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5759-Texto Do Artigo-18351-1-10-20211008

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SCIENTIA NATURALIS

Scientia Naturalis, v. 3, n. 3, p. 1394-1406, 2021


Home page: http://revistas.ufac.br/revista/index.php/SciNat

ISSN 2596-1640

Experimentação investigativa – a utilização de materiais


alternativos para explorar métodos de separação de misturas
a partir de estudos de caso no ensino médio
Brenda Silva dos Santos1*, Taís Cristina de Lima2, Ana Paula Sodré da Silva Estevão3,
Ana Paula Bernardo dos Santos3
1
Discente do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro, Curso de
Licenciatura em Química, Duque de Caxias, Rio de Janeiro, Brasil, 2Professor da Secretaria de Educação
do Estado do Rio de Janeiro, São João de Meriti, Rio de Janeiro, Brasil, 3Professora do Instituto Federal
de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro, Duque de Caxias, Rio de Janeiro, Brasil.
*silvabrenda0226@gmail.com

Recebido em: 03/08/2021 Aceito em: 22/09/2021 Publicado em: 08/10/2021

RESUMO
A implementação de atividades experimentais investigativas no ensino de química é vista como um
instrumento facilitador no processo de ensino aprendizagem, pois algumas temáticas, como métodos de
separação de misturas são pouco exploradas devido à carência de laboratórios com materiais e
equipamentos adequados no Ensino Médio público. Nessa concepção, buscou-se trabalhar separação de
misturas tendo como método o estudo de caso e atividades experimentais utilizando materiais
alternativos. Pode-se perceber que a atividade permite ao aluno a construção do próprio conhecimento,
desenvolvendo lhe autonomia e identidade. Além da inclusão de atividades experimentais no espaço
escolar, sem a necessidade de vidrarias ou equipamentos específicos.
Palavras-chave: Estudos de caso. Materiais alterativos. Experimentação investigativa.

Investigative experimentation - the use of alternative


materials to explore methods of mixture separation from case
studies in high school
ABSTRACT
The implementation of investigative experimental activities in teaching chemistry is seen as a facilitator
in the teaching learning process, because some topics, such as methods of mixture separation are little
explored due to the lack of laboratories with materials and adequate equipment in public high schools. In
this conception, we tried to work on mixture separation using the case study method and experimental
activities using alternative materials. It can be seen that the activity allows students to construct their own
knowledge, developing autonomy and identity. Besides the inclusion of experimental activities in the
school space, without the need for glassware or specific equipment.
Keywords: Case studies. Alternative materials. Investigative experimentation.

INTRODUÇÃO
O ensino de química ainda se baseia numa metodologia expositiva que visa à
transmissão do conhecimento de maneira passiva, focando no acúmulo de informações

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(VEIGA et al., 2012). Logo, muitos discentes se mostram desinteressados por esta
ciência, em partes devido à esta metodologia de ensino, uma vez que eles não
participam ativamente do processo de aprendizagem e nem conseguem relacionar o
conteúdo com seu cotidiano.
Diante desse quadro, se torna necessário o aperfeiçoamento dos processos de
ensino aprendizagem, como a utilização das denominadas metodologias ativas que
elevam o aluno para uma posição mais ativa e participativa na prática pedagógica,
através de atividades problematizadoras, sendo reais ou simuladas, que estimulam
habilidades de criticidade, criatividade, compreensão e responsabilidades éticas e
sociais. Sendo assim, uma das alternativas encontradas para trabalhar conteúdos de
química é a inclusão de atividades experimentais por meio de abordagens investigativas.
Segundo Francisco e Oliveira (2014), as atividades a serem elaboradas devem
estar próximas a realidade e o contexto escolar, dando suporte no ensino de ciências e
na formação acadêmica. A elaboração de trabalhos inseridos na realidade cotidiana
impulsiona para uma aprendizagem científica, pois motiva a curiosidade de
acontecimentos científicos que impactam em sua vivência.
Para alcançar tais propósitos, observa-se a importância de trazer situações para a
sala de aula por meio de contextualizações e problematizações, criando condições para
que o aluno tenha aguçada sua curiosidade, sentindo-se motivado ao passo em que
constrói o próprio conhecimento científico com autonomia e independência.
Nesse contexto, o método de estudo de caso (EC), orienta os alunos à sua
própria construção de conhecimento, levando em consideração suas experiências, ao
passo que observam a magnitude da ciência presente em situações diferenciadas,
estimulando a tomada de decisão de caráter sócio científico (QUEIROZ, 2007).

O Estudo de Casos é um método que oferece aos estudantes a oportunidade


de direcionar sua própria aprendizagem e investigar aspectos científicos e
sociocientíficos, presentes em situações reais ou simuladas, de complexidade
variável. Esse método consiste na utilização de narrativas sobre dilemas
vivenciados por pessoas que necessitam tomar decisões importantes a
respeito de determinadas questões. Tais narrativas são chamadas casos (SÁ;
QUEIROZ, 2009, p. 12).

Os denominados casos citados por Sá e Queiroz (2009) são histórias de cunho


científico que podem ser reais ou fictícias narradas por personagens da história. Tais
casos estimulam a empatia entre os personagens e o aluno, de modo em que a atração

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gerada pela narrativa aguce a curiosidade e o faz compreender a situação e o contexto
presente. O método busca formar nos alunos reflexão e argumentação, estimulando
tomadas de decisão para que possa agir e enfrentar problemas de diferentes naturezas.
Silva et al., (2011) apontam alguns objetivos que podem ser alcançados através
do método:
[...] introduzir conteúdos específicos; estimular a capacidade de tomada de
decisão; demonstrar a aplicação de conceitos químicos na prática;
desenvolver a habilidade em resolver problemas; desenvolver a habilidade de
comunicação oral e escrita; desenvolver a habilidade de trabalho em grupo;
desenvolver o pensamento crítico (SILVA et al., 2011, p. 186).

O conteúdo programático de métodos de separação de misturas trabalhada nesse


projeto dá margem a uma vasta discussão que pode fomentar outros temas que
envolvam a participação do aluno no processo de ensino aprendizagem, desenvolvendo
sua capacidade de enxergar a química em múltiplas situações reais. Porém, sob o
mesmo ponto de vista de Silva (2011), devido a algumas escolas de ensino médio serem
isentas de laboratório de ciências ou o docente não investir em formação continuada,
buscando métodos alternativos de novas metodologias de ensino, percebe-se um
distanciamento entre teoria e prática, especialmente na abordagem de conceitos que
apresentam um caráter prático e experimental em sua essência. Dessa forma, como
solução alternativa, os experimentos com materiais alternativos nas aulas têm sido de
extrema relevância, pois segundo Costa et al., (2005, p. 31) “o emprego de materiais
usuais pode minimizar os custos relacionados à aplicação de determinada atividade,
ampliando a possibilidade de aplicação desta aula em um maior número de escolas”.
Nessa concepção, trabalhar separação de misturas com atividades experimentais
utilizando materiais alternativos, permite que o professor construa um elo entre o
conteúdo abordado, dando suporte no desenvolvimento no ensino de química.
Entretanto, o método de estudo de caso atrelado às atividades experimentais
podem ser classificadas como experimentação investigativa. Para Oliveira e Soares
(2010), a proposta da experimentação investigativa é que fuja do tradicional ilustrativo e
demonstrativo, dando liberdade para que o aluno possa relacionar o experimento à
situação problema em questão, possibilitando-o a discussão em grupos, levantamento de
hipóteses e a reformulação das ideias.
Assim, a presente pesquisa teve como principal objetivo explorar e estimular o
perfil investigativo dos alunos, de forma que os mesmos possuam capacidade de tomada

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de decisão de caráter sócio científico a partir da resolução de problemas de um estudo
de caso atrelado às atividades experimentais com materiais alternativos.

METODOLOGIA
O Programa de Residência Pedagógica (PRP) é uma das ações que integram a
Política Nacional de Formação de Professores, que apresenta como principal objetivo
aperfeiçoar a formação prática nos cursos de licenciaturas, iniciando de forma ativa a
atuação dos licenciandos na realidade escolar, além de estimular a reflexão do residente
sobre sua prática e relação com a profissionalização do docente escolar e diagnosticar
dificuldades no ensino e na aprendizagem escolar. Sendo assim, o curso de licenciatura
em química do IFRJ campus Duque de Caxias adotou o programa como forma de
cumprir toda a carga horária mínima exigida pela disciplina de Estágio Supervisionado
Obrigatório da matriz curricular.
Dessa forma, o trabalho aqui descrito foi realizado durante a vigência do
Programa de Residência Pedagógica com uma turma do primeiro ano do Ensino Médio
da Escola Municipal Ciep 170 – Gregório Bezerra, localizada no município de São João
de Meriti no estado do Rio de Janeiro e seguiu o cronograma abaixo (Quadro 1):

Quadro 1 – Cronograma das atividades


Dia Descrição
01 Análise e estudo dos casos
02 Construção dos aparatos experimentais
03 Apresentação da resolução dos casos

Inicialmente foram formulados três modelos de estudo de caso, na qual abordam


questões ambientais e científicas (Quadro 2). Para a aplicação do estudo de caso e as
demais atividades foram necessários três encontros junto à turma.

Quadro 2 – Relação de grupos e estudos de caso


EC Problemática Objetivo Resolução Grupos
01 Escassez de água na Utilizar a água da praia para
cidade de Alagoas consumo, ou seja, separar a Destilação
1e2
mistura de água e sal simples
02 Acidente de Retirar o excesso de sal da areia, Dissolução
carregamento de sal ou seja, separar a mistura de sal fracionada e 3e4
na praia e areia filtração

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03 Acidente Retirar o petróleo do mar, ou
Petroquímico no mar seja, separar a mistura de água e Decantação 5e6
óleo

No primeiro encontro foram apresentados e analisados estudos de casos, tendo


como sua resolução um método de separação de misturas específico. Para melhor
organização, a turma com 32 alunos foi dividida em grupos entre 2 e 4 integrantes, na
qual cada grupo recebeu um estudo de caso. Foi iniciada a leitura dos estudos, onde um
representante de cada grupo leu em voz alta para a turma, de modo que todos tivessem
conhecimento do assunto abordado em cada caso. Após a leitura, iniciou-se a discussão
acerca dos assuntos abordados nos casos a fim de estipular hipóteses referente a
resolução da mesma. Com o auxílio do quadro, foram conceituados alguns métodos de
separação de misturas, como catação, ventilação, peneiração, separação magnética,
dissolução fracionada, filtração, decantação, destilação simples e fracionada. A partir da
identificação do método de separação de cada grupo, os mesmos foram orientados a
pesquisar como ocorre o funcionamento do método em um laboratório químico
utilizando equipamentos e vidrarias, para que os auxiliassem no trabalho posteriormente
sugerido para compor a nota do bimestre.
Em seguida, foi proposto aos grupos a construírem um sistema de separação de
misturas utilizando materiais alternativos de fácil acesso e/ou de baixo custo. É comum
para os alunos participarem de atividades extra no período de contraturno na escola,
logo, para facilitar o processo de construção do material, os alunos foram orientados a
comparecerem na escola no contraturno portando os materiais necessários para a
construção do aparato.
No terceiro encontro, em horário letivo, os alunos puderam apresentar para
toda turma o aparato concluído.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na etapa inicial, os alunos se dispuseram em grupos para a leitura dos casos, a
fim de analisar, identificar e discutir as problemáticas abordadas. Esse momento foi
crucial para o andamento da atividade, na qual todos puderam discutir e analisar de que
forma a problemática poderia ser resolvida com o levantamento de hipóteses (Figura 1).

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Figura 1 – Alunos analisando o estudo de caso

Algumas misturas que pareciam ser de difícil compreensão do seu método de


separação, como água e sal, foram identificados facilmente. Ao indagar de que forma
poderíamos separar a mistura de sal e água, o aluno 01 respondeu:
Aluno 01: Da mesma forma que fazemos arroz, quando a água esquenta,
evapora e conseguimos ver os pontinhos de sal no fogão.
Nesse momento, pode-se perceber que o aluno relacionou uma situação
cotidiana super adequada com o fato trabalhado no caso, conseguindo visualizar a
ciência presente em uma simples situação.
Através de discussões e análises, os grupos estipularam soluções como
destilação simples para o estudo de caso 1, peneiração para o estudo de caso 2 e
filtração para o estudo de caso 3 (Quadro 3). Mesmo não ainda não tendo conhecimento
do nome correto do método de separação, a decisão do método de destilação fracionada
dos grupos 1 e 2 foi unânime tendo como justificativa o cozimento do arroz para separar
a mistura de água e sal. Os grupos 3 e 4 utilizaram como exemplo a peneiração feita no
processo de construção civil para separar pedregulho e areia, sem levar em conta a
granulometria dos compostos. Os grupos 5 e 6 não se atentaram quanto a
heterogeneidade da mistura de água e óleo, optando assim pelo método da filtração
simples.

Quadro 3 - Justificativas para a resolução dos estudos de caso


EC Justificativa Resolução Grupos
Através da evaporação da água era possível separá-la
01 Destilação simples 1e2
do sal.
Os grupos entenderam que a partir da peneiração
02 entre sal e areia era possível a separação, já que se Peneiração 3e4
tratavam de compostos sólidos.

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A partir da filtração, os grupos acharam que seria
03 possível separar água e óleo e que o óleo ficaria Filtração 5e6
retido no filtro, como no caso do café.

Mesmo não apresentando soluções adequadas, o levantamento de hipóteses é


necessário e importante no processo de investigação, levando ao grupo decidir continuar
na afirmação ou analisar outras hipóteses. É interessante notar o viés das resoluções,
sempre norteando a vivência e experiências dos alunos, de acordo com Schnetzler
(1992), a construção do aprendizado se estabelece a partir da relação da situação em
questão com algo que seja do cotidiano e próximo de sua realidade. Se tratando de
metodologias ativas, Silva e Delizoicov (2008) defendem e apontam a importância da
problematização que parte do pressuposto de que o aluno “sempre sabe alguma coisa”.
Seja uma reportagem que assistiu na TV, um livro que leu ou um comentário que ouviu.
Qualquer informação é válida para que o professor possa ir trabalhando e aperfeiçoando
até a construção do conhecimento científico.
Ao iniciar os conceitos dos métodos de separação de misturas no quadro, foi
possível construir junto à turma as definições de cada método através de situações
hipotéticas. Por exemplo, folhagens em meio as pedras, como podemos separar? Os
alunos não souberam o nome do método correto, mas souberem responder como seria o
procedimento de separação e a partir disso identificaram a catação como um método de
separação de mistura. Com os métodos já conceituados, os grupos discutiram e
reavaliaram as soluções do caso, como descrito no quadro 3.
Os grupos 1 e 2 já haviam identificado o método de separação de misturas
corretamente e após a explicação dos conceitos, os grupos puderam entender
teoricamente como a mistura se comportava em um destilador simples, aprovando a
hipótese já definida anteriormente.
Os grupos 3 e 4 reavaliaram o método de separação e decidiram que dissolução
fracionada e filtração seria mais eficiente, pois se tratando de uma mistura heterogênea
de sal e areia não seria possível separá-los através da peneiração, uma vez que a
granulometria dos compostos era aproximada, logos os grãos da mistura passariam
juntos pelos poros da peneira.
Para os grupos 5 e 6 foi preciso revisar os conceitos de líquidos imiscíveis, tendo
em vista que se tratava de uma mistura heterogênea de água e óleo. A partir do
conhecimento do funil de decantação, os grupos optaram por reavaliar a hipótese inicial,

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uma vez que entenderam que a função do filtro é reter compostos sólidos, logo a
filtração não seria o método adequado para a separação da mistura em questão. Sendo
assim, o grupo optou pelo método de decantação para resolver a problemática do estudo
de caso 3.
Analisando as novas justificativas, pode-se perceber que houve uma mudança
conceitual, na qual o professor tende a criar condições para que o aluno modifique sua
preconcepção a fim de torná-lo um conhecimento científico (ARRUDA; VILLANI,
1994). Tal mudança pode ser observada claramente quando os grupos após a explicação
do residente optam por mudar o método de separação de misturas quando entendem sua
funcionalidade (Quadro 4).

Quadro 4 - Justificativas reformuladas para a resolução dos estudos de caso


EC Justificativa Resolução Grupos
Através da evaporação e posterior condensação da água Destilação
01 1e2
era possível separá-lo do sal. simples

A partir da dissolução da mistura em água seria Dissolução


02 possível “isolar” a areia. E com a posterior filtração, fracionada e 3e4
era possível ter somente a areia. filtração
A partir do conhecimento do método de decantação, os
03 grupos entenderam que seria a melhor opção para o Decantação 5e6
caso já que se tratava de uma mistura heterogênea.

Para a realização do segundo encontro, os alunos precisaram realizar uma


pesquisa quanto a funcionalidade do aparato original dos métodos de separação de
misturas que foram estudados. A troca de informações e o esclarecimento das dúvidas
ocorreu na escola e através de aplicativo de troca de mensagens e, para melhor orientá-
los, estive disposta a participar do momento de construção dos aparatos junto aos
grupos. No contraturno, com as devidas pesquisas feitas, os alunos levaram materiais
que pudessem ser utilizados na confecção do aparato, como: garrafa pet, latinha de
alumínio, algodão, mangueiras, tecidos etc. (Figura 2). Nesse momento foi possível
esclarecer dúvidas ainda existentes e identificar erros que de alguma forma pudessem
confundir ou distorcer o conhecimento do aluno e também prejudicar a funcionalidade
do aparato construído. Além de participar e colaborar atentamente de todo o processo de
construção e verificar se o objetivo da atividade estava sendo atingido.

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Figura 2 - Alunos confeccionando o método de separação de misturas

No terceiro encontro, os alunos levaram os aparatos construídos para


apresentação em sala de aula. E, notou-se que poucos grupos compareceram na
apresentação (Quadro 5).

Quadro 5 – Grupos presentes na apresentação


EC Método de separação abordado Quantidade de grupos
01 Destilação simples 2

02 Dissolução fracionada e filtração 2

03 Decantação 0

O grupo 1 – estudo de caso 1, participou do encontro de construção dos


materiais e apresentaram o trabalho com êxito. O grupo construiu um sistema de
destilação simples com materiais alternativo utilizando latinha de alumínio, garrafa pet e
mangueiras (Figura 3). Através da atividade experimental, o grupo pode investigar se o
aparato era realmente eficiente para que pudesse atender as necessidades do estudo de
caso trabalhado. O grupo explicou que a latinha de alumínio tinha como função aquecer
a mistura, água e sal, fazendo com que o vapor d’água seguisse pela mangueira e
condensasse ao entrar em contato com a água fria presente na garrafa pet, tendo como
produto final a água pura no estado líquido. Dessa forma, seria possível resolver a
problemática do estudo de caso em questão, na qual era necessário a água pura no
estado líquido. No momento da explicação do grupo, foi possível perceber que todos
participaram ativamente, contribuindo com o sucesso do grupo.

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O grupo 2 – estudo de caso 1, não presenciou o encontro para auxílio no
processo de construção dos materiais, porém foi o trabalho que mais surpreendeu,
devido à grande criatividade. O grupo utilizou garrafas pet, mangueira e papel alumínio
para compor o sistema de destilação simples (Figura 4). Para o funcionamento do
sistema, o grupo explicou que a garrafa envolta de alumínio deverá ficar exposta ao sol
e a outra garrafa deverá ficar na sombra, de modo que a mistura de água e sal presente
na garrafa com alumínio possa esquentar e o vapor d’água chegue a outra garrafa
através da mangueira e condense. Para o grupo, o sistema resolve o estudo de caso em
questão, mas seria um pouco demorado, uma vez que o sistema necessita do calor do sol
para o total funcionamento.

Figura 3 – Destilador simples (grupo 1) Figura 4 – Destilador simples (grupo 2)

O grupo 3 – estudo de caso 2 participou do encontro de construção dos materiais


e apresentou o seu filtro com êxito, porém de uma forma diferente. Ao utilizar um papel
de filtro, como teriam dito no encontro anterior, o grupo improvisou uma meia na
construção do filtro (Figura 5). A água presente na mistura se apresentou um pouco
barrenta e isso se deve a terra utilizada que poderia ter resíduos que se dissolveram na
água. De qualquer forma o resultado foi satisfatório, pois o importante é que o grupo
identificou a função de um filtro e improvisou da maneira que acharam necessário. Para
atender a resolução do estudo de caso, o grupo identificou que o método era eficiente
para que conseguisse a separação da mistura de sal e areia, tendo como resultado final
somente a areia que era o objetivo do caso.
O grupo 4 – estudo de caso 2, não participou do encontro de construção dos
aparatos, porém optaram por construir um filtro de forma mais tradicional, com a
utilização de pedras, carvão, algodão e terra (Figura 6). Ao questionar o grupo se o

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método era eficiente para a resolução do caso, o grupo indagou que sim, pois apesar do
processo demorado a água foi filtrada com êxito.
Entretanto, para a resolução do caso era necessário separar a areia presente na
mistura, porém ao realizar o experimento em sala, o grupo entendeu que o método não
era eficiente, uma vez que a areia ficava retida entre as pedras, carvão, algodão e terra,
tornando-a estar presente em uma mistura heterogênea novamente.

Figura 5 – Filtro simples (grupo 3) Figura 6 – Filtro simples (grupo 4)

Os grupos 5 e 6 referentes ao estudo de caso 3 não comparecerem ao encontro


no contraturno e também não procurou ajuda para tirar dúvidas quanto ao trabalho
proposto. O fato pode ser justificado, em partes, pelo grande número de alunos que
trabalham no período da tarde, dificultando o comparecimento o contraturno.
Para saber o quê e o quanto aprenderam, através da realização de monitorias
feitas durante o Programa de Residência Pedagógica pude avaliar todos os grupos
quanto ao conhecimento da temática e pode-se perceber o pouco envolvimento dos
grupos que não realizaram o trabalho comparado aos que concluíram, tendo por
consequência uma grande diferença na nota do bimestre.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através das atividades desenvolvidas, como o estudo de caso e produção de
materiais, que buscam fugir do modelo tradicional de aula, aguça a participação e
envolvimento da turma, de modo que a aula flui com mais leveza e dinamismo. Ainda

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que toda a turma não tenha realizado as atividades, isso pode ser justificado pelo atraso
e imprevistos que ocorreram ao longo do bimestre.
A utilização do estudo de caso com problemáticas e situações inseridas no
contexto social do aluno, possui um papel importante para que torne o conteúdo
interessante e mais realista, fazendo-o com que assuma o papel de protagonista da
situação. Desse modo, a metodologia propicia ao aluno a construção do próprio
conhecimento, dando-lhe apoio a tomadas de decisões de caráter sócio científico,
desenvolvendo no aluno autonomia e identidade própria.
Em relação às atividades experimentais, podemos afirmar que o processo de
construção do aparato experimental utilizando materiais alternativos conseguiu
estimular a criatividade dos alunos, fortalecendo o conhecimento da temática
trabalhada. Além de superar os problemas de infraestrutura e deficiência de laboratório
de ciências nas escolas, nos confirmando que é possível realizar atividades
experimentais sem aparatos específicos de laboratório.
É claro notar que a implementação do Programa de Residência Pedagógica no
CIEP 170 – Gregório Bezerra facilitou a aplicação das atividades planejadas, pois a
carga horária de aula de química durante o turno obrigatório é muito estreita e limita
diversas atividades propostas pelos residentes. Sendo assim, foi necessário a realização
das atividades no contraturno, de modo que para incentivar a presença dos alunos era
concedidos pontos extras por participação.
No mais, o Programa de Residência Pedagógica incentiva os licenciandos a lidar
com os desafios encontrados no caminho e transformar os contextos de atuação,
desenvolvendo propostas inovadoras nas escolas, criando um espaço de diálogo entre as
escolas-campo e a IES. As análises feitas pelo residente, preceptor e orientador,
possibilitam uma articulação mais rápida sobre as reflexões e decisões a respeito da
formação iniciada dos licenciandos, potencializando o objetivo principal do Programa.
Logo, se faz necessário um conhecimento prévio sobre a turma, analisando suas
limitações e potenciais para que se possa construir uma aula que alcance os alunos de
forma significativa. E mesmo com todo um planejamento pedagógico com
metodologias diferenciadas, durante o Programa ficou nítido que algumas atividades e
aulas nem sempre irão ocorrer conforme planejado, e que ao observar os resultados e
analisar que estes não estão sendo satisfatórios é preciso lembrar que a construção do

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saber é uma via de mão dupla. É preciso entender a dificuldade de compreensão do
aluno, mas também analisar o nosso papel enquanto futuros docentes.

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