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Aula 01 - Direito Penal I PDF

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INTRODUÇÃO AO

DIREITO PENAL
Profa. Me. Saada Zouhair Daou
OBS: não se muda a realidade social por meio do
1. O QUE É O DIREITO PENAL? Direito Penal, embora o Direito Penal acompanhe
sempre as mudanças sociais, positivamente e
Controle social formal e informal negativamente.
- grupos próximos e grupos marginalizados;
- Controle social difuso/informal: meios de “O direito penal vem ao mundo (ou seja, é
massa, medicina, educação, etc. legislado) para cumprir funções concretas dentro
- Controle social formal/institucionalizado: de e para uma sociedade que concretamente se
não punitivo, punitivo e realmente punitivo. organizou de determinada maneira.” Nilo Batista

Conceito (formal) de Direito Penal: “O


2. Vingança divina, privada e vingança
Direito Penal é o conjunto de normas jurídicas
que preveem os crimes e lhes cominam
pública
sanções, bem como disciplinam a incidência e a
validade de tais normas, a estrutura geral do “O Direito penal brasileiro foi muito influenciado
crime e a aplicação e execução das sanções pelas lutas burguesas que culminaram na
cominadas”. Nilo Batista Revolução Francesa, passando a “se legitimar
como instrumento de defesa da sociedade civil,
Direito penal como termômetro: entre a frente a um estado (absolutista) que atuava
democracia e o autoritarismo. factual e normativamente com total
arbitrariedade e discricionariedade.” Emílio
Garcia Mendez.
d) Para Lola Aniyar de Castro: a função do
3. FINALIDADES direito de estruturar e garantir
a) Para Nilo Batista, o direito penal é determinada ordem econômica e social, à
disposto pelo Estado para a concreta qual estamos nos referindo, é
realização de certos fins; toca-lhe, habitualmente chamada de função
portanto, uma missão política, que os “conservadora” ou de “controle social”. O
autores costumam identificar, de modo controle social não passaria da
amplo, na garantia das “condições de predisposição de táticas, estratégias e
vida da sociedade”. forças para construção da hegemonia, ou
Problema: desejamos manter a sociedade do seja, a busca da legitimação ou para
jeito que é? assegurar o consenso; em sua falta, para
submissão forçada daqueles que não se
b) Para Damásio, a finalidade do Direito integram à ideologia dominante.
Penal é a de combater o crime.
Problema: o que é crime? OBSERVAÇÃO IMPORTANTE: Não aceite
fórmulas prontas com resignação. A(s)
c) Para Heleno Fragoso, é a de preservação finalidade(s) do Direito Penal estão em
dos interesses do indivíduo ou do corpo permanente disputa.
social.
4. Disciplinas interligadas - Direito da infância e da juventude
- Sociologia jurídica: o estudo aprofundado
das funções que o direito cumpre dentro de - Direito Administrativo
uma sociedade.
- Direito Internacional
- Criminologia: Numa acepção clássica, pode
ser definida como: “conjunto de - Direito Civil e Empresarial
conhecimentos que visa compreender o que
constitui o “crime” e o “criminoso”. 5. Sistema Penal: instituição policial,
- Criminologia crítica: por quê e para quem instituição judiciária e instituição
(em ambas as direções: contra quem, e em penitenciária.
favor de quem) se elaborou este código e
não outro.
Para Cirino dos Santos, o sistema
penal “constituído pelos aparelhos judicial,
- Direito Constitucional
policial e prisional, e operacionalizado nos
limites das matrizes legais”, pretende
- Direitos Humanos
afirmar-se como “sistema garantidor de uma
ordem social justa”, mas seu desempenho
- Direito penal militar e processual militar
real contradiz essa aparência.
6. Características do Direito Penal: ultima recomendações para a reforma ou
ratio, repressividade, seletividade e transformação da legislação criminal e dos
estigmatização. órgãos encarregados de sua aplicação. A
esse conjunto de princípios e recomendações
7. Fontes denomina-se política criminal.
7.1. Fonte formal imediata: A lei penal. A
legislação penal, no Brasil, advém da União na 9. Principais correntes contemporâneas: -
forma de lei ordinária. Movimento Lei e Ordem: Lei e Ordem,
7.2. Fontes formais mediatas: Rudolph Giuliani, 1993. Expressão máxima do
jurisprudência e doutrina. movimento lei e ordem: direito penal do
7.3. Fonte Informal: costumes. inimigo de Gunther Jakobs.
Garantismo Penal e Direitos Fundamentais:
8. Política criminal: Do incessante processo parte de uma noção de dir. penal mínimo e de
de mudança social, dos resultados que constitucionalização do direito penal. O
apresentem novas ou antigas propostas do princípio por excelência é o da intervenção
direito penal, das revelações empíricas mínima.
propiciadas pelo desempenho das instituições Abolicionismo Penal: a irracionalidade da
que integram o sistema penal, dos avanços e prisão. Resolver os conflitos penais em outras
das descobertas da criminologia, surgem searas, como o direito administrativo e civil.
princípios e
O processo de seleção surge desde o instante em
10. Correntes outrora influentes: que a lei penal é editada.
10.1. Escola Clássica
10.2. Escola Positiva 12. Compreendendo a estruturação do
Direito Penal e do Processo Penal
11. Criminalização Primária e - Teoria do Crime
Secundária: seletividade e - Teoria da Pena
fragmentariedade - Lei de execução penal
- Crimes em espécie
A criminalização primária é o processo através - Leis penais extravagantes
do qual o Estado seleciona determinados - Processo Penal
comportamentos existentes em nosso meio social,
em tese ofensivos a bens jurídicos, proibindo-os
ou impondo-os sob a ameaça de uma sanção de
natureza penal, mediante uma lei por ele
formalmente editada.

Uma vez em vigor a lei penal, quando


descumprida, surge a possibilidade de se levar a
efeito a chamada criminalização secundária,
oportunidade na qual o Estado fará valer o seu ius
puniendi, possibilitando a condenação do
transgressor.
PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL
OU

PRINCÍPIOS LIMITADORES DO PODER DE


PUNIR DO ESTADO
• O princípio da reserva legal no Brasil é uma
1. Definição cláusula pétrea.
Princípios são os valores fundamentais que
inspiram a criação e a aplicação do Direito Penal. A reserva legal garante a exclusividade da lei para
Os princípios antecedem as leis penais. criação de crimes e contravenções penais e
cominação de pena. O STF gosta de falar em
Finalidade: os princípios têm um papel de monopólio da lei.
orientação para o legislador e para o aplicar do
direito. Os princípios do Direito Penal são Fórmula latina de Feuerbach: Nullum crimen, nulla
limitadores do poder punitivo do Estado. poena sine lege

Existem princípios que já foram positivados pelo Origem histórica:


ordenamento jurídico e outros que não estão • Há quem acredite que o princípio surgiu em 1215
previstos em norma jurídica. na Magna Charta do Rei João Sem Terra.
• Outros antecedentes:
2. Princípios em espécie - O art. 9º da Declaração de Direitos da Virgínia (12
2.1. Princípio da reserva legal: não há crime de junho de 1776) afirmava que as leis com efeito
sem lei anterior que o defina, não há pena retroativo, feitas para punir delitos anteriores a
sem prévia cominação legal. Primeira parte sua existência, são opressivas e não devem ser
do art. 1º do CP e no art. 5º, inciso XXXIX da promulgadas.
CF/88 – eles têm inclusive a mesma redação. - O artigo VIII da Declaração dos Direitos do Homem
e do Cidadão (26 de agosto de 1789) prescrevia
que ninguém fosse punido senão
em virtude de uma lei estabelecida e - Funções
promulgada anteriormente ao crime (loi étaible Primeira: proibir a retroatividade da lei penal.
et promulguée anterieurment au délit).
Segunda: proibir a criação de crimes e penas pelo
- Parece que o primeiro corpo de leis penais a costume.
incluir o princípio foi a codificação de D. José II
da Áustria, de 1787. Terceira: proibir o emprego de analogia para criar
crimes, fundamentar ou agravar penas.
- Fundamentos:
1º) Fundamento jurídico: taxatividade, certeza ou OBS: Chama-se analogia o procedimento lógico
determinação. A lei penal deve descrever com pelo qual o espírito passa de uma enunciação
precisão o conteúdo mínimo da conduta singular a outra enunciação singular (tendo, pois,
criminosa. caráter de uma indução imperfeita ou parcial),
2º) Fundamento político: funciona como uma inferindo a segunda em virtude de sua
proteção do ser humano contra os arbítrios do semelhança com a primeira, no direito, teríamos
Estado. analogia quando o jurista atribuísse a um caso
3º) Fundamento popular: o STF fala na chamada que não dispõe de expressa solução legal a(s)
dimensão democrática do princípio da reserva regra(s) prevista(a) para um caso semelhante.
legal. Os crimes e as penas só podem ser
criados por lei, ou seja, por parlamentares, Quarta: proibir incriminações vagas e
eleitos democraticamente pelo povo indeterminadas.
2.4. Princípio da alteridade (Claus Roxin): não há
2.2. Princípio da legalidade
crime da conduta que prejudica somente quem
Ninguém será obrigado a fazer ou deixar
praticou. Ninguém pode ser punido por causar
de fazer senão em virtude de lei. Leia-se lei em
mal somente a si próprio.
sentido amplo, como por exemplo decreto.
Nesse sentido, critica-se o art. 28 da Lei
Legalidade Formal: a obediência aos trâmites
11.343/2006 – crime de posse de droga para
procedimentais previstos pela Constituição para
consumo pessoal.
que determinado diploma legal possa vir a fazer
parte de nosso ordenamento jurídico.
2.5. Princípio da proporcionalidade: atualmente,
fala-se em dupla face do princípio da
Legalidade Material: em um Estado Constitucional
proporcionalidade.
de Direito, deve ser obedecido o conteúdo
constitucional, respeitando-se suas proibições e
A primeira é a proibição do excesso: não se pode
imposições para a garantia de nossos direitos
punir mais do que o necessário para a proteção
fundamentais por ela previstos.
do bem jurídico. Ex: crime de falsificação de
medicamento – art. 273 do CP. A pena da
2.3. Princípio da anterioridade – art. 1º do CP e no
falsificação de cosméticos é crime com pena
art. 5º, inciso XXXIX da CF/88: a lei penal deve ser
mínima de 10 anos.
anterior ao fato cuja punição se destina.
OBS: não existe crime se o fato foi praticado
De outro lado, significa a proibição da punição
durante o período de vacatio legis. O respeito ao
insuficiente.
princípio da anterioridade reclama que a lei esteja
em vigor.
2.6. Princípio da intervenção mínima 2.6.2. Subprincípio da subsidiariedade: o dir.
Histórico: surge em 1789, na França. A partir da penal é a última fase/grau de proteção do bem
Declaração Universal dos Direitos do Homem e do jurídico. Ele só está legitimado a agir quando as
Cidadão. demais áreas não são suficientes para proteger
o bem jurídico. Ele é um “soldado de reserva”.
“A pena é um meio extremo, como tal é também a
guerra” Tobias Barreto. 2.7. Princípio da Ofensividade/Lesividade
Só há crime quando a conduta lesa ou
O Estado não deve recorrer ao direito penal e a sua oferece perigo de lesão o bem jurídico.
gravíssima sanção se existir a possibilidade de
garantir uma proteção suficiente com outros Bens jurídicos são os valores e interesses
instrumentos jurídicos não-penais. relevantes para a manutenção e o
desenvolvimento do indivíduo e da sociedade.
A pena como ultima ratio: “o direito penal só deve
intervir nos casos de ataques muito graves aos bens Desdobramentos:
jurídicos mais importantes, e as perturbações mais Primeiro: proibir a incriminação de uma atitude
leves da ordem jurídica são objeto de outros ramos interna.
do direito. Segundo: proibir a incriminação de uma
conduta que não exceda o âmbito do próprio
2.6.1. Subprincípio da fragmentariedade: Existem os autor. Os atos preparatórios para o
ilícitos em geral e os ilícitos penais. Só alguns cometimento de um crime cuja execução,
fragmentos são ilícitos de natureza penal. entretanto, não é iniciada (art. 14, inciso II, do
CP) não são punidos.
2.11. Princípio da insignificância ou
Terceiro: proibir a incriminação de simples estados princípio da criminalidade de bagatela
ou condições existenciais. Origem: surge inicialmente no Direito Romano –
Quarto: proibir a incriminação de condutas De minimus non curat praetor. Os juízes e
desviadas que não afetem qualquer bem jurídico. tribunais não devem se preocupar daquilo que é
mínimo, insignificante.
2.8. Princípio da exclusiva proteção do bem
jurídico: a tarefa do Dir. Penal é a proteção do bem Ele é trazido para o dir. penal na década de 1970
jurídico. Ele não se destina a proteger a religião ou por Claus Roxin. Para ele, o Dir. Penal não deve
a moral. se ocupar de condutas insignificantes, ou seja,
Exemplo: Até a década de 1980, o Direito Penal de condutas de lesar/colocar em perigo o bem
alemão criminalizava a homossexualidade. jurídico penalmente relevante.

2.9. Princípio do ne bis in iden: não se admite a Ele se baseia em questões de política criminal.
dupla punição para o mesmo fato.
Requisitos (extraídos da jurisprudência do STF):
2.10. Princípio da CULPABILIDADE ou da - Objetivos – que dizem respeito ao fato:
responsabilidade penal subjetiva: diz respeito ao a) Mínima ofensividade da conduta: é preciso
dolo ou à culpa. Alguém só pode ser analisar o quanto a conduta afeta o bem
responsabilizado penalmente se agiu com dolo ou jurídico.
culpa. Não se pode punir alguém em hipótese de b) Ausência de periculosidade social da ação
dolo ou culpa. Art. 19 do CP. Não se admite a - Subjetivos – que dizem respeito ao indivíduo e
responsabilidade penal objetiva. à vítima: o princípio da insignificância depende
da análise das condições pessoais do agente. A racionalidade da pena implica tenha ela um
- Não cabe o princípio da insignificância quando sentido compatível com o humano e suas
houver violência ou grave ameaça. cambiantes aspirações. A pena não pode, pois,
c) Reduzido grau de reprovabilidade do exaurir-se num rito de expiação e opróbio, não
comportamento: pode ser uma coerção puramente negativa.
d) Inexpressividade da lesão jurídica
Alcance: o princípio da insignificância é aplicável a 2.13. Princípio da pessoalidade das penas: a
todo crime que seja com ele compatível. Não há valor pena não pode ultrapassar a pessoa do
máximo. Contudo, por razões de seletividade penal, condenado.
muito diferem os valores do crime de furto e dos
crimes tributários que são tidos como insignificantes.

OBS: o princípio da insignificância pode ser valorado


pela autoridade policial?
STJ: NÃO. HC 154.949. Só pode ser aplicado pelo
juiz.

2.12. Princípio da humanidade: O princípio da


humanidade intervém da cominação, na aplicação e
na execução da pena, e neste último terreno tem
hoje, face à posição dominante da pena privativa de
liberdade, um campo de intervenção especialmente
importante.
QUESTÕES DE FIXAÇÃO

1. Os maus-tratos em face de animais 3. “O Brasil tem uma taxa de superlotação


estavam ocorrendo em quantidade carcerária de 166%. São 729.949 presos,
alarmante na cidade de Belém. Nesse sendo que existem vagas em presídios para
sentido, Zeca, deputado estadual, deu 437.912 pessoas. Os dados são do estudo do
início a projeto de lei para aumentar a pena “Sistema Prisional em números”, divulgado
do referido crime para 05 a 10 anos. A nesta terça-feira (21/8) pela comissão do
ação de Zeca está de acordo com os Ministério Público responsável por fazer o
princípios do Direito Penal? Explique. controle externo da atividade policial.
A situação mais crítica é na região Norte,
2. Orácio, senador, indignado com os onde a superlotação atingiu a taxa de 200%.
croppeds e mini-shorts utilizados pelas A região com a menor taxa é a Sul, com
jovens do Brasil, deu início a projeto de lei
130%. Os números são todos de 2018.
para obrigar as mulheres a utilizarem
Considerando apenas as mulheres presas, a
roupas que cubram , no mínimo , 70% de
seus corpos. O projeto de lei intentado por
situação fica menos grave. A superlotação
Orácio está de acordo com os princípios do fica em 109%. Ao todo são 35.176 mulheres
Direito Penal? Explique. presas no Brasil.
QUESTÕES DE FIXAÇÃO
4. Carlos e João eram muito amigos. Ocorre
Já considerando apenas homens, a taxa que, na semana passada, João viu Carlos aos
sobe para 170%. beijos com sua namorada, Marta. Desde
O levantamento também mostra o cenário então , estava se preparando para assassinar
da integridade física dos presos. Foram Carlos. Comprou inclusive cordas, facas e
1.424 presos mortos em presídios em 2018. diversos objetos com intuito de torturar seu
São Paulo corresponde a um terço disso: ex-amigo. Contudo , antes de colocar seu
495 mortes. plano em prática , acabou desabafando com
Fonte:https://www.conjur.com.br/2019-ago-22/brasil-
sua amiga , Amanda , que o amparou e lhe
lotacao-carceraria-166-15-mil-mortes-presidios mostrou que ele arruinaria a sua vida e
outras vidas cometendo este crime , bem
Quais conceitos e princípios como que ele estava melhor sem Carlos e
aprendidos nesta aula podem ser utilizados Marta em sua vida. Ele mudou de ideia e nada
para compreender a questão do fez , mas a polícia encontrou os referidos
superencarceramento nos presídios objetos em seu carro durante uma blitz
brasileiros? policial. João cometeu algum crime?
Justifique com base nos questionamentos
adquiridos nesta aula.

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