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TCC - Marina Santana Da Silva

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS


DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL
CURSO DE GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL

MARINA SANTANA DA SILVA

VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA MULHERES EM PERNAMBUCO NA


PANDEMIA DA COVID-19: debate, realidade e enfrentamento

RECIFE
2023
MARINA SANTANA DA SILVA

VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA MULHERES EM PERNAMBUCO NA


PANDEMIA DA COVID-19: debate, realidade e enfrentamento

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao Curso de Serviço Social
da Universidade Federal de Pernambuco,
como requisito parcial para obtenção do
título de Bacharel em Serviço Social.

Orientador (a): Profa. Dra. Delâine Cavalcanti Santana de Melo.

RECIFE
2023
Ficha de identificação da obra elaborada pelo autor,
através do programa de geração automática do SIB/UFPE

Silva, Marina Santana da.


Violência doméstica contra mulheres em Pernambuco na pandemia da
covid-19: debate, realidade e enfrentamento / Marina Santana da Silva. -
Recife, 2023.
58, tab.

Orientador(a): Delâine Cavalcanti Santana de Melo


Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) - Universidade Federal de
Pernambuco, Centro de Ciências Sociais Aplicadas, Serviço Social -
Bacharelado, 2023.

1. Violência contra mulheres. 2. Violência doméstica. 3. Pandemia da


covid-19. I. Melo, Delâine Cavalcanti Santana de . (Orientação). II. Título.

360 CDD (22.ed.)


MARINA SANTANA DA SILVA

VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA MULHERES EM PERNAMBUCO NA


PANDEMIA DA COVID-19: debate, realidade e enfrentamento

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao Curso de Serviço Social
da Universidade Federal de Pernambuco,
como requisito parcial para obtenção do
título de Bacharel em Serviço Social.

Aprovado em: 08/05/2023

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________

Profa. Dra. Delâine Cavalcanti Santana de Melo (Orientadora)


Universidade Federal de Pernambuco

____________________________________________

Profa. Dra. Raquel Cavalcante Soares (Examinadora Interna)


Universidade Federal de Pernambuco
AGRADECIMENTOS

O momento dos agradecimentos é uma das principais formas de externar os


sentimentos de gratidão por todas as pessoas que nos auxiliam durante vários
momentos importantes da nossa vida e o final do curso de graduação é um deles.
Entretanto, nunca imaginei em minha vida estar vivenciando um momento tão único,
singular e indescritível de maneira tão particular, pois é um mix de emoções do qual
nem cogitei vivenciar. Hoje, sinto alegria por ter conseguido concluir o curso que
escolhi com muita convicção, já sentindo saudades da rotina de estudos e dos
momentos vivenciados com os docentes.
Assim, agradeço a Deus por me permitir nascer, viver, por estar sempre ao
meu lado nos melhores e piores momentos, pelo fortalecimento emocional e
espiritual, pela sua fidelidade comigo mesmo diante das minhas inúmeras falhas.
Agradeço a Ele por ter me ajudado nos momentos onde pensei que não iria
conseguir, por nunca me deixar sozinha, sendo o meu melhor amigo, pelo consolo
nos momentos mais tensos da minha trajetória acadêmica.
Agradeço a mim mesma pelo esforço, empenho, dedicação, força em ter
chegado até aqui com muito louvor e por nunca ter desistido de mim, mesmo
sabendo das minhas limitações, falhas e imperfeições.
A minha mãe, Iracema Guiomar, por cuidar de mim desde o meu nascimento
cujo momento trouxe muitas demandas, pelo estímulo contínuo em todas as áreas
da minha vida, cuidado constante da minha saúde e pelo seu amor incondicional.
Por isso, saiba que essa conquista não é apenas minha, ela é sua!!! Agradeço pelos
auxílios dados a mim durante esses anos de formação profissional, pela tolerância
com as minhas ausências constantes, pelo apoio total nos momentos mais críticos e
pelas alegrias nos melhores momentos. Hoje te digo, com toda certeza, as linhas
escritas desse trabalho jamais conseguirão definir o que sinto pela senhora, mas o
que posso dizer é: te amo muito Mãe.
A professora Dra. Delâine Melo, pelo aceite do convite de orientação,
dedicação, esforço, paciência, críticas, sugestões, ajustes necessários e
compartilhamento do conhecimento. A professora Dra. Raquel Soares, pela vivência
nas atividades da Iniciação Científica, pela confiança dada a mim, onde pude ver a
sua dedicação e empenho, além de ter aceitado o convite para avaliar este trabalho.
A professora Dra. Roberta Uchôa, a qual tive a honra de vivenciar a monitoria
na disciplina de Serviço Social I, agradeço por compartilhar todo o conhecimento da
profissão com dedicação, pelas conversas francas, críticas construtivas precisas,
sugestões e paciência. Além de abrir as portas para mim com muita confiança,
apesar da saudade que sinto, você me ensinou uma grande lição, a qual já levo para
a minha vida: a felicidade é para quem tem coragem.
A Dr. Carlos Frederico Lima, médico neurologista do Hospital Universitário
Oswaldo Cruz (HUOC), pela dedicação e esforço em conceder o documento tão
crucial para a minha entrada na universidade em tempo hábil e tão curto. Agradeço
por todo acolhimento dado a mim nas consultas de forma leve, pelas perguntas
feitas sobre como eu estava na faculdade. Tal conquista vivenciada por mim hoje
não seria viável sem a sua ajuda, espero acolher as pessoas com a mesma leveza
que vejo no seu consultório: Gratidão, Doutor!
A Mirella Santana, minha querida irmã, por dar para mim a ajuda incondicional
nas pesquisas dos primeiros artigos científicos e no auxílio de algumas atividades,
onde tive dificuldades para fazê-las. Agradeço por você ser a minha irmã quase
gêmea, além de me motivar com um jeito peculiar, me apoiar e ser tão extrovertida,
apesar de sermos tão diferentes isso é o que nos torna únicas.
Thiago Oliveira, meu cunhado, agradeço pela sua alegria e por toda ajuda na
atividade de uma das disciplinas cursadas durante o primeiro ano da pandemia em
meio as aulas do ensino remoto emergencial. A Cláudia Yanna, amiga que a vida me
deu no momento tão crucial para a minha formação, onde vi a gentileza em um
gesto tão simples e, ao mesmo tempo, pude ver o valor da amizade.
Aos professores Dr. Adilson Aquino e Dra. Soraia de Carvalho pelos auxílios
dados nos momentos mais críticos durante o curso. A professora Dra. Flávia
Clemente, pela orientação dada na elaboração do projeto de monografia que
resultou na realização da escrita deste trabalho. Aos demais docentes do curso de
Serviço Social e de outros cursos pelo compartilhamento do conhecimento durante
as aulas das disciplinas ministradas a cada semestre.
As assistentes sociais da Pró-Reitoria para Assuntos Estudantis (PROAES)
da UFPE, Macelani Renata e Roberta Campelo, pelo acolhimento e supervisão dada
no Estágio Curricular Obrigatório. A Universidade Federal de Pernambuco por me
proporcionar as condições necessárias para a minha formação profissional com o
ensino gratuito e de qualidade.
RESUMO

O presente Trabalho de Conclusão de Curso, tem como tema o aumento dos índices
de violência doméstica contra mulheres, uma expressão da questão social, no
contexto pandêmico, sobretudo a partir da análise de dados referentes ao estado de
Pernambuco. Discute-se que a medida sanitária de distanciamento social – a qual,
entre outros fatores, rebateu na menor comunicação e circulação das mulheres em
ambientes externos, permanência quase que ininterrupta e solitária com o potencial
agressor favoreceu o aumento dos casos de violência doméstica. O objetivo geral do
estudo foi identificar nexos causais entre o distanciamento social e o aumento dos
casos de violência doméstica no estado de Pernambuco. Quanto aos objetivos
específicos da pesquisa foram definidos os seguintes: debater sobre a violência
contra a mulher com enfoque no contexto pandêmico, como fenômeno presente na
sociedade capitalista e uma das várias expressões da questão social; identificar
ações de enfrentamento à violência contra a mulher no estado de Pernambuco
durante a pandemia. Metodologicamente, tomamos por base o método materialista
histórico dialético de Marx, a fim de desvelar as determinações sociais da violência
doméstica. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, com uso dos procedimentos de
levantamento bibliográfico e da pesquisa documental. Os resultados, com base nos
dados analisados, apontaram o aumento dos casos de violência doméstica contra
mulheres, feminicídios e transfeminicídios em Pernambuco no contexto pandêmico.
Os dados levantados evidenciam que a maioria dos casos de violências foram
praticados contra vítimas do sexo feminino, entre 20 e 29 anos, pardas, com ensino
fundamental incompleto. Em relação a mulheres com deficiência, as mais
vitimizadas são as que possuem deficiência física. Foram identificadas medidas de
enfrentamento nos âmbitos dos governos municipal e estadual. Outrossim, o Serviço
Social atuou no atendimento a mulheres em situação de violências na pandemia.

Palavras-chave: Violência contra mulheres; Violência doméstica; Pandemia da


covid-19.
ABSTRACT

This Course Completion Work has as its theme the increase in the rates of domestic
violence against women, an expression of the social issue, in the pandemic context,
especially from the analysis of data referring to the state of Pernambuco. It is argued
that the sanitary measure of social distancing – which, among other factors, reflected
in the lower communication and circulation of women in external environments,
almost uninterrupted and solitary stay with the potential aggressor, favored the
increase in cases of domestic violence. The general objective of the study was to
identify causal links between social distancing and the increase in cases of domestic
violence in the state of Pernambuco. As for the specific objectives of the research,
the following were defined: to discuss violence against women with a focus on the
pandemic context, as a phenomenon present in capitalist society and one of the
various expressions of the social question; identify actions to combat violence
against women in the state of Pernambuco during the pandemic. Methodologically,
we take Marx's historical dialectical materialist method as a basis, in order to unveil
the social determinations of domestic violence. This is a qualitative research, using
bibliographic survey procedures and documentary research. The results, based on
the analyzed data, pointed to an increase in cases of domestic violence against
women, feminicides and transfeminicides in Pernambuco in the pandemic context.
The data collected show that most cases of violence were committed against female
victims, between 20 and 29 years old, brown, with incomplete primary education. In
relation to women with disabilities, the most victimized are those with physical
disabilities. Coping measures were identified at the municipal and state government
levels. Furthermore, the Social Service acted to assist women in situations of
violence during the pandemic.

Keywords: Violence against women; Domestic violence; Covid-19 pandemic.


LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Número de denúncias e violações contra grupos vulneráveis no estado


de Pernambuco em 2020 27
Tabela 2 – Notificações de violência interpessoal/autoprovocada por tipologia em
Pernambuco 28
Tabela 3 – Local de ocorrência dos casos de violência interpessoal/autoprovocada
em Pernambuco 28
Tabela 4 – Notificações de violência interpessoal/autoprovocada por sexo em
Pernambuco 29
Tabela 5 – Cor das vítimas de violências do sexo feminino em Pernambuco 30
Tabela 6 – Violência interpessoal/autoprovocada por faixa etária em Pernambuco 30
Tabela 7 – Grau de instrução das mulheres vítimas de violências 31
Tabela 8 – Faixa de renda das vítimas do sexo feminino em Pernambuco por ano 32
Tabela 9 – Número de violações cometidas na relação do suspeito com a vítima do
sexo feminino no contexto pandêmico em Pernambuco 33
Tabela 10 – Número de violações cometidas contra mulheres com deficiência no
estado de Pernambuco 34
Tabela 11 – Número de crimes cometidos contra mulheres no estado em 2020 35
Tabela 12 – Feminicídios e transfeminícidios registrados em Pernambuco 36
Tabela 13 – Faixa etária das mulheres vítimas de feminicídio no estado em 2021 36
Tabela 14 – Tipos de violências praticadas contra mulheres em 2021 no estado 37
Tabela 15 – Número de atendimentos realizados pela Rede de Proteção no estado
de Pernambuco 40
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CRAS Centro de Referência de Assistência Social


CREAS Centro de Referência Especializado de Assistência Social
DEAM Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher
FMPM Fundo Municipal de Política para a Mulher
IML Instituto Médico Legal
MDHC Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania
NASF-AB Núcleo de Atenção à Saúde da Família e Atenção Básica
OMS Organização Mundial da Saúde
ONDH Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos
PNPM Plano Nacional de Política para as Mulheres
PPV Pacto Pela Vida
RAPS Rede de Atenção Psicossocial
SCFV Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos Familiares
SDS/PE Secretaria de Defesa Social do estado de Pernambuco
SINAN Sistema de Informação de Agravos e Notificação
SUS Sistema Único de Saúde
UPA Unidade de Pronto Atendimento
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 12
2 VIOLÊNCIA CONTRA MULHERES: ELEMENTOS PARA O DEBATE 15
2.1 VIOLÊNCIA CONTRA MULHERES NA SOCIABILIDADE BURGUESA 15
2.2 TIPOLOGIAS DE VIOLÊNCIA CONTRA MULHERES 21
3 ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA MULHERES EM
PERNAMBUCO NO CONTEXTO PANDÊMICO 25
3.1 PANDEMIA E VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA MULHERES 25
3.2 PANDEMIA DA COVID-19 E ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA
DOMÉSTICA CONTRA MULHERES EM PERNAMBUCO 37
3.3 SERVIÇO SOCIAL NO ATENDIMENTO À MULHERES EM SITUAÇÃO
DE VIOLÊNCIAS: PRÁTICA PROFISSIONAL E PRODUÇÃO CIENTÍFICA 41
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS 48
5 REFERÊNCIAS 50
12

1 INTRODUÇÃO
O Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) objetiva debater sobre as violências
praticadas contra mulheres no estado de Pernambuco no contexto da pandemia da
covid-19. As violências contra as mulheres são consideradas uma violação dos
direitos humanos, além de serem uma das várias expressões da questão social. A
questão social é o principal objeto de trabalho da/do assistente social, profissional
cuja atuação é ancorada, conforme o Código de Ética Profissional e o projeto
ético-político da profissão, na defesa intransigente de direitos. Conceituada por
Iamamoto (2015) como a expressão das desigualdades inerentes ao processo
acumulativo e dos efeitos produzidos por ele e manifesta em múltiplas expressões,
entre as quais as violências.
Nossa aproximação com a temática aconteceu no percurso formativo da
graduação, sobretudo a partir de estudos realizados nas disciplinas de Introdução ao
Serviço Social e Saúde, gênero e violência, as quais permitiram um aprofundamento
maior sobre as violências. Além dos estudos, o aprofundamento do conhecimento
sobre o tema central se deu mediante participação em eventos, palestras e cursos
de formação complementar. Para mais, a realização do Estágio Curricular
Obrigatório, permitiu-nos o conhecimento de casos de violências contra mulheres
relatados no cotidiano profissional.
Mota e Augusto (2021) pontuam que a violência contra a mulher é um
fenômeno mundial, salientando seu efeito danoso sobre uma parcela significativa da
população. Para as autoras, o fenômeno demanda atenção do poder público e da
sociedade civil devido às consequências e aos impactos causados na vida e na
saúde das mulheres e, muitas vezes, de crianças e adolescentes.
Marques et al. (2020) abordam o aumento dos casos de violências no
contexto pandêmico, citam a preocupação de pesquisadores/as, organizações
internacionais e governamentais, destacada nas mídias. O lar, segundo os autores,
acabou se tornando um lugar de abuso e de medo gerando fatores que contribuíram
na vulnerabilidade das mulheres as situações de violências, onde:
[...] as medidas emergenciais necessárias para lutar contra a COVID-19
aumentaram o trabalho doméstico e o cuidado com crianças, idosos e
familiares doentes. Restrições de movimento, limitações financeiras e
insegurança generalizada também encorajam os abusadores, dando-lhes
poder e controle adicionais. [...] No âmbito relacional, o tempo de
convivência com o agressor é crucial. Ademais, ao se reduzir o contato
social da vítima com amigos e familiares, reduzem-se as possibilidades de a
13

mulher criar e/ou fortalecer uma rede social de apoio, buscar ajuda e sair da
situação de violência (MARQUES ET AL, 2020, p. 02).
O distanciamento social, necessário como medida sanitária de contenção do
coronavírus, gerou a restrição de movimento, diminuição da renda, desemprego,
insegurança atrelada ao medo da morte iminente, redução da rede de apoio das
mulheres e estresse, potencializando fatores desencadeadores de violências. Em
Pernambuco, como será apresentado no trabalho, os índices de violência contra
mulheres cresceram, apesar da estimativa de que persistiram os problemas de
subnotificação e de denúncias não protocoladas no período. O isolamento social foi
a estratégia utilizada para combater a doença, mas produziu rebatimentos na vida
das mulheres. O tempo ininterrupto de convívio das mulheres com as/os
agressoras/es, elevaram as dimensões das violências sofridas pelas mulheres na
pandemia, inclusive do feminicídio, sendo necessário intervenção do governo
estadual na elaboração de ações emergenciais para seu enfrentamento.
O trabalho teve como objetivo geral identificar nexos causais entre o
distanciamento social e o aumento dos casos de violência doméstica no estado de
Pernambuco. Quanto aos objetivos específicos, foram definidos os seguintes:
debater sobre a violência contra a mulher com enfoque no contexto pandêmico,
como fenômeno presente na sociedade capitalista e uma das várias expressões da
questão social; identificar ações de enfrentamento à violência contra a mulher no
estado de Pernambuco durante a pandemia.
Metodologicamente, o estudo tomou por base o método materialista histórico
dialético de Marx, cuja característica é considerar a aparência do fenômeno,
conhecendo o objeto em sua essência a partir de análises críticas sucessivas do real
(NETTO, 2011). Dessa forma, foi realizada a pesquisa qualitativa que está centrada
no universo dos significados, motivações, crenças, aspirações, valores e atitudes,
sem necessitar do apoio de dados estatísticos (MINAYO, 2009; TRIVIÑOS, 1987).
Quanto aos procedimentos metodológicos foram realizados o levantamento
bibliográfico: pesquisa em textos, livros e trabalhos acadêmicos que tratam da
temática central, com destaque de autoras/es do Serviço Social, Ciência Sociais,
Filosofia e Psicologia.
A pesquisa documental, definiu como corpus os seguintes documentos: Lei
11.340/2006; Lei 14.022/2020; Leis municipais da Cidade do Recife: Lei
18.690/2020; Decreto nº 34.408/2021 e a Lei nº 18.815/2021. Foram utilizados 01
documento da Secretaria da Mulher de Pernambuco, intitulado Anuário Biênio
14

2021/2022 publicado em 2022; 02 documentos da Secretaria de Políticas Públicas


para as Mulheres dos governos Lula e Dilma, sendo a Política Nacional de
Enfrentamento à Violência contra as Mulheres e outro é Rede de Enfrentamento à
Violência contra as mulheres, ambos publicados em 2011 e 01 Dossiê do Fórum de
Mulheres de Pernambuco publicado em 2022. Além dos documentos, foi realizada a
sistematização de dados secundários a partir de 02 notícias de jornais publicadas
em sítio eletrônico; 01 livro eletrônico e consultas nos sistemas de dados do site do
Sistema Informação de Agravos de Notificação (SINAN) e da Ouvidoria Nacional dos
Direitos Humanos (ONDH) vinculada ao Ministério dos Direitos Humanos e da
Cidadania.
O trabalho está organizado em dois capítulos, além da Introdução e das
Considerações Finais. O primeiro capítulo aborda as violências contra mulheres, a
tipologia desse crime e seus elementos conceituais; articula o debate com a
interseccionalidade - relação sexo-gênero, classe, “raça” - divisão sexual e racial do
trabalho, além das relações sociais de sexo, conceito em que se ancora a discussão
hegemônica no campo do Serviço Social. O segundo capítulo trata da violência
doméstica contra as mulheres no contexto pandêmico, a realidade e seu
enfrentamento em Pernambuco. O capítulo apresenta três tópicos e discute a
relação entre a pandemia e a violência doméstica; versa acerca da rede de proteção
às mulheres em Pernambuco e as medidas de enfrentamento realizadas pelas
gestões governamentais estadual e municipal. O último tópico do capítulo apresenta
particularidades da prática do Serviço Social no atendimento a mulheres em
situação de violências em espaços socio-ocupacionais diversos da rede de serviços
ofertados.
15

2 VIOLÊNCIA CONTRA MULHERES: ELEMENTOS PARA O DEBATE


O capítulo objetiva apresentar elementos do debate sobre violências como
determinação inerente ao modo de produção capitalista, portanto expressão da
questão social, e suas particularidades sobre a existência de sujeitos específicos,
como as mulheres.
Abordaremos o fenômeno das violências considerando a interseccionalidade de
sexo-gênero, classe e “raça1”, além do debate teórico sobre a divisão social e racial
do trabalho e as relações sociais de sexo. Apresentaremos, também, com base na
tipificação da Lei 11.340/2006 - Lei Maria da Penha -, os tipos de violência
praticados contra as mulheres que são a violência psicológica, física, moral, sexual e
patrimonial.

2.1 Violência contra Mulheres na Sociabilidade Burguesa


A sociabilidade burguesa constitui-se na organização social capitalista como
sistema de produção e reprodução do capital, mas também de um modo de ser,
viver e pensar (IAMAMOTO; CARVALHO, 2006); tal ordem é eminentemente
fundada na opressão e na exploração da classe trabalhadora. A reprodução das
relações sociais na sociedade burguesa, conforme Iamamoto (2015), não está
reduzida ao processo produtivo que se estabelece pela compra e venda da força de
trabalho, gerando a mais-valia. É nesse bojo marcado pela opressão e exploração
que as desigualdades surgem e se manifestam de várias formas e, com base na
teoria social crítica, passou a ser compreendida e conceituada como questão social.
A gênese da questão social deriva-se da natureza coletiva da produção a partir
da apropriação privada do trabalho, das suas condições e dos frutos produzidos por
ele (IAMAMOTO, 2015). Para a autora, a questão social é determinação
indissociável da sociedade capitalista e das configurações trabalhistas assumidas
pelo Estado com o capital monopolista, sendo o conjunto das desigualdades e das
lutas sociais, produzidas e reproduzidas a partir do movimento contraditório das
relações sociais. Desse modo, várias expressões da questão social “[...] integram
tanto determinantes históricos objetivos que condicionam a vida dos indivíduos [...],

1
O uso das aspas na escrita dessa palavra, segundo Munanga (2010), se justifica pela ausência da tranquilidade
no uso científico do termo, Kergoat (2010) argumenta acerca dessa utilização ao considerá-la uma categoria
socialmente construída. Para a autora, tal construção é resultante de discriminação e de produção ideológica,
pois a palavra possui uma carga social e histórica, esta solução não é convincente, pois os debates em torno
dessa questão não conseguiram estabelecer uma alternativa teórica e ideologicamente consensual.
16

quanto dimensões subjetivas, fruto das ações dos sujeitos na construção da história”
(IAMAMOTO, 2015, p. 156). Nesse sentido, a autora afirma que a questão social se
expressa na sociedade por meio das desigualdades econômicas, políticas, culturais
entre as classes, com mediações disparadas das relações de gênero; não se trata
apenas da distinção existente entre quem é rico ou pobre, mas assume o caráter de
classe que constitui as relações sociais; argumenta, ainda, que as várias expressões
da questão social possuírem características étnico-raciais e formações regionais
(IAMAMOTO, 2015). Corrobora Cisne e Santos (2018, p. 99) ao afirmarem que a
questão social tem “[...] a consolidação da sociedade de classes e se acirram as
contradições, explorações, conflitos, resistências, lutas e antagonismos de classe”.
Considerando essa teorização, é possível afirmar que as expressões da questão
social no Brasil apresentam particularidades muito ligadas ao racismo e ao
patriarcado, sendo estes sistemas estruturantes de nossa formação sócio-histórica.
A dinâmica capitalista na formação do Brasil imprimiu essas particularidades com
base na exploração patriarcal escravista, que, segundo Cisne e Santos (2018),
possui implicações culturais, políticas e sociais. A dominação patriarcal “[...]
consolida o poder de mando ao patriarca, a quem se devota pessoalmente uma
cultura de obediência e submissão que está para além das leis e normas abstratas e
impessoais do Estado” (CISNE; SANTOS, 2018, p. 100). Com isso, é importante
destacar o fato de a dominação patriarcal na sociedade capitalista ter contribuído
para a dominação e submissão das mulheres no âmbito privado, utilizando a
violência como um dos mecanismos de poder.
As violências são mundiais, multifacetadas, de complexa conceituação e
carregadas de polissemia, apesar de ter aparente neutralidade. Costuma envolver
conflitos de autoridade, lutas de poder, vontade de dominar, posse e aniquilamento,
segundo Minayo (2006). O conceito da violência é controverso e a justificativa se dá
com a “[...] cautela ao tratar da violência, ´[...] pois não existe “a” violência, mas
muitas, diversas, postas em distintas funções [...]” (MISSE, 2008 apud JUBÉ;
CAVALCANTE; CASTRO, 2016, p. 02). Para a maioria das teorizações feministas, a
violência contra as mulheres é entendida como violência de gênero; há posições que
ressaltam a base patriarcal e, no campo do Serviço Social, as relações sociais de
sexo como veremos mais adiante.
Melo (2007) afirma que as violências podem ser classificadas como estrutural,
econômica, social, religiosa, institucional, policial, podendo atingir pessoas ou
17

grupos. Portella (2005) argumenta sobre a necessidade de reconhecer os novos


processos em torno da violência enquanto fenômeno social, cultural e político. A
violência é o conjunto de “[...] ações humanas de indivíduos, grupos, classes e
nações que ocasionam a morte de outros seres humanos ou que afetam sua
integridade física, moral, mental ou espiritual” (MINAYO; SOUZA, 1998, p. 514). Para
Minayo (2006) a violência não é múltipla, costuma envolver noções de
constrangimento e o uso da superioridade física sobre o outro. Minayo (2006)
argumenta acerca das manifestações da violência, as quais podem ser aprovadas
ou desaprovadas, lícitas ou ilícitas, seguindo normas sociais que se mantém por
meio de usos, costumes ou por aparatos legais.
As violências contra as mulheres, também, possuem tal complexidade, segundo
Teles e Melo (2012) é pouco comovente e muito banalizada, além de ser um
fenômeno antigo, silenciado e desvendado há menos de 20 anos. Araújo e outros
autores (2019) consideram essas violências um fenômeno social, multicausal, tendo
formas distintas, o qual ocorre nas relações de poder, causando várias implicações
da violação da cidadania e dos direitos humanos. Barroso (2017) assim aborda a
questão referente a manifestação das violências contra mulheres:
Essa violência se manifesta no controle do corpo feminino e das mulheres, e
tem como alicerce o patriarcado, sistema de opressão e dominação
fundamentado na desigualdade, no privilégio e na discriminação, através da
persistência de valores, normas e leis. Este sistema de opressão das
mulheres, por sua vez, tem como tese a existência de uma inferioridade
natural das mulheres. É, pois, esse sistema que determina a violência
contra a mulher (BARROSO, 2017, p. 89).
A manifestação dessas violências, conforme a citação da autora, acontece
mediante a dominação do corpo alicerçada pelo patriarcado, cujo sistema opressivo
e dominador tem como fundamento principal a desigualdade de gênero. Cisne
(2015) entende o patriarcado como um sistema de opressão, apropriação e
expropriação sobre as mulheres que está fundido ao capitalismo e ao racismo,
presente nas relações sociais e de classe. Cisne e Santos (2018) debatem o
surgimento do patriarcado, o qual não deriva do mundo das ideias, nem da cultura,
mas apresenta uma base material e sócio-histórica. Destarte, Cisne e Santos (2018)
afirmam que as ideias e a cultura patriarcal apresentam determinações sociais
estruturadas em relações concretas com destaque para as relações sociais de sexo.
Cisne e Santos (2018) citam Devreux (2011) ao falar das relações sociais de sexo
recobrirem as opressões, explorações e subordinação das mulheres.
18

Para Saffioti (2004) o patriarcado não abrange apenas as relações familiares,


mas atravessa a sociedade em sua totalidade, presente, assim, em todas as
instituições sociais. Barroso (2017) fala da violência contra a mulher na sociedade
burguesa estar pautada na crença de que é apenas um produto do patriarcado,
afirma ser um produto do sistema patriarcal, racista e capitalista. O sistema
patriarcal, racista e capitalista demonstra, segundo Portella (2005, p. 94) “[...] a
violência contra as mulheres como expressão da dominação masculina que, [...]
estrutura e perpetua as relações de poder entre homens e mulheres”.
Para Teles e Melo (2012), o estudo e o debate acerca do gênero têm
demonstrado que a desigualdade existente entre homens e mulheres não é natural,
mas, como construção histórica, pode ser superada. Nesse sentido, medidas
democráticas incorporadas às pautas públicas tornam-se importantes contribuições.
As autoras mostram o conceito de gênero como uma relação de poder mediante a
dominação do homem e a submissão da mulher por meio da imposição de papéis
sociais. Scott (2016) fala sobre a necessidade de substituir a noção do poder social
unificado, coerente e centralizado, ao considerar o gênero um elemento significativo
das relações de poder. O poder, segundo Bourdieu (1989), é simbólico e invisível,
costuma ser exercido mediante a cumplicidade de quem o pratica ou não deseja
saber sobre ele. O poder simbólico é “[...] um poder de construção da realidade que
tende a estabelecer uma ordem gnoseológica: o sentido imediato do mundo (e, em
particular, do mundo social)” (BOURDIEU, 1989, p. 9). Saffioti (1989) fala sobre a
presença do poder do macho presente na classe dominante, na classe subalterna,
também, na população e nas relações entre homens e mulheres. As requisições
postas às mulheres são o trabalho doméstico e o de educadora, que a autora afirma
ser a principal identidade básica inerente a elas.
As violências contra mulheres, nos termos de Prisco (2018), colocou-se como
um problema de gênero, que dá o privilégio aos homens em detrimento das
mulheres. Melo e Teles (2012) falam da violência de gênero ser entendida como
violência contra a mulher a partir da expressão ser trazida pelo movimento feminista
na década de 1970. As autoras salientam que as violências são praticadas apenas
pelo fato de serem mulheres, pois:
A violência é uma das formas mais graves formas de discriminação em
razão de sexo/gênero. Constitui violação dos direitos humanos e das
liberdades essenciais, atingindo a cidadania das mulheres, impedindo-as de
tomar decisões de maneira autônoma e livre, de ir e vir, de expressar
opiniões e desejos, de viver em paz em suas comunidades; direitos
19

inalienáveis do ser humano. É uma forma de tortura que, embora não seja
praticada diretamente por agentes do Estado, é reconhecida como violação
dos direitos humanos desde à Conferência Mundial de Direitos Humanos
realizada em Viena (Áustria) em 1993, isto porque cabe ao Estado garantir
segurança pública, [...], para a população feminina (TELES; MELO, 2012, p.
21).
As autoras consideram essas violências uma forma de discriminação muito
grave ao evidenciar a violação dos direitos humanos das mulheres, atingindo sua
cidadania, tendo como motivação primordial seu pertencimento de sexo-gênero. As
violências contra as mulheres, para Cisne e Santos (2018) derivam da estrutura da
relação social do patriarcado, ao se apropriar do corpo e da vida das mulheres em
múltiplos sentidos. É evidente salientar que a apropriação do corpo e da vida das
mulheres ocorre por meio da dominação, tal ação se dá através de várias formas
distintas, seja ela explícita ou não, colocando-as em uma situação de
vulnerabilidade. A violência “[...] é reflexo das relações patriarcais, [...] que provocam
violações e explorações em âmbito estrutural [...]” (CISNE; SANTOS, 2018, p. 70).
Na sociedade capitalista, segundo Prisco (2018), os gêneros são produzidos
através das relações de poder, constituindo como um recurso utilizado pelos homens
para manter o status e o privilégio social. O gênero é “[...] uma categoria elaborada
por conflitos, na qual se estabelece a dominação de um sexo sobre o outro em uma
sociedade dinâmica e contraditória” (DUARTE; ALVES; SOUSA, 2016, p. 05). Nesse
sentido, o conceito de gênero é muito aberto e cultural; costuma apresentar a
diferença da forma da construção social dos sexos com status diferentes dos
homens e das mulheres (SAFFIOTI, 2004; DUARTE; ALVES; SOUSA, 2016). Para
Saffioti (2004) não está resumido a uma categoria de análise, mas a uma categoria
histórica que exige investigação intelectual. Para Scott (2016) o gênero é uma
categoria social utilizada para designar as relações sociais de sexo, com ênfase em
um sistema de relações sem determinar a sexualidade de forma direta. O gênero,
segundo Scott (2016), se refere aos domínios estruturais e ideológicos implicados
nas relações sociais de sexo.
Na produção hegemônica no campo do Serviço Social, o conceito de gênero é
criticado por Cisne e Santos (2018) ao afirmar que:
O conceito de gênero necessita, portanto, de uma análise crítica não
apenas pela dualidade que induz ao tendenciar a dicotomia sexo/gênero,
natural/social, obscurecendo o caráter histórico de categorias como sexo e
corpo. O [...] conceito de gênero reside na ocultação da hierarquia e dos
antagonismos materiais existentes entre os sexos. Essa ocultação ocorre
porque, hegemonicamente, os estudos de gênero não são desenvolvidos de
forma relacional aos sistemas de exploração, notadamente, de classe
(CISNE; SANTOS, 2018, p. 50).
20

A crítica relativa à explicação do conceito de gênero está pautada no fato de se


problematizar que há uma tendência de dicotomia ao ocultar a hierarquia e o
antagonismo entre os sexos, ao estudá-lo sem considerar o sistema de exploração e
de classe. As relações sociais de sexo, conforme Cisne e Santos (2018) são
categorias vinculadas as relações sociais de classe, entendidas como uma relação
ampla, estruturante, sendo impossível não a associar a essas relações.
Cisne e Santos (2018) propõem o debate a partir do conceito de relações sociais
de sexo ao argumentarem acerca da conexão existente com a divisão sexual do
trabalho, pois essa categoria é fundamental para os estudos feministas marxistas.
As autoras argumentam que as relações sociais de sexo são permeadas através de
disputas materiais e antagônicas. No debate sobre a divisão sexual e racial do
trabalho, Cisne e Santos (2018) fazem o alerta para a necessidade de não se limitar
ao binarismo de gênero, mas na compreensão de outros elementos que compõem
as relações sociais de sexo. Alves (2022) alerta para a necessidade de apreensão
acerca das dimensões determinantes da divisão racial do trabalho a partir da
perspectiva estrutural e estruturante na formação social brasileira e da sociedade
capitalista. Além disso, a divisão racial do trabalho se revela pela discriminação e
exploração da população negra no mercado de trabalho com uma forma bem
peculiar (CISNE; SANTOS, 2018). A divisão racial do trabalho possui relação estreita
com a questão étnica e racial onde “[...] A mulher negra, portanto, inserida em
relações patriarcais e racistas, encontra-se na pior escala social, ocupando, [...],
postos de trabalho mais precarizados e mal remunerados, e expostas a maiores
situações de violências” (CISNE; SANTOS, 2018, p. 68). A divisão sexual do
trabalho é uma relação central para estruturar as relações patriarcais de sexo,
segundo Cisne e Santos (2018), não é um fenômeno natural, mas contribui para o
recrudescimento da discriminação e violência contra as mulheres.
A concepção interseccional é citada por Cisne e Santos (2018), sendo esta
derivada do feminismo negro emergido em 1989 visando denunciar problemas
decorrentes da opressão sofrida pelas mulheres negras nos Estados Unidos. Em
posição crítica, as autoras defendem o uso do conceito de consubstancialidade das
relações sociais de sexo, “raça” e gênero. O conceito, criado por Danièle Kergoat
(2010), implica na forma de leitura da realidade social. Segundo a autora (2010, p.
100), a consubstancialidade “[...] é o entrecruzamento dinâmico e complexo do
conjunto de relações sociais, cada uma imprimindo sua marca nas outras,
21

ajustando-se às outras e construindo-se de maneira recíproca”; salienta que as


relações sociais formam um sistema sem a exclusão da existência de contradições,
ao tempo em que o conceito procura dar conta de como essas relações se
produzem de forma mútua na sociedade. Para Cisne e Santos (2018, p. 83) “[...]
defende um método de análise com a qual as relações sociais de sexo, raça e
classe são apreendidas como indissociáveis”. A interseccionalidade de classe, “raça”
e gênero visa “[...] denunciar o racismo no interior do movimento feminista de
mulheres brancas, expõe a necessidade de análise do intercruzamento das
opressões por sexo, raça, classe, sexualidade” (CISNE; SANTOS, 2018, p. 81). O
conceito foi criado por Kimberlé Crenshaw (2004) ao pontuar sobre a
interseccionalidade e os desafios inerentes a ela, pois:
Da mesma forma, quando mulheres negras sofrem discriminação de
gênero, iguais às sofridas pelas mulheres dominantes, devem ser
protegidas, assim quando experimentam discriminações raciais que as
brancas frequentemente não experimentam. Esse é o desafio da
interseccionalidade. [...] A interseccionalidade sugere que, na verdade, nem
sempre lidamos com grupos distintos de pessoas e sim com grupos
sobrepostos (CRENSHAW, 2002, p. 09-10).
A perspectiva interseccional impõe o desafio de assegurar a isonomia referente
a direitos e proteção jurídica das mulheres negras, sobretudo a discriminação racial,
não sofrida igualmente por mulheres brancas. O desafio também se aplica no
acesso aos direitos das mulheres em situação de violência, pois as mulheres negras
estão mais vulneráveis a sofrerem vários tipos de violência na sociedade capitalista.

2.2 Tipologias de violência contra mulheres


A Lei n.º 11.340, denominada Lei Maria da Penha, tornou-se o principal marco
jurídico relativo às violências contra as mulheres no Brasil e prevê um conjunto de
medidas de prevenção, combate e proteção às mulheres em situação de violência.
Além dessa programática, a Lei prevê em seu Artigo 1º a criação de mecanismos
para prevenir e coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher (BRASIL,
2006); no Artigo 2º, assegura o direito à autonomia de todas as mulheres
independentemente de cor, “raça”, classe, etnia, orientação sexual, cultura, nível de
escolaridade, renda, idade e religião. Considera, também, que as mulheres têm o
direito de viver sem violência, ter sua saúde física e mental preservada, além de
afirmar o aperfeiçoamento moral, social e intelectual das mulheres (BRASIL, 2006).
Com isso, a Lei afiança direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, como o
direito à saúde, educação, a vida, segurança, o acesso à justiça, cultura, moradia,
22

entre outros e, conforme o Artigo 3º, todos os direitos das mulheres devem ser
garantidos por meio de políticas públicas direcionadas ao combate à violência, cujo
dever é destinado a família, ao Estado e a sociedade (BRASIL, 2006).
As tipologias das violências cometidas contra as mulheres, segundo a Lei Maria
da Penha, são a violência doméstica, familiar e suas formas de materialização como
violências física, psicológica, moral, sexual e patrimonial. A violência doméstica e
familiar contra a mulher se caracteriza por qualquer ação ou omissão com base no
gênero, causando morte, lesão, sofrimento físico, sexual, psíquico, dano moral ou
patrimonial (BRASIL, 2006). O Artigo 5º da Lei Maria da Penha reconhece como
violência doméstica, aquela que ocorre no ambiente doméstico, podendo
configurar-se por vínculo familiar e nas relações íntimas de afeto; esta ocorre
quando o agressor convive ou já tenha convivido com a mulher, independentemente
de morar no mesmo local ou não (BRASIL, 2006).
No debate teórico, Saffioti (2004) pontua características da violência doméstica
contra as mulheres, destacando a rotinização atrelada a codependência
estabelecida no relacionamento; a autora aborda a necessidade de intervenção
externa para a ruptura da violência doméstica contra as mulheres, pois o fenômeno
acontece, quase sempre, na relação afetiva com muitos elementos dificultadores à
superação. A violência doméstica, segundo Teles e Melo (2012) acontece dentro de
casa, nas relações familiares, podendo ser entre pais e filhos, jovens e pessoas
idosas. As autoras a diferenciam da violência intrafamiliar como a que acontece fora
do ambiente doméstico, mas é praticada entre membros familiares.
Seguindo a tipificação criminal da Lei Maria da Penha, a violência psicológica é
definida, no segundo inciso do Artigo 7º, como:
[...] qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da
autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou
que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e
decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação,
isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem,
violação da sua intimidade, ridicularização, exploração e limitação do direito
de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde
psicológica e à autodeterminação (BRASIL, 2006, p. 01).
A violência psicológica causa danos à saúde mental da mulher com prejuízos
diretos na autoestima, tendo em vista o exercício do controle, dominação do
comportamento, das crenças e das decisões da mulher. Tal violência quase sempre
está presente nas demais manifestações das violências contra as mulheres, pela
possível conjugação da humilhação, manipulação, ameaça e isolamento (CISNE;
23

SANTOS, 2018; MIRANDA, 2021). Miranda (2021) explica as características da


violência psicológica citando atos e palavras que causam impactos negativos na
condição psicoemocional das mulheres. Borin (2007) se baseia nas palavras de Day
et al. (2003) ao afirmar sobre as sequelas graves da violência psicológica, pois
compromete a autoestima da mulher com maior risco de ter problemas mentais.
De acordo com a Lei Maria da Penha, a violência física é qualquer conduta
causadora de danos à integridade física e ao corpo da mulher, prejudicando a sua
saúde (BRASIL, 2006). Cisne e Santos (2018) falam sobre essa violência no campo
jurídico ser considerada lesão corporal com manifestações de maneiras distintas,
desde agressões físicas como puxões de cabelo até agressões com qualquer tipo de
objeto pontiagudo. A violência física se caracteriza em agressões desde pequenas
lesões que até podem provocar a morte, cujo risco maior de assassinato de
mulheres costumam acontecer depois da separação (BORIN, 2007).
A violência sexual, segundo o Artigo 7º da Lei Maria da Penha, é qualquer
conduta que obrigue a mulher a presenciar, manter ou participar de relação sexual
indesejada (BRASIL, 2006). A violência sexual, segundo Miranda (2021) é
caracterizada por qualquer atitude impeditiva da mulher ter o controle sobre o
próprio corpo. Souza e Silva (2018) discorrem acerca da concepção existente em
torno da violência sexual ao colocar a responsabilização da ação sobre as mulheres
sob a justificativa em torno da vestimenta, do jeito de falar e do comportamento.
A Lei Maria da Penha também tipificou criminalmente a violência patrimonial,
como sendo a retenção de bens móveis ou imóveis, através da subtração e
destituição total ou parcial de objetos, materiais de trabalho, documentos, valores,
direitos e recursos econômicos da mulher referentes à satisfação das próprias
necessidades (BRASIL, 2006; MIRANDA, 2021). Uma caraterística dessa violência é
“[...] o ato de o responsável legal, que tem recursos financeiros, deixar de pagar
pensão alimentícia para a mulher” (SOUZA; SILVA, 2018, p. 08). Cisne e Santos
(2018) descrevem situações em que ocorrem a violência patrimonial, tais como:
[...] é bastante comum em brigas, quando se destroem ou se retêm objetos
não necessariamente de valor monetário, mas sentimental, para fragilizar a
mulher. O bloqueio de acesso a um determinado objeto também é utilizado
como forma de controle, por exemplo, reter/quebrar celular ou deter chave
de carro. São formas de dificultar a comunicação e a sociabilidade da
mulher. [...] é também muito frequente [...] ocorrer em processos de
separação, quando o direito à repartição dos bens é negligenciado ou
mesmo burlado (CISNE; SANTOS, 2018, p. 72).
24

As situações que envolvem a violência patrimonial contra as mulheres, na


maioria das vezes, acontecem em momentos de conflito, em processos de
separação; assim, podem se expressar com retenção de objetos que possuem valor
sentimental ou monetário. Teles e Melo (2012) citam as causas da violência
patrimonial a partir da dilapidação dos bens materiais, provocando danos, perdas,
destruição, retenção de objetos e documentos pessoais.
A violência moral, último tipo penal constante na Lei Maria da Penha, é
qualquer conduta que possa configurar calúnia, difamação ou injúria (BRASIL,
2006). De acordo com Souza et al,( 2021, p. 89395), a violência moral está “[...]
inserida na esfera psicológica, condutas que, por emprego de força, coação ou
qualquer demonstração de poder, possam infringir, abalar ou ferir a alma da vítima,
sua imagem, sua honra [...]”.
Diante dos elementos relativos às violências contra as mulheres e as tipologias
descritas acima, o presente trabalho vai ter como enfoque principal a violência
doméstica praticada contra as mulheres no contexto pandêmico. Desse modo,
abordaremos adiante o debate acerca da violência doméstica na pandemia da
covid-19 e as particularidades do fenômeno no estado de Pernambuco.
25

3 ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA MULHERES EM


PERNAMBUCO NO CONTEXTO PANDÊMICO
O capítulo objetiva apresentar dados referentes às violências contra mulheres
em Pernambuco, trazer o debate sobre a pandemia da covid-19 e sua relação com a
violência doméstica contra mulheres no estado. Abordaremos, ainda, a rede de
enfrentamento às violências no estado, destacando iniciativas adotadas no contexto
pandêmico. Ademais, assinalaremos a atuação do Serviço Social em serviços de
atendimento a mulheres em situação de violências, destacando a prática profissional
e a produção científica da profissão acerca da temática central.

3.1 Pandemia e Violência Doméstica contra Mulheres


A pandemia da covid-19 ocasionou mudanças não apenas sanitárias, mas
subjetivas e objetivas, cujos impactos estão presentes na totalidade da vida social;
Para Matta e outros autores (2021), o termo pandemia designa uma tendência
epidemiológica, indicando a ocorrência de surtos que estão espalhados em toda
parte. Para os autores, a pandemia pode ocorrer em escala global, porém esta não
significa ser um fenômeno homogêneo e universal. O conceito de pandemia é,
também, apresentado por Rezende (1998, p. 154), sendo “[...] uma epidemia de
grandes proporções, que se espalha a vários países e a mais de um continente”.
Lana et al (2020) afirmam que a doença surgiu em 31 de dezembro de 2019 na
Província Wuhan, na China e no mês de janeiro a Organização Mundial da Saúde
(OMS) noticiou a circulação do vírus.
No que se refere às mulheres, antes da eclosão da pandemia já estavam
suscetíveis a diversos tipos de violências; conforme Matos e Andrade (2021), não
resultam do isolamento social, mas derivam da estrutura patriarcal que favorece a
ocorrência de violações dos direitos humanos com base no sexo-gênero. As autoras
consideram a intensificação dessas violências no contexto pandêmico, tendo em
vista a recomendação das autoridades sanitárias para se recolherem dentro de suas
casas, em isolamento social, como principal medida para a contenção da
disseminação do coronavírus, rebateu no grave aumento da violência doméstica
perpetrada contra os principais segmentos identificados – mulheres, crianças e
adolescentes e pessoas idosas.
Freire (2022) cita o aviltamento do número de pessoas desempregadas e
afastadas dos postos de trabalho no contexto pandêmico com as medidas de
26

combate à doença. As medidas recomendadas de distanciamento social,


higienização, uso de máscaras, quarentena e permanência domiciliar prolongada
deveriam ser adotadas como estratégias de combate ao vírus, mas, num contexto
de agudização das vulnerabilidades sociais para grandes segmentos populacionais,
propiciaram:
[...] que a maior parte das pessoas permanecessem em suas residências,
aumentando as tensões, a fome, as dívidas, a insalubridade emocional do
espaço doméstico e, consequentemente, configurando um cenário propício
para uma violência sem válvulas de escape. Todas as pessoas não
vinculadas as atividades sociais e/ou desempregadas ficaram isoladas em
suas residências, convivendo com as tensões e problemáticas que antes já
existiam, contudo de forma ainda mais intensa e com menor visibilidade
(FREIRE, 2022, p. 12).
A necessidade das pessoas permanecerem em casa por longos períodos
corroborou no aumento das tensões e de outros fatores, contribuindo, assim, para
aumento da ocorrência de situações de violência. Os fatores desencadeadores de
estresse como o desemprego, problemas relativos à condição de renda e problemas
de cunho emocional foram mais intensos no contexto pandêmico. Queiroz et al.
(2021) destacam que o isolamento social exacerbou tensões e estresse com
preocupações relacionadas ao emprego, dinheiro, segurança e saúde. Aquino
(2021) aponta que as agressões durante a pandemia fizeram parte da vivência das
mulheres seja pelo confinamento, adversidades econômicas, financeiras ou sociais,
decorrentes da perda de emprego das mulheres. Tal afirmação é pontuada por
Barros et al. (2021) ao considerarem a vivência das mulheres nos cenários de
violências, sendo as mais afetadas pelas medidas de isolamento social, este
revelando-se como uma ameaça muito maior à vida das mulheres. Segundo Queiroz
et al. (2021, p. 03), o debate sobre as violências no contexto pandêmico mostra que
“[...] a violência doméstica tem se mostrado cada vez mais recorrente, precisamente
com a incidência da pandemia do novo coronavírus – covid-19, constituindo-se, [...],
cerne do nosso debate”. Espindola (2021) pontua as particularidades em torno da
violência doméstica ao observar as diminuições dos registros dos casos no contexto
pandêmico, pois houve a imposição de uma nova dinâmica nesse período. A
justificativa da subnotificação dos casos de violências no âmbito doméstico é “[...] a
permanência por mais tempo das mulheres em casa e, possivelmente, restringiu a
possibilidade de buscarem ajuda” (ESPINDOLA, 2021, p. 37). Aquino (2021) salienta
que o aumento das violências é um reflexo dos impactos da pandemia gerados na
economia, nas relações trabalhistas e familiares decorrente da fragilidade sistêmica
27

da sociedade brasileira. Arruda (2021) problematiza a desigualdade de gênero


durante a pandemia atrelada ao crescimento dos casos de violências, citando,
também, o aumento significativo daquelas cometidas contra as mulheres.
A mesma tendência ocorreu no estado de Pernambuco onde o “[...] aumento
da violência doméstica e do feminicídio desvelaram, a olho nu, a força do
patriarcado na vida das mulheres durante a pandemia, [...]” (MESQUITA; SILVA;
LEÔNCIO, 2021, p. 183). Santos et al. (2021) citam que nos primeiros meses de
2020 foram registrados cerca de 19.496 casos de violência doméstica contra
mulheres no estado. Assim, os dados da Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos
(ONDH), do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) coletados a
partir das ligações do Disque 100, mostram os registros de denúncias e violações
contra mulheres no estado, conforme a tabela abaixo.
Tabela 1 – Número de denúncias e violações contra grupos vulneráveis no estado de
Pernambuco em 2020.

GRUPO VULNERÁVEL DENÚNCIAS VIOLAÇÕES

Violência contra as 1.062 4.853


mulheres

Violência doméstica e 11.393 12.240


familiar contra mulheres

Fonte: Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania.


A tabela foi elaborada a partir da coleta de dados relativos a denúncias e
violações contra mulheres no estado, disponíveis no sítio eletrônico do Ministério
dos Direitos Humanos e da Cidadania. Na tabela acima é possível notar a alta do
número quando se trata especificamente das denúncias de violências doméstica e
familiar, além do aviltamento do número de violações cometidas/denunciadas no
estado durante o contexto pandêmico. Conforme dados do Sistema de Informação
de Agravo e Notificação (SINAN), a tabela abaixo expressa o quantitativo de
notificações de violência interpessoal/autoprovocada em Pernambuco.
28

Tabela 2 - Notificações de violência interpessoal/autoprovocada em Pernambuco por


tipologia em 2020 e 2021

Tipo de violência Total em 2020 Total em 2021

Física 7.732 5.375

Psicológica/moral 2.982 2.481

Sexual 1.898 1.424

Outra violência 3.067 1.943

Fonte: Sistema de Informação de Agravo e Notificação (SINAN)


A tabela referente às notificações de violências por tipologias foi produzida
com base nos dados fornecidos pelo Sistema de Informação de Agravo e Notificação
(SINAN). A notificação de violência física contra mulheres em Pernambuco foi a que
alcançou mais registros em 2020, com queda significativa no ano seguinte. Diante
da constatação de que os registros de notificação em 2021 foram menores,
parece-nos possível apontar o grave fator da subnotificação inflexionado pela
pandemia da covid-19. Miranda e Preuss (2020) destacam, com base no argumento
da ONU Mulheres (2020), a problemática e a persistência da subnotificação das
denúncias de violência doméstica no contexto pandêmico.
Quanto ao local de ocorrência dos casos de violências, a maioria dos casos
notificados ocorreram nas residências, como mostra a tabela a seguir.

Tabela 3 - Local de ocorrência dos casos de violência interpessoal/autoprovocada


em Pernambuco

Local de ocorrência Número de casos em Número de casos em


2020 2021

Bar ou similar 183 133

Comércio/Serviços 283 202

Escola 40 19

Indústria/Construção 10 07
29

Habitação Coletiva 62 60

Local de prática esportiva 20 06

Residência 9.542 7.444

Via pública 1.856 1.337

Outros 665 554


Fonte: Sistema de Informação de Agravo e Notificação (SINAN).

A tabela acima foi produzida com base nos dados levantados no Sistema de
Informações de Agravo e Notificação (SINAN) coletados por meio do sítio eletrônico.
A grande parcela dos casos de violências nas residências, põe em xeque a
concepção da casa como lugar de refúgio; na pandemia acabou sendo paradoxal
para as mulheres, segundo Nascimento e Nascimento (2021). As autoras salientam
o fato de o confinamento ter proporcionado para as mulheres a possibilidade de se
prevenir contra o vírus letal, mas as deixou mais vulneráveis às violências e ao
feminicídio. Corroborando com nosso debate e reforçando a premência da defesa
das mulheres, no que se refere ao sexo das vítimas de violências no contexto da
pandemia, a maioria era do sexo feminino, confome segue abaixo.
Tabela 4 - Notificações de violência interpessoal/autoprovocada
em Pernambuco por sexo

Sexo Total de notificações Total de notificações


em 2020 em 2021

Feminino 11.403 8.261

Masculino 4.279 3.316

Fonte: Sistema de Informação de Agravo e Notificação (SINAN).


A tabela acima foi elaborada com base nos dados fornecidos pelo sítio
eletrônico do Sistema de Informação de Agravo e Notificação (SINAN). Destaca-se
que em 2021 houve uma queda acentuada das notificações relativas ao sexo das
vítimas de violências em Pernambuco em relação ao ano anterior, sendo possível
afirmar a subnotificação dos casos de violências no contexto pandêmico.
30

Na coleta de dados no site do Ministério dos Direitos Humanos e da


Cidadania, verificamos que grande parcela da população feminina em situação de
violências na pandemia em Pernambuco é parda, como mostra a tabela abaixo,
sendo fundamental problematizar a identidade racial nos de indivíduos em situação
de violação de direitos e de violências.
Tabela 5 – Cor das vítimas de violências do sexo feminino em Pernambuco

COR NÚMERO DE NÚMERO DE NÚMERO DE


DENÚNCIAS EM DENÚNCIAS EM DENÚNCIAS EM
2020 2021 2022

Parda 3.169 3.611 4.740

Branca 2.755 3.019 3.760

Preta 705 817 967

Amarela 60 131 242

Indígena 30 29 73
Fonte: Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania.

A tabela foi elaborada com base nos dados fornecidos pelo sistema de dados
do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania por meio do sítio eletrônico do
governo federal. A tabela mostra que os registros de denúncias de violências
perpetradas contra mulheres em Pernambuco foram maiores para a população
parda e branca, cujos registros das notificações foram aumentando anualmente. No
que tange a faixa etária das mulheres vítimas de violência maioria tem entre 20 a 29
anos de idade, conforme segue a tabela abaixo.
Tabela 6 - Violência interpessoal/autoprovocada em Pernambuco por faixa etária
Faixa etária Quantitativo de Quantitativo de notificações
notificações em 2020 em 2021

0 até 1 ano 532 489

1 até 4 anos 1.271 1.144

5 até 9 anos 613 463


31

10 até 14 anos 1.394 1.053

15 até 19 anos 2.349 1.564

20 até 29 anos 3.486 2.442

30 até 39 anos 2.482 1.745

40 até 49 anos 1.435 1.068

50 até 59 anos 669 468

60 anos ou mais 1.451 1.145

Fonte: Sistema de Informação de Agravo e Notificação (SINAN).

A tabela elaborada com base nos dados do SINAN mostra que a maioria dos
casos notificados de violências cometidas contra mulheres em Pernambuco foi
predominante entre jovens do sexo feminino. No que se refere ao grau de instrução
das vítimas de violências no estado, a maioria possui o ensino fundamental
incompleto. Nesse sentido, tal fato evidencia a necessidade de o Estado assegurar
os direitos das mulheres a terem uma educação de qualidade, tendo em vista que
este é um direito constitucional.
Tabela 7 – Grau de instrução das mulheres vítimas de violências
GRAU DE 2020 2021 2022
INSTRUÇÃO

Ensino fundamental 949 1.364 1.499


incompleto

Ensino fundamental 171 220 179


completo

Ensino médio 721 986 983


completo

Ensino médio 250 347 383


incompleto
32

Analfabeto 284 383 464

Ensino superior 237 326 471


completo

Ensino superior 55 194 455


incompleto

Pós-graduação 42 57 74

Mestrado 02 08 10

Doutorado 40 07 12

Pós-doutorado 29 14 40
Fonte: Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania.

A tabela produzida com base nos dados divulgados pelo Ministério no sítio
eletrônico aponta que os casos de violências ocorreram com aquelas, cujo grau de
instrução relativa à escolaridade é incompleto. Conforme os dados do Ministério, ao
analisar a renda das mulheres, nota-se que a faixa de renda da população feminina
em Pernambuco é de até 1 salário-mínimo, conforme a tabela.

Tabela 8 - Faixa de renda das vítimas do sexo feminino em Pernambuco por ano

FAIXA DE RENDA NÚMERO DE NÚMERO DE NÚMERO DE


VIOLAÇÕES VIOLAÇÕES VIOLAÇÕES EM
EM 2020 EM 2021 2022

Até 1 1.350 2.097 1.187


salário-mínimo

1a3 677 1.039 575


salários-mínimos

3a5 128 183 129


salários-mínimos

5 a 15 60 132 60
salários-mínimos
33

Mais de 15 08 23 06
salários-mínimos

Fonte: Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania.

A tabela foi produzida com base nos dados do Ministério disponibilizado no


sítio eletrônico, evidenciamos que a renda das mulheres é baixa, tal fato demonstra
a necessidade de o Estado investir em programas de transferência de renda/renda
básica. Segundo os dados levantados pelo Ministério, a maioria dos casos de
violências perpetradas contra mulheres no contexto pandêmico foram praticados
pelos familiares, com destaque para os pais, mães e filhas/os, conforme segue.

Tabela 9 - Número de violações cometidas na relação do suspeito com a vítima do


sexo feminino no contexto pandêmico em Pernambuco

RELAÇÃO SUSPEITO NÚMERO DE NÚMERO DE NÚMERO DE


E VÍTIMA VIOLAÇÕES VIOLAÇÕES VIOLAÇÕES EM
EM 2020 EM 2021 2022

Pai/mãe 1.111 997 1.743

Filho/a 1.085 1.156 1.447

Marido/esposa 715 555 515

Companheiro/a 651 534 602

Irmão/ã 269 331 510

Ex-companheiro/a 336 362 336

Ex-marido 295 189 82

Padrasto/madrasta 136 124 195

Ex-namorado 93 76 95

Namorado/a 70 56 83

Ex-esposa 04 04 73
Fonte: Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania.
34

A tabela produzida pelo Ministério, por meio da ONDH, apresenta que os


maiores números de violações cometidas contra mulheres no estado aconteceram
em âmbito doméstico. Desse modo, cabe salientar que a relação das mulheres com
os suspeitos era intrafamiliar e evidencia o fato dos pais e mães cometerem os
crimes de violências no estado.
No que se refere às deficiências das mulheres vítimas de violências no
contexto pandêmico em Pernambuco, segundo os dados levantados pelo MDHC, a
maioria tem deficiência física/motora, conforme segue.

Tabela 10 – Número de violações contra mulheres com deficiência no estado de


Pernambuco

TIPOLOGIA DA NÚMERO DE NÚMERO DE NÚMERO DE


DEFICIÊNCIA VIOLAÇÕES EM VIOLAÇÕES EM VIOLAÇÕES EM
2020 2021 2022

Física/motora 206 516 727

Mental/intelectual 246 480 459

Visual 78 166 198

Auditiva/surdez 19 49 43

Autismo 00 00 06

Múltipla 08 15 11
Fonte: Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania.
A tabela produzida com base nos dados do MDHC revela que as violações
cometidas no contexto da pandemia em Pernambuco contra mulheres com
deficiência, vitimou sobretudo mulheres que possuem deficiência física. Almeida
(2011) fala sobre as violências contra mulheres com deficiências, desvelando o fato
delas sofrerem o mesmo tipo de violência em relação às que não têm. A autora
evidencia a não visualização das mulheres com deficiências nos estudos de gênero,
o que pode indicar o não reconhecimento da sua condição particular e da falta de
acesso a direitos sociais.
No que tange a crimes cometidos contra mulheres no estado, segundo os
dados publicados pela Secretaria de Defesa Social do estado de Pernambuco
35

(SDS/PE), o crime de ameaça foi o de maior índice cometido no primeiro ano da


pandemia, conforme a tabela abaixo.
Tabela 11 - Número de crimes cometidos contra mulheres em Pernambuco em 2020
Natureza do delito Número de casos em 2020

Ameaça 12.650

Calúnia 191

Cárcere privado 38

Constrangimento ilegal 109

Dano 1.755

Difamação 904

Estupro 170

Estupro de vulnerável2 358

Injúria 4.607

Lesão Corporal 8.366

Maus tratos 240

Outros crimes 1.451

Perturbação do sossego 1.388

Vias de fatos 1.799


Fonte: Secretaria de Defesa Social do estado de Pernambuco (SDS/PE).

A tabela produzida com base nos microdados publicados pela SDS/PE, no


primeiro ano da pandemia da covid-19, aponta o crime de ameaça com maior
número de casos de violências perpetradas contra mulheres no estado. Ademais, no
período pandêmico houve o aviltamento dos crimes de feminicídios e

2
O Artigo 217 do Código Penal Brasileiro prevê o crime de estupro de vulnerável a prática de relação
sexual contra pessoa menor de 14 anos de idade, com enfermidade, deficiência mental ou quando a
vítima não tem condições de oferecer resistência (BRASIL, 1940). Outrossim, em relação aos crimes
praticados contra as mulheres, é importante frisar que a ocorrência dos casos registrados de estupro
de vulnerável foram contra meninas entre 0 a 12 anos de idade. Conforme os microdados
disponibilizados pela SDS/PE, foram observados registros de violências contra adolescentes,
mulheres entre 18 até 59 anos e alguns casos contra mulheres idosas com 60 anos de idade ou mais.
Contudo, não foi possível trazer os dados relativos aos crimes cometidos em 2021 e 2022 em tempo
hábil devido a alta demanda da sistematização dos dados secundários, porém estes já foram
disponibilizados pela Secretaria.
36

transfeminícidios, o qual nos mostra a necessidade de maior debate e políticas


públicas a fim de proteger a vida e combater as violências contra mulheres Lésbicas,
Bissexuais, Transgêneros, Transsexuais, Travestis, Queer, Intersexuais, Assexuais,
Pansexuais, entre outras (LBTQIAP+).
Tabela 12 – Feminicídios e transfeminicídios registrados em Pernambuco
ANO NÚMERO DE REGISTROS

2020 82

2021 101

Fonte: Ramos et al.

A tabela foi produzida por Ramos e outros autores (2022), com base nos
dados publicados pelo Fórum de Segurança Pública, o qual mostra aumento
significativo dos registros de feminicídios e transfeminícidos no estado. Tal fato,
desvela as violências praticadas contra as mulheres trans/travestis sob a justificativa
da condição de gênero, sendo imprescindível a necessidade de políticas públicas
direcionadas para sua proteção.
No que se refere à faixa etária das vítimas de feminicídio, a maioria tem entre
18 a 24 anos de idade, conforme dos dados levantados pelo Jornal do Commercio,
conforme segue.
Tabela 13 – Faixa etária das mulheres vítimas de feminicídio no estado em 2021
FAIXA ETÁRIA QUANTITATIVO

Até 17 anos 26

18 a 24 anos 47

25 a 29 anos 40

30 a 34 anos 38

35 a 64 anos 75

65 anos ou mais 10
Fonte: Jornal do Commercio.
A tabela produzida a partir das notícias publicadas pelo Jornal do Commercio,
apresenta a faixa etária jovem das mulheres vítimas de feminicídio em Pernambuco.
No que se trata da tipologia de violências cometidas contra mulheres em
37

Pernambuco em 2021, a agressão física e as tentativas de feminicídios durante a


pandemia, foram os crimes de maior incidência. Vide tabela abaixo.
Tabela 14 – Tipos de violências praticadas contra mulheres em 2021 no estado
TIPO DE VIOLÊNCIA NÚMERO DE CASOS
REGISTRADOS

Tentativa de feminicídio/agressão física 93

Feminicídio 91

Violência sexual/estupro 18

Tortura/cárcere privado/sequestro 09

Agressão verbal/ameaça 07

Transfeminicídio 10
Fonte: Ramos et al.

Diante disso, os governos estadual e municipal, no contexto pandêmico,


precisaram criar ações emergenciais de enfrentamento à violência doméstica contra
mulheres, como abordaremos no tópico a seguir.

3.2 Pandemia da covid-19 e enfrentamento à violência doméstica contra


mulheres em Pernambuco

A pandemia da covid-19 impôs, como principal recomendação sanitária para


contenção da disseminação do coronavírus o distanciamento social reforçado na
expressão fique em casa. Tal medida, no entanto, evidenciou outra pandemia: a da
violência doméstica contra as mulheres. Segundo Souza e Farias (2022) houve o
agravamento da violência doméstica com o confinamento durante o contexto
pandêmico; as autoras afirmam, com base nos argumentos de Franceschi (2020),
ser a violência doméstica uma pandemia de longa data. Assim, a emergência
sanitária “[...] contribuiu para o agravo de um fenômeno social já existente, revelando
uma difícil realidade na qual as mulheres brasileiras não estão seguras dentro das
próprias casas” (SOUZA; FARIAS, 2022, p. 217).
O aumento dos casos de violências contra as mulheres, exigiu do Estado a
implementação de ações inovadoras para o enfrentamento da problemática
agudizada no cenário da emergência sanitária, especialmente em nível do governo
38

estadual e municipal. O conceito de enfrentamento, apreende um conjunto de


políticas públicas voltadas para o atendimento às mulheres em situação de
violências; envolve os vários setores da sociedade como a saúde, assistência social,
justiça e segurança pública, a fim de assegurar os direitos das mulheres em
consonância com a lei. Dessa forma, a Política de Enfrentamento à Violência contra
as Mulheres está estruturada em quatro eixos principais: o de prevenção,
assistência, ação e enfrentamento e o de acesso e garantia de direitos
(SECRETARIA DE POLÍTICAS PÚBLICAS PARA MULHERES, 2011). No contexto
pandêmico, o governo federal instituiu as medidas de enfrentamento das violências
contra mulheres no âmbito doméstico e familiar ao sancionar a Lei nº 14.022/2020.
O Artigo 5º garante a manutenção dos serviços de atendimentos voltados à
mulheres em situação de violências (BRASIL, 2020). A lei permite que os registros
de violências sejam feitos por meio eletrônico ou por número de telefone de
emergência designado pelos órgãos de segurança pública e os processos têm
natureza de urgência (BRASIL, 2020).
Melo, Silva e Lira (2022) citam um conjunto de medidas de enfrentamento à
violência doméstica contra mulheres implementadas pelo governo do estado de
Pernambuco no contexto pandêmico. As autoras falam da ampliação dos canais
eletrônicos de denúncias da Polícia Civil referente aos crimes contra as mulheres,
que objetivavam diminuir as subnotificações e os altos índices de violências, a
exemplo do teleatendimento implantado na Secretaria Estadual da Mulher e na
Ouvidoria da Mulher. Outra medida de enfrentamento foi a campanha lançada pelo
Ministério Público de Pernambuco intitulada “[...] “Mulher, você não está sozinha””
(MONTEIRO, JORNAL DO COMMÉRCIO, 2020). Segundo Monteiro (2020), o
objetivo da campanha foi incentivar a população a denunciar agressões no âmbito
doméstico durante o período do isolamento social. Melo, Silva e Lira (2022)
apresentam a rede de proteção estadual voltada ao atendimento às mulheres em
situação de violências, conforme segue:
A Rede Estadual de Proteção às mulheres em situação de violência sexista
de Pernambuco, conta com 593 serviços da Secretaria Estadual da Mulher
a organismo municipais de políticas para as mulheres. No que se refere à
Segurança Pública, a rede possui 11 Delegacias Especializadas da Mulher,
além das Delegacias Comuns localizadas em todas as regiões do estado e
com oferta de atendimento remoto no contexto da pandemia (MELO; SILVA;
LIRA, 2022, p. 07).
A rede de proteção voltada para o atendimento de mulheres no estado de
Pernambuco na pandemia conta com serviços ofertados pela Secretaria da Mulher,
39

além de delegacias comuns e especializadas. Entretanto, mesmo com os avanços


as autoras argumentam acerca da desigualdade do atendimento da rede no estado.
Para Melo, Silva e Lira (2022, p. 07) a rede “[...] não garante, por exemplo,
atendimento às mulheres no município de sua residência, o que se torna um entrave
concreto ao acesso e à efetivação do direito”. Santos et al. (2021) afirma que a
distribuição dos equipamentos de proteção às mulheres no estado não é equânime
nas mesorregiões e a insuficiência desses serviços dificulta elas fazerem denúncias,
corroborando para a subnotificação. A rede no contexto pandêmico apresenta “[...]
os serviços de acolhimento e proteção as mulheres são insuficientes, especialmente
no interior do estado, [...], não há uma integração dos serviços já existentes [...]”
(FÓRUM DE MULHERES DE PERNAMBUCO, 2022, p 25).
A gestão estadual no contexto pandêmico, por meio da Secretaria da Mulher
junto com a Secretaria de Defesa Social do estado de Pernambuco (SDS/PE),
ampliou medidas de enfrentamento das violências contra mulheres no estado.
Dentre as medidas implementadas pelo governo do estado, a Secretaria da Mulher
“[...] participou de 31 reuniões do Comitê Gestor Executivo do Pacto Pela Vida (PPV)
apresentando dados estatísticos e informações referentes às mulheres beneficiadas
pelos serviços dos Programas de Proteção e Justiça para as Mulheres e Punição
para os Agressores [...]” (SECRETARIA DA MULHER DE PERNAMBUCO, 2021, p.
104). Além dessa ação, a gestão estadual realizou ações preventivas junto com a
Câmara Técnica de Enfrentamento da Violência de Gênero contra a Mulher
(SECRETARIA DA MULHER DE PERNAMBUCO, 2021). O governo estadual
investiu em campanhas educativas em 2021 referentes às violências contra
mulheres com destaque para:
[...] o Agosto Lilás, que promoveu ações nas 12 Regiões de
Desenvolvimento do estado de Pernambuco em alusão aos 15 anos da Lei
Maria da Penha, com destaque para a projeção no prédio do Porto Digital,
sede da SecMulher-PE, com mensagens sobre a importância da denúncia
da violência doméstica; e a Campanha: SIM ao Respeito, Não a Violência
contra as Mulheres Trans, Travestis, Lésbicas e Bissexuais – de ampla
circulação no estado que contou com compartilhamento de 10.837 cartazes
(SECRETARIA DA MULHER DE PERNAMBUCO, 2021, p. 105-106).
As ações do governo estadual com forte investimento em campanhas
referentes a violências contra mulheres no estado durante o contexto pandêmico
foram feitas com o intuito de encorajar a população a denunciar os casos de
violências. É válido citar que a gestão estadual lançou as campanhas “Basta de
Violência contra as Mulheres” e “Violência contra a mulher é coisa de outra cultura”
40

nas redes sociais em cumprimento com as normas sanitárias na pandemia


(SECRETARIA DA MULHER DE PERNAMBUCO, 2021). Entretanto, a gestão
estadual justifica a não realização das campanhas “[...] Violência contra a Mulher é
Jogo Sujo e Violência contra a Mulher não Dá Frutos, [...] por serem ações que
envolvem atividades presenciais, com aglomeração de um número significativo de
pessoas” (SECRETARIA DA MULHER DE PERNAMBUCO, 2021, p. 106).
Quanto aos serviços de proteção às mulheres em Pernambuco na pandemia,
segundo a Secretaria da Mulher de Pernambuco (2021) foram atendidas cerca de
208 mulheres, 35 foram encaminhadas para outros locais e 173 foram para as
Casas Abrigos. No período pandêmico houve um aumento significativo de
atendimentos referentes ao abrigamento de mulheres em situação de violências,
conforme a tabela abaixo.
Tabela 15 - Número de atendimentos realizados pela Rede de
Proteção no estado de Pernambuco
Ano Número de atendimentos

2020 317

2021 453
Fonte: Secretaria da Mulher de Pernambuco.
A tabela foi produzida com base nas informações do Anuário Biênio
2021/2022 disponibilizado no site da Secretaria da Mulher de Pernambuco.
Conforme a tabela acima, em 2021 houve aumento do atendimento dado às
mulheres em situação de violências na Rede de Proteção estadual no contexto
pandêmico. Segundo a Secretaria da Mulher de Pernambuco (2021), a Patrulha
Maria da Penha foi implantada em 26 Áreas Integradas de Segurança (AIS), cuja
ação foi realizada no âmbito municipal. Desse modo, para a Secretaria da Mulher de
Pernambuco (2021, p, 109) a Patrulha Maria da Penha foi “[...] implantada em 2021
nos municípios de Agrestina, Buíque, Igarassu, Paudalho, Passira, Petrolândia,
Serra Talhada, Toritama e Vicência”. Na pandemia, a Secretaria atendeu no total
cerca de 172 mulheres na modalidade remota e realizou o cadastro de 45 mulheres
para o 190 Mulher (SECRETARIA DA MULHER DE PERNAMBUCO, 2021). Outra
medida realizada pela Secretaria foi a criação do Aplicativo 190 Mulher, que em
2020 cerca de 601 mulheres foram cadastradas e houve 716 cadastros em 2021.
41

A Prefeitura da Cidade do Recife também implementou medidas de


enfrentamento a violência contra mulheres por meio da Lei nº 18.690/2020 que
instituiu o Fundo Municipal de Política para a Mulher (FMPM). A lei objetivou “[...] a
efetivação do enfrentamento à violência contra a mulher, desenvolvimento
sustentável para à promoção de igualdade de gênero e [...] ações intersetoriais e
transversais (RECIFE, 2020, p. 01). O Artigo 5º determina que os recursos serão
aplicados para a manutenção e ampliação dos serviços de atendimento à mulheres
vítimas de violências doméstica, familiar e sexista, além dos programas de
prevenção (RECIFE, 2020). Outra medida realizada pela gestão municipal foi a
criação da Câmara Técnica de Enfrentamento à Violência Contra a Mulher com o
objetivo de promover, proteger os direitos das mulheres e reduzir os índices de
violências no município (RECIFE, 2021). Além disso, criou o Programa “Código Sinal
Vermelho”, o qual “[...] propõe que as mulheres denunciem, de forma silenciosa, uma
situação de violência que estejam vivendo” (SANTOS, JORNAL DO COMMÉRCIO,
2021). O Programa foi sancionado pela Lei Municipal nº 18.815 de 23 de julho de
2021, o Artigo 2º prevê que os estabelecimentos comerciais públicos e privados
devem dar assistência para mulheres em situação de violências (RECIFE, 2021).

3.3 Serviço Social no atendimento a Mulheres em Situação de Violências:


prática profissional e produção científica
A questão social, para Iamamoto (2015), é a expressão das desigualdades
inerentes ao processo acumulativo e dos efeitos produzidos por ele; pontua ser a
questão social e suas expressões o objeto de trabalho da/do profissional de Serviço
Social, conforme segue:
Os assistentes sociais, por meio da prestação de serviços
socio-assistenciais – indissociáveis de uma dimensão educativa (ou
político-ideológica) – realizado nas instituições públicas e organizações
privadas, interferirem nas relações sociais cotidianas, no atendimento às
várias expressões da questão social, tais como experimentadas pelos
indivíduos sociais no trabalho, na família, na luta pela moradia e pela terra,
na saúde, na assistência social pública, entre outras dimensões
(IAMAMOTO, 2015, p. 163).

O cotidiano das/dos assistentes sociais, conforme a citação acima,


caracteriza-se pela atuação no âmbito dos serviços sociais ofertados em instituições
públicas e privadas; nessa atuação encontra-se a programática para enfrentamento
a violências e seus desdobramentos sobre a vida dos sujeitos.
42

As violências perpetradas contra mulheres, são também desveladas como


expressão da questão social e incluem-se nas pautas cotidianas da intervenção
profissional. Iamamoto (2015) argumenta acerca da necessidade de compreensão
das expressões da questão social, pois passaram a captar novas formas de pressão
social. Ademais, essas expressões costumam reinventar a vida, as quais foram
construídas no cotidiano, sendo recriadas através das novas formas relativas ao
modo de viver. A questão social, segundo a autora, é muito mais do que as
expressões da pobreza, miséria e exclusão; se expressa pela subversão humana na
sociedade capitalista, a qual é materializada pela naturalização das desigualdades
sociais. A autora pontua, também, a condução da indiferença frente ao contingente
humano subjugado, abandonado e desprezado no atendimento das necessidades
inerentes do capital.
Feitosa e Lima (2018) abordam o contexto de opressão da classe trabalhadora,
em especial a feminina, ressaltando a importância de problematizar a violência
contra as mulheres na sociedade capitalista. Costa e Vieira (2022) mostram como a
violência é um dos mecanismos de coerção utilizados contra as mulheres para
permanecerem nos lugares determinados e subalternizados. Para a leitura dessa
realidade, o Serviço Social parte do suposto de que a “[...] configuração de vida e de
trabalho é o fundamento material para compreendermos as expressões da violência
contra as mulheres e suas possibilidades de enfrentamento” (COSTA; VIEIRA, 2022,
p. 07).
Costa e Vieira (2022), ao salientarem o estudo e a análise necessárias a serem
feitas pelas/os assistentes sociais, abordam as violências contra mulheres como
uma demanda que aparece nos espaços sociocupacionais da profissão e que vem
“[...] requerendo o entendimento dos seus fundamentos enquanto fenômeno
histórico-social e sua relação com a matéria da profissão, a questão social” (COSTA;
VIEIRA, 2022, p. 09). Afirmam que a violência contra a mulher é um fenômeno
transversal, tendo em vista o fato de ignorar fronteiras de classe social, racial e
étnica, pois costuma atingir todas as mulheres. Na sociedade “[...] a vivência da
violência e as possibilidades de ações e de acesso aos recursos para o seu
enfrentamento são diferentes quando consideramos as mulheres brancas ricas e de
classe média, em relação às mulheres pobres e trabalhadoras brancas e negras”
(COSTA; VIEIRA, 2022, p. 04).
43

Para Costa e Vieira (2022) a análise da questão social tornou-se uma pauta
teórica importante para o Serviço Social desde o processo de intenção de ruptura
com o tradicionalismo, com vistas à atuação profissional crítica. Nessa esteira,
compreender as várias expressões da questão social foi uma exigência, incluindo
estudos sobre as violências contra mulheres pois “[...] historicamente foi naturalizada
e individualizada no Brasil” (COSTA; VIEIRA, 2022, p. 10). Salientam a necessidade
de destrinchar os fundamentos e o conceito relativo à questão social, tendo em
conta que essas violências “[...] se conectam com elementos estruturais do modo de
produção capitalista [...] fruto das relações de gênero patriarcais e de relações
étnico-raciais racistas [...]” (COSTA; VIEIRA, 2022, p. 10).
Feitosa e Lima (2018) falam da violência contra a mulher ter se tornado uma
expressão da questão social muito recorrente na sociedade, salientado o fato de ter
se tornado alvo de políticas públicas de prevenção e combate pelo Estado. Ao
analisarem a exploração do trabalho feminino na sociedade capitalista, pontuam que
não se limita à produção de mercadorias, estando presente na reprodução do
trabalho doméstico das mulheres sem a produção da mais-valia. Admitem que as
violências contra mulheres estão presentes desde os tempos remotos anteriores ao
capitalismo, podendo até existir desde o surgimento da humanidade. É nesse bojo
que as autoras argumentam acerca da desigualdade existente entre homens e
mulheres na contemporaneidade ao exemplificar a inferioridade feminina existente
na Grécia. Além da desigualdade, as expressões da questão social e as violências
contra as mulheres se tornaram muito importantes para o Serviço Social e, seja
como área de conhecimento ou como profissão3, assistentes sociais atuam nos
espaços socio-ocupacionais que compõem as redes de atendimento a mulheres em
situação de violências, ofertadas nas políticas públicas de Assistência Social,
Educação, Justiça e Segurança Pública, Saúde, além de cargos de assessoria,
planejamento e gestão governamental em Ministérios, Secretarias e Gerências
específicas ao trato da questão.
Com isso, é de suma importância ao exercício profissional de assistentes
sociais, desvelar elementos determinantes para compreensão, a fim de apreender a

3
Referência ao artigo da Profª Ana Elizabete Mota: Serviço Social brasileiro: profissão e área do
conhecimento. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/rk/a/9kN3x6tySLZWBNGKsHk4rbS/?format=pdf&lang=pt#:~:text=O%20Servi%
C3%A7o%20Social%20%C3%A9%20uma,profiss%C3%A3o%20n%C3%A3o%20impede%20que%20
seus Acesso em: 24 abr. 2023.
44

problemática e proceder ao estudo do tema. Feitosa e Lima (2018) consideram o


tema muito caro para a categoria, vez que atua diretamente em múltiplas situações
de violação de direitos.
A violência contra as mulheres está inclusa no debate da profissão por
apresentar forte relação com a sociedade capitalista, em sua gênese substancial de
exploração e opressão. Para mais, à sociabilidade capitalista, agrega-se o sistema
patriarcal, desvantajoso para as mulheres e lastro de opressões e violências a elas
direcionadas. Assim, parece-nos evidente a necessidade de aprofundamento dos
estudos e de novos conhecimentos produzidos sobre a temática em questão,
possibilitando à categoria profissional direcionar a atuação no cotidiano.
O Serviço Social trabalha, entre muitas outras áreas de atuação, no atendimento
a mulheres em situação de violências e a/o assistente social, segundo Lisboa e
Pinheiro (2005), utiliza-se de estratégias interventivas em resposta às demandas
apresentadas no cotidiano profissional. As autoras argumentam acerca da natureza
interventiva da profissão, pois exige a utilização de técnicas e instrumentais junto
com as dimensões teórica, ética e política. Desse modo, as autoras citam os
principais instrumentos utilizados pela/o profissional durante o atendimento às
mulheres em situações de violências. Segundo Lisboa e Pinheiro (2005, p. 205), a
entrevista “[...] é geralmente a primeira conversa realizada com a mulher, que
quando chega à Instituição, ainda está sob os efeitos da [...] violência sofrida”. As
autoras pontuam a entrevista sendo uma abordagem individual, na qual permite ter a
escuta e o acolhimento das mulheres, salientam, também, a importância da/o
assistente social ouvir e observar. A observação “[...] permite, ao olhar com atenção,
perceber, as reações, os sentimentos expressos pela usuária, suas relações, o
ambiente onde está inserida” (LISBOA; PINHEIRO, 2005, p. 206). Lisboa (2014) fala
que a/o assistente social faz a primeira abordagem e depois de saber da demanda
faz o preenchimento do cadastro socioeconômico das mulheres durante o
atendimento. Na entrevista a/o assistente social pode “[...] propor estratégias de
enfrentamento e de resistência para as mulheres em situação de violência”
(LISBOA, 2014, p. 49). No atendimento realizado pela/o profissional, conforme
Lisboa e Pinheiro (2005), deve estar pautado na escuta, na ausência de julgamentos
e com respeito.
Além da entrevista, a/o assistente social realiza visitas domiciliares com o
objetivo de conhecer a realidade das mulheres, cujo trabalho é “[...] observar a
45

totalidade significativa da vida do sujeito [...], sem descartar sua correlação com as
inúmeras situações e expressividades observadas” (AMARO, 2003, p. 15). Lisboa e
Pinheiro (2005) argumentam as situações em que ocorre a visita domiciliar as
mulheres, principalmente diante de demandas relativas ao trabalho com famílias.
Além disso, as autoras citam a visita domiciliar no processo de guarda das crianças
e, também, no caso da/do profissional necessitar fazer abordagem da vizinhança a
fim de acompanhar a situação das mulheres. Nesse sentido, Lisboa (2014) salienta
a necessidade de estabelecer as articulações com as Redes de Serviço para a
mulher e os seus filhos serem atendidos nos projetos e programas da Política de
Assistência Social. A autora pontua, ainda, o acompanhamento da usuária junto com
os Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) e com os Centros de
Referência Especializados de Assistência Social (CREAS); cita, também, a mudança
da escola das crianças no período de abrigamento das mulheres.
A atuação do Serviço Social no atendimento de mulheres acontece por meio
da reunião com a equipe multiprofissional, conforme segue:
As reuniões com a equipe multiprofissional – de assistentes sociais,
psicólogos, médicos, enfermeiros, advogados e outros – são decisivas para
o encaminhamento correto das situações de violência. O assistente social
[...] é o primeiro contato das pessoas que chegam às instituições, realiza a
primeira entrevista, faz visitas e elabora um estudo social, emitindo parecer
(em caso de solicitação do juiz) e procedendo aos encaminhamentos
(LISBOA; PINHEIRO, 2005, p. 206).
É evidente pontuar que o trabalho da/do assistente social está articulado em
rede junto com outros profissionais da saúde e de áreas correlatas no atendimento
de mulheres em situação de violências. Lisboa (2014) argumenta acerca da
necessidade das/dos profissionais buscarem formas de interação com aqueles que
integram a equipe. Lisboa e Pinheiro (2005) fazem a crítica relativa ao trabalho das
instituições, os quais deveriam estar articulados em rede para o melhor atendimento
às mulheres. Desse modo, as autoras citam as Delegacias Especializadas de
Atendimento à Mulher (DEAMs), os Centros de Atendimento, hospitais, Instituto
Médico Legal (IML), Casas Abrigos, entre outros. A atuação da/do profissional, nos
termos de Biella (2005) é referente ao combate e a erradicação das violências que é
exercido nos espaços sócio-ocupacionais públicos ou privados. Silveira (2022) fala
que o trabalho da/do assistente social deve ter ações e estratégias de prevenção, a
fim de minimizar os altos índices de violência doméstica. A autora cita o desafio no
cotidiano profissional de assistentes sociais que é o acolhimento e o abrigo para as
mulheres em situação de violências, a fim de evitar novas ocorrências desse fato.
46

No contexto pandêmico, segundo Fernandes (2020), as intervenções do


Serviço Social ocorreram na modalidade remota e isso inflexonou a atuação
profissional. A autora argumenta que a atuação da profissão a distância não
promove o alcance satisfatório no que tange a subjetividade dos usuários. Dessa
forma, para a autora tal fato propicia a fragmentação do trabalho da/do assistente
social sem ver as relações sociais com totalidade. Para Silveira (2022, p. 29) o
trabalho da/do assistente social “[...] se configura em palestras e orientações, bem
como materiais explicativos sobre violência doméstica, onde e como procurar ajuda”.
Morethe e outros autores (2021) afirmam que os serviços de referência em
saúde da mulher possuem uma marca histórica, cujas estruturas são rígidas e
arcaicas com a esfera biologicista no cuidado da saúde; as autoras argumentam
sobre essa esfera ser articulada com a perspectiva sociocultural reprodutiva com
base no patriarcado, na misoginia e nas violências contra mulheres. A atuação do
Serviço Social nos serviços de referência em saúde da mulher na pandemia foram
realizadas “[...] ações socioeducativas nas enfermarias com vistas para orientar e
esclarecer as mulheres sobre a condição particular que a pandemia impunha e
buscar reforçar os direitos já consolidados [...]” (MORETHE et al., 2021, p. 193).
Além dessas ações, Morethe et al. (2021, p. 194) citam, também, o
atendimento dado às usuárias do serviço com orientações “[...] a respeito dos
espaços legítimos de formalização de denúncias, queixas e sugestões, como a
Ouvidoria e o Ministério Público, [...], durante a quarentena”. Nascimento e Silva
(2022) falam acerca da atuação do Serviço Social nos Serviços de Acolhimento
voltados para as mulheres em situação de violências; os autores falam sobre o
trabalho das/dos assistentes sociais e o seu objetivo, conforme segue:
“[...] Tendo como objetivo de contribuir na promoção à saúde de meninas e
mulheres em situação de violência sexual; promover a assistência
humanizada; articular a rede de serviços de saúde, socioassistenciais e
demais dispositivos da rede de enfrentamento à violência contra mulher; e
promover articulações com os movimentos sociais e organizações
feministas a fim de firmar parcerias para trabalhos socioeducativos, culturais
e políticos (NASCIMENTO; SILVA, 2022, p. 47).
É evidente salientar que o trabalho desenvolvido pelo Serviço Social com
mulheres em situação de violências está baseado na articulação em rede e no
trabalho com a equipe, a fim de garantir o atendimento humanizado. No que tange
ao trabalho das/dos profissionais nos Centros de Referência de Assistência Social
(CRAS), nos termos de Santos (2018), apreende as violências em âmbito doméstico
ser uma demanda expressiva; a autora salienta que a/o assistente social consegue
47

identificar a presença das violências contra mulheres nesse espaço


sócio-ocupacional. Entretanto, a autora fala sobre o atendimento dado às mulheres
em situação de violências no CRAS, o qual envolve o Serviço de Convivência e
Fortalecimento de Vínculos (SCFV); A autora pontua o serviço como uma ferramenta
necessária para trabalhar a prevenção das violências em um espaço protegido com
orientação necessária.
Em Pernambuco e no Recife, assistentes sociais compõem equipes
multiprofissionais da Política de Assistência Social, em todos os CRAS e CREAS do
município e do estado. Igualmente estão presentes em todos os serviços da rede do
Sistema Único de Saúde (SUS), nos níveis de atenção primária, secundária e
terciária. Locorregionalmente, a categoria atua amplamente nas equipes dos
Núcleos Ampliados de Saúde da Família e Atenção Básica – NASF-AB, na Atenção
Primária à Saúde; nas maternidades municipais e estaduais e nos serviços
especializados para atendimento a mulheres em situação de violências. A categoria
também se faz presente na Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), Policlínicas,
Unidades de Pronto-Atendimento (UPA’s) e demais serviços de Saúde. No âmbito da
Justiça, atua nas Varas de Família e na Vara de Violência Doméstica e Familiar
contra a Mulher do Tribunal de Justiça de Pernambuco. Outro âmbito de atuação
profissional da categoria é o trabalho em secretarias municipais e estadual de
mulheres e nos Centros de Referência da Mulher. Por sua incidência política,
assistentes sociais também participam dos movimentos feministas e de mulheres e
contribuem para o fortalecimento das lutas sociais.
48

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O contexto pandêmico ocasionou mudanças profundas nas relações sociais,
bem como explicitou de forma inequívoca a ordem predatória do capital – seu
padrão de opressão e exploração de classe. Não restou dúvida de que tal padrão
incide sobre a classe trabalhadora, marcadamente sobre seus setores mais
pauperizados e vulnerabilizados; neste bojo encontram-se milhares de mulheres,
particularmente mulheres negras habitantes de territórios periféricos que foram
duramente afetadas durante a pandemia e vivenciaram ainda mais agudamente o
desemprego, a insegurança alimentar e nutricional e as muitas violações de direitos
a que estão expostas historicamente no Brasil desde os primórdios de sua formação.
As violências contra mulheres, sobretudo as direcionadas a mulheres
trabalhadoras, pobres e negras, ampliou-se nesse contexto. As estratégias de
contenção do novo coronavírus, especialmente a adoção do confinamento social,
ademais de sua importância e fundamental necessidade, deixou as mulheres mais
suscetíveis a situações de violências no cenário doméstico, sendo a diminuição da
renda familiar pela suspensão de atividades econômicas informais – trabalho que
enquadra a maior parte dos/das trabalhadores/as mais precarizados/as - e o
convívio direto com as/os potenciais agressoras/es se tornaram os principais fatores
desencadeadores de violências. Além disso, tal fato se complexificou em
Pernambuco haja vista o aumento e a subnotificação dos casos de violências contra
mulheres.
Nesse sentido, a relação da pandemia com as violências contra as mulheres
se dá pela diminuição da rede de apoio, do estresse atrelado ao convívio direto com
agressoras/res seja nas relações intrafamiliares ou de afeto íntimo. É válido salientar
que na sociabilidade capitalista as relações sexo-gênero, as relações sociais de
sexo baseadas no patriarcado contribuem para manutenção dos mecanismos de
dominação feminina. Destarte cabe, também, destacar a divisão racial e sexual do
trabalho cujo fator é intrínseco ao racismo que coloca as mulheres pretas em maior
condição de subalternidade e mais expostas a todos os tipos de violências. No bojo
da sociabilidade capitalista surgem as expressões da questão social, sendo as
violências perpetradas contra as mulheres uma dessas expressões.
Quanto ao estado de Pernambuco e o contexto pandêmico, os dados
analisados evidenciam o aumento muito significativo dos casos de violências e
violações praticada contra as mulheres. É imprescindível frisar que no respectivo
49

contexto houve aumento dos casos de feminicídio e transfeminicídio no estado, com


destaque para o fato de que a maioria das mulheres vítimas de violências é parda,
com renda de até um salário mínimo; tem entre 20 e 29 anos e possui ensino
fundamental incompleto. Quanto ao local de prática das violências, a maioria dos
casos aconteceu nas residências, sendo os/as praticantes das violências foram
familiares das mulheres, mais especificamente pai, mãe e filhos. A violência física foi
o tipo de violência mais cometido contra mulheres no estado. No que tange ao tipo
de delito em Pernambuco no contexto pandêmico, os dados da SDS/PE indicam que
o crime de ameaça contra as mulheres foi o mais cometido em 2020. Não foi
possível analisar os dados dos delitos cometidos em 2021 e 2022 devido a alta
demanda de sistematização dos dados secundários da pesquisa, mas esses já
estão disponíveis.
Segundo os dados obtidos, houve aumento dos crimes de feminicídio e
transfeminicídio em Pernambuco em 2021. No que se refere à faixa etária das
mulheres que foram assassinadas no estado, a maioria tinha entre 18 a 24 anos.
Nos registros do crime de tentativa de feminicídio, as mulheres mais jovens também
apareceram como as principais vítimas. As medidas de enfrentamento às violências
contra mulheres, realizadas pela gestão estadual e municipal, foram pautadas na
garantia do atendimento na rede de assistência e proteção já existente do estado.
Além da qualificação da rede, foi notado que a Prefeitura do Recife sancionou leis
referentes ao enfrentamento à violência doméstica contra mulheres.
Em relação à atuação do Serviço Social no atendimento a mulheres em
situação de violências, compreende o trabalho em rede multiprofissional na defesa e
acesso aos direitos. No contexto pandêmico, em Pernambuco houve registros de
atendimentos dado as mulheres nos CRAS e CREAS, serviços de saúde, justiça e
segurança pública, lócus profissional da atuação cotidiana de assistentes sociais.
Destaca-se que o debate sobre as violências contra as mulheres no Serviço Social
se expressou por meio da produção científica de trabalhos acadêmicos e artigos
científicos sobre a temática.
Diante de tudo que foi apresentado no presente Trabalho de Conclusão de
Curso, faz-se necessário o aprofundamento do debate do tema no Serviço Social,
pois ele não se esgota e a problemática persiste e cresce. É necessário, também,
fazer o debate dos impactos das violências no período pós-pandêmico, contribuindo
na produção científica acerca das determinações sociais do fenômeno.
50

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