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1

TÍTULO

Maiara Frigerio1

RESUMO

Na educação básica, anos iniciais, existem dois processos similares que


introduzem as crianças ao mundo da escrita: a alfabetização e o letramento.
Abordando temas relacionadas ao processo de alfabetização e letramento,
percebemos que são processos distintos, mas que devem trabalhar juntos. É
importante que práticas de letramento ocorram na ação educativa e nas
práticas sociais de leitura e escrita, permitindo compreender a importância e a
necessidade em desenvolvê-las nas séries iniciais. A construção da linguagem
escrita na criança se dá com um trabalho contínuo, considerando o significado
que a escrita tem na vida e sociedade. Essa pesquisa se caracteriza como
científica exploratória e bibliográfica reflexiva. Atualmente as crianças chegam
à Escola com muitos e diferentes conhecimentos, é preciso que o professor
faça uso da leitura e da escrita, utilizando diversos portadores de textos, para
que assim a criança possa atingir os objetivos do mundo letrado no início de
seus estudos.

Palavras-chave: Alfabetização; letramento; práticas sociais de leitura; práticas


sociais de escrita; leitura e escrita nos anos iniciais.

1
Professor de Educação Básica nos Anos Iniciais na Rede Municipal de Ensino de Catanduva, SP.
Artigo apresentado como requisito parcial para aprovação do Trabalho de Conclusão do Curso de
Especialização em Letramento.
2

INTRODUÇÃO

Alfabetizar é ensinar a codificar e decodificar o código da língua


escrita. É ensinar a tecnologia da escrita (letras, números, acentuação, etc.) e a
forma que ela é estruturada. Neste artigo, buscamos trazer a reflexão, expondo
e analisando conceitos de alfabetização e letramento. Alfabetizar é mostrar
como as sílabas se juntam formando palavras, como as palavras formam
sentenças, como sentenças formam parágrafos e como os parágrafos formam
um texto, ou seja, alfabetização é o aprendizado mecânico que aborda
questões relacionadas ao processo dessa alfabetização e letramento.

Os professores de educação fundamental ao compreender as


orientações teóricas e metodológicas fornecidas pelas bibliografias existentes
sobre o assunto, mostram que o ensino sobre os processos de alfabetização e
letramento, tem uma maior bagagem acerca do tema. Esse estudo foi
justamente motivado pela necessidade de entender as dificuldades
encontradas por professores em justificar, teórica e metodologicamente todo
esse conteúdo. O professor deve valorizar os diversos tipos de aprendizagem,
principalmente aquelas que sejam diferentes da tradicional cópia, promovendo
a leitura de histórias diversas, em roda, incentivando as crianças a contar as
histórias, declamando poesias, enfatizando os sons e os ritmos das palavras,
promovendo associações entre objetos, letras e sílabas, etc.

Já no letramento, iremos além da pura codificação e decodificação


da escrita. Nos pautaremos aos sentidos e usos que os textos adquirem na
vida social dos usuários da língua. Ensinar o letramento é mostrar à criança as
formas como a língua escrita é usada através das letras. O processo de
letramento ocorre quando ao mostrarmos um texto a uma criança, falamos de
como e por quem ele foi feito, suas formas de leitura, em que lugares ele
circula, quais são os seus objetivos comunicativos e quais são os sentidos que
ele pode veicular e assumir. A construção da linguagem escrita na criança faz
parte de seu processo geral, se dá como um trabalho contínuo de elaboração
3

cognitiva por meio de inserção no mundo da escrita pelas interações sociais e


orais, considerando a significação que a escrita tem na sociedade.

Podemos entender tal relevância no sentido da participação crítica


nas práticas sociais que envolvem a escrita, mas também no sentido
de considerar o diálogo entre os conhecimentos da vida cotidiana,
constitutivos de nossa identidade cultural primeira, com os
conhecimentos de formas mais elaboradas de explicar aspectos da
realidade. (GOULART, 2002, p. 52).

Estamos vivendo em uma sociedade, em que as crianças chegam à


Unidade Escolar com diversos tipos de conhecimentos em relação à cultura
letrada. É importante que o educador faça o uso da leitura e da escrita,
utilizando diversos portadores de textos, que contenham diferentes gêneros
textuais, como leitura de anúncios, revistas, jornais, realizações de bilhetes,
cartas, para que assim a criança possa se interagir ao mundo letrado, logo no
início de sua trajetória escolar. Cada criança tem o seu próprio ritmo de
aprendizado. Têm aquelas que já chegam na escola com contato maior e
diversificado com o mundo letrado; existem outras, por outro lado, que
demandam maior cuidado e atenção do professor, precisando ser inseridas no
mundo da escrita. Cabe ao professor saber sondar o nível de alfabetização
e letramento da criança e norteá-las adequadamente no seu processo de
aprendizado, levando em consideração a vivência e o contexto de vida dela.

A família poderá e deverá contribuir com as práticas de leitura e de


escrita, incentivando o treinamento das crianças em casa, para que chegando
à escola, desenvolvam o aprendizado com mais facilidade.

O objetivo desse artigo é compreender através da reflexão, a


importância do alfabetizar letrando, e vice-versa, além da necessidade de
desenvolve-las nas séries iniciais, identificando o papel que essas práticas de
letramento e leitura impactam na relação aos indivíduos que iniciam a trajetória
escolar, conceituando-as.
4

1 ALFABETIZAÇÃO E O LETRAMENTO NOS ANOS INICIAIS

O conceito de alfabetização se manifesta sempre em todos os


lugares, principalmente na escola. Muito recentemente, considerava-se que a
entrada da criança no mundo da escrita se fazia apenas pela alfabetização,
pelo aprendizado do “B, A, BA”, através do desenvolvimento das próprias
habilidades de codificação e de decodificação. O uso da linguagem escrita, em
práticas sociais de leitura e produção de textos, seria uma etapa posterior à
alfabetização, devendo ser desenvolvido nas séries seguintes.Porém em
meados dos anos 1980, concepções psicológicas, linguísticas, entre outras, de
leitura e escrita vêm mostrando que o aprendizado das relações entre as letras
e os sons é uma condição para o uso da linguagem escrita, esse uso também é
uma condição para a alfabetização, o aprendizado das relações entre as letras
e os sons da língua. Talvez essa ideia se manisfestou, primeiramente, na sala
de aula, num ambiente alfabetizador. Metodologicamente, a criação desse
ambiente se concretizaria na busca de levar as crianças em fase de
alfabetização a usar a linguagem escrita, mesmo antes de dominar as
“primeiras letras”, organizando a sala de aula com base na escrita (registro de
rotinas, uso de etiquetas para organização do material, emprego de quadros
para controlar a frequência, por exemplo). Conceitualmente, a defesa da
criação de um ambiente alfabetizador estaria baseada na constatação de que
saber para que a escrita serve (suas funções de registro, de comunicação à
distância, por exemplo) e saber como é usada em práticas sociais (organizar a
sala de aula, fixar regras de comportamento na escola, transmitir informações,
divertir, convencer, por exemplo) auxiliariam a criança em sua alfabetização.

A diferença entre conceito e metodologia está no domínio que o


sujeito tem sobre a leitura e escrita. O sujeito alfabetizado sabe ler e escrever,
porém pode estar pouco habituado a usar essas habilidades no seu cotidiano.
Já o indivíduo letrado possui domínio da leitura e da escrita nas mais diversas
situações e práticas sociais.

A experiência com textos variados e de diferentes gêneros é


fundamental para a constituição do ambiente de letramento, a seleção
5

do material escrito, portanto, deve estar guiada pela necessidade de


iniciar as crianças no contato com diversos textos e de facilitar a
observação de práticas sociais de leitura e escrita nas quais suas
diferentes funções e características sejam consideradas. Nesse
sentido, os textos de literatura geral e infantil, jornais, revistas, textos
publicitários, entre outros, são os modelos que se podem oferecer as
crianças para que aprendam sobre a linguagem que se usa para
escrever. (BRASIL, 1998, p. 151-152).

Refletindo a bibliografia de Soares (1998), podemos entender que a


alfabetização é como um processo de aprendizagem de habilidades
necessárias para os atos de ler e escrever, já o letramento como o estado ou a
condição do sujeito que incorpora práticas sociais de leitura e escrita. Assim,
termos alfabetização e letramento não são sinônimos. Trata-se de dois
processos distintos que, ocorrem de forma indissociável e interdependente: [...]
a alfabetização se desenvolve no contexto de e por meio de práticas sociais de
leitura e de escrita, isto é, através de atividades de letramento, e este, por sua
vez, só pode desenvolver-se no contexto da e por meio da aprendizagem das
relações fonema-grafema, isto é, em dependência da alfabetização (SOARES,
2004, p.14).

A alfabetização escolar tem sido alvo de várias contradições, seja


teóricas ou metodológicas, exigindo das escolas e dos educadores o desafio de
alfabetizar. Os professores, antes de estudarem a Psicogênese da Língua
Escrita ensinavam para as crianças as letras começando pelas vogais e as
sílabas, respeitando a ordem alfabética, elaboravam exercícios de
coordenação motora, atividades de cópia para que as crianças repetissem o
nome próprio e mesmo as letras e as sílabas isoladamente, centradas no
ensino de forma fragmentada e descontextualizada. Tratava-se de uma visão
de aprendizagem que era considerada cumulativa, baseada na cópia, na
repetição no reforço e na memorização das correspondências fonográficas.
Não havia a importância de a criança desenvolver a sua própria compreensão,
do seu funcionamento do sistema de escrita alfabética ou de saber usá-la
adequadamente. Surgindo assim o termo “analfabetismo funcional” designando
6

as pessoas que, sabiam escrever o próprio nome e identificavam letras, mas


não sabiam fazer uso da leitura e da escrita no seu cotidiano.

A alfabetização é o caminho para o letramento. Alfabetizado é


aquele indivíduo que conhece o código escrito, que sabe ler e escrever, dessa
maneira é necessário ampliar esses conhecimentos, os indivíduos precisam
compreender o sentido dos textos.

A alfabetização refere-se à aquisição da escrita enquanto


aprendizagem de habilidades pela leitura, escrita e as chamadas
práticas de linguagem. Isso é levado a efeito, em geral por meio do
processo de escolarização e, portanto da instrução formal. A
alfabetização pertence assim, ao âmbito individual. (TFOUNI, 1998).

Há uma ampliação da questão metodológica, que se referindo,


segundo Frade (2007, p. 29), há um conjunto amplo de decisões relacionadas
ao como fazer com decisões relativas a métodos, à organização da sala de
aula, um ambiente de letramento, capacidades a serem atingida, escolha de
materiais, procedimentos de ensino, formas de avaliar, sempre num contexto
da política mais ampla de organização do ensino. Para Soares (2004), o termo
letramento surge a partir das novas relações estabelecidas com as práticas de
leitura e escrita na sociedade, ao passo que não basta apenas saber ler e
escrever, mas que funções a leitura e a escrita assumem em decorrência das
novas exigências impostas pela cultura letrada.

A tradição de alfabetização estava vinculada a uma concepção, em


que a aprendizagem inicial da leitura e da escrita tinha como foco fazer o aluno
chegar ao reconhecimento das palavras significativas no seu meio cultural, a
partir de 1980 a alfabetização escolar no Brasil passou por novos
questionamentos, novas concepções de resultados. Criou-se assim, o termo
letramento, com Mary Kato em 1985, para designar aqueles que exercem
práticas sociais de leitura e escrita, para além do apenas ensinar ler e escrever,
sendo estas práticas com crianças que participam de eventos em que a escrita
é integrante no processo de condições iniciais, sob os aspectos social, cultural,
cognitivo e de inserção em uma sociedade letrada.
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Com a divulgação das pesquisas sobre a psicogênese da língua


escrita (FERREIRO;TEBEROSKY, 1985) o enfoque construtivista tornou-se,
um dos mais influentes na elaboração de novas propostas de alfabetização. A
proposta construtivista influenciada pelas pesquisas de Ferreiro e Teberosky
(1985) e pelos modelos de leitura propostos por Goodmann (1967) e Smith
(1971) (apud SOARES, 2004) defende uma alfabetização contextualizada e
significativa através da transposição didática das práticas sociais da leitura e da
escrita para a sala de aula e considera a descoberta do princípio alfabético
como uma consequência da exposição aos usos da leitura e da escrita. Para
Teberosky (1994) a formação de um vocabulário estável de palavras a partir
dessas práticas seria o principal referencial da criança para a descoberta do
sistema alfabético, uma vez que a partir dos conflitos vivenciados pela criança
entre a sua concepção original de escrita e a escrita convencional dos nomes.
No caso da alfabetização tradicional a ênfase está no código, um indivíduo
alfabetizado não é necessariamente um indivíduo letrado, alfabetizado é aquele
que sabe ler e escrever, codificar e decodificar a língua escrita.

Enquanto a alfabetização ocupa-se da aquisição da escrita por um


indivíduo, ou grupos de indivíduos, o letramento focaliza os aspectos
sócio históricos da aquisição de um sistema escrito por uma
sociedade. (TFOUNI, 1995, p.20).

A construção da linguagem escrita na criança faz parte de seu


processo geral, se dá como um trabalho contínuo de elaboração cognitiva por
meio de inserção no mundo da escrita pelas interações sociais e orais,
considerando a significação que a escrita tem na sociedade. No processo de
aprendizagem da criança as duas modalidades de linguagem verbal dialogam-
se na perspectiva do letramento, o qual vem sendo visto como um fator central,
afeta a cognição por intermédio do desenvolvimento tanto na transformação
conceitual do sujeito quanto na cultural, deve ser interpretado como algo geral
que vai além da competência para a escrita. Crianças cujas famílias participam
de atos de leitura desde muito cedo, vindo de familiares escrevendo e lendo,
chegam à escola conhecendo muitos do uso e funções sociais da língua
escrita, diferente de crianças oriundas e de famílias pouco alfabetizadas,
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entendem que texto escrito é aquele que a escola lhes apresenta. A


perspectiva psicogenética alterou a concepção do processo de construção da
representação da língua escrita pela criança que deixa de ser considerada
como dependente de estímulos externos para aprender o sistema de escrita.
Essa concepção está presente nos métodos de alfabetização se encontra em
uso, designados "tradicionais" e passa a ser sujeito ativo capaz de construir
esse sistema de representação interagindo com a língua escrita e em uso de
práticas sociais, em que a aprendizagem se dá por uma progressiva
construção do conhecimento, na relação da criança com o objeto "língua
escrita”. O ensino da língua escrita dominou não só no Brasil, mas também em
vários outros países, nas últimas décadas, uma concepção holística da
aprendizagem da língua escrita, de que o princípio de que aprender a ler e a
escrever é aprender a construir sentido para e por meio de textos escritos,
usando experiências e conhecimentos prévios.

A concepção tradicional de alfabetização, traduzida nos métodos


analíticos ou sintéticos, tornava os dois processos independentes, na
concepção atual, os dois processos são simultâneos, deve-se conservar os
dois termos, embora sejam processos interdependentes, são processos
diferentes, envolvendo conhecimentos, habilidades e competências
específicas, que implicam formas de aprendizagem diferenciadas e,
procedimentos diferenciados de ensino. É necessário que haja práticas de
alfabetização e de letramento nas salas de aula, em que as crianças se
interajam na cultura escrita, na participação em experiências variadas com a
leitura e a escrita, conhecimento de diferentes tipos e gêneros de material
escrito para assim compreenderem a função social que a leitura e a escrita
trazem. Contudo, é importante reconhecer as possibilidades e necessidades de
promover a conciliação entre essas duas dimensões da aprendizagem da
língua escrita, a língua escrita, integrar alfabetização e letramento, sem perder,
a especificidade de cada um desses processos.
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2 CONCEITUANDO O LETRAMENTO

Em meados de 1980 se dá a invenção do termo letramento no


Brasil, tornou-se foco de participação e discussão nas áreas da educação e da
linguagem o que se evidência no grande número de artigos e livros voltados
para o Tema. Além da alfabetização, este conceito de tema interdisciplinar do
âmbito social, cognitivo e linguístico sendo este o letramento, é um processo
amplo que torna o indivíduo capaz de utilizar a escrita de forma deliberada nas
situações sociais.

Letramento é a palavra e conceito recente, introduzido na linguagem


da educação e das ciências linguísticas há pouco mais de duas
décadas. Seu surgimento pode ser interpretado como decorrência da
necessidade de configurar e nomear comportamentos e práticas
sociais na área da leitura e da escrita que ultrapassam o domínio do
sistema alfabético e ortográfico, nível da aprendizagem da língua
escrita perseguido, tradicionalmente, pelo processo de alfabetização.
(SOARES, 2004, p. 20).

O novo assunto de pesquisa sendo essas as práticas sociais reflete


as transformações nas práticas letradas, dentro ou fora da escola, tendo a
necessidade de reconhecer e nomear práticas sociais de leitura e de escrita
mais avançadas e complexas que as práticas de ler e de escrever resultantes
da aprendizagem do sistema de escrita. O termo letramento se deu por
caminhos diferentes daqueles que explicam a invenção do termo em outros
países, no Brasil à discussão do letramento surge sempre enraizada ao
conceito de alfabetização, em que os dois processos devem caminhar juntos.
Através do Letramento, passou-se a entender que, nas sociedades
contemporâneas, era insuficiente o mero aprendizado das “primeiras letras”, e
que integrar-se socialmente, envolve também “saber utilizar a língua escrita
nas situações em que esta é necessária, lendo e produzindo textos”. Essa nova
palavra Letramento, trouxe uma nova dimensão da entrada no mundo da
escrita, que se constitui de um “conjunto de conhecimentos, atitudes e
capacidades necessários para usar a língua em práticas sociais” (VAL, 2006, p.
13).
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O letramento abrange o processo de desenvolvimento e o uso dos


sistemas de leitura e escrita na sociedade, desse modo, se refere a um
conjunto de práticas, que vem modificando a sociedade. Letrar é mais que
alfabetizar, é ensinar a ler e escrever dentro de um contexto onde a escrita e a
leitura tenham sentido e façam parte da vida do aluno, designa práticas de
leitura e escrita. A entrada da criança no mundo da escrita se dá pela
aprendizagem de toda a complexa tecnologia envolvida no aprendizado do ato
de ler e escrever; precisa saber fazer uso e envolver-se nas atividades de
leitura e escrita apropriar-se do hábito do sistema de escrita. Assim as
alterações no conceito de alfabetização nos censos demográficos ao longo das
décadas permitiam identificar uma progressiva extensão desse conceito. A
partir do conceito de alfabetização que vigorou até o censo de 1990, aquele
que declara o saber ler e escrever, sendo aquele que exerce a prática de
leitura e escrita ainda que trivial. Nas séries iniciais, a criança, sem ser
alfabetizada, é apropriada em funções e no uso da língua escrita, essas são
crianças letradas sem serem alfabetizadas. Pode-se letrar antes de alfabetizar
ou contrário, essa compreensão é o grande problema das salas de aula e
explica o fracasso do sistema de alfabetização na progressão continuada. Deve
haver uma especificidade, aprendizagem sistemática sequencial, de aprender,
não é possível ensinar a ler e escrever, ou qualquer coisa em educação, sem
um método. O letramento não é só de responsabilidade do professor de língua
portuguesa ou dessa área, mas de todos os educadores que trabalham com
leitura e escrita, cada educador, é responsável pelo letramento em suas
diferentes áreas de estudo.

O letramento, é o uso que se faz da língua escrita com toda sua


complexidade, em práticas sociais de leitura e escrita, é aquele
indivíduo que sabe ler e escrever, e que usa socialmente a leitura e a
escrita, que pratica e responde adequadamente às demandas sociais.
(SOARES, 2001, p 39-40)

Pode ser considerado letrado mesmo aquele não alfabetizado, na


medida em que participando de contextos de letramento, utiliza estratégias
orais dos conhecimentos construídos sobre a língua. Crianças cujos pais leem
regularmente e exploram com elas os textos narrativos, não só aprendem a ler
com mais facilidade como se revelaram bons escritores no término de sua
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trajetória escolar, ler e escrever textos significativos, onde o educador possa


criar um ambiente letrado, considerando o conhecimento prévio, mesmo
pequenas, as crianças levam para a escola o conhecimento que possuem.

O trabalho com textos na alfabetização é necessário para enfocar os


dois aspectos da aprendizagem da língua escrita, assim o aluno alfabetizado e
letrado tem possibilidade de utilizar a escrita nas diferentes situações do
cotidiano. Participar de práticas sociais de leitura e escrita é importante não só
para o processo de alfabetização, mas também para a apropriação da língua
escrita em situações reais de uso. Desse modo, a alfabetização na perspectiva
do letramento deve evidenciar a importância do trabalho com os diversos
gêneros textuais, com base nos diferentes suportes de leitura. É necessária
uma proposta pedagógica que dê suporte ao pleno desenvolvimento desses
aspectos envolvidos na aprendizagem da leitura e da escrita desde o início da
escolaridade, tendo em vista proporcionar ao aluno a formas de utilização da
escrita para diferentes finalidades. A partir das situações de letramento
presentes em seu cotidiano, uma vez que os textos apresentam situações
comunicativas diferenciadas, é possível o aluno compreender que a estrutura e
a organização dos textos estão relacionadas a diferentes funções que exercem
nas práticas cotidianas da realidade, ou seja, uma carta, uma receita culinária,
uma bula, um anúncio de jornal, um bilhete, um folheto informativo, dentre
outros suportes textuais. SOARES, 1999, p.69): [...] além de aperfeiçoar as
habilidades já adquiridas de produção de diferentes gêneros de textos orais,
levar à aquisição e ao desenvolvimento das habilidades de produção de textos
escritos, de diferentes gêneros e veiculados por meio de diferentes portadores
[...]

Aprender a ler e escrever envolve a apropriação do sistema


alfabético e ortográfico e o desenvolvimento das habilidades textuais, ou seja, a
produção de textos observando os elementos discursivos, conforme o tipo
textual, percebendo que cada gênero tem uma forma diferente quanto à
estrutura e organização. Cabe ao educador desenvolver neste conceito,
práticas significativas de desenvolvimento para o aluno, seu papel é intervir de
forma a tornar mais efetiva esta reflexão, imergindo as crianças nas práticas
sociais de leitura e escrita, só a partir da descoberta do princípio alfabético e
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das convenções ortográficas, formando um leitor e escritor autônomo. Portanto,


desenvolver práticas sociais de leitura e escrita, a partir de seus diferentes
usos e funções requeridos pela sociedade, de modo a compreender o
letramento enquanto um novo conceito de compreensão acerca da função
social da escrita. Segundo Weisz, (2000, p.62) “o ensinar a língua escrita em
contextos letrados, a função do professor é observar a ação das crianças,
acolher ou problematizar suas produções, intervindo sempre que achar que
pode fazer a reflexão dos alunos sobre a escrita avançar”.

Com base nos autores acime citados, concluímos que práticas de


letramento devem ocorrer de forma reflexiva a partir da apresentação de
situações problemas, em que, as crianças revelem espontaneamente as suas
hipóteses e sejam levados a pensar sobre a escrita, participar, ler e escrever
com função social, utilizar textos significativos, interagir com a escrita, utilizar
textos reais, que circulam na sociedade, utilizar a leitura e a escrita como forma
de interação. Em atividades de produção coletiva de textos, o educador deve
atuar como escriba, propor a reescrita da história pelas crianças, assim é
possível refletir sobre o que as crianças escrevem e como se escreve. O fazer
diferenciado da alfabetização na perspectiva do letramento exige do professor
alfabetizador conhecimentos específicos acerca da natureza da aquisição da
leitura e da escrita, a fim de que possa compreender a dinâmica do processo
de aprender pelo aluno com vistas à sistematização do código escrito. As
reflexões acerca da alfabetização e do letramento nos revelam a necessidade
da vinculação dos dois termos na prática pedagógica alfabetizadora, de modo
que o trabalho pedagógico desenvolvido na escola contemple uma proposta de
“alfabetizar letrando”, onde o ensino e a aprendizagem do código estejam
associados pelas práticas sociais de utilização da escrita.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base na reflexão mencionada neste trabalho, é necessário


compreender a prática pedagógica como elemento de produção do
conhecimento, dessa forma, a necessidade do alfabetizar letrando. Assim será
um trabalho feito pelo educador e também pelas pessoas que participam do
aprendizado da criança, requerendo mudanças significativas das práticas
pedagógicas, através do ensino da leitura e da escrita para o seu
aprimoramento nas séries iniciais. Para tanto, cada educador deve ter
consciência sobre sua prática inclusiva e a convicção de que não há um limite
cognitivo, ou estabilidade, mas sucessivos progressos. Assim, é essencial que
vivamos em constante formação e busca de saberes. A atuação do educador
no processo educativo deve estar centrado em princípios de humildade e
reconhecimento do conhecimento cultural e histórico do educando. Por isso, é
indispensável que se alfabetize letrando, ou seja, reconstruir a leitura e a
escrita a partir do mundo vivenciado, criando um agradável vínculo através de
práticas reais, contextualizadas e significativas. Acreditando que todos têm
possibilidades de aprimoramento e dependemos uns dos outros para nos
constituirmos em uma sociedade melhor. Contudo, em uma sociedade letrada,
não basta apenas aprender ler e escrever, é preciso praticar socialmente a
leitura e a escrita, compreendendo as finalidades entre os diversos contextos
de letramento.

Sendo assim, concluímos que alfabetizar letrando não constitui


um novo método de alfabetização, mas na utilização de textos variados no
ambiente escolar, melhorando assim a prática de alfabetizar, sendo essa uma
perspectiva pedagógica com metodologias relacionadas à aquisição da leitura
e da escrita significativa.
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REFERÊNCIAS

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Fundamental. Departamento da Educação Fundamental. Coordenação Geral
de Educação Infantil. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil:
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WEISZ, T. O diálogo entre o ensino e aprendizagem. São Paulo:EditoraÁtica,


2000

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