APTV0218
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1.1 Retina
A retina é uma película constituída de células nervosas interligadas; pela sua estrutura e
constituição, podemos dizer que é uma extensão do córtex cerebral. Na parte externa da retina
encontram-se as células receptoras de luz, que contêm pigmentos específicos (rodopsina e
iodopsina) os quais, ao absorverem a luz, sofrem uma alteração química que dispara impulsos
nervosos.
Na retina temos duas classes de células sensíveis à luz:
Cones: São células sensíveis à intensidade e à cor (compreendem três sub-tipos: L, M e
S, sensíveis respectivamente ao amarelo, verde e azul); são responsáveis pela Visão
Fotópica, ou visão de luz intensa. Dos cerca de 7.000.000 de cones existentes na retina,
cerca de 50% estão situados na Fóvea. Muitos cones, cujos diâmetros variam de 1 a 5
m, são ligados individualmente a terminações nervosas.
Bastonetes: Células sensíveis apenas à intensidade, responsáveis pela Visão Escotópica,
ou visão em condições de pouca luz. Há cerca de 75 a 150 milhões de bastonetes na
retina, mas são praticamente inexistentes na Fóvea. Por serem ligados em grupos às
terminações nervosas, formam conjuntos mais sensíveis à luz do que os Cones, porém
PTC2547 – Princípios de Televisão Digital – EPUSP 2
com menor capacidade de resolução de detalhes. A visão escotópica não proporciona
sensação de cor.
A figura 1.3 mostra detalhes das terminações nervosas na retina, e suas conexões com os cones e
bastonetes. Os gânglios são interligados entre si lateralmente, através de dendritos. Estas
ligações laterais permitem que a retina efetue um pré-processamento da informação visual,
afunilando os estímulos provenientes das cerca de 150.000.000 de células sensoriais para
aproximadamente 1.000.000 de fibras contidas no nervo óptico.
1.2 Fóvea
A Fóvea é uma região especializada da retina, com área aproximada de 1,5 mm 2, subentendendo
um ângulo de visão transverso de cerca de 2 graus. Dentro desta região temos a Visão Central,
predominantemente fotópica, com resolução de detalhes de luminosidade de cerca de 1 a 2
minutos de grau (correspondendo a detalhes de 1 a 2 mm a uma distância de 3m).
A resolução de detalhes de cor (ou crominância), no entanto, é de apenas de 5 a 10 minutos de
grau. Fora da fóvea, temos a região de Visão Periférica, que se caracteriza por menor resolução
espacial, pouca percepção de cor e maior sensibilidade à luz e movimento.
Na Figura 1.5 temos a distribuição aproximada das células (Cones e Bastonetes) em função da
distância angular, medida em relação à fóvea. O Ponto Cego corresponde à região de entrada do
nervo óptico no olho, onde não há células receptoras.
+
180 x 1000
160
140
Células por mm2
Bastonetes
120
100
80
Ponto Cego
60
Cones
40
20
0
-80 -60 -40 -20 0 20 40 60 80
Ângulo em relação à Fóvea
3. Percepção de Luminosidade
A capacidade da visão humana de distinguir diferenças de luminosidade pode ser aproximada
pela Lei de Weber, que se baseia em um modelo logarítmico da percepção subjetiva de
estímulos. Com relação a dois estímulos de luminância Y e Y+Y, para os quais a diferença de
brilho é apenas perceptível, temos:
Y Y+ Y Y
0.02 ( Lei de Weber )
Y
Diferença Apenas
Perceptível de Brilho
1
116(Y / Yn ) 16 se Y / Yn 0.008856
3
BrilhoAparente
903.3(Y / Y ) se Y / Y 0.008856
n n
Brilho Aparente
0,7
Fração de Weber
80
0,6
0,5 60
0,4 40
0,3
20
0,2
0,1 0
0 0 0,5 1
-20 -10 0 10 20
Luminância relativa (Y/Yn)
Ln da Luminância (cd/m2)
Fig. 3.1 - Sensibilidade para variações de Fig. 3.2 - Percepção de Brilho em torno de um
luminância ponto de acomodação
Considerando essa
100
característica quase
90
80 Brilho Aparente complementar, adotou-se então
uma correção da forma
Saída Relativa
70
1
60 V kBO onde V é o sinal a ser
50
transmitido e B0 é o sinal de
40
entrada, proporcional à
30
luminância da imagem (como
20
10 Luminância do TRC fornecido por uma câmara).
0 Esta conversão (denominada
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1
Correção Gama) compensa
Tensão na Grade do TRC aproximadamente a não-
linearidade conjunta do
Fig. 3.3 - Brilho aparente e luminância de um Tubo de Raios
Catódicos cinescópio e da percepção
visual, fazendo com que o sinal
transmitido seja praticamente
proporcional à sensação
subjetiva de luminosidade. Isto garante no receptor uma sensação de brilho B aproximadamente
igual ao brilho B0 da imagem original.
A característica complementar entre a luminância do TRC e a percepção subjetiva de brilho é
uma coincidência, restrita a esta categoria de dispositivos de exibição de imagem. Não se aplica,
por exemplo, para visores de cristal líquido, LEDs e muitas outras famílias de dispositivos de
Brilho
Aparente
Câmera
Corretor Canal de
Gama Transmissão T.R.C
4. Resolução Visual
A capacidade de resolução de detalhes espaciais da visão humana pode ser medida por
experimentos que avaliam a percepção de contraste (claro/escuro) na visualização de padrões de
linhas alternadas. Um destes experimentos é a Carta de Campbell (fig. 4.3). Consiste de um
padrão com variações senoidais da luminância. Estas variações representam estímulos com uma
determinada frequência espacial (que pode ser expressa em ciclos por grau), variando no
sentido vertical, e com um determinado contraste, variando de 0 a 100% no sentido horizontal.
Conforme a distância do observador à imagem, certas regiões são percebidas como áreas
uniformes, quando a percepção de contraste cai abaixo do limiar de resolução para uma dada
frequência espacial.
A percepção relativa de contraste em função da frequência espacial caracteriza a “resposta em
frequência” da visão; a curva correspondente para um observador padrão pode ser vista na figura
4.1. Podemos constatar que a resolução de crominância (distinção entre tonalidades de cor com
mesma luminosidade aparente) é muito menor que a resolução de luminância (contraste
claro/escuro). O "pico" na resposta em frequência da luminância, em torno de 3 a 4 ciclos por
grau, evidencia uma maior sensibilidade da visão para variações locais de luminosidade.
Dois mecanismos de processamento neuronal, realizados pela retina, explicam certas
características da resposta em frequência da visão:
O efeito da inibição lateral pode ser relacionado com o fenômeno das "Bandas de Mach" (figura
4.2), pelo qual a visão humana parece exagerar a amplitude de transições de luminosidade entre
regiões homogêneas adjacentes (equivalente a um sobressalto no brilho aparente).
Contraste
1000
Luminância
Vermelho-Verde
100
Azul-Amarelo
10
1
0,01 0,1 1 10 100
Freqüência Espacial (Ciclos/grau)
Luminância (nits)
6. Percepção de Movimento
Dois mecanismos independentes são responsáveis pela percepção de movimento:
Movimento retinal: um objeto em movimento em relação ao ponto de visão projeta uma
imagem que se desloca sobre a retina (Fig. 6.1 a). Os receptores sensíveis a variações de
7. Percepção de Distância e 3D
Vários mecanismos, cada um ativo dentro de certa faixa de alcance, contribuem para que a visão
humana determine distâncias na visualização de objetos:
1. Focalização (acomodação) do cristalino: fornece informação intensa para curtas
distâncias (menos de 1 metro);
2. Convergência binocular (disparidade): informação fortíssima para curtas distâncias, com
resolução da ordem de milímetros dentro do alcance físico; decresce até distâncias
médias (~100 m);
3. Paralaxe de movimento: depende da velocidade e extensão do movimento; em condições
de visualização normal, com o observador parado, é intensa para distâncias curtas
(alguns metros)
4. Fator de escala de objetos conhecidos: fornece estimativa forte para qualquer distância
(centímetros a quilômetros), porém depende de aprendizado;
5. Texturas e contraste: variações em texturas, saturação de cores e contraste da imagem
fornecem estimativas razoáveis para grandes distâncias (quilômetros).
8. Ilusões Ópticas
Algumas imagens são interpretadas de forma paradoxal pela nossa visão; são as chamadas
ilusões ópticas. Mais do que simples curiosidades, elas nos dão pistas sobre o funcionamento dos
processos de percepção visual que ocorrem no cérebro.
A ilusão de Muller-Lyers (fig. 8.1) pode ser explicada
pelo fato de que a nossa visão interpreta a figura da
esquerda como a aresta interior formada por duas
paredes, chão e teto; enquanto a figura da direita seria a
aresta frontal de um paralelepípedo. A nossa visão
procura corrigir a dimensão percebida, considerando que
a proximidade afeta a dimensão aparente de um objeto
(ab = cd na figura 8.4). O mesmo efeito ocorre na ilusão
das Mesas de Shepard (fig. 8.2).
Fig. 8.1 – Ilusão de Muller-Lyers
(as duas linhas verticais são iguais)
O padrão de linhas paralelas da Fig. 8.3 parece estimular a sensação de movimento, e evidencia
a irregularidade da distribuição dos elementos sensores na retina.
9. Bibliografia e Referências
Colour Television - S. V. Novakovsy - MIR, 1975
Digital Image Processing - Rafael C. Gonzales, Richard E. Woods - Addison Wesley, 1992
Eye and Brain: The Psychology of Seeing - Richard L. Gregory - Princeton University Press,
1997 (Fig. 1.2, 6.1)
MPEG Video Compression Standard - John Mitchell et al. - Chapman & Hall, 1996 (Fig. 5.1,
5.2)
Television Engineering Handbook - K. Blair Benson, ed. - Mc Graw-Hill, 1985
Understanding Digital TV - Brian Evans - IEEE Press, 1995
Video Engineering - Andrew F. Inglis, Arch C. Luther - Mc Graw-Hill, 1996
Visual Intelligence - Donald D. Hoffman - W. W. Norton, 1998
Standard Handbook for Electrical Engineers - Donald G. Fink, H. Wayne Beaty, ed. - Mc
Graw-Hill, 1993
The Science of Illusions – Jacques Ninio – Cornell University Press, 2001 (Fig. 8.2, 8.4)