Location via proxy:   [ UP ]  
[Report a bug]   [Manage cookies]                

Ocupação Ou Restituição

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 2

TRABALHO FINAL DA DISCIPLINA CENA E DRAMATURGIA 1

PROFESSOR: GILSON MOTTA


ESTUDANTE: NICA BURI
DRE: 118048380

OCUPAÇÃO OU
RESTITUIÇÃO

Parti do princípio da peça Medeia. Nela, a protagonista cujo nome dá título à obra se
vê substituída e menosprezada e pelo seu companheiro, homem pelo qual traiu seu pai e sua
terra. Nessa nova terra, Coríntios, Medeia é posta na forma de vilã, tudo que a define é visto
nesse novo mundo com um olhar misógino e opressor. De nada Medeia possui direito. E sua
situação não é muito diferente do restante da população feminina grega na época: as
mulheres, afinal, não eram consideradas cidadãs, seu papel consistia-se apenas no materno e
de esposa, portanto, procriador e limitador. Enquanto isso, o homem grego, além de usufruir
de uma democracia direta, era considerado ser pensante, filosófico, e aberto a explorar seu
corpo e sua sexualidade. Como ser pensante, o homem começou a escrever sobre as
mulheres, seus sentimentos e subjetividades, e a criar personagens e peças baseadas nessas
figuras, e a peça Medéia é um exemplo dessa construção. Por meio da catarse e do papel
social do teatro, o feminino representado pela personagem era absorvido pela audiência como
a representação exacerbada da ira feminina e de sua irracionalidade. Graças a essa criação,
feita também em conjunto com outras peças como Antígona e também a própria misoginia da
sociedade grega, fixa-se tais ideias como representações do feminino: sentimentos
exacerbados e maternidade; e fixa-se também a figura feminina no lugar de não sujeito, de
outro.
No meu trabalho, proponho uma inversão dessa dominância masculina e busco em
Medeia a inspiração para essa inversão. Na peça, a personagem é posta no lugar de
estrangeira, bruxa, assassina dos filhos, e graças a essas definições e as suas próprias atitudes,
acaba por ganhar o posto de vilã para o coro, de monstro. Venho trazer então esse lugar de
monstro, mas, enquanto na obra esse lugar é dado a personagem de forma passiva, no meu
trabalho a o reconhecimento dessa posição, e, logo, também há o pertencimento a essa
posição. A sociedade nos põe à margem, nos põe no lugar de vilãs, mas quem carrega
realmente o mal não somos nós, e sim eles. Por meio de um ensaio fotográfico, proponho a
tomada da cidade por essas seres monstros femininas. Chegamos para ocupar os prédios,
mudar suas estruturas com a nossa magia e materialidade. Decidimos por trair Jasão antes
que esse nos traia, mas o lugar de rainha de Coríntios nós recusamos, também viemos quebrar
esse título. Somos apenas mutantes. Monstras. Destruidoras da família, da racionalidade e do
eu greco-romano.

Referências:

LUSTOSA, Tertuliana - Manifesto Traveco-Terrorista


ARISTÓTELES - Arte Poética

Você também pode gostar