Aula Farmacologia Da Dor
Aula Farmacologia Da Dor
Aula Farmacologia Da Dor
Geralmente, a dor é vista no contexto da lesão do tecido. Um termo bastante utilizado para estudar a dor
é Nocicepção, que significa “sentido da dor”, proveniente da palavra latina nocere, “ferir”. Os estímulos
nociceptivos são objetivamente definidos como estímulos que causam, ou estão perto de causar, danos
aos tecidos.
Após um estímulo nociceptivo, o organismo ativa o reflexo de retirada, que você já vivenciou, por exemplo,
ao pisar em uma peça de LEGO, ou ao pegar no cabo de uma panela muito quente. Antes de perceber a
dor, você teve um reflexo de retirada do membro que está sofrendo o estímulo nociceptivo.
Os estímulos usados incluem a pressão de um objeto pontiagudo, forte corrente
elétrica na pele ou aplicação de calor ou frio aplicado à pele.
A dor Aguda é provocada por lesão aos tecidos do corpo e ativação de receptores
nociceptivos no local do dano. Geralmente, é de curta duração e tende a se resolver,
quando a causa da dor for resolvida.
O objetivo da dor aguda é servir como um sistema de alerta para os organismos. Ele
alerta a pessoa sobre a existência de dano ao tecido e solicita a busca de ajuda médica.
A dor Crônica pode continuar por anos e anos, sendo bastante variável.
A dor crônica pode ser implacável e extremamente grave, como na dor óssea metastática, ou relativamente
contínua, com ou sem períodos de intensificação, como ocorre com algumas formas de dor nas costas. A
dor crônica é uma das principais causas de invalidez para o indivíduo.
Ao contrário da dor aguda, geralmente a dor crônica persistente não tem função útil. Ao contrário, impõe
estresses fisiológicos, psicológicos, familiares e econômicos e pode exaurir os recursos de uma pessoa.
Em contraste com a dor aguda, as influências psicológicas e ambientais podem desempenhar um papel
importante no desenvolvimento de comportamentos associados à dor crônica.
Além disso, a perda de apetite, os distúrbios do sono e a depressão costumam estar associados à dor
crônica.
Ao contrário de outros receptores sensoriais, os Nociceptores respondem a várias formas de estimulação,
incluindo mecânica, térmica e química.
Os estímulos mecânicos podem surgir da pressão intensa aplicada à pele; da contração violenta ou
alongamento extremo de um músculo; ambos os extremos de calor e frio podem estimular os Nociceptores.
Os estímulos químicos surgem de várias fontes, incluindo trauma de tecido, isquemia e inflamação.
Dependendo do estímulo Nociceptivo, uma ampla gama de mediadores químicos é liberada de tecidos
feridos e inflamados, incluindo íons de hidrogênio e potássio, prostaglandinas, leucotrienos, histamina,
bradicinina, acetilcolina e serotonina.
Essa informação é muito relevante para entendermos o mecanismo de ação dos medicamentos que
estudaremos a seguir. Medicamentos como a Aspirina e outros anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs)
são eficazes no controle da dor, porque bloqueiam a enzima necessária para a síntese de prostaglandinas
Geralmente, uma lesão tecidual desencadeia a inflamação, a qual é uma resposta que visa eliminar a
causa inicial da lesão, remover o tecido danificado e gerar novo tecido, ou seja, a cicatrização.
A inflamação é mediada por uma série de células do Sistema Imune que consegue destruir
microrganismos invasores, digeri-los enzimaticamente, isolando ou neutralizando de outra forma os
agentes prejudiciais, como toxinas, agentes estranhos ou organismos infecciosos.
Esses processos preparam o cenário para os eventos que acabarão curando o tecido danificado.
Assim, a inflamação está intimamente ligada aos processos de reparo que substituem o tecido
danificado, ou preenchem os defeitos residuais com tecido cicatricial fibroso. Por isso, muitos dos
agentes utilizados para tratar a dor são considerados anti-inflamatórios, pois reduzirão os efeitos da
inflamação e, consequentemente, aliviarão a dor.
A COX-1 é uma “enzima constitutiva” que regula os processos celulares normais, como a citoproteção
gástrica, a homeostase vascular, a agregação plaquetária e as funções reprodutiva e renal.
Em contraste, temos a COX-2 (COX indutiva), a qual está presente nos locais de inflamação, produzindo
prostaglandinas (por exemplo, PGD2, PGE2, PGF2α e PGI2) que induzem a inflamação e potencializam os
efeitos da histamina e de outros mediadores inflamatórios.
A COX-1 e a COX-2 são duas formas da enzima ciclo-oxigenase (COX), que é alvo de ação dos
anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs):
COX-1: Uma enzima constitutiva, presente em muitos tecidos, que produz prostaglandinas (PGs)
necessárias para a modulação das funções gastrintestinais, renais e da homeostase vascular. A
inibição da COX-1 está associada a um aumento do risco de sangramentos e a danos no trato
gastrintestinal.
Os AINEs parcialmente seletivos para COX 2 são fármacos que possuem maior afinidade pela
COX 2, porém podem inibir também a COX 1. A nimesulida, o meloxicam e o etodolaco são
exemplos dessa categoria
O tratamento de pacientes com inflamação envolve dois objetivos primários:
Em primeiro lugar, aliviar os sintomas e preservar a função que, em geral, constituem as principais
queixas constantes do paciente;
Na sequência, iniciaremos o estudo dos fármacos utilizados para tratar dor e inflamação.
FÁRMACOS ANTI-INFLAMATÓRIOS NÃO ESTEROIDAIS
A seletividade para COX-1 versus COX-2 mostra-se variável e incompleta, no caso dos AINEs
mais antigos.
A classe dos AINEs inclui derivados: do Ácido Salicílico (Ácido Acetilsalicílico [AAS]); do
Ácido Propiônico (Ibuprofeno, Flurbiprofeno, Cetoprofeno e Naproxeno); do Ácido Acético
(Diclofenaco, Etodolaco, Indometacina e Cetorolaco); do Ácido Enólico (Meloxicam e
Piroxicam); de Fenamatos (Ácido Mefenâmico) e do Inibidor COX-2 Seletivo (Celecoxibe)
Os AINEs são usados no tratamento da Osteoartrite, da Gota e da Artrite Reumatoide (AR).
Estes fármacos também são usados para tratar condições comuns que requerem analgesia (por
exemplo, Cefaleia, Artralgia, Mialgia e Dismenorreia).
A associação de opioides com AINEs pode ser eficaz no tratamento da dor causada pelo câncer.
Além disso, AAS, Ibuprofeno e Naproxeno podem ser usados para combater a febre.
Doses baixas de AAS inibem a produção do Eicosanoide Tromboxano A2 (TXA2) mediada por COX-1,
reduzindo, assim, a vasoconstrição e a aglutinação de plaquetas mediada por TXA2 e o subsequente
risco de eventos cardiovasculares.
Medicamentos seletivos da COX – 2 podem causar efeitos adversos graves, são prescritos
apenas com receitas médicas!
Doses baixas de AAS são usadas profilaticamente para:
Fármacos que inibem a COX-1 diminuem os níveis benéficos destas PGs, resultando em
aumento da secreção de ácido gástrico, diminuição da proteção da mucosa e aumento
do risco de sangramento GI e ulcerações.
Fármacos com maior seletividade para a COX-1 podem ter maior risco de eventos GI,
se comparados àqueles com menor seletividade pela COX-1 (isto é, maior seletividade
pela COX-2).
A nefrotoxicidade que é relatada com todos os AINEs deve-se, em parte, à interferência na
autorregulação do fluxo sanguíneo renal, que é modulada pelas prostaglandinas.
Os AINEs previnem a síntese de PGE2 e PGI2, PGs responsáveis pela manutenção do fluxo
sanguíneo renal.
OBS: A prostaglandina E2 (PGE2) é uma molécula lipídica que atua em diversos tecidos e
processos biológicos, como a ovulação, a função renal, a pressão arterial, a inflamação, a
formação de trombos e a atividade neuronal.
Pacientes com histórico de insuficiência cardíaca ou doença renal estão sob maior risco.
Outro fármaco muito utilizado para dor e febre, mas que não é considerado um AINE é o Paracetamol.
Mas, por exercer menor efeito sobre as Cicloxigenases nos tecidos, ele apresenta fraca atividade anti-
inflamatória.
Este fármaco não afeta a função plaquetária nem aumenta o tempo de sangramento.
Em dosagens altas, pode ocorrer necrose hepática, uma condição muito grave e potencialmente fatal.
Os pacientes com doença hepática, hepatite viral ou história de alcoolismo correm mais riscos de
hepatotoxicidade induzida pelo Paracetamol, por isso deve ser evitado em pacientes com insuficiência
hepática grave.
O uso seguro é de, no máximo, 4.000 mg (4 g) por dia, ou seja, 8 comprimidos de 500 mg.
É importante ressaltar que há várias formas farmacêuticas que contém Paracetamol na sua composição, e que
esta dosagem pode ser facilmente atingida e até ultrapassada, levando ao risco de toxicidade grave.
Assim como o paracetamol, temos também a Dipirona.
Alguns autores consideram a dipirona como AINE, mas por ter baixa ação anti-inflamatória,
podemos considerar apenas como medicamento analgésico e antipirético.
É um dos medicamentos mais utilizados no Brasil, principalmente pelo seu efeito antipirético, mas é
interessante levar em consideração que os Estados Unidos proíbem seu uso, pelo risco de
Agranulocitose.
Há um consenso que os riscos atribuídos à sua utilização pela população brasileira são baixos, e que
os dados científicos disponíveis apontando a ocorrência destes riscos não são suficientes para
indicar uma alteração do status regulatório do fármaco.
AGRANULOCITOSE x DIPIRONA
Agranulocitose é o termo utilizado para definir uma redução total do número de granulócitos circulantes
no sangue periférico, tecnicamente, essa redução inclui neutrófilos, eosinófilos, basófilos e monócitos,
elementos que são de extrema importância contra agentes infecciosos.
A incidência de agranulocitose associada ao uso de dipirona varia de acordo com o país e com outros
fatores, como a dosagem e a duração do tratamento. Por exemplo, em Israel, o risco de desenvolver
agranulocitose é de 0,0007%, enquanto na Suécia a incidência é de 1 caso para cada 1.439 indivíduos que
tomaram o medicamento.
A dipirona é proibida em mais de 30 países, incluindo os Estados Unidos, Japão, Austrália e grande parte
da União Europeia. No entanto, no Brasil, o uso da dipirona é considerado seguro, mesmo que o efeito
colateral de agranulocitose possa ocorrer.
Pode haver outros mecanismos secundários para estes efeitos, que ainda não foram muito bem
esclarecidos.
Sempre consulte a bula profissional, ou artigos científicos, a fim de se aprofundar nas características
de cada fármaco.
O Cortisol (também denominado Hidrocortisona) exerce uma ampla variedade de efeitos fisiológicos,
incluindo regulação do metabolismo, função cardiovascular, crescimento e imunidade.
Os efeitos conhecidos dos Glicocorticoides são mediados, em sua maioria, por receptores nucleares
de Glicocorticoides amplamente distribuídos.
Entre 10% e 20% dos genes expressos em uma célula são regulados por eles.
Os efeitos dos Glicocorticoides ocorrem, principalmente, devido a proteínas sintetizadas a
partir do mRNA transcrito por seus genes-alvo.
Esta propriedade resulta de seus efeitos profundos na concentração, na distribuição e na função dos
leucócitos periféricos, que são as células de defesa do Sistema Imune, bem como de seus efeitos
supressores dos mediadores inflamatórios.
Estes eventos são mediados por uma complexa série de interações de moléculas de adesão dos
leucócitos com aquelas que se encontram nas células endoteliais, as quais são inibidas pelos
Glicocorticoides.
Além de seus efeitos na função dos leucócitos, os Glicocorticoides influenciam a resposta inflamatória, ao
inibir a síntese de Ácido Araquidônico, o precursor das Prostaglandinas e Leucotrienos.
A principal ação sobre o processo inflamatório é inibir a Enzima Fosfolipase A2, que produz o Ácido
Araquidônico. Como resultado da sua atividade, há menor produção de Ácido Araquidônico e,
consequentemente, há menos substrato para as enzimas COX, além de menor quantidade de produção
de prostaglandinas.
Consequentemente, ocorre a diminuição do acúmulo e função de células linfocitárias que participam das
reações inflamatórias e imunes. E, devido a estes últimos efeitos, alguns Glicocorticoides podem ser
classificados como Imunossupressores.
Os Glicocorticoides exercem importantes efeitos sobre o metabolismo dos carboidratos, das proteínas e
dos lipídeos, sendo responsáveis por alguns dos efeitos colaterais graves, associados ao uso destes
hormônios em doses terapêuticas.
Os Glicocorticoides estimulam a Gliconeogênese e a síntese de Glicogênio em jejum.
Eles aumentam os níveis séricos de glicose e, portanto, estimulam a liberação de insulina, inibindo a
captação de glicose pelas células musculares, ao mesmo tempo em que estimulam a lípase sensível ao
hormônio e, portanto, a lipólise.
Os resultados dessas ações são mais evidentes em jejum, quando o suprimento de glicose a partir da
gliconeogênese, a liberação de aminoácidos pelo metabolismo muscular, a inibição da captação periférica
de glicose e a estimulação da lipólise contribuem, todos eles, para a manutenção de um suprimento
adequado de glicose para o cérebro.
Além disso, os Glicocorticoides provocam redução da massa muscular e fraqueza e adelgaçamento da pele.
Os efeitos catabólicos e antianabólicos no osso constituem a causa da Osteoporose na Síndrome de
Cushing e representam uma importante limitação no uso terapêutico destes hormônios em longo prazo.
Entre as doenças inflamatórias, as aplicações mais típicas incluem: Asma, Rinite Alérgica, Dermatite Atópica,
Artrite Reumatoide, Doença Inflamatória Intestinal e Conjuntivite.
Podem ser utilizados, também, no caso da Doença de Addison, Doença de Hodgkin, Leucemia Linfocítica e
Tumores Cerebrais Metastáticos ou Primários.
Entre os Glicocorticoides mais utilizados sistemicamente, estão: Hidrocortisona, Prednisolona, Betametasoa
e Dexametasona.
Todos estes fármacos possuem uma biodisponibilidade oral boa, são metabolizados no fígado e têm seus
metabólitos excretados pelo rim. Entretanto, o uso oral dos Glicocorticoides de forma crônica deve ser
evitado, uma vez que induz a diversos efeitos colaterais sistêmicos severos que vimos anteriormente.
Para evitar os efeitos adversos sistêmicos, opta-
se pelo uso local destes medicamentos.
Vimos anteriormente a classe de analgésicos mais utilizada na clínica, principalmente para dores leves a
moderadas, que são os AINEs.
Por serem considerados medicamentos com baixo risco de eventos adversos para os pacientes, são
medicamentos de escolha para tratar diversas condições de dor, principalmente desencadeada por processo
inflamatório, além de serem úteis para febre e inflamação.
Os Glicocorticoides, medicamentos que atuam em nível hormonal, são indicados para casos mais graves de
doenças inflamatórias, como doenças autoimunes.
Mas, quando o paciente sofre de uma dor intensa, geralmente após cirurgia, ou dor associada ao câncer, um
AINE não é capaz de aliviar a dor do paciente.
O tratamento bem-sucedido da dor representa um desafio, que começa com uma cuidadosa avaliação da
origem e magnitude da dor. Para um paciente com dor intensa, a administração de um analgésico opioide é
geralmente considerada como parte essencial do tratamento.
Os Opioides são medicamentos que atuam em nível central, ou seja, bloqueiam a transmissão do sinal
doloroso para ser interpretado pelo cérebro.
De modo geral, os Agonistas Opioides produzem analgesia por meio de sua ligação a receptores
específicos acoplados à proteína G, que se localizam no cérebro e em regiões da medula espinal
envolvidas na transmissão e na modulação da dor. Os receptores são conhecidos como μ (mi), κ (kappa)
e δ (delta).
Os medicamentos Opioides mais conhecidos são: Morfina, Metadona, Fentanila, Codeína, Oxicodona,
entre outros.
Eles atuam principalmente em receptores do tipo μ. Além da analgesia, os opioides também apresentam
ação euforizante, que é uma sensação flutuante agradável, com redução da ansiedade e do desconforto,
mas pode causar depressão respiratória, ao inibirem os mecanismos respiratórios do tronco encefálico e
dependência física.
Com a administração frequente e repetida de doses terapêuticas de Opioides, observa-se uma
perdagradual da eficiência, a qual é denominada de tolerância.
Para reproduzir a resposta original, é necessária a administração de uma dose mais alta.
Já a dependência física é definida por uma Síndrome de Abstinência característica de quando o fármaco é
interrompido. E é justamente esta dependência física que constitui o principal problema do uso dos
Opioides.
Os sinais e sintomas de abstinência consistem em: rinorreia, lacrimejamento, bocejos, calafrios, arrepios
(piloereção), hiperventilação, hipertermia, midríase, dores musculares, vômitos, diarreia, ansiedade e
hostilidade.
Codeína, em particular, tem sido utilizada em indivíduos acometidos de tosse patológica. Todavia, a
supressão da tosse pelos Opioides pode propiciar o acúmulo de secreções e, assim, resultar em
obstrução das vias respiratórias.
Os Opioides são, com frequência, usados como pré-medicação antes da anestesia e cirurgia, por conta
de suas propriedades sedativas, ansiolíticas e analgésicas.
São também utilizados no período intraoperatório, como adjuvantes de outros anestésicos e, em altas
doses, como principal componente do esquema anestésico.
A farmacologia dos antiinflamatórios não esteroidais, ou AINEs, é ampla ediversificada, mas sua
função pode ser resumida de forma bastante precisa.
Por esse motivo, os AINEs são usados em condições como cefaleia e enxaqueca, condições
artríticas inflamatórias (espondilite anquilosante, artrite psoriática), dor pós-operatória, dor nas
costas e gota - entre muitos outros.