Liderando o Futuro - Martha Gabriel
Liderando o Futuro - Martha Gabriel
Liderando o Futuro - Martha Gabriel
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“O futuro NÃO ESPERA
e NEM PERDOA
a FALTA de PREPARO”.
Martha Gabriel
SOBRE A AUTORA
Martha Gabriel é considerada uma das principais
pensadoras digitais do Brasil, autora de best-sellers como
Marketing na Era Digital, Você, Eu e os Robôs e
Inteligência Artificial: do zero ao metaverso. É
também premiada palestrante keynote internacional,
tendo realizado mais de 90 palestras no exterior, além de
8 TEDx, e milhares de palestras keynote no Brasil em
eventos como Gartner IT/Xpo Simposyium, RD Summit
(Brasil, Bogotá e Mexico City), Ambev, Bradesco, Think
Summit IBM, Meta, TIM, Vivo, Oi, Gartner DA (São Paulo e
Mexico City), Informa Markets, Abbott, SAP, Cisco,
Google, Lumen, entre outros. É curadora (e palestrante)
do Café Filosófico CPFL/TV Cultura “Futuros Humanos
& Humanos Futuros” e palestrante na Temporada 2022
do Fronteiras do Pensamento.
Professora da pós-graduação na PUC-SP, no TIDD
(Tecnologias da Inteligência e Design Digital) e na PUC-
RS (MBAs online), atua, também, como professora
convidada em diversas business schools no Brasil,
como Insper e Fundação Dom Cabral. Primeira brasileira
a fazer parte do faculty internacional da CrossKnowledge,
empresa líder em capacitação corporativa on-line do
mundo.
Embaixadora global da Geek Girls Latin America no
Brasil, entidade de fomento à educação STEM para
garotas, visando aumento de equidade.
Executiva e consultora nas áreas de business,
inovação, futurismo e educação, utiliza tecnologia como
instrumento de Transformação Positiva de vidas desde o
início de sua carreira, tendo auxiliado grandes
corporações em suas jornadas de desenvolvimento.
Futurista pelo IFTF (Institute For The Future, USA);
engenheira (Unicamp); pós-graduada em Marketing
(ESPM-SP) e em Design (Belas Artes SP); mestre e PhD
em Artes (ECA/USP); Educação Executiva (MIT, USA);
Conselheira pelo IBGC (Instituto Brasileiro de
Governança Corporativa).
Eterna curiosa, eterna aprendiz ;-)
MARTHA GABRIEL
martha.com.br
MarthaGabriel
INTRODUÇÃO
Martha Gabriel
SUMÁRIO
SOBRE A AUTORA
INTRODUÇÃO
CAPÍTULO 1
VENCENDO AS REVOLUÇÕES TECNOLÓGICAS
CAPÍTULO 2
LIDERANDO O FUTURO
CAPÍTULO 3
PARADIGMAS FLUIDOS
CAPÍTULO 4
FUTURISMO
PARTE II :: ESTRATÉGIA
CAPÍTULO 5
ESTRATÉGIAS: DAS GUERRAS À INOVAÇÃO
CAPÍTULO 6
INOVAÇÃO EM AÇÃO
CAPÍTULO 7
FUTURE READY SKILLS
CAPÍTULO 8
PENSAM ENTO CRÍTICO
CAPÍTULO 9
PENSANDO CRITICAMENTE
CAPÍTULO 10
FUTURE READY INDEX
VENCENDO AS
CAPÍTULO 1
REVOLUÇÕES TECNOLÓGICAS
ESTRATÉGIAS DA INCERTEZA
Portanto, para vencer a incerteza, é necessário:
1) Visão de Futuros – para conseguir enxergar os
possíveis cenários futuros, de forma a nortear o
desenvolvimento das melhores estratégias de atuação
no presente.
2) Preparo no Presente – para avaliar cada situação no
presente e agir rapidamente em cada momento na
direção estratégica estabelecida pela visão de futuros.
Para tanto, é necessário treinar, e muito, para
desenvolver as habilidades necessárias para agir em
cada cenário possível traçado estrategicamente. Além
disso, o preparo deve ser ajustado para cada “jogo”,
pois além de cada “jogo” ser diferente, o
“atleta/jogador” também se transforma ao longo do
tempo, de um jogo para outro. Portanto, o preparo de
ontem pode não ser suficiente para o “jogo” de
amanhã, ou, em outras palavras, o preparo nunca tem
fim!
Note-se que apesar de visão e preparo serem
fundamentais, eles precisam ser orquestrados
adequadamente para resultar em uma estratégia de
liderança em ambientes de incerteza. A visão coloca o
foco no futuro, enquanto a execução foca o presente.
Isso gera demandas distintas, e muitas vezes
conflitantes, que competem por recursos. Muito foco no
futuro e pouco no presente pode gerar muito sonho, mas
poucos resultados; muito foco no presente e pouco no
futuro pode gerar muito movimento, mas, também,
poucos resultados. Portanto, da capacidade de
orquestração dessas demandas criadas simultaneamente
pela visão e pelo preparo, resultam diferentes estratégias
de atuação e performance.
LIDERANDO O FUTURO
Assim, para liderar o futuro, é preciso desenvolver as
competências necessárias e adquirir instrumentos que
permitam ampliar a visão, as habilidades de execução e
a capacidade de ambidestria para traçar estratégias –
estes são os pilares fundamentais para nos tornar
preparados para futuro, e as organizações ou indivíduos
que conseguem se habilitar dessa forma são conhecidos
como Future Ready ou Future Proof. Apesar de esses
termos serem frequentemente usados como sinônimos,
optamos aqui por “future ready” (pronto para o futuro),
pois acreditamos que seja mais indicativo de um estado
ativo, enquanto “future proof” (à prova de futuro) esteja
mais associado a um estado defensivo. Adotaremos,
portanto, “future ready”.
Onde: 0 <
ambidestria
>1
0 < visão >
1
0 <
execução >
1
Note-se que, por maior que seja a visão e a execução, se
ambidestria for zero (capacidade nula), resulta em FRI
zero. Por outro lado, por maior que seja a ambidestria,
basta que uma das outras capacidades – visão ou
execução – seja baixa para resultar em um FRI baixo. A
figura 2.2 ilustra graficamente como a ambidestria afeta
o FRI, ampliando ou reduzindo o potencial (representado
pelos quadrados) de combinação entre visão e execução.
Portanto, para um indivíduo ou organização atuar no
presente se posicionando adequadamente para o futuro,
é necessário adquirir competência nas três variáveis, e
quanto maiores forem essas competências, maior tende
a ser o FRI, e, consequentemente, mais bem posicionado
estará para o futuro.
PARADIGMAS
Paradigmas são um conjunto de regras que nos
possibilitam experimentar o mundo e estão em tudo ao
nosso redor. Uma analogia didática para compreender
paradigmas é imaginar o uso de uns óculos com lentes
coloridas: dependendo da cor das lentes, tudo o que
você vê estará pintado daquela cor. Um paradigma
funciona da mesma forma: ele é um modo particular de
olhar e compreender algo.
As regras que estabelecem um paradigma são regidas
por modelos, crenças e padrões. Os modelos são
estruturas que fornecem ao paradigma a base para se
entender algo, por exemplo, a armação e a forma física
dos óculos que seguram as lentes – eles determinam a
estrutura ou modelo de visão. As crenças são conceitos
estabelecidos pelo paradigma, como assumir que tudo
no mundo é azul quando os óculos possuem lentes azuis.
Os padrões são comportamentos sociais ou culturais
decorrentes do paradigma – no exemplo dos óculos,
conforme mais pessoas começam a usar lentes
vermelhas, elas passam a ver e fazer as coisas de formas
similares. Assim, todo paradigma a) é baseado em
modelos ou estruturas; b) traz o próprio conjunto de
crenças ou suposições sobre o mundo; e c) estabelece
padrões ao longo do tempo.
Outros exemplos de paradigmas que nos regem:
MUDANÇAS DE PARADIGMAS
No entanto, ao longo do tempo, os paradigmas se
transformam em função do surgimento de elementos que
desafiam o seu funcionamento ou causam colapso no
modelo vigente, a saber:
PARADIGMAS FLUIDOS
A evolução humana é marcada por inúmeras mudanças
de paradigmas que temos experimentado
recorrentemente ao longo da nossa história. No entanto,
até recentemente, essas mudanças demoravam para
acontecer, porque os elementos desafiadores que
transformam paradigmas demoravam para aparecer e/ou
se estabelecer. Agora, mais particularmente a partir do
início do século XXI, as inovações tecnológicas digitais
deram origem a um processo que acelerou o surgimento
de todos esses elementos, causando desestabilizações
frequentes e contínuas nos paradigmas que nos regem.
O aumento da conexão e da velocidade de comunicação,
proporcionado pela evolução das tecnologias digitais,
permite que mais pessoas troquem informações,
catalisando a inovação tecnológica em todas as áreas
do conhecimento, fomentando a integração
multidisciplinar. Isso gera uma cascata contínua de
novas descobertas e evidências que colapsam
continuamente os paradigmas anteriores. Além disso, a
ascensão das plataformas digitais cria a infraestrutura
que amplia a influência de qualquer indivíduo,
potencializando o surgimento constante de novos
agentes de mudança.
Portanto, a primeira grande mudança de paradigma da
era atual é a aceleração da velocidade de mudança
dos paradigmas, levando-os de uma estrutura definida
e duradoura para um estado fluido, em constante
transformação: os paradigmas fluidos.
Como consequência dessa fluidez, modelos, crenças e
padrões mudam o tempo todo, demandando que as
estratégias também se modifiquem de forma dinâmica.
Assim, futuros acelerados geram paradigmas
fluidos, que por sua vez demandam estratégias
dinâmicas.
Estratégias dinâmicas demandam uma velocidade de
análise e compreensão que só é possível por meio da
utilização das mesmas tecnologias computacionais
que causam a aceleração da mudança. Por exemplo, não
conseguimos desenvolver estratégias eficientes em
mídias sociais sem usar tecnologias de mídias sociais
associadas com tecnologias de análises de dados para
analisar padrões e comportamentos.
Assim, a tecnologia é um recurso fundamental para
navegarmos paradigmas fluidos – tanto no auxílio
para enxergar as mudanças contínuas de modelos,
crenças e padrões, quanto para traçar estratégias de
ação a cada momento.
VISÃO DO PRESENTE
Compreendendo a anatomia fluida dos paradigmas
atuais, conseguimos perceber transformações profundas
que estão colapsando alguns dos mais importantes
paradigmas que têm regido a humanidade:
COMUNICAÇÕES e COMPUTAÇÃO
Máquinas de escrever se transformando em processadores
de texto e depois em computadores pessoais.
O nascimento e a popularização da internet.
O desenvolvimento e a proliferação de telefones celulares,
começando com modelos grandes e pesados, transformando-se
em smartphones multifuncionais.
A invenção e popularização do e-mail, redes sociais e
mensagens instantâneas.
Desenvolvimento da computação em nuvem e
armazenamento de dados online.
ENTRETENIMENTO
A transição de rádios de válvulas para transístores, e depois
digitais.
A popularização da televisão em preto e branco para
colorida, e posteriormente para as de alta definição.
O surgimento e a evolução dos videogames.
A transição de vinil para cassete, CD, DVD, Blu-ray, e a
popularização da música e vídeo em streaming.
TRANSPORTE
O boom da aviação comercial.
Desenvolvimentos em automóveis, incluindo melhor eficiência
de combustível, carros elétricos e recursos de automação.
Surgimento e evolução da exploração espacial, desde o
primeiro homem no espaço até as recentes missões de
empresas privadas.
MEDICINA E SAÚDE
A invenção e disseminação de equipamentos de imagem
médica, como a ressonância magnética e o ultrassom.
Avanços em cirurgias e técnicas minimamente invasivas.
O desenvolvimento de vacinas e tratamentos para várias
doenças.
CIÊNCIA E ENGENHARIA
A revolução da biotecnologia e a descoberta da estrutura do
DNA.
O desenvolvimento da energia nuclear.
Avanços significativos em materiais, como plásticos,
semicondutores e materiais compósitos.
VIDA DIÁRIA
A proliferação de eletrodomésticos, tornando as tarefas do dia
a dia mais fáceis.
A transição de câmeras de filme para câmeras digitais.
O surgimento e a popularização dos cartões de crédito e
pagamentos digitais.
CONSEQUÊNCIAS ESTRATÉGICAS
As novas regras que essas mudanças de paradigmas
estabelecem impactam não apenas as estratégias que
precisamos desenvolver para vencer no jogo da vida,
mas também as novas habilidades que precisamos
desenvolver para poder jogar. Para tanto, discutiremos as
mudanças estratégias na Parte II deste livro e,
posteriormente, as habilidades para o futuro, na Parte III.
FUTURISMO
CAPÍTULO 4
“Enquanto futuro acontece para alguns,
ele é determinado por outros.“
Martha Gabriel
A ASCENSÃO DO FUTURISMO
O futurismo tem origens no início do século passado com
H. G. Wells, que é considerado o fundador dos estudos
de futuros – a sua publicação, em 1901, “Antecipações da
reação do progresso mecânico e científico na vida
humana e no pensamento”, propõe cenários para o ano
2000. No entanto, como disciplina de estudo,
propriamente dita, o futurismo emerge na década de
1960, com o crescimento do interesse de acadêmicos,
filósofos, escritores, artistas e cientistas explorando
cenários futuros e estabelecendo as bases para um
diálogo comum.
A primeira geração de futuristas inclui estrategistas de
guerra, como Hernan Kahn, economistas, como
Bertrand de Jouvenel (que fundou a Futuribles
International em 1960), cientistas, como Dennis Gabor,
sociólogos, como Fred L. Polak, pesquisadores, como
Marshall McLuhan e suas reflexões sobre a Aldeia Global,
inventores, como Buckminster Fuller, um dos primeiros
indivíduos a perceber e calcular a aceleração da
mudança, e Arthur C. Clarke, que entre as inúmeras
contribuições que trouxe para o pensamento sobre o
futuro estão duas frases que se tornaram mantras
futuristas: “Toda tecnologia suficientemente avançada é
indistinguível de mágica” (sua 3a lei da robótica) e
“Quando um cientista consagrado idoso declara que algo
é possível, ele quase sempre está certo. Quando ele
declara que algo é impossível, ele provavelmente está
errado”.
Em 1968, surge o IFTF (Institute For The Future), um
think tank considerado o primeiro instituto de futurismo
do mundo, inicialmente focado em estudos de futuro com
interesses governamentais. Gradativamente seus
estudos passaram a incluir assuntos de negócios e
sociais. A partir dos anos 1970, os estudos do futuro se
ampliaram de forma geral, emergindo diversos outros
institutos de futurismo no mundo (como, por exemplo, o
IFR - Institute For Futures Research, em 1974 na África do
Sul), abraçando uma gama ampla de interesses, como a
tecnologia, questões sociais e outras preocupações,
como a interseção do crescimento populacional,
disponibilidade e uso de recursos, crescimento
econômico, qualidade de vida e sustentabilidade
ambiental. Nesse contexto, é publicado o best-seller
Future Shift de Alvin Toffler, explorando os cenários
futuros em termos da sobrecarga informacional. No final
do século XX, John Naisbitt e Faith Popcorn se destacam
com os seus estudos de futuros, resultando em
publicações que se tornaram best-sellers, como
Megatrends (Naisbitt, 1982), High Tech, High Touch
(Naisbitt, 1983) e O Relatório Popcorn (1991).
De lá para cá, nas décadas seguintes, a aceleração das
transformações foi gradativamente favorecendo o
florescimento e disseminação do futurismo, de forma que
hoje contamos não apenas com vários respeitados
institutos de futurismo no mundo, mas também com
sólidos programas acadêmicos em universidades, think
tanks, consultorias especializadas, pesquisadores
independentes (foresight practioners ou futuristas, em
português), além de departamentos de futurismo dentro
de grandes corporações, ONGs e governos.
LETRAMENTO EM FUTUROS
Os estudos de futuros requerem profissionais
especializados, letrados em futuros e capacitados a
utilizar as metodologias adequadas para sua realização.
No entanto, enquanto as grandes organizações
contratam futuristas e/ou institutos de futuros para
estudar tendências e cenários, isso tende a ser
inacessível para pequenas e médias empresas, e está
fora do alcance para aplicação cotidiana na vida de
indivíduos.
No entanto, é possível para qualquer pessoa ou
organização desenvolver o mindset de futurismo, sem
precisar ser um futurista ou contratar estudos
especializados. Isso requer, entretanto, a aquisição de
algumas competências:
futuros
“Se você conhece o seu inimigo e conhece a si mesmo, você não precisa
temer o resultado de cem batalhas.
Se você conhece a si mesmo, mas não o inimigo, para cada vitória
ganha você sofrerá também uma derrota.
Se você não conhece nem o inimigo e nem a si mesmo, você sucumbirá
em todas as batalhas.”
SUN TZU, A Arte da Guerra
ESTRATÉGIA
Etimologicamente, “estratégia” (strategia) vem da união
de duas palavras gregas – “stratos” (exército) e “agem”
(conduzir ou comandar), significando a arte de comandar
um exército para vencer o inimigo ou, pelo menos,
tentar. Portanto, podemos dizer que estratégia é um
plano de ação elaborado por um comandante (líder)
para orquestrar os recursos disponíveis (pessoas,
tempo, materiais) a fim de alcançar com o máximo de
eficiência um objetivo futuro (normalmente,
conquistar um resultado melhor do que o oponente).
Assim, os componentes estruturais fundamentais para se
desenvolver uma estratégia:
1) Objetivo – aquilo que se deseja alcançar no futuro.
2) Recursos – pessoas, tecnologia, tempo, dinheiro etc.
3) Plano de ação – avaliação, aquisição, alocação e
orquestração de recursos ao longo do tempo, para se
atingir o objetivo.
4) Liderança – capacidade de articular a melhor
combinação entre objetivos, recursos e plano de ação
para se obter o melhor resultado.
Assim, desenvolver uma estratégia consiste na
capacidade de comandar (liderança) para determinar o
melhor objetivo, otimizando recursos e traçando
planos de ação. Independentemente do contexto, esses
são os pilares que sustentam uma estratégia, e não
mudam. O objetivo é a razão de ser de uma estratégia;
os recursos a viabilizam; o plano de ação lhe dá forma; e
a liderança lhe dá direção.
Quanto melhor for a capacidade de uma liderança para
estruturar esses elementos, melhor tende a ser a
estratégia e, consequentemente, a probabilidade de
sucesso.
OBJETIVO ESTRATÉGICO
Talvez uma das frases que mais transmitam a
importância de se ter um objetivo venha da ficção,
escrita por Lewis Carroll, em Alice no País das Maravilhas,
quando o Gato disse à Alice: “Se você não sabe para
onde ir, qualquer caminho serve”. Traçar ou escolher um
caminho só faz sentido quanto sabemos aonde queremos
chegar – essa é a pedra angular sobre a qual se constrói
qualquer estratégia.
O objetivo é a razão pela qual uma estratégia existe, e a
sua escolha determina como a estratégia se
desenvolverá. Um exemplo disso é como Abraham
Lincoln, após a Guerra Civil Americana, estipulou o seu
objetivo para um país dividido. Como presidente, ele
estava tentando ajudar as regiões derrotadas a se
reestruturarem, quando uma senhora o repreendeu
dizendo que eles eram inimigos. Ele então respondeu:
“Eles devem ser destruídos, madame, e como eu consigo
destruir melhor os meus inimigos do que os tornando
meus amigos?”. Ou seja, a escolha do objetivo
determinou como os recursos foram utilizados na
estratégia – em reconstrução, não opressão.
Assim, a primeira e mais importante parte de uma
estratégia é determinar o seu objetivo, pois é dele
que depende todo o resto. Sem objetivos claros e bem
definidos, ficamos perdidos sem saber para onde
direcionar esforços, tendendo a piorar a situação, pois
isso causa desperdício de recursos e/ou perda de
posição. Se a direção estiver errada, não adianta ter
todos os recursos do mundo e traçar um plano
espetacular, pois isso apenas nos levará mais
eficientemente para o caminho errado.
Muitas vezes, o erro não é de direção, mas de timing –
determinar um objetivo que está muito adiantado em
relação à maturidade do mercado ou, eventualmente, ter
perdido o momento adequado para introduzir diferencial
competitivo. Assim, uma estratégia com um objetivo
brilhante para um determinado momento pode significar
fracasso total se for aplicada no timing errado.
Além de direção e timing, é importante também
estipular, com clareza, o quão longe se quer chegar, ou,
em outras palavras, quantificar o objetivo no tempo e
espaço. Uma coisa é mirar para vencer uma batalha na
próxima semana. Outra, bem diferente, é vencer uma
guerra de anos. Se somos pouco ousados, estaremos
subutilizando nosso potencial. Por outro lado, se formos
ousados demais, além do limite dos nossos recursos ao
longo do tempo, nossas probabilidades de sucesso
diminuem. Impérios surgiram e caíram em função de
saber, ou não, determinar objetivos. O império mongol,
que se estabeleceu conquistando objetivos
espetaculares, como a China e Coreia, começou a
sucumbir a partir da tentativa da conquista do Japão27,
por definir um objetivo para o qual ainda não estava
preparado e que resultou no fracasso que marca o início
da sua queda.
Portanto, enxergar e determinar o objetivo estratégico
nem sempre é uma tarefa fácil, mesmo para quem está
acostumado a vencer. Ao contrário, tende a ser bastante
desafiador, pois é uma arte de equilíbrio entre
ousadia e realidade ao longo do tempo, envolvendo
um encadeamento de ações e consequências entre a
situação presente e a futura que desejamos alcançar. Por
isso, a liderança é fundamental para se conseguir
equacionar o processo – quanto mais ousado o objetivo,
maior a importância da liderança.
Para alcançar esse equilíbrio, a liderança precisa de
informação da melhor qualidade possível para avaliar
possibilidades e riscos para embasar a tomada de
decisão. Isso se torna ainda mais crítico quando a
velocidade e o grau de incerteza aumentam, como
acontece no cenário atual. Inúmeros estudos ao longo
dos anos têm mostrado que “o desenvolvimento de
soluções não necessárias28 (no market need)” é um dos
principais motivos pelos quais as startups fracassam –
ou, em outras palavras, a escolha de um objetivo errado.
Algumas das habilidades humanas que mais contribuem
para a ampliação da visão e avaliação de possibilidades
para se escolher os melhores objetivos para o futuro são
o pensamento crítico e o pensamento analítico, por isso
não é à toa que têm sido rankeados29 há anos entre as
principais habilidades para o futuro.
No entanto, como vimos em paradigmas fluidos, as
habilidades humanas, sozinhas, não são mais suficientes
para conseguirmos enxergar cenários futuros e avaliar a
complexidade. Assim, para nos auxiliar estrategicamente
a determinar melhores objetivos, inúmeros instrumentos
têm sido desenvolvidos ao longo do tempo, como:
ferramentas para estudo de mercado, tendências,
paradigmas, benchmarks, business intelligence,
futurismo, entre outros.
Várias dessas ferramentas têm sido usadas há bastante
tempo para determinar objetivos estratégicos de curto
prazo, enquanto os estudos de futuros e tendências
emergem nos últimos anos como instrumentos cada vez
mais valiosos tanto para ampliar quanto clarear a nossa
visão sobre possibilidades. Por isso, dedicamos a Parte I
deste livro a eles e às mudanças de paradigmas que os
afetam.
RECURSOS ESTRATÉGICOS
Já sabemos que o presente determina o futuro, e que a
nossa visão do futuro também determina o presente30.
Nesse sentido, a visão está no futuro, sempre, já que o
que desejamos alcançar ainda não aconteceu. Os
recursos, no entanto, não estão apenas no presente, mas
podem estar distribuídos ao longo do tempo entre
presente e futuro, podendo ser obtidos e utilizados no
caminho para alcançar o objetivo. Isso é muito
importante, porque recursos são limitados, o que
impacta o desenvolvimento da estratégia e,
eventualmente, o objetivo estabelecido.
Nesse sentido, tempo e finanças são alguns dos recursos
mais valiosos e limitantes que existem, por isso, muitas
vezes, influenciam diretamente a escolha e/ou o
refinamento do objetivo a ser alcançado. Por exemplo, se
eu quiser diminuir o tempo de construção de uma casa,
vou precisar alocar mais recursos – contratar mais
pessoas e equipamentos para fazer mais rapidamente.
Nesse caso, o tempo se torna valioso, pois quanto menos
tempo, mais sofisticados e caros tendem a ser os
recursos para alcançar o objetivo. No entanto, por mais
dinheiro ou pessoas que eu tente alocar em uma
construção, pode ser impossível construir uma casa em
três dias com uma estratégia que utilize recursos
tradicionais – nesse caso, o tempo é limitante e
influencia o tipo de recurso que precisarei obter. Talvez
isso se torne possível por meio de utilização de
tecnologias de impressão 3D. Eventualmente, ainda
assim, pode não ser possível construir a casa desejada
em três dias, mesmo usando todas as tecnologias mais
avançadas ou todos os recursos do mundo, ou, ainda, o
custo pode ser tornar proibitivo para o recurso financeiro
que disponho. Nesse caso, é necessário rever o objetivo
estratégico e, em vez de construir, talvez comprar ou
alugar uma casa seja um objetivo melhor.
Existe, portanto, uma interdependência entre recursos e
objetivos – os recursos necessários são determinados
pelo objetivo, mas, por outro lado, os recursos
disponíveis (e possíveis de se obter) também
determinam o objetivo. Essa é a arte de equilíbrio entre
objetivo e realidade – mencionada anteriormente –, que o
líder precisa dominar para criar o plano de ação,
otimizando os recursos para alcançar o melhor resultado
possível.
Quanto menos recursos se tem para traçar a
estratégia, mais criativos e engenhosos os líderes
precisam ser para conseguir alcançar o objetivo. Quanto
mais recursos disponíveis, menos necessidade de
otimização, e a estratégia tende a se tornar menos
eficiente. Por isso, a falta de recursos tornou-se um
exercício bastante utilizado para desenvolver a
criatividade estratégica, comumente aplicado em
contextos de startups, permitindo lapidar a eficiência de
modelos de negócio.
PLANO DE AÇÃO
O plano de ação se encarrega da orquestração entre o
objetivo desejado e os recursos necessários/disponíveis,
no intervalo entre presente e futuro, buscando o melhor
equilíbrio para obter sucesso. Portanto, ele é a parte da
estratégia que otimiza a relação entre recursos e
objetivos – o sucesso depende dele, e ele depende de
liderança. Assim, a liderança exerce um papel crucial na
estratégia, tanto para desenvolver o planejamento
quanto para colocá-lo em ação ao longo do tempo.
A interdependência entre objetivos e recursos se estende
também ao plano de ação, que não apenas é
determinado por eles, mas pode também determiná-los
ou alterá-los. Eventualmente, o melhor plano de ação é
uma mudança de objetivo. Uma das frases mais famosas
de A Arte da Guerra ensina que “O sábio guerreiro evita a
batalha”, ou, em outras palavras, eventualmente, o
melhor plano de ação para otimizar recursos e obter
sucesso é mudar ou transformar o objetivo, como fez
Abraham Lincoln após a Guerra Civil Americana.
Portanto, por mais claro que seja o objetivo e por maiores
e melhores que sejam os recursos disponíveis, o principal
fator para determinar o sucesso é o plano de ação,
resultado do planejamento desenvolvido pela liderança.
No passado, o planejamento era determinado apenas
pelas capacidades de alguns indivíduos que possuíam
grande de visão e competência para alocação de
recursos e execução – líderes. Conforme a complexidade
de possibilidades e o grau de incerteza foram
aumentando no mundo, gradativamente foi se tornando
cada vez mais difícil para um líder desenvolver um
planejamento estratégico de sucesso sem a utilização de
metodologias e tecnologias mais sofisticadas para
auxiliar no processo.
Vimos anteriormente31 que o planejamento foi evoluindo
das metodologias tradicionais para as metodologias
ágeis, que embora necessárias, não são mais suficientes
e passam a requerer também alinhamento com visão de
cenários futuros e ambidestria da liderança entre visão e
execução, para se conseguir estar bem posicionado para
o futuro.
LIDERANÇA
Liderança faz parte daquele grupo de palavras que é
mais fácil reconhecer quanto acontece do que definir,
como é o caso de amor ou inteligência. É uma habilidade
complexa que envolve o desenvolvimento de inúmeras
outras, como comunicação, negociação, gestão,
storytelling etc.
Uma forma ampla de definir liderança é como a
habilidade de um indivíduo, grupo ou organização de
liderar, influenciar ou guiar outros indivíduos, times ou
uma organização inteira. Quanto melhores os resultados
de uma liderança, melhor é o líder.
A visão da liderança para determinar objetivos
estratégicos pode transformar a realidade,
desbloqueando recursos inexistentes no presente. Um
exemplo disso é Dubai, cuja riqueza foi criada em função
da visão de futuro que seus líderes lançaram,
transformando uma vila de pescadores em um emirado
próspero, como descrito anteriormente no capítulo sobre
futurismo. Outros exemplos que podemos citar são
Gramado, São Paulo e Singapura, por exemplo. Gramado,
apesar das inúmeras belezas naturais, tornou-se um dos
destinos mais procurados do Brasil32 devido à visão
estratégica da região em tornar a cidade atrativa com o
desenvolvimento de inúmeras iniciativas, como o Natal
Luz, Parque de Esqui, Fábrica de Chocolate, centro de
convenções etc. Da mesma forma, por meio de visão
estratégica, a cidade de São Paulo tornou-se o principal
destino de entretenimento cultural da América Latina;
Singapura, em poucas décadas após se separar da
Malásia, transformou-se de um país pobre em uma das
nações mais desenvolvidas do planeta por meio da visão
de inovação e atração de negócios e talentos e, como
Dubai, tirou proveito da sua localização estratégica para
rotas, só que no Sudeste Asiático. Note-se que esses
exemplos são inspiradores porque criaram riquezas onde
elas não existiam, deixando um legado positivo
transformando o destino de milhões de pessoas.
Portanto, um líder com visão e competência de
planejamento pode mudar a realidade. Isso é um poder
enorme, pois se você não está feliz com a sua realidade,
lidere o seu futuro por meio da escolha de uma visão que
transforme a sua vida e/ou o seu negócio naquilo que
você deseja, e desenvolva um planejamento que
encadeie as iniciativas necessárias para chegar lá.
Para o escopo deste livro, mais específico para o
contexto de traçar estratégias para tornar um indivíduo
ou organização Future Ready, podemos definir a
liderança como: a habilidade (de um indivíduo, grupo ou
organização) de liderar, influenciar ou guiar outros
indivíduos, times ou organizações para desenvolver
estratégias de sucesso no presente, que conduzam, ao
mesmo tempo, a uma condição de bom posicionamento
no futuro.
Nesse sentido, além das habilidades tradicionais de
liderança, torna-se necessário desenvolver também a
ambidestria estratégia, que envolve agilidade,
pensamento analítico, pensamento crítico, pensamento
criativo, entre várias outras, que discutiremos na Parte
III: as habilidades para o futuro, ou Future Ready Skills.
INOVAÇÃO ÁGIL
De modo geral, podemos definir inovação como o
processo de desenvolvimento de novas soluções que
gerem valor perceptível para alguém. Em outras
palavras, o resultado de um processo de inovação é o
valor gerado com o objetivo de melhorar ou solucionar
algo para um determinado indivíduo ou grupo de
indivíduos. Esse valor pode ser um novo produto, serviço,
processo (forma de fazer) ou modelo de negócio (forma
de criar valor) que traz benefícios para essa pessoa ou
grupo. Por exemplo, um novo serviço de internet com
velocidade mais rápida de acesso pode gerar benefícios
de produtividade para inúmeros indivíduos que
valorizarão a solução. Nesse caso, o novo serviço é uma
inovação. No entanto, se a solução criada não gerar valor
percebido, por mais impressionante que possa parecer,
ela não é uma inovação. No exemplo anterior, imagine
que o indivíduo ou grupo de indivíduos em questão sejam
massagistas que realizem o seu trabalho quase que
exclusivamente offline – para eles, um aumento na
velocidade da internet não agrega valor em suas
atividades, portanto, para esse grupo, o novo serviço é
apenas algo novo, uma novidade, não uma inovação.
Portanto, o que determina a inovação é o novo valor que
ela gera, e não a novidade que ela incorpora. Por isso,
nem toda nova solução é uma inovação, mas toda
inovação é uma nova solução – que agrega valor para
alguém. Essa distinção é bastante importante para
direcionar os esforços de inovação – ela sempre começa
e termina com pessoas. Começa com problemas de
pessoas e termina gerando valor para pessoas.
Neste livro, o foco da inovação somos nós, e o problema
a resolver é conseguir encontrar novas soluções que
agreguem o valor de nos ajudar a manter um bom
posicionamento de relevância para o futuro. Por outro
lado, como vivemos em um contexto de aceleração de
mudança, esse problema é constante, pois nos
deparamos continuamente com situações inéditas que
requerem novas soluções – consequentemente,
precisamos não apenas de inovação, mas também de
agilidade para conseguir inovar rápida, contínua e
constantemente. Inovação ágil, portanto.
No entanto, inovação é uma área complexa e extensa,
que se relaciona com inúmeras outras áreas do
conhecimento e, consequentemente, não cabe em um
único capítulo. Portanto, não temos, nem poderíamos ter
aqui, a pretensão de esgotar todas as suas dimensões.
Ao contrário, focaremos apenas os elementos mínimos
necessários para permitir o desenvolvimento de
estratégias com o objetivo específico deste livro – liderar
o futuro. Porém, esperamos que os conceitos e
instrumentos que trazemos aqui sirvam como inspiração
para a ampliação do seu estudo por meio da vasta
literatura e cursos especializados disponíveis no
mercado34.
CULTURA DA INOVAÇÃO
A cultura determina comportamentos35, que por sua
vez determinam resultados – portanto, a cultura é
importante porque ela determina resultados. Por isso,
por melhor que seja uma estratégia, se os
comportamentos e valores que ela requer não estiverem
alinhados com os valores e comportamentos da cultura,
ela não conseguirá ser implementada. Nenhuma
estratégia consegue gerar resultados sem o apoio da
cultura. Portanto, para obtermos resultados de inovação,
precisamos de uma cultura de inovação.
Nesse sentido, muitas vezes, é necessário realizar uma
profunda transformação na cultura para que ela se torne
uma cultura de inovação. No entanto, transformação de
cultura é um assunto amplo que demanda estudo à
parte. Portanto focaremos aqui os valores e
comportamentos que fomentem a inovação ágil,
elementos que uma cultura de inovação precisa
incorporar e estimular.
Assim, para a cultura de um indivíduo, liderança ou
organização se caracterizar como cultura de inovação,
ela deve estar alicerçada nos seguintes valores e
comportamentos:
Aprendizagem contínua – quando se enfrenta o novo, é
necessário aprender com os feedbacks das nossas
ações (erros e acertos) para conseguirmos nos
adaptar e dar o próximo passo nos conduzindo para
mais próximo do objetivo desejado. Quando a
mudança é constante e contínua, esse processo não
para, e assim precisamos estar dispostos a aprender
o tempo todo.
Desapego dos resultados, foco na jornada – erros e
acertos não devem ser encarados como fracassos ou
sucesso, e sim como etapas de aprendizado para
ajustar o melhor caminho para o novo.
Apetite ao risco – fazer algo novo envolve riscos, que
são, portanto, inerentes ao processo de inovação. No
entanto, apesar de o risco ser inevitável, ele pode, e
deve, ser quantificado e controlado.
Agilidade – quando a mudança acontece em ritmo
acelerado, não basta apenas se adaptar, é
necessário conseguir se adaptar rapidamente. Ser
adaptável significa ter a capacidade de mudar; ser
ágil significa ter a capacidade de mudar
rapidamente.
Experimentação – enfrentar o novo implica não
conhecer soluções que se apliquem a ele. Portanto é
necessária a disposição para experimentação
visando testar iniciativas para gerar erros e acertos
que ofereçam feedback para aprender e conseguir se
adaptar.
Foco em problemas, não em soluções – problemas são
sintomas de necessidade de mudança, portanto, é
neles que devemos colocar os nossos esforços de
inovação. As soluções existentes são instrumentos do
passado, que tendem a perder relevância com a
mudança. Um dos maiores erros estratégicos em
inovação é se concentrar apenas em melhorar as
soluções existentes sem considerar os novos
problemas. Essa miopia leva a fracassos e
desperdícios de recursos, como mencionado na
discussão sobre determinação de objetivos
estratégicos, no capítulo anterior36.
Criatividade – inovação está intimamente relacionada
com descobrir novas soluções, necessitando,
portanto, de criatividade.
Diversidade – uma das melhores estratégias para
fomentar a criatividade é aumentar a diversidade.
Pessoas diferentes têm visões e repertórios
diferentes, contribuindo para a riqueza de variações
que favorecem o pensamento criativo. Por isso,
diversos estudos comprovam que o aumento da
diversidade estimula a inovação37.
Responsabilidade ética – a inovação cria novas
soluções, que por sua vez geram novos impactos.
Esse processo requer responsabilidade, tanto para
transformar esses impactos (erros e acertos) em
feedback para aprendizagem quanto para gerir as
suas consequências no mundo. Por exemplo, erros
que não são reportados ou analisados não podem ser
corrigidos e deixam de ser instrumentos de
aprendizado para a inovação, e, ao contrário,
continuam se repetindo, tornam-se prejuízos
recorrentes. Por outro lado, soluções que
eventualmente possam nos trazer impactos positivos
podem causar danos para os outros, tornando-se
eticamente inaceitáveis. Portanto, para obtermos
inovação sustentável, a responsabilidade ética é
fundamental.
MÉTODOS
Em qualquer área do conhecimento que envolva
ambientes com alto grau de incerteza – como pesquisa,
futuros, inovação, negócios, carreira, transformação
digital etc. –, para irmos de uma situação A para uma
situação B, precisamos tomar decisões, que
normalmente demandam a exploração de possibilidades
em busca do melhor caminho. Essa jornada pode ser
otimizada com a utilização de métodos, pois eles
funcionam como mapas, que oferecem diretrizes.
Portanto, como um mapa, uma metodologia apresenta as
etapas necessárias para se alcançar um determinado
objetivo (por exemplo, inovar), trazendo inúmeros
benefícios, como:
OBSOLESCÊNCIA DO CONHECIMENTO
Conforme a tecnologia avança, a situação vai se
agravando, pois os prazos de validade do conhecimento
tornam-se cada vez menores, enquanto o volume de
conhecimento criado no mundo passa a ser cada vez
maior. Assim, a complexidade para conseguir
acompanhar o avanço do conhecimento aumenta,
enquanto o valor do conhecimento adquirido diminui. A
figura 7.1 mostra o ritmo de obsolescência de cada tipo
de conhecimento ao longo do tempo: quanto mais
técnico, mais rapidamente perde valor.
PENSAMENTO CRÍTICO
“Pensar é o trabalho mais difícil que existe.
Talvez, por isso, tão poucos se dediquem a ele.”
HENRY FORD
CRIATIVIDADE
“A imaginação é mais importante do que o conhecimento.”
ALBERT EINSTEIN
COLABORAÇÃO
Vimos nos capítulos anteriores que um dos efeitos da
aceleração da mudança é o crescimento no volume de
informação, conhecimentos, tecnologias, que
consequentemente aumentam a complexidade no
mundo. Nesse tipo de contexto, soluções baseadas em
hierarquias de comando tendem a não funcionar mais,
requerendo colaboração e distribuição de poder para
darem resultados.
Uma analogia que nos ajuda a enxergar esse fenômeno é
a comparação do funcionamento entre a aranha e estrela
do mar, descrita no livro The Starfish and the Spider, de
Ori Brafman e Rod Backstrom. A aranha é um animal com
estrutura hierárquica de funcionamento, em que a
cabeça comanda o corpo. Se você corta a cabeça, a
aranha morre. Entretanto, a estrela-do-mar é um animal
com estrutura de comando complexa, distribuída ao
longo do corpo. Se você a cortar ao meio, ela não apenas
não morre como se regenera e nascem duas. Assim, ao
tentar vencer problemas complexos com estratégias
tradicionais, não apenas não conseguimos solucioná-los
como, principalmente, tendemos a piorá-los.
Um exemplo real72 para ilustrar a diferença entre
organizações hierárquicas centralizadas (aranhas) e
descentralizadas complexas (estrelas-do-mar) foi a
conquista espanhola das Américas. Os europeus,
liderados por Hernán Cortés, conseguiram derrotar
rapidamente o império asteca ao capturar o seu líder,
Moctezuma – como eles eram centralizados, a sua
estrutura organizacional entrou em colapso. Em
contraste, quando os europeus tentaram subjugar os
índios Pueblo, que possuíam estrutura social
descentralizada, a resistência continuou, mesmo depois
de muitos líderes terem sido capturados ou mortos. Sem
um líder central ou estrutura, a organização
descentralizada pode continuar a operar e se adaptar,
tornando-a mais resistente a ataques externos.
Uma situação mais recente que demonstra a ineficiência
de estratégias hierárquicas perante ambientes
complexos é o surgimento da indústria digital de música.
Até o início do século XXI, a indústria de música foi
dominada por grandes gravadoras que controlavam a
produção, distribuição e venda de música (aranhas). No
entanto, com a ascensão das tecnologias digitais e
plataformas de compartilhamento de arquivos, como o
Napster, um modelo descentralizado (estrela-do-mar)
emergiu. Essas plataformas permitiam que os usuários
compartilhassem músicas entre si, contornando as
estruturas tradicionais das gravadoras. A indústria tentou
combatê-las por meio de estratégias tradicionais de
processos legais, que não apenas não solucionaram o
problema como o agravaram, pois, cada vez que um
serviço de compartilhamento era fechado, um novo,
ainda melhor, surgia no lugar. Nessa guerra, quem saiu
vencedora foi uma empresa fora da indústria de música,
que viu uma oportunidade emergindo dessa
transformação: a Apple. Em vez de brigar com a
complexidade do sistema descentralizado, ela introduziu
o iPod e o iTunes, criando assim, estrategicamente, uma
plataforma que oferecia recursos para extrair valor da
descentralização e da complexidade por meio da
participação de todos.
Em ambientes complexos, portanto, as estratégias
vencedoras emergem da colaboração, e não do controle
hierárquico. Por isso, quanto mais complexo o mundo se
torna, mais relevante passa a ser a habilidade de saber
colaborar. Vejamos.
De forma geral, complexidade é o estado de possuir
muitas partes interrelacionadas, o que dificulta a sua
compreensão ou solução. Nesse sentido, a colaboração é
uma das habilidades que mais nos favorece, pois ela
promove a troca de informações e conhecimentos entre
indivíduos, grupos ou organizações, que possuem visões
e expertises distintas, possibilitando melhorar a
compreensão das partes para solucionar o todo. Esse
processo é favorecido pela diversidade entre os
colaboradores, pois quanto mais diversos forem os perfis
colaborando, mais perspectivas distintas são adicionadas
para contribuir na compreensão e resolução. Isso não
apenas ajuda a vencer a complexidade, como as
soluções geradas por meio de colaboração tendem a ser
melhores, por considerarem múltiplos pontos de vista,
enriquecendo a obtenção de informações para a tomada
de decisão.
A colaboração refere-se ao ato de trabalhar
conjuntamente com outros para alcançar um objetivo
comum e, para tanto, envolve a partilha de
conhecimentos, recursos e responsabilidades para
realizar tarefas e solucionar problemas. Para tanto, a
colaboração depende de inúmeras outras habilidades e
atitudes, como:
RESILIÊNCIA
“Não é sobre esperar a tempestade passar,
mas aprender a dançar na chuva.” 73
SIMBIODESTREZA TECNOLÓGICA
“Tecnologia é como honestidade, quem não tem não sabe o que é.”
MARTHA GABRIEL
HUMANIDADE
“Uma sociedade é apenas tão avançada quanto o seu tratamento dos mais
fracos e incapacitados.”
– NASSIM TALEB
PENSAMENTO CRÍTICO
Apesar de estarem intimamente relacionados,
pensamento crítico não é sinônimo de inteligência –
enquanto a inteligência fornece um conjunto de
habilidades cognitivas que permitem pensar
racionalmente para alcançar uma meta, o pensamento
crítico é a disposição e a capacidade de usar essas
habilidades cognitivas. Por serem recursos
extremamente valiosos para o sucesso de um indivíduo,
a busca por melhorias nos níveis de inteligência e
pensamento crítico é o santo graal para o futuro.
Sabemos que existem formas para se ampliar tanto um
quanto o outro, e que a tecnologia pode ser um deles. No
entanto, melhorar a inteligência natural é mais difícil,
pois ela tem raízes fortes na genética129. O pensamento
crítico, por outro lado, pode ser mais facilmente
ampliado, pois pode ser ensinado e praticado, já que
suas raízes estão na educação e cultura.
Assim, o pensamento crítico é a disciplina no uso das
habilidades cognitivas da inteligência focada em metas
específicas – consiste em metodologia para capturar
dados (observação, experiência, expressão verbal ou
escrita, argumentos) com a melhor qualidade possível,
para formar julgamento (análise) e gerar ação
(mudança para alcançar a meta). Em outras palavras, o
pensamento crítico utiliza as capacidades da inteligência
para funcionar, mas utiliza muitos elementos adicionais
além dela.
Por isso o pensamento crítico é tão importante: como ele
é o processo de obter, selecionar e analisar dados, ele
afeta a forma como enxergamos e julgamos
qualquer coisa para fundamentar a tomar decisão.
Assim, quanto melhor for o pensamento crítico, melhores
tendem a ser também as decisões tomadas.
Para ilustrar a relação entre pensamento crítico e tomada
de decisão, podemos usar uma analogia culinária, em
que o pensamento crítico funcionaria como a criação de
uma receita e a tomada de decisão seria a preparação do
prato. Para criar a receita, o chef analisa os ingredientes,
avaliando cada opção, ponderando sobre as suas
propriedades, combinações e técnicas, sempre buscando
os melhores resultados e sendo aberto a aprender com
experiências. Ele pondera sobre os elementos
nutricionais, estéticos e gustativos de cada ingrediente,
equilibrando-os para criar uma experiência culinária que
seja ao mesmo tempo saborosa e atraente. Ele pesquisa,
experimenta, prova e ajusta, mantendo um ciclo de
aprendizagem constante para desenvolver a receita
perfeita (pensamento crítico). A tomada de decisão é
simbolizada pelo momento em que a receita é colocada
em prática na preparação do prato, quando o chef decide
sobre os detalhes práticos do processo. Ele escolhe entre
os ingredientes disponíveis, ajusta o tempo e a
temperatura de cozimento conforme necessário e resolve
imprevistos que surgem durante o processo de
preparação do prato. Essas decisões são guiadas pela
receita (que foi criada com pensamento crítico) e
moldadas pela habilidade, experiência e intuição do chef
durante o processo de execução. Portanto, a preparação
do prato (tomada de decisão) utiliza as análises feitas na
criação da receita (pensamento crítico) para permitir a
escolha dos melhores ingredientes e métodos, colocando
em prática a sua execução de forma estratégica e
ponderada para produzir um prato que seja tanto uma
experiência sensorial quanto uma expressão de escolhas
bem ponderadas e executadas. Assim, o pensamento
crítico orienta e informa a tomada de decisão para obter
os melhores resultados possíveis na execução.
Como o pensamento crítico afeta, direta e indiretamente,
todas as nossas escolhas durante a vida, pensar
criticamente ajuda não apenas a desenvolver habilidades
e se preparar para o futuro, mas pode favorecer também
o bem-estar e longevidade130 dos seus praticantes.
Como exemplo, compilamos na figura 8.3 alguns dos
benefícios da aplicação do pensamento crítico em várias
dimensões da vida.
Figura 8.3 – Tabela que ilustra alguns dos benefícios do Pensamento crítico
em várias dimensões das nossas vidas, favorecendo o desenvolvimento
pessoal e profissional.
ÁREA PENSAMENTO CRÍTICO APLICADO
Conscientização: envolver-se de
maneira crítica
Contribuição social: contribuir
7. PARTICIPAÇÃO CIDADÃ
positivamente
Advocacia: defender causas de maneira
informada e eficaz
Consciência ambiental: avaliar e
adotar práticas
8. CUIDADO COM O Escolhas sustentáveis: tomar
AMBIENTE decisões conservacionistas
Advocacia ambiental: promover
causas ambientais
Bem-estar mental: refletir para
estratégias mentais
Escolhas de vida: fazer escolhas
9. AUTOCUIDADO
promovendo bem-estar
Gestão de tempo: gerir o tempo de
maneira eficiente
Figura 8.3 – Tabela que ilustra alguns dos benefícios do Pensamento crítico
em várias dimensões das nossas vidas, favorecendo o desenvolvimento
pessoal e profissional.
QUESTIONAMENTO
O questionamento, juntamente com o repertório, é o alimento
do pensamento crítico. Por um lado, o repertório funciona como
um depósito interno disponível, por outro, o questionamento
atua como uma fonte de obtenção e descobrimento de novos
ingredientes e possibilidades de nutrientes. O repertório se
forma pelo acúmulo de conhecimentos, experiências,
informações que vamos adquirindo ao longo da vida, ao passo
que o questionamento precisa ser acionado para funcionar. Isso
acontece por meio de duas chaves que atuam em direções
opostas e complementares: o ceticismo e a curiosidade.
Enquanto a curiosidade refere-se à inquietação de querer ir
além do conhecimento existente, arriscando em direção ao
desconhecido, explorando e descobrindo o novo, o ceticismo,
por sua vez, se concentra em desafiar todo e qualquer
conhecimento — adquirido ou já estabelecido –, refinando-o, e
eventualmente, nessa exploração de depuração do
descobrimento, também descobre o novo. Em outras palavras, a
curiosidade motiva o questionamento para nos oferecer novas
perspectivas para saber mais, enquanto o ceticismo nos
instiga a refinar estas e todas as demais perspectivas para
saber melhor.
O ceticismo é uma postura filosófica que envolve uma atitude
de dúvida ou descrença em relação ao conhecimento,
informações ou afirmações que são geralmente aceitas. Essa
visão não se restringe a uma dúvida geral, mas, sim, a uma
abordagem crítica e questionadora sobre a possibilidade de
conhecimento genuíno ou absoluto em diferentes contextos.
Algumas características centrais do ceticismo são:
questionamento constante131, investigação132,
fundamentação133, verificação134 e suspensão do juízo135.
Assim, o ceticismo não é a atitude de não se acreditar em nada,
e sim o questionamento para validar (ou não) pensamentos,
fatos, opiniões ou crenças estabelecidas. Nesse sentido, o
ceticismo demanda evidências que suportem as crenças,
evitando tentativas falaciosas de persuasão. O ceticismo,
portanto, para filtrar informações para o pensamento crítico,
depende, fundamentalmente, da capacidade de perguntar.
Paradoxalmente, ao mesmo tempo em que a pergunta nos
permite praticar o ceticismo para filtrar, ela é também o
instrumento fundamental da curiosidade. É por meio da
pergunta que a curiosidade se manifesta. Portanto, a pergunta é
tanto as asas que nos permitem voar em direção ao risco do
desconhecido, quanto os pés que nos mantêm no chão,
trilhando no solo seguro da realidade.
Perguntar, portanto, é o primeiro passo tanto para ampliarmos
quanto validarmos o nosso mundo. A pergunta desafia o
conhecido, o familiar, o consenso, buscando ir além, explorar
novas possibilidades, desafiar e descobrir novas verdades que
possam melhorar a nossa existência. No entanto, por meio das
perguntas, aprimoramos não apenas a aquisição de
conhecimentos e verificação de fatos, mas também: a
comunicação (iniciar um diálogo e manter uma conversa), a
reflexão (desafiar alguém ou a si mesmo a pensar mais
profundamente sobre algo), o ensino e a aprendizagem
(perguntas podem ser usadas para avaliar o conhecimento do
outro ou serem usadas como guia de aprendizado ajudando a
focar em pontos-chave), a negociação (além de formular
propostas, as perguntas permitem entender necessidades,
desejos e limitações de todas as partes envolvidas), a
performance (perguntas sobre desempenho e resultados
podem estimular feedbacks para ajustes e melhorias), o
autoconhecimento (perguntas autorreflexivas podem ajudar a
explorar os próprios pensamentos e sentimentos) e os
relacionamentos (perguntas podem: a) expressar interesse,
mostrando consideração pelos pensamentos, sentimentos e
experiências do outro; b) ser uma ferramenta para entender
melhor os sentimentos e perspectivas do outro, construindo
empatia; c) permitir que mais vozes sejam ouvidas, favorecendo
a inclusão; e d) incentivar as pessoas a participarem ativamente
de uma conversa, favorecendo o engajamento).
Portanto, desenvolver a habilidade de perguntar promove
ampliação e validação da realidade, aprendizado mais profundo
e relações interpessoais mais ricas e significativas, pois as
perguntas não apenas enriquecem o indivíduo como criam
também uma atmosfera de abertura e explorativa em
ambientes socais e profissionais. Assim, a arte de perguntar,
além de ser o combustível que alimenta o motor do
pensamento, tem também o poder de mudar as nossas vidas.
Nesse sentido, uma pergunta bem estruturada pode ajudar a
criar um questionamento mais eficaz. Para tanto, existem três
momentos importantes em uma pergunta: antes de perguntar,
formulação da pergunta (durante) e depois de perguntado.
Antes de formular uma pergunta, é necessário identificar o
seu objetivo (por que estou fazendo essa pergunta), a
informação que preciso obter (isso ajuda a decidir se a
pergunta deve ser aberta ou fechada) e formular a pergunta.
Por exemplo, meu objetivo é escolher um livro para estudar
inteligência artificial; a informação que eu preciso é qual o
melhor livro considerando o meu contexto atual de
conhecimento e necessidades para eu conseguir alcançar a
proficiência desejada (que poderia ser apenas me familiarizar
com o assunto ou me aprofundar em um conhecimento prévio
já adquirido). A pergunta ou a sequência de questionamento
deve alcançar esse objetivo, embasada em informações que
suportem a conclusão.
Depois da pergunta, é necessário estar disposto a receber
abertamente a resposta e organizá-la de forma a refletir,
validar, verificar se a informação obtida soluciona o objetivo
proposto etc., se traz novas possibilidades de soluções requer
uma mudança de abordagem, gerando uma nova pergunta.
Entre o antes e o depois, está o coração de uma pergunta: a sua
formulação. Nesse sentido, para ser eficiente, a pergunta
precisa ser estruturada, levando em consideração o objetivo e
as informações que busca (determinados anteriormente) e
contemplando as seguintes características:
JUSTIFICATIVA JUSTIFICATIVA
PERGUNTA PERGUNTA
EXEMPLOS POR QUE É POR QUE É
"BOA" "RUIM"
BOA RUIM
JUSTIFICATIVA JUSTIFICATIVA
PERGUNTA PERGUNTA
EXEMPLOS POR QUE É POR QUE É
"BOA" "RUIM"
BOA RUIM
Quais são as Fomenta a
atividades ou exploração de Você sabe Direta demais,
Explorar situações que paixões e qual é o pode intimidar,
PROPÓSITO DE você percebe propósitos por seu não incentiva
VIDA que lhe trazem meio de de propósito exploração
maior satisfação experiências de vida? profunda.
e por quê? pessoais
Quais
habilidades
você gostaria de
Motiva e Vaga e não
desenvolver
direciona para a focada em
para alcançar
ação e reflexão sobre
Desenvolvimento seus objetivos Você é bom
planejamento aprimoramento
de HABILIDADES profissionais e no que faz?
para ou
que ações
desenvolvimento desenvolvimento
práticas você
de habilidades. futuro.
pode realizar
para aprimorá-
las?
Promove
Como você acha
reflexão sobre o Pode intimidar,
que suas ações
impacto do induzir estado
e comunicação
comportamento Você acha de defesa, e não
afetam seus
e comunicação que é uma abre espaço
Melhorar relacionamentos
nas relações e pessoa fácil para explorar
e você vê áreas
encoraja de lidar? vulnerabilidades
em que poderia
pensamento ou áreas de
melhorar essas
sobre melhoria.
interações?
aprimoramento.
Como os meus
hábitos diários Binária e
Inpira avaliação
estão alinhados simplista, não
dos hábitos Você acha
com meus provoca uma
Melhorar diários e que seus
objetivos de reflexão
HÁBITOS reflexão sobre hábitos
longo prazo e o profunda ou
DIÁRIOS sua consistência diários são
que eu poderia consideração
(autorreflexiva) em relação aos bons ou
ajustar para me das implicações
objetivos de ruins?
aproximar mais de longo prazo
longo prazo.
desses dos hábitos.
objetivos?
Figura 9.2 – Tabela que ilustra alguns exemplos comparativos na forma de estruturar a
formulação de perguntas.
JUSTIFICATIVA JUSTIFICATIVA
PERGUNTA PERGUNTA
EXEMPLOS POR QUE É POR QUE É
"BOA" "RUIM"
BOA RUIM
Estimula pensar
Considerando de maneira
os meus prática e
É muito geral e
objetivos estratégica
não incentiva a
futuros, quais sobre o
Você está reflexão ou
são as desenvolvimento
PREPARAÇÃO se planejamento
competências e de competências
PARA O FUTURO preparando detalhado sobre
os recursos que e recursos para
(autorreflexiva) para o como a
preciso o futuro,
futuro? preparação para
desenvolver ou também
o futuro pode
adquirir, e como encoraja a
ser realizada.
posso fazer formulação de
isso? um plano de
ação.
Figura 9.2 – Tabela que ilustra alguns exemplos comparativos na forma de estruturar a
formulação de perguntas.
REPERTÓRIO
Juntamente com o questionamento, o repertório é o combustível
que alimenta o pensamento crítico. No entanto, enquanto o
questionamento é um processo para aquisição e filtro de
conhecimento, o repertório, por sua vez, é o acúmulo de todas
as informações, experiências, conhecimentos, habilidades
e perspectivas que uma pessoa adquire ao longo da vida.
Quanto maior esse acúmulo, maior o repertório.
Sem um repertório rico e diversificado, o pensamento crítico se
torna limitado e superficial, pois o tamanho e a qualidade do
repertório funcionam como uma base sólida sobre a qual o
pensamento crítico é construído. Por mais que os demais
pilares funcionem perfeitamente – questionamento, persuasão
racional, superação de vieses cognitivos e valores humanos –,
se não tivermos repertório não temos como aplicá-los. O
repertório informa o pensamento crítico em vários níveis, e
quanto maior ele for, mais amplo se torna esse pensamento.
Assim, o repertório é o ingrediente secreto fundamental para a
melhoria do pensamento crítico.
Nesse sentido, a contribuição do repertório para pensar
criticamente acontece de várias formas:
PERSUASÃO RACIONAL
Enquanto o questionamento e o repertório estabelecem os
recursos para “capturar, perceber e experimentar” o mundo, a
persuasão racional, por sua vez, fornece o mecanismo de
processamento do pensamento para “examinar a vida” na
busca de conhecimento e compreensão, para alcançar a
verdade. Esse processo depende intrinsecamente de três
disciplinas intimamente relacionadas: a lógica, a argumentação
e a retórica. Elas trabalham juntas na estruturação e
apresentação de ideias, processos fundamentais para pensar
criticamente.
A argumentação combina a lógica rigorosa (para garantir
que os argumentos sejam válidos e sólidos) com a retórica
eficaz (para apresentar esses argumentos de maneira
convincente ao público-alvo). Assim, a lógica pode ser vista
como a espinha dorsal do argumento, enquanto a retórica é a
pele que o reveste, tornando-o atraente. Sem a lógica, o
argumento não faz sentido e se torna fraco; sem retórica, o
argumento não se revela e se torna inútil.
Juntas, a lógica, a argumentação e a retórica são os
instrumentos para desenvolver e apresentar argumentos
persuasivos e bem fundamentados. Vamos a elas, então.
ARGUMENTAÇÃO
A argumentação é alma do pensamento crítico. Ela se
alimenta pelo questionamento e repertório, se estrutura por
meio da lógica e se apresenta através da retórica. É por meio
dela que ocorre o processo de embate e refinamento de
ideias e posições que possibilitam a melhoria do pensar.
Argumentar é a arte de influenciar ou convencer combinada
com a ciência de persuadir alguém em direção a uma
determinada posição ou ponto de vista, por meio de razões ou
evidências. Para isso, a argumentação se concentra tanto na
validade lógica dos argumentos quanto em como eles
podem influenciar ou convencer outras pessoas. Nesse
sentido, qualquer área que envolva discussão de ideias se
beneficia do domínio da argumentação, como retórica, direito,
comunicação, política e filosofia.
Para dominar a argumentação, é necessário entender os
elementos que a fundamentam e saber aplicá-los de forma
eficaz. Esses elementos dialogam tanto com a lógica quanto
com a retórica, portanto, para construir uma boa argumentação,
é preciso dominar tanto uma, quanto a outra. São eles:
LÓGICA
A lógica é o estudo dos princípios de validade do raciocínio com
o objetivo de garantir que, a partir de certas premissas ou
observações, as conclusões sejam corretamente deduzidas ou
inferidas. Nesse sentido, a função da lógica é promover a
clareza, a consistência e a validade no pensamento e no
raciocínio. Para tanto, ela fornece métodos para: avaliar
argumentos, resolver problemas de forma sistemática,
identificar falácias151, comunicar efetivamente e evitar
contradições. Dessa forma, ela nos ajuda a pensar de maneira
ordenada e racional, estruturando o pensamento.
A lógica formal se fundamenta em três conceitos básicos
principais: premissas, conclusão e verdade. As premissas
são as afirmações ou declarações iniciais em um argumento.
Elas são usadas como evidência para apoiar a conclusão. Por
exemplo, em um argumento como ”Todos os seres humanos são
mortais, Sócrates é um ser humano, portanto, Sócrates é
mortal”, as duas primeiras partes (”Todos os seres humanos são
mortais” e ”Sócrates é um ser humano”) são as premissas. A
conclusão é a afirmação que se segue logicamente das
premissas em um argumento. É a ideia que você está tentando
estabelecer com base nas premissas. No exemplo, “Sócrates é
mortal” é a conclusão. Já a verdade diz respeito à realidade das
afirmações individuais, ou seja, se as premissas e a conclusão
são factualmente verdadeiras. Em um argumento válido, se
todas as premissas são verdadeiras, então a conclusão também
é verdadeira, por exemplo em: “Todos os pássaros têm asas. O
pardal é um pássaro. Portanto, o pardal tem asas”. No entanto,
quando uma ou mais premissas forem falsas, a conclusão pode
não ser verdadeira, como em: “Todas as aves voam. A avestruz
é uma ave. Portanto, a avestruz voa” – nesse caso, a premissa
falsa que levou a uma conclusão não verdadeira é a de que
“Todas as aves voam”.
Esses conceitos básicos são regidos pelas leis da lógica,
princípios fundamentais que governam o raciocínio válido.
Algumas leis importantes incluem a Lei do Terceiro Excluído
(algo é verdadeiro ou falso, sem meio-termo), o Princípio da
Identidade (uma coisa é igual a si mesma), o Princípio da
Não Contradição (uma proposição não pode ser verdadeira e
falsa ao mesmo tempo) e a Lei da Dupla Negação (negar
duas vezes é o mesmo que afirmar). A tabela da figura 9.5
apresenta alguns exemplos de aplicação dessas leis.
Figura 9.6 – Tabela que apresenta alguns dos métodos lógicos mais comuns.
Método Observação / Conclusão Aplicação
premissas
INDUÇÃO152 Exemplo 1: Todos os Utilizado em ciências
Pássaros pássaros sabem empíricas para generalizar
observados voar a partir de observações
1. Pássaro A (generalização). particulares.
sabe voar.
2. Pássaro B O sol sempre
sabe voar. nasce no leste
3. Pássaro C (generalização).
sabe voar.
Exemplo 2:
Nascimento do
sol
1. O sol nasceu
no leste todos os
dias de minha
vida.
2. O sol nasceu
no leste para
todos os dias
registrados na
história.
EXTRAPOLAÇÃO Nos últimos 5 Se essa Amplamente utilizada em
anos, as vendas tendência previsões com base em
de um produto continuar, as tendências observadas.
aumentaram vendas
10% a cada ano. aumentarão
10% no próximo
ano.
ABDUÇÃO Há migalhas de Alguém comeu Útil em contextos de
biscoito na sala e biscoitos formulação de hipóteses e
a lata de recentemente. diagnósticos em ciências e
biscoitos está medicina.
aberta.
ANALOGIA 1. Os humanos Cães e gatos Usada em argumentos e
precisam de também hipóteses, mas também é
água para viver. precisam de um elemento central em
2. Cães e gatos água para viver. áreas como retórica e
são psicologia cognitiva.
biologicamente
semelhantes aos
humanos.
Figura 9.6 – Tabela que apresenta alguns dos métodos lógicos mais comuns.
RETÓRICA
A retórica161 juntamente com a gramática e a lógica compõem
as três artes antigas do discurso que se complementam para
estruturar a linguagem: a lógica se ocupa da validade dos
argumentos; a gramática diz respeito às regras e estruturas que
governam a língua; e a retórica se concentra em como as
palavras e os argumentos são usados para influenciar, cativar
e convencer um determinado público. A retórica, portanto, é
conhecida também como a arte da persuasão.
Para ser bem-sucedida, a persuasão retórica precisa se
fundamentar com argumentos lógicos e evidências
convincentes. Portanto, argumentação e retórica estão
interligadas para alcançar uma comunicação persuasiva eficaz,
desempenhando papéis importantes em várias áreas do
conhecimento, incluindo filosofia, matemática, comunicação,
direito, política e muitos outros.
A relação simbiótica entre retórica e a argumentação
funciona como uma fogueira, de forma que a argumentação é
o fogo, e a retórica é a lenha que faz o fogo aparecer. A
argumentação não consegue se revelar sem a retórica, da
mesma forma que o fogo não se manifesta sem a lenha. A
retórica, por sua vez, como a lenha que sem o fogo não gera
fogueira, se torna vazia162, manipulativa163 ou exclusivamente
estilística164 sem a argumentação.
Para ilustrar a interdependência entre retórica e argumentação,
apresentamos na tabela da figura 9.8 três exemplos de
variações de combinações entre retórica e argumentação para
uma mesma afirmação.
Afirmação: “Todos deveriam adotar um estilo de vida mais
sustentável.”
Mudança climática
é causada pela
atividade humana.
Práticas
sustentáveis
reduzem nossa
pegada ecológica.
2 “Nossa Terra é um presente precioso que nos foi Recursos naturais
dado. Se quisermos que as gerações futuras são finitos.
desfrutem de suas maravilhas, todos nós
precisamos adotar um estilo de vida mais Perda de
sustentável agora.” biodiversidade
ameaça
ecossistemas.
Investir em
energia renovável
cria empregos.
3 “Imagine um mundo onde o ar é puro, os oceanos Poluição do ar
estão limpos e a natureza floresce em harmonia. relacionada a
Esse sonho pode se tornar realidade se todos nós problemas de
adotarmos um estilo de vida mais sustentável.” saúde.
Oceanos estão se
tornando mais
ácidos.
Comunidades
sustentáveis são
mais resilientes.
MODO DE
SITUAÇÃO EXEMPLO
PERSUASÃO
“Como médica com mais de 20 anos de experiência
Uma médica
no campo da imunologia, e tendo trabalhado
falando sobre
diretamente com a formulação de vacinas, posso
ETHOS a importância
assegurar-lhes que a vacinação é um método seguro
(caráter) da vacinação
e eficaz para prevenir doenças graves. Minha
em uma
dedicação à saúde pública tem sido a força motriz do
conferência.
meu trabalho.”
“Imagine o mundo que estamos deixando para nossos
Um ativista
filhos se não agirmos agora. Um mundo onde as
ambiental
praias que amamos desaparecem, onde incêndios
discursando
PATHOS florestais consomem casas e sonhos, e onde as
em um
(emoção) espécies que encantam nossos corações se
evento sobre
extinguem para sempre. Podemos sentir a dor dessas
as mudanças
perdas e devemos canalizar essa emoção para ação
climáticas.
imediata.”
“De acordo com a análise de dados dos últimos dez
Um anos, há uma correlação direta entre o investimento
economista em educação e o crescimento econômico. Países que
LOGOS apresentando aumentaram os gastos em educação em 5% viram
(lógica) um novo um crescimento do PIB de pelo menos 2% no ano
plano seguinte. Portanto, nosso plano propõe aumentar o
econômico. orçamento da educação como um investimento
estratégico para estimular a economia.”
Figura 9.10 – Exemplos de uso dos modos de persuasão da retórica: ethos, páthos e
logos. Fonte: elaborada pela autora
Figura 9.11 – Exemplos de uso dos cânones da retórica para o tema “Preservação
Ambiental”, considerando dois tipos distintos de públicos: crianças e adultos.
CÂNONE PARA CRIANÇAS PARA ADULTOS>
DA
RETÓRICA
ESTILO Linguagem simples e envolvente. Linguagem formal e informativa.
Uso de rimas, repetições e Uso de dados, gráficos e
analogias fáceis de entender. estatísticas para reforçar
Ilustrações coloridas e personagens argumentos. Citações de
animados. especialistas e estudos
relevantes.
MEMÓRIA Canções sobre a natureza e jogos Fornecimento de folhetos
interativos para reforçar as informativos ou links para
mensagens. Uso de mascotes ou recursos online. Repetição de
personagens para criar associações mensagens-chave e conclusões
memoráveis. de estudos.
ENTREGA Tom de voz animado e expressões Tom de voz sério e profissional.
faciais exageradas. Uso de gestos Uso de apresentações de slides e
dramáticos e recursos visuais como talvez um vídeo impactante.
fantoches ou slides coloridos. Postura confiante e contato visual
com o público.
Figura 9.11 – Exemplos de uso dos cânones da retórica para o tema “Preservação
Ambiental”, considerando dois tipos distintos de públicos: crianças e adultos.
CONHECIMENTO /
CONHECIMENTO / HABILIDADE que
HABILIDADE que EU
EU NÃO POSSUO
POSSUO
EU SEI que Conhecimento Conhecimento mapeado –
existe disponível – pronto consciência daquilo que posso
(consciente) para uso aprender
EU NÃO SEI que Conhecimento Conhecimento desconhecido –
existe inconsciente – desconhecimento daquilo que posso
(ignorante) potencial oculto aprender
VALORES
Valores são princípios ou padrões de comportamento que são
considerados importantes ou desejáveis por um indivíduo,
grupo ou sociedade. Eles atuam como bússolas morais e
éticas, guiando as escolhas, ações e julgamentos das pessoas.
Os valores podem incluir conceitos como honestidade, respeito,
responsabilidade, justiça e compaixão, entre outros.
No contexto do pensamento crítico, os valores desempenham
um papel crucial por várias razões:
Gabriel, Martha
Liderando o futuro : visão, estratégia e
habilidades / Martha Gabriel . -- São Paulo : DVS
Editora, 2024.
Bibliografia
ISBN 978-65-5695-108-9
23-179751 CDD-650.13