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PERCEPÇÃO VISUAL HUMANA


PTC3547 – CODIFICAÇÃO E TRANSMISSÃO MULTIMÍDIA
Guido Stolfi – EPUSP – 03/2018

1. Estrutura do Olho Humano


À primeira vista, a estrutura básica do olho é semelhante a um instrumento óptico simples: como
acontece em uma câmara fotográfica, a imagem real de um objeto observado é projetada por
uma lente convergente sobre uma superfície, constituída de células sensíveis à luz. Fibras
nervosas levariam então a imagem ao cérebro através de impulsos elétricos.
Esta é uma descrição simplista, baseada nas descobertas de Kepler e Descartes, relativas à
fisiologia do globo ocular, e que está muito distante da real dimensão do fenômeno. A percepção
visual é na verdade um processo de reconstrução da realidade exterior, realizado pelo córtex
cerebral, a partir de informações fragmentadas captadas pelos olhos.
O estudo deste processo de
percepção deve então considerar, em
primeiro lugar, as características e
limitações do olho, na qualidade de
um sensor óptico peculiar.
A figura 1.1 ao lado apresenta uma
seção horizontal do olho humano.
A córnea e o cristalino formam um
conjunto de lentes que projetam sobre
a retina uma imagem real dos objetos
visualizados.
Os músculos ciliares ajustam a
distância focal equivalente, através da
deformação do cristalino. A íris serve
de diafragma, ajustando a quantidade
de luz que entra pela abertura da
pupila. Além disso, ao reduzir a
abertura, diminui as aberrações de
Fig. 1.1 – Estrutura do Olho esfericidade e aumenta a nitidez da
imagem.
O humor vítreo é uma solução aquosa
de proteínas, que, além de prover nutrientes para o cristalino, atua como um filtro protetor,
absorvendo a luz ultravioleta e infravermelha.
Os olhos são mantidos em constante movimento por meio de um conjunto de músculos (fig.
1.2). Algumas funções destes movimentos são:
 Convergência binocular: focalizar ambos os olhos sobre um mesmo objeto, compondo
uma imagem estereoscópica (com percepção de profundidade);
 Exploração do campo visual: a observação de detalhes de um ambiente ou imagem é
feita pela região central da visão (fóvea); a imagem projetada na retina é deslocada pelos
movimentos da cabeça e dos globos oculares, de modo que os pontos de interesse da
imagem são explorados pela fóvea;
 Acompanhamento de objetos em movimento: a percepção de movimento envolve
tanto a detecção de deslocamentos da imagem projetada sobre a retina (movimento
retinal) quanto o acompanhamento ocular de um objeto, procurando manter a sua
imagem estática em relação à retina (movimento ocular);
 Transformação de variações espaciais em variações temporais: sabe-se que uma
imagem permanentemente projetada sobre a retina, na mesma posição, desaparece da
nossa percepção em pouco tempo. O nosso mecanismo de visão mantém os olhos em
constante movimento, de forma a renovar continuamente os estímulos luminosos.

A maioria das fibras do nervo óptico


transmite impulsos que são disparados
apenas por variações temporais de
luminosidade.
Através de pequenos movimentos
exploratórios (denominados movimentos
sacádicos), o processo visual transforma
diferenças espaciais de luminância em
variações temporais de iluminamento
retinal, que provocam o disparo de
informações para o cérebro.
O cérebro reconstrói a imagem
observada a partir dessas informações,
cancelando nesse processo todas as
irregularidades estáticas do campo Fig. 1.2 - Musculatura do Globo Ocular
visual ocular, como por exemplo, o
Ponto Cego e as sombras projetadas
pelos nervos e vasos sanguíneos na retina.
Assim sendo, a composição da cena, ou percepção visual propriamente dita, dá-se efetivamente
no cérebro, a partir dessas informações elementares fornecidas pelo olho.

1.1 Retina

A retina é uma película constituída de células nervosas interligadas; pela sua estrutura e
constituição, podemos dizer que é uma extensão do córtex cerebral. Na parte externa da retina
encontram-se as células receptoras de luz, que contêm pigmentos específicos (rodopsina e
iodopsina) os quais, ao absorverem a luz, sofrem uma alteração química que dispara impulsos
nervosos.
Na retina temos duas classes de células sensíveis à luz:
 Cones: São células sensíveis à intensidade e à cor (compreendem três sub-tipos: L, M e
S, sensíveis respectivamente ao amarelo, verde e azul); são responsáveis pela Visão
Fotópica, ou visão de luz intensa. Dos cerca de 7.000.000 de cones existentes na retina,
cerca de 50% estão situados na Fóvea. Muitos cones, cujos diâmetros variam de 1 a 5 
m, são ligados individualmente a terminações nervosas.
 Bastonetes: Células sensíveis apenas à intensidade, responsáveis pela Visão Escotópica,
ou visão em condições de pouca luz. Há cerca de 75 a 150 milhões de bastonetes na
retina, mas são praticamente inexistentes na Fóvea. Por serem ligados em grupos às
terminações nervosas, formam conjuntos mais sensíveis à luz do que os Cones, porém
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com menor capacidade de resolução de detalhes. A visão escotópica não proporciona
sensação de cor.
A figura 1.3 mostra detalhes das terminações nervosas na retina, e suas conexões com os cones e
bastonetes. Os gânglios são interligados entre si lateralmente, através de dendritos. Estas
ligações laterais permitem que a retina efetue um pré-processamento da informação visual,
afunilando os estímulos provenientes das cerca de 150.000.000 de células sensoriais para
aproximadamente 1.000.000 de fibras contidas no nervo óptico.

A quantidade de impulsos nervosos


disparados pelas células sensoriais é
aproximadamente proporcional ao
logaritmo do iluminamento retinal. Em
média, são necessários no mínimo 5 a 10
fótons para provocar um impulso nervoso,
em condições de baixa iluminação.
O processamento efetuado pelos gânglios
remove essa proporcionalidade: a maioria
das fibras do nervo óptico transporta
informações de variação relativa de
luminosidade. Algumas fibras disparam
impulsos ao detectarem aumento de luz;
outras sinalizam diminuição de luz; outras
ainda sinalizam as duas situações. Poucas
Fig. 1.3 - Estrutura da Retina fibras transportam impulsos diretamente
proporcionais à luminosidade estática.

1.2 Fóvea

A Fóvea é uma região especializada da retina, com área aproximada de 1,5 mm 2, subentendendo
um ângulo de visão transverso de cerca de 2 graus. Dentro desta região temos a Visão Central,
predominantemente fotópica, com resolução de detalhes de luminosidade de cerca de 1 a 2
minutos de grau (correspondendo a detalhes de 1 a 2 mm a uma distância de 3m).
A resolução de detalhes de cor (ou crominância), no entanto, é de apenas de 5 a 10 minutos de
grau. Fora da fóvea, temos a região de Visão Periférica, que se caracteriza por menor resolução
espacial, pouca percepção de cor e maior sensibilidade à luz e movimento.
Na Figura 1.5 temos a distribuição aproximada das células (Cones e Bastonetes) em função da
distância angular, medida em relação à fóvea. O Ponto Cego corresponde à região de entrada do
nervo óptico no olho, onde não há células receptoras.

 +

Fig. 1.4 - Visualização do Ponto Cego

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O ponto cego ocupa uma região de até 4 graus de extensão no nosso campo visual. O fato de que
não percebemos sua existência, em situações normais, mostra que o cérebro constrói a percepção
do campo visual através do processamento de informações ativas (impulsos nervosos) enviadas
pela retina. A ausência de informação não significa ausência de luz na imagem.

180 x 1000
160
140
Células por mm2

Bastonetes
120
100
80
Ponto Cego
60
Cones
40
20
0
-80 -60 -40 -20 0 20 40 60 80
Ângulo em relação à Fóvea

Fig. 1.5 - Distribuição dos Cones e Bastonetes

2. Adaptação à Luminosidade e Faixa Dinâmica


O olho humano pode adaptar-se a uma faixa extensa de níveis de iluminamento, desde sol a pino
até a luz das estrelas (Vide figura 2.1). Desde o limite inferior da visão escotópica até o limite de
ofuscamento, a nossa visão tolera variações de luminância da ordem de 1010 a 1011. O controle
da área de entrada de luz na pupila pela atuação da íris (variando de 3 a 50 mm 2 no máximo) não
é suficiente para explicar a extensão desta faixa dinâmica.
Na realidade, quando há iluminação suficiente, a pupila contrai-se de forma a utilizar apenas a
área central do sistema óptico (córnea + cristalino), onde as aberrações ópticas são menores; ela
se abre totalmente apenas em condições de baixa luminosidade. O diâmetro mínimo de abertura
(cerca de 2 mm) limita a difração da luz num grau consistente com a resolução limite na fóvea.

Fig. 2.1 - Faixa Dinâmica da Percepção Subjetiva da Luminosidade

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A maior parte da capacidade de acomodação da visão provém da mudança de sensibilidade das
próprias células, e deve-se à variação da velocidade de recomposição do pigmento conforme a
intensidade do estímulo. Este processo de acomodação não é instantâneo, e podemos dizer que,
uma vez que o olho esteja adaptado a um determinado nível de intensidade média (por exemplo,
no ponto A na fig. 2.1), a faixa dinâmica local reduz-se para algo em torno de 100 a 200 vezes.
Isto significa que, dentro de um ambiente com luminância média A, um objeto com luminância
cerca de 20 vezes menor que A é percebido como preto (ponto B na fig. 2.1), enquanto que um
objeto 5 a 10 vezes mais luminoso que A chega a provocar ofuscamento (ponto C). Devido a
esta característica, os sistemas artificiais de reprodução de imagem (fotografia, TV, cinema etc.)
conseguem reproduzir satisfatoriamente as sensações subjetivas de claro / escuro, mesmo com
relações de contraste de apenas 100:1.

3. Percepção de Luminosidade
A capacidade da visão humana de distinguir diferenças de luminosidade pode ser aproximada
pela Lei de Weber, que se baseia em um modelo logarítmico da percepção subjetiva de
estímulos. Com relação a dois estímulos de luminância Y e Y+Y, para os quais a diferença de
brilho é apenas perceptível, temos:

Y Y+ Y Y
  0.02 ( Lei de Weber )
Y
Diferença Apenas
Perceptível de Brilho

A figura 3.1 mostra um gráfico da amplitude relativa de luminância correspondente a uma


diferença apenas perceptível de brilho (denominada Fração de Weber) em função do nível médio
de luminância Y. Dentro de uma faixa apreciável da visão fotópica, esta fração vale
aproximadamente 0,02.
Por outro lado, para um sistema de reprodução de imagens vale a situação restrita da curva B- A-
C da figura 2.1, uma vez que não é objetivo de nenhum processo reproduzir a luminosidade
absoluta de uma cena, e sim apenas a faixa dinâmica perceptível em torno do ponto de
acomodação. Para essa situação restrita, a resposta subjetiva de brilho  luminância
(denominada “Ligtness”), determinada experimentalmente pela CIE (Comission Internationale
de l'Eclairage), pode ser aproximada pela expressão abaixo (vide gráfico na fig. 3.2):

 1

116(Y / Yn )  16 se Y / Yn  0.008856
3


BrilhoAparente  
903.3(Y / Y ) se Y / Y  0.008856
 n n

Onde Yn = Referência de Branco (Brilho máximo)

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0,8 100

Brilho Aparente
0,7

Fração de Weber
80
0,6
0,5 60
0,4 40
0,3
20
0,2
0,1 0
0 0 0,5 1
-20 -10 0 10 20
Luminância relativa (Y/Yn)
Ln da Luminância (cd/m2)

Fig. 3.1 - Sensibilidade para variações de Fig. 3.2 - Percepção de Brilho em torno de um
luminância ponto de acomodação

3.1 Correção Gama

Em um sistema de TV é interessante transmitir a informação na forma de um sinal que seja


proporcional ao brilho aparente, e não à luminância real, para que o efeito de um eventual ruído
aditivo seja percebido como uma degradação uniforme para todos os níveis de luminosidade.
Por outro lado, os receptores de TV foram desenvolvidos originalmente a partir da utilização do
Tubo de Raios Catódicos (TRC, ou cinescópio) como elemento de reprodução de imagens. Neste
dispositivo, há uma a relação não-linear entre a tensão de controle e a luminosidade resultante na
tela. Esta relação é da forma Y  k  V  onde  geralmente assume valor igual a 2,2.
Considerando a curva da fig. 3.2 aplicada sobre a curva de luminosidade do TRC, obtemos (por
mera coincidência) uma relação quase linear entre a tensão aplicada e a percepção de brilho
aparente (ver fig. 3.3).

Considerando essa
100
característica quase
90
80 Brilho Aparente complementar, adotou-se então
uma correção da forma
Saída Relativa

70
1
60 V  kBO  onde V é o sinal a ser
50
transmitido e B0 é o sinal de
40
entrada, proporcional à
30
luminância da imagem (como
20
10 Luminância do TRC fornecido por uma câmara).
0 Esta conversão (denominada
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1
Correção Gama) compensa
Tensão na Grade do TRC aproximadamente a não-
linearidade conjunta do
Fig. 3.3 - Brilho aparente e luminância de um Tubo de Raios
Catódicos cinescópio e da percepção
visual, fazendo com que o sinal
transmitido seja praticamente
proporcional à sensação
subjetiva de luminosidade. Isto garante no receptor uma sensação de brilho B aproximadamente
igual ao brilho B0 da imagem original.
A característica complementar entre a luminância do TRC e a percepção subjetiva de brilho é
uma coincidência, restrita a esta categoria de dispositivos de exibição de imagem. Não se aplica,
por exemplo, para visores de cristal líquido, LEDs e muitas outras famílias de dispositivos de

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visualização. Nestes casos, é necessário simular esta característica artificialmente para manter a
proporcionalidade entre o sinal transmitido e a luminosidade aparente.
A figura 3.5 compara o efeito de ruído aditivo sobre uma imagem transmitida com  = 1 e com 
= 2,2. Pode-se observar que o efeito do ruído na parte escura da imagem é muito menor no caso
de  = 2,2. Já o consequente aumento do ruído na parte clara, nesta situação, é insignificante,
comparado com a redução da visibilidade do ruído nas demais partes da imagem.

Brilho
Aparente
Câmera
Corretor Canal de
Gama Transmissão T.R.C

Fig. 3.4 - Correção Gama em um Sistema de TV

Fig. 3.5 – Imagem com Ruído Aditivo,  = 1 (esq.) e  = 2,2 (dir.)

4. Resolução Visual
A capacidade de resolução de detalhes espaciais da visão humana pode ser medida por
experimentos que avaliam a percepção de contraste (claro/escuro) na visualização de padrões de
linhas alternadas. Um destes experimentos é a Carta de Campbell (fig. 4.3). Consiste de um
padrão com variações senoidais da luminância. Estas variações representam estímulos com uma
determinada frequência espacial (que pode ser expressa em ciclos por grau), variando no
sentido vertical, e com um determinado contraste, variando de 0 a 100% no sentido horizontal.
Conforme a distância do observador à imagem, certas regiões são percebidas como áreas
uniformes, quando a percepção de contraste cai abaixo do limiar de resolução para uma dada
frequência espacial.
A percepção relativa de contraste em função da frequência espacial caracteriza a “resposta em
frequência” da visão; a curva correspondente para um observador padrão pode ser vista na figura
4.1. Podemos constatar que a resolução de crominância (distinção entre tonalidades de cor com
mesma luminosidade aparente) é muito menor que a resolução de luminância (contraste
claro/escuro). O "pico" na resposta em frequência da luminância, em torno de 3 a 4 ciclos por
grau, evidencia uma maior sensibilidade da visão para variações locais de luminosidade.
Dois mecanismos de processamento neuronal, realizados pela retina, explicam certas
características da resposta em frequência da visão:

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 Inibição lateral: uma célula receptora que estiver fortemente iluminada provoca a
inibição da resposta das células vizinhas, através das interconexões horizontais entre os
gânglios. Este efeito corresponde a um filtro passa-altas, que amplifica a percepção de
contornos nas imagens;
 Campos receptivos: as mesmas interconexões podem atuar, em níveis de luminosidade
reduzidos, de forma a agrupar os estímulos provenientes de vários receptores,
aumentando a sensibilidade e a relação sinal/ruído, porém reduzindo a resolução
(equivalente a um filtro passa-baixas).

O efeito da inibição lateral pode ser relacionado com o fenômeno das "Bandas de Mach" (figura
4.2), pelo qual a visão humana parece exagerar a amplitude de transições de luminosidade entre
regiões homogêneas adjacentes (equivalente a um sobressalto no brilho aparente).

Contraste
1000
Luminância

Vermelho-Verde

100
Azul-Amarelo

10

1
0,01 0,1 1 10 100
Freqüência Espacial (Ciclos/grau)

Fig. 4.1 - Resolução espacial da visão humana

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Fig. 4.2 - Bandas de Mach

Fig. 4.3 – Carta de Campbell

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5. Resolução Temporal e Cintilação
Outro aspecto importante da visão, relevante para Televisão, Cinema e Iluminação, refere-se à
Frequência Crítica de Cintilação, definida como aquela acima da qual não é mais perceptível a
presença de modulação na luminância de uma imagem. Dependendo das condições de
iluminação, do campo da visão (periférica ou central), do ângulo aparente do objeto sujeito à
cintilação, e do próprio indivíduo, esta frequência varia de 15 a 100 Hz aproximadamente.
Lembramos que lâmpadas de descarga a gás, como fluorescentes e vapores metálicos, quando
alimentadas pela rede elétrica de corrente alternada, emitem luz de forma pulsada, com
frequência igual ao dobro daquela da rede elétrica (120 Hz para os locais alimentados por 60
Hz). Mesmo lâmpadas incandescentes apresentam leve oscilação da intensidade luminosa em
120 Hz.
Na figura 5.1 temos a frequência crítica apresentada em função da luminância média, para
objetos pequenos (1 grau) e grandes (20 graus), para visão central e periférica. Na figura 5.2,
vemos a sensibilidade à cintilação de texturas em função da dimensão dos detalhes (frequência
espacial).

Fig. 5.1 - Percepção de Cintilação Fig. 5.2 - Sensibilidade à Cintilação de


Detalhes

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8
7
6
Diâmetro 5
da Pupila 4
(mm)
3
2
1
0
0,001 0,1 10 1k 100k

Luminância (nits)

Fig. 5.3 – Diâmetro da Pupila em função da luminância ambiente

A tabela 5.1 apresenta a relação entre a luminância da tela de monitores de vídeo e as


correspondentes frequências críticas de cintilação, válidas para 95% da população
(ISO/TC159/1987), para campos de visão de 10 e 70 graus. Para os níveis de luminância típicos
de telas de TV, a frequência crítica chega a ser da ordem de 70 Hz. As variações nos limites
devem-se ao fato de que o diâmetro da pupila varia de um indivíduo para outro, especialmente
para níveis de luminância abaixo de 1000 nits (vide figura 5.3).
A frequência crítica de cintilação está relacionada com o tempo necessário para que o cérebro
avalie a quantidade média de impulsos nervosos disparados pelas células da retina, de forma a
medir a luminosidade da imagem observada.

Luminância da Área da Iluminamento Frequência Crítica Frequência Crítica


Tela (Nits) Pupila (mm2) Retinal (Trolands) p/ 10o (Hz) p/ 70o (Hz)
10 10.75  19.63 215  392 48.4  54.4 60.6  66.9
30 9.08  15.21 544  912 57.6  62.8 70.2  75.5
100 8.04  11.34 1608  2268 68.9  71.9 81.8  84.9
300 7.07  9.62 4242  5772 78.2  81.3 91.4  94.6
1000 6.16 12320 88.9 102.4
3000 4.52 27120 96.7 110.5
10000 3.14 62800 105.1 119.2

Tabela 5.1 - Relação entre Luminância da Tela de Monitores de Vídeo e Frequências


Críticas de Cintilação, para 95% da População (ISO/TC159/1987) - Campos de Visão de 10
e 70 graus

6. Percepção de Movimento
Dois mecanismos independentes são responsáveis pela percepção de movimento:
 Movimento retinal: um objeto em movimento em relação ao ponto de visão projeta uma
imagem que se desloca sobre a retina (Fig. 6.1 a). Os receptores sensíveis a variações de

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luminosidade enviam sinais ao cérebro, que processa estas informações, extraindo a
direção, tamanho e contornos do objeto a partir da correlação desses estímulos; porém
proporcionando baixa resolução de detalhes. Este processo é particularmente importante
na visão periférica.

 Movimento ocular : através


do movimento conjunto da
cabeça e do globo ocular, sob
comandos do cérebro, a visão
percebe características de
movimento de um objeto sendo
acompanhado pela fóvea. Ou
seja, sua imagem, projetada na
retina, permanece estacionária,
excetuando-se os movimentos
sacádicos superpostos ao
movimento médio do objeto
(Fig. 6.1 b). Nestas condições,
as características de resolução
espacial da visão são mantidas,
apesar do movimento.

Fig. 6.1 – Movimento Retinal (a) e Ocular (b)

7. Percepção de Distância e 3D
Vários mecanismos, cada um ativo dentro de certa faixa de alcance, contribuem para que a visão
humana determine distâncias na visualização de objetos:
1. Focalização (acomodação) do cristalino: fornece informação intensa para curtas
distâncias (menos de 1 metro);
2. Convergência binocular (disparidade): informação fortíssima para curtas distâncias, com
resolução da ordem de milímetros dentro do alcance físico; decresce até distâncias
médias (~100 m);
3. Paralaxe de movimento: depende da velocidade e extensão do movimento; em condições
de visualização normal, com o observador parado, é intensa para distâncias curtas
(alguns metros)
4. Fator de escala de objetos conhecidos: fornece estimativa forte para qualquer distância
(centímetros a quilômetros), porém depende de aprendizado;
5. Texturas e contraste: variações em texturas, saturação de cores e contraste da imagem
fornecem estimativas razoáveis para grandes distâncias (quilômetros).

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A consistência das informações proporcionadas por todos esses mecanismos, simultaneamente,
determina a intensidade da ilusão de realidade que pode ser produzida por um sistema de
visualização. Por exemplo, objetos distantes representados em uma fotografia, examinada a curta
distância, não são aceitos como “reais”, uma vez que a convergência, focalização e paralaxe
identificam claramente os objetos como sendo próximos, enquanto que o fator de escala e as
texturas representadas correspondem a objetos distantes. Essas informações conflitantes levam o
cérebro a rejeitar a percepção da existência de objetos “distantes” na fotografia, destruindo a
ilusão de realidade. A mesma imagem, porém, ampliada e observada a uma distância maior,
pode dar melhor impressão de realidade, mesmo que os objetos subentendam o mesmo ângulo
visual (figura 7.1), já que os mecanismos de foco ocular e paralaxe atuam com menor
intensidade.
Percebe-se então que é necessária uma tela de grandes dimensões para proporcionar ilusão
convincente de profundidade para o observador.
O conflito entre esses mecanismos é um dos fatores que inibem a popularização da TV em 3
dimensões, uma vez que, em geral, apenas o mecanismo de disparidade é explorado pelos
sistemas de visualização em 3D.

Fig. 7.1 – Diferenças de Percepção de Distâncias

8. Ilusões Ópticas
Algumas imagens são interpretadas de forma paradoxal pela nossa visão; são as chamadas
ilusões ópticas. Mais do que simples curiosidades, elas nos dão pistas sobre o funcionamento dos
processos de percepção visual que ocorrem no cérebro.
A ilusão de Muller-Lyers (fig. 8.1) pode ser explicada
pelo fato de que a nossa visão interpreta a figura da
esquerda como a aresta interior formada por duas
paredes, chão e teto; enquanto a figura da direita seria a
aresta frontal de um paralelepípedo. A nossa visão
procura corrigir a dimensão percebida, considerando que
a proximidade afeta a dimensão aparente de um objeto
(ab = cd na figura 8.4). O mesmo efeito ocorre na ilusão
das Mesas de Shepard (fig. 8.2).
Fig. 8.1 – Ilusão de Muller-Lyers
(as duas linhas verticais são iguais)

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Fig. 8.2 – Mesas de Shepard (os dois tampos são iguais)

O padrão de linhas paralelas da Fig. 8.3 parece estimular a sensação de movimento, e evidencia
a irregularidade da distribuição dos elementos sensores na retina.

Fig. 8.3 – Ilusões de Movimento e Irregularidade do Campo de Visão

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Fig. 8.4 – Justificativa da Ilusão de Muller-Lyers

9. Bibliografia e Referências
Colour Television - S. V. Novakovsy - MIR, 1975
Digital Image Processing - Rafael C. Gonzales, Richard E. Woods - Addison Wesley, 1992
Eye and Brain: The Psychology of Seeing - Richard L. Gregory - Princeton University Press,
1997 (Fig. 1.2, 6.1)
MPEG Video Compression Standard - John Mitchell et al. - Chapman & Hall, 1996 (Fig. 5.1,
5.2)
Television Engineering Handbook - K. Blair Benson, ed. - Mc Graw-Hill, 1985
Understanding Digital TV - Brian Evans - IEEE Press, 1995
Video Engineering - Andrew F. Inglis, Arch C. Luther - Mc Graw-Hill, 1996
Visual Intelligence - Donald D. Hoffman - W. W. Norton, 1998
Standard Handbook for Electrical Engineers - Donald G. Fink, H. Wayne Beaty, ed. - Mc
Graw-Hill, 1993
The Science of Illusions – Jacques Ninio – Cornell University Press, 2001 (Fig. 8.2, 8.4)

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