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PROVANULIDADES

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PROCESSO PENAL X DIREITO PENAL

Direito Penal é o conjunto de regras que preveem uma conduta como ilícita e a identificam
como crime quando vinculam a prática daquela conduta prevista em lei a uma determinada
sanção.

Portanto, o que caracteriza o Direito Penal é a sanção.

O Estado, ao exercer a sua pretensão punitiva deve se valer de um conjunto de regras,


procedimentos, que possibilitem a defesa e também a segurança jurídica, sob pena de não se
reconhecer a legitimidade da punição aplicada.

- Processo Penal é justamente a possibilidade de materialização desse direito abstrato do


Estado, de aplicar a sanção penal a quem comete um crime, e encontra resguardo tanto na CF,
quanto no CPP e na legislação extravagante.

CONCEITO - é o ramo do direito público que regula a atividade de jurisdição do Estado, para
aplicação das normas de Direito Penal, no julgamento do acusado de praticar um crime. Não
existe materialização do Direito Penal, assim como não existe sanção penal, a não ser por meio
do processo.

Observação: o Direito Penal material e o Direito Processual estão umbilicalmente ligados, um


não existe sem o outro.

Portanto, a sanção penal prevista na norma material, para ser aplicada em concreto ao autor
do crime, necessariamente, passa pelo processo.

Em suma, o Processo Penal cuida de disciplinar as regras de investigação, processamento,


julgamento, recursos e o pós trânsito em julgado.

Sua finalidade é regular a persecução do estado, através de seus órgãos constituídos, para que
se possa aplicar a norma penal realizando a pretensão punitiva no caso concreto.

Conceito de Processo - o conjunto de regras e procedimentos para que se possa aplicar a


sanção penal. É necessário que o Órgão legitimado inicie a ação penal a partir de uma
investigação que a antecede (dispensável), sendo também garantido, durante a instrução
processual, o contraditório e a ampla defesa e, por fim, que se obtenha uma decisão judicial
fundamentada nas provas dos autos.

Em suma, o processo é o conjunto de elementos, procedimentos, garantias, formas, que


poderão materializar, com a efetiva aplicação da pena ao autor do crime, aquilo que lhe é
devido de acordo com a sua culpabilidade.

Finalidade da sanção penal -

- Retributiva, quando o mal causado pelo autor da conduta proibida é retribuído com outro
mal, que é a sanção penal, ou seja, a restrição do direito fundamental de liberdade.

- Possibilidade de se restabelecer a harmonia social, o convívio em comunidade de maneira


pacífica, por meio da solução de um conflito de interesse.

O processo penal possui 2 finalidades:

Mediata – pacificação social com a solução do conflito. Para alguns, promover proteção da
sociedade, da paz social e a defesa dos interesses da coletividade.
Obs.: Conflito: em processo penal, é colocar em posições contrarias.

De um lado está quem quer exercer o seu poder punitivo, que decorre da soberania estatal, e
que é legítimo, pois quem viola a lei penal está sujeito à aplicação de uma sanção penal por
parte do Estado; e de outro lado está um cidadão que, embora cometendo um fato ilícito,
deve ter respeitado uma série de direitos.

Esse conflito que se apresenta no processo penal justamente se dá entre o Estado – que
oferece a ação penal, requerendo a aplicação de uma sanção penal a alguém – e aquela pessoa
acusada do cometimento de um crime e que quer manter íntegro o seu direito fundamental de
liberdade ou, ainda que confesse a autoria de um delito, quer tentar evitar ao máximo uma
restrição indevida.

Imediata – aplicação do Direito Penal (material) ao caso em concreto. É de fazer valer o direito
de punir do Estado (jus puniendi), considerando também a tutela dos direitos fundamentais do
cidadão.

Para a persecução criminal, existem limites não apenas no sentido de proteger e dar segurança
a coletividade, mas também de garantir os direitos fundamentais ao cidadão. Esses limites
estão claramente definidos na lei e na Constituição Federal (CF).

CARACTERÍSTICAS

Autonomia: o processo penal não se submete ao direito penal, possuindo princípios e regras
próprias.

Os crimes são previstos no Código Penal ordinariamente, com exceção daqueles previstos na
legislação extravagante.

Mas existem normas extravagantes que podem apresentar procedimentos diferenciados,


como a Lei n. 11.343/2006 (Lei de Tóxicos), que tem procedimentos próprios e especiais em
relação aos procedimentos previstos no CPP.

Exemplo: a Lei de Tóxicos, que inverte a ordem do interrogatório se comparado ao processo


penal. Art. 57, o interrogatório do réu é o primeiro ato da audiência

Instrumentalidade: o processo penal é o meio para fazer atuar o direito penal (material); O
Processo Penal é o instrumento por meio do qual se pode aplicar a sanção penal a alguém.
Não existe direito fora do processo.

Se uma pessoa tem um direito e pretende fazer valer esse direito em relação a outra pessoa,
não se pode compelir, por meio de constrangimento ilegal, essa outra pessoa a cumprir o que
deve, pois caracterizaria um crime arbitrário das próprias razões, ou seja, quando o cidadão
quer realizar a justiça pelas próprias mãos. A justiça somente se faz por meio do Estado, do
processo.

Exceção

O Estatuto do Índio:

Art. 57. Será tolerada a aplicação, pelos grupos tribais, de acordo com as instituições próprias,
de sanções penais ou disciplinares contra os seus membros, desde que não revistam

caráter cruel ou infamante, proibida em qualquer caso a pena de morte.


Normatividade:

Disciplina normativa, com codificação própria (CPP e legislação extravagante).

O CPP que se aplicará, como regra, a todos os crimes que encontrem nele previsão ou em
legislação extravagante.

Observação: Há determinadas normas que preveem especialidade em relação ao CPP. Existem


tipos penais, como os previstos na Lei de Tóxicos, por exemplo, na qual, em detrimento da
norma geral, que é o CPP, segue-se um procedimento específico para determinados tipos de
crimes.

Fontes do Direito Processual Penal

Diz respeito à origem das normas processuais, que pode ser apreciado sob dois ângulos,
gerando, assim, a divisão entre as fontes que são criadoras (materiais) e as que são de
expressão da norma (formais) do processo penal.

Fontes Materiais - são as fontes criadoras do direito, também denominadas de fontes de


criação ou de produção.

A fonte material por excelência é o Estado. No caso do direito processual, o art. 22, I, da
Constituição Federal, dispõe que a legislação sobre o assunto compete privativamente à União,
que é, portanto, a fonte material do processo penal.

Observação: O art. 24, XI, CF, ordena que é concorrente a competência da União com os
Estados e o Distrito Federal para legislar a respeito de procedimentos em matéria processuais.

Exemplo: as normas de organização judiciária estadual. As normas de distribuição dos


processos, a organização das comarcas, a distribuição dos juízos em razão da matéria está
incluídas nas normas de organização judiciária estadual e são da competência concorrente
com a União, os Estados e o Distrito Federal.

Fontes Formais ou de Cognição - São de revelação, e dizem respeito aos meios pelos quais o
direito se exterioriza.

Podem ser:

Fontes Formais Imediatas - são as leis em sentido amplo, abrangendo a CF, a legislação
infraconstitucional, os tratados, as convenções e as regras de direito internacional
devidamente aprovadas.

Fontes Formais Mediatas

1) Costumes – práticas sociais reiteradas que são observadas pela sociedade com uma
consciência de obrigatoriedade.

Os costumes podem ser secundum legem (de acordo com a lei), praeter legem (suprem
lacunas da lei) e contra legem (contra a lei), estes últimos tem vedada a aplicação.

2) Princípios Gerais do Direito – premissas éticas extraídas do ordenamento jurídico. O CPP,


no seu art. 3º, ordena expressamente que pode ser suplementado pelos princípios gerais do
direito.

3) Doutrina – opinião dos estudiosos do Direito sobre temas jurídicos.


4) Analogia – Consiste em aplicar a um determinado caso não previsto pela lei o que o
legislador aplicou a um outro caso, quando há igualdade de condições.

5) Jurisprudência – É o entendimento consubstanciado em decisões judiciais reiteradas.

CPP, Art. 3º - A lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação analógica,
bem como o suplemento dos princípios gerais de direito.

Natureza Jurídica do Processo Penal - Ou seja, o que ele representa e constitui.

Trata-se de abordar a determinação dos vínculos que unem os sujeitos (juiz, acusador e réu),
bem como a natureza jurídica de tais vínculos e da estrutura como um todo.

O tema é complexo e envolve o estudo de várias teorias que se foram sucedendo na tentativa
de dar uma explicação a fenomenologia processual.

Três principais teorias:

- Processo como relação jurídica (Bülow);

- Processo como situação jurídica (Goldschmidt), e

- Processo como procedimento em contraditório (Fazzalari).

Processo como Relação Jurídica – Bülow, foi um marco definitivo para o processo, pois
estabeleceu o rompimento do direito material com o direito processual e a consequente
independência das relações jurídicas que se estabelecem nessas duas dimensões.

O processo passa a ser visto como uma relação jurídica de natureza pública que se estabelece
entre as partes e o juiz, dando origem a uma reciprocidade de direitos e obrigações
processuais.

A natureza pública decorre do fato de que existe um vínculo entre as partes e um órgão
público da administração da justiça, numa atividade essencialmente pública. Nessa linha, o
processo é concebido como uma relação jurídica de direito público, autônoma e independente
da relação jurídica de direito material.

O réu passa a ser visto como um sujeito de direitos e deveres processuais. É uma relação
jurídica triangular.

Observação: CHIOVENDA, pode-se afirmar que o processo penal é uma relação jurídica
pública, autônoma e complexa, pois existem, entre as três partes, verdadeiros direitos e
obrigações recíprocos.

Somente assim estaremos admitindo que o acusado não é um mero objeto do processo,
tampouco que o processo é um simples instrumento para a aplicação do jus puniendi estatal.

O acusado é parte integrante do processo, em igualdade de armas com a acusação (seja ela
estatal ou não), e, como tal, possuidor de

um conjunto de direitos subjetivos dotados de eficácia em relação ao juiz e à acusação.

Teoriza ainda sobre a existência de “pressupostos processuais”, que podem ser de existência
ou de validade, que seriam pressupostos para seu nascimento ou desenvolvimento válido. A
teoria do processo como relação jurídica recebeu críticas, tanto na sua aplicação para o
processo civil como também para o processo penal, mas acabou sendo adotada pela maior
parte da doutrina processualista. A crítica mais contundente e profunda veio, sem dúvida, de
GOLDSCHMIDT, por meio de sua tese de que o processo é uma situação jurídica.

James Goldschmidt - quem melhor evidenciou as falhas da construção de BÜLOW, mas,


principalmente, quem formulou a melhor teoria para explicar e justificar a complexa
fenomenologia do processo.

Para ele, o processo é visto como um conjunto de situações processuais pelas quais as partes
atravessam, caminham, em direção a uma sentença definitiva favorável.

Nega ele a existência de direitos e obrigações processuais e considera que os pressupostos


processuais de BÜLOW são, na verdade, pressupostos de uma sentença de fundo.

O processo é uma complexa situação jurídica, no qual a sucessão de atos vai gerando chances,
que bem aproveitadas permitem que a parte se libere das cargas (por exemplo, probatórias) e
caminhe em direção a uma sentença favorável (expectativas). O não aproveitamento de uma
chance e a não liberação de uma carga, gera uma situação processual desvantajosa,
conduzindo a uma perspectiva de sentença desfavorável. Às partes não incumbem obrigações,
mas cargas processuais, sendo que, no processo penal, não existe distribuição de cargas
probatórias, na medida em que toda a carga de provar o alegado está nas mãos do acusador.

Destaca-se no pensamento do autor as noções de dinâmica, movimento e fluidez do processo,


bem como o abandono da equivocada e sedutora ideia de segurança jurídica que brota da
teoria de Bülow.

Ao assumir o estudo da incerteza e o risco inerente ao processo, o pensamento do autor


permite reforçar o valor e a eficácia das regras do devido processo penal.

É importante recordar que, no processo penal, a carga da prova está inteiramente nas mãos do
acusador, não só porque a primeira afirmação é feita por ele na peça acusatória (denúncia ou
queixa), mas também porque o réu está protegido pela presunção de inocência (Aury Lopes
Junior)

Carga é um conceito vinculado à noção de unilateralidade, logo, não passível de distribuição,


mas sim de atribuição.

A defesa assume riscos pela perda de uma chance probatória.

Assim, quando facultado ao réu fazer prova de determinado fato por ele alegado e não há o
aproveitamento dessa chance, assume a defesa o risco inerente à perda de uma chance, logo,
assunção do risco de uma sentença desfavorável.

Exemplo - exercício do direito de silêncio. Ele não gera um prejuízo processual, pois não existe
uma carga. Contudo, potencializa o risco de uma sentença condenatória. Isso é inegável.

A liberação de uma carga processual pode decorrer tanto de um agir positivo (praticando um
ato que lhe é possibilitado) como também de um não atuar, sempre que se encontre numa
situação que assim se permita, sem prejuízo.

Já a perspectiva de uma sentença desfavorável irá depender sempre da não realização de um


ato processual em que a lei imponha um prejuízo (pela inércia).
A justificativa encontra-se no princípio dispositivo. A não liberação de uma carga (acusação)
leva à perspectiva de um prejuízo processual, sobretudo de uma sentença desfavorável, e
depende sempre que o acusador não tenha se desincumbido de sua carga processual.

Observação: O pensamento de GOLDSCHMIDT serve para mostrar que o processo – assim


como a guerra – está envolto por uma nuvem de incerteza. A expectativa de uma sentença
favorável ou a perspectiva de uma sentença desfavorável está sempre pendente do
aproveitamento das chances e liberação da carga. Em nenhum momento tem-se a certeza de
que a sentença será procedente. A acusação e a defesa podem ser verdadeiras ou não; uma
testemunha pode ou não dizer a verdade, assim como a decisão pode ser acertada ou não
(justa ou injusta), o que evidência sobremaneira o risco no processo

Processo como Procedimento em Contraditório – Elio Fazzalari - pode ser considerada como
uma continuidade dos estudos de James GOLDSCHMIDT (processo como situação jurídica).

Basta atentar para as categorias de “posições subjetivas”, “direitos e obrigações probatórias”,


que se desenvolvem em uma dinâmica, por meio do conjunto de “situações jurídicas”, que
geram uma posição de vantagem (proeminência) em relação ao objeto do processo etc.

Há o resgate da importância do contraditório que deve orientar todos os atos do


procedimento até o provimento final (sentença), construído em contraditório (núcleo
imantador e legitimador do poder jurisdicional).

O contraditório é visto em duas dimensões, como direito a informação e reação (igualdade de


tratamento e oportunidades).

Todos os atos do procedimento são pressupostos para o provimento final, no qual são
chamados a participar todos os interessados (partes). A essência do processo está na simétrica
paridade da participação dos interessados, reforçando o papel das partes e do contraditório.

A teoria de FAZZALARI deve ser pensada em conjunto com o pensamento de GOLDSCHMIDT,


contribuindo decisivamente para a construção de um processo penal democrático e
constitucional, que preze pelo contraditório e as demais regras do jogo (devido processo).

Sistemas Processuais Penais: Inquisitório, Acusatório e Misto

Observação: Goldschmidt afirma que a estrutura do processo penal de um país funciona como
um termômetro dos elementos democráticos ou autoritários de sua Constituição.

Sistema Processual Inquisitório - No transcurso do século XIII foi instituído o Tribunal da


Inquisição ou Santo Ofício, para reprimir a heresia e tudo que fosse contrário ou que pudesse
criar dúvidas acerca dos Mandamentos da Igreja Católica. Inicialmente, eram recrutados os
fiéis mais íntegros para que, sob juramento, se comprometessem a comunicar as desordens e
manifestações contrárias aos ditames eclesiásticos que tivessem conhecimento.

Posteriormente, foram estabelecidas as comissões mistas, encarregadas de investigar e seguir


o procedimento.

Observação: É da essência do sistema inquisitório a aglutinação de funções na mão do juiz e


atribuição de poderes instrutórios ao julgador, senhor soberano do processo.

Portanto, não há uma estrutura dialética e tampouco contraditória.


Não existe imparcialidade, pois uma mesma pessoa (juiz-ator) busca a prova (iniciativa e
gestão) e decide a partir da prova que ela mesma produziu.

As principais características do sistema inquisitório são:

• gestão/iniciativa probatória nas mãos do juiz (figura do juiz-ator e do ativismo judicial =


princípio inquisitivo);

• ausência de separação das funções de acusar e julgar (aglutinação das funções nas mãos do
juiz);

• violação do princípio ne procedat iudex ex officio, pois o juiz pode atuar de ofício (sem
prévia invocação);

• juiz parcial;

• inexistência de contraditório pleno;

• desigualdade de armas e oportunidades.

Sistema Processual Acusatório - é a separação de funções e, por decorrência, a gestão da


prova na mão das partes e não do juiz (juiz espectador), que cria as condições de possibilidade
para que a imparcialidade se efetive.

Somente no processo acusatório democrático, em que o juiz se mantém afastado da esfera de


atividade das partes, é que podemos ter a figura do juiz imparcial, fundante da própria
estrutura processual.

Não podemos esquecer, ainda, da importância do contraditório para o processo penal e que
somente uma estrutura acusatória o proporciona.

Na atualidade – e a luz do sistema constitucional vigente – pode-se afirmar que a forma


acusatória se caracteriza por:

a) clara distinção entre as atividades de acusar e julgar;

b) a iniciativa probatória deve ser das partes (decorrência lógica da

distinção entre as atividades);

c) mantém-se o juiz como um terceiro imparcial, alheio a labor de investigação e passivo no


que se refere à coleta da prova, tanto de imputação como de descargo;

d) tratamento igualitário das partes (igualdade de oportunidades no processo);

e) procedimento é em regra oral (ou predominantemente);

f) plena publicidade de todo o procedimento (ou de sua maior parte);

g) contraditório e possibilidade de resistência (defesa);

h) ausência de uma tarifa probatória, sustentando-se a sentença pelo

livre convencimento motivado do órgão jurisdicional;

i) instituição, atendendo a critérios de segurança jurídica (e social) da coisa julgada;

j) possibilidade de impugnar as decisões e o duplo grau de jurisdição


Sistema Processual Misto - nasce com o Código Napoleônico de 1808 e a divisão do processo
em duas fases:

- fase pré-processual

- fase processual,

Observação: sendo a primeira de caráter inquisitório e a segunda acusatória. É a definição


geralmente feita do sistema brasileiro (misto), pois muitos entendem que o inquérito é
inquisitório e a fase processual acusatória (pois o MP acusa).

Justificativa - a divisão do processo penal em duas fases (pré-processual e processual


propriamente dita) possibilitaria o predomínio, em geral, da forma inquisitiva na fase
preparatória e acusatória na fase processual, desenhando assim o caráter “misto”.

Ademais, muitos ainda estão atrelados à reducionista concepção histórica de que bastaria a
mera “separação inicial” das “funções de acusar e julgar” para caracterizar o processo
acusatório.

PRINCÍPIOS DO DIREITO PROCESSUAL PENAL

- o fundamento da legitimidade da jurisdição e da independência do Poder Judiciário está no


reconhecimento da sua função de garantidor dos direitos fundamentais inseridos ou
resultantes da Constituição. Nesse contexto, a função do juiz é atuar como garantidor dos
direitos do acusado no processo penal.

1. Jurisdicionalidade – Nulla Poena, Nulla Culpa sine Iudicio

A garantia da jurisdição significa muito mais do que apenas “ter um juiz”, exige ter um juiz
imparcial, natural e comprometido com a máxima eficácia da própria Constituição.

Não só como necessidade do processo penal, mas também em sentido amplo, como garantia
orgânica da figura e do estatuto do juiz.

Também representa a exclusividade do poder jurisdicional, direito ao juiz natural,


independência da magistratura e exclusiva submissão à lei.

A garantia da jurisdicionalidade deve ser vista no contexto das garantias orgânicas da


magistratura, de modo a orientar a inserção do juiz no marco institucional da independência,
pressuposto da imparcialidade, que deverá orientar sua relação com as partes no processo.

O acesso à jurisdição é premissa material e lógica para a efetividade dos direitos fundamentais.

Princípio do juiz natural - não é mero atributo do juiz, senão um verdadeiro pressuposto para a
sua própria existência. Previsto no art. 5º, LIII, da CF.

a) somente os órgãos instituídos pela Constituição podem exercer jurisdição;

a) ninguém poderá ser processado e julgado por órgão instituído após o fato;

a) há uma ordem taxativa de competência entre os juízes pré-constituídos. Trata-se de


verdadeira exclusividade do juiz legalmente instituído para exercer a jurisdição, naquele
determinado processo, sem que seja possível a criação de juízos ou tribunais de exceção (art.
5º, XXXVII, CF).
A Garantia da Imparcialidade Objetiva e Subjetiva do Julgador

- Não basta a garantia da jurisdição, não é suficiente ter um juiz, é necessário que ele reúna
algumas qualidades mínimas, para estar apto a desempenhar seu papel de garantidor.

- A imparcialidade do órgão jurisdicional é um “princípio supremo do processo” e, como tal,


imprescindível para o seu normal desenvolvimento e obtenção do reparto judicial justo.

- A imparcialidade é garantida pelo modelo acusatório e sacrificada no sistema inquisitório, de


modo que somente haverá condições de possibilidade da imparcialidade quando existir, além
da separação inicial das funções de acusar e julgar, um afastamento do juiz da atividade
investigatória/instrutória.

Princípio do devido processo legal - art. 5º, inciso LIV, da CF/88

Consiste em assegurar a qualquer litigante a garantia de que o processo em que for parte,
necessariamente, se desenvolverá na forma que estiver estabelecido a lei.

Este princípio biparte-se em: devido processo legal material, que trata sobre a regularidade do
próprio processo legislativo, e devido processo legal processual, que se refere a regularidade
dos atos processuais.

Por si só, o devido processo legal engloba todas as garantias do direito de ação, do
contraditório, da ampla defesa, da prova lícita, da recursividade, da imparcialidade do juiz, do
juiz natural etc.

O processo há de ser o devido, ou seja, o adequado à espécie, o apto a tutelar o interesse


discutido em juízo e resolver com justiça o conflito. Tendo ele que obedecer a prescrição legal,
e principalmente necessitando atender a Constituição.

Observação: Quanto aos provimentos antecipatórios vem á tona uma discussão, pois estes
provimentos se tornam imperativos, perante a exigência constitucional da efetividade do
processo. Há situações de periclitância e de verossimilhança que clamam por um provimento
imediato do Estado, sob pena de agravar o dano ou torná-lo irreversível ou irreparáveis, daí a
necessidade dos ditos provimentos.

Princípio da presunção de inocência - revela-se no fato de que ninguém pode ser considerado
culpado senão após o trânsito em julgado de uma sentença condenatória (conforme art. 5º,
inciso LVII, CF/88).

Observação: mesmo respondendo a inquérito policial ou processo judicial, e neste sendo


condenado, o cidadão não pode ser considerado culpado, antes do trânsito em julgado da
sentença penal condenatória. O tratamento dispensado ao acusado deve ser digno e
respeitoso, evitando-se estigmatizações.

Cabe à acusação o ônus da prova de culpabilidade, ou seja, a prova com relação a existência do
fato e a sua autoria, ao passo que à defesa incumbe a prova das excludentes de ilicitude e de

culpabilidade, acaso alegadas.

Em caso de dúvida, decide-se pela não culpabilidade do acusado, com a fundamentação legal
no princípio do in dubio pro reo.
Ratificando a excepcionalidade das medidas cautelares, devendo, por conseguinte, toda prisão
processual estar fundada em dois requisitos gerais, o periculum libertatis e o fumus comissi
delicti.

Por fim, restou consagrado no art. 5º, LXIII, da CF/88 que ninguém é obrigado a fazer prova
contra si, consagrando, assim, o direito ao silêncio e a não auto incriminação. O silêncio não
poderá acarretar repercussão positiva na apuração da responsabilidade penal, nem poderá
acautelar presunção de veracidade dos fatos sobre os quais o acusado calou-se, bem como o
imputado não pode ser obrigado a produzir prova contra si mesmo.

Princípio da legalidade da prisão – A CF pigor prevê um sistema de proteção ás liberdades,


colecionando várias medidas judiciais e garantias processuais no viso de assegurá-las.

O art. 5º da Constituição Federal assegura no inciso LXI que “Ninguém será preso senão em
flagrante delito, ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade competente…”; e o
inciso LXV, traz que “a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade judiciária; o
inciso LXVI, estabelece que ninguém será levado à prisão ou nela mantido quando a lei admitir
a liberdade provisória, com ou sem o pagamento de fiança;

Ainda, o inciso LXVII, afirma que não haverá prisão civil por dívida, exceto a do responsável
pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário
infiel; o inciso LXVIII, prescreve que conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou
julgar-se ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por
ilegalidade ou abuso de poder; e também prescreve o inciso LXXV, que o Estado indenizará
toda a pessoa condenada por erro judiciário, bem como aquela que ficar presa além do tempo
fixado na sentença.
NULIDADES NO PROCESSO PENAL

As nulidades absolutas no processo penal são vícios que comprometem os atos processuais de
maneira tão grave que afetam diretamente a validade do processo, em razão da violação de
normas de ordem pública e princípios fundamentais, como o devido processo legal, a ampla
defesa, o contraditório e a imparcialidade do juiz. Esses vícios não podem ser convalidados, ou
seja, não podem ser corrigidos ao longo do processo.

Características das nulidades absolutas

1. Infringência de normas constitucionais ou princípios fundamentais: As nulidades absolutas


derivam da violação de normas que tutelam direitos de ampla relevância para o ordenamento
jurídico, geralmente de caráter constitucional.

2. Reconhecimento ex officio: O juiz pode (e deve) declarar a nulidade absoluta, ainda que a
parte interessada não tenha se manifestado. Isso ocorre porque o interesse afetado não é
apenas individual, mas também de ordem pública.

3. Independe de prejuízo concreto: Ao contrário das nulidades relativas, as nulidades absolutas


não necessitam da demonstração de prejuízo para serem reconhecidas. O vício é considerado
tão grave que se presume o dano ao processo.

4. Inaplicabilidade de preclusão: As nulidades absolutas podem ser alegadas a qualquer


momento, inclusive após o trânsito em julgado, por meio da revisão criminal. Não há perda do
direito de alegá-las, mesmo que o processo tenha avançado.

Exemplos de nulidades absolutas

1. Incompetência absoluta do juízo: Quando o processo penal é conduzido por um juiz que não
tem competência material ou territorial para julgar a causa, estamos diante de uma nulidade
absoluta. Um exemplo seria um crime de competência da Justiça Federal sendo julgado pela
Justiça Estadual. Nesses casos, os atos processuais são nulos, e a competência deve ser
regularizada, com a redistribuição do processo para o juízo competente.

2. Falta de defesa ou defesa meramente formal: A ausência de defesa técnica ou a atuação


meramente formal e ineficaz do advogado constituem nulidade absoluta, pois ferem os
princípios do contraditório e da ampla defesa. Por exemplo, se um réu é citado para
apresentar defesa e, por alguma razão, seu defensor nomeado não apresenta nenhuma
resposta, essa omissão é grave o suficiente para anular o processo desde o início, pois há uma
afronta ao direito constitucional à defesa.

3. Ofensa à imparcialidade do juiz: Se o juiz que conduz o processo tiver interesse pessoal ou
demonstrar parcialidade na condução dos atos processuais, isso caracteriza nulidade absoluta.
Um exemplo seria o juiz que mantém relações próximas com uma das partes ou que antecipa
julgamentos, manifestando publicamente sua opinião sobre a culpa do acusado antes do
término do processo. Essa falta de imparcialidade compromete a credibilidade da justiça e
viola o devido processo legal.
4. Violação do princípio da publicidade dos atos processuais: Em regra, os atos processuais
devem ser públicos, a fim de garantir transparência e controle social sobre as atividades
jurisdicionais. Quando ocorre a realização de uma audiência ou de um julgamento de maneira
secreta, sem justificativa legal que determine o sigilo, estamos diante de uma nulidade
absoluta. Por exemplo, se um tribunal decide julgar um réu a portas fechadas, sem nenhuma
razão legal, isso seria considerado uma violação ao princípio da publicidade, ensejando a
nulidade dos atos praticados.

5. Provas obtidas por meios ilícitos: A produção de provas por meios ilícitos, como confissões
obtidas sob tortura ou interceptações telefônicas sem autorização judicial, é um exemplo
clássico de nulidade absoluta.

Essas provas são consideradas inadmissíveis no processo penal e devem ser desentranhadas
dos autos. Por exemplo, se uma confissão foi obtida através de coação física ou moral, todo o
processo pode ser anulado, já que a utilização de provas ilícitas fere diretamente o princípio da
legalidade e o direito à dignidade humana.

Conclusão

As nulidades absolutas têm como fundamento a preservação dos direitos e garantias


fundamentais do acusado e a observância estrita das normas processuais penais, que buscam
garantir um julgamento justo e imparcial. São vícios que afetam não apenas os interesses das
partes envolvidas, mas também o interesse público, já que o processo penal, além de buscar a
punição de crimes, deve sempre respeitar os direitos do indivíduo, garantindo que as normas
constitucionais e legais sejam observadas ao longo do procedimento.

As nulidades relativas no processo penal são vícios processuais que, embora irregulares, não
comprometem automaticamente a validade do ato processual. Para que uma nulidade relativa
seja reconhecida, é necessário que a parte interessada demonstre a ocorrência de um prejuízo
concreto ao exercício de seus direitos, como a ampla defesa e o contraditório. Esses vícios
estão relacionados a infrações a regras processuais que não envolvem diretamente normas de
ordem pública ou princípios constitucionais essenciais, e podem ser convalidados caso não
sejam oportunamente alegados.

Diferente das nulidades absolutas, as nulidades relativas estão sujeitas ao regime de preclusão,
o que significa que devem ser alegadas no momento adequado, sob pena de a parte perder o
direito de invocá-las. Se a parte não reclamar a nulidade dentro do prazo legal, o defeito será
considerado sanado.

Características das nulidades relativas

1. Prejuízo demonstrável: Para que a nulidade relativa seja reconhecida, é imprescindível que a
parte demonstre que o vício processual causou um prejuízo concreto ao seu direito de defesa
ou à regularidade do processo. Se não houver prejuízo, a nulidade não será declarada.

2. Necessidade de provocação: A nulidade relativa não pode ser reconhecida de ofício pelo
juiz. A parte prejudicada deve alegá-la no momento oportuno, geralmente na primeira
oportunidade que tiver para se manifestar após a ocorrência do vício.

3. Possibilidade de convalidação: Se a parte não alegar a nulidade no momento processual


adequado, ou se não demonstrar o prejuízo sofrido, o ato irregular será convalidado, ou seja, o
vício será considerado sanado, e o processo prosseguirá normalmente.
4. Sujeita à preclusão: A nulidade relativa deve ser alegada no prazo legal, sob pena de
preclusão. Isso significa que, uma vez ultrapassado o momento adequado para alegar o vício, a
parte perde o direito de invocá-lo.

Exemplos de nulidades relativas

1. Citação com erro de formalidade: A citação é o ato processual que comunica ao réu a
existência de uma ação penal contra ele, para que possa se defender. Se a citação é feita com
algum erro formal, como, por exemplo, a ausência de alguma informação relevante no
mandado de citação, isso configura uma nulidade relativa. Contudo, para que o ato seja
anulado, o réu deve demonstrar que esse erro comprometeu seu direito de defesa, como a
impossibilidade de comparecer à audiência em razão da falha de comunicação.

Se, mesmo com a falha formal, o réu tomou ciência do processo e pôde se defender
adequadamente, o ato não será anulado.

2. Inobservância de regras para intimação: A intimação de atos processuais deve seguir um


procedimento formal para garantir que as partes tenham conhecimento das decisões e
possam atuar no processo. Se, por exemplo, o réu não foi intimado corretamente de uma
decisão, mas ficou ciente de maneira informal ou compareceu às audiências subsequentes,
essa falha poderá ser considerada uma nulidade relativa. O réu deve, então, demonstrar que a
ausência de intimação formal prejudicou sua defesa ou o impediu de tomar alguma
providência necessária.

3. Erro na formulação de perguntas durante interrogatório: Em um interrogatório, as


perguntas feitas ao réu devem seguir certas formalidades processuais. Se houver erro na
formulação dessas perguntas, como o juiz permitir que a acusação formule questões
tendenciosas ou capciosas, pode-se arguir a nulidade relativa. No entanto, a parte deve
demonstrar que o erro comprometeu a defesa ou influenciou a percepção dos fatos. Se o erro
não tiver causado prejuízo à defesa, o ato será convalidado.

4. Inversão da ordem de inquirição de testemunhas: A inquirição de testemunhas deve seguir


uma ordem específica, conforme prevê a legislação processual penal. Em regra, as
testemunhas de acusação são ouvidas primeiro, seguidas pelas de defesa. Se essa ordem for
invertida sem justificativa, isso pode configurar uma nulidade relativa. Contudo, é necessário
que a parte demonstre o prejuízo causado por essa inversão, como o comprometimento da
estratégia de defesa. Caso não haja demonstração de prejuízo, a inversão da ordem não será
suficiente para anular o ato.

5. Irregularidade na nomeação de perito: Nos casos em que o processo exige a produção de


provas periciais, o perito nomeado deve ter a qualificação exigida pela lei. Se um perito não
qualificado for nomeado, isso pode gerar nulidade relativa. No entanto, a parte que alega a
nulidade precisa demonstrar que a falta de qualificação técnica do perito afetou o resultado da
perícia de forma a prejudicar a sua defesa. Se o perito conduziu a perícia corretamente e o
laudo foi adequado, o vício será convalidado.
Conclusão

As nulidades relativas no processo penal são vícios que, embora não sejam considerados tão
graves quanto as nulidades absolutas, podem comprometer a regularidade do processo se
causarem prejuízo concreto às partes. A principal diferença em relação às nulidades absolutas
é a necessidade de a parte interessada alegá-las no momento oportuno e demonstrar o
prejuízo sofrido. Se a parte não o fizer, o ato processual, ainda que tenha ocorrido de forma
irregular, será convalidado e não poderá ser anulado. Portanto, a correta compreensão das
nulidades relativas é fundamental para que o processo penal se desenrole com respeito às
garantias processuais e aos direitos fundamentais das partes.

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