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Princípios Fundamentais Do Direito Penal

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Princípios Fundamentais do Direito Penal

Profa Ana Christina Penazzi

Após a segunda guerra mundial, houve uma sedimentação crescente do


constitucionalismo democrático, a embasar o Estado Democrático de Direito, nas
sociedades contemporâneas, e o direito penal, por reflexo, também passou a ter sua nova
faceta, através da construção de um perfil atento aos princípios constitucionais que
emanam da dignidade da pessoa humana, ostentada pela Declaração Universal dos
Direitos Humanos.

Neste viés, a antiga concepção jurídico-positivista do direito, oriunda do liberalismo


burguês, contemplada pelo avanço de ideias para conter o arbítrio do Estado
Absolutista, vem sendo flexibilizada no mundo atual, para dar espaço a uma visão mais
social, em que se exige do Estado um ordenamento jurídico também respaldado pelos
critérios construtivistas de justiça social.

De fato, a visão defensiva de que o valor da igualdade de todos perante a lei reside na
visão inflexível da contemplação da norma jurídica, sem qualquer adequação social, tem
sofrido modificações. A norma penal, portanto, em uma visão moderna, adequada ao
Estado Democrático de Direito, não é apenas a regra jurídica que formalmente descreve
um fato como infração penal, mas, ao contrário, é aquela que também se adequa ao
sentimento de justiça social, sob pena de colidir com a Constituição cidadã, que impõe
como meta ao Estado a construção de uma sociedade livre, justa e solidária.

Estes valores axiológicos, assim, devem nortear as normas penais, a partir da construção
principiológica em que o ponto fulcral de todo o ordenamento jurídico deve estar
assentado na dignidade humana. De forma que, o legislador deve ser orientado por tal
paradigma, no momento da construção do tipo penal, assim como o operador do direito
deve realizar a interpretação legal, buscando a finalidade teleológica deste axioma.

Com isso, pode-se afirmar que a norma penal, em um Estado Democrático de Direito,
não é somente aquela que formalmente o legislador descreve como crime, sem se
importar com o seu conteúdo de justiça social. Mas, ao contrário, sob pena de ser
declarado inconstitucional, o tipo penal deverá obrigatoriamente selecionar apenas os
comportamentos humanos que a sociedade entenda como relevantes e potencialmente
ofensivos para a vida em sociedade. Essa investigação ontológica da norma penal é
fundamental para lhe garantir, formal e materialmente, a sua validade, sob a esfera da
constitucionalidade.

Assim, os princípios constitucionais e as garantias individuais são verdadeiras


salvaguardas jurídicas contra o poder legiferante indiscriminado. E da dignidade
humana, partem o conjunto de princípios que norteiam o direito penal moderno,
proporcionando um controle qualitativo e adequado do ordenamento jurídico-penal
contra a ingerência da subversão dos valores fundamentais, segundo o esteio do Estado
Democrático de Direito.

Dentre os princípios penais, são eles os mais relevantes: princípio da legalidade (reserva
legal e anterioridade), princípio da insignificância, princípio da intervenção mínima,
princípio da fragmentariedade, princípio da proporcionalidade, princípio da alteridade.
Princípio da Legalidade: Consagrado no art. 5o, XXXIX, da CF e no art. 1o do CP, é
o princípio que norteia todo o nosso ordenamento penal. “Nullum crimen, nulla poena
sine praevia lege”, ou seja, “não há crime sem lei anterior que o define, nem pena sem
prévia cominação legal”.

Do princípio da legalidade, derivam o princípio da reserva legal (só existem crimes e


penas que sejam definidos por lei), e o princípio da anterioridade (para que haja crime, é
preciso que o fato tenha sido cometido depois da lei entrar em vigor, melhor dizendo, a
lei que define o crime e a pena precisa ser anterior ao fato).

Princípio da Insignificância: Também chamado de princípio da bagatela, é aquele que


consagra a orientação de que o direito penal somente deve se ocupar de fatos graves,
não sendo consideradas infrações penais condutas de pouca relevância social. Oriundo
do direito romano, este princípio foi introduzido no sistema penal por Claus Roxin,
tendo em vista a sua utilidade, do ponto de vista social, em consagrar a necessidade de
uma política criminal moderna, voltada apenas para comportamentos de significativa
periculosidade social, rechaçando aqueles de reduzida reprovabilidade.

O Supremo Tribunal Federal sedimentou o princípio da insignificância em quatro


pilares: 1. Ausência de periculosidade social; 2. Mínima ofensividade da conduta; 3.
Reduzida reprovabilidade do comportamento; 4. Ínfima lesão jurídica.

Princípio da Intervenção Mínima: Oriundo do período iluminista, parte da ideia de


que o Estado deve interferir minimamente na esfera privada. Assim, este princípio
consagra a ideia de que o Direito Penal deve ser utilizado como a ultima ratio, isto é,
último recurso a ser utilizado pelo Estado para proteger algum bem jurídico. Princípio
da Fragmentariedade: Deriva do princípio da intervenção mínima, e consagra a ideia de
que o direito penal não deve tutelar todas as lesões, mas somente aquelas de maior
gravidade, protegendo apenas um fragmento dos interesses jurídicos.

Princípio da Proporcionalidade: parte da ideia de que a criação de tipos


incriminadores deve ser uma atividade compensadora para a coletividade, ou seja, para
que haja a limitação da liberdade das pessoas, através da proibição de determinado
comportamento, esta proibição deve ter vantagem para os membros da sociedade (a
limitação social deve ser compensatória do ponto de vista do benefício à coletividade).

Princípio da Alteridade: Proíbe a incriminação de atitude meramente interna, subjetiva


do agente, que revela-se incapaz de lesionar o bem jurídico. “O fato típico pressupõe um
comportamento que transcenda a esfera individual do autor e seja capaz de atingir o
interesse do outro (altero).” (Fernando Capez).

Princípio da irretroatividade da lei penal mais severa: a lei penal não retroage, salvo
para beneficiar o réu. Assim temos: a lei posterior mais severa é irretroativa; a lei
posterior mais benéfica é retroativa; a lei anterior mais benéfica é ultra-ativa.

Princípio da responsabilidade subjetiva: Nenhum resultado oriundo do fato típico pode


ser atribuído a alguém que não o tenha produzido por dolo ou culpa. Afasta-se aqui a
chamada responsabilidade objetiva, pois qualquer indivíduo, para ser responsabilizado
por um crime deve ter sobre si a “culpabilidade” (agido com dolo ou culpa).

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