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LIVRO LUCAS

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Classificação dos Resíduos de

Construção e Demolição (RCD) e


Potencialidades de Reciclagem ou
Reutilização em Obras de Edificação
na Região de Muro Alto.
a) Lucas Costa do Nascimento – Aluno de graduação do
curso de Engenharia Civil da UACSA,
lucas_cn2010@hotmail.com.

b) Simone Perruci Galvão – Professora Doutora pela


UFPE, em ciência dos materiais, professora do curso
de Engenharia Civil da UACSA.
Email:simone.galvao@ufrpe.br.

c) Vitor Carneiro Santana Aluno de graduação do curso de


Engenharia Civil da UACSA. Email:
vitorc_santana@hotmail.com.

d) Laelson Amorim- Aluno de graduação do curso de


Engenharia Civil da UACSA. Email:
laelson.amorim@hotmail.com.

1 INTRODUÇÃO

Os municípios do Brasil coletaram cerca de 123.721


toneladas/dia de resíduos de construção e demolição
(RCD), constatando que a construção civil é um dos
setores que mais geram resíduos no país (ABRELPE,
2015). No Brasil, os RCD constituem-se em elevadas
proporções da massa dos resíduos sólidos urbanos
variando em cerca de 51 a 70% do total. Essa grande
massa, quando mal gerenciada, degrada a qualidade da
vida urbana, sobrecarrega os serviços municipais de
limpeza pública e reforça no país a desigualdade social. A
grande geração de resíduo, aliado a sua disposição
inadequada, acarreta maiores gastos na coleta, transporte e
disposição final destes resíduos. Em uma construção, para
cada classe de resíduo gerado, diferentes podem ser as
formas de destinação.(MACAÉ, 2014)
Estes fatores levaram os órgãos ambientais a se
preocuparem com o gerenciamento de resíduos (entulhos e
metralhas) gerados no cotidiano das obras de construção
civil e a necessidade das construtoras se adequarem à
Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), instituída a
partir da Lei 12305 (2010), que prioriza a não geração,
redução, reutilização, reciclagem e tratamento dos
resíduos sólidos, bem como disposição final
ambientalmente adequada dos rejeitos, não
comprometendo assim o meio ambiente.
Os resíduos gerados em maiores proporções nas obras
são do tipo A, no qual se destacam entre estes: os pedaços
de telhas e tijolos, argamassas, concreto, entre outros.
Estes materiais, possuem um potencial muito grande de
reuso e reciclagem, podendo ser convertido em bens de
consumo para o próprio empreendimento, reduzindo-se os
custos de materiais como, por exemplo: areia, brita, entre
outros. A adequação à PNRS é cada vez mais
indispensável ao país, estado e município, além das
grandes construtoras.

1.1 Resíduos de construção e demolição

A partir da resolução CONAMA 307 (2002), o setor da


construção civil começa a integrar e implementar as
discussões a respeito do controle e da responsabilidade
pela destinação dos resíduos sólidos. E o meio científico
começa a propor soluções para o resíduo gerado nesta
importante indústria.
Os resíduos de construção e demolição são
classificados, em obra, de acordo com critérios
estabelecidos pela resolução CONAMA 307 (2002), em
seu artigo 3, conforme classificação abaixo.
“CLASSE A - São aqueles reutilizáveis
ou recicláveis como agregados, tais como:
a) de construção, demolição, reformas e
reparos de pavimentação e de outras obras
de infraestrutura, inclusive solos
provenientes de terraplanagem;
b) de construção, demolição, reformas e
reparos de edificações: materiais
cerâmicas (tijolos, azulejos, blocos,
telhas, placas de revestimento, etc)
argamassa e concreto.
c) de processo de fabricação e/ou
demolição de peças pré moldadas em
concreto (blocos, tubos, meios-fios etc..)
produzidos nos canteiros de obras.
CLASSE B - São os resíduos recicláveis
para outras destinações,Exemplo:
plásticos, papel, papelão, metais, vidros,
madeiras e outros;
CLASSE C - são os resíduos para os
quais não foram desenvolvidas
tecnologias ou aplicações
economicamente viáveis que permitam a
sua reciclagem/recuperação;
CLASSE D- Referem-se aos resíduos
perigosos resultantes do processo de
construção, exemplos: tintas, solventes,
óleos e outros, ou oriundos de
demolições, reformas e reparos de clínicas
radiológicas, instalações industriais e
outros.”
O consumo dos materiais naturais extraídos do meio
ambiente na indústria da construção civil e os resíduos
gerados por ela são grandes. De acordo com a Sinduscon-
MG (2014), o setor de construção civil cresceu na última
década cerca de 52,10%, propiciando grandes alterações e
interferências no que se refere ao equilíbrio do
ecossistema. Estes materiais adequadamente separados e
tratados apresentam potencialidades para reuso e
reciclagem, agregando valor financeiro e menos impacto
ambiental.

1.2 Aplicação dos resíduos da construção civil

Estudos realizados por Angulo, Zordan e Jonh (2001)


apontam para a reciclagem de RCD como uma solução
sustentável para a grande quantidade de entulhos gerados
por esta indústria. Hoje, a aplicação destes materiais como
produtos reciclagem começa a se estruturar.
Estudos estão sendo realizados ao longo dos anos a
partir de alguns resíduos, como: restos de argamassas,
concretos e elementos cerâmicos, materiais estes que após
triturados podem ser utilizados como agregados reciclados
reciclados (LEITE, 2001; MIRANDA, ANGULO,
CARELI, 2009.; ISAIA, 2011, apud GALVÃO, 2015),
além da pavimentação de baixo volume de tráfego
(MOTTA, 2005 apud GALVÃO, 2015) e para
pavimentação (HORTEGAL, 2009 apud GALVÃO, 2015),
entre outros fins.
Outras medidas podem ser realizadas como forma de
reduzir e combater a geração de resíduos, de acordo com
John e Agopyan (2003), destacam-se: mudança de
tecnologia para combater perdas, aperfeiçoamento e
flexibilidade de projeto, melhoria da qualidade de
construção, seleção adequada de materiais, capacitação de
recursos humanos, utilização de ferramentas adequadas,
etc.
Para outros materiais gerados em grande quantidades
na indústria da construção, como: madeira e gesso, outros
fins são observados. De acordo com Lopes, Pereira e
Hamaya (2013), cerca de 31% de resíduo de madeira é
gerado em um edifício residencial de médio porte. Neste
caso, algumas medidas são adotadas para evitar o descarte
no meio ambiente, entre estas, a doação para
empreendimentos que necessitem do resíduo como
matéria-prima ou fonte de energia, por exemplo: olarias,
restaurantes e fábricas alimentícias. Outra opção, é
reutilizar o resíduo para confecção de peças com várias
utilidades no canteiro de obras, como por exemplo:
suporte de capacetes, placas indicativas, etc.
Em relação ao gesso, de acordo com ASSOCIAÇÃO
BRASILEIRA DE CHAPAS DRYWALL (2009), alguns
métodos de reciclagem já avançaram de forma
significativa, em pelo menos três frentes de
reaproveitamento desse material: indústria cimentícia, no
setor agrícola e na indústria de transformação de gesso.
No caso das tintas, já se tem tem soluções
ambientalmente corretas de descarte, principalmente no
caso das tintas que apresentarem substâncias tóxicas. A
Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, no
ano de 2006, elaborou um guia técnico tratando acerca das
tintas, desde da composição até o descarte.
As lâmpadas utilizadas em diversos locais da obra
também precisam ter os devidos cuidados de descarte. Em
Recife, a empresa CTR Candeias recebe este material e dá
fins específicos ao mesmo, a patir de um processamento
prévio, não comprometendo o ambiente. A reciclagem
deste material, de acordo Machado (2013), pode acontecer
a partir do processo de separação centrífuga, entre outros,
nos quais as diversas frações: vidro, metal ou plástico e o
mercúrio são extraídas, voltando para o ciclo de produção.
Com o objetivo de quantificar e caracterizar os tipos de
resíduos de construção e demolição, oriundos de
edificações (construções verticais) na cidade de Ipojuca:
Muro Alto, e, posteriormente, estabelecer um uso
específico para reaproveitamento desses resíduos, foi
realizada uma pesquisa em campo, a partir de
questionários e da consulta aos PGRCC de 4 (quatro)
empresas, entre estas 1(uma) de médio porte e 3 (três)
grande porte, situadas nesta localidade.

2 METODOLOGIA

A pesquisa desenvolvida trata-se de uma pesquisa


exploratória, descritiva e quantitativa, realizada em
campo, entre os anos de 2015-2016. Foi feito um
questionário, formatado na ferramenta Google Forms
(Quadro 1) e este foi respondido pelo responsável da obra
analisada. Os dados alimentados na planilha foram
extraídos a partir do programa (planilha Excel),
identificando os principais tipos de resíduos gerados em
empresas de diferentes portes e em diferentes fases da
obra.
Quadro 1 – Estrutura do Questionário utilizado no levantamento de
dados (formato reduzido)
1. Qual o nome da empresa? c. Estrutura metálica
2. Qual o porte da empresa? d. Alvenaria Estrutural e. Outro
a. Pequeno 6. Qual a fase da Obra?
b. Médio 7. Quais são os resíduos gerados?
c. Grande a. Classe A b. Classe B c. Classe C
3. Qual o tipo de edificação? d. Classe D
a.Resort b.Conjunto habitacional 8. Quantidade média de resíduos
c. Hotel d.Edifício e. Outro (semanal)?
5. Qual o sistema estrutural da 12. Alguma empresa faz a coleta
obra? desses resíduos?
a. Concreto Armado 16. A empresa reutiliza algum resíduo
b. Construção Seca gerado?
Foram utilizados como parâmetros da identificação do
porte de empresas a classificação do Sebrae, de acordo
com o Quadro 2. Para a classificação do porte da obra ,
utilizou-se os parâmetros do Instituto Ambiental do
Paraná, Quadro 3.
Quadro 2 – Classificação do porte da empresa de acordo com o
número de pessoas ocupadas.
Porte da empresa Serviços e Comércio Indústria

Micro ATÉ 09 PESSOAS ATÉ 19 PESSOAS

Pequena DE 10 ATÉ 49 PESSOAS DE 20 ATÉ 99


PESSOAS

Média DE 50 ATÉ 99 PESSOAS DE 100 ATÉ 499


PESSOAS

Grande acima de 100 pessoas acima de 500


pessoas
Fonte: SEBRAE(2006)

Quadro 3 – Classificação do porte do empreendimento de acordo


com a área total construída, investimento total e número de
empregados.
Parâmetros
Porte do
empreendimento Área total Investimento Número de
construída (m²) total (UPF/PR) empregados

Pequeno Até 2.000 2.000 a 8.000 Até 50

Médio 2.000 a 10.000 8.000 a 80.000 50 a 100

80.000 a
Grande 10.000 a 40.000 100 a 1.000
800.000
Acima de Acima de
Excepcional Acima de 1.000
40.000 800.000
Fonte: Instituto Ambiental do Paraná – IAP (2010)
O estudo foi realizado em campo, em obras de
edificação localizadas em Muro Alto. Foram visitadas 4
(quatro) obras, de 4(quatro) empresas diferentes, sendo
uma pertencente a uma empresa de médio porte e três de
grande porte. A seleção das obras foi feita via análise em
campo e posterior contato com a empresa.
Os resultados obtidos após elaboração de questionários
e da pesquisa em campo foram comparados entre si,
levando-se em consideração a separação prévia do porte
da empresa, porte da edificação e fases da obra.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

De acordo com a Secretaria de Meio Ambiente da


Prefeitura de Ipojuca, a exigência do Programa de
Gerenciamento dos Resíduos da Construção Civil
(PGRCC) às construtoras, previamente a construção, ainda
é muito recente. Apenas em 2013, a Secretaria de Meio
Ambiente de Ipojuca passou a controlar e solicitar o
PGRCC, documento elaborado a fim de garantir todo o
controle, tipificação e destinação dos resíduos gerados em
obra. As medidas de controle ambiental referentes às obras
da construção civil são realizadas por órgãos como CPRH
e IBAMA.
Visando atender aos objetivos deste trabalho, a seguir
seguem as informações coletadas através desta pesquisa.

3.1. Empresa A - Empresa de grande porte

A obra visitada na época da pesquisa corresponde a um


resort de grande porte, na fase de elevação da estrutura:
bangalôs de luxo e o acabamento dos bangalôs já prontos,
além da piscina. O sistema construtivo adotado é o
tradicional. Todos os resíduos gerados, o planejamento de
seu acondicionamento em obra e futura destinação e
disposição final foram previamente descritas no PGRCC.
A empresa apresentou um controle de resíduos
satisfatório, com a devida separação e identificação em
baias (a depender da classe, como determina a resolução
CONAMA 302) e análise para potencialidade de reuso de
alguns deles.
Os principais resíduos gerados nesta obra e nesta fase,
foram os de classe A (restos de concreto, telhas quebradas,
etc) e classe B (gesso, madeira, etc). Os quantitativos de
cada material, de acordo com a classificação da resolução
CONAMA 307(2002), são referentes aqueles coletados no
ano de 2015, de acordo com análise mensal e são
demostrados na Figura 1, a seguir.

Resíduos Gerados (Kg)


3%
Metralha/Entulho
de Obra

29% Metralha/Entulho
de demolição

3% 65% Gesso

Outros

Figura 1-Resíduos gerados em obra (Fase estrutura, acabamento).

As metralhas e entulhos, são resíduos de classe A,


gerados a partir de restos de argamassas, tijolos, etc, e
representam 65% de todo o resíduo gerado nesta obra, no
período de análise. O gesso, resíduo de classe B, está na
segunda posição, correspondendo a 29% do total de
resíduo gerado (devido a fase de acabamento, que estava
sendo realizada na época da pesquisa). Outros tipos de
resíduo gerado na obra, em menor quantidade, são: os
sacos plásticos, papel, madeira, resíduos metálicos e
outros não recicláveis, correspondendo a 3% do total de
resíduos gerados. Estes são destinados para própria
fornecedora de argamassa, que tem por obrigação recolhê-
los.
As medidas adotadas pela empresa em relação ao
acondicionamento em obra, coleta e a destinação final são:
para o gesso e o concreto, a empresa acondiciona o
material em conteiners alugados, um para cada tipo de
resíduo A e B, contrata serviços de coletas e destinam o
material para aterros particulares. As madeiras da obra,
resíduos de classe B, após seu uso são geralmente
destinadas para outras obras (com uma análise prévia de
condições de uso), sendo assim reaproveitada e destinada
de forma sustentável. Outro uso constatado para os
resíduos de madeira, são as escoras reutilizadas na
fabricação dos bancos e divisas do refeitório, etc.
As acomodações dos resíduos são feitas em
contêineres, como mostra a Figura 2.

Figura 2 - Estoque do entulho de concreto e areia após a demolição


Nesta obra todo o solo (resíduo tipo A), material
resultante das escavações da piscina, foi reutilizado como
elemento de terraplanagem (medida que reduz gastos
referentes a transporte e destinação). Logo, não foi
contabilizado no total de resíduos gerados.
As metralhas também são doadas para pavimentação
das ruas que dão acesso à obra, visto que não são
pavimentadas e possivelmente em tempos de chuvas
dificulta o acesso. Esta doação precisa ser comprovada
para controle dos RCD, evitando serem destinadas de
qualquer forma no meio ambiente, ocasionando a
proliferação de vetores, como: ratos, baratas, etc.

3.2. Empresa B - Empresa de médio porte.

Trata-se da construção de um resort particular, com


sistema construtivo tradicional. Esta obra não possui
PGRCC e o destino dos resíduos gerados, nem sempre são
controlados. Os dados citados nesta pesquisa refere-se aos
informados pelo engenheiro responsável pela obra.
Os principais resíduos gerados nesta obra, na fase da
construção, foram: o gesso (resíduo classe B), terra
misturadas com resíduos de demolição (principalmente o
concreto) e argamassa de revestimento, resíduos classe A,
e sacos vazios de cimento e madeira, resíduos classe B.
De acordo com o responsável pela obra, parte dos
resíduos (classe A) gerados são doados a moradores para
aplicação em pavimentação e melhoria das ruas
circunvizinhas. Apesar da boa inciativa, não há nenhum
tipo de documentação que comprove o quantitativo de
terra doada e o seu destino. No caso da madeira, segue-se
a mesma lógica. O resíduo é doado para pizzarias e
restaurantes locais, mas sem um controle quantitativo e
documental do material doado. O gesso é armazenado em
conteine e posteriormente destinado a um aterro particular.
Como a empresa não possui PGRCC, não se tem
nenhum controle de quantitativo de resíduos que são
gerados em obras e o seu destino, como na Empresa A. A
partir análise prévia das empresas, via questionário, nota-
se que a Empresa A tem um maior controle dos resíduos
em relação a Empresa B.

3.3. Empresa C - Empresa de grande porte.

Este empreendimento trata-se da construção de um


resort, com o sistema construtivo de concreto armado. Os
principais resíduos gerados na obra, situação finalizada,
foram os de classe A (metralha, entulho) e os de classe B
(gesso, madeira e metal), conforme percentuais
demonstrados na Figura 3, O cálculo dos resíduos de
metralhas são feitos mediante a pesagem realizada pelas
empresas de coleta. Os resíduos de metralha/entulho da
obra, contabilizados no período da análise, correspondeu a
54% do total de resíduos, seguido do gesso (44%) ,e, por
fim, em percentuais inferiores a 2%, temos os demais
resíduos.

Resíduos Gerados
(Kg)
Metralha/Entu
2% lho de Obra
44% Gesso
55% Madeira,
Plástico,
Papel e Metal

Figura 3- Disposição percentuais dos diferentes tipos de resíduos


gerados pela empresa C, acumulados de julho a dezembro de 2015.
Com relação ao acondicionamento dos resíduos em
obra, observou-se que os mesmos eram destinados para
baias, em dois grupos: Os resíduos recicláveis-classe B
(plásticos, papéis e metal) e os resíduos de construção –
classe A (entulhos e metralhas).
No caso da madeira, a construtora contratou uma
empresa de coleta específica do material, quando este não
pudesse ser mais reutilizado dentro da obra. O reuso da
madeira pode ser feito de diversos modos dentro da obra,
entre estas: construção de divisórias e de placas de avisos,
bancos para área de convivência dos trabalhadores, etc.
Foi constatado através desta pesquisa que não se tinha
um controle total sobre todos os resíduos da obra.
Os resíduos gerados em obra, especialmente os de
classe A, poderiam ter sido reprocessados: moídos e
empregados como agregados miúdos para produção de
argamassas, agregado graúdo para produção de concreto
magro, camada sub-base para pavimentação, etc, iniciativa
que já ocorre em alguns canteiros de obras. As diversas
aplicabilidades de reutilização dos resíduos variam de
acordo com sua composição. A utilização de agregados
pode ser uma escolha viável, mediante uma análise prévia
do custo x benefício e análise das propriedades do material
final. A resistência a compressão de concretos elaborados
com a substituição de agregados miúdos por agregados
recicláveis, já aponta melhoria, de acordo com alguns
trabalhos desenvolvidos no meio científico, entre estes os
estudos realizados por por Cabral et. al. (2009).

3.4 Empresa D - Empresa de grande porte.

O Empreendimento consiste na construção de um


condomínio habitacional, com sistema construtivo
tradicional. De acordo com o engenheiro responsável pela
obra, a mesma possui o PGRCC, mas o documento não foi
apresentado.
O engenheiro da obra destacou que os principais
resíduos gerados até o momento da construção foram os
de classe A (sendo a maioria metralha), classe B (Plásticos
- oriundos de sacos de argamassa e cortes de tubos de
PVC, madeiras e isopor). Algumas latas de tintas (classe
D). Estas últimas, descartadas em baias de resíduos
metálicos e ainda em fase de implementação.
O sistema de gerenciamento dos resíduos pela
construtora é feito através da elaboração de planilhas que
controlam o quantitativo de resíduos gerados
mensalmente.
Os resíduos de metralha (classe A) produzidos na obra
foram todos reutilizados em camada de base (britada). O
resíduo foi triturado em obra, através de um reciclador de
entulho.
Os resíduos de metralha que não foram processados,
também não foram alocados em baias, propiciando um
amontoado de entulhos com restos de madeiras e sacos
plásticos. É importante frisar que em casos deste tipo,
existe uma probabilidade de geração de vetores neste
local, desorganização do canteiro de obras e um custo
adicional cobrado para a destinação dos resíduos
misturados.
Para os resíduos de isopor a construtora possui um
sistema de troca de peças antigas por novas, feito com a
fornecedora. As latas de tintas estão alocadas em área
específica, porém não estão nas baias de resíduos
perigosos, pelo fato desta está em fase de construção.
A partir das análises nas empresas pesquisadas,
percebe-se que as mesmas empregam o sistema
construtivo tradicional, onde os principais tipos de
resíduos gerados são os de classe A e B e em menores
percentuais os resíduos do tipo C e D. A maioria das obras
analisadas possuem o PGRCC, embora nem todas tenham
apresentado o documento. Verificou-se também, que é
uma prática constante se destinar os resíduos de classe A e
o gesso (Classe B) para aterros particulares, ao invés de
reutilizá-los em obra e com isto se obter um certo lucro.
Algumas construtoras já constataram que o reuso dos
materiais classe A após moagem e para empregos
diversos, são alternativas dentro do canteiro de obras, em
alguns casos gerando lucros. Como exemplo de uma
prática bem sucedida destaca-se o empreendimento
Reserva Camará. Através da análise socioambiental e
econômica dos RCD gerados em obra e provenientes da
demolição da estrutura existente, Coelho (2016) constatou
que estes materiais após reprocessados pelo processo de
britagem e reutilizados, entre outros fins, para material
para base de pavimentação, propiciou a redução de fluxo
de caminhões, consequentemente economia de litros de
combustível diesel e emissão de CO2, além de uma
economia direta na empresa de R$ 1.181.117, 56.
Observou-se, a partir dos dados da literatura que:
resíduos de tijolos, concretos, argamassa após moídos,
podem servir de matéria-prima para confecção de:
argamassas, concreto, pavimentações, desde que, suas
propriedades físicas e químicas sejam devidamente
analisadas (LEITE,2001;MIRANDA, ANGULO,CARELI,
2009.;ISAIA, 2011), trazendo retornos financeiros para
empresa.
De acordo com Machado (2013), o gesso pode ser
reutilizado desde que haja um avançado sistema de coleta,
triagem e reciclagem. Neste caso, os resíduos são
transportados até um local apropriado dentro dos polos
condutores, onde acontece uma nova triagem. Depois de
separados, seguem para a usina de reciclagem. O gesso
reciclado é introduzido então ao gesso natural em uma
mistura de pelo menos 30%, praticamente não alterando
em nada suas propriedades.
No caso das peças metálicas, podem ser reutilizadas na
produção de peças de suporte de materiais, confecção de
treliça para vergas, etc e ainda revendidas para algumas
empresas específicas.
No caso de elementos químicos, lâmpadas e baterias o
custo para reciclar estes materiais são altos e inviáveis
para ser aplicados em obras na construção civil. Logo,
devem ser destinados corretamente.
Nas empresas analisadas foi verificado que a
certificação ISSO 14001, influenciou positivamente nas
práticas referentes ao controle, acondicionamento e
destino dos RCD gerados em obra. Das empresas
analisadas, a única que não possuía a ISO 14001 foi a que
não tinha nenhum controle sobre os resíduos gerados.

4 – CONCLUSÃO

Através destes resultados, percebe-se que o RCD ainda


é um tema bastante preocupante em alguns municípios.
Em Ipojuca, os órgãos fiscalizadores municipais
começaram a intensificar a fiscalização e controle dos
resíduos gerados em obra da construção civil, desde 2013,
de acordo com entrevista realizada na secretaria de meio
ambiente da cidade.
A partir desta pesquisa constatou-se que das 4 obras
analisadas, nem todas as construtoras controlam e
destinam adequadamente o que é gerado em obra.
Algumas empresas já empregam procedimentos
adequados ao tratamento dos resíduos, dentro do canteiro,
e , suas destinações, permitindo um monitoramento total
de toda a cadeia dos resíduos, desde a produção à
destinação correta. Como é o caso da empresa D, que
possui um triturador em obra que reprocessa os resíduos
de classe A, transformando-os em agregado, a ser utilizado
como camada de base do pavimento da obra. Ao contrário,
a empresa de porte médio (Empresa B), ainda não possui
intensificada esta consciência ambiental e também
econômica resultante de práticas de reuso e reciclagem dos
materiais gerados no próprio canteiro.
Quanto à política de reuso e reciclagem, observam-se
algumas práticas dentro do canteiro, tais como: a
separação de alguns resíduos por baias e identificação das
mesmas, como determina o Plano Nacional de Resíduos
sólidos e a resolução CONAMA 307 (2002), reutilização,
enfim. Porém, é necessária uma visão mais ampla sobre
esta cultura, uma vez que os retornos financeiros também
são visíveis, principalmente porque sabe-se que os
principais resíduos gerados em obra são do tipo A,
passíveis de serem reutilizáveis e reciclados.

REFERÊNCIAS
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e a reciclagem de resíduos na construção Civil. 2001.
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http://www.abrelpe.org.br/Panorama/panorama2015.pdf. Acesso em:
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