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O Que É Bioética

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Bioética – EREM EBA

Prof. Eucaé
O que é bioética?
É um campo de estudo onde são abordadas questões de dimensões morais e éticas,
que relacionam pesquisas, decisões, condutas e procedimentos da área da biologia e da
medicina ao direito à vida.
O conceito de bioética é interdisciplinar e contempla áreas como biologia, direito,
filosofia, ciências exatas, ciência política, medicina, meio ambiente e etc.
No Brasil, umas das principais responsáveis pela expansão desse conceito é a
Sociedade Brasileira de Bioética (SBB), fundada em 1995.
Segundo o Jornal do Cremesp publicado em abril do mesmo ano, o encontro que
posteriormente culminou na criação da SBB teve como objetivo:
Estimular na Sociedade discussões sobre temas polêmicos como aborto, eutanásia,
reprodução assistida e engenharia genética e outros problemas ligados à vida, à morte e à
existência humana, mas sempre visando o debate quanto aos aspectos éticos.

Ética
Moral
Reflexão filosófica acerca dos
Definição Código cultural de normas
princípios motores das ações
que orientam as ações dos
humanas: certo e errado; justo e
indivíduos inseridos em um
injusto; bem e mal.
determinado contexto.
Caráter Universal Particular (cultural/pessoal)
Fundamenta-se nos
Fundamentação Fundamenta-se na teoria (princípios) costumes e hábitos
(comportamentos)
• Deontologia • Moral cristã
Exemplo • Bioética • Moral grega

Os princípios da bioética
Na definição de bioética predominam duas questões: conhecimentos biológicos e
valores humanos.
Ela subdivide-se em princípios básicos que buscam solucionar problemas éticos
originados ao longo do desenvolvimento de procedimentos com seres vivos de todas as
espécies.
No que diz respeito à ética médica, Hipócrates é um nome que se destaca.
Considerado o “pai da medicina”, o médico grego costumava aliar medicina e filosofia.
O foco de sua relação com o paciente era o bem, e sua abordagem era orientada
principalmente por dois princípios: o princípio da não maleficência e o princípio da
beneficência.
1. Princípio da não maleficência

O princípio da não maleficência se baseia na ideia de que nenhum mal deve ser feito
ao outro. Assim, não é permitida nenhuma ação que consista em malefício intencional a
cobaias ou a pacientes.
O princípio é representado pela frase em latim: primum non nocere (primeiro, não
prejudicar). Tem como objetivo evitar que um tratamento ou pesquisa cause mais danos
do que os possíveis benefícios.
Alguns estudiosos defendem que o princípio da maleficência é, na verdade, parte do
princípio da beneficência, pois o ato de não causar mal ao outro já é, por si só, uma prática
do bem.
Exemplo de bioética na aplicação do princípio da não maleficência: Em uma pesquisa
para o desenvolvimento de uma vacina, é chegada a fase de testes em humanos.
Os testes demonstraram que em 70% dos casos, os pacientes que receberam a
vacina foram curados, mas 30% morreram em consequência de efeitos colaterais.
Os estudos serão interrompidos e a vacina não poderá ser produzida apesar de um
índice alto de cura, causar a morte de pessoas é causar o mal e fere o princípio da não
maleficência.

2. Princípio da beneficência

Esse princípio consiste na prática do bem; na virtude de beneficiar o próximo.


Assim, os profissionais que atuam na área de pesquisas e experimentos devem assegurar
a precisão da informação técnica que possuem e estar convictos que seus atos e decisões
têm efeitos positivos.
Dessa forma, espera-se que qualquer ato tenha como objetivo fundamental o bem,
nunca o mal.
Exemplo de bioética na aplicação do princípio da beneficência: uma médica está
socorrendo um paciente que está correndo risco de morte. Esse paciente é um conhecido
assassino.
Objetivo dessa médica sempre será salvar a vida de seu paciente e mobilizará todas
as alternativas para que isso aconteça.
Segundo o princípio da beneficência, deve-se apenas ter em vista o bem. O descaso ou a
omissão (ainda que pudesse ser justificado) consistiria em um mal e feriria o princípio
bioético.

3. Princípio da autonomia

A ideia central desse princípio é de que todos têm capacidade e liberdade de tomar
suas próprias decisões.
Assim, qualquer tipo de procedimento a ser realizado no corpo de um indivíduo e/ou que
tenha relação com a sua vida, deve ser autorizado por ele.
No caso de crianças e de pessoas deficientes, o princípio de autonomia deve ser
praticado pela respectiva família ou pelo responsável legal.
É importante que esse princípio não seja praticado em detrimento do princípio da
beneficência; por vezes, ele precisa ser desrespeitado para que a decisão de uma pessoa
não cause danos a outra.
O princípio da autonomia é amparado pelo direito, ao abrigo do Código de Ética
Médica Brasileiro (Capítulo V, Artigo 31).
Tal artigo destaca o direito do paciente de ter a sua autonomia respeitada, no seguinte
trecho onde é indicado que o médico é proibido de:
(...) desrespeitar o direito do paciente ou de seu representante legal de decidir livremente
sobre a execução de práticas diagnósticas ou terapêuticas, salvo em caso de iminente risco
de morte
Exemplo de bioética na aplicação do princípio da autonomia: quando um paciente é
diagnosticado com uma doença terminal, já não existem tratamentos que possam curá-lo.
Geralmente, o que se faz nesses casos é dar a esse paciente os cuidados paliativos, de
forma que ele se sinta aliviado dos sintomas do mal que o acomete.
No entanto, cabe ao paciente decidir se deseja ou não avançar com esses cuidados
paliativos, visto que eles não tornam possível a cura; apenas amenizam (por vezes) os
malefícios da doença.
Cabe ao profissional médico respeitar a decisão do paciente, caso ele não queira
receber tais cuidados.

4. Princípio da justiça

No domínio da bioética, esse princípio se baseia na justiça distributiva e na equidade.


Ele defende que a distribuição dos serviços de saúde deve ser feita de forma justa e
que deve haver igualdade de tratamento para todos os indivíduos.
Tal igualdade não consiste em dar o mesmo para todos, mas sim em dar a cada um, o
que cada uma precisa.

Exemplo de bioética na aplicação do princípio da justiça: um caso real que exemplifica o


princípio da justiça, aconteceu em Oregon, nos Estados Unidos.
Com o objetivo de proporcionar um atendimento básico de saúde a um maior
número de pessoas, o governo local reduziu os atendimentos de saúde que imputavam
custos altos.
Dessa forma, foi possível realizar uma distribuição mais alargada dos recursos
disponíveis de forma a ajudar solucionar os problemas de uma parcela maior da
população.

Para que serve a bioética?

A aplicação do conceito de bioética tem como objetivo garantir que haja uma
responsabilidade moral nos procedimentos, pesquisas e atos médicos e biológicos.
A bioética busca garantir que os valores morais humanos não se percam,
independentemente do desenvolvimento histórico e social da humanidade, durante as
tentativas de solução de conflitos e/ou dilemas éticos.
Com base nos seus quatro princípios, ela preza os comportamentos adequados a cada
situação específica.
Alguns dos assuntos que mais requerem a intervenção da bioética são:

• Aborto;
• Clonagem;
• Engenharia genética;
• Eutanásia;
• Fertilização in vitro;
• Uso de células-tronco;
• Uso de animais em experimentos;
• Suicídio.
É de se referir que a aplicação dos princípios da bioética relativamente aos casos
acima pode variar consoante o país onde é praticado. O que, por vezes, é permitido em
determinados países, pode ser classificado como crime em outros. O aborto e a eutanásia
exemplificam essa situação.
A eutanásia tem sido um assunto muito discutido posto que descreve o processo de
acelerar a morte de um paciente em estado crítico de saúde, sem que ele sinta dor, sendo
uma escolha determinada pelo paciente, família ou ambos.
De tal modo, o processo da eutanásia abrevia a vida de um paciente terminal, ou
seja, aquele que apresenta uma doença incurável e não exiba perspectiva de melhora
diante de seu quadro de saúde. Dessa forma, ela pode efetivar-se ao desligar os aparelhos
no hospital, por meio de injeções letais, ou ainda, por falta de cuidados médicos.
Mas fique atento, a eutanásia é considerada homicídio de acordo com determinadas
crenças, religiões, ética, política, e nalguns países, por exemplo, Brasil e Portugal, essa
prática é ilegal. Por sua vez, países como Holanda, essa ação é considerada legal, desde
1993.
História
Historiadores apontam que a eutanásia é um tema bem antigo, já discutido entre
os filósofos gregos Platão e Sócrates, de maneira que os povos primitivos já a praticavam
no caso de doenças incuráveis, por exemplo, os celtas, os indianos, dentre outros.
Atualmente, trata-se de um assunto que voltou à tona, sendo um tema polêmico (tabu) e
pauta de muitos congressos religiosos, médicos, que discutem a ética desse procedimento.
No Brasil, segundo a Constituição Federal, todo cidadão tem o direito à vida e a
eutanásia é considerada homicídio doloso. Segundo o Art.121, “matar alguém, pena ou
reclusão de 6 a 20 anos”; no Parágrafo 3, “Se o autor do crime agiu por compaixão, a
pedido da vítima, imputável e maior, para abreviar-lhe o sofrimento físico insuportável,
em razão de doença grave: pena – reclusão de 3 a 6 anos”.

Prós e Contras
Alguns argumentos a favor (ativistas pro-eutanásia) apontam que viver é um
direito e não uma obrigação, outros, os ativistas contra eutanásia, apostam que a vida deve
ser mantida até o corpo falecer naturalmente. Dessa forma, os debates sobre a eutanásia,
por um lado alimentam a legalização e o direito do doente de escolher sua morte, e por
outro, consideram-na crime.
Prós

• Autonomia do doente em ter uma morte indolor


• Direito à escolha pela vida e morte
• Evitar a dor e o sofrimento de pessoas em fase terminal, bem como o sofrimento
dos familiares
Contras

• Determina o fim da vida de alguém


• Para os religiosos é considerado um suicídio, sendo Deus, o único que pode tirar
a vida do paciente
• Considerado homicídio em alguns países
Tipos de Eutanásia

Há dois tipos de processos de eutanásia, a saber:


• Eutanásia Passiva: ocorre quando o doente morre por falta de recursos, seja
medicamentos, profissionais, alimentos, dentre outros.
• Eutanásia Ativa: é a indução do processo de morte no doente por meio de injeções
letais, desligamento de aparelhos, dentre outros.

Distanásia e Ortotanásia

A distanásia corresponde ao processo contrário à eutanásia passiva, isto é,


significa a prática de morte lenta, dolorosa, com sofrimento físico ou psicológico do
paciente em estado de lucidez; enquanto a ortotanásia é a morte que ocorre de modo
natural.

Curiosidade

Do grego, a palavra Eutanásia, corresponde a união dos termos “eu” (bom) e


“thanatos” (morte) que significa “boa morte”, “morte apropriada” ou ainda, “morte sem
dor”.
Aborto é a interrupção da gravidez, que pode ser espontâneo ou induzido. No
Brasil a legislação permite que o aborto seja realizado apenas em casos de estupro, risco
à vida da mãe ou anencefalia.

No entanto, é grande o número de mulheres que não se encontram nessas


situações e realizam abortos inseguros. Isso traz sérias complicações, sendo por isso, um
grave problema de saúde pública.

Aspectos Jurídicos e Sociais do Aborto

O aborto envolve questões morais, éticas, religiosas e outras que tornam o assunto
muito complexo e polêmico. É muito importante saber dos riscos que representa para a
saúde da mulher e das consequências que isso pode trazer para o resto da sua vida.

A gravidez pode ser interrompida involuntariamente (aborto espontâneo) quando


não se desenvolve naturalmente ou por problemas da mulher. Também pode ser
provocado pela própria gestante ou com seu consentimento, através de ingestão de
substâncias abortivas ou por cirurgia.

O aborto não é um método contraceptivo.

É fundamental que mulheres e homens recebam informação de qualidade para: saber


usar adequadamente métodos anticoncepcionais e realizar o planejamento familiar. Desse
modo, podem decidir o melhor momento de ter filhos ou ainda por não ter filhos.

Lei do Aborto

Aborto é crime no Brasil, sendo previsto nos artigos 124 a 127 do Código Penal. As
penalidades são relativas:

• à gestante que decide abortar (1 a 3 anos),


• a quem realiza o aborto (3 a 10 anos),
• ou a quem leva uma gestante, considerada incapaz, a abortar (3 a 10 anos).
O artigo 128 apresenta as exceções que são aceites. Em caso de estupro, quando a
mulher denuncia na polícia e faz exame de corpo delito; e nos casos de indicação médica,
quando a gravidez traz risco de vida para a mulher (aborto terapêutico). Há possibilidade
de interromper a gravidez também quando o feto não tem condições de sobreviver, ou
seja, se o cérebro não se desenvolve, condição chamada anencefalia.

Gravidez Indesejada

Segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU) de 2013 acontecem todo
ano cerca de 3,2 milhões de abortos inseguros de adolescentes entre 15 e 19 anos nos
países mais pobres. Estima-se que 70 mil adolescentes morrem a cada ano por
complicações durante a gravidez ou o parto.

No Brasil foi publicado em 2010 a Pesquisa Nacional do Aborto. Foi realizada por
pesquisadores da Universidade de Brasília (UNB), com mulheres entre 18 e 39 anos,
alfabetizadas e residentes nas áreas urbanas. É possível que os números sejam ainda
maiores se considerar mulheres não alfabetizadas e de áreas rurais. Alguns dados segundo
a pesquisa:

• 55% das mulheres precisaram de internação por complicações decorrentes do


aborto;
• 48% das pesquisadas referiu ter usado medicamentos para abortar;
• 13% delas relatou ter feito aborto entre 16 e 17 anos;
• 16% entre 18 e 19 anos;
• 24% entre 20 e 24 anos.

Muitos motivos tornam a gravidez indesejada para algumas mulheres. Por exemplo,
doenças graves do feto que o afetam por toda a vida, como o caso recente da microcefalia
associada ao zika vírus.

Argumentos contra o aborto

A maioria da população brasileira se posiciona contra o aborto, por considerar assim


como previsto na lei, que é um crime contra a vida. Tratam o aborto como eutanásia e não
deveria ser realizado em hipótese nenhuma. Há estudos que demonstram que o feto pode
sentir dor. Por esse motivo, muitos consideram que deveria ser totalmente proibido,
principalmente, em estágios mais avançados da gestação, que tornam o aborto mais
complicado.

Legalização do Aborto

Em 2015, o aumento dos casos de microcefalia, relacionados à infecção por zika


vírus durante a gravidez, reacendeu a polêmica do direito ao aborto para mulheres. Essa
condição foi defendida pela ONU, que recomendou que os países mais pobres revejam
suas leis. Aqueles que são a favor do aborto defendem os direitos individuais da mulher
de decidir sobre o próprio corpo. Há também quem defenda a legalização do aborto como
tema de saúde pública.

A legalização do aborto seria uma forma de evitar o alto índice de mortes maternas
decorrentes de abortos inseguros principalmente em populações mais pobres.

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