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Revista Amazônica de Ensino de Ciências - ISSN: 1984-7505 Artigo

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Revista Amazônica de Ensino de Ciências | ISSN: 1984-7505

ARTIGO

A EXPERIMENTAÇÃO E O USO DE MODELOS


DIDÁTICOS TRIDIMENSIONAIS NO ENSINO DO
SENTIDO QUÍMICO DA GUSTAÇÃO
Experimentation and the use of three-dimensional
models on teaching about chemical sense of taste
Johan Carlos Costa Santiago1
Prisna Jamile Santos Leder2
Maria Dulcimar de Brito Silva3
Sinaida Maria Vasconcelos de Castro4
(Recebido em 04/06/2015; aceito em 06/08/2015)

Resumo: A experimentação deve ser usada em situações nas quais os alunos possam ter
uma visão do trabalho em Ciências, estabelecendo uma relação mais científica com o
mundo em que vivem, assim como a utilização de modelos didáticos tridimensionais são
eficazes para a visualização e concretização dos conceitos em Ciências para a promoção do
aprendizado. Nesse sentido, este trabalho objetivou investigar o potencial pedagógico de
modelos tridimensionais e da experimentação na exposição do conteúdo sobre o sentido
químico da gustação. O desenvolvimento dessa pesquisa se deu no contexto da realização
de uma feira experimental promovida pela Universidade do Estado do Pará (UEPA) e
desenvolvida pelos graduandos do Curso de Licenciatura Plena em Ciências Naturais –
Habilitação em Física, Biologia e Química. A coleta de dados se deu mediante a aplicação
de um questionário e a realização de uma entrevista. Verificou-se que os modelos didáticos
tridimensionais facilitaram as explicações sobre a função de cada parte que compõem o
sistema gustativo, e que a experimentação contribuiu para demonstrar como este sentido
sofre influência nos demais.
Palavras-Chave: Ensino de Ciências. Experimentação. Modelos Didáticos Tridimensionais.
Abstract: The experimentation should be used in situations where visions of the work in
Science are available for students, establishing a more scientific relationship with the world in
which they live, as well as the use of three-dimensional didactic models are effective for
visualization and realization of concepts of sciences to promote learning. Thus, this study
aimed to investigate the pedagogical potential of three-dimensional models and
experimentation on disclosure of the contents on the chemical sense of taste. The
development of this research took place in the context of conducting a trial fair sponsored by
the Pará State University (UEPA), and developed by graduates of Full Degree in Natural
Sciences - Specialization in Physics, Biology, and Chemistry. The data collection was carried
out by applying a questionnaire, and conducting an interview. It was found that the three-
dimensional models facilitated explanation of the function of each part that make up the
gustatory system, and the trial contributed to demonstrate how this sense influences the
other senses.
Keywords: Science Education. Experimentation. Three-dimensional Models.

1
Graduando em Licenciatura Plena em Ciências Naturais – Química. Universidade do Estado do
Pará (UEPA) – Campus I | CCSE, Brasil. E-mail: johansantiago@hotmail.com.br
2
Graduanda em Licenciatura Plena em Ciências Naturais – Química. Universidade do Estado do
Pará (UEPA) – Campus I | CCSE, Brasil. E-mail: jamille_leder_23@hotmail.com
3
Mestre em Química. Professora do Curso de Licenciatura Plena em Ciências Naturais da
Universidade do Estado do Pará (UEPA), Brasil. E-mail: mariadulcimar@gmail.com
4
Doutora em Educação. Professora do Curso de Licenciatura Plena em Ciências Naturais da
Universidade do Estado do Pará (UEPA), Brasil. E-mail: adianis41@hotmail.com
1

Rev. ARETÉ | Manaus | v.8 | n.17 | p.01-11 | jul-dez | 2015


Revista Amazônica de Ensino de Ciências | ISSN: 1984-7505

ARTIGO

Introdução
O Ensino de Ciências tem como papel fundamental promover o esclarecimento de
conceitos e estabelecer a compreensão do ambiente em que se está inserido, logo,
ao ensinar ciências o professor deve possibilitar que o aluno seja capaz de observar,
questionar, debater, ser formador de opinião, ou seja, formar cidadãos incumbidos
de senso crítico (NARDI, 2009).
Os educadores em Ciências vêm enfrentando uma série de desafios para
desenvolver a arte de educar, desafios esses, que perduram durante décadas,
dentre os quais está a dificuldade que os professores encontram em mostrar ao
aluno de forma clara e objetiva, a importância do saber científico e de suas mais
variadas aplicações no seu cotidiano. Por conseguinte, para facilitar o processo de
aprendizagem, o professor deve estar sempre buscando metodologias inovadoras
que possam agir de forma direta e eficaz na construção do conhecimento científico
dos alunos, e estimulá-los a buscar novos conhecimentos. A construção do
conhecimento torna-se mais eficaz e interessante para o aluno, quando ele
reconhece a aplicabilidade do conteúdo que ele está estudando (LIMA FILHO et al.,
2011).
Segundo Lima Filho et al., (2011), é necessário que as aulas de Ciências sejam
ministradas de forma dinâmica, tornando-as mais interativas para estabelecer maior
desenvolvimento cognitivo dos estudantes. Sendo assim, é necessário que o
professor rompa com o paradigma de aulas nas quais as únicas ferramentas
utilizadas sejam o livro didático, quadro e giz, o que não desperta o interesse dos
alunos, tornando a aula de Ciências cansativa e de difícil compreensão.
Sob a hipótese de que abordagens diferenciadas no Ensino de Ciências influenciam
positivamente no fator emocional do aluno, criando nele uma pré-disposição em
aprender, objetivou-se com este trabalho investigar o potencial pedagógico da
experimentação e da utilização de modelos didáticos tridimensionais na exposição
do sentido químico da Gustação. O desenvolvimento dessa pesquisa se deu no
contexto da realização de uma feira experimental promovida na Universidade do
Estado do Pará.

Interdisciplinaridade no Ensino de Ciências


Um dos desafios encontrados pelo professor, é propor aulas contextualizadas e
interdisciplinares que estabeleçam relação nas diferentes áreas de ensino, e de
modo que possa auxiliar os alunos a relacionar os assuntos estudados em sala de
aula com o cotidiano. A compreensão dos diversos fenômenos naturais que
permeiam o nosso dia a dia depende de uma visão integrada, interdisciplinar, e do
estabelecimento de vínculos conceituais entre as diferentes ciências.
Alguns professores, durante sua formação, não são preparados para trabalhar
interdisciplinarmente, portanto sentem-se inseguros frente a tarefa de integrar as
disciplinas. Desse modo, acabam realizando em suas salas de aula, projetos
multidisciplinares na qual ocorre a busca por informações em várias disciplinas para
a mera resolução de problemas, ao invés da realização de projetos interdisciplinares
onde possam ocorrer uma cooperação entre várias disciplinas provocando

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intercâmbios reais, existindo verdadeira reciprocidade e, consequentemente,


enriquecimentos mútuos (MOZENA e OSTERMANN, 2014).
O que se observa hoje em muitas escolas é o Ensino de Ciências voltado para
multidisciplinaridade, na qual é feita a escolha de um tema em comum entre as
disciplinas, porém, este é trabalhado em sala de aula de forma isolada, visto que
não há nenhuma troca entre as áreas, apenas a exploração da temática por cada
uma delas. Entretanto, a interdisciplinaridade propõe que seja estabelecida uma
inter-relação entre os conceitos das diferentes disciplinas, de modo que o aluno
possa entender as partes de ligação entre as diferentes áreas de conhecimento.
O professor precisa ser protagonista diante das mudanças educacionais, por esse
motivo, os cursos de formação de professores é um espaço propício para refletir
sobre novas práticas pedagógicas e sobre novas metodologias de ensino. Esse fato
tem levado pesquisadores, professores e gestores educacionais a um novo
posicionamento frente as estruturas curriculares dos cursos de formação
universitária de profissionais das Ciências (SANTOS e VALEIRAS, 2014). Nessa
perspectiva, é necessário que se possa ultrapassar as barreiras encontradas no
desenvolvimento de projetos interdisciplinares, pois, com melhorias nos métodos de
ensino pode-se obter melhores níveis de aprendizagem, e alunos mais motivados na
busca do saber científico.
A prática de ensino interdisciplinar é capaz de estabelecer maior interação entre o
aluno, professor e cotidiano, sendo assim, o aluno tem maior facilidade em
compreender o contexto e a realidade em que está inserido, pois a participação de
outras disciplinas atreladas ao Ensino de Ciências contribui para que o aluno tenha
uma aprendizagem consistente.

A experimentação e o uso de Modelos Didáticos Tridimensionais no Ensino de


Ciências
A experimentação constitui num método de ensino capaz de abordar diversas
teorias trabalhadas em sala de aula e que fazem parte do cotidiano dos alunos. A
experimentação é uma prática que não se limita ao ambiente laboratorial, podendo
ser realizada com materiais acessíveis e de baixo custo. Deste modo, esse tipo de
prática possibilita maior interação entre o observador e o fenômeno observado,
permitindo que o aluno desperte o seu pensar científico (FERREIRA, HARTWIG e
OLIVEIRA, 2010). O professor orienta o processo investigativo, os estudantes
trabalham na resolução do problema e algumas vezes em sua delimitação, sendo
que esse trabalho envolve a emissão de hipóteses, planejamento da investigação,
interpretação de informações e comunicação dos resultados (ZÔMPERO e
LABURÚ, 2011).
A experimentação proporciona um modo diferenciado de ensinar e aprender
Ciências, podendo ser uma "estratégia" eficaz no processo de ensino e
aprendizagem, a qual pode ser desenvolvida tanto em sala de aula, quanto em
espaços não formais de ensino (GALIAZZI e GONÇALVES, 2004). Desse modo,
pode ser atrelada ao desenvolvimento de feiras científicas, uma vez que essa
atividade instiga o aluno a desenvolver um trabalho de investigação e de pesquisa,
podendo ser planejada e realizada pelos próprios alunos sob a orientação do
professor (TONELOTO, 2012).
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Além da experimentação, outra proposta metodológica que pode auxiliar o Ensino de


Ciências é a utilização de Modelos Didáticos Tridimensionais (MDT) o qual é
apresentado como uma ferramenta inovadora que atrelada ao Ensino de Ciências,
auxilia o professor a estabelecer vínculo entre o modelo mental do aluno ao modelo
científico (SOUZA e FARIA, 2011). Os modelos didáticos correspondem a um
sistema figurativo que reproduz a realidade de forma especializada e concreta,
tornando-a mais compreensível ao aluno (JUSTINA e FERLA, 2006).
A confecção de MDT para abordar a temática da Gustação, que é considerado um
conteúdo de difícil assimilação, é uma metodologia eficaz na demonstração de todos
os componentes envolvidos no sistema gustativo, pois possibilita que o aluno possa
visualizar e concretizar esses conceitos, promovendo assim, a participação ativa dos
estudantes, facilitando o ensino pelo professor e a aprendizagem do aluno.
De acordo com Junior et al. (2010):
Os recursos didáticos envolvem uma diversidade de elementos
utilizados como suporte experimental na organização do processo de
ensino e de aprendizagem. Sua finalidade é servir de interface
mediadora para facilitar na relação entre professor, aluno e o
conhecimento um momento preciso da elaboração do saber (p. 3).
Nessa perspectiva, utilizando o modelo tridimensional do sentido químico da
gustação, foram trabalhados os conceitos científicos em conjunto, de tal modo que o
aluno pudesse evidenciar que a natureza não é particularidade de nenhuma área do
conhecimento, mas sim um conjunto de fenômenos químicos, físicos e biológicos.

Descrição da Feira Experimental de Ciências


A 1ª Feira Experimental de Física, Biologia e Química (FEXFIBQ) foi realizada no dia
21 de junho de 2013, no Centro de Ciências e Planetário do Pará (CCPP), uma
instituição pertencente à UEPA. A FEXFIBQ constitui um momento de socialização
do material didático produzido por alunos do Curso de Licenciatura Plena em
Ciências Naturais – Física, Biologia e Química, tendo como público alvo alunos do
ensino básico e a comunidade em geral.
A Feira experimental visa estimular profissionais do Ensino de Ciências a abordar de
forma prática, dinâmica e criativa os conteúdos e temas da área das Ciências da
Natureza, além de promover a compreensão das Ciências com o significado de ter-
se um ponto de vista, em especial pensamento científico que exige a reconstrução
de todo o seu próprio saber, sendo possível por meio da utilização dos eixos
racionais em relação aos fenômenos da natureza, exteriorizando reações e
problemas científicos, gerando atitudes científicas de avaliação, comparação ou
experimentação que permite as pessoas verificar se as verdades correspondem à
realidade, reconhecendo métodos apropriados para resolvê-los (BACHELARD,
1997).
A FEXFIBQ teve como eixo central a temática: “A Ciência dos Sentidos” e seus
respectivos subtemas: Gustação, Olfação, Visão, Tato, Audição e Fonação, tendo
sido utilizados diversos recursos didáticos referentes à temática proposta, tais como
a utilização de modelos tridimensionais, experimentação, vídeos, jogos didáticos
entre outros.

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Procedimentos Metodológicos
O conteúdo apresentado aos alunos/visitantes da feira experimental foi sobre o
sentido químico da gustação, cujo título da apresentação era “Paladar: o sentido dos
sabores”. No entanto, por se tratar de uma feira científica na qual o conteúdo
exposto deve ser mais atrativo e dinâmico, foram confeccionados modelos
tridimensionais referentes à temática, além da realização de uma atividade
experimental que desperta a curiosidade dos alunos, criando neles uma
predisposição em conhecer a explicação científica daquele experimento, facilitando
assim o processo de ensino e de aprendizagem.
Os modelos tridimensionais utilizados na exposição da temática “Gustação” foram
confeccionados a partir de materiais de baixo custo e de fácil acesso, tais como:
tesoura, tubo de cola, isopor, E.V.A.5, tecido, tachinhas coloridas, tintas coloridas,
fios elétricos, balões e bexigas. Esses modelos representavam as principais partes
do sentido químico da gustação como: boca, língua, papilas gustativas, botões
gustativos, epiglote6 e vias neurais. As tachinhas coloridas representam as papilas
gustativas e marcam as “regiões dos sabores”; os balões e as bexigas representam
os botões gustativos, e os fios elétricos seriam as vias neurais responsáveis pela
transmissão dos sinais gustatórios (Figura 1).

Figura 1: Modelo tridimensional representando as principais partes do sentido da gustação.


Fonte: Autores da pesquisa.
Após a exposição oral realizada com o auxílio dos modelos tridimensionais, foi
realizado um experimento objetivando associar o sentido da gustação ao sentido da
visão e da olfação. Para a realização do experimento, foram utilizados copos
descartáveis de tamanho pequeno, água gaseificada (gelada), corante comestível
(marrom, laranja, roxo e preto) e quatro tipos de sabores de refrigerante (guaraná,
laranja, uva e cola). Então, foi preparado um copo com água gaseificada e

5
E.V.A (Etil Vinil Acetato) é uma borracha não tóxica que é aplicada em diversas atividades
artesanais.
6
É uma pequena cartilagem situada acima da laringe e que serve para fechar a ligação da faringe
com a glote durante a deglutição.
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adicionada algumas gotas de corante comestível (para que ficasse semelhante à cor
de um sabor específico de refrigerante), este copo foi então posto ao lado de outros
três copos contendo refrigerante de sabores diferentes. O procedimento adotado foi:
o visitante escolhia um copo por vez; bebia o conteúdo do copo e em seguida
deveria dizer qual o sabor do líquido que estava tomando7.
A escolha dos alunos/visitantes para a coleta de dados ocorreu durante as sessões
de apresentação da temática “Gustação”. A coleta de dados se deu por meio da
realização de uma entrevista individual8, computando com 35 alunos/visitantes do
Ensino Médio selecionados mediante a sua participação na atividade experimental,
sendo 19 alunos do sexo masculino e, 16 do sexo feminino. Além da aplicação de
um questionário constituído de duas perguntas objetivas que computou com a
participação de 35 alunos/visitantes do Ensino Médio, sendo 18 alunos do sexo
masculino e, 17 do sexo feminino.
Os dados coletados foram armazenados e codificados usando-se o programa Excel
Office 2010, tendo sido elaborados elementos representativos (gráficos) para a
intepretação desses dados. Por se tratar de uma pesquisa qualitativa e quantitativa,
para análise das respostas levou-se em consideração as concepções apresentadas
pelos alunos estabelecendo porcentagens e realizando algumas inferências acerca
dos dados obtidos.

Resultados e Discussão
O Ensino de Ciências (Química, Física e Biologia) é, por muitas vezes, realizado de
forma fragmentada e desvinculada da realidade do aluno. É consenso que este
modelo de ensino dificulta o aluno relacionar o conteúdo estudado ao que acontece
no seu dia a dia. Soma-se a isto, a falta de utilização de ferramentas pedagógicas
que tornem o ensino mais atrativo, prazeroso e eficaz. Conforme alerta Lima e
Teixeira (2009), este modelo de ensino acaba por favorecer a utilização de recursos
como memorização de regras e fórmulas, e o uso desarticulado de situações de
laboratório, o que também afasta a possibilidade de êxito numa atividade
interdisciplinar que se sustenta pelo interesse na solução de um problema relevante
para o aluno.
Em vista disso, a exposição interdisciplinar do sentido químico da gustação através
de modelos tridimensionais objetivou facilitar a compreensão dos alunos/visitantes
sobre o funcionamento do sistema gustativo. Desse modo, foi pedido aos alunos,
através de um questionário, que atribuíssem uma nota de 1 a 4 para avaliar o
potencial didático dos modelos tridimensionais utilizados na exposição do tema
(Figura 2).

7
Maiores informações poderão ser consultadas no Apêndice 1, ao final do texto.
8
Os alunos foram identificados por letra.
6

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Potencial didático do modelo


tridimensional
6%
1 - Ruim
37%
2 - Regular
57%
3 - Bom
4 - Excelente

Figura 2: Avaliação dos alunos/visitantes sobre o modelo tridimensional utilizado.


Fonte: Autores da pesquisa.

Através do resultado apresentado na Figura 2, é possível assegurar que, se bem


elaborados, os modelos tridimensionais constituem uma ferramenta pedagógica
capaz de despertar o interesse do aluno, facilitando assim o processo de construção
de modelos mentais mais consistentes com os modelos científicos. Segundo orienta
PAULETTI, et al. (2014, p. 2732), “para a elaboração de um modelo didático de
qualidade é necessário compreender as bases teóricas do conteúdo envolvido”.
Ainda sobre os modelos tridimensionais utilizados, 95% dos alunos entrevistados
afirmaram já terem estudado o tema, no entanto, o conteúdo foi ministrado de
maneira superficial apenas através de aulas expositivas e figuras bidimensionais
presentes nos livros didáticos. Então, em entrevista foi perguntado se eles poderiam
escolher uma parte do modelo didático tridimensional utilizado e descrever quais
partes estavam representadas nele; 90% responderam de maneira satisfatória, tal
como é demonstrado no relato do entrevistado A: “O botão gustativo está
representado pelo balão que é a célula de suporte, a bexiga é a célula receptora e
as pontas são os pelos gustativos”.
O modelo didático tridimensional citado pelo entrevistado A, se trata dos corpúsculos
gustativos (ou botões gustativos) cuja função é analisar os constituintes químicos do
alimento que entra em contato com as células receptoras durante a mastigação. As
substâncias químicas produzem mudanças nas células gustativas que são
transformadas em potenciais de ação nas fibras nervosas que inervam os botões
gustativos. Estes potenciais de ação são conduzidos para o cérebro, para
eventualmente produzir a sensação que nós descrevemos como sabor (GUYTON e
HALL, 2002).
Ao final da exposição oral, um aluno/visitante foi escolhido voluntariamente para
participar de um experimento com o objetivo de verificar, por meio de um teste
sensorial, se a visão e a olfação influenciam na percepção do sabor das bebidas que
provamos. Seguindo o procedimento descrito na seção “Materiais e Métodos”, os
resultados obtidos com a prática estão apresentados abaixo na Tabela 1.

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Tabela 1. Identificação da água gaseificada com corante feita pelos alunos/visitantes.

Afirmou ser:
Água + corante cor: Água + corante Refrigerante
Laranja 4 1
Marrom 3 2
Preto 1 4
Roxo 4 1
Fonte: Autores da pesquisa.

Com os dados da Tabela 1, é possível afirmar que 60% dos alunos que participaram
do teste sensorial tiveram sua percepção de sabor afetada pelo sentido da visão e
da olfação. Isso ocorreu devido o fato de ao se realizar o experimento, o aluno ter
utilizado mais de um sentido. Foi possível observar que muitos dos alunos que
participaram do teste, analisavam a cor do líquido presente no copo e tentavam
sentir o aroma, de modo que sua memória os induziam a sentir um sabor de
refrigerante numa determinada água corada, já que às vezes sente o sabor que se
espera sentir.
Ainda que cada sentido tenha uma função específica, muitas vezes ao se realizar
uma ação, mais de um deles é utilizado em conjunto. No caso da degustação feita
pelos alunos, os sentidos da visão e da olfação foram utilizados em conjunto com a
gustação. Além disso, é possível que estes alunos já tenham provado esses sabores
de refrigerantes em algum momento de sua vida, e ao se realizar o teste, a memória
foi levada em consideração.
Em entrevista, foi perguntado aos participantes do experimento sobre o que eles
poderiam concluir sobre o funcionamento do sistema gustativo através do teste
sensorial. Ainda que nem todos tenham confundido a água gaseificada (corada) com
refrigerante, 100% dos 35 alunos/visitantes entrevistados compreenderam a
influência dos demais sentidos sobre a gustação, tal como relata o entrevistado B:
“Sinceramente, Se vocês não me dissessem que o que eu tomei era água com gás e
corante, eu teria saído daqui achando que tinha tomado refrigerante de laranja”.

Considerações Finais
A utilização de modelos didáticos tridimensionais permite a abordagem do
conhecimento científico de forma interdisciplinar, visto que torna possível a interação
entre duas ou mais disciplinas, facilitando o processo de aquisição de conhecimento
científico por permitir que o aluno visualize o conteúdo exposto, que muitas vezes
apresenta-se como de difícil compreensão e assimilação. Considerando-se a
utilização dos modelos didáticos tridimensionais como uma ferramenta relevante
para o desenvolvimento em conjunto com a experimentação, torna-se um
instrumento de apoio para a aprendizagem de conteúdos que são trabalhados em
sala de aula.

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Os relatos dos alunos entrevistados confirmam que o experimento foi essencial para
demonstrar na prática como ocorre o processo de percepção dos sabores, pois,
apenas especular que a gustação pode ser influenciada por outros sentidos, poderia
ser tomado apenas como mais uma informação para o aluno, sem ser considerada
relevante. Além disso, a construção dos modelos didáticos tridimensionais propiciou
conteúdos com mais significados, na qual o aluno passou a incorporar e ampliar os
seus conhecimentos sobre a Gustação, possibilitando a construção e reconstrução
de seus modelos mentais.
Neste sentido, podemos concluir que as atividades realizadas por meio desses
recursos didáticos, são importantes para que se tenha um aprendizado consistente e
de acordo com as necessidades dos alunos, considerando a Física, Biologia e
Química.

Referências
BACHELARD, G. A formação do espírito científico: contribuição para uma
psicanálise do conhecimento. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997.
FERREIRA, L. H.; HARTWIG, D. R.; OLIVEIRA, R. C. Ensino experimental de
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Escola. v.32, n.2, p. 101-106, 2010.
GALIAZZI, M. C.; GONÇALVES, F. P. A natureza pedagógica da experimentação:
uma pesquisa na Licenciatura em Química. Revista Química Nova, v.27, n.2, p.
325-331, 2004.
GUYTON, A.; HALL, J. Tratado de Fisiologia Médica. 10. ed. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2002.
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Aplicação do modelo didático na compreensão do conteúdo: Morfologia Viral. Anais
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LIMA FILHO, F. S.; CUNHA, F.P.; CARVALHO, F. S.; SOARES, M. F. C. A
importância do uso de recursos didáticos alternativos no Ensino de Química: uma
abordagem sobre novas metodologias. Revista Enciclopédia Biosfera, Goiânia,
v.7, n.12, p. 166-173, 2011.
MOZENA, E. R.; OSTERMANN, F. Integração curricular por áreas com extinção das
disciplinas no Ensino Médio: uma preocupante realidade não respaldada pela

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ARTIGO

pesquisa em ensino de física. Revista Brasileira de Ensino de Física, São Paulo,


v.36, n.1, p. 1403-1408, 2014.
NARDI, R. Questões atuais no ensino de ciências. 2.ed. São Paulo: Escrituras,
2009.
PAULETTI, J.; BELUSSO, A.; BRITO, G. C.; REIS, J. G. Modelo didático
tridimensional de epiderme foliar como estratégia para inclusão de alunos com
deficiência visual no ensino de botânica. Revista da SBEnBio, v.7, p. 2731-2738,
2014.
TONELOTO, C. F. S. Feiras de ciências: incentivo à curiosidade e à criatividade.
Revista Eletrônica Pré-Univesp, 15 out. 2012. Disponível em:
<http://www.univesp.ensinosuperior.sp.gov.br/preunivesp/4019/feiras-de-ci-ncias-
incentivo-curiosidade-e-criatividade.html>. Acesso em: 18 mar. 2015.
SANTOS, C. A; VALEIRAS, N. Currículo interdisciplinar para licenciatura em ciências
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2512, 2014.
SOUZA, P. F.; FARIA, J. C. N. M. A construção e avaliação de modelos didáticos
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Revista Enciclopédia Biosfera, Goiânia, v.7, n.13, 2011.
ZÔMPERO, A. F.; LABURÚ, C. E. Atividades investigativas no ensino de ciências:
aspectos históricos e diferentes abordagens. Revista Ensaio, v.13, n.3, p. 67-80,
2011.

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Apêndice 1: Teste sensorial envolvendo os sentidos da gustação, visão e olfação.

Introdução

Quando você se alimenta é como se experimentasse a comida com sua língua


inteira. Na verdade, você possui muito pouco paladar no meio de sua língua, já que
seus botões gustativos estão espalhados ao redor da ponta, lados e fundos dela.
Ao se ingerir um alimento, utilizamos além do sentido da gustação, os sentidos da
visão e da olfação em conjunto. Isso pode provocar algumas alterações na
percepção de sabores, que pode variar de pessoa para pessoa. Mas, como o que
vemos ou sentimos afeta o sabor do que provamos?
Objetivo Geral: Verificar se o que vemos e/ou o aroma que sentimos afeta o sabor
do alimento que provamos.
São objetivos específicos:
Demonstrar como a visão pode afetar o sabor dos alimentos que ingerimos;
Explicar a relação intrínseca entre o sentido da gustação e o sentido da
olfação.
Materiais utilizados
Copos descartáveis transparentes;
Água gaseificada;
Corante comestível (marrom, laranja, roxo e preto);
Refrigerante (guaraná, laranja, uva e cola);
Procedimento experimental
1. Pegue três copos transparentes e coloque um refrigerante de cor e sabor
diferente em cada um deles;
2. Num quarto copo coloque água gaseificada e algumas gotas de corante para
que fique semelhante a cor de um refrigerante de sabor específico;
3. Peça que um voluntário escolha um copo por vez e prove o líquido contido
neste copo;
4. Pergunte o “sabor” da bebida que este voluntário está provando, registre sua
resposta e veja quantos dizem ser refrigerante o copo que contém água
gaseificada e corante.

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