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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE – FURG

Instituto de Matemática, Estatística e Física – IMEF


Curso de Licenciatura em Ciências EaD
Trabalho de Conclusão de Curso

“DESCALCIFICAÇÃO DOS OSSOS PROVOCADOS PELO MEIO ÁCIDO” – UMA


ATIVIDADE EXPERIMENTAL COM MATERIAIS ALTERNATIVOS
NAS AULAS DE CIÊNCIAS

Ivete Aparecida Zardo1


Daniel da Silva Silveira2
Ana Lícia de Melo Silva3

Resumo: Este Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) relata a experiência teórica e prática de
descalcificação dos ossos provocados pelo meio ácido em uma atividade experimental com materiais
alternativos nas aulas de ciências, realizado na Escola Municipal Fundamental Ruy Miguel Collares
Victorino, com alunos de 7ª série/8º ano, no Município de Mostardas/RS. A intenção foi de entender a
atividade experimental com materiais alternativos e a descalcificação dos ossos provocados em meio ácido,
como via de construção de aprendizagens sobre o estudo do esqueleto humano e músculos, em aulas de
Ciências, no Ensino Fundamental. Para isso, trouxemos à tona uma discussão, em sala de aula, sobre
como funciona a nossa ossatura e que a mesma é crucial à existência do indivíduo, pois, não seríamos
capazes de viver sem o esqueleto. A atividade experimental foi desenvolvida pelos alunos através de uma
pesquisa teórica na internet e em livros didáticos sobre a estrutura do osso e foi abordada com a indagação:
Um osso pode tornar-se flexível? Assim, partindo dessa perspectiva problematizadora, compreendemos que
as atividades experimentais com materiais alternativos propiciam a discussão em conjunto para subsidiar a
construção de argumentos, e o trabalho em grupo, juntamente com o diálogo em sala de aula, incentiva a
socialização entre os alunos e favorece o entendimento sobre o caráter social da ciência. Além disso, tais
atividades permitem ao educando integrar de maneira prática os conhecimentos do senso comum aos
conceitos científicos.

Palavras chave: Atividade experimental. Ensino de Ciências. Materiais alternativos.

1. Introdução

O ensino de Ciências nos últimos tempos vem recebendo maior atenção e


interesse de estudiosos, na intenção de problematizar as formas de ensinar ciências nas
escolas brasileiras. Segundo Brasil (1997), o ensino dessa área do conhecimento busca
promover nos estudantes, a compreensão sobre as leis que regem, movimentam e
produzem os fenômenos naturais, balizado em observações, métodos e experimentações,
das quais podem potencializar a construção do conhecimento e levar estes sujeitos a
questionar verdades postas.
As atividades experimentais desenvolvidas no ambiente da escola precisam gerar
uma participação mais intensa dos estudantes que os levem a uma postura crítica

1
Estudante do Curso de Licenciatura em Ciências. Universidade Federal do Rio Grande - FURG.
iveteazardo@gmail.com
2
Licenciado em Matemática e Mestre em Educação em Ciências pela FURG. Orientador vinculado à Universidade
Federal do Rio Grande. dssilveira@furg.br
3
Licenciada em Química e Mestra em Educação pela UFC. Coorientadora vinculada à Universidade Federal do Rio
Grande – FURG. analiciaqmc@gmail.com

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – LICENCIATURA EM CIÊNCIAS EaD - FURG, Rio Grande, 2017
contribuindo para ampliar suas capacidades de análise em diferentes contextos. De
acordo com Malacarne e Strieder (2009), as atividades pedagógicas que se balizam pela
experimentação incentivam o estudante a refletir sobre conceitos e conteúdos vistos em
sala de aula, além de contribuir para sua participação ativa e para o seu processo de
aprender.
Partindo dessa perspectiva, o Curso de Licenciatura em Ciências da Universidade
Federal do Rio Grande – FURG vem sustentando algumas de suas propostas
pedagógicas, assim como, o seu corpo docente busca desenvolver atividades educativas
que estimulam nos seus licenciandos uma postura ativa, em que explorem, investiguem e
experimentem situações que contribuam para o aprender das ciências. Diferentes
atividades foram realizadas durante a trajetória no curso, algumas de forma individual,
como por exemplo, na Interdisciplina de Fenômenos da Natureza: Perguntando e
experimentando; o uso do solo em nossa região; tarefa sobre visão; e na Interdisciplina de
Cotidiano da Escola: Anúncio publicitário como artefato cultural. Além destas,
aconteceram atividades em grupo, que contribuíram para a construção de aprendizagens
através dos debates, pois geravam polêmicas e pesquisas individuais que se misturavam
e enriqueciam os trabalhos. Entre algumas delas posso citar as seguintes atividades: na
Interdisciplina de Cotidiano da Escola IV - Planejando a partir de Histórias em Quadrinhos;
analisando um Programa Televisivo - Músicas no Ensino de Ciências, Desafio
Experimental – Lactobacilos do Iogurte; em Fenômenos da Natureza IV - História do livro
“Os 15 anos de Mariana” Porque crescer não é tão simples assim? Hormônios, tecido
ósseo, altura.
Além do conjunto de atividades propostas nos semestres do curso, as leituras
também foram importantes para possibilitar a aprendizagem. Dentre inúmeras leituras que
foram apresentadas, destacam-se as: Orientações sobre as Atividades Experimentais
para o Ensino; A experimentação no Ensino Fundamental de Ciências: a reflexão em
contexto formativo (Anais do VIII ENPEC. 2011); A natureza do conhecimento científico e
a experimentação no ensino de ciências (Revista Eletrônica de Ciências. São Carlos, n.
26, Maio de 2004).
Através dos textos acima, percebemos a necessidade de discutir sobre as
atividades experimentais no ensino de Ciências, pois é uma temática muito
problematizada entre os pesquisadores da área de Educação em Ciências, especialmente
em relação às suas finalidades e tipos de abordagens, bem como, sobre as estratégias
que favoreçam sua aplicação. Estas ideias nos permitem pensar nas atividades
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experimentais como estratégia de compreensão dos conteúdos e conceitos, tornando o
ensino de Ciências mais prazeroso e instigante.
Assim durante a proposta do Seminário Integrador, atividade prevista no currículo
do Curso de Licenciatura em Ciências da FURG, que se previu a organização de uma
Mostra de Ciências, e então se pode criar um experimento. A Mostra foi realizada no mês
de junho de 2015, durante o período da manhã, em uma das salas da Escola Municipal
Fundamental Doutor Dinarte Silveira Martins. Esta atividade foi uma experiência
trabalhosa, porém, enriquecedora e comovente. Durante a criação do experimento,
buscamos entender, em grupo, a importância do cálcio na composição óssea. Entre
questionamentos e lembranças do que já se sabia sobre o assunto, aprendemos a ouvir,
a opinar, a concordar, a discordar, mas principalmente a compreender que cada um no
grupo tem sua personalidade e uma maneira de ser, com seus tempos e espaços, mas
principalmente, que em grupo faz-se necessário que a união prevaleça para que o
trabalho em equipe aconteça.
Entre vivências, no Curso de Licenciatura em Ciências, e reflexões sobre o ensino
de Ciências, apresentamos a intenção de desenvolver uma atividade experimental sobre
a Descalcificação dos ossos provocados em meio ácido utilizando materiais alternativos,
em uma turma de 7ª série/8º ano do Ensino Fundamental, na Escola Municipal
Fundamental Ruy Miguel Collares Victorino, em Mostardas/RS. Esta atividade foi
desenvolvida com a intenção de colaborar no estudo do esqueleto humano e músculos –
conteúdo de Ciências do Ensino Fundamental como via de construção de aprendizagens.
Com isto, a nossa proposta de pesquisa tem a seguinte pergunta: Como a
atividade experimental com materiais alternativos e a descalcificação dos ossos
provocados em meio ácido, colaboram na construção de aprendizagens sobre o
estudo do esqueleto humano e músculos?
Para atender a esse questionamento, tivemos como objetivo geral entender a
atividade experimental com materiais alternativos, descalcificação dos ossos provocados
em meio ácido, como via de construção de aprendizagens sobre o estudo do esqueleto
humano e músculos, em aulas de Ciências, no Ensino Fundamental. E como objetivos
específicos conhecer estudos sobre atividades experimentais com materiais alternativos
introduzidas no Ensino de Ciências; elaborar e realizar uma atividade experimental com
materiais alternativos em uma turma de 7ª série/8º ano do Ensino Fundamental; e
construir aprendizagens sobre o esqueleto humano e os músculos.

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2. Potencialidades da experimentação no ensino de Ciências

As atividades experimentais precisam se fazer presentes nas ações e reflexões


docentes, promovendo um ensino de Ciências que considere práticas investigativas,
possibilitando nos estudantes a elaboração de hipóteses e questionamentos que estejam
alicerçadas em suas experiências e no seu cotidiano. Para Sousa e Freitas (2013) ao se
fazer uso de aulas práticas é possível tornar o estudante mais ativo na construção do seu
conhecimento, transformando o processo de ensino em mais dinâmico e significativo.
De acordo com Maldaner (2003, p. 105), a atividade experimental possibilita

[...] aproximar os objetos concretos das descrições teóricas criadas, produzindo


idealizações e, com isso, originando sempre mais conhecimento sobre esses
objetos e, dialeticamente, produzindo melhor matéria prima, melhores meios de
produção teórica, novas relações produtivas e novos contextos sociais e legais da
atividade produtiva intelectual.

A partir de situações concretas e de atividades experimentais, os estudantes


observam, pensam, agem e comunicam suas dúvidas e conclusões, o que contribui para
a construção do seu conhecimento. Da mesma forma, o uso de atividades práticas ou
experimentais possibilita maior interação entre os sujeitos que fazem parte dessa ação
dinâmica, o que pode tornar o conhecimento significativo, pois a interação é um processo,
uma ação de reflexão e de produção de mudanças, que transforma os sujeitos e os
objetos, possibilitando novos significados.
Para Galiazzi e Gonçalves (2004), as atividades experimentais devem propiciar a
discussão em conjunto para subsidiar a construção de argumentos, e o trabalho em
grupo, juntamente com o diálogo em sala de aula. Portanto, acreditamos que para
desenvolver um processo de aprendizagem de qualidade, os professores precisam buscar
metodologias que potencializem a aprendizagem dos estudantes a partir dos seus
conhecimentos prévios e com isso seja possível que eles relacionem os assuntos
estudados com episódios do seu cotidiano. Rosito (2008) aponta que o trabalho com a
experimentação é considerado para o ensino de Ciências uma prática essencial para o
aprender científico.
A utilização de atividades experimentais é importante para a construção do
conhecimento científico, e por isso é necessária essa prática no ensino de Ciências. Tais
atividades podem ser empregadas como estratégias de ensino complementares à aula
expositiva, ou seja, é preciso trazer para a escola ou para a sala de aula momentos de
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descobertas que façam sentido para o aluno, que se constituam em problemas reais e
desafiadores, para que ele sinta vontade de refletir sobre o que está investigando.
Além disso, as atividades experimentais, em sala de aula, podem promover
momentos de descobertas e ressignificação de compreensões sobre o conteúdo a ser ou
que já foi estudado. Ou seja, a experimentação desperta no aluno o senso de observação,
curiosidade, criatividade, integração, capacidade de formular hipóteses e apresentar
soluções, estimular o raciocínio, além de ter o potencial de aproximar os conteúdos
tratados nas aulas ao seu cotidiano (GALIAZZI E GONÇALVES, 2004). Muitos
professores acreditam na importância de atividades experimentais para transformar o
ensino de Ciências e para potencializar o aprender científico. Porém, justificam que a
frequência dessas práticas pedagógicas não é recorrente, uma vez que as escolas não
possuem laboratórios adequados ou é inexistente esse ambiente. Todavia, isso não pode
configurar um problema e sim buscar opções para proporcionar atividades diferenciadas.
Uma possibilidade seria a utilização de materiais alternativos afim de mostrar ao
educando que a ciência é algo que está no seu dia a dia e não é inatingível. Os materiais
alternativos, em atividades experimentais, “auxiliado com a abordagem teórica pode
tornar a assimilação dos conceitos mais fácil” (MONTIPÓ e SANTOS, 2007, p.18). Isto
significa dizer que o aluno poderá compreender melhor os conteúdos de Ciências. Tal
entendimento dos autores, permite-nos concordar, ainda, com a ideia de que os materiais
alternativos viabilizam o desenvolvimento de atividades experimentais em contextos
escolares que não possuem laboratórios de ciências.

[...] o método de experimentação através da construção dos modelos com


materiais alternativos de baixo custo e de fácil aquisição torna possível a sua
adaptação às condições da escola. Porque além de despertar o interesse dos
alunos estimula o seu envolvimento com a sua aprendizagem. Também por meio
das atividades experimentais pode-se proporcionar um ambiente rico em situações
desafiadoras que tem a possibilidade de aumentar a elaboração do conhecimento
e também de novas atitudes ao fazer e entender ciência (idem, p. 19).

Por isso, apostamos no desenvolvimento de atividades experimentais com


materiais alternativos como possibilidade de diminuir o custo operacional de laboratórios,
promover a superação das dificuldades de infraestrutura presentes em muitas escolas e
gerar menos quantidade de lixo químico, o que pode permitir que mais experiências sejam
realizadas durante o ano letivo.

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3. Contexto metodológico e a prática desenvolvida

Durante a realização do estágio de observação nas aulas de Ciências da Escola


Municipal Fundamental Ruy Miguel Collares Victorino, percebemos a dificuldade dos
alunos em relacionar a teoria à prática sobre os conteúdos que eram discutidos. Nesse
cenário escolar, o modelo de ensino que prevalecia na sala de aula era o expositivo, no
qual o professor transmite uma seleção de conceitos e a aprendizagem é o que a
memória gravar (decoreba), sendo pouca ou nada significativa. Assim, pensamos na
realização de uma atividade experimental utilizando materiais alternativos, como um
artefato de ensino, para que o aluno possa manusear, inferir sobre aquele fato ou
fenômeno que vai estudar, ou seja, interagir com ele e assim propiciar o confronto das
ideias prévias dos estudantes com a construção ou a ressignificação de conhecimentos.
A atividade experimental foi desenvolvida pelos alunos através de uma pesquisa
teórica na internet e em livros didáticos sobre a estrutura do osso. Esta atividade
experimental foi realizada na disciplina de Ciências, em uma turma constituída de 14
alunos de 7ª série/8º ano, da Escola Municipal Fundamental Ruy Miguel Collares
Victorino, no Município de Mostardas/RS. Para complementar e auxiliar nesta atividade
experimental foram utilizados o livro didático intitulado Projeto Telaris: Ciências
(GEWANDSZNAJDER, 2012) e o texto “Os Ossos” - retirado do blog Encantos da
Ciências.
A atividade experimental foi abordada com a indagação: “Um osso pode tornar-se
flexível?”. Esse experimento objetivou mostrar que o consumo excessivo de alimentos
ácidos pode ser prejudicial aos ossos, e como é rápido um osso se tornar frágil.
Para a realização dessa prática foram utilizados os seguintes materiais
alternativos: ossos de galinha (os ossos da sobrecoxa, previamente limpos), vinagre, vidro
transparente com tampa (tamanho suficiente para colocar os ossos), celular para registro
da observação, caderno, caneta/lápis. O osso foi colocado no vidro, acrescentado o
vinagre de forma que ele ficou totalmente coberto. Permaneceu por sete dias imersos no
vinagre (ácido acético). A turma foi organizada em quatro grupos de três alunos cada
(dois alunos não estavam frequentando as aulas). Foi entregue um texto que apresentava
uma discussão sobre ossos e músculos e também utilizaram o livro didático para
compreender este tema. Todo o procedimento foi observado pelos alunos diariamente e
fizeram anotações de suas percepções em um diário de bordo elaborado previamente
pelos alunos e professora.
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4. Análise e discussão

Realizamos uma atividade experimental com foco no estudo do esqueleto humano


e dos seus músculos, demonstrando que o consumo excessivo de alimentos ácidos pode
ser prejudicial aos ossos. Para isso, trouxemos à tona uma discussão em sala de aula,
sobre como funciona a nossa ossatura e que a mesma é crucial à existência do indivíduo,
pois, não seríamos capazes de viver sem o esqueleto. Além disso, o seu vínculo com os
músculos nos dá habilidade para caminhar e protege os órgãos vitais à nossa
sobrevivência. Tal atividade possibilitou aos alunos a compreensão sobre o corpo como
um todo integrado, e permitiu também entender acerca da importância do cálcio, do
fósforo e dos sais minerais nos ossos, contribuindo para a rigidez do esqueleto humano e
auxiliando a estrutura óssea.
No primeiro momento da atividade, os alunos conheceram a composição do osso,
composto por substâncias como o colágeno, além de sais minerais como o potássio, o
fósforo e o cálcio, responsáveis por conferir a resistência e dureza a sua estrutura
(PERES, 2016). Na sequência, fomos debatendo com os estudantes sobre outros
elementos químicos e apresentamos a composição do vinagre (Figura 1).

Figura 1: Osso imerso no vinagre

Fonte: os autores.

Sabemos que o vinagre é composto por ácido acético bem diluído, e contém em
torno de 4% de ácido no caso do vinagre de culinária, o usado em nossa experiência que
apresenta a fórmula química CH3COOH. Com esses dois itens foi possível conhecer um
pouco do experimento, o que originou nos estudantes entendimentos sobre às diversas
reações químicas.

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Após realizarmos o experimento, fizemos o seguinte questionamento aos
estudantes: “Mas por que o osso se tornou flexível?”. A partir dessa problematização
surgiram algumas compreensões sobre o que ocorreu com o osso resultando na seguinte
síntese elaborada por nós a respeito do experimento com os estudantes: “Sabemos que o
vinagre é um ácido e como todos são corrosivos a seu modo, desta forma a camada
externa do osso composto pelas fibras de colágeno e pelo cálcio, o ácido causou uma
reação que resultou na perda de cálcio, sobrando as fibras colágenas que como vimos
são responsáveis por conferir a resistência e a elasticidade. Se ocorrerem ao contrário
podemos notar que o osso não iria arquear e sim quebrar, devido à falta de elasticidade”.
Tal síntese corrobora com os estudos de Gartner (2011, p. 139) que diz

[...] quando um osso é descalcificado (i. e., todo mineral é removido do osso), ele
ainda mantém sua forma original, mas se torna tão flexível que pode ser dobrado
como um pedaço de borracha dura. Se o componente orgânico é extraído do
osso, o esqueleto mineralizado, ainda mantém sua forma original, mas se torna
extremamente quebradiço e pode ser fraturado com facilidade.

Assim, partindo dessa perspectiva problematizadora, compreendemos que as


atividades experimentais propiciam a discussão em conjunto para subsidiar a construção
de argumentos. Ademais o trabalho em grupo, juntamente com o diálogo em sala de aula,
incentiva a socialização entre os alunos e favorece o entendimento sobre o caráter social
da ciência.
Segundo Rosito (2008), é possível a realização de atividades experimentais na sala
de aula, utilizando materiais alternativos, podendo assim contribuir, para o
desenvolvimento da criatividade dos estudantes. Assim, a realização da atividade
experimental ocorreu na própria sala de aula. Para a prática desenvolvida foram utilizados
quatro ossos da sobrecoxa de galinha, previamente limpos, quatro vidros transparentes
com tampa, com tamanho suficiente para colocar os ossos e vinagre incolor. Antes de
colocar o osso dentro do recipiente foi verificada, pelos alunos, a resistência do osso cru,
tentando flexionar o mesmo e observado sua aparência, conforme Figura 2.

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Figura 2: Estudantes verificando a resistência do osso.

Fonte: os autores.

No início da prática experimental foi questionado aos alunos sobre o que


observavam, sendo que a maioria das respostas foram: “O osso está duro e resistente
porque contém o cálcio que o forma”. Os alunos, organizados em grupos inseriram um
osso em cada vidro, cobrindo com vinagre, fechando o mesmo com a tampa, todos
devidamente identificados, devendo observar e anotar nos próximos dias o que estavam
percebendo no experimento. Foi visível o entusiasmo dos alunos na realização da prática
experimental e ocorreu uma participação de todos, pois os mesmos queriam saber tudo o
que iria acontecer.
Transcorrido o período previsto de uma semana, foram retirados os ossos dos
frascos com vinagre e após isto, os ossos foram secados com guardanapo de papel. Foi
verificada a flexibilidade dos mesmos, envergando as extremidades de várias maneiras
(Figura 3). Como havia sido solicitado que os alunos anotassem diariamente suas
compreensões relacionadas ao experimento, a finalização do que perceberam ao ser
retirado o osso do vinagre foi relatada de maneira simples.

Figura 3: Osso sendo manipulado pelos estudantes

Fonte: os autores.
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Em cada grupo foi observado uma maneira diferente de avaliar, descrevendo de
maneira simples, mas coerente dentro do seu linguajar, pois observar um experimento é
estimular a investigação, o raciocínio e a imaginação. Além disso, percebemos que os
alunos costumam atribuir importância às atividades experimentais, principalmente,
quando fazemos uso de materiais do seu cotidiano, como foi o caso da prática
pedagógica desenvolvida.
Um outro ponto observado no transcorrer da atividade experimental, foi que os
estudantes se tornaram mais participativos e interessados em pesquisar sobre o tema
para além do livro didático utilizado em sala de aula, buscando outras informações e
comparando o que já havia sido explicado com o que eles estavam observando no
experimento. Neste caso, o envolvimento dos estudantes na prática experimental, trouxe
maneiras distintas deles investigarem o tema, formularem suas próprias ideias,
estabelecendo relações da situação e de seus conhecimentos prévios. Este fato é
evidenciado no relato apresentado pelo Grupo 1, a seguir.

Após ser mergulhado em vinagre por alguns dias, o osso de galinha


parece ser feito de borracha. Surpreendentemente, o osso, que agora é
maleável, pode ser dobrado, torcido. É possível até fazer um nó dele.
Funciona assim, o vinagre corrói os elementos químicos no osso de
galinha, que os mantém denso e duros deixando para trás as proteínas
como o elastano e o colágeno, que permitem que o osso seja dobrado. O
que sobra do osso representa o tecido ósseo macio encontrado nos
humanos [Grupo 1].

Podemos observar ainda, que o Grupo 1, constatou que o vinagre removeu parte
do material intercelular do osso causando a perda de proteínas. Além disso, a partir do
experimento, os estudantes que compõem este grupo ampliam suas compreensões
acerca do tema e o relacionam com o corpo humano.
Já o Grupo 3, após realizar suas observações a respeito do experimento, descreve
que os ossos que estiveram mergulhados no vinagre ficaram flexíveis, porque perderam
os minerais que lhes davam dureza e resistência, e também, apontaram que a
descalcificação é prejudicial ao organismo, pois o fósforo e o cálcio são necessários para
manter a rigidez e permitem os movimentos do corpo.

[-]1º dia – O vinagre está ficando amarelado graças ao fosfato de cálcio


que está saindo do osso. 2º dia – Não houve muita mudança, o vinagre
apenas escureceu mais um pouco. 3º dia – Dia das crianças.
4º dia – O vinagre está mais escuro e o osso parece que está amolecendo.
5º dia – O vinagre ficou com excesso de fósforo e cálcio e está muito

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escuro. O vinagre tirou o fosfato de cálcio do osso, deixando ele mole e
escuro, já que foi descalcificado. [Grupo 3].

Os alunos que formaram o grupo 4, perceberam que o vinagre como é uma


substância ácida reagiu retirando o cálcio e os sais do osso, entenderam que a rigidez de
um osso está associada à presença de cálcio e de fósforo e, desta forma, porque é tão
importante fazer uma alimentação rica nestes sais minerais.
[–] No dia 10.10, nós colocamos o osso dentro de um recipiente com
vinagre. A cada dia que passava observamos como o osso e o vinagre
estava ficando, de certo modo em certos dias o vinagre estava mais claro e
em outros, mais escuro; e assim decorridos 07 dias percebemos que o
osso havia soltado alguns “pozinhos”. Sendo assim, depois desses 07 dias
retiramos o osso do recipiente e podemos observar que o osso estava bem
flexível, então concluímos que aquele “pozinho” era o cálcio e os sais
minerais. O ácido do vinagre corroeu o osso retirando o cálcio e os sais
minerais. [Grupo 4].

Durante a realização desta atividade experimental, observamos que os alunos


compararam o que já havia sido falado sobre descalcificação com o que eles haviam
observado no experimento. Os alunos mencionaram que: “com a realização desta
atividade experimental, eles conseguiram verificar que um osso torna-se flexível, devido à
insuficiência ou perda de sais minerais importantes, como o Carbonato de Cálcio e o
Fósforo, que são responsáveis por manter a rigidez óssea, predominando o colágeno na
sua composição. Já a insuficiência das fibras colágenas tornará a matriz óssea
quebradiça. Neste caso o osso não arquearia e sim quebraria, devido à falta desta
elasticidade e resistência. Ambas as situações resultam em doenças ósseas como a
osteopenia, osteoporose, entre outras”.
Na atividade experimental, os alunos participaram ativamente das aulas,
interagiram entre eles e com a professora, deram respostas coerentes, comentando que
se nossos ossos perdessem o cálcio e os sais minerais, eles amoleceriam e não
ficaríamos de pé, pois apontavam que a função dos ossos é sustentar o corpo, como
também citaram que os ossos fornecem uma estrutura rígida que apoia e protege todos
os órgãos do nosso corpo.
Assim, percebemos que esse tipo de atividade permitiu maior participação dos
alunos nas aulas, e também a explorar o conhecimento escolar relacionado as suas
vivências a partir de práticas que os desafiam a raciocinar, interpretar problemas e
encontrar soluções para resolvê-los. Para Krasilchik (2008, p. 86), “somente nas aulas
práticas os alunos enfrentam os resultados não previstos, cuja interpretação desafia sua

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imaginação e raciocínio”. As oportunidades que são possibilitadas aos alunos nas escolas
revelam o quanto a realização de atividades experimentais com materiais alternativos
influencia no processo de ensino e de aprendizagem, seja motivando-os para participar
das atividades e oportunizando a relação da teoria com a prática, o que pode potencializar
a aprendizagem dos alunos.

5. Considerações finais

É evidente a importância de atividades experimentais no ensino de Ciências como


um processo importante para a ocorrência da aprendizagem dos alunos. Tais atividades
promovem a discussão em conjunto para subsidiar a construção de argumentos e o
trabalho em grupo, juntamente com o diálogo em sala de aula. Além disso, incentivar a
socialização entre os alunos favorece o entendimento sobre o caráter social da ciência.
No experimento realizado foi considerada a simplicidade experimental, o
desenvolvimento na própria sala de aula e a utilização de materiais alternativos que
pudesse facilitar a compreensão dos alunos e também demonstrar que é possível realizar
este tipo de atividade sem envolver materiais de custo elevado. Esta estratégia
pedagógica despertou a curiosidade e o interesse dos alunos envolvidos, pois a
construção e acompanhamento do experimento foram instigantes para todos e os
possibilitou a apropriação de conhecimentos relacionando a teoria com a prática, bem
como contribuiu para a compreensão sobre a composição do osso e seu processo de
descalcificação. Tal prática gerou o confronto das ideias prévias dos estudantes com os
novos conceitos a serem aprendidos, através da investigação, da análise e interpretação
dos resultados.
Portanto, entendemos que o uso de atividades experimentais em sala de aula é
viável, pois pode resgatar o interesse e incentivar os alunos a compreender os conteúdos
de Ciências, como os fatos e leis que regem os conceitos científicos, sendo esses, muitas
vezes, a dificuldade de muitos alunos. Dessa forma, percebemos que é essencial
promover atividades experimentais, fazendo uso de materiais alternativos e de fácil
acesso que permitam ao aluno conhecer de perto, assuntos relacionados ao currículo
escolar, visando desenvolver a capacidade de concentração, promovendo o envolvimento
do aluno em atividades experimentais que despertem a curiosidade e suscitem
questionamentos que contribuem para uma melhor apropriação dos conhecimentos do

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ensino de ciências e integrar de maneira prática os conhecimentos do senso comum aos
conceitos científicos.

Referências
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TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – LICENCIATURA EM CIÊNCIAS EaD - FURG, Rio Grande, 2017

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