por meio da produção de ácido
lático. As BAL da microflora epifítica (endógena) são essenciais para o
processo de fermentação da silagem e responsáveis pela produção do
ácido lático. No entanto, existe grande variação na concentração e
espécie de acordo com a cultura utilizada (SILVA et al., 2011).
Em silagens os principais gêneros de BAL são os Lactobacillus,
Pediococcus, Leuconostoc, Enterococcus e Streptococcus. As bactérias
desses gêneros podem ser divididas em homofermentativas e
heterofermentativas. As homofermentativas (ex. L. acidophilus e L.
lactis) produzem principalmente o ácido lático e caracterizam-se mais
eficientes em produção desse ácido e perda de energia. Já as
heterofermentativas produzem substancias adicionais como o etanol e
ácido acético, além do gás carbônico (CO2). Essas podem ser
classificadas em três grupos diferentes de acordo com o modo de uso
da glicose: homofermentativas obrigatórias (1), heterofermentativas
facultativas (2) e obrigatórias (3) (HOLZER et al., 2003).
As espécies do grupo 1 são responsáveis pela fermentação de
hexoses à ácido lático com a enzima frutosebifosfato (FBP), ou seja,
convertem a glicose apenas em ácido lático (ex. L. acidophilus, L. lactis,
etc). As do grupo 2 fermentam hexoses e pentoses quase que
exclusivamente à ácido lático utilizando a enzima FBP, mas são capazes
de fermentar também as hexoses em etanol e ácido acético com a
enzima fosfoquetolase (ex. L. curvatus, L. plantarum, etc). Já as
heterofermentativas do grupo 3, além de fermentar hexoses à ácido
lático, resultam em produtos como etanol, acético e CO2 apenas com a
enzima fosfoquetolase (ex. L. buchineri, L. fermentum). Nas silagens
estão presentes, em sua grande maioria, as BAL dos grupos
heterofermentativas facultativas (L. curvatus, L. plantarum, etc) e
obrigatórias (L. buchneri, L. fermentum) (HOLZER et al., 2003).
L. plantarum é considerado uma das espécies mais estudadas
na produção de silagens. Essa bactéria é classificada como

182
182 Fábio Jacobs Dias et al.
heterofermentativa facultativa com características de crescimento
vigoroso, possui competitividade e dominância sobre os outros
microrganismos e capacidade de produzir elevadas quantidades de ácido
láctico, a partir da fermentação de açucares presente nas forragens.
Possui faixa de temperatura de crescimento até 50°C e habilidade de
crescer em substrato com baixo teor de umidade, além de produzir
rapidamente pH de 4,0 para inibir o crescimento de outros
microrganismos (McDONALD; HENDERSON; HERON, 1991).
L. buchneri é uma espécie de bactérias heterofermentativas
obrigatórias com inúmeros estudos sobre sua contribuição nos últimos
anos à conservação da silagem, principalmente de grãos ensilados (DA
SILVA et al., 2018; DA SILVA et al., 2019; OLIVEIRA et al., 2019). O L.
buchineri metaboliza ácido lático em pH de 3,8 e converte ácido acético
em pH inferior a 5,8. Um terço da MS é perdida na forma de CO2 durante
a conversão do ácido lático à acético, mas a presença do ácido acético
após abertura do silo pode compensar as maiores perdas pela ação
dos microrganismos aeróbios (WEINBERG; MUCK, 1996).
A microbiologia da SGMR foi estudada recentemente e abrange
desde os microrganismos benéficos à fermentação até os indesejáveis
(Tabela 3). Da Silva et al. 2018 encontraram que as SGMR tratadas com
Lactobacillus buchineri apresentaram maior contagem de bactérias ácido
láticas (BAL) do que a silagem controle. Já as silagens tratadas
Lactobacillus plantarum e Pediococcus acidilactici apresentaram
menores contagens de BAL. O aumento de 89,6% de BAL nas silagens
tratadas Lactobacillus buchineri, pode ser explicada segundo os autores,
que a degradação do ácido lático por L. buchineri serve como
autoproteção contra o declínio do pH permitindo a sobrevivência das
bactérias por longos períodos. As silagens controle (sem aditivo)
apresentaram média de 3,6 tratadas com Lactobacillus plantarum e
Pediococcus acidilactici média de 2,59 e com L. buchineri 6,37 de log
UFC/g.
Da Silva et al. (2019) também observaram que a inoculação de
L. bucheneri apresentou maior contagem de bactérias ácidos láticas
nas SGMR e SGU até os 120 dias de armazenamento e menor contagem

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 183
de leveduras, além da redução na contagem de leveduras aos 30, 60 e
90 dias de armazenamento para ambas as silagens.
Oliveira et al. (2019) avaliaram a inclusão de enzimas amilolíticas
na SGMR sobre o perfil microbiológico da silagem. Para as silagens
tratadas com enzimas á-amilase e â-glucanase apresentaram maior
contagem de BALS (5 e 6,15 log10, respectivamente) e menor contagens
de leveduras e mofos e bactérias aeróbias quando comparadas com a
silagem sem aditivos. Os autores explicam que as adições das enzimas
provavelmente aumentaram a disponibilidade de substrato para
crescimento de BAL e contribuíram para acelerada redução do pH. A
razão para redução na contagem de fungos e bactérias aeróbias é a
fermentação rápida, pois é responsável pelo aumento na absorção do
oxigênio para estabelecer a anaerobiose.

Tabela 3. Microrganismos identificados em silagens de grãos de milho


reidratados

MS= Matéria seca.


Fonte: Adaptado de Zanin et al. (2021a)

Além das bactérias benéficas encontradas na massa ensilada


pode haver os microrganismos indesejáveis do gênero Clostridium, que
são bactérias anaeróbicas fermentadoras de açucares, ácido lático e
aminoácidos. Os efeitos negativos dessa fermentação resultam em
perdas de MS, produção de ácido butírico e aminas, menor aceitação
do alimento pelo animal e redução da estabilidade aeróbica das silagens.
No gênero Clostridium os sacarolíticos produzem ácido butírico a partir
da fermentação de açucares e ácido lático identificado como C.
butyricum, os proteolíticos que fermentam aminoácidos e produzem os

184
184 Fábio Jacobs Dias et al.
ácidos butírico, acético, propiônico, além da produção de amônia,
aminas e gás carbônico pelo C. esporogenes. Ainda pode haver a junção
de ambos, os sacaro-proteoliticos como exemplo o C. perfringens
(McDONALD; HENDERSON; HERON, 1991).
A contaminação por bactérias anaeróbica da espécie Listéria
monocytogenes é um agravante na produção de silagens, devido à alta
patogenicidade ao homem e aos animais. Esta bactéria pode contaminar
a massa ensilada durante o processo de colheita das culturas e seu
desenvolvimento pode ocorrer em meios com pH superior a 5,2
(LINDGREN; PAHLOW; OLDENBURG, 2002). As enterobactérias também
podem ocasionar perdas na qualidade da silagem por competirem pelos
açucares com as BAL no início da fermentação, visto que sua inibição
ocorre em pH menor que 5,0. As silagens podem ser expostas a
contaminação por fungos, leveduras e mofos. As leveduras anaeróbicas
por sua vez promovem fermentação alcóolica de açucares e os fungos
de crescimento aeróbico, como os Aspergillus, Fusarium e Penicillum
que levam a formação de toxinas com efeitos prejudiciais à saúde dos
animais (LINDGREN et al., 1985).
A estabilidade aeróbica e deterioração das silagens estão
intimamente ligadas com a presença de fungos e leveduras presentes
na massa ensilada. Os fungos possuem ação de metabolizar os açucares
e ácidos orgânicos que resultará na formação de gás carbônico e água
e aumento na temperatura do silo. Outra ação é a degradação de
proteínas com consequente produção de amônia (NH3), a qual dificulta
o abaixamento do pH (McDONALD, HENDERSON e HERON, 1991). A
presença de leveduras somado aos fungos e bacilos também agem na
degradação do ácido lático, logo que ocorre a abertura dos silos com
agravamento na estabilidade das silagens, pois essa degradação gera
dióxido de carbono, ácido acético e etanol (LINDGREN et al., 1985).
A aplicação de aditivos biológicos em silagens tem por objetivo
a adição de BAL em quantidades suficientes para dominar o processo
fermentativo, a fim de produzir rapidamente ácido lático e a diminuição
do pH. Assim, junto com o peróxido de hidrogênio e as bactérias
produzidas no processo de fermentação, ocorre a preservação e

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 185
melhorias das propriedades nutritivas da silagem (GOLLOP; ZAKIN;
WEINBERG, 2005). Segundo McDonald, Henderson e Heron (1991) o
curso da fermentação pode ser comprometido por fatores inerentes a
cultura e de manejo durante a ensilagem, e o uso de inoculantes
bacterianos pode contribuir positivamente neste processo. No entanto,
de acordo com Kung Junior et al. (2003), o rápido rebaixamento de pH
da massa ensilada compromete a produção de ácido acético, que por
ventura determina uma silagem com baixa estabilidade aeróbia. Por
outro lado, bactérias heterofermentativas obrigatórias podem prevenir
a deterioração aeróbica. Isso indica que uma consorciação de bactérias
heterofermentativas facultativas e homofermentativas pode resultar
em silagens de melhor qualidade.
Os aditivos podem ser classificados em 4 categorias segundo
McDonald, Henderson e Heron (1991) e Kung et al. (2003) com base
em sua preservação das silagens: estimuladores da fermentação,
inibidores da fermentação, inibidores de deterioração aeróbia, nutrientes
e absorventes. Para Muck et al. (2018) os aditivos podem apresentar
mais modos de ação baseado nas categorias mencionadas acima, além
dos efeitos que se concentram dentro do silo, como também a utilização
pelos animais. Diante desse contexto, Muck et al. (2018) dividiram em
6 grupos de aditivos como perspectiva de melhor aproveitamento e
aplicabilidade dessas informações pelos produtores: BAL
homofermentativa (1), BAL heterofermentativa obrigatória (2),
inoculantes combinados contendo BAL (heterofermentativa obrigatória
mais homofermentativa ou facultativa) (3), outros inoculantes (não BAL)
(4), aditivos químicos (5) e enzimas (6).
Os aditivos compostos por BAL homofermentativa (1) são mais
antigos e comumente utilizados, atualmente são reconhecidas como
heterofermentativas facultativas por possuírem a enzima
fosfoquetolase, a qual permite a fermentação de pentoses para
produção de ácido lático e acético. Os efeitos sobre as silagens tratadas
com esse tipo de aditivo resultam em concentrações mais baixas de
ácido acético, butírico, e nitrogênio amoniacal, além do pH mais baixo
e promover boa recuperação de MS. Com relação ao desempenho animal

186
186 Fábio Jacobs Dias et al.
foi observado aumento na produção de leite (OLIVEIRA et al., 2017),
melhoria no desempenho devido a inibição de toxinas e microrganismos
prejudiciais (ELLIS et al., 2016), além do aumento na massa microbiana
do rúmen (CONTRERAS-GOVEA et al., 2011). No entanto, melhorias no
desempenho animal promovidas pela qualidade da silagem inoculada
são difíceis de explicar (MUCK et al., 2018).
As BAL heterofermentativas obrigatórias (2) correspondem à
família Lactobacillaceae, gênero Lactobacillus, Oenococcus, Leuconostoc
e Weissella. Dentre estes gêneros, o Lactobacillus da espécie buchneri
é mais estudado e visto como potencial em termos de uso para melhorar
a fermentação da silagem, por estar relacionado diretamente com a
estabilidade aeróbia das silagens (MUCK et al., 2018).
O uso de inoculantes combinados contendo BAL (3) visa alcançar
os benefícios que tanto as bactérias heterofermentativas facultativas,
quanta as obrigatórias oferecem, em um mesmo produto para qualidade
da silagem. A heterofermentativa facultativa controla o período de
fermentação ativa precoce, eliminando as enterobactérias, clostrídios
e outros microrganismos, para reduzir as perdas por proteólise e MS, e
espera-se rápida queda do pH. Enquanto que a BAL heterofermentativa
obrigatória (ex. L. buchneri), por sua vez converteria de forma lenta o
ácido lático em ácido acético, aumentando o pH e melhoria da
estabilidade aeróbica, após o período de fermentação ativa da silagem.
Quanto ao desempenho animal espera dessa associação a contribuição
no ganho de peso diário ou produção de leite, por exemplo, devido a
silagem ser conservada de forma ideal e se manterá fresca no cocho
(MUCK et al., 2018).
Outros inoculantes (espécies não BAL) (4) como Streptococcus
bovis, Propionibacterium acidipropionici, espécies de Bacillus e
leveduras foram investigados nos últimos anos. Um exemplo de
inoculação em silagens, é com espécies de Propionibacterium para
produção de ácido propiônico durante a ensilagem e melhorar a
estabilidade aeróbica (MUCK et al., 2018).
Os aditivos químicos (5) em forma de ácidos e sais, também são
usados em silagens. O ácido fórmico pode ser usado para causar uma

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 187
acidificação e declinação direta de bactérias indesejáveis, porém deve
ser respeitado a taxa de aplicação e tamponamento do mesmo. Outros
ácidos como sórbico, benzóico, propiônico e acético também são
utilizados para melhorar a estabilidade aeróbica da silagem, pois atuam
na inibição direta de leveduras e bolores. Já os sais, inibem leveduras e
fungos através da liberação do respectivo ácido, proporcionando
melhora na estabilidade aeróbica das silagens. Os sais utilizados são
benzoato de sódio, sorbato de potássio, propionato de amônio,
propionato de cálcio, propionato de sódio e acetato de sódio (AUERBACH
et al., 2012).
Para os aditivos enzimáticos (6) o objetivo de adição nas silagens
é melhorar a fermentação e valor nutricional. O aditivo é composto por
mistura de enzimas celulases e hemicelulases, que irão atuar na
liberação de carboidratos da parede celular das plantas, e deixar
disponíveis esses compostos para as BAL fermentarem em ácido lático.
Com relação ao desempenho animal tanto para aditivos químicos e
enzimáticos como para os demais inoculantes biológicos os efeitos são
positivos, porém a maioria dos trabalhos apresentam observações de
forma indireta. Ainda se faz necessário muitos estudos de como a adição
desses compostos em silagens afetam o desempenho de animais e
também para oportunizar uma seleção aprimorada na escolha de
aplicação (MUCK et al., 2018).
De forma geral, os aditivos (ácidos e sais; ex. ácido propiônico e
acético, benzoato de sódio) possuem as principais ações de preservar
o teor de carboidratos solúveis, proporcionar valores de pH mais altos,
promover melhorias da estabilidade aeróbia da silagem e atuar como
controlador da população microbiana. Já os aditivos com bactérias
heteroláticas (inoculante microbiano; ex. L. buchneri) possuem ações
de favorecimento da produção de ácidos orgânicos, controle de forma
efetiva leveduras e fungos, controle de pH (pH mais estável), e aumento
da estabilidade aeróbica das silagens, principalmente na proteção de
painel do silo, quando exposto ao oxigênio.

188
188 Fábio Jacobs Dias et al.
Uso da silagem de grão de milho reidratado na alimentação animal
O desempenho produtivo de diferentes espécies de animais de
produção foi investigado por meio de estudos científicos desenvolvidos
com objetivo de avaliar os efeitos do uso de silagem de grão de milho
reidratado. Até o momento, estudos com bovinos de corte e leite, ovinos
e suínos em fase de crescimento (Tabela 4) foram conduzidos e
apresentam resultados de ganhos satisfatórios com inclusão desse tipo
de alimento.

Tabela 4. Desempenho produtivo de animais de produção alimentados com


silagem de grão de milho reidratado

MS = Matéria seca
Fonte: Adaptado de Zanin et al. (2021a)

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 189
Para leitões desmamados que foram avaliados no período de 21
a 50 dias de idade, Zanin et al. (2021b) incluíram na dieta SGMR com
água, água+inoculante e/ou soro de leite, a fim de avaliar o desempenho
produtivo comparado a ração à base de grão de milho seco (RC) (Tabela
4). Neste estudo, foi observado maior ganho de peso diário (GPD) e
melhor conversão alimentar (CA) para RC com 306,01 g dia-1 e 1,37,
respectivamente. No entanto, os leitões que receberam ração com
silagem de grão reidratado com água apresentaram GPD de 248,17 g
dia-1 sem diferir significativamente do grupo RC no período total avaliado.
Os tratamentos com SGMR não diferiram entre si (P>0,05) para GPD e
CA. Foram alcançados valores de GPD de 213,41 g dia-1 para o grupo de
leitões que receberam ração com SGMR com água+inoculante, e 206,83
g dia-1 silagem com grão reidratado com soro de leite. Para o parâmetro
de consumo de ração não foi observado diferença significativa entre os
tratamentos com valor médio de 415,66 para RC e 428,18 g dia-1 de MS
para os tratamentos com inclusão de silagem. Para estes autores, a
SGMR com água pode ser considerada um alimento alternativo ao grão
de milho seco em rações de leitões desmamados até os 50 dias de
idade, sem afetar o desempenho produtivo desses animais.
Figueira et al. (2020) com o objetivo de avaliar o efeito da
substituição do milho moído por SGMR no desenvolvimento folicular
em ovelhas Santa Inês, encontraram que o estro e a taxa de crescimento
dos folículos ovulatórios foram maiores no grupo SGMR do que no grupo
controle, resultando em folículos maiores na ovulação. Não foi observado
efeito dos tratamentos no consumo de MS, nas concentrações
plasmáticas de glicose e nitrogênio ureico, ou na porcentagem de
ovelhas que ovularam e no número de ovulações. O consumo de MS
pelo grupo de ovelhas que receberam a SGMR na dieta foi de 1 kg/dia
e a taxa de ovulação de 75%, com ganho médio diário de 96,5 g/dia.
Para esses autores, a substituição do milho moído por silagem de grãos
de milho reidratados em dietas de flushing pode alterar o
desenvolvimento folicular, resultando em atraso no início do estro e na
ovulação de folículos maiores e isso não beneficia o número de
ovulações.

190
190 Fábio Jacobs Dias et al.
Bolson et al. (2020) avaliaram a eficiência do consumo de ração,
digestibilidade, eficiência microbiana e balanço de nitrogênio de
cordeiros em confinamento alimentados com inclusão de SGMR com
glicerina bruta ou água em substituição do milho seco. Os cordeiros
apresentaram consumo médio de 1,08 kg/dia e melhoria da
digestibilidade da MS com 73,15 % nas dietas com silagem de milho
reidratado. Foi observado que o consumo de FDN foi maior para o grão
de milho seco e a dieta contendo 225 g/kg de NM de glicerina bruta
teve menor ingestão de FDA. O balanço de nitrogênio e a eficiência
microbiana não foram afetadas pela inclusão de silagem na dieta. Os
autores desse estudo, concluíram que a inclusão de SGMR com 150 g/
kg NM de glicerina bruta é recomendada como ração em substituição à
dieta de milho seco, devido ao uso eficiente dos nutrientes da dieta e
melhoria no desempenho animal.
O uso de SGMR foi avaliado também quanto ao desempenho de
bovinos leiteiros. Arcari et al. (2016) avaliaram o efeito da substituição
do milho seco pelo milho reidratado com 90 dias de armazenamento
em dietas para vacas leiteiras sobre o consumo de nutrientes,
digestibilidade aparente do trato total e produção e composição do
leite. O aumento da inclusão da silagem causou aumento no consumo
de MS (18,79 kg/dia), PB e carboidratos não fibrosos e a ingestão de
FDN diminuiu quadraticamente. Foi observado aumento linear da
produção de leite (23,43 kg/vaca/dia) e a produção de gordura, proteína,
lactose e sólidos totais (3,04 g/100g) com inclusão da SGMR. Os autores
concluíram que a substituição do milho seco por grão reidratado
aumenta a produção de leite em 2,1 litros/vaca/dia e digestibilidade
total aparente do amido em 8% de vacas leiteiras no final da lactação.
Para Castro et al. (2019) o efeito da SGMR foi avaliado quanto
ao tamanho de partícula e a proporção de amido na dieta sob o consumo,
desempenho da lactação, digestibilidade dos nutrientes, perfil de
fermentação ruminal e comportamento mastigação de vacas leiteiras.
A moagem do milho com tamanho de partícula de 2.185 µm, segundo
os autores, não afetou o armazenamento do grão ensilado e o milho
armazenado por mais de 200 dias eliminou amplamente o efeito do

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 191
tamanho de partícula no consumo, desempenho da lactação, diges-
tibilidade dos nutrientes, perfil de fermentação ruminal e compor-
tamentos de mastigação e seleção. No entanto, os grãos moídos mais
finos foram mais fermentáveis no rúmen do que o moído grosso, além
de ter reduzido o tempo de ruminação por dia e aumentado o tempo de
alimentação por ingestão de MS. A conclusão dos autores foi de que a
moagem mais grossa do milho grão pode ser uma estratégia para
aumentar a taxa de moagem, poupar mão de obra e energia durante a
ensilagem, sem afetar o desempenho da vaca.
Para bovinos de corte em confinamento alimentados com SGMR
e silagem de grão úmido, os resultados de desempenho foram revisados
por Jacovi et al. (2021) por meio de uma meta-análise. Foi constatado,
segundo os autores, que a ensilagem do grão de milho aumentou a
digestibilidade do trato total da MS em mais de 4,59% e 3,33% do amido.
Já o consumo de MS diminuiu em 14,1%, com 10,3 e 8,85 kg/d para
seca e ensilada, respectivamente, bem como para o consumo de energia
metabolizável em 4,39%. Porém, o ganho médio diário (1,61 e 1,58 kg/
d para milho seco e ensilado, respectivamente) e as características de
carcaças não foram afetados. A eficiência alimentar aumentou em 18,3%,
com valor de 0,164 para o grão seco e 0,194 para grão ensilado, e o
valor alimentar do grão ensilado foi 25,7% maior que o grão seco. Diante
dos resultados obtidos, os autores concluíram que a ensilagem é uma
estratégia eficiente para melhorar o valor calórico do grão de milho do
tipo duro para bovinos em terminação.

Considerações finais
De forma geral, a silagem de grão de milho reidratado é uma
alternativa de preservação e armazenamento dos grãos, bem como uma
forma de assegurar estoque de alimento em períodos críticos do ano. A
qualidade da silagem de grão reidratado está diretamente relacionada
com o processamento e a qualidade dos grãos, na qual a granulometria
durante a moagem deve ser considerada para cada espécie animal e
tempo de armazenamento. A reidratação do grão moído pode ser
realizada com uso do soro de leite integral, o qual é uma fonte líquida

192
192 Fábio Jacobs Dias et al.
alternativa à água, e oferece boa qualidade da silagem. Durante a
ensilagem dos grãos é importante considerar o uso de aditivos bacte-
rianos que aprimoram a conservação, fermentação e estabilidade ae-
róbia da silagem. O período de armazenamento da silagem (silo fecha-
do) é de no mínimo de 45 a 60 dias, sendo ideal um período maior que
90 dias de silo fechado, para garantir maior digestibilidade do amido,
matéria seca, e estabilidade aeróbia. Por fim, o uso crescente da silagem
de grão reidratado na alimentação animal caracterizam-na como
alimento alternativo ao grão de milho seco nas dietas.

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200
200 Fábio Jacobs Dias et al.
RESUMOS

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 201
ADIÇÃO DE ENZIMA EXÓGENA PROTEASE EM SILAGEM DE
SORGO GIGANTE BOLIVIANO AGRI 002E: ESTABILIDADE
AERÓBIA

Alessandra G. Fontenele1, Maikon A. T. Araújo1, Alan V. B. Paixão1,


Marcos P. Lima1, Rayran A. Silva1, Jefferson R. Gandra*

Palavras-chave: Bacillus licheniformis, extrato enzimático, pH, Sorghum


bicolor, temperatura

Introdução: O sorgo gigante boliviano AGRI 002E (Sorghum bicolor)


produz altos níveis de matéria seca mesmo sobre condições climáticas
desfavoráveis para a maioria das culturas. A inclusão de enzimas
exógenas em forragens conservadas pode reduzir perdas, melhorar o
valor nutricional e estabilidade aeróbia de forragens conservadas. O
objetivo deste estudo foi avaliar a adição proteases em silagem de
sorgo gigante boliviano Agri 002E, sob estabilidade aeróbia. Material
e Métodos: Foram utilizados 50 silos experimentais distribuídos
aleatoriamente em delineamento inteiramente casualizado, onde os
tratamentos experimentais foram: 1- Controle ( sem adição de protease);
2 - 500 (adição de 500 ml/ton de extrato enzimático de Bacillus
licheniformis, atividade de protease 600 UI/ml); 3 - 1000 (adição de
100 ml/ton de extrato enzimático de Bacillus licheniformis, atividade
de protease 600 UI/ml); 4 - 1500 (adição de 1500 ml/ton de extrato
enzimático de Bacillus licheniformis, atividade de protease 600 UI/ml);
5 - 2000 (adição de 2000 ml/ton de extrato enzimático de Bacillus
licheniformis, atividade de protease 600 UI/ml). Após a abertura dos
silos, amostras foram colocadas em baldes plásticos, pesadas e
armazenadas em temperatura ambiente para avaliação da estabilidade

¹ Faculdade de Ciências Agrárias de Marabá. Instituto de Estudos em Desenvolvimento Agrário e Regional.


Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará. PEPETI- Canaã dos Carajás-PA.
*Autor correspondente: jeffersongandra@unifesspa.edu.br

202
202 Fábio Jacobs Dias et al.
aeróbia, onde foram mensurados diariamente a temperatura do ar (OC).
As temperaturas das silagens no período após abertura foram obtidas
a cada 8 horas durante cinco dias por meio de um termômetro inserido
na massa de silagem contida nos baldes. A estabilidade aeróbia foi
calculada como o tempo gasto, em horas, para a massa de silagem
elevar em 1oC em relação à temperatura do ambiente. No período de
estabilidade aeróbia as silagens foram amostradas diariamente para
determinação do pH. As análises estatísticas foram realizadas pelo SAS
9.2 e as médias analisadas por regressão polinomial e medidas repetidas
no tempo, nível de significância de 5%. Resultados e Discussão: Foi
observado efeito de tempo e tratamento para a temperatura dos silo
no período da estabilidade aeróbia. Foi observado efeito quadrático
para a diferença de temperatura ambiental e a temperatura dos silos
com dose ótima de protease (extrato enzimático de Bacillus
licheniformis) de 1000 ml/ton. A silagem com inclusão de 1000 ml/ton
de protease perdeu a estabilidade aeróbia depois de 96 horas de
avaliação, enquanto a silagem controle perdeu a estabilidade com 36
horas de exposição ao oxigênio. Para o pH, foi observado efeito de
tempo e tratamento para adição de protease nas silagem de sorgo
gigante boliviano Agri 002E. Foi observado efeito linear decrescente
para a concentração de pH no período de exposição ao oxigênio, onde
quanto maior a inclusão de protease menor o pH obtido. Conclusões: A
inclusão de extrato enzimático de Bacillus licheniformis influenciou
positivamente a estabilidade aeróbia da silagem de sorgo gigante
boliviano Agri 002E, recomendando a dose de 1000 ml/ton.

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 203
ADIÇÃO DE ENZIMA EXÓGENA PROTEASE EM SILAGEM DE
SORGO GIGANTE BOLIVIANO AGRI 002E: PERDAS
FERMENTATIVAS

Maikon A. T. Araújo1, Thiago N. Coutinho1, Marcos P. Lima1, Francely


T. Gomes1, Rayran A. Silva1, Jefferson R. Gandra*

Palavras-chave: Bacillus licheniformis, ensilagem,extrato enzimático,


forragem tropical, Sorghum bicolor.

Introdução: O sorgo gigante boliviano AGRI 002E (Sorghum bicolor)


produz altos níveis de matéria seca mesmo sobre condições climáticas
desfavoráveis para a maioria das culturas. A inclusão de enzimas exóge-
nas em forragens conservadas pode reduzir perdas, melhorar o valor
nutricional e estabilidade aeróbia de forragens conservadas. O objetivo
deste estudo foi avaliar a adição proteases em silagem de sorgo gigante
boliviano Agri 002E, sob as perdas fermentativas. Material e Métodos:
Foram utilizados 50 silos experimentais distribuídos aleatoriamente em
delineamento inteiramente casualizado, onde os tratamentos experi-
mentais foram: 1- Controle (sem adição de protease); 2 - 500 (adição
de 500 ml/ton de extrato enzimático de Bacillus licheniformis, atividade
de protease 600 UI/ml); 3 - 1000 (adição de 100 ml/ton de extrato
enzimático de Bacillus licheniformis, atividade de protease 600 UI/ml);
4 - 1500 (adição de 1500 ml/ton de extrato enzimático de Bacillus
licheniformis, atividade de protease 600 UI/ml); 5 - 2000 (adição de
2000 ml/ton de extrato enzimático de Bacillus licheniformis, atividade
de protease 600 UI/ml). Os silos experimentais foram compostos de
baldes de polietileno de 40 cm de altura e 30 cm de diâmetro, com

¹ Faculdade de Ciências Agrárias de Marabá. Instituto de Estudos em Desenvolvimento Agrário e Regional.


Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará. PEPETI- Canaã dos Carajás-PA.
*Autor correspondente: jeffersongandra@unifesspa.edu.br

204
204 Fábio Jacobs Dias et al.
tampas com válvulas de Bunsen para permitir o escape dos gases. No
fundo dos silos, foi colocado areia seca (2kg) separada do capim
Mombaça por uma tela e um tecido de náilon para quantificação do
efluente produzido. Aos 60 dias de fermentação, foram novamente
pesados para determinação das perdas por gases e, em seguida, abertos
aos 60 dias. Após a retirada da silagem, o conjunto silo, areia, tela e
tecido de náilon foram pesados para quantificação do efluente e perdas.
As análises estatísticas foram realizadas pelo SAS 9.2 e as médias
analisadas por regressão polinomial, nível de significância de 5%.
Resultados e Discussão: Foi observado efeito quadrático (Pd” 0,028)
para as perdas por gases (matéria fresca e % da matéria seca), perdas
totais (% da matéria seca) e recuperação da matéria seca. Para todas
as variáveis supracitadas o ponto ótimo foi de 1000 ml/ton de extrato
enzimático de Bacillus licheniformis. A adição de enzimas exógenas
proteases na dose de 1000 ml/ton reduziu as perdas por gases e perdas
totais de matéria seca e aumentou a recuperação de matéria das
silagens de sorgo gigante boliviano. A adição de proteases pode ter
beneficiado o desenvolvimento de bactérias acido láticas por
proporcionar maior concentrações de nutrientes no processo de
fermentação reduzindo as perdas e aumentando a recuperação de
matéria seca. Conclusões: A inclusão de extrato enzimático de Bacillus
licheniformis na dose de reduziu as perdas de matéria de silagem de
sorgo gigante boliviano Agri 002E, recomendando a dose de 1000 ml/
ton.

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 205
ADIÇÃO DE ENZIMA EXÓGENA PROTEASE EM SILAGEM DE
SORGO GIGANTE BOLIVIANO AGRI 002E: VALOR NUTRICIONAL

Francey T. Gomes1, Maikon A. T. Araújo1, Alan V. B. Paixão1, Marcos P.


Lima1, Alessandra G. Fontenele1, Jefferson R. Gandra*

Palavras-chave: Bacillus licheniformis, ensilagem, extrato enzimático,


proteína bruta, Sorghum bicolor.

Introdução: O sorgo gigante boliviano AGRI 002E (Sorghum bicolor)


produz altos níveis de matéria seca mesmo sobre condições climáticas
desfavoráveis para a maioria das culturas. A inclusão de enzimas exóge-
nas em forragens conservadas pode reduzir perdas, melhorar o valor
nutricional e estabilidade aeróbia de forragens conservadas. O objetivo
deste estudo foi avaliar a adição proteases em silagem de sorgo gigante
boliviano Agri 002E, sob o valor nutricional. Material e Métodos: Foram
utilizados 50 silos experimentais distribuídos aleatoriamente em
delineamento inteiramente casualizado, onde os tratamentos experi-
mentais foram:1 - Controle (sem adição de protease); 2 - 500 (adição
de 500 ml/ton de extrato enzimático de Bacillus licheniformis, atividade
de protease 600 UI/ml); 3 - 1000 (adição de 100 ml/ton de extrato
enzimático de Bacillus licheniformis, atividade de protease 600 UI/ml);
4 - 1500 (adição de 1500 ml/ton de extrato enzimático de Bacillus
licheniformis, atividade de protease 600 UI/ml); 5 - 2000 (adição de
2000 ml/ton de extrato enzimático de Bacillus licheniformis, atividade
de protease 600 UI/ml). Aos 60 dias de fermentação, após abertura dos
silos amostras de 300 g foram coletadas de cada silo, onde teores de
matéria seca (método 950.15), cinzas (método 942.05), proteína bruta

¹ Faculdade de Ciências Agrárias de Marabá. Instituto de Estudos em Desenvolvimento Agrário e Regional.


Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará. PEPETI- Canaã dos Carajás-PA.
*Autor correspondente: jeffersongandra@unifesspa.edu.br

206
206 Fábio Jacobs Dias et al.
(CP, método 984.13), extrato etéreo (método 92039) e fibra em
detergente ácido (FDA) e lignina (método 973.18) foram avaliados de
acordo com AOAC (2000). Os teores de fibra em detergente neutro (FDN)
e amido foram analisados de acordo com Van Soest et al. (1991). As
análises estatísticas foram realizadas pelo SAS 9.2 e as médias analisa-
das por regressão polinomial, nível de significância de 5%. Resultados
e Discussão: Foi observado efeito linear crescente (Pd” 0,022) para os
teores de matéria seca, matéria orgânica, extrato etéreo, nutrientes
digestíveis totais e energia líquida de lactação, onde a inclusão de
extrato enzimático de Bacillus licheniformis aumentou as concentrações
dos nutrientes mencionados. Foi observado efeito quadrático (P = 0.002)
para os teores de proteína bruta com dose ótima de 1000 ml/ton de
extrato enzimático de Bacillus licheniformis. Foi observado 10,77% de
proteína bruta para o tratamento de 1000 ml/ton de protease, no entanto
para as silagem sem adição de proteína bruta o teor de proteína obtido
foi de 8.56%. Conclusões: A inclusão de extrato enzimático de Bacillus
licheniformis influenciou positivamente o valor nutricional da silagem
de sorgo gigante boliviano Agri 002E, recomendando a dose de 1000
ml/ton.

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 207
EFEITOS DA EXPOSIÇÃO AO AR DE SILAGENS DE SORGO
FORRAGEIRO REALOCADAS

Julian Marinho¹, Karollayne Dib², Raquel Cunha³, Andrea Guimarães4

Palavras-chave: estabilidade, forragem, qualidade, reensilagem, silagem

Introdução: O armazenamento de forragem por meio da ensilagem é


uma excelente alternativa utilizada nos sistemas de criação animal,
para conservar a forrageira de boa qualidade. Através desse método
de conservação é possível as propriedades suplementarem seus animais
em todos os períodos de déficit alimentar. Assim, tem surgido um
mercado promissor, a comercialização de silagens, para as propriedades
que não praticam e as que ainda não fazem bom uso da prática desse
método. Mercado este que para desenvolver, necessita mover a silagem
para um novo silo, surgindo à prática da realocação de silagens, que é
caracterizado pela mudança de uma silagem já feita para outro silo ou
outra propriedade. Diante disso o presente trabalho teve como objetivo
analisar o efeito do tempo de exposição ao ar da silagem de sorgo
forrageiro realocada, através das análises químico-bromatológica.
Material e métodos: O trabalho foi realizado no laboratório de
Bromatologia da Universidade Federal do Oeste do Pará – UFOPA, no
município de Santarém. O delineamento utilizado foi o experimental
inteiramente casualizado com dez tratamentos: o controle e os tempos
de realocação (TR) de 0; 6; 12; 18; 30; 36; 42; 48 e 60horas, com três
repetições cada. Após 30 dias de armazenamento as silagens foram
abertas para o processo de realocação. Em seguida, foi avaliada a
temperatura inicial (TI) das silagens no início da realocação e a tempe-

¹ Universidade Federal do Oeste do Pará, UFOPA, Santarém-PA, Brasil, e-mail: nailuhj@gmail.com


2
Universidade Federal do Oeste do Pará, UFOPA, Santarém-PA, Brasil.
3
Universidade Federal do Oeste do Pará, UFOPA, Santarém-PA, Brasil.
4
Instituto de Biodiversidade e Florestas, Universidade Federal do Oeste do Pará, UFOPA, Santarém-PA, Brasil.

208
208 Fábio Jacobs Dias et al.
ratura final (TF) antes das silagens serem realocadas de volta aos silos.
Após a realocação, os silos foram abertos com mais 30 dias de armaze-
namento, e feitos a avaliação sensorial das silagens, análises químico
– bromatológica e avaliação da estabilidade aeróbia. As perdas por
gases e a recuperação de MS foram quantificadas de acordo com as
equações propostas por Paziani et al. (2006). A composição químico-
bromatológica, foi obtida segundo Silva e Queiroz (2002) para matéria
seca (MS), matéria mineral (MM). Os valores de MO (matéria orgânica)
foram estimados pela seguinte formula: Em que: MO = 100 – MM. A
análise sensorial e estabilidade aeróbia, foram submetidos a análise
descritiva. Os resultados foram submetidos à análise de variância e
comparação de médias pelo teste de Tukey de acordo com o programa
estatístico SISVAR 5.6 ®, a um nível de significância de 5%. Resultados
e discussão: A avaliação sensorial quanto ao aspecto nutritivo e sanitário
das silagens realocadas de sorgo, foram classificadas como “Boa a
Muito Boa”, pois não demonstraram alterações significativas nos parâ-
metros analisados. Sobre as temperaturas inicial e final das silagens
antes de realocar, foi observado que as silagens com maiores TR (tempo
de realocação) apresentaram um aumento discreto nos valores de TF e
TMax. A Tmin apresentou uma diminuição dos valores entre as silagens
com maiores TR. As silagens expostas a realocação apresentaram
aumento no teor de MS (matéria seca), com o TR de 60h com maior teor
de MS em relação ao controle (P<0,05). Não foi observado efeito do TR
para PG (Perda de gases) e RMS (Recuperação de matéria seca),
(P>0,05). Para MM, MO, o TR foi significativo (P<0,05), com maiores
teores de MM no T2 (3,75%) e T10 (3,44%). Foi observado aumento
significativo de MO em todas as silagens que ficaram expostas ao ar
por diferentes tempos. Em relação a estabilidade, as silagens ficaram
até 36 horas sem quebra de estabilidade. Conclusões: Silagens de sorgo
bem conservadas podem ser realocadas por um tempo de até 36 horas
de exposição ao ar sem quebra de estabilidade e perda de valor nutritivo
e sanitário, com aumento significativo de matéria seca.

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 209
POPULAÇÃO MICROBIANA DE SILAGEM DE SOJA PLANTA
INTEIRA: TEMPO DE ARMAZENAMENTO, INOCULANTE
MICROBIANO E ÁCIDOS ORGÂNICOS

Rayran A. Silva1, Marcos P. Lima1, Francely T. Gomes1, Thiago N.


Coutinho1, Alessandra G. Fontenele1, Jefferson R. Gandra*

Palavras-chave: aditivos, Glycine max L, pH, silagem de leguminosa,


temperatura.

Introdução: O uso da silagem de soja é uma alternativa para comple-


mentar o volumoso da dieta. Porém, historicamente a soja planta inteira
era considerada uma cultura de difícil ensilagem, por apresentarem
baixo teor de matéria seca e carboidratos solúveis, aumentando as
perdas durante a fermentação. Trabalhos mostram que a soja pode ser
ensilada de forma exclusiva, com uso de aditivos, principalmente
bactérias do ácido lático o objetivo do trabalho foi avaliar a ação de
inoculante bacteriano, ácido propiônico e ácido fórmico na ensilagem
de planta de soja com diferentes tempos de abertura sobre a estabi-
lidade aeróbia. Material e Métodos: Foram utilizados 120 silos experi-
mentais compostos por baldes de polietileno de 40 cm de altura e 30
cm de diâmetro. Foi utilizado um delineamento inteiramente casualizado
com medidas repetidas no tempo, onde os tratamentos foram: 1 – CON
(sem adição de aditivos), 2 – INO (Aplicação de inoculante bacteriano:
4g / ton com mistura de 4x1010 cfu / g de Lactobacillus plantarum e
2,6x1010 cfu / g de Propionibacterium acidipropionici), 3 – AcF (adição
de produto à base de ácido fórmico: mistura de 2 ml / kg de ácido
orgânico de 35-45% de ácido fórmico, 15-45% de ácido propiônico e 15-

¹ Faculdade de Ciências Agrárias de Marabá. Instituto de Estudos em Desenvolvimento Agrário e Regional.


Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará. PEPETI- Canaã dos Carajás-PA.
*Autor correspondente: jeffersongandra@unifesspa.edu.br

210
210 Fábio Jacobs Dias et al.
20% de formato de sódio). 4 – AcP (adição de produto à base de ácido
propiônico: mistura de 2 ml / kg de ácido propiônico 50-60%, ácido
fórmico 15-20% e propionato de sódio 1-5%, 1- propionato de glicerol
5% e 15-25% glicerol). A cultivar de soja (Glycine max L.) utilizada foi
GMX CANCHEIRO RR, colhida no estágio vegetativo R7 nas condições
de cultivo do sul de Mato Grosso do Sul. Os silos experimentais foram
abertos a cada 30 dias, compondo 6 tempos de abertura e 180 dias de
armazenamento total. Após a abertura dos silos, amostras foram
colocadas em baldes plásticos, pesadas e armazenadas em temperatura
ambiente para avaliação da estabilidade aeróbia, onde foram mensu-
rados diariamente a temperatura do ar (OC). As temperaturas das
silagens no período após abertura foram obtidas a cada 8 horas durante
cinco dias por meio de um termômetro inserido na massa de silagem
contida nos baldes. A estabilidade aeróbia foi calculada como o tempo
gasto, em horas, para a massa de silagem elevar em 1oC em relação à
temperatura do ambiente. No período de estabilidade aeróbia as
silagens foram amostradas diariamente para determinação do pH. Os
dados foram submetidos a análise de variância utilizando o PROC MIXED
(versão 9.3, SAS Institute, Cary, NC). Resultados e Discussão: Houve
efeito de tratamento (P<0,001), tempo (P<0,001) e interação (pd”0,04)
em todos os períodos avaliados (P<0,001) para a temperatura. Para o
pH houve efeito de tratamento (P<0,001) com exceção aos 120 dias
(P>0,05), efeito de tempo (Pd”0,019) em todos os períodos avaliados.
Os tratamentos com aditivos reduziram a temperatura (ambiente – silo
°C) no silo em todos os períodos (P<0,001), e, com exceção aos 30 dias
de armazenamento (P=0,811), os aditivos diminuíram o pH da silagem
ao longo da exposição aeróbia em relação ao controle (Pd”0,004). As
silagens com adição de ácidos orgânicos tiveram a menor elevação de
temperatura e tiveram redução de pH nos períodos avaliados, em relação
ao INO (Pd”0,007). Conclusões: A adição de ácidos orgânicos influenciou
positivamente a estabilidade aeróbia da silagem de soja de planta
inteira. Recomenda-se o tempo mínimo de abertura de 90 dias para
silagem de soja planta inteira.

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 211
DIAGNÓSTICO DA PRODUÇÃO E DA UTILIZAÇÃO DE SILAGENS
NA REGIÃO DE SANTARÉM NO ESTADO DO PARÁ

Kely Prissila Saraiva Cordovil1, Salatiel Ribeiro Dias2, Marcia Mourão


Ramos Azevedo3, Danielle do Nascimento Oliveira4

Palavras-chave: conservação de forragem, ensilagem, nutrição animal

Introdução: Em 2020, o agronegócio teve um bom desempenho na


maioria das regiões do país. No estado do Pará, apesar dos avanços e
das condições favoráveis para a produção pecuária, a estacionalidade
de produção de forragem compromete o desenvolvimento do setor.
Diante disso, a conservação de alimentos na forma de silagem é uma
alternativa para minimizar as variações produtivas entre o período das
chuvas e das secas. Assim, os objetivos do presente estudo foram a
identificação das formas que impactam no manejo e utilização da
silagem, principais barreiras para a produção de silagem e, mensuração
do nível de tecnificação das propriedades que realizam ensilagem na
região de Santarém-PA. Material e métodos: Foi realizada uma reunião
com o diretor do Departamento de Pecuária do Sindicato Rural de
Santarém (SIRSAN), com o intuito de obter informações sobre os produ-
tores de silagem no município. Foram identificados cinco produtores
que produziam e utilizavam silagens em sua propriedade e, após isso,
os mesmos foram contatados e convidados a participar da pesquisa,
mediante assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido.
Foi aplicado um questionário contendo vinte e oito questões voltadas
para a avaliação de características qualitativas. Assim, foram utilizados
cinco questionários representando os cinco produtores. Resultados e
discussão: De acordo com os resultados obtidos, as propriedades carac-

¹ Universidade Federal do Oeste do Pará, Travessa Rui Barbosa, 146 - Centro. Santarém, Pará, CEP 68.005-
080, Brasil. E-mail: kely20125026@gmail.com

212
212 Fábio Jacobs Dias et al.
terizaram-se como tecnificadas, com utilização de técnicas de ensilagem
compatíveis à obtenção de silagem de boa qualidade. As forrageiras
mais utilizadas foram o milho e o capim BRS Capiaçu, sendo
confeccionadas entre os meses de março a setembro. O tipo de
colheitadeira mais utilizada foi o puxado a trator, sendo utilizada
máquina autopropelida em uma única propriedade. Em todas as
propriedades o tipo de serviço utilizado foi próprio, ou seja, as máquinas
e os equipamentos para o corte e ensilagem pertenciam aos produtores.
Dos 5 produtores que participaram da pesquisa, apenas um utilizava
assistência técnica na confecção de silagem. A produção média de
silagem das fazendas/propriedades eram em torno de 20 a 200
toneladas. Os silos utilizados foram o silo tipo trincheira, de superfície
e em sacos. De acordo com os produtores, o tipo de lona/filme plástico
que é usada para cobrir/vedar os silos é a lona dupla face de 200 micras,
sendo utilizado como cobertura da lona, terra e pneus. Quando
perguntado se utilizam aditivos, todos os produtores responderam que
sim. O armazenamento da silagem em três propriedades era feito em
sacos prensados, numa delas era armazenada em lona na superfície do
solo e em uma não houve resposta. O tempo de armazenamento do
material ensilado variou de 2 a 12 meses, contudo, três dos produtores
responderam que se o silo estivesse bem vedado a silagem ficava
armazenada por um tempo indeterminado. Em relação ao tempo de
utilização da silagem, as respostas variaram de 2 a 12 meses. Nas cinco
propriedades, a descarga da silagem era realizada de forma manual,
sendo fornecida, principalmente, para animais de corte (Nelore) e de
produção leiteira (Gir, Girolando e búfala da raça Murrah). A produção
de silagem na região de Santarém é baixa, os poucos produtores que
produzem, utilizam para consumo próprio, sendo que 4 dos 5 produtores
responderam que vendem o excedente da silagem produzida. Em
respostas as perguntas sobre as maiores lacunas da produção de
silagem, os produtores citaram os valores altos para a produção, os
custos elevados de insumos, a falta de espécies adequada ao processo
de ensilagem, principalmente do milho e, a dificuldades na colheita e
armazenamento. Já em relação a pergunta sobre quais as principais

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 213
barreiras enfrentadas ao produzir e usar silagem na região, obteve-se
como respostas o custo elevado e o excesso de chuva na época da
colheita. Conclusões: O milho e o capim BRS Capiaçu são as culturas
mais utilizada na produção de silagem e, são utilizadas em rebanho de
bovinos (corte e leite) e bubalinos. A produção de silagem no município
de Santarém ainda está em desenvolvimento, apesar das propriedades
apresentadas nesta pesquisa fazerem uso de técnicas e conhecimentos
sobre a produção e a utilização de silagens, faz-se necessária a difusão
das técnicas para outros produtores da região, visando o aumento e
desenvolvimento do setor agropecuário.

214
214 Fábio Jacobs Dias et al.
USO DE FARELOS DE MILHO, ARROZ E TRIGO COMO
SEQUESTRANTES DE UMIDADE EM SILAGEM DE RESÍDUOS
AGROINDÚSTRIAIS DE ABACAXI

Karollayne Dib¹, Julian Marinho², Raquel Cunha³, Andrea Guimarães4

Palavras-chave: alimentação animal, resíduos, silagem, subproduto.

Introdução: O uso de aditivos em silagens tem sido cada vez mais es-
tudados com o objetivo de reduzir perdas e / ou melhorar o valor nu-
tricional das silagens, trazendo benefícios para o desempenho dos ani-
mais e da indústria. Com o grande desenvolvimento da produção animal,
a alimentação tem sido alvo de grandes estudos, silagens de resíduos
agroindústrias tem ganhado espaço. É grande as quantidades de restos
de cultura e resíduos que são produzidos, porém com pouca utilização
na alimentação animal. O subproduto do abacaxi (Ananas comosus), já
tem sido visto como alternativa para a alimentação de animais e na
consorciação com os aditivos que por sua vez funcionam como seques-
tradores de umidade, tem possibilitado o aumento da qualidade desse
alimento. Portanto, o trabalho objetivou avaliar as características físico-
química e bromatológica da silagem de resíduos agroindustriais do
abacaxi, com o uso de aditivos sequestrantes de umidade, farelo de
milho, arroz e trigo. Material e métodos: O ensaio foi conduzido no
Laboratório de Bromatologia da Universidade Federal do Oeste do Pará
– UFOPA. Foram feitos quatro tratamentos: resíduo de abacaxi (sem
uso de aditivo) e resíduo de abacaxi com os aditivos com a adição de:
20% farelo de milho, 20% de farelo de arroz e 20% de farelo de trigo)
sendo 5 repetições para cada tratamento. O delineamento utilizado foi

¹ Universidade Federal do Oeste do Pará, UFOPA. Santarém-PA, Brasil. E-mail: karoldib12@gmail.com.


2
Universidade Federal do Oeste do Pará, UFOPA, Santarém-PA, Brasil.
3
Universidade Federal do Oeste do Pará, UFOPA, Santarém-PA, Brasil.
4
Instituto de Biodiversidade e Florestas, Universidade Federal do Oeste do Pará, UFOPA, Santarém-PA, Brasil.

ANAIS DO 2o SIMPÓSIO: produção, qualidade e sustentabilidade


de forragens conservadas na Amazônia Ocidental 215
inteiramente casualizado. Foram feitos 20 silos experimentais, vedados
com fita adesiva e abertos com 30 dias após a ensilagem, em seguida
foram determinados: matéria seca (MS), proteína bruta (PB), fibras em
detergente neutro (FDN) e ácido (FDA) e o nitrogênio insolúvel em deter-
gente ácido (NIDA). Para o ensaio da estabilidade aeróbia, foi feita
uma amostra composta de cada tratamento com 2 kg de silagem não
compactado acondicionadas em baldes de polipropileno com capacidade
para 7 kg, onde ficaram por 6 dias em uma sala fechada com temperatura
ambiente. Para as análises estatísticas, o pH e a temperatura foram
submetidos a análise descritiva. As médias da composição química –
bromatológica foram submetidas a análise de variância e de regressão.
Foi utilizado o pacote estatístico SISVAR 5.6. Resultados e discussão: O
teor de MS da silagem somente de resíduo de abacaxi apresentou
14,84%, sendo os maiores valores para o tratamento com adição de
milho com 27,8% e 28,2% para o tratamento de farelo de arroz, (P<0,05).
Estes resultados mostram-se abaixo dos valores considerados ideais
(30 a 35%) por McDonald et al. (1991) para obter uma silagem de boa
qualidade, porém observou-se um aumento significativo do teor de MS,
após o uso de farelos como sequestrantes de umidade. A PB apresentou
teor de 8,15% para o tratamento apenas com resíduo de abacaxi e teve
maiores valores no tratamento de adição de farelo de arroz e trigo,
sendo 14,84% e 15,53% respectivamente (P<0,05). Para FDN, os
resultados mostraram 38,67% no tratamento somente com resíduo de
abacaxi e uma diminuição ampla para o tratamento com a inclusão de
farelo de milho apresentando um teor de 9,37%. Os valores de FDA
foram maiores no tratamento com adição de farelo de trigo 16,62%,
(P<0,05). O NIDA aumentou linearmente, com maior valor no tratamento
com inclusão de farelo de trigo com 0,0023% (P<0,05). Em relação a
estabilidade aeróbia, as médias de temperatura e pH mostraram uma
quebra de estabilidade após 36 horas para a temperatura e 60 horas de
exposição aeróbia para o pH. Conclusões: Os tratamentos com adição
de aditivos sequestrantes de umidade proporcionaram silagens de boa
qualidade, com boa estabilidade aeróbia, e um aumento considerável
de MS e PB.

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