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Fabrício Castagna Lunardi

Luiz Otávio Rezende

Curso de

SENTENÇA
CÍVEL
Técnica • Prática • Desenvolvimento de habilidades


edição
revista, atualizada
e ampliada

2023
C apítulo I

ORIENTAÇÕES GERAIS SOBRE


O CONCURSO PARA INGRESSO
NA CARREIRA DA MAGISTRATURA
Luiz Otávio Rezende

1. REGRAS CONSTANTES DA RESOLUÇÃO N. 75/09 DO CONSELHO


NACIONAL DE JUSTIÇA1
Segundo a Resolução n. 75/09 do CNJ, os candidatos às carreiras da
magistratura estadual e federal devem se submeter, obrigatoriamente, a duas
provas de sentença, em dias sucessivos, sendo uma versando sobre matéria
cível, e outra tratando de matéria criminal. A Justiça Militar demandará a
feitura de apenas uma sentença criminal2.
A convocação dos aprovados para realizarem esta etapa deve ser feita
no mínimo 15 (quinze) dias antes da data prevista para a prova, e o desaten-
dimento a essa regra poderá levar à anulação da fase de sentença, desde que
comprovado o prejuízo aos candidatos3-4.

1 Para maiores esclarecimentos sobre todas as fases do concurso da magistratura, bem como
dicas específicas de preparação para cada uma delas, vide: (REZENDE, Luiz Otávio. Concurso
para a magistratura: guia prático. Salvador: Juspodivm, 2022).
2 Art. 49, II e III, da Resolução n. 75/09. A partir desta previsão, conclui-se que os Tribunais
não podem mais exigir dos candidatos mais de duas provas de sentença, situação antes
vivenciada, por exemplo, nos certames do TJDFT, que, até o ano de 2008, submetia os
candidatos à magistratura distrital a quatro provas de sentença de matérias variadas em
dias subsequentes, cada um deles com uma nota mínima a ser alcançada para permitir a
aprovação do postulante ao cargo.
3 Artigo 50 da Resolução n. 75/09 do CNJ.
4 A inobservância de regra procedimental de divulgação de notas não acarreta a nulidade de
concurso público quando não demonstrado prejuízo aos concorrentes (AO n. 1395 ED / ES.
Rel. Min. Dias Toffoli. Julgamento: 24.06.2010. Órgão Julgador: Tribunal Pleno).
CURSO DE SENTENÇA CÍVEL • Fabrício Castagna Lunardi | Luiz Otávio Rezende

O tempo de duração da prova não pode ser inferior a 4 (quatro) horas5, e


há nota mínima a ser alcançada pelo candidato para fins de aprovação, qual
seja, 6 (seis) pontos de 10 (dez) possíveis6, cabendo realçar que as provas de
sentença devem ser obrigatoriamente discursivas e realizadas em dias distintos,
preferencialmente nos finais de semana7, sendo afastada a possibilidade de
utilização de computadores ou laptops para a feitura da prova8.
Poderá ser facultada ao candidato a consulta à legislação desacompanhada
de anotação ou comentário, não lhe sendo permitido, porém, a utilização de obras
doutrinárias, súmulas e orientações jurisprudenciais durante a realização da prova9.
Noutra via, observa-se que não só o conhecimento jurídico será avaliado,
mas também a utilização correta do idioma oficial e a capacidade de exposição
do candidato10.
Entregues as provas aos candidatos, são vedados esclarecimentos sobre
o enunciado das questões ou sobre a forma de resolução dessas11-12.
Na elaboração do questionamento atinente à prova de sentença, há de
se observar que a Banca Examinadora pode optar por determinada linha in-
terpretativa do direito, desde que baseada em lei, jurisprudência e doutrina13,

5 Essa foi a regra prevista nos editais dos certames do TJCE/2018 (provas já realizadas),
TJMG/2018 e TJBA/2018.
6 Art. 54, parágrafo único, da Resolução n. 75/09.
7 Artigo 52 da Resolução n. 75/09 do CNJ.
8 PEDIDO DE PROVIDÊNCIAS PARA AUTORIZAR TRIBUNAIS DE JUSTIÇA A PERMITIR O USO DE
COMPUTADORES NA SEGUNDA FASE DO CONCURSO DE INGRESSO PARA A CARREIRA DA MAGIS-
TRATURA. IMPROCEDÊNCIA. PEDIDO PARAREALIZAR PROVA ORAL POR ARGUIÇÃO EM COMIS-
SÕES TEMÁTICA. IMPROCEDÊNCIA.1. O objetivo precípuo da Resolução nº 75 é “a imperativa
necessidade de editar normas destinadas a regulamentar e a uniformizar o procedimento e os
critérios relacionados ao concurso de ingresso na carreira da magistratura do poder Judiciário
nacional”.2. Autorizar os Tribunais a adaptar seus dispositivos internos em detrimento das regras
da Resolução nº 75 equivale a fulminar a própria Resolução.3. Improcedência do pedido. (PP
n. 0005476-63.2011.2.00.0000. Rel. Conselheiro NEVES AMORIM. Julgado em 06.12.2011).
9 Artigo 46 da Resolução n. 75/09 do CNJ.
10 Artigo 48, parágrafo único, da Resolução n. 75/09 do CNJ.
11 Artigo 53, § 1º, da Resolução n. 75/09 do CNJ.
12 Não há previsão no Edital ou na Resolução 75/CNJ de que a Banca Examinadora forneça aos
candidatos material de consulta. O parágrafo único do art. 46 da Res. 75 apenas estabelece
que a Comissão Examinadora poderá dirimir dúvidas durante a prova, mas não a autoriza a
distribuir qualquer tipo de subsídio para a sua realização. ETAPA ANULADA. (PCA n. 0005003-
09.2013.2.00.0000. Rel. Conselheira Maria Cristina Irigoyen Peduzzi. Julgado em 05.11.2013).
13 Em entendimento aplicável pelo Conselho Nacional de Justiça, a jurisprudência do Supremo
Tribunal Federal e a do Superior Tribunal de Justiça são pacíficas em não caber ao Poder
Judiciário, no controle jurisdicional de legalidade, substituir-se à banca examinadora nos
critérios de correção e atribuição de notas de provas, salvo em caso de erro grosseiro
ou de ilegalidade. É possível que a banca de qualquer concurso cometa erros de caráter
metodológico ou científico, mas isso, dentro de certos limites, é inerente à falibilidade e

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Capítulo I • ORIENTAÇÕES GERAIS SOBRE O CONCURSO PARA INGRESSO NA CARREIRA DA MAGISTRATURA

e respeitados os ditames estabelecidos nos artigos 489, § 1º, e 927, ambos do


novo CPC, que trazem as balizas referentes aos precedentes jurisprudenciais
de observância obrigatória.
O conteúdo programático a ser utilizado para a elaboração das provas tem
previsão geral na Resolução n. 75/09 do CNJ14, regramento que não impõe,
todavia, a forma como as disciplinas lá constantes devem ser abordadas pelas
Bancas Examinadoras, ou ainda a maneira como devem ser interpretadas e,
claro, corrigidas a partir dos questionamentos formulados15-16.

à subjetividade próprias de seleções na área das ditas Ciências Humanas, como o Direito.
De toda forma, não se verificou a ocorrência de erros na correção, neste caso. A adoção
do princípio do livre convencimento motivado do juiz aos candidatos em concurso público
é equivocada. Esse princípio diz respeito aos juízes, no exercício da função jurisdicional.
A tese autorizaria a conclusão de que qualquer resposta, em prova de natureza dissertativa,
aberta, desde que não teratológica, poderia ser tida por correta pela banca examinadora.
Isso inviabilizaria a correção das provas e a competitividade inerente ao concurso público.
A banca pode eleger determinada linha interpretativa do Direito, desde que amparada pela
legislação, pela jurisprudência ou pela doutrina. (PCA n. 0001270-35.2013.2.00.0000. Rel.
Conselheiro Wellington Saraiva. Julgado em 06.08.2013).
14 A necessidade de previsão exaustiva no conteúdo programático de todas normas e casos
julgados que poderiam ser usados pela Banca Examinadora nos certames foi devidamente
afastada pelo Supremo Tribunal Federal. Para a Corte Suprema, “havendo previsão de um
determinado tema, cumpre ao candidato estudar e procurar conhecer, de forma global, todos
os elementos que possam eventualmente ser exigidos nas provas, o que decerto envolverá o
conhecimento dos atos normativos e casos julgados paradigmáticos que sejam pertinentes,
mas a isto não se resumirá”, razão pela qual “não é necessária a previsão exaustiva, no
edital, das normas e dos casos julgados que poderão ser referidos nas questões do certame,
sob pena de se malferir o princípio da razoabilidade”. Assim, seguindo o raciocínio exarado
no citado aresto do STF, o candidato deve entender que “estudar cada um dos pontos do
programa do concurso deverá englobar, necessariamente, o estudo dos atos normativos e
casos julgados pertinentes, e não o contrário.” (STF. MS 30860/DF. Rel. Min. Luiz Fux.
Julgamento: 28.08.2012. Órgão Julgador: Primeira Turma).
15 PP n. 0000416-07.2014.2.00.0000. Rel. Conselheira Maria Cristina Irigoyen Peduzzi. Julgado
em 25.02.2014.
16 “RECURSO ADMINISTRATIVO EM PROCEDIMENTO DE CONTROLE ADMINISTRATIVO. CONCURSO
PÚBLICO PARA INGRESSO NA CARREIRA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO PARÁ. PROVA DE
SENTENÇA CRIMINAL. ELABORAÇÃO E CORREÇÃO. AUTONOMIA DAS BANCAS EXAMINADORAS
PARA A ATIVIDADE. 1. É do entendimento deste Conselho Nacional de Justiça, com base em
inúmeros precedentes, que no tocante a elaboração de provas de concursos públicos para o
preenchimento de cargos do Poder Judiciário, bem assim a sua correção, deve-se zelar pela
autonomia dos Tribunais e das respectivas bancas examinadoras, ainda que terceirizadas,
cabendo a esta Casa apenas o exame de legalidade das normas previstas no edital do certa-
me, bem como dos atos emanados da comissão responsável pela organização do concurso.
2. Excepcionalmente, somente em casos de flagrante ilegalidade ou divergência inequívoca
com o que dispõe o edital, no que concerne aos atos praticados por bancas examinadoras de
concursos, compete a este CNJ atuar, mormente porque dentro da competência que lhe cabe
(CF, art. 103-B), não se trata este Conselho de instância superior administrativa revisora de
todo e qualquer ato praticado pela banca em questão. 3. Verificado, no caso concreto, que a

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CURSO DE SENTENÇA CÍVEL • Fabrício Castagna Lunardi | Luiz Otávio Rezende

No tocante à correção da prova pela Banca Examinadora, insta inferir que


restou expressamente vedada a possibilidade de arredondamento de nota, nos
termos do art. 7º, parágrafo único, da Resolução n. 75/09 do CNJ, regra essa
que seguiu a orientação exarada pelas Cortes Superiores17, cujo entendimento
é firme no sentido de não ser admitida tal prática com o fito de beneficiar
candidato de concurso.
É desnecessária a explicação detalhada da nota atribuída pela Banca
Examinadora (espelho pormenorizado)18, além do que não é obrigatória a
divulgação do espelho de correção da prova19-20.

insurgência dos requerentes no tocante à prova de sentença criminal corresponde à elaboração,


interpretação e critérios de correção, não havendo nos atos praticados pelas bancas exami-
nadoras competentes ilegalidade ou contrariedade ao que dispõe edital, não há providência
a ser tomada. Recurso Administrativo que se conhece, e a que se nega provimento.” (PCA n.
0006413-39.2012.2.00.0000 Rel. Conselheiro Ney José de Freitas. Julgado em 02.04.2013).
17 STJ. RMS 15836 / ES. Rel. Ministra Laurita Vaz. 5ª Turma. DJ 12.04.2004. STF. MS 21408 / BA.
Relator(a): Min. Moreira Alves. Órgão Julgador: Tribunal Pleno. Julgamento: 20.03.1992.
STF. MS 26302 AgR/DF. Rel. Min. Carmem Lúcia. Julgamento: 17.11.2011. Órgão Julgador:
Tribunal Pleno.
18 PP n. 0006218-25.2010.2.00.0000. Rel. Conselheiro Jefferson Luis Kravchychyn. Julgado
em 19.10.2010.
19 O Conselho Nacional de Justiça já se manifestou pela desnecessidade de divulgação dos
critérios de correção da prova subjetiva, ou mesmo do espelho de correção da prova, como
pretende o recorrente, por via transversa. Precedentes do STF e STJ. (PCA n. 0007693-
45.2012.2.00.0000. Rel. Conselheiro Ney José de Freitas. Julgado em 06.08.2013).
20 Em sentido diverso, reputando haver nulidade na hipótese de ausência de motivação do ato
avaliativo do candidato, confira-se trecho de recente aresto do STJ: (...) na seara de concursos
públicos, há etapas em que as metodologias de avaliação, pela sua própria natureza, abrem
margem para que o avaliador se valha de suas impressões, em completo distanciamento da
objetividade que se espera nesses eventos. Nesse rol de etapas, citam-se as provas disserta-
tivas e orais. Por essa razão, elas devem se submeter a critérios de avaliação e correção os
mais objetivos possíveis, tudo com vistas a evitar contrariedade ao princípio da impessoa-
lidade, materializado na Constituição Federal (art. 37, caput). E mais. Para que não pairem
dúvidas quanto à obediência a referido princípio e quanto aos princípios da motivação dos
atos administrativos, do devido processo administrativo recursal, da razoabilidade e pro-
porcionalidade, a banca examinadora do certame, por ocasião da divulgação dos resultados
desse tipo de avaliação, deve demonstrar, de forma clara e transparente, que os critérios
de avaliação previstos no edital foram devidamente considerados, sob pena de nulidade da
avaliação. A clareza e transparência na utilização dos critérios previstos no edital estão
presentes quando a banca examinadora adota conduta consistente na divulgação, a tempo
e modo, para fins de publicidade e eventual interposição de recurso pela parte interessada,
de cada critério considerado, devidamente acompanhado, no mínimo, do respectivo valor
da pontuação ou nota obtida pelo candidato; bem como das razões ou padrões de respostas
que as justifiquem. As informações constantes dos espelhos de provas subjetivas se referem
nada mais nada menos à motivação do ato administrativo, consistente na atribuição de nota
ao candidato. Tudo em consonância ao que preconizam os arts. 2º, caput, e 50, § 1º, da
Lei n. 9.78419/99, que trata do processo administrativo no âmbito federal. Salvo exceção
reconhecida pela jurisprudência deste Tribunal Superior – notadamente no que diz respeito

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Capítulo I • ORIENTAÇÕES GERAIS SOBRE O CONCURSO PARA INGRESSO NA CARREIRA DA MAGISTRATURA

2. ORIENTAÇÕES PRÁTICAS DE PREPARAÇÃO – TÉCNICAS DE REDA-


ÇÃO DA SENTENÇA CÍVEL
2.1 Início da preparação – aquisição da técnica de elaboração da
sentença por meio de treinamentos com exercícios simulados
Para boa parte dos candidatos à magistratura, o início da preparação para
a prova de sentença apresenta contornos de extrema dificuldade.
Como estudar para elaborar o ato sentencial sem o contato direto com a praxe
forense, de modo a se inteirar sobre o adequado uso do direito civil e processual
civil, ainda mais em tempos de mudança legislativa expressiva? Até que ponto essa
falta de contato com a prática pode impedir a aprovação de um bom candidato?
Muito embora as perguntas acima declinadas delineiem uma dificuldade a
princípio desafiadora, cumpre mencionar que essa circunstância negativa pode
ser superada com estudo dirigido e resolução seriada de problemas simulados.
Com efeito, à míngua da possibilidade de análise de casos concretos
envolvendo as matérias cobradas na prova de sentença cível, o caminho a ser
trilhado pelos candidatos passa pela resolução de inúmeras sentenças-problema
ao longo da preparação para o exame real21.

à remoção ex ofício de servidor público (RMS 42.696/TO, de minha relatoria, Segunda Turma,
DJe 16/12/2014; AgRg no RMS 40.427/DF, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, Primeira Turma,
DJe 10/9/2013; REsp 1.331.224/MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Segunda Turma,
DJe 26/2/2013) -, referida motivação deve ser apresentada anteriormente ou concomitante
à prática do ato administrativo, pois caso se permita a motivação posterior, dar-se-ia ensejo
para que fabriquem, forjem ou criem motivações para burlar eventual impugnação ao ato.
Nesse sentido, a doutrina especializada (Celso Antônio Bandeira de Mello, in Curso de direito
administrativo. 26 eds. São Paulo: Malheiros, 2009, p. 112-113). Não se deve admitir como
legítimo, portanto, a prática imotivada de um ato que, ao ser contestado na via judicial ou
administrativa, venha o gestor “construir” algum motivo que dê ensejo à validade do ato
administrativo. Precedentes: RMS 40.229/SC, Rel. Ministra Eliana Calmon, Segunda Turma,
DJe 11/6/2013; RMS 35.265/SC, Rel. Ministro Castro Meira, Segunda Turma, DJe 6/12/2012).
É certo que alguns editais de concursos públicos não preveem os critérios de correção ou, às
vezes, embora os prevejam, não estabelecem as notas ou a possibilidade de divulgação dos
padrões de respostas que serão atribuídos a cada um desses critérios. Em tese, com suporte
na máxima de que “o edital faz lei entre as partes”, o candidato nada poderia fazer caso o
resultado de sua avaliação fosse divulgado sem a indicação dos critérios ou das notas a eles
correspondentes, ou, ainda, dos padrões de respostas esperados pela banca examinadora. Tal
pensamento, no entanto, não merece prosperar, pois os editais de concursos públicos não estão
acima da Constituição Federal ou das leis que preconizam os princípios da impessoalidade,
do devido processo administrativo, da motivação, da razoabilidade e proporcionalidade. Do
contrário, estaríamos diante verdadeira subversão da ordem jurídica (STJ, RMS 49.896/RS,
Rel. Ministro OG FERNANDES, SEGUNDA TURMA, julgado em 20/04/2017, DJe 02/05/2017).
21 Não são necessários arroubos de treinamento. A resolução de uma sentença cível e outra
penal por semana já se mostra suficiente para um treinamento qualificado, desde que, é
claro, sejam respeitados pelo candidato os estritos termos que encontrará na prova real
(prazo determinado, folhas limitadas, necessidade de elaboração de relatório, impossi-

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CURSO DE SENTENÇA CÍVEL • Fabrício Castagna Lunardi | Luiz Otávio Rezende

Nesse ponto, o candidato deve buscar auxílio de cursos preparatórios,


tais como as escolas da magistratura, ou ainda cursos voltados à resolução e
correção de provas simuladas, cujo intento certamente é ensinar a escorreita
técnica de elaboração da sentença, seja essa cível ou penal.
A obtenção dessa expertise é muito importante para o êxito dos que têm
como intento a carreira da magistratura, e o motivo para tanto decorre da
quase inviabilidade de se elaborar de modo adequado o ato se ausente o prévio
contato com sua regular estrutura, sem a qual não será possível a exposição
do conteúdo jurídico visando a resolução do problema trazido pelo examinador,
cuja consequência direta e imediata é a reprovação do postulante ao cargo.
Noutra via, a resolução seriada de exercícios se prestará a tornar a ela-
boração da sentença um ato natural, quase automático, o que permitirá não
só o afastamento definitivo da necessidade de o candidato perfazer rascunho
prévio da peça, mas lhe dará a importantíssima experiência visando incrementar
as chances de superação de todos os obstáculos que eventualmente venham
a ser encontrados nas provas reais.

2.2 Treinamento – orientações práticas


A resolução das provas simuladas deve observar algumas regras práti-
cas, cujo atendimento certamente irá otimizar o resultado esperado com os
exercícios, sobretudo porque essas visam a reprodução do ambiente que será
encontrado na prova de sentença real.
As orientações estão declinadas por tópicos nos itens a seguir, visando
facilitar seu entendimento pelos leitores.

2.2.1 A correta administração do tempo


As provas do concurso da magistratura têm pequena variação no que toca
ao quesito tempo, e cada teste diário dura de quatro a seis horas, a depender
do tribunal realizador do certame22.

bilidade de consulta a súmulas e textos doutrinários e acesso apenas à legislação sem


comentários). Nesse ponto, esclarece Eduardo Francisco de Souza que “o intervalo entre
cada treinamento deve ser fixo, com a elaboração de uma sentença a cada dois ou três
dias, proporcionando um tempo de “descanso” para o cérebro”. (SOUZA, Eduardo Francisco
de. Sentença Criminal para concursos da magistratura. São Paulo: Edipro, 2012. p. 14).
22 O 187º concurso do TJSP previu o prazo de quatro horas para as provas de sentença, ao
passo que o último concurso promovido pelo TJSC determinou que cada prova de sentença
teria duração máxima de seis horas.

40
C apítulo II

ESTRUTURAÇÃO E DESENVOLVIMENTO
DA SENTENÇA
Fabrício Castagna Lunardi

1. AS DECISÕES JUDICIAIS
Os pronunciamentos judiciais podem decidir determinada questão dentro
de um processo, ou ser simplesmente destinados a impulsioná-lo.
Os provimentos jurisdicionais com conteúdo decisório são denominados
de decisões em sentido amplo.
Tanto nos juízos de primeira instância como nos tribunais, os atos de
mero impulsionamento são denominados de despachos.
De outro lado, para definir e classificar as decisões em sentido lato, é
preciso distinguir as decisões proferidas pelo juízo de primeira instância e as
proferidas pelos tribunais, de segunda instância ou superiores.
No âmbito dos tribunais, as decisões em sentido amplo podem ser
classificadas em: a) decisões monocráticas (quando a decisão é proferida
por apenas um membro do tribunal); e b) acórdãos (quando a decisão é
proferida pelo órgão colegiado).
As decisões (atos judiciais com conteúdo decisório) do juiz de primeira
instância podem ser: a) decisões interlocutórias; e b) sentenças.
As decisões interlocutórias são aquelas que resolvem questão incidente
no curso do processo.
A sentença, por sua vez, “é o pronunciamento por meio do qual o juiz,
com fundamento nos arts. 485 e 487, põe fim à fase cognitiva do procedimento
comum, bem como extingue a execução”, consoante definição legal prevista
no art. 203, § 1º, do CPC.
Assim, o ato decisório “sentença” foi conceituado legalmente levando em
consideração tanto o efeito que causa no processo (pôr fim à fase cognitiva
CURSO DE SENTENÇA CÍVEL • Fabrício Castagna Lunardi | Luiz Otávio Rezende

do procedimento comum, ou extinguir a execução) como o seu conteúdo (arts.


485 e 487, CPC).
O objetivo do dispositivo legal foi, portanto, eliminar a controvérsia an-
terior que havia sobre as decisões proferidas no curso do processo que tinham
conteúdo de sentença (atuais arts. 485 e 487, CPC), na medida em que fez
constar expressamente que, além do conteúdo, deve se levar em consideração
o efeito que tal decisão produz no processo.1
Desse modo, pelo CPC, se houver uma decisão com conteúdo de art.
485 (hipóteses em que não há resolução do mérito) ou de art. 487 (casos de
resolução do mérito), mas que não põe termo à fase de conhecimento ou à
execução, não se trata de sentença parcial, senão de decisão interlocutória.
Logo, haverá decisão interlocutória de mérito quando, por exemplo, o
juiz: homologa acordo parcial; julga um dos pedidos, por ser incontroverso; ou
reconhece a prescrição em relação a um dos pedidos. Observe-se que, nesses
casos, a decisão não põe termo à fase de conhecimento, tampouco extingue a
execução, razão pela qual se trata de decisão interlocutória, ainda que tenha
conteúdo de art. 487 do CPC.
Assim, o CPC/2015 elimina a dubiedade que havia no conceito legal de
sentença do CPC/1973 (art. 162, § 1º)2, que, textualmente, podia ser interpretado
como se estivesse definindo sentença somente pelo seu conteúdo, levando a
certas distorções por parte da doutrina3 e da jurisprudência de alguns tribunais . 4

1 Também nesse sentido Gajardoni, Dellore, Roque e Oliveira Jr.: “Assim, sentença, para o
Código, é o provimento que põe fim à fase cognitiva do processo ou extinga a execução
(critério finalístico), mas que também tenha o conteúdo estabelecido nos arts. 485 e 487
do Código (critério de conteúdo). Logo, sentença se tem pelo amálgama da finalidade
extintiva do processo com conteúdo predeterminado pelos arts. 485 e 487”. (GAJARDONI,
Fernando da Fonseca; DELLORE, Luiz; ROQUE, Andre Vasconcelos; OLIVEIRA JR., Zulmar
Duarte de. Processo de conhecimento e cumprimento de sentença: comentários ao CPC de
2015. Rio de Janeiro: Forense, 2016. pp. 513/514).
2 Segundo o art. 162, § 1º, do CPC/1973, alterado pela Lei 11.232/2005, sentença era “o
ato do juiz que implica alguma das situações previstas nos arts. 267 e 269 desta Lei”, que
estabelecia as hipóteses em que havia decisão com resolução e sem resolução de mérito,
correspondentes, respectivamente, aos atuais art. 485 e 485 do CPC.
3 Com esse entendimento, Marcus Vinicius Rios Gonçalves: “A sentença volta a ser concei-
tuada pelo conteúdo, e não pela aptidão de encerrar o processo em primeiro grau. Sempre
que o juiz examinar algum dos pedidos formulados na inicial, ele sentenciará, ainda que o
processo prossiga em relação aos demais. [...] Com a nova sistemática, como a sentença
não precisa mais pôr fim ao processo, haverá aqueles que terão mais de uma sentença,
cada qual julgando um dos pedidos formulados na petição inicial” (Novo curso de direito
processual civil. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 2. v. 2). No mesmo sentido, Marcos
Destefenni (Curso de processo civil. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 411-412. v. 1).
4 Nesse sentido, parcela substancial da jurisprudência do TJDFT: “Sepultando o critério formal
e o momento processual como critérios de identificação da sentença, o legislador proces-

60
Capítulo II • ESTRUTURAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DA SENTENÇA

Ocorre que, mesmo diante do CPC/2015, há doutrina, ainda que minori-


tária, que continua defendendo a possibilidade de sentença parcial de mérito5.
No entanto, a consequência prática de se definir a sentença pelo seu conteúdo,
desconsiderando a questão de pôr fim ou não à fase de conhecimento em pri-
meira instância, ou à execução, causa efeitos desastrosos, tendo em vista que
o recurso cabível contra sentença é a apelação (art. 1.009, CPC). Com efeito,
caso se entenda que existe possibilidade de sentença parcial e for adotado o
procedimento da apelação, os autos devem ser remetidos ao Tribunal, sem a
resolução de todos os pedidos do autor, e, por conseguinte, o processo terá
um curso infindável.6

sual resgatara a vocação original da apelação, que é a revisão de questões de mérito,


e privilegiara o conteúdo do provimento como determinante para sua caracterização,
ensejando que, independente do momento em que é prolatado e da denominação que
lhe seja conferida, o ato judicial que se enquadra numa das situações delineadas pelos
artigos 267 e 269 do estatuto processual qualifica-se como sentença” (TJDFT, Acórdão
n. 624199, 20120020182569AGI, Rel. Teofilo Caetano, 1ª Turma Cível, DJe 15-10-2012.
p. 70). No mesmo sentido, vários julgados do TRF da 4ª Região: “Ante a nova definição
legal de sentença, trazida pela Lei n. 11.232/05, é cabível apelação do ato judicial
que, acolhendo a prefacial de falta de interesse de agir, extinguiu parcialmente o
processo, sem resolução de mérito, quanto ao pedido de isenção de imposto de renda”
(TRF4, AG 2008.04.00.016634-0, Quarta Turma, Rel. Valdemar Capeletti, DJe 8-9-2008).
5 “O já criticado art. 354, parágrafo único, do Novo CPC também é aplicável às decisões de
mérito que resolvem apenas parcela do processo. Trata-se da consagração da sentença
parcial de mérito, ainda que recorrível por agravo de instrumento por expressa indicação
legal. Ocorre, entretanto, que as mesmas críticas já feitas quanto à decisão terminativa
parcial também se aplicam à decisão parcial de mérito” (NEVES, Daniel Amorim Assumpção.
Novo Código de Processo Civil. São Paulo: Método, 2015. p. 252).
6 Para tentar resolver esse problema, os defensores deste entendimento (da sentença parcial)
preconizam duas soluções: 1ª) que o recurso cabível contra a “sentença parcial” deve ser o
agravo de instrumento; ou 2ª) que o juiz deve determinar que sejam extraídas cópias dos
autos e, após, remeter apenas o instrumento formado para julgamento no Tribunal. Acolher
a primeira solução geraria uma verdadeira subversão do processo civil, na medida em que
se criaria um novo recurso, uma “apelação por instrumento”. Além de aviltar o princípio
da taxatividade dos recursos, instaura, sem qualquer base constitucional ou legislativa,
uma forma própria para o procedimento da apelação, ferindo o princípio constitucional
do devido processo legal. De outro lado, caso se adotasse a segunda solução (cabimento
de agravo de instrumento contra essa “sentença parcial”), estar-se-ia estabelecendo uma
hipótese de agravo de instrumento, não prevista no CPC. Portanto, os conceitos de decisão
interlocutória e de sentença adotados por essa corrente minoritária são juridicamente
infundados e pragmaticamente desastrosos. Deve-se fazer uma interpretação gramatical,
histórica, sistemática e teleológica do art. 203, § 1º, do CPC, a fim de se construir o conceito
de sentença. Em primeiro lugar, mesmo por uma interpretação puramente gramatical do
art. 203, § 1º, do CPC, chega-se à conclusão de que o conceito de sentença não pode ser
obtido pela simples análise do seu conteúdo, pois também deve ser aferido o seu efeito
no processo. Com efeito, o dispositivo prevê que sentença é “o pronunciamento por meio
do qual o juiz, com fundamento nos arts. 485 e 487” e que, ao mesmo tempo, “põe fim à

61
CURSO DE SENTENÇA CÍVEL • Fabrício Castagna Lunardi | Luiz Otávio Rezende

Portanto, a sentença deve ser definida como a decisão judicial tendente


a encerrar a fase de conhecimento em primeira instância, que, resolvendo
ou não o mérito, possui conteúdo previsto nos arts. 485 ou 487 do CPC,
ou que encerra a execução. Qualquer outro ato judicial que resolva questão
incidente, no curso da fase de conhecimento, de liquidação ou de execução,
ou em tutela de urgência preparatória, independentemente da matéria
apreciada, é decisão interlocutória.
Assim, tem natureza de decisão interlocutória, por exemplo, a decisão
judicial que: a) exclui um dos litisconsortes do processo (conteúdo de art. 485,
VI, CPC); b) indefere o processamento da reconvenção (art. 485, I, CPC); c)
resolve o mérito de um dos pedidos antecipadamente, necessitando os demais
pedidos de instrução probatória (art. 356, CPC); d) reconhece a prescrição em
relação à parte da pretensão (art. 354, p. único; e art. 487, II, CPC), mas o
feito prossegue em relação aos demais pedidos; e) homologa acordo parcial
(art. 354, parágrafo único; art. 487, III, CPC), prosseguindo-se o processo no
tocante à parte controversa.
Com efeito, o art. 354, caput, do CPC estabelece que, “ocorrendo qualquer
das hipóteses previstas nos arts. 485 e 487, incisos II e III, o juiz proferirá
sentença”.

fase cognitiva do procedimento comum, bem como extingue a execução”. Uma interpretação
histórica do dispositivo não conduz a outra conclusão. Não se deve desenterrar um conceito
de sentença que já foi abolido pelo processo civil há muito tempo e do qual o processo
penal tenta incessantemente se desapegar. Definir a decisão judicial pelo conteúdo e não
pela finalidade é causar um retrocesso no processo civil, o que não deve ser admitido. Por
uma interpretação teleológica do art. 203, § 1º, do CPC, observa-se que a intenção da ino-
vação legislativa foi adequar a redação do dispositivo à nova sistemática de processo civil,
calcada no sincretismo do procedimento. Assim, o que pretendeu o legislador foi superar
o arcaico conceito legal de sentença, para que o referido dispositivo não mais dispusesse
que a sentença “põe termo ao processo”. Ademais, por uma interpretação sistemática,
não há como deixar de concluir que a sentença sempre foi e sempre será o ato final de
cognição do juiz na fase de conhecimento, ou que extingue a execução. Durante toda a
fase cognitiva, o juiz estabelece o contraditório, instrui o processo, sana as nulidades,
resolve as questões incidentes para, ao final, prolatar a sentença, declarando o direito
no caso concreto. Após, na fase executiva, o juiz encerra o processo com uma sentença.
Assim, não se pode compactuar com a ideia de que a sentença resolve questões incidentais,
preparando o processo para uma decisão final, que será outra sentença. Demais disso, do
ponto de vista prático, definir uma decisão interlocutória como sentença parcial implica
não ter um recurso cabível previsto no CPC, ou não ter um procedimento adequado para
processá-lo, o que, por si só, já seria fundamento para não o admitir. Felizmente, a dou-
trina majoritária, a posição da maioria dos tribunais pátrios e o entendimento pacífico do
Superior Tribunal de Justiça, mesmo durante a redação dúbia do CPC/1973, já era no sentido
de que a sentença deve ser definida também pelo seu efeito no processo, entendimento
que foi consagrado no CPC. (LUNARDI, Fabrício Castagna. Curso de Direito Processual Civil.
3. ed. São Paulo: Saraiva, 2019)

62
Capítulo II • ESTRUTURAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DA SENTENÇA

2. A SENTENÇA E SEUS REQUISITOS


A palavra sentença deriva, etimologicamente, do latim “sententia”, cuja
raiz é “sentire”. Desse modo, ainda que sejam impostos diversos limites pelo
sistema jurídico ao julgador na sentença, ao fim e ao cabo, há uma grande
margem de valoração dos fatos, da prova e do direito.
Todo o processo civil se desenvolve para o ato decisório final do juiz,
que é a sentença. É na sentença que o Estado-Juiz analisa as alegações das
partes e as provas dos autos, que diz o direito, que aplica o direito objetivo
e dita a norma para o caso concreto, fazendo justiça, restabelecendo a ordem
jurídica perturbada7 e dando a cada um o que é seu8.
Trata-se do principal ato do juiz e certamente de um dos atos mais impor-
tantes do processo, onde diversas deficiências e atipicidades processuais podem
ser corrigidas, supridas, convalidadas. Contudo, para que este ato judicial seja
legítimo e válido, é preciso que tenha sido desenvolvido argumentativamente
dentro de determinados parâmetros, balizados, sobretudo, pela Constituição
Federal, pela legislação e pela jurisprudência.
A sentença cível possui requisitos essenciais e facultativos. Os requisitos
facultativos são os dispensáveis, ou seja, aqueles cuja ausência não enseja
qualquer invalidade, nem mesmo irregularidade. De outro lado, a ausência dos
requisitos essenciais enseja a nulidade absoluta da sentença.
Em termos estruturais, são requisitos facultativos: a) preâmbulo; e b)
ementa.
Os requisitos estruturais essenciais são: a) relatório; b) fundamentação;
e c) dispositivo.

7 “Por variados que sean los fines de la sentencia y los efectos que produzca, el primordial
es de hacer justicia. La implitude del concepto justicia supene una grave dificuldad para el
análisis de tan importante objetivo. Pero, em todo caso, ya se parta de la idea de intercambio,
o de las igualdad, legalidad, proporción, paz u orden, la sentencia deberá de armonizar, en
lo pertinente, todos los aspectos propios del caso concreto de su referencia. La sentencia
resuelve un caso conflictivo y restabelece el orden jurídico perturbado, dentro de la legalidad,
por supuesto, ya que es su cauce, pero com las matizaciones humanísticas que le permitan
los elementos de la interpretación o de la equidad.” (RODRÍGUEZ-AGULERA, Cesáreo. La
sentencia. Barcelona: Bosch, 1974. p. 94)
8 “Não se pode esquecer que a aspiração máxima do processo tradicional é dar a cada um o
que realmente é seu, ou seja, tornar concreto, diante da lei, o ideal de justiça, que só pode
ser alcançado quando o juiz conhece efetivamente a verdade dos fatos e a eles atribui as
consequências jurídicas previstas na lei ou nos princípios gerais do Direito.” (PORTANOVA,
Rui. Motivações ideológicas da sentença. 4. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2000.
p. 35)

63
CURSO DE SENTENÇA CÍVEL • Fabrício Castagna Lunardi | Luiz Otávio Rezende

Com efeito, o art. 489 do CPC estabelece que “são elementos es-
senciais da sentença: I – o relatório, que conterá os nomes das partes, a
identificação do caso, com a suma do pedido e da contestação, e o regis-
tro das principais ocorrências havidas no andamento do processo; II – os
fundamentos, em que o juiz analisará as questões de fato e de direito;
III – o dispositivo, em que o juiz resolverá as questões principais que as
partes lhe submeterem”.
Nos Juizados Especiais Cíveis, Estaduais ou Federais, e de Fazenda
Pública, é dispensável o relatório, nos termos do art. 38 da Lei 9.099/95,
ou seja, neles, o relatório é requisito facultativo.
No processo civil contemporâneo, há grande preocupação com as garantias
constitucionais, bem como com a legitimação da decisão judicial pela argu-
mentação. Desse modo, num sistema processual civil que preza por garantias
constitucionais, a estruturação e o desenvolvimento argumentativo da sentença
possuem grande valor. Por conseguinte, conhecer os requisitos da sentença e
saber aplicá-los dentro da técnica é fundamental.9

3. FORMA DE EXPOSIÇÃO DOS ELEMENTOS DA SENTENÇA


A divisão entre relatório, fundamentação e dispositivo pode ser feita
em itens separados ou subentendida em um só texto. Neste caso, existem
palavras, expressões e frases que tradicionalmente caracterizam a transição
de um elemento da sentença para outro.
Observem-se as formas abaixo:

Forma 1:

I. RELATÓRIO
[...]
II. FUNDAMENTAÇÃO
[...]
III. DISPOSITIVO
[...]

9 “O estudo do tema, Requisitos da sentença, deve ter em vista precipuamente a preocupação


em se evitarem nulidades, uma vez que a ausência de alguns destes requisitos ou mesmo
a sua simples deficiência poderá ter implicações na subsistência do ato judicial.” (SOUZA,
Eduardo Francisco de. Sentença criminal para concursos da magistratura. São Paulo: Edipro,
2012. p. 22)

64
Capítulo II • ESTRUTURAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DA SENTENÇA

Forma 2:

Trata-se de [...]
É O RELATÓRIO. DECIDO.
[...]
ANTE O EXPOSTO, [...]

Observe-se que, na última forma (forma 2), a frase “É O RELATÓRIO. DECI-


DO” caracteriza a transição entre o relatório e a fundamentação, ou seja, indica
que se trata do fim do relatório e que se iniciará a fundamentação; a expressão
“ANTE O EXPOSTO”, por sua vez, indica que se encerrou a fundamentação e
que se está passando para o dispositivo. Essas frases e expressões possuem
variações. Por exemplo, para a transição do relatório para a fundamentação,
também pode se utilizar: “É o relatório. Passo a decidir”; “É a síntese do ne-
cessário. Decido”; “É o relatório. Passo a fundamentar”. De outro lado, para
indicar o dispositivo, também se costuma utilizar expressões como: “PELO
EXPOSTO”; “ANTE TODO O EXPOSTO”; “POR TODO O EXPOSTO” etc.
Adotar um ou outro estilo – divisão em itens ou redação num texto
único (sem subdivisões em itens) – é opcional. Na prática judicial, não há
unanimidade entre os magistrados.
Por tais razões, aqui vale reforçar uma dica importante, exposta no capítulo
anterior: se o candidato tiver acesso a sentenças ou acórdãos do examinador,
ou, de qualquer modo, conhecer o seu estilo de redação, seria de bom alvitre
segui-lo (para utilizar a sistemática da subdivisão em tópicos ou a redação num
texto único). Isso porque, em termos de psicologia comportamental, todo ser
humano possui mais afeição e avalia melhor a forma a que está mais acostumado.
Assim, se o candidato somente tiver de continuar o relatório já esta-
belecido na questão, quando constar do enunciado “Trata-se de [...]. É o
relatório. Decido”, aconselha-se seguir um só texto sem subdivisão entre “II.
FUNDAMENTAÇÃO; III. DISPOSITIVO10”.
Alguns juízes têm por hábito enumerar todos os parágrafos da sentença,
com números cardinais (Ex.: “1. O autor alegou, na petição inicial que [...]
2. Citado, o réu, na contestação, [...] 3. Em réplica, o requerente sustentou

10 Amaury Silva, de forma minoritária, prefere chamar esse terceiro item de CONCLUSÃO, ao
invés de DISPOSITIVO (Manual das sentenças e atos judiciais cíveis. 2. ed. Leme: J. H.
Mizuno, 2017). Contudo, a conclusão é um elemento de finalização do raciocínio silogístico
(premissa maior, premissa menor e conclusão), de modo que deve constar na análise de
cada questão na fundamentação. Desse modo, deve-se preferir o item DISPOSITIVO, pois
este é o elemento da sentença contém o seu comando.

65
C apítulo III

ASPECTOS EM DESTAQUE DOS PRINCIPAIS


PROCEDIMENTOS ESPECIAIS
Luiz Otávio Rezende

A preparação para a prova de sentença cível passa pela compreensão dos


aspectos em destaque atinentes aos procedimentos especiais, que, historica-
mente, têm alto índice de cobrança pelas bancas examinadoras nos certames
para o ingresso na carreira da magistratura.
À evidência, a reiteração de exames nas quais o enunciado trazia casos
simulados envolvendo os principais procedimentos especiais trazidos no CPC e
legislação esparsa permite não só o direcionamento do estudo pelo candidato,
mas também autoriza que pontos de inflexão envolvendo a praxe forense e a
jurisprudência sejam previamente elencados, tudo no intuito de auxiliar na
resolução efetiva da prova.
Assim, apresentam-se a seguir algumas questões relativas às ações cujas
especificidades devem ser detidamente analisadas e conhecidas quando da
feitura da sentença cível, sobretudo por exprimirem a jurisprudência dominante
sobre os temas expostos, considerando a natural evolução em alguns pontos
com o advento da recente alteração legislativa no CPC1.

1 O viés deste capítulo não é exaurir todos os temas relativos às ações analisadas, mas
apontar questões que vem sendo debatidas e cuja cobrança, numa prova real, têm maior
probabilidade de acontecer, razão pela qual o formato de escrita segue estratégia de es-
tudo, com a alocação da tese passível de cobrança, acompanhada dos argumentos para a
resolução do problema exposto, tudo a partir da jurisprudência dos Tribunais Superiores.
Ao final do capítulo, será colacionado quadro esquemático com as ações
cobradas nos últimos certames para o ingresso na magistratura estadual e fe-
deral, com a alocação, no que toca a algumas provas, do espelho de correção
adotado pela respectiva banca examinadora.

1. AÇÃO MONITÓRIA
Prevista nos artigos 700 e seguintes do CPC/15, a ação monitória é uma
grande aposta no estudo dirigido para os concursos da magistratura.
A justificativa da afirmação acima delineada deriva da possibilidade de
o pedido de conversão do mandado injuntivo em título executivo judicial ser
lastreado em uma infinidade de documentos, envolvendo assuntos relativos a
direito civil, direito do consumidor e direito empresarial.
Nesse cenário, é importante destacar os principais aspectos relativos ao
procedimento monitório2, bem ainda os pontos passíveis de arguição pelas
partes, com a respectiva resposta à luz não só do regramento aplicável, mas
também da jurisprudência prevalente das Cortes Superiores.
Em primeiro lugar, admitida a inicial3-4 (CPC, art. 701), e determinada a
expedição do mandado injuntivo, cumpre assentar que a defesa da parte ré
se dá, via de regra, por meio dos embargos à monitória (CPC, art. 702), e o

2 Como ensina Humberto Theodoro Júnior: “Os qualificativos monitório e injuntivo são
expressões indicativas de ordem, mandamento, imposição em seu significado léxico. E
o procedimento examinado recebe as denominações monitório ou injuntivo justamente
porque, em vez de iniciar-se por uma citação do réu para defender-se, principia por uma
ordem expedida pelo magistrado, determinando ao devedor que pague a dívida em prazo
determinado” (TEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil: procedimentos
especiais. v. 2. 51. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2017. P. 403).
3 Para aprofundamento, na hipótese de conversão do mandado monitório inicial em executivo,
por força da inércia do devedor, insta delinear a divergência estabelecida no âmbito do STJ no
que toca à natureza da manifestação judicial. O julgado mais recente é no sentido de que “o
despacho proferido em procedimento monitório que converte o mandado inicial em mandado
executivo não detém natureza jurídica de sentença, tampouco é dotado de conteúdo deci-
sório, não sendo passível de oposição de embargos de declaração” (STJ, REsp 1432982/ES,
Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, julgado em 17/11/2015, DJe
26/11/2015). Já o prolatado ainda em 2011 considerou que “tem natureza jurídica de
sentença a decisão que constitui o mandado monitório em título executivo judicial” (REsp
1120051/PA, Rel. Ministro MASSAMI UYEDA, TERCEIRA TURMA, julgado em 24/08/2010,
DJe 14/09/2010).
4 O STJ já se manifestou no sentido de que “nada impede que o juiz, a despeito de ter
processado a ação monitória, julgue mais tarde, por ocasião dos embargos, insuficiente a
prova que a instruiu” (REsp 250.640/SE, Rel. Ministro ARI PARGENDLER, TERCEIRA TURMA,
julgado em 21/05/2002, DJ 05/08/2002, p. 327). Em sentido diverso, confira-se
precedente do mesmo STJ: (...) 6. Com a oposição dos embargos, adotado o procedimento
ordinário, não se mostra razoável a ulterior extinção da demanda a pretexto da inaptidão

272
Capítulo III • ASPECTOS EM DESTAQUE DOS PRINCIPAIS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS

argumento base de boa parte das peças de resistência diz respeito a impres-
tabilidade do documento apresentado na inicial para fins de utilização do
procedimento previsto no artigo 700 do CPC.
Não raro, é trazida tese defensiva no sentido de que o documento que
lastreia a exordial não pode aparelhar a ação monitória, e, portanto, não
servirá para fins de conversão do mandado em título executivo judicial, na
forma legalmente prevista.
Conforme a jurisprudência do STJ, “a prova hábil a instruir a ação monitó-
ria, isto é, apta a ensejar a determinação da expedição do mandado monitório,
precisa demonstrar a existência da obrigação, devendo o documento ser escrito5
e suficiente para, de maneira efetiva, influir na convicção do magistrado acerca
do direito alegado, não sendo necessário prova robusta, estreme de dúvida, mas
sim documento idôneo que permita juízo de probabilidade acerca do direito
afirmado pelo autor6”.
Em outras palavras, “tal prova consiste em documento que, mesmo não
provando diretamente o fato constitutivo do direito, possibilite ao juiz presumir
a existência do direito alegado”7.
Em suma, são exigidos elementos indiciários da materialização de uma
dívida, seja essa relativa ao pagamento de quantia em dinheiro, entrega de

da prova para aparelhar o pedido monitório (AgInt nos EDcl no AREsp n. 1.882.828/SP,
relator Ministro Raul Araújo, Quarta Turma, julgado em 8/8/2022, DJe de 19/8/2022)
5 Cumpre recordar no ponto a previsão constante do artigo 700, § 1º, do CPC, no sentido de
ser possível o uso de prova oral documentada, produzida antecipadamente nos termos do
artigo 381 do CPC.
6 STJ, REsp 1197638/MG, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em
08/09/2015, DJe 29/09/2015. Destaca-se que “a prova hábil a instruir a ação monitória,
a que alude o artigo 700 do Código de Processo Civil, não precisa, necessariamente, ter
sido emitida pelo devedor ou nela constar sua assinatura ou de um representante. Basta
que tenha forma escrita e seja suficiente para, efetivamente, influir na convicção do
magistrado acerca do direito alegado” (STJ, REsp 1381603/MS, Rel. Ministro LUIS FELIPE
SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 06/10/2016, DJe 11/11/2016).
7 Como já decidiu o STJ: (...) A lei, ao não distinguir e exigir apenas a prova escrita,
autoriza a utilização de qualquer documento, passível de impulsionar a ação monitória,
cuja validade, no entanto, estaria presa à eficácia do mesmo. A documentação que deve
acompanhar a petição inicial não precisa refletir apenas a posição do devedor, que emane
verdadeira confissão da dívida ou da relação obrigacional. Tal documento, quando oriundo
do credor, é também válido – ao ajuizamento da monitória – como qualquer outro, desde
que sustentado por obrigação entre as partes e guarde os requisitos indispensáveis (REsp
680.519/MG, Rel. Ministro JOSÉ DELGADO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 12/04/2005, DJ
30/05/2005, p. 245).

273
CURSO DE SENTENÇA CÍVEL • Fabrício Castagna Lunardi | Luiz Otávio Rezende

coisa fungível ou infungível, de bem móvel ou imóvel, ou ainda relacionada


ao adimplemento de obrigação de fazer ou não fazer8-9-10.
Nesse ponto, ganham realce algumas situações comumente apresentadas
no dia a dia forense, todas visando a desconsideração dos documentos juntados
para o manejo da ação monitória.
Ante a extensa manifestação jurisprudencial sobre o tema, insta colacio-
nar algumas hipóteses nas quais se admite o uso do procedimento injuntivo:

a) duplicata ou triplicata despida de força executiva, seja por falta de


aceite, seja por ausência do devido protesto ou comprovante de entrega
da mercadoria11;
b) documento que exprime débito ilíquido12;
c) cheque prescrito13;
d) contrato de consórcio acompanhado de minucioso extrato de conta-
-corrente14;
e) contrato de prestação de serviços educacionais15;

8 CPC, art. 700: A ação monitória pode ser proposta por aquele que afirmar, com base em
prova escrita sem eficácia de título executivo, ter direito de exigir do devedor capaz:
I – o pagamento de quantia em dinheiro;
II – a entrega de coisa fungível ou infungível ou de bem móvel ou imóvel;
III – o adimplemento de obrigação de fazer ou de não fazer.
9 STJ, REsp 1266975/MG, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA,
julgado em 10/03/2016, DJe 28/03/2016.
10 Há de se pontuar que o CPC/15 introduziu novas hipóteses de utilização do rito especial,
alargando o cabimento do rito monitório, como se percebe da dicção constante dos incisos
II e III do artigo 700 do CPC, que preveem a possibilidade de manejo da ação monitória
para a entrega de bens imóveis ou infungíveis, bem como para o adimplemento de obri-
gação de fazer ou de não fazer (CPC, art. 700, II e III). Como consequência lógica, pode-
-se se esperar tese defensiva no sentido de não cabimento da ação monitória quanto as
novas hipóteses delineadas, cuja resolução depende apenas da citação dos incisos acima
relacionados, que abarcaram no procedimento monitório a entrega de bens imóveis ou
infungíveis e adimplemento de obrigação de fazer ou não fazer.
11 STJ, REsp 1334464/RS, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA,
julgado em 15/03/2016, DJe 28/03/2016.
12 STJ, REsp 596.043/RJ, Rel. Ministro PAULO MEDINA, SEXTA TURMA, julgado em 02/03/2004,
DJ 29/03/2004, p. 287.
13 STJ, Súmula 229: É admissível a ação monitória fundada em cheque prescrito.
14 STJ, REsp 646.829/RS, Rel. Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR, QUARTA TURMA, julgado
em 16/02/2006, DJ 03/04/2006, p. 352.
15 STJ, REsp 286.036/MG, Rel. Ministro RUY ROSADO DE AGUIAR, QUARTA TURMA, julgado
em 15/02/2001, DJ 26/03/2001, p. 430.

274
Capítulo III • ASPECTOS EM DESTAQUE DOS PRINCIPAIS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS

f) contrato de arrendamento rural, para entrega de coisa fungível16;


g) contrato de abertura de crédito de conta-corrente, acompanhado do
demonstrativo de débito17;
h) despesas relacionadas a condomínio18;
i) nota fiscal, acompanhada da prova do recebimento da mercadoria ou
da prestação do serviço19;
j) documentos eletrônicos (e-mails)20;
l) qualquer documento que sinalize o direito a cobrança e que seja hábil
a convencer o juiz da pertinência da dívida, independentemente de
modelo predefinido21.

Noutro giro, há de mencionar a grande possibilidade de exposição de


teses defensivas referentes ao prazo prescricional para a propositura da ação
monitória, com destaque para os casos de cobrança de cheque prescrito, nota
promissória e contrato de abertura de crédito de conta-corrente.
Nas citadas hipóteses, revela-se comum pleito da parte ré no sentido de
aplicação do prazo prescricional de 3 anos à espécie, quase sempre também
acompanhado de pedido buscando alteração do termo inicial para contagem
do prazo previsto.
A resolução do problema passa pela análise da jurisprudência do STJ, que se
fixou no sentido de aplicação aos casos acima alinhados do prazo prescricional
de 5 (cinco) anos, por força do artigo 206, § 5º, inciso I, do CC, com termo
inicial do dia seguinte à data de emissão estampada na cártula (cheque)22, do

16 STJ, REsp 1266975/MG, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA,
julgado em 10/03/2016, DJe 28/03/2016.
17 STJ, Súmula 247: O contrato de abertura de crédito em conta-corrente, acompanhado do
demonstrativo de débito, constitui documento hábil para o ajuizamento da ação monitória.
18 STJ, REsp 208.870/SP, Rel. Ministro SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, QUARTA TURMA,
julgado em 08/06/1999, DJ 28/06/1999, p. 124.
19 STJ, AgRg no AREsp 643.786/SP, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA,
julgado em 27/10/2015, DJe 16/11/2015; REsp 778.852/RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI,
TERCEIRA TURMA, julgado em 15/08/2006, DJ 04/09/2006, p. 269.
20 STJ, REsp 1381603/MS, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em
06/10/2016, DJe 11/11/2016.
21 STJ, REsp 925.584/SE, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em
09/10/2012, DJe 07/11/2012.
22 STJ, Súmula 503: “O prazo para ajuizamento de ação monitória em face do emitente de
cheque sem força executiva é quinquenal, a contar do dia seguinte à data de emissão
estampada na cártula”.

275
CURSO DE SENTENÇA CÍVEL • Fabrício Castagna Lunardi | Luiz Otávio Rezende

dia seguinte ao vencimento do título (nota promissória)23, do vencimento


da obrigação (cédula de crédito bancário)24 e da citação (contrato de
abertura de crédito de conta corrente), por se tratar de relação contratual,
com mora ex persona25-26.
Por outro lado, cabe observar a grande quantidade de embargos à
monitória cujo tema central é circunscrito basicamente à necessidade de
apresentação da causa debendi na inicial do processo injuntivo.
Para resolver esse problema processual, cumpre mencionar que a jurispru-
dência do STJ se firmou no sentido de ser prescindível a menção ao negócio
jurídico subjacente, haja vista a inversão do contraditório ínsita ao procedi-
mento especial ora analisado27-28.

23 STJ, Súmula 504: “O prazo para ajuizamento de ação monitória em face do emitente de
nota promissória sem força executiva é quinquenal, a contar do dia seguinte ao venci-
mento do título”.
24 STJ, AgInt no REsp n. 1.939.890/TO, relator Ministro Marco Aurélio Bellizze, Terceira Turma,
julgado em 11/10/2021, DJe de 14/10/2021.
25 STJ, AgRg no AREsp 670.553/RS, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA,
julgado em 17/09/2015, DJe 08/10/2015; TJDFT, Acórdão n.889402, 20150110552483APC,
Relator: GISLENE PINHEIRO, Revisor: J.J. COSTA CARVALHO, 2ª TURMA CÍVEL, Data de
Julgamento: 19/08/2015, Publicado no DJE: 27/08/2015. Pág.: 189.
26 Na monitória, o termo inicial dos juros de mora segue a natureza da relação de direito
material, razão pela, nas hipóteses de dívida líquida com termo certo, conta-se o prazo do
inadimplemento. Nesse sentido: (...) embora juros contratuais em regra corram a partir da
data da citação, no caso, contudo, de obrigação contratada como positiva e líquida, com
vencimento certo, os juros moratórios correm a partir da data do vencimento da dívida.
O fato de a dívida líquida e com vencimento certo haver sido cobrada por meio de ação
monitória não interfere na data de início da fluência dos juros de mora, a qual recai no
dia do vencimento, conforme estabelecido pela relação de direito material (STJ, AgRg
no AREsp 782.176/RJ, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, julgado
em 02/06/2016, DJe 09/06/2016). E ainda: (...) Tratando-se de obrigação positiva, líquida
e com termo certo de vencimento, a regra a incidir é a do art. 397, caput, do CC – dies
interpellat pro homine -, independentemente da espécie processual utilizada pelo credor,
para cobrar o seu crédito (STJ, AgRg no REsp 1389717/SP, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO,
QUARTA TURMA, julgado em 24/02/2015, DJe 20/03/2015).
27 STJ, AgInt no AREsp n. 2.081.390/AL, relator Ministro Raul Araújo, Quarta Turma, julgado
em 22/8/2022, DJe de 26/8/2022; AgInt no REsp 1452757/SP, Rel. Ministro LUIS FELIPE
SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 11/10/2016, DJe 18/10/2016; AgInt no AgRg no
AREsp 791.310/MS, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado
em 04/10/2016, DJe 18/10/2016.
28 Vide aqui o teor da Súmula 531 do STJ: “Em ação monitória fundada em cheque prescrito
ajuizada contra o emitente, é dispensável a menção ao negócio jurídico subjacente à
emissão da cártula”. O autor não precisa mencionar o negócio subjacente. Entretanto,
necessário lembrar que ao réu é possível, por meio dos embargos à monitória, discutir a
causa debendi, cabendo a ele a iniciativa do contraditório e o ônus da prova. (STJ, AgInt
nos EDcl no REsp n. 1.820.169/MG, relator Ministro Marco Aurélio Bellizze, Terceira Turma,
julgado em 6/6/2022, DJe de 8/6/2022)

276
C apítulo IV

SÚMULAS E PRECEDENTES DO STF E STJ –


DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL
Luiz Otávio Rezende

O presente capítulo visa fornecer aos leitores uma visão geral da juris-
prudência sedimentada do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de
Justiça quanto as matérias Direito Civil e Processual Civil.
Sem dúvida, a correta compreensão do pensamento externado na juris-
prudência consolidada dos citados tribunais é o grande diferencial daquele
que domina o conteúdo das áreas do direito inerentes à elaboração da
peça cível, haja vista que boa parte dos problemas processuais e de mérito
vivenciados tanto na praxe forense quanto nos concursos para o ingresso
na carreira são resolvidos com a aplicação das súmulas e precedentes que
serão aqui expostos.
Por fim, cabe ressaltar que a organização dos itens dá prevalência às
súmulas e precedentes mais recentes, que espelham discussões atuais sobre
os temas tratados, razão pela qual são alvos preferenciais das bancas exami-
nadoras dos concursos da magistratura1.

1 Algumas súmulas não são objeto de exposição, já que não dizem respeito diretamente a
prolação da sentença cível, mas sim a outras situações processuais. A exposição se limita,
portanto, àquelas que servem ao propósito de redação do ato sentencial.
CURSO DE SENTENÇA CÍVEL • Fabrício Castagna Lunardi | Luiz Otávio Rezende

1. ENTENDIMENTOS SUMULADOS DO TRIBUNAIS SUPERIORES

1.1 Superior Tribunal de Justiça

1.1.1 Direito Civil

FAMÍLIA E SUCESSÕES

Súmula 642 – O direito à indenização por danos morais transmite-se com o


falecimento do titular, possuindo os herdeiros da vítima legitimidade ativa
para ajuizar ou prosseguir a ação indenizatória.
Súmula 621 - Os efeitos da sentença que reduz, majora ou exonera o alimen-
tante do pagamento retroagem à data da citação, vedadas a compensação
e a repetibilidade.
Súmula 596 - A obrigação alimentar dos avós tem natureza complementar
e subsidiária, somente se configurando no caso de impossibilidade total
ou parcial de seu cumprimento pelos pais.
Súmula 594 - O Ministério Público tem legitimidade ativa para ajuizar ação
de alimentos em proveito de criança ou adolescente independentemente
do exercício do poder familiar dos pais, ou do fato de o menor se encontrar
nas situações de risco descritas no art. 98 do Estatuto da Criança e do
Adolescente, ou de quaisquer outros questionamentos acerca da existência
ou eficiência da Defensoria Pública na comarca.
Súmula 549 – É válida a penhora de bem de família pertencente a fiador
de contrato de locação.
Súmula 449 – A vaga de garagem que possui matrícula própria no registro
de imóveis não constitui bem de família para efeito de penhora.
Súmula 364 – O conceito de impenhorabilidade de bem de família abrange
também o imóvel pertencente a pessoas solteiras, separadas e viúvas.
Súmula 358 – O cancelamento de pensão alimentícia de filho que atingiu
a maioridade está sujeito à decisão judicial, mediante contraditório, ainda
que nos próprios autos.
Súmula 309 – O débito alimentar que autoriza a prisão civil do alimentante é
o que compreende as três prestações anteriores ao ajuizamento da execução
e as que se vencerem no curso do processo.
Súmula 301 – Em ação investigatória, a recusa do suposto pai a submeter-se
ao exame de DNA induz presunção juris tantum de paternidade.
Súmula 277 – Julgada procedente a investigação de paternidade, os ali-
mentos são devidos a partir da citação.
Súmula 251 – A meação só responde pelo ato ilícito quando o credor, na exe-
cução fiscal, provar que o enriquecimento dele resultante aproveitou ao casal.

356
Capítulo IV • SÚMULAS E PRECEDENTES DO STF E STJ – DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL

Súmula 197 – O divórcio direto pode ser concedido sem que haja prévia
partilha dos bens.

CONTRATOS
Súmula 620 - A embriaguez do segurado não exime a seguradora do pagamento
da indenização prevista em contrato de seguro de vida.
Súmula 616 - A indenização securitária é devida quando ausente a comunicação
prévia do segurado acerca do atraso no pagamento do prêmio, por constituir
requisito essencial para a suspensão ou resolução do contrato de seguro.
Súmula 610 - O suicídio não é coberto nos dois primeiros anos de vigência
do contrato de seguro de vida, ressalvado o direito do beneficiário à devo-
lução do montante da reserva técnica formada.
Súmula 609 - A recusa de cobertura securitária, sob a alegação de doença
preexistente, é ilícita se não houve a exigência de exames médicos prévios
à contratação ou a demonstração de má-fé do segurado.
Súmula 608 - Aplica-se o Código de Defesa do Consumidor aos contratos
de plano de saúde, salvo os administrados por entidades de autogestão.
Súmula 602 - O Código de Defesa do Consumidor é aplicável aos empreen-
dimentos habitacionais promovidos pelas sociedades cooperativas.
Súmula 597 - A cláusula contratual de plano de saúde que prevê carência para
utilização dos serviços de assistência médica nas situações de emergência
ou de urgência é considerada abusiva se ultrapassado o prazo máximo de
24 horas contado da data da contratação.
Súmula 586 – A exigência de acordo entre o credor e o devedor na escolha
do agente fiduciário aplica-se, exclusivamente, aos contratos não vinculados
ao Sistema Financeiro da Habitação SFH.
Súmula 566 – Nos contratos bancários posteriores ao início da vigência da
Resolução-CMN n. 3.518/2007, em 30/4/2008, pode ser cobrada a tarifa de ca-
dastro no início do relacionamento entre o consumidor e a instituição financeira.
Súmula 565 – A pactuação das tarifas de abertura de crédito (TAC) e de
emissão de carnê (TEC), ou outra denominação para o mesmo fato gerador,
é válida apenas nos contratos bancários anteriores ao início da vigência da
Resolução-CMN n. 3.518/2007, em 30/4/2008.
Súmula 564 – No caso de reintegração de posse em arrendamento mercan-
til financeiro, quando a soma da importância antecipada a título de valor
residual garantido (VRG) com o valor da venda do bem ultrapassar o total
do VRG previsto contratualmente, o arrendatário terá direito de receber a
respectiva diferença, cabendo, porém, se estipulado no contrato, o prévio
desconto de outras despesas ou encargos pactuados.
Súmula 563 – O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às entidades
abertas de previdência complementar, não incidindo nos contratos previ-
denciários celebrados com entidades fechadas.

357
C apítulo V

PROVAS SIMULADAS
Luiz Otávio Rezende

Como já adiantado nos capítulos anteriores, somente a realização de


exercícios simulados irá permitir a aquisição da correta técnica de redação da
sentença cível, sobretudo porque tal atividade visa emprestar efeito prático
aos ensinamentos teóricos de direito civil, administrativo, constitucional,
empresarial e processual civil inerentes à feitura do ato.
Nos itens a seguir, serão colacionados exercícios simulados para o aper-
feiçoamento acima relatado, com foco nas últimas provas dos certames da
magistratura.
À evidência, a sentença cível é essencialmente prática, e, a partir do
momento em que se apreende o conhecimento da ordenação da peça, torna-se
muito mais fácil a resolução de qualquer prova, pois aqueles que conseguem a
aprovação para esta etapa do concurso certamente têm o conhecimento técnico-
-jurídico necessário sobre os temas mais comuns, cuja cobrança nos testes é
naturalmente esperada.
Os espelhos dos exercícios estão alocados ao final, mas, ante a disso-
nância de entendimentos entre os vários Tribunais brasileiros, não devem ser
vistos como verdade absoluta, mas apenas como um norte a ser seguido, pois
refletem a opinião do elaborador do texto sobre a conclusão jurídica passível
de uso nos casos concretos expostos.
Espera-se que esse capítulo, inédito entre os manuais de elaboração
da sentença cível, em sua maioria focados na reprodução singela de provas
anteriores de concursos para a magistratura, sem o respectivo padrão de res-
posta, possa representar um incremento no estudo das técnicas de redação da
sentença, permitindo aos postulantes ao cargo um treinamento sério e real
antes dos testes a que irão se submeter.
Os exercícios têm variação quanto a necessidade de elaboração de re-
latório e limitação de linhas, entre outras especificidades, e intentam trazer
CURSO DE SENTENÇA CÍVEL • Fabrício Castagna Lunardi | Luiz Otávio Rezende

a abordagem das ações mais comumente apreciadas tanto na praxe forense


quanto nos certames para o ingresso na magistratura.
Não há nenhum exercício simulado de alta dificuldade, pois o objetivo
dessas formulações é tão somente permitir treinamento qualificado aos lei-
tores desse manual, visando lhes auxiliar a obter a técnica básica de feitura
da peça prática cível.

1. ENUNCIADOS

1.1 Exercício 1 – Ação de despejo cumulada com cobrança1


Joana Alves ajuizou ação de despejo por falta de pagamento cumulada
com cobrança de aluguéis e acessórios em desfavor de JBL Serviços Ltda.
Segundo descreveu em sua peça de ingresso, as partes firmaram, em janeiro
de 2017, contrato de locação de imóvel comercial, com início em 01/01/2017
e término em 01/01/2021, figurando a autora como locadora, e a ré como
locatária do bem localizado na Rua das Acácias, n. 32, Bairro Farol, Maceió-AL.
Disse que, no ano de 2021, questionou a locatária sobre modificações que
teriam sido feitas no imóvel. Relatou que, no último dia de julho de 2021, a
locatária manifestou interesse em desocupar o imóvel, informando, mediante
denúncia formal, que deixaria o local no dia 30/08/2021. Apontou que, por
meio de notificação extrajudicial expedida em 09/09/2021, recusou o recebi-
mento das chaves do bem, conforme vistoria realizada em 03/09/2021, em que
foram constatadas alterações no imóvel, com infrações às regras municipais
incidentes. Inferiu que a ré assentiu, à época, em realizar a regularização da
documentação do imóvel junto à prefeitura, mas, todavia, sem o pagamento
do aluguel avençado, no importe mensal de R$ 6.000,00. Mencionou que
a requerida deixou o imóvel no dia por ela apontado, e, passados mais de
sessenta dias, não resolveu os problemas descritos na vistoria, nem devolveu
as chaves ou promoveu o pagamento dos alugueis e contas de água e luz
referentes aos meses de setembro e outubro de 2020. Requereu a rescisão do
contrato firmado, com o consequente despejo da ré, bem como a condenação
desta ao pagamento de R$ 12.950,00, relativos aos alugueis e contas de água
e luz dos meses de setembro e outubro de 2021, na forma dos documentos
anexados, bem como os que se vencerem no decorrer da demanda. A inicial foi
acompanhada do contrato de locação, procuração, e documentos relativos à

1 Tribunal de Justiça de Alagoas. Exercício realizado para treinamento. Certame realizado


no ano de 2019, organizado pela FCC. Prova com limitação de linhas (180), e relatório
dispensado.

440
Capítulo V • PROVAS SIMULADAS

Dada vista aos réus, esses apenas mencionaram que o Sr. Gilson Cunha
é pai do réu-reconvinte (Fausto Macedo), como se percebe do documento de
identidade que acompanha a defesa (doc. 05).
Intimadas as partes a especificar provas, o Município requereu o julga-
mento do feito, e os réus postularam a produção de prova testemunhal, a fim
de comprovar a regular aquisição de boa-fé do bem.
A prova oral foi indeferida, ao argumento de desnecessidade para a
análise do mérito, em decisão não contestada, e, logo após, os autos foram
conclusos para sentença.

2. ESPELHOS PADRÃO
2.1 Exercício 1

Relatório
– Dispensa expressa pelo enunciado.
Julgamento antecipado
- CPC, arts. 355, I e 370, caput.
Preliminar
- Inépcia da inicial. Desocupação do imóvel. Situação que se amolda à previsão do
artigo 330, III, do CPC. Ciência pela autora da desocupação do imóvel relatada na
peça de ingresso. Pedido referente à rescisão do contrato e consequente despejo
desprovido de interesse, nas suas acepções utilidade e necessidade. Questão relativa
à entrega das chaves com conteúdo meramente formal. Falta de interesse de agir
reconhecida – CPC, art. 17.
Mérito
- Fixação da controvérsia. Existência de inadimplemento locatício apto a legitimar
o pedido de cobrança veiculado em conjunto com o despejo. - Deveres do locatário
estabelecidos no artigo 23 da Lei de Locações. Destaque para a previsão constante do
artigo 23, I e III. - Inadimplemento. Inocorrência. Contrato regularmente rescindido
por meio de notificação prévia, em respeito ao artigo 6º da Lei de Locações. Prazo
de 30 dias observado. Recusa das chaves sem respaldo legal. Não é lícito ao locador
condicionar o recebimento das chaves à prévia execução dos reparos eventualmente
devidos no imóvel e assim estender, ao seu alvedrio, o dies ad quem das prestações
mensais, pois a resilição é direito potestativo do locatário. Menção específica a ato da ré
no sentido de somente entregar as chaves do bem com a oferta de quitação ampla que
não se coaduna com a própria notificação expedida pela autora, que se limitava a
apontar a negativa de recebimento por força das faltas verificadas na vistoria feita em
setembro de 2019, sem mencionar, portanto, a possibilidade de recebimento do bem
com a ressalva ao direito à indenização por violação aos preceitos do art. 23 da Lei nº
8.245/91 (incisos II e III). - Recusa injusta constatada. Inviabilidade, assim, de
condenação da ré ao pagamento de qualquer verba locatícia a partir da resilição
operada, que, no caso em tela, coincide com a data da desocupação do imóvel.

477
C apítulo VI

SENTENÇAS DE CASOS CONCRETOS


Luiz Otávio Rezende

Um dos grandes gargalos do aprendizado referente à sentença cível se


refere ao acesso a peças reais, derivadas da análise pormenorizada de fatos
concretos submetidos à apreciação judicial.
Neste capítulo, procura-se apresentar diversas formas de elaboração do
ato sentencial, sempre no intuito de aumentar o contato direto com a praxe
forense, e sem determinar um formato único de escrita e análise, uma vez que
se entende de suma importância a disponibilização de variadas técnicas de
abordagem para que o leitor possa escolher aquela que melhor se adequa ao
seu perfil quando da redação da sentença cível.
Serão colacionadas em primeiro lugar as sentenças afetas à área estadual1,
e, em seguida, as proferidas por colega da justiça federal2, visando atender o
intento de exposição comparativa acima delineado3.
Espera-se que esse capítulo possa servir de auxílio a todos que procuram
aprender os caminhos rumo a correta construção da peça cível, seja com o
objetivo voltado ao concurso público, seja para o dia a dia forense.

1 Quanto às sentenças cedidas da Justiça Estadual, cabe o especial agradecimento aos


amigos Acácia Regina Soares de Sá, Cristiana de Alencar Lameiro da Costa, Atalá Correa,
Ângelo Pinheiro Fernandes, Ana Magali Pinheiro, José Rodrigues Chaveiro Filho, Luciano
dos Santos Mendes, Magáli Dellape Lopes, Matheus Santarelli Zulliani, Ricardo Rocha
Leite, Roque Fabrício Viel, todos Juízes da Justiça do Distrito Federal e Territórios.
2 Vale o agradecimento ao colega Társis Augusto de Santana Lima, Juiz Federal da Justiça
Federal da 1ª Região – TRF 1ª Região, que gentilmente enviou várias peças de sua autoria
envolvendo assuntos submetidos à competência da justiça federal.
3 Foi realizada a supressão, em alguns casos, do inteiro teor do aresto jurisprudencial citado,
para a regular formatação do livro. Procurou-se manter o espírito de exposição comparativa
de estilos de redação do ato sentencial, e apresentação de sentenças reais envolvendo
feitos de grande interesse prático.
CURSO DE SENTENÇA CÍVEL • Fabrício Castagna Lunardi | Luiz Otávio Rezende

1. AÇÃO CIVIL PÚBLICA – INTERVENÇÃO NO DOMÍNIO ECONÔMICO


– REDE DE POSTOS DE COMBUSTÍVEIS

I. RELATÓRIO
Trata-se de ação civil pública movida pelo MINISTÉRIO PÚBLICO DO
DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS em desfavor de COMBO COMBUSTÍVEIS
LTDA (REDE GASOLINA) e outros em que pretende intervenção no domínio eco-
nômico fundamentando sua pretensão com os seguintes argumentos indicativos
de sua causa de pedir:

a) que em razão da política de redução do controle praticada pelo


governo tem por dever atuar na proteção da livre concorrência e do
consumidor coletivamente considerado em face de práticas desleais
no mercado de varejo de combustíveis que tem gerado o aumento
abusivo de preços da gasolina tipo “c”;
b) que promoveu acompanhamento do mercado de combustíveis do Distrito
Federal a partir de setembro/2000 e que realizou procedimento inves-
tigativo no período compreendido entre novembro/2003 e maio/2004;
c) aduz que o parâmetro para aferição da abusividade foi fixado pela
margem bruta média de lucro, destacando que a rede de postos re-
presentadas pelas Rés detém 30% (trinta por cento) dos postos do
Distrito Federal;
d) que a partir de março/abril de 2007 verificou um aumento abusivo
no preço dos combustíveis, especificamente da gasolina tipo “c”,
aduzindo que este aumento não encontra paralelo em majoração de
custos, anunciando que os parâmetros comparativos utilizados foram
os mercados semelhantes e análise cronológica;
e) a partir do acompanhamento verificou que houve um aumento da ordem
de R$ 0,20 (vinte centavos de reais) no preço da gasolina tipo “c” e
que esse aumento seria abusivo, lançando como argumento o teor da
Nota Técnica da Agência Nacional do Petróleo – ANP nº 40 (fls. 63/73);
f) com amparo nestas ponderações, postula a condenação das Rés a
manter a margem máxima de lucro bruto na revenda da gasolina
comum no patamar de 15,87% (quinze vírgula oitenta e sete por
cento), calculado sobre o preço de aquisição do produto (sem frete),
durante o período de 06 (seis) meses a fim de reorganizar o mercado.

Com a inicial juntou documentos (fls. 31/495). Ausência de recolhi-


mento das custas.
Às fls. 497/499 houve apreciação e deferimento do pedido de antecipação
dos efeitos da tutela, bem como às fls. 501 o Ministério Público peticionou
anunciando novo aumento abusivo no preço da gasolina comum.

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