Adorável Espiã
Adorável Espiã
Adorável Espiã
(CH 355)
Adorável Espiã
The Lady Lies
Samantha Saxon
Celeste Rivenhall trabalha para o serviço secreto inglês fazendo-se passar por espiã
francesa. Forçada a viver entre mentiras, ela teve de endurecer o coração para
manter-se verdadeira consigo mesma. Mas quando lorde Aidan, o conde de Wessex,
é confiado à sua guarda como prisioneiro de guerra, Celeste sabe que fará qualquer
coisa para ajudar o corajoso oficial britânico... menos revelar sua verdadeira
identidade. Aidan Duhearst despreza Celeste por ser uma traidora, mas ao mesmo
tempo é incapaz de resistir aos encantos da bela espiã. Entretanto, seria um outro
segredo de Celeste, guardado a sete chaves, que poderia levar o conde à
perdição...
Projeto Revisoras 1
Samantha Saxon – Adorável Espiã
(CH 355)
EDITORA
Leonice Pomponio
ASSISTENTE EDITORIAL
Patrícia Chaves
EDIÇÃO/TEXTO
Tradução: Ercilia Magalhães Costa
Revisão: Luiz Chamadoira
ARTE
Mônica Maldonado
ILUSTRAÇÃO
Hankins + Tegenborg, Ltd.
COMERCIAL/MARKETING
Silvia Campos
PRODUÇÃO GRÁFICA
Sônia Sassi
PAGINAÇÃO
Dany Editora Ltda.
www.novacultural.com.br
Impressão e acabamento: RR Donnelley Moore
Projeto Revisoras 2
Samantha Saxon – Adorável Espiã
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Prólogo
Londres,
24 de setembro de 1794
A primeira coisa que Daniel viu foram as plumas. Soube que o dono daquele chapéu
enfeitado era o duque de St. John, pai de Christian. O duque, comandante-chefe das
forças britânicas, voltava para casa, depois de conquistar extraordinária vitória na
batalha de Lincelles. Assim que ele apareceu no jardim, o sol brilhou em suas
numerosas medalhas, tornando o homem em seu uniforme muito mais
impressionante, muito mais heróico.
— Pague a aposta, Wessex — ordenou Daniel McCurren ao amigo Aidan. — Eu
disse que o pai de Christian chegaria a tempo para a festa de aniversário do filho
caçula.
Resignado, Aidan tirou do bolso uma moeda de cobre. Tinha feito uma aposta
segura, pois seu pai, o conde de Wessex, oficial de maior confiança do duque de St.
John, havia escrito uma carta dizendo que o regimento chegaria à Inglaterra em
outubro. Mas, eles ainda estavam em setembro e o duque acabara de chegar a sua
casa. Isso queria dizer que veria o pai, depois de tantos meses de ausência. O
pensamento trouxe-lhe um sorriso aos lábios.
— Aqui está — tornou Aidan, atirando a moeda para o amigo. Em seguida deu-lhe
um soco nas costas e acrescentou: — Sua moeda, escocês arrogante que usa saia.
— Isto não é saia, é um kilt, inglês convencido. — Daniel deu um murro no amigo,
derrubando-o da árvore na qual ambos tinham subido.
Aidan quase caiu sobre John Elkin.
— Desculpe — Aidan resmungou, ao ver-se estendido no gramado.
John Elkin não desviou a atenção do livro que estava lendo e chutou o traseiro de
Aidan.
— Não foi nada.
A dor fez com que Aidan rolasse para o lado. Pensou com azedume por que fizera
amizade com aquela turma.
John Elkin, filho de pais que viviam brigando, tornara-se sarcástico, cético, e
mergulhara no mundo de seus amados livros. Mas era amigo leal, espirituoso, dono
de um coração mole como geléia.
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escritório e fechou-a assim que os dois entraram no cômodo. Aidan olhou ao redor
mais nervoso do que curioso.
Costumava visitar o amigo com freqüência, mas nunca tinha entrado no escritório.
Bem que ele e os amigos haviam tentado. Algumas vezes Christian planejara
surrupiar um ou dois charutos assim que não houvesse nenhum lacaio no hall, mas
nem mesmo o destemido Daniel McCurren tivera coragem de girar aquela maçaneta
reluzente.
— Sente-se, Aidan.
Obediente, o garoto sentou-se na enorme poltrona de couro, na frente da
escrivaninha, tendo de esticar as pernas magras para poder encostar os pés no
grosso tapete. E esperou. O duque ficou um instante olhando pelas altas janelas,
tendo as mãos cruzadas às costas.
— Você sabe que acabei de chegar de Lincelles, não?
— Sim, Alteza. — Aidan empertigou-se, determinado a parecer mais amadurecido.
— Toda a Inglaterra sabe de sua vitória.
O duque voltou-se paia o menino.
— Bem, a vitória não foi minha. Nossas tropas enfrentaram os franceses que tinham
muito mais canhões. A primeira linha de infantaria foi aniquilada. E quando a
segunda começava a vacilar, um dos oficiais dos dragões avançou para a linha de
frente com seu cavalo, com a espada em punho, e saltou sobre os franceses como
se o animal tivesse asas. Nunca vi nada mais glorioso. Os soldados criaram novo
ânimo. Foi a bravura desse oficial que subjugou o inimigo e nos levou à vitória, em
Lincelles. Esse oficial, Aidan, era seu pai.
O queixo de Aidan tremeu, ele não podia respirar. Baixou a cabeça e fixou os olhos
no tapete, mas em lugar do bonito desenho viu apenas um borrão. Um som metálico
fez com que olhasse sobre a escrivaninha e viu o anel de ouro do pai.
— O conde de Wessex foi o homem mais nobre e corajoso que conheci — o duque
prosseguiu. — Creio que nunca mais terei o privilégio de conhecer outro como ele.
Eu sei que é difícil, Aidan, mas a partir deste momento... você é o novo conde de
Wessex.
Aidan tinha consciência de que era o herdeiro do pai; estava sendo criado e
educado para receber o título de conde de Wessex. Mas não agora.
Não estava pronto.
Levantando-se, pegou o sinete de Wessex e colocou-o no dedo médio, mas o peso
do ouro fez com que o anel escorregasse. Ele empurrou-o com a mão trêmula e
cerrou o punho, com medo de nunca tornar-se o homem valoroso que o pai tinha
sido e para ser digno daquele anel.
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Capítulo I
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Seu anjo.
A idéia que fazia de um anjo era a de um ser etéreo, com asas, vestes brancas,
leves e esvoaçantes. Mas seu anjo usava vestido de baile azul. Com toda certeza,
Deus sabia que ele era inglês e o havia criado para receber aquele emissário
perfeitamente de acordo com seu gosto.
Inundou-o uma agradável sensação de paz e ele sorriu. Havia morrido com seus
soldados. A cabeça oscilou para o lado e ele lutou para manter-se consciente. Olhou
novamente para o lindo anjo loiro e notou que ela dizia alguma coisa.
Estaria falando com ele? O que desejaria saber? Como poderia ele explicar ao lindo
anjo o que tinha acontecido em Albuera? Iria dizer que fracassara, que desapontara
seus homens?
Não podia fazer isso.
Ao aguilhão da culpa juntou-se a dor que sentiu ao ser jogado sem a menor
consideração numa cadeira dura. As cordas que tinha nos pulsos feriam-lhe a carne.
Aidan gemeu.
Ouviu o anjo de azul dizer, em francês:
— Idiotas! Desamarrem-no.
Ela parecia zangada, mas não com ele. Um soldado prontamente cortou as cordas,
liberando os pulsos de Aidan, trazendo-lhe algum alívio. Gotas de sangue desceram-
lhe pelo rosto, indo manchar ainda mais o uniforme. De onde vinha aquele sangue,
ele não sabia.
Confuso, tentou ouvir o que o anjo estava dizendo, mas as palavras pareciam não
fazer sentido. Ele desviou a atenção para o cômodo onde se encontrava. A claridade
era pouca, mas suficiente para ver dois soldados com uniforme da infantaria
francesa: um à sua direita, outro à esquerda. Um terceiro guardava a porta. Junto à
parede havia um aparador com uma jarra e vários copos.
Um coronel do exército francês estava sentado a uma escrivaninha velha e
conversava com o anjo. Aidan esforçou-se para acompanhar o que diziam.
— Onde o encontraram? — O tom de voz do anjo foi ríspido.
— Em Albuera. Tinha uma perna debaixo do seu cavalo. Sete dos nossos soldados
cercavam-no. Todos mortos.
— E o cavalo? — indagou o anjo.
— Morto. Atravessado por uma lança.
Aidan contraiu-se. Parecia ouvir Thor relinchando ao receber a lança que lhe
atravessara o peito, indo cair num lamaçal.
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— É claro que o cavalo estava morto, coronel. Por isso o cavaleiro ficou preso sob
ele. Quero saber como era o animal. Descreva-o.
— Era... um belo... cavalo — o coronel gaguejou.
— O que mais?
— Não sei de que raça era. Também não vi marcas.
Aidan observou o anjo de azul. Nunca tinha visto um anjo zangado. Bem, ele não
tinha nenhuma experiência com seres celestiais. Como poderia julgar o
comportamento de um anjo? E esse coronel? Não entendia nada de cavalos. Enfim,
ele não era inglês e, sim, francês.
— Hum... — O anjo bateu o delicado leque de renda na palma da mão e voltou-se
para Aidan. Inclinou a cabeça para o lado e observou-o por um momento.
Ele fitou-a, maravilhado.
Os olhos dela eram grandes, lindos, azuis com pontinhos verdes. Ou seriam verdes
com pontos azuis? Os cabelos loiros estavam presos no alto da cabeça, num
elegante penteado. Parecia que ela havia saído de um salão de baile.
A mulher etérea tinha nariz perfeito, levemente arrebitado. E a boca! Deus, que
lábios! Cheios, vermelhos, sensuais! O peito de Aidan doeu. Havia sete longos
meses que não tinha a companhia de uma mulher e essa criatura celestial à sua
frente seria capaz de tentar um santo, o que dizer de um pecador como ele!
— Qual é seu nome, sir? — perguntou a criatura celestial em inglês com leve
sotaque francês.
Seu nome?
Aidan franziu a testa. A mente começou a clarear. Olhou ao redor, notou as barras
nas janelas daquela sala suja. Ouviu o tinir de metais e de homens gritando ao
longe. Piscou. Lembrou-se de que havia lutado em Albuera com lorde Beresford.
Que falta de sorte! Tinha sido preso!
Instintivamente, empertigou-se, e logo pensou em lutar para sair dali. Mas ao sentir
uma pistola encostada na cabeça, manteve-se sentado.
Fora capturado e iria morrer nas mãos do inimigo. Por Deus, devia ter morrido com
seus homens, em combate. Invadiu-o uma horrível sensação de culpa.
A criatura seráfica chegou mais perto dele. Agora o examinava. Aidan baixou os
olhos com receio de revelar o que estava sentindo. Ao notar a curva dos seios dela,
encheu-se de desejo.
— Traga-me um lenço umedecido, coronel — ordenou a mulher. Continuou olhando
para Aidan e repetiu a pergunta: — Qual é seu nome, sir?
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Projeto Revisoras 9
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O riso cristalino ecoou pelas paredes daquele lugar sujo e escuro, evidentemente
uma prisão. A mulher pressionou o ombro de Aidan, uma ordem silenciosa para que
ele se sentasse. Sua vontade era permanecer de pé, simplesmente para desafiar
sua captora, mas sentia-se exausto. Além disso, aquele tipo de resistência não lhe
traria benefício nenhum. Assim, encarou a mulher e sentou-se.
— Ora, os ingleses são reconhecidamente arrogantes. E você, milorde, é o homem
mais arrogante que já encontrei.
O sorriso dela era fascinante. Parecia até que flertava com ele, como se ambos
estivessem num grande evento social, e não em uma imunda prisão francesa. Ela foi
até a escrivaninha e pegou uma folha de papel.
— Hum... Você lutou em Albuera sob o comando de lorde Beresford. — Ela olhou
para o coronel, fez um movimento com a cabeça e ele começou a tomar notas. —
Na última batalha comandou um pequeno regimento. E, pelo seu modo de falar,
acredito que pertença à Câmara dos Lordes.
Impressionado com a exatidão daqueles dados, Aidan manteve os olhos fixos na
traiçoeira criatura seráfica. Mais uma vez ela aproximou-se dele, ficando tão perto
que a barra de seu vestido roçou nas botas enlameadas. Durante alguns segundos,
eles apenas se fitaram em silêncio. Depois, ela observou:
— Quando eu era pequena, tinha um cavalo. Era um animal muito cabeçudo e,
quanto mais apanhava de meu pai, mas teimoso ficava. Com medo de que o animal
acabasse morrendo de tanto apanhar, passei a agradá-lo e a lhe dar cenouras para
torná-lo dócil e obediente. Sabe que, a partir daí, meu cavalo fazia tudo que eu
quisesse?
— Uma história interessante — Aidan observou com indiferença. — Mas não entendi
o porquê de sua pequena narrativa.
A mulher ergueu as sobrancelhas e sorriu.
— Ah, mas essa história tem um propósito, milorde. Vejo que estou diante de um
homem obstinado. — Introduzindo a perna, entre os joelhos de Aidan, a mulher
forçou-o a separá-los e ficou de pé entre eles. — Minha experiência diz que, com
pessoas como você, castigos não surtem efeito.
Um arrepio percorreu a espinha de Aidan. Ele cerrou os maxilares. Sabia que era
forte, corajoso e capaz de suportar todo tipo de sofrimento no calor de um combate.
Porém, considerava-se fraco demais para resistir a uma mulher tão sedutora. E ali
estava a sereia esfregando-se nas coxas dele, acariciando-o, certa do efeito que
aqueles movimentos provocariam nele ou em qualquer outro homem. Ela sorriu e
curvou-se do modo provocativo, oferecendo a Aidan a chance de admirar por um
longo momento a curva dos belos seios. Então os olhos dele se prenderam aos dela.
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Furiosa, a mulher estreitou os olhos e deu um tapa no rosto de Aidan, onde havia um
corte. O sangue espirrou na blusa do luxuoso vestido azul. Nesse instante Aidan
percebeu que ali estava uma mulher extremamente perigosa.
— Cuidado, lorde Wessex. Posso mandar enforcá-lo amanhã mesmo. — Ela
advertiu-o, de olhos fixos nele. Certa de que ele entendera a precariedade de sua
situação, ordenou aos guardas:
— Levem este inglês imundo para sua cela.
Os dois soldados que estavam do lado de Aidan agarraram-no pelos braços e
afastaram-se com ele. A mulher voltou-se para o coronel.
— Coronel, o prisioneiro está ferido. Providencie para que seja tratado. Se ele
sangrar até a morte, a responsabilidade será sua. Tu comprends?
— Oui, mademoiselle. — Ele deu um sorriso nervoso.
— Esperem! — a mulher ordenou aos dois soldados que já estavam chegando à
porta com o prisioneiro. Ambos pararam imediatamente. — Coronel, por favor,
informe o general que não poderei jantar com ele esta noite. Como pode ver, meu
vestido ficou todo manchado.
O fato de ter sido o causador daquela inconveniência, para a mulher, alegrou Aidan.
Ela foi até ele e entregou-lhe o pequeno retrato com se fosse um lixo e falou com
voz melodiosa.
— Lorde Wessex, pode ficar com o retrato de sua irmã, a duquesa de Glenbroke. Ele
lhe proporcionará algum conforto quando caminhar para a forca.
Virando-se com um movimento, gracioso, ela deixou a sala úmida, seguida pelo
coronel.
Celeste parou à porta de seus aposentos e voltou-se para o oficial francês.
— Coronel Meillerie, o conde de Wessex deve estar pronto para viajar amanhã cedo.
— Ela acrescentou com um sorriso sádico: — O conde será um prêmio e tanto para
o imperador.
— Naturalmente, lady Rivenhall. Um prisioneiro assim deixará o imperador
Bonaparte empolgado. Mas o general não ficará nem um pouco satisfeito quando
souber que o levaram. — Os olhos cinzentos do jovem oficial refletiram sua
preocupação.
Celeste tocou-lhe o rosto bronzeado. Sorriu e encheu os pulmões de ar para chamar
a atenção dele para os lindos seios.
Ele notou.
— Mas você não contou ao general que o conde de Wessex tinha sido capturado,
não é mesmo, Philippe?
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Aidan não dormiu. A cabeça latejava por causa dos pontos dados às pressas no
ferimento do couro cabeludo. Ele massageou as têmporas, uma tentativa inútil de
abrandar a dor. Sentou-se no chão da cela úmida e fedorenta, aguardando seu
destino.
A forca.
Não tinha medo da morte. Mas as lembranças de tudo que iria perder o estavam
deixando com aquele aperto no coração. Não teria um filho a quem ensinar a
montar. Tampouco uma filha para levá-la ao altar e entregá-la ao futuro marido. Os
sobrinhos não teriam primos para brincar. Não tinha uma esposa... Uma esposa para
confortá-lo e amenizar o vazio que o consumia.
Pelo menos não iria deixar filhos chorando por ele. Filhos, órfãos de pai, que
sobreviveriam à sua incansável busca da glória.
Uma dolorida sensação de culpa afastou sua amargura. Seu pai tinha sido o melhor
dos homens. Era nobre, generoso, leal. Havia morrido no campo de batalha. Um
herói de guerra. Todas as pessoas que o conheceram reconheciam essas
qualidades. O falecido conde de Wessex amara os filhos, porém tinha amado a
Inglaterra ainda mais. E estava certo. Homens de sua posição tinham res-
ponsabilidades.
Ele, Aidan, também era responsável pela proteção das terras que o pai lhe confiara
e não iria permitir que francês nenhum pusesse os pés em Blackmore Hall. O pai
tinha morrido para impedir que isso acontecesse... Como seu filho e herdeiro, iria
fazer o mesmo.
Do bolso do casaco, Aidan tirou o pequeno retrato pintado a óleo. Sarah ficaria
inconsolável quando recebesse a notícia da morte do irmão, mas o marido, Gilbert, a
ajudaria a suportar o sofrimento. Ele sorriu ao passar delicadamente a mão pelas
imagens da irmã com os gêmeos. Eles viveriam numa Inglaterra livre. Os sobrinhos
herdariam a propriedade ancestral da família.
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Um nó formou-se em sua garganta quando ele fixou o olhar nos rostinhos cheios e
rosados dos bebês. Não os veria crescer. Iria morrer por seu país como tantos
outros morreram antes dele.
Aidan suspirou. Preferia a glória de haver morrido em combate a ficar pendurado
numa corda. Não se considerava um homem vaidoso, mas combatera o inimigo,
havia matado muitos franceses e gostaria de ser lembrado por seus feitos nos
campos de batalha e não por uma morte tão indigna.
A mulher de azul tinha dito que ele estava se tornando uma lenda. Bem, o legendário
conde de Wessex tinha um último dever a cumprir. Aidan levantou-se, foi até a bacia
com água e removeu cuidadosamente a bandagem que tinha ao redor da cabeça.
Tirou a roupa, lavou-se e limpou, da melhor maneira que pôde, o barro e o sangue
do uniforme. Se devia ser enforcado ao amanhecer, queria, pelo menos, ter a
aparência de um cavalheiro inglês.
Ao alvorecer a porta dos fundos do corredor abriu-se. Aidan ficou de pé, movimentou
as pernas e ajeitou a gravata molhada. Seu uniforme estava apresentável depois
das horas que ele havia empregado para limpá-lo com a água da bacia.
Dois soldados, ambos jovens e usando uniforme azul-escuro, estavam atrás do
carcereiro que abriu a cela.
— Acompanhe esses homens — o carcereiro ordenou ao prisioneiro. Em seguida
recomendou aos soldados: — Atenção! Vigiem-no o tempo todo.
A ausência de um oficial, para conduzi-lo ao patíbulo, irritou Aidan. Nesse instante,
os soldados empurraram-no para a frente. Ele parou no estreito corredor, virou-se e
lançou aos dois jovens um olhar indignado, como se dissesse que não iria tolerar
semelhante tratamento.
Endireitando os ombros, caminhou com dignidade até a porta, recebendo no rosto o
sol que iluminava o pátio barrento. Ergueu as sobrancelhas, muito surpreso, quando
viu, em lugar do carrasco, a linda loira que na véspera ele julgara ser um anjo, mas
que era, na verdade, um demônio das trevas.
Quem seria ela? Qual a sua função junto ao exército de Bonaparte? Nem mesmo os
franceses iriam entregar a uma mulher o comando de uma guarnição conduzindo um
prisioneiro ao cadafalso.
Do lado da loira estava uma senhora idosa toda vestida de preto. Ao vê-lo, a inimiga
loira sorriu para a velha e observou:
— Eu não lhe disse que o conde de Wessex seria um belo presente para eu oferecer
ao imperador? Será um divertimento e tanto ver este inglês, com toda sua altura,
cair aos pés da França.
O olhar desdenhoso da loira fixou-se em Aidan enquanto a tropa ria reunida no pátio.
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Celeste lembrou-se do que havia sentido ao tocar o tórax nu do conde. Uma pele
surpreendentemente macia cobria músculos rijos, bem desenvolvidos de um homem
preparado para a guerra. Ela estava acostumada a seduzir homens, a provocá-los e
tocá-los para fazê-los atender a todas as suas vontades e caprichos. Entre tanto,
nunca em sua vida tinha sentido aquele desejo de tocar um homem e de provocar
nele a mesma reação que ele provocava nela.
Marie estava certa. Ela queria salvar a vida do conde de Wessex porque tinha
interesse pessoal nele. O homem-lenda viveria. No momento era isso que
importava.
Com esse pensamento, Celeste adormeceu. E sonhou com o conde.
Era primavera e ainda anoitecia cedo.
Ao norte do acampamento, bandos de pássaros barulhentos recolhiam-se aos seus
abrigos nas árvores. Lady Rivenhall e Marie já tinham ido para a pequena casa onde
passariam a noite. Os guardas e o prisioneiro iriam dormir nas carroças ou em
tendas armadas a uns cem metros da casa.
Sentado no chão, o conde observou os soldados. Todos jovens, inexperientes e,
com certeza, devotados à linda mulher que parecia tê-los enfeitiçado.
— O que eu não daria para estar naquela casa — lamentou um dos guardas
entregando ao prisioneiro o seu jantar: carne cozida e um pão velho.
— Oui, companheiro, mas o nosso imperador não irá gostar nem um pouco se você
se engraçar com sua amante — disse o outro em tom de advertência.
Ouvindo isso, o conde ficou chocado. A linda loira era amante de Napoleão? Bem,
quem sabe essa informação lhe traria alguma vantagem, pensou.
Começou a comer com certa dificuldade, uma vez que tinha os pulsos acorrentados.
Quando partiu a baguete, surpreendeu-se ao ver uma coisa escura dentro do pão. O
que seria? Olhou para os guardas sentados ao redor do fogo, a uns dois metros de
distância dele. Vendo-os distraídos, comendo, conversando e rindo, pegou o objeto.
Uma chave! Guardou-a no bolso da calça, sentindo o coração bater mais forte, cheio
de esperança. Ele contou os soldados. Iria esperar que eles dormissem. Enquanto
isso, planejaria sua fuga.
Terminando de comer, Aidan aguardou algum tempo, depois enrolou seu cobertor
para servir-lhe de travesseiro e deitou-se. Ao movimentar-se, fez com as correntes
mais barulho do que o necessário. Como esperava, os guardas olharam na sua
direção e, vendo-o deitado, voltaram ao jogo de dados com o qual se dis traíam.
Aidan sorriu, certo de que sobreviveria. Estaria novamente em Blackmore Hall.
Porém uma coisa o intrigava. Quem lhe teria dado aquela chave? E por quê?
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Aidan deu um sorriso ameaçador. Inclinou-se, de modo que seu rosto ficou a poucos
centímetros do dela, deixando-a quase sem ar.
— Você não dará alarme nenhum.
— Por que não? Pretende me matar?
Ele riu e voltou a sentar-se sobre as coxas.
— Vou precisar da sua ajuda. Quero que você fale com seus homens agora e
quando eles voltarem da busca na mata. Se nós formos descobertos... — Os olhos
de Aidan ganharam um brilho singular. — ...a amante de Napoleão será uma
excelente refém.
Celeste ficou abismada ao ouvir aquele absurdo. Nesse instante ouviram tiros vindos
do acampamento. Aidan saiu depressa da cama, puxou Celeste para junto dele e
sussurrou-lhe ao ouvido:
— Ordene aos soldados que procurem o prisioneiro na mata e nos arredores. Dê-lhe
duas horas para essa tarefa. Nada mais do que isso. — Aidan manteve Celeste
colada ao corpo dele e a adaga encostada no seu pescoço. — Se disser uma só
palavra que denuncie a minha presença, cortarei sua linda garganta e você morrerá
antes de seu corpo alcançar o chão. Entendeu?
— Entendi. Mas preciso de um robe.
— Não. Fique assim mesmo. Acenda a vela.
— Como? O que está insinuando? Não posso aparecer diante de meus homens
assim... quase nua — Celeste protestou.
O conde acendeu a vela que estava sobre o criado-mudo, ergueu-a e por alguns
segundos admirou ostensivamente o lindo corpo da mulher sob a fina combinação
de musselina. Deu um sorriso maroto e voltou a ficar sério.
— Não se preocupe com esse detalhe, mademoiselle. O importante é que você aja
com naturalidade quando abrir a porta e receber a notícia da minha fuga. Cuidado!
Não faça nada que desperte as suspeitas do seu sargento. Não me obrigue a matar
vocês dois.
Acabando de falar, Aidan notou o sangue no pescoço da mulher e franziu a testa,
confuso. Tocou o pequeno corte e olhou para o sangue em seus dedos, incrédulo,
como se não tivesse sido ele próprio o causador daquele ferimento.
Celeste quase riu diante do absurdo da situação. Controlou-se e falou com
sarcasmo:
— Facas, adagas, punhais são feitos para cortar, milorde.
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Sem que Celeste esperasse, o conde encostou-a numa árvore e seus lábios
cobriram os dela, impetuosos, possessivos, deixando-a sem ar. Sentindo-se
sufocada, tentou libertar-se, porém quanto mais lutava, maior era a pressão sobre
seus lábios, chegando a feri-los. Ela entendeu que a intenção do conde era castigá-
la e mostrar-lhe quem era superior.
Ela era a inimiga.
De repente, os lábios do conde se suavizaram. Seu beijo foi demorado, acariciante,
sensual. Vibrando de prazer, Celeste entregou-se nos braços dele, esquecida de
tudo, ciente apenas de que eles eram um homem e uma mulher e tinham só aquele
momento para viver seus desejos.
O conde ergueu a cabeça e olhou para Celeste por um instante.
— Au revoir, lady Rivenhall. Que você arda no fogo do inferno pelo que fez com
meus compatriotas.
O conde de Wessex afastou-se de Celeste e começou a andar na direção oposta à
do acampamento. Ela seguiu-o com o olhar, frustrada. Ele a considerava uma
inimiga sem saber que devia a ela sua liberdade. Sem ter idéia de que ela arriscara
a vida inúmeras vezes justamente para salvar os ingleses. Abaixando-se, pegou a
adaga e atirou-a na árvore à esquerda da cabeça do conde. O som da lâmina
enterrando na madeira fez com que Wessex parasse e olhasse para trás.
— Um golpe quase mortal, milady — ele observou com desdém e continuou a andar.
Lady Rivenhall viu seu herói embrenhar-se na mata e desaparecer. Ela sorriu.
Sentia-se aliviada e contente com sua vitória.
Conseguira libertar o conde de Wessex, a personificação da masculinidade,
integridade, coragem e honra. Em suma: um perfeito cavalheiro inglês.
Capítulo II
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— Bem, Gilbert. Foi bom encontrá-lo. Quero lhe pedir um favor. Diga a minha irmã
que falou comigo. Explique-lhe que eu estava gostando muito do baile, mas tive de ir
embora.
— Lamento, mas não sei mentir para minha esposa. E aqui entre nós, tenho medo
da sua irmã.
Aidan riu e covinhas formaram-se em suas faces.
— Sarah é geniosa, não?
— Cruel. Insensível. Ainda há pouco ela ameaçou expulsar-me da nossa cama caso
eu não o procurasse. Oh, a pequena fera sabe onde atingir um homem — queixou-
se o duque, com humor.
Aidan riu novamente. Sabia que o cunhado adorava a esposa e tinha por ela
profunda afeição.
— Fale-me sobre você. Recuperou-se completamente?
— Sim, estou bem — Aidan respondeu, tentando mostrar-se sereno.
O duque não era pessoa de se deixar enganar. Percebeu que o cunhado havia
comprimido os maxilares. Compreendia o que ele estava sentindo. Estreitou os
olhos com evidente preocupação.
— Você tem lutado para que nós, ingleses, mantenhamos nosso estilo de vida. Tem
lutado pela nossa liberdade. Pela nossa soberania.
— Claro. Mas a que preço! Será que vale a pena? Sarah quis que eu me divertisse
esta noite. No entanto, como ter entusiasmo para dançar depois de haver
presenciado tantos horrores? Vi amigos morrendo, seus membros sendo arrancados
do corpo. — Aidan sacudiu a cabeça como se assim pudesse afastar as imagens
que o perseguiam. — Desculpe, Gilbert. Eu não devia ter tocado neste assunto.
— Tudo bem, rapaz. — Gilbert sorriu e apertou afetuosamente o ombro do cunhado.
— A propósito, sua irmã decidiu que está na hora de você se casar. Ela acha que se
tiver sua esposa e constituir família, acabará esquecendo as cenas de destruição e
morte que presenciou em Albuera.
— Que droga! — Aidan resmungou.
— Devo adverti-lo que sua irmã até já escolheu a noiva perfeita para você.
— Minha noiva?
— Isso mesmo. Se quer saber, aprovei plenamente a jovem lady que ela selecionou.
— Deus meu, até minha família voltou-se contra mim? Traidores! Vamos lá. Quem é
esse modelo do belo sexo?
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— Não posso dizer. É segredo. — O duque ergueu as duas mãos. — Longe de mim
frustrar os planos secretos de minha doce esposa de vê-lo muito bem casado. De
acordo com a agenda matrimonial de Sarah, você deverá ir a um jantar no próximo
sábado.
— Sábado?
— Às oito em ponto. E nem pense...
Aidan não ouviu o duque. Voltara sua atenção para a loira sentada do outro lado do
salão. Não podia ver o rosto dela claramente, mas havia nela algo familiar.
Ele ficou tenso quando a mulher virou-se para pegar um bilhete trazido por um
lacaio. Discretamente, ela guardou o pequeno papel no decote do vestido de baile
cor-de-lavanda.
— Aidan?
O conde ouviu seu nome e teve consciência de que o cunhado o havia chamado
outras vezes. Porém, continuou olhando para a mulher que naquele momento
estava se levantando. Ela olhou ao redor e caminhou para a porta que se abria para
um corredor de acesso aos cômodos privativos da casa de lorde Reynolds.
Não querendo perdê-la de vista, Aidan resolveu segui-la. Ouviu Gilbert chamá-lo,
mas continuou andando e abrindo caminho entre os convidados, sem olhar para
trás.
Chegando ao corredor esperou que a mulher subisse a escada. Só então foi atrás
dela, curioso e intrigado. Não podia ser ela, o cérebro lhe dizia, mas a intuição
contradizia a mente.
O corredor estava mergulhado na penumbra, uma vez que os convidados não
tinham acesso àquela parte da casa. Apesar da pouca claridade, Aidan viu o brilho
do vestido de seda da loira que acabara de entrar no último cômodo, do lado
esquerdo.
Caminhou até lá com cuidado, e seus passos eram abafados pelos luxuosos
tapetes. Parou perto da porta, abriu-a devagar e entrou numa sala de estar que se
comunicava com um quarto. Pela porta entreaberta espiou o interior do aposento
iluminado pelas velas de um candelabro de prata. A mulher loira estava de costas,
procurando alguma coisa numa escrivaninha. Aidan entrou no quarto, trancou a
porta em silêncio e ficou encostado na parede observando o cômodo, para descobrir
se havia algum modo de bloquear a saída da mulher.
Uma cama com quatro colunas trabalhadas dominava o grande quarto. À direita
estava um pesado armário. Na frente da lareira com frontão de mármore, sobre um
tapete Aubusson, oval, ficava um conjunto de sofá de couro e duas poltronas
revestidas de brocado azul. As altas janelas, do lado oposto ao da porta, tinham
cortinas de veludo azul-escuro.
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O único modo de sair do quarto era a porta dupla de comunicação com a sala de
estar que fazia parte da suíte. Os lábios de Aidan curvaram-se num sorriso malicioso
quando se aproximou sorrateiramente da mulher.
Era surpreendente, ele pensou, odiar aquela sereia que atraíra tantos homens para
a morte, seduzindo-os com sua beleza celestial.
— Vejo que a rã deixou o pântano e saltou para nossas bonitas praias — Aidan falou
em tom feroz.
Lady Rivenhall assustou-se e instintivamente correu para a porta de comunicação
com a sala de estar. Estava trancada. Ela virou-se, mas Aidan prendeu-a pelos
pulsos e encostou-a na parede. Numa das mãos ela segurava a adaga. Os olhos de
ambos se encontraram. Nos olhos verde-azulados, Aidan não viu sinal de medo.
Apertou o pulso da mulher com tanta força que ela acabou deixando cair a arma.
Devia haver uma razão para os franceses enviarem aquela mulher para a Inglaterra,
ele pensou.
— Por que está aqui, lady Rivenhall?
— Perdi-me nesta casa tão grande e vim parar nestes aposentos. — Celeste
respondeu calmamente. Aidan abanou a cabeça.
— Não se faça de desentendida. Por que está na Inglaterra, milady?
— Sou uma cidadã inglesa, milorde.
— Uma cidadã inglesa que luta contra a nossa liberdade. Que ajuda os franceses!
Quem lhe mandou o bilhete?
— Que bilhete? — Os olhos verde-azulados tinham um brilho desafiador.
Ela sufocou um grito quando Aidan enfiou a mão no decote do vestido de baile.
— Este! — Ele mostrou o pedaço de papel que havia encontrado entre os seios de
Celeste.
Abriu-o e leu:
Primeiro andar, ala leste, última porta à esquerda.
Desapontado porque não descobrira nada, ele decidiu examinar lady Rivenhall. O
melhor lugar para isso era a cama. Agarrou-a pelo pulso e deitou-a sobre a colcha
do grande leito. Olhou para a encantadora inimiga, consciente do desejo de ficar ali
deitado com ela. Fechou os olhos depressa para afastar a imagem que se formara
em sua mente. Aproveitando esse instante de distração, Celeste rolou para o lado da
cama e ia correr para a porta, mas com um salto Aidan agarrou-a pelo braço.
Prendeu-lhe os pulsos acima da cabeça e caiu sobre ela, pressionando-a contra o
colchão.
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Queria ver o medo impresso naqueles lindos olhos. O mesmo medo que os homens
que ela havia condenado à morte tinham sentido ao caminhar para a forca. O medo
que ele próprio tinha sentido. Só depois disso a entregaria às autoridades.
Estendendo o braço, Aidan levantou a saia de lady Rivenhall e começou a revistá-la.
Passou devagar a mão pela perna direita e subiu para a coxa, onde encontrou a
bainha da adaga mortal. Obstinada, ela manteve os olhos fixos nos dele.
— Você tem outras armas? — Aidan perguntou, querendo, por cavalheirismo, dar a
ela a oportunidade de encerrar a revista.
Lady Rivenhall permaneceu em silêncio. Ele maldisse aquela teimosia da inimiga e
moveu a mão um pouco mais para cima. Deteve-se.
— Você tem alguma outra arma, lady Rivenhall? — insistiu, de olhos fixos nos lábios
dela.
— Não — ela devolveu, também encarando os lábios do seu herói.
A tentação era demais. Aidan murmurou uma imprecação e baixou a cabeça para
sentir o gosto daquela boca. O sabor da traidora que durante noites e noites lhe
assombrara os sonhos e pesadelos. Mal tocou nos lábios sensuais, ergueu a
cabeça. Alguém havia entrado. Ele saltou da cama, empurrou lady Rivenhall para o
lado do armário. Com um braço manteve-a presa ao corpo dele, tapou-lhe a boca
com a outra mão e sussurrou:
— Se gritar...
A ameaça foi interrompida quando a porta se abriu e um casal entrou no aposento.
— Que lindo quarto, Jonathan! — uma mulher exclamou.
— Você gostou? Minha mulher cuidou da decoração — lorde Reynolds expôs.
— Um ambiente bem repousante.
— Repousante, sim, mas não por muito tempo. Venha cá, sua perversa.
A mulher riu. O ruge-ruge de sedas indicou que ela se movimentara.
— Ah, Fiona, você tem os seios mais lindos que já vi. Cabem perfeitamente nas
minhas mãos... e na minha boca. — Lorde Reynolds gemeu, obviamente beijando os
seios da mulher. Ela deu uns gritinhos, deliciada.
Aidan percebeu que a traidora ficara tensa, com a respiração opressiva. Ele puxou-a
para mais perto do corpo, sentindo as nádegas pressionadas contra sua virilha.
— Tire logo esse vestido — pediu lorde Reynolds impaciente e arfante. — Quero
sentir sua pele aquecendo a minha.
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— Esteja à vontade. Também vou para a cama. Boa noite. Os dois se separaram e
Aidan viu-se na St. James Street. Agradeceu a Deus ao avistar seu landau a uns
vinte metros de distância.
— Para casa — resmungou, ignorando o espanto do cocheiro ao notar o desalinho
do patrão.
Recostando-se nas almofadas do assento macio, Aidan passou a mão pelo pequeno
corte do pescoço, onde o sangue estava coagulado. A droga usada por lady
Rivenhall era poderosa, reconheceu.
Mas por que lady Rivenhall não o havia matado? A amante de Napoleão não
hesitaria em matar um homem. Mesmo que não o envenenasse, ela poderia usar a
adaga assim que ele perdera a consciência. Afinal, ele representava uma ameaça
para ela, pois podia identificá-la e entregá-la às autoridades. Com certeza alguma
coisa a interrompera.
Sendo lady Rivenhall uma mulher tão perigosa, Aidan continuou com suas
divagações, era imperioso que a encontrasse antes que ela passasse aos franceses
mensagens e dados capazes de aniquilar as forças inglesas. Conhecia a habilidade
daquela mulher para conseguir o que queria. Ela usava sua beleza e poder de
sedução para extrair dos homens tudo o que desejasse: confissões, segredos e
informações.
Ele próprio tinha sido fraco. Perdera-se no momento em que pressionara o corpo
dela contra o seu, em que tocara aqueles seios e beijara aqueles lábios.
Maldição!
Aidan afastou a onda de desejo que o consumia. Lady Rivenhall era uma inimiga.
Era uma mulher que traía seu país e conduzia os jovens ao massacre. Uma raiva
surda fez seu sangue ferver. Prometeu a si mesmo que se lembraria de seus
homens quando estivesse com ela novamente. Homens que lutaram com bravura
pela Inglaterra e ficaram caídos nas ruas sujas de Albuera, enquanto os soldados
das tropas de Napoleão, que passavam por eles, varavam os feridos e agonizantes
com suas espadas.
Para Aidan era doloroso pensar que sobrevivera, que se tornara prisioneiro, ao
passo que os homens de seu regimento tinham sido roubados e depois mortos sem
clemência. Soldados, jovens em sua maioria, que deram a vida para defender o
conde de Wessex. Homens com título de nobreza inferior ao dele, homens de
linhagem menos ilustre, porém muito mais merecedores da graça divina.
Contudo, sabia por que tinha sobrevivido.
Deus lhe dera lady Rivenhall. Dera-lhe a oportunidade de vingar seus homens e
proteger a Coroa. Nesse momento, Aidan jurou que faria tudo para ela não passar
nenhuma informação aos franceses. Estava disposto até a matá-la se fosse preciso.
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Uma batida na porta despertou o duque de Glenbroke. Ele retirou com cuidado o
braço no qual a esposa apoiara a cabeça, esperando que ela não acordasse. Vestiu
o robe e abriu a porta do quarto.
— Quem é Simkins? — perguntou ao leal mordomo que conseguira aparecer com o
uniforme impecável, apesar de haver se levantado às pressas.
— O conde de Wessex espera por Vossa Alteza no escritório.
— Obrigado.
Evidentemente preocupado, o duque desceu a escada, descalço como estava. Eram
quatro horas da manhã e Aidan não. era do tipo que interrompia o sono de alguém
sem ter uma boa razão para isso.
— Aidan, o que há de tão importante? — A expressão de Gilbert mudou quando viu
o estado do cunhado. Depois do instante de surpresa, sorriu. — Que droga, Aidan!
Você desapareceu, c sua irmã passou metade da noite o procurando. Sarah não
gostará de saber que você andou rolando com alguma lady num dos quartos de
lorde...
— Gilbert, preciso falar com você. É importante e urgente. Você ouviu falar de lady
Rivenhall?
Gilbert sacudiu os largos ombros.
— Qual delas? Há várias.
— Loira, olhos verde-azulados, jovem, linda.
— Lamento. As ladies Rivenhall que eu conheço não correspondem à descrição. —
Gilbert ergueu as sobrancelhas e perguntou com um amplo sorriso: — Por que você
quer saber, Aidan? Por acaso essa lady é a mesma que deixou essa marca no seu
pescoço?
Os olhos de Aidan tornaram-se gélidos.
— Sim, mas não pelo motivo que você imagina. Lembra-se do que eu lhe contei
sobre minha fuga do acampamento francês?
— Lembro-me.
— Pois a amante de Napoleão, que me interrogou em Albuera, é lady Rivenhall. —
Aidan torceu os lábios, desdenhoso. — Ela é inglesa e quatro horas atrás eu a
surpreendi revistando os aposentos de lorde Reynolds.
O duque ficou chocado.
— Tem certeza disso?
— Absoluta.
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— Muito bem. Dê-me detalhes sobre lady Rivenhall. Amanhã conversarei com um
homem que poderá responder às perguntas que fizermos sobre ela. Enquanto isso,
fique alerta. No momento talvez você seja a única pessoa capaz de identificar essa
mulher como agente francesa.
A expressão dos dois cavalheiros revelava que ambos compreendiam a seriedade
da situação.
— Aguardarei uma resposta sua, Gilbert —disse Aidan, por fim.
Curvou-se e deixou a casa da irmã, decidido a não se deixar envolver por mulheres
ardilosas.
— Quando o almirante pretende partir? — indagou o homem moreno.
— Na terça-feira. — Sophie aproximou-se dele e prendeu-o nos círculos dos braços
roliços. — Mas não posso esperar tanto tempo para vê-lo, querido.
O homem olhou para ela como se estivesse nos braços da deusa Afrodite. Com
aquele nariz largo e arrebitado, os pequeninos olhos escuros, a mulher lembrava
uma porca. Os cabelos, mal-cuidados e sem brilho tinham a cor pardacenta do pêlo
de rato.
O que a mulher tinha de extraordinário era o corpo. Provavelmente o almirante se
casara com ela atraído por aquelas curvas voluptuosas. E, também, por causa do
enorme dote que acompanhara a noiva, claro.
— Onde seu marido está no momento?
— Em Whitehall, numa reunião. Não se preocupe, querido. Alfred me disse que
passará a maior parte do dia fora. — A mulher contornou com o dedo a cicatriz que o
homem tinha no queixo. — Temos a manhã inteira só para nós.
O homem fitou a mulher como se a adorasse e a puxou para junto dele. Sua
intenção era deixá-la exausta e adormecida para que ele tivesse a chance de
revistar o escritório do almirante.
— Preciso de você, Sophie — murmurou e beijou-a avidamente. — Eu a amo. Você
é tudo o que eu quero. Só penso em você.
Continuou a beijá-la, e com as mãos, começou a despi-la demonstrando
impaciência. Quando ela ficou nua, ele ficou atrás dela, uniu seu corpo ao dela e
passou a beijá-la na nuca, enquanto prendia, entre os dedos, os mamilos
endurecidos e os apertava, acariciava e massageava. Sophie gemia, suspirava e
movimentava sensualmente os quadris. Ao sentir a rigidez do membro viril contra
suas nádegas, virou-se, arrancou o casaco do amante, desabotoou o colete azul, de
cetim, abriu a camisa branca de linho e ficou por um instante olhando fascinada para
o tórax musculoso. Então baixou a cabeça e esfregou os dentes num dos mamilos
escuros, depois no outro. O homem sorriu. Ele havia ensinado muita coisa à vadia e
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ela demonstrava ser aluna aplicada. O que lhe faltava em beleza, sobrava em
entusiasmo e sensualidade.
Ambos continuaram a se acariciar. Ele não ficou surpreso quando Sophie baixou a
mão e apertou o membro dele sobre o tecido dos calções justos, fazendo-o
estremecer.
— Você sabe como me tocar — ele murmurou quando a mulher começou a esfregar
o membro com mais vigor, sem esconder seu desejo.
— É assim que você gosta?
— Sim. E você?
— Está delicioso. Preciso de você, meu amor.
Sob o olhar concupiscente de Sophie, ele tirou as botas, os calções e levou-a para a
cama. Amaram-se selvagemente. A cada arremetida dele Sophie gemia de prazer.
No momento do clímax ela gritou, arquejante, nem um pouco preocupada em ser
ouvida pelos criados.
Depois, ambos ficaram abraçados, ofegantes, por causa do exercício. Sophie estava
de costas para o amante, mas ele percebeu que ela não iria dormir. Ele a conhecia o
suficiente para saber que dali a uns minutos a insaciável mulher iria querer mais.
Portanto, decidiu voltar a excitá-la. Assim que ela dormisse, ele poderia fazer o que
o trouxera àquela casa: revistar o escritório do almirante para encontrar as
informações desejadas.
— Amo você — ele declarou.
Foi por cima de Sophie, acariciou os gloriosos seios, sugou um após o outro e
possuiu-a novamente.
Desta vez ela adormeceu.
O homem levantou-se, vestiu-se, calçou as botas e saiu do quarto em silêncio.
Desceu a escada, sempre atento para não ser visto por nenhum criado, e entrou no
escritório. Com largas passadas, alcançou a grande escrivaninha de carvalho.
A que tipo de reunião o almirante terá ido?, o homem se questionou. Não ouvira, em
Whitehall, nenhum comentário sobre alguma invasão.
Tudo estava na mais perfeita ordem sobre a escrivaninha. O homem não viu
nenhum calendário, nenhuma anotação ou carta que pudesse revelar o assunto da
reunião à qual o almirante comparecera. Chamou-lhe a atenção o lindo abridor de
cartas, de prata, e ele colocou-o no bolso. Merecia um pagamento por ter ensinado a
esposa do almirante a dar prazer a um homem.
Abriu as gavetas da escrivaninha e só encontrou referências a cargas do navio,
horários de chegada e partida.
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lado do rio Albuera. Mas... em muitas partes do rio, era possível passar a vau até
mesmo canhões. E havia os lanceiros poloneses, aliados dos franceses, com suas
armas poderosas, das quais havia poucas chances de se escapar com vida. —
Aidan fechou os olhos. Depois inspirou fundo e continuou: — O inimigo nos cercou,
reduzindo meu regimento pela metade. Virei meu cavalo e fui ao encontro de meus
soldados que estavam perto do rio... O combate tinha sido feroz... Olhei para
aqueles homens caídos, seus corpos dilacerados... ouvi gritos. E eu sem poder fazer
nada.
— Era a guerra, Aidan. Homens morrem em combate.
— Não meus homens! Não sem mim!
Daniel ficou em silêncio. Só agora podia compreender como a morte do pai afetara o
amigo. Só agora entendia que Aidan carregava o fardo de seguir os passos de um
homem que tinha sido herói.
— Como você foi ferido?
— Não sei o que aconteceu depois que cheguei à margem do rio. Só me lembro de
estar numa sala sendo interrogado pela amante de Napoleão.
— Uma mulher?
— Isso mesmo. Uma inglesa! E está aqui no momento.
— Em Londres?!
— É. Em Londres. E pare de me olhar como se eu estivesse maluco. Vi essa mulher
no baile, na casa de lorde Reynolds.
— Será que não se enganou?
— Francamente! A mulher ia me mandar para a forca! — exclamou Aidan,
impaciente. — Você acha que eu iria me esquecer da cara dela? Daquele seu jeito
arrogante?
O visconde riu.
— Não. Acho que não. O que você pretende fazer? Tem algum plano?
— Ainda não sei. Mas ela é a razão de eu ter sobrevivido à carnificina de Albuera.
— Não entendo. Você disse que ela ia mandar enforcá-lo.
— E ia mesmo. O que eu quis dizer é que Deus permitiu que eu vivesse, permitiu
que eu me tornasse prisioneiro dos franceses, depois permitiu que eu fugisse para
poder impedir a ação dessa mulher.
— Continuo não entendendo.
— Pense bem. Eu sou a única pessoa que sabe como é essa inglesa que está
traindo nosso país.
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— É por causa dela que você está desse jeito? Sua aparência não é das melhores.
Você tem andado à procura dessa mulher?
— Tenho. Preciso encontrá-la de novo para entregá-la às autoridades. Eu sei que
ela continua em Londres. Glenbroke está me ajudando. Tem feito perguntas sobre
ela.
— Você parece exausto. Fraco e cansado como está, não irá prender essa espiã.
Precisa alimentar-se bem, amigo.
— Acho que você tem razão. Minhas roupas estão folgadas e deselegantes. Se eu
não recuperar meu peso, serei obrigado a renovar todo meu guarda-roupa. Isso
custará uma fortuna.
— Gastar uma fortuna em roupas! — Daniel fez uma careta de horror. — Você é um
perdulário, Aidan.
— Ora, meu velho, quem é você para me criticar?
Daniel olhou para a roupa amassada e suas favoritas botas hessianas, pretas.
— O que está insinuando, Aidan Duhearst? Aidan deu um sorriso perverso.
— Eu quis dizer, lorde DunDonell, que você é um relaxado. O queixo do visconde
caiu. Ele franziu a testa, indignado.
— Relaxado!? Ah, seu dândi miserável. Só não o estrangulo para não desmanchar o
laço da sua gravata.
— Dândi!?
Daniel deu uma boa risada.
— Não gostou? Eu o atingi no seu ponto fraco, não?
— Seu ataque verbal é quase tão preciso quanto a sua pontaria.
— Quer apostar?
Os olhos cor de esmeralda de Aidan brilharam.
— Mil libras?
Daniel mordeu o lábio inferior. Droga. Cometera uma tolice. Aidan era perito atirador.
E perder mil libras... Olhou para o amigo e ia desistir do desafio, mas acabou
dizendo:
— Ao clube Manton's.
— Feito! — Aidan concordou. Levantou-se com um sorriso nos lábios que o fez
parecer o menino que, juntamente com Daniel, lutou contra quatro valentões no
primeiro dia de aula, em Eton.
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— Reconheceu-a?
— O senhor sabe que meu cunhado foi preso em Albuera e conseguiu fugir
justamente das tropas de lady Rivenhall.
— Perdoe-me, Alteza, mas seu cunhado foi ferido em Albuera, não foi?
— Sim. Wessex teve vários ferimentos.
— Porém, o mais sério foi na cabeça, não? Muitas vezes a guerra afeta os
soldados...
— Está querendo dizer, sir, que Wessex está mentalmente perturbado?
— Não foi o que eu disse. Acredito que o conde esteja enganado. Meu gabinete
investigou lady Rivenhall, uma vez que a mãe dela era francesa.
— Qual foi o resultado da investigação?
— Lady Rivenhall é uma lady inglesa. A mãe, por ser nobre, foi executada durante a
Revolução. Sei que lady Rivenhall está morando em Londres há mais de um ano.
Não pode ter sido ela quem interrogou seu cunhado na península. Sinto muito.
Gilbert recostou-se na poltrona, abismado. Não sabia o que dizer ou pensar.
Surpreendeu-se quando a voz do homem à sua frente, tão grave momentos antes,
tornou-se alegre.
— E os gêmeos? Eles irão completar um ano, não é mesmo?
— Sim. Mamãe quer fazer uma grande festa, mas minha esposa insiste em reunir
apenas os parentes e amigos íntimos.
— Sua esposa é uma mulher sensata — opinou o velho. Gilbert mal o ouviu, tão
perplexo ainda estava com a informação que recebera.
Estaria Aidan mentalmente perturbado?
Capítulo III
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até perceber que ela entendera a seriedade da situação. — Você não encontrou
nada que pudesse comprometer lorde Reynolds?
— Não. Revistei a casa dele, observei-o e concluí que...
— Que o homem é um incapaz — Falcon completou. — Sempre achei que um bufão
como lorde Reynolds não poderia ser o traidor que procuramos. Lion é
extremamente astuto. Possivelmente você nunca encontrará um documento que o
incrimine.
— Nesse caso o que o senhor sugere?
— Encontre o sinete de Lion. Ele interceptou um comunicado oficial e imprimiu nele
seu selo. Veja que arrogância! O sinete é a prova de que precisamos para enforcá-
lo.
— Como um homem tão esperto pode cometer um descuido desses?
Falcon deu um largo sorriso.
— Não se trata de descuido e, sim, de um jogo. Homens como Lion querem sentir a
emoção do perigo; gostam de desafios, querem enganar os outros para provar sua
astúcia. Confiam no seu talento. Acham que jamais serão apanhados. É essa
arrogância que os acaba traindo. Encontre o sinete de Lion, Celeste. Você tem
quatro semanas para provar que um dos quatro homens do meu gabinete é um
traidor. Investigar quatro homens em quatro semanas é brincadeira de criança para
uma lady com o seu talento.
— É com Wessex que estou preocupada, milorde, não com os quatro homens. O
conde está determinado a me denunciar como espiã.
Falcon saboreou alguns morangos antes de dizer:
— Nesse caso, dê a ele um motivo para esperar até que você tenha terminado sua
tarefa.
A pulsação de Celeste tornou-se acelerada.
— Está sugerindo que eu devo...
— Seduzir Wessex.
Celeste sacudiu energicamente a cabeça.
— Não compreende, milorde, que o conde de Wessex não é do tipo que se satisfaz
roubando um beijo da namorada. Ele irá querer muito mais do que isso.
— Compreendo perfeitamente, minha querida e lamento por você. Mas não vejo
alternativa. Wellesley está contando conosco para impedir esse vazamento de
informações e você é a única pessoa capaz de fazer isso.
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Vendo Celeste tão perturbada, Falcon colocou-lhe na mão um copo com uísque. Ela
tomou a bebida de um só gole. Ele acrescentou:
— Sinto muito. O duque de Glenbroke me procurou para obter informações sobre
você. Eu lhe disse que você está em Londres há mais de um ano. Cheguei a
insinuar que os ferimentos de Wessex confundiram-lhe a memória. Tudo o que você
terá de fazer será usar seu charme para convencê-lo de que ele está enganado. Não
foi você quem o interrogou quando ele esteve prisioneiro. — Falcon fez uma pausa.
— Bem, quero deixar claro que você não é obrigada a aceitar essa tarefa.
Celeste refletiu sobre o assunto por um instante. Finalmente, decidiu.
— Aceito a missão, milorde. É um privilégio servir à Coroa.
A fumaça de cigarros e charutos que enchia a sala da popular casa de jogo Inferno
de Dante tornava o ambiente opressivo e parecia obscurecer a mente dos
jogadores.
Nos últimos cinco dias, Aidan estivera em todos os bailes, na ópera e nas festas da
cidade, na esperança de encontrar lady Rivenhall e precisava de um descanso.
Jogou uma carta no centro da mesa forrada de feltro verde e juntou todas as cartas
da rodada.
— Você tem visto lady Pervill, Wessex? — indagou lorde Robert Barksdale com um
sorriso decididamente malicioso.
— Juliet Pervill? Você não quis dizer lady Appleton, amigo velho? — interveio lorde
Fairfax.
— Lady Appleton é adorável, mas lady Pervill... Hum... — Barksdale abanou a
cabeça. — Há alguma coisa naquela moça que faz meu sangue ferver.
Lorde Fairfax deu de ombros.
— Por falar em beldades, na semana passada, fui ao baile na casa de lorde
Reynolds e vi uma linda mulher loira, de grandes olhos verdes. Fiquei tão encantado
que tive de me conter para não ir atrás dela, deixando lady Wagner plantada no
salão.
Aidan ficou tenso e seu coração bateu mais forte.
— Ah, você se refere a lady Rivenhall — disse Barksdale. — Lorde Elkin está
caidinho por ela e convidou-a para a festa que irá oferecer em sua casa de campo,
neste fim de semana. Não conheço essa lady Rivenhall, mas, pelo que Elkin diz, é
encantadora. Certamente irei conhecê-la na festa.
— Elkin está de volta? — inquiriu lorde Fairfax, juntando as sobrancelhas.
— Chegou a Londres na semana passada. Parece que o imperador não gosta muito
de ingleses se divertindo no continente. — Uma jovem prostituta aproximou-se de
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Barksdale e ele ficou de pé. — Com licença, cavalheiros, preciso dar atenção a esta
linda flor.
Lorde Fairfax também se afastou com duas gêmeas e Aidan sentou-se sozinho, de
péssimo humor, a uma mesa de canto. Lorde Elkin estava apaixonado por lady
Rivenhall! Bem, conseguiria facilmente ser convidado para passar o fim de semana
na casa de campo do amigo de infância.
Seus lábios curvaram-se num sorriso desdenhoso ao imaginar u expressão de
espanto de lady Rivenhall quando o visse na casa de lorde Elkin. Aidan terminou de
tomar o uísque e saiu da casa de jogos.
Chegando à rua, ordenou a seu cocheiro que o levasse à casa do duque de
Glenbroke. Pelo tom de voz do conde, o homem percebeu que ele estava
aborrecido. Murmurou apenas duas palavras de assentimento, estalou o chicote e
tocou os dois soberbos cavalos.
Nos poucos minutos em que Aidan esteve na carruagem, lady Rivenhall ocupou-lhe
o pensamento. Ocorreu-lhe que sua palavra apenas seria insuficiente para a traidora
ser enforcada. Ele precisava provar que ela era uma espiã; provar que ela era a
mesma mulher de Albuera.
Assim que o landau parou, Aidan saiu da carruagem antes mesmo de o cocheiro
descer do seu assento. O devotado e esnobe mordomo de sua Alteza abriu a porta
da casa, com o nariz para cima, até reconhecer o visitante.
— Glenbroke está em casa? — Aidan perguntou ao passar pelo homenzinho
deixando-lhe nas mãos o chapéu de pêlo de castor e o sobretudo.
— Sua Alteza está na biblioteca, entretanto...
Antes de o mordomo terminar a frase, Aidan já estava abrindo a pesada porta de
carvalho da biblioteca, ansioso para contar sobre a sua descoberta à única pessoa a
quem ele havia falado sobre lady Rivenhall, e parou, frustrado. Sarah estava
sentada no colo do marido, ambos abraçados e se beijando.
Aidan bateu na porta para revelar sua presença e falou com humor:
— Há catorze quartos no andar superior, Glenbroke. Não entendo por que vocês têm
predileção por este cômodo.
Com grande relutância, Gilbert interrompeu o beijo e olhou com desagrado para o
conde.
— A meu ver, posso namorar minha esposa onde eu quiser e você não tem nada
com isso.
Sarah virou-se para o irmão e protestou:
— Aidan! Só agora consegui fazer com que os gêmeos dormissem! O que você
quer?
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— Sim.
— Como você não irá denunciá-la, ela ficará intrigada, querendo saber o que você
pretende. Ao mesmo tempo, ela se manterá alerta e longe de seus contatos. — O
duque sorriu. — É aí, caro Aidan, que você terá de entrar com seu jogo. Faça a
mulher entender por que você não a entregou ao Ministério do Exterior.
— Que motivo um homem, um veterano, teria para não denunciar um inimigo?
— Não lhe ocorre motivo nenhum para um homem querer evitar a prisão de uma
mulher? Principalmente sendo essa mulher lindíssima, inteligente, encantadora,
capaz de fazer com que um homem duvide do próprio julgamento, como você disse
há pouco?
Aidan riu.
— Homem nenhum conquista uma mulher como lady Rivenhall. Ela, simplesmente,
não se deixa seduzir por um homem. Ela é a sedutora. Foi treinada para isso.
— Pelo que estou vendo, você não confia no seu poder de sedução. Eu o
considerava um conquistador.
Os olhos de Aidan dardejaram.
— Não adianta me provocar, Gilbert.
— O que o faz hesitar? O plano tem tudo para dar certo. — De repente o duque
arregalou os olhos, surpreso. — Você não... sente desejo pela mulher?
Aidan ficou em silêncio por um instante, incapaz de encarar o cunhado.
— Não sei.
— Como não? Um homem sabe se deseja ou não uma mulher. —É difícil explicar.—
O conde apertou os maxilares, confuso.
Não encontrava palavras para expressar o que sentia. — Lady Rivenhall tem uma
beleza estonteante, sem dúvida. Mas quando a vi, tudo o que me veio à cabeça foi
que ela era a responsável pela morte de milhares de vidas. Ela é uma prostituta,
Gilbert! Uma traidora e assassina. O que eu sinto por ela é o desejo de vingança,
desejo de pegar essa amante de Napoleão e usá-la do modo mais degradante.
— Você quer aproveitar-se dessa mulher? Quer violentá-la? — indagou o duque,
preocupado.
— Não se espante. Gilbert. Lady Rivenhall abrirá as coxas de boa vontade se achar
que poderá arrancar de mim alguma informação.
— Se você tem certeza de que essa mulher é a mesma de Albuera...
— É a mesma.
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O francês virou o cavalo e partiu, deixando o homem alto olhando frustrado para o
embrulho que segurava. Então inspirou fundo e deixou o parque. Tinha pela frente
um novo desafio: conseguir antes de lady Rivenhall as informações exigidas por
Napoleão.
Capítulo IV
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podemos nos mudar para uma pequena casa na charneca inglesa até o término da
guerra.
A sugestão de Marie era tentadora, porém, imagens de homens que iriam morrer,
caso ela falhasse, passaram-lhe pela mente. Restava-lhe pouco tempo e não tinha
escolha. Ergueu a cabeça e beliscou as faces para deixá-las coradas. —Dê-me o
leque, Marie, por favor —- falou com determinação.
A conversa na grande sala de visitas cessou repentinamente e todas as pessoas
que ali se encontravam olharam na direção de Celeste quando ela apareceu à porta.
Ocorreu-lhe que devia estar atrasada para causar aquela reação dos convidados.
— Lady Rivenhall! — disse lorde Elkin que estava no fundo da sala com dois
cavalheiros.
A conversa reiniciou quando ela caminhou ao encontro do anfitrião. Ele fez as
apresentações.
— Lady Rivenhall, permita-me apresentar-lhe lorde Bower e o conde de Wessex.
Celeste voltou-se para o conde. Com aquele sorriso que evidenciava as covinhas e
um brilho de satisfação nos olhos, ele estava mais encantador do que nunca.
— Lady Rivenhall — disse o conde inclinando a cabeça.
— Lorde Wessex.
Lorde Bower, gordo e não tão jovem, saudou Celeste polidamente, sem disfarçar
sua admiração.
— Lady Rivenhall.
— Lorde Bower. — Celeste fez uma mesura. Lorde Elkin virou-se para o conde.
—Wessex, creio que você não conhece lorde e lady Paddington.
— Realmente, não os conheço — Aidan respondeu, não demonstrando interesse em
ser apresentado ao casal.
— Lady Rivenhall, com sua licença. Vou deixá-la com nosso caro lorde Bower.
O largo sorriso de Celeste revelou seu alívio.
— Por favor, não se preocupe comigo, lorde Elkin. Tenho certeza de que lorde Bower
e eu encontraremos uma infinidade de tópicos sobre os quais conversar.
Lorde Elkin levou Aidan para um canto discreto da sala onde havia um grande vaso
com uma palmeira, perfeito para protegê-los de olhares curiosos.
— Wessex, você conhece bem lady Rivenhall. — Era uma afirmação.
— O que está dizendo, John? É assim que você recebe o amigo de infância, depois
de dois longos anos? — Aidan perguntou, fingindo estar ofendido.
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— Nesse caso, Celeste, me empenharei para fazer com que esta viagem valha a
pena. — John olhou para os lábios entreabertos de Celeste e selou-os com um
beijo.
Ela não ofereceu resistência. O homem era experiente, sabia despertar o desejo de
uma mulher. Celeste abraçou-o e correspondeu ao beijo, deixando John cada vez
mais excitado.
— Você é deliciosa. Tem o sabor que imaginei que você teria. Ela inclinou-se sobre
ele, pressionando os seios sobre o tórax
musculoso. Ao fazer isso, olhou para o relógio sobre a cornija da lareira. Sete
minutos. Droga! Ele teria tempo de despi-la.
Ergueu-se, empurrou o ombro de John e pediu-lhe, imprimindo desejo na voz:
— Tire o casaco.
Ansioso para atender ao pedido, ele livrou-se do finíssimo casaco e começou a
desamarrar a elegante gravata.
— Não. — Celeste fitou John dentro dos olhos. — Deixe-me fazer isso.
Devagar ela desfez o laço intricado, puxou a gravata e encheu de beijos o pescoço
do rapaz. Sorriu e começou a desabotoar o colete de seda. A respiração de John
tornou-se entrecortada, seus olhos ficaram escurecidos de desejo. Quando Celeste
soltou o último botão de prata e ia alcançar o colarinho da camisa, lorde Elkin
segurou-lhe os pulsos.
— Minha vez — ele murmurou.
Os olhos mantiveram-se presos aos dela, enquanto a mão atrevida passeava
vagarosamente pela perna de Celeste, sobre o joelho e alcançava a liga.
Ele fechou os olhos e gemeu.
— Hum... ligas de renda.
— E calcinha de renda — ela completou.
— Oh! — Lorde Elkin apossou-se da boca de Celeste e beijou-a avidamente.
Nesse instante eles ouviram o som de tiros.
— O que foi isso? — Lorde Elkin soltou Celeste abruptamente. — Droga! Preciso ver
o que está acontecendo. Sinto muito.
— Por favor, não se desculpe. Nos veremos pela manhã — disse Celeste
suavemente. Quando lorde Elkin caminhava para a porta, vestindo o casaco às
pressas, ela acrescentou: — Tenha cuidado, John.
Ele virou-se, sorriu para ela e saiu para o corredor. Celeste correu para trancar a
porta e foi até a escrivaninha. Examinou os papéis bem arrumados em duas pilhas
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Da sala de estar completamente às escuras, Aidan ouviu quando lorde Elkin saiu do
escritório. Teve de admitir que lady Rivenhall era excelente profissional. Ela soubera
lidar habilmente com o rapaz enamorado e estava no momento no cômodo vizinho,
dando uma metódica busca na escrivaninha.
Trabalho perdido, Aidan pensou com humor. Ele já havia estado naquele mesmo
escritório e substituíra todos os documentos importantes por outros falsos que ele
próprio tinha preparado em Londres. Esperou uns minutos e abriu devagar a porta
de comunicação com os dois cômodos. Lady Rivenhall estava de costas,
concentrada no material sobre a escrivaninha e não o ouviu entrando no escritório.
Aidan encostou um ombro na porta e cruzou os braços.
— Encontrou alguma coisa?
Lady Rivenhall virou-se, assustada, e apoiou-se na escrivaninha.
— Não trouxe a adaga, lady Rivenhall? É. Seria difícil explicar a presença da arma
na liga quando lorde Elkin levantasse sua roupa.
— Realmente. Mas eu daria tudo para ter agora a adaga comigo — ela falou com
altivez.
A compostura da mulher irritou Aidan. Tinha de confundi-la. Fazê-la perder aquela
pose.
— Você não respondeu à minha primeira pergunta. Encontrou alguma coisa do seu
interesse?
— Não.
Aidan decidiu convencer a espiã de que qualquer documento que ela tivesse
encontrado era vital para o sucesso das forças britânicas na guerra. Por isso, não
iria deixá-la sair dali sem antes revistá-la. Na verdade, estava louco para ver aquelas
calcinhas de renda.
— Perdoe-me, mas duvido que você não esteja escondendo alguma coisa. Tire o
vestido.
Lady Rivenhall encarou-o e não fez o menor movimento para despir-se.
Aidan chegou bem perto dela.
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Deu as costas para a mulher e passou a mão pelos cabelos. Ocorreu-lhe que a
pequena traidora poderia partir-lhe o crânio ao meio. Se isso acontecesse, seria
mais do que merecido.
Pela manhã, o conde de Wessex sentia-se muito menos indulgente do que na
véspera.
Saiu para o jardim acompanhado, a contragosto, de duas jovens ladies. Infelizmente,
o fato de ele ter voltado de Albuera como herói de guerra, estimulara as mães
casamenteiras â empurrarem as filhas na direção dele. Aidan ofereceu um braço a
cada moça e passeou com elas pelo gramado, que se estendia até o rio.
Não muito longe deles estava lady Rivenhall com lorde Elkin.
— Os jardins do solar são lindos, não acha, milorde? — perguntou a moça mais
nova.
— Sem dúvida — Aidan aquiesceu polidamente.
— O meu preferido é o jardim de rosas — disse a outra, de cabelos castanhos. —
Como são os seus jardins, em Wessex milorde?
— Minha mãe também gostava muito de rosas — Aidan respondeu distraidamente.
Sua atenção estava voltada para lorde Elkin que conversava com seu mordomo.
Segundos depois, ele falou com lady Rivenhall. Ela sorriu, acompanhou-o com o
olhar, enquanto ele se afastava com o mordomo, e sentou-se no banco mais
próximo, com certeza para esperar que ele voltasse.
Aidan não perdeu tempo. Pediu licença às mocinhas e foi a passos largos até lady
Rivenhall; o cascalho rangia sob as finas botas hessianas, pretas.
— Lady Rivenhall, gostaria de dar um passeio? — perguntou em voz alta para que
os outros hóspedes ouvissem e ela não pudesse recusar o convite.
Ela levantou-se do banco de pedra.
— Com prazer, milorde—respondeu, e seu sorriso contradizia o brilho flamejante dos
olhos.
Aidan ofereceu-lhe o braço e eles caminharam devagar na direção de uma fonte.
— Parece que você gosta de jardins ingleses. Estranho, não? Lady Rivenhall ergueu
bem a cabeça.
— Gosto demais dos jardins ingleses. Amo os campos da Inglaterra, lorde Wessex.
Meu pai e eu costumávamos passar o verão na fazenda de meus tios, em Suffolk.
— E sua mãe?
— Morreu quando eu tinha três anos.
— Seu pai é um traidor como você, milady?
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— Meu pai... — ela começou com tal fúria que Aidan ficou atônito. Em seguida
controlou-se. — Isso diz respeito só a mim, milorde.
— Discordo. Diz respeito a todos nós, patriotas. Por sua causa e de outros traidores
milhares, de ingleses morrem. — O conde fez uma pausa e observou a enigmática
mulher que olhava para um ponto no horizonte. — Devo explicar o motivo que me
fez convidá-la para este agradável passeio. Lorde Elkin é um amigo íntimo e não vou
permitir que ele seja usado. Eu sei que ele vai convidá-la para deitar-se com ele,
mas você deve recusar o convite.
Lady Rivenhall parou de andar, furiosa.
— Vou para a cama de quem eu quiser e quando eu quiser, lorde Wessex.
— Lorde Elkin...
— Lorde Elkin não tem nenhuma informação que seja do meu interesse. Portanto,
se eu decidir dormir com ele, será unicamente porque ele me atrai.
— Pois eu imaginei que você sentia atração por homens baixos com ambição de
conquistar o mundo.
Eles chegaram à fonte e voltaram pelo mesmo caminho ao lugar de onde tinham
saído.
— Eu admiro um homem que tenha objetivos e luta para alcançá-los. Entretanto... —
ela acrescentou com um lindo sorriso: — ...ultimamente me sinto atraída por homens
altos, musculosos, com penetrantes olhos azuis.
Irritado, Aidan viu que lady Rivenhall estava olhando para lorde Elkin que caminhava
apressado ao encontro deles.
— Não brinque com John — ele advertiu-a.
— Prefiro que John decida se quer ou não ser meu brinquedo. E fique sabendo que
estou cansada de ouvi-lo me acusar de traidora. Se você tem alguma prova contra
mim, entregue-me às autoridades de Whitehall. Se não tem, deixe que eu me divirta
em paz.
— Tenho provas, lady Rivenhall. Você me interrogou em Albuera, lembra-se disso?
Lady Rivenhall agitou os longos cílios e disse com afetada inocência:
— Ouça o que vou dizer quando me interrogarem: "O conde de Wessex foi ferido em
Albuera e isso o deixou mentalmente confuso. Asseguro-lhe, milorde, que nunca saí
da Inglaterra. Não consigo imaginar por que ele fica dizendo essas coisas a meu
respeito. Talvez seja porque nunca aceitei seus avanços.” — Lady Rivenhall ficou
séria e acrescentou: — Meu discurso será muito convincente, lorde Wessex.
Principalmente se o interrogatório for conduzido por homens.
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— Ainda bem. Ele puxou-a para o círculo de seus braços e beijou-a febrilmente.
Depois seus lábios pousaram perto do ouvido. — Passei metade da noite ardendo
de desejo por você. Quando, por fim, adormeci, sonhei que fazíamos amor.
Excitado, John deixou uma trilha úmida de beijos no pescoço de Celeste até
alcançar a curva dos seios, onde seus lábios se detiveram um longo momento. Ela
sentiu o membro rijo pressionando-lhe o quadril. Ele voltou a beijá-la na boca, sua
língua entrelaçou-se com a dela e a mão sôfrega fechou-se ao redor de um dos
seios.
— John, seus hóspedes.
A frustração dele foi evidente. Relutante, afastou-se e sorriu.
— Eu seria capaz de renunciar ao meu título para livrar-me de todos eles. Nós
poderíamos ficar horas sozinhos, fazendo amor aqui mesmo.
Celeste sorriu e enrubesceu.
— Mas seus hóspedes estão aqui.
— Estão. Que droga, não? — John sorriu.
Celeste disse a si mesma que se pudesse ter uma vida normal como qualquer
mulher, se apaixonaria por esse belo e simpático lorde Elkin.
— Você poderia usar aquela calcinha de renda esta noite, lady Rivenhall? — John
indagou, malicioso.
— Não. — Celeste passou os braços ao redor do pescoço de lorde Elkin e riu ao ver
o desapontamento em seu rosto. — Vou usar uma calcinha de renda diferente
daquela. Só tenho calcinhas de renda, milorde.
Os olhos cintilaram.
— Perdição! — John murmurou.
Tomando Celeste nos braços, beijou-a impetuosamente.
Capítulo V
Nessa noite, ao jantar, Celeste sentou-se à direita do anfitrião. Lorde Elkin teve o
cuidado de colocar lorde Wessex à outra extremidade da mesa, entre duas
mocinhas que disputavam entre si as atenções do belo conde. Sem ter quem a
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O coração de Celeste começou a pulsar forte. Ela inspirou fundo para ganhar
coragem. Segurou a mão dele, mas, ao dar um passo, caiu sobre o tapete.
— O que foi? Você está bem?
— Ai! — Celeste gemeu. — Acho que torci o tornozelo.
Lorde Elkin abaixou-se, apoiando um joelho no chão.
— Será que quebrou?
— Deve ser apenas um mau jeito. Mas está doendo. Acho melhor voltarmos para o
solar, pois tenho láudano em meu quarto. Sinto muito, John.
O desapontamento do pobre homem foi evidente.
— Vou levá-la para casa e a deixarei aos cuidados de madame Arnott. — Ele deu
um débil sorriso.
Lorde Elkin ia erguê-la, mas Celeste colocou a mão no peito dele.
— Não, John. É melhor que não nos vejam saindo juntos daqui, a esta hora da noite.
A distância até o solar não é tão grande. Conseguirei chegar lá.
— Mas você precisa de ajuda — disse John, preocupado. Celeste sentiu genuína
afeição por ele. Recompensou-o com um beijo.
— Sobreviverei, milorde. Terei o maior prazer de revê-lo em Londres.
— Então vá. Se continuar diante de mim serei capaz de carregá-la para a cama e
farei amor com você, machucada ou não.
Celeste mancou até a porta e, antes de sair, deu um adeusinho a lorde Elkin. Ele
sorriu, mas o desapontamento estava impresso no belo rosto.
Caminhando ao luar, ela tirou do bolso do vestido o molho de chaves que tinha
roubado de lorde Elkin. Uma, certamente, seria a do cofre. Agora era só entrar na
biblioteca...
Com o coração apertado, pensou nas crueldades e nas faltas que já cometera pelo
bem da Coroa.
John Elkin foi até a janela da casa de barcos. Tinha uma das mãos no bolso e
segurava na outra uma taça de champanhe. Não podia estar mais desiludido do que
estava. Ao conhecer lady Rivenhall encantara-se com ela e alimentara esperanças
de haver, por fim, encontrado a mulher capaz de curar as feridas de seu coração.
Tomou todo o vinho borbulhante, tentando afastar as lembranças de uma outra
mulher, igualmente linda. Uma lady que nunca seria sua.
Continuou a olhar para o reflexo da lua nas águas do rio, sentindo o peito oprimido.
O que mais lhe doía era saber que tinha sido usado. Lady Rivenhall o enganara
duplamente. Envolvera-o com sua sensualidade e, instantes atrás, lhe roubara as
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chaves. Ela nunca estivera interessada nele e, sim, em alguma coisa que ele
possuía.
Pois bem, ele iria ficar na casa de barcos o tempo suficiente para deixar que a
mulher o roubasse. Merecia esse castigo por sonhar em ser amado por si mesmo.
Celeste admirou a ordem e a elegância da enorme biblioteca. Muitos cavalheiros
não gostavam de ler e mantinham uma biblioteca por vaidade ou ostentação. Não
era esse o caso de lorde Elkin. O homem, sem dúvida, era um ávido leitor. Ele usava
pedaços de papel-pergaminho para marcar as páginas do seu interesse. E havia
desses pedaços de papel em quase todos os volumes. Ela sorriu ao olhar ao redor.
Sentia ali a presença de John Elkin.
Sentiu um peso no coração ao se aproximar da estante atrás da qual estava o cofre,
embutido na parede. Mais uma vez invadia a privacidade de lorde Elkin. Afastou
para o lado alguns volumes e viu, como esperava, a porta do cofre. Trêmula, pegou
a pequena chave prateada que havia tirado da argola do chaveiro. E se encontrasse
alguma coisa que incriminasse o jovem lorde? Sabia a resposta. Ele seria
interrogado no Ministério do Exterior e, depois, julgado por traição.
Celeste girou a chave rezando para não encontrar nada comprometedor.
A um canto estavam estojos de veludo com jóias. Uma grande quantidade delas.
Peças montadas em safira, esmeraldas, jade, diamantes e um enorme rubi. Concluiu
que o gosto de John era impecável.
No centro havia uma pilha de documentos: escrituras, contratos, ações, o
testamento de lorde Elkin. E uma carta.
Ela abriu o envelope e leu:
14 de julho de 1809
Querido John,
Dizer que fiquei surpresa com seu pedido de casamento seria mentira. Sempre
sentimos grande afeição um pelo outro, eu apreciava demais a sua companhia e
isso o levou a declarar-se.
Eu o admiro e prezo imensamente sua amizade, mas não o amo. Eu daria tudo para
mudar meu coração, mas isso é impossível. Sofro por causar-lhe tanta dor. E se
você puder perdoar meu egoísmo, peço-lhe para preservar nossa amizade. Durante
todos estes anos, sua voz, seu sorriso, seu humor alegraram meus dias mais
sombrios, e não sei o que teria feito sem eles.
Reservarei para você a primeira dança no baile do conde de Wessex. Se você me
der a honra de ser meu par, entenderei que fui perdoada e continuaremos amigos
pelo resto de nossos dias.
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Celeste ficou atônita e sentiu pena de lorde Elkin. Certamente ele ainda amava essa
mulher para guardar sua carta durante dois anos. Gostaria de saber se ele tinha
dançado aquela primeira dança, ou se a amizade de ambos se desfizera por causa
da dor da rejeição.
Será que essa mulher rejeitara lorde Elkin porque amava outro homem?
Felicity... Já ouvira esse nome. Sim. Lady Felicity Appleton. E essa mulher tinha
alguma ligação com lorde Wessex. Era uma grande amiga da duquesa de
Glenbroke. Teria lady Appleton rejeitado lorde Elkin por amar o conde de Wessex?
Essa possibilidade desagradou Celeste. No mesmo instante ela censurou-se. Não
podia esperar que o herói de guerra permanecesse solteiro. E por que não escolher
para esposa a linda lady Appleton?
Droga!
Irritada, guardou a carta no cofre. Tinha de pensar em sobreviver e não em tecer
considerações românticas sobre o homem que estava fazendo o possível para vê-la
presa e condenada.
Fechou o cofre, colocou os livros no lugar, apagou a vela e saiu para o corredor
escuro e silencioso.
Sua inquietação desapareceu ao chegar à porta do quarto. Realizara sua
investigação com sucesso, e estava aliviada por poder riscar o nome de lorde Elkin
da lista dos suspeitos de traição. Agora tinha de planejar a tarefa seguinte.
Aidan sentou-se numa poltrona em um canto do quarto escuro e esperou
calmamente por lady Rivenhall. Assim que a porta se abriu, ele acendeu as velas do
candelabro que estava sobre a mesa à sua esquerda.
— Marie? — Celeste perguntou.
— Lamento, mas madame Arnott não poderá ouvi-la, lady Rivenhall.
Celeste virou-se em pânico.
— O que você fez a Marie?
— Acalme-se. Sua criada está dormindo profundamente, como eu dormi na casa de
lorde Reynolds na noite do baile, lembra-se? Receio que ela acorde pela manhã
cora tremenda dor de cabeça.
Aidan levantou-se e seguiu Celeste que foi apressada ao quarto vizinho para ver a
governanta. Tranqüila, ao ver que Marie estava bem, virou-se para o conde.
— Como se atreveu a entrar no meu quarto? Posso gritar.
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— Tente. Você sabe do que sou capaz. Celeste fuzilou-o com o olhar.
— Peço desculpas pelo inconveniente. Como eu sei que uma de suas armas é a
sedução e que você realiza suas tarefas na cama, pensei: por que não começar pelo
quarto? — Aidan sorriu. — Bem, por precaução, vou examinar sua bolsinha
enquanto você se despe.
Com um movimento rápido, Celeste ergueu a pequena bolsa de cetim e atirou-a em
Aidan para atingir-lhe a cabeça. Instintivamente ele pegou-a no ar.
— Que boa pontaria! Você deve ter usado estilingues quando criança — Aidan
observou com sarcasmo enquanto puxava os cadarços de seda cor-de-rosa para
abrir a bolsa.
Dentro dela encontrou um pente de ouro, um lencinho bordado e uma adaga mortal
que ele teve o cuidado de pegar. Olhou para lady Rivenhall e sentiu a boca seca. Ela
usava apenas as ligas que prendiam as meias e a calcinha; as três peças de renda
enfeitadas com fitas azuis. Mas ainda não era o momento de se deixar seduzir por
aquela sereia. Tirou do bolso do seu casaco uma folha de papel dobrada e ergueu-a.
— Veja só o que encontrei em sua bolsa! — Ele deu um largo sorriso de satisfação
ao notar o espanto da bela mulher. — Tenho a prova de que preciso para denunciá-
la como traidora. Será fácil explicar como você conseguiu este papel. Direi que
entrou no escritório de meu grande amigo e roubou de uma das pastas apenas a
folha de papel com os horários de chegada e partida dos navios de carga.
— Ninguém acreditará em você — Celeste falou com indiferença.
— Não? Você acha que ninguém pode ser convincente além de você? — Aidan
abaixou um pouco a voz ao acrescentar: — Ouça o que direi às autoridades: Esta
mulher me convidou para sua cama e começou a fazer perguntas sobre o tempo em
que estive na guerra. Quis saber qual tinha sido meu batalhão, meu comandante e
qual a localização atual dessas tropas. Então encontrei este papel em sua bolsa —
Aidan ergueu o falso documento — e me enchi de suspeitas.
Aidan tirou o casaco, empurrou lady Rivenhall para a cama e ficou sobre ela,
segurando-lhe os pulsos e prendendo-a com as coxas.
— Posso levá-la, pela manhã, ao magistrado local. Entretanto, acho que você tem
alguma coisa que eu quero. — Aidan curvou-se e beijou o pescoço de Celeste. —
Ocorreu-me que você deve ser extraordinária na cama para Napoleão e elegê-la sua
amante.
— Nunca fui amante de Napoleão! — Celeste negou, furiosa. Aidan ergueu a cabeça
e encarou-a, incrédulo.
— Você espera que eu acredite nisso? Então o imperador tem do seu lado uma
mulher como você e resiste à tentação de possuí-la?
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— Ele tentou...
— Tentou? E o que mais?
— Eu o esbofeteei. Aidan deu uma gargalhada.
— Você bateu na cara do homem mais poderoso do mundo?
— Isso mesmo.
— E continuou com vida?
— O imperador... gostou.
— Gostou? Como?
— O imperador... Ele achou que... — O rosto de Celeste ficou rubro. — Bem, o que
eu fiz o excitou. Ele pediu que eu batesse nele. No traseiro.
— Ele estava nu?
— Não! — Celeste gritou, ofendida. — Nós dois estávamos inteiramente vestidos.
— E ele sentiu prazer nisso?
— Ele ordenou que eu lhe dissesse coisas. Quis que eu o provocasse dizendo com
raiva que nunca lhe pertenceria. Que ele jamais me conquistaria, da mesma forma
que não conquistaria a Inglaterra. Creio que essas palavras soavam para ele como
um desafio e a idéia de conquistar algo difícil o excitava.
Aidan abanou a cabeça.
— Só mesmo os franceses para depreciarem o mais simples dos prazeres.
— Não há nada "simples" no prazer, lorde Wessex. Vocês, ingleses, têm conceitos
estranhos sobre sensualidade.
— Estranhos? — Aidan rolou para o lado da cama.
— Sim. — Celeste levantou-se. — Descobri que, quanto mais elevada for a posição
de um homem, mais ele aprecia ser dominado por uma mulher na cama. E, quanto
mais insignificante for a posição de um homem, mais ele quer dominar a mulher.
Compreender isso é muito importante quando se deseja obter uma informação.
A expressão de descrença de Aidan irritou lady Rivenhall. Ela estreitou os olhos e
ordenou:
— Beije-me.
Jamais uma mulher exigira que ele a beijasse, mas Aidan obedeceu-lhe com prazer.
Tocou os lábios dela com suavidade, introduziu a língua entre eles para sentir o
sabor da extraordinária mulher. Queria fazê-la desejá-lo, ansiar por ele, um inglês.
Ele sugou e saboreou cada canto daquela boca deliciosa e quando terminou,
esperou que Celeste abrisse os olhos e perguntou com arrogância:
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— E então?
— É esse o seu modo preferido de fazer amor, lorde Wessex? — Celeste
questionou, não parecendo impressionada.
O sorriso dele estava cheio de promessas sensuais quando ele murmurou, olhando
para os lábios dela.
— Até agora tem sido um modo mais do que satisfatório.
— Ah. E você diria que seu apetite é semelhante ao dos outros homens de sua
posição?
— Acredito que sim.
— Você não gostaria de deixar a mulher tomar a iniciativa? Controlar a situação?
Aidan considerou a pergunta. Nenhum cavalheiro inglês ficaria estimulado diante do
comportamento licencioso de uma mulher de classe.
— Não — respondeu com segurança.
Mal pronunciou o monossílabo, lady Rivenhall puxou-o pelo colete e encostou-o na
parede, levando-o a grunhir com o impacto. Apossou-se dos lábios dele com um
beijo selvagem, devorador. Cada arremetida de sua língua era um embate com a
dele, provocando nele uma sensação de calor e vertigem que ia do abdômen à
virilha.
Sem deixar de beijá-lo, Celeste arrancou-lhe o colete de seda e levou Aidan para a
cama. Ele bufou ao cair no colchão, tendo lady Rivenhall sobre ele. Ela beijou-o,
elevando as mãos à camisa, abriu-a com violência, fazendo voar os botões de rubi.
Passou a acariciá-lo por inteiro, arranhou-o fazendo-o gemer de dor e prazer. Seu
corpo respondeu imediatamente às carícias voluptuosas, o membro viril cresceu,
tornou-se rijo.
A tentação em forma de mulher começou a beijar o tórax musculoso, fazendo
pausas ocasionais para mordiscar os pequeninos mamilos, deixando a pele de Aidan
toda arrepiada. Ele puxou-a contra o membro retesado, mas a sereia prendeu os
braços dele à cama, sorriu e ordenou:
— Pare!
Traçou com a língua uma trilha úmida, indo do tórax até a cintura. Aidan prendeu a
respiração, desejando que ela avançasse, descesse ainda mais. Celeste entendeu a
mensagem tácita. Suas mãos ágeis desabotoaram a calça e, com a língua, ela
saboreou a parte do corpo que estava exposta. Com os olhos escurecidos pelo
desejo, ele observou a cabeça dourada descendo cada vez mais. Já não estava
agüentando e gemeu quando os lábios macios pressionaram a pele sensível, logo
acima do monte de pêlos escuros e crespos que apareciam pela abertura da calça.
Aidan entreabriu os lábios e fechou os olhos, antecipando a carícia seguinte. Não
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sentindo nada, abriu os olhos, frustrado. A sereia olhava para ele com expressão
desdenhosa.
— Vocês são todos iguais. Tão fáceis de controlar.
Inclinando-se, ela recolheu suas roupas caídas perto da cama. Demorou vários
segundos para lorde Wessex conseguir falar.
— Você nunca perdeu o controle, lady Rivenhall?
— Diante de um homem? Nunca pude me dar a esse luxo, milorde.
Aidan não entendeu o que ela quis dizer. Mais uma vez perguntou a si mesmo o que
teria levado essa mulher tão linda a trair seu país. Tomado de súbita raiva, decidiu
fazer com que ela tremesse de desejo por ele, um inglês, seu compatriota.
Estendeu o braço e agarrou-a, puxando-a para junto dele.
— Vejamos se conseguirei derreter o gelo que corre em suas veias.
Ele beijou-a, esfregou os seios dela contra seu tórax, enquanto lhe devorava os
lábios. Introduziu a língua entre eles, circulou-a pelos recantos da boca, não dando
descanso aos sentidos de Celeste.
Continuando a beijá-la, livrou-se da camisa e caíram ambos na cama. Beijou-a no
pescoço, no colo, e sugou um mamilo, depois o outro, arrancando gritinhos dos
lábios dela.
Descendo as mãos, ele rasgou a delicada calcinha de renda e atirou-a de lado. As
ligas da sereia prendiam as meias de seda e Aidan não tentou tirá-las. Não deixava
de ser excitante a idéia de pôr a cabeça entre aquelas coxas. Foi o que fez.
Começou beijando a pele acima das ligas e foi subindo até alcançar o vão entre as
pernas. Ao tocar os lábios no sexo úmido, latejante, pronto para ser saboreado,
Celeste deu um salto e quase caiu da cama.
Aidan não parou. Ela se contorcia e dava pequenos gemidos. Tinha a sensação de
que estava caindo, mas estava bem segura na cama. Instintivamente ela separou as
pernas. Aidan acabou de se despir e posicionou-se sobre ela, o desejo ardendo em
seu corpo. Quando o belo conde penetrou-a, Celeste mordeu o lábio e fechou os
olhos, sufocando um grito de dor. Quando os abriu, viu o conde encarando-a,
perplexo, a testa franzida.
— Como... é possível? Nunca imaginei que você fosse virgem! Eu... Eu... sinto
muito.
— O que está feito, está feito, milorde — disse Celeste. A dor não era nada em
comparação ao crescente desejo que sentia por aquele homem. — Podemos
continuar para que o sacrifício valha a pena.
Aidan ergueu-se um pouco e penetrou-a novamente, ainda temeroso, receando
machucá-la. Estimulado pelos gemidos de prazer de Celeste, aumentou seu ritmo.
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mantivera-se virgem até a noite anterior. Obviamente seus encontros com homens
tinham sido namoros sem conseqüência.
Mas o fato de a lady não ter ido para a cama com outros homens era irrelevante. O
importante era que ela usara esses homens para extrair deles informações que
entregara aos franceses. Portanto, havia traído seu país.
Lady Rivenhall não era quem aparentava ser. Era uma moça inocente,
representando um papel. Uma virgem que ele levara para a cama sob a ameaça de
prisão.
Aidan sentia-se um bastardo. Ter uma mulher sob coação era imperdoável. Porém, o
que o assustava era ter consciência de que havia sentido intenso prazer em fazer
amor com Celeste. Ela parecia desejá-lo, mas, se dissesse "não", será que ele
respeitaria sua vontade e a deixaria em paz?
Não tinha certeza disso.
Uma batida na porta tirou Aidan de suas divagações.
— Entre.
Lorde Elkin apareceu à porta e foi, com os olhos faiscando, ao encontro do amigo.
— Ela partiu ao amanhecer. — Lorde Elkin sentou-se na poltrona, na frente da
lareira.
— Por que está me dizendo isso, John?
— Em nome de Deus, eu quero saber o que está acontecendo.
— O que está insinuando?
— Vá para o inferno, Wessex, você sabe muito bem o que eu quero dizer. — Lorde
Elkin inclinou-se e disse em voz baixa. — Ontem à noite marquei um encontro com
lady Rivenhall na casa de barcos. Ela apareceu, estávamos namorando e, quando
ela se levantou, tropeçou em mim e disse que tinha torcido o tornozelo. Voltou para
o solar alegando que precisava tomar láudano. Quando fiquei sozinho, dei pela falta
de meu chaveiro. Uma das chaves era a de meu cofre.
Aidan pulou da cadeira.
— John! Você verificou se alguma coisa foi roubada?
Lorde Elkin riu.
— Sente-se, Aidan. É claro que verifiquei. O cofre foi aberto mas não dei por falta de
nada.
— O que havia no cofre?
— Não vou dizer enquanto você não me disser a verdade.
— Não posso, John. Não tenho autorização para isso.
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Capítulo VI
— Estamos chegando à estalagem The Dog and Duck, milady. Marie retocou o
penteado de Celeste e ajeitou-lhe a capa.
— Está linda, minha filha. Suas faces estão coradas, como se você tivesse passado
horas ao sol — elogiou Marie com um sorriso radioso.
— Obrigada, Marie — tornou Celeste beijando a governanta com afeição.
Desceram ambas do landau e entraram na estalagem. Celeste não percebeu que
Marie deixara de sorrir e a acompanhava com preocupação no olhar.
O velho dono da estalagem recebeu lady Rivenhall com um amplo sorriso, revelando
a falha de dentes.
— Deixei preparado os mesmos aposentos que usou anteriormente, milady.
Mandarei servi-la na sala de jantar privativa.
Celeste correu os olhos pelo movimentado salão de teto baixo, com vigas de
madeira.
— Obrigada, sr. Jones. Jantaremos aqui no salão — ela respondeu.
Preferia ficar naquele ambiente ruidoso, assim esqueceria por instantes seus
problemas.
— Está bem, milady. Chame-nos, se tiver algum problema.
— Obrigada. O salão é confortável e aconchegante. Quando o homem se afastou,
madame Arnott olhou ao redor e protestou, indignada:
— Não podemos comer aqui.
— Está sendo elitista, Marie. A revolução não lhe ensinou nada? — Celeste
provocou a querida governanta, sentando-se com ela a uma mesa, no fundo do
salão, junto à parede.
Desamarrava distraidamente a fita de cetim que prendia o chapéu quando notou que
a conversa havia cessado no salão cheio de fumaça. Um simples olhar bastou para
ver que os fregueses, homens em sua maioria, olhavam na sua direção.
— É por isso que não podemos comer aqui — Marie resmungou. — Esses homens
olham para você cheios de... de... cobiça.
— Luxúria, Marie. Não me importo. Estou com fome, cansada, e quero dormir.
— O que deseja, milady?
Celeste virou-se para a garçonete que já conhecia. Era a filha casada do
estalajadeiro.
— O que vocês têm, já preparado?
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Rivenhall e seguiu a carruagem a uma distância segura para não ser visto pelo
cocheiro.
No fim da tarde o landau estacionou no pátio da estalagem The Dog and Duck. O
conde deu a volta, deixou o cavalo nos fundos do estabelecimento e entrou no bar.
Assim que lady Rivenhall e a governanta sentaram-se a uma mesa para jantar, ele
foi para o salão. Enquanto comia pão, o guisado, e apreciava sua cerveja, observava
lady Rivenhall tomando um caneco de cerveja após o outro.
Esse comportamento encorajou o rapaz loiro a se aproximar de uma mulher muito
acima de sua classe social. Aidan preparou-se para intervir, caso fosse preciso. Mas
a lady, como sempre, demonstrou que podia ser fatal.
Como sempre? Bem a única exceção talvez tivesse sido na noite anterior, quando
ela se entregara, submissa, em seus braços.
As batidas na porta ecoaram na cabeça latejante de Aidan. Ele abriu os olhos e
levantou-se da cama.
— Um momento — ele gritou, irritado. Vestiu a calça e entreabriu a porta. — Sim?
— A carruagem da lady vai partir dentro de uns minutos, milorde.
— Ótimo. — Aidan jogou uma moeda para o rapazinho. — Arreie meu cavalo.
Descerei em seguida.
— Perfeitamente, sir.
Aidan terminou de vestir-se, calçou as botas e ao sair para o corredor jogou a capa
nas costas e pôs o chapéu. Desceu para o salão lembrando a si mesmo que não
podia perder lady Rivenhall de vista. Tinha de observá-la para saber com quem
conversava, quais eram os seus contatos, onde e com quem morava.
Ao vê-la sentada à mesa, tomando o desjejum, prendeu a respiração. Ela estava
deslumbrante.
Os cabelos loiros tinham sido penteados formando um coque elegante no alto da
cabeça. Em vez de chapéu, havia de um lado do coque um arranjo com um tufo de
penas de pavão. O vestido, de linhas sóbrias, evidenciava a curva dos seios e a
cintura minúscula.
— Que surpresa encontrá-la aqui — disse Aidan. — Imagino que esteja voltando
para Londres.
Celeste sobressaltou-se.
— S-sim. Madame Arnott está cuidando da bagagem. Aidan sentou-se diante de
Celeste.
— Nesse caso, é com prazer que me ofereço para acompanhá-las.
— Obrigada, milorde. Não é necessário.
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— Eu insisto.
A encantadora mulher inclinou-se para a frente, oferecendo a Aidan uma pequenina,
mas tentadora visão daqueles seios cujos mamilos ele havia sugado.
— Vejo que não entendeu. Vou expressar-me em outros termos, milorde — disse
Celeste, senhora de si, tendo se recuperado do choque. — Só permitirei que você
entre na minha carruagem quando o inferno congelar.
Aidan estendeu a mão para Celeste e forçou-a a levantar-se.
— Pois então, vista seu agasalho, milady. Você vai descer na boca do inferno.
Lady Rivenhall mal podia respirar ao ser levada para a carruagem pelo determinado
conde de Wessex. Ele a segurava com firmeza pelo antebraço e toda vez que ela
tentava escapar, sentia a mão grande apertando-a com tanta força que os dedos
ficavam adormecidos.
Ao ver os dois, Marie espantou-se e Celeste explicou, irônica:
— Parece que teremos um passageiro nesta nossa viagem de volta a Londres.
Lorde Wessex curvou-se com elegância e sorriu.
— Pense em mim como uma escolta armada. Eu jamais permitiria que uma hóspede
de lorde Elkin fosse assaltada ao voltar para Londres.
— É muita gentileza sua, milorde — tornou Marie secamente.
— Será um prazer acompanhá-las, madame — disse o conde, ajudando as duas a
subir na carruagem.
Esperou que elas se acomodassem e sentou-se no banco à frente delas. Celeste
virou-se para a janela com receio de seu olhar cruzar-se com o do conde. Já
bastava o calor que sentia sob a saia, dada a proximidade de suas pernas com as
dele. Lorde Wessex deu uma batida no teto do landau e os cavalos puseram em
marcha. Começava a viagem de seis horas até Londres.
Seis horas! Como sobreviveria? Celeste fechou os olhos. Quando os abriu, viu o
conde fitando-a com um sorriso nos lábios. O miserável divertia-se com seu
desconforto. Virou-se para a janela novamente. Por quanto tempo agüentaria ficar
olhando a paisagem?
Os três permaneceram em silêncio durante mais de quinze minutos. Por fim, o
conde indagou:
— Como conseguiu o emprego com lady Rivenhall, madame Arnott?
O olhar de Celeste voltou-se para Marie. Sabia que madame Arnott não gostava de
falar sobre o passado.
— Não é da sua conta — desferiu, agressiva.
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O conde franziu a testa, confuso. Ao fazer a pergunta, não tivera a intenção de ser
rude e daria o assunto por encerrado, mas madame Arnott respondeu:
— Meu marido era primo de lady Rivenhall. Ele, nosso filho de dez anos e nossa
filha de sete foram mortos pelos revolucionários franceses. Na ocasião, eu estava
cuidando de minha mãe doente. Cinco dias depois, quando voltei para casa,
encontrei os corpos em decomposição. Enterrei-os no jardim e fui para Paris cuidar
de Celeste que tinha perdido a mãe. Na época ela ia completar quatro anos. Foi
assim que consegui meu "emprego".
Celeste segurou a mão de Marie e apertou-a para dar-lhe força. As duas não
conseguiram evitar as lágrimas.
— Sinto muito, madame Arnott — disse o conde com sinceridade. — Perdi meus
pais há vários anos e sei o que é perder entes queridos. Porém, a dor que você teve
de suportar deve ter sido tão atroz que é difícil imaginar.
Marie assentiu com um movimento de cabeça. Foi a vez de o conde olhar pela
janela. Durante as duas horas seguintes ninguém conversou. Quando o cocheiro
parou para dar água aos cavalos, todos desceram do landau.
Celeste correu pela relva até um frondoso carvalho e sentou-se à sua sombra.
Passaram-lhe pela mente cenas que ela jamais conseguiria esquecer. Do alto da
escada, antes de os soldados franceses arrastarem lorde Rivenhall para baixo, ele
dissera à filha, em inglês:
— Por favor, minha querida, esconda-se em seu quarto.
Mas ela não se escondera. Correra até a janela e ficara olhando, horrorizada,
aqueles homens bêbados zombarem do lorde inglês e, em seguida, espancarem-no.
Finalmente, um capitão sacou a pistola e atirou covardemente na cabeça de um
homem indefeso.
Celeste cobriu o rosto com as mãos, lutando contra as lágrimas. Pouco depois ouviu
um suave murmúrio.
— Sinto muito, lady Rivenhall.
Ela olhou para cima e falou com os lábios trêmulos:
— Sente? Por quê? Afinal, somos francesas, milorde.
O conde agachou-se e, instintivamente, Celeste foi para trás como se tivesse medo
de ser agredida.
— Eu...
— Não quero ouvi-lo. Volte para a carruagem.
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Ele não saiu do lugar. Irritada, Celeste empurrou-o com força e ele caiu para trás.
Em seguida ergueu-se e olhou para ela, incrédulo, determinado a não sair dali.
Cheia de ódio, ela voou para cima dele e esmurrou-lhe o peito com os punhos.
— Pare com isso!
Ela ergueu a mão para esbofeteá-lo, mas o conde agarrou-a e ficaram ambos de pé.
Enlaçando-a pela cintura, ele curvou a cabeça e deu-lhe um beijo suave.
Desesperada para receber um pouco de conforto, Celeste passou os braços ao
redor do pescoço dele e beijou-o sofregamente, com toda a emoção que mantivera
represada e suas lembranças acabavam de liberar.
Sem que ela esperasse, o conde separou-se dela, deu um passo para trás e
começou a andar na relva, de um lado para outro, parecendo agitado.
— Precisamos conversar sobre ontem à noite e... o que aconteceu. — O conde
passou nervosamente os dedos entre os cabelos. — Temos de discutir o que
acontecerá assim que chegarmos a Londres.
— O que está querendo dizer?
— Não permitirei que você saia desacompanhada.
— Você não permitirá?
— Ouviu bem o que eu disse. Se precisar de um acompanhante, mande me chamar.
— Você me considera sua propriedade, milorde?
— Não, lady Rivenhall, só estou sendo pragmático — respondeu o conde, furioso. —
Lembre-se de que não a entreguei às autoridades porque...
— Porque você adorou fazer amor comigo e está louco para me levar para a cama
outra vez.
Eles se fitaram longamente antes de o conde responder:
— Digamos que sim. Celeste inspirou fundo.
— Lamento, mas sua oferta não me atrai.
— Está insinuando que prefere o laço do carrasco ao meu leito?
— Foi isso, exatamente, que eu quis dizer.
— Está fora de si, lady Rivenhall. Dou-lhe uma semana para reconsiderar sua
resposta insensata — acabando de falar, o conde caminhou para a carruagem.
— Não preciso de uma semana, lorde Wessex — Celeste gritou às costas dele. —
Minha resposta é definitiva.
Ouvindo isso, o elegante conde virou-se e sorriu.
— Sendo assim, que Deus tenha piedade de sua alma.
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Que poder de sedução tinha a mulher! Até os empregados se iludiam com a traidora,
Aidan pensou e tomou outro bom trago de gim.
A entrada de Londres o landau teve de diminuir a velocidade por causa do grande
movimento nas ruas. Levou bem uma hora para os viajantes chegarem a Mayfair,
onde ficava a casa de lady Rivenhall.
Aidan saltou da boléia, ajudou madame Arnott a descer do veículo e voltou-se para
Celeste. Segurou-lhe a mão com firmeza e disse:
— Eu a verei novamente, lady Rivenhall.
— Creio que não, milorde.
Aidan soltou a mão dela, esperou que ela entrasse na casa e fechasse a porta. O
cocheiro tirou o chapéu para ele e tocou os animais. Aidan viu na calçada um
menino de uns dez anos e chamou-o.
— Garoto, vá à Bow Street e traga um detetive até aqui. — Deu uma moeda para o
menino e acrescentou: — Se você voltar dentro de meia hora, terá o dobro dessa
quantia.
O garoto sorriu, tocou no boné e saiu correndo. Aidan encostou-se no poste de
iluminação à espera do detetive que iria contratar para seguir a encantadora lady
Rivenhall.
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— Não foram muitas. — O homem moreno falou com ironia e tocou a cicatriz do
queixo. — Recebi a maioria dessas... condecorações depois que fui preso.
— Preso! — O funcionário exclamou, horrorizado.
— Ah, não tem importância. Por alguma inexplicável razão, as mulheres amam
cicatrizes resultantes de ferimentos em combates, gostam de passar as mãos nelas.
Woodson imaginou-se passando as mãos naquelas cicatrizes e ficou excitado.
— O ringue é ali — disse o homem moreno segurando no ombro do companheiro. —
Você fez alguma aposta?
— Fiz — Woodson respondeu.
— Espero que tenha apostado em mim. Woodson sorriu.
— Claro.
— Conversaremos depois da minha luta. Será rápida — disse o homem moreno com
arrogância, passando debaixo da corda de isolamento entre o ringue e os
espectadores.
Sabia que o funcionário iria admirar tanto seu físico quanto sua técnica ao dominar o
adversário. Enxugou o suor do rosto e encarou o oponente. O jovem era corpulento,
mas inexperiente. O homem moreno deu um sorriso afetado. Sua experiência em
combate dava-lhe grande vantagem sobre os dândis que treinavam no ginásio de
Gentleman Jackson.
A luta começou. O homem moreno não gostava de violência, mas era muito bom
nisso quando necessário. Esperou que o rapaz o acertasse primeiro e então lhe deu
um murro no queixo. O jovem reagiu, deu um forte golpe no ombro do homem
moreno. Errou vários, mas demonstrou que tinha determinação. Entretanto, a su-
perioridade do homem moreno era incontestável. Com um golpe certeiro atingiu o
jovem no nariz, quebrando-o. A luta foi encerrada. O vencedor sorriu e foi até
Woodson que observava, boquiaberto, o jovem caído na lona, o nariz sangrando,
sendo socorrido pelo médico.
— Examine meu ombro, amigo. Veja se não há nenhum osso quebrado — pediu o
homem moreno ao funcionário.
Woodson obedeceu-lhe. Tocou no ombro machucado, fez pressão com os dedos,
sentindo a musculatura e a clavícula. O homem moreno fechou os olhos como se
apreciasse aquele toque.
— Parece intacto, milorde — declarou o funcionário.
— Excelente. — O homem moreno abriu os olhos. — Vou tomar um banho. Quando
eu voltar iremos ao clube receber nosso dinheiro.
Ele afastou-se. Voltou meia hora depois, bem vestido e barbeado.
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Milorde,
A lady em questão prepara-se para ir ao baile oferecido por lorde Hambury.
Atenciosamente, Sr. Brown
A informação deixou Aidan exultante. Iria recompensar o detetive por ser tão
eficiente. Indo à escrivaninha, escreveu uma carta para a irmã.
Terminando, puxou o cordão da campainha, acendeu uma vela, deixou cair uns
pingos na folha de papel dobrada e pressionou o sinete na cera. Quando terminou, o
mordomo já estava batendo na porta.
— Mande entregar isto à duquesa de Glenbroke o mais depressa possível. E traga
meu desjejum.
— Sim, milorde. O desjejum está sendo preparado. — O mordomo curvou-se e saiu
do quarto, deixando o conde com suas indagações.
Baile de lorde Hambury. Por que Hambury? O homem não tinha um cargo que
pudesse interessar a lady Rivenhall. Lorde Reynolds também não, e ela fora ao baile
na casa dele para espionar. Elkin, sim, como presidente da comissão de desenvolvi-
mento naval, representava uma valiosa fonte de informações. Porém, com ele, lady
Rivenhall nada conseguira.
Aidan suspirou. Nada parecia ter lógica ou ligação com os objetivos da espiã. No
entanto, estava inquieto.
Seu desjejum chegou. Aidan encheu uma xícara de café puro para raciocinar melhor.
Estava muito quente e queimou-lhe a língua, mas ele mal percebeu. Recostou-se na
cadeira, pensativo. Reynolds, Elkin, e, agora, Hambury... Certamente a mulher rece-
bera ordens de investigar esses homens. Mas, ordens de quem? Aidan comeu uma
torrada com manteiga e geléia de morango. De Napoleão não podia ser; o imperador
estava fora de alcance. Portanto, devia haver um outro agente instalado em
Londres.
A mesma pergunta martelava-lhe a mente: por que Reynolds, Elkin e Hambury?
Continuou comendo e considerando as possíveis respostas à sua pergunta. Uma
coisa era certa. Lady Rivenhall não estava agindo sozinha e, se ele quisesse impedi-
la de passar informações para os franceses, sua rede teria de tornar-se maior. Havia
agora dois peixes para ele pescar.
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Na tarde seguinte, Aidan reuniu-se no clube com Daniel McCurren e Christian St.
John, seus amigos íntimos. O visconde havia marcado aquele encontro como
despedida, antes de ir para a Escócia.
Daniel queixou-se das dificuldades de ser o herdeiro de um título importante, de
tantas propriedades e de uma grande fortuna.
— Vejam vocês, rapazes, em pleno baile, a anfitriã olha para mim e pergunta: "Você
é o herdeiro de DunDonell?". Eu digo que sim e a lady me convida para um jogo de
esconde-esconde no andar superior, deixando o velho marido no salão, entretendo
os convidados.
Aidan riu da mentira deslavada do amigo. Christian não se conteve.
— Que lorota! Conta outra porque essa não colou. Daniel ergueu as sobrancelhas
raivas.
— Você acha que é mentira?
— Acho.
— Então veja. — Daniel tirou do bolso do casaco azul um lencinho de renda com as
iniciais da lady. — "Em sinal da minha estima." Foram essas as palavras dela ao
entregar-me este lenço. Eu sempre lhe digo, Christian, não é fácil ser um par do
reino. Sorte sua ter o irmão para carregar o fardo e não você.
— Ah, como é bom um homem não ter nada para oferecer a uma mulher! Quando
eu estiver com meu ilustre irmão, vou agradecer-lhe pelo sacrifício que ele é
obrigado a fazer por ser o herdeiro do título de duque — lorde St. John falou com
sarcasmo.
DunDonell ignorou a observação cáustica do amigo, apreciou um longo trago de seu
charuto e voltou-se para Aidan.
— Como é, Aidan? Nosso caro lorde St. John me disse que você passou o fim de
semana divertindo-se no campo. Que falta de gentileza para com sua noiva, a linda
lady Appleton!
Aidan olhou irritado para Christian e falou em tom ameaçador:
— St. John, espero que você tenha contado essa história apenas a DunDonell.
O escocês deu uma gargalhada ao ver que St. John lhe dirigiu um olhar de
repreensão antes de se defender:
— Calma, Aidan. Eu apenas disse a Daniel que Sarah ficaria muito feliz se você se
casasse com lady Appleton. Acrescentei que você ficou aborrecido com sua irmã por
tentar interferir na sua vida pessoal. Mas isso o visconde DunDonell omitiu.
— É verdade. Não preciso da ajuda de minha irmã para garantir a afeição de uma
mulher. Confesso que cheguei a pensar em fazer a corte a lady Appleton e, quem
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sabe, torná-la a condessa de Wessex. Mas isso foi antes de minha partida para a
península. A propósito, esta noite vou acompanhá-la ao baile de lorde Hambury.
— Ótimo. Essa moça será uma esposa perfeita para você. Parabéns, Aidan — falou
Daniel.
— Eu disse que vou ao baile com ela. Não vou propor-lhe casamento.
— Começa com um baile e antes de você perceber...
— Será que lady Pervill já tem acompanhante? — lorde St. John interrompeu o
amigo.
Aidan estranhou o entusiasmo do rapaz.
— Acredito que não — respondeu.
— Hum, teremos dois casamentos dentro de um ano. Isto merece um brinde —
propôs Daniel, erguendo o copo de conhaque.
— Pare com isso, DunDonell! — disse Aidan, em tom cortante.
— Que droga, DunDonell! — St. John reclamou.
— Não costumo errar em minhas previsões. — O visconde levantou-se. — Com
licença, amigos. Há uma mulher esperando ansiosa por este cavalheiro encantador,
capaz de satisfazer-lhe todos os desejos. Tenham uma boa tarde.
Capítulo VII
Na opinião de Celeste, o lugar mais discreto para um encontro era no meio de uma
multidão.
Fazia semanas que não entrava em contato com o imperador e precisava enviar-lhe
informações para convencê-lo de que estava agindo. Celeste respirou fundo para
dissipar sua ansiedade e olhou para Henri Renault, o belo francês sentado no
landau, à sua frente.
Lorde Renault, grande conquistador, era o segundo filho de um duque que tinha sido
guilhotinado no início de revolução. A duquesa conseguira fugir com os filhos e
refugiara-se na Inglaterra, como tantos outros aristocratas franceses.
O que ninguém sabia era que Bonaparte garantia a segurança da família Renault em
troca dos serviços de Henri. Este, entretanto, não estava se mostrando um espião
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muito eficiente, uma vez que a sociedade inglesa via com desdém a maioria dos
refugiados franceses e jamais lhes confiava informações importantes. Estas o
sedutor francês conseguia com algumas esposas de nobres ingleses que, não
resistindo ao charme do jovem aristocrata do ancient regime, respondiam a tudo o
que ele desejava saber. Além disso, Henri Renault tinha grande habilidade para
enviar as mensagens que conseguia e isso o tornava valioso à França.
Celeste analisou o homem à sua frente. O nariz, apesar de grande, contribuía para
aumentar-lhe o charme. E, ao contrário da moda em voga, Henri mantinha os longos
cabelos loiros puxados para trás e presos na nuca, como uma cauda de cavalo. Mas
eram os olhos castanho-claros que mais chamavam a atenção. Ao captar a luz do
sol ou do fogo de uma lareira, tornavam-se dourados.
Naquele momento, Henri tinha nos lábios um sorriso indolente, malandro, cujo intuito
era seduzir, mas Celeste estava imune àquele tipo de homem e continuou a olhar
para ele com indiferença.
— Como é, lady Rivenhall, o que tem para me dar? — Henri perguntou, com os
olhos fixos nos seios de Celeste.
Ela preferiu ignorar a audácia do francês que parecia disposto a tomar liberdades
com a amante de Napoleão.
— Tudo o que eu tenho é para o imperador. Henri sorriu e sentou-se do lado de
Celeste.
— O imperador está muito longe, lady Rivenhall. Uma mulher experiente como você
não pode passar a guerra deitada num leito frio.
— Está se oferecendo para aquecer minha cama, Henri?
O libertino deu um beijo no pescoço de Celeste antes de responder:
— Oui.
— Cuidado, Henri. O imperador não é homem de dividir o que lhe pertence.
Lorde Renault deu uma risadinha.
— Lady Rivenhall, não sei o que é mais excitante em você: sua beleza estonteante
ou sua extraordinária presença de espírito. — Henri suspirou. — Cest Ia vie. O que
você tem para o imperador, hoje, mademoiselle?
Celeste tirou do bolso interno da capa os papéis que Falcon lhe entregara. Lorde
Renault ergueu as sobrancelhas ao ver o volume de informações que ela conseguira
em tão pouco tempo.
— Parece que você andou aquecendo a cama de alguém. Celeste ignorou a
observação grosseira e explicou:
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— O que eu não daria para pôr minhas mãos naquele tesouro — murmurou o
companheiro do homem moreno.
Ele sorriu e irritou-se ao ouvir uma voz familiar.
— Ah, por fim encontrei-o, milorde. Quero apresentá-lo a minha prima.
— Será um prazer, lady Davis — disse ele, esforçando-se para esconder sua raiva.
Sem ter alternativa, ofereceu o braço à esposa do almirante e ambos se afastaram
na direção da sala de jogos.
— Eu já lhe disse para nunca falar comigo em público, Sophie. Lady Davis esperava
essa reação e tentou acalmar o amante.
— O que posso fazer, querido? Você não me deixa escolha, uma vez que se recusa
a encontrar-me em um lugar privativo. — Ela acariciou o braço do homem moreno,
pouco se importando que alguém notasse aquele gesto de intimidade. — Eu o amo
e sei que você também me ama. Se está preocupado porque sou casada, posso
abandonar meu marido. Farei tudo o que você quiser. Tudo. O homem moreno sorriu
para a horrorosa Sophie.
— Muito bem, querida. Encontre-me no gazebo à meia-noite e discutiremos o que
deve ser feito. — Ele bateu de leve na mão dela e falou carinhosamente: — Agora
vá, querida.
Lady Davis afastou-se, absorta, enquanto, às suas costas, o homem moreno
comprimia os maxilares e tinha um brilho feroz nos olhos. Ele terminou seu
champanhe, colocou a taça de cristal sobre a mesa mais próxima e voltou ao salão
de baile. Era sua vez de dançar com a estonteante lady Rivenhall. Aproximou-se
dela, que estava cercada de admiradores e disse, curvando-se:
— Creio que esta é a nossa valsa.
Tomou-a nos braços e saíram ambos rodopiando, para desapontamento dos que os
observavam. Como estava sem luvas, ele teve o prazer de sentir na palma da mão o
contato com a pele macia exposta por aquele decote generoso e provocante. Ah,
essa mulher devia ser todinha deliciosa de se tocar, pensou, sentindo o membro
enrijecer-se entre as pernas. Mas ele teve o recato de manter-se sorridente e cortês.
— Fiquei sabendo que retornou há pouco do continente, lady Rivenhall.
— Sim, milorde. Estive na Áustria.
— Também regressei do continente há quase quatro meses.
— É mesmo?
— Sim, lutei na península Ibérica. A única lembrança da guerra que eu trouxe para
casa foi isto. — Ele inclinou a cabeça para que Celeste visse mais claramente a
cicatriz no queixo.
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— Acontece, querida prima, que você é certinha demais e tem uma vida monótona.
Nada de escândalos, não tem amantes e não é nem mesmo filha ilegítima.
— Juliet, francamente! — Felicity zangou-se, ficando ainda mais ruborizada do que
estava.
—Desculpe. Eu estava brincando. Mas não entendo como você pôde recusar o
pedido de Summers. Eu seria capaz de matar para receber uma oferta de
casamento daquele homem.
— Eu já lhe disse, Juliet. Não estou apaixonada por lorde Summers — explicou
Felicity suavemente. Na verdade sentia pena da prima que era apenas um ano mais
nova do que ela e não recebera nem uma proposta de casamento sequer.
— Você também não amava os outros seis?
— Não.
— Então você deve estar apaixonada por algum outro. Quem é ele?
Felicity virou os olhos para cima em sinal de impaciência e falou de modo um tanto
agressivo, o que não era do seu feitio:
— Por Deus Juliet, como você é insistente! Até parece um cão perseguindo uma
raposa. Fique tranqüila; quando eu sentir carinho por um cavalheiro, você será a
primeira a saber o nome dele. E trate de se preocupar com sua vida. Então, quem
sabe, em breve estaremos conversando sobre as suas propostas de casamento,
não sobre as minhas.
Ao notar os olhos da prima rasos d'água, Felicity arrependeu-se de sua explosão.
Estendeu o braço para tocar na mão de Juliet, mas esta afastou-se. Ergueu bem a
cabeça e, determinada, conteve as lágrimas. Era evidente sua mágoa ao levantar-se
para dizer:
— Você ganhou, Felicity. Com sua licença, vou ficar a um canto "tomando chá de
cadeira".
Felicity ia levantar-se para seguir a prima e amiga magoada, porém o conde de
Wessex aproximou-se da mesa.
— Lady Appleton, devo desculpar-me, pois não será possível dançarmos a nossa
valsa. — Ele parecia nervoso, até descontrolado, o que não era normal no elegante
lorde Wessex.
— Aconteceu alguma coisa, Aidan? — Felicity indagou, preocupada.
— Está tudo bem, lady Appleton. Sinceramente, odeio ter de deixá-la... — Aidan
correu os olhos pelo salão, depois voltou-se para Felicity com um sorriso. — Ah,
encontrei o cavalheiro que poderá me substituir na nossa valsa.
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A orquestra começou a tocar. Felicity gostava muito de dançar valsas e esperou com
certa ansiedade para ser apresentada ao cavalheiro que seria seu par.
— Aqui está ele — disse Aidan fazendo com que Felicity olhasse para trás. — Lorde
Elkin.
O coração dela quase parou. Ao olhar para lorde Elkin, percebeu que ele estava tão
perplexo quanto ela.
— Obrigado, amigo velho. — Aidan bateu nas costas de John e voltou-se para
Felicity. — Voltarei assim que for possível, lady Appleton.
Ela sorriu, mas o conde já se afastara, deixando-a sozinha com o homem que
julgara nunca mais reencontrar. John estendeu-lhe o braço, ela segurou na mão dele
e ficou o tempo todo olhando para o brilhante assoalho de mogno, com o coração
aos saltos. Mal ouvia a música; lorde Elkin, por sua vez, mantinha-se o mais distante
dela quanto possível enquanto ambos rodopiavam pelo salão. Não suportando
aquela situação desconfortável e aquele silêncio, Felicity perguntou:
— Presumo que, ao atender ao pedido do conde de Wessex para substituí-lo nesta
valsa, você não fazia idéia de que seu par seria eu.
Pela segunda vez em dois anos os olhos de John encontraram os de Felicity, mas
ele não disse nada. Continuou a dançar. Sua mão grande e forte parecia queimar na
cintura de Felicity. Ela recordou com extrema clareza que eles haviam dançado
muitas outras vezes, não constrangidos como no momento, mas de modo prazeroso
e confortável, quando havia entre eles afeição e amizade.
— Quando você partiu para o continente, pensei que nunca mais iria vê-lo — Felicity
prosseguiu, lamentando a perda do amigo e companheiro querido.
—Eu também imaginei que jamais nos encontraríamos — John disse, por fim.
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— Foi isso que você pensou, Felicity? Acha que me recusei a vê-la nestes dois anos
por que eu estava com raiva?
Ela fez uma mesura e respondeu, confusa:
— Bem... Sim, foi isso.
Lorde Elkin acompanhou-a até a mesa que ela estava ocupando.
— Eu não quis vê-la porque para mim seria doloroso demais — ele confessou.
Beijou a mão de Felicity, demorando mais do que o necessário, e afastou-se sem
olhar para trás, deixando-a desolada.
Em vez de sentar-se, ela foi até a sala de música. Sentou-se numa das poltronas,
junto de um grande vaso de plantas e deu vazão às lágrimas. Nunca havia
imaginado que tinha ferido um amigo tão profundamente. Algum tempo depois,
enxugou os olhos com um lencinho de renda e sentiu que eles estavam inchados.
John tinha sido o primeiro homem a pedi-la em casamento e, na verdade, sua
proposta a amedrontara. Para ela era impossível compreender que um homem
pudesse confundir amizade com sentimentos mais íntimos. Desde o pedido de lorde
Elkin, Felicity decidira ter o maior cuidado e manter certa distância dos pretendentes.
Esse sistema, entretanto, parecia surtir o efeito contrário. Quanto mais distante ela
se mostrava, mais interessados nela ficavam os cavalheiros. Depois de John, ela
recebera mais seis ofertas de casamento de homens tidos como solteiros convictos.
Lorde Summers, o último, era considerado o máximo, o melhor partido. O homem
era lindo, rico, amável e, de acordo com os comentários sigilosos, era um amante
extraordinário e seria um marido excelente. O que mais uma mulher poderia
desejar?
Amor.
Ela não amava Albright, nem Jones, nem Quincy... nem John Elkin. No entanto,
sentia-se péssima ao saber que havia ferido um homem tão admirável como John.
Quem sabe devia reconsiderar o pedido dele, Felicity pensou. O resultado foi nova
onda de lágrimas.
— Felicity! Enfim a encontrei. A orquestra vai começar a tocar e você me prometeu
a...
Envergonhada, Felicity virou a cabeça e deparou com lorde Christian St. John.
— Por favor, Christian, quero ficar sozinha.
— Alguém a...?
— Não! Por favor, Christian, me deixe só.
— Vou chamar Juliet — disse o jovem lorde e saiu apressado da sala de música.
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Felicity gemeu ao lembrar-se da conversa que tinha tido com a prima. Inspirou fundo
e procurou controlar-se. Ocorreu-lhe que, se andasse bem depressa e de cabeça
baixa, conseguiria sair daquela casa sem que ninguém notasse seu estado. Ficou de
pé e, mal deu dois passos, lorde St. John retornou.
— Juliet está dançando com lorde Barksdale... Ei, aonde você vai?
— Para casa, milorde.
— Bem... você não pode ir embora sozinha.
— É verdade, Christian, mas tenho um cocheiro e dois lacaios lá fora à minha
espera. Portanto, estarei na mais perfeita segurança.
Os dois entraram no salão de baile e, pelo murmúrio que ouviu, ao passar entre as
pessoas, Felicity soube que sua aparência era bem pior do que havia imaginado.
Com toda certeza seria objeto de comentários e especulações nas salas de muitas
ladies na manhã seguinte. Ela apertou o passo e sentiu Christian batendo
carinhosamente em sua mão e falando, alto o suficiente para ser ouvido pelos que
estavam mais perto deles:
— Tenho certeza de que sua avó estará perfeitamente bem em uma semana ou
duas.
A expressão das senhoras da sociedade mudou diante dos olhos de Felicity, de
desaprovação para simpatia. Ela ficou tão agradecida a Christian por sua gentileza e
ingenuidade que teve ímpetos de beijá-lo.
De pé, no gazebo, o homem moreno ouviu as doze batidas de um carrilhão. Tirou o
relógio do bolso e consultou-o. Estava cinco minutos adiantado. Acertou-o, guardou-
o e ficou ouvindo a música que vinha do salão de baile.
O som de passos fez com que olhasse para o lado. Viu, como esperava, lady Davis
se aproximando, A tola mulher correu para os braços dele e beijou-o. Como ainda se
sentia excitado depois de haver dançado com lady Rivenhall, pensou nela e
estreitou a amante nos braços.
— Oh, meu amor! — Sophie exclamou.
— Psiu! — o homem ordenou, não querendo que aquela voz perturbasse sua
fantasia.
Colocou a mão dentro do decote do vestido da mulher e apertou-lhe o bico dos
seios, deixando-a imediatamente excitada. Desabotoou rapidamente os calções e
sentou-se num dos bancos de pedra, mas antes de poder descer as ceroulas, lady
Davis já estava entre os joelhos dele, acariciando-o, como ele a havia ensinado a
fazer.
O homem gemeu de prazer. Em seguida ergueu a amante, arrancou-lhe as
calcinhas, separou-lhe as pernas, colocando-a sobre o membro rijo e pulsante. Cada
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vez mais excitado, segurou-a pela cintura e, puxando-a com força para baixo,
penetrou-a. Repetiu o movimento outras vezes até a mulher ajustar seu ritmo ao
dele.
— Assim! — ele a encorajava e, ao mesmo tempo, a erguia, tornava a puxá-la sobre
o membro, causando em ambos sensações de prazer delirante.
O homem alto e moreno fechou os olhos e imaginou-se fazendo sexo com lady
Rivenhall. Estendeu os braços, segurou os seios da mulher e, de modo quase brutal,
fez várias arremetidas até alcançar um clímax alucinante, inspirado na encantadora
espiã. Permaneceu de olhos fechados enquanto duraram os tremores de gozo. Só
então os abriu e lembrou-se do motivo que trouxera lady Davis até ali.
— Eu a avisei, Sophie, para nunca falar comigo em público.
— Senti saudade, querido. — Ela sorriu. — Não imaginei que você fosse ficar tão
zangado.
O homem moreno tirou-a do colo e abotoou a braguilha.
— Você foi imprudente. Isso não se repetirá — disse ele, ficando de pé.
Inclinando-se, beijou o pescoço da mulher, depois o torceu, ouvindo um estalo
familiar. Então se afastou, deixando o corpo de lady Davis caído no chão. Ajeitou o
colete, o casaco, e voltou para o salão de baile, com tempo mais do que suficiente
para dançar a quadrilha com lady Hillary.
A duquesa de Glenbroke parou de andar e voltou-se para o marido.
— Afinal, o que você quer, Gilbert? Por que me trouxe até o fim deste jardim? Quer
me dizer alguma coisa que os outros não podem ouvir?
— Não, minha querida. Eu queria ficar a sós com você.
— Aqui fora está frio. É melhor voltarmos para o salão. O belo duque riu.
— Mulher nenhuma me recusou por causa do tempo. Sarah lembrou-se das muitas
conquistas do marido antes de se casarem e falou, zangada:
— Nesse caso, procure uma companhia mais robusta.
Feliz com a demonstração de ciúme da esposa, o duque deu um largo sorriso.
— Oh, doçura, você sabe que me apaixonei assim que a vi. Desde então só tenho
olhos para você. Que tal nos sentarmos para namorar um pouco?
Sarah procurou não olhar para Gilbert. Se olhasse para aquele rosto perfeito, para
aqueles olhos cheios de desejo e aqueles lábios tão masculinos, acabaria cedendo
aos apelos do marido.
— Estou congelando — ela desculpou-se.
— Então me deixe aquecê-la — tornou o duque estreitando a esposa nos braços.
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Ela ficou na ponta dos pés para abraçá-lo quando ouviu um som abafado, a pouca
distância dali.
— Gilbert, ouvi um barulho. O que será?
— Não ouvi nada. Você se enganou.
— Estou falando sério, Gilbert. Aconteceu alguma coisa. Relutante, o duque
afrouxou os braços ao redor da cintura da esposa.
— Está bem. O que você quer que eu faça?
— Creio que o melhor a fazer é ir... Sarah foi interrompida por um grito agudo.
— Fique aqui — pediu o duque, virando-se na direção do onde tinha vindo o som.
Sarah segurou na mão dele.
— Espere! Não me deixe aqui, sozinha, Gilbert de Clare!
Os dois andaram, de mãos dadas, a passos largos, até o gazebo, onde encontraram
lorde Kerry abraçando a noiva de modo protetor.
— Estávamos andando pelo jardim e ouvimos um barulho. Então viemos até aqui
para ver o que era — ele explicou, indicando o corpo caído no piso do gazebo. —
Ela já estava morta. Acredito que tenha sido vítima de algum assaltante.
Instintivamente, Gilbert passou os braços ao redor dos ombros de Sarah.
— É difícil saber. Acho melhor você levar as ladies para dentro. Depois informe lorde
Hambury sobre este trágico acontecimento — sugeriu o duque.
— Claro, Alteza. — Lorde Kerry ofereceu o outro braço à duquesa.
— Não! — Sarah agarrou-se ao marido, como se estivesse em pânico.
— Está tudo bem, Sarah. Vá com lorde Kerry — insistiu o duque.
— Não! Por favor, não me deixe! Quero ficar com você — ela falou em tom patético.
— Fiquem aqui. Vou levar minha noiva ao salão e falarei com lorde Hambury —
propôs o jovem lorde. — Não me demoro.
Assim que o casal se afastou, o duque abaixou-se para examinar o corpo caído.
Pouco depois ficou de pé.
— Esta é lady Davis e está com o pescoço quebrado. Como não há sinal nenhum de
queda, acredito que tenha sido assassinada.
— Foi o que eu pensei. Por isso não quis sair de perto de você. Mas ela não foi
assassinada por um assaltante ou pessoa de fora — disse Sarah.
— Por que diz isso?
— Lembra-se de que estávamos abraçados quando ouvi o barulho?
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— Sim, claro.
— Eu estava de frente para o portão do jardim e não vi ninguém entrando ou saindo
por ali.
— Isso quer dizer que o assassino voltou para a casa. Portanto, lady Davis deve ter
sido morta por um dos convidados de lorde Hambury! — Gilbert concluiu.
— Exatamente!
— O que há com você? — lorde Christian St. John perguntou a Aidan que observava
os cavalheiros quase brigando para conseguirem uma dança com lady Rivenhall.
— Nada — Aidan respondeu distraidamente.
Estava absorto, perguntando a si mesmo o que teria lady Rivenhall na cabeça para
usar um vestido escandaloso como aquele. Afinal, as espiãs não deviam ser
discretas? E a deslumbrante beldade chamaria menos a atenção se aparecesse
usando como roupa a bandeira francesa. Bem, se a intenção dela tinha sido atrair
lorde Hambury para sua teia, certamente teria sucesso. Na verdade, ela não
precisaria empenhar-se tanto para chamar a atenção de um homem como o gordo e
envelhecido lorde.
Enfim, Aidan não estava interessado em Hambury, mas no colaborador francês da
linda espiã.
Aidan voltou-se para Christian St. John.
— Você não ia dançar com lady Pervill? , Christian deu de ombros.
— Sim, Juliet me havia prometido uma dança, mas desapareceu. Não sei onde ela
possa estar.
— Também não vi lady Appleton.
— Felicity voltou para casa.
— Tão cedo? Aconteceu alguma coisa?
— Ela estava apenas cansada. Eu a acompanhei até sua carruagem.
— Obrigado, amigo. — Aidan agradeceu sentindo um pouco de culpa por haver
negligenciado a jovem lady, de quem era o acompanhante. Olhou novamente para
lady Rivenhall e decidiu agir. — Com licença, Christian.
Ele foi até o grupo de cavalheiros que cercavam a estonteante beldade e ficou
diante dela.
— Acredito que esta seja a minha dança, lady Rivenhall. Não era.
— Mas... — protestou um jovem dândi.
Antes de ele pronunciar outra palavra, Aidan já estava levando Celeste para o meio
do salão.
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— Você está machucando meu braço — ela protestou por entre os dentes.
Nesse instante ouviu-se um grito de mulher. A orquestra parou de tocar. As pessoas
correram para a porta dupla de acesso ao jardim dos fundos da casa. Correu pelo
salão murmúrios de que alguém tinha sido atacado.
Lorde Hambury subiu no tablado onde estavam os músicos e pediu silêncio aos
convidados.
— Senhoras e cavalheiros, lamento informar-lhes que ocorreu um trágico acidente
no jardim. Uma senhora sofreu uma queda e acabou morrendo.
— Quem é ela? — alguém perguntou.
— Cavalheiros, antes de mais nada, devo localizar a família da vítima para informá-
la sobre o acidente. Eu lhes agradeceria se levassem as senhoras para casa.
Aidan surpreendeu-se ao ver a irmã e Gilbert chegarem discretamente do seu lado.
Sarah olhou ao redor antes de dizer em voz baixa:
— Lady Davis foi assassinada. Gilbert e eu encontramos o corpo dela no gazebo.
Nós estávamos perto do portão do jardim e ninguém entrou por ali. Isto quer dizer
que a esposa do almirante foi assassinada por alguém que está neste baile.
Os olhos de Aidan voltaram-se para os de Celeste. Ela balançou a cabeça negando
qualquer envolvimento com o crime.
— Eu a levo para casa, lady Rivenhall — disse Aidan.
— Obrigada, meu tio...
— Lorde Rivenhall está lá fora e em breve saberá a identidade da mulher do jardim
— tornou Aidan segurando no pulso de Celeste. — Vamos.
Em segundos os dois estavam fora da casa. Ele encontrou o landau de lady
Rivenhall e praticamente a empurrou para dentro do veículo, entrando em seguida.
Sentou-se do lado dela, bateu no teto da carruagem e os cavalos começaram a
andar.
Notando a raiva nos olhos do conde, lady Rivenhall defendeu-se:
— Não tenho nada a ver com o que aconteceu a lady Davis. Juro.
— A esposa de um almirante britânico foi assassinada na casa onde você estava
simplesmente para obter informações de seu colaborador francês. Então você jura
que nada tem a ver com esse assassinato e espera que eu acredite nisso?
— Se você acredita ou não, pouco me importa.
— Sei que lhe deram uma lista de homens para você investigar. — Aidan segurou o
braço de Celeste com força. — Quero saber a verdade, lady Rivenhall.
— Solte-me! — ela ordenou, apontando uma pistola para o conde.
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— Bem, você é perita no uso de adagas, mas se esquece de que sou melhor do que
você quando se trata de armas de fogo. — Enquanto falava o conde inclinou-se para
a frente e encostou o peito na pistola.
Os lindos lábios de Celeste curvaram-se num sorriso desdenhoso.
— Você não é melhor do que eu no uso de armas de fogo. — Celeste manteve os
olhos presos nos do conde e o dedo no gatilho. Ele não viu nela o menor sinal de
hesitação. Tinha diante de si a mulher inclemente que comandara suas tropas em
Albuera. — E, agora, saia de minha carruagem.
Sem ter alternativa, Aidan engoliu sua frustração e abriu a porta do landau.
— Certamente, lady Rivenhall. Até a próxima vez — disse ele, tirando o chapéu.
Saltou para a calçada, curvou-se, colocou o chapéu de volta à cabeça e esperou
que a carruagem seguisse adiante, até desaparecer de vista.
Assim que lorde Hambury anunciou que uma mulher tinha sofrido uma queda e
morrera no jardim, lorde Elkin começou a procurar por lady Appleton no salão. Não a
encontrando, ficou inquieto, sentindo o coração apertado. Foi até sua carruagem,
mas lembrando-se de que Felicity morava a apenas duas quadras dali, correu para a
casa dela.
Em poucos minutos estava batendo com força a aldrava de bronze na pesada porta
de carvalho. Um mordomo atendeu-o com evidente desprazer. Sem dar atenção ao
serviçal, lorde Elkin entrou no hall e dirigiu-se para a escada chamando por Felicity.
Lady Appleton saiu da sala de estar usando um robe azul, tendo um livro na mão.
Estava linda, tendo os longos cabelos loiros caídos sobre os ombros.
— John, o que aconteceu? Por que está tão nervoso? — ela perguntou.
Segurando na mão do amigo, levou-o para a sala, deixou-o sentado numa poltrona e
serviu-lhe uma dose de uísque. Ele pegou o copo com a bebida e surpreendeu-se
ao constatar que as mãos tremiam.
— Encontraram uma mulher morta no jardim de lorde Hambury. Não revelaram a
identidade dela e como você tinha desaparecido... decidi vir até sua casa. Eu
precisava ter certeza de que você estava bem.
Felicity segurou a mão dele e levou-a ao rosto. John colocou o drinque na mesinha
do seu lado e correu os dedos pelos sedosos cabelos loiros.
— Eu... não devia estar aqui a esta hora. Tenho de ir, lady Appleton — disse ele,
levantando-se.
— Espere. Fique mais um pouco — pediu Felicity.
— Para quê? Eu sei que não tenho chance de conquistar o seu amor. Não me
atormente, dando-me alguma esperança.
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—Eu... Eu estou confusa, John — Felicity murmurou, de olhos fixos nos lábios de
lorde Elkin.
Era todo o encorajamento que ele precisava. Inclinando a cabeça, ele tocou os
lábios dela. Sentindo-os tão doces quanto a dona, agradeceu a Deus por aquele
momento de ventura. Apertou Felicity nos braços e beijou-a com intensidade. Pouco
depois ela colocou as mãos no peito dele e ele soltou-a.
— John, não sei o que posso lhe oferecer. Só tenho certeza de uma coisa: não
quero perdê-lo novamente.
— Minha querida! — John apertou Felicity junto do peito e encostou o queixo na
cabeça dela.
Ficaram assim, abraçados por longo tempo. Ele estava certo do amor que sentia por
ela e não se contentaria apenas em ter sua amizade. Também não suportaria vê-la
casar-se com outro.
Finalmente, deixou-a e caminhou para a porta. Saiu da casa com renovadas
esperanças. Sentia que Felicity o amava, porém ela ainda não estava certa de seus
sentimentos. Essa certeza só viria com o tempo, e ele saberia esperar quanto fosse
preciso para ter a mulher dos seus sonhos.
Eram três horas da manhã e as ruas de Regents Hill estavam desertas. Encostada à
parede, numa esquina, Celeste viu quando a carruagem de lorde Henri Renault
parou na frente da casa que ela estava observando. Esperou que o cavalheiro
subisse os degraus de entrada e o cocheiro tocasse os animais, indo guardar o
veículo nas cavalariças. Só então ela atravessou a rua escura.
Usando as roupas que tinha roubado de seu cavalariço, pulou o muro externo e
depois, agarrando-se a plantas e saliências na parede da casa, subiu com
dificuldade até o segundo andar e entrou no quarto do cavalheiro pela janela que
estava aberta.
Nesse momento, o jovem lorde saía do cômodo vizinho e entrava no quarto usando
apenas uma toalha ao redor da cintura. Subitamente ele viu Celeste e parou.
— Ah, lady Rivenhall. Que prazer inesperado. — Ele puxou para trás das orelhas os
longos cabelos loiros. — Veio ajudar-me no banho?
Celeste jogou o boné sobre uma cadeira.
— Não, Henri, vim falar-lhe sobre o que aconteceu durante o baile de lorde
Hambury.
O belo homem aproximou-se de Celeste, andou ao redor dela olhando-a da cabeça
aos pés, e comentou com um sorriso malicioso:
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— Essa calça de couro lhe assenta muito bem, lady Rivenhall. Suas curvas ficam
perfeitamente modeladas.
Celeste empurrou-o e falou no mesmo tom autoritário que usava ao dirigir-se às
suas tropas:
— Henri, foi você?
— Quer saber se matei lady Davis? Não. Eu nem conhecia a infeliz mulher — ele
respondeu.
Celeste olhou-o de modo penetrante è soube que ele dissera a verdade. Afastou-se
um pouco e ordenou-lhe:
— Está encarregado de descobrir o assassino e se um de nossos agentes é o
responsável.
O francês tirou a toalha que o cobria e ficou nu diante de Celeste. O primeiro
impulso dela foi virar o rosto, mas isso seria um sinal de fraqueza. Manteve-se firme,
olhando o corpo musculoso, cujo membro estava rijo. Não era de admirar que as
mulheres disputavam a atenção do jovem lorde... E um lugar na sua cama.
— Está bem, conseguirei informações por meio da criada pessoal de lady Davis.
Isso a satisfará, lady Rivenhall?
— Talvez.
Lorde Renault foi para a cama, entrou sob as cobertas, ficando recostado nos
travesseiros.
— Vou descansar. Preciso de minhas forças para conseguir as informações. — Ele
riu. — Entrarei em contato assim que descobrir alguma coisa.
Lady Rivenhall assentiu com um movimento de cabeça e ia sair pela porta, mas
Henri interrompeu-a.
— Desça pela janela.
— Por quê?
— Quero admirar seu traseiro quando se inclinar, oui? Irritada, lady Rivenhall
escancarou a porta do quarto e deixou o aposento ouvindo a risada de barítono de
lorde Renault.
Felicity reuniu-se para o chá com as queridas amigas uma semana depois do baile
na casa de lorde Hambury.
— Gilbert quer tanto outro filho, mas acho cedo para engravidar. Os gêmeos vão
fazer um ano — disse Sarah. — Será que estou sendo egoísta?
— Não espere demais, se é esse o desejo de seu marido — aconselhou Felicity.
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— Concordo com Felicity — tornou Juliet. — Mas vocês não querem saber da
novidade? Aliás, duas novidades. A primeira é que lady Davis tinha arranjado um
amante recentemente.
— Você está brincando — volveu Sarah.
— Não estou. Fiquei sabendo disso por Elizabeth, sobrinha de lady Davis.
— Quem é esse amante? Será que foi ele quem matou a pobre Sophie? — indagou
Felicity.
— Ninguém sabe quem é esse homem. Elizabeth me disse que ele proibiu lady
Davis de revelar sua identidade a quem quer que fosse.
— Ah, que novidade sem graça. — Felicity reclamou. — Qual é a outra?
— Lorde Barksdale me beijou naquele baile.
— É mesmo? E daí? — Sarah quis saber.
— Gostei tanto do beijo que o beijei quando ele me trouxe para casa na sua
carruagem.
— Juliet, francamente! Lorde Barksdale pode pensar mal de você — Felicity advertiu
a prima.
Os olhos de Juliet brilharam.
— Pode pensar o que quiser. Mas acho que ele gosta de mim.
— E você? O que sente por ele? — Sarah perguntou.
— Gosto de Robert. Ele é atraente, espirituoso, alegre. Mas ele não me fez
nenhuma proposta.
— Nesse caso você não deve beijá-lo — Sarah aconselhou a amiga.
— Se eu não beijá-lo, como poderei adquirir prática?
— Ora, Juliet! — cortou Felicity. Sarah voltou-se para Felicity.
Christian me disse que viu lorde Elkin entrando em sua casa na noite do baile.
Lady Appleton enrubesceu e Juliet protestou:
— Felicity! Por que não me contou? Parece que você só gosta de falar comigo para
fazer críticas ao meu comportamento. Está novamente interessada em John Elkin?
— Não há nada para contar. John e eu somos apenas amigos.
— Amigos? Quantas vezes você e lorde Elkin saíram para cavalgar nesta semana?
— Sarah questionou.
Lady Appleton ajeitou o guardanapo sobre o colo, pôs mais creme no seu chá e
respondeu:
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— Três.
Juliet ficou boquiaberta.
— Nos últimos dois anos, você e John não se encontraram. E agora, numa semana
apenas, passaram três tardes juntos? Se isso não é namoro, o que é, então?
— Se querem saber a verdade, acho que John ainda me ama. Sarah colocou a mão
no braço da amiga.
— E quanto a você? Seus sentimentos por lorde Elkin mudaram?
— Não sei. Ficamos separados durante muito tempo. Não quero perder a amizade
de John pela segunda vez, pois gosto dele. Sua companhia me faz bem.
— Se você gosta dele, mas não o ama, deve dizer-lhe a verdade.
— Talvez, com o tempo, eu chegue a amá-lo. Acredito que John será bom marido e
pai excelente.
Juliet não se conteve.
— Bom marido, pai excelente! Ouviu o que você disse, Felicity? Você não está
comprando um cavalo! O homem que você escolher deve deixá-la nas nuvens, deve
deixá-la extasiada assim que o vir entrando no quarto.
— Está sendo ridícula, Juliet — Felicity replicou.
— Felicity, quando você estiver com o homem com quem irá se casar, deve sentir
uma emoção... alguma coisa diferente.
—Eu sinto. Sinto amizade e respeito por John. Gosto de estar com ele. Faz mais de
três anos que debutei e decidi que já é hora de pensar em ter minha família.
— Se a questão é ter marido e filhos, aceite o pedido de um desses seus
pretendentes e poupe John de sofrer nova decepção, pois você não o ama.
Felicity bateu a xícara sobre o pires quase quebrando a fina porcelana.
— Basta, Juliet! Estou cansada de suas fantasias infantis. Nem toda a mulher tem a
sorte de amar e ser amada. A maioria faz, simplesmente, a melhor escolha
disponível. Com licença.
Lady Appleton levantou-se e saiu do salão, deixando as duas amigas olhando uma
para a outra, chocadas.
Capítulo VIII
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Era bem cedo, a neblina ainda cobria a cidade quando Gilbert de Clare, duque de
Glenbroke, saiu para cavalgar com o cunhado, conde de Wessex.
— Com o assassinato de lady Davis, Whitehall será forçado a reconsiderar suas
suspeitas sobre lady Rivenhall —- o duque observou.
— Que se dane Whitehall — tornou Aidan, zangado. — Todos do Ministério do
Exterior acharam que eu estava louco quando afirmei que lady Rivenhall era uma
traidora.
— Aidan, muitas vidas estão em jogo. Essa mulher deve ser vigiada.
Aidan inspirou fundo. Seus olhos fixaram-se no horizonte.
— Então contrate um detetive ou convença Whitehall de que lady Rivenhall é
perigosa. Seja como for, faça tudo sozinho. Não quero me envolver.
O duque olhou para o cunhado de modo especulativo. Aidan Duhearst sempre
mantinha o autocontrole e no momento parecia perturbado. Gilbert quis saber por
quê„.Conduziu Apollo, seu cavalo, emparelhando-o com o do cunhado e ambos
pararam quando um grupo de cavaleiros passou por eles, na Rotten Row, no Hyde
Park.
Quando voltaram a cavalgar, o duque esperou que Aidan desabafasse. Aprendera
de longa data que, dando-se a uma pessoa tempo para falar, obtinha-se mais
respostas do que com uma pergunta direta.
— Lady Rivenhall é uma mulher... difícil.
A expressão do duque permaneceu serena, mas sua mente fervilhava.
— Você tentou seduzi-la, como lhe sugeri? — Gilbert indagou sem virar a cabeça,
apenas observando o cunhado com o canto dos olhos.
Notou que ele comprimira os maxilares e ficara tenso.
— Sim — Aidan respondeu, finalmente.
— Parece que isso o perturbou. Aidan, lembre-se de que a mulher é amante de
Napoleão.
— Ela era virgem.
— O quê? — O duque refreou Apollo bruscamente, fazendo com que o animal
relinchasse em protesto.
O conde também obrigou o cavalo a diminuir a marcha e parar.
— Você me ouviu muito bem, Gilbert.
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— Sim, lady Rivenhall é uma agente dupla. Eu mesma a recrutei sete anos atrás,
quando o pai foi assassinado pelos franceses. Na época ela estava com dezesseis
anos. Se você a visse na ocasião, entenderia por que o imperador encantou-se com
ela. Lorde Rivenhall, pai de Celeste era oficial na embaixada britânica em Paris e
casou-se com uma aristocrata francesa. Infelizmente ela morreu deixando Celeste
com apenas três anos. Ela passou a ser criada por Marie. Na revolução, lorde
Rivenhall foi morto diante tia filha. — Pela primeira vez Gilbert viu emoção nos olhos
de lorde Falcon. — Então eu me ofereci para trazê-la com Marie pura a Inglaterra,
mas ela recusou-se a deixar a França.
— Se o pai foi morto pelos franceses, como pôde Napoleão confiar nela? Seria
natural que ele duvidasse de sua lealdade à França.
— Lady Rivenhall é inteligente, insinuante, além de belíssima. Uma mulher assim faz
com que um homem acredite em tudo que ela lhe disser. Ela foi apresentada à corte,
em Paris, e ofereceu-se para ajudar na guerra. Interrogaram-na e ela disse aos
oficiais que o pai era um tirano, que a espancava, por isso ela o odiava e odiava a
Inglaterra.
— Eles acreditaram nela?
— A princípio, não. Submeteram-na a provas e ela viu-se obrigada a sorrir ao
presenciar a execução de oficiais ingleses. Homens que ela não tinha como salvar
— revelou o velho com tristeza. — Não demorou muito para Celeste encantar o
próprio imperador. Ela estava com dezoito anos. Inúmeros oficiais atestaram a
lealdade de lady Rivenhall, e Napoleão passou a confiar nela inteiramente.
— Que história incrível.
— Mas verdadeira e sofrida. Nos últimos quatro anos, lady Rivenhall tem sido nossa
agente mais valiosa. Não fosse por ela, o conde de Wessex estaria morto há muito
tempo.
— Como?
— Lady Rivenhall não apenas planejou a fuga do conde, como deu-nos informações
importantíssimas. Graças a elas, lorde Beresford venceu a batalha de Albuera.
O duque sentiu o sangue gelar.
— O que podemos fazer para ajudar lady Rivenhall a descobrir esse traidor, o tal
Lion?
— Nada! Absolutamente nada! — lorde Falcon falou com veemência. — Apenas nós
dois sabemos que lady Rivenhall é uma agente dupla. Desde a fuga de Wessex, ela
está sendo observada bem de perto, por ordem do imperador. Suspeitamos que
Napoleão a enviou a Londres justamente para testar sua lealdade. Se suspeitarem
dela, a matarão e o traidor continuará a agir. É melhor que paire sobre ela suspeitas
de que é uma espiã francesa do que suspeitarem de que ela é uma agente dupla.
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— Está querendo dizer que não posso revelar a identidade dela nem mesmo ao
conde de Wessex?
— Principalmente a Wessex. Ele não deve saber a verdade sobre lady Rivenhall.
Seria muito perigoso. O traidor que usa o nome de Lion está entre nós e tem acesso
a documentos importantes dos ministérios de Whitehall. Eu mesmo tive o cuidado de
destruir o arquivo de lady Rivenhall para protegê-la. Lion acredita que ela seja a
amante de Napoleão e confia nela. Se houver a menor suspeita...
— Meu cunhado jamais revelaria a identidade dela — tornou o duque, ofendido.
— Claro. Eu sei que ele não faria isso intencionalmente. Mas lembre-se de que em
todo baile, em toda reunião social ou evento importante em Londres, há um
colaborador francês presente, observando. Alguns nós conhecemos, outros, não.
Bastaria um olhar amável do conde de Wessex, o homem sobre quem há suspeitas
de que ela ajudou a fugir, para pôr Celeste em perigo. Portanto, informe seu
cunhado que o ministério fez novas investigações sobre lady Rivenhall e não
descobriu nada que estivesse em desacordo com as informações contidas nos
arquivos anteriores.
— Eu sei que Wessex não esquecerá este assunto. Ele exige que lady Rivenhall
seja entregue às autoridades.
— Informe seu cunhado que a situação foi resolvida e que ele deve evitar lady
Rivenhall.
— Ele não ficará feliz com esta solução.
— Nenhum de nós está feliz com a guerra. Nos ministérios todos reclamam. Imagine
que até o pergaminho para mensagens especiais está racionado. — Lorde Falcon
riu e moveu um peão. — Xeque-mate! E agora, com sua licença, Alteza. Tenho um
compromisso.
— Aidan, deixe Sebastian na cadeirinha antes que ele suje sua roupa — disse Sarah
começando a dar a comida de Constance.
Aidan olhou para o sobrinho sentado no seu colo, muito feliz.
— Você nunca pensaria em sujar a roupa do titio, não é, Sebastian?
O garotinho resmungou, agitou os bracinhos, querendo mais sobremesa. Aidan deu-
lhe uma colher de pudim e sorriu satisfeito ao ver o apetite do sobrinho. Por fim,
Sebastian arrotou.
— Ora, ora, Sebastian, vejo que você é um glutão rústico como o pai — brincou
Aidan fazendo cócegas no pescoço do sobrinho e colocando-o no chão, sobre o
tapete.
— Aidan, você tem muito jeito com crianças — Sarah observou. — Talvez esteja na
hora de pensar em ter seus filhos.
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— Obrigado por sua intromissão tão sutil na minha vida pessoal, Sarah — tornou o
irmão com ironia.
A duquesa suspirou, frustrada.
— Bem, Aidan, tenho de lhe dizer umas verdades. Lady Appleton seria uma esposa
perfeita e você deixou lorde Elkin roubá-la bem debaixo do seu nariz. O tempo
passa, querido. Os gêmeos vão crescer sem ter primos com quem brincar.
— Pensei que você estivesse preocupada com a minha felicidade. Como o caso não
é esse, talvez eu possa dar uma volta por aí e arranjar priminhos para brincar com
Sebastian e Constance.
— Pare com isso, Aidan! — Sarah limpou a boca da filhinha. — O que você acha de
Juliet? Ela tem ótimas qualidades e merece ser observada, mas você é um pedante!
— Pedante!
— Isso mesmo. Juliet precisa de um homem de pulso firme como você. E como
gosta de mexericos! Outro dia ela contou para mim e Felicity que lady Davis tinha
um amante.
— Amante? Quem era ele?
— Ninguém sabe. Os empregados da casa nunca viram o homem claramente.
Sabem que ele é alto, mas usava sempre um chapéu que lhe obscurecia o rosto.
— Então como podem afirmar que era amante dela? Sarah enrubesceu.
— Eles ouviam barulho no quarto quando o homem a visitava.
— Essas visitas eram freqüentes? Os olhos de Sarah estreitaram-se.
— Aidan, por que esse interesse todo?
— Estou apenas curioso.
— Você nunca foi curioso. Na verdade, você detesta mexericos.
— Isso não é mexerico, Sarah. Lady Davis foi assassinada por um homem da
sociedade.
Mas não era no misterioso amante de lady Davis que Aidan estava pensando, e sim
na mulher que provavelmente havia encarregado o assassino de obter informações
valiosas para a França, por meio da esposa do almirante.
Sua mente estava em lady Rivenhall.
Depois de assistirem a um concerto nos jardins de Vauxhall, John Elkin e lady
Appleton jantaram em um dos camarotes privativos. Terminaram de saborear uma
sobremesa de creme de morangos ao brandy, e John ficou olhando embevecido
para Felicity.
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— Bem, há uma lady envolvida. É tudo o que eu posso dizer. O homem deu um
sorriso malandro, mas voltou a ficar sério.
— Entendo. Pode entrar.
— Obrigado.
Uma vez no prédio, Aidan percorreu os corredores sem saber por onde começar a
procura. Ao passar por uma porta viu que estava entreaberta e empurrou-a. Ficou
atônito ao ver John Elkin caído, no meio de uma poça de sangue. Ele ajoelhou-se e
ergueu o corpo do amigo.
— John!
Os olhos do ferido abriram-se.
— John, quem atirou em você?
Lorde Elkin tentou falar, mas uma golfada de sangue saiu de seus pulmões. Aidan
apertou o amigo contra o peito e segurou a mão dele, tentando transmitir-lhe um
pouco de sua força. Mas logo soube que não podia salvá-lo.
— Não, John! Não! — Aidan falou, entre lágrimas.
John estava gelado e não respirava mais. O conde deitou-o carinhosamente no
assoalho. A dor por ter perdido o amigo foi substituída pela raiva.
Onde ela está?
Aidan correu pelo labirinto de corredores e, ao chegar à entrada do prédio, falou em
tom severo:
— Lorde Elkin foi assassinado em seu gabinete. Já que você não o protegeu em
vida, trate de proteger o corpo dele.
— Sim, sim, milorde — tornou o guarda, aterrorizado. Indo para a rua, Aidan
perguntou rispidamente ao sr. Brown:
— Onde ela está?
Notando a roupa do conde suja de sangue, e o ódio impresso nos olhos, o detetive
respondeu, cauteloso:
— Está... na sua carruagem, milorde. Ela saiu do prédio há poucos minutos.
Aidan entrou na carruagem e fechou a porta com violência.
— Sua vadia! — acusou-a e agarrou-a pelos cabelos. Alarmada ao ver o estado em
que o conde se encontrava,
Celeste gritou, mais de medo do que de dor.
Logo a mão de Aidan relaxou. Ele compreendeu que também era culpado da morte
de John Elkin. Devia ter vigiado lady Rivenhall bem de perto. Devia tê-la contido.
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Pegou a bolsa que ela segurava, tirou de seu interior a adaga e a pistola e gritou
para o cocheiro:
— Para casa!
A carruagem pôs-se em movimento. Lady Rivenhall ficou muda e encolhida em um
canto, certa de que um gesto seu, ou uma palavra pronunciada, desencadearia
sobre ela a ira do conde.
Assim que a carruagem parou, ele tirou lady Rivenhall do veículo sem a menor
delicadeza e entrou em casa.
— Mande preparar meu banho — ordenou ao mordomo, ignorando o espanto e a
preocupação nos olhos do velho.
Quando ia subindo a escada arrastando lady Rivenhall, ela tentou protestar.
— O que foi...?
— Cale-se! Estou me contendo para não espancá-la! — Aidan trovejou e continuou a
subir os degraus.
Entrou em seu quarto, soltou o pulso de lady Rivenhall, e ela caiu sentada no tapete.
Ele tirou a gravata, o casaco, o colete e a camisa de seda encharcados de sangue e
foi jogando as peças na direção de lady Rivenhall. Ela olhou para ele e perguntou,
além de confusa, indignada:
— O que aconteceu?
— Poupe-me! Não me venha com seu teatro. Chega de mentiras. Sua falsa!
Enquanto falava ele foi tirando as botas, os calções e, por fim as ceroulas. Notando
que a traidora tinha virado o rosto, a fúria dele aumentou. Queria que ela visse o
sangue de John, o homem que ela havia assassinado.
Indo até ela, que já estava de pé, puxou-a para o outro cômodo.
— Você vai dar banho em mim.
Achando mais prudente obedecer, lady Rivenhall ajoelhou-se do lado da banheira e
começou a esfregar o conde. Pouco depois, perguntou novamente:
— O que aconteceu? De onde veio todo o sangue de sua roupa? A mulher era
mesmo uma mentirosa, ele pensou. Odiava-a pelo que tinha feito, porém odiava-se
ainda mais por não ter evitado que ela fizesse mais uma vítima.
— Minhas roupas ficaram sujas porque segurei o homem em quem você atirou. Ele
morreu nos meus braços.
Lady Rivenhall empalideceu.
— Que homem? De quem está falando?
— John Elkin.
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Lady Rivenhall levantou-se num salto e cobriu a boca com as mãos para abafar um
grito de desespero.
— Não — ela murmurou com lágrimas nos olhos.
— Guarde sua representação para o tribunal, milady. — Aidan saiu da banheira e
ficou diante de lady Rivenhall. — Você pode enganar muita gente, mas nós dois
sabemos quem você é. Uma inimiga. Uma traidora.
— Não, eu... não fui responsável...
— Não? — Aidan puxou a blusa do vestido que ela usava. — E o que foi fazer no
gabinete de lorde Elkin, vestida desse jeito? Suponho que tenha usado esse traje de
criada para entrar no ministério alegando que ia fazer a limpeza.
As lágrimas rolaram pelo rosto lívido de lady Rivenhall.
— Eu não vi lorde Elkin.
— Que lágrimas fingidas são essas? — Aidan empurrou-a contra a parede. — Não
acredito que esteja chorando pelo homem que acabou de assassinar.
— Não! Eu não o matei!
Ela sentou-se no assoalho, passou os braços ao redor das pernas, apoiou a cabeça
nos joelhos e chorou convulsivamente. Cansado daquela encenação, Aidan
ordenou-lhe:
— Já chega. Vá para a cama.
Ele tirou um robe do guarda-roupa, vestiu-o e deitou-se do lado de lady Rivenhall.
Pela manhã iria entregá-la às autoridades. A traidora não poderia mais fazer mal a
ninguém.
Celeste fingiu que dormia, porém estava desperta, observando o conde por entre as
pálpebras semicerradas. Deitado de costas, ele tinha as mãos cruzadas sob a
cabeça e olhava fixamente o baldaquino de brocado que cobria o enorme leito.
Depois de muito tempo, não suportando mais aquele silêncio, ela tocou de leve no
peito dele. Imediatamente ele virou-se e agarrou-a pelo pulso. Sabendo quanto ele
sofria, Celeste acariciou o rosto dele com a mão que estava livre. Ele prendeu esse
pulso também. Não se importando, Celeste inclinou-se e deu-lhe um beijo suave na
boca.
Muito devagar, Aidan soltou-a. Sem interromper o beijo, ela massageou os largos
ombros do conde e correu as mãos ao longo do corpo musculoso. Levantando a
cabeça, pressionou os lábios no pescoço dele, depois no peito. Pretendia com essas
carícias ternas apenas confortá-lo, aliviar sua dor, mas ele abraçou-a e passou a
beijá-la e acariciá-la com igual suavidade.
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Quando deu por si, Celeste estava deitada novamente e o conde olhando para ela,
cheio de desejo. Ela ofereceu-se a ele que, tornando-se ousado, explorou seus
recantos mais íntimos antes de possuí-la. Seu ritmo lento tornou-se aos poucos mais
intenso, alucinado, provocando em Celeste espasmos, tremores, gemidos de prazer.
Ele apertou-a nos braços e a manteve bem junto dele até que sua respiração tornou-
se mais lenta. Ela queria reter, aquele momento para sempre.
Então, de modo tão inesperado que a assustou, o conde deixou-a como se ela o
estivesse queimando. Saiu da cama, pegou o robe, abriu uma porta e desapareceu,
deixando-a sozinha no quarto enorme, frio e escuro.
Uma hora depois, impecavelmente vestido, o conde de Wessex entrou no quarto,
deixou uma grande caixa sobre a cama e avisou Celeste:
— Suas roupas. Sairemos dentro de meia hora.
Ele afastou-se e Celeste seguiu-o com o olhar, preocupada. A expressão do conde
estava mais sombria do que nunca. E aonde ele iria levá-la?
A voz de uma criada interrompeu-lhe os pensamentos.
— Seu banho está pronto, milady.
Só então Celeste notou a jovem criada que acabara de colocar sobre uma mesa a
grande bandeja com o desjejum. Levantando-se, seguiu a moça até o banheiro e
entrou na água morna cheirando a lavanda. Quando terminou, voltou para o quarto
enrolada na toalha. Ficou atônita ao ver a criada tirando da grande caixa cor-de-rosa
as roupas que o conde lhe trouxera. A anágua era de seda branca, enfeitada com
renda chantili e o vestido, confeccionado em musselina de um lindo tom azul, tinha
rosinhas ao redor do decote.
Terminando de vestir-se, com a ajuda da criada, Celeste consultou o relógio e
alarmou-se.
— Devo descer em dez minutos. — Ela voltou-se para a moça. — Por favor, penteie
meus cabelos enquanto eu como alguma coisa.
Ela tomou chá, comeu uma torrada com geléia e ainda teve tempo de escrever um
bilhete para Marie. Dobrou o papel e entregou-o à criada que terminara de prender o
último grampo nos lindos cabelos loiros.
— Por favor, faça com que esta mensagem seja entregue nesse endereço.
Faltando um minuto para terminar o prazo estipulado pelo conde, Celeste estava no
hall de entrada.
—Você é pontual — o conde observou laconicamente ao vê-la.
Ela saiu da casa e subiu na carruagem sem a ajuda dele. Quando o viu sentado no
banco à sua frente, sentiu o coração bater mais forte. Aidan Duhearst estava
encantador usando casaco preto e colete dourado com grandes botões de
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Lorde Falcon olhou para Celeste hão dando a menor demonstração de conhecê-la.
— E quem é sua acompanhante?
— Esta é lady Rivenhall, milorde. Se nos der licença... Celeste fez uma graciosa
mesura.
— Milorde.
— Encantado — tornou o velho.
O conde começou a andar pelo corredor congestionado, sempre segurando no
braço de Celeste. Lorde Falcon acompanhou-os.
— Eu ia tomar o café-da-manhã com meu sobrinho. Vocês não gostariam de
conhecê-lo?
— Sinto muito, milorde...
— Ah, aqui estamos! Entrem — o velho falou alegremente, ignorando o protesto do
conde.
Esperou que os dois entrassem e fechou a porta. Celeste viu que aquele não era o
gabinete de lorde Falcon. Indo até a escrivaninha de carvalho, ele esmurrou-a.
Desde que conhecia o educadíssimo lorde, aquela era a primeira vez que Celeste
presenciava tal demonstração de raiva.
— Em nome de Deus, o que está fazendo aqui?
Confuso, o conde olhou para lorde Falcon e percebeu que ele dirigia-se a lady
Rivenhall.
— Lorde Wessex obrigou-me a acompanhá-lo. Ele pretende entregar-me às
autoridades.
— O que deu em você, Wessex? — Falcon vociferou. — Você foi informado que não
havia nada contra lady Rivenhall. Você não faz idéia do mal que cometeu. Sentem-
se.
Falcon indicou o sofá para Celeste e o conde, e sentou-se numa poltrona.
— Bem, Wessex, parece que não me resta alternativa senão explicar a situação.
— Ele não acreditará no senhor — Celeste advertiu lorde Falcon.
— Conheço lorde Wessex, minha querida, e sei que ele não é homem de deixar que
as emoções obscureçam seu julgamento. Ele entenderá tudo assim que a nossa
posição for esclarecida. — Lorde Falcon voltou-se para o conde. — Lady Rivenhall
trabalha para mim como agente. Ela obtém informações dos franceses e as manda
para nós.
A expressão do conde era de incredulidade.
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— Com todo respeito, milorde, mas lady Rivenhall tem o poder de iludir os homens.
Ela faz com que eles acreditem em tudo o que ela diz.
— Exatamente. Foi por isso que a recrutei. Lady Rivenhall tem passado informações
importantíssimas para nós nos últimos quatro anos.
Celeste sentiu que os olhos do conde estavam fixos nela, mas manteve a cabeça
baixa, refletindo com um misto de pesar, raiva e desgosto sobre o que tinha sido
obrigada a fazer.
—Lady Rivenhall é uma agente inglesa e amante de Napoleão?
— Sim. Ela é a nossa maior colaboradora. Só para dar dois exemplos, ela passou-
nos os planos de batalha dos generais franceses, o que nos garantiu as vitórias em
Fuentes de Onoro e Albuera.
Wessex olhou para Celeste, em seguida, levantou-se e foi até a janela. Apoiou a
mão no peitoril e curvou a cabeça. Falcon continuou.
— Sim, milorde, não fosse por lady Rivenhall você teria morrido na península. Isto
sem mencionar a sua fuga. Com os diabos, quem você acha que lhe deu aquela
chave?
— Isso não explica por que lady Rivenhall está na Inglaterra — volveu o conde,
continuando de costas para Falcon e lady Rivenhall.
— Descobrimos que há um traidor neste ministério. Há vários meses o homem vem
passando informações aos franceses. Havia cinco nomes na lista dos lordes
suspeitos e chamamos lady Rivenhall para vir para a Inglaterra investigá-los antes
de lorde Wellesley realizar um ataque definitivo na península, o que está previsto
para daqui a duas semanas;
— Como lady Rivenhall explicou ao imperador sua saída da França?
Lorde Falcon riu.
— Como você disse, ela faz um homem acreditar no que ela diz. Lady Rivenhall
convenceu Napoleão de que a idéia de ela vir para a Inglaterra a fim de obter
informações tinha sido dele.
— Entre esses cinco homens suspeitos de traição estava lorde Elkin?
— No início, sim. Mas logo descobrimos que não havia nada contra ele. O rapaz era
leal e incorruptível. — O velho suspirou. — Ele foi morto quando entrou em seu
gabinete e surpreendeu o traidor mexendo em sua escrivaninha. O melhor meio de
vingar sua morte é descobrir o bastardo que o assassinou. Lady Rivenhall tem
apenas duas semanas para investigar os suspeitos remanescentes e você vai ajudá-
la nessa tarefa.
— O quê? — O conde virou-se depressa.
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— Meu rapaz, o tempo está correndo e, francamente, é seu dever ajudá-la. Esse
traidor não pode continuar passando informações que causarão a morte de milhares
de soldados ingleses. Homens do lado de quem você lutou.
Wessex cerrou os punhos.
— Não fale de coisas sobre as quais o senhor nada sabe!
— Ah, sei muito bem quantos homens perdemos na península, milorde. Eu mesmo
perdi um neto em Vimeiro. Não vou permitir que outros homens morram porque
deixei de cumprir meu dever para com a Coroa.
— Eu já fiz o meu dever, milorde. Encontre outro para ajudar sua agente — declarou
o conde. Virando-se, saiu do gabinete.
— Wessex vai voltar atrás, minha querida — afirmou lorde Falcon carinhosamente,
tendo notado a frustração de Celeste. — Há quanto tempo você está apaixonada
pelo rapaz?
— Como? Apaixonada? Não gosto de lorde Wessex. Lorde Falcon presenteou
Celeste com um sorriso indulgente.
— Minha querida lady, não fui nomeado para o cargo que ocupo por acaso. — O
digno cavalheiro ficou de pé sobre as pernas trêmulas. — Você está apaixonada por
lorde Wessex, e isso já faz algum tempo.
— Asseguro-lhe que está enganado, milorde. E não se preocupe com a recusa de
lorde Wessex. Prefiro trabalhar sozinha.
— Sei disso, mas, depois do acontecimento desta noite, quero que alguém a ajude,
Celeste. Goste você ou não, seu destino e o de Wessex estão interligados.
— Como pretende convencer o conde a colaborar, lorde Falcon? O idoso cavalheiro
sorriu e ofereceu o braço a Celeste.
— Prometo, querida lady, que vencerei este intrigante jogo de xadrez.
O conde de Wessex passou o dia completamente inquieto e confuso. Cavalgou
durante horas, bebeu demais e, no fim da tarde, foi ao clube de tiro Manton's e pediu
ao criado suas pistolas de duelo. Quando as recebeu, tirou-as do estojo de veludo e
admirou-as. Eram obras-de-arte. O mecanismo de prata esterlina tinha sido
perfeitamente polido.
O criado carregou as armas e conduziu o conde ao salão. Aidan ocupou seu lugar
na fila. Ergueu o braço, mirou o alvo e atirou, mas, infelizmente, atingiu o alvo de
lorde Deaver, que treinava do seu lado. O cavalheiro olhou atônito para Wessex,
mas não fez nenhum comentário.
— Desculpe, amigo — disse Aidan, e pegou a segunda pistola. Desta vez apontou
para o próprio alvo. Apertou o gatilho e atingiu a parede a uma distância de uns
sessenta centímetros acima do seu alvo.
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— Francamente, milorde, você é o pior atirador que já conheci. Então não sabe que
deve apontar para a marca preta no centro do alvo?
Reconhecendo a voz sarcástica do duque de Glenbroke, Aidan olhou para trás.
— Sim, Alteza. Mas agora, quer fazer o favor de desaparecer para eu voltar a me
divertir?
— Não acho bom você continuar aqui, milorde.
— Por que não?
— Em primeiro lugar, porque você cheira a uísque a cinco metros de distância e não
tem chances de acertar num landau, quanto mais no seu alvo. Em segundo, porque
está sendo uma ameaça para todos os presentes. Lorde Deaver, por exemplo, pa-
rece muito assustado.
Lorde Deaver sorriu e concordou com o duque.
— É verdade. Pensei em me abaixar quando Wessex disparou o segundo tiro.
— Vamos, caro cunhado. Vim buscá-lo para jantar em casa.
— Longe de mim recusar seu gentil convite. — Aidan entregou as pistolas para o
criado. — Obrigado, Alfred. Terminei por hoje.
O duque apertou o ombro de Aidan e provocou-o:
— Você pode andar ou quer que eu o carregue?
Aidan olhou carrancudo para o cunhado grandalhão e desferiu:
— Não sei por que minha irmã decidiu casar com você. Gilbert de Clare riu.
— Também não sei.
Depois do jantar, a duquesa de Glenbroke deixou o irmão e Gilbert conversando e
saiu da sala. Aidan aceitou a terceira xícara de café e, quando os criados se
afastaram, perguntou enfurecido ao cunhado:
— Você sabia de tudo, não?
— Bem, lorde Falcon contou-me a verdade sobre lady Rivenhall há pouco tempo.
Ele tinha de manter a identidade dela em segredo para protegê-la.
— E você sugeriu que eu a seduzisse, seu miserável.
— O que você queria que eu dissesse? Como poderia imaginar que ela era uma
agente inglesa? Entenda, Aidan, lady Rivenhall precisa...
— Não! — Aidan protestou antes de o duque terminar a sentença.
Glenbroke perdeu a paciência.
— Você deve a vida a lady Rivenhall, Aidan. Agora, mais do que nunca, ela precisa
de proteção, uma vez que esse traidor demonstrou que é também um assassino.
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Felicity afastou-se da porta e, ao voltar para a cama, olhou para a mesinha onde
estava a bandeja com seu desjejum e sentiu náuseas.
Como não se culpar pela morte de John? Conhecia-o muito bem e tinha certeza de
que ele fora a Whitehall naquela noite fatídica porque ficara arrasado e tentara
distrair-se com o trabalho.
Ela deitou-se e cobriu o rosto com a colcha para afastar dos olhos o sol da manhã.
Infelizmente, não podia afastar da lembrança as últimas palavras de John Elkin. Ele
lhe oferecera o coração e, mais uma vez, ela o recusara.
Por que não aceitara seu pedido de casamento? Por que não tivera coragem de
dizer "sim"? John seria ótimo marido. O que fizera era imperdoável, pensou,
debulhando-se em lágrimas novamente.
Um leve ruído a fez sentar-se na cama, atenta. Ouviu então um barulho mais forte
vindo da sacada. Levantou-se, afastou a cortina e abriu a porta de correr. Viu a um
canto uma caixa amarela com um ramo de flores preso na tampa. Curiosa, pegou a
caixa, levou-a para a cama e abriu-a.
Em seu interior estava um gatinho alaranjado tendo um laço de fita azul-anil
amarrado ao redor do pescoço. O animalzinho abriu e fechou os lindos olhos azuis
por causa da claridade.
Felicity tirou o minúsculo gatinho da caixa e encostou-o no rosto, sentindo a maciez
do seu pêlo. Ouvindo um fraco miado, sorriu, apesar da tristeza.
Devolveu o filhote à caixa e notou que em um canto havia um bilhete. Pegou-o e leu
as poucas linhas.
Há poucas semanas este animalzinho não existia e, dentro de poucos anos, ele não
mais estará entre nós. Assim é a vida. Aproveite os momentos que vocês estiverem
juntos e lembre-se dele com carinho, quando tiver partido, porque não somos nós
quem escolhemos o tempo que ele irá viver.
Lágrimas brilharam nos olhos de Felicity. Apesar de o bilhete não estar assinado, ela
sabia que tinha sido escrito por lorde Christian St. John. Reconheceria aquela letra
em qualquer lugar.
Capítulo IX
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A viúva duquesa de Glenbroke ofereceu um jantar e foi arranjado para que lady
Rivenhall se sentasse à direita de lorde Ferrell. Ele reconheceu-a e deu o mais lindo
dos sorrisos.
— Como vai, lady Rivenhall? Espero que não tenha tido mais problemas por causa
de encontrões, tornozelos torcidos e pacotes amassados.
Celeste olhou cheia de admiração para o atraente cavalheiro. A pele bronzeada
contrastava com os dentes muito brancos, no queixo determinado havia uma
covinha e os olhos castanho-escuros eram orlados por cílios tão longos e espessos
que causariam inveja a qualquer mulher. O cavalheiro mostrou-se envaidecido com
aquele exame atento de suas belas feições.
— Não, lorde Ferrell, desde que nos encontramos no Pall Mall, de maneira tão
deselegante, não tive problemas como aqueles.
— Está incrivelmente linda, lady Rivenhall. Sua beleza é estonteante.
— Não deve fazer elogios tão exagerados, milorde.
— Eu disse a verdade.
Houve uma pausa para eles saborearem a deliciosa sopa-creme de lagosta e,
depois, ovos de codorna com caviar. Quando terminaram, lorde Ferrell perguntou:
— Gosta de teatro?
— Gosto muito. Entretanto, o que mais aprecio são as obras-de-arte. Tenho uma
coleção em minha casa, na França, mas é modesta.
— Você sabia que minha mãe era uma condessa italiana, de Veneza?
— Não — Celeste mentiu.
— Mamãe colecionava obras-de-arte de vários países da Europa e trouxe tudo para
a Inglaterra quando se casou com meu pai. Você gostaria de conhecer minha
coleção?
— Isso me daria um grande prazer.
— Quinta-feira estará bem para você? Jantaremos juntos, depois eu lhe mostrarei
minhas obras-de-arte.
— Infelizmente, tenho um compromisso na quinta-feira. Mas amanhã estarei livre.
— Ótimo. Amanhã, às sete.
— Ficarei contando as horas — Celeste falou com um brilho sensual no olhar.
Conseguira o convite para entrar na casa de lorde Ferrell. Não acreditava que ele
fosse Lion, o traidor, mas tinha quase certeza de que ele colaborava com o inimigo.
Bem, na noite seguinte teria suas respostas.
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Agora podia saborear aqueles pratos deliciosos e requintados com o fervor que eles
mereciam, pensou, voltando-se para o apetitoso filé de salmão ao molho de
alcaparras colocado à sua frente.
Ao entrar na catedral de braço com o marido, para o enterro de lorde Elkin, Sarah
sentiu o coração apertado. Era difícil conformar-se com a morte de um homem tão
jovem, honrado e bondoso como John Elkin.
O casal ocupou seu lugar na primeira fileira de bancos. Em seguida, um cavalheiro
todo vestido de preto sentou-se do lado de Sarah. Era o visconde DunDonell. Ela
sorriu para ele e apertou-lhe a mão discretamente, dando-lhe as boas-vindas. Sabia
que Daniel tinha ido à Escócia, não apenas para cuidar das propriedades da família,
mas também para conseguir no norte fundos tão necessários para a campanha
peninsular.
— Como vai, Daniel? — perguntou o duque ao ver o amigo.
— Bem, Alteza. — Abaixando mais a voz, Daniel acrescentou:
— Não sei o que deu em Christian St. John para trazer a esta cerimônia a viúva
mais falada de nossa sociedade.
— Segundo Christian, lady Hamilton conhecia bem lorde Elkin — Sarah comentou.
— Lady Hamilton "conhece" metade dos cavalheiros da cidade — falou o visconde.
— Inclusive você? — Sarah alfinetou.
— Não. Mas, sem dúvida, alguns dos meus irmãos.
— O duque de St. John percebeu que o filho só quer provocá-lo. Christian é um bom
rapaz, só precisa amadurecer um pouco — apontou o duque.
— É verdade. Ele tem sido ótima companhia para lady Appleton — completou Sarah.
— Você sabia que Felicity...
Reinou na catedral completo silêncio. Todos se levantaram quando o bispo ocupou
seu lugar atrás do altar ornamentado e deu início ao ofício fúnebre.
O conde de Wessex foi até a viela onde ficavam as cavalariças dos moradores do
quarteirão. Assim que o viu, o cocheiro, que o aguardava, abriu a porta do landau,
esperou que ele se acomodasse e tocou os animais. Deu a volta e parou na frente
da casa de lady Rivenhall. Ao olhar para a grande porta de madeira envernizada, o
nervosismo do conde aumentou. Não via Celeste desde aquela manhã, depois do
assassinato de lorde Elkin, e não sabia qual seria sua reação ao revê-la.
Devia sentir gratidão pela mulher que arriscara a vida para salvá-lo, não aquela raiva
incompreensível que rugia em seu peito toda vez que pensava nela. Lady Rivenhall
tinha mentido para ele, certo, mas fizera isso pelo bem do país. Portanto, merecia
dele toda admiração.
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Lady Rivenhall apareceu à porta e Aidan quase ficou sem ar. Ela era como uma jóia
de rubi na noite escura de Londres. Seu vestido vermelho era bordado com pedras
que brilhavam como diamantes.
Entrando na carruagem, Celeste sentou-se na frente do conde e observou:
— Está usando roupas pretas. Muito bem.
— Segui as ordens à risca.
Lady Rivenhall ergueu a cabeça altivamente.
— Lembre-se de que não pedi sua proteção, milorde. — Ela entregou uma folha de
papel ao conde. — Este é um esboço dos cômodos da casa. Jantarei com lorde
Ferrell às sete, depois ele irá me mostrar suas obras-de-arte. Reviste apenas o
andar térreo, começando pelo escritório. Deixe o quarto e os outros cômodos do
andar superior por minha conta.
— E os criados?
— Sei por experiência que todo homem dispensa os criados logo após o jantar, caso
tenha a intenção de levar uma mulher para a cama — declarou Celeste com
cinismo. — Estamos quase chegando. Não esqueça, milorde, deve cuidar apenas do
andar térreo. Quando eu terminar a minha parte, farei sinal para meu cocheiro.
— Não pense que vou ficar na carruagem esperando pela sua volta, sabendo que
você pode estar em perigo.
— Exijo que você vá para a carruagem assim que terminar sua busca. Lembre-se de
que eu o trouxe comigo porque lorde Falcon me obrigou a aceitar sua ajuda, milorde.
A carruagem parou. Celeste desceu do veículo e entrou na casa de um dos
aristocratas mais devassos da cidade.
Frustrado, Aidan aguardou um instante antes de sair para a escuridão. Andou rente
à parede da casa e, quando chegou à janela da sala de jantar, agarrou-se no
parapeito e viu lady Rivenhall sentada à mesa de mogno, à direita do anfitrião.
Cerrou os maxilares ao notar que lorde Ferrell não afastava os olhos concupis-
centes da sua linda presa. O homem conhecia as mulheres e sabia como manipulá-
las para conseguir o que desejava. A vontade de Aidan era entrar na casa, tirar
Celeste dali e levá-la para junto de madame Arnott.
Mas não podia fazer isso. Sua missão era revistar a casa, a começar pelo escritório.
Desceu para o chão, foi até uma das janelas dos fundos, levantou a vidraça e entrou
em uma pequena sala. Consultou o esboço que tinha na mão, agora todo
amassado, e viu que o escritório ficava naquele mesmo lado do corredor, duas
portas adiante.
Foi até lá e acendeu o lampião que havia sobre a escrivaninha. Lorde Ferrell tinha
pilhas de relatórios, documentos, contas, tudo bem organizado. Aidan passou cerca
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de meia hora examinando aqueles papéis. No final encontrou listas dos suprimentos
que seriam embarcados para a península, estimativa das tropas, datas de partida...
Do sinete de Lion, nem sinal.
Tudo indicava que lorde Ferrell colaborava com os franceses, mas seria o traidor
que eles procuravam?
Aidan guardou os documentos no bolso do casaco, arrumou o que havia tirado do
lugar, apagou o lampião e foi para o salão de baile. Tinha começado sua busca
quando ouviu vozes. Lorde Ferrell e lady Rivenhall apareceram na outra
extremidade do cômodo. Aidan escondeu-se junto de uma das janelas, podendo
contar com a proteção da cortina e de um grande vaso de planta.
Lady Rivenhall dava pequenos passos à medida que admirava os quadros da
parede. Um retrato em especial chamou-lhe a atenção, e ela parou.
— Seus quadros são belíssimos, Anthony. Este me faz lembrar Rembrandt.
Anthony?, Aidan pensou, cerrando os punhos. Lorde Ferrell riu, envaidecido.
— É um Rembrandt, lady Rivenhall. Mas quero lhe mostrar as peças mais raras da
minha coleção. — Lorde Ferrell levou a mão de Celeste aos lábios. — Estão no
andar superior,
— No andar superior?
— Sim, no meu quarto. — O libertino inclinou a cabeça e beijou os lábios de Celeste.
Aidan sentiu o sangue ferver. Agarrou umas folhas da planta do vaso e esmagou-as.
— Eu... — Celeste pôs a mão no peito de lorde Ferrell para afastá-lo dela. — Eu
acho que não devo, milorde... Não é correto.
— Vamos subir para ver as obras-de-arte. Asseguro-lhe que não a forçarei a nada.
Lady Rivenhall cedeu e o anfitrião levou-a para o outro andar.
— Maldição! — Aidan resmungou.
Terminou de revistar o andar térreo e consultou o esboço. Localizou o quarto do
salafrário e subiu a escada de dois em dois degraus. Chegando ao corredor, andou
devagar e parou na frente da porta dupla, sob a qual havia uma tênue claridade.
Aguardou um instante, atento, esperando ouvir uma conversa abafada. Tudo quieto.
Encostou o ouvido na porta. Silêncio absoluto. Pressionou mais o ouvido contra a
madeira. Então ouviu um leve ruído. Teve a impressão de que era um roçar de tecido
no assoalho. Estaria Celeste se despindo para aquele patife?
Bem, lady Rivenhall sabia se defender. De mais a mais, ela lhe ordenara para
esperá-la na carruagem. Era o que devia fazer. Mas... e se...
Oh, Deus!
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De repente Aidan tirou a pistola do bolso, deu um chute na porta e entrou no quarto.
Ficou gelado ao ver lady Rivenhall curvada sobre lorde Ferrell que estava seminu.
— Desculpe... Eu pensei que você estivesse precisando de ajuda, mas me enganei.
Aidan virou-se para sair do quarto e Celeste chamou-o.
— Volte. Enganou-se mesmo. Preciso muito da sua ajuda, embora eu não saiba o
que está fazendo aqui, uma vez que devia estar na carruagem. Vamos, mexa-se.
Tire as calças de lorde Ferrell enquanto eu dou uma busca no quarto.
Aidan aproximou-se da cama e, vendo lorde Ferrell inconsciente e despido da
cintura para cima, entendeu o que acontecera. Acabou de despi-lo, cobriu-o com a
colcha e foi para junto de Celeste..
— Vejo que esta noite, em vez da adaga, você usou como arma aquele seu anel
com sonífero.
Ela terminara de revistar a escrivaninha e estava com uma folha de papel na mão.
— Fique quieto. Reviste as gavetas enquanto escrevo um bilhete. Temos de ir
embora antes do amanhecer.
— Bilhete?
— Isso. Um bilhete dizendo a lorde Ferrell que ele é um amante extraordinário e
agradecendo a noite maravilhosa que passamos juntos. Isso evitará que nosso
jovem lorde suspeite do seu clarete. Só não sei como explicar o estrago que você
fez na porta.
Aidan deu de ombros e riu.
— Deixe que ele pense o que quiser. Vamos sair daqui imediatamente. Encontrei
vários documentos que incriminam lorde Ferrell.
Celeste traçou um grande "C" no final do bilhete e acompanhou o conde. Eles
desceram para o andar térreo e saíram da casa pela porta de acesso à estufa.
— Que documentos você encontrou? — Celeste quis saber quando se aproximavam
da carruagem.
— Estão no meu bolso. Você poderá dar uma olhada neles durante o trajeto até sua
casa. Quero entregá-los a lorde Falcon nesta manhã.
— Nada do sinete?
— Nada.
— Pode ser que lorde Ferrell colabore com os franceses, mas não é Lion. Ele não
tocou em mim como um homem que trai seu país.
Aidan franziu a testa.
— E como o nosso charmoso lorde tocou em você, lady Rivenhall?
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— Ora, não lhe devo explicações. E quem você pensa que é para falar comigo
dessa maneira?
— Eu sei quem eu sou e acho que você não deve permitir que nenhum outro homem
toque em você. Só eu tenho esse direito.
Sem dar a Celeste a chance de responder, Aidan beijou-a possessivamente, seus
braços cercaram-na, firmes, com o propósito de prendê-la, guardá-la, protegê-la. Ela
ficou sem ar. Quando sentiu a mão de Aidan sob suas saias, tocando-lhe as partes
íntimas, gemeu e contorceu-se de prazer.
Rapidamente ele abaixou os calções e as ceroulas expondo o membro intumescido.
Puxou Celeste para junto dele, arrancou as calcinhas de renda que ela usava e
colocou-a escarranchada sobre suas coxas, penetrando-a. Fazer amor numa
carruagem estava sendo tão excitante que ambos alcançaram o clímax mais de uma
vez.
As dez da manhã, o conde de Wessex estava andando nos corredores de Whitehall,
com a cabeça nas nuvens. A intimidade com lady Rivenhall o deixara extremamente
perturbado. Na mão, ele segurava um envelope com os papéis que havia
encontrado no escritório de lorde Ferrell. Ele entrou no gabinete de Falcon e foi
atendido pelo competente funcionário do velho lorde.
— Bom dia, Cunningham. Lorde Falcon está?
— Lamento, milorde, ele saiu há poucos minutos para ir ao clube. Disse que ficaria
lá para o almoço.
— Por favor, entregue-lhe estes papéis assim que ele voltar — pediu o conde
deixando o envelope sobre a escrivaninha.
— Perfeitamente, milorde.
Saindo para o corredor, Aidan passou pela sala onde John tinha sido assassinado e
abriu a porta. Notou que a parte do assoalho manchada de sangue estava coberta
por um fino tapete. Veio-lhe à lembrança a cena da morte do amigo, e ele jurou que
não descansaria enquanto o traidor e assassino não fosse entregue à justiça para
ser enforcado.
Saindo do prédio sombrio ele olhou para o céu azul e ficou por um momento
recebendo no rosto o agradável calor do sol.
Indo para a carruagem, perguntou a si mesmo quando tudo aquilo iria terminar.
Celeste passou a manhã censurando-se por ter deixado seu corpo controlar a
mente. Fazer amor com o conde de Wessex tinha sido um erro. Mas como resistir a
um homem tão sedutor?
Droga!
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Ela afastou esses pensamentos, colocou uma gotinha de perfume atrás de cada
orelha e olhou-se ao espelho. O vestido lilás de musselina estava perfeito para ir ao
chá musical oferecido por lady Cantor. Beliscou as bochechas e virou-se para
madame Arnott.
— O landau já está na frente da casa, Marie?
— Oui. Promete ter cuidado, ma petite?
— Não se preocupe. Estarei perfeitamente segura. — Celeste sorriu, confiante, para
tranqüilizar a querida mulher. Deu-lhe um beijo no rosto e desceu a escada.
Faltavam quinze minutos para a jovem lady Emily Cantor iniciar sua apresentação
ao piano quando Celeste chegou à casa da anfitriã. Pegou um prato com diversos
quitutes e sentou-se nos fundos do salão.
Os biscoitos estavam deliciosos. Celeste comia o terceiro quando Henri Renault
sentou-se ao lado dela.
— Está atrasado — ela repreendeu-o.
Henri encolheu os ombros e deu uma mordida no sanduíche de pepino.
— Perdoe-me, lady Rivenhall. Demorei-me um pouco mais do que devia com nossa
anfitriã. Ela adora as lições que lhe dou sobre a arte de beijar — disse Henri com
cinismo. — É claro que lady Cantor nem imagina que passei a noite anterior com
sua filha.
O francês deixou o sanduíche no prato de porcelana e fez uma careta.
— Horrível. A comida inglesa me deixa doente. O que eu não daria para saborear
um bom patê.
— Por favor, monsieur, vamos ao que interessa antes que o recital comece — pediu
Celeste, impaciente.
— Está bem. O homem que você procura é alto, jovem, tem cabelos escuros, olhos
castanhos e, de acordo com a criada, é muito bonito.
— Só isso? E o nome dele?
— Ela não sabe.
— Algum brasão na carruagem?
— O homem estava a cavalo.
— Se descobrir mais alguma coisa, me procure.
— Oui.
— Agora, vá. Não quero que as ladies aqui presentes pensem que você está
tentando me seduzir.
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— Então vamos.
Os dois saíram do prédio. Quando iam atravessar a rua, Woodson pisou num monte
de estéreo de cavalo e praguejou. Enquanto raspava a sola da bota no meio-fio para
limpá-la, comentou:
— Ontem, quando eu estava saindo do ministério, um francês me perguntou se eu
conhecia um homem moreno que trabalhava no Ministério do Exterior. Ele descreveu
o senhor com precisão. Acrescentou que o tinha conhecido no baile na casa de lorde
Hambury, mas não sabia seu nome.
— Como era esse francês?
— Alto, loiro, cabelos compridos e amarrados na nuca.
— Não falei com nenhum francês naquela noite. Com certeza ele se enganou.
— Acho que sim.
Eles continuaram a andar e Woodson manteve a cabeça baixa para ver onde pisava.
Por isso não notou que o homem moreno comprimira os lábios, tenso.
O duque de Glenbroke notou pesaroso a palidez no rosto enrugado de lorde Falcon,
conseqüência do estresse causado pelo cargo que o velho ocupava. O traidor
continuava agindo e, com a partida de lorde Wellesley prevista para dali a onze dias,
a situação começava a tornar-se desesperadora.
Os dois amigos tinham terminado, a partida de xadrez semanal e estavam sentados
no escritório do duque, conversando e tomando uísque.
— Em que pé estão as investigações? — Gilbert de Clare perguntou.
— Fizemos pouco progresso. Descobrimos na casa de lorde
Ferrell provas que o incriminam. E os outros suspeitos continuam sendo observados.
No domingo, lady Rivenhall e o conde de Wessex irão dar uma busca na casa de
lorde Cantor. A família passará o dia fora e os criados terão folga.
— E se nada for encontrado?
— Lady Rivenhall voltará para a França. Precisaremos dela junto do imperador para
passar a Wellesley informações valiosas.
— Ela está a par de seus planos?
— Está. Já escreveu uma carta ao imperador e enviou-a juntamente com
informações falsas que lhe fornecemos.
— É muito arriscado. Os franceses não são tolos. A fuga de Wessex e a vitória de
Beresford já deixaram lady Rivenhall sob suspeita. Eles fatalmente a apanharão se
mandar informações a Wellesley.
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— Eu sei. — Falcon suspirou. — Mas foi ela quem pediu para voltar à França. Pediu,
não, exigiu. Ela se culpa por não ter conseguido salvar mais homens.
— Você sabe que Aidan está apaixonado por ela?
— Sei. E ela por ele. Isso torna a situação mais trágica. Mas nada podemos fazer. A
jovem lady é corajosa e determinada. Sabe que é valiosa para a Coroa. Sabe que a
Inglaterra precisará dela na França. E, na minha opinião, Alteza, esta guerra está
longe de acabar.
Marie terminava de trançar os cabelos de Celeste para ela ir deitar-se quando a
criada apareceu à porta para avisar que o conde de Wessex desejava ver lady
Rivenhall.
— Diga-lhe que pode subir, Ruth.
— Sim, madame.
Madame Arnott ficou escandalizada.
— Ele não pode entrar nos seus aposentos, Celeste.
— Francamente, Marie. Já me deitei com ele, que importância tem que ele me veja
com roupa de dormir? — Celeste argumentou, vestindo um robe por cima da
camisola.
— Não é decente.
— Ora, já fiz muitas coisas indecentes. Pode ir, Marie.
— Mas isso foi...
O conde bateu na porta e a governanta saiu do quarto, relutante. Quando ele entrou,
Celeste respirou fundo ao vê-lo tão sedutor. Ele foi direto ao assunto.
— Vim conversar sobre o que aconteceu ontem à noite.
O coração de Celeste bateu mais forte. Ela entendeu a que ele se referia, mas
procurou preservar-se.
— Presumo que você tenha levado os documentos a lorde Falcon...
— Não é sobre isso que vim falar e, sim, sobre o que aconteceu entre nós, na
carruagem. Foi um erro, Celeste.
As pernas dela fraquejaram e ela sentou-se no banquinho da penteadeira. Apertou
os lábios para evitar que eles tremessem. Em seguida falou com orgulho:
— Certamente não espera que eu me case com você depois de uma simples
aventura, não, lorde Wessex? Com você conheci os prazeres dos sentidos. Você me
ensinou muitas coisas. Na próxima vez que tiver de me deitar com um homem,
saberei satisfazê-lo. — Celeste levantou-se, pegou um livro e foi para a cama,
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entrando sob as cobertas. — E, agora, gostaria que saísse. Quero ler um pouco
antes de dormir.
Aidan ficou parado, olhando para ela, perplexo.
— Tem mais alguma coisa a me dizer, milorde?
— Na verdade eu queria apenas esclarecer a... situação.
— Não é necessário.
Celeste tentou sorrir, mas tinha os cílios úmidos de lágrimas. Baixou a cabeça e
abriu o livro para esconder seu sofrimento. O conde aproximou-se da cama.
— Sinto muito, Celeste. O que eu quis dizer é que não podíamos ter nos envolvido
desse jeito.
— Eu sei — ela murmurou. Lágrimas molharam as páginas do livro.
O conde sentou-se na beirada da cama, empurrou o livro, para o lado e ergueu o
queixo dela, forçando-a a encará-lo.
— Muita coisa aconteceu entre nós. Acabamos nos envolvendo... Bem, você
trabalha para a Coroa e... terá de partir. Não podemos ficar juntos.
— Eu sei.
— Você pode morrer. — O conde beijou suavemente os lábios de Celeste.
Ela fechou os olhos, deliciada. O beijo tornou-se ardente, possessivo. Um beijo de
amante. Ela correspondeu ao beijo com a mesma paixão. Num impulso tirou o
casaco do conde, não querendo pensar em mais nada além de gozar aquele
momento de felicidade. Ele acabou de despir-se, ergueu as cobertas, levantou a
diáfana camisola de Celeste e continuou a beijá-la e a acariciá-la. Pouco depois,
estava sobre ela, com uma expressão conflituosa.
Olhou o corpo nu com tanto desejo que Celeste estremeceu e fechou os olhos.
Então ele capturou-lhe os lábios, saboreou-lhe a boca, sugou-lhe os mamilos. Suas
mãos passaram pelas curvas dos quadris, tocaram onde ela era mais mulher,
deixando-a arque-jante e úmida, pronta para recebê-lo. Sem se fazer de rogado, ele
deslizou para dentro dela.
Amaram-se profunda e intensamente como se tivessem apenas aquela noite para
viver sua paixão.
Afinal, no mundo em que viviam, o passado era só uma lembrança e o futuro uma
promessa incerta.
O homem moreno pagou o cocheiro e entrou no bordel. As mulheres sorriram para
ele com interesse. Uma bonita loira o acompanhou até uma mesa de canto, sentou-
se no colo dele e movimentou atrevidamente o traseiro redondo sobre o membro do
cavalheiro.
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— A gratidão do imperador.
— Prefiro ter a sua.
— Jamais terá.
O homem passou a mão pela perna de Celeste.
— Não esteja tão certa disso. Mas vou satisfazer sua curiosidade. Matei lady Davis
porque a estúpida ameaçou denunciar-me se eu a abandonasse. A lady apreciava a
minha habilidade.
— E lorde Elkin? Por que o matou? — Celeste perguntou com raiva e tentou
escapar.
— Cuidado, gatinha. O que posso dizer é que John Elkin estava no lugar errado e na
hora errada. Eu queria apenas conseguir informações para seu amante, o
imperador, e John Elkin apareceu no escritório.
— O que você quer de mim?
— Muitas coisas, lady Rivenhall. Podemos, por exemplo, fazer uma aliança.
Repartiremos os lucros que obtivermos com as informações.
— O imperador é generoso. Ganho muito bem.
— O amante que a manda para a cova do leão tem mesmo de ser generoso. Mas
quanto tempo isso irá durar? Ou você gosta do perigo?
— Solte-me, ou o imperador ficará sabendo deste incidente. Quanto à sua proposta,
não estou interessada. Trabalho sozinha.
— Trabalha mesmo? Pois eu acho que não deve rejeitar minha proposta. Tenho um
presente para você. — O homem colocou uma caixinha na mão de Celeste. — Na
próxima vez que quiser me investigar, escolha uma pessoa competente.
— O que está querendo dizer?
— Não faz duas horas, meti uma bala no cérebro de Henri Renault. — O homem
curvou-se sobre Celeste, deu-lhe um beijo no pescoço e saiu da cama. — Nos
veremos em breve, lady Rivenhall.
Trêmula, Celeste viu-o atravessar o quarto e sair pela sacada. Virando-se, pegou o
castiçal que estava sobre a mesa-de-cabeceira e acendeu a vela. Abriu a pequena
caixa e sentiu náuseas ao ver o que continha: uma mecha de cabelos loiros sujos de
sangue.
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Capítulo X
Aidan terminou o desjejum e abriu o The London Times. A leitura do jornal o ajudaria
a não pensar nas horas que tinha passado com Celeste. Ele abriu as páginas
financeiras.
O Bloqueio Continental decretado por Napoleão, em 1806, determinava que todos
os países europeus fechassem seus portos para o comércio coma Inglaterra, e isso
tinha gerado, uma crise na Grã-Bretanha.
O preço das mercadorias tornara-se exorbitante, havia falta de alimentos e as
classes mais pobres começavam a se rebelar.
Uma notícia dizia que dois dias antes os franceses tinham atacado um navio
carregado de suprimentos por ter tentado romper o bloqueio. Aidan fez uma pausa
para calcular se o trigo e a aveia que cultivava nas propriedades que tinha em
Wessex seriam suficientes para alimentar todas as famílias que trabalhavam para
ele. Pegou um papel e começou a fazer seus cálculos.
De repente, lembrou-se de um detalhe e voltou à notícia do jornal.
No dia vinte os franceses atacaram um navio com suprimentos..., ele releu.
Tudo ficou claro em sua mente. Em um dos documentos encontrados no escritório
de lorde Ferrell, havia uma tabela mencionando as datas das chegadas e partidas
dos navios. A partida desse navio com suprimentos estava programada para o dia
vinte, exatamente. Isso queria dizer que o traidor já havia passado a informação
quando os documentos foram tirados de seu escritório.
"Nós o encontramos, desgraçado", Aidan disse a si mesmo.
Levantou-se da cadeira, ansioso para falar com Gilbert de Clare.
O duque de Glenbroke admirou o cavalo branco, irlandês, que tinha comprado e
esperou que o preparador o levasse ao paddock. Só então saiu do mercado
Tattersall's com o conde.
— O que há de tão urgente para você andar à minha procura no meio da tarde,
Aidan?
— Nós o pegamos.
— Sério? Vocês encontraram o traidor? E o sinete de Lion?
— O sinete, não.
— Então como pode ter certeza de que o homem é o traidor?
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— Lorde Ferrell tinha em seu poder a lista dos navios que iam chegar e sair do país.
Sabemos que todos os navios daquela lista que transportavam suprimentos foram
interceptados. O último foi atacado no dia vinte. Ou seja, anteontem. O que me diz
disso?
— Você acha que lorde Ferrell já tinha vendido as informações quando vocês deram
a busca na casa dele?
— Não há outra explicação possível.
— Se for assim, temos o nosso homem.
— Temos o nosso homem.
O conde desmontou, entregou as rédeas do animal ao cavalariço e ia entrar em
casa, quando um mensageiro veio correndo ao encontro dele e perguntou:
— O senhor é o conde de Wessex?
— Sou.
— É para o senhor. — O menino entregou uma carta ao conde. Ele atirou uma
moeda de prata para o garoto que saiu pulando.
Aidan entrou em casa e rompeu o selo da carta. A letra era de Celeste.
Prezado lorde Wessex,
Eu lhe agradeceria se pudesse vir a minha casa o mais depressa possível. Nossa
investigação tomou um rumo imprevisto e não sei o que devo fazer.
Atenciosamente, C.
Alguma coisa séria devia ter acontecido, Aidan pensou, o coração batendo
acelerado. Não conseguia imaginar uma situação que lady Rivenhall não soubesse
resolver. Desceu depressa os degraus e foi atrás do cavalariço a quem entregara
seu cavalo.
Em dez minutos estava na casa de lady Rivenhall. Ao vê-la, ficou ainda mais
preocupado do que já estava. As fundas olheiras denunciavam que ela não havia
dormido.
— O que aconteceu? — ele perguntou, passando os braços ao redor dos ombros de
Celeste.
A mulher corajosa, comandante de tropas, patriota inglesa, encostou a cabeça no
peito dele, completamente arrasada. Aidan repetiu a pergunta:
— O que aconteceu, Celeste?
— Ele entrou no meu quarto esta madrugada, depois que você saiu.
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— Quem?
— O homem que matou lady Davis e John Elkin — Celeste falou com voz quase
inaudível.
O coração de Aidan quase parou.
— Ele tocou em você? Machucou-a?
— Tocou em mim, mas não me machucou. Propôs-me uma aliança. — Celeste
hesitou. — E me deu isto.
Ela entregou a caixinha a Aidan. Ao ver o que continha, ele ficou confuso.
— Uma mecha de cabelos com sangue... Não entendo. Os cabelos são seus?
— Não. Pertenciam a um colaborador francês, Henri Renault. O homem atirou nele.
A culpa foi minha. Pedi a Henri para descobrir quem tinha matado lady Davis.
— Não se culpe, Celeste. Renault era um espião francês.
— Era um homem, Aidan. Um ser humano. O que é a guerra, meu Deus! Henri
considerava-se um patriota. Eu gostava dele.
— Tem razão. Perdoe a minha insensibilidade. — Aidan beijou o rosto de Celeste. —
Agora, deite um pouco e relaxe. Preciso sair, mas espero não me demorar.
— Aonde você vai?
— Ao Ministério do Exterior. Vou falar com Falcon sobre a prisão de um certo lorde.
Quando eu voltar terei novidades.
Lorde Falcon sentou-se no banco dá carruagem de aluguel, na frente de Celeste.
Eram duas horas da manhã.
— Obrigado por atender, mais uma vez, ao meu chamado, em hora tão imprópria,
lady Rivenhall.
— Não se preocupe. Eu sei que todo cuidado é pouco, milorde.
— Bem, nós gostaríamos que você desse uma busca na casa de lorde Cantor como
foi planejado. Entretanto, talvez seja uma busca inútil, uma vez que prendemos lorde
Ferrell.
— Há provas de que ele seja mesmo o traidor?
— Quer prova maior do que os ataques dos franceses aos navios que levavam
suprimentos para a península? Nos documentos que vocês encontraram na casa
dele havia um com a lista de todos os navios que iam partir da Inglaterra.
— Tenho minhas dúvidas. Lorde Ferrell não me pareceu o tipo de homem... —
Celeste lembrou-se da noite em que havia jantado com lorde Ferrell. Não. O homem
não podia ser um assassino — Ele admitiu ter matado lady Davis e lorde Elkin?
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— Não. Lorde Ferrell negou todas as acusações apresentadas contra ele. — Lorde
Falcon inclinou-se e segurou a mão de Celeste. — Eu sei que é difícil acreditar. Mas
tenho visto inúmeras vezes homens tímidos se revelarem assassinos. E uma mulher
com beleza angelical pode ser... uma espiã para a Coroa.
— Sim, mas um homem honesto é quase sempre apenas um homem honesto.
Lorde Falcon recostou-se novamente no assento.
— Você acha que nós cometemos um erro prendendo lorde Ferrell?
— Não é isso. Estou insegura. Duvido que ele seja o Lion. Afinal, o sinete não foi
encontrado.
— Correto. É claro que vamos continuar com nossas investigações. O último
suspeito da lista é lorde Cantor. Mas, graças ao que vocês encontraram na casa de
lorde Ferrell, Wellesley poderá atacar o inimigo com a vantagem da surpresa.
— Saber disso é confortador. Partirei mais tranqüila.
— Está decidida a ir embora na próxima semana?
— Estou.
— Já contou a ele?
O coração de Celeste ficou apertado.
— Não.
— Você não precisa ir, se não quiser. Já fez muito pela Coroa, lady Rivenhall.
— A guerra continua. Serei útil na França.
— Temos outras mulheres trabalhando para nós.
— Alguma delas ocupa a alta posição que ocupo? Tem os mesmos privilégios?
— Você sabe que não. Você é especial. Mas desta vez será capturada. Já se expôs
demais — o velho lorde falou com tristeza.
— Eu sei que as chances de eu ser apanhada são agora bem maiores.
Lorde Falcon sentou-se ao lado dela e beijou-a na testa.
— Não vá embora sem me dizer adeus — disse ele e desceu da carruagem.
Celeste assentiu com um movimento de cabeça, mesmo sabendo que não teria
coragem de despedir-se de lorde Falcon.
Vestidos como criados, o conde de Wessex e lady Rivenhall entraram na casa de
lorde Cantor e foram diretamente ao escritório. Ela conseguiu abrir a gaveta da
escrivaninha e virou-se para Aidan.
— Enquanto você revista este cômodo, vou para o andar de cima.
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— Vou voltar para a França. Minha missão aqui era descobrir o traidor. Ele está
preso. Quando lorde Wellesley iniciar seu ataque, vai precisar de informações que
só eu poderei conseguir.
Aidan sentiu-se paralisado. Mal podia respirar.
— É suicídio, Celeste.
— Ir para o campo de batalha também é. Você esteve em Albuera. Sabe disso. Já
escrevi para o imperador.
— Quando pretende partir? — Aidan perguntou, sentindo a garganta apertada.
— Embarco na sexta-feira.
— Daqui a cinco dias?
— Sim.
— Por que está fazendo isto? — Aidan aproximou-se de Celeste, mas ela deu um
passo para trás.
— Por que você lutou por seu país?
— Eu não estava fugindo. E você está.
— Ah! Fugindo de quê?
— De mim. — Aidan abraçou Celeste e beijou-a com todas as emoções que estava
sentindo: raiva, confusão, desejo.
Ela entregou-se nos braços dele. Subitamente, empurrou-o.
— Você é mesmo arrogante. Lembre-se, temos de ir...
— Case comigo, Celeste.
— Não posso. — Ela virou-se e caminhou para a porta. Aidan adiantou-se e
impediu-a de sair.
— Não vá para Paris, Celeste. Você já fez sua parte. Já se arriscou demais pela
Coroa. Fique aqui. Fique comigo — ele sussurrou.
Celeste estava de costas e Aidan percebeu que ela estava chorando. Ele insistiu.
— Você me salvou uma vez. Case comigo e me salve de novo.
— Carinhosamente, ele fez com que ela se virasse. Fechou os olhos e puxou-a para
junto do peito. — Diga sim, Celeste.
— Sim... — ela murmurou soluçando.
— Que falta de eloqüência! — Aidan riu. — Mas já basta. Agora vá dizer a madame
Arnott que você não vai ser mais uma espiã e, sim, uma condessa. Conversaremos
pela manhã, quando você estiver descansada.
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— Ouça o conselho deste velho, rapaz. As mulheres arranjam motivos tolos para
adiar o casamento. Querem esperar pela estação perfeita para as flores, pela
confecção do vestido... Mas seja firme. Três meses no máximo. Sua irmã é uma que
vai lhe causar problemas.
— Como sempre.
— Posso imaginar. Agora volte para junto de sua noiva e a proteja dos perigos. E
não falo só dos perigos que fazem parte do dia-a-dia de uma agente. Uma mulher
bonita pode ser perseguida pelos conquistadores da sociedade até o dia do
casamento... e mesmo depois.
Um forte e repentino sentimento de posse tomou conta de Aidan. Ele levantou-se e
disse antes de deixar o gabinete:
— Asseguro-lhe, milorde, que não terei dificuldade em proteger a mulher que amo.
Lorde Falcon riu e sentou-se na sua poltrona, atrás da escrivaninha.
— Conde de Wessex. Firme como uma rocha...
Sarah atirou-se nos braços do irmão.
— Oh, Aidan, estou tão feliz por você! Um casamento no Natal! Será perfeito. Não
teremos nem seis meses para providenciar tudo. Mas daremos um jeito.
— Três meses, Sarah. — Aidan corrigiu a irmã.
— Três! — ela gritou.
— Dois, então.
— Aidan, não estou preocupada apenas com os preparativos para o casamento.
Celeste esteve na França durante anos e precisa ser apresentada novamente à
sociedade — Sarah argumentou.
— Querida, seu irmão tem pressa, o que é compreensível — Gilbert de Clare
interveio. — A ocasião exige um drinque.
O duque serviu ao cunhado seu melhor brandy.
— Parabéns, Aidan.
— Por favor, Aidan, Gilbert e eu queremos, pelo menos, ter o prazer de anunciar seu
noivado durante o nosso baile, na quarta-feira — Sarah insistiu.
Notando a ansiedade nos olhos da irmã, Aidan cedeu.
— Está bem, querida irmã. Vou falar com Celeste. Se ela aprovar a idéia, nosso
noivado será anunciado na quarta-feira à noite. Então você poderá cuidar dos
preparativos.
— Três meses! Francamente, Aidan, todos irão pensar que você foi obrigado a se
casar com lady Rivenhall.
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— Alegre-se, querida. A noiva não pode aparecer no salão com o nariz vermelho
como uma framboesa.
Celeste esboçou um sorriso e seguiu com Aidan para a festa do noivado de ambos.
Em poucos minutos a carruagem parava na frente da mansão do duque e da
duquesa de Glenbroke, na Grosvenor Square.
Aidan deu a mão a Celeste e quando subiam os degraus de entrada, preveniu-a:
— Sarah gosta de fazer suspense, adora segredos e surpresas. Por isso, não
estranhe se ela ficar controlando Gilbert e só permitir que ele anuncie nosso noivado
quando perceber que todos os convidados estão na maior expectativa.
— Eu jamais pensaria em atrapalhar os planos da duquesa de Glenbroke —
respondeu Celeste, distraidamente.
O fato de saber que nessa noite, seria o alvo das atenções a estava deixando
agitada. Aidan apertou-lhe a mão para infundir-lhe confiança e recebeu um sorriso
agradecido.
Eles entraram no hall e Celeste ficou maravilhada, sentindo seu queixo tremer.
Rosas cor-de-rosa, de todos os tons, cobriam as colunas de mármore.
— O que foi? — Aidan perguntou, ao vê-la parada, boquiaberta.
— Rosas cor-de-rosa são as minhas flores prediletas — ela explicou, mal podendo
falar, pois sentia um nó na garganta.
— Então você gostou? Vamos ao salão de baile.
Nova emoção aguardava Celeste. Centenas de velas acesas nos enormes
candelabros de cristal austríaco iluminavam o imenso salão de baile, que podia
acomodar toda a sociedade londrina. Espalhados pelo salão havia magníficos
arranjos com rosas cor-de-rosa.
— Que maravilha! — ela murmurou.
— Nada disso se compara à sua beleza — tomou Aidan, galante.
A orquestra começou a tocar a valsa do compositor predileto de Celeste e ela viu-se
nos braços do noivo. Eles dançaram em silêncio, sempre se fitando, cada um vendo
o desejo impresso nos olhos do outro. A orquestra parou de tocar e, não se
contendo, Aidan sussurrou:
— Por Deus, Celeste, quero levá-la para a cama. Encontre-me na ala oeste, em
meia hora. Terceira porta à esquerda.
Ele deixou Celeste na companhia de lady Pervill e lady Appleton e saiu do salão.
Para Celeste os minutos pareciam se arrastar. Conversou com Juliet e Felicity,
dançou uma quadrilha com o duque, uma valsa com lorde Reynolds e, finalmente,
chegou o momento de ir ao encontro de Aidan. Subiu depressa para o segundo
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andar e entrou no quarto onde ele devia esperá-la. Não vendo ninguém, deduziu que
tinha sido a primeira a chegar. Estava distraída quando a porta se fechou às suas
costas e Aidan pressionou-a contra a parede.
Suas bocas se encontraram, suas línguas se entrelaçaram num embate
desesperado. Fazendo uma pausa para respirar, Aidan puxou Celeste até um sofá e
sentou-se, deixando-a em pé entre as pernas dele. Suas mãos inquietas
introduziram-se sob as saias dela, acariciaram-lhe as pernas e atrás dos joelhos.
— Tire a calça e arregace as saias — ele pediu, com a respiração entrecortada. Ao
mesmo tempo, abaixou as próprias calças e as ceroulas.
Rapidamente Celeste livrou-se da peça íntima.
— Venha — Aidan chamou-a, exibindo para ela o membro teso.
Puxando-a pelas nádegas, colocou-a sentada sobre suas coxas e foi puxando-a
para baixo, devagar, ambos se fitando, sentindo o prazer de cada centímetro da
penetração. Quando Celeste achou que a penetração tinha sido completa, ele
impeliu com força o quadril para cima deixando-a sem fôlego. Ele fechou os olhos,
gemeu e abriu-os de novo.
— Cavalgue-me, Celeste.
De início ela não soube ao certo o que fazer. Apoiou tentativamente os joelhos no
sofá e moveu os quadris para cima e para baixo, arrancando de Aidan gemidos e
suspiros de prazer. Confiante, passou a girar os quadris ao mesmo tempo que os
levantava e abaixava. O prazer de ambos tornou-se ainda maior. Ele segurou-a
pelos quadris para que suas arremetidas e as dela tivessem o mesmo ritmo. E nessa
sincronia, seus movimentos tornaram-se acelerados, febris. No momento do êxtase,
fecharam os olhos, ficaram abraçados experimentando sucessivas ondas de gozo.
Por fim, ela levantou-se.
— Creio que não poderei esperar três meses. Não consigo ficar longe de você, nem
deixar de acariciá-la — disse Aidan.
— Dois meses, então. Está bem?
— Um mês.
— Sua irmã terá um ataque.
— Pode ser que ela atire alguma coisa em mim. — Aidan deu um beijo em Celeste.
— Há um banheiro anexo ao quarto de vestir. Vou até lá e saio pela porta da sala
íntima. Assim que você se arrumar, encontre-me no salão de baile.
— Está bem.
Minutos depois, Celeste estava no banheiro, e alguém a agarrou por trás, puxou-a
para a sala íntima, e tapou-lhe a boca com a mão, impedindo-a de gritar.
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— Quietinha. Não vou lhe fazer mal. Precisamos conversar, lady Rivenhall. Eu lhe
disse que entraria em contato com você novamente.
Acabando de falar o homem vendou Celeste.
— Não temos nada a dizer um ao outro.
—Temos, sim. Mas, antes de tratarmos de negócio, quero dizer que admiro sua
técnica. Se você é capaz de satisfazer um conquistador como o conde de Wessex,
de fazê-lo gemer daquele jeito, deve ser muito habilidosa. E assim que consegue
suas informações?
Celeste sentiu náuseas só de pensar que o homem ouvira suas intimidades com
Aidan.
— O que você quer?
— Como eu disse quando estive no seu quarto, quero que se junte a mim. Com seu
poder de persuasão e os meus contatos, teremos nas mãos pessoas que nos
poderão ser muito úteis.
— Como eu disse na ocasião, trabalho sozinha.
— Sim, eu sei. Mas por que trabalhar dobrado? Podemos dividir os esforços e
multiplicar os lucros.
Celeste ficou um instante em silêncio só para causar suspense. Depois respondeu:
— Não!
— Acho que você deve saber que estou prestes a conseguir uma informação que
me tornará muito rico.
— Então, por que precisa de mim?
— Você é a espiã de Napoleão. Quero que o imperador fique sabendo que fui eu
quem descobriu toda a estratégia de combate de lorde Wellesley.
Celeste ficou gelada e sem ar.
— Está mentindo.
— No final da semana os planos de ataque do almirante estarão comigo.
O coração de Celeste disparou só de pensar que milhares de homens morreriam se
o traidor tivesse sucesso.
— O imperador o recompensará regiamente por tal informação, milorde.
— E de você, lady Rivenhall, que recompensa terei? — O homem inclinou-se e
roçou os lábios nos de Celeste.
Ela ergueu a cabeça altivamente e representou o papel que vinha representando
naqueles quatro últimos anos.
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Você já fez sua parte. Já se arriscou demais pela Coroa, Aidan dissera; entretanto,
ela estava diante de nova missão.
E parecia que, desta vez, teria de sacrificar a única coisa que tinha realmente
importância para ela: o amor de Aidan.
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— Você tomou a decisão certa, minha querida. Depois que o traidor estiver preso,
você explicará tudo a Wessex — disse lorde Falcon bondosamente.
— Tem razão — Celeste concordou por não ter outra coisa para dizer.
Não queria pensar em Aidan. Ele não a havia procurado, nem lhe escrevera exigindo
explicação. Com certeza, estava contente por livrar-se dela.
— Aqui estão os papéis que você pediu: a cessão da propriedade e ordens de
pagamento, tudo com o selo de Napoleão. — Lorde Falcon entregou um envelope a
Celeste. — Só os assine quando receber os documentos que ele quer vender. Você
já fez isso uma centena de vezes; portanto, não há necessidade de lembrá-la da
importância desta troca de documentos.
— Não o desapontarei, milorde.
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na casa de lorde Cantor, imaginou o que acontecera. Sem pensar duas vezes, tocou
o animal na direção dos armazéns.
— Espere, Aidan, você não pode ajudar! — Christian gritou, chamando o amigo.
Aidan ignorou o chamado. Ele não ia às docas para oferecer ajuda. Algo terrível o
estava atraindo para aquele lugar. Aproximando-se dos armazéns, cobriu o rosto
com a gravata para proteger-se da fuligem. Homens e mulheres gritavam, o pânico
era geral. Marinheiros tiravam os corpos das vítimas de um dos armazéns e os
bombeiros tentavam controlar aquele inferno.
— O que aconteceu? — Aidan perguntou a um marinheiro.
— Não sei. De repente tudo foi pelos ares — o homem teve de gritar para ser
ouvido.
O fogo se alastrava rapidamente, vigas de madeira desmoronavam, vidros
estilhaçavam. Aidan parou o cavalo perto de uma carruagem com o brasão coberto
de fuligem.
— Quem é seu patrão? — ele perguntou ao cocheiro que estava pálido e
aterrorizado.
— Ele foi pra lá — o homem apontou para o armazém em chamas. — Ele me
mandou esperar.
— Quem o mandou esperar?
— Lorde Cantor. Ele... não voltou...
Houve outra pequena explosão e o cavalo de Aidan empinou, derrubando-o da sela.
Ele rolou para baixo da carruagem de lorde Cantor, evitando assim ser pisoteado
pelo animal que, assustado, saiu dali em disparada. Aidan levantou-se e começou a
andar na direção de sua casa, refletindo. Os navios mencionados na lista de lorde
Ferrell tinham sido atacados. Mas as explosões... Bem, lorde Ferrell estava preso e
não podia ter acesso às informações encontradas no escritório de lorde Cantor:
Somente três pessoas sabiam dos dois conjuntos de documentos: ele, Falcon e...
lady Rivenhall.
Preciso de tempo para considerar seu pedido de casamento.
A dor cortou-o mais aguda que a espada de um inimigo. Como Celeste pôde trair o
país e traí-lo?
Falcon. Será que lorde Falcon acreditaria nele? Claro, se ele apresentasse a prova o
velho inevitavelmente chegaria à mesma conclusão, ainda que isso lhe doesse.
Já escrevi para o imperador. Embarco na sexta-feira.
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Essas lembranças fizeram com que Aidan apressasse o passo e procurasse uma
carruagem, mas as explosões nas docas tinham deixado as ruas vazias. Todos
queriam ficar o mais longe possível daquele inferno.
Celeste o havia usado o tempo todo. Ela era ótima na sua profissão; sempre fora,
desde o primeiro instante em que seus olhos encontraram os dela, na sala de
interrogatório até agora. Quantos outros homens ela convencera de sua afeição por
eles? Quantos outros homens a haviam pedido em casamento? Quantos outros
quiseram passar o resto de seus dias dedicando-lhe amor?
Ele avistou uma carruagem de aluguel e acenou para o cocheiro.
— Hyde Park. — O homem olhou para ele com ar de suspeita. Aidan atirou-lhe uma
moeda e acrescentou: — O restante lhe darei quando chegarmos.
— Sim, milorde. — O cocheiro convenceu-se de que, apesar da aparência, o
passageiro era um aristocrata.
Chegando ao parque, Aidan deu ao cocheiro o endereço de lady Rivenhall. Minutos
depois, ele batia na porta com os punhos, em vez de usar a aldrava de bronze. O
mordomo assustou-se ao ver o sempre elegante naquele estado deplorável.
— Milorde !?
— Onde está lady Rivenhall?
— Saiu, milorde. Talvez...
Aidan empurrou o mordomo e entrou na casa chamando:
— Celeste! Celeste!
Madame Arnott desceu a escada apreensiva.
— Ela não está milorde, por favor, não grite.
— Onde ela está?
— Por que devo dizer-lhe, lorde Wessex? Vejo que está transtornado.
Aidan olhou-se ao espelho que havia no hall e assustou-se com a própria imagem.
Estava todo coberto de fuligem, tinha os cabelos desgrenhados e a roupa
amarfanhada. Com essa aparência certamente não convenceria madame Arnott a
revelar onde Celeste estava.
— Ela está em perigo, Marie.
Os olhos pálidos da governanta arregalaram-se.
— Eu tinha certeza de que Celeste corria perigo. Eu insisti para ela não ir.
— Não ir aonde, Marie?
— Às ruínas de Holborn. Ela disse apenas que tinha um encontro às oito horas.
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Celeste por ele não tinha sido verdadeira. Ao mesmo tempo, as evidências contra
ela...
Seus pensamentos foram interrompidos pela voz de Cunningham.
— Lá estão as ruínas, milorde. Deixe que eu vou na frente — Cunningham
prontificou-se.
Desmontou e sacou a pistola.
Aidan olhou para a capela semidestruída que se destacava dos outros prédios
desmoronados. Também desmontou e seguiu lorde Cunningham,
Um cavalo pastava entre os escombros. O cavalo de Celeste. Aidan cerrou os
maxilares, deixando-se^dominar por um estranho torpor.
Quando eles entraram na parte mais alta das ruínas da capela, viram lady Rivenhall
junto de uma parede. Estava lindíssima. Seus cabelos, à luz das velas que ardiam
sobre colunas quebradas, brilhavam como ouro. Ela não escondeu seu espanto ao
ver o conde.
Ele parou e teve de se apoiar numa viga, tal sua perturbação. Lorde Cunningham,
entretanto, ergueu a pistola.
— Lady Rivenhall, viemos prendê-la por traição.
Os olhos de Celeste, que estavam fixos em Aidan, voltaram-se para lorde
Cunningham.
— O que está dizendo? Não sou traidora. Aidan não se conteve e ficou diante dela.
— Sabemos quem você é, lady Rivenhall. Seus colaboradores mataram lorde Cantor
esta tarde, quando o armazém dele foi pelos ares. E há outras evidências... Você
sabe do que estou falando.
— Aidan, eu...
— Poupe seu fôlego, lady Rivenhall. Você me fez de tolo, mas agora basta.
Grossas lágrimas rolaram pelas faces de Celeste.
— É doloroso ouvi-lo dizer isso depois do que aconteceu em Albuera... Depois do
que passamos juntos... Se você tivesse um pouco mais de confiança em mim...
Lorde Cunningham riu.
— Realmente, lady Rivenhall, você é muito boa no que faz. Eu mesmo me convenci
de que você era uma espiã francesa quando dançamos juntos no baile de lorde
Hambury.
— Ora, traidor é você! Você tinha acesso aos documentos que chegavam ao
gabinete de lorde Falcon e os negociava com os franceses. Por que fez isso? Por
que traiu seu país?
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— Também o amo.
Celeste fechou os olhos e Aidan abraçou-a.
— Não, Celeste! Fique comigo! Se você morrer, eu também morro.
Soldados entraram na capela, mas Aidan estava tão perdido na sua dor que não
ouviu o som áspero das botas em atrito com o chão de pedras, nem os viu tirando
dali o corpo de lorde Cunningham. Quando voltaram para levar Celeste, abraçou-a
com mais força. Não podia separar-se dela. Ficaria ali até que sua dor o matasse e
ele pudesse juntar-se a ela na eternidade.
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— Rezar.
Gilbert de Clare abraçou-a e deu-lhe um beijo na testa.
— Vou com você.
Aidan havia cochilado na poltrona onde passara a noite, e acordou com um raio de
sol batendo em seu rosto. Passou a mão pelo ombro enfaixado e dolorido; em
seguida, curvou-se sobre a cama para ver como Celeste estava.
— Abra esses olhos, querida. O que farei sem você? — ele murmurou.
— Não faço idéia — veio a resposta, dita com voz débil.
O coração de Aidan bateu mais forte, seus olhos encheram-se de lágrimas. Celeste
abriu os olhos e sorriu. Ele beijou-a suavemente.
— Quer casar comigo, Celeste?
— Imaginei que esse pedido não seria feito novamente.
— Não apenas faço o pedido novamente, como também reformulo a minha
declaração. Lady Rivenhall, você é a mulher mais corajosa, mais nobre que já
conheci. Eu serei um tolo se a deixar sair desta casa sem uma aliança no dedo. —
Aidan beijou-a e olhou-a dentro dos olhos. — Meu Deus, pensei que a havia perdido.
Eu a amo, Celeste!
— Oh, Aidan, acho que o amei desde o instante em que o vi — Celeste declarou
com lágrimas nos olhos.
Felicíssimo, Aidan abraçou-a, mas deixou-a depressa ao ouvir um gemido de dor.
Aterrorizado ele gritou, chamando o médico.
— Estou bem — Celeste acalmou-o e sorriu. — Mas o aconselho a não me abraçar
para que os pontos não abram.
O médico entrou no quarto e Aidan declarou:
— Muito bem, lady Rivenhall, tenho muita coisa para fazer.
— O quê, por exemplo?
— Vou comprar a aliança e chamar um sacerdote porque, minha querida, você vai
se casar hoje mesmo.
— Sua irmã terá um ataque — presumiu Celeste com um lindo sorriso.
— Concederemos à duquesa a honra de anunciar o nascimento de nosso primeiro
filho.
— Sem dúvida, foi muito desagradável descobrir que meu próprio assistente era o
traidor que procurávamos — admitiu lorde Falcon colocando o copo de brandy sobre
a mesinha do seu lado.
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Entretanto, ele tinha de acreditar que o sacrifício desses agentes não era inútil, pois
eles lutavam e morriam por um ideal.
Um ideal sublime pelo qual ele próprio seria capaz de matar e morrer: assegurar
uma Grã-Bretanha livre e pacífica.
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