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Aula Farmacologia Da Dor

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Farmacologia

Prof Dra. Aline Dal Conti Lampert


Farmacologia e Fisiopatologia da dor

A dor é uma experiência sensorial e emocional desagradável, associada a danos reais ou


potenciais aos tecidos. O sofrimento causado pela dor é mais fortemente influenciado
pela reação a ela do que pela intensidade real.
Compreenderemos que o mesmo estímulo talvez possa causar mais ou menos dor em
pessoas diferentes, pois cada um sente de uma maneira. Ansiedade, cultura, sexo,
idade, experiências anteriores e expectativas sobre o alívio da dor podem influenciar a
reação da pessoa a ela. A dor envolve estruturas anatômicas e comportamentos
fisiológicos, bem como fatores psicológicos, sociais, culturais e cognitivos.

De qualquer maneira, a dor é um mecanismo de defesa para os organismos vivos, já que


nosso corpo reconhece a dor como consequência de um dano que pode colocar nossa
vida em risco.
FISIOPATOLOGIA DA DOR E INFLAMAÇÃO

Geralmente, a dor é vista no contexto da lesão do tecido. Um termo bastante utilizado para estudar a dor
é Nocicepção, que significa “sentido da dor”, proveniente da palavra latina nocere, “ferir”. Os estímulos
nociceptivos são objetivamente definidos como estímulos que causam, ou estão perto de causar, danos
aos tecidos.

Após um estímulo nociceptivo, o organismo ativa o reflexo de retirada, que você já vivenciou, por exemplo,
ao pisar em uma peça de LEGO, ou ao pegar no cabo de uma panela muito quente. Antes de perceber a
dor, você teve um reflexo de retirada do membro que está sofrendo o estímulo nociceptivo.
Os estímulos usados incluem a pressão de um objeto pontiagudo, forte corrente
elétrica na pele ou aplicação de calor ou frio aplicado à pele.

Em níveis baixos de intensidade, estes estímulos nocivos ativam os Nociceptores


(receptores de dor), porém são percebidos como dolorosos, apenas quando a
intensidade atinge um nível em que ocorre dano ao tecido ou é iminente.

A lesão tecidual leva à liberação de mediadores inflamatórios com subsequente


estimulação do nociceptor. Os impulsos de dor são então transmitidos para o corno
dorsal da medula espinhal, onde encontram neurônios de segunda ordem que
cruzam para o lado oposto da medula e ascendem pelo trato espinotalâmico até o
sistema ativador reticular e o tálamo.

A localização e o significado da dor ocorrem no nível do Córtex Somatossensorial


Mecanismo de percepção de
dor, após uma lesão tecidual.
A classificação de dor mais aceita é de acordo com sua duração, mas é importante que
possamos diferenciar a dor Aguda da dor Crônica. O diagnóstico e a terapia de cada uma
são distintos, porque diferem em causa, função, mecanismos e sequelas psicológicas.

A dor Aguda é provocada por lesão aos tecidos do corpo e ativação de receptores
nociceptivos no local do dano. Geralmente, é de curta duração e tende a se resolver,
quando a causa da dor for resolvida.

O objetivo da dor aguda é servir como um sistema de alerta para os organismos. Ele
alerta a pessoa sobre a existência de dano ao tecido e solicita a busca de ajuda médica.

Geralmente, conseguimos dizer com precisão a localização, radiação, intensidade e


duração da dor, bem como os fatores que a agravam ou aliviam, fornecendo pistas para
seu diagnóstico e tratamento.
A dor Crônica é aquela que persiste por mais tempo do que se poderia razoavelmente esperar, após um
evento desencadeante. Além disso, é mantida por fatores patológicos e fisicamente distantes da causa
originária.

A dor Crônica pode continuar por anos e anos, sendo bastante variável.

A dor crônica pode ser implacável e extremamente grave, como na dor óssea metastática, ou relativamente
contínua, com ou sem períodos de intensificação, como ocorre com algumas formas de dor nas costas. A
dor crônica é uma das principais causas de invalidez para o indivíduo.

Ao contrário da dor aguda, geralmente a dor crônica persistente não tem função útil. Ao contrário, impõe
estresses fisiológicos, psicológicos, familiares e econômicos e pode exaurir os recursos de uma pessoa.

Em contraste com a dor aguda, as influências psicológicas e ambientais podem desempenhar um papel
importante no desenvolvimento de comportamentos associados à dor crônica.

Além disso, a perda de apetite, os distúrbios do sono e a depressão costumam estar associados à dor
crônica.
Ao contrário de outros receptores sensoriais, os Nociceptores respondem a várias formas de estimulação,
incluindo mecânica, térmica e química.

Os estímulos mecânicos podem surgir da pressão intensa aplicada à pele; da contração violenta ou
alongamento extremo de um músculo; ambos os extremos de calor e frio podem estimular os Nociceptores.
Os estímulos químicos surgem de várias fontes, incluindo trauma de tecido, isquemia e inflamação.

Dependendo do estímulo Nociceptivo, uma ampla gama de mediadores químicos é liberada de tecidos
feridos e inflamados, incluindo íons de hidrogênio e potássio, prostaglandinas, leucotrienos, histamina,
bradicinina, acetilcolina e serotonina.

Essa informação é muito relevante para entendermos o mecanismo de ação dos medicamentos que
estudaremos a seguir. Medicamentos como a Aspirina e outros anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs)
são eficazes no controle da dor, porque bloqueiam a enzima necessária para a síntese de prostaglandinas
Geralmente, uma lesão tecidual desencadeia a inflamação, a qual é uma resposta que visa eliminar a
causa inicial da lesão, remover o tecido danificado e gerar novo tecido, ou seja, a cicatrização.

A inflamação é mediada por uma série de células do Sistema Imune que consegue destruir
microrganismos invasores, digeri-los enzimaticamente, isolando ou neutralizando de outra forma os
agentes prejudiciais, como toxinas, agentes estranhos ou organismos infecciosos.

Esses processos preparam o cenário para os eventos que acabarão curando o tecido danificado.

Assim, a inflamação está intimamente ligada aos processos de reparo que substituem o tecido
danificado, ou preenchem os defeitos residuais com tecido cicatricial fibroso. Por isso, muitos dos
agentes utilizados para tratar a dor são considerados anti-inflamatórios, pois reduzirão os efeitos da
inflamação e, consequentemente, aliviarão a dor.

Para entendermos o princípio farmacológico dos agentes anti-inflamatórios, é importante entender o


mecanismo fisiopatológico da lesão tecidual que leva aos eventos inflamatórios
Primeiramente, quando uma membrana é
rompida, o Ácido Araquidônico, um fosfolipídeo
de membrana celular, é exposto.

A liberação de Ácido Araquidônico inicia uma


série de reações complexas que levam à
produção dos mediadores inflamatórios da
família dos Eicosanoides (Prostaglandinas,
Prostaciclinas, Tromboxano e Leucotrienos).

A síntese de Eicosanoides segue uma de duas


vias: a Via da Cicloxigenase (COX), que culmina
na síntese das prostaglandinas, e a Via da
Lipoxigenase (LIX) , que culmina na síntese dos
Leucotrienos.
Através da via metabólica da COX, muitas prostaglandinas são sintetizadas a partir do ácido araquidônico.

Temos duas enzimas COX relevantes no nosso organismo:

A COX-1 é uma “enzima constitutiva” que regula os processos celulares normais, como a citoproteção
gástrica, a homeostase vascular, a agregação plaquetária e as funções reprodutiva e renal.

Em contraste, temos a COX-2 (COX indutiva), a qual está presente nos locais de inflamação, produzindo
prostaglandinas (por exemplo, PGD2, PGE2, PGF2α e PGI2) que induzem a inflamação e potencializam os
efeitos da histamina e de outros mediadores inflamatórios.
A COX-1 e a COX-2 são duas formas da enzima ciclo-oxigenase (COX), que é alvo de ação dos
anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs):

COX-1: Uma enzima constitutiva, presente em muitos tecidos, que produz prostaglandinas (PGs)
necessárias para a modulação das funções gastrintestinais, renais e da homeostase vascular. A
inibição da COX-1 está associada a um aumento do risco de sangramentos e a danos no trato
gastrintestinal.

COX-2: Uma enzima presente principalmente no cérebro e medula espinhal.

A maioria dos AINEs diminui a produção de prostaglandinas bloqueando as enzimas COX-1 e


COX-2. Um tipo de AINE, os coxibes (inibidores de COX-2), tendem a bloquear principalmente
enzimas COX-2.

Os AINEs parcialmente seletivos para COX 2 são fármacos que possuem maior afinidade pela
COX 2, porém podem inibir também a COX 1. A nimesulida, o meloxicam e o etodolaco são
exemplos dessa categoria
O tratamento de pacientes com inflamação envolve dois objetivos primários:

Em primeiro lugar, aliviar os sintomas e preservar a função que, em geral, constituem as principais
queixas constantes do paciente;

Em segundo lugar, retardar ou deter o processo responsável pela lesão tecidual.

Na sequência, iniciaremos o estudo dos fármacos utilizados para tratar dor e inflamação.
FÁRMACOS ANTI-INFLAMATÓRIOS NÃO ESTEROIDAIS

Os Anti-inflamatórios Não Esteroidais (AINEs) são utilizados no tratamento de


diversas doenças, compartilhando a capacidade de suprimir os sinais e os
sintomas da inflamação, incluindo dor.

Estes fármacos também exercem efeitos antipiréticos, ou seja, reduzem a febre.

Portanto, sempre classificamos os AINEs como medicamentos com efeitos:


analgésico, anti-inflamatório e antipirético.

Como o Ácido Acetilsalicílico (Aspirina), que é o AINE original, apresenta diversos


efeitos adversos, foram desenvolvidos muitos outros AINEs, na tentativa de
aumentar sua eficácia e diminuir sua toxicidade.
Os AINEs atuam, inibindo a produção de prostaglandinas, principalmente pelo bloqueio das
COX.

A seletividade para COX-1 versus COX-2 mostra-se variável e incompleta, no caso dos AINEs
mais antigos.

Por isso, foram sintetizados inibidores seletivos da COX-2 (coxibes).

Todos os AINEs mais recentes são, em graus variáveis, analgésicos, anti-inflamatórios e


antipiréticos, e todos (à exceção dos agentes seletivos da COX-2) inibem a agregação
plaquetária.

A classe dos AINEs inclui derivados: do Ácido Salicílico (Ácido Acetilsalicílico [AAS]); do
Ácido Propiônico (Ibuprofeno, Flurbiprofeno, Cetoprofeno e Naproxeno); do Ácido Acético
(Diclofenaco, Etodolaco, Indometacina e Cetorolaco); do Ácido Enólico (Meloxicam e
Piroxicam); de Fenamatos (Ácido Mefenâmico) e do Inibidor COX-2 Seletivo (Celecoxibe)
Os AINEs são usados no tratamento da Osteoartrite, da Gota e da Artrite Reumatoide (AR).

Estes fármacos também são usados para tratar condições comuns que requerem analgesia (por
exemplo, Cefaleia, Artralgia, Mialgia e Dismenorreia).

A associação de opioides com AINEs pode ser eficaz no tratamento da dor causada pelo câncer.

Além disso, AAS, Ibuprofeno e Naproxeno podem ser usados para combater a febre.

O AAS é usado para inibir a aglutinação plaquetária.

Doses baixas de AAS inibem a produção do Eicosanoide Tromboxano A2 (TXA2) mediada por COX-1,
reduzindo, assim, a vasoconstrição e a aglutinação de plaquetas mediada por TXA2 e o subsequente
risco de eventos cardiovasculares.
Medicamentos seletivos da COX – 2 podem causar efeitos adversos graves, são prescritos
apenas com receitas médicas!
Doses baixas de AAS são usadas profilaticamente para:

1. Reduzir o risco de eventos cardiovasculares recorrentes e/ou morte em pacientes


com Insuficiência Cardíaca (IC) Prévia ou Angina de Peito Instável;

2. Reduzir o risco de ataques isquêmicos transitórios recorrentes ou acidente vascular


cerebral;

3. Reduzir o risco de eventos cardiovasculares ou morte em pacientes de alto risco,


como aqueles com Angina Estável Crônica ou Diabetes.
Os efeitos adversos mais comuns dos AINEs são relacionados ao Trato Gastrointestinal
(TGI), variando desde dispepsia até sangramento por ulceração.

Normalmente, a produção da Prostaglandina PGI2 inibe a secreção de ácido gástrico,


enquanto a PGE2 e a PGF2α estimulam a síntese de muco protetor no estômago e no
intestino delgado.

Fármacos que inibem a COX-1 diminuem os níveis benéficos destas PGs, resultando em
aumento da secreção de ácido gástrico, diminuição da proteção da mucosa e aumento
do risco de sangramento GI e ulcerações.

Fármacos com maior seletividade para a COX-1 podem ter maior risco de eventos GI,
se comparados àqueles com menor seletividade pela COX-1 (isto é, maior seletividade
pela COX-2).
A nefrotoxicidade que é relatada com todos os AINEs deve-se, em parte, à interferência na
autorregulação do fluxo sanguíneo renal, que é modulada pelas prostaglandinas.

Os AINEs previnem a síntese de PGE2 e PGI2, PGs responsáveis pela manutenção do fluxo
sanguíneo renal.

A diminuição da síntese de PGs pode resultar na retenção de sódio e água e,


consequentemente, causar edema em alguns pacientes.

OBS: A prostaglandina E2 (PGE2) é uma molécula lipídica que atua em diversos tecidos e
processos biológicos, como a ovulação, a função renal, a pressão arterial, a inflamação, a
formação de trombos e a atividade neuronal.
Pacientes com histórico de insuficiência cardíaca ou doença renal estão sob maior risco.

Estes efeitos também podem diminuir o efeito benéfico dos anti-hipertensivos.

Outro fármaco muito utilizado para dor e febre, mas que não é considerado um AINE é o Paracetamol.

Ele apresenta propriedades analgésicas e antipiréticas.

Mas, por exercer menor efeito sobre as Cicloxigenases nos tecidos, ele apresenta fraca atividade anti-
inflamatória.

Este fármaco não afeta a função plaquetária nem aumenta o tempo de sangramento.

O Paracetamol é um substituto adequado para os efeitos analgésicos e antipiréticos dos AINEs em


pacientes com problemas ou riscos gástricos, nos quais o prolongamento do tempo de sangramento não
é desejável, e naqueles que não necessitam da ação anti-inflamatória dos AINEs.
Em dosagens terapêuticas normais, o Paracetamol é praticamente livre de efeitos adversos significativos.

Em dosagens altas, pode ocorrer necrose hepática, uma condição muito grave e potencialmente fatal.

Os pacientes com doença hepática, hepatite viral ou história de alcoolismo correm mais riscos de
hepatotoxicidade induzida pelo Paracetamol, por isso deve ser evitado em pacientes com insuficiência
hepática grave.

O uso seguro é de, no máximo, 4.000 mg (4 g) por dia, ou seja, 8 comprimidos de 500 mg.

É importante ressaltar que há várias formas farmacêuticas que contém Paracetamol na sua composição, e que
esta dosagem pode ser facilmente atingida e até ultrapassada, levando ao risco de toxicidade grave.
Assim como o paracetamol, temos também a Dipirona.

Alguns autores consideram a dipirona como AINE, mas por ter baixa ação anti-inflamatória,
podemos considerar apenas como medicamento analgésico e antipirético.

É um dos medicamentos mais utilizados no Brasil, principalmente pelo seu efeito antipirético, mas é
interessante levar em consideração que os Estados Unidos proíbem seu uso, pelo risco de
Agranulocitose.

Há um consenso que os riscos atribuídos à sua utilização pela população brasileira são baixos, e que
os dados científicos disponíveis apontando a ocorrência destes riscos não são suficientes para
indicar uma alteração do status regulatório do fármaco.
AGRANULOCITOSE x DIPIRONA

Agranulocitose é o termo utilizado para definir uma redução total do número de granulócitos circulantes
no sangue periférico, tecnicamente, essa redução inclui neutrófilos, eosinófilos, basófilos e monócitos,
elementos que são de extrema importância contra agentes infecciosos.

A incidência de agranulocitose associada ao uso de dipirona varia de acordo com o país e com outros
fatores, como a dosagem e a duração do tratamento. Por exemplo, em Israel, o risco de desenvolver
agranulocitose é de 0,0007%, enquanto na Suécia a incidência é de 1 caso para cada 1.439 indivíduos que
tomaram o medicamento.

A dipirona é proibida em mais de 30 países, incluindo os Estados Unidos, Japão, Austrália e grande parte
da União Europeia. No entanto, no Brasil, o uso da dipirona é considerado seguro, mesmo que o efeito
colateral de agranulocitose possa ocorrer.

O uso de dipirona, mesmo em quantidades adequadas, pode levar à diminuição dos


níveis de células granulocíticas, o que resulta em sintomas como lesões na garganta
e sistema gastrointestinais, e aumenta o risco de infecções.
Independentemente de qual seja o princípio ativo que você está analisando, o mecanismo de ação é
muito simples:

bloqueio das Enzimas Cicloxigenase (COX), e consequente redução da produção de Prostaglandinas,


que causam dor, inflamação e febre.

Pode haver outros mecanismos secundários para estes efeitos, que ainda não foram muito bem
esclarecidos.

Sempre consulte a bula profissional, ou artigos científicos, a fim de se aprofundar nas características
de cada fármaco.

A seguir, estudaremos os anti-inflamatórios esteroidais, os Glicocorticoides. Ambas as classes


possuem apenas um ponto em comum: a inibição da síntese de mediadores químicos inflamatórios
denominados de Eicosanoides.
GLICOCORTICOIDES
Os glicocorticoides são hormônios esteroides, pois possuem, em sua estrutura, um núcleo esteroide
constituído de quatro anéis com 17 átomos de carbono que remetem ao seu precursor, o Colesterol,
sendo que a produção destes hormônios depende da presença de enzimas específicas, responsáveis
pela conversão do colesterol em hormônios esteroides.

Estrutura Química do Cortisol e alguns


Glicocorticoides Sintéticos (Prednisolona,
Betametasona, Prednisona e
Dexametasona).

Destaque em vermelho para as diferenças


estruturais dos fármacos,
em relação ao hormônio cortisol.
Os esteroides hormonais podem ser classificados como esteroides que exercem efeitos importantes
no metabolismo intermediário e na função imune (Glicocorticoides); esteroides que possuem
principalmente uma atividade de retenção de sal (Mineralocorticoides) e aqueles que apresentam
atividade androgênica ou estrogênica.

Nos humanos, o principal Glicocorticoide é o Cortisol.

O Cortisol (também denominado Hidrocortisona) exerce uma ampla variedade de efeitos fisiológicos,
incluindo regulação do metabolismo, função cardiovascular, crescimento e imunidade.

Os efeitos conhecidos dos Glicocorticoides são mediados, em sua maioria, por receptores nucleares
de Glicocorticoides amplamente distribuídos.

Entre 10% e 20% dos genes expressos em uma célula são regulados por eles.
Os efeitos dos Glicocorticoides ocorrem, principalmente, devido a proteínas sintetizadas a
partir do mRNA transcrito por seus genes-alvo.

1) O ligante entra na célula.


2) O ligante se liga ao receptor intracelular.
3) O complexo ligante-receptor entra no núcleo da célula.
4) Ligação do complexo ao DNA.
5) Recrutamento de proteínas responsáveis pela transcrição do
DNA em RNAm.
6) Tradução do RNAm.
7) Produção de proteína com função celular.
Os principais efeitos estão relacionados à indução ou inibição da transcrição gênica, com reflexos
diretos sobre o Sistema Cardiovascular, Endócrino, Urinário, Digestório e o Metabolismo de forma
geral.

Os Glicocorticoides reduzem radicalmente as manifestações da inflamação.

Esta propriedade resulta de seus efeitos profundos na concentração, na distribuição e na função dos
leucócitos periféricos, que são as células de defesa do Sistema Imune, bem como de seus efeitos
supressores dos mediadores inflamatórios.

A inflamação, independentemente de sua causa, caracteriza-se por extravasamento e infiltração de


leucócitos no tecido afetado.

Estes eventos são mediados por uma complexa série de interações de moléculas de adesão dos
leucócitos com aquelas que se encontram nas células endoteliais, as quais são inibidas pelos
Glicocorticoides.
Além de seus efeitos na função dos leucócitos, os Glicocorticoides influenciam a resposta inflamatória, ao
inibir a síntese de Ácido Araquidônico, o precursor das Prostaglandinas e Leucotrienos.

A principal ação sobre o processo inflamatório é inibir a Enzima Fosfolipase A2, que produz o Ácido
Araquidônico. Como resultado da sua atividade, há menor produção de Ácido Araquidônico e,
consequentemente, há menos substrato para as enzimas COX, além de menor quantidade de produção
de prostaglandinas.

O principal exemplo de inibição da transcrição de genes de proteínas relacionadas ao processo


inflamatório mediada pelos Glicocorticoides é a inibição da transcrição de Citocinas iniciadoras da
inflamação, como: Interleucinas (IL) 1, 2, 3 e 6; Interferon-γ; Fator de Necrose Tumoral (TNF); algumas
Quimiocinas e a expressão das enzimas Cicloxigenases.

Consequentemente, ocorre a diminuição do acúmulo e função de células linfocitárias que participam das
reações inflamatórias e imunes. E, devido a estes últimos efeitos, alguns Glicocorticoides podem ser
classificados como Imunossupressores.

Os Glicocorticoides exercem importantes efeitos sobre o metabolismo dos carboidratos, das proteínas e
dos lipídeos, sendo responsáveis por alguns dos efeitos colaterais graves, associados ao uso destes
hormônios em doses terapêuticas.
Os Glicocorticoides estimulam a Gliconeogênese e a síntese de Glicogênio em jejum.

Eles aumentam os níveis séricos de glicose e, portanto, estimulam a liberação de insulina, inibindo a
captação de glicose pelas células musculares, ao mesmo tempo em que estimulam a lípase sensível ao
hormônio e, portanto, a lipólise.

A secreção aumentada de insulina estimula a deposição de gordura, em conjunto com o aumento na


liberação de ácidos graxos e de glicerol na circulação.

Os resultados dessas ações são mais evidentes em jejum, quando o suprimento de glicose a partir da
gliconeogênese, a liberação de aminoácidos pelo metabolismo muscular, a inibição da captação periférica
de glicose e a estimulação da lipólise contribuem, todos eles, para a manutenção de um suprimento
adequado de glicose para o cérebro.

Além disso, os Glicocorticoides provocam redução da massa muscular e fraqueza e adelgaçamento da pele.
Os efeitos catabólicos e antianabólicos no osso constituem a causa da Osteoporose na Síndrome de
Cushing e representam uma importante limitação no uso terapêutico destes hormônios em longo prazo.

Nas crianças, os Glicocorticoides reduzem o crescimento.


Efeitos Adversos apresentados pelo uso de
Glicocorticoides
Vários derivados sintéticos de Corticosteroides estão disponíveis.

Estes fármacos variam na potência anti-inflamatória, na atividade mineralocorticoide e na duração de ação.

A terapia com Glicocorticoides é empregada em diversas situações, incluindo doenças inflamatórias e


autoimunes, câncer e transplantes de tecidos.

Entre as doenças inflamatórias, as aplicações mais típicas incluem: Asma, Rinite Alérgica, Dermatite Atópica,
Artrite Reumatoide, Doença Inflamatória Intestinal e Conjuntivite.

Podem ser utilizados, também, no caso da Doença de Addison, Doença de Hodgkin, Leucemia Linfocítica e
Tumores Cerebrais Metastáticos ou Primários.
Entre os Glicocorticoides mais utilizados sistemicamente, estão: Hidrocortisona, Prednisolona, Betametasoa
e Dexametasona.

Todos estes fármacos possuem uma biodisponibilidade oral boa, são metabolizados no fígado e têm seus
metabólitos excretados pelo rim. Entretanto, o uso oral dos Glicocorticoides de forma crônica deve ser
evitado, uma vez que induz a diversos efeitos colaterais sistêmicos severos que vimos anteriormente.
Para evitar os efeitos adversos sistêmicos, opta-
se pelo uso local destes medicamentos.

Por exemplo: Via Inalatória para asma,


diretamente na mucosa das vias aéreas; Via
Tópica nos distúrbios dermatológicos (Psoríase,
Líquen Plano e Dermatite Atópica); e Intra-
articulares para a Artrite.
OPIOIDES

Vimos anteriormente a classe de analgésicos mais utilizada na clínica, principalmente para dores leves a
moderadas, que são os AINEs.

Por serem considerados medicamentos com baixo risco de eventos adversos para os pacientes, são
medicamentos de escolha para tratar diversas condições de dor, principalmente desencadeada por processo
inflamatório, além de serem úteis para febre e inflamação.

Os Glicocorticoides, medicamentos que atuam em nível hormonal, são indicados para casos mais graves de
doenças inflamatórias, como doenças autoimunes.

Mas, quando o paciente sofre de uma dor intensa, geralmente após cirurgia, ou dor associada ao câncer, um
AINE não é capaz de aliviar a dor do paciente.

O tratamento bem-sucedido da dor representa um desafio, que começa com uma cuidadosa avaliação da
origem e magnitude da dor. Para um paciente com dor intensa, a administração de um analgésico opioide é
geralmente considerada como parte essencial do tratamento.
Os Opioides são medicamentos que atuam em nível central, ou seja, bloqueiam a transmissão do sinal
doloroso para ser interpretado pelo cérebro.

De modo geral, os Agonistas Opioides produzem analgesia por meio de sua ligação a receptores
específicos acoplados à proteína G, que se localizam no cérebro e em regiões da medula espinal
envolvidas na transmissão e na modulação da dor. Os receptores são conhecidos como μ (mi), κ (kappa)
e δ (delta).

Os medicamentos Opioides mais conhecidos são: Morfina, Metadona, Fentanila, Codeína, Oxicodona,
entre outros.

Eles atuam principalmente em receptores do tipo μ. Além da analgesia, os opioides também apresentam
ação euforizante, que é uma sensação flutuante agradável, com redução da ansiedade e do desconforto,
mas pode causar depressão respiratória, ao inibirem os mecanismos respiratórios do tronco encefálico e
dependência física.
Com a administração frequente e repetida de doses terapêuticas de Opioides, observa-se uma
perdagradual da eficiência, a qual é denominada de tolerância.

Para reproduzir a resposta original, é necessária a administração de uma dose mais alta.

Já a dependência física é definida por uma Síndrome de Abstinência característica de quando o fármaco é
interrompido. E é justamente esta dependência física que constitui o principal problema do uso dos
Opioides.

Os sinais e sintomas de abstinência consistem em: rinorreia, lacrimejamento, bocejos, calafrios, arrepios
(piloereção), hiperventilação, hipertermia, midríase, dores musculares, vômitos, diarreia, ansiedade e
hostilidade.

O tratamento da abstinência se dá pela administração da Naloxona, um Antagonista de Receptores


Opioides.

A Naloxona também é utilizada no tratamento da superdosagem aguda de Opioides, e em casos de


depressão respiratória.
Além da analgesia, os Opioides também podem ser utilizados para supressão da tosse.

Codeína, em particular, tem sido utilizada em indivíduos acometidos de tosse patológica. Todavia, a
supressão da tosse pelos Opioides pode propiciar o acúmulo de secreções e, assim, resultar em
obstrução das vias respiratórias.

Os Opioides são, com frequência, usados como pré-medicação antes da anestesia e cirurgia, por conta
de suas propriedades sedativas, ansiolíticas e analgésicas.

São também utilizados no período intraoperatório, como adjuvantes de outros anestésicos e, em altas
doses, como principal componente do esquema anestésico.

Considerando o risco de indução de dependência por Opioides, é importante estabelecer metas


terapêuticas, antes de iniciar a terapia com eles; encontrar a mínima dose efetiva; e, em vez dos
analgésicos Opioides – particularmente no tratamento crônico – deve-se considerar o uso de outros
tipos de analgésicos, ou compostos que apresentem sintomas de abstinência menos pronunciados por
ocasião de sua interrupção.
ENTENDA!

A farmacologia dos antiinflamatórios não esteroidais, ou AINEs, é ampla ediversificada, mas sua
função pode ser resumida de forma bastante precisa.

Os AINES têm três efeitos principais:


• analgésico,
• antipiréticos,
• e anti-inflamatórios.

Por esse motivo, os AINEs são usados em condições como cefaleia e enxaqueca, condições
artríticas inflamatórias (espondilite anquilosante, artrite psoriática), dor pós-operatória, dor nas
costas e gota - entre muitos outros.

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