Location via proxy:   [ UP ]  
[Report a bug]   [Manage cookies]                

Aula 8 - Sistema Cárstico e Cavernas

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 11

Prof: Geól. Dr.

Leonardo Cardoso Renner Disciplina de Geomorfologia e Geodiversidade


Sistema cárstico e cavernas

Disciplina: GEOMORFOLOGIA E GEODIVERSIDADE Código: 0800023

Professor: Geól. Dr. Leonardo Cardoso Renner

ESTUDO COMPLEMENTAR: SISTEMA CÁRSTICO E CAVERNAS


SUMÁRIO:

1 - INTRODUÇÃO 1
2 – SISTEMA CÁRSTICO 1
2.1 - Rochas carstificáveis 2
2.2 - Dissolução de rochas carbonáticas 3
2.3 - Requisitos para o desenvolvimento de sistemas cársticos 5
2.4 - Cavernas e condutos 5
2.5 - Depósitos sedimentares em cavernas e espeleotemas 6
2.6 - Formas do relevo cárstico 8
3 - REFERÊNCIAS 11

1 - INTRODUÇÃO
Dentre as paisagens mais espetaculares da Terra ressaltam-se os sistemas cársticos, com
cavernas, cânions, paredões rochosos e relevos ruiniformes produzidos pela ação geológica da água
subterrânea sobre rochas solúveis. Além de representarem atrações obrigatórias para turistas,
fotógrafos e cientistas, as cavernas constituem um desafio aos exploradores das fronteiras
desconhecidas do nosso planeta. Juntamente com topos de cadeias de montanhas e fundos
oceânicos, as cav4ernas ainda reservam territórios nunca antes percorridos pelo ser humano. A
exploração de cavernas tem sido de interesse da humanidade desde tempos pré-históricos, conforme
o registro arqueológico de habitações humanas.
Cerca de 5 a 7% do território brasileiro é ocupado por carste carbonático, constituindo um
importante componente nas paisagens do Brasil.

2 – SISTEMA CÁRSTICO
Carste é a tradução do termo alemão karst, originado da palavra krasz, denominação dada
pelos camponeses a uma paisagem da atual Croácia e Eslovênia (antiga Iugoslávia), marcada por
rios subterrâneos com cavernas e superfícies acidentada dominada por depressões com paredões
rochosos e torres de pedra.

1
Prof: Geól. Dr. Leonardo Cardoso Renner Disciplina de Geomorfologia e Geodiversidade
Sistema cárstico e cavernas

Do ponto de vista hidrológico e geomorfológico, sistemas cársticos são constituídos por três
componentes principais (Fig. 1), que se desenvolvem de maneira conjunta e interdependente:
 Sistemas de cavernas - formas subterrâneas acessíveis à exploração;
 Aqüíferos de condutos - formas condutoras da água subterrânea;
 Relevo cárstico - formas superficiais.

Figura 1 - Componentes principais do sistema cárstico.

2.1 - Rochas carstificáveis


Sistemas cársticos são formados pela dissolução de certos tipos de rochas pela água
subterrânea. Considerada rocha solúvel aquela que após sofrer intemperismo químico produz pouco
resíduo insolúvel. Entre as rochas mais favoráveis à carstificação encontram-se as carbonáticas
(calcários, mármores e dolomitos, por exemplo), cujo principal mineral é a calcita (e/ou dolomita),
dissocia-se nos íons Ca+2 e/ou Mg+2 e CO3-2 pela ação da água. Os calcários são mais solúveis que
os dolomitos, pois a solubilidade da calcita é maior que a da dolomita.
Como exemplo de rocha considerada insolúvel, pode-se citar os granitos, nos quais feldspatos
e micas submetidos ao intemperismo originam argilominerais estáveis em superfície, produzindo
muito resíduo insolúvel em comparação ao volume inicial de rocha, o que impede o aumento da
porosidade secundária.

2
Prof: Geól. Dr. Leonardo Cardoso Renner Disciplina de Geomorfologia e Geodiversidade
Sistema cárstico e cavernas

2.2 - Dissolução de rochas carbonáticas


O mineral calcita é quase insolúvel em água pura, produzindo concentrações máximas em
Ca2+ de cerca de 8 mg/L, ao passo que em águas naturais é bastante solúvel, como é evidenciado em
nascentes cársticas, cujas águas são chamadas de “duras”, devido ao alto teor de Ca e Mg (até 250
mg/L). Este fato deve-se à dissolução ácida do carbonato de cálcio pelo ácido carbônico, gerado
pela reação entre água e gás carbônico (Fig. 2).

H2 O + CO2 → H2CO3
Água dióxido de carbono ácido carbônico

Seguindo de:

H2CO3 + 2CaCO3 → 2Ca2+ + 2HCO3-


Ácido carbônico calcita bicarbonato de cálcio

As águas de chuva, acidificadas inicialmente com o CO2 atmosférico, sofrem um grande


enriquecimento de ácido carbônico quando passam pelo solo, pois a respiração das raízes das
plantas e a decomposição de matéria orgânica resultam em elevado teor de CO2 no solo. O ácido
carbônico é quase totalmente consumido nos primeiros metros de percolação da água de infiltração
no pacote rochoso, sendo que, nas partes mais profundas do aqüífero, resta somente uma pequena
parcela deste ácido para dissolver a rocha.
Outro agente corrosivo às vezes presente na água subterrânea é o ácido sulfúrico, gerado
principalmente pela oxidação de sulfetos, como pirita e galena, minerais acessórios muito
freqüentes em rochas carbonáticas.

3
Prof: Geól. Dr. Leonardo Cardoso Renner Disciplina de Geomorfologia e Geodiversidade
Sistema cárstico e cavernas

Figura 2 - Dissolução e precipitação de calcita num perfil cárstico e principais tipos de


espeleotemas.

4
Prof: Geól. Dr. Leonardo Cardoso Renner Disciplina de Geomorfologia e Geodiversidade
Sistema cárstico e cavernas

2.3 - Requisitos para o desenvolvimento de sistemas cársticos


O desenvolvimento pleno de sistemas cársticos requer três condições:
 Rocha solúvel com permeabilidade de fraturas - Rochas solúveis do substrato geológico,
principalmente calcários, mármores e dolomitos, devem possuir uma rede de descontinuidades,
formadas por superfícies de estratificação, planos de fraturas e falhas, caracterizando um
aqüífero de fraturas. Com a dissolução da rocha ao longo de intercessões entre planos, instalam-
se rotas preferenciais de circulação da água subterrânea. Em rochas sem descontinuidades
planares e porosidade intergranular dominante, a dissolução ocorre de maneira disseminada e
homogênea, sem o desenvolvimento de rotas de fluxo preferencial da água subterrânea.

 Relevo - gradientes hidráulicos moderados a altos - O desenvolvimento do carste é


favorecido quando a região carbonática possui topografia, no mínimo, moderadamente
acidentada. Vales encaixados e desníveis grandes geram gradientes hidráulicos maiores, com
fluxos mais rápidos das águas de percolação ao longo dos condutos no aqüífero, à semelhança
do que se observa no escoamento superficial. Essas velocidades maiores da água subterrânea
resultam em maior eficiência na remoção de resíduos insolúveis, bem como na dissolução da
rocha ao longo das rotas de fluxo e rios subterrâneos, acelerando o processo de carstificação.
Águas com fluxo lento exercem pouca ação, pois logo saturam-se em carbonato, perdendo sua
ação corrosiva e a capacidade transportar partículas.

 Clima - disponibilidade de água - Sendo a dissolução a causa principal da formação de


sistemas cársticos, o desenvolvimento do carste é mais intenso em climas úmidos. Além de alta
pluviosidade, a carstificação também é favorecida em ambientes de clima quente com densa
vegetação, onde a produção biogênica de CO2 no solo é maior, aumentando o teor de ácido
carbônico nas águas de infiltração. Desse modo as paisagens cársticas são mais desenvolvidas
em regiões de clima quente e úmido quando comparadas às regiões de clima frio.

2.4 - Cavernas e condutos


Cavernas são cavidades naturais com dimensões que permitem acesso ao ser humano.
Cavernas cársticas são parte do sistema de condutos e vazios característicos das rochas carbonáticas.
A ampliação dos condutos que compõem as rochas preferenciais de fluxo da água subterrânea
aumenta gradativamente a permeabilidade secundária da rocha, transformando parte do aqüífero
fraturado em aqüífero de condutos, característica hidrológica fundamental de sistemas cársticos.

5
Prof: Geól. Dr. Leonardo Cardoso Renner Disciplina de Geomorfologia e Geodiversidade
Sistema cárstico e cavernas

Devido ao rebaixamento do nível freático em função da crescente permeabilidade, muitas


vezes somada ao soerguimento tectônico da região, setores da rede de condutos, iniciados e
desenvolvidos em ambiente freático, são expostos acima do nível de água, sofrendo modificações e
ampliação. Estes segmentos de condutos, quando atingem dimensões acessíveis ao ser humano,
constituem as cavernas. O processo de formação do aqüífero de condutos e cavernas é chamado de
espeleogênese, termo originado do grego spelaion, que significa caverna.
No vasto sistema de porosidade de condutos de um aqüífero cárstico, cerca de 1% é acessível
ao homem, formando sistemas de cavernas, compostos por um conjunto de galerias, condutos e
salões, todos fazendo parte de uma mesma bacia de drenagem subterrânea, caracterizada por
entradas e saídas da água. Os padrões morfológicos dos sistemas de cavernas refletem
principalmente a estrutura da rocha e a maneira como é realizada a recarga de água nos sistema, ou
seja, através de sumidouros de rios com origem externa ao carste ou a partir de vários pontos de
infiltração distribuídos sobre a superfície carbonática.

2.5 - Depósitos sedimentares em cavernas e espeleotemas


Nos condutos expostos na zona de oscilação do nível de água, a ampliação das cavernas
ocorre pela ação de rios subterrâneos, os quais entalham seus leitos, formando cânions subterrâneos.
Nesta fase iniciam-se processos de abatimento de blocos, transformando parte dos condutos
originais em salões de desmoronamento onde se acumulam pilhas de fragmentos de rocha com
dimensões extremamente variadas.
Com o rebaixamento do nível da água, rios da superfície são absorvidos pelos condutos
cársticos, o que causa a injeção de importantes volumes de água e detritos provenientes das áreas de
captação superficial desses rios. Parte dos detritos pode ser acumulada ao longo das drenagens
subterrâneas, formando depósitos sedimentares fluviais nas cavernas. Com o gradativo
rebaixamento do leito fluvial, acompanhando o soerguimento regional, testemunhos dos sedimentos
fluviais são preservados em níveis superiores das galerias subterrâneas. Estas feições são
importantes no estudo da história de entalhamento e registros paleoambientais do rio subterrâneo.
Outro fenômeno importante que ocorre nas cavernas acima do nível freático é a deposição de
minerais nos tetos, paredes e pisos das cavidades, produzindo um variado conjunto de formas e
ornamentações, genericamente denominadas de espeleotemas. Os minerais mais comuns
depositados em cavernas cársticas são a calcita, aragonita e gipso (Fig. 3).

6
Prof: Geól. Dr. Leonardo Cardoso Renner Disciplina de Geomorfologia e Geodiversidade
Sistema cárstico e cavernas

A precipitação ocorre quando as


águas saturadas em CaCO3 perdem CO2
para o ambiente das cavernas, pois a
concentração de CO2 da atmosfera
subterrânea é muito menor que a quantidade
de CO2 dissolvido nas águas de infiltração
enriquecidas em CO2 biogênico. Devido a
esta diferença de conteúdo de CO2, a
solução de infiltração tende a se equilibrar
com a atmosfera da caverna, perdendo CO2,
e causa o deslocamento da reação entre
água, gás carbônico e carbonato de cálcio
no sentido de precipitação de CaCO3.

Figura 3 - Estalactite de gipso com 6 metros de


altura. Caverna de Lechuguilla, Novo México.

Os espeleotemas são classificados segundo sua forma e o regime de fluxo da água de


infiltração, causa principal da sua grande diversidade morfológica. Os mais freqüentes são formados
por gotejamento da água de infiltração, como estalactites e estalagmites (Fig. 4). As primeiras são
geradas a partir de gotas que surgem em fraturas nos tetos de cavernas e crescem em direção ao
piso. Inicialmente formam-se estalactites do tipo canudo pela superposição de anéis de carbonato de
cálcio com espessura microscópica. Estes canudos podem dar origem posteriormente a formas
cônicas, quando o interior do canudo é obstruído e a deposição do mineral passa a ocorrer através
do escorrimento da solução pela superfície externa do canudo. As estalagmites crescem do piso em
direção à origem do gotejamento, com o acúmulo de carbonato de cálcio precipitado pela gota após
atingir o piso. Quando a deposição do mineral é associada a filmes de solução que escorrem sobre
superfícies inclinadas, são gerados espelotemas em forma de crostas carbonáticas, que crescem com
a superposição de finas lâminas de carbonato de cálcio, podendo cobrir trechos do piso e paredes de
cavernas até uma espessura de vários metros.
Os espeleotemas podem formar acumulações de várias camadas, compostas por mais de um
mineral (calcita e aragonita), e englobar contribuições detríticas, como areia e argila, trazidas pela
água de gotejamento. Desta maneira, constituem rochas sedimentares de origem química
precipitadas a partir da água subterrânea.

7
Prof: Geól. Dr. Leonardo Cardoso Renner Disciplina de Geomorfologia e Geodiversidade
Sistema cárstico e cavernas

Figura 4 - Estalactites, estalagmites e colunas formadas pela dissolução do calcário. São


Desidério, BA.

2.6 - Formas do relevo cárstico


A característica principal de superfícies cársticas é a substituição da rede de drenagem fluvial,
com seus vales e canais organizados por bacias de drenagem centrípeta, que à primeira vista forma
um quadro de drenagem caótico. Essas bacias conduzem a água superficial para sumidouros, que
conectam a superfície com a drenagem subterrânea.
Quanto mais desenvolvido o sistema cárstico maior sua permeabilidade secundária, o que
aumenta o número de sumidouros e respectivas bacias de drenagem centrípeta. Isto, por sua vez,
condiciona um forte incremento no volume de infiltração e diminuição no volume de água do
escoamento superficial.

8
Prof: Geól. Dr. Leonardo Cardoso Renner Disciplina de Geomorfologia e Geodiversidade
Sistema cárstico e cavernas

Associadas às drenagens centrípetas,


desenvolvem-se dolinas, que representam
uma das feições de relevo mais freqüentes e
típicas de paisagens cársticas, com
tamanhos que variam entre uma banheira e
um estádio de futebol. Dolinas são
depressões cônicas, circulares na superfície,
lembrando a forma de um funil. Dolinas de
dissolução formam-se com a dissolução a
partir de um ponto de infiltração na
superfície da rocha (zona de cruzamento de
fraturas). Crescem em profundidade e
diâmetro, conforme a rocha e o material
residual são levados pela água subterrânea
(Fig. 5).
Dolinas de colapso (Fig. 6) são
aquelas geradas a partir do colapso da
superfície devido ao abatimento do teto de
cavernas ou outras cavidades em
profundidade. Um dos processos que
desengatilha o abatimento de cavidades em
profundidade é a perda da sustentação que a
Figura 5 - Dolina de subsidência lenta.
água subterrânea exerce sobre as paredes
desses vazios, pelo rebaixamento do nível
freático e exposição das cavidades na zona
vadosa.

Figura 6 - Dolina de colapso.

9
Prof: Geól. Dr. Leonardo Cardoso Renner Disciplina de Geomorfologia e Geodiversidade
Sistema cárstico e cavernas

Áreas de rochas carbonáticas expostas quase sempre exibem um padrão de sulcos com
profundidades de milimétricas a métricas, às vezes com lâminas proeminentes entre os sulcos. São
os lapiás ou caneluras de dissolução (Fig. 7). Formam-se inicialmente pela dissolução da rocha na
interface solo-rocha e após a erosão do solo continuam seu desenvolvimento pelo escorrimento da
água de precipitação diretamente sobre a rocha.

Figura 7 - Lapiás em calcário. Gruta do Catão, São Desidério-BA.

Entre as formas mais notáveis do relevo cárstico, citam-se ainda os cones cársticos (Fig. 8).
Constituem morros de vertentes fortemente inclinadas e paredes rochosas, representando morros
testemunhos que resistiram à dissolução. São típicos de áreas carbonáticas com relevo acidentado.
Distribuem-se na forma de divisores de água contornando bacias de drenagem centrípeta.
Freqüentemente abrigam trechos de antigos sistemas de cavernas em diferentes níveis.

10
Prof: Geól. Dr. Leonardo Cardoso Renner Disciplina de Geomorfologia e Geodiversidade
Sistema cárstico e cavernas

Figura 8 - Cones cársticos, China.

3 – REFERÊNCIAS
GROTZINGER, J; PRESS, F; SIEVER, R; JORDAN, T. Para entender a Terra. Ed. Bookman.
LEINZ, V.; AMARAL, S.S. Geologia Geral. 14ª ed. Nacional, 2001.
TEIXEIRA, W.; TOLEDO, M.; FAIRCHILD, T.; TAIOLI, F. Decifrando a Terra. Oficina de
Texto. USP, 2000.

11

Você também pode gostar