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Bibliotecas Aspectos Históricos

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Eixo III - Ensino

AS BIBLIOTECAS UNIVERSITÁRIAS: CONTEXTO HISTÓRICO E ASPECTOS


CONCEITUAIS

THE UNIVERSITY LIBRARIES: HISTORICAL CONTEXT AND CONCEPTUAL ASPECTS

Resumo: A biblioteca universitária tem demonstrado com o advento das tecnologias de


informação e comunicação, em especial a Internet, papel fundamental no acesso, elaboração e
distribuição da informação. Objetiva-se, a partir de uma pesquisa bibliográfica e qualitativa,
apresentar uma contextualização histórica, teórica e conceitual da biblioteca universitária,
bem como seu papel dentro da universidade nesse atual contexto. Destaca-se, também,
produtos e serviços normalmente oferecidos por essas instituições. Conclui-se que as
bibliotecas universitárias têm incorporado as tecnologias da informação e da comunicação a
sua realidade, deixando evidente que ao invés da tecnologia ser uma ameaça para a biblioteca,
ela se apresenta como um instrumento vital para o desenvolvimento de diversas atividades, e
não só em termos de gestão, mas principalmente ao nível da comunicação e da interação entre
a biblioteca e seus usuários.

Palavras-chave: Biblioteca Universitária. História da biblioteca universitária. Conceitos.


Serviços.

Abstract: The university library has demonstrated with the advent of information and
communication technologies, especially the Internet, a fundamental role in the access,
elaboration and distribution of information. The objective is to present a historical, conceptual
and conceptual context of the university library, as well as its role within the university in this
context. Also worthy of mention is the products and services normally offered by these
institutions. It is concluded that university libraries have incorporated information and
communication technologies into their reality, making it clear that instead of being a threat to
the library, it presents itself as a vital tool for the development of various activities, not only
in terms of management, but mainly at the level of communication and interaction between
the library and its users.

Keywords: University Library. History of the university library. Concepts. Services.


1 INTRODUÇÃO

A biblioteca universitária tem demonstrado com o advento das tecnologias de


informação e comunicação, em especial a Internet, papel fundamental no acesso, elaboração e
distribuição da informação. Ao contrário do que se imaginava, a disponibilização de
informações na Internet não exclui a necessidade tanto do espaço físico quanto da sua
presença virtual. Isso porque, o espaço da biblioteca, seja ele físico ou virtual, promove o que
Chartier153 chama de espaço de sociabilidade. Nesse contato social é possível geração de
ideias e conhecimentos os quais promovem o bem estar social, cultural e intelectual da
sociedade.
Tendo por base essas reflexões, objetiva-se, a partir de uma pesquisa bibliográfica e
qualitativa, apresentar uma contextualização histórica, teórica e conceitual da biblioteca
universitária, bem como seu papel dentro da universidade nesse atual contexto. Destaca-se,
também, produtos e serviços normalmente oferecidos por essas instituições.
Iniciaremos com uma contextualização histórica das bibliotecas desde seu surgimento
na antiguidade até os dias atuais. Nessa contextualização, mostramos como as bibliotecas vêm
se desenvolvendo ao longo da história. Depois, desenvolvemos uma reflexão sobre a trajetória
das bibliotecas no Brasil. É indispensável fazer essa contextualização, pois o que se vive na
atualidade é fruto das transformações ocorridas em outrora.
No decorrer desse artigo, apresentamos também a discussão teórica e conceitual do
que a biblioteca representa nesse contexto atual.

2 AS BIBLIOTECAS: DA ANTIGUIDADE A MODERNIDADE

rego biblíon (livro) e theké (caixa,


depósito), portanto etimologicamente a palavra biblioteca pode ser entendida como um
depósito de livros (HOUAISS, 2001).
A história da biblioteca é tão antiga quanto o surgimento do livro, isso porque desde a
antiguidade as civilizações primitivas já se preocupavam em registrar e preservar o
conhecimento produzido. E a partir dessa preocupação é evidente que essas civilizações
buscavam formas e lugares para armazenar tais conhecimentos para perpetuar a memória das
civilizações. Os sumérios, por exemplo, usavam as placas de argila para registrar o
conhecimento gravando nelas conhecida como escrita cuneiforme.

Entrevista concedida ao programa Conexões da TV UFG exibido dia 04 de setembro de 2014. Disponível
em: https://www.youtube.com/watch?v=ZCji5oJZ-rc
Entre as bibliotecas da antiguidade destacam-se as bibliotecas do Egito. A biblioteca
de Nínive é considerada a primeira biblioteca da história, ela estava localizada no palácio do
rei assírio Assurbanipal II, seu acervo era composto por documentos registrados em placas de
argila cozida e escrita em caracteres cuneiformes que remontam o século IX a.C. (MARTINS
1998).
Além da biblioteca de Nínive, existiram muitas outras bibliotecas em templos e
palácios da Babilônia, todavia, como a de Nínive, todas sucumbiram. Entre elas, estão as de
Assur, Koloch e Nippur (PEREZ-RIOJA, 1952 apud SANTOS, 2013). Mas apesar da
biblioteca de Nínive ser a primeira da história a mais famosa de todas as bibliotecas egípcias
foi a biblioteca de Alexandria.
A biblioteca de Alexandria foi fundada por Ptolomeu I, general de Alexandre o grande
e foi pensada para ser uma biblioteca capaz de concentrar em si toda a sabedoria produzida.

universais, e com sua comunidade de estudiosos, tornou-se o protótipo das universidades da


-se que na biblioteca de Alexandria tenha existido mais de setecentos
mil volumes, dentre esses, diversos manuscritos únicos de um grande número de obras da
antiguidade (MARTINS, 1998).
Com o passar dos séculos diversas foram às mudanças percebidas na sociedade, mas a
preocupação em preservar o conhecimento nunca deixou de existir. Os suportes utilizados
para registrar o conhecimento evoluíram das placas de argila para o pergaminho, do
pergaminho para o papel e do papel para a tela dos computadores. Bem como os suportes, as
bibliotecas foram aos poucos transformando o seu papel na sociedade.
Da antiguidade a idade média as bibliotecas eram espaços intocáveis, digamos até que
considerados sagrados. O acesso as obras era restrito a poucos privilegiados e os livros eram
guardados e preservados a sete chaves. Por isso Martins (1998) afirma que as bibliotecas da
idade média era uma extensão das bibliotecas da antiguidade, pois as práticas dessas
bibliotecas se mantiveram as mesmas da antiguidade.
Na Idade média, apesar das mudanças terem sido poucas ocorreu uma expansão das
bibliotecas e para Martins (1998) esse período contou com três espécies de bibliotecas: as
monacais (desenvolvidas dentro de mosteiros e abadias, logo no início do período medieval),
as particulares e as universitárias (já no fim da Idade Média).
As bibliotecas monacais, conhecidas também como monásticas estavam situadas nos
conventos e mosteiros e o acesso as obras era restrito ao clero e alguns nobres. Figura
importante dessas bibliotecas são os copistas que se refugiavam no scriptorium para ler,
traduzir e copiar os textos com o objetivo de preservar as coleções. As bibliotecas particulares
eram aquelas mantidas pelos reis e grandes senhores, e eram assim chamadas porque
pertenciam a título privado ou pessoal a eles, e mais tarde essas bibliotecas tornaram-se

As bibliotecas universitárias surgem a partir da criação das universidades, mas sua


origem também está sedimentada nas bibliotecas das ordens religiosas que deram base para a
criação das universidades, por isso as primeiras universidades surgiram como um
prolongamento das ordens religiosas, principalmente, das franciscanas e dominicanas. Essas
bibliotecas foram criadas para atender as necessidades das instituições de nível superior, mas
nesse período as bibliotecas ainda eram espaços de acesso restrito e tinha como função a
preservação do conhecimento.
O papel das bibliotecas até a renascença estava muito voltado para a proteção das
obras, sendo essas consideradas um deposito de livros, o que vai ao encontro da tradução
etimológica da palavra biblioteca. As bibliotecas nessa época tinham como função esconder
os livros ao invés de fazê-los circular e a própria estrutura arquitetônica das bibliotecas
demonstrava isso. Na biblioteca de Nínive, por exemplo, não existia saída para o exterior e a
única porta da biblioteca dava para o interior do edifício. O mesmo pode ser percebido nas
bibliotecas medievais, as quais estavam situadas no interior de conventos, lugares
completamente restritos (MARTINS, 1998).

equipados com molduras e argola de bronze, presas as correntes de ferro, com uma das
extremidades fixadas às estantes (RANGANATHAN, 2009).
O surgimento das universidades caracterizou-se como um ponto importante para
evolução das bibliotecas, pois apesar das universidades terem surgido sob a tutela das ordens
religiosas, essas estavam a caminho da laicização. E esse fato indicou um novo momento, no
qual, os livros extravasam o âmbito da religiosidade e avançavam para outros territórios
(MILANESI, 2002).
Martins (1998) afirma que é a partir da renascença que a biblioteca começa adquirir o
seu sentido moderno e é também a época que surge junto ao livro a figura do bibliotecário. É
nesse contexto de transformações que a biblioteca da início a uma concepção do seu papel, na
qual começa a se afastar do contexto de depósito de livros para se tornar um espaço
disseminador da informação. E a invenção de Gutenberg contribuiu e muito para isso.
Gutenberg desenvolveu no século XV a prensa de tipos móveis, e a partir dessa
invenção foi possível a produção em alta escala de livros, boletins, jornais e etc. Dessa forma
a imprensa de Gutenberg surgiu, então, para incrementar o barateamento da produção de
livros e a disseminação do conhecimento. O raro e o caro tornaram-se acessível, o que era
particular ao clero e aos nobres passou a ser utilizado por segmentos mais amplos da
população. O manuscrito de poucos, revestido de sacralidade, tornou-se profano pela
reprodução e pelas tiragens progressivamente maiores (MILANESI, 2002).
A partir da invenção da imprensa ocorreu a proliferação de obras impressas, o que
contribuiu para a criação e a ampliação das bibliotecas o que nos direciona ao conceito da
biblioteca moderna, voltada para o atendimento das necessidades de seus usuários.
A história da biblioteca é marcada por inúmeras transformações e Martins (1998)
sintetiza essa história com maestria em quatro pontos principais, são eles: a laicização, a
democratização, a especialização e a socialização. Da antiguidade a idade média as
bibliotecas estavam ligadas as ordens religiosas, mas à medida que estas entidades foram
desaparecendo as bibliotecas passam a gozar, nos tempos modernos, do estatuto de instituição
leiga e civil, pública e aberta, tendo o seu fim em si mesma. E essa laicização aliada as
contribuição da prensa de Gutenberg possibilitaram a democratização do acesso, e o que até
então estava restrito a poucos se tornou disponível para todos. Como consequência dessa
democratização, as bibliotecas tiveram que passar pelo processo de especialização, na qual,
elas passaram a constituir seus acervos para atender as demandas do grande público.
Enfim, o processo de socialização, que é o que distingue o papel da biblioteca nos dias
atuais. E o que antes tinha como característica ser um espaço sagrado e restrito, na
modernidade, tornou-se um espaço de socialização do conhecimento, de disseminação da
informação, de propagação de ações culturais e promoção da leitura. O papel da biblioteca
passa de guardião de livros para disseminadora da informação (MARTINS, 1998).
Eis que emergem outras conceituações para o termo biblioteca. Cunha e Cavalcanti
(2008, p.48) definem biblio
como os serviços e respectivo pessoal, que têm a atribuição de fornecer e interpretar esses
registros, a fim de atender às necessidades de informação, pesquisa, educação e recreação de
seus us

Assim com a mudança do papel da biblioteca, de depósito de livros para


disseminadora da informação, essas instituições tiveram que promover mudanças e
acompanhar as transformações vivenciadas no final do século XX e início do século XXI em
especial a ascensão das tecnologias da informação e da comunicação (TICs).
O advento dessas tecnologias trouxe a disjunção entre o espaço e o tempo, o que
contribuiu para a descentralização nos processos de produção, transmissão, acesso e uso dos
conteúdos. A biblioteca perde sua centralidade, pois deixa de ser a única responsável por
disponibilizar conteúdos, mas não perde seu papel de disseminadora de informação e,
consequentemente, da função de atender as necessidades informacionais de seus usuários,
tendo em vista, por exemplo, o dilúvio informacional.
Ranganathan (2009) afirma que a biblioteca é um organismo vivo em crescimento, e
ele assim a define pelo fato das bibliotecas possuírem todos os atributos necessários a
ampliação e divulgação do conhecimento. Sendo que, esse tipo de organismo absorve matéria
nova, elimina matéria antiga, muda de tamanho e assume novas formas e aparências. Dessa
forma as bibliotecas precisam acompanhar as evoluções da sociedade e fazer uso das TICs e
de todos os recursos ofertados por elas para continuar exercendo seu papel.
Nesse contexto as mídias sociais são um dos exemplos de como as ferramentas
disponibilizadas pelas TIC podem ser incorporadas pelas bibliotecas para aumentar a
interação com o usuário, promover e divulgar os serviços oferecidos. Sendo considerada um
organismo vivo em crescimento as bibliotecas devem sempre se reinventar, e deixar de lado
velhos paradigmas para ir ao encontro do grande horizonte de possibilidades que se apresenta
com o desenvolvimento tecnológico.

2.1 A TRAJETÓRIA DA BIBLIOTECA NO BRASIL

A primeira biblioteca brasileira teve origem nos colégios jesuítas no período colonial.
No século XVI os livros eram raros nas mãos de particulares, mas já eram números
significativos nos colégios jesuítas. Segundo Moraes (2006) as bibliotecas jesuíticas possuíam
acervos de nível universitário, abrangendo os mais variados conhecimentos, por isso as obras
não atendiam apenas o ensino das primeiras letras, mas também a formação filosófica.
Com a expulsão em 1759 da companhia de Jesus as bibliotecas sofreram uma grande
perda, pois as bibliotecas dos colégios jesuítas foram deixadas a ermo durante anos e a quase
a totalidade das obras foi destruída, roubada ou vendida como papel velho (MARTINS,
2006).
Segundo Martins (2006) a primeira tipográfica em solo brasileiro foi instituída em
1747 por Antônio Isidoro da Fonseca, mas o grande marco para a história do livro e da
biblioteca no Brasil foi à chegada da família real Portuguesa em 1808 ao Rio de Janeiro. Pois
D João VI trouxe consigo todo aparato do estado e também a biblioteca Real Portuguesa. Para
atender as demandas de impressão do governo, em maio do mesmo ano foi criada a Imprensa
Régia, sendo esta destinada a publicação de atos oficiais.
Em 1810 por decreto de 27 de julho, o acervo trazido por D. João VI foi acomodado
nas salas do Hospital da Ordem Terceira do Carmo e em 29 de outubro institui-se

catacumbas do Hospital do Carmo se erija e acomode a Real biblioteca e instrumentos de


física e matemática, fazendo-se à custa da Fazenda Real toda a despesa conducente ao arranjo
FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL,
2017)154. Inicia-se então a história da biblioteca Nacional Brasileira.
Assim como a impressa régia e a biblioteca Real, a vinda da corte portuguesa trouxe
consigo as academias de ensino superior. Segundo Carvalho (2004) o surgimento das escolas
superiores, entre o final do século XIX e o início do século XX, contribuiu para a criação de
bibliotecas ligadas a essas instituições. Foi na Bahia que surgiu os primeiros cursos isolados
de nível superior e ao longo do século XX várias outras iniciativas apareceram visando elevar
o nível educacional brasileiro como um dos projetos da Nova República. Assim,
empreendem-se reformas educacionais que visam aumentar o nível de instrução da população
e para isso criam-se as primeiras universidades (NUNES; CARVALHO, 2016).
A criação das academias de ensino superior foi o primeiro passo para a constituição
das universidades brasileiras. Sendo a primeira universidade brasileira oficialmente criada em
1920 a partir da junção de três escolas até então existentes, a Faculdade de Medicina, a Escola
Politécnica e da Faculdade de Direito, dando origem a Universidade do Brasil e mais tarde
denominada de Universidade Federal do Rio de Janeiro.
É notável que a trajetória da biblioteca universitária brasileira esteja inteiramente
ligada a constituição do ensino superior, tanto é que, foi a partir da criação da universidade do
Federal do Rio de Janeiro que as bibliotecas universitárias surgiram no Brasil. E assim em
1945 surge a biblioteca Central da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e, bem
depois, o Sistema de bibliotecas e Informação da UFRJ, que foi criado em 1989 e implantado
em 1990 (ALVARENGA, [2004?] apud DIOGENES, 2012). E assim à medida que novas
universidades foram criadas, novas bibliotecas universitárias foram sendo instituídas.
Segundo Nunes e Carvalho (2016) a partir do final da década de 1960 ocorre uma
expansão das bibliotecas universitárias devido à criação de muitas universidades que surgiram
a partir da junção de faculdades isoladas. Mas é a partir da reforma universitária de 1968 que

154
https://www.bn.gov.br/sobre-bn/historico
as bibliotecas universitárias iniciam uma etapa. Pois até a reforma do ensino superior as
universidades não funcionavam de forma sistêmica e nem possuíam clareza de suas
finalidades, e isso refletiu também nas bibliotecas, as quais foram se desenvolvendo de forma
isolada e a partir de iniciativas particulares e Carvalho (1981) elucida essa realidade dizendo
que:

As bibliotecas universitárias se constituíram, pois, de iniciativas particulares isoladas


o que propiciou uma verdadeira proliferação de bibliotecas setoriais, pequenas, que
mantinham seus acervos fechados, inertes, organizados de forma artesanal e
-suf
reprimido, e todas elas enfrentavam a mesma sorte de carências, sem voz, totalmente
apagadas e alheias às atividades desenvolvidas por outras bibliotecas e pela própria
universidade (CARVALHO, 1981, p.17).

A reforma de 1968 foi considerada a reforma do ensino superior, na qual houve


alteração na estrutura organizacional, administrativa e acadêmica das universidades
brasileiras. Segundo Lima (1975) até então as universidades não tinham definidos com clareza
quais eram suas finalidades, foi a partir dessa reforma que foram estabelecidas as finalidades
para o ensino superior no Brasil, no qual ficou definido que as universidades realizariam
atividades de ensino, pesquisa, pós-graduação e extensão.
No documento da reforma de 1968 as bibliotecas universitárias não foram
mencionadas, mas com a definição das finalidades das universidades o papel delas ficou mais
claro. Pois de acordo com Lima (1975, p.12):

a falta de objetivos definidos para o ensino universitário provocou, no Brasil,


idêntica indefinição dos objetivos de suas bibliotecas. Estatutos e regimentos
aludiam, é certo, e sempre de maneira vaga e imprecisa, às finalidades das
instituições e ao papel que a biblioteca deveria desempenhar como suporte às
atividades da escola ou faculdade a que pertencia.

A mesma autora complementa dizendo que a partir do enfoque sistêmico do ensino


superior, determinado pela reforma, a universidade estava condicionada a uma interação e a
uma visão global de todas as suas partes, e por sua vez, uma de suas partes ou subsistemas
mais relevantes é a biblioteca (LIMA, 1975).
Para Ramalho (1992) citado por Carvalho (2004) a reforma universitária de 1968
trouxe contribuições para as bibliotecas universitárias, pois foi a partir dela que as autoridades
da área passaram a investir no setor.
3 AS BIBLIOTECAS UNIVERSITÁRIAS: ASPECTOS TEÓRICOS E CONCEITUAIS

As bibliotecas podem ser classificadas segundo funções e serviços que oferecem, pela
comunidade que atendem e pelo vínculo institucional. A partir desses quesitos podemos dizer
que existem bibliotecas públicas, bibliotecas comunitária, bibliotecas nacional, bibliotecas
escolares, bibliotecas especializadas e bibliotecas universitárias.
No geral todos os tipos de bibliotecas têm por objetivo atender as necessidades
informacionais do seu público, no entanto cada uma delas apresentam em si suas
especificidades. As bibliotecas públicas, por exemplo, são instituições mantidas pelo Estado
(vínculo municipal, estadual ou federal) e seu público alvo é toda a sociedade. Já as
bibliotecas comunitárias são um espaço de incentivo à leitura e acesso ao livro, esse tipo de
biblioteca é mantida pela comunidade local, sem vínculo direto com o Estado. As bibliotecas
Nacionais tem por função reunir e preservar toda a produção bibliográfica do país.
As bibliotecas escolares, como o próprio nome diz, estão inseridas no âmbito escolar,
em instituições que oferecem ensino pré-escolar, fundamental e/ou médio. Elas têm como
principal função dar suporte ao ensino e por isso atendem, prioritariamente, alunos,
professores e funcionários da unidade escolar que estão inseridas. Já as bibliotecas
especializadas são aquelas que possuem todo seu acervo voltado para um campo específico do
conhecimento e elas podem ser geridas tanto pelo setor público quanto pelo setor privado.155
E por fim as bibliotecas universitárias, essas são instituições que tem por objetivo
apoiar o ensino, pesquisa e extensão e estão vinculadas a uma unidade de ensino superior,
podendo ser essas instituições públicas ou privadas.

155
As definições sobre os tipos de bibliotecas foram retiradas do site do Sistema Nacional de biblioteca Públicas
(SNPB) disponível no link: http://snbp.culturadigital.br/tipos-de-bibliotecas/
estabelecimentos de ensino superior, destinada aos professores e aos alunos, embora possa ser
980, p. XXIII). Pinto (1993) complementa
dizendo que essas bibliotecas são destinadas a suprir as necessidades informacionais da
comunidade acadêmica no desempenho das atividades de ensino, pesquisa e extensão.
Cunha e Cavalcanti (2008, p. 53) definem a biblioteca universitária como aquela que
é mantida por uma instituição de ensino superior e que atende às necessidades de informação
dos corpos docente, discente e administrativo, para apoiar tanto as atividades de ensino quanto
as de pesquisa e extensão. Pode ser uma única biblioteca ou várias organizadas como sistema

Carvalho (1981) entende bibliotecas universitárias como bibliotecas de instituições de


ensino superior (IES), com a função de atender necessidades de informação da comunidade
acadêmica na realização de suas atividades de ensino, pesquisa e extensão.
Para Nunes e Carvalho (2016, p.179) as bibliotecas universitárias são:

Instituições de ensino superior e estão voltadas para atender as necessidades


de todos os membros da comunidade acadêmica da qual fazem parte, mas
num processo dinâmico, onde cada uma de suas atividades não é
desenvolvida de maneira estática e mecânica, mas com o intuito de agir
interativamente para ampliar o acesso à informação e contribuir para a
missão da universidade.

que é parte de um sistema mais amplo, que poderia ser chamado sistema de informação

Complementando essa ideia de Fujita (2005) de que a biblioteca faz parte de um sistema mais
amplo podemos citar Tarapanoff (1981) a qual afirma que a biblioteca universitária é o
resultado da sociedade à quem pertence: de suas características e prioridades socioeconômicas
e culturais. É uma unidade sem autonomia própria e esta subordinada à universidade. Baseada
nessas premissas, a biblioteca universitária reflete as características da universidade.
Dessa forma, as bibliotecas universitárias fazem parte de um super sistema,
representados pelas instituições de ensino superior a qual pertencem, e são integrantes
também de um sistema de bibliotecas (com a estrutura organizacional de bibliotecas centrais e
bibliotecas setoriais ou de sistema de bibliotecas). Pensando assim, podemos compreender as
bibliotecas universitárias a partir de uma visão sistêmica e isso pode ser percebido na figura
abaixo.
Figura 7 - Níveis de sistemas que envolvem as bibliotecas

Entender a biblioteca universitária como parte de um sistema significa compreender


que todo o planejamento dessas instituições deve ser feito de forma integrada, os produtos e
serviços oferecidos devem estar em consonância com o meio no qual elas estão inseridas.
-se em um contexto universitário cujos
objetivos maiores são o desenvolvimento educacional, social, político e econômico da
sociedade humana.
voltada para as necessidades educacionais, culturais, científicas e tecnológicas da sociedade,
as bibliotecas universitárias também devem trabalhar visando esses mesmos objetivos
(FERREIRA, 1980). Desse modo, a biblioteca não deve compreender atuação desvinculada
do meio ambiente acadêmico.
Para contribuir com o meio no qual as bibliotecas universitárias estão vinculadas elas
oferecem alguns produtos e serviços. Sendo os mais recorrentes: o empréstimo domiciliar de
materiais informacionais, emissão de ficha catalográfica, acesso a ao portal de periódicos da
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), acesso a base de
dados, acesso as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), consulta on-
line ao catálogo da biblioteca, reserva e renovação on-line, treinamento para o uso da
biblioteca, treinamento para o acesso ao Portal da Capes, Comutação bibliográfica, aquisição
de materiais informacionais, laboratórios de informática, wifi, repositórios institucionais e
entre outros.
Percebe-se que a biblioteca universitária oferece uma gama de produtos e serviços
para atender as necessidades de seu público e cumpri com seu papel, mas diante do avanço
das tecnologias da informação e da comunicação como essas bibliotecas tem se comportado?
Como esses produtos e serviços estão sendo construídos?
Cunha (2000, p. 75) afirma que as bibliotecas, em todas as épocas, sempre foram
dependentes da tecnologia da informaçã
utilização de textos impressos, o acesso a base de dados bibliográficos armazenados nos
grandes bancos de dados, o uso do CDROM e o advento da biblioteca digital, no final dos
bibliotecas sempre acompanharam e venceram os novos
paradigmas tecnológicos.
Nunes e Carvalho (2016) também mencionam que as bibliotecas universitárias têm
acompanhado os avanços tecnológicos, pois sob o advento da internet na década de 1990 e
com a inserção das tecnologias de informação e comunicação nas universidades e na
sociedade de maneira geral, as bibliotecas universitárias buscaram também se modernizar, e
essas tecnologias passaram a ser incorporadas na elaboração e na disponibilização de
catálogos online de acesso público (OPAC) visando facilitar o acesso à informação por parte
dos usuários.
É importante observamos que, atualmente, grande parte dos serviços ofertados pela
biblioteca universitária perpassa pelo uso da tecnologia, vejamos: todos os materiais
informacionais são cadastrados no software de gerenciamento da biblioteca, tanto o
empréstimo, quanto a renovação e a reserva são realizados somente por meio de um
computador com acesso a internet, o acesso as bases de dados assinadas pela biblioteca se dá
por meio dos computadores da universidade ou por meio do acesso remoto. Percebe-se então
o quanto a biblioteca está dependente da tecnologia e como elas já fazem parte do dia a dia
das atividades bibliotecárias.
Assim as bibliotecas universitárias têm incorporado as tecnologias da informação e da
comunicação a sua realidade, deixando evidente que ao invés da tecnologia ser uma ameaça
para a biblioteca, ela se apresenta como um instrumento vital para o desenvolvimento de
diversas atividades, e não só em termos de gestão, mas principalmente ao nível da
comunicação e da interação entre a biblioteca e seus usuários.
Cabe então as bibliotecas universitárias continuar evoluindo, pois as exigências do
século XXI para elas estão postas. E essas instituições Segundo Garcez e Rados (2002, p. 46)
precisam extrapolar:
os limites da estratégia convencional, procurem visualizar o futuro e criem
mecanismos para alcançar o propósito de atender às necessidades e
expectativas de seus usuários. Cabe a elas estabelecer uma estrutura
adequada à nova filosofia e dar os primeiros passos em busca da melhoria
continuada, planejando adequadamente seus bens e serviços dentro de uma
nova ótica, ou seja, prevendo, tendo uma visão holística, redesenhando suas
atividades e seus processos, simplificando-os, agilizando-os e tornando-os
mais eficazes e flexíveis.

Dessa forma, conceitos como o da biblioteca 2.0, que entende a biblioteca como
aquela que está presente em todos os lugares, não existindo barreiras físicas, e que possui sua
organização centrada nos usuários, deve ser incorporada a realidade das bibliotecas
universitárias. Bem como o uso das diversas ferramentas da web 2.0.
O termo biblioteca 2.0 (Library 2.0) foi concebido por Michael Casey em seu blog
LibrayCrunch, para
colaboração, e tecnologias multimídia baseadas em web para serviços e coleções de
bibliotecas baseados em web
O avanço das tecnologias da informação e da comunicação tem contribuído para a
reestruturação dos processos de comunicação, de produção, de transmissão e uso da
informação. Estamos diante das ferramentas da web 2.0 e as possibilidades que elas podem
proporcionar para as instituições que as utilizam.
Dessa forma, convém sustentar que na atualidade, as bibliotecas universitárias devem
se engajar nos princípios da biblioteca 2.0 afim de oferecer aos seus usuários, produtos e
serviços condizentes ao exigido nesse contexto de grande fluxo informacional.

4 CONCLUSÃO

Como vimos, as bibliotecas universitárias foram, de certa maneira, o resultado


evolutivo das bibliotecas da Antiguidade e da Idade Média, já que se tornaram grandes
centros de produção e disseminação da informação. O papel da biblioteca universitária teve
sua ampliação, em especial, quando surge as novas tecnologias da comunicação e informação
e, principalmente, com o advento da Internet.
Assim as bibliotecas universitárias têm incorporado as tecnologias da informação e da
comunicação a sua realidade, deixando evidente que ao invés da tecnologia ser uma ameaça
para a biblioteca, ela se apresenta como um instrumento vital para o desenvolvimento de
diversas atividades, e não só em termos de gestão, mas principalmente ao nível da
comunicação e da interação entre a biblioteca e seus usuários.
REFERÊNCIAS

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CARVALHO, Isabel Cristina L. A socialização do conhecimento no espaço das bibliotecas


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